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    UM CONTO DE FADAS PARA ADULTOS INTRODUO Em fevereiro deste ano, na vspera do meu 60o aniversrio, entrei em meditao antes de ir

    dormir, como meu costume h muitos anos. Logo entrei naquele silncio profundo, naquele estado de quietude, segurana e paz e, ento, de repente, comecei a ouvir algo dentro de mim que me dizia que estava na hora de eu comear a escrever. Fiquei me perguntando O que? Como? Para quem?... E a, lgico que despertei daquele estado maravilhoso e voltei para a minha mente objetiva, que no tinha a menor noo de como responder a todas essas questes.

    Nas noites seguintes, continuei a receber o mesmo recado, s vezes acompanhado de alguma frase como Escreva de uma forma ldica... Lembre-se dos jogos da sua infncia... Mas no se fixe neles... , o que tambm no me ajudava muito, porque eu no conseguia encontrar um tema para desenvolver.

    At que uma noite, enquanto eu meditava, me veio uma vontade enorme de escrever! Embora sem saber o qu, peguei um bloco de anotaes que sempre mantenho ao meu lado nessa hora, segurei a caneta esferogrfica e falei para mim mesma: Vamos l! E, ento, como num passe de mgica, as palavras comearam a brotar aos borbotes, enquanto eu ia ficando cada vez mais surpresa com o que eu estava escrevendo.

    Quando o fluxo de idias parou, fui me deitar e dormi feliz, na certeza de que aquilo que estava querendo tanto se manifestar, finalmente havia comeado a se expressar... embora de uma forma totalmente inusitada para mim.

    Nos dias seguintes, isso se repetiu de repente as idias comeavam a surgir e l ia eu para o computador. Era muito divertido, porque eu nunca sabia o que ia escrever naquele momento. Era como se eu estivesse lendo um livro e curiosa para saber o que viria em seguida. s vezes eu at imaginava que o enredo se desenrolaria de uma determinada maneira, mas, quando me sentava para escrever, a histria comeava a tomar um outro rumo, totalmente diferente e inesperado.

    Esse processo durou uns dois meses e foi uma experincia muito prazerosa para mim, pois me fez reviver a minha paixo pelos contos de fadas, levando-me de volta descontrao e alegria da infncia. Ao mesmo tempo, aprendi muito com essa histria. Alguns conceitos, que ainda estavam um tanto nebulosos na minha mente, acabaram se esclarecendo melhor e assentando-se dentro de mim.

    Ento, um dia a histria chegou ao fim e eu lhe dei o nome de Um Conto de Fadas para Adultos, porque foi assim que a senti o tempo todo.

    E agora eu a ofereo a voc, e quero que saiba que ela foi escrita com todo amor, do meu aspecto divino para o seu aspecto divino, para aquela parte de voc que sabe que a vida no s feita de coisas srias, lgicas e cientificamente comprovveis; e que existe uma infinidade de potencialidades nossa disposio, espera que as escolhamos, para que possam se manifestar na nossa realidade.

    Com carinho, Vera Corra 22 de julho de 2006 UM CONTO DE FADAS PARA ADULTOS Por Vera Corra De repente, o silncio toma conta de tudo... um silncio profundo, absoluto. Tudo parece

    estar perfeitamente imvel... acho que at o tempo parou! Fico atenta... alguma coisa extraordinria est prestes a acontecer. Ento, tudo o que existe ao meu redor comea a desaparecer e vai lentamente sendo

    substitudo por uma nvoa rosada e fresca, que vai inundando todo o espao onde me encontro um espao sem paredes, sem cho, sem teto... um espao ilimitado. Estou agora flutuando nesse espao

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    cor-de-rosa, e sinto-me completamente envolvida e preenchida por essa nvoa, que me acalenta como a mais amorosa das mes. Abandono-me em seus braos, entregando-me a uma sensao deliciosa de quietude, segurana e paz.

    E assim permaneo, no sei por quanto tempo, at que ouo uma voz doce e harmoniosa, que me diz:

    - Est na hora de despertar, querida! - Ah, no! Agora no! Estou tendo um sonho to gostoso! - No deste sonho que estou chamando-a para despertar... no isso que estou querendo

    lhe dizer. Pode abrir os olhos, que voc no vai perder isso que voc est chamando de sonho. Meio desconfiada, abro os olhos devagar primeiro um, depois o outro. E quase perco a

    respirao, diante da beleza e magnificncia do ser que vejo minha frente! um ser cristalino, todo vestido de luz... ou melhor, o prprio ser parece feito de luz uma luz to brilhante, que mal d para distinguir os traos da sua face!

    No consigo definir se um homem ou uma mulher, mas imediatamente me lembro das histrias que ouvi na minha infncia e, entregando-me completamente magia dessa lembrana, concluo:- a minha Fada Madrinha! S pode ser a minha Fada Madrinha!... Ser que vai me trazer o meu prncipe encantado?

    Ela est sorrindo para mim, envolvendo-me no mais puro amor. Parece estar se divertindo com o meu deslumbramento diante da sua presena. Espera alguns segundos, at que eu me refaa do susto e, ento, me diz com sua voz melodiosa:

    - Meu Anjo, quando eu digo despertar, na verdade estou querendo dizer lembrar. Est na hora de voc se lembrar de quem voc realmente .

    - Mas eu no me esqueci! Eu sou Anglica!... ou no? acho que essa fada est querendo me confundir.

    - Sim, querida, uma parte de voc Anglica, mas h muito mais de voc que voc no se lembra.

    Fico em silncio, sem saber o que dizer... e o que pensar. Ela respeita esse meu momento e fica em silncio tambm, dando-me tempo para digerir o que ela acaba de falar. Finalmente volto a raciocinar e pergunto-lhe:

    - Se assim, como fao para me lembrar? - Para isso eu estou aqui. Vim ajud-la. Vamos fazer uma viagem juntas e, nessa viagem,

    as suas lembranas vo comear a despertar. A idia de viajar em companhia de um ser to maravilhoso me deixa totalmente

    empolgada... tanto que at me esqueo que no estou de frias. - Para onde vamos? longe? perto? um lugar frio? quente? O que eu devo levar na

    minha mala? Ela sorri. Parece que est se divertindo cada vez mais com as minhas reaes. - Para onde vamos, voc no precisa de malas... vamos para a Terra do Sempre, a Terra

    do Eterno Agora. Arregalo os olhos, incrdula, mas de alguma forma sei que ela no est brincando sei que

    est falando srio... Devo ter entrado num conto de fadas... mas como?! J ouvi falar na Terra do Nunca, a Terra de Peter Pan eu adorava essa histria!!! mas, Terra do Sempre... o que ser isso? Onde ser isso?

    - E no se afobe. Vamos devagar, com toda a calma. Mesmo porque, antes de chegarmos l vamos ter que providenciar o seu passaporte.

    - Passaporte?! pergunto, cada vez mais surpresa. Mas logo me recomponho e digo, aliviada Eu j tenho passaporte! Ano passado, eu viajei para...

    Ela me interrompe docemente: - Esse passaporte no serve para o lugar onde vamos. Fico decepcionada e desanimada. - No? Ento, onde vou conseguir um passaporte para a Terra do Sempre? Quem vai me

    dar um passaporte desse tipo? Vo pensar que eu sou maluca!

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    - Voc no precisa pedir esse passaporte para ningum. Voc tem que encontr-lo dentro de voc mesma.

    - Um passaporte?! Dentro de mim mesma?! esse negcio est ficando cada vez mais louco!

    - O passaporte para a Terra do Sempre a Alegria. - Ento, no vou precisar procurar nada, porque j estou alegre! Tome! estendo-lhe a

    mo direita, entrando na brincadeira, e entregando-lhe algo invisvel Aqui est o meu passaporte para a Terra do Sempre!

    Ela sorri pacientemente e explica: - Meu Anjo, no estou falando desse tipo de alegria. No se trata de estar alegre, pois isso

    pode durar apenas alguns segundos. Trata-se de ser alegre... E isto voc s vai conseguir quando passar a agir de acordo com o seu corao.

    E antes que eu pudesse ter qualquer reao, ela desaparece, levando com ela todo o encanto daquele momento.

    Encontro-me novamente entre as quatro paredes do meu quarto. E o que vejo, bem diante do

    meu nariz? O relgio! - Meu Deus! Perdi a hora!!! Pulo da cama e comeo a andar para l e para c, feito uma barata tonta, sem saber o que

    fazer primeiro e querendo fazer tudo ao mesmo tempo. Entro no banheiro, saio do banheiro, abro o guarda-roupa... O que vou vestir? Est fazendo frio? Est fazendo calor?... Corro at a cozinha, pego uma fruta e comeo a mastiga-la, sem nem saber direito o que estou comendo... Meu corao est disparado!

    - CALMA!!! Digo para mim mesma Isto no o fim do mundo!... E se fosse, no ia adiantar nada ficar afobada deste jeito!

    Aos poucos, volto a coordenar as minhas aes e consigo sair de casa. Para minha surpresa, o trnsito est timo! bvio penso A estas horas, todo mundo j chegou no seu trabalho! Volta-me o calafrio na barriga... a primeira vez que perco a hora!

    Mas, afinal, por que este pavor to grande?! pergunto a mim mesma O que h de to terrvel em chegar atrasada uma vez na vida? O que pode me acontecer de to ruim por causa disso? No encontro resposta. Mas, de alguma forma, percebo que esse medo no uma coisa normal.

    Finalmente chego na empresa. Respiro fundo e entro, com aquela cara de gato que comeu canrio, achando que todo mundo vai me olhar com ar de reprovao. Mas, no... ningum parece estar se importando comigo. Pelo contrrio, cada um parece estar totalmente preocupado consigo mesmo estranhamente preocupado! Alguma coisa esquisita est acontecendo! O clima est pesado... alguma coisa muito grave est acontecendo.

    - Anglica, esto chamando-a na gerncia. Pronto! Sabia que isto no ia passar em branco! Meu chefe percebeu o meu atraso... Comeo

    a suar frio. Ele me recebe com um sorriso amarelo e me faz sentar sua frente. - Anglica, tenho uma tarefa muito desagradvel hoje. ele parece sinceramente

    chateado com o que vai ter que fazer ou dizer Voc tem acompanhado a situao da empresa e sabe como as coisas esto se tornando cada vez mais difceis... Temos tentado levar a empresa adiante, de todas as maneiras que conhecemos, mas chegamos num ponto em que no conseguimos mais nos sustentar...

    Meu estmago est dando voltas, adivinhando o que vem pela frente... meu chefe continua:- Ento, no temos outra soluo, a no ser fechar as portas, encerrar nossas atividades...

    Minha cabea est girando, meu corao, totalmente descompassado... j no ouo mais as palavras do meu gerente. Mas nem preciso, porque sei que em resumo estou desempregada! O medo toma conta de todo o meu ser... E agora, meu Deus?! O aluguel, as contas mensais de luz, de gua, de telefone, as prestaes do carro... tudo isso desfila na minha mente ameaadoramente.

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    Estou a ponto de entrar em pnico! De repente meu olhar atrado para o relgio digital sobre a mesa. So 11:11. E ento me

    vem aquela mesma sensao de todas as inmeras vezes em que olhei para um relgio no momento exato em que marcava 11:11 como se momentaneamente eu sasse desta realidade e passasse para uma outra realidade diferente, onde tudo est bem, tudo est em paz, tudo adequado. E assim, como num passe de mgica, todo aquele medo se desvanece e sou tomada por uma sensao totalmente oposta, difcil de definir, uma espcie de euforia, como se eu estivesse prestes a receber um presente maravilhoso, uma graa divina...

    -Tem alguma coisa especial nesses nmeros. penso Ultimamente ando vendo 11:11 por todo lado. No pode ser uma simples coincidncia.

    Volto a ouvir a voz do meu gerente:- Mas, no se preocupe, porque voc receber tudo o que voc tem direito de receber. Alm disso, voc jovem, inteligente, eficiente e tem um timo currculo, o que certamente vai ajud-la a conseguir logo um novo emprego. No que depender de mim, voc ter sempre boas referncias.

    Sim, com o que tenho para receber provavelmente poderei sobreviver uns seis meses ou mais. At l, j deverei estar empregada novamente.

    Ao voltar para casa, paro numa banca para comprar o jornal, pois sei que hoje dia do

    Suplemento de Empregos. Antes que eu possa pegar o jornal, reparo num jovem de aspecto simptico e descontrado, que est folheando uma revista. Algo nessa revista me chama a ateno no sei o que e, embora no seja meu costume, estico os olhos para ver o que h de to especial ali. Acho que no sou muito discreta, porque o rapaz percebe a minha curiosidade e me pergunta, sorrindo:- Voc tambm se interessa por Numerologia?

    - Numerologia?! respondo, quase gritando, de to surpresa! Sim! No!... Quero dizer, nunca tinha pensado nisso antes, mas agora estou comeando a achar que deve ser uma cincia muito interessante de se estudar!

    - E por que esse interesse repentino? ele me pergunta amavelmente. - que, de uns tempos para c, ando vendo 11:11 por todo lado em relgios, em

    celulares, no computador... O rosto dele se ilumina! Pelo jeito, falei alguma coisa inteligente. - Vamos tomar um sorvete? ele sugere, apontando para a sorveteria ao lado Assim

    poderemos conversar melhor. Acho uma tima idia! Sentamo-nos junto a uma mesinha, pedimos um sorvete para cada

    um e ento ele me pergunta: - Qual o seu nome? - Anglica. E o seu? - Pitgoras. - O do teorema? pergunto, rindo e completamente vontade, como se j o conhecesse

    h sculos. Ele ri tambm. - Voc no a primeira pessoa que me faz essa pergunta. que a minha me tambm

    gostava muito de Numerologia... Voc deve saber que Pitgoras foi um profundo pesquisador da natureza e significado dos nmeros, no ? Ele dava aos nmeros um sentido divino, ligado Criao.

    Eu no sabia nada disso, mas acho melhor no dizer nada. Ele prossegue: - E, por ser apaixonada por esse estudo, minha me uma grande admiradora desse

    filsofo. Ento, quando eu nasci, ela resolveu homenage-lo, dando-me o nome de Pitgoras. - Que interessante... e voc gosta do seu nome? - Gosto muito... talvez pelo mesmo motivo da minha me. Tambm sou apaixonado por

    nmeros! Inclusive, sou professor de matemtica. Estou desempregado agora, mas continuo dando aulas particulares. Na verdade, estou at gostando desta nova situao, porque me deixa mais livre... Mas, voltemos ao 11:11. Ento voc tambm anda vendo esse cdigo!

    - Esse cdigo?!

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    - 11:11 como um cdigo para a expresso Est na hora de despertar! Esta frase soa como um trovo e fica ressonando nos meus ouvidos, trazendo-me a

    lembrana da minha Fada Madrinha. No foi isso que ela me falou? Timidamente pergunto :- O que voc entende por despertar? - Neste contexto, despertar significa lembrar-se de quem voc . Mal posso acreditar no que estou ouvindo. Ele est repetindo as mesmas palavras da fada do

    meu sonho!... Ser que ele viu o meu sonho? Resolvo testar mais um pouco: - Mas eu no me esqueci! Eu sei que sou Anglica. Ento, por que estou recebendo esse

    recado toda hora? - Minha flor... ele comea, no mesmo tom amoroso da Fada Madrinha ... porque

    voc no apenas Anglica voc um ser muito mais grandioso, mas se esqueceu disso. - E por que eu haveria de ser to especial, to diferente de todo mundo? - Voc no diferente. Pelo contrrio, em essncia, voc igual a todo mundo todos ns

    somos seres divinos e magnficos, s que nos esquecemos da nossa verdadeira identidade. Ele faz uma pequena pausa e ento continua:- Voc s diferente num aspecto voc est pronta para descobrir quem voc realmente .

    - Voc acha mesmo que eu estou pronta? Por qu? - Tenho certeza! Seno, voc no estaria to envolvida com essa questo do 11:11. Por

    que isso est lhe chamando tanta ateno? Porque est funcionando como um despertador para voc... e para todos ns que estamos atentos a essas coincidncias. Imagine que, em algum momento da nossa existncia, ns concordamos em participar de uma misso importante, muito especial, mas que exigia que ns nos esquecssemos de quem ns ramos... e tambm, de qual misso era essa.

    -Isso muito louco! Como voc acha que algum pode ir para uma misso, sem saber que misso essa e, ainda por cima, esquecendo sua verdadeira identidade?

    - Para a nossa forma de ver as coisas, isso parece uma maluquice mesmo, mas... imagine que exista uma outra forma de percepo... imagine que, naquele momento decisivo da nossa existncia, ns tivssemos uma conscincia muito mais ampla, muito mais... algo que nem conseguimos imaginar com esta nossa mente acostumada a funcionar dentro de apenas trs dimenses. E imagine que, dentro dessa forma mais expandida de conscincia, tudo isso tivesse sentido. Ento, ns aceitamos essa misso, com muito prazer e alegria! S que, antes de mergulharmos no total esquecimento, ns programamos um despertador para ser ativado no momento em que essa misso estivesse prestes a se cumprir. Esse despertador o 11:11!

    -Ento, voc acha que j estamos quase cumprindo essa tal misso? - Acho. Onze um Nmero Mestre e est ligado iluminao. E agora ele vem iluminar as

    nossas mentes, porque chegamos num ponto em que, para continuarmos a cumprir o nosso propsito, temos que nos lembrar de quem realmente somos e porque estamos aqui.

    Tudo isso me parece to fantstico, mas, ao mesmo tempo, to verdadeiro! Porque cada vez que eu vejo 11:11, parece que alguma coisa ativa uma lembrana que estava muito bem escondida dentro dos arquivos da minha mente. Sinto como se, naquele lapso de segundo, eu tivesse um vislumbre de uma outra realidade, uma realidade muito mais interessante do que esta que estou vivendo agora... Ou ser que estou imaginando coisas?

    Vendo-me to pensativa, Pitgoras diz: - melhor pensar menos e sentir mais. Tem certas coisas que no conseguimos entender

    com a nossa mente, s com o corao. Sorrio para ele, profundamente agradecida por estas palavras. Sim, apesar do n na minha

    mente, o meu corao me diz que o que estou ouvindo verdade. - Mais um sorvete? o garom pergunta, trazendo-nos de volta a esta realidade. Pitgoras responde por ns dois: - No, obrigado. J tomamos o suficiente. Quanto lhe devemos? - Onze Reais. Olhamos um para o outro e camos na gargalhada! O garom fica sem entender nada...

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    Despedimo-nos como velhos conhecidos, prometendo nos reencontrarmos o mais breve possvel.

    S quando j estou me preparando para ir deitar que percebo que me esqueci de comprar o

    jornal! No faz mal, posso consultar o site de empregos... mas no agora... amanh. Agora estou precisando dormir. O dia foi muito cheio! Preciso descansar, pr minhas idias em ordem.

    Mas no consigo pegar no sono. Fico pensando em tudo que me aconteceu hoje um dia totalmente fora dos padres. E o interessante que estou me sentindo to bem! Estou desempregada, devia estar preocupada, roendo as unhas, no entanto, sinto uma alegria totalmente sem sentido...

    De repente, aquele silncio outra vez... e aquela nvoa cor-de-rosa, abraando-me amorosamente. Desta vez, no fico espantada... Ela est chegando!

    - Minha querida, a sua alegria no sem sentido. As coisas nem sempre so o que parecem ser. Hoje foi um dia muito importante na sua vida. Voc tem vrios motivos para estar alegre!

    - Mas eu fui despedida do meu emprego, hoje! - s vezes as pessoas precisam de um acontecimento forte como esse, para se permitirem

    olhar para a vida sob uma perspectiva diferente, e perceberem as incontveis possibilidades que existem sua disposio. A cada momento da sua vida, voc tem a oportunidade de escolher deixar tudo como est, ou mudar para uma nova forma de viver. Antes de consultar o site de empregos, querida, entre em contato com o seu corao e pergunte-lhe que tipo de trabalho ele gostaria que voc fizesse a partir de agora.

    -Eu estava me dando muito bem no trabalho que eu estava fazendo. - Assim mesmo, consulte o seu corao. Pergunte-lhe se ele gostaria que voc continuasse

    trabalhando na mesma rea... Ou, que voc mudasse de atividade... Ou, que voc desenvolvesse um outro potencial... Pergunte-lhe o que voc sentir que deve lhe perguntar.

    - Eu nunca tentei falar com o meu corao... nem sabia que podia fazer isso. Acho esquisito, mas at posso tentar fazer umas perguntas... Vou me sentir meio ridcula, mas... como que ele vai me responder? Corao fala?!

    - Fala. No na linguagem que voc est acostumada a falar. O corao fala atravs do sentimento e ele vai lhe responder atravs de um sentimento de aprovao ou de rejeio. E voc vai reconhecer o sentimento de aprovao, porque vai lhe trazer uma grande alegria!

    Alegria... o passaporte para a Terra do Sempre! No lugar da Fada, vejo agora um grande corao vermelho. Ele est vivo, porque pulsa no

    ritmo de uma msica suave a relaxante. Acho que o meu prprio corao! Sentindo-me meio ridcula, volto-me para ele e tento comear uma conversa:- Ol... por acaso voc o meu corao? Ele no diz nada... bvio! Algum j viu um corao falar?! Fico em silncio, por alguns segundos, pensando em como fazer para me comunicar com ele...

    Fico olhando para ele, reparando na sua pulsao e lentamente vou entrando no ritmo daquela msica e ficando cada vez mais relaxada... A minha mente vai entrando numa espcie de torpor, at que entro num estado de completa quietude mental no estou pensando nada! Acho que, pela primeira vez na vida, estou consciente, mas no estou pensando nada. Que sensao incrvel!

    Permaneo nesse estado, no sei quanto tempo, e de repente, comeo a ver algumas imagens de mim mesma todas ao mesmo tempo, como se eu estivesse no centro de um cinema circular, onde vrias cenas estivessem sendo projetadas simultaneamente ao meu redor.

    Numa das cenas, estou trabalhando num escritrio muito semelhante quele em que trabalhei at ontem. Todo o esquema de trabalho parecido com aquele. At as pessoas que interagem comigo se parecem e agem como os meus ex-colegas. Aparentemente estou satisfeita.

    Mas, alguma coisa diferente est acontecendo... a msica. A msica j no to suave e relaxante, e o corao est mais agitado. Sua cor passou de um vermelho vivo para um tom de vinho tinto. Vejam s! Ele est se comunicando comigo! Est mostrando que j no est to em paz como

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    antes. No est totalmente infeliz, mas tambm no est contente. Olho para a cena ao lado e vejo-me num terrao de uma casa de montanha. Estou num lugar

    muito alto, pois de l tenho uma viso ampla dos arredores h um bosque minha direita e, mais adiante, esquerda, vejo um rio, que desce a montanha e perde-se de vista atrs de umas pedras muito grandes. Tudo est tranqilo. A msica volta a ser suave e o corao volta cor vermelho vivo.

    Numa terceira cena, estou num lugar muito amplo, claro e colorido, sentada no cho, sobre almofadas, no meio de muitas crianas. Pitgoras tambm est l, mas est fazendo outra coisa, que no sei direito o que . Vejo-me radiante e feliz! A msica agora alegre e delicada. E o corao est todo cor de rosa, irradiando fachos de luz dourada! Que viso maravilhosa!

    - Que crianas sero essas? Que lugar ser esse? comeo a me questionar... e ento, o encanto se desfaz! Todas as cenas desaparecem. A minha mente voltou ao comando.

    Estou acabando de tomar o caf da manh, quando o telefone toca. Quem ser, a estas

    horas? - Bom dia, Anglica! reconheo a voz simptica do meu novo amigo. - Bom dia, Pitgoras! - Desculpe se eu telefono to cedo... mas que sonhei com voc. - Ah... (Que coincidncia!!! penso. Mas no digo nada.) - Quer saber como foi? - Claro! Pode falar! - Ns dois estvamos no meio do nada como dois planetas no espao infinito. E voc me

    chamava a ateno para umas coisas brilhantes que pairavam ao nosso redor. Pareciam umas bolas de energia. Cada vez que voc apontava para uma delas, ela se abria como uma flor e me apresentava uma cena em que eu era o protagonista. Algumas eram cenas comuns, do meu dia-a-dia; outras me mostravam em situaes completamente diferentes, fazendo coisas que nunca pensei em fazer; algumas me traziam uma sensao de entusiasmo e alegria, enquanto outras me deixavam frustrado ou angustiado; outras, ainda, me deixavam totalmente indiferente. Ento, voc me disse:- Tudo isso existe como potencial. Cabe a voc escolher aquilo que voc quer para si mesmo e trazer isso para a sua realidade. Depois disso, no me lembro de mais nada.

    - Que interessante! Isso est me fazendo entender o que o meu sonho desta noite queria me dizer!... O que voc vai fazer hoje? Ser que a gente poderia se encontrar para conversar um pouco?

    - Estava pensando em dar uma caminhada no parque. Costumo fazer isso todas as manhs. Voc no quer vir comigo?

    O dia est lindo! E o parque ainda est vazio de gente. Parece que todos resolveram levantar

    um pouco mais tarde hoje. Caminhamos pelas alamedas sombreadas, sentindo o cheiro das flores, ouvindo o cantar dos passarinhos, sentindo uma brisa suave no rosto... que sensao gostosa de liberdade e paz! E to pertinho da minha casa... como que eu nunca tive a idia de vir aqui? Bem, eu trabalhava o dia inteiro... eu no tinha tempo sequer de lembrar da existncia deste parque. Pelo menos, no num dia de semana, como hoje.

    Pitgoras interrompe as minhas reflexes: - Voc queria me contar alguma coisa. - Sim, queria lhe falar sobre o sonho que tive hoje. Mas acho que vou ter que comear com

    os acontecimentos de ontem, porque parece que tudo est interligado. E assim, comeo a lhe contar sobre a primeira apario daquele esplendoroso Ser de Luz..

    Pitgoras se diverte quando digo que a minha Fada Madrinha. - Voc devia adorar contos de fadas, quando era criana, no ? - Ainda adoro. respondo, meio sem jeito. - Ento, posso lhe confessar que eu tambm.

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    Damos risada um do outro, mas, no fundo, temos certeza que no h nada de errado em gostar de contos de fadas. Continuo a minha narrativa e, depois de lhe contar sobre o sonho com os coraes, digo-lhe:

    - Aquela nossa conversa ao telefone me fez entender que o que eu vi no meu sonho tambm eram as diversas possibilidades que esto a em algum lugar do tempo e do espao esperando que eu faa as minhas escolhas e traga esses potenciais para a minha realidade... Mas, como fazer isso?!

    Ficamos os dois pensativos por alguns segundos. Pitgoras rompe o silncio: - Acho que, em primeiro lugar, temos que saber o que queremos para ns. E, para isso,

    temos que consultar o nosso corao... O problema que no podemos lhe fazer perguntas do tipo isto bom para mim?, isto no bom para mim?, porque pode ser que o que realmente seja bom para ns esteja fora da nossa rea de opes conscientes.

    - No tinha pensado nisso! Realmente... se todas as possibilidades existem em potencial, ento podemos desejar o que quer que seja, e no s o que acreditamos que seja possvel. As opes so ilimitadas! Ento, em primeiro lugar, temos que nos libertar da idia de que isto pode e aquilo no pode. Tudo pode! como nos contos de fadas tudo possvel! A vida mgica!!!

    Ficamos to entusiasmados e felizes com essa concluso, que samos pulando e rodopiando no meio das rvores. Algumas crianas, que esto chegando no parque, juntam-se a ns, achando a maior graa naquela brincadeira. Pulamos e rodamos tanto, que acabamos caindo no cho, exaustos e tontos. As crianas que ainda no perderam o flego! tambm se atiram na grama, rolando de um lado para o outro e compartilhando as nossas gargalhadas. Alguns adultos nos observam sorrindo, loucos de vontade de participar daquela maluquice, mas sem coragem de entrar na brincadeira.

    - Tudo permitido! Pitgoras grita, pulando feito um palhao de circo e dando piruetas. Ento algumas mes se atrevem a se juntar aos seus filhos, rolando na grama com eles. Outras demoram um pouco mais, mas acabam se rendendo ao seu lado infantil e se atiram na grama, sujando suas roupas, desmanchando seus cabelos, mas felizes!

    Uma bab gorducha e toda de branco, ao ver aquela baguna, entra em campo dando cambalhotas, acompanhada pela menininha de cabelos encaracolados que ela trazia pela mo. A garotada vibra e tenta imitar a dupla, aumentando a algazarra!

    Rindo como duas crianas, afastamo-nos do grupo, deixando a bab dando aulas de cambalhotas para as crianas e suas mames.

    Habituo-me a comear meus dias com uma caminhada no parque, na companhia agradvel

    e divertida de Pitgoras. Isso tem me feito muito bem! Sinto-me mais bonita e mais viva! J no tenho mais aquela cor esverdeada de quem passa os dias na frente do computador, respirando ar-condicionado. Ganhei um ligeiro bronzeado, que me d uma aparncia mais saudvel e at mais jovem. Estou muito feliz com isso. Hoje meu amigo no pde me acompanhar, mas nem por isso deixei de vir fazer o meu passeio matinal. Estou caminhando, curtindo o ar, os sons e as cores da natureza, quando, de repente, vejo duas crianas correndo na minha direo, rindo e acenando alegremente para mim. Elas param bem na minha frente, interrompendo os meus passos, e uma delas o menino me diz sorrindo:- Oi! Respondo no mesmo tom alegre:- Oi! - Voc no se lembra de mim? ele me pergunta Eu estava aqui, no dia daquela baguna. Dou risada ao me lembrar daquela cena. E pergunto-lhe: - Voc conseguiu aprender a dar cambalhotas? - Eu j sabia. Mas adorei aquela gordinha divertida! Parece uma bola, quando vira cambalhota... de repente ele se lembra da menininha ao seu lado e, voltando-se para ela, me diz:- Esta minha irm. - Nem precisava dizer. Vocs so muito parecidos! Ser que so gmeos?

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    - Somos. Resolvemos nascer juntos, pra um poder ajudar o outro no trabalho que temos que fazer aqui. ele me conta, com toda a naturalidade. Ser que ouvi direito?! penso. E pergunto, para me certificar: - O que foi que voc disse? - Que ns dois resolvemos nascer juntos, porque se um esquecesse o que veio fazer aqui, o outro o ajudaria a se lembrar. - Vocs resolveram isso antes de nascer? Onde?! Como?! - Estou vendo que voc que se esqueceu de tudo! ele fala com ar srio, quase como se estivesse me dando uma bronca. Mas logo adquire um tom mais tolerante e me diz:- Gente grande geralmente se esquece mesmo... Por isso que eu e a minha irm estamos sempre falando um para o outro o que a gente prometeu fazer aqui. Pra no virar gente grande e se esquecer de tudo. - E o que vocs vieram fazer aqui de to importante?!... Posso saber? - Ns viemos ajudar as pessoas a se lembrarem de quem elas realmente so. De novo?!!! Ser que agora todo mundo vai me falar a mesma coisa? At uma criana, que mal deixou as fraldas, vai querer me convencer de que eu no sou Anglica?! Mas, decido no me irritar com isso e ver at onde vai essa histria: - Que bom! digo Eu estou justamente precisando de algum que me explique isso. Por que eu penso que sou Anglica, se eu no sou Anglica? E, se eu no sou Anglica, ento quem eu sou? Ou o que eu sou? - Se a gente contar, voc no vai acreditar. diz a menina, com um jeitinho muito meigo Voc tem que descobrir sozinha. - Mas seu irmo acabou de dizer que vocs esto aqui para isso... - No para contar quem voc , mas para ajudar voc a descobrir sozinha... Vou lhe dar uma dica diz ela, com arzinho de cumplicidade Repare bem no seu nome. Ele j est falando quem voc . Acho que a sua me j sabia... - Cristiano! Cristina! Est na hora de voltar para casa! ouvimos algum chamar. - Tchau! Amanh a gente se encontra! os dois se despedem rindo e saem correndo. Volto para casa, intrigada com o que a menina me disse. Se a resposta est no meu nome, ento eu sou um anjo... Mas isso ridculo! - Al. - Oi, me! Aqui a Anglica! - Oi, querida! Que saudades! Est tudo bem com voc? J conseguiu um novo emprego? - Ainda no... Para falar a verdade, nem estou procurando muito. Estou pensando que tipo de trabalho eu quero fazer agora. No quero mais voltar a trabalhar em escritrio. Quero alguma coisa que me deixe mais livre para curtir a vida. - Acho que voc tem razo. Voc estava muito presa ao seu trabalho. No tinha tempo nem para ter amigos... nem sequer para namorar! - Me, por que voc me deu o nome de Anglica? Acho que ela fica meio chocada com essa pergunta to repentina, pois fica muda por alguns segundos. - Me? - Sim, minha filha... Estou pensando... Voc no gosta do seu nome? - Gosto! Acho um nome lindo! Mas, fiquei me perguntando como foi que voc e o papai escolheram esse nome para mim. Tinha alguma razo especial? - Claro que tinha. Voc sabe que eu demorei para engravidar, no ? E eu vivia sonhando em ter um nen... um anjinho... eu tinha certeza que meu nen seria um anjinho. E sempre falava para o seu pai: Quando ser que o nosso anjinho vai chegar? e ele respondia Quando for a hora., pois ele tinha certeza que um dia voc viria... no momento certo. Ento, quando eu finalmente engravidei, resolvemos que seu nome seria Anglica... ou ngelo, se fosse um menino. - E por que voc achava que o seu nen ia ser diferente dos outros? Por que voc achava que podia gerar um anjo?

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    - Eu no achava que o meu nen ia ser diferente. Eu achava... e continuo achando... que todos os nens so anjos. S que, quando eles chegam aqui na Terra, eles comeam a ser tratados como gente e acabam acreditando que so gente mesmo. Eles se esquecem... - Eles, no! digo, quase gritando, como se minha me tivesse acabado me confessar uma enorme traio NS!!! Ns nos esquecemos! Porque voc tambm foi um nen algum dia, no foi? Ento, se voc sabia que voc era um anjo e que eu era um anjo, por que me tratou como gente? Por que no me disse logo que eu era um anjo? - Porque eu sentia que devia haver um propsito nisso tudo... embora, no soubesse qual. - E agora voc sabe? pergunto, um pouco mais calma. - Querida, estamos falando ao telefone... por que voc no vem passar o fim de semana conosco? Poderemos conversar sobre isso, pessoalmente. No acha melhor? - Estou de frias. Nem preciso esperar at o fim de semana. Vou amanh mesmo! Um beijo! Mas, quando estamos prestes a desligar penso em Pitgoras...

    - Me! Me! - O que foi, Anglica? - Posso levar um amigo? - Claro que pode, querida!!! ela responde, sem conseguir disfarar a empolgao de poder me ver com um amigo... quem sabe, um namorado? Pitgoras fica muito animado com a idia de passar uns dias comigo no stio dos meus pais. No h nada que ele goste mais do que estar junto da natureza... se bem que comeo a achar que ele gosta mais ainda, se eu estiver com ele. No caminho, vamos conversando sobre aquelas crianas do parque Cristina e Cristiano. Que nomes interessantes... Acho que os pais deles tambm j desconfiavam que eles seriam crianas especiais, com um trabalho especial para fazer aqui na Terra. - Com certeza so crianas ndigo... ou cristal. diz Pitgoras. Fico olhando para ele com aquele ar de ignorncia, at que ele comea a me explicar. - Tenho lido alguma coisa a respeito dessas crianas que andam nascendo nos ltimos anos. Pelo que entendi, elas j vem com uma nova conscincia uma conscincia mais evoluda para poderem ajudar na elevao da conscincia da humanidade deste planeta. Pitgoras daquele tipo que est sempre bem informado sobre tudo, e no tem nenhum tipo de preconceito pode-se conversar o que for com ele, pois nada o deixa chocado ou incomodado. Por isso me animo a lhe perguntar: - Se verdade que esses gmeos combinaram de nascer juntos, voc acha possvel que eles tambm tenham escolhido os pais... antes de vir para c? - Tenho praticamente certeza disso, porque, se eles tm uma misso to importante, fundamental que eles sejam criados de maneira a poderem desenvolver seus potenciais e com liberdade para fazer o que eles tm que fazer. - Faz sentido!... Fico me perguntando como essas crianas podero nos ajudar... e para onde, ou para o que, estamos evoluindo... como ser a raa humana daqui a alguns anos? O sol est se pondo, desaparecendo atrs das montanhas, mudando as tonalidades da paisagem a cada instante. Pitgoras parece um pouco melanclico: - O dia se vai e a noite chega... Tudo assim, neste planeta: dia-noite, luz-escurido, quente-frio, bonito-feio, alegria-tristeza, sade-doena...vivemos nessa eterna dualidade, ora numa polaridade, ora na outra... Voc no se cansa disso? - Nunca pensei nisso. - Pois eu, sim. s vezes sinto uma saudade profunda de uma outra forma de vida, que tenho certeza que j vivenciei... talvez em algum lugar ou poca remota, em que no havia dualidade. - Como pode ser isso? Como seria uma vida sem opostos? - Voc nunca imaginou viver em eterna paz, sade, alegria, abundncia? Por que ainda temos necessidade de conflitos, doena, infelicidade, carncias? Sinto que a humanidade est farta

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    disso tudo e, mesmo que seja inconscientemente, est buscando e caminhando para uma nova forma de viver, baseada na unidade, baseada no amor e no no medo! - Ser que isso possvel? - Eu acredito que sim! Lembra daquela nossa conversa no parque? Lembra daqueles nossos sonhos? Todas as possibilidades esto a, nossa escolha. O que acontece que s conseguimos olhar para aquelas que fomos condicionados a considerar possveis. E assim, vamos sempre repetindo as mesmas experincias, sem nem sequer considerar a possibilidade de fazer as coisas de um outro modo. Isso me faz lembrar de duas cenas do meu sonho que me deixaram muito intrigada. Nas duas eu me via como uma senhora de mais ou menos 60 anos. S que, numa delas eu me via um pouco gordinha, os cabelos brancos, a pele flcida e usando culos. E na outra, apesar de saber que eu tinha essa idade, eu no aparentava mais do que 40! E nada ali sugeria que eu tivesse passado por plsticas, lipoaspiraes, tinturas no cabelo e coisas do tipo. O que isso queria me dizer? Como se estivesse ouvindo meus pensamentos, Pitgoras diz: - Por exemplo: por que o nosso corpo tem que se degenerar com o passar do tempo? Por que as pessoas comeam a enxergar mal, a ouvir mal, a ficar com os msculos flcidos, a perder a vitalidade, a sade, o nimo, s porque esto ficando com mais idade? Ser que isso no um condicionamento da humanidade? Ser que no podemos mudar isso? - Podemos! respondo, entusiasmada! Eu vi isso no meu sonho! Estavam ali duas Anglicas de 60 anos para que eu escolhesse qual das duas eu queria manifestar aqui. Uma Anglica velhinha ou uma Anglica eternamente jovem, saudvel e bonita? Acabo de escolher esta ltima!!! Eu escolho a Anglica Maravilha!!! - Ento eu escolho o mesmo para mim! diz Pitgoras, recuperando o nimo Porque no quero ficar um velho decrpito, enquanto voc continua jovem e toda bonitona! Escolho a eterna juventude, sade e beleza!

    Meus pais nos recebem carinhosamente. A casa toda est cheirando aquela comida deliciosa da minha me! No sei se a saudade do seu tempero, ou se ela realmente se superou o fato que o almoo est especialmente maravilhoso!

    Enquanto conversamos, reparo como minha me est se conservando bonita e saudvel. Ser que ela sabe dessas coisas que estvamos falando?

    - Me, parece que o tempo no est passando para voc! Como voc faz para no envelhecer? Conte para ns qual o segredo. Preciso aprender isso rapidinho, seno daqui a pouco vou estar parecendo mais velha do que voc!

    Ela d risada e responde:- Eu simplesmente decidi que no vou ficar velha! - E voc sabe... diz meu pai ... quando ela decidi uma coisa, no h quem a faa

    mudar de idia! Decidiu, est feito! Decidiu, est feito! Escolheu, est feito! Meu pai no pode imaginar a profundidade do que

    ele acaba de dizer!... Ou ser que ele sabe? - A nossa mudana para o stio tambm tem contribudo muito para isso. minha me

    continua Aqui levo uma vida sossegada, sem o estresse desgastante das grandes cidades, comendo alimentos saudveis, respirando ar puro, bebendo gua da nascente... enfim, em contato direto e constante com a natureza. Aqui posso perceber e vivenciar todas as mudanas de estaes, todas as mudanas de ciclos, observando como isso atua em meu prprio corpo e em todo meu ser. E assim, sei que sou parte dessa natureza, parte da Terra, que um ser to vivo quanto eu. E que a Terra, por sua vez, parte do grande universo, de modo que eu tambm sou parte desse grande Todo. E esse sentimento de integrao me d uma sensao de segurana, de amparo, trazendo-me uma tranqilidade, uma paz, uma alegria interior que, provavelmente, se refletem no meu exterior, dando essa impresso de que no estou envelhecendo fisicamente.

    Fico encantada de ouvir minha me falando dessa forma! E penso que talvez eu nunca tenha realmente parado para ouvir o que ela teria para me dizer. Quem sabe, se eu tivesse tido pacincia para ouvi-la, ela teria me contado que eu sou um anjo disfarado de ser humano; que todos ns

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    somos anjos brincando de ser humanos... Ser isto uma brincadeira? Se for, s vezes parece uma brincadeira de mau gosto!... Mas tambm pode ser um jogo interessante, dependendo de como o encaramos.

    Depois do almoo, saio com Pitgoras para dar um passeio pelo stio. Caminhamos algum

    tempo em silncio, apenas sentindo o frescor da tarde, a leveza do ar, aproveitando esses momentos junto natureza. Penso no que a minha me falou h pouco, sobre a integrao com a Terra, a sensao de segurana, a alegria interior... Minha Fada Madrinha diria que ela j tem o passaporte para entrar na Terra do Sempre. Ser que a minha me conhece esse lugar?!

    - Pitgoras, estou pensando que o caminho para a alegria interior deve passar pela integrao com a natureza!

    - E o caminho para o no envelhecimento tambm! A natureza no pensa no futuro. Vive sempre no presente. No se estressa.

    - Mas, como ns, ela tem seus ciclos de nascimento, vida, morte... - S que no se preocupa com eles... simplesmente vive-os... entrega-se a eles. Ns, ao

    contrrio, estamos sempre nos estressando ou por acontecimentos passados ou por preocupao com o futuro. E quando digo passado e futuro, no estou me referindo obrigatoriamente a um tempo muito distante de agora. Tanto pode ser um trauma de infncia, que nos deixa marcados para a vida toda, quanto um aborrecimento com algo que aconteceu ontem, ou h meia hora; tanto pode ser uma preocupao com a nossa velhice e aposentadoria, quanto com uma conta que temos que pagar amanh. Perceba que nossa conscincia est sempre no passado ou no futuro dificilmente est no presente. E algo me diz que esta uma das chaves para a alegria interior e para muitas outras coisas boas, das quais ainda nem temos idia... viver no presente!

    Relembro, ento, as palavras da minha Fada Madrinha, no primeiro dia em que ela me apareceu: - Para onde vamos, voc no precisa de malas... vamos para a Terra do Sempre, a Terra do Eterno Agora... O passaporte para a Terra do Sempre a Alegria.

    - Pitgoras, ento o Eterno Agora deve ser o momento presente! Mas, como o presente pode ser eterno?

    Sentamo-nos um pouco na relva, recostados numa grande pedra que parece brotar do solo, junto a duas rvores imponentes e frondosas, que nos oferecem sua sombra refrescante. Ao encostar meu corpo na pedra, tenho a estranha impresso de que ela um ser vivo. Olho para o meu companheiro, para ver se ele reage de alguma forma esquisita ao contato com a pedra, mas ele me parece totalmente sereno. Devo estar imaginando coisas...

    Fico pensando no tal do Eterno Agora. O que ser isso? Ento, ouo uma voz, vinda no sei de onde:- Deixe a sua mente livre. Entregue-se a este momento.

    - Voc ouviu isso, Anglica? Pitgoras me pergunta, olhando para os lados. - Ouvi... parece que foi a pedra que falou! Acho que tomamos muito sol na cabea. Ou vai

    ver que estamos filosofando demais e estamos comeando a ficar malucos! Agora ouvimos uma risada gostosa... Algum est se divertindo s nossas custas! E logo

    percebemos, entre as duas rvores, um pequeno ser de aspecto muito simptico, rindo a mais no poder. Parece um dos anezinhos da Branca de Neve! Deve ser o Feliz!

    - O que h de to engraado? pergunto-lhe. - Vocs precisavam ver as suas caras... Acho que estamos ficando malucos! ele diz,

    imitando a minha voz e o meu jeito srio e meio assustado Parece que nunca viram uma pedra falar! e cai na risada de novo!

    Eu e Pitgoras olhamos um para o outro, sem entender nada, mas encantados com a magia deste momento. Afinal, quem disse que uma pedra no pode falar? Isso pode ser uma daquelas crenas que mantemos, porque fomos acostumados a pensar assim. S porque uma pedra no tem boca, no quer dizer que ela no pode falar.

    Acho que o anozinho l os meus pensamentos, porque comea a bater palmas exclamando:- Muito bem! Muito bem! Voc est comeando a entrar no clima!

    Pitgoras olha para mim, perguntando-se o que foi que eu falei de to inteligente, que ele

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    no ouviu! Como uma professora que repete a explicao para o aluno desatendo, digo-lhe:- S porque uma pedra no tem boca, no quer dizer que ela no pode falar.

    Ele arregala os olhos, surpreso com o meu ar de superioridade, e Feliz tem outro acesso de riso. Contagiados pela sua alegria, camos na gargalhada tambm.

    Feliz se recompe e fala, sem perder seu ar brincalho:- Ela tem razo. Vocs precisam relaxar a mente, seno vo ficar eternamente presos aos conceitos que lhes foram ensinados, que foram passados de gerao para gerao. No que eles sejam de todo descartveis, mas eles no permitem que vocs se abram para novas maneiras de pensar e de ver as coisas. E assim, vocs ficam sempre muito limitados... como se vocs vivessem dentro de uma caixa que est flutuando num oceano sem fim. Vocs pensam que essa caixa tudo que existe e no tm noo do universo de possibilidades que existe do lado de fora.

    Pitgoras arrisca um palpite:- Mas, se vivemos sempre dentro dessa caixa, com certeza nem sabemos nadar. Ento, como podemos fazer para explorar esse mundo desconhecido para ns?

    O anozinho olha para ns dois, srio pela primeira vez, e fala docemente: - Queridos Seres Humanos, vocs sabem nadar! Vocs simplesmente se esqueceram. Se

    me permitirem, posso ajud-los a se lembrarem. - Isso o que ns mais queremos!!! respondo por ns dois. Feliz olha para Pitgoras para ver se ele confirma as minhas palavras. - Claro! Isto o que ns estamos procurando! Ento, sorrindo novamente, ele aponta para o espao entre as duas rvores, no meio do qual

    ele se encontra, e diz solenemente:- Este o Portal do Espelho. Atravessar este Portal pode ajud-los a chegar na Terra do Sempre. Eu sou o guardio deste Portal e convido-os a entrar!

    Olho para aquele espao e me pergunto como eu nunca tinha reparado nesse Portal! Parece realmente a entrada para um reino encantado!

    - No precisamos do passaporte?! pergunto, lembrando-me das palavras da Fada Madrinha.

    - Vocs j me apresentaram seu passaporte para este Portal a sua inteno de se abrirem para o desconhecido... que, na verdade, no to desconhecido, e sim esquecido. Venham, queridos! Sigam-me!

    Sinto-me como Alice no Pas das Maravilhas! Do outro lado do Portal, tudo mais claro e

    brilhante. As cores so muito mais vivas e parece que tudo transpira amor e alegria. No h dvida que toda a natureza est cheia de vida! Sem dizer uma palavra sequer, todos nos recebem carinhosamente, como se fssemos velhos amigos as rvores, as flores, o riacho e at as pedras ao longo do caminho, todos nos envolvem num doce abrao, atravs do amor que irradiam para ns. Conforme vamos caminhando ao lado de Feliz, toda a natureza parece nos cumprimentar alegremente, como se fssemos dois filhos queridos, que h muito estavam fora de casa e que agora retornam ao lar. Eu gostaria de ficar aqui para sempre!

    Mais uma vez, Feliz l meus pensamentos e fala:- Voc pode viver aqui para sempre, Anglica. Na verdade, este o mundo real e voc j vive aqui! Aquele mundo em que voc pensa que vive, no passa de um reflexo embaado deste mundo. como se voc estivesse sempre olhando para um espelho muito velho, enxergando um reflexo distorcido da imagem real e acreditando que esse reflexo a imagem verdadeira. Isso no acontece s com voc, mas com a grande maioria dos seres humanos.

    - Ser possvel?! O nosso mundo parece to real! Olho para Pitgoras, em busca de alguma palavra que me apie, mas ele est totalmente embevecido com a explicao do nosso anfitrio. Ento digo:

    - Feliz... eu gostaria muito de acreditar no que voc est me dizendo, mas no esquisito que toda a humanidade esteja incorrendo no mesmo erro?!

    - Erro?! Quem falou que isso um erro? Isto simplesmente um jogo, digamos assim... um jogo do qual vocs concordaram em participar, para que certas mudanas importantes ocorressem mudanas que afetariam todo o universo. S que vocs esto neste jogo h tanto tempo, j

  • 14

    criaram tantas regras novas e j se envolveram tanto com ele, que se esqueceram que isto um jogo. Mas agora est na hora desse jogo terminar e...

    - Voc quer dizer que o mundo vai acabar?! pergunto, temendo a resposta que ele possa me dar.

    - Hummm! Que pergunta interessante! Ela d margem a longas reflexes. diz o anozinho misteriosamente.

    - A mim, parece uma pergunta bem objetiva! Pitgoras contesta A resposta ou sim, ou no. Que outra resposta poderia haver, alm dessas?!

    - Voc no est fazendo jus ao seu nome, rapaz! o anozinho fala, com ar brincalho O grande filsofo teria se deliciado com essa pergunta!... O mundo vai acabar?... Pense um pouco. Ou melhor, no pense! Relaxe a sua mente. Em vez de se esforar em busca de idias, relaxe a mente e deixe que as idias venham espontaneamente at voc... Que tal nos sentarmos um pouco? Aqui um timo lugar para isso!

    Realmente! A grama parece um tapete verde e macio entre as rvores que formam um recanto acolhedor e sombreado, junto a um lago de gua cristalina e serena. Feliz nos faz sentar beira do lago, de modo que possamos ver a nossa imagem refletida nele. Por alguns instantes, ele no fala nada, s fica mirando-se naquele espelho de gua, fazendo caretas e micagens que nos fazem rolar de rir! De repente ele nos pergunta:

    - Esto vendo esse palhao a dentro do lago? Fazemos que sim com nossas cabeas, pois nossas gargalhadas no nos deixam articular

    nenhuma palavra. Ele continua, como se estivesse falando com duas crianas: - Vocs acham que ele de verdade ou de mentira? - De mentira! respondemos, numa s voz. - Por qu?! ele pergunta como se estivesse totalmente surpreso com a nossa resposta, o

    que nos faz rir mais ainda Por qu? Por qu? ele insiste, at que Pitgoras toma flego e consegue dizer alguma coisa.

    - Porque ele s uma imagem refletida do verdadeiro palhao que est aqui fora. - Mas, os dois so iguaizinhos! Como voc pode saber que o verdadeiro o que est aqui

    fora e no o que est l dentro? - Porque, se tirarmos a gua do lago, aquele que parece estar l dentro vai desaparecer,

    enquanto este aqui no. - Muito bem! Muito bem! Feliz pula e bate palmas. E volta-se para mim: - Digamos que exista uma espcie de espelho entre o mundo em que vocs pensam que

    vivem e o mundo real. Lembram-se que falamos que o seu mundo um reflexo distorcido do mundo real? Ento, o que aconteceria se tirssemos esse espelho do meio dos dois?

    - O nosso mundo desapareceria. respondo, ainda sem entender completamente onde ele quer chegar.

    - E o que aconteceria com vocs a Anglica e o Pitgoras de verdade e com todas as pessoas de verdade do mundo?

    - No aconteceria nada! respondo, feliz com a minha concluso. - E com o mundo de verdade? - Tambm no aconteceria nada! Satisfeito com as minhas respostas, Feliz volta-se para Pitgoras e pergunta: - E ento, filsofo, o mundo vai acabar? Sim ou no? Meu amigo sorri e responde:- OK, mestre, voc venceu! Levantamo-nos e continuamos a nossa caminhada. Sinto-me to bem! To em casa! Mas

    ainda fico me perguntando como e por que ns entramos nesse tal jogo e de que jeito vamos sair dele. J no me surpreendo mais quando Feliz adivinha meus pensamentos:

    - Meus queridos, tenham um pouco mais de pacincia, pois logo chegaremos Cidade das Pedras e l vocs vo poder obter as respostas a todas as suas dvidas e questionamentos.

    De repente lembro-me da minha me.

  • 15

    - Devia ter trazido meu celular! digo, apreensiva Pitgoras, voc trouxe o seu? - Celular?! Feliz pergunta, quase sem poder conter a risada Para que voc quer um

    celular, Anglica?! - Ns dois samos para uma curta caminhada depois do almoo e acabamos vindo para c,

    atrs de voc. Agora voc diz que vamos at a Cidade das Pedras... no sei onde isso, mas, pelo jeito, ainda vamos demorar muito por aqui. Preciso avisar a minha me, porque ela j deve estar preocupada com o nosso sumio!

    - Ah... no preciso. O tempo aqui no igual ao tempo do outro lado. Voc nunca teve um sonho comprido, cheio de aventuras, para depois acordar e perceber que se passaram apenas alguns minutos? Aqui a mesma coisa, querida. Com a diferena de que isto no um sonho o que um sonho aquilo que vocs chamam realidade.

    Comeo a ficar com um pouco de medo de ter entrado numa fria... E se esse ano for um maluco? E se ele estiver nos levando para um lugar de onde nunca mais poderemos voltar? Quem me garante que ele est dizendo a verdade?

    - Se este o mundo real, como voc diz, onde esto as pessoas? At agora no vimos ningum. Ou ser que no mundo real no existe gente? pergunto, desafiadoramente.

    - Claro que existe! Todas as pessoas do seu mundo esto aqui! - Como podem estar em dois lugares ao mesmo tempo? - Elas no esto em dois lugares, elas s esto aqui. O que est l a imagem refletida

    delas. O que acontece que as pessoas se identificaram de tal modo com essa imagem, que esqueceram quem realmente so! Por isso voc no v ningum por aqui... como se todos estivessem dormindo um sono de sculos, acreditando que so o personagem do seu prprio sonho. Enquanto eles no tiverem vontade de despertar, vo continuar nesse estado.

    Penso nas palavras da minha Fada Madrinha:- Pode abrir os olhos, que voc no vai perder o que voc est chamando de sonho... quando eu digo despertar, na verdade estou querendo dizer lembrar. Est na hora de voc se lembrar de quem voc realmente . Talvez o anozinho no esteja to errado...

    Ele continua:- Mas algumas pessoas j esto despertando... na verdade, muitas! E logo este mundo estar novamente vibrando com a vida e o calor de todas as pessoas. No vejo a hora disto acontecer!!! Enquanto isso, vou lhe mostrar alguns seres humanos, para voc no ficar to desconfiada.

    Olho para os lados, procurando Pitgoras. Ai, meu Deus! Ser que ele desapareceu?! Um frio percorre toda a minha coluna vertebral. Parece que vou desmaiar, de tanto medo!

    - Querida menina Feliz fala docemente, procurando me acalmar O medo no condiz com a energia do mundo real. Enquanto voc se deixar levar por esse sentimento, voc no poder entrar na Terra do Sempre. Lembra que o passaporte para a Terra do Sempre a alegria? A alegria uma das manifestaes do amor. E onde h amor no existe medo.

    Mas estou com tanto medo, que j nem sei mais se quero ir para essa tal Terra do Sempre. Onde que eu estava com a cabea, quando fui aceitar entrar nesta aventura? Agora estou aqui, num lugar que nem sei onde fica, sozinha com um ano de contos de fadas, sem celular... De repente ouo risadas de crianas e ento meu corao se aquece.

    - Anglica! Anglica! as crianas gritam, enquanto correm ao meu encontro. Atrs delas, vem Pitgoras, dando aquelas suas piruetas de circo.

    - Cristina! Cristiano! O que vocs esto fazendo aqui?! exclamo surpresa e lano um olhar acusador para Feliz, imaginando que ele deve ter seqestrado as crianas tambm. Os gmeos me abraam e me beijam efusivamente, contentes por me encontrarem ali.

    - O que vocs esto fazendo aqui? repito e os dois respondem ao mesmo tempo: - Ns moramos aqui! - Vocs moram aqui?! pergunto e volto a lanar um olhar inquisidor para o ano, que

    me responde sorrindo satisfeito: - Esses so alguns dos seres humanos que eu ia lhe apresentar... como falei h pouco. Volto-me novamente para as crianas:

  • 16

    - Ento, onde est a sua casa? Onde esto seus pais? Eles apontam para um bosque atrs de mim e Cristiano fala: - Nossa casa fica naquela montanha, depois do bosque. Estvamos brincando no terrao,

    quando vimos o Pitgoras passeando por ali e descemos correndo para encontrar com ele! - E os seus pais? insisto, ainda desconfiada. - Bem... diz a menina, meio sem jeito ... nossos pais esto dormindo. Eles ainda no

    acordaram de uma vez. s vezes eles tm vontade de acordar, a eles abrem os olhos, olham para tudo, acham tudo lindo e interessante... mas logo voltam a dormir de novo. Acho que ainda gostam de ficar naquele sonho.

    - Mas, e vocs? Como que ficam? Moram l e aqui ao mesmo tempo? - Ns s moramos aqui, quem mora l so os nossos reflexos... mas eles no so de

    verdade. Nossos pais pensam que so, mas no so. - E quem cuida de vocs aqui, se seus pais esto sempre dormindo? - Aqui a gente no precisa de muitos cuidados... a gente tem tudo que precisa pra viver. E

    no existem perigos aqui. Todos so amigos, todos so amorosos, todos cuidam de todos. Isto est me parecendo o Paraso! Acho que agora quem est sonhando sou eu! - Pitgoras, diga alguma coisa! falo, irritada com a passividade dele! Ele se espanta

    com a meu tom e pergunta: - Alguma coisa sobre o qu?! - Sobre tudo isto, oras! - Acho que estamos encontrando as respostas aos nossos questionamentos! Estou

    encantado com tudo! As crianas percebem o meu mal-estar e perguntam alegremente: - Voc gostaria de conhecer a nossa casa? - Boa idia! diz o anozinho Anglica est precisando espairecer um pouco.

    Podemos deixar nosso passeio Cidade das Pedras para mais tarde. Quando voltarem, estarei aqui sua espera.

    - Claro que quero! respondo, aliviada! Pitgoras pode ir tambm? Os dois olham para Pitgoras, fingindo que esto pensando se vo ou no convid-lo. E ele

    finge estar tenso, espera do veredicto... Logo os dois pulam nos braos do meu amigo, gritando: - Pode! Pode! Pode! Despedimo-nos de Feliz e nos embrenhamos no bosque, tomando um caminho estreito que

    leva ao alto da montanha. Depois de caminharmos um pouco, avistamos a casa dos gmeos ao longe. Que estranho! Parece que j conheo essa casa!

    Num instante chegamos l. A porta de entrada est aberta e nos leva a uma sala decorada de forma muito aconchegante. Antes de nos sentarmos, Cristiano diz sorrindo, com jeito de quem est querendo nos fazer uma surpresa ou nos pregar uma pea:

    - Venham ver que vista bonita temos aqui do terrao! e fica olhando para mim, para ver a minha reao.

    Quando chego no terrao, quase perco o flego! Eu j estive aqui antes!... Mas, quando?! As crianas caem na risada... elas sabem da algo que eu no sei. Pitgoras fica olhando para ns trs, sem entender nada.

    Cristina me diz, docemente:- Preste ateno no seu corao. Perceba como ele est agora.

    Ento volta-me a imagem daquele sonho com o corao e vejo-me num terrao de uma casa de montanha, de onde enxergo um bosque minha direita e um rio esquerda, que desce a montanha e perde-se de vista atrs de umas pedras muito grandes. Sinto o corao tranqilo, batendo ao ritmo de uma msica suave e harmoniosa.

    Cristiano tira-me do meu devaneio, apontando para aquelas pedras enormes, l embaixo: - L a Cidade das Pedras. Para entrar, vocs vo precisar deixar algumas coisas para

    trs... Feliz vai falar sobre isso com vocs.

  • 17

    - Cristiano... digo, totalmente recuperada dos meus medos, mas ainda no entendendo direito o que est acontecendo ... como voc sabia do meu sonho?

    Ele e a irmzinha comeam a rir de novo, mas logo Cristiano se recompem e me explica: - Vocs sempre confundem sonho e realidade. Quando esto sonhando, acham que esto

    vivendo de verdade, e quando esto vivendo de verdade, acham que esto sonhando!... Aquilo no era um sonho. Voc estava aqui mesmo! Voc veio ver como viver no mundo real, para poder fazer sua escolha.

    - Escolha?! - . A Fada no falou pra voc escolher com o corao? Ento! Por isso seu corao lhe

    mostrou algumas cenas do mundo real e outras do mundo de mentira, onde voc pensa que vive... E mostrou como ele se sente em cada uma delas.

    Como essas crianas podem ser to sbias?! De repente parece que Pitgoras comea a entender tudo aquilo... e muito mais. Cheio de

    entusiasmo, ele se volta para mim e desanda a falar e gesticular: - Lembra o que voc me disse naquele meu sonho?... Ou melhor... talvez no fosse um

    sonho. Provavelmente estvamos no mundo real, quando voc me mostrou aquelas bolas de energia, que iam se abrindo como uma flor, apresentando-me cenas em que eu era o protagonista, cada uma trazendo-me um sentimento diferente. Voc me disse:- Tudo isso existe como potencial. Cabe a voc escolher aquilo que voc quer para si mesmo e trazer isso para a sua realidade. Na verdade, o que voc queria dizer que eu poderia ir no mundo real e buscar o potencial que eu queria vivenciar no meu estado de sonho... que eu penso que a realidade! Uau! Que maravilha!

    - Que loucura! digo Estou comeando a embaralhar as minhas idias. - Ento, vamos fazer um lanchinho! diz Cristiano, levando-nos de volta para a sala

    Vocs devem estar com fome. Para nossa surpresa, a mesa est posta com todas as delcias que se possa imaginar, numa

    casa habitada por crianas. Quem teria feito tudo aquilo? Quem teria arrumado a mesa? E quem seriam os outros convidados, j que h muito mais do que quatro lugares mesa. Prefiro no perguntar nada e deixar as coisas acontecerem.

    Ao toque de um sino, a sala se enche de crianas, alegres e cheias de vida! Os gmeos nos apresentam a elas e cada uma vem nos dar um abrao de boas-vindas. Parecem realmente felizes com a nossa presena!

    - difcil encontrar um adulto por aqui. diz uma delas. Quase todos esto dormindo! - A Anglica e o Pitgoras vo trabalhar com a gente! Cristiano anuncia, para nossa

    surpresa. Percebendo o nosso espanto, o menino pergunta: - Agora que vocs j sabem a verdade, no vo querer ajudar os outros a descobrirem

    tambm? Esse o nosso trabalho. - Sim... no... quero dizer... voc acha que algum vai acreditar em ns? Mal pronuncio estas palavras, volta-me mente aquele momento no parque, quando

    pergunto aos gmeos:- Se eu no sou Anglica, ento quem eu sou? Ou o que eu sou? e Cristina me responde:- Se a gente contar, voc no vai acreditar. Voc tem que descobrir sozinha. No estamos aqui para contar quem voc , mas para ajudar voc a descobrir sozinha.... Ento, isso que eu vou ter que fazer... S que... Pitgoras tira-me as palavras da boca:

    - S que ainda no sabemos exatamente quem ns somos, ou o que ns somos na realidade. Isto ainda est meio obscuro para ns. Como vamos poder ajudar os outros, se ns mesmos ainda no temos todas as respostas?

    - Vocs no precisam ter todas as respostas, porque vocs no vo ter que responder nada pra ningum. diz uma das menininhas Vocs simplesmente vo deixar as pessoas curiosas e elas mesmas vo correr atrs das respostas... No foi assim que aconteceu com vocs?

    Crianada esperta!!! Mas ainda no sei como vamos fazer isso. Antes que eu possa dizer alguma coisa, um garotinho responde: - No esquentem a cabea! Vocs no vo ter que fazer nada de especial simplesmente

    sejam quem vocs realmente so, porque com isso vocs j vo deixar as pessoas curiosas.

  • 18

    Eu e Pitgoras ficamos pensativos, imaginando como isso poder acontecer... mas j estamos aprendendo a deixar as coisas flurem, sem raciocinar muito a respeito delas. Ento, relaxamos e nos deixamos levar pela alegria e descontrao das crianas

    - Vamos comemorar! diz um dos meninos, e todos samos atrs dele para um ptio ensolarado, rodeado de flores das mais diversas cores. Num piscar de olhos, todos se do as mos, deixando-me no centro da roda, e comeam a cantar uma cano divertida. Pitgoras percebe o meu embarao e entra na roda, tirando-me para danar. E assim ficamos, no sei quanto tempo, danando, cantando e nos divertindo como crianas. Meu corao est feliz.

    As crianas voltam para seus lares, e ns nos despedimos dos gmeos, descendo a montanha para reencontrar Feliz. Estou envergonhada por ter desconfiado dele, mas sei que ele no vai ficar zangado comigo... Afinal, ele o Feliz e no o Zangado!

    - Que bom que vocs voltaram! ele nos recebe com sincero carinho Esto prontos para seguir para a Cidade das Pedras?

    - Querido Feliz.. respondo delicadamente ... desejamos muito conhecer essa cidade, mas estou realmente preocupada com os meus pais. J faz muito tempo que samos de casa e eles devem estar... Sim, voc j nos explicou que o tempo aqui no igual ao de l, mas mesmo assim, eu gostaria de voltar e ficar um pouco com eles.

    - Vocs que decidem! Quando quiserem, podem encontrar-me naquele mesmo lugar. Estarei l, sua espera.

    E, dizendo isso, desaparece. - Espere! Como fazemos para voltar para casa?! pergunto assustada. - Olhe, Anglica! Pitgoras me chama a ateno, to espantado quanto eu, ao descobrir

    que estamos recostados naquela grande pedra, como se nada tivesse acontecido! A nica diferena que agora o sol est queimando... no h mais sombra. No h mais sombra?!

    - Pitgoras! As rvores foram embora!!! - Que rvores? Como?! - As rvores do Portal! O Portal sumiu! Olhamos para todos os lados. Estamos no mesmo lugar, a pedra a mesma, a vegetao a

    mesma... mas o Portal no est mais l! Ser que estivemos sonhando? Ser possvel que ns dois tivemos o mesmo sonho?

    Exatamente igual? Encontramos meus pais sentados na varanda, conversando animadamente com um senhor

    de barbas grisalhas e aspecto imponente. Ao me ver, ele abre os braos carinhosamente e vem ao meu encontro sorrindo:- Anglica querida! Voc se transformou numa linda mulher!

    S ento reconheo o tio Guilherme, irmo mais velho do meu pai. No o via desde criana, mas lembro-me que ele sempre me causou uma impresso forte, pelo seu jeito independente, aventureiro e totalmente fora dos padres.

    - Tio Guilherme! Por onde voc andou todo esse tempo?! pergunto abraando-o com saudades.

    - Voc nem pode imaginar, menina! E ento olha para Pitgoras e me diz, fingindo-se surpreso No me diga que voc j se casou?

    - No, tio, este um amigo querido, que veio me fazer companhia nesta visita aos meus pais. Pitgoras, este meu tio Guilherme.

    - Que belo nome, rapaz! Voc sabe quem foi Pitgoras?... E no me venha dizer que o nome de um teorema! e ri aquela sua risada escancarada.

    Pitgoras ri tambm e conta o caso do seu nome. Quando ele fala do seu profundo interesse por Numerologia, meu tio se entusiasma todo!

    - Os nmeros tm algo que me fascina! Apesar de serem utilizados normalmente de uma forma prtica e lgica, tenho certeza que eles tm um lado mgico, que a maioria de ns desconhece. Pitgoras utilizava os nmeros para simbolizar alguns conceitos abstratos... e sinto que ele estava no caminho certo. Ele comparava os nmeros a deuses, pois considerava que os

  • 19

    nmeros, assim como os deuses, tinham um aspecto imaterial e independente, que os distinguia dos mortais, presos tridimensionalidade. Quem sabe se, no fundo, esses tais deuses no representavam o nosso prprio aspecto imaterial e imortal?

    - Ento, o senhor acredita que no somos apenas matria. - Sem dvida!!! Acredito que somos seres espirituais ilimitados, disfarados de seres

    humanos, experimentando viver dentro dos limites de um corpo fsico... Ainda no entendi muito bem a graa dessa brincadeira, mas deve haver um propsito maior nisso, que ns ainda no sabemos... ou talvez saibamos, mas no nos lembremos.

    Nesse momento, minha me se levanta para ir preparar um suco para ns e eu acompanho-a at a cozinha.

    - Voc no me falou que tio Guilherme tambm vinha passar uns dias aqui. comento. - Eu no sabia. Ele apareceu de repente... como do seu feitio. Mas acho que vai ser

    timo, pois ele uma companhia super agradvel... E no se preocupe, porque temos lugar para acomodar todos vocs nesta casa!

    Que bom! Estou muito contente de reencontr-lo. Sempre gostei muito dele... ele sempre me pareceu uma figura misteriosa, mas extremamente simptica! Acho que ele e Pitgoras vo se dar bem.

    - Tambm tenho essa impresso. Minha me concorda e, mudando bruscamente de assunto, pergunta-me quase sussurrando:- Vocs passaram pelo Portal do Espelho?

    - H?! Pega de surpresa, fico sem saber o que responder e falo a primeira coisa que me vem cabea:- Por que voc est me perguntando isso?!

    - Porque vocs voltaram diferentes de como saram daqui. Seu olhar est diferente, seus modos esto diferentes... toda sua energia est diferente.

    Como a minha me pode ser sensvel a ponto de perceber uma mudana to sutil? Ou ser que est to evidente assim?!... Mas, se ela est perguntando isso, quer dizer que aquilo tudo aconteceu mesmo!... E que ela tambm j deve ter passado por essa experincia!

    - Ento voc sabia da existncia desse Portal! digo-lhe, mais uma vez sentindo-me trada por ela nunca ter me falado nada a respeito. Percebendo o meu aborrecimento, ela fala, carinhosamente:

    - Voc j se esqueceu das histrias que eu lhe contava quando era criana? Do anozinho que guardava a entrada para um reino encantado, onde tudo era paz, alegria, felicidade, onde no existia injeo, nem bife de fgado... lembra?

    - Claro! dou risada, ao lembrar do bife de fgado. Ela sempre acrescentava esse detalhe sua histria, porque sabia que eu detestava bife de fgado Voc estava falando disto?!... Mas, naquele tempo, a gente morava na cidade! A gente nem conhecia este stio. Como que voc podia saber da existncia desse Portal?

    - E quem disse que esse Portal est localizado neste stio? - Eu estou dizendo! Porque eu o atravessei hoje e ele estava dentro do stio! - Falou certo, querida... estava... ou melhor, parecia estar, porque um Portal

    interdimensional e, portanto, no limitado pelo espao nem pelo tempo. - Ento por isso que ele aparentemente desapareceu! Fico muito feliz por estar podendo conversar com a minha me sobre estas coisas! No

    podia imaginar que ela fosse to aberta a essas questes esquisitas. - Me, e se eu quiser encontrar o anozinho de novo?... que ele ficou de nos levar a um

    outro lugar... Como vamos fazer, se o Portal no est mais l? - Com a inteno, querida. Quando vocs tiverem a inteno sincera de encontr-lo e

    segu-lo at esse outro lugar, ele aparecer para acompanh-los at l. Sim, ele falou sobre a inteno, quando lhe perguntei se no precisvamos de um passaporte

    para atravessar o Portal:- Vocs j me apresentaram seu passaporte a sua inteno de se abrirem para o desconhecido... que, na verdade, no to desconhecido, e sim esquecido.

    Voc acha mesmo que isto que estamos vivendo uma espcie de sonho? pergunto. - Acho, mas...

  • 20

    - As duas foram cochichar l na cozinha e se esqueceram que estamos com sede! ouvimos os homens reclamando l na varanda. Apesar de percebermos seu tom de brincadeira, resolvemos voltar com os sucos e deixar a nossa conversa para mais tarde.

    Mas, enquanto colocamos os copos na bandeja, minha me completa o que comeara a me dizer:- Sinto que est na hora de despertarmos desse sonho e percebermos que no precisamos mais das doenas, da pobreza, dos conflitos, das tragdias, pois somos seres perfeitos, criados para viver em paz, amor, sade, abundncia, alegria e tudo que h de bom. Muitas pessoas j esto nesse processo de despertar e, quando um grande nmero de pessoas acordar desse sonho, a paz voltar a reinar sobre a Terra... e acredito que ainda estaremos vivos para ver isso acontecer!

    Que bom ouvir estas palavras! Elas enchem meu corao de amor e esperana! Ao nos ver com a bandeja de sucos, tio Guilherme faz cara de coitado e, fingindo-se rouco,

    diz - Finalmente! J perdemos a voz, de tanta sede! - Exagerado! diz minha me, rindo Duvido que voc estivesse quieto... Pitgoras,

    diga a verdade meu cunhado estava mesmo mudo? No consigo imagin-lo de boca fechada Pitgoras, ento, comea a falar por mmica, como se ele mesmo tivesse perdido a voz. Tio

    Guilherme no se agenta e d uma das suas sonoras gargalhadas. Todos ns camos na risada, com a reao inesperada do meu amigo.

    - Anglica, vamos servir logo esses homens, antes que eles desmaiem de sede! minha me me diz, ainda rindo, enquanto vai enchendo os copos com o suco refrescante Sirva o seu pai primeiro, que o mais comportado dos trs.

    - Obrigado, querida! meu pai agradece e vira o copo de suco de uma s vez, olhando para os outros dois para lhes fazer inveja, enquanto eles continuam encenando os quase-mortos de sede, implorando por um copo daquele lquido precioso Agora melhor servir esses dois infelizes!

    Inflando o peito e reassumindo seu vozeiro, tio Guilherme dirige-se para a minha me: - Maria Clara, minha querida cunhada, o seu suco me trouxe novas foras! e, voltando-

    se para Pitgoras Agora que estamos reabastecidos, podemos continuar o nosso papo... O meu interesse por Geologia comeou bem cedo, quando eu ainda era criana. Naquele tempo, eu j adorava viajar e ficar observando os contornos das montanhas, os diferentes tons e texturas da terra, as formaes rochosas...

    - Ele adorava catar pedrinhas... meu pai interrompe-o ... e levava tudo para casa, abarrotando os nosso armrios.

    - Eram os meus brinquedos preferidos! Eu tinha muito mais pedras do que carrinhos, por exemplo. s vezes eu me apaixonava por uma determinada pedra e passava horas trocando idias com ela.

    - O senhor conversava com elas? Pitgoras pergunta, sem nenhum tom de crtica. Mas, meu pai no se agenta e aproveita para mexer com seu irmo:

    - Ele sempre foi meio maluquinho! Mas meu tio finge no ter escutado e responde: - Conversava a meu modo. Eu ficava observando a pedra e imaginando toda a sua

    histria. Uma vez, por exemplo, eu encontrei uma pedra bem redondinha uma esfera perfeita e lisinha na beira de um riacho, na fazendo do meu av. Fiquei muito impressionado com ela, porque nunca tinha visto uma pedra assim. Ser que ela havia nascido daquele jeito?! Ser que algum artista a tinha esculpido? Ou ser que aquilo no era uma pedra, e sim um ovo de alguma ave pr-histrica?... Essas dvidas me perturbavam tanto, que eu achei melhor fazer essas perguntas para a prpria pedra...

    - Por que no foi perguntar para o pai?! meu pai interrompe mais uma vez Seria muito mais lgico!

    - O pai estava sempre trabalhando e eu precisava da resposta na hora. Alm disso, sabe como criana criana no tem muita noo do que lgico ou ilgico, do que possvel ou impossvel. Alis, criana no se preocupa nenhum pouco com isso! Provavelmente eu achava que

  • 21

    a pedra me daria uma resposta mais exata, o que no deixa de ser um pensamento bem razovel, no acha, Osvaldo?

    - Hmm... meu pai responde, sem dizer sim nem no, mas curioso para saber o fim da histria E da? Ela falou alguma coisa ou no?

    - Falar, do jeito que ns falamos, ela no falou... afinal, ela no tinha boca, no ? Dou risada, lembrando da minha conversa com Feliz. Meu tio continua: - Mas, de alguma forma, ela se comunicou comigo e me contou a sua histria. Ela era

    filha de uma pedra muito grande, que vivia junto nascente, no alto da montanha. De tanto a gua bater nessa pedra, ela foi se quebrando e se repartindo em vrios pedaos... formando diversos filhotes, dos quais a minha pedra era um. E esses filhotes foram levados pela correnteza, batendo nas pedras maiores e rolando pelo leito arenoso do riacho. Dessa forma, eles foram sendo esculpidos e assim a minha pedra acabou ficando redondinha daquele jeito.

    - Um seixo rolado! digo, dando-me conta do significado dessa expresso S agora caiu a ficha!

    Meus pais pedem licena para darem uma saidinha:- Precisamos ir at a cidade, fazer algumas compras no mercado, mas logo estaremos de volta. Guilherme, espero que no se importe...

    - De jeito nenhum! Estarei em tima companhia! e, voltando-se para ns dois, continua: - Foi assim que eu aprendi a conversar com as pedras uma espcie de comunicao

    teleptica. As pedras tm muito a nos ensinar! Imaginem h quantos sculos elas existem sobre a face da Terra; imaginem quantas coisas elas j presenciaram! Vocs acham que elas ficaram ali paradas, s olhando? No! Elas registraram todos os acontecimentos... tudo est arquivado no corpo de uma pedra.

    Essa conversa me d uma vontade enorme de fazer uma pergunta ao tio Guilherme, mas fico me questionando se devo ou no... eu teria que falar sobre o anozinho e no sei como meu tio encararia isso. Mas Pitgoras, sem mais rodeios, faz a pergunta por mim:

    - O senhor j ouviu falar da Cidade das Pedras? Para o nosso espanto, meu tio leva um susto e fica mudo durante alguns segundos, fitando-

    nos com um olhar incrdulo. Finalmente, mudando totalmente o tom de voz, fala como uma criana que acaba de ver Papai Noel em pessoa:

    - Ento, essa cidade existe mesmo? - Bem... Pitgoras responde, cuidando para no quebrar aquele encanto Acho que

    sim, porque fomos convidados a visit-la. - Quando? Quem? Como? meu tio mal consegue conter a excitao. Pitgoras olha para mim, como quem diz:- E agora? Conto ou no conto? - Tio... digo, medindo as palavras Acabamos de passar por uma experincia muito

    interessante, embora um tanto fantstica... - Conte-me, por favor! ele quase implora. - Hoje, depois do almoo, samos para dar uma caminhada e... com a ajuda de

    Pitgoras, vou tentando colocar em palavras aquilo que vivenciamos atrs do Portal do Espelho. Meu tio ouve com a maior ateno e interesse, sem nos interromper. Quando terminamos, ele pergunta:

    - E quando vocs pretendem ir Cidade das Pedras? - Na verdade, ainda nem tivemos tempo de pensar sobre isso... ainda estamos nos

    perguntando se essa experincia foi real ou se foi um sonho a dois. respondo. - Meus queridos sobrinhos, tenho certeza que foi real e espero que resolvam voltar a

    encontrar esse ano logo, porque quero ir com vocs! Eu e Pitgoras olhamos um para o outro, totalmente surpresos com essa reao do meu tio!

    Ao mesmo tempo, sentimo-nos mais seguros em relao ao que passamos esta tarde, agora que temos o apoio dele. Pensando bem, seria muito interessante ter a sua companhia durante a nossa prxima viagem. Pitgoras se entusiasma com a idia e fala:

    - Se a Anglica topar e o senhor tambm podemos ir amanh de manh!

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    - Por mim, eu iria agora mesmo! diz meu tio Mas acho que voc tem razo de querer ir amanh cedo, pois daqui a poucas horas j vai comear a escurecer. Amanh teremos mais tempo para desfrutar desse passeio! E voc, Anglica, o que nos diz?

    - Para mim, est bem, podemos sair logo depois do caf da manh. S tem um porm o Portal desapareceu, lembram? Ento, como vamos fazer para encontrar Feliz?

    - Ele no falou que estaria l, naquele mesmo lugar, quando vocs resolvessem continuar a viagem? Ento, vamos at l, porque ele deve aparecer, com Portal ou sem Portal.

    - Tem razo, tio, podemos tentar... Agora, satisfaa-me uma curiosidade: onde voc ouviu falar da Cidade das Pedras?

    - Eu nunca ouvi falar dela, eu a vi eu tive um sonho muito real, em que eu chegava nessa cidade, em busca de uma informao muito importante. J tentei de todos os modos me lembrar que tipo de informao era essa, mas no consegui. Mas, ainda me lembro da emoo que eu senti ao chegar l... ao me deparar com aquele crculo de pedras pontudas, que irradiavam uma energia to forte, que fazia todo meu corpo vibrar! Quanto mais eu me aproximava desse crculo, mais forte o meu corpo vibrava. At que eu desmaiei... e acordei na minha cama! A frustrao que eu senti, ningum pode imaginar! Eu no queria admitir que aquilo tivesse sido apenas um sonho... alis, nunca admiti, andei procurando por toda parte essa tal cidade, mas ningum nunca tinha ouvido falar dela... at este momento. Ainda no acredito que eu possa estar to perto dela, agora! Mal posso esperar que chegue o dia de amanh!

    Antes das nove da noite, j estamos indo nos deitar, realmente cansados de tantas emoes e experincias diferentes que vivemos neste dia. Ao desejarmos boa noite para meu tio, ele diz para Pitgoras:- Vamos parar com essa histria de senhor para c, senhor para l. Pode me chamar de Guilherme... ou tio, se preferir. Afinal, somos companheiros de aventura, no ? Pitgoras sorri, concordando:- OK! At amanh, tio! Espero que consiga dormir! - Bom dia, Maria Clara! Bom dia, jovens! tio Guilherme nos cumprimenta bem-humorado e senta-se conosco para tomar o delicioso caf da manh que minha me preparou para ns E o Osvaldo, onde est? - J saiu! Tinha que resolver algumas coisas na cidade e achou melhor ir logo cedo para poder estar aqui antes do almoo e nos fazer companhia. Ns trs nos entreolhamos, engolindo em seco, com certeza pensando a mesma coisa ser que estaremos de volta para o almoo? Mas, nenhum de ns fala nada. Minha me, naturalmente, percebe os nossos olhares, mas finge-se de boba. Fico me perguntando se ela no gostaria de ir conosco... Enquanto ajudo-a a tirar a mesa, resolvo me abrir com ela:- Me, resolvemos tentar encontrar o anozinho do Portal de novo. Tio Guilherme est muito interessado nessa histria e quer ir conosco. - No de se espantar. Seu tio adora uma aventura! - E voc? No gostaria de ir tambm?

    - Obrigada, Anglica, mas tenho muito o que fazer aqui hoje. Alm disso, imagine se o seu pai chega e no encontra nenhum de ns. Vai ficar mais do que preocupado! E sem saber onde nos procurar!

    - Tem razo... se bem que acho que voc no deveria se privar de certas coisas por causa dele. Podemos deixar-lhe um bilhete, ou avis-lo pelo celular que resolvemos sair para um passeio...

    - No estou me privando de nada por causa dele, querida na verdade, estou conscientemente escolhendo no ir. Sei que provavelmente vocs vo passar por experincias interessantssimas, mas hoje prefiro ficar aqui em casa, cuidando dos meus afazeres.

    - Que pena! Mas entendo... cada um no seu prprio tempo, no ? Tio Guilherme entra na cozinha, equilibrando alguns pratos, talheres e guardanapos. Atrs

    dele, vem Pitgoras, carregado de xcaras e tudo que ele pode trazer da mesa. - Os dois esto mesmo com pressa de ir passear, hein?! minha me comenta, rindo com

  • 23

    a falta de jeito deles. - Estou louco para dar uma caminhada e desenferrujar as minhas pernas. diz meu tio,

    sem desconfiar que sua cunhada sabe muito bem qual o motivo da sua pressa. Tomamos o mesmo caminho de ontem, andando quase sem falar, cada um voltado para os

    seus prprios pensamentos. At que avistamos aquela mesma pedra. Olhamos em toda volta, na esperana de ver o Portal de novo, mas ele realmente no est mais l.

    - O que vamos fazer? pergunto. Pitgoras sugere:- Vamos cham-lo. Ele disse que viria quando estivssemos prontos... Vou

    contar at trs e ento a gente grita juntos Feliz! talvez assim ele nos escute... um... dois... trs.

    - FELIZ!!! gritamos a uma s voz e aguardamos alguns segundos. - De novo! Um... dois... trs FELIZ!!! mas nada do ano aparecer. - Vamos tentar mais uma vez... quem sabe? Vamos l... um... dois... trs FELIZ!!! De repente percebemos o ridculo daquela situao e camos na gargalhada! Trs adultos

    berrando no meio da mata, chamando um dos anezinhos da Branca de Neve! Imagino se os meus ex-colegas de trabalho me vissem agora! Com certeza no me reconheceriam... Na verdade, nem eu mesma estou me reconhecendo. Eu jamais poderia me imaginar numa situao como esta!

    Pitgoras o primeiro a se sentar na relva, encostando-se na pedra para descansar um pouco, em busca de uma inspirao sobre o que fazer agora. Eu e o tio Guilherme logo o imitamos. Quando estou abaixando-me para sentar, vejo, com o canto dos olhos, um vulto sentado perto de ns. Imediatamente olho para aquele lado e meus companheiros automaticamente fazem o mesmo. E, para nossa surpresa, l est um jovem ndio, sentado entre duas pedras compridas que no estavam ali antes! Parecem duas colunas e formam uma espcie de portal. O ndio sorri para ns, quase se desculpando:

    - Estavam esperando o Feliz, no ? Mas, se quiserem entrar na Cidade das Pedras, tm que passar por este Portal... e j que eu sou o guardio, eu mesmo posso acompanhar vocs.

    - Mas, como voc pode nos acompanhar, se voc tem que ficar guardando o Portal? pergunto e no mesmo instante me lembro que Feliz fez a mesma coisa... parece que tem algo de esquisito nessa histria! Mas o ndio explica:

    - um Portal interdimensional assim como o Portal do Espelho, que vocs atravessaram ontem ento, ele no visvel para todas as pessoas. Na verdade, ele s visvel para aqueles que desejam sinceramente e esto abertos para penetrar no desconhecido... que nem to desconhecido, mas sim, esquecido.

    Parece que j ouvi essa frase antes! - Vamos entrar? ele nos convida, levantando-se e indicando, com um gesto, que a

    passagem est aberta. Mais do que depressa, atravessamos o Portal e seguimos pela estrada que se abre atrs dele.

    A paisagem aqui completamente diferente daquela que Feliz nos apresentou. Tudo tambm muito claro, as cores tambm so mais vivas do que no nosso mundo, mas h muito menos vegetao a maior parte da paisagem composta de pedras de todos os tamanhos e cores. E isso d um ar um pouco mais srio a todo o ambiente. A energia completamente diferente. Enquanto na paisagem de ontem tudo parecia muito fresco e jovem, na de hoje respira-se ancestralidade e sabedoria... fico admirada comigo mesma de estar percebendo essas diferenas!

    - Vocs devem estar notando a diferena entre o lugar que vocs visitaram com Feliz e este, no ? Este ndio tambm l nossos pensamentos! porque este lugar est impregnado de conhecimentos antiqssimos. como uma imensa biblioteca! Cada pedrinha que encontramos no caminho tem uma histria para contar... ou vrias. Todas elas tm profundos conhecimentos sobre a histria deste planeta e dos seus habitantes. Aqueles que conseguem entender a linguagem das pedras, podem acessar esses conhecimentos com facilidade, pois elas adoram transmiti-los para os seres humanos ... e, ao dizer isso, olha fixamente para o tio Guilherme. Ser que j o conhece?!

  • 24

    - Voc tem razo, amigo... diz meu tio, fascinado com esta conversa ... desde criana venho desenvolvendo essa habilidade e tenho aprendido muitas coisas importantes com elas!

    - Quando uma pedra sente o interesse do ser humano por ela, sempre d um jeito de se comunicar com ele. As pedras so verdadeiros mestres para quem se abre para os seus ensinamentos.

    - E como fazemos para mostrar nosso interesse por elas? pergunto. - No preciso fazer nada, a no ser sentir verdadeiramente esse interesse. Elas

    percebem. A maioria das pessoas pensa que as pedras so seres inanimados, mas isso no verdade. Elas so to vivas quanto cada um de ns! Toda a natureza tem vida! O planeta Terra um ser vivo! E as pedras fazem parte do corpo dele! Da mesma forma que as clulas do nosso corpo tm vida, as partes do corpo da Terra tambm tm.

    - Se a histria do nosso planeta e de toda a humanidade est registrada nas pedras, ento deve haver uma relao entre as pedras e o nosso DNA... Pitgoras arrisca.

    O ndio d um sorriso de satisfao, mas no diz nem sim nem no. - Claro!!! meu tio exclama, como quem acaba de fazer uma descoberta incrvel No

    nosso DNA esto registradas todas as nossas heranas genticas... De alguma forma, essas heranas acabam fazendo parte das heranas genticas de toda a humanidade, ou seja, da histria do ser humano na Terra. Ento...

    - Ento as pedras so o DNA da Terra! concluo rindo. - Vocs esto bem prximos da verdade. diz o ndio misteriosamente. Ficamos em silncio, esperando que ele nos revele alguma coisa, mas ele se cala.

    Entendemos que ainda no o momento de recebermos essa informao e ento resolvo mudar de assunto:

    - Gostaramos de saber como voc se chama. Voc poderia nos dizer? - Com todo prazer! Meu nome Olho de Tigre. - Que interessante! Voc sabe qual a razo de ter recebido esse nome? - Esse o nome de uma pedra. Meu povo diz que quem possui um Olho de Tigre e o

    mantm sempre junto ao corpo, consegue olhar para dentro de si mesmo e enxergar os recursos que existem em seu prprio interior para a realizao dos seus sonhos e para a cura do prprio corpo, quero dizer, a pessoa consegue entrar em contato com o seu poder pessoal. Meus pais acreditaram que, dando-me o nome dessa pedra, eu possuiria os dons que ela proporciona. E acho que eles tinham razo! ele diz, sorrindo Embora no tenha necessidade de us-la sempre comigo, tenho um grande respeito e amor por essa pedra... assim como tenho por todas as outras!

    Ele nem precisava ter dito isso, pois a forma com que ele se refere s pedras e olha para elas denunciam o grande amor e considerao que ele tem por elas. evidente o prazer que ele sente em estar ali, servindo como guardio daquele espao sagrado. Com certeza ele escolheu essa ocupao com o corao!

    Tio Guilherme comenta: - Nas minhas andanas por este mundo, tenho observado que os povos que vivem mais em

    contato com a natureza utilizam as pedras para os mais variados fins. Eu mesmo tenho experimentado usar cristais com finalidades curativas, com bons resultados. Mas, o que eu mais aprecio segurar uma pedra por alguns instante especialmente quando estou muito agitado e sentir minha mente se ac