um auto de gil vicente - actos
TRANSCRIPT
-
8/8/2019 Um Auto de Gil Vicente - Actos
1/4
UM AUTO DE GIL VICENTE, de Almeida Garrett
ACTO I
Este Acto desenrola-se no largo dos Paos de Sintra. esquerda, opalcio real; direita e no fundo, montes e arvoredos. Inicia-se o
crepsculo da madrugada.
Pro Sfio alude a umas vodas reais: casamento da infanta D.
Beatriz com o duque de Sabia.
Existem amores contrariados Bernardim Ribeiro/Infanta D.
Beatriz; Pro Sfio/Paula Vicente.
Pro Sfio faz referncia a obra Menina e Moa ou Saudades, de
Bernardim Ribeiro, e a uma personagem, Bimnardel ou Narbindel,desse mesmo livro. Alude tambm a pea vicentina Cortes de Jpiter,
que serve de base a esta obra de Garrett. Pro Sfio caracteriza
ironicamente os embaixadores italianos Chatel um refinado
sonso de italiano; o Baro de Saint-Germain todo galante e
corteso, e o doutor Passario todo grave como um Brtolo.
Bernardim Ribeiro critica a corte utilizando as seguintes expresses:
vossas comdias, que assim trazem embelecada esta corte de
comediantes, que de mais no cuidam. Bernardim Ribeiro, de forma sentenciosa, tenta definir a amizade e
o amor: a amizade um trfico e o prprio amor, o mais nobre, o
mais sublime afecto humano, mercadoria que se vende e troca
pelas vis e mesquinhas convenincias da terra.
Chatel caracteriza D. Beatriz atravs das seguintes expresses:
muito moa; tem um cabedal de instruo; folga com livros de
cavalarias e cancioneiros.
D. Beatriz manifesta, ao Bispo de Targa, o desejo de ficar s com
Paula Vicente, a fim de lhe confidenciar os seus amores infelizes.
A Infanta D. Beatriz sente-se triste, angustiada, desesperada e
revoltada devido ao amor-paixo que sente.
ACTO II
-
8/8/2019 Um Auto de Gil Vicente - Actos
2/4
O Acto II desenrola-se nos Paos da Ribeira: Gtico florido
inclinando fortemente a Renascena. Tochas e placas com luzes.
Para Paula Vicente, na corte, Tudo representar e fingir. As
produes poticas de seu pai so sublimes criaes do seu
engenho; graciosas pinturas do seu estilo. Os que na corte assistem s representaes das peas de Gil
Vicente caracterizam-no como comediante; jogral; chocarreiro.
Paula Vicente, ao proferir a expresso Que duas almas to
semelhantes e to diversas, pretende comparar Gil Vicente com
Bernardim Ribeiro.
Gil Vicente utiliza um trocadilho (Judia nome; judias forma
verbal.) O jogo de palavras significa que Joana do Taco, que vai fazer
o papel de moura, judia de origem, pratica diabruras, incomodandoe preocupando Gil Vicente.
Gil Vicente manifesta-se muito apreensivo com a representao do
Auto: Pois a esta hora, ns j vestidos, a corte al junta toda; H
uma hora que quero comear o ensaio geral e sempre isto; Tenho
c uma coisa que me diz, uma coisa que me agoura mal deste auto
da infanta.
Paula Vicente refere-se, de forma sarcstica, s duquesas e
condessas (E elas existem para a) pois pensa que, apesar depertencerem a uma elevada hierarquia social, no so superiores a
ela: Que so elas mais que eu?
Paula Vicente, enquanto Providncia, apresenta os seguintes
elementos caracterizadores: Ceptro na mo, coroa na cabea, tnica
roagante, cauda sobraada,
Paula Vicente evidencia sentimentos de enfado, inveja, ingratido,
ironia e revolta.
Bernardim Ribeiro faz a seguinte proposta a Gil Vicente: No ver
o Auto que eu quero, entrar nele. Peo-vos um papel no vosso
auto; Quero um papel com mscara. o objectivo desta proposta
ter uma oportunidade de estar junto da infanta sem ser reconhecido
pela corte.
Durante o ensaio geral do Auto, Paula Vicente adopta uma atitude
irnica e crtica.
O Auto representado na corte, na sala de dossel.
No Auto est presente a temtica dos amores contrariados: Que
me importa amanh? Eu vivo para hoje, vivo para esta hora. Que me
-
8/8/2019 Um Auto de Gil Vicente - Actos
3/4
d a mim que acabe o mundo depois!; E ela? No viste se ...? No
pareceu sentir?... No observaste?...; e dos amores desencontrados:
Pro Sfio ama Paula Vicente; Paula Vicente ama Bernardim Ribeiro.
Para D. Manuel I, o Auto que est a ser representado Gentil
romance! E bem cantado. Bernardim Ribeiro, na corte, teve o papel de moura e representou-o
improvisando versos com a emoo e amor que estava a sentir pela
infanta.
Chatel evidencia a sua perspiccia: Aqui h mistrio! E eu hei-de
descobri-lo!.
ACTO III
O Acto III desenrola-se na Recmara do Galeo de Santa Catarina.
Garcia de Resende elogia D. Joo II por ter sido o impulsionador da
descoberta do caminho martimo para a ndia. Refere ainda que o rei
D. Manuel I colheu os frutos semeados em reinados anteriores (no de
D. Joo II) e usufruiu das riquezas provenientes da ndia.
Chatel evidencia, mais uma vez, a sua perspiccia: Parece-me que
ainda temos grande tormenta antes de comear a viagem. Estarei
alerta. D. Beatriz pede a Ins de Melo o cofre onde se encontra o livro
Saudades de Bernardim Ribeiro.
O livro Saudades reflecte os amores contrariados de D. Beatriz e de
Bernardim Ribeiro, e nele h a transposio para a fico de
eventuais vivncias amorosas reais.
D. Beatriz, adoptando uma atitude superior, sente desprezo por
Chatel, importunando-se com a sua presena.
Chatel quer revelar o segredo relativo a histria do Auto por
interesses materiais: Basta que a duquesa saiba que eu sei o que ela
no quer que se saiba: est feita a minha fortuna.
Chatel galanteia Paula Vicente: Formosa e discreta Paula; Boca
to formosa; O meu desejo servir-vos como mereceis; To
bela.
Para confundir as suspeitas de Chatel, Paula Vicente confessa-lhe
que a personagem que fez de Moura era um homem que a amava a
ela e que por loucos amores endoideceu.
-
8/8/2019 Um Auto de Gil Vicente - Actos
4/4
D. Beatriz chama ao seu camarim Paula Vicente, a fim de lhe
confidenciar o seu sofrimento amoroso. Na perspectiva de Paula
Vicente, D. Beatriz boa, inocente, tmida, desgraada por amores.
Paula Vicente refere-se, deste modo, a Bernardim Ribeiro, a quem
ama: Mas aquele infeliz que no tem outra glria... que esse funestoamor que o mata.
Paula Vicente tem cimes de D. Beatriz, considerando-a como rival,
porque Bernardim Ribeiro em vez de a amar a ela, ama a infanta D.
Beatriz.
D. Beatriz faz algumas confidncias a Paula Vicente: o seu desterro;
a mgoa que sente; o choro do pai, rei D. Manuel I; a certeza do amor
de Bernardim Ribeiro; o anel que Bernardim Ribeiro lhe restituiu.
Bernardim Ribeiro considera D. Beatriz como uma Mulher-Anjo: DoCu, Anjo do Cu que te manda a este baixo mundo.
Bernardim Ribeiro, em desvario, despede-se de D. Beatriz: A flor
dos meus anos murchou na tristeza e no desconsolo, arremessando-
se ao mar: Que tomem tambm a minha vida.
No momento da despedida D. Manuel I mostra, com veemncia, os
sentimentos para com a filha: O ltimo adeus, minha filha, um
abrao ainda!, Meu Deus, se eu matei a minha filha.