um ano de posse: obama frente al desgaste de su gobierno

3

Click here to load reader

Upload: alessandro-de-moura

Post on 01-Jul-2015

302 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno

Claudia Cinatti�

Há apenas um ano mais de dois milhões de norte-americanos lotavam as ruas de Washington para presenciar a posse de Barack Obama, o primeiro presidente afroamericano da história do país. As expectativas em relação à “mudança” que havia prometido em sua campanha eram enormes e sua popularidade girava em torno de 80%, principalmente entre os trabalhadores, os jovens e as minorias oprimidas. Entretanto, seu primeiro ano frente à Casa Branca foi suficiente para dissipar as ilusões de que o governo Obama implicaria em uma profunda guinada em relação às políticas neoliberais que vêm sendo aplicadas desde a presidência de Reagan e uma ruptura com a orientação militarista da administração de Bush.

Na política interna a ajuda aos bancos e monopólios continuaram, e a reforma do sistema de saúde permanece sem aprovação, apesar das enormes concessões de Obama frente às exigências dos republicanos, dos democratas “moderados” e do lobby da indústria de saúde. Na política exterior, Obama deu continuidade à política militarista de Bush: ordenou o aumento da presença militar no Afeganistão, que passará de 30.00 a 100.00 soldados, estendeu o conflito armado ao Paquistão e logo após o frustrado atentado no Natal em um vôo norteamericano, retomou a retórica da “guerra contra o terrorismo” e o “combate contra Al Qaeda” que agora tem o Iemen como alvo.

A promessa de uma relação de respeito com a América Latina foi minada através do apoio ao golpe de Estado em Honduras, as sete novas bases militares na Colômbia e, agora, com a ocupação militar no Haiti após o terremoto que destruiu o país.

Esta enorme desilusão refletiu-se primeiro nas derrotas eleitorais que os democratas sofreram em Virgínia, Nova Jersey e Nova York no final do ano passado, e mais recentemente no triunfo republicano

1 Integra a revista Lucha de Classes, Buenos Aires; membro do Conselho Editorial da revista Estratégia Internacional, Buenos Aires e integra o Conselho Assessor do Instituto do Pensamento Socialista Karl Marx.

nas eleições especiais de Massachusetts, realizadas em 19 de janeiro para ocupar o assento ocupado por Edward Kennedy por 47 anos, falecido em agosto de 2009.

Ou esta derrota, o Partido Democrata perdeu sua maioria de 60 senadores, que lhe dava margem para lidar com as leis, tornando impossível as manobras da oposição para bloquear os democratas. Este resultado põe em questão a aprovação da reforma do sistema de saúde, um dos principais objetivos da agenda doméstica da administração Obama.

O já conhecido “efeito Massachussets” aprofundou as divisões nas fileiras dos democratas e abriu a mais séria crise para Obama desde que assumiu a presidência, frente ao temor de um triunfo republicano nas eleições legislativas que se realizarão em novembro2.

O desgate do governo Obama, que tem o recorde de ter perdido, em seu primeiro ano de gestão, cerca de 30% do apoio com o qual havia assumido, deve-se principalmente ao descontentamento que se estende quatro entre amplos setores de assalariados e famílias de classe média baixa que perderam seus empregos, suas casas, ou que viram seu nível de vida reduzir-se drasticamente, como conseqüência da crise econômica que tomou conta do país que vive a pior recessão desde a década de 1980, e que viram suas expectativas depositadas nas promessas de mudança e de criação de emprego de Obama se frustarem.

Apesar de nos últimos trimestres do ano passado a economia norte-americana ter registrado uma leve recuperação, pela primeira vez nos últimos 26 anos, o desemprego superou os 10%, e vai a 17% se forem levadas em consideração as pessoas subempregadas, com trabalho part-time ou quem deixarem de procurar emprego. Longe das ilusões alentadas pelos setores progressistas do partido democrata de que Obama daria início a uma espécie de New Deal, ou seja, uma política ativa de intervenção estatal para a criação de

2 Nota do tradutor: De acordo com a tradução federalista e legislativa dos EUA, as eleições são por turno, ou seja, as cadeiras não são trocadas de maneira absoluta, de modo que a busca por uma maioria é um processo mais delicado do que em governos onde o executivo concentra mais poder.

A um ano da posse: Obama frente ao desgaste

de seu governo

DO

SSIÊ

Cri

se e

conô

mic

a in

tern

acio

nal

Page 2: Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno

Contra a Corrente �

empregos, sua política foi manter a linha republicana de salvar com dinheiro público os grandes bancos, os mesmos que contribuíram em grande medida para gerar a crise, demonstrando que seu governo está a serviço da oligarquia financeira de Wall Street. A indignação com esta política de resgate dos ricos foi ainda maior quando os bancos que receberam dinheiro do programa de resgate estatal, conhecido como TARP, tornaram públicos seus lucros e as bonificações de milhões de dólares que pagaram a seus executivos, enquanto cada vez mais norte-americanos passaram a depender dos vale-comida e outros programas de assistência.

No plano interno, o outro grande motivo de descontentamento é a reforma do sistema de saúde proposto por Obama que, ainda que não chegou a ser uma prestação universal de saúde para os mais de 40 milhões que não têm nenhum tipo de proteção, começou como uma promessa de estender a cobertura da previdência social, o que incluía a prestação estatal para aqueles que não tiveram cobertura particular. Entretanto, por trás das sucessivas negociações no Congresso – tanto com o bloco republicano quanto com a ala direita do partido democrata – terminou sendo um plano elaborado na medida das grandes companhias de saúde e farmacêuticas, e que, no final de contas, obriga a todo individuo contratar um seguro privado de saúde caro e de má qualidade, não contempla a opção estatal e, além do mais, inclui um corte importante no programa de assistência a idosos, conhecido como Medicare. A reforma do sistema de saúde deu lugar a uma oposição de direita, alentada pelos republicanos, que chegaram a acusar Obama de “nazista”, devido à ingerência estatal na vida privada dos cidadãos, e a um descontentamento dos setores progressistas, que viram como a administração democrata cedia à agenda conservadora.

Enquanto os “progressistas” que chamaram a confiar em Obama e os setores liberais do Partido Democrata estão em crise e procuram seguir justificando seu apoio ao governo apesar de suas políticas militaristas, imperialistas e antipopulares, e a burocracia sindical da AFL-CIO continuam negociando as demissões e salários com as patronais, surgiu uma oposição de direita com posições “populistas” contra o aumento de impostos e a ingerência estatal na atividade econômica, e que conta com uma ampla base social em setores da chamada “classe média”, na qual estão incluídos desde operários brancos e assalariados até pequenos empresários. Os setores ativos deste populismo de direita estão organizados no movimento conhecido como “Tea Party”, que teve início em abril de 2009 quando dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram contra a reforma do sistema de saúde, dirigidos pela direita republicana e o canal de notícias FOX, com um programa baseado na defesa enraivecida do livre mercado. Ainda que por enquanto é capitalizado pela ala mais conservadora do partido republicano,

não está descartado que este movimento procure uma expressão eleitoral própria disputando espaço frente aos republicanos.

Entre a retórica populista e o ajuste fiscalObama recebeu a mensagem das urnas de

Massachussets e optou por uma guinada em direção a uma retórica “populista” para tentar recuperar credibilidade nos setores mais castigados da sociedade norteamericana.

A apenas dois dias da derrota eleitoral, voltou à tona a iniciativa da reforma regulatória do sistema financeiro, com um inflamado discurso contra Wall Street e sua especulação irresponsável, seguido por um discurso sobre o emprego frente a um auditório operário em Ohio.

A reforma financeira proposta por Obama contempla certas restrições ao tamanho e às atividades das instituições financeiras, como a proibição para os bancos comerciais de ter ou investir em fundo de cobertura ou fundos privados, a criação de um organismo para supervisar o grau de “risco sistêmico” que possam causar certas instituições, um imposto extra para reembolsar os fundos de ajuda estatal e uma garantia federal para os depósitos.

Porém para além de seu discurso e suas denúncias da “busca de lucros fáceis” dos banqueiros, a postura “anti-Wall Street” de Obama carece de toda credibilidade. Em primeiro lugar, esta reforma é idealizada por ninguém menos que Paul Volcker, o chefe da Reserva Federal sob Carter e Reagan que produziu uma profunda recessão e a mais alta taxa de desemprego do pós-guerra até esta crise, com o aumento das taxas de juros no começo dos anos 80. Além disso, a equipe econômica de Obama está integrada por ex-membros de diretórios de grandes bancos de investimentos como Goldman Sachs e ex-funcionários do governo de Clinton, como Larry Summers, que foram arquitetos da desregulação financeira das últimas décadas.

Obama apoiou com dinheiro público ao plano de resgate dos grandes bancos sob o governo W. Bush e agora justifica isso dizendo que o povo norte-americano viu-se obrigado a resgatar os milionários de Wall Street com dinheiro público para evitar cair em uma “segunda Grande Depressão”. Ainda que diga que é necessário limitar o tamanho dos bancos para que “o povo norte-americano não seja refém das instituições muito grandes para quebrar”, sob seu governo ele deu continuidade à enorme concentração bancária como produto da crise, iniciada com W. Bush. Portanto o JP Morgan Chase ficou com Bear Stearns e o Washington Mutual a um preço irrisório, enquanto o Bank of America comprou Merril Lynch. Como resultado, os quatro principais bancos concentram quase 40% dos depósitos.

Apesar do anúncio ter sido mal recebido por Wall Street e pelos bancos estrangeiros que operam no país,

Page 3: Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno

A um ano da posse: Obama frente ao desgaste de seu governo �

uma vez que não está claro se serão atingidos pelas novas normas, as reformas não afeta aos que realmente ganham com a crise, e provavelmente seus aspectos mais “regulatórios” venham a ser limados durante a discussão parlamentar.

Esta suposta guinada “populista” tem seu contraponto na proposta de Obama de congelar os gastos durante três anos, excetuando os gastos de defesa e segurança nacional, o que implica na redução ou eliminação de programas sociais, respondendo às preocupações de republicanos, democratas conservadores e setores burgueses diante da enorme dívida estatal.

Foi esta a essência da política interna anunciada no discurso sobre o Estado da União, no qual Obama pretendeu combinar a promessa “populista” de criação de emprego com a política conservadora da “responsabilidade fiscal” e a garantia dos lucros capitalistas.

Os trabalhadores, os jovens e a comunidade afroamericana, os imigrantes e os setores populares que “acreditaram na mudança” já fizeram uma primeira experiência com o governo de Obama. O que está colocado é que avancem em direção à sua independência política em relação aos partidos da burguesia imperialista norte-americana.

Cinematógrafo um olhar sobre a história

O livro organizado dentre outros pelo prof. Jorge Nóvoa,

publicado pela EDUFBA/Editora UNESP, 2009, é uma fascinante

viagem em torno do cinema e da história.

A construção social da corLivro de José Barros discute a

construção da idéia de uma raça negra – em oposição

à idéia de uma raça branca - a partir dos fundamentos do

sistema colonial e da escravidão africana

no Brasil.

O prof. Avelino da Rosa Oliveira, da UFPel, em Marx e a liberdade, de 1997, pela

EDIPUCRS, investiga amplamente, a questão filosófica

da liberdade no pensamento de Karl Marx.

Alexandre Pilati, da UnB, traz, em A nação drummondiana,

quatro estudos sobre a presença do Brasil na poesia de

Carlos Drummond; pela Editora 7 Letras, Rio, 2009.