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RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002 Ukun Rasik A’an O caminho à nossa frente Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANODE TIMOR LESTE

2002

Ukun Rasik A’an

O caminho à nossa frente

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)UN Agency HouseRua de CaicoliDili, Timor LesteFax: (670 390) 312 408Email: [email protected]: www.undp.east-timor.org

Copyright © UNDP, 2002Caixas, quadros e gráficos

Tradução:Eduardo Ferreira, Alexandre Abreu e Sofia Fernandes (CEsA/ISEG/UTLisboa)Revisão da tradução: António Almeida Serra

A informação contida neste relatório pode ser reproduzida, usada e partilhada sem autorização prévia mas desde quese divulgue esta publicação como fonte e da seguinte forma: Relatório do Desenvolvimento Humano de Timor Leste2002, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Dili.

Os valores monetários referem-se a USD salvo indicação expressa em contrário.

Desenho da capa: Publicações Matebian, Baucau, Timor LesteFotografia: Lírio da Fonseca

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Na véspera da nossa independência temosmuito que celebrar. Libertámos o nosso paíse, com o apoio da comunidade internacionale da família das Nações Unidas, estamos aconstruir um futuro independente assentenos pilares da paz e da democracia.

Da independência devemos agora ca-minhar em frente para desenvolvermos onosso país. Temos de escolher qual o cami-nho mais apropriado para o nosso desen-volvimento. Temos de assegurar que as ne-cessidades básicas do nosso povo são sa-tisfeitas e que as condições de vida sãomelhoradas.

Recentemente o povo de Timor Lesteparticipou numa consulta nacional notável.Todas as povoações descreveram a sua vi-são de Timor Leste no ano 2020. Disse-ram-nos o que esperavam do desenvolvi-mento do nosso país. A sua visão mostra-nos que estão determinados a melhorar aeducação e a saúde.

Ao seleccionarem as três áreasprioritárias de desenvolvimento, 70% dapopulação disse que a educação é a priori-dade mais importante para Timor Leste,enquanto que 49% escolheu a saúde. Tam-bém falaram da necessidade de melhorar aagricultura e as estradas, do fornecimentode água e de electricidade, de aumentar oemprego e proteger o ambiente. Acima detudo, estão determinados a participar nodesenvolvimento, procurando a satisfaçãodas suas necessidades através do seuenvolvimento o mais activo possível.

No entanto, ao desenvolver o nosso paísenfrentamos muitos desafios. Mais do que

Mensagem do Presidente Eleito de Timor Leste

Kay Rala Xanana Gusmão,Presidente Eleito,República Democrática de Timor Leste

dois em cada cinco timorenses vivem commenos do que 55 cêntimos por dia. A es-perança de vida à nascença é apenas de57 anos. As mulheres morrem desnecessa-riamente ao dar à luz. Muitas crianças mor-rem antes de atingirem os 5 anos de idadede doenças que se podem prevenir e deoutras doenças. 43% da população é anal-fabeta. 46% nunca frequentou a escola.Muitos jovens não têm qualificações e es-tão desempregados.

O Relatório do Desenvolvimento Hu-mano de Timor Leste contribui para a com-preensão dos desafios que enfrentamos emostra-nos como podemos começar a fa-zer-lhes face. Juntamente com o Plano deDesenvolvimento Nacional, publicado nasvésperas da nossa independência, mostra-nos como podemos desenvolver cada sec-tor da nossa economia, indo ao encontrodas necessidades do desenvolvimentohumano.

Temos de assegurar que as estratégiasque desenvolvermos se irão concentrar per-manentemente na satisfação destas necessi-dades, de que promoveremos o crescimentoeconómico para melhorar os níveis de vidae reduzir a pobreza.

Durante muitos e longos anos sonhá-mos com a independência. O nosso sonhotornou-se realidade. Agora temos todos umpapel a desempenhar no desenvolvimentodo nosso país. O governo, o sector priva-do, a sociedade civil e as comunidades de-vem trabalhar para reduzir a pobreza e pro-mover um crescimento económico que sejaequitativo e sustentável.

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Mensagem do Representante Especial doSecretário-Geral das Nações Unidas

O Secretário-Geral das Nações Unidas,Kofi Annan, descreveu as concepções queestão por detrás do Relatório doDesenvolvimento Humano como"reflectindo a profunda convicção de queo que importa no desenvolvimento não sãoas quantidades produzidas mas a qualidadeda vida vivida pelos seres humanos".

Na sequência da violência avassaladoradespoletada pelo voto maciço a favor daindependência em 30 de Agosto de 1999,o povo de Timor Leste viu a sua pátriacompletamente arruinada e com poucasescolhas em termos da sua qualidade de vida.Foram confrontados com a destruição físi-ca de grande parte do país, uma perda sig-nificativa de vidas, violações e assaltos,deslocações maciças da população, o co-lapso total da economia e a destruição ouremoção da maioria da sua herança cultu-ral e memória institucional. Todas as insti-tuições do Estado entraram em colapso–administrativa e fisicamente. A reconstru-ção, em todos os domínios, teve de come-çar literalmente do zero.

As Nações Unidas responderam esta-belecendo a Administração Transitória dasNações Unidas em Timor Leste(UNTAET), com um mandato de autori-dade governamental sem precedentes na suaamplitude. À UNTAET foi dada a respon-sabilidade pela segurança, lei e ordem, esta-belecimento de uma administração eficaz,desenvolvimento dos serviços sociais, for-necimento de ajuda humanitária, apoio àformação de capacidades para um gover-no autónomo e a assistência na criação decondições para o desenvolvimento susten-tável. Enquanto que a UNTAET foi bemsucedida em alguns aspectos do seu man-dato, noutros aspectos experimentámos fra-cos resultados; penso que estes dois últimosanos e meio nos proporcionaram uma ex-periência com lições para todos.

Na sequência da nossa tarefa mais ime-diata—a rápida melhoria da situação, o fimda crise humanitária e a estabilização da si-tuação de segurança—, a UNTAET teve

de iniciar um dos seus desafios maisdispendiosos e mais mal definidos nos seuscontornos: estabelecer instituições de gover-no e de administração pública ao mesmotempo que apoiava a criação de capacida-des de governo próprio e de condiçõespara o desenvolvimento sustentável. É si-multaneamente uma desculpa e um facto aconstatação de que não nos foi dado ne-nhum plano escrito e bem definido sobrecomo levar a cabo estas tarefas altamentecomplexas.

Politicamente, a UNTAET definiu eexecutou uma devolução gradual do po-der executivo e legislativo aos timorenses,uma tarefa que tem sido um desafio nãosem dificuldades. Isto significou manter umarelação em constante evolução entre aUNTAET e as recém-estabelecidas institui-ções governamentais. Isto levou-nos de umprocesso meramente de consulta (com oConselho Consultivo Nacional), passandopelo Primeiro Gabinete de Transição—compreendendo timorenses e membrosinternacionais—, ao estabelecimento de umcorpo proto-legislativo, o ConselhoNacional, integralmente constituído porTimorenses. Veio depois a transformaçãodas instituições governamentais de nomea-das em eleitas: as eleições para a AssembleiaConstituinte, um processo totalmente assu-mido por timorenses de redacção e adop-ção da Constituição, um Segundo Gabine-te de Transição constituído inteiramente porministros timorenses, uma eleição presiden-cial e a já iminente independência no dia 20de Maio. É um percurso notável, apesar dealguns defenderem (e alguns já o fizeram)que se deveria ter andado a um ritmo maisacelerado. Nós, UNTAET e os timorenses,fomos os pioneiros: os sucessos e os errosforam nossos.

Simultaneamente, a UNTAET desenvol-veu esforços para estabelecer as instituiçõesda administração pública e de governo. Esteprocesso tem sido dificultado pelos impe-rativos, conflituosos entre si, da velocidadevs. consulta; de uma obtenção de resulta-

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dos substantivos vs. a formação de capaci-dades de auto-governação; e da criaçãoimediata de empowerement vs. a criação decapacidades. Em algumas áreas fomos de-masiado ambiciosos e actuámos a um rit-mo que pode não ter permitido a criaçãode bases suficientemente sólidas e duradou-ras. Um exemplo desta situação é o da áreada lei e da ordem, onde um sistema nacio-nal de julgamento, de acusação e de defesafoi rapidamente constituído mas talvez nãotão bem apoiado como deveria ter sidoatravés da capacitação e de estruturasinstitucionais fortes.

É claro que a independência, que estáagora ao virar da esquina, chegará antes quetodos os objectivos definidos na Resolu-ção 1272 estejam realizados. Por exemplo,o completo desenvolvimento da FunçãoPública, de uma administração eficaz e odesenvolvimento de serviços públicos de-morarão muitos mais anos. Timor Lestedeverá agora prosseguir num processo delongo prazo de criação de capacidades na-cionais para o desenvolvimento sustentável.Mas ele não o irá fazer sozinho. Terá o apoiodos doadores e de uma missão das NaçõesUnidas sucessora da UNTAET e de tama-nho considerável.

É neste contexto que recomendo a to-dos os leitores o primeiro Relatório nacio-nal de Desenvolvimento Humano de TimorLeste o qual, espero, dirigirá a reflexão e

estimulará o debate sobre o desenvolvimen-to futuro, assim como atrairá mais apoiodos parceiros do desenvolvimento. O pro-cesso de desenvolvimento humano é con-tínuo, com a UNTAET a desempenharsomente o principal papel desde que o ca-minho para a criação da nova nação foiinicidado. Naturalmente, o processo estámuito longe de ter terminado. No entanto,espero e acredito que a UNTAET foi ca-paz de lançar as bases para o desenvolvi-mento, o qual poderá ser medido não so-mente pelas quantidades produzidas mastambém, e acima de tudo, pela qualidadede vida experimentada pelos seres huma-nos desta nova nação.

O desenvolvimento humano é o pro-cesso de alargamento das escolhas dos in-divíduos, proporcionando a cada um aoportunidade de tirar o melhor partido dassuas capacidades: viver uma vida longa esaudável, adquirir conhecimentos e acederaos recursos necessários para um nível devida decente. A disponibilidade destas ca-pacidades de escolha fornece os meios parao usufruto de liberdades políticas, econó-micas e sociais. Sei que o recém-indepen-dente governo de Timor Leste estará prontoe desejoso de tomar a seu cargo o desafiodo desenvolvimento sustentável para alcan-çar progressos na sobrevivência humana,conhecimentos, comunicações eprodutividade.

Sérgio Vieira de Mello,Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas eAdministrador Transitório

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Equipa de preparação do Relatório

Autores:Helder da Costa, Antero Bendito da Silva, João Câncio Freitas, Rui Gomes, BodilKnudsen, Chris McInerney, António Almeida Serra e José Texeira.

Anexo estatístico:Puguh Irawan.

Editing e composição:Peter Stalker.

Agradecimentos

O PNUD deseja agradecer as contribuiçõesprestadas por vários indivíduos napreparação deste relatório.

Em primeiro lugar, agradecimentos es-peciais vão para o Professor AntónioAlmeida Serra, que foi essencial na organi-zação dos colaboradores e das informações,sugestões, ideias e comentários que deramforma ao conteúdo deste relatório.

O Sr. Júlio Alfaro, o Professor AntónioFrancisco, a Sra. Sue Ingram, a Sra. AnaNoronha, o Sr. Alfredo Pires, a Sra. EmíliaPires, o Dr. Musunuru Rao, o Professor JohnTaylor, o Sr. Goran Todorovic e a Sra.Catherine Walker contribuíram com comen-tários valiosos, pensamentos, sugestões eideias em vários estádios da preparação dorelatório.

O Sr. Omar Noman, a Sra. Sarah Burd-Sharps e o Sr. Claes Johansson do Gabine-

te do Relatório do Desenvolvimento Hu-mano (HDRO) do PNUD foram extre-mamente construtivos com os seus comen-tários e sugestões.

Pelos seus comentários úteis e informa-ções, o PNUD agradece às restantes agên-cias-irmãs das Nações Unidas em TimorLeste, à Administração Transitória das Na-ções Unidas em Timor Leste (UNTAET),à Administração Transitória de Timor Les-te (ETTA) e aos seus sucessores, a Admi-nistração Pública de Timor Leste (ETPA).

O PNUD deseja igualmente agradecero trabalho do Sr. Puguh Irawan, que pre-parou o anexo estatístico trabalhando apartir dos muito limitados dados estatísti-cos disponíveis sobre Timor Leste. Esteanexo também beneficiou dos comentáriosdo Dr. Yosh Azuma.

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Prefácio

Dá-me grande prazer apresentar o primeiroRelatório nacional do DesenvolvimentoHumano de Timor Leste. Parece-meespecialmente apropriado que publiquemoseste relatório quando Timor Leste seprepara para um dos momentos maisimportantes da sua História: o dia em queo seu povo alcança a independência queprocurou durante tanto tempo.

Apesar de este ser um tempo para cele-brar, não podem haver dúvidas de que osdesafios que o povo de Timor Leste en-frenta são enormes. Como este relatóriodeixa claro, este país é o mais pobre da Ásiae um dos mais pobres do mundo e assimcontinuará a ser durante algum tempo. Atéque as receitas da exploração do petróleode Timor estejam disponíveis, e mesmodepois dessa altura, o país continuará a ne-cessitar de um apoio considerável da co-munidade internacional.

Mas a situação está longe de ser irreme-diável. Ao longo da sua História, o povode Timor Leste demonstrou uma resistên-cia e determinação notáveis. Necessita ago-ra de utilizar essas qualidades para construiro seu futuro, para tecer as suas capacidadesindividuais num tecido nacional forte.

A criação deste tecido nacional é a es-sência do desenvolvimento humano, que édefinido como o processo de expansão dasescolhas dos indivíduos e que é muito maisdo que somente desenvolvimento econó-mico. É sobre proporcionar a esses indiví-

duos a possibilidade de viverem vidas lon-gas e saudáveis, durante as quais tenham aoportunidade de alcançar um nível decentede vida, de desenvolverem o seu potenciale, ao fazê-lo, criarem um futuro melhorpara os seus filhos e para o seu país. O de-senvolvimento humano é sobre edu-cação, sobre construir um sistema sólido degoverno e uma sociedade civil igualmenteforte.

Este Relatório do DesenvolvimentoHumano de Timor Leste é a última contri-buição para uma série que cobre todo oglobo. Mais de 375 relatórios nacionais esub-nacionais foram produzidos até agorapor 135 países. A elaboração deste Relató-rio foi um processo muito participado, quebeneficiou de contribuições da parte demuitas pessoas. Desta forma não represen-ta necessariamente as opiniões do PNUD.

É esperança do PNUD, no entanto, queeste relatório proporcione algumas linhasde orientação para o desenvolvimento hu-mano em Timor Leste, quer para o gover-no quer para a comunidade internacional.Há muitas dificuldades no caminho futurode Timor Leste, mas há igualmente umenorme potencial. Durante muitos anos,Timor Leste trabalhou praticamente sozi-nho para alcançar a independência. No fu-turo, será necessário mais trabalho duro masTimor Leste não estará sozinho. O PNUDespera continuar a trabalhar com o povode Timor Leste na construção do seu futuro.

Finn Reske-NielsenRepresentante do PNUD, Timor Leste

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Timor Leste, ou Timor Lorosae–'Timor do solnascente'–situa-se na parte leste da ilha de Timor,a mais oriental das ilhas Sunda Menores. É cercadaa oeste pela província indonésia de Nusa TenggaraTimur. A norte encontra-se o mar de Savu e oEstreito de Wetar. A sul, 500 quilómetros atravésdo Mar de Timor, encontra-se a Austrália. Tambémfaz parte do território nacional de Timor Leste oenclave de Oécussi, na parte ocidental da ilha deTimor, assim como as ilhas de Ataúro e Jaco.

O relevo de Timor é genericamentecaracterizado por um núcleo de montes e demontanhas enrugadas que consistem numa massaconfusa de cordilheiras de pontas aguçadas eblocos de terreno enrugado. O território eleva-sea mais de 2.000 metros acima do nível do mar, einclui o Monte Tatamailau a 3.000 metros. Cercade 44% de Timor Leste terá uma inclinação de

aproximadamente 40%, o que, em combinaçãocom a elevada precipitação, favorece a erosãodo solo. O clima é quente, com uma temperaturamédia de 21ºC e cerca de 80% de humidade.Durante a estação seca, Timor Leste tem ventosmoderados e temperaturas ligeiramente maisamenas—8ºC no litoral e 10ºC ou menos nasmontanhas—mas entre Novembro e Abril, naépoca das monções, os rios tornam-se torrenciaisdevido à elevadíssima precipitação.

Durante este período, a temperatura média nolitoral é de cerca de 25ºC. Na costa norte, aprecipitação varia entre 500 e 1.000 milímetrospor ano e é feita apenas uma colheita. A planíciecosteira a sul, contudo, pode receber mais de2.000 milímetros e tem duas estações húmidas eduas colheitas. A ilha é também afectada pordistúrbios climatéricos associados ao El Niño.

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AcrónimosACFOA Conselho Australiano para a Ajuda InternacionalACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os RefugiadosACP Grupo de Estados da África, Caraíbas e PacíficoACDP Área de Desenvolvimento Conjunto do PetróleoAPEC Fórum de Cooperação Económica da Ásia- PacíficoAPTL Administração Pública de Timor LesteASEAN Associação das Nações do Sudeste AsiáticoATTL Administração de Transição de Timor LesteAusAID Agência Australiana para o Desenvolvimento InternacionalBPS Gabinete Central de Estatística da IndonésiaCCA Common Country Assessment de Timor LesteCCT Cooperativa de Café de TimorCFET Fundo Consolidado para Timor LesteCNRT Conselho Nacional da Resistência TimorenseCSETL Conselho de Solidariedade dos Estudantes de Timor LesteDIU Dispositivo intra-uterinoETWAVE Mulheres de Timor Leste contra a ViolênciaFMI Fundo Monetário InternacionalFNUAP Fundo das Nações Unidas para a PopulaçãoFOKUPERS Fórum de Comunicação das MulheresFPPATL Fundação para o Desenvolvimento de Projectos e da Agricultura em TimorFRETILIN Frente Revolucionária para a Independência de Timor Leste IndependenteGDI Índice de Desenvolvimento Humano ajustado ao géneroGEM Medida de empowerment tendo em atenção o géneroGFFTL Grupo de Jovens (Mulheres) Estudantes de Timor LesteHIV Vírus da Imunodeficiência HumanaIDE Investimento Directo EstrangeiroIDH Índice de Desenvolvimento HumanoIFTL Inquérito às famílias de Timor Leste (Household Survey)ISTL Inquérito aos Sucos de Timor Leste (Suco Survey)INTERFET Força Internacional em Timor LesteIPH Índice de Pobreza HumanaJICA Agência de Cooperação Internacional do JapãoKPG Academia de Formação de ProfessoresMCA Missão Conjunta de Avaliação (JAM)NCBA Associação Nacional de Actividade CooperativaOCB Organização Comunitária de BaseOCHA Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONUOIM Organização Internacional para as MigraçõesOIT Organização Internacional do TrabalhoOMS Organização Mundial de SaúdeOMT Organização das Mulheres de TimorONG Organização Não GovernamentalOSC Organização da sociedade civilPAM Programa Alimentar MundialPIB Produto Interno BrutoPNB Produto Nacional BrutoPNUD Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoRDH Relatório do Desenvolvimento HumanoREDE Rede das Mulheres de Timor LesteSIDA Síndroma da Imunodeficiência AdquiridaSPG Escola para a Formação de ProfessoresTFET Fundo para Timor LesteTMI Taxa de Mortalidade InfantilUNICEF Fundo das Nações Unidas para a InfânciaUNIFEM Fundo das Nações Unidas para as MulheresUNTAET Administração Transitória das Nações Unidas em Timor LesteUNTIL Universidade Nacional de Timor LesteUSAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

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ÍndiceSUMÁRIO EXECUTIVOO caminho à nossa frente 01

CAPÍTULO 1Desenvolvimento Humano em Timor Leste 11A situação do desenvolvimento humano 12Índices de desenvolvimento humano 21Objectivos para o futuro de Timor Leste 28

Contribuição especial deSua Excelência Dom Carlos Filipe Ximenes BeloTimor Leste no Terceiro Milénio 30

CAPÍTULO 2Construindo uma administração pública eficaz 33O serviço público 35O governo local 39Prevenindo a corrupção 40O sistema judicial 40

CAPÍTULO 3Novos papéis para a sociedade civil 42As ONGs numa era democrática 43Construindo novas relações 45Papéis múltiplos 47

CAPÍTULO 4O horizonte da educação 50Reconstruindo o sistema educativo 52Os obstáculos à frequência da escola 54Questões futuras para a educação 54

CAPÍTULO 5Crescimento económico para o desenvolvimento humano 61Perspectiva macroeconómico e fiscal 63Desenvolvimento rural 65Uma estratégia para o desenvolvimento humano 69Turismo 70Petróleo e gás 71Política fiscal 72Atraindo o Investimento Estrangeiro 73A economia para as pessoas 76

CAIXAS1.1 Unidades administrativas em Timor Leste 121.2 Inquéritos em Timor Leste 131.3 A oportunidade de prevenir o HIV/SIDA em Timor Leste 151.4 Uma perspectiva sobre o IDH 222.1 Corrupção e nepotismo em ‘Tim-Tim’ 352.2 Resultados da UNTAET 362.3 Os princípios da vida pública 403.1 A sociedade civil na Comissão Nacional de Planeamento 473.2 A acção dos grupos de pressão 48

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4.1 A tradição democrática de Timor Leste 585.1 Períodos de desenvolvimento económico 635.2 Uma produção familiar de milho de subsistência 645.3 Divisão de trabalho numa família agrícola 675.4 O Acordo sobre o Mar de Timor 71

QUADROS1.1 Estimativas da população 131.2 População por distrito 131.3 Produção alimentar, 2001 161.4 Desigualdade e produtividade agrícola, 1995 171.5 Principal actividade de rendimento monetário das famílias 181.6 Índice de desenvolvimento humano 231.7 IDH de Timor Leste nos rankings mundiais 231.8 Índice de desenvolvimento ajustado ao género 261.9 Timor Leste nos rankings mundiais de IDG 261.10 O índice de pobreza humana de Timor Leste 271.11 Timor Leste nos rankings globais do IPH-1 274.1 Legados da educação colonial 524.2 Rácio estudantes-professores nas escolas primárias 534.3 Professores aprovados para o ensino de Português 555.1 Estimativas orçamentais e de financiamento externo 655.2 Produção alimentar, 1998 665.3 Café em Timor Leste, 2001 67

Gráficos1.1 Prestadores de cuidados de saúde 141.2 Colheitas e padrões de insegurança alimentar 161.3 Melhorias desde 1999 201.4 Tendência do IDH, 1993-2001 221.5 O IDH comparado com o PIB per capita 241.6 IDHs regionais 241.7 Alcançar 100% de alfabetização 281.8 Alcançar as metas na saúde 292.1 Línguas oficiais e de trabalho 384.1 Literacia de adultos, 2001 504.2 Matrículas por nível de ensino 535.1 PIB por sector 61

ANEXOUma história breve de Timor Leste 77

BIBLIOGRAFIA 81

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO1. Demográficos 842. Esperança de vida e mortalidade 853. Saúde, fertilidade e planeamento familiar 864. Educação 875. Condições de vida e de habitação 886. Pobreza e consumo 897. Trabalho 908. Economia 919. Agricultura 92Nota sobre o cálculo dos indicadores 93Definições dos termos estatísticos 95

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O caminho à nossa frente

Em muitos aspectos Timor Leste está a embarcar na suacaminhada pelo desenvolvimento como se partisse do prin-cípio. Este primeiro relatório do desenvolvimento humanoavalia algumas das dificuldades mas demonstra tambémcomo um compromisso com o desenvolvimento humanopode orientar o país num novo caminho pacífico e produtivo.

SUMÁRIO EXECUTIVO

O panorama económico imediato deTimor Leste pode ser difícil mas o potencialhumano é elevado. Durante os longos anosde colonização e de ocupação, o povo deTimor Leste manteve um desejo insaciávelde liberdade. Este tipo de coragem e dedeterminação ser-lhe-á útil nos próximosanos à medida que defrontarem os princi-pais desafios do desenvolvimento humano.• Saúde—Os indicadores de saúde são bai-xos: a esperança de vida à nascença é ape-nas de 57 anos. Muitas pessoas morrem dedoenças que podem ser prevenidas comomalária, infecções do tracto respiratório ediarreia. A mortalidade materna é elevada:morrem cerca de 420 mulheres por cada100.000 nados vivos.• Educação—Timor Leste também temum longo caminho a percorrer no que tocaà educação. Mais de metade da populaçãoé analfabeta.• Segurança alimentar—Três quartos da po-pulação vive nas áreas rurais, onde a maio-ria das famílias pratica agricultura de sub-sistência. A sua produtividade é baixa e du-rante décadas Timor Leste teve de impor-tar alimentos básicos. Cerca de 45% das cri-anças com menos de 5 anos tem um pesoinferior ao que deveriam ter.• Pobreza de rendimento—Cerca de 41% dapopulação vive em situação de pobreza derendimento, dispondo de menos do que alinha nacional de pobreza de $0.55 por pes-soa por dia. Nas zonas rurais há uma per-centagem de pobres ainda maior do quenos centros urbanos—46% contra 26%.Destes, os grupos mais pobres estão entreas famílias que têm muitas criançaspequenas, parcelas de terra diminutas e pou-co gado e naquelas que vivem em áreas que

estão sujeitas a inundações e a erosão dosolo.• Modos de vida sustentáveis—Com a popu-lação a crescer a um ritmo de 2.5% ao ano,cerca de 20.000 jovens integrarão anualmen-te a força de trabalho. Muitos deles procu-rarão a sua subsistência na agricultura e, emgeral, na ‘economia informal’.• Género—A pobreza afecta particular-mente as mulheres, as quais carregam o far-do do impacto de águas poluídas e de máscondições sanitárias e que têm de passar lar-gos períodos de tempo cuidando das cri-anças doentes e de outros membros da fa-mília. As mulheres também têm menospoder; e a violência baseada no género éuma questão grave e pouco documentada.• Recursos naturais—a maioria do terrenoé inclinada, com uma pequena camada desolo, muita da qual é arrastada em inunda-ções que surgem rapidamente. Dois dosrecursos naturais mais valiosos são o pe-tróleo e o gás do Mar de Timor.• Segurança Humana—comparando comos anos de administração indonésia e o pe-ríodo traumático que se seguiu ao referen-do, a maioria das pessoas sente-se mais se-gura e a taxa de criminalidade é baixa. Numinquérito às famílias 43% dos inquiridos re-lataram uma maior segurança como a maisimportante melhoria relativamente ao perí-odo anterior à violência.• Liberdade e participação—No dia 30 deAgosto de 2001 um número notável de91% do eleitorado votou para eleger umaAssembleia Constituinte, dos quais 27% dosmembros eram mulheres. A eleição presi-dencial de Abril de 2002 também teve umresultado notável—mais de 86% dos elei-tores votaram efectivamente.

O povo de Timortem um desejoinsaciável deliberdade

SUMÁRIO EXECUTIVO

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O Índice de DesenvolvimentoHumano

O Índice de Desenvolvimento Humano doPNUD (IDH) combina indicadores deesperança de vida à nascença, conhecimen-to e nível de vida, de forma a produzir umsó índice geral. Para Timor Leste, em 1999,o valor era de 0,395 e em 2001 era de 0,421,o que significa uma ligeira melhoria. O va-lor de 1999, ano para o qual foi calculadoo último IDH a nível mundial, é o maisbaixo da Ásia e é idêntico ao valor verifica-do no Estado centro-africano do Ruanda,que nesse ano foi classificado em 152º lu-gar num total de 162 países para os quais oIDH foi calculado.

Dos indicadores parciais que compõemo IDH, Timor Leste tem um desempenhomoderado na esperança de vida à nascen-ça: com 57 anos, ela é comparável à doCamboja e do Myanmar (56 anos), mas émuito inferior à verificada noutros paísesda ASEAN, como a Indonésia (65) e oVietname (68). O pior desempenho nosindicadores parciais do IDH é no rendi-mento per capita—que em alguns aspectosreflecte o colapso de 1999. De facto, o ren-dimento per capita estimado, para TimorLeste, de $337 para o ano de 1999 colocá-lo-ia no último lugar do ranking do PIBdestes 162 países.

O IDH não toma em conta as diferen-ças entre regiões do país ou entre grupossociais. Apesar de, em princípio, o IDHpoder ser calculado por regiões e por dis-tritos, actualmente não é possível calculá-lodesta forma para os 13 distritos de TimorLeste uma vez que não existem dados sufi-cientes. No entanto, as informações do pe-ríodo indonésio indicam que o IDH eramais elevado em Dili e mais baixo emManufahi.

Uma das mais importantes diferençasnas realizações em termos de desenvolvi-mento humano é a verificada entre homense mulheres. Para poder avaliar este item oPNUD desenvolveu um índice de desen-volvimento ajustado ao género (GDI).Quanto maior for o grau de desigualdade,mais o valor do GDI ficará abaixo do IDH.Em 2001 Timor Leste apresentou um GDIde 0,347—12% inferior ao valor verifica-do no IDH, comparado com 1% de dife-rença para a Indonésia e para o Camboja,por exemplo. A diferença no GDI é em

larga medida resultante da diferença de sa-lários entre os homens e as mulheres.

O índice de pobreza humanaA pobreza é normalmente avaliada simples-mente em termos de uma falta de rendi-mento. No entanto, as pessoas podem serpobres de muitas formas, para além de umaescassez de rendimento. Podem ter umasaúde pobre, por exemplo, ou podem nãoter acesso à educação ou poucas oportuni-dades de terem um emprego produtivo.Para poder tomar estes factos em conside-ração, o PNUD definiu um ‘Índice de Po-breza Humana’ (IPH). O IPH combinamedidas de longevidade, conhecimento ecapacidade económica em geral, definindouma pontuação global entre 0 e 100: umapontuação mais elevada significa neste caso,um nível mais alto de pobreza humana. OIPH de 1999 para Timor Leste foi de 46, eem 2001 foi de 49.

O Relatório global de Desenvolvimen-to Humano de 2001 contém dados sufici-entes para calcular o IPH para 90 países emdesenvolvimento em 1999. Se Timor Lestetivesse feito parte desta lista , aumentandoo total para 91, teria ocupado a posiçãonúmero 81. Timor Leste tem a maior taxade pobreza humana de todos os países asi-áticos para os quais o IPH pode ser calcu-lado.

Objectivos para o desenvolvimentoEstas medidas indicam o que é que TimorLeste terá de caminhar ao longo das diver-sas dimensões do desenvolvimento huma-no. Mas qual o ritmo a que o país deve as-pirar na prossecução destas melhorias? Jáexiste alguma orientação sobre este assuntooriginada na Assembleia Geral da ONU,que definiu uma série de objectivos de de-senvolvimento a serem atingidos no ano2015. Estes têm em conta muitos aspectosdo desenvolvimento humano—incluindoalcançar 100% de frequência da escola pri-mária, reduzir a mortalidade infantil em 2/3 do nível de 1990 e reduzir a mortali-dade materna em 3/4 do nível de 1990.Uma forma de calcular quanto demoraráaté que Timor Leste atinja estes alvos seriaassumir a mesma taxa de progresso dosúltimos anos. Aceitando este pressuposto,há boas notícias: para a taxa de mortalida-de infantil, por exemplo, Timor Leste de-verá atingir o objectivo definido em 2011.

Qualquerfraqueza nosserviçosprestadospelo governoserá um sérioobstáculo aodesenvolvimentohumano

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Construindo uma administraçãopública eficaz

Nos primeiros anos de independência opovo de Timor Leste dependerá bastanteda competência e da capacidade dos servi-ços governamentais. Qualquer fraqueza oufalha destes serviços será um obstáculo sé-rio ao progresso do desenvolvimento hu-mano. Apesar de em muitos aspectos TimorLeste estar a construir uma administraçãopública de raiz, também herdará algumasestruturas e ética do passado colonial. Aestrutura indonésia era autocrática. Isto po-derá ter acelerado o fornecimento de al-guns serviços mas, da perspectiva do de-senvolvimento humano, criou uma FunçãoPública com fraquezas graves—estas inclu-em o excesso de pessoal, uma forma com-plexa de administração e uma cultura dedependência que deixou as pessoas compouca confiança para fazer mais do que ‘es-perar por ordens’ das chefias. Esta estrutu-ra também eliminou muitas possibilidadesde participação pública, enquanto incenti-vava o desenvolvimento da corrupção atodos os níveis. O desenvolvimento do ser-viço público em Timor Leste enfrentará al-gumas questões cruciais. Estas incluem:

• Pessoal—O novo governo enfrentarápressões no sentido de aumentar o núme-ro de funcionários públicos de modo a criarmais emprego e oferecer mais serviços.Dada a escassez de recursos, contudo, nãoserá possível expandir os serviços destaforma; por isso é vital que os funcionáriospúblicos trabalhem eficientemente, diminu-indo o absentismo, estabelecendo melho-res sistemas de coordenação entre departa-mentos governamentais, agências de desen-volvimento e ONGs—e assegurar o for-necimento de serviços de uma forma efici-ente em termos de custos e utilizando omínimo de recursos. O governo tambémnecessitará de pagar salários adequados paraatrair o pessoal mais qualificado de TimorLeste, muitos dos quais poderão tambémquerer trabalhar para as ONGs, as agênciasda ONU ou para projectos internacionaisde desenvolvimento. Nos próximos anos,no entanto, o serviço público terá tambémnecessidade de algum pessoal internacional,que trabalhará com o pessoal local.• Ética de trabalho e competência—A admi-nistração indonésia não encorajou uma éti-

ca de trabalho forte. O pessoal trabalhavapoucas horas e não tinha muitas responsa-bilidades. A nova administração públicanecessitará de atingir e de reforçar uma se-mana de trabalho produtiva. A competên-cia do pessoal e o seu desempenho podemser melhorados através de treino e de mo-tivação, que encorajam as pessoas a teremmais iniciativa.• Língua—Os timorenses falam mais de30 línguas ou dialectos. O Inquérito às Fa-mílias de 2001 concluiu que 82% da popu-lação fala Tetum, enquanto que 42% sabefalar Indonésio. Somente 5% fala Português,enquanto que 2% fala Inglês. A Constitui-ção declara que as línguas oficiais são oTetum e o Português, enquanto que as lín-guas de trabalho adicionais serão oIndonésio e o Inglês. Este ambiente de uti-lização de quatro línguas apresenta um de-safio muito dispendioso. A Comissão dePlaneamento estima que cerca de 2.000 fun-cionários superiores da administração pú-blica necessitarão de formação em Portu-guês, 400 em Tetum, e cerca de 150 emIndonésio. Para além disto, o governo ne-cessitará de um pequeno grupo de falantesde Inglês para comunicar com outros paí-ses da região e com a indústria internacio-nal do petróleo. Adicionalmente, muitosoutros funcionários públicos, incluindo pro-fessores, trabalhadores da saúde e pessoaldo sistema judiciário precisarão de forma-ção em línguas. Outro processo dispendiososerá a tradução de documentos oficiais.

Governo localTimor Leste está dividido em 13 distritos eem 65 sub-distritos baseados nas divisõesherdadas das administrações portuguesa eindonésia. A Constituição estabelece aimportância da descentralização, mas pelomenos durante os próximos anos, TimorLeste achará difícil devolver muita da auto-ridade central às regiões; por isso adescentralização tenderá a tomar a formade desconcentração à medida que departa-mentos centrais—como a educação, a saú-de, a agricultura, a habitação, a água e oscuidados sanitários—estabeleçam escritóri-os regionais para fornecer os serviçosbásicos locais.

Um grupo de trabalho que estudou oregime de governo local propôs três regi-ões principais—oriental, ocidental e sul, dan-do um estatuto especial a Dili e ao enclave

SUMÁRIO EXECUTIVO

O ambiente deutilização dequatro línguasserá dispendioso

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de Oécussi. Sob este sistema, cada regiãoteria o seu Director-Geral, que trabalhariacom um grupo especial de pessoas paracoordenar todos os grupos que detêm res-ponsabilidades locais.

Prevenindo a corrupçãoTimor Leste terá de lidar com a questãoinevitável da corrupção. Este é em largamedida um legado da administraçãoindonésia mas também pode surgir se exis-tirem largas discrepâncias entre salários nosector público e no sector privado e se ogoverno falhar no seu funcionamento deuma forma equitativa para os grupos soci-ais e na prestação de contas à sociedade . Ogoverno pode prevenir a corrupção seconstruir estruturas administrativas sólidas,com procedimentos simples e linhas clarasde responsabilidade e de prestação de con-tas. No entanto também necessita de me-canismos para afastar políticos e funcioná-rios públicos corruptos.

A experiência de outros países sugereque a melhor aproximação é estabeleceruma agência anti-corrupção independente.A Constituição prevê duas instituições devigilância: o Gabinete do Inspector Geral eum Supremo Tribunal Administrativo, deImpostos e de Contas. Contudo estas es-truturas só funcionarão apropriadamente selhes forem concedidos poderes suficientese se contarem com o apoio sólido dos lí-deres políticos.

O sistema judicialO governo indonésio subornou o sistemalegal e corrompeu os tribunais e todo o sis-tema judicial, tendo como resultado que ostimorenses tinham pouca confiança nas ins-tituições legais. Em 1999 os tribunais fo-ram destruídos, assim como muita dainfraestrutura legal e arquivos.

Se se pretende que o povo de TimorLeste tenha acesso aos tribunais e que asempresas acreditem que os contratos serãorespeitados, os sistemas de respon-sabilização civil e criminal terão de serrestruturados de forma a simplificar os pro-cedimentos de acesso à justiça.

Mas o governo também deverá assegu-rar a existência de suficiente pessoal qualifi-cado—em particular de juízes, advogadose promotores públicos—investindo simul-taneamente na gestão e administração dostribunais de forma a que estes possam pro-

ver justiça eficientemente, num complexoambiente multilingue.

Novos papéis para a sociedade civilA independência de Timor Leste é o cul-minar de uma longa luta contra ocolonialismo por muitos grupos da socie-dade civil—organizações da comunidade,grupos religiosos, estudantes e outros. Ogoverno indonésio mostrou-se relutante emautorizar o crescimento de organizaçõesindependentes.

No entanto, algumas conseguiram so-breviver, estando algumas das mais eficien-tes ligadas à Igreja Católica. Movimentosde jovens e de estudantes também se mos-traram muito activos—muitas vezes corren-do um grande risco pessoal.

Um desenvolvimento importante ocor-rido em 1998 foi a criação do Fórum dasONGs em Timor Leste, que se tornou des-de então o principal órgão de cúpula dasONGs—com 77 membros nacionais e 33membros internacionais.

Construir novas relaçõesNa era democrática todas as organizaçõesda sociedade civil (OSC) terão de se adap-tar às novas e diferentes circunstâncias econstruir novas relações—com o Estado,com as outras organizações semelhantes ecom organizações internacionais.

• Com o Estado—As organizações da so-ciedade civil de Timor Leste terão de lidarnão só com o nível essencialmente políticodo Estado mas também com a Adminis-tração Pública e a justiça. Neste novo am-biente as OSC também terão de reorientara sua perspectiva: da política e da táctica deoposição para a da parceria construtiva. Mastambém o governo terá de trabalhar nestarelação potencialmente difícil. Deverá re-conhecer que as organizações da sociedadecivil desempenharam um papel vital na lutapela independência. Agora terá de encon-trar forma de manter a sua energia e o seucompromisso na luta pela construção deuma nação nova.• No seio da sociedade civil—As OSCs ne-cessitarão também de trabalhar de pertoumas com as outras. Muitos dos obstácu-los e armadilhas potenciais podem ser evi-tados assegurando canais abertos e sólidosde comunicação no interior e entre organi-zações. Mas as OCSs também têm a neces-

As organizaçõesda sociedadecivil precisarãode canais fortese abertos decomunicação

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sidade de comunicar de perto com as co-munidades para cuja ajuda existem.• Com as organizações internacionais— Mui-tos doadores oficiais preferem agora cana-lizar pelo menos alguns dos seus fundosdirecta ou indirectamente para as ONGs.Isto significa que estas se encontrarão a li-dar com uma série de agências diferentes eterão de se familiarizar com a forma comoestas trabalham.

Papéis múltiplosAs organizações da sociedade civil emTimor Leste estarão a actuar em diferentesfrentes

• Arquitectos do desenvolvimento—MuitasONGs e OBCs pretendem trabalhar numaparceria construtiva com o governo. Mas aforma como podem ajudar a desenvolveras políticas públicas dependerá da sua ca-pacidade de inovar e de apresentar pontosde vista alternativos.• Advocacia—Muitos grupos vêem comosua tarefa principal a de influenciar as ac-ções de outros. Dadas as diferentes capaci-dades destes grupos e o facto de eles teremmuitos interesses e objectivos em comum,faz sentido, muitas vezes, que unam os seusrecursos e actuem em conjunto.• Monitorização—A boa governação de-pende, em todo o lado, de um sistema decontrolos e equilíbrios. Os grupos da soci-edade civil desempenham um papel impor-tante neste processo assegurando que ogoverno, o sector privado e as organiza-ções internacionais mantêm padrões eleva-dos na sua acção mas. Porém, só serão ca-pazes de desempenhar este papel se eles pró-prios mantiverem estes padrões—actuan-do de uma forma transparente, com umaprestação de contas clara do ponto de vistafinanceiro e democrático.• Serviços—Para muitas ONGs a tarefaprincipal é fornecer serviços—por exem-plo na saúde, na habitação e na educação—seja preenchendo lacunas deixadas pelogoverno seja complementando estas, comono caso da educação não-formal.• Informação—As organizações da socieda-de civil desempenham um papel importan-te no fornecimento de informação e de in-formação e no estímulo do debate do de-bate, ocupando uma posição intermédia en-tre o governo e as comunidades locais. Porum lado devem pressionar o governo a

tomar medidas sobre os assuntos pelosquais se interessam mas simultaneamentedevem também procurar maximizar a par-ticipação pública na construção e funciona-mento da democracia.

Todas as OSCs em Timor Leste necessita-rão de reexaminar os seus papéis e respon-sabilidades na era da democraciareavaliando as suas perspectivas e filosofiase assegurando que terão algo de único aoferecer.

O horizonte da educaçãoTimor Leste tem um importante desafioeducacional pela frente—não só gerir oanalfabetismo reinante mas também lidarcom a multiplicidade de línguas. O gover-no indonésio estava determinado a atingira educação primária universal e em 1985quase todas as povoações tinham uma es-cola primária.

Este processo de expansão fez com quemuitas mais crianças se matriculassem masteve duas falhas principais. A primeira era abaixa qualidade: o nível de ensino era po-bre, as escolas tinham falta de fundos, ma-nuais e equipamento básico. A segunda fa-lha foi a de que o governo de Jakarta ten-tou utilizar a educação para ‘indonesiar’ opovo de Timor Leste—e recrutou pessoalem toda a Indonésia que pudesse ensinarem Indonésio.

Apesar de muitos timorenses se teremtornado professores, muitos deles não fo-ram, nos seus estudos, além do quarto ano.Como ganhavam muito pouco, tinham deexecutar outros trabalhos para sobreviver.Em resultado disto, os níveis de educaçãoeram baixos e os professores estavam fre-quentemente ausentes. Esta situação, poroutro lado, desencorajava tanto pais comofilhos: cerca de 30% das crianças nem se-quer estavam matriculadas. As fraquezas daescola primária eram transportadas para aescola secundária. No último ano da admi-nistração indonésia, as matrículas líquidastinham alcançado apenas 36% no nível se-cundário mais baixo e 20% no nível secun-dário superior.

Anteriormente alguns pais estavam re-lutantes em aceitar que os seus filhos fos-sem ensinados por professores estrangei-ros, numa língua estrangeira e muitos nãopodiam pagar as propinas. Agora estesobstáculos desapareceram mas outros per-

A boagovernaçãodepende, emtodo o lado, deum sistema decontrolos eequilíbrios

SUMÁRIO EXECUTIVO

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sistem. A questão mais importante é a po-breza. Apesar de não existirem despesas dematrícula, existem custos de mandar as cri-anças para a escola e muitas crianças pas-sam pelo menos uma parte do seu tempoa trabalhar nos campos da família ou emtarefas domésticas.

Timor Leste está actualmente a recons-truir o seu sistema educativo, mas enfrentauma série de desafios importantes. Estes são:

• A língua—O governo decidiu introdu-zir o Português progressivamente como alíngua de ensino. Isto criou um problemaimediato uma vez que poucos professoresfalam Português. Os professores e osadministradores escolares necessitam de ga-nhar rapidamente o domínio deste idioma.Nestas circunstâncias, o governo poderá re-considerar a possibilidade do ensino na lín-gua materna. As crianças aprendem maisrapidamente quando são alfabetizadas nasua língua materna, adquirindo posterior-mente uma língua ‘nacional’. Neste caso se-rão o Português ou o Tetum como segun-da língua. E quando as crianças aprendemsobre as suas lendas e a sua cultura na sualíngua materna, recebem maiorencorajamento e apoio por parte dos pais.• Professores —Existem duas questõesquanto à profissão docente. A primeira é ade aumentar o número de professores demodo a reduzir o rácio alunos/professor,que é actualmente de cerca de 60 nas esco-las primárias. A segunda prioridade é a demelhorar as suas habilitações. Aqueles queestudam para se tornarem professores de-vem ser convenientemente preparados. Nãosó precisam de se habituar a um novo cur-rículo e a uma nova língua como tambémtêm de ser encorajados e encorajar umaaprendizagem mais activa. Actualmente osprofessores ainda utilizam métodos tradi-cionais que assentam na aprendizagemmecanicista, de repetição, em vez de incen-tivarem as crianças a adquirirem e a com-preenderem a informação por si próprias.• Desenvolvimento curricular—Até agora exis-tiram poucos esforços no sentido do de-senvolvimento dos currículos, em parte re-sultado das incertezas do período de tran-sição. As disciplinas e conteúdos básicos docurrículo têm de ser definidos através deconsultas alargadas entre professores, paise crianças. A experiência e recursos interna-cionais também poderão ajudar Timor

Leste a aprender com as práticas de ensinode outras paragens e a atingir padrões dequalidade aceitáveis internacionalmente.• Envolvimento da comunidade—O sistemaindonésio era extremamente centralizado,oferecendo pouca margem para a iniciati-va local quer de professores quer de pais,desperdiçando assim recursos potenciais deenvolvimento e trabalho. Se os professo-res, os pais e outros líderes da comunidadetomarem conjuntamente a responsabilida-de pela gestão das escolas são maiores asprobabilidades de eles investirem mais tem-po e energia nas escolas e terem um maiororgulho naquilo que eles e os seus filhospossam alcançar.• Formação técnica e profissional —O sistemaindonésio de formação profissional estavapouco relacionado com as reais necessida-des do local de trabalho. Assim e conjunta-mente com os empregadores locais, o go-verno terá de restruturar o sistema de for-ma a treinar os jovens em competências quetenham uma procura real.• Educação terciária—A Universidade deTimor Leste pode ver-se a braços commuitos alunos pouco qualificados, concen-trados em cursos que oferecem poucasperspectivas de emprego. Deveria por issoreexaminar as suas prioridades, procuran-do ser uma instituição mais pequena e comênfase na qualidade. Nos próximos dezanos poderia concentrar a maioria dos seusrecursos na Faculdade de Educação demodo a formar a próxima geração de pro-fessores do ensino secundário.

Educação cívicaExiste também a questão de saber qual otipo de conhecimentos de que a população,como um todo, necessitará para manter onovo Estado. Até ao momento, a educa-ção cívica esteve compreensivelmenteconcentrada nos mecanismos de votação enas eleições.

Mas a filosofia do desenvolvimento hu-mano tem uma visão muito mais ampla emais inclusiva da democracia, não só comoum objectivo mas como um processo con-tínuo—como uma forma de viver. Comeste propósito, a educação cívica deverápromover o conhecimento cívico, as capa-cidades cívicas e também as virtudes cívi-cas—os traços de carácter necessários paramanter e acentuar a governação democrá-tica e a cidadania.

As criançasaprendem maisrapidamente seforem ensinadasinicialmente nasua línguamaterna

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Estas mesmas capacidades são tambéma base de uma sociedade pacífica quer entreas comunidades quer no seio das famílias,onde ainda existe muita violência dirigidacontra as mulheres. Muitos outros aspectospodem beneficiar da educação cívica. Umaprioridade seria educar as pessoas sobre osriscos do HIV/SIDA, sobre o qual amaioria sabe muito pouco. Em certa me-dida a educação cívica terá de começar comos professores, contando com eles para acomunicação de ideias não só nas escolasmas também ao conjunto da comunidadeem que estão inseridos.

Crescimento económico para o de-senvolvimento humano

Progredir no desenvolvimento humano deTimor Leste também significará iniciar umnovo caminho económico, tornando a agri-cultura mais produtiva e desenvolvendooutras oportunidades, incluindo o turismoe a produção de petróleo e de gás. Mas osplanos de desenvolvimento económico te-rão de concentrar-se na obtenção de bene-fícios efectivos para a maioria da popula-ção de Timor Leste.

A devastação de 1999, que causou enor-me sofrimento humano, também destruiuprofundamente a infraestrutura económicae social do país. A UNTAET e a Adminis-tração Transitória de Timor Leste ajudarama repor a lei e a ordem. Isto e um apoioexterno substancial ajudaram a estimular oressurgimento económico nos últimos trêsanos. O crescimento projectado para 2001/2 é de cerca de 15%.

O mais recente surto de crescimentosurgiu em Dili como resultado da constru-ção de casas e dos fornecimentos ao pes-soal internacional. Mas este foi um estímu-lo temporário que desaparecerá com a re-tirada do pessoal da ONU. Para 2002/3 éprovável que o crescimento diminua parazero.

Posteriormente, uma forma mais equi-librada e sustentável de crescimento pode-ria colocar o país numa senda de cresci-mento mais estável. Isto implicará um in-vestimento substancial para melhorar asinfraestruturas, criar capacidades quer dasinstituições quer do sector público quer dosector privado e para manter um ambienteregulador das actividades claro e estável.Mas acima de tudo será necessário um

investimento consistente nas pessoas—nasua saúde, educação e capacidades.

Desenvolvimento ruralNo futuro previsível a agricultura continu-ará a empregar quase três-quartos da forçade trabalho e por isso a questão central dequalquer estratégia de desenvolvimento hu-mano será a de tornar a agricultura maisprodutiva ajudando os agricultores pobresa melhorar as culturas para alimentação aomesmo tempo que desenvolvem tambémculturas de rendimento.

Quaisquer planos para o desenvolvimen-to agrícola devem ser encarados como par-te de uma estratégia global para o desen-volvimento rural—melhorando as estradas,o fornecimento de água e das condiçõessanitárias e a oferta de micro-crédito. Istotambém exigirá um novo tipo de desen-volvimento, comandado pela procura lo-cal e baseado nas forças existentes no seiodas comunidades rurais e na sua capacitaçãopara procurarem estratégias de vida quemelhor se adequem às suas próprias circuns-tâncias e capacidades.

A primeira prioridade deveria ser pro-porcionar às comunidades mais pobres oassegurarem a sua segurança alimentar e ali-viarem a pobreza rural—reduzindo a suavulnerabilidade aos choques climáticos eeconómicos. Isto significa, por exemplo,canalizar mais assistência para os agriculto-res que vivem em zonas montanhosas, aju-dando-os a melhorarem as suas práticas decultivo, introduzindo sistemas de colheitanaturalmente mais resistentes e diversifican-do a sua produção. Muito do acima referi-do dependerá de serviços de extensão quecriarão capacidades nas comunidades locaispara a produção de culturas alimentares eflorestais e produção animal.

Enquanto que a principal prioridade seráassegurar a produção de produtos alimen-tares, também será importante maximizaro potencial de culturas que gerem rendi-mentos. Existe uma série de possibilidadesneste campo, que incluem a produção decoco, cacau e caju, assim como baunilha.Mas a mais importante cultura de rendimen-to continua a ser o café, que é uma fonteessencial de rendimento e de divisas estran-geiras. Actualmente o preço mundial é mui-to baixo, mas Timor Leste deveria, apesardisso, ser capaz de aumentar os seus rendi-mentos provenientes do café incentivando

Quaisquerplanos para odesenvolvimentoagrícola devemser encaradoscomo parte deuma estratégiaglobal para odesenvolvimentorural

SUMÁRIO EXECUTIVO

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a qualidade, especialmente se isso tornarpossível ao café de Timor atingir acertificação internacional como produtoorgânico.

Timor Leste também tem um grandepotencial nas pescas. Cerca de 10.000 famí-lias dependem pelo menos parcialmente dapesca. Os rendimentos futuros podem seraumentados através do aumento do inves-timento na capacidade pesqueira nacional eatravés do licenciamento de barcos estran-geiros. O principal obstáculo é a falta dedefinição de zonas de pesca com fronteirasinternacionalmente reconhecidas. A estraté-gia da pesca deve, no entanto, procurar asustentabilidade e a protecção dos interessesdas comunidades de pescadores tradicionais.

Estratégia económicaO futuro de Timor Leste dependerá, emúltima análise, da criação de um sector pri-vado próspero que possa gerar produção,poupanças, investimento privado e comér-cio. As políticas públicas para os próximosanos devem, por isso, apoiar um clima emque o sector privado se possa expandir eflorescer. De entre as medidas mais impor-tantes estão:

• Estabelecer regras claras—O governo devemanter regras simples, transparentes e está-veis para as actividades do sector privado.• Investir em capital humano—Em particu-lar na saúde e educação, para assegurar queos pobres podem tirar partido destas no-vas oportunidades.• Criar um sistema legal sólido—significarálidar com assuntos tão difíceis como as re-clamações sobre a terra e os direitos depropriedade, criar um sistema judicial fortee manter a lei e a ordem.• Promover a estabilidade macroeconómica—Desenvolvendo políticas fiscais, monetári-as, comerciais e de investimento que per-mitam que os recursos sejam afectados efi-cientemente.• Infraestrutura—Assegurar fornecimentosde água e de electricidade fiáveis, estradasadequadas e portos e aeroportos eficientes.

Um dos perigos de promover um cresci-mento rápido baseado no mercado é o deaumentar as desigualdades—particularmen-te entre as zonas rurais e urbanas. Algunsdestes enviesamentos surgem no quadro dofuncionamento do mercado livre mas as

políticas governamentais também corremo risco de acentuar estas tendências atravésdo sistema fiscal ou oferecendo subsídiosque na prática só são acessíveis aos agricul-tores mais prósperos. O objectivo deveráser, portanto, promover o crescimento comequidade, criando oportunidades para osector privado ao mesmo tempo que seprotegem os interesses dos pobres.

Isto sublinha a importância não só doestímulo à agricultura mas também de as-segurar o tipo de desenvolvimento equili-brado que permita que os benefícios se dis-seminem pelo país. O desenvolvimento dainfraestrutura rural será crítico neste aspec-to—em especial estradas confiáveis e siste-mas de comunicação que permitam que osmercados rurais funcionem eficientementee que melhorem os preços que os produ-tores mais pobres recebem pela sua pro-dução.

Ao mesmo tempo, Timor Leste deverádesenvolver um sistema financeiro rural,incluindo esquemas de micro-crédito, emespecial para as mulheres e outros gruposque poderão estar afastados do mercadode trabalho formal. Melhorar ainfraestrutura rural também deverá estimu-lar outras actividades rurais não-agrícolas—incluindo a indústria pouco especializada,mão-de-obra intensiva, e outros serviçoscom ela relacionados. Neste caso o objecti-vo seria o de estimular os rendimentos dasfamílias rurais, particularmente durante osperíodos sazonais de menos trabalhoagrícola.

Indústria ligeiraEm 2000, a indústria representava somente3,5% do PIB, sendo a maior parte consti-tuída por actividades de pequena escala. Asempresas que empregavam a maior parteda mão-de-obra neste sector estavam en-volvidas na tecelagem dos panos tradicio-nais (tais) e na indústria de mobiliário. Opotencial imediato para a indústria é limita-do devido à escassez de mão-de-obra qua-lificada em Timor Leste, aos custos de vidae aos salários relativamente elevados e aosmeios de transporte pobres. As melhoresopções parecem surgir através do investi-mento estrangeiro em têxteis e calçado.

TurismoDurante o período indonésio os turistaseram desencorajados a visitar Timor devi-

O objectivodeverá serpromover ocrescimento comequidade

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do à violência e à incerteza política. Porém,e no futuro, poderão chegar mais uma vezque o país tem muitas atracções. Mas mes-mo num clima mais pacífico ainda persis-tem muitos obstáculos a uma indústria tu-rística forte, incluindo a escassez de aloja-mento adequado, a falta de pessoal qualifi-cado para operar as instalações turísticas etambém as deficiências gerais no domíniodas infraestruturas, incluindo as ligações aé-reas internacionais.

Enquanto que a falta de experiência noturismo pode ser encarada como uma des-vantagem, também pode ser uma oportu-nidade. Timor Leste pode evitar muitas dasarmadilhas sociais e ambientais da rápidaexpansão do turismo. Uma opção seria ca-pitalizar o carácter inexplorado de TimorLeste concentrando a atenção no eco-turis-mo. Expandir a indústria turística exigirá,no entanto, um envolvimento comunitárioforte para assegurar que o povo de TimorLeste seja parceiro e beneficiário do pro-cesso.

Petróleo e gásUm dos maiores determinantes do futuroeconómico do país será a forma como uti-lizar as receitas do petróleo e do gás. Quan-do Timor Leste votou a favor da indepen-dência, a UNTAET e os líderes timorensesrenegociaram com a Austrália o tratado deexploração das reservas do Mar de Timor.Este acordo é muito mais favorável que oanterior, uma vez que Timor Leste reteráagora 90% das receitas fiscais da produçãoda Área de Desenvolvimento Conjunta dePetróleo. Ao longo das duas décadas pos-teriores a 2004, espera-se que as receitas dogás e do petróleo atinjam cerca de 7 biliõesde USD. A perspectiva mais comum é a deque o país não deverá utilizar todas asreceitas para financiar actividades corren-tes. Em vez disso, deve guardar pelo me-nos metade destas receitas num fundo deforma a preservar algum valor para a ge-ração seguinte.

Atrair investimento estrangeiroDada a baixa taxa de poupança e o limita-do nível de experiência empresarial, muitodo estímulo para o desenvolvimento eco-nómico e humano através do sector for-mal terá de ser baseado no investimentodirecto estrangeiro (IDE). O IDE podenão só estimular a produtividade mas tam-

bém alargar as escolhas de desenvolvimen-to humano ao permitir que os timorensesadquiram formação e experiência trabalhan-do em empresas estrangeiras. No entanto,é crucial que Timor Leste desenvolva polí-ticas sobre o IDE através de consenso de-mocrático.

O investimento directo estrangeiropoderia centrar-se em alguns sectores-cha-ve. Um deles é a agricultura, que beneficia-ria da participação estrangeira noprocessamento de café e de baunilha. Outrosector são as pescas, em particular se o go-verno emitir licenças de pesca sob a condi-ção de que os beneficiários dêem forma-ção aos timorenses ou criem joint-venturescom empresas locais. O turismo tambémdependerá do investimento estrangeiro mastambém deveria ser condicionado à trans-ferência de conhecimentos para o pessoallocal. Para a indústria manufactureira osmelhores pontos de partida são provavel-mente o vestuário, os têxteis e o calçado.Timor Leste enfrentará, no entanto, umaforte competição pelo IDE da parte deoutros países da região e para aumentar assuas probabilidades terá de resolver algu-mas questões essenciais. Estas incluem:

• Propriedade da terra—Até ao presentenão há qualquer mecanismo para registaros direitos à terra e os investidores sabemque se arrendarem terrenos arriscam-se aentrar em conflitos e a ocupações ilegais.• Utilização do dólar americano—Adolarização tem a desvantagem de que opaís perde a opção de desvalorizar a moe-da para alcançar vantagens comparativas.• Custos elevados—Os custos salariais emTimor Leste são muito mais elevados quena Indonésia.• Questões laborais—As leis laborais não sãoclaras acerca dos direitos e deveres dos tra-balhadores e não existem mecanismoseficazes para resolver as disputas laborais.• Incertezas legais—Timor Leste não temum quadro legal claro para a actividade eco-nómica. Isto aplica-se a muitas áreascruciais, incluindo seguros, falência, planea-mento urbano, trabalho e uso da terra, bemcomo ao direito comercial e aos códigospara a construção civil.

Política fiscalHaverá três fontes principais de financia-mento: impostos internos, financiamentos

SUMÁRIO EXECUTIVO

Expandir oturismo exigeum forteenvolvimentodascomunidades

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dos doadores e receitas do Mar de Timor.Na frente interna, o governo terá de taxar aagricultura, apesar de ser importante não ofazer de forma muito pesada uma vez queisso pode sufocar o crescimento económi-co a longo prazo. O governo pode tam-bém explorar novas fontes de receita, in-cluindo os impostos sobre jogo assimcomo vários impostos e taxas locais. Simul-taneamente será importante aumentar aimplementação das leis fiscais, em particu-lar reduzindo o contrabando ao longo dafronteira com a Indonésia.

Os fundos da ajuda serão tambémcruciais mas devem ser utilizados cuidado-samente. Um ponto de preocupação seráo de evitar contrair demasiados emprésti-mos de agências multilaterais. Mesmo quan-do estes têm termos concessionais, podemfacilmente levar à acumulação de um fardode dívida externa.

Timor Leste podia considerar umaestratégia fiscal abrangendo quatro áreas:

1. Controlar os gastos públicos—Dando priori-dade ao investimento na saúde e naeducação de forma a alargar as capacidadesdas pessoas e a estimular o desenvolvimentohumano.

2. Evitar subsidiar os mais ricos—Financiar al-guns serviços públicos parcialmente atravésdas taxas pagas pelos utilizadores.3. Criar a confiança dos doadores—Manter umclima social, económico e político estável eo respeito pelos direitos humanos não só évital para o desenvolvimento humano mastambém para encorajar os doadores.4. Salvaguardar as receitas do gás e do petróleo—Utilizando-as com parcimónia uma vez querepresentam uma oportunidade que dura-rá apenas cerca de 20 anos.

A tarefa de Timor Leste é assegurar o in-vestimento em capital humano e estimularas empresas, não utilizando as receitas dopetróleo para financiar a despesa corrente.

O caminho à nossa frenteTimor Leste tem agora muitas políticas paradefinir e muitas decisões para tomar. O testefinal a todas estas decisões, seja na agricul-tura, na indústria, no turismo ou na indús-tria do petróleo será se trazem ou não van-tagens reais às famílias pobres. Isto subli-nha a importância de investir nas pessoas:assegurar que têm saúde, conhecimentos ecapacidade para usufruir de todas as vanta-gens destas novas oportunidades.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Desenvolvimento humanoem Timor Leste

Timor Leste encara a vida como nova nação em circunstân-cias muito difíceis—com o nível de desenvolvimento humanomais baixo da Ásia. Mas a independência total proporcionatambém a oportunidade de começar de novo ao dar aostimorenses o poder necessário para definirem um novo ca-minho firmemente baseado nos princípios dodesenvolvimento humano.

O panoramaeconómicoimediato pode serdifícil mas opotencial humanoé forte

CAPÍTULO 1

Seja qual for o critério de análise, TimorLeste é um dos países menos desenvolvi-dos do mundo. Os rendimentos são bai-xos: estima-se que o PIB per capita sejaapenas de $478. Muito poucas pessoas ti-veram uma educação adequada: mais demetade da população é analfabeta. Os ní-veis de nutrição são baixos: mais de meta-de das crianças têm um peso inferior aodevido. E o país ainda está a sofrer da des-truição e do trauma que se seguiram à vo-tação nacional pela independência a 30 deAgosto de 1999.

O potencial económico também é limi-tado. Dentro de poucos anos há a perspec-tiva de, ao longo de um período de 20 anos,se receberem receitas dos depósitosoffshore de gás e de petróleo do Mar deTimor. Mas essas receitas terão de ser usa-das com parcimónia e para já muitas pes-soas continuarão a depender principalmenteda agricultura, onde a produtividade e osrendimentos são muito baixos. Os agricul-tores de Timor Leste utilizam as formasmais básicas de cultivo, tentando tirar omaior partido de terrenos e de um climadifíceis.

Em muitos aspectos, portanto, TimorLeste está a construir-se desde a base. Esteprimeiro relatório nacional do desenvolvi-mento humano percorre alguma da Histó-ria do país e explora as suas condições eco-nómicas e sociais actuais, avaliando as difi-culdades de uma forma franca. Mas o pro-pósito de um relatório do desenvolvimen-to humano é o de olhar em frente: procu-rar novas direcções e acima de tudo, de-monstrar como um compromisso com o

desenvolvimento humano pode ajudar acolocar o país num novo caminho.

Deste ponto de vista existem motivospara optimismo. O panorama económicoimediato pode ser difícil mas o potencialhumano é forte. Durante os longos anosde colonização e de ocupação, o povo deTimor Leste manteve um desejo inquebran-tável de liberdade. Este tipo de coragem ede determinação em escolherem o seu pró-prio destino, deverá ser muito útil aostimorenses ao longo dos próximos anos.

O desenvolvimento humano em TimorLeste, como em todo o lado, é definidocomo o processo de ‘alargamento das es-colhas das pessoas’ —dando-lhes a possi-bilidade de viver vidas longas e saudáveis,de ter acesso ao conhecimento e a um nívelde vida decente e a desempenhar um papelactivo na vida das suas comunidades. A al-ternativa convencional é concentrar as aten-ções na pura expansão da economia, pro-curando o desenvolvimento económico naesperança de que os frutos do crescimentose difundam pela massa da população. Afilosofia do desenvolvimento humano tam-bém procura uma economia próspera e umcrescimento sólido mas exige que seja o tipocerto de crescimento: crescimento que sa-tisfaça as necessidades e as aspirações hu-manas e que seja baseado numa expansãodas capacidades das pessoas. O desenvol-vimento humano é o desenvolvimento ‘das,pelas e para as pessoas’.

O desenvolvimento humano colocauma grande ênfase no desenvolvimento dascapacidades. As capacidades são ‘a compe-tência para desempenhar funções, resolver

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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O sistema administrativo actual deTimor Leste é uma herança deinteracções entre o sistema tradicio-nal e os sistemas impostos por Portu-gal e pela Indonésia. Timor Leste, emmeados de 2002, é dividido admi-nistrativamente como segue:

13 distr i tos—Os ‘kabupaten’indonésios. A população estimadapor distrito é indicada no quadro 1.1.

Caixa 1.1Unidades administrativas em Timor Leste

A escolha maisbásica é aliberdade deescolha

67 sub-distr i tos—Estes eram os‘kecamatatan’ indonésios.498 sucos – O suco corresponde aum ‘principado’ tradicional. Este énormalmente traduzido para portugu-ês como ‘aldeia’, e como ‘desa’ emindonésio.

2.336 aldeias—Ou dusun emIndonésio.

Fonte: Inquérito aos Sucos

problemas, definir e alcançar objectivos’. Opovo de Timor Leste já tem muitas capaci-dades testadas e valiosas, nos indivíduos ena sociedade. Possui complexas redes derelações sociais e culturais e, através de umprocesso de aprendizagem em colaboraçãomútua e cumulativa, conseguiu sobreviverem condições duras e difíceis, passando esteconhecimento, na sua maioria de forma oral,de uma geração para outra.

Num Timor Leste independente, con-tudo, necessitarão de muitas capacidades adi-cionais. Para administrar um Estado-Naçãomoderno e construir uma economia maisdiversificada e mais desenvolvida, terão deadquirir novos conhecimentos e desenvol-ver novas capacidades—muitas das quaisrequerem longos anos de educação eformação

Mas o desafio de Timor Leste não é sim-plesmente melhorar as capacidades e opotencial dos indivíduos. A capacidade na-cional não é só a soma total das capacida-des dos indivíduos. É um conceito muitomais rico e mais complexo que mistura asforças individuais num tecido nacional maisforte e mais resistente. Assim Timor Lestenão terá somente de aumentar as capacida-des individuais. Terá também de criar asoportunidades e os incentivos para que aspessoas utilizem e aumentem essas capaci-dades. O desenvolvimento de capacidadestem lugar não só nos próprios indivíduosmas também entre eles—nas suas comuni-dades e nas instituições e redes que criam—através do que foi denominado ‘capital so-cial’, o cimento que mantém as sociedadesunidas. O desenvolvimento humano emTimor Leste não se resume a ‘ter’, medidonum aumento do rendimento per capita:trata-se também de 'ser'

Agora o desafio é conceber e criar asinstituições de governo e a outros níveis quepossam expandir as capacidades nacionaise aumentar o leque de escolhas disponíveispara todas estas pessoas. O país já deu umgrande passo alcançando a sua independên-cia. Como Mahbub ul Haq, o arquitectooriginal, em 1990, da série de relatórios dedesenvolvimento humano expressou: ‘a es-colha mais básica é a liberdade de escolha’.

A situação do desenvolvimentohumano

Qualquer avaliação da situação em TimorLeste tem de apresentar um quadro muitoalargado, olhando não só para as capacida-des individuais, reflectidas em níveis de edu-cação e de saúde, mas também para mui-tos outros aspectos da vida das pessoas: porexemplo, igualdade de género, participaçãopopular na tomada de decisões, identidadecultural, e realização dos direitos humanos.Então tem de se levar em conta as oportu-nidades de utilizar essas capacidades paraconstruir vidas sustentáveis. Este relatóriotentará seguir o progresso ao longo destasdimensões mas é importante ter em menteque, em última instância, todas terão de sertecidas em conjunto—o desenvolvimentohumano não pode ser reduzido a um sófactor; como a própria humanidade, ele écomplexo e multidimensional.

Movimentos de populaçãoUm ponto de partida é calcular a popula-ção total. Em certa medida, isto foi impe-dido pela guerra. A ocupação indonésiadesde 1975 resultou em terríveis perdas devidas. Durante os primeiros anos morre-ram 60.000 pessoas e ao longo do períodoaté 1999 o número total de mortes causa-do pela ocupação é estimado em pelo me-nos 200.000. Muitas pessoas foram mortaspelo exército indonésio e outras fugirampara as montanhas, onde morreram defome e por falta de cuidados sanitários bá-sicos ou de saúde. Uma breve história des-te período pode ser consultada noApêndice I deste relatório.

Os anos de violência também causarammovimentos significativos de população. Aadministração indonésia, com o seu pro-grama de migração, deslocou milhares deindonésios para Timor Leste e, pela força,também deslocou comunidades de

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Uma das primeiras tarefas de TimorLeste é estabelecer uma base de da-dos segura para o planeamento futu-ro. O maior projecto actualmente emcurso é a Avaliação da Pobreza quetem sido um exercício conjunto daAdministração Transitória de TimorLeste, Banco Asiático de Desenvolvi-mento, Banco Mundial, Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimen-to e Agência Japonesa de Coopera-ção Internacional. Este projecto incluitrês elementos:

O Inquérito aos Sucos de TimorLorosae (SSTL)—Foi concebido parafornecer uma base de dados consis-tente sobre as características de cadasuco em Timor Leste. O resultado con-creto do SSTL é um inventário dasinfraestruturas sociais e físicas existen-tes, das características económicasde cada suco e da cobertura dosserviços públicos. As principais fon-tes de informação foram os seus

Inquéritos em Timor Leste

chefes, complementada por professo-res, profissionais da saúde e outros.A maior parte dos inquiridos eram ho-mens. Neste relatório referimo-nos aeste estudo como 'Inquérito aosSucos'.

O Inquérito às Famílias de TimorLorosae (HHTL)—Este é um inquéritopor amostragem a 9.100 pessoas em300 aldeias, destinado a identificaras características chave das famíliaspobres—para fazer o levantamentodas limitações das famílias mais po-bres e avaliar o impacto dos progra-mas públicos nestas famílias.

A Avaliação do Potencial Participativode Timor Lorosae (APPTL)—Esta pes-quisa ao nível da aldeia foi conduzidaem 48 comunidades para investigarem detalhe a natureza da pobreza,as suas causas e qual a melhor formade promover o bem-estar.

Caixa 1.2

1990 1995 1999 2001

População 747.557 839.719 779.567 794.298

Com menos de 15 anos 42% 44% 41% 44%

Entre 15-64 anos 57% 55% 57% 54%

Com mais de 65 anos 2,0% 1,7% 1,9% 2%

Taxa de fertilidade 5,7 5,1 3,8 ..

Estimativas da população

Quadro 1.1

Fontes: Ver anexo quadro 1

Distrito População

1. Aileu 31.827

2. Ainaro 45.093

3. Baucau 101.517

4. Bobonaro 69.932

5. Covalima 49.234

6. Dili 120.474

7. Ermera 88.415

8. Liquica 45.575

9. Lautem 53.467

10. Manufahi 38.616

11. Manatuto 35.446

12. Oecussi 45.042

13. Viqueque 62.704

Total 787.342

População por distrito, 2001

Quadro 1.2

Nota: Estes dados não incluem alguns refugiados regressados

Fonte: Inquérito aos Sucos, 2001

timorenses das suas terras tradicionais. Masa crise mais dramática teria lugar em 1999.No período anterior e imediatamente apóso referendo, foram mortas entre 1.000 a2.000 pessoas e mais de metade da popu-lação foi forçada a abandonar as suas casas—cerca de 300.000 pessoas foramdeslocadas no interior do país e cerca de200.000 foram para Timor Ocidental.

A maioria regressou entretanto. EmMarço de 2002 as agências da ONU e aOrganização Internacional para as Migra-ções tinham auxiliado aproximadamente147.000 refugiados a regressar a TimorLeste. Mais 49.000 tinham regressado porsi próprios, colocando o número total deregressados em 196.000. Cerca de 60.000refugiados permanecem em Timor Ociden-tal e uma proporção significativa destes,muitos dos quais tinham laços com a ad-ministração indonésia, deverão, provavel-mente, aí permanecer.

Estes movimentos tiveram um impac-to duradouro na dimensão e na distribui-ção da população. Apesar de ainda não terhavido um recenseamento completo desdeo fim da ocupação indonésia, uma das me-lhores estimativas recentes está disponívelno ‘Inquérito aos Sucos de Timor Lorosae’(SSTL—ver caixa 1.2), que neste relatórioserá referido como ‘Inquérito aos Sucos’.Este cita valores do Registo civil levado acabo em 2001 e concluiu que a populaçãototal era, na primeira metade de 2001, de794.298 pessoas.

O Quadro 1.1 combina estes valorescom as estimativas da população para anosanteriores. As diferentes bases para estasestimativas, combinadas com a ruptura so-cial generalizada, disfarçam em certa medi-da as tendências subjacentes da população.No entanto, parece que a ‘taxa de cresci-mento natural’ continua a ser bastante ele-vada. A taxa de fertilidade total, ou o nú-mero médio de crianças que cada mulherdá à luz ao longo da sua vida, era de maisde cinco em 1990 e 1995—superior a qual-quer província na Indonésia. Como resul-tado, a população continuou a crescer rapi-damente—em média 3,5% ao ano entre1985 e 1990 e 2,4% entre 1990 e 1995. Ataxa de fertilidade decresceu ao longo dosanos 90 e a agitação social de 1999, assimcomo as diferentes fontes utilizadas paraobter dados sobre Timor Leste indepen-

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Só 20% dasaldeias têmelectricidade

Gráfico 1.1

Prestadores de cuidados de saúde

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)

dente, causaram uma ruptura nas séries dedados. No entanto é claro que o crescimen-to populacional subjacente permaneceelevado.

A outra característica demográfica prin-cipal de Timor Leste é a de que é uma so-ciedade maioritariamente rural—cerca de76% da população vive nas 2.300 aldeiasdo país. Dos habitantes urbanos, a maioriaestá na capital, Dili, ou na segunda maiorárea urbana, Baucau. A maioria dos paísesem desenvolvimento experimentou umcrescimento contínuo das suas populaçõesurbanas. Isto sucedeu a um ritmo mais len-to em Timor Leste mas a agitação socialrecente terá tornado a população maismóvel, o que, combinado com o fossoevidente entre os rendimentos rural e urba-no, resultará provavelmente num aumentoda população urbana.

SaúdeO povo de Timor Leste tem baixos níveisde saúde, certamente mais baixos que naIndonésia. A mortalidade infantil (80 mor-tes por cada 1.000 nados vivos) e a morta-lidade juvenil, antes dos cinco anos de ida-de (144 mortes por cada 100.000 nado-vi-vos) são muito mais elevadas que as taxasda Indonésia e a esperança de vida à nas-cença é de 57 anos, comparada com 65 anosna Indonésia. As causas mais importantesde morte incluem doenças que se podemprevenir, como a malária, infecções dotracto respiratório e diarreia.

Os baixos níveis de saúde são resultado,em parte, da falta de serviços básicos. Du-rante o período indonésio menos de 50%das famílias tinha acesso a água potável esó 38% a saneamento básico. E embora não

haja dados recentes para comparação, oInquérito aos Sucos sugere que a violênciade 1999 não alterou consideravelmente asituação. Só 20% das aldeias têm acesso aelectricidade; só 7% tem água canalizada nascasas e os restantes 30% das aldeias têmacesso a água canalizada ou bombeada emlocais públicos. A maioria das pessoas quequeiram ir aos serviços públicos de saúdeterão de ir a pé: em média demoram 20minutos a chegar a uma estrada, 30 minu-tos a alcançar uma estrada alcatroada e 70minutos a chegar a um centro de saúde.

O fornecimento de cuidados de saúdeé fraco. Apesar de antes de 1999 TimorLeste ter muitos edifícios destinados a ser-viços de saúde, as instalações tinham habi-tualmente excesso de pessoal e pouco ma-terial médico. Durante Setembro de 1999,cerca de três quartos das instalações de saú-de foram danificadas e a maioria dos mé-dicos, assim como outro pessoal, que eramna maioria indonésios, partiram. Agora háuma grande escassez de médicos, apesar dasituação estar melhor no que diz respeito apessoal de enfermagem uma vez que amaioria era timorense.

De acordo com o Inquérito aos Sucosexistiam mais de 200 instalações de saúdeem 2001, das quais a maioria eram centrosde saúde comunitários e grande parte dosrestantes eram postos de saúde ou clínicasmóveis. Cerca de metade das instalações desaúde são fornecidas pelo Estado(Gráfico 1.1).

O sistema de saúde indonésio era emgrande parte um sistema funcionando decima para baixo, constituídomaioritariamente por indonésios, não per-mitindo aos timorenses dizer nada sobre aforma como os seus serviços eram admi-nistrados. Isto, combinado com as barrei-ras linguísticas, também reduziu as possibi-lidades de as pessoas desenvolverem os seuspróprios padrões de saúde e muitas comu-nidades tinham uma percepção limitada dasnoções básicas de nutrição e saúde. O VIH/SIDA é também uma questão com impor-tância crescente (caixa 1.3).

Uma das principais preocupações é asaúde reprodutiva. Timor Leste tem pou-cas condições para o cuidado pré e pós-natal e as mulheres das áreas rurais, em es-pecial, estão em risco quando surgem com-plicações com a gravidez. Só 30% dos par-tos têm qualquer assistência especializada.

Estado49%

ONGs40%

Igrejas8%

Sectorprivado

3%

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Vinte anos após as primeiras provasclínicas do síndroma deimunodeficiência adquirida, (SIDA)esta tornou-se a doença mais devas-tadora que a humanidade alguma vezenfrentou.

Cerca de 58 milhões de pessoasforam, mundialmente, infectadas pelovírus VIH, das quais 22 milhões mor-reram em consequência de SIDA. OVIH/SIDA é actualmente a quartamaior causa de morte e ataca parti-cularmente os jovens adultos: cercade um terço dos que vivem com oVIH/SIDA têm idades compreendidasentre os 15 e os 24 anos. As mulhe-res jovens são especialmente vulnerá-veis.

Milhões dos que correm riscosnada sabem sobre o VIH e poucofazem para se protegerem. Mesmomuitos dos que transportam o vírusnão estão conscientes de o teremadquirido.

A região da Ásia Pacífico tem astaxas de crescimento de novosinfectados com VIH mais altas domundo. Nos últimos quatro anos temhavido um aumento de 100% na inci-dência de infecções com VIH. O VIH/SIDA continua a espalhar-se dramati-camente no Camboja, China,Myanmar, Papua Nova Guiné,Tailândia e Vietname.

A Indonésia é ainda um país combaixa incidência da doença mas, talcomo noutros países, o VIH/SIDAestá a espalhar-se entre grupos espe-cíficos, como profissionais do sexo eseus clientes, assim como entre apopulação móvel, como marinheirose camionistas que têm altos níveis desexo desprotegido com múltiplos par-ceiros.

Timor Leste pode esperar vir a serafectado pelas tendências regionaissubjacentes. De facto, o perigo podeser maior aqui, uma vez que o riscode VIH/SIDA é particularmente eleva-do nos países que foram atingidospor conflitos, deslocação de popula-ções e destruição generalizada. TimorLeste teve apenas um único caso re-gistado de morte por VIH/SIDA atéhoje mas o Grupo Temático das Na-ções Unidas sobre o VIH/SIDA con-cluiu que Timor Leste não tem um sis-tema de vigilância sistemático ou fiávelpara o VIH/SIDA ou para doençassexualmente transmissíveis (DSTs), porisso a informação existente provavel-mente será incompleta para poder ava-

A oportunidade de prevenir o VIH/SIDA em Timor Leste

Caixa 1.3

liar a incidência de uma epidemia deVIH/SIDA.

O Grupo também identificou al-guns factores de risco chave:

• Elevados níveis de DSTs;• Baixos níveis de sensibilização

para o VIH/SIDA/DSTs;• A ausência de programas de aler-

ta, prevenção e tratamento;• O aumento da prostituição;• Violência doméstica e incesto;• O início da utilização de drogas

injectáveis;• Limitações culturais à discussão

pública sobre comportamentosexual;

• A falta de educação, formaçãoprofissional, alternativas de empre-go e actividades recreativas paraos jovens;

Se seguir o mesmo padrão a que seassistiu noutros países, o VIH/SIDApoderá ter um impacto enorme emTimor Leste. Alguns dos efeitos serãoeconómicos: aqueles que contraíremo vírus vêm geralmente dos gruposetários mais produtivos e a combina-ção de perda de rendimento e a ne-cessidade de pagar despesas de saú-de é devastadora para as famíliaspobres.

Poderá haver também um grandeimpacto na educação: se os profes-sores ficarem infectados e morreremserá difícil substituí-los. Se um mem-bro de uma família for infectado, éprovável que as crianças tenham queficar em casa para tomar conta dosdoentes.

Existe também um grande peso so-bre os serviços de saúde. As NaçõesUnidas calcularam que em 1996 ocusto médio anual em cuidados desaúde para uma pessoa que vivessecom o VIH/SIDA nas ilhas do Pacífi-co era de cerca de $5.000, ao pas-so que os governos gastavam emcuidados de saúde, em média, ape-nas entre $20 e $30 por pessoa.Mesmo uma epidemia moderada deVIH/SIDA em Timor Leste poderia pôro orçamento governamental sob pres-são. Depois existem ainda os imen-sos custos pessoais e sociais. Quemtomará conta dos doentes ou dosórfãos?

Timor Leste tem uma oportunida-de única para evitar isto. Esforços de-terminados hoje podem garantir umfuturo mais seguro e mais saudável.

Esta situação contribuiu para um nível ele-vado de mortalidade materna: morremcerca de 420 mulheres por cada 100.000nados vivos.

Actualmente o uso de contraceptivos ébaixo e limitado a um pequeno número deopções. Em 1997, 25% das mulheres utili-zavam contraceptivos. O principal métodoutilizado era a injecção trimestral, apesar deum pequeno número utilizar contraceptivosorais Norplant e DIUs. Poucos homensutilizam preservativo. Uma das principaisprioridades será assegurar que os casais te-nham acesso aos métodos apropriados àssuas escolhas de planeamento familiar.

EducaçãoTambém na educação Timor Leste apre-sentava resultados piores que as outras pro-víncias da Indonésia. Mais uma vez existi-am muitos edifícios mas havia falta de pro-fessores nas escolas, de fundos e de materi-al. Muitos pais nem sequer matriculavamos seus filhos—o rácio líquido de matrícu-las de crianças no ensino primário era decerca de 70%, comparado com 97% naIndonésia. Esta situação foi parcialmente umreflexo da pobreza: muitos pais pobres nãopodiam pagar o preço das propinas e dosuniformes. Muitos pais tinham também re-servas a que os seus filhos fossem envolvi-dos num sistema repressivo e que fossemensinados por professores estrangeiros. Abaixa taxa de matrículas, a par das elevadastaxas de abandono, significa que em 1995,mesmo entre os mais novos, no grupoetário 15-19, menos de metade dos jovens,rapazes ou raparigas, tenha completado ainstrução primária. Como resultado actual-mente mais de metade da população é anal-fabeta (49% de homens e 64% de mulheres).

Os acontecimentos de Setembro de1999 exacerbaram a situação. Cerca de 80%das escolas primárias foram total ou parci-almente destruídas, a par dos edifícios,mobília e materiais de ensino. Nessa altura,muitos professores partiram, incluindo amaioria dos que ensinavam nas escolas se-cundárias. Desde então muitas escolas fo-ram reconstruídas. A educação é analisadaem maior detalhe no capítulo 4.

Segurança alimentar e nutriçãoCerca de 76% da população vive nas áreasrurais, onde a maioria das famílias vive daagricultura de subsistência. As principais

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A insegurançaalimentar atingeo seu máximoimediatamenteantes da colheitado milho

Gráfico 1.2Colheitas e padrões de insegurança alimentar

Nota: As barras indicam a percentagem de sucos que declararam carência alimentar nesse mês. As áreas indicam apercentagem de sucos que declararam uma colheita de milho ou de arroz naquele mês.

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)

culturas para alimentação são o milho, oarroz e a mandioca. Apesar de o milhopermanecer a principal cultura para alimen-tação, o arroz está a tornar-se cada vez maisimportante e em 1997 a produção total erade cerca de metade da produção de milho.A produção alimentar de 2001, como re-gistada no Inquérito aos Sucos, é apresen-tada no Quadro 1.3. A produção dos anosanteriores é apresentada no Quadro 9 doanexo. A principal cultura de rendimento é

o café, que é cultivado simultaneamente empequenas parcelas de terra e em grandespropriedades. O gado também foi umafonte importante de rendimento familiar,apesar deste ter declinado durante os anosindonésios.

Muita da terra é difícil de cultivar, dadaa topografia agreste e a ameaça da erosão eda deflorestação. As famílias de agriculto-res utilizam vários métodos de cultivo bas-tante simples. Estes incluem o cultivo demilho através de queimadas e o cultivo dearroz em socalcos alimentados pelas chu-vas ou irrigados, nas montanhas ou nosperímetros das terras baixas.

A maioria das famílias tem-se preocu-pado menos com a maximização das suascolheitas do que com a redução davulnerabilidade aos caprichos do clima—incluindo os fenómenos relacionados como El Niño que proporcionam as condiçõespara cheias e secas. Só cerca de 2% das fa-mílias utilizam fertilizantes ou pesticidas esomente 5% usam tractores. Isto deve-separcialmente ao facto dos timorenses nãoutilizarem tradicionalmente estes inputs, mastambém porque não têm estado disponíveis.Como resultado da baixa produtividade ede uma negligência geral pela agricultura,composta pelos efeitos de décadas de con-flito e de dificuldades na posse da terra, aprodução alimentar tem sido baixa. Somen-te cerca de metade da terra apropriada paraa agricultura está actualmente a ser utilizadae durante décadas Timor Leste não foi auto-suficiente nas suas culturas alimentares.

Hectares Tons

Arroz de sequeiro 3.417 3.552

Arroz 35.318 54.302

Milho 121.335 68.959

Mandioca 91.067 55.349

Café (grão) 88.823 26.944

Café (grão seco) 28.981 14.984

Feijão 8.177 3.722

Batata doce 67.137 31.663

Batatas 1.687 968

Inhame 28.912 13.500

Abóbora 13.639 9.442

Feijão preto 4.145 1.786

Soja 2.080 821

Côco 2.120 2.137

Amendoins 3.262 1.677

Vegetais 7.123 1.888

Bananas 17.892 19.371

Outros frutos 2.978 3.086

Quadro 1.3

Produção alimentar, 2001

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Ago Set Nov DezOut

Colheita de milho

Colheita de arroz

Alimentação insuficiente

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41% dapopulaçãoestava abaixoda linha depobreza

Esta baixa produção colocou em riscoa segurança alimentar básica. As famíliaspodem atingir a segurança alimentar quercultivando os alimentos para si próprias querobtendo um rendimento de outras fontespara comprarem o que necessitam. A mai-oria das pessoas depende do cultivo do seupróprio alimento. O Inquérito aos Sucosmostra que 80% da produção de milho e85% da produção de mandioca são paraauto-consumo. O arroz é um produto maiscomercializado, apesar de cerca de dois-ter-ços da produção de arroz ser para auto-consumo. Os inquéritos feitos pelaSUSENAS, o Inquérito Sócio-EconómicoIndonésio, sugere que cerca de dois terçosdo gasto total das famílias vai para alimen-tação, sendo o arroz o item isolado maisimportante. No entanto, existe claramenteuma produção insuficiente e verificam-seusualmente períodos de escassez em De-zembro e Janeiro. Esta situação está ilustra-da no Gráfico 1.2 que mostra como a inse-gurança alimentar atinge o seu máximoimediatamente antes da colheita do milho.

Quando os tempos se tornam difíceis,as famílias de agricultores comem menos eadoptam outras estratégias de adaptação.O inquérito de avaliação da pobreza des-cobriu que para dois terços da população,a primeira opção seria substituir arroz pormilho, enquanto que outros venderiam gadoou outros bens ou pediriam emprestado aamigos ou a familiares.

Mesmo quando existe comida disponí-vel em casa, no entanto, ela poderá não serbem utilizada. Isto é evidente a partir dosdados sobre a má nutrição infantil: cercade 45% das crianças com idade inferior acinco anos têm um peso inferior ao devi-do. Os inquéritos às condições de nutriçãoda OMS levados a cabo em distritos selec-cionados sugere que 3 a 4% das criançasentre os 6 meses e os cinco anos são mui-tíssimo malnutridas, enquanto que uma emcada cinco são cronicamente malnutridas.Apesar desta situação ser em parte devidaà falta de alimentos, algumas famílias nãodão às suas crianças o tipo certo de alimen-tação e a capacidade das crianças absorve-rem os nutrientes também está a ser com-prometida devido às infecções regulares.

Pobreza de rendimentoQue Timor Leste é um país pobre está forade dúvida. Mas a proporção que se julga

viver num rendimento de pobreza depen-de de onde se situa a linha de pobreza. Opadrão internacional, que é útil em compa-rações entre países, é de $1 por dia. Mas éusualmente melhor ter uma linha de pobre-za nacional, que reflicta melhor as condi-ções locais. O Inquérito às Famílias deTimor Leste definiu, em Setembro de 2001,uma linha de pobreza de $0.55 por pes-soa/por dia. Desta verba, cerca de dois ter-ços eram destinados à alimentação, sufici-ente para fornecer 2.100 kilocalorias por dia,e o restante era destinado a items não ali-mentares, incluindo educação, saúde, ves-tuário e habitação. Nesta base, 41% da po-pulação estava abaixo da linha de pobreza,com uma incidência maior nas áreas rurais(46%) que nos centros urbanos (26%). Ataxa de pobreza mais baixa verifica-se emDili e em Baucau, onde é de 14%.

A grande maioria dos pobres situa-senas zonas rurais. Entre estes, os grupos maispobres situam-se em famílias que têm pe-quenos terrenos e pouco ou nenhum gadobem como entre aqueles que vivem emzonas que são propensas a cheias e à ero-são do solo. Com maior probabilidade deserem pobres são também as famílias commuitas crianças e as que têm idosos ou ou-tros parentes a cargo.

Talvez surpreendentemente, a pobrezaparece ser menor nos 10% de famílias quesão liderados por mulheres. Isto aconteceprovavelmente porque uma mulher viúvaé provavelmente tão pobre que não conse-gue sobreviver sozinha e, seguindo o cos-tume timorense tem probabilidades de irviver com a família do irmão do seu mari-do. Uma mulher só consegue sobreviversozinha no seio de uma família mais rica.

A pobreza em Timor Leste está tam-bém relacionada com a desigualdade. Amedida convencional de desigualdade é o

Coeficiente Produtividadede Gini agrícola*

Timor Leste 0.363 0.847

Nusa Tenggara Ocidental 0.286 1.706

Nusa Tenggara Oriental 0.296 0.961

Maluku 0.269 2.026

Irian Jaya 0.386 2.007

Quadro 1.4

Desigualdade e produtividade agrícola, 1995

*Milhões de Rp. por trabalhador

Fonte: Booth (2001)

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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Cerca de20.000jovensintegramanualmente aforça detrabalho

coeficiente de Gini que varia entre 0 (igual-dade absoluta) e 1 (uma pessoa possui tudo).Em Timor Leste em 1995, o coeficiente deGini era de 0.363, mais alto do que em outrasprovíncias pobres da Indonésia (Quadro1.4). Esta situação pode ser explicada pelabaixa produtividade na agricultura que re-duziu os rendimentos rurais. Apesar de nesseano 73% dos trabalhadores estarem a tra-balhar na agricultura, eles geravam somen-te cerca de 30% do PIB e a produção portrabalhador era menos de metade da deoutras províncias.

Os que trabalhavam nas áreas urbanas,onde a maioria das pessoas trabalhava oupara o governo ou noutras actividades dosector de serviços, tinham provavelmenterendimentos semelhantes aos habitantes ur-banos de qualquer outra cidade na Indonésia.Por isso, a meio dos anos 90 o rendimentoper capita em Dili era 73% mais elevadoque no resto de Timor Leste, enquanto queo verificado no distrito mais pobre, Lautem,era 42% mais baixo.

A partida de muitos funcionáriosindonésios terá certamente reduzido os ren-dimentos médios urbanos. No entanto aexpansão dos serviços governamentais atra-vés da UNTAET e o elevado número deorganizações internacionais em Dili, contri-buíram para um aumento marginal no co-eficiente de Gini para 0.37 (2001).

Modos de vida sustentáveisPara alcançar o desenvolvimento humanosustentável as pessoas deveriam poder pros-

seguir ‘vidas sustentáveis’. Este termo incluinão só emprego mas também as formascomo podem utilizar outros activos, activi-dades e direitos de modo a poderem ga-nhar a vida.

Uma das prioridades para Timor Lestedeve ser a criação de oportunidades deemprego suficientes para as gerações actu-ais e futuras. Actualmente a força de traba-lho atinge cerca de 310.000 pessoas. Com apopulação a crescer a um ritmo de cercade 2,5% ao ano, cerca de 20.000 jovens in-tegrarão anualmente a força de trabalho.Quase todas as formas de vida actuais es-tão ligadas à agricultura, quer para auto-consumo quer para rendimento. Um inqué-rito rápido de avaliação da situação levadoa cabo em 2000 pelo Banco Asiático deDesenvolvimento chegou à conclusão deque o arroz era a fonte principal de rendi-mento monetário das famílias (Quadro 1.5).

Como este quadro indica, a maior par-te do rendimento monetário é derivado da‘economia informal’. Para o futuro previsí-vel, a alternativa ao emprego informal serámuito limitada. Um estudo da OMT/PNUD calcula que, no máximo, a econo-mia formal abrangerá somente 22.000 pes-soas, a maioria das quais será empregadapelo governo, as ONGs e algumas empre-sas estrangeiras. Os restantes —incluindo ostrabalhadores por conta própria, emprega-dores, empregados e trabalhadores famili-ares não remunerados—poderão conside-rar-se abrangidos pela economia informal.A divisão de género desta força de traba-lho é desconhecida mas calcula-se que sejade 60% de homens e 40% de mulheres.

O sector ‘industrial’ ou manufactureiropermanece muito pequeno e consistemaioritariamente de actividades manuais.Uma avaliação de 1997 calculou que, comocategorias mais importantes, existiam cercade 4.500 empresas de tecelagem e de pro-dução de mobiliário sendo o seu númeromédio de trabalhadores apenas de três(House, 1999).

Conforme a economia se desenvolve,no entanto, o trabalho não-agrícola tornar-se-á cada vez mais importante. Grande parteserá no sector dos serviços em Dili e emBaucau mas o desenvolvimento económi-co sustentado exigirá apoio e encorajamentopara a implantação de empresas de peque-na escala quer nas áreas rurais quer nasurbanas.

Actividade Rural Urbano Total

Produção de arroz 32% 15% 23%

Produção de café 13% 9% 11%

Produção frutas/veg. 26% 19% 22%

Criação de gado 6% 5% 6%

Lojistasr 3% 11% 7%

Empreiteiros 1% 2% 1%

Trabalhador 5% 12% 8%

Funcionários públicos 1% 7% 4%

Limpezas 1% 2% 2%

Transporte 1% 3% 2%

Restauração 0% 1% 1%

Outros 11% 15% 13%

Total 100% 100% 100%

Principal actividade de rendimento monetáriodas famílias

Quadro 1.5

Fonte: ADB (2000)

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Uma culturade violência e deintolerânciacontra asmulheres

Género

Como noutros países em desenvolvimen-to, a pobreza afecta particularmente asmulheres. A juntar às suas outras responsa-bilidades, na família e na agricultura, elascarregam o fardo do impacto da água po-luída e das más condições sanitárias, que asobriga a passar muito tempo a cuidar dascrianças doentes. As mulheres rurais, emparticular, que vivem longe de instalaçõesde saúde também incorrem no risco decomplicações na gravidez—que contribuipara a mortalidade materna.

As mulheres, pelo menos no passado,tinham menos probabilidades de seremmatriculadas na escola do que os homens edois terços são analfabetas. Para além dis-so, têm menos poder no seio da família.Isto deve-se parcialmente ao facto de nãoterem um rendimento monetário próprio:a taxa de participação na força de trabalhoé de somente 40% para as mulheres com-parada com 60% para os homens. As mu-lheres também têm pouca participação nasreuniões da comunidade, onde são muitasvezes silenciadas. Por outro lado estão sub-representadas em ocupações como no en-sino ou administração pública.

Muitas mulheres são também vítimas deviolência. Na verdade um dos piores as-pectos dos acontecimentos de Setembro de1999 foi o grau de violência contra as mu-lheres. O Alto Comissariado das NaçõesUnidas para os Direitos Humanos relatoucasos de violação e de abuso sexual em Dilie durante as deslocações forçadas para oscampos de Timor Ocidental, assim comono interior dos próprios campos.

A ONG de mulheres timorensesFOKUPERS também relatou 182 casosdocumentados de violação dos direitoshumanos baseada no género e consideraque estes incidentes constituem somente aponta do icebergue. Toda esta violência teveum efeito traumático nas vidas de centenasde mulheres, que necessitarão deaconselhamento e de apoio nos próximosanos.

No entanto, a maioria da violência vivi-da pelas mulheres hoje em dia acontecedentro das suas próprias casas. A ‘violênciabaseada no género’ pode ser definida comoa violência que envolve homens e mulhe-res, em que a mulher é habitualmente a víti-ma e que resulta de uma relação de poder

desigual. Participantes do Primeiro Congres-so das Mulheres de Timor Lorosae, emJunho de 2000 relataram que uma culturade violência e de intolerância contra as mu-lheres se tornou profundamente enraizadana sociedade de Timor Leste. O Congres-so adoptou uma plataforma de acção quededica uma atenção especial à violência ba-seada no género, incluindo a violência do-méstica.

A amplitude desta violência é desconhe-cida já que muita dela não é relatada. Algu-mas mulheres poderão desconhecer os seusdireitos legais ou sentir que não podemconfiar nas autoridades para tomar as me-didas apropriadas. Outras podem recearmais represálias do agressor ou desaprova-ção por parte dos outros membros da co-munidade. Mas não é invulgar que em so-ciedades saídas de um longo período deconflito armado, os seus ecos continuem aressoar no seio das famílias durante muitosanos.

Algumas ONGs em Timor Leste já têmprogramas que procuram prevenir e darresposta à violência baseada no género. ARede das Mulheres de Timor Leste (REDE)reclamou leis adequadas para proteger asmulheres vítimas de violência doméstica ea criação de serviços de apoio. A UNIFEMestá actualmente a apoiar o estabelecimen-to de um secretariado permanente para aREDE e a criação de capacidades para oseu pessoal e membros.

A pedido das autoridades e comunida-des de Timor Leste foram iniciadas, emOutubro de 2001 e em áreas-pilotoseleccionadas dos distritos de Baucau e deManatuto, uma série de workshops sobreviolência doméstica destinadas a compre-ender melhor a extensão do problema e aprocurar soluções na comunidade local.

As mulheres têm um papel vital a de-sempenhar na reconstrução de Timor Les-te. Já foram feitos alguns esforços para acen-tuar a sua participação. Existiram, por exem-plo, actividades especiais para promover ovoto das mulheres e medidas para assegu-rar que pelo menos 30% dos funcionáriospúblicos sejam mulheres. Em Novembrode 2001 a administração transitória nomeouuma Conselheira timorense para a Igualda-de, reportando directamente ao MinistroChefe, para apoiar a formulação e aimplementação das políticas governamen-tais sobre a igualdade e a promoção destas

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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Gráfico 1.3

Melhorias desde 1999

Fonte: Inquérito às Famílias

questões no seio dos governos locais ecentrais.

AmbienteUm requisito essencial do desenvolvimen-to humano é que seja sustentável—‘desen-volvimento que vá ao encontro das neces-sidades do presente sem comprometer acapacidade das gerações futuras satisfaze-rem as suas próprias necessidades’. TimorLeste não está bem provido de recursosnaturais. A maior parte do terreno é incli-nado—estudos mostram que cerca de 44%do país tem uma inclinação de cerca de40%, coberto por uma camada fina de solonão produtivo. A chuva é pouca mas quan-do chega é por vezes tão abundante quepode arrastar o solo em grandes inunda-ções. Algumas comunidades de agriculto-res desenvolveram algumas formas indíge-nas de conservação do solo mas no restodo país a agricultura de queimada e umafraca gestão da terra contribuíram para umaperda contínua da camada de solo.

Isto foi exacerbado pela deflorestação.Mesmo antes da chegada dos portugueses,os timorenses já estavam a perder as suasflorestas. Um dos recursos mais valiosos eraa madeira de sândalo, mas a sobre-explo-ração reduziu esta floresta para alguns hec-tares. Muitas famílias rurais também depen-dem da venda de madeira para ser utilizadacomo combustível. Como resultado destase doutras actividades, pensa-se que a cama-da de floresta tenha diminuído cerca de 30%no período entre 1972-99. Apesar de exis-tirem poucas estimativas credíveis sobre autilização de terra, provavelmente 80% dopaís consiste agora de vários tipos de terracom cobertura arbustiva. (Pedersen, 1999).

O outro recurso mais importante sãoos minerais. Estes incluem alguns depósitosde ouro, cobre e ferro mas muita da rique-za mineral está no Mar de Timor, entreTimor Leste e a Austrália. Aqui jazem de-pósitos de petróleo e de gás natural. As es-timativas do seu valor variam, mas estima-se que ao longo de um período de 20 anosas jazidas poderão produzir cerca de 7biliões de dólares americanos no total.

Para os timorenses das áreas urbanas, aquestão ambiental mais importante é a po-luição. Actualmente não existem sistemasefectivos de gestão de desperdícios. Dili temum sistema básico de esgotos e uma reco-lha e tratamento limitados dos resíduos só-

lidos. Mas grandes montes de lixo são acu-mulados como resultado de largadas ile-gais. Tudo isto está a contribuir para a po-luição dos lençóis de água subterrâneos, deque muitas pessoas dependem para beber.

A sustentabilidade é uma questão críticapara o desenvolvimento humano em TimorLeste. A não ser que o país lide com ques-tões como a deflorestação, a poluição daágua e a recolha insustentável de recursos,os rendimentos agrícolas e rurais continua-rão a cair, as estradas e as infraestruturascontinuarão a degradar-se e a saúde daspessoas sofrerá as consequências. A degra-dação ambiental também compromete ossistemas de saúde e de vida das geraçõesfuturas.

Segurança humanaOutro componente crítico do desenvolvi-mento humano é a segurança. As pessoasnecessitam de estar a salvo de ameaças aosseus direitos, à sua segurança ou às suas vi-das. Comparando com os anos da admi-nistração indonésia e o período traumáticona sequência do referendo, a maioria daspessoas sente-se agora mais segura. E a taxade criminalidade registada é baixa. Isto éclaro a partir do Inquérito às Famílias, emque 43% dos inquiridos referiram a maiorsegurança como a melhoria mais significa-tiva relativamente ao período anterior à vi-olência (Gráfico 1.3).

A administração da UNTAET foiestabelecida em Outubro de 1999 peloConselho de Segurança da ONU para ‘exer-cer toda a autoridade legislativa e executi-va, incluindo a administração da justiça’. Istoenvolveu o estabelecimento de uma força

A degradaçãoambientalcompromete ossistemas desaúde e devida dasgeraçõesfuturas

Participaçãopolítica11%

Educação

21%

Emprego 7%

Saúde 9%

Outras 9% Segurança43%

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Cada grupo ecadaindivíduo temde respeitar o‘outro’

de polícia civil para manter a lei e a ordem,apoiando a criação do Serviço de Políciade Timor Leste. Este esforço incluiu maisde 2.000 pessoas de 40 países. A governaçãoe a justiça são consideradas em maior deta-lhe no capítulo 2.

Liberdade e participaçãoO povo de Timor Leste já estabeleceu asua independência como nação. A 30 deAgosto de 2001 uns notáveis 91% do elei-torado votaram para eleger os membrosda Assembleia Constituinte, constituída por27% de mulheres. A Assembleia recebeurelatórios de 13 Comissões Constitucionaisque sintetizaram os pontos de vista de maisde 36.000 timorenses na preparação daConstituição, sendo aprovada em Março de2002, preparando o caminho para a inde-pendência. A eleição presidencial de Abrilde 2002 também teve uma participaçãosurpreendente—86% de eleitores deposi-taram os seus votos, comparados por exem-plo, com 51% nas últimas eleições presi-denciais dos Estados Unidos.

Estes passos formais são os pré-requi-sitos de um Estado-Nação mas a liberdadeenvolve mais que o estabelecimento de ins-tituições formais e levar a cabo eleições re-gulares. O tipo de liberdade que é essencialao desenvolvimento humano exige um pro-cesso constante de participação e de feedbackque permita a todos—homens, mulheres ecrianças—a possibilidade mais alargada decontrolar os processos que afectam a suavida do dia-a-dia.

Este tipo de liberdade também é umdireito humano. Como o Relatório doDesenvolvimento Humano global de 2000salienta, os direitos humanos e o desenvol-vimento humano partilham uma visão co-mum e um objectivo comum—assegurara liberdade, bem estar e dignidade das pes-soas de todo o mundo. Assegurar:

• ausência de discriminação—por género, raça,etnia, origem nacional ou religião;

• liberdade de querer—usufruir de um nívelde vida decente;

• liberdade para desenvolver—realizar o po-tencial humano de cada um;

• ausência de medo—das ameaças à segu-rança pessoal, de tortura, prisão arbi-trária e outros actos violentos;

• ausência de injustiça—de violações do im-pério da lei;

• liberdade de pensamento e de discurso—e departicipar nas tomadas de decisão e for-mação de associações;

• liberdade de ter um trabalho decente—semexploração.

Esta lista de liberdades é uma agenda desa-fiadora e exigente. Para Timor Leste, a pri-meira prioridade tem sido o estabelecimen-to dos acordos constitucionais para cons-truir uma democracia forte e participativa,a par das instituições apropriadas e de umamoldura legal sólida.

Mas de igual importância é o estabeleci-mento de uma ‘cultura’ de respeito pelosdireitos humanos quer pelo Estado quer pelasociedade civil. Isto não pode ser alcança-do apenas através de legislação. Cada gru-po e cada indivíduo tem de respeitar o ‘ou-tro’—aceitando que a liberdade de umapessoa acaba onde começa a de outra. ETimor Leste tem também de olhar para láda agressão do passado recente, asseguran-do que os conflitos sejam solucionados nãoatravés da violência mas através do diálogo.

Os índices de desenvolvimentohumano

Esta breve apresentação da situação dodesenvolvimento humano em Timor Lestefornece algumas impressões do leque dequestões que o desenvolvimento humanogenuíno compreende—da boa saúde, àsvidas sustentáveis e emprego e liberdadepolítica. Para a maioria destas questões épossível recolher dados apropriados; é ocaso da taxa de mortalidade infantil, nívelde emprego e de rendimento e a amplitu-de da participação das mulheres nos siste-mas eleitorais. Mas também foram desen-volvidos esforços internacionais para alcan-çar uma medida composta global: um ín-dice de desenvolvimento humano (IDH)que conjuga todos os factores possíveisnuma única medida.

Deve ser enfatizado, no entanto, que oIDH não consegue—e na verdade não pode—reflectir todos os aspectos do desenvol-vimento humano uma vez que é impossí-vel, de uma forma séria, combinar infor-mação sobre, por exemplo, rendimento,crime e direitos humanos ou mortalidadematerna, num só indicador. Assim o IDHfoi desenvolvido de forma a combinar umsubgrupo destas informações, utilizando

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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Uma perspectiva sobre o índice de desenvolvimento humano

Caixa 1.4

O índice de desenvolvimento huma-no foi apresentado pela primeira vezno Relatório do Desenvolvimento Hu-mano mundial de 1990 e desde en-tão tem sido aperfeiçoado.

Porque precisamos de um índice dodesenvolvimento humano?—Porque oprogresso nacional tende a ser medi-do apenas pelo PNB, muitas pesso-as têm procurado medidas sócio-eco-nómicas melhores e mais abrangentes.O índice do desenvolvimento huma-no é um contributo para esta procura.

O que inclui o IDH?—O IDH é com-posto por três elementos básicos dodesenvolvimento humano: longe-vidade, conhecimento e nível de vida.A longevidade é medida pela espe-rança de vida à nascença. O conhe-cimento é medido através de umacombinação da taxa de alfabetiza-ção de adultos (com o peso de doisterços) e do número médio de anosde escolaridade (com o peso de umterço). O nível de vida é medido pelopoder de compra, baseado no PNBreal per capita ajustado ao custo devida local (paridade do poder decompra, ou PPC).

Porquê só três elementos?—O idealseria reflectir todos os aspectos daexperiência humana. A falta de da-dos impõe alguns limites sobre istomas talvez se venham a acrescentarmais indicadores à medida que hajamais informação disponível. Mas aexistência de mais indicadores nãoseria necessariamente uma melhoria.Alguns podem sobrepor-se a indica-

dores já existentes: a mortalidade in-fantil, por exemplo, já está reflectidana esperança de vida. Além disso,ao acrescentar mais variáveis o qua-dro poderia ficar confuso e desviar aatenção das principais tendências.

Como é possível combinar indicado-res medidos em unidades diferentes?—A medida do PNB é o dinheiro.No entanto, a novidade do IDH foi ade encontrar uma medida comumpara a distância sócio-económica per-corrida. O IDH estabelece um míni-mo e um máximo para cada dimen-são e mostra a posição de cada paísem relação a estas escalas—expres-so num valor entre 0 e 1.

Será enganoso usar um único IDHpara um país com grandes desigual-dades?—As médias nacionais podemesconder muito. A melhor soluçãoseria criar diferentes IDHs para os gru-pos mais significativos: por sexo, porexemplo, ou por classe económica,região geográfica, raça ou grupo ét-nico. Os distintos IDHs iriam revelarum perfil mais detalhado das priva-ções humanas e em alguns paísesforam realmente produzidos.

Como pode ser usado o IDH?—OIDH oferece uma alternativa ao PNBpccomo medida do progresso sócio-eco-nómico das nações. Permite às pes-soas e aos seus governos avaliar oprogresso ao longo do tempo e de-terminar prioridades para intervençõespolíticas. O IDH permite também com-parações instrutivas sobre as experi-ências de diferentes países.

indicadores de esperança de vida, conheci-mento e nível de vida (caixa 1.4).

Isto resulta num valor de IDH para cadapaís numa escala de 0 a 1 o que, em princí-pio, permite classificar qualquer país domundo de acordo com as suas realizaçõesem termos de desenvolvimento humano.Na prática isto não é possível para todosos países uma vez que nem todos recolhemos dados necessários. Em 2001 o Relatórioglobal de Desenvolvimento Humano de2001 calculou o IDH para 162 países. Des-tes, a Noruega ocupava o primeiro lugarcom um IDH de 0,939, enquanto a SerraLeoa, um país na África Ocidental, ocupa-va a última posição com um IDH de 0,258.

Onde é que Timor Leste encaixa nestequadro? O Quadro 1.6 apresenta a estima-tiva para Timor Leste enquanto provínciaindonésia, até 1999, e um cálculo para 2001que indica um IDH de 0.421.

Também se verificou um aumento ge-ral do IDH (Gráfico 1.4). Esta tendênciadeve ser vista com precaução dado que ovalor para 2001 utiliza fontes diferentes dasutilizadas para os outros anos (ver nos ane-xos a nota sobre o cálculo dos indicado-res). No entanto sugere uma melhoria con-tínua nos índice da esperança de vida e daeducação. A componente de rendimento doIDH, que é o PIB per capita ajustado pelaparidade do poder de compra, demons-trou uma grande descida—quecorrespondeu provavelmente à crise eco-nómica na Indonésia e ao colapso de 1999,e depois um aumento em 2001, quecorrespondeu ao incentivo no sector dosserviços causado pela presença de muitosexpatriados.

Comparar Timor com o resto do mun-do obriga, no entanto, a usar os dados de1999 dado que este é o último ano para oqual o IDH para os vários países foi calcu-lado. Nesta base o IDH de Timor Leste éidêntico ao do estado centro-africano doRuanda, que nesse ano foi classificado em152º lugar num total de162 países para oqual o IDH foi calculado (Quadro 1.7). Éinteressante neste caso comparar os com-ponentes do IDH de Timor Leste com osdo Ruanda. Apesar de serem idênticos, oscomponentes que o constituem são muitodiferentes. No entanto o PIB per capita deGráfico 1.4

Tendência do IDH, 1993-2001

Fonte: Como para o quadro 1.6.

0.34

0.36

0.38

0.40

0.42

0.44

1993 1996 1997 1999 2001

Valo

r do

IDH

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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1993 1996 1997 1999 2001

Esperança de vida à nascença (anos)1 52,2 53,9 54,4 56,0 56,7

Taxa de alfabetização de adultos (%)2 35,6 40,4 40,6 40,4 43,0

Taxa bruta de escolaridade3 (%) 52,6 55,5 56,6 59,1 56,1

PIB per capita ($PPC)4 374 429 442 337 478

Índice da esperança de vida 0,453 0,482 0,490 0,517 0,528

Índice da educação 0,413 0,454 0,459 0,466 0,474

Índice do rendimento per capita 0,220 0,243 0,248 0,203 0,261

Valor do Índice de Desenvolvimento Humano 0,362 0,393 0,399 0,395 0,421

Quadro 1.6

Índice de desenvolvimento humano

Notas:1. Para mais informações sobre o modo como a esperança de vida e outros dados foram estimados, ver a Nota sobre ocálculo dos indicadores, página 93. 2. Igual ou superior a 15 anos. 3.Agregado de matriculados nos ensinos primário,secundário e superior. 4. Usando o ano de 1996 como base. O número para ‘1993’ refere-se a 1995.

Fontes: O censo da população de 1990, o inquérito intercensos de 1995 (SUPAS). Inquéritos socio-económicos às famílias—SUSENAS (1993, 1996 e 1999), Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001, IMF Survey (28 de Agosto de 2000),Declaração do IMF sobre Timor Leste na Conferência de Doadores (Oslo, Dezembro de 2001).

Ordem no IDH Valor do IDH PIB per capita Esperança Taxa de Taxa de

($PPC) de vida alfabetização escolarização

à nascença (anos) de adultos1 bruta (%)2

Países da ASEAN

56 Malásia 0,774 8.209 72,2 87,0 66

66 Tailândia 0,757 6.132 69,9 95,3 60

70 Filipinas 0,749 3.805 69,0 95,1 82

101 Vietname 0,682 1.860 67,8 93,1 67

102 Indonésia 0,677 2.857 65,8 86,3 65

118 Myanmar 0,551 1.027 56,0 84,4 55

121 Camboja 0,541 1.361 56,4 68,2 62

131 Laos 0,476 1.471 53,1 47,3 58

Timor Leste 0,395 337 56,0 40,4 59

Outros países asiáticos com desenvolvimento humano baixo:

129 Nepal 0,480 1.237 58,1 40,4 60

130 Butão 0,477 1.341 61,5 42,0 33

132 Bangladesh 0,470 1.483 58,9 40,8 37

133 Iémene 0,468 806 60,1 45,2 51

Países lusófonos em vias de desenvolvimento

69 Brasil 0,750 7.037 67,5 84,9 80

91 Cabo Verde 0,708 4.490 69,4 73,6 77

146 Angola 0,422 3.179 45,0 42,0 23

156 Guiné-Bissau 0,339 678 44,5 37,7 37

157 Moçambique 0,323 861 39,8 43,2 23

Outros países com IDH baixo

152 Ruanda 0,395 885 39,9 65,8 40

161 Níger 0,274 753 44,8 15,3 16

162 Serra Leoa 0,258 448 38,3 32,0 27

Quadro 1.7

Índice de desenvolvimento humano de Timor Leste na classificação mundial, para 1999

Fonte: Para outros países, o Relatório do Desnvolvimento Humano, PNUD (2001).

Notas: 1. Com 15 anos ou mais. 2. No ensino primário, secundário e superior

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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Gráfico 1.5

IDH comparado com o PIB

Fonte: Como para o quadro 1.7

Gráfico 1.6

IDHs regionais, 1999

Nota: Os valores do IDH deste quadro não são comparáveiscom os que são apresentados no Quadro 1.6 já que oindicador de rendimento utiliza as rupias indonésias e que umdos indicadores de educação utiliza a média de anos deescolaridade em vez da taxa bruta combinada de matrículanos três graus de ensino

Fonte: Calculado a partir dos dados brutos doSUSENAS de 1999

Timor Leste é inferior a metade do doRuanda ($337 comparado com $885).Timor Leste apresenta também um índiceinferior na educação principalmente por-que em 1999 a taxa de alfabetização era desomente 40%, comparada com 66% noRuanda. No entanto, isto é contrabalança-do por uma esperança de vida muito supe-rior (56 anos em Timor Leste, comparadacom 40 no Ruanda).

Das componentes do IDH, Timor Lestetem um desempenho moderado na espe-rança de vida. Uma esperança de vida mé-dia de 56 anos é comparável à do Cambojae à do Myanmar, mas muito inferior àverificada em muitos outros países daASEAN, como a Indonésia (65) e oVietname (68). Apesar de tudo, a esperançade vida em Timor Leste é muito superior àde outros países africanos de língua oficialportuguesae com baixos rendimentos,como Angola e Guiné-Bissau (45) eMoçambique (40).

Dos componentes do índice de educa-ção, Timor Leste tem um desempenhomelhor nas matrículas que na literacia. Orácio bruto combinado de matrículas paraTimor Leste era de 59% em 1999, compa-rável com o do Myanmar (55%) e com odo Camboja (62%). Por outro lado, a taxade alfabetização de adultos para TimorLeste rondava os 40%, sendo muito inferi-or à verificada em qualquer outro país daASEAN e comparável apenas como a dospaíses mais pobres da Ásia, como o Butão,o Bangladesh, o Nepal e o Iémen, assimcomo com os países africanos mais pobres,incluindo a Guiné-Bissau, o Níger,Moçambique e a Serra Leoa.

No entanto o pior desempenho deTimor Leste é no rendimento per capita—que é em certa medida resultado da crisede 1999. De facto, o rendimento per capitaestimado de $337 para 1999 coloca TimorLeste no último lugar do ranking de PIBdestes 162 países—bastante atrás da SerraLeoa, que ocupava o último lugar com$448. Isto é indicado no gráfico 1.5 queapresenta Timor Leste no fim da tabela emtermos de rendimento mas com um de-sempenho um pouco melhor no IDH. Atendência nesta figura mostra que o IDHtende a aumentar quando o rendimento percapita aumenta—em parte porque o rendi-mento é em si próprio um componente doIDH. Mas esta figura ilustra um ponto im-

O IDH de TimorLeste é idênticoao do estadocentro-africanodo Ruanda

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

0 0.2 0.4 0.6 0.8

Valor do IDH

PIB p

er ca

pita

; m

ilhare

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PPP

Filipinas

Angola

Indonesia

Vietname

Laos

CambojaNepal Myanmar

IémeneMoçambique

Guiné-Bissau

Timor Leste

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

0 0.2 0.4 0.6 0.8

Valor do IDH

PIB

per c

apita

(milh

ares

de

rupi

as)

Dili

ManufahiErmera

AinaraManatuto

LiquicaOecussi

CovalimaAilieu

Baucau

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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portante: alguns países têm um desempe-nho melhor que outros a transformar ren-dimentos mais elevados em melhores con-dições de desenvolvimento humano. Nes-tes termos, Timor Leste tem um desempe-nho melhor do que o seu rendimento percapita poderia sugerir, sublinhando a im-portância do IDH como medida dodesenvolvimento em lugar do PIB apenas.

Uma das fraquezas do IDH calculado anível nacional é a de que não leva em contaas desigualdades dentro dos próprios paí-ses. Um país pode ter um IDH global ele-vado mas apresentar desigualdades signifi-cativas entre regiões ou entre grupos soci-ais. Este será certamente o caso de TimorLeste, dado o contraste entre áreas rurais eurbanas e a negligência dos distritos maisremotos. Uma forma de lidar com estaquestão é calcular diferentes IDHs para di-ferentes regiões. Actualmente não é pos-sível fazê-lo para os 13 distritos de TimorLeste uma vez que não existem dados sufi-cientes. No entanto é possível ter uma ideiada situação utilizando os dados recolhidospela Indonésia em 1999. O resultado é ilus-trado no gráfico 1.6, que apresenta o IDHmais elevado em Dili e o mais baixo emManufahi, apesar deste distrito ter um PIBper capita mais elevado que qualquer outrodistrito à excepção de Dili.

Índice de Desenvolvimento Humanoajustado ao Género

Uma das diferenças mais importantes nasrealizações do desenvolvimento humano éa diferença entre homens e mulheres. Nestecaso os relatórios de desenvolvimento hu-mano global tiveram uma aproximação li-geiramente diferente—não calculando di-ferentes IDHs para homens e mulheres, masreduzindo ou descontando o IDH atravésde uma factor que representa a amplitudeda desigualdade de género. Isto produz umÍndice de Desenvolvimento Humano ajus-tado ao género (GDI). Quanto maior ograu de desigualdade, mais o GDI se dis-tancia do IDH. Os resultados são apresen-tados no Quadro 1.8, que dá um GDI paraTimor Leste, em 2001, de 0,347, que secompara com um IDH de 0,395—ou seja,12% mais baixo. Isto acontece em grandeparte porque o rendimento salarial globaldas mulheres é considerado como sendoapenas um oitavo do dos homens.

O Quadro 1.8 mostra que o GDI sedeteriorou desde 1999. Esta situação nãose deve ao facto da desigualdade de género,em geral, ter aumentado—na verdade em1999 o GDI, então com 0,361, era 34%mais baixo que o IDH para esse ano—masporque o próprio IDH baixou muito entre1999 e 2001.

Existe também um outro indicador doestatuto das mulheres: a medida de reforçodo poder (empowerment) tendo em atençãoo género (GEM). Esta tem em conta a per-centagem de mulheres no parlamento, apercentagem de gestoras e de profissionaisqualificadas, assim como as disparidadesentre o rendimento salarial de homens emulheres. Actualmente, contudo, não exis-tem dados suficientes para calcular o GEMem Timor Leste.

O índice de pobreza humanaOutra medida útil desenvolvida para o re-latório do desenvolvimento humano glo-bal é o índice de pobreza humana (IPH). Aabordagem convencional da pobreza hu-mana discutida anteriormente refere-se ape-nas aos níveis, baixos, de rendimentos e deconsumo. Mas a pobreza, tal como o de-senvolvimento humano, é um conceitomultidimensional. As pessoas podem serpobres de muitas formas, para além de te-rem um baixo rendimento. Podem ter umasaúde pobre, por exemplo, ou falta de aces-so à educação ou a oportunidades de em-prego. O índice de pobreza humano tentalevar isto em consideração. De facto exis-tem dois índices, um para os países em de-senvolvimento e outro para os países daOCDE, que têm em conta as suas diferen-tes circunstâncias. O IPH para os países emdesenvolvimento (IPH-1) combina medi-das de longevidade, conhecimento e capa-cidade económica geral. Neste caso os va-lores são apresentados em percentagens,onde uma percentagem menor significa umnível mais baixo de pobreza. O IPH actualde Timor Leste é de 49.0 (quadro 1.10).

Deve notar-se no entanto que o IPH nãoé um índice de incidência da pobreza. Umnível de pobreza de 49.0 não significa que49% vivem num nível de pobreza humana.Isto é assim porque o IPH, tal como oIDH, é um índice composto. Assim, en-quanto a proporção de pessoas que nãoutilizam melhores fontes de água ser de46,9% e a proporção de adultos que são

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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Timor Leste na classificação global de IDG

Ordem no IDH Ordem Valor Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Países da ASEAN

56 Malásia 55 0,768 74,8 69,9 82,8 91,1 67 64 5,153 11.183

66 Tailândia 58 0,755 72,9 67,0 93,5 97,0 61 60 4.634 7.660

70 Filipinas 62 0,746 71,1 67,0 94,9 95,3 84 80 2,684 4.910

101 Vietname 89 0,680 70,2 65,5 91,0 95,4 64 69 1.552 2.170

102 Indonésia 92 0,671 67,7 63,9 81,3 91,5 61 68 1.929 3.780

118 Myanmar 107 0,547 58,4 53,6 80,1 88,8 55 55 746 1.311

121 Camboja 109 0,534 58,6 54,1 57,7 80,1 54 71 1.190 1.541

131 Laos 119 0,463 54,4 51,9 31,7 63,0 52 65 1,169 1.774

Timor Leste 0,351 57,7 54,2 33,9 46,9 57,9 62,1 146 522

Outro países asíaticos com desenvolvimento humano baixo

129 Nepal 120 0,461 57,8 58,3 22,8 58,0 52 67 849 1.607

130 Butão .. .. 62,8 60,3 .. .. .. .. .. ..

132 Bangladesh 121 0,459 59,0 58,9 29,3 51,7 33 41 1.076 1.866

133 Iémen 131 0,410 61,2 59,0 23,9 66,6 29 72 345 1.272

Países lusófonos em vias de desenvolvimento

69 Brasil 64 0,743 71,8 63,9 84,9 84,8 80 79 4,067 10.077

91 Cabo Verde 84 0,696 71,8 66,0 65,1 84,5 76 79 2.687 6.560

146 Angola .. .. 46,3 43,6 .. .. 21 25 .. ..

156 Guiné-Bissau 143 0,308 45,9 43,1 18,3 58,3 27 47 442 921

157 Moçambique 141 0,309 40,8 38,8 27,9 59,3 19 26 713 1.013

Outro países com IDH baixo

161 Niger 146 0,260 45,1 44,5 7,9 23,0 12 20 561 941

162 Serra Leoa .. .. 39,6 37,0 .. .. 21 32 .. ..

Índice de desenvolvimento Esperança de vida Taxa de alfabetização Taxa bruta de Rendimento

ajustado ao Género à nascença (anos) de adultos (%)1 escolaridade (%) ($PPP)

Table 1.9

Nota: 1. Com 15 anos ou mais

Fonte: Para outros países, Relatório do Desenvolvimento Humano 2001 (PNUD)

1999 2001

Esperança de vida à nascença (anos)

Mulheres 57,5 59,2

Homens 54,2 55,6

Taxa de alfabetização de adultos, com 15 anos ou mais (%)

Mulheres 33,9 42,8

Homens 46,9 43,1

Taxa de escolarização bruta combinada nos ensinos primário, secundário e superior

Mulheres 59,7 55,1

Homens 62,1 58,4

Índice de Desenvolvimento ajustado ao Género (IDG) 0,361 0,347

Quadro 1.8

Índice de Desenvolvimento ajustado ao Género

Nota: Para questões de comparação entre os dados pré e pós-1999, ver ‘Nota sobre o cálculo dos indicadores’, página 93.

Fonte: Como no quadro 1.6

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Timor Leste na classificação global IPH-1

Países da ASEAN

56 Malásia 13 10,9 5,0 13,0 5 18 15,5

66 Tailândia 21 14,0 9,0 4,7 20 19 13,1

70 Filipinas 23 14,7 8,9 4,9 13 28 36,8

101 Vietname 45 29,1 12,8 6,9 44 39 50,9

102 Indonésia 38 21,3 12,8 13,7 24 34 27,1

118 Myanmar 43 28,0 26,0 15,6 32 39 ..

121 Camboja 78 45,0 24,4 31,8 70 52 36,1

131 Laos 66 39,9 30,5 52,7 10 40 46,1

Timor Leste 49,0 35,6 59,6 46,9 44,5 42,4

Outros países asiáticos com desenvolvimento humano baixo

129 Nepal 77 44,2 22,5 59,6 19 47 42,0

130 Butão .. .. 20,2 .. 38 38 ..

132 Bangladesh 73 43,3 21,4 59,2 3 56 35,6

133 Iémen 70 42,5 20,0 54,8 31 46 19,1

Países lusófonos em vias de desenvolvimento

69 Brasil 18 12,9 11,3 15,1 17 6 22,0

91 Cabo Verde 36 20,9 10,4 26,4 26 14 ..

146 Angola .. .. 41,6 .. 62 42 ..

156 Guiné-Bissau 86 49,6 42,2 62,3 51 23 ..

157 Moçambique 84 48,3 49,2 56,8 40 26 ..

Outros países com IDH baixo

152 Ruanda 76 44,2 51,9 40,8 59 40 51,2

161 Niger 90 63,6 41,4 84,7 41 50 63,0

162 Sierra Leone .. .. 51,6 .. 72 29 68,0

Pessoas que não Taxa de Pessoas sem Crianças com peso População abaixo

Índice de devem ultrapassar os 40 analfabetismo acesso a água deficiente menores da linha nacional

pobreza humana anos (% da coorte) adultos (%) potável (%) de 5 anos (%) de pobreza (%)

Ordem no IDH Ordem Valor (%) 1995-2000 1999 1999 1995-2000 1984-99

Table 1.11

Fontes: Para outros países, Relatório do Desenvolvimento Humano 2001 (PNUD)

1996 1999 2001

Pessoas que não devem ultrapassar os 40 anos (em % da população total) 41.1 35.6 32.2

Taxa de alfabetização de adultos, com 15 anos ou mais (%) 59.6 59.6 57.0

Média não ponderada de privação de um nível de vida decente 49.0 45.7 ..

opulação sem acesso a água potável (%) 47.4 46.9 45.4

Crianças com peso deficiente menores de 5 anos (%) 50.6 44.5 ..

Valor do Índice de pobreza humana (IPH-1)1 51.0 49.0 ..

População abaixo da linha de pobreza nacional (%)2 41.5 42.4 41.1

Quadro 1.10

Notas:1. Para uma explicação de como foi calculado o IPH, ver a ‘Nota sobre o cálculo dos indicadores’, na página 93 . 2.Utilizando linhas de pobreza baseadas no consumo: 32.742 rupias/capita/mês em 1996, 78.396 rupias/pessoa/mês em1999—ambos retirados dos dados centrais do SUSENAS em 1996 e 1999, e 158.480 rupias/capita/mês em 2001—retirado do Inquérito às famílias de Timor Leste de 2001.

Fonte: Censo da população de 1990, Inquéritos intercensos (SUPAS) de 1995, Inquéritos sócio-económicos das famílias—SUSENAS (1993, 94, 96, 97, 98, 99). Inquérito às famílias de Timor Leste de 2001

Índice de pobreza humana de Timor Leste

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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analfabetos ser de 56,9%, estas pessoas nãosão as mesmas—alguns analfabetos, porexemplo, terão bom abastecimento de água.Esta falta de informação sobresobreposição de características significa queo IPH não pode ser considerado um índi-ce de incidência. No entanto, tem o méritode mostrar o quadro geral e de ajudar atraçar as tendências de pobreza ao longodo tempo e entre países.

Uma das dificuldades em fazer compa-rações internacionais é a de que nem todosos países produzem informação suficientepara calcular o índice de pobreza humana.O Relatório do Desenvolvimento Humanode 2001 tem IPHs e a classificação corres-pondente para 90 países em desenvolvimen-to em 1999. Se Timor Leste fosse inseridonesta lista global, aumentando o númerototal de países para 91, com um valor deIPH-1 de 46,0 ocuparia a posição número81, entre o Senegal (45.0) e a RepúblicaCentro-Africana (45.8).

O Quadro 1.11 apresenta Timor numcontexto global. O Ruanda, o país com amesma classificação de IDH que TimorLeste nesse ano, tem um nível inferior depobreza humana, classificando-se na posi-ção número 76 com um IPH de 44,2. OQuadro 1.11 também permite compara-ções com outros países da região. Dos res-tantes países asiáticos para os quais o IPH

pode ser calculado, Timor Leste tem a taxamais elevada de pobreza humana.

O Quadro 1.11 também inclui as taxasde pobreza nacionais. Isto, no entanto, re-fere-se a ‘rendimento de pobreza’. Em con-traste com o IPH este é um índice de inci-dência. Estas informações também sãobaseadas em linhas de pobreza definidasnacionalmente e por isso não são perfeita-mente comparáveis mas fornecem indica-ções gerais.

Mostram, por exemplo, que alguns dospaíses africanos mais pobres têm níveismuito altos de pobreza de rendimentos,muito superiores aos níveis de Timor Les-te. Também indicam que a RDP do Laos eo Vietname têm uma proporção superiora Timor Leste da sua população a viver comum rendimento de pobreza. Ambos, noentanto, parece terem um melhor desem-penho na pobreza humana.

Objectivos para Timor LesteEstas medidas de desenvolvimento huma-no e de pobreza ajudam a perceber me-lhor o quadro da situação de Timor Leste.Indicam igualmente até onde Timor Lesteterá de ir nas várias dimensões do desen-volvimento humano. Mas qual a velocida-de com que Timor Leste terá de fazer estasmelhorias? Já existe alguma orientação daAssembleia Geral da ONU, que em Setem-bro de 2000 aprovou a Declaração doMilénio, definindo objectivos de desenvol-vimento a atingir no ano 2015. Estes com-preendem muitos aspectos do desenvolvi-mento humano.

• Pobreza—Em 2015 a proporção de pes-soas a viver em pobreza extrema (commenos de $1 por dia) deverá ser redu-zida em pelo menos 50% relativamenteao nível de 1990.

• Educação—Em 2015 a taxa de matrículano ensino primário deverá ter atingidoos 100%.

• Mortalidade infantil —Em 2015 a taxa demortalidade infantil deverá ter sido re-duzida para menos de dois terços donível de 1990.

• Mortalidade materna—Em 2015 a taxa demortalidade materna deverá ter sido re-duzida em três quartos do nível de 1990.

• Cuidados de saúde primários—Em 2015 de-verá haver acesso universal aos cuida-dos de saúde primários, incluindo aces-

Gráfico 1.7

Alcançar 100% de alfabetização

Fonte: Quadro 7 do Anexo

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

Timor tem umadas mais altastaxas depobreza humanada Ásia

0 20 40 60 80

Total

Rural

Urbano

Mulheres

Homens

Número de anos necessáriospara alcançar 100% de alfabetização

Ano 2036

Ano 2027

Ano 2010

Ano 2075

Ano 2033

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Timor Lestedeverá sercapaz dealcançar a metapara a taxa demortalidadeinfantil

so a métodos fiáveis e seguros de pla-neamento familiar.

• Doenças infecciosas—Impedir a difusão daSIDA, da malária e de outras epidemiasque afligem a humanidade.

• Disparidades de género—Promover a igual-dade de género no país, a todos os ní-veis e de todas as formas.

Estas metas de desenvolvimento servemcomo padrões a serem atingidos em todoo mundo. Que significam especificamenteno caso de Timor Leste?

Os objectivos da educação e da saúdeUma das formas de calcular quanto tempolevará Timor Leste a atingir este tipo deobjectivos é assumir a mesma taxa de pro-gresso registada nos últimos anos. O Grá-fico 1.7 mostra, por exemplo, quanto tem-po demorará a atingir 100% de alfabetiza-ção de adultos, extrapolando o progressoregistado ao longo do período 1993-99.

Esta é claramente uma estimativa muitosimples. Por definição, a literacia não podeser alcançada até que todos os adultos setornem alfabetizados, incluindo aqueles quevivem nas áreas rurais. Porém, fornece umaindicação acerca do caminho ainda apercorrer.

O Gráfico 1.8 mostra os resultados deum exercício semelhante para os indicado-res de saúde—a mortalidade das crianças

com menos de cinco anos e a mortalidadeinfantil. Nesta base, Timor Leste será capazde atingir os objectivos antes da dataprevista.

Monitorizando o progressoEnquanto Timor Leste tenta atingir estesobjectivos, uma tarefa importante será cons-truir um sistema estatístico que possamonitorizar a informação relacionada comas intervenções sociais, económicas e polí-ticas. Actualmente o sistema parece maiscapaz de lidar com a informação econó-mica e social. Mas enquanto que é impor-tante manter valores actualizados sobre ascontas nacionais e comércio internacional,é igualmente vital recolher e publicar dadossobre a nutrição infantil, a educação e o cri-me, por exemplo.

Além disso, esta informação precisa deser recolhida não só ao nível nacional, mastambém ao nível regional. Mesmo nestepequeno país existem frequentemente dife-renças importantes entre regiões, entre áre-as urbanas e rurais, entre as áreas de planí-cie e as de montanha, entre regiões áridas eregiões agrícolas férteis. É por isso impor-tante reunir informação ao nível sub-nacio-nal—entre regiões, por exemplo, e unida-des administrativas. Este tipo de informa-ção não só estimula um debate saudávelsobre a necessidade de uma distribuiçãomais equitativa da riqueza como tambémajuda a reduzir a tensão entre diferentes gru-pos e a evitar conflitos graves.

A dimensão da tarefaQuando Timor Leste tomar o seu lugar noRelatório global de Desenvolvimento Hu-mano, encontrar-se-á perto do fundo doquadro de IDH. O índice de desenvolvi-mento humano não mede todos os aspec-tos do progresso—não toma em conside-ração, por exemplo, a realização históricada independência. Para Timor Leste a li-berdade é um aspecto do desenvolvimen-to humano que melhorou dramaticamentenos últimos três anos. A maioria das pesso-as também se sentem mais seguras.

Mas noutros aspectos da vida, particu-larmente no que diz respeito à educação eà saúde, têm um longo caminho a percor-rer. Muita responsabilidade pelo progressodependerá de ter uma administração pú-blica sólida e capaz. Este é o tema do pró-ximo capítulo.

Gráfico 1.8

Alcançar as metas para a saúde

Fonte: Como para o quadro 1.5

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

0 20 40 60

Número de anos para alcançar as metas

Esperança de vida masculina

Mortalidade<5 anos masculina

Ano 2047

Ano 2042

Ano 2011

Ano 2010

Ano 2012

Ano 2010

Esperança de vida feminina

Mortalidade<5 anos feminina

Mortalidadeinfantil feminina

Mortalidadeinfantil masculina

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É minha intenção situar primeiro a posiçãode Timor Leste para localizar o contexto eas suas implicações de desenvolvimento noterceiro milénio. O vasto continente asiáti-co estende-se desde a Ásia Ocidental e ospaíses do Golfo até aos países da Ásia Ori-ental. A parte sul inclui a Ásia do Sul, oSudeste Asiático e a Ásia Oriental. Ospaíses do Pacífico dentro da Oceania inclu-em a Austrália, a Nova Zelândia, a PapuaNova Guiné e as ilhas do Pacífico. A norteexistem as Repúblicas da Ásia Central e noNordeste, a Sibéria e a Mongólia. Nestagrande área encontra-se Timor Leste, queem breve se irá tornar no país mais novodo terceiro milénio.

A Ásia e o Pacífico apresentam-nos umcontraste nítido entre povos, culturas e mo-dos de vida. A realidade da globalizaçãoeconómica na Ásia-Pacífico com o apareci-mento dos chamados ‘dragões económicos’como a Austrália, Japão, Coreia do Sul,Taiwan e Singapura tiveram um papel fun-damental na redefinição da economia glo-bal. Embora em anos anteriores, tal comoem 1999, alguns deles tivessem sofrido umcolapso económico, a Ásia-Pacífico é a zonado mundo com o maior crescimento econó-mico. E no entanto perguntamos porque es-tão ainda milhões de pessoas na pobreza,com fome e sem abrigo? Esta é a mesmaquestão que afecta o espírito do povo deTimor Leste: a questão do grande númerode pobres. Deixem-me, por isso, definir pri-meiro os pobres de Timor Leste para nosorientarmos quando falamos do desenvolvi-mento de Timor Leste agora e no futuro.

Quem são os pobres de Timor Leste?Pessoas com uma profunda fé, simples ehonestas e, no entanto, vítimas de pobrezaeconómica involuntária que resulta numestilo de vida empobrecido. Disse nasminhas Cartas Pastorais que “A pobreza éidentificada com os timorenses: comida eroupa insuficientes, e outras necessidadesbásicas tais como a falta de água limpa,electricidade, transportes, infra-estruturas einstalações hospitalares e escolares”. Vintee quatro por cento da população urbanavive na pobreza e 60% dos habitantes dasaldeias vive em condições sub-humanas.

Elas são as pessoas que sofreram e ar-riscaram as suas vidas por amor da sua afir-

mação à existência e à liberdade humanas.A violência cometida em Timor Leste desdea sua invasão em 1975 até que atingiu oseu clímax naquele trágico dia 11 de Se-tembro de 1999, deixou um trauma indelé-vel e profundo em todos os que dela fize-ram parte. O trauma continua apesar daretirada completa da Indonésia e mesmocom a presença do pessoal internacionalda UNTAET. Esta experiência específica dedor deixa-nos uma herança de violência psi-cológica. Sim, os pobres, cujos conflitos in-dividuais e colectivos se tornaram uma ex-periência escondida de dor e sofrimentoquer para os sobreviventes quer para osexecutores. Pessoalmente, a herança des-ta violência tão aguda faz-me sofrer ao verpessoas clamar por cura e perdão. De fac-to, tal memória dolorosa que tem ameaça-do a segurança e a existência de cada so-brevivente timorense, é algo que partilhocom o resto do meu povo.

O desafioA pobreza e as memórias dolorosas daviolência são os assuntos principais que têmameaçado o desenvolvimento da segurançae da existência de cada timorense. Seránecessário desenvolvimento material, so-cial, político e espiritual se quisermos pensarem trabalhar para o bem comum de cadatimorense e para Timor Leste como umanação. Significa novas estruturas, nova visãoe novos processos a partir dos quais umasociedade com fracturas pode serreconstruída como verdadeira e justa. É poisum desafio procurar esse sentimento desegurança, de dignidade, de fazer partede um todo maior e de partilhar quer davida de gerações passadas quer daesperança da sociedade quanto ao seupróprio futuro. Não podemos simplesmenterepetir as fórmulas que nos serviram nopassado.

Precisamos de crescer, temos de nos le-vantar com as nossas próprias forças e ver,julgar e agir com elas de forma que nospermita retirar o que melhor nos ajudaránesta situação. Nestes casos, como deveser adaptado o desenvolvimento dentro docontexto? Quais são as suas dimensões nareconstrução de vidas destruídas? Será queo clamor por cura, justiça e perdão e re-conciliação é apenas político e social? O

Timor Leste no terceiro milénioUma contribuição especial de Sua Excelência Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, SDB

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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que será exigido a Timor Leste para viveruma sociedade “desenvolvida” que sejahumana e humanizante, para viver uma vidade fé, algures entre o que é desejável e oque é possível?

A resposta: desenvolvimento completoO desenvolvimento do nosso país comopovo e como nação é de grandeimportância para fazer face a este desafios.Contudo, o desenvolvimento não deve serapenas sustentável mas também completoou integral. O desenvolvimento em TimorLeste, segundo Emilia Pires, Directora daAgência para o Planeamento Nacional eDesenvolvimento, deve incluir os seguintesaspectos: consulta à comunidade eplaneamento local, recolha e análise dedados, envolvimento dos timorenses eprioritização do desenvolvimento nacional.Este é um bom plano de actividades paracomeçar, como prioridades para melhorara sustentabilidade do desenvolvimento. Istofaz-me lembrar um provérbio índioamericano que expressa a visão e osvalores necessários para o desenvolvimentosustentável: “Nós não herdamos a terra dosnossos avós; tomamo-la emprestada dosnossos netos”. Assim, em primeiro lugar,desenvolvimento sustentável significadesenvolvimento económico que satisfaçaas necessidades da geração presente deforma a não comprometer as necessidadesdas gerações futuras. Em segundo lugar, ospormenores da vida em qualquer país sãointerligados e interdependentes e esta é umaverdade óbvia para Timor Leste se se quiserjuntar oficialmente às nações independentesdo mundo. Esta é uma verdade política.Assim, a interdependência das nações e detoda a comunidade da Terra deve serpromovida. Finalmente, o governo tem um“dever de todos para com todos”. Comoreitera João Paulo II, “cada nação ou povotem direito ao seu próprio desenvolvimentocompleto, que tem os seus aspectospuramente económicos e sociais”, mas que“deve também incluir a identidade culturalindividual e abertura ao transcendente”.Assim, há quatro respostas concretas seTimor Leste avançar como uma nova nação:

• Estabilidade política—Os líderespolíticos e aqueles que são devidamenteeleitos pelo povo devem unir-se no sentidode levar a cabo as exigências da recenteConstituição. Eles trabalham, não para oseu interesse pessoal e auto-engrandecimento mas para o bem comum

da sua nação. Todas as agências dogoverno, sejam elas da defesa, serviçossociais, comunicações, etc., devem promovere definir a visão de serviço a bem dasociedade civil. Esta é uma forma de tornaras nossas instituições políticas estáveis esustentáveis. Alguns diriam, “a estabilidadepolítica significa prosperidade económica”.Neste sentido, o que Timor Leste necessitaé de atrair investidores que ajudem adinamizar a economia. Poderá resultar ounão em crescimento económico,acompanhado de uma distribuição maisigualitária de bens, mas a estabilidadepolítica é considerada essencial para vencera pobreza. Neste caso, o governo deveactuar seriamente sobre a situação deimensa pobreza em Timor Leste se quiserser um instrumento útil para a sociedade civil.O alívio do sofrimento dos pobres deve serencarado frequentemente como aumento daequidade económica para melhorar ascondições de vida dos pobres de TimorLeste.

• Direitos Humanos e democracia—Ocaminho para a democracia e para osdireitos humanos poderá ser novo em TimorLeste mas os princípios nos quais se baseianão o são. Os direitos humanos e ademocracia são uma parte integrante dodesenvolvimento completo. Eles sãoessenciais à dignidade humana de cadatimorense. Do ponto de vista cristão, orespeito pelos direitos humanos de cadaindivíduo é um acto cristão. A base é a deque todos os seres humanos são iguaisporque todos somos filhos de Deus e criadosà Sua imagem. Neste sentido, odesenvolvimento também significa igualdadede género. Por isso apoio as iniciativas dedireitos humanos das organizações não-governamentais, como o Tribunal do Povo eo Tribunal Internacional também paraidentificar aqueles que cometeram crimescontra a Humanidade. Precisamos decontinuar aquilo que já conseguimos atéagora. Já repeti várias vezes que “ademocracia é o modo de pôr os direitoshumanos em movimento”. Escolhemos aindependência que repudiou os 25 anos deocupação indonésia. Um novo capítulo dahistória se abre. O famoso referendo de 30de Agosto de 1999 é uma indicação deque podemos prosseguir os ideais dademocracia. Mostrámos ao mundo quepodemos entrar na democracia através dovoto honesto e tranquilo. A novaConstituição, longe de perfeita, já foi

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE

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adoptada. Elegemos o novo Presidente em14 de Abril e, o que é mais importante,vamos celebrar a independência completano próximo dia 20 de Maio de 2002. Defacto, os direitos humanos e a democraciaenquanto chaves para o nosso futuro sãotambém essenciais para o desenvolvimentode cada ser humano em Timor Leste.

• Diálogo e solidariedade com a culturatimorense—O desenvolvimento completo nocontexto de Timor Leste obriga a um diálogode vida entre povos e nações que clamampela cura do seu passado. Todos têm quedialogar com as tradições orais e vivas dopovo. É verdade que ainda nãodescobrimos uma visão holística do que éque constitui a identidade timorense. Umatarefa assombrosa, mas compensadora. Estenão é apenas um trabalho para peritoscomo os antropólogos, os sociólogos etalvez teólogos, mas é tarefa de todosdescob=rir a essência do que faz de umtimorense, um timorense! Fazemos eco doRelatório Willowbank de 1978, que afirmaque o facto de se estar em diálogo e emsolidariedade com a cultura dá ao indivíduoum “sentido de identidade, dignidade,segurança e continuidade”. Isto sugere queo reconhecimento e a participação naformação de cada cultura e sociedadedesempenha um papel vital no percurso dedesenvolvimento de cada pessoa. Noentanto não nos podemos esquecer que a

razão básica da pobreza e da violência étambém a recusa em reconhecer aexistência de realidades sociais e culturaisque vivem na identidade e existência doindivíduo.

Enquanto espero ansiosamente pelacelebração da independência de TimorLeste no próximo dia 20 de Maio de 2002,que estas respostas ao desenvolvimentosustentável e completo sejam consideradasem qualquer programa e actividadesgovernamentais. Do meu lado, comohomem da Igreja, tenho grande esperançana unidade e sentimento de integridade,em que esta Igreja local possa tambémcontribuir significativamente para aconstrução de Timor Leste como uma novanação no espírito da participação civil.Tenho esperanças de ouvir as histórias dostimorenses, por muito dolorosas que sejam,e de partilhar com eles a minha própriaviagem em direcção ao desejo e intençãode ver Timor Leste tornar-se numa naçãodesenvolvida, agora e no futuro.

Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, SDBBispo de DíliTimor Leste

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33CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ

Construindo umaadministração pública eficaz

Nos primeiros anos da independência, o povo de TimorLeste irá depender fortemente da competência e capaci-dade dos serviços governamentais. Qualquer fraqueza oufalha destes serviços será um obstáculo sério ao progressodo desenvolvimento humano.

CAPÍTULO 2

O desenvolvimento humano é um objecti-vo nacional que depende dos esforços com-binados das instituições governamentais, dosector privado e de todos os elementos dasociedade civil. Mas como o sector priva-do é limitado e os muitos grupos comuni-tários emergentes e as ONGs da sociedadecivil estão a lutar para se adaptarem às no-vas e complexas circunstâncias da indepen-dência, muita da responsabilidade nos pri-meiros anos recairá, na prática, sobre ogoverno e o sector público.

Será que as instituições governamentaisestão à altura deste desafio? Muito irá de-pender das decisões que vierem a ser to-madas nos próximos anos, que ditarão aforma e qualidade da futura administraçãopública. Independentemente da qualidadedas políticas oficiais nos diversos aspectosdo desenvolvimento humano, estes esfor-ços serão em vão se as instituições públicasnão forem capazes de implementá-las.

Há muitas questões cruciais a enfrentar:a estrutura e a natureza das instituições; acapacidade e a motivação dos funcionáriospúblicos; a força e independência do sistemajudicial e as melhores formas de erradicar acorrupção. A menos que estes factores se-jam encarados de forma rápida, o desen-volvimento humano de Timor Leste ficarácomprometido.

A herança colonialEmbora em muitos aspectos Timor Lesteesteja a construir uma nova administraçãoa partir da base, irá também herdar, directaou indirectamente, algumas das estruturas eatitudes do seu passado colonial—tantoportuguês como indonésio (ver Anexo).

Os portugueses tiveram uma aborda-gem indirecta à governação. O Governa-dor em Dili actuava através de administra-dores distritais que por sua vez coordena-vam administradores sub-distritais. Mas estesnão exerciam controlo directo sobre as al-deias, que deixavam em larga medida nasmãos dos liurais, ou chefes de suco. O go-verno indonésio, pelo contrário, estava de-terminado a exercer uma disciplina muitomais rígida sobre todo o país. O governoda Nova Ordem queria exercer o controlocentralizado por toda a Indonésia, incluin-do Timor Leste. Mas queria também ‘paci-ficar’ Timor Leste em particular, onde en-frentava uma resistência teimosa ao seudomínio.

A Indonésia introduziu uma série de sis-temas de controlo interligados. Em primeirolugar, havia o governador que, juntamentecom burocratas governamentais, adminis-travam cada nível da administração atravésdo administrador distrital, o bupati, o admi-nistrador sub-distrital, o camat, e depois ochefe da aldeia. Em complemento, porém,existiam comandantes locais do exército, quepara além dos seus deveres militares tam-bém detinham posições estratégicas no go-verno e eram apontados como membrosdo parlamento tanto ao nível provincialcomo distrital.Outro canal de controlo eraexercido através da força policial. O go-vernador coordenava decisões importantescom os comandantes militares e policiais,através de um fórum especial para a lide-rança política provincial, distrital e sub-distrital. Entretanto, o governo controlavatambém o sistema legal e a imprensa que semantinha fraca e sem poder.

Muita daresponsabilidadenos primeirosanos recairásobre o governoe o sectorpúblico

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Esta estrutura autocrática poderá terajudado a fornecer serviços—e Timor Lesteera fortemente subsidiado pelo governocentral—mas da perspectiva do desenvol-vimento humano criou um serviço públicocom falhas graves. O risco de um TimorLeste independente é o de que, embora te-nha alcançado a independência política,poderá herdar algumas das falhasinstitucionais e atitudes da administraçãoanterior. Estas falhas incluem:

• Excesso de pessoal—Numa tentativa de‘comprar’ a passividade dos timorensese tornar a província mais dependente,o governo central empregou um gran-de número de funcionários, muitos dosquais indonésios. Timor Leste tinha maisfuncionários públicos por habitante doque qualquer outra província.

• Uma cultura de dependência—Quase todasas iniciativas vinham do centro e de cimapara baixo. Poucos funcionários públi-cos tinham o incentivo ou a confiançapara fazer mais do que 'esperar pelasordens' de cima.

• Administração complexa—Havia demasi-ados níveis de burocracia para um ter-ritório tão pequeno, o que implicavamuita duplicação de funções.

• Corrupção generalizada—Muitos funcio-nários eram mal pagos e tentados acomplementar os seus rendimentosaceitando outros trabalhos e vários su-bornos (caixa 2.1).

• Falta de participação pública—O sistema deadministração indonésio era, no essen-cial, paternalista. Desencorajava a parti-cipação popular e marginalizava formastradicionais de tomada de decisão.

A transição para a independênciaOs acontecimentos de Setembro de 1999foram devastadores não apenas para a po-pulação mas também para o sistema da ad-ministração. Algumas das perdas foram fí-sicas. As milícias apoiadas pelo exército des-truíram, completa ou parcialmente, trêsquartos dos edifícios administrativos e ou-tras infra-estruturas. Também retiraram ouqueimaram arquivos governamentaisessenciais.

Tão debilitante para Timor como estesacontecimentos foi a perda de pessoal.Embora cerca de 75% dos funcionáriospúblicos fossem timorenses, estes concen-

travam-se principalmente nos níveis inferi-ores da administração. Nos níveis superio-res a maioria do pessoal era indonésio.Durante a crise que se seguiu ao referendo,cerca de 8.000 funcionários fugiram para aIndonésia—incluindo a maioria dos quedesempenhavam papéis chave na estruturaadministrativa. Como resultado, Timor Les-te ficou sem os gestores mais qualificados,sem pessoas capazes de operar os serviçosbásicos, sem juízes e apenas com um polí-cia mais graduado.

Para ajudar a suprir estas falhas, paramanter a paz e reconstruir a estrutura dagovernação, o Conselho de Segurança daONU em Outubro de 1999 estabeleceu aAdministração Transitória das Nações Uni-das para Timor Leste. Esta acabou por setornar numa das operações mais ambicio-sas das Nações Unidas—uma mistura demanutenção da paz, reabilitação nacional econstrução da nação (caixa 2.2).

Uma das primeiras tarefas foi estabele-cer os fundamentos de uma nova adminis-tração governamental. Inicialmente aUNTAET ocupou quase todas as posiçõesda administração pública com pessoal in-ternacional da ONU. Depois, em Julho de2000, estabeleceu a Administração Transi-tória de Timor Leste (ATTL) para formaro núcleo de um novo governo. Este eracomposto por um gabinete com cincotimorenses e quatro funcionários internaci-onais. A UNTAET e a ATTL começarama recrutar funcionários públicos. Tambémestabeleceram uma Agência para o Planea-mento Nacional e Desenvolvimento(APND).

Em Agosto de 2001, foram realizadaseleições para uma Assembleia Constituintecom 88 membros e que tinha por funçãoelaborar uma nova Constituição. No segui-mento destas eleições, a UNTAET estabe-leceu uma nova estrutura governativa. Estaconsistia em dez ministérios e quatro secre-tarias de Estado, todos liderados portimorenses. O gabinete de 26 membros daATTL, composto por ministros, vice-mi-nistros e secretários de Estado, foi seleccio-nado através de consultas entre o Adminis-trador da UNTAET, que ficou como líderdo governo, e a Assembleia Constituinterecentemente eleita e a sua composição re-flectia a composição política da Assembleia.

Em Março de 2002 a Assembleia apro-vou a nova Constituição. Esta estabeleceu

O sistema deadministraçãoindonésio era,no essencial,paternalista

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Corrupção e nepotismo em ‘Tim-Tim’

A forma como a Indonésia explorouTimor Leste, conhecido em indonésiocomo 'Timor-Timur' [Tim-Tim], transfe-riu muitos dos benefícios para Jakartae em particular para o controlo dosSuhartos e para os elementos da es-trutura militar que lhe eram leais. Acorrupção era crónica entre osfuncionários públicos ligados aos pro-jectos de construção e obras públi-cas—e ainda mais alargada entreaqueles ligados aos projectos de alí-vio da pobreza.

O governo adjudicava projectosno valor de 20 milhões de rupias (em1995, equivalente a $9.000) oumenos a pequenas empresas locaiscujos proprietários, cerca de 80%timorenses, eram funcionários públi-cos ou ligados a eles por laços fami-liares. Entretanto, os projectos no va-lor de 20 a 300 milhões de rupias

eram confiados a médias empresas,mais de metade das quais eramindonésias. Todos os projectos novalor de 300 milhões de rupias oumais, contudo, foram automaticamen-te para grandes empresas de constru-ção cujos proprietários eram na tota-lidade indonésios com fortes ligaçõesao governo central.

As empresas eram obrigadas apagar uma certa quantia em dinheiroaos funcionários públicos encarreguesdo planeamento e monitorização dosprojectos.

Em resultado deste esquema, ape-nas cerca de 50 a 60% dos fundosatribuídos a projectos de construçãoforam para os próprios projectos. Orestante acabou nos bolsos dos fun-cionários que trabalhavam em dife-rentes níveis administrativos, assimcomo em Jakarta.

Caixa 2.1

um estado democrático unitário, baseadono primado da lei e no princípio da sepa-ração de poderes. Os órgãos representati-vos serão eleitos através de sufrágio directoe universal.

A Constituição estabelece os papéis doPresidente da República, que é simultanea-mente o Comandante-chefe das ForçasArmadas, do Primeiro- Ministro (que che-fiará um conselho de ministros) e do Parla-mento. Isto preparou o caminho para aseleições presidenciais em Abril e para a in-dependência completa em 20 de Maio de2002.

Sistema de governoTimor Leste escolheu um sistema de go-verno semi-presidencialista—com um equi-líbrio de poderes entre o Presidente e oParlamento. Embora o Presidente tenha opoder último para dissolver o Parlamento,na prática a maior parte do poder executivoficará nas mãos do Primeiro-Ministro, quetomará decisões colectivamente com o con-selho de ministros. Inevitavelmente, isto sig-nificará a existência de compromissosentre as prioridades dos diferentes ministé-rios e departamentos, os quais irão compe-tir em conjunto por recursos limitados.

Qualquer sistema parlamentar exige tam-bém grande envolvimento dos deputados,que têm um papel crucial na criação de umademocracia saudável. Por um lado terão queapoiar e legitimar o seu partido e o gover-no. Por outro lado terão que servir os inte-resses dos seus representados.

O governo também terá que deixar es-paço suficiente para as vozes da oposição,em particular se o partido do governo,mesmo quando eleito através de um siste-ma de representação maioritária, ganharcom larga maioria.

Durante os primeiros meses da indepen-dência, os deputados terão um grande vo-lume de trabalho, relacionado com a gran-de quantidade de nova legislação. Eles te-rão que ficar rapidamente familiarizadoscom tarefas como a análise orçamental elegislação e perceber como funcionam osdepartamentos do governo. Da mesmaforma, precisam de encontrar formas demanter as linhas de comunicação abertascom o resto da sociedade civil, não apenascom os seus representados mas tambémcom ONGs, com outras instituições públi-cas e com o sector privado.

Se os deputados não conseguirem atin-gir este nível de competência rapidamente,corre-se o risco de o governo ter a tenta-ção de atalhar e ultrapassar o parlamento.De forma a fazer aprovar rapidamente alegislação, pode, por exemplo, fazer passarsimplesmente um enquadramento legalmuito geral que delegue a interpretação e oaperfeiçoamento da política aos ministrose funcionários públicos. Esta foi a aborda-gem utilizada, genericamente, pelo gover-no indonésio e deve ser evitada.

A administração públicaMas por muito decisivo que seja o gover-no ou eficazes os legisladores, as suas polí-ticas e decisões ficarão comprometidas senão as conseguirem pôr em prática atravésde um sistema eficaz de administração pú-blica. Isto implica que as instituições gover-namentais sejam não apenas bem monta-das, mas também que tenham funcionárioscom competência, comportamento profis-sional e vontade de servir o povo de TimorLeste.

A UNTAET e a ATTL (a Administra-ção Transitória de Timor Leste) têm parti-cipado na construção de um serviço públi-co sólido—a Administração Pública deTimor Leste (APTL). Em Abril de 2002,tinham sido recrutados cerca de 11.000 fun-cionários públicos para cerca de 15.000 lu-gares aprovados, incluindo lugares no Ser-

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ

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Resultados da Administração Transitória das Nações Unidas (UNTAET)

Apesar de imensas dificuldades, aUNTAET conseguiu atingir muitos re-sultados. Certamente que houve fa-lhas, especialmente em relação àadministração distrital e ao sistemajudicial. Mas estas precisam de servistas à luz das realidades do papelda ONU em tais situações. As mis-sões têm que ser montadas rapida-mente, correndo o risco de cometererros na selecção de pessoal. Deve-se notar que é muito difícil conseguir,de um momento para o outro, umaabordagem unificada entre um gru-po diversificado de funcionáriosnuma missão de curto prazo. Umoutro problema é escolher que deci-sões devem ser tomadas imediata-mente e de quais as que devem serdeixadas para a nova administração.As actividades da UNTAET incluíram:• O estabelecimento da paz e da

segurança.• O estabelecimento de uma admi-

nistração pública que funcione.• A satisfação de necessidades hu-

manitárias através da ACNUR, daOIM, do PAM e da UNICEF, queforam no conjunto instrumentais,juntamente com a UNTAET, emcertificar que as necessidadeseram satisfeitas de forma rápidadepois da violência de 1999.Mais de 190.000 refugiados, umquarto da população,regressaram entretanto.

• O estabelecimento da Administra-ção Transitória de Timor Leste (ATTL)em Julho de 2000, com um Gabi-nete/Conselho de Ministros decinco timorenses e quatro repre-sentantes da UNTAET.

• A realização de eleições livres,justas e pacíficas em 30 de Agos-to de 2001, de que resultou umaAssembleia Constituinte com 88

Caixa 2.2

viço Policial de Timor Leste e na Força deDefesa de Timor Leste. Contudo a maio-ria das nomeações foram feitas nos níveismais baixos; nos níveis superiores menosde 50% dos lugares de gestão foram pre-enchidos, em larga medida devido à faltade candidatos adequados. O maior núme-ro de funcionários públicos estão nos sec-tores da educação e da saúde, o que repre-senta cerca de dois terços do pessoal aceiteno serviço público.

Uma parte importante deste processofoi assegurar uma representação forte dasmulheres. O objectivo era atingir 30% de

pessoal feminino. No fim de Julho de 2001a proporção até chegou muito perto desteobjectivo, com uma taxa de 25% no total.Os melhores ministérios neste sentido fo-ram os Negócios Estrangeiros (39%), Saú-de (32%) e Educação (29%).

O desenvolvimento do serviço públicoem Timor Leste irá defrontar uma série deassuntos cruciais—incluindo o número defuncionários, salários, formação, capacida-de linguística e a necessidade contínua deapoio internacional.

Nível de funcionáriosA administração provisória estava decididaa confinar o recrutamento e o número defuncionários a um nível que qualquer futuraadministração pudesse manter. Mas é pro-vável que o novo governo enfrente umapressão constante para aumentar o núme-ro de funcionários públicos, em especial nosníveis inferiores. Alguma desta pressão virádas famílias cujos membros com maiorformação enfrentam uma falta de oportu-nidades de emprego, um problema exacer-bado à medida que as Nações Unidas des-mantelarem as suas operações.

Mas haverá pressão também da partede outros cidadãos, em particular dos quevivem em zonas rurais que enfrentam a fal-ta de serviços eficazes—pressões para seraumentado o número de trabalhadores deextensão rural, por exemplo. Todos os mi-nistérios serão desafiados a responder às suasresponsabilidades com os funcionários exis-tentes e serão tentados a contratar ainda mais.

Este problemas poderiam ser aliviadosse o crescimento económico criasse maisemprego fora do sector público. Mas serátambém importante assegurar que os fun-cionários públicos existentes trabalhem deforma eficiente, reduzindo o absentismo,estabelecendo melhores sistemas de coor-denação entre os diferentes departamentosgovernamentais, agências de desenvolvi-mento e ONGs—e fazendo questão de osserviços serem prestados de uma formaeficaz em termos de custo.

Salários e promoçãoA UNTAET e a ATTL montaram o novoserviço público numa base ad hoc de for-ma a assegurarem a continuidade dos ser-viços. Em resultado, muitas das questõessubjacentes ficaram por resolver. Entre es-tas inclui-se a estruturação de carreiras e a

membros que redigiu a primeiraConstituição de Timor.

• A reconstrução, pela Administra-ção Transitória de Timor Leste, de32 importantes edifícios públicos.

• A criação do Segundo Governode Transição e a nomeação deum Conselho de MinistrosTimorense para gerir as activida-des diárias do governo.

• A organização de eleições presi-denciais bem sucedidas em 14 deAbril de 2002.

• A criação da Força de Defesa deTimor Leste, com cerca de 600 sol-dados que tiveram formação bá-sica. Além disso estabeleceu-se oServiço Policial de Timor Leste,com mais de 1.300 políciastimorenses distribuídos pelos 13distritos.

• O estabelecimento de um sistemajudicial e legal, incluindo um ga-binete do promotor geral de TimorLeste e um serviço de defesajurídico.

• A reabilitação básica de escolaspor todo o país. Mais de 700escolas primárias, 100 escolas se-cundárias, 40 jardins de infânciae 10 colégios técnicos ensinamactualmente 240.000 crianças eestudantes mais velhos.

• O início de um acordo com a Aus-trália sobre as reservas de petró-leo e gás—o Acordo sobre o Marde Timor. Este tem o potencial deprovidenciar milhares de milhõesde dólares de rendimento.

• A instituição de serviços públicosbásicos em várias áreas, incluin-do a saúde, a educação e infra-estruturas. A electricidade foirestabelecida e está a serfornecida água potável às áreasurbanas.

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A prioridadeimediata deveráser atrair omaior númeropossível depessoal formadopara os serviçosgovernamentais

decisão sobre se estas se deverão basearnum sistema fechado em que as pessoasescolhem o serviço público como carreirapara toda a vida ou um sistema mais aber-to, em que as pessoas se movimentam en-tre os sectores público e privado. O resul-tado mais provável será uma combinaçãopragmática entre os dois sistemas.

Em qualquer dos casos, contudo, o go-verno terá que pagar salários adequados.Actualmente o salário anual de um funcio-nário público de nível quatro é de cerca de$1.900. Este é cinco a seis vezes o valor doPIB per capita e é razoável para um paíscujo orçamento depende quase na totalida-de do apoio dos doadores. Quanto à ques-tão de ser sustentável a longo prazo, a dú-vida fica em aberto.

A prioridade imediata, contudo, deveráser atrair o maior número possível de pes-soal formado de Timor Leste para os ser-viços governamentais. Os dados do perío-do pré-independência indicam que cerca de1.233 cidadãos timorenses tinham forma-ção ou um diploma—mestrado, licenciatu-ra, bacharelato ou diploma de conclusãodo ensino secundário. No entanto, o go-verno irá enfrentar uma concorrência ferozpor parte das ONGs, das Agências daONU e dos projectos internacionais dedesenvolvimento.

As ONGs têm já directrizes definidaspara os salários e condições para os funcio-nários que empregam em Timor Leste mastendem a respeitar mais estas condições nosníveis inferiores. Para o pessoal profissionale de gestão parecem pagar salários mais ele-vados do que os indicados nas directrizes—desviando muitas das pessoas que de outraforma estariam a trabalhar para o governo.

Ética de trabalho e competênciaO salário e as condições de trabalho du-rante a administração indonésia não enco-rajavam uma ética de trabalho forte. Osfuncionários trabalhavam poucas horas enão lhes era dada muita responsabilidade.O novo funcionalismo público terá que tra-balhar, de uma forma eficaz, pelo menos37,5 a 40 horas semanais de trabalho con-creto. Um salário melhor deverá permitiràs pessoas valorizar mais os seus trabalhose assegurar que empregam a sua total dedi-cação a cumpri-lo. Mas poderão tambémser ajudados através de treino eacompanhamento.

Relacionada com a questão da compe-tência está a capacidade para agir rapida-mente e de forma decidida. O sistema hie-rárquico inculcado durante o períodoindonésio tendia a destruir a auto-estima dosfuncionários e a sua capacidade para tomariniciativas. Mais do que trabalhar na base deorientações gerais, tipicamente tinham anecessidade de instruções muito específicaspara levar a cabo uma certa tarefa. Este éoutro assunto a ser abordado no âmbitodo desenvolvimento de capacidades.

O estatuto social é importante em TimorLeste e terá que ser levado em linha de contatambém na administração pública. Gruposdiferentes têm a sua própria ordem de clas-sificação—quer dentro do grupo quer en-tre eles. Entre estes grupos contam-se osregressados da diáspora, os guerrilheiros dalibertação, os antigos funcionários públicose a Igreja. Também as pessoas, em geral,têm os seus próprios sistemas de estatutosocial e de classificação. Uma pessoa comum estatuto social mais baixo poderá termais capacidade e habilidade do que alguémde estatuto superior mas não ficaria à von-tade para a supervisionar.

LínguaOs timorenses falam, entre eles, cerca de30 línguas ou dialectos. As línguas 'nativas'mais faladas são o Mambae e o Macassaemas a língua franca nacional é a variante deDili do tetum (tetum ‘praça’) que incorpo-ra muitas palavras tiradas do português jun-tamente com umas quantas, muito menos,do indonésio. O Inquérito às Famílias de2001 concluiu que 82% da população falavatetum, ao passo que 43% conseguia falarindonésio. Apenas uma pequena proporção,principalmente pessoas mais velhas e a co-munidade dos que estiveram exilados, fala-va português, enquanto que uma propor-ção ainda menor falava inglês (gráfico 2.1).

A Constituição de Timor Leste declaraque as línguas oficiais deverão ser o tetum eo português enquanto que, simultaneamen-te e 'enquanto se achar necessário', oindonésio e o inglês deverão ser línguasadicionais de trabalho na administraçãopública.

As duas línguas oficiais têm forças e fra-quezas complementares. O tetum tem avantagem de ser largamente falado mas atémuito recentemente, quando a Igreja Cató-lica começou a escrevê-la por questões

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Este ambientecom quatrolínguasrepresenta umdesafio enorme

Gráfico 2.1

Línguas oficiais e de trabalho

Fonte: Inquérito às Famílias (2001)

litúrgicas, era primariamente uma língua oral.Mesmo hoje tem pouco do vocabuláriotécnico e de gestão necessário para docu-mentos oficiais. O português tem todas asvantagens de séculos de elaboração e usocomo língua escrita mas pouco timorensesfalam português—genericamente só a ge-ração mais velha educada antes da ocupa-ção indonésia e os que estiveram exiladosem Portugal.

As ‘línguas de trabalho’ têm tambémcaracterísticas diferentes. Depois de 25 anosde ocupação e de educação forçada (atra-vés do sistema educacional), o indonésio éa língua escrita mais entendida—o que atorna prática mas impopular. O inglês é alíngua menos entendida a nível nacional, mastem a vantagem de ser a língua franca nacomunidade de trabalhadores internacionaisda ONU e na região da ASEAN.

Este ambiente com quatro línguas re-presenta um desafio enorme—e muitodispendioso—para o novo governo. Oprimeiro desafio é o de desenvolver capa-cidades adequadas de escrita e de fala emportuguês. Todos os funcionários públicosde posições superiores terão que ser capazesde trabalhar em português, enquanto quenesta fase de transição alguns dos regressa-dos terão que aprender também algumindonésio e Tetum.

A antiga Agência para o PlaneamentoNacional e Desenvolvimento, agora Comis-são de Planeamento, estima que cerca de2.000 funcionários chave terão que receberformação em português, 400 em tetum, e

150 em indonésio. Para além disto, o go-verno irá precisar de um grupo maispequeno que fale inglês, em particularaqueles que lidarem com a ASEAN e ou-tros países, assim como com a indústria in-ternacional do petróleo. Muitos dos funci-onários públicos irão também precisar deformação em línguas.

A segunda questão, e ainda mais cara,será a da tradução. A única opção aqui seráusar serviços profissionais, o que se poderárevelar proibitivamente caro. Uma tarefaurgente será a tradução da documentaçãoda UNTAET, a maior parte da qual estáem inglês e terá que ser traduzida para por-tuguês e para tetum e talvez também paraindonésio.

Finalmente, a Constituição declara tam-bém que 'o tetum e as outras línguas nacio-nais deverão ser valorizadas e desenvolvi-das pelo Estado'. Isto poderá implicar acriação de um instituto de pesquisa edesenvolvimento para formalizar a gramá-tica, sintaxe, estrutura, ortografia e alfabetodo tetum.

O processo de capacitaçãoA aprendizagem de línguas e muitos ou-tros assuntos implicam um processo decapacitação em larga escala. Esta será umatarefa longa e complexa mas a prioridadeimediata para o serviço público será a defornecer serviços à população. Por isso,durante os primeiros dois ou três anos aênfase será certificar que os funcionáriospúblicos possuem as capacidades de gestãobásicas para fazer funcionar as instituiçõesessenciais do governo. Se o governo nãofornecer os serviços de forma eficiente per-derá legitimidade aos olhos da população.A aquisição de capacidades mais comple-xas terá que esperar até mais tarde.

Pessoal internacionalEmbora a prioridade seja encontrar e culti-var o talento timorense, durante os próxi-mos anos Timor Leste irá precisar de apoiointernacional em áreas críticas onde existeminsuficientes timorenses habilitados. Essasáreas incluem funções que exigem uma ges-tão saudável e eficiente de fundos. TimorLeste não se pode dar ao luxo de perderdinheiro através de desperdício ou má ges-tão. Estes e outros cargos poderão ser ocu-pados inicialmente por conselheiros inter-nacionais a trabalhar em conjunto com o

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A Constituiçãoestabelece oprincípio dadescentralização

pessoal local, que será entretanto objectode formação e de acompanhamento deforma a transferir o conhecimento e ascapacidades. Em Março de 2002, a ATTLidentificou aproximadamente 300 cargoscomo sendo necessários para o desempe-nho de funções básicas de governação.Destes, catalogou 100 como 'cargos deestabilidade' e previu que estes poderiamser financiados directamente pela ONU. Paraos restantes 200 ‘cargos dedesenvolvimento’, o governo iria procurarfinanciamento da comunidade doadora.

Governo localUm princípio fundamental da Constituiçãode Timor Leste é a descentralização. TimorLeste tem já uma história de governo localque reflecte tanto a ocupação portuguesacomo a indonésia. A motivação principaldos colonizadores era a recolha de impos-tos. Para este efeito dividiram o país emdistritos, sub-distritos e sucos. Tinha poucointeresse em exercer o poder ao nível locale a estrutura de poder tradicional foi deixa-da inalterada. Os indonésios aceitaram, nogeral, as mesmas divisões administrativasmas também exerceram um controlo mai-or ao nível local. Na prática, contudo, asestruturas tradicionais sobreviveram, embo-ra estas fossem também influenciadas pelaluta de resistência e as relações locais eram,e continuam a ser, bastante complexas.

A UNTAET também manteve as divi-sões regionais anteriores—com 13 distritose 65 sub-distritos—embora tenha modifi-cado muitas das funções do pessoal local.Além disso, no princípio de 2000, de for-ma a aumentar a participação comunitáriano planeamento e tomada de decisões, aUNTAET estabeleceu o Projecto de De-senvolvimento do Poder das Comunida-des, que incluía Conselhos de Desenvolvi-mento da Aldeia eleitos.

Um forte argumento a favor dadescentralização é o de que ela resulta numaoferta de serviços e tomada de decisão maiseficientes, uma vez que o trabalho é feitopelas pessoas que percebem as circunstân-cias e prioridades locais. Mas tão impor-tante como isto é a função de desenvolvera democracia e juntar as pessoas para mol-dar o desenvolvimento nacional. Assim émaximizado o impacto dos esforços dedesenvolvimento rural, seja de agências go-vernamentais, doadores, ONGs ou orga-

nizações comunitárias. A descentralizaçãopode tomar uma de três formas:

• Desconcentração—Esta é a forma maisleve e implica a transferência, por partedo governo central, da responsabilidadepela execução da política central para osadministradores de nível local.

• Delegação—Esta implica a transferênciade algum poder de decisão e funçõesadministrativas para organizações locaissemi-autónomas.

• Devolução—Esta é a forma mais forte eimplica a transferência de alguma auto-ridade para a tomada de decisão, finan-ciamento e gestão para o governo elei-to localmente e que também deverápoder cobrar receitas.

Durante os primeiros anos, pelo menos,dada a falta de recursos e de pessoal quali-ficado, não é provável que Timor Lesteavance para além da desconcentração,ficando alguns departamentos chave—como a educação, a saúde, a agricultura, ahabitação, água e cuidados sanitários—comdelegações regionais para fornecimento deserviços básicos às populações locais.

Uma sugestão sobre quais serão as regi-ões mais apropriadas foi dada em 2001 peloGrupo de Reflexão sobre o Governo Local.Este propôs três agrupamentos regionais:um na região leste do país; outro na regiãosul e outro na região oeste. Contudo, duaspartes do país teriam um estatuto especial:Dili, que seria considerada umaMunicipalidade Capital única, e o enclavede Oécussi, que teria um estatuto especial.

Um estudo levado a cabo pelo PNUDpara uma missão pós-UNTAET apoiouesta decisão e sugeriu também um conse-lheiro para cada região. Estadescentralização teria como suacomponente um elemento de redistribuiçãofinanceira. Neste sistema cada um teria oseu Director Geral que assumiria a respon-sabilidade pela região como um todo. Eleou ela poderia trabalhar também com umcorpo de coordenação especial regional deforma a juntar representantes de todos osgrupos com responsabilidade local—osmembros locais do parlamento nacional,líderes eleitos de autoridades locais, funcio-nários públicos regionais de topo e líderesde organizações de mulheres, ONGs e gru-pos comunitários. Toda esta actividade ne-

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Princípios da vida pública

A organização não-governamentalinternacional TransparencyInternational apresentou sete princí-pios da vida pública:

1. Altruísmo—os detentores de car-gos públicos deverão tomar de-cisões unicamente em nome dointeresse público. Não deverãotomar decisões para ganhar be-nefícios financeiros ou outros parasi próprios, para a sua famíliaou para os seus amigos.

2. Integridade—os detentores decargos públicos não se deverãocolocar em dívida financeira paracom indivíduos ou organizaçõesexternas que possam influenciá-los no desempenho das suas obri-gações oficiais.

3. Objectividade—ao levar a caboas funções públicas—o que in-clui nomeações públicas, adjudi-cação de contratos, ou a reco-mendação de indivíduos para re-compensas e benefícios—osdetentores de cargos públicos de-vem basear as suas escolhas nomérito.

4. Prestação de contas—os detento-res de cargos públicos são respon-sáveis pelas suas decisões e ac-ções perante o público e devemsubmeter-se ao controlo mais apro-priado ao seu cargo.

5. Abertura—os detentores de cargospúblicos devem ser tão abertosquanto possível em relação a to-das as suas decisões e acçõesque tomarem. Devem apontar ra-zões para as decisões tomadase restringir a informação apenasquando interesses públicos maisaltos claramente o exigirem.

6. Honestidade—os detentores decargos públicos têm o dever dedeclarar quaisquer interesses pri-vados relacionados com os seusdeveres públicos e devem tomarmedidas para resolver qualquerconflito de forma a proteger o in-teresse público.

7. Liderança—os detentores de car-gos públicos devem promover eapoiar estes princípios através dasua liderança e do exemplo.

Caixa 2.3

cessitaria de cobertura legislativa para asse-gurar a prestação de contas, a transparênciae a participação democrática.

Prevenindo a corrupçãoA herança dos anos sob o domínio indo-nésio e a probabilidade das disparidadesdos salários entre os sectores público e pri-vado, levanta a questão sempre presente dacorrupção. A corrupção será também umproblema se o governo não trabalhar deforma equitativa e transparente. Em largamedida, prevenir a corrupção é resultadoda construção de estruturas administrativasfortes que tenham procedimentos simplese linhas claras de responsabilidade e trans-parência. Quanto mais complexo for o sis-tema, maior a probabilidade de ser mani-pulado por burocratas para os seus pró-prios propósitos e como forma de rendi-mento ilícito. Estas estruturas saudáveis de-vem ser dotadas de um código de ética porforma a orientar gestores e líderes (caixa2.3).

Ainda assim, o sistema político irá ne-cessitar também de mecanismos expeditosque permitam demitir quer políticos querfuncionários públicos que aceitem ou par-ticipem em actividades de rent-seeking e ou-

tras formas de práticas corruptas. Aexperiência de outros países sugere que amelhor abordagem é estabelecer uma agên-cia independente anti-corrupção.

A Constituição fornece duas instituiçõesde vigilância: um Provedor e um SupremoTribunal para a Administração, Impostos eAuditoria. Estas instituições de vigilância dobom funcionamento do sistema só funcio-narão bem se tiverem uma liderança de ele-vada integridade e se lhes forem atribuídospoderes suficientes para requisição de do-cumentação e interrogação de testemunhas.Acima de tudo, precisam de ter o apoioforte dos líderes políticos determinados aerradicar a corrupção e preparados a apoi-ar estas organizações em casos politicamentesensíveis.

O sistema judicialUm dos requisitos básicos para erradicar acorrupção, assim como para aplicar a justiçae lançar os fundamentos de uma economiade mercado, é um sistema judicial eficaz.

O governo indonésio subordinou o sis-tema legal aos seus próprios fins e corrom-peu tanto os tribunais como o sistema judi-cial em Timor Leste transformando, defacto, o sistema legal numa extensão servildo executivo. Em resultado, muitostimorenses tinham pouca confiança nas ins-tituições legais. Depois, em 1999, os tribu-nais foram destruídos juntamente commuita da infraestrutura legal e arquivos.

Durante o período de transição, aUNTAET decidiu usar as leis indonésiasrelevantes desde que não violassem as nor-mas internacionais. Um dos problemas maisimediatos foi a falta de pessoal com for-mação jurídica, em particular de advoga-dos. Existem ainda poucos juízes e promo-tores públicos timorenses qualificados e comexperiência. O Tribunal de Apelação nãotem quorum desde Outubro de 2001, de-pois da partida de dois juízes internacionais.

Os tribunais têm também que operarcom recursos escassos e os investigadorestêm dificuldade em actuar devido à dificul-dade na obtenção de registos, assim comofalta de traduções entre inglês, português eas línguas locais. Actualmente, ao abrigo deum sistema de acompanhamento, os agen-tes judiciais recentemente promovidos sãoapoiados por juízes e advogados internaci-onais, recebendo assim formação ecapacitação enquanto desempenham as suas

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funções. No longo prazo, o desenvolvimen-to do sistema judicial em Timor Leste pre-cisará de apoio nas seguintes três áreasestratégicas:

• Procedimentos legais claros—Actualmente opaís tem um sistema sobreposto de direitocomum e de direito civil que enfatiza ex-cessivamente os procedimentos. TimorLeste irá precisar de simplificar os seus pro-cedimentos legais nos domínios quer daresponsabilidade civil quer da responsabili-dade criminal, de forma a assegurar justiça(incluindo o acesso a ela) e a fazer cumpriros contratos comerciais e as transacçõescomerciais.• Um sistema judicial independente e capaz—AConstituição providenciou a criação de umtribunal judicial para supervisionar os juízese ajudar a continuar a educação judicial. Estapoderia ser complementada através da par-ticipação em intercâmbios e conferênciasinternacionais.• Maiores recursos—A maior limitação ime-diata ao desenvolvimento do sistema judi-cial é a falta de recursos, incluindo materiallegal, registos legais, ferramentas de pesqui-

sa e pessoal qualificado. Têm sido desen-volvidos alguns esforços no sentido deultrapassar estas carências, incluindo a in-trodução de profissionais timorenses no sis-tema legal. No entanto, a maioria destes sãorecém-licenciados e necessitarão de umaformação contínua prolongada. Uma or-ganização para os advogados, sob a formade uma Associação de Advogados, pode-ria ajudar a certificar os advogados, a esta-belecer critérios de admissão, a regular aconduta profissional e a oferecer educaçãocontínua.

O novo governo de Timor Leste enfrentaa tarefa gigantesca de construir um novosistema de governação que tenha tanto aforma como o espírito da democracia. Istoimplica novas atitudes não apenas das elitespolíticas e da administração pública mastambém de toda a população de TimorLeste, que são agora cidadãos de uma na-ção que se governa a si própria. A sua cul-tura e as suas acções irão modelar o futurodo país. Muitas pessoas farão isto atravésde várias organizações da sociedade civil,que são o tema do próximo capítulo.

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Novos papéis para asociedade civil

A independência de Timor Leste é o culminar de uma longaluta contra a ocupação colonial levada a cabo por umgrande número de grupos da sociedade civil—associaçõescomunitárias, grupos religiosos, grupos de estudantes eoutros. Estes mesmos grupos irão também promover odesenvolvimento humano no novo Timor Leste mas parao fazerem eficazmente deverão adaptar-se às novascircunstâncias e estabelecer novas relações com asagências governamentais, com as comunidades locais eentre si.

CAPÍTULO 3

Nos primeiros anos após a independênciade Timor Leste é provável que a maiorparte dos esforços em prol do desenvolvi-mento humano provenha do governo e dosserviços públicos. No entanto, a capacida-de do Estado é limitada pelo que, em últi-ma análise, o progresso de Timor Lesteenquanto jovem nação dependerá do em-penho e dinamismo da sociedade civil.

Em certa medida, isso exigirá que semantenha o grau de empenhamento de-monstrado durante a luta pela independên-cia. Esta assentou na acção conjunta de or-ganizações comunitárias informais, gruposreligiosos, organizações estudantis e muitasoutras que, conjuntamente com as organi-zações de carácter político, se envolveramna longa luta contra o colonialismo. Agoratodos estes grupos se defrontam com onovo desafio da construção de uma nação.Nesta tarefa são acompanhados por no-vos grupos—nomeadamente um vasto con-junto de Organizações Não Governamen-tais (ONGs) e Organizações Comunitáriasde Base (OCBs) assim como várias esta-ções de rádio e órgãos de imprensa escritaentretanto criados.

No seu todo, estes grupos formam umconjunto bastante heterogéneo, habitual-mente designado por ‘sociedade civil’. Nãoexiste definição ‘oficial’ desta expressão,embora possa ser entendida como incluin-do todos os grupos ou associações que sãoclaramente distintos, autónomos e indepen-dentes do Estado. Alguns são grupos devoluntários sem fins lucrativos mas outros,

Os grupos dasociedade civildesempenharamum importantepapel na lutacontra aocupaçãocolonial

como é o caso dos meios de comunicaçãosocial, aliam habitualmente a motivaçãocomercial a uma série de interesses e pro-pósitos sociais mais vastos.

O período de ocupação indonésiaO governo indonésio era relutante em per-mitir o crescimento das organizações inde-pendentes da sociedade civil—tanto emTimor Leste como no resto do país. Pelocontrário, preferia financiar a criação e fun-cionamento de ‘grupos funcionais’, atravésdos quais podia alargar a sua esfera de in-fluência e controlar a população e que po-dia utilizar para prosseguir os seus própri-os interesses.

Em Timor Leste estes grupos incluiama associação juvenil, a associação de traba-lhadores, uma associação estudantil e umaassociação de funcionários públicos. Noentanto, outros grupos houve que conse-guiram manter a sua independência. Entreestes, alguns dos mais destacados e eficazesestavam ligados à Igreja Católica. Estes in-cluíam a figura do Delegado Social —pos-teriormente transformada em Caritase que, juntamente com a Comissão Justiçae Paz, era um importante foco de resistên-cia nacional e internacional durante a ocu-pação indonésia.

Uma outra ONG com um longohistorial é a Fundação para Projectos Agrí-colas e de Desenvolvimento de Timor Leste(FPADTL), uma organização que se expan-diu rapidamente nos anos ’80 para a pres-tação de serviços aos camponeses.

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As ONGsdeparam-seagora com osdesafios daconstrução deuma nova nação

Os anos ’90 viram o aparecimento dealgumas novas ONGs. Estas incluíam ogrupo de defesa dos direitos humanosYayasan Hak (Fundação para o Direito), aYayasan Bia Hula, que se dedica às questõesdo saneamento básico e do abastecimentode água, o Fokupers (Fórum Feminino paraa Comunicação) e a ETWAVE (Mulheresde Timor Leste contra a Violência).

Algumas das confrontações mais direc-tas contra a ocupação colonial foram leva-das a cabo por movimentos juvenis e estu-dantis. Estes movimentos tiveram origensdiversas. Alguns dos jovens pertenciam aoprincipal movimento político, a Fretilin.Outros eram estudantes do Externato SãoJosé—um dos últimos estabelecimentos deensino da língua portuguesa em Timor Les-te. Outros ainda eram seminaristas da IgrejaCatólica que promoveram a criação demovimentos juvenis nas paróquias e esco-las em que trabalhavam, especialmente emDili.

Estes grupos juvenis manifestaram-sedurante a visita do Papa João Paulo II em1989 e foram também eles que, em 1991,lideraram a manifestação que provocou ocancelamento de uma visita já agendada porparte de representantes da ONU e deputa-dos portugueses. Os militares indonésiosresponderam de forma brutal. Primeiro,assassinaram um dos manifestantes, Sebas-tião Gomes, que havia procurado asilo den-tro de uma igreja. Depois, aquando do seufuneral, abriram fogo sobre a multidão quese reunira no cemitério matando 271 pes-soas e ferindo centenas de outras, no queficou conhecido como o ‘Massacre de SantaCruz’.

Continuando a desafiar as autoridades,os grupos estudantis cresceram em termosde força e de capacidade organizativa. Em1998, fundaram o Conselho Timorense deSolidariedade Estudantil (CTSE), sediadona Universidade de Dili. Em Julho do mes-mo ano, realizaram uma manifestação quecontou com mais de 10.000 pessoas, demodo a coincidir com a visita de uma de-legação diplomática de alto nível constituí-da por embaixadores. Em 1999, aquandodos preparativos para o referendo, desem-penharam um papel fundamental naconsciencialização da população—corren-do, para tal, sérios riscos.

Um outro importante desenvolvimen-to que teve lugar em 1998 consistiu na

criação do Fórum das ONGs de TimorLeste. Inicialmente, este Fórum foi criadopara coordenar o auxílio de emergência àscomunidades afectadas pela seca de 1997/98 e teve o apoio de organizações interna-cionais como a AusAID, o Conselho Aus-traliano para a Ajuda Externa (CAAE) e aOxfam. Então, em Junho de 1999, no pe-ríodo que antecedeu o referendo, um gru-po de 14 ONGs decidiu reactivar o Fórum,formalizando os seus princípios e objecti-vos, nomeando um conselho de gestão edecidindo proceder à recolha de fundoscom vista à contratação de um directorexecutivo, entre outros funcionários profis-sionais.

Entretanto, todos estes grupos passarama sofrer a oposição cada vez mais violentadas milícias pró-indonésias—como aAitarak, BMP, Ablai, MAHIDI, entre ou-tras—, que levaram a cabo uma campanhade autêntica intimidação e terror. As pró-prias milícias apresentavam-se tambémcomo sendo grupos da sociedade civil, mas,na prática, eram agentes do Estadoindonésio na medida em que actuavam coma conivência e orientação do exército dessepaís.

As ONGs numa era democráticaQuando o povo de Timor Leste optou pelaindependência, as milícias vingaram-se. Paraalém de terem aterrorizado a população emgeral, tomaram como alvo específico asONGs—perseguindo os seus membros efuncionários e roubando ou destruindo osseus bens. Foi só em finais de 1999 que oFórum das ONGs se conseguiu restabele-cer—mais uma vez, com o apoio doCAAE e da OCHA das Nações Unidas, oGabinete para a Coordenação dos Assun-tos Humanitários.

Actualmente, as ONGs deparam-secom o desafio da construção de uma novanação. Até aqui tiveram não só de proce-der à reconstrução física das suas própriasinstalações e participar em acções de auxí-lio humanitário, como também de se rela-cionar com uma série de administraçõesdistintas—primeiro a UNTAET e a ETTAe agora o novo governo. Para além disso,têm também estado activamente envolvi-das nas várias conferências de doadores quetêm sido realizadas desde 1999.

Em Abril de 2002 o Fórum das ONGscontava com 77 grupos nacionais e 33

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL

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O processo deaberturademocrática tempossibilitadotambém oaparecimento denovos órgãos decomunicaçãosocial.

internacionais, embora estivessem formal-mente registados mais de 400. Este Fórumtem uma natureza fortemente transversal,congregando organizações cuja actividadeincide sobre todo o tipo de questões, daeducação e exploração florestal à cultura eaos direitos humanos. Entre as organizaçõesmais activas contam-se as associações demulheres. Para além da Fokupers e daETWAVE, incluem-se nestas a REDE(Rede Feto Timor Lorosae), a OMT (Or-ganização das Mulheres Timorenses) e oGFFTL (Grupo Feto Fon TimorLorosae— “Grupo Feminino de Estudan-tes de Timor Lorosae”).

O Fórum das ONGs propriamente ditoconta actualmente com mais de 30 funcio-nários e desenvolve actividades em todauma série de áreas, que incluem a pressãojunto das autoridades, o desenvolvimentode capacidades, a divulgação de informa-ção, a investigação e as tecnologias de in-formação. O Fórum e os seus associadoscontinuam actualmente a receber o apoiode numerosas ONGs internacionais.

Para além dos grupos formalmenteregistados junto do Fórum das ONGs,existem também muitas outras organizaçõesde base comunitária, associações de mulhe-res e associações de camponeses. Habitual-mente actuam a nível local, por vezes como apoio de ONGs de maiores dimensõese dotadas de mais recursos, outras vezescom o apoio da administração local e ou-tras vezes ainda sem apoios de qualquerespécie.

A expansão dos meios de comunicação socialO processo de abertura democrática quetem tido lugar desde 1999 tem possibilita-do também o aparecimento de um con-junto numeroso de novos órgãos decomunicação social. A liberdade de expres-são da imprensa escrita e da restante co-municação social está, aliás, consagrada naConstituição. Timor Leste conta actualmentecom dois jornais diários—o Suara TimorLorosae e o Timor Post—para além de váriasrevistas semanais ou mensais—como a re-vista informativa Talitakum, a Lalenok e aLiam Maubere.

Embora estas revistas sejam, em princí-pio, de âmbito “nacional”, a verdade é queraramente estão disponíveis em todo o ter-ritório. Por outro lado, algumas localidades—Same, Bobonaro e Oecussi, por exem-

plo—possuem já as suas próprias publica-ções de base comunitária.

Igualmente importante, num país ondemetade da população adulta é analfabeta,tem sido a criação de novas estações derádio. A administração transitória tem vin-do a proporcionar a seu próprio serviçode rádio, a Rádio UNTAET, bem comouma cobertura televisiva limitada através daTVTL.

Existem, no entanto, bastantes outras:por exemplo, a Radio Timor Kmanek, li-gada à Igreja Católica, que emite para todoo país, ou a Radio Falintil e a RadioRakambia, que emitem apenas para a zonade Dili. Têm surgido também diversas es-tações de rádio comunitárias, o que é bas-tante animador. A Radio Comunidade LosPalos, por exemplo, emite para a zona deLos Palos e para o distrito de Lautem des-de Maio de 2000—produzindo oito horasdiárias de emissão em tetum, indonésio,fataluku e português, que incluem boletinsinformativos, anúncios de carácter local,informações relativas às eleições e espaçosde opinião pública.

No outro extremo do território, pertoda fronteira com Timor Ocidental, funcio-na uma outra estação de rádio—a RadioComunidade Maliana.

Após as eleições de Agosto de 2001, aRádio UNTAET e a TVTL deram umimportante contributo para a consolidaçãodo processo democrático através da trans-missão em directo, durante várias horas pordia, dos trabalhos da Assembleia Constitu-inte, incluindo reportagens e entrevistas emtetum, português, inglês e indonésio. EmOutubro do mesmo ano, um programaespecial de rádio dedicado à questão dosrefugiados, produzido pela FundaçãoHirondelle (Suiça) começou a ser emitidodiariamente em indonésio através da RádioUNTAET, com o objectivo de proporcio-nar aos refugiados em Timor Ocidental in-formações fidedignas acerca das condi-ções em Timor Leste.

Todos estes orgãos de comunicaçãosocial desempenharão um importante pa-pel no estímulo e defesa da democraciatimorense nesta sua fase embrionária—colmatando um vazio de informação que,de outro modo, poderia ser preenchido porboatos e campanhas de desinformação quesuscitariam inevitavelmente o descontenta-mento da população.

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Muitos dosactuais membrosdo governopertenceramanteriormente agrupos dasociedade civil

Construindo novas relações

Nesta era democrática todas as organiza-ções da sociedade civil terão de se adaptaràs novas circunstâncias e de estabelecer no-vas relações e parcerias—entre si, com oEstado e com as organizações internacionais.

A sociedade civil e o EstadoAs organizações da sociedade civil são obri-gadas a interagir não só com a classe políti-ca—isto é, o presidente, os ministros e osdeputados—, mas também com o sectorpúblico administrativo em geral e a Admi-nistração Pública em particular. Os gruposde defesa dos direitos humanos, em espe-cial, necessitam de conhecer e dominar pro-fundamente os mecanismos e processos dopoder judicial.

Isso poderá ser uma tarefa complexa.Algumas das questões serão de naturezapessoal, já que muitos dos representantesda sociedade civil terão agora de tratar deuma série de assuntos junto de antigos co-legas ou companheiros, na sua nova quali-dade de governantes ou funcionários pú-blicos. Outros terão de desempenhar pa-péis diferentes e por vezes sobrepostos noseio das associações comunitárias e dosorgãos políticos a que pertencem. Finalmen-te, numerosos membros de ONGs e deassociações comunitárias militam em parti-dos políticos, pelo que as fronteiras entreas duas esferas tendem a tornar-se ténues.

Para muitas organizações comunitáriasas relações com o poder local revestem-sede uma importância ainda maior. As insti-tuições da administração local terão aindade alcançar a sua forma final, mas mesmoesta incerteza poderá constituir uma fontede oportunidades. As ONGs e as organi-zações comunitárias deverão procurar de-sempenhar um papel activo na concepçãodas instituições do poder local e ter umapalavra a dizer no que toca às suas funções,ao seu modo de funcionamento e à melhorforma de estas trabalharem em parceriacom a sociedade civil.

Durante este período intermédio, é di-fícil prever o rumo que irá assumir o relaci-onamento entre a sociedade civil e o Esta-do. No plano da retórica, pelo menos, pa-rece existir um forte interesse na coopera-ção e no estabelecimento de parcerias. Noentanto, a concretização prática desseobjectivo exigirá certas mudanças de ênfa-

se e de atitude de parte a parte. No casodos grupos da sociedade civil, será neces-sária uma mudança de perspectiva—dastácticas e práticas da oposição para um es-pírito de parceria construtiva. Também ogoverno terá de fazer a sua parte em proldeste relacionamento potencialmente com-plexo. Especificamente, deverá reconhecero importante papel desempenhado pela so-ciedade civil durante a luta pela indepen-dência e encontrar formas de estimular ecanalizar o seu empenho e dedicação paraa construção da nova nação.

Na maioria dos países o Estado exigeque as ONGs estejam formalmenteregistadas e que a sua actividade seja regidapor um quadro legal específico. Antecipan-do isso mesmo, o Forum das ONGs reali-zou em Setembro de 2001 um semináriosobre essa questão. Embora não se opu-sesse necessariamente à criação de legisla-ção nesta matéria, o Fórum considerou quequaisquer eventuais projectos e propostasde lei deveriam resultar de um debate maisamplo acerca das relações entre as ONGse o Estado.

Sem uma sociedade civil forte e dinâ-mica, o povo de Timor Leste não poderáalcançar um verdadeiro desenvolvimentohumano, na acepção mais plena do termo.A própria Constituição o reconhece, aoconsagrar os direitos à liberdade e integri-dade individuais, à liberdade de expressãoe manifestação, à associação sindical e àdefesa do consumidor. Contudo, TimorLeste necessitará também de ter instituiçõesatravés das quais possam exercer esses di-reitos, pelo que o Governo deverá fazertudo o que está ao seu alcance para estimu-lar a criação e o funcionamento dessas ins-tituições—as quais, em última instância, sãodeterminantes para a solidez da democracia.

As relações entre as próprias organizações dasociedade civil

Para além de deverem procurar estabele-cer parcerias produtivas com o Estado, asorganizações da sociedade civil deverãotambém procurar trabalhar em colabora-ção umas com as outras—o que não seráfácil. Afastado o inimigo comum, é inevi-tável que venham ao de cima as diferençasindividuais. Algumas destas diferenças de-correm simplesmente do âmbito de actua-ção—certas ONGs actuam, por exemplo,

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL

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na área da saúde, enquanto outras se preo-cupam essencialmente com a educação oucom as questões ligadas ao género. Outrasainda dedicam-se a um vasto conjunto dequestões mas apenas numa área geográficaespecífica. E enquanto algumas se dedicamexclusivamente à prestação de serviços,outras procuram aliar esse objectivo à edu-cação e mobilização das populações. É pro-vável que se façam também sentir as dife-renças em termos de escala—entre gruposque reunem pouco mais de uma ou duaspessoas e associações que têm dezenas defuncionários profissionais lidando com mi-lhões de dólares. Esta diversidade é, emgeral, um factor positivo mas pode tam-bém tornar-se uma causa de concorrênciae rivalidade. Timor Leste conta com a feli-cidade de ter já um Fórum das ONGs ac-tivo e dinâmico, mas o trabalho desteFórum tenderá decerto a tornar-se maisdifícil ao longo dos próximos anos.

Muitos dos possíveis obstáculos e ar-madilhas poderão ser evitados através dacriação de canais de comunicação abertose eficazes entre as várias organizações e nointerior de cada uma delas. No entanto, asorganizações da sociedade civil necessitarãotambém de estabelecer uma comunicaçãofranca e aberta com as comunidades quepretendem auxiliar. Trata-se de uma tarefadifícil para as organizações sediadas em Dili,devido à escassez de infra-estruturas e demeios de comunicação mas será algo deessencial para a sua legitimidadedemocrática.

Garantir organizações plenamente repre-sentativas é uma tarefa longa e complexa.Alguns países têm ONGs que funcionamde forma autocrática e que são pouco maisdo que um veículo para as opiniões e am-bições dos seus líderes. Por isso, é necessá-rio que as organizações da sociedade civiladoptem deliberadamente estruturas e umadisciplina de funcionamento que as mante-nham verdadeiramente democráticas e re-presentativas.

Embora cada organização deva encon-trar as suas próprias soluções, é possívelretirar algumas lições das experiências pas-sadas de outros países—da região e não só.As organizações da sociedade civil de TimorLeste terão, em geral, muito a ganhar emprocurar estabelecer relações de coopera-ção com tais grupos. Muitas já o fizeram eparticiparam em intercâmbios e visitas de

estudo que as ajudaram a desenvolver assuas capacidades.

Estas experiências têm sidocomplementadas por visitas de especialistasna formação de grupos da sociedade civilprovenientes de países como a Austrália, aIndonésia ou as Filipinas.

Os grupos da sociedade civil em TimorLeste podem trabalhar com as organizaçõesnacionais suas contrapartes noutros paísesem desenvolvimento. Note-se, porém, queas ONGs timorenses, em particular, têm jáuma longa experiência de trabalho conjun-to com ONGs internacionais. Muitas des-tas têm uma longa tradição deenvolvimento com Timor Leste, garantin-do quer solidariedade quer apoio financei-ro durante a luta pela independência. Umcerto número delas têm actualmente a suarepresentação em Timor e têm-nas utiliza-do para desenvolver uma variedade de ac-tividades em parceria com as ONGsnacionais e com organizações comunitáriasde base.

As organizações internacionaisNo passado, a maioria dos fundos à dis-posição das ONGs dos países em desen-volvimento provinham de ONGs interna-cionais. Hoje em dia, porém, a realidade éalgo mais complexa. Muitos dos doadoresbilaterais ou multilaterais preferem canali-zar, directa ou indirectamente, pelo menosuma parte dos seus fundos para as ONGse OCBs—acreditando que, nalguns casos,estas conseguem prestar serviços às popu-lações de forma mais eficiente e eficaz doque as agências estatais.

Muitos doadores já estão a apoiar asorganizações da sociedade civil em TimorLeste e continuarão a fazê-lo. Isso significaque, particularmente as ONGs, se vêmobrigadas a relacionar-se com numerosasagências e potenciais doadores cujos ob-jectivos, mecanismos de financiamento esistemas de avaliação podem ser bastanteconfusos e exigentes. Actualmente, porém,poucas são as organizações locais que co-nhecem a fundo o conjunto das agênciasinternacionais que actuam no seu campo etêm tido alguma dificuldade em distinguirentre os diferentes mandatos e actividadesdas ONGs internacionais, agênciasespecializadas da ONU, doadores bilateraise instituições financeiras internacionais. Noentanto, se pretendem que a sua actuação

Muitos dosobstáculospoderão serevitados atravésda criação decanais decomunicaçãoabertos eeficazes

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seja mais eficaz, é necessário que estas or-ganizações se familiarizem com todas estascomplexidades.

Esse tipo de conhecimento é tambémvital se as ONGs locais pretenderem serparceiros informados e eficazes das orga-nizações internacionais. Certo número deagências, entre as quais se contam as dasNações Unidas e as instituições financeirasinternacionais—como o Banco Mundial, oBanco Asiático de Desenvolvimento e oFundo Monetário Internacional—poderãoexercer uma influência política significativaem Timor Leste, tanto através doaconselhamento e emissão de parecerescomo através dos projectos por sifinanciados.

Compreensivelmente, muitas ONGsestão bastante preocupadas com essa influ-ência bem como com o desempenho pas-sado destas agências noutros países, nome-adamente nos países altamente endividadosde África e da América Latina, onde, fre-quentemente, algumas deram muitas vezesmaior prioridade ao ajustamento económi-co do que ao desenvolvimento humano.Para que as ONGs de Timor Leste pos-sam efectuar uma crítica eficaz a esse tipode práticas terão de adquirir, a nível localou internacional, conhecimentos técnicosque lhes permitam expôr eficazmente osseus pontos de vista.

As organizações da sociedade civil en-contram-se, assim, numa posição comple-xa: uma multiplicidade de relações paragerir; uma série de culturas e valores nacio-nais e organizacionais distintos para conhe-cer; diferentes prioridades para ser analisa-das; personalidade dos indivíduos com quese relacionam para serem compreendidas erelações de poder existentes para gerir e,por vezes, serem postas em causa.

Papéis múltiplosPara além de terem de se relacionar comnumerosas instituições nacionais e interna-cionais, as organizações da sociedade civiltimorense ver-se-ão também actuando emdiferentes frentes de actuação: como líde-res de opinião e representantes da popula-ção, como supervisoras da actuação tantodo Estado como do sector privado ecomo prestadoras de serviços. Algumasdestas organizações estão especializadasnuma ou noutra destas funções, mas a mai-oria acaba por ter de desempenhar vários

destes papéis—os quais entram por vezesem conflito uns com os outros.

Arquitectos do desenvolvimentoMuitas ONGs e OCBs consideram que oseu papel fundamental consiste em estabe-lecer parcerias construtivas com o Estadocom vista à construção da nação e aodesenvolvimento do país mas não queremfazê-lo como meros instrumentos ao ser-viço de opções definidas por outros. Pelocontrário, pretendem participar no desen-volvimento dos planos de actividades e naconcepção das políticas de forma a asse-gurarem que estas combatem a desigualda-de, promovem os direitos humanos e pro-tegem o ambiente.

Fazê-lo depende, no entanto da sua ca-pacidade de inovar e de apresentar pontosde vista alternativos. Alguns governos resis-tem a este tipo de participação mas TimorLeste parece estar no bom caminho—no-meadamente após a participação do Fórumdas ONG na Comissão Nacional de Pla-neamento (Caixa 3.1).

Representação e pressão junto de terceirosMuitos grupos consideram que a sua tarefafundamental consiste em influenciar as po-líticas e práticas de outras entidades, quergovernamentais quer privadas ou dasorganizações internacionais. As formas queessa acção de representação e pressão(‘advocacy’) que elas podem levar a cabovariarão, no entanto, de acordo com osobjectivos e capacidades dos grupos envol-vidos.

Alguns limitam-se a expôr as suas preo-cupações aos políticos ou funcionários em

A sociedade civil na Comissão Nacional de Planeamento

Em 2001, a Administração Transitó-ria de Timor Leste criou a ComissãoNacional de Planeamento. Isto ofere-ceu uma oportunidade para o gover-no e a sociedade civil trabalharemem conjunto com vista ao desenvolvi-mento de um plano nacional. A parti-cipação da sociedade civil teve lu-gar através da Comisão Consultivada Sociedade Civil, que foi presidi-da por Xanana Gusmão e incluiu re-presentantes da Igreja, do Fórum dasONGs e das associações juvenis efemininas. A tarefa principal da Co-missão Consultiva era a de maximizar

Caixa 3.1

a participação do povo de Timor Les-te no processo de planeamento e umadas formas de o fazer consistiu emgarantir o envolvimento dos elemen-tos institucionais, tanto tradicionaiscomo modernos, da sociedade civil,para assim tirar partido das redes eestruturas existentes.

No entanto, algumas ONGs con-sideram que o período de tempodurante o qual decorreram estas con-sultas—seis meses—foi demasiadocurto, tendo em conta que metadeda população é analfabeta e é difícilcomunicar com as áreas remotas.

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL

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causa sem necessariamente sugerirem solu-ções. Outras, porém—como é o caso daYayasan Hak—, investirão uma parte con-siderável de tempo e conhecimento na con-cepção de soluções de políticas consisten-tes e procurarão assegurar a aceitação dassuas posições através de vários canais depressão. Outras organizações têm procura-do aumentar as suas capacidades trabalhan-do em conjunto com as universidades.

Tendo em conta as diferentes capacida-des destes grupos bem como os objecti-vos comuns que os movem, faz todo o sen-tido que procurem pôr em conjunto os seusrecursos e actuar conjuntamente. Isso já temsido feito através, por exemplo, dos diver-sos grupos de trabalho do Fórum dasONGs que se debruçam sobre questões tãodiversas como a Constituição, as relaçõesentre as ONGs e o Estado, a educação cí-vica ou uma série de questões sectoriais taiscomo a saúde e o ambiente.

Embora grande parte da actividade depressão e representação seja exercida atra-vés de contactos individuais ou da acçãode grupos de pressão mais sofisticados,pode também ter lugar através de acçõesde protesto e de manifestações. A consti-tuição de Timor Leste consagra o direitode reunião sem aviso prévio e reconhece odireito de manifestação.

MonitorizaçãoA boa qualidade da acção governativa as-senta, em toda a parte, na separação e equi-líbrio de poderes. Embora esta ideia sejatradicionalmente associada à separação depoderes entre o executivo, o legislativo e ojudicial, reconhece-se hoje em dia a impor-tância de complementar essa separação depoderes através da acção de controlo e

supervisão pela sociedade civil. Num TimorLeste independente, as organizações da so-ciedade civil deverão, por isso, desempe-nhar um papel importante no controlo daqualidade da actuação do estado, do sectorprivado e das organizações internacionais.No entanto, só o poderão fazer se a suaprópria actividade for pautada pela quali-dade—mediante uma actuação transparen-te, democrática e financeiramente respon-sável. Para as ajudar a fazê-lo o Fórum dasONGs está actualmente a considerar a ela-boração de um código de conduta quepermita orientar e auxiliar as várias ONGsnesse sentido.

Prestação de serviçosPara muitas ONGs a sua principal funçãoconsiste na prestação de serviços à popula-ção—nas áreas da saúde, habitação ou edu-cação, por exemplo. Em certa medida, pro-curam colmatar as falhas resultantes das fra-gilidades dos serviços públicos. Bia Hula eProbem são dois exemplos de ONGs quetrabalham em parceria com as comunida-des locais com vista ao desenvolvimentode sistemas de abastecimento de água e desaneamento básico. Mas a acção das ONGse das OCBs pode também complementara acção do Estado. Assim, enquanto o go-verno toma a responsabilidade pela educa-ção formal das crianças, muitas ONGspoderão dedicar-se ao ensino informal e,nomeadamente, às campanhas de alfabeti-zação de adultos.

InformaçãoTendo em conta as débeis infra-estruturasde comunicações de Timor Leste, as orga-nizações da sociedade civil assumem umaimportância fundamental na produção edivulgação da informação relativa a todauma série de questões, incluindo o proces-so eleitoral, as formas de lidar com as cala-midades naturais, o papel das mulheres eos direitos humanos.

Estas actividades tornar-se-ão aindamais importantes após o encerramento dasestações de rádio e televisão apoiadas pelaUNTAET. Uma vez que mais de metadeda população é analfabeta, a rádio constituium dos mais importantes meios de comu-nicação social. Nesse sentido, a criação deestações de rádio comunitárias não deixade ser um sinal animador. Estas estaçõesnecessitarão de apoios financeiros adicio-

A acção dos grupos de pressão

Em 2001, muitas foram as pessoasque exprimiram a sua preocupaçãoem relação à questão da produçãode café, que afecta directamente umgrande número de pequenos produ-tores. Isto levou à realização de umamanifestação de mais de 2.000 cam-poneses no distrito de Ermera.

Os camponeses pretendiam pres-sionar a administração e os lídereslocais e ter uma palavra a dizer noprocesso de tomada de decisão rela-

Caixa 3.2

tivos à produção, fixação dos pre-ços e comercialização do café. Estamanifestação teve comoconsequência a formação de alian-ças entre os camponeses locais e al-gumas ONGs de âmbito local e na-cional, como o KSI (Instituto KadalakSulimutuk), o Instituto de LibertaçãoSahe, o Conselho Estudantil para aSolidariedade e o Centro de Desen-volvimento da Economia Popular(CDEP).

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nais, embora deva sempre ficar bem claroque a sua missão consiste em satisfazer asnecessidades da comunidade e não em di-fundir as opiniões ou interesses dosfinanciadores.

Para além de contribuírem para difun-dir a informação, as organizações da socie-dade civil deverão também estimular o de-bate e a discussão pública acerca das futu-ras opções de Timor Leste e do seu lugarno mundo. Quando as comunidades tive-rem a informação necessária e desenvolve-ram uma maior capacidade para analisar ascircunstâncias em que se encontram, esta-rão em muito melhor posição para deter-minar o rumo do desenvolvimento huma-no do seu país.

Nesta e noutras matérias, as organiza-ções da sociedade civil ocupam uma posi-ção intermédia entre o Estado e as comu-nidades locais. Por um lado, devem pressio-nar o governo no sentido de que sejam to-madas medidas em relação às questões quemais as preocupam mas, ao mesmo tem-po, devem procurar estimular oenvolvimento do povo de Timor Lestenessas mesmas questões e maximizar a par-ticipação da população no funcionamentoda democracia.

No coração da democracia

Todas as organização da sociedade civilprecisarão de reavaliar os seus papéis e res-ponsabilidades nesta era democrática. Paratal, deverão ser mais informadas e mais pro-fissionais. Verifica-se já uma tendênciacrescente no sentido de os funcionários dasONGs desempenharem funções remune-radas—em part-time ou a tempo inteiro—, em vez de servirem como voluntários. Noentanto, quer sejam dirigidas por pessoalremunerado quer por voluntários, asONGs deverão sempre procurar confiarno seu próprio potencial moral e intelectuale não tornarem-se verdadeiras organizaçõesempresariais ou quase-partidos políticos.Muitas das organizações que participaramno passado nas acções de resistência tinhamuma filosofia de actuação bem definida eum objectivo central e uma visão: a liberta-ção do seu país.

Agora, no novo Timor Leste indepen-dente, elas poderão ter de olhar novamentepara as visões e as filosofias de que retira-ram a sua força de modo a asseguraremque a sua actuação continua a ser regida porprincípios éticos elevados e que têm, defacto, algo de único a oferecer.

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL

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O horizonte da educaçãoA educação é uma das componentes mais fundamentaisdo desenvolvimento humano. A não ser que as pessoas te-nham pelo menos um mínimo de educação básica, muitasdas outras escolhas permanecem inacessíveis para elas.Timor Leste tem muito caminho à sua frente: não apenaslidar com o analfabetismo mas também fazer frente àmultiplicidade de línguas faladas no país.

CAPÍTULO 4

Gráfico 4.1

Literacia de adultos, 2001

Fonte: Inquérito às famílias (2001)

Os padrões educacionais de Timor Lesteencontram-se entre os mais baixos do mun-do. A taxa de alfabetização é de apenas 43%e existe um fosso notório entre as áreas ur-banas, onde essa taxa é de 82%, e as áreasrurais, onde é de 37% (Gráfico 4.1). O anal-fabetismo impede a população de TimorLeste de expandir as suas capacidades hu-manas tais como, por exemplo, alcançarmelhores níveis de saúde ou participar deforma plena na vida política e social. Po-rém, ele impede também o desenvolvimen-to global da nação, pois a literacia e anumeracia básicas são a chave para o au-mento da produtividade do trabalho, tantonas empresas nacionais como nasinternacionais.

Não há dúvida que Timor Leste sai aperder quando comparado com outrospaíses da região. Na vizinha Indonésia, a taxade alfabetização era, em 1999, de 88% emesmo na província de Nusa TenggaraOriental, na fronteira com Timor Leste, essataxa era de 81%. Timor Leste está tambémbastante atrás de muitos outros países daÁsia e da região do Pacífico, como a Malásia(87%), as Filipinas (95%) ou a Papua NovaGuiné (64%).

A maior parte da velha geração jamaissaberá ler: actualmente, mais de metade doschefes de família não possuem qualquer graude escolaridade. No entanto, a situação de-verá ser melhor na próxima geração, pois aproporção de crianças que pelo menos ini-cia o ensino primário tem vindo a aumentar.Em 2001, a taxa líquida de matrícula era de76%. Embora este valor fosse inferior aopadrão mundial, não deixava de constituirum progresso.

O actual sistema de ensino de TimorLeste é uma herança do período de admi-

nistração colonial, embora de duas potên-cias coloniais distintas, cujas prioridadeseram substancialmente diferentes. Durantea maior parte do seu período de adminis-tração, os portugueses revelaram pouco in-teresse na educação de massas. Apenas umapequena proporção da população frequen-tava os estabelecimentos de ensino que, nasua maioria, pertenciam à Igreja Católica.Aquando da partida dos portugueses, em1975, a taxa de alfabetização rondavaapenas os 5%.

Ainda assim, o número relativamentereduzido de pessoas cujo percurso escolardecorreu durante este período desempenhahoje em dia um papel importante na cons-trução da nova nação. Entre estas, incluem-se pessoas que prosseguiram os seus estu-dos em Portugal, algumas das quais foramfundamentais para a criação do ConselhoNacional da Resistência Timorense (CNRT),

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cujo Departamento Educativo ajudou, du-rante o período de transição, a delinear osistema de ensino do país.

Um outro importante grupo cuja for-mação decorreu durante o período de ad-ministração portuguesa é o dos professo-res primários. Concluíram quatro anos dainstrução primária e receberam alguns me-ses de formação pedagógica, que os quali-ficavam para ministrar os dois primeirosanos do ensino primário. Alguns destes pro-fessores receberam alguma formação adi-cional durante o período de administraçãoindonésia e muitos dão hoje em dia aulasde Português.

A abordagem da administraçãoindonésia em matéria de educação foi subs-tancialmente diferente. O Estadoindonésio estava empenhado em atingir auniversalidade do ensino primário e, no casode muitas províncias, envidou grandes es-forços nesse sentido. No entanto, os pro-gressos alcançados em Timor Leste forammais lentos do que em qualquer outra par-te. Ainda assim, por volta de 1985, quasetodas as aldeias de Timor Leste dispunhamde uma escola primária. Esta expansão darede escolar permitiu que muito mais cri-anças frequentassem o sistema de ensinomas tinhas dois problemas principais.

O primeiro foi o de que o aumentoquantitativo não foi acompanhado pelacorrespondente melhoria da qualidade. Namaioria das províncias da Indonésia, oensino era de fraca qualidade: as escolas ti-nham falta de financiamento, de manuaisescolares e de equipamento básico. EmTimor Leste, a situação era ainda pior—embora os efeitos disso nem sempre fos-sem evidentes já que as avaliações testavamos conhecimentos dos alunos numapequena parte dos programas escolares,sendo as notas inflacionadas para melhoraras estatísticas oficiais.

O segundo problema consistia no factodo governo de Jakarta encarar o sistemade ensino como uma parte essencial doprocesso de ‘Indonesiação’ da populaçãotimorense. Em virtude disso, o Estado proi-biu a utilização da língua portuguesa nasescolas e exigiu que todos os que tivessemde tratar de assuntos com a administraçãopública o fizessem em Indonésio. Para ace-lerar o processo, o governo indonésio mo-bilizou para Timor Leste um grande nú-mero de professores vindos de outras par-

tes da Indonésia. O sucesso desta medidanão foi tão rápido quanto esperado; foramnecessários vários anos—quinze, segundoalguns observadores—para que a utilizaçãoda língua indonésia nas escolas se generali-zasse. No entanto, acabaram por conseguirassegurar que o ensino das criançastimorenses tivesse lugar numa língua dife-rente da que elas falavam em casa—o quedificultou ainda mais os seus progressos.

Aos poucos, o número de professorestimorenses aumentou. Em 1998/99, dos6672 professores primários 78% eramtimorenses. No entanto, a qualidade do en-sino era bastante fraca. A maior parte dosprofessores não tinha prosseguido a suainstrução muito para além da quarta classe.Por outro lado, uma vez que os seus orde-nados eram muito baixos, tinham muitasvezes de aceitar outros trabalhos para so-breviver, faltando frequentemente às aulas.

Isto, por sua vez, desencorajava as cri-anças e os pais. Cerca de 30% das criançasnão chegavam sequer a ser matriculadas, oque se devia, em parte, a motivos culturaisjá que muitos pais não davam o devidovalor à educação dos seus filhos, especial-mente das raparigas. Por outro lado, no casodas famílias mais pobres, os pais não tinhamforma de suportar as propinas e o custodos manuais e dos uniformes. No caso deoutros pais ainda, havia alguma relutânciaem permitir que os seus filhos fossem edu-cados segundo os princípios e valores trans-mitidos pelos programas indonésios.

As debilidades do ensino primário re-percutiam-se no ensino secundário. Em1998/99, apenas 3% dos 1963 professoresdo 3º ciclo do ensino básico eramtimorenses. No último ano de administra-ção indonésia, a taxa líquida de matrículaera ainda de apenas 36% no nível inferiordo ensino secundário (entre os 12 e os 15anos) e de 20% no nível superior (entre os16 e os 18 anos). Os dados para 2001 su-gerem que as taxas actuais são ligeiramenteinferiores no caso do ensino primário—62%e muito inferiores no nível inferior do ensi-no secundário (27%).

Por fim, no ensino superior, o acessoao sistema de ensino é ainda mais restrito,tendo a taxa de matrícula apresentado va-lores de 3,8% em 1999 e 2,8% em 2001. AUniversidade de Timor Leste foi criada em1986 com três faculdades: Política Social,Formação de Professores e Agronomia.

O aumento daquantidadenão foiacompanhadopor umamelhoria daqualidade dosistemaeducativo

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1978 1999

Primário 47 escolas 788 escolas

10.500 alunos 167.181 alunos

Secundário 2 escolas 114 escolas

nível inferior 315 alunos 32.197 alunos

Secundário nenhum 54 escolas

nível superior 18.973 alunos

A violência terádestruído,parcial outotalmente, 80%a 90% dosedifícios e outrasinfra-estruturasescolares

Quadro 4.1

Legados da educação colonial

Fonte: United Nations CCA (2000)

Também aqui, a qualidade do ensino erafrequentemente bastante baixa. A Universi-dade dispunha de recursos insuficientes, uti-lizava métodos de ensino antiquados e tan-to os estudantes como os professores re-gistavam taxas elevadas de absentismo. Osoutros estabelecimentos de ensino superioreram a Academia de Saúde, destinada àformação de enfermeiros, e um institutopolitécnico, onde era ministrado um cursode dois anos de engenharia e contabilidade.O Instituto Pastoral da Igreja Católica for-mava os professores de educação religiosae, em 1997, foi criada uma escola privadade Economia , que oferecia cursos de con-tabilidade e gestão.

O impacto da emergência de 1999Pensa-se que a violência de Setembro de1999 tenha destruído, parcial ou totalmen-te, 80% a 90% dos edifícios e outras infra-estruturas escolares. Na maioria dos casos,os materiais didácticos, os registos das es-colas e o mobiliário escolar foram rouba-dos ou queimados. Em resultado disso,quando as escolas reabriram, os estudantesnem sequer dispunham de lápis, canetas oucadernos de exercícios, pois simplesmentenão estavam disponíveis no país ou, quan-do o estavam, eram vendidos a preçosproibitivos para as famílias mais pobres.Igualmente prejudicial foi a diminuição donúmero de professores. Embora as escolasprimárias fossem principalmente dotadas deprofessores timorenses, a maior parte dosprofessores do ensino secundário eram ci-dadãos indonésios que, na sua maioria, de-cidiram abandonar o território. O mesmosucedeu com os funcionários administrati-vos das escolas, dos quais quase todos eramindonésios.

Um problema suplementar consiste nofacto de algumas das escolas construídasdurante o período de administração

indonésia se terem tornado redundantes.Isto sucedeu devido ao governo indonésioter procedido à transferência forçada decomunidades inteiras para novos locais ondeconstruiu as escolas. Porém, muitas das fa-mílias têm vindo a regressar às suas terrasancestrais. Noutros casos, as escolas nãopodem ser utilizadas devido a terem sidoconstruídas pelos Indonésios em terras quenão lhes pertenciam e que são actualmenteobjecto de litígio.

Reconstruindo o sistema educativoQuando, em finais de 1999, se registou fi-nalmente alguma acalmia e a populaçãocomeçou a regressar aos centros urbanos,os timorenses ligados à administração daeducação iniciaram uma colaboraçãovoluntária no seio da Divisão de Educaçãodo CNRT. Esta iniciativa foi, no entanto,prejudicada pela sua inexperiência e pelacultura de gestão autocrática imposta pelaIndonésia, que retirara às pessoas a confi-anças nas suas próprias decisões.

Entretanto, muitos dos professores pri-mários que permaneceram em Timor Lestecomeçaram também a trabalhar como vo-luntários, recebendo apenas pequenos in-centivos pecuniários da UNICEF, bemcomo alguma ajuda alimentar por parte doPrograma Alimentar Mundial. Embora amaioria tivesse dado aulas durante o perío-do de administração indonésia, outros nãopossuíam qualquer experiência. A UNICEFdisponibilizou também numerosos kits dematerial escolar e reconstruiu os telhadosde várias escolas primárias e secundárias.

Em Maio de 2000, a UNTAET e oCNRT realizaram uma avaliação geral àcompetência dos professores. Este teste foirealizado em Indonésio, devido a ser essa alíngua até então utilizada como meio deensino por estes professores. Do total deprofessores que efectuaram o teste, 5000demonstraram possuir as competênciasnecessárias para dar aulas no ensino primá-rio, embora nem todos tenham sido ime-diatamente contratados.

No ensino secundário, a situação era ain-da mais complexa. Uma vez que quase nãoexistiam professores do ensino secundário,a administração timorense procurou enco-rajar os estudantes universitários a desem-penharem essas funções. Os professoresassim recrutados, que foram contratadospara o primeiro ano lectivo “normal” que

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se iniciou em Outubro de 2000, possuiamhabitualmente suficientes conhecimentosbásicos mas não tinham qualquer formaçãopedagógica ou em matéria de gestão dasaulas.

Entretanto, os doadores internacionaisprepararam um Programa de Revitalizaçãodo Sistema Educativo que procurava con-jugar os esforços da UNTAET, CNRT,UNICEF, ONGs nacionais e internacionais,doadores bilaterais do Banco Mundial. Aprimeira fase deste programa, aprovada emJunho de 2000, consistiu num projecto de13,9 milhões de dólares denominado Pro-grama de Reabilitação Escolar de Emer-gência, destinado à reconstrução de algunsedifícios e à construção de novas escolas-protótipo. Em Fevereiro de 2000 este pro-grama procedera já à reabilitação de 535escolas, representando 2780 salas de aula, àconstrução de três escolas-protótipo desti-nadas ao nível inferior do ensino secundárioe montara 54.000 peças de mobiliárioescolar nas salas de aula. Em Outubro de2001, os doadores aprovaram um outroprograma de 13,9 milhões de dólares, de-nominado ‘Projecto para a Qualidade Bá-sica das Escolas’, que visava a melhoria dascondições de 65 escolas primárias.

No ano lectivo 2000/2001, o númerode crianças matriculadas nas 707 escolasprimárias de Timor Leste era de 185.180

(Quadro 4.2). Na maioria dos países, onúmero de matrículas é habitualmente maiselevado na 1ª classe, diminuindo gradual-mente até ao 6º ano à medida que as criançasvão abandonando o sistema de ensino.Como indica o Gráfico 4.2, esta diminuiçãoé especialmente acentuada em Timor Les-te. Por outro lado, os primeiros anos têmhabitualmente um número anormalmente

Gráfico 4.2

Matrículas por nível de ensino, 2000/01

Fonte: Ministério da Educação

Distrito Escolas Alunos Alunos/escola Professores Rácio Intervalo dos rácios

Aileu 40 13.190 330 149 89 36-147

Ainaro 38 9.398 247 157 60 40-106

Baucau 93 20.365 219 345 59 24-175

Bobonaro 89 18.294 206 289 63 27-104

Covalima 52 8.998 173 227 40 28-147

Dili 61 28.333 464 475 60 17-119

Ermera 62 19.076 308 376 51 27-124

Liquica 38 11.989 316 195 61 30-99

Lospalos 55 10.541 192 172 61 27-142

Manufahi 50 10.443 209 153 68 28-243

Manatuto 35 9.169 262 118 78 36-235

Oecussi 43 9.932 231 146 68 37-100

Viqueque 51 15.452 303 189 82 46-224

TOTAL 707 185.180 262 2.991 62 24-243

Quadro 4.2

Rácio alunos-professores nas escolas primárias, 2000/2001

Nota: O intervalo dos rácios mostra a média mais alta e mais baixa dos sub-distritos da respectiva região

Fonte: Ministério da Educação (2001)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 2 3 4 5 6

Grau

Alu

nos

mat

ricul

ados

(milh

ares

)

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O número deraparigas queactualmentefrequentam oensino primário éidêntico ao dosrapazes

elevado de alunos devido à quantidade deestudantes que reprovaram em anos anteri-ores ou que iniciaram o seu percurso esco-lar mais tarde do que é habitual, frequen-tando por isso anos mais atrasados do queseria normal na sua idade. Isto tem comoconsequência que a ‘taxa bruta de matrícu-la’, que consiste no rácio entre o número decrianças que frequenta determinado nível deensino e o número total de crianças na fai-xa etária legalmente apropriada, possa nal-guns casos atingir valores bastante eleva-dos—112% no caso do ensino primário em2001.

É também de assinalar que as taxas dematrícula no ensino primário eram idênti-cas no caso dos rapazes e das raparigas. Asentrevistas realizadas em Maio de 2001 noquadro de um inquérito para a UNICEF epara a Oxfam permitiram concluir que, aonível do ensino primário, existe igualdadeentre os géneros (UNICEF, 2001). Aliás, emcertos casos, as raparigas podem até estarem vantagem, já que os rapazes correm ummaior risco de ter de abandonar a escolaassim que têm idade suficiente para traba-lhar na agricultura familiar.

No entanto, o número de matrículasconstitui apenas uma parte do panorama.Muitas das crianças que se matriculam parair à escola nunca chegam a frequentar asaulas. O referido estudo revelou que, se-gundo os professores, numerosas criançaseram consideradas ‘inactivas’: nalgumas es-colas, até cerca de 20% dos alunos haviamfrequentado algumas aulas mas tinhamposteriormante deixado de o fazer. Em1997/98, a taxa de repetição de anos noensino primário em Timor Leste—14%—era uma das mais elevadas de toda aIndonésia.

O Quadro 4.2 indica também o rácioaluno/professor. O valor médio de 62 alu-nos por professor no ensino primário é alto,o que reduz a qualidade do ensino minis-trado a cada aluno. No entanto, este valormédio oculta fortes variações entre os di-versos distritos, sub-distritos e escolas. Talcomo mostra o quadro, os valores varia-vam entre um mínimo de 17 (numa escolade Dili) e um máximo de 243 (numa escolado sub-distrito de Turiscai, em Manufahi).

Estes dados dizem respeito ao ensinopúblico. No entanto, para além das mais de700 escolas públicas, existem 173 escolaspertencentes à Igreja Católica, que cobram

em média 5954 rupias por mês (0,60 dóla-res) e 26 escolas privadas, que cobram 9237rupias mensais (1 dólar).

Obstáculos à frequência escolarAgora que Timor Leste alcançou a sua in-dependência, alguns dos anteriores obstá-culos à frequência escolar foram ultrapas-sados. Porém, muitos outros permanecem.O problema mais básico é a pobreza.Embora as escolas públicas não cobrempropinas, enviar as crianças para a escolanão deixa de envolver custos para os pais.Fortemente ligada à questão da pobreza é anecessidade de as crianças dispenderem pelomenos uma parte do seu tempo em tarefasdomésticas ou no auxílio nas exploraçõesfamiliares. Cerca de 10% das crianças entreos 10 e os 11 anos de idade trabalham, quasesempre na agricultura, embora apenas cer-ca de metade destas crianças frequentem osistema de ensino.

Outro problema consiste no facto deque, por muitos pais nunca terem ido à es-cola, eles revelarem pouco interesse na edu-cação e não estimularem os seus filhos a irà escola. Noutros casos, os pais concluemque a qualidade do ensino é tão fraca queos filhos pouco têm a ganhar em frequen-tar a escola, pelo que podem perfeitamenteficar em casa.

Naturalmente, estes obstáculos têm ain-da mais peso se a escola fica longe de casa.Para a maioria das crianças, isso não parececonstituir um grande problema. De acor-do com o Inquérito aos sucos, cerca demetade das crianças não precisa de cami-nhar mais de 10 minutos para chegar à es-cola. Só em 7 dos 498 sucos é que o tempomédio necessário para as crianças chegaremà escola era superior a meia hora. No en-tanto, a dificuldade aumenta na estação daschuvas. Os problemas são ainda maioresnas áreas onde as escolas estão ocupadaspor populações desalojadas ou não podemser utilizadas em virtude de terem sidoconstruídas em terrenos sujeitos a litígio.

Questões futuras para a educaçãoO sistema de ensino de Timor Leste estáactualmente em reconstrução mas enfrentadiversos desafios de monta.

A línguaAo longo dos próximos anos, uma das ta-refas mais difíceis consistirá na adopção de

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Quando ascriançasaprendem na sualíngua materna,recebem maisapoio dos pais

Distrito Primário Secundário

Aileu 0 1

Ainaro 7 0

Baucau 24 1

Bobonaro 5 0

Covalima 3 2

Dili 45 5

Ermera 2 1

Lautem 3 4

Liquica 18 2

Manatuto 7 0

Manufahi 0 4

Oecussi 1 9

Viqueque 11 3

Quadro 4.3

Professores aprovados paraensinarem Português

Fonte: Ministério da Educação

uma nova língua. A Constituição timorenseestabelece como línguas oficiais o tetum eo português. No que diz respeito ao siste-ma de ensino, a política adoptada tem con-sistido na progressiva introdução do por-tuguês como língua de instrução, com iní-cio no ano lectivo 2000/2001 na 1º e 2ºclasses, enquanto se ensina português comosegunda língua nos níveis mais elevados.Depois e gradualmente a instrução em por-tuguês será estendida a todo o sistemaescolar.

Estas medidas criaram alguns proble-mas, uma vez que apenas 5% dapopulação—e, consequentemente, poucosprofessores—fala Português. Com vista adeterminar quais os professores que domi-nam esta língua, cerca de 3000 professoresforam sujeitos a um teste realizado pela Mis-são Portuguesa em Dili. Destes, apenas 158(5%) obtiveram aprovação, a maioria dosquais vivia em Dili ou em Baucau (Quadro4.3). Tal como este quadro revela, o distri-to de Manufahi não possuía qualquer pro-fessor capaz de ensinar Português, pelo queo ensino na 1ª e 2ª classes tem sido minis-trado em Indonésio ou numa das línguaslocais. Isso tem impedido que os alunos ad-quiram as bases de Português de que neces-sitarão para mais tarde prosseguirem os seusestudos em níveis mais avançados.

Tanto os professores como os funcio-nários administrativos das escolas necessi-tarão de sólidas bases de língua portugue-sa. Para tal, será necessária uma planifica-ção mais cuidada quer dos conteúdos

programáticos, quer da carga horária dosprofessores de forma a permitir que estesdispendam algum tempo fora das aulas aaperfeiçoar o seu domínio da língua. Mui-tos cursos de português têm sido realiza-dos de forma ad-hoc e alguns professoresqueixam-se de não terem retirado suficien-tes benefícios. Para ajudar a disseminar oportuguês, o Governo de Portugal finan-ciou a vinda para Timor Leste de 141 cida-dãos portugueses que se têm dedicado aensinar Português como segunda língua nasescolas secundárias e a aperfeiçoar o domí-nio da língua por parte dos professorestimorenses.

Por outro lado, Timor Leste deverávoltar a analisar a importância do ensinoser ministrado na língua materna—seja elao tetum ou qualquer uma das línguas prin-cipais. A experiência de outros países quese depararam com problemas semelhantessugere que as crianças aprendem com maisrapidez se começarem por dominar a sualíngua materna para, em seguida, aprende-rem uma das línguas nacionais—neste caso,o português ou o tetum—como segundalíngua. A auto-confiança que deriva de sercapaz de ler e escrever na língua materna éuma base cognitiva e emocional forte,dotando as crianças das capacidades neces-sárias para a posterior aprendizagem de umasegunda língua. Por outro lado, quando ascrianças aprendem a sua cultura e as suastradições na língua materna torna-sepossível um muito maior apoio e acompa-nhamento por parte dos pais. Isto, por suavez, estimula a criança no sentido da fre-quência regular das aulas. Alguns estudos in-ternacionais têm revelado que uma das prin-cipais causas de insucesso escolar é a defici-ente adaptação dos programas nacionais àscaracterísticas culturais e linguísticas dosalunos.

Produzir materiais didácticos em todosos dialectos locais seria certamente bastantecaro—tanto devido aos custos de impres-são, como à necessidade de formar os pro-fessores para a sua utilização—, sobretudotendo em conta que alguns dialectos sãofalados apenas por um reduzido númerode crianças. No entanto, a experiência inter-nacional revela que os benefícios poderãojustificar os custos. Timor Leste poderábeneficiar da experiência da Papua NovaGuiné, que introduziu recentemente no seusistema de ensino o uso das mais de 800

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Existem em médiamais de 60alunos por cadaprofessorprimário

línguas locais. Neste caso, porém, não seoptou pela impressão de materiais didácti-cos em todas estas línguas mas sim pela ela-boração de manuais e outros materiais des-providos de texto, por forma a que pos-sam ser utilizados a nível nacional, tendosido proporcionado aos professores umconjunto detalhado de indicações acerca decomo utilizar esses materiais na sua próprialíngua.

O actual programa de “estabilização”da gramática e do léxico do tetum é útil.No entanto, actualmente são ainda escassosos materiais didácticos existentes nesta língua—e raros ou totalmente inexistentes osmateriais nas restantes.

Os professoresO Ministério da Educação emprega actu-almente cerca de 6400 professores em to-dos os níveis de ensino, dos quais 70% sãohomens, tendo sido contratados, na suatotalidade, após o referendo de 1999. Amaioria são professores primários que,durante o período de administraçãoindonésia, concluíram o nível inferior doensino secundário, tendo posteriormenteprosseguido os seus estudos em estabeleci-mentos do ensino secundário superiorespecializados na formação de professores.Esta formação era habitualmente compos-ta por dois anos no nível SPG (SekolahPendidikan Guru), aos quais se seguiam trêsanos no nível superior, denominado KPG(Kejuwan Pendidikan Guru). No ensinoprimário, o rácio aluno/professor é supe-rior a 60, o que é manifestamente excessivo.

A maioria dos professores do ensinosecundário são, ainda hoje, estudantes uni-versitários sem qualquer formação peda-gógica. No ano lectivo 2000/2001, somente106—69 homens e 37 mulheres—dos 2091professores do ensino secundário possuiamalguma formação pedagógica.

Para o futuro há duas prioridades fun-damentais quanto à profissão de professor.A primeira consistirá em aumentar o nú-mero global de efectivos, por forma a re-duzir o rácio aluno/professor. No passa-do, os salários baixos e as más condiçõesde trabalho afastaram numerosos estudan-tes motivados de seguirem esta profissão.A situação actual é talvez ainda pior, umavez que os professores deixaram de ter di-reito a habitação gratuita. Todos estes fac-tores têm contribuído para a desmoraliza-

ção dos professores. Lamentavelmente, osprofessores acabam muitas vezes por dei-xar os alunos regressar a casa após um diade aulas inaceitavelmente curto. Consideran-do a importância do papel dos professo-res—principalmente nas áreas rurais— tan-to no interior das salas de aula como en-quanto promotores do desenvolvimento, ogoverno deverá reponderar e reajustar assuas condições laborais e salariais.

A segunda prioridade consistirá namelhoria das qualificações dos professores.Aqueles que estão actualmente a estudarpara virem a dar aulas deverão ser adequa-damente preparados. Não só terão de sefamiliarizar com um novo programa e comuma nova língua, como terão de saber fo-mentar uma aprendizagem mais activa porparte dos alunos.

Actualmente os estudantes passam gran-de parte do seu tempo a copiar matéria doquadro. Em parte, isso deve-se à falta demanuais escolares e outros materiais didác-ticos, mas é também uma consequência daadopção, por parte dos professores, demétodos de ensino antiquados assentes narepetição e memorização e não em estimu-lar as crianças a adquirirem conhecimentospor elas próprias.

Quanto à próxima geração de profes-sores, a Universidade Nacional de TimorLeste (UNTIL) deverá ter um importantepapel a desempenhar. Ao longo da próxi-ma década a sua principal prioridade deve-rá consistir na formação de mais professo-res. Isso implicará uma reavaliação das pri-oridades quanto às Faculdades existen-tes de modo a permitir a optimização dosescassos recursos humanos e financeiros daUniversidade. No caso dos professores quese encontram já no activo, este objectivoexigirá a intensificação da formação per-manente através de workshops e da reali-zação regular de encontros ao nível das es-colas, bem como da criação de centros derecursos pedagógicos ao nível dos distritos.

O envolvimento da comunidadeUma das melhores formas de promover aqualidade do ensino nas escolas é atravésde um mais profundo envolvimento dascomunidades locais. Se os pais, os profes-sores e os restantes líderes comunitários as-sumirem conjuntamente a responsabilida-de da gestão dos estabelecimentos de ensi-no, dedicarão decerto uma porção maior

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Timor Lesteprecisaurgentemente demais pessoasdotadas decompetênciasbásicas

do seu tempo e energia às escolas e ficarãomais orgulhosos daquilo que eles e as crian-ças da sua comunidade conseguirem atingir.

Um interessante estímulo neste sentidopoderá vir do “Projecto ‘100 escolas’” daUNICEF. Este projecto seleccionará 100escolas a nível nacional para servirem comomodelos onde melhorar todos os aspectosda educação—o envolvimento dos pais edas comunidades, a melhoria dos métodosde ensino, a manutenção de registos ade-quados, o aumento das taxas de frequênciae a melhoria do moral de professores ealunos. As escolas que vierem a serseleccionadas serão aquelas que se tiverem,desde logo, revelado empenhadas na adop-ção das melhores práticas.

Esta é outra área na qual Timor Lestepoderá efectuar progressos. O sistemaindonésio era extremamente centralizado,deixando pouco espaço para as iniciativaslocais dos pais e dos professores. Isso po-derá ter servido os interesses do Estadoindonésio mas desperdiçou recursospreciosos em termos de dinamismo eempenhamento.

Os currículos escolaresAté agora têm sido poucos os esforços nosentido da melhoria dos currículosescolares—o que se deve em parte à incer-teza do período de transição. Os professo-res continuam a adoptar os programasindonésios na maioria dos níveis de ensino.No caso das 1ª e 2ª classes, porém, dis-põem também de manuais escolares emPortuguês que cobrem o programa tradici-onal desses dois anos. Trata-se de manuaisde boa qualidade, coloridos e atraentes,embora bastante caros. As restantes classesadoptam um currículo dramaticamente re-duzido, que nas 4ª e 5ª classes se limita àmatemática e às ciências da natureza, como português como segunda língua. Os 3º e6º anos curriculares têm matemática, ciên-cias da natureza e ciências sociais. Existe al-gum ensino ao nível da música e do des-porto mas com muito poucos materiais deapoio.

No ensino secundário o currículo é bas-tante mais abrangente, incluindo 14 disci-plinas no nível inferior do secundário e 17no nível superior. Dada a escassez tanto deprofessores como de materiais didácticos,parece ser aconselhável reduzir a variedadedas disciplinas e concentrar a atenção na

qualidade em vez da quantidade, assumin-do como prioridades a matemática e asciências.

As principais disciplinas e conteúdos quedeverão fazer parte dos currículos e dosprogramas deverão ser decididos na se-quência de consultas alargadas aos profes-sores, pais e alunos. Esta é outra área naqual a experiência e os recursos internacio-nais poderão prestar uma valiosa contribui-ção ajudando quem quer que venha a ela-borar os futuros currículos do sistema deensino de Timor Leste a retirar lições daspráticas adoptadas noutros países e a atin-gir os níveis internacionalmente aceites.

O ensino técnico-profissionalO ensino técnico-profissional indonésio,ministrado nas escolas secundárias superio-res, era relativamente sofisticado. No en-tanto, a formação proporcionada poucotinha a ver com as reais necessidades domercado de trabalho; em muitos casostratava-se apenas de “educar por educar”.Timor Leste não poderá permitir-se estaprática e, em colaboração com os empre-gadores locais, deverá reformar o sistemade modo a proporcionar aos jovens for-mação em matérias para as quais existerealmente procura. De qualquer forma, amaioria das pessoas que antes asseguravamo funcionamento do ensino técnico-profis-sional abandonaram, pelo que Timor Lestenão terá outra opção que não seja começarde novo.

Um inquérito realizado pelo Projectopara a Melhoria das Qualificações em TimorLeste, financiado pela Austrália, chegou àconclusão de que as escolas deverão evitarespecializar-se em determinadas áreas de-masiado cedo, devendo, pelo contrário, in-cluir matérias como a agronomia nas disci-plinas mais gerais de ciências da natureza.

Existem já alguns projectos de forma-ção técnico-profissional, incluindo algunsvocacionados para o sector da construçãocivil, que são financiados pelo Brasil e porPortugal. No entanto, é notório que TimorLeste precisa urgentemente de pessoas do-tadas de competências básicas como as deelectricistas e de mecânicos. Tendo em contaa possível importância do turismo, os quevierem a trabalhar nesta área deverão do-minar o Inglês. Parte desta formação deve-rá ser endereçada a quem já se encontra atrabalhar, já que é evidente que actualmente

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A tradição democrática de Timor LesteCaixa 4.1

É incorrecto caracterizar Timor Lestecomo um país desprovido de raízese princípios democráticos. As estrutu-ras de poder tradicional, que perma-neceram intactas ao longo do perío-do de colonização e ocupaçãoestrangeira, reflectem sistemaseconómicos, sociais, políticos e cul-turais altamente intrincados e que sãosimultaneamente participativos einclusivos.

O breve período de poder daFretilin em meados dos anos '70,caracterizou-se também pela devolu-ção de parte do poder e da autori-dade a mecanismos regionais de to-mada de decisão. Ainda mais signi-ficativo, o próprio movimento clandes-tino funcionava de uma forma extre-mamente participativa, procurandoconsultar todos os membros e utilizaros líderes locais e as estruturas hierár-quicas para fazer ouvir a voz dasdiversas comunidades e alcançardecisões de uma forma colectiva.Assim, as estratégias de educaçãocívica deverão envolver a participaçãodos líderes locais e incorporar os pro-cessos comunitários tradicionais para

lidar com a questão das hierarquiassociais e reflectir a realidade dos pro-cessos de tomada de decisão a nívellocal.

A sociedade tradicional timorenseé profundamente hierarquizada, o queconsti tui um desafio para aintrodução de certos conceitos demo-cráticos, tais como a noção de igual-dade. No seio dos sistemas tradicio-nais, o Estado é desprovido de iden-tidade para além dos elementos tra-dicionais que foram cooptados pe-las estruturas políticas coloniais. Oslaços de parentesco da sociedadetimorense não incluem qualquer for-ma de individualismo, o que contras-ta fortemente com as bases de qual-quer sistema multi-partidário. Por ou-tro lado, é pouca a confiança depo-sitada em líderes políticos que nãopossuam uma legitimidade ancestrale que não estejam ligados a determi-nados objectos sagrados e formasancestrais de legitimação. Quaisqueriniciativas de educação cívica nosentido da educação para a cidada-nia deverão ter em conta estesparadigmas tradicionais.

muitas pessoas estão fazendo trabalhos paraos quais não dispõem das competênciasnecessárias.

O ensino superiorA Universidade Nacional de Timor Lestereabriu as suas portas em 2000. Nessa altu-ra, a prioridade consistia em proporcionarcursos superiores aos estudantes que havi-am já frequentado este nível de ensino, querna Indonésia, quer em Timor Leste. Em-bora um grande número de estudantes te-nha reprovado nos exames de admissão,continuaram a pressionar o Ministério daEducação para que lhes fossem proporci-onadas vagas. Isso resultou num acordo decompromisso: a criação de um cursopropedêutico, seguido de um novo exame,após o qual os estudantes aprovados teri-am acesso aos diversos cursos universitários.

Na prática, este último exame permitiuà maioria dos estudantes em causa frequen-tar a Universidade no ano lectivo 2001/02.No entanto, o excessivo número destes alu-nos tem sobrecarregado a capacidade daUniversidade. A Faculdade de Economia,por exemplo, em vez do contingente anual

de 150 alunos viu-se a braços com mais389 alunos.

A Universidade de Timor Leste poderávir a deparar-se com uma situação em queum grande número de alunos mal prepara-dos poderá vir a sobrecarregar cursos queoferecem escassas perspectivas de empre-go. Por esse motivo, deverá reavaliar as suasprioridades, procurando ser uma institui-ção mais pequena e que enfatiza a qualida-de e que ao longo da próxima década de-verá aplicar parte importante dos seus re-cursos na Faculdade de Ciências da Educa-ção de modo a permitir formar a próximageração de professores do ensinosecundário. Um outro aspecto é o da qua-lidade dos professores universitários, amaioria dos quais não possui qualquer for-mação universitária ao nível da pós-graduação.

A Universidade deverá querer reavaliaras suas prioridades e adaptar os seus cursosàs necessidades do país. Parte muito impor-tante dos seus recursos e dos seus alunosdeverá ser concentrada na Faculdade deEducação, com vista à formação da próxi-ma geração de professores do ensino se-cundário. Outros cursos poderão tambémter de alterar a sua orientação, especialmen-te aqueles que reflectem fortemente o lega-do indonésio. A Faculdade de Ciência Polí-tica, por exemplo, podia concentrar-se napreparação de pessoas para trabalharem naadministração pública.

Timor Leste precisa de pessoas comformação universitária. Contudo, deveráfazê-lo evitando cair na mesma armadilhaem que caíram outros países em desenvol-vimento, que promoveram o ensino univer-sitário por uma questão de estatuto ou parasatisfazer as necessidades das famílias maisricas. Pelo contrário, Timor Leste deveráprovavelmente apostar numa instituiçãouniversitária mais pequena mas com umamaior ênfase na qualidade—que eduque aspessoas segundo padrões internacionais dequalidade e capazes de administrarem umEstado moderno.

Literacia entre os adultosEmbora a prioridade imediata consista emassegurar a educação da actual geração decrianças, Timor Leste não pode ignorar aeducação dos adultos. Não se trata apenasde satisfazer as necessidades da metade dapopulação que teve pouco ou nenhum aces-

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so ao sistema de ensino mas ajudar tam-bém no processo de construção da naçãoe, de uma forma mais geral, promover odesenvolvimento humano ao permitir queas pessoas assumam um maior controlesobre as suas próprias vidas.

Tendo em conta a futura importânciaque o português terá no futuro do país nãoé de admirar que a maioria das campanhasde alfabetização de adultos estejam a serefectuadas nesta língua. Um exemplo dissomesmo é o da campanha brasileiraimplementada pela ‘Alfabetização Solidária’,cujo programa de alfabetização se iniciouem Junho de 2001 em todos os distritostimorenses e que irá proporcionar forma-ção a 3.500 adultos analfabetos.

Um outro projecto brasileiro, denomi-nado ‘Telesalas’, propõe-se ensinar a línguaportuguesa através da televisão. Este pro-jecto visa melhorar o domínio do portugu-ês, bem como de algumas outras compe-tências genéricas, por parte de mais 3.500pessoas. No caso deste projecto, o grupo-alvo é o de indivíduos na faixa dos 45-50anos que já possuem alguns conhecimentosde língua portuguesa. O projecto piloto estáa decorrer em 20 turmas do distrito de Dili,abrangendo 600 alunos, sendo que a pró-xima fase deverá incluir 70 turmas na tota-lidade dos distritos.

Educação cívicaOutra questão é determinar quais osconhecimentos que a generalidade dapopulação deverá possuir de modo aviabilizar o novo Estado de Timor Leste.Até agora e compreensivelmente, aeducação cívica tem-se centrado nos me-canismos de votação e nas eleições. No en-tanto, o desenvolvimento humano exigeuma visão muito mais ampla e participativada democracia, não apenas como um ob-jectivo mas sobretudo enquanto processopermanente, uma forma de estar na vida.Assim, a educação cívica poderá tambémprocurar promover:

• O conhecimento cívico—as informações econhecimentos fundamentais de que aspessoas precisam para serem cidadãoseficazes e responsáveis;

• As competências cívicas—a capacidade decompreender e comparar diferentesprincípios e práticas de governação. Istoinclui a capacidade de intervir na vida

pública de modo a controlar e influen-ciar as políticas públicas.

• As virtudes cívicas—os traços de carácternecessários para sustentar e melhorar agovernação democrática e a cidadania.Tais traços incluem o respeito pelo va-lor e pela dignidade de cada pessoa, atolerância e a igualdade.

Através da aquisição destas competências,os cidadãos ficam em muito melhor posi-ção para assegurar e aprofundar a demo-cracia pela qual lutaram, tomando parte noprocesso de tomada de decisões sobrepolíticas nacionais e locais. Isto poderá exi-gir a combinação de formas modernas eformas tradicionais de tomada de decisão(caixa 4.1).

Estas mesmas competências permitirãoconstruir uma sociedade pacífica, na qualse vai progressivamente alcançando consen-so acerca de qual o comportamento que amaioria das pessoas gostaria de ver no seunovo país. De entre estas, a mais importan-te é a coexistência pacífica, a qual implicanão só a ausência de violência entre as di-versas comunidades e no interior de cadauma delas, mas também no seio do pró-prio lar, onde a maior parte da violência édirigida contra as mulheres. Mas existemmuitas outras questões em relação às quaisa educação cívica poderá ser muito benéfi-ca. Uma delas, por exemplo, consiste nainformação acerca dos riscos do HIV/SIDA, que são praticamente desconhecidospara a maior parte das pessoas.

Em certa medida, a educação cívica teráde começar pelos professores, confiandoneles para comunicar ideias não apenas nasescolas mas também para a comunidadeem geral, especialmente nas áreas rurais.Outras instituições do Estado, como a po-lícia, poderão também ajudar.

O horizonte da educaçãoA educação é uma das principais questõesanalisadas neste relatório do desenvolvimen-to humano porque colocar o sistemaeducativo no caminho certo é crucial parao futuro do país. A melhoria dos padrõeseducacionais repercutir-se-á sobre toda asociedade. Pessoas mais instruídas estão emmelhor posição para inovar e melhorar nãosó as suas próprias vidas mas também asvidas dos outros. Mulheres mais instruídasestão em melhor posição para cuidar da

O desenvolvimentohumano exige umavisão ampla eparticipativa dademocracia

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO

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sua própria saúde e da saúde dos seus fi-lhos. Finalmente, pessoas mais educadasestão em melhor posição para efectuaremescolhas no que diz respeito ao desenvolvi-mento humano de si mesmas e do seu país.

Planear a educação em Timor Leste serádifícil. A dificultá-lo está uma grande escas-

sez de recursos e de pessoal qualificado eas complexidades de uma sociedademultilingue. Porém, as opções terão de serefectuadas o mais cedo possível se se qui-ser que a próxima geração tire vantagensdo futuro de Timor Leste enquanto paísdemocrático.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Crescimento económico parao desenvolvimento humano

Progredir no desenvolvimento humano em Timor Lestesignificará também o início de um novo percurso económico,tornando a agricultura mais produtiva e desenvolvendo ou-tras oportunidades, incluindo o turismo e o petróleo e o gás.Mas o desenvolvimento económico terá de se concentrarfirmemente na procura de benefícios evidentes para a mai-oria do povo de Timor Leste.

Capítulo 5

Figura 5.1

PIB por sector

Fonte: Quadro Anexo 8

Timor Leste é um país pobre, com um PIBper capita de apenas $478 em 2001 e umafrágil base económica. A agricultura pro-porciona ganhos reduzidos à maioria dapopulação enquanto, por outro lado, apa-rece nas cidades uma crescente economiade serviços. No entanto, como demonstraa figura 5.1, o maior sector em valor é o daadministração pública, que representa maisde um quarto do PIB.

A actual estrutura económica foi, emgrande medida, moldada quer pela admi-nistração portuguesa quer pela indonésia(caixa 5.1). Durante a era portuguesa os ren-dimentos provinham principalmente dasplantações e a economia no seu todo es-tagnou. Contudo, durante o períodoindonésio a economia de Timor Leste, talcomo as das outras províncias da Indonésia,sofreu uma mudança estrutural rápida: di-minuição da agricultura e expansão dos ser-viços baseados nos centros urbanos. Comoresultado, a contribuição da agricultura bai-xou de cerca de 60% em 1981 para 42%em 1986, para 37% em 1990 e para 25%em 1998.

Grande parte desta mudança foi resul-tado da actividade do governo e do seuinvestimento. Durante mais de duas déca-das, os gastos governamentais representa-ram cerca de 20% do PIB e a construçãooutros 20%. Comércio, hotéis e restauran-tes também aumentaram mas as manufac-turas e a mineração continuaram a serreduzidas.

Esta mudança foi acompanhada por umrápido crescimento económico. O períodoinicial de domínio indonésio—1975-82—foi um período de consolidação e

estabilização mas depois a economiacomeçou a crescer a uma taxa respeitável.Durante o período 1983-90, o crescimentoreal do PIB foi de 7,8% e durante o perío-do 1990-96 a economia expandiu-se anu-almente cerca de 10%. Então, em 1997 ecomo resultado da crise asiática, o cresci-mento diminuiu para os 4% e em 1998, fi-nalmente, a economia afundou-se 2%.Muito deste crescimento foi estimulado portransferências directas de Jakarta, que emmeados dos anos 90 representavam $150milhões por ano. O governo Indonésio es-tava a gastar muito mais do que o rendi-mento que obtinha localmente—o déficefiscal em Timor Leste foi estimado em cercade dois terços do PIB.

Enquanto o governo investia, o sectorprivado, externo ou interno, estava larga-mente ausente. Raramente os investidoresestrangeiros entravam na província e

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO

Agricultura21%

Minerais emanufacturas6%

Construção23%Transportes

e comunicações8%

Comércio,restaurantese hotéis, 8%

Outrosserviços

6%

Administraçãopúblicae defesap

28%

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mesmo os investidores locais eram difíceisde encontrar: em meados de 1999 aComissão de Investimentos registou apenas10 projectos de investidores locais.

Apesar desta dependência dos gastosgovernamentais indonésios, a economia deTimor Leste cresceu de uma forma margi-nalmente mais rápida do que a da Indonésiacomo um todo: durante o período 1983-97, o crescimento médio foi de 5,6% aoano, comparado com 5,1% para a Indonésia.

Infelizmente, muitos dos frutos destecrescimento foram para não-timorenses.Apesar das pessoas locais terem beneficia-do das estradas construídas para os milita-res e do investimento público em saúde eeducação, os principais beneficiados foramos Indonésios. Isto incluiu funcionáriospúblicos dos escalões mais altos e militaresdas forças militares, quase todos vindos defora de Timor Leste. A maioria dosempresários da construção civil tambémvieram de fora da província.

Os outros beneficiários principais forammigrantes que tinham chegado de outraspartes do leste da Indonésia, os pendatang.Muitos deles eram familiares defuncionários civis ou militares ou pagavam-lhes subornos e dominavam o comércio eoutros serviços. Entretanto, os timorenses,especialmente os que tinham educação,tinham cada vez maiores dificuldades emencontrar trabalho. Apesar das estatísticaspara o desemprego serem suspeitas, esti-mativas sugerem que em 1998 o desem-prego aberto era de cerca de 6% e osubemprego era de cerca de 11%.

Este período também viu o estabeleci-mento de uma economia a duas velocida-des porque embora a agricultura continu-asse a empregar três quartos da força detrabalho, a sua contribuição para o PIBbaixou enquanto os serviços se expandiam.

Por volta de 1996 Timor Leste era umadas províncias mais pobres da Indonésia.O seu PIB per capita, então de $429, eramenos de metade da média Indonésia($1.153). Os seus níveis de pobreza eramduas vezes mais altos, com cerca de 32%das famílias a viver em situação de pobrezade rendimentos. Os indicadores sociais tam-bém eram muito piores: a esperança de vidaà nascença, nos 54 anos, era dez anos infe-rior à média da Indonésia e a taxa de mor-talidade infantil, de 100 por mil nado-vivos,estava entre as maiores do mundo.

Devastação económica em 1999

Apesar das pessoas de Timor Leste já serempobres, elas empobreceram ainda maiscom o início da violência que começou em30 de Agosto de 1999. A destruição que seseguiu causou enorme sofrimento humanoe forçou mais de metade da população adeixar as suas casas. Mas, a violência tambémafectou profundamente a infraestrutura eco-nómica e social do país:

• Infraestrutura social—cerca de 80% dasescolas e clínicas foram completa ou par-cialmente destruídas.

• Agricultura—entrou em ruptura parciale uma parte significativa dos animais foiperdida. De acordo com o Inquérito aosSucos, as famílias perderam 58% das ca-bras, 48% do gado e 47% dos porcos.

• Energia—Dili perdeu cerca de um terçoda sua capacidade geradora de energia.As outras capitais de distrito perderamainda mais—umas pelo menos 50% eoutras quase 90%.

• Comunicações—a maior parte das 12.000linhas telefónicas foram danificadas, osmercados entraram em colapso e hou-ve severos cortes nos transportes.

• Administração—perderam-se os arquivosgovernamentais e outros documentos.

• Sistema bancário—os escritórios regionaisdo banco central, juntamente com os deoutros bancos, foram pilhados oudestruídos. Todas as transacções passa-ram a ser feitas em dinheiro.

Quase tão grave para a economia foi, con-tudo, a perda de pessoas qualificadas. Nafunção pública, das cerca de 28.000 pesso-as, quase um quarto não era timorense eocupava as posições de topo na Adminis-tração, incluindo juízes, promotores de jus-tiça e polícias. Como resultado desta des-truição, a economia afundou-se dramatica-mente—entre 1998 e 1999 o PIB real caiu33%. A inflação disparou: entre Agosto eOutubro de 1999 os índices de preços noconsumidor para os pobres em Dili aumen-tou 200% e o preço dos bens manufactu-rados aumentou mais de 500%.

Renascimento económico sob o UNTAETEm Setembro de 1999, a primeira forçamultinacional, INTERFET, chegou pararestaurar a paz e a segurança. Entretanto,

Muitos dos frutosde crescimentoforam para não-timorenses

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63CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO

várias organizações e comunidadestimorenses mobilizaram-se rapidamentepara começarem o processo de reconstru-ção. Estas incluíam o Conselho Nacionalda Resistência Timorense (CNRT), a IgrejaCatólica e algumas ONGs locais.

A comunidade internacional tambémestava a coordenar o seu apoio. Este in-cluiu:

• A Administração Transitória das NaçõesUnidas em Timor Leste (UNTAET)—em 25de Outubro de 1999, o Conselho de Segu-rança das Nações Unidas criou a UNTAETpara administrar o território e exercer ospoderes legislativo e executivo durante operíodo de transição. A UNTAET teria umorçamento de $700 milhões por ano doorçamento das Nações Unidas.• Missão Conjunta de Avaliação—em Outu-bro/Novembro de 1999, o Banco Mundialconduziu uma missão para identificar osobjectivos de reconstrução e estimar asnecessidades de financiamento externo.• ‘Trust Fund’ para Timor Leste (TFET)—Em 9 de Dezembro o Banco Mundialestabeleceu o TFET para ajudar Timor Lesteno processo de transição para a indepen-dência. O TFET tem sido administradopelo Banco Mundial.• Conferência Internacional de Doadores—em17 de Dezembro de 1999, em Tóquio,doadores de mais de 50 países e agênciasinternacionais garantiram um total de $523milhões para três anos para a reconstruçãode Timor Leste. Eles concordaram em doaresta verba ao TFET para projectos dereconstrução em todos os sectores e tam-bém para contribuir para um fundo con-solidado para Timor Leste (CFET), geridopela UNTAET, para pagar os custos ad-ministrativos do governo e os projectos paradesenvolver as capacidades dos timorenses.

Apesar de inúmeros obstáculos, osdoadores conseguiram alcançar razoáveis ní-veis de desembolsos e estabeleceram umconjunto de instituições de ajuda. Até à data,as maiores ajudas vieram principalmente decinco países: Japão ($129 milhões), Esta-dos Unidos ($98 milhões), Portugal ($91milhões), União Europeia ($68 milhões) eAustrália ($44 milhões). A maior diferençaentre compromissos e desembolsos temacontecido para infraestruturas, enquanto osdesembolsos para a construção de capaci-

dades e assistência técnica tem estado maisem linha com os compromissos.

Perspectiva macroeconómica e fiscalEste apoio externo e a restauração da lei eda ordem ajudaram a estimular a recupera-ção económica. O esforço de reconstru-ção foi particularmente intenso em 2000/01 e 2001/02 e o investimento total estáprojectado para ser em média cerca de 50%do PIB durante estes anos. O crescimentofoi de 15% em 2000 e 18% em 2001. Ocrescimento previsto para 2001/02 é igual-mente forte, de 15%, apesar de ser bastan-te inferior a partir daí.

Apesar de ter havido uma recuperaçãoem muitos sectores, a maior onda de cres-cimento deu-se em Dili, principalmente naconstrução, reconstrução e expansão de ser-viços de apoio aos funcionários internacio-nais. Mas, este é apenas um impulso tem-porário e transformar-se-á num refluxocom a retirada gradual do pessoal dasNações Unidas durante o ano de 2002. Naaltura da conclusão do mandato daUNTAET, cerca de 75% do staff interna-cional terá já sido retirado. Dili sofrerá oembate deste refluxo particularmente noshotéis, restaurantes e serviços domésticos,bem como nos rendimentos provenientes

Períodos de desenvolvimento económicoCaixa 5.1

AdministraçãoPortuguesa1900-60

Desenvolvimento agrícola

Plantações de café

Inauguração da companhia agrícola SAPT

Introdução de novas sementes

AdministraçãoPortuguesa1960-75

Plano de Fomento (Plano quinquenal de De-senvolvimento)

Introdução de novas plantas (canela, cacaue outros frutos)

Infraestrutura, agricultura, educação e saúde

Economia de guerraindonésia1975-80

Destruição, reabilitação, consolidação erestruturação

Desenvolvimento levado acabo pela Indonésia1980-99

Plano de desenvolvimento a curto prazo

Prioridade do Plano de quinquenal desenvol-vimento dado à agricultura, educação, saú-de, sector público, transportes e comunica-ções e desenvolvimento rural

UNTAET2000-02

Reconstrução e reabilitaçãoCriação de uma ‘bolha’ economia

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das rendas das casas. Espera-se, no entanto,que esta inevitável contracção seja compen-sada por melhorias noutras áreas, como aagricultura. Para 2002/03 parece provávelque o crescimento global seja de zero. Apartir daí uma forma de desenvolvimentomais equilibrada e sustentável poderá lan-çar o país numa senda de crescimento maisestável.

O período de transição viu tambémuma súbita queda na poupança doméstica.Durante o período 1995-97 estas represen-tavam cerca de 20% do PIB mas tornaram-se negativas de 1999 em diante. Nos próxi-mos anos as poupanças deveriam regressarao seu nível normal.

A balança de pagamentos também foiseriamente afectada. Dada a falta de dispo-nibilidade local de muitos dos bens eserviços necessários durante o período dereconstrução, teve de se importar a maioriados bens. Como resultado, as contas exter-nas tiveram enormes défices nos anos fis-cais de 2000/01 e 2001/02, que terão todosde ser financiados por doações externas ouinvestimento estrangeiro.

Os primeiros anos da nova administra-ção irão também obrigar a significativosdéfices orçamentais. Isto está indicado noquadro 5.1, que foi preparado para a Con-ferência de doadores em Dezembro de2001, em Oslo.

Isto mostra que em 2002/03, de umorçamento total de $100 milhões, apenas$34 milhões podem ser cobertos porcobrança interna de recursos, deixando $64milhões para ser financiados pela ajuda ex-terna—apesar de este valor sercomplementado por outros fluxos de aju-da bilateral que são considerados financia-mento ‘fora do orçamento’. As projecçõespara mais anos estimam que os rendimen-tos internos resultantes de impostos irãocrescer e que em 2005/06 devem gerar umexcedente orçamental.

Esta alteração de rendimentos em mea-dos da década é largamente o resultado daprevisão de substanciais rendimentos petro-líferos—suficientes para cobrir os gastos doCFET e também para um modesto pro-grama de investimentos que suceda aoTFET. No entanto, o objectivo de longoprazo é depender mais do sector privadopara os rendimentos não-petrolíferos. Istodeverá permitir que os gastos correntesaumentem 3% anualmente durante os 20anos de rendimentos do petróleo bemcomo permitir a realização de poupançasdestes rendimentos suficientes para financiardespesas futuras

Planeando o futuroTimor Leste precisa de estabelecer umenquadramento para o planeamento quepermita a definição e implementação depolíticas de desenvolvimento. Os objecti-vos devem incluir:

• Reforçar e diversificar a base económica;• Promover uma distribuição mais

equitativa dos benefícios dodesenvolvimento;

• Alargar as oportunidades de actividadesrentáveis nos domínios social eeconómico;

• Aumentar a auto-suficiência económica;• Utilizar os recursos naturais de uma

forma sustentável

Fazer a economia de Timor Leste cami-nhar no sentido do seu caminho óptimode crescimento exigirá investimentos subs-

Uma produção familiar de milho de subsistência

A família de subsistência típica pro-dutora de milho é normalmente cons-tituída por cerca de sete pessoas. Vi-vem próximo do resto da famíliaalargada, numa aldeia e numa casacom um pequeno terreno ao redor doqual a mulher da família cria normal-mente uma série de vegetais. Depen-dendo da localidade e dos solos, es-tes podem incluir batata doce, abó-bora, mandioca, batata branca, fei-jões, ervilha e várias sementes. Hátambém, normalmente, árvores defruto. A alguma distância de casa, ohomem cultiva cerca de meio hectarede milho, que é plantado emconsociação com abóbora, batatadoce e feijões. A produção médiado terreno será de 900 Kg de milho,cerca de 130 Kg por pessoa.

Nenhum deste milho é vendido,apesar de poder acontecer alguma(pequena) troca de géneros. O arrozde sequeiro tem uma importância re-duzida, sendo cultivado por uma mi-noria de famílias que obtêm baixasproduções. A mandioca, taro e sagusão valorizados porque podem serconsumidos nas épocas de baixasproduções de milho e vegetais.

O número de cabeças de gadodetidos pela família é um bom indi-cador de riqueza. As famílias maispobres de entre os pobres não têmgado ou, na melhor das hipóteses,têm algumas aves domésticas e tal-vez um porco.

As que têm um pouco mais pos-ses terão vários porcos e cabras. Asfamílias moderadamente ricas têm vá-rios bois ou búfalos enquanto as maisricas terão muitos.

Historicamente, todas as famíliasdas zonas rurais mais altas exceptoas mais ricas subsistiram sempre forada economia monetária. As expecta-tivas correntes das famílias das zonasmais altas que não têm café ou gadosão reduzidas.

Não vêem outro futuro que nãoseja o da subsistência. Quando ques-tionados acerca das suas esperançase expectativas, a maioria irá apenasencolher os ombros.

Alguns dirão que querem ver osseus filhos com alguma educação. Amaior parte deles acha difícil pensarnoutra coisa a não ser nos proble-mas da vida do dia-a-dia e na per-manente batalha pela sobrevivência.

Caixa 5.2

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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2002-03 2003-04 2004-05 total de 3 anos 2005-06

Projecções orçamentais

Despesas correntes 67 82 85 235 90

Despesas de Capital & Desenvolvimento1 30 30 30 75-105 32

das quais: CFET (Administração & Justiça) 13 18 18 48 19

Capital Sectorial & Desenvolvimento 17 12 12 27-57 13

Despesas Totais orçamentadas1 97 112 115 310-340 122

Receitas Internas 34 51 71 156 185

Necessidades de financiamento externo do sector público1 63 61 44 154-184

Estimativas para projectos bilaterais:

Previsões (incluindo projectos existentes)1 50 35 25 100-120 10

Necessidades adicionais de RH: 200 postos2 10 10 10 30 10

Despesas de Capital & Desenvolvimento 10 5 5 20 -

do período de transição

Estimativa do financiamento total extra-orçamento1 70 50 40 150-170 20

Estimativa do total do financiamento externo1 133 131 84 150-170 20

Por memória: estimativas de despesas TFET 51 13 0 304-354 0

Quadro 5.1

Estimativas orçamentais e de financiamento externo, 2002-06 (milhões de $)

Notas: 1. Os números únicos representam o ponto médio de possíveis intervalos de variação. 2. As estimativas preliminares doPNUD são de 24 milhões por ano. Contudo, os custos adicionais devem ser substancialmente menos significativos dependendoda medida em que os postos de trabalho forem preenchidos através de Assistência Técnica bilateral, UNVs ou outros programasde voluntários. As discrepâncias nos totais devem-se aos arredondamentos.

Fonte: UNTAET/ETTA/World Bank (2001)

tanciais—em infraestruturas, em expansãoda capacidade dos sectores produtivos, emaumentos das capacidades institucionais eadministrativas tanto do sector públicocomo do sector privado e na manutençãode políticas económicas correctas e flexí-veis. Irá também exigir um ambiente regu-lador claro e estável. Mas, acima de tudoirá necessitar de investimentos consistentesnas pessoas—na sua saúde, educação equalificações.

Desenvolvimento ruralNo futuro previsível, a agricultura irá con-tinuar a empregar quase três quartos da forçade trabalho. De acordo com o Inquéritoaos Sucos de 2001, a agricultura é a princi-pal fonte de rendimento em 94% dos su-cos, de forma que, apesar de não ser ummotor do crescimento económico—expan-dindo-se apenas à volta dos 6% ao ano—aagricultura produtiva deve estar ainda nocentro de qualquer estratégia de desenvol-vimento humano. Os maiores esforços de-vem ser orientados para ajudar os agricul-tores pobres a aumentarem as produções

de cereais (quadro 5.2), mas existe tambémum espaço considerável para desenvolverimportantes culturas de plantação, particu-larmente café, cacau e bananas.

Timor Leste tem, em termos gerais, trêstipos de sistemas de subsistência:

• Produtores de cereais nas terras altas—a mai-oria da população de Timor Leste viveusempre nas montanhas, cultivando funda-mentalmente milho juntamente com man-dioca, arroz e batata doce. Das 120.000famílias produtoras de milho, cerca de umterço também tinha árvores de café de queobtinham rendimentos monetários. Um nú-mero mais pequeno também tem acesso aterras húmidas mas a maioria, provavelmen-te mais de 70.000 famílias que são mais po-bres, têm pouca ou nenhuma hipótese deobterem rendimentos monetários. Um bre-ve perfil de uma família típica é dada nacaixa 5.2.• Produtores de arroz nas terras húmidas—es-tes, que poderão ser entre 6.000 e 12.000famílias, tendem a ter uma existência commaior segurança alimentar por produzirem

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Tons

Milho 58,931

Mandioca 32,092

Arroz 36,848

Batata doce 11,989

Amendoins 4,669

Soja 690

Quadro 5.2

Produção alimentar, 1998

Fonte: Quadro anexo 9

A maioria dasfamílias ruraisestão actualmentenuma situaçãomuito incerta

principalmente arroz mas também um pou-co de milho de forma a dispersar o risco.Durante a era indonésia, muitos produzi-am excedentes mas actualmente a maioriaregressou ao nível de subsistência, esperan-do para ver como o mercado irá desen-volver-se e quanto eles terão de gastar eminputs.• Famílias costeiras de pescadores—provavel-mente cerca de 10.000 famílias dependem,pelo menos parcialmente, da pesca, apesarda maioria deter também um terreno comcereais, vegetais e fruta.

A maioria das famílias rurais estão actual-mente numa situação muito incerta. A aju-da alimentar de emergência, a reproduçãode sementes e os programas de impactorápido funcionaram relativamente bem.Também houve projectos baseados na co-munidade para a reabilitação rural, incluin-do esquemas de irrigação e estradas de aces-so. Mas, o impacto foi desigual e os merca-dos não estão geralmente a funcionar cor-rectamente. Os agricultores estão insegurosquanto aos serviços que o governo irá pro-videnciar e que tipo de mercado se poderádesenvolver. A caixa 5.3 indica uma divisãotípica de trabalho no seio das famílias.

De qualquer forma, graças às favorá-veis condições climatéricas, espera-se que aagricultura cresça significativamente. Espera-se que a produção de café seja de aproxi-madamente 8.000 toneladas em 2000 e2001, recuperando das menos de 5.000 to-neladas em 1997 e 1998. As produções dearroz e milho poderão alcançar 75% dosníveis atingidos em 1996/7.

Quaisquer planos de desenvolvimentoagrícola também têm de ser vistos comoparte de uma estratégia global para o de-senvolvimento rural—tendo em conta asnecessidades das pessoas rurais em melho-res estradas, oferta de água, saneamento e

micro-crédito. Isto significa alargar osobjectivos do desenvolvimento de formaa melhorar as condições de vida nas zonasrurais. Isto exigirá um estilo de desenvolvi-mento baseado nos pontos fortes existen-tes nas comunidades rurais e dar-lhes opoder necessário para prosseguirem as es-tratégias de melhoria dessas condições devida que melhor se adaptem às suas capaci-dades e circunstâncias. Uma tal estratégiadeve ser comandada pela procura, baseadanas preocupações locais e no planeamentolevado a cabo no seio da comunidade.

A primeira prioridade deve ser capaci-tar as comunidades mais pobres paragarantirem a sua segurança alimentar e ali-viarem a sua pobreza reduzindo a suavulnerabilidade aos choques climáticos eeconómicos. Isto significa, por exemplo,fornecer mais assistência aos agricultores dasterras altas, ajudá-los a melhorar as suaspráticas agrícolas, introduzir sistemas decultivo naturais com cereais resistentes e di-versificar os produtos cultivados. Muitodisto irá também assentar na extensão rurale noutros serviços que irão melhorar a ca-pacidade das comunidades locais de pro-duzirem cereais para a alimentação, silvicul-tura e criação de animais.

MilhoPara melhorar a segurança alimentar, umadas primeiras prioridades deve ser o au-mento da produção de milho. A maiorparte desta é composta por variedades tra-dicionais que geram colheitas reduzidas—de 700 a 1.500 quilogramas por hectare. Oaumento da produção permitirá aumentara segurança alimentar dos agricultores masdependerá, no entanto, da exploração devariedades híbridas que sejam adaptadas àscondições locais e que os agricultores pos-sam adquirir e utilizar com algum grau desegurança.

ArrozAs colheitas de arroz são muito reduzidas:1,5 toneladas de grãos com casca por hec-tare. A maior parte dos agricultores utili-zam métodos primitivos sem fertilizantesou pesticidas. Isto significa que Timor Les-te tem de importar muito do arroz de quenecessita—aproximadamente 17.000 tone-ladas de arroz importadas em 2000/01.Com variedades de sementes mais produ-tivas, juntamente com fertilizantes e outros

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inputs essenciais, deve ser possível obterpelo menos 3,5 toneladas por hectare e sa-tisfazer as necessidades do país. Contudo,actualmente Timor Leste necessita dos ins-trumentos necessários para a pesquisa e tes-tes de adaptação. Falta também o pessoalhabilitado. O reduzido número de funcio-nários agrícolas governamentais tem com-petências limitadas. Esta é claramente umaárea onde a ajuda externa é necessária e têmsido feitas propostas para desenvolver osrecursos necessários no quadro do Minis-tério da Agricultura.

GadoDurante 1999 perdeu-se uma parte signifi-cativa do gado, estando os agricultores arepor lentamente os seus stocks. As possi-bilidades futuras de desenvolvimento degado incluem a criação de gado de corteno planalto de Los Palos, na zona leste dopaís. Deve haver também meios para me-lhorar a capacidade de ensilagem a partirde ervas desenvolvidas inicialmente no Ter-ritório do Norte da Austrália.

CaféEnquanto a principal prioridade será asse-gurar a produção de culturas agrícolas usa-das na alimentação, também deverá serimportante maximizar o potencial produ-tivo de culturas que geram rendimentos emdinheiro para as famílias agrícolas. A prin-cipal cultura de rendimento é, de longe, ocafé. Este é uma fonte vital de obtenção derendimentos bem como de divisas. Mes-mo após os piores anos, a produção de-monstrou uma notável capacidade de re-cuperação. Num bom ano Timor Leste

produziu anualmente o equivalente a cercade 10.000 toneladas de grãos de café emverde (quadro 5.3) que geraram rendimen-tos para cerca de 40.000 famílias bem comoemprego sazonal para operários assalaria-dos e para os envolvidos no processamentoe no transporte.

A preços de 2001 isto foi estimadocomo valendo $10 milhões nos mercadosinternacionais, dos quais os agricultorespoderiam esperar receber cerca demetade—o equivalente a $127 em médiapor família produtora de café. A produçãoefectiva em 1997 foi de apenas 5.000 tone-ladas. A violência de 1999 veio, no entanto,depois da época da colheita e por isso nãoafectou a produção. Espera-se que em 2000e 2001 a produção seja de aproximadamen-te 8.000 toneladas.

Cerca de um quinto do café de TimorLeste é do tipo robusta enquanto o restanteé uma variedade de arábica de alta qualida-de e muito procurada, a Hybrida de Timor,que é organicamente cultivada nas terras al-tas no centro do país. Este é um híbridolocal de arábica e robusta que apresenta agrande vantagem de ser resistente às doençaslocais e mais tolerante com o solo pobre eseco. Contudo, tal como no caso de outrasproduções, a quantidade produzida épequena. O café é tipicamente cultivado empequenos lotes de terrenos sobrecultivadose com pouca poda e cobertura de folhas

Preparação da comida MulheresTratamento das crianças MulheresConstrução da casa, etc HomensPreparação da terra HomensPlantação de milho e arroz Principalmente mulheresCortar as ervas Homens, mulheres e criançasCorte de arroz e milho MulheresTransporte de arroz e milho HomensDebulha MulheresTratar de vegetais MulheresVenda de vegetais e frangos MulheresVenda de vegetais e frangos HomensLenha Homens, mulheres e criançasGuarda de gado Homens e criançasGuarda de porcos Mulheres e criançasGuarda de cabras Mulheres e criançasGuarda de frangos Mulheres e criançasTransporte de água Mulheres e crianças

Divisão de trabalho numa família agrícola

Caixa 5.3

Colheita 10.000 tons

equivalente a grãos verdes

Valor internacional (c.i.f.) $10,2 milhões

Custo ao produtor dos grãos verdes $0,26/lb

Transporte local e processamento $0,02/lb

Valor interno (f.o.b.) $0,28/lb

Pagamentos totais aos agricultores $5,1 milhões

Transportes locais e processamento $1,2 milhões

Valor interno total $6,2 milhões

Famílias produtoras de café 40.000 famílias

Rendimentos em dinheiro por família $127

Quadro 5.3

Café em Timor Leste, 2001

Fonte: Pomeroy, J. (2001)

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO

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vegetais. Os agricultores apanham frequen-temente os cachos verdes e processam-nosde forma pouco eficiente dado que não têmágua suficiente para uma fermentaçãohúmida.

A comercialização dos cafés de alta qua-lidade é organizado através da Cooperati-va de Café Timor (CCT), que envolve cer-ca de 17.000 famílias produtoras de café.A CCT trabalha com a NationalCooperative Business Association (NCBA),americana e apoiada pela USAID, que temum programa de ajuda à produção, for-mação e serviços de extensão rural bemcomo de desenvolvimento de instalaçõespara o processamento, transporte earmazenamento do café.

Actualmente o preço mundial do café émuito baixo e isto tem desencorajado algunsprodutores de colher as suas colheitas. TimorLeste não pode fazer nada quanto aos pre-ços mundiais, mas pode aumentar os seusrendimentos através da melhoria da quali-dade, especialmente se isto permitir que ocafé timorense obtenha a certificação inter-nacional como produção orgânica.

Isto envolveria não só substituir árvoresmas também destinar uma parte maior daprodução para processamento centraliza-do. O apoio para este tipo de upgrading teráprovavelmente de se basear em investimentoestrangeiro no processamentocomplementado com o aumento de traba-lhadores de extensão rural através do go-verno e das ONGs.

Entretanto, alguns dos produtores mar-ginais de café poderão ter de mudar paraoutras produções. Mais investimentos adi-cionais no café e noutras culturas de planta-ção estão, no entanto, limitados por dúvi-das quanto à posse de terra, com direitos àmesma que datam do tempo da adminis-tração portuguesa.

Outras culturas de rendimentoDado o baixo preço do café, os agriculto-res em Timor Leste também devemequacionar a possibilidade de optarem poroutras produções. Estas incluem a batatabranca, cebolas, couves, cacau e castanhade caju, bem como madeira de sândalo.Uma opção promissora é a baunilha, ven-dida a cerca de $130 por quilo nos merca-dos mundiais. O NCBA tem vindo a pagar$18 por quilo o que encorajou mais agri-cultores a plantar esta cultura.

Pescas

Timor Leste tem um grande potencial depesca com muitas variedades valiosas, in-cluindo atum, peixe serra, pargo e cama-rões. Cerca de 10.000 famílias dependem,pelo menos parcialmente, da pesca. Meta-de vive em Dili ou na ilha de Ataúro. Ovolume potencial de pesca tem sido esti-mado em cerca de 600.000 toneladas anu-ais, apesar de, provavelmente, menos de 1%destas ser actualmente colhida. A formamais comum de embarcação é uma canoaescavada no tronco a par de muitas outrasembarcações com motores fora de borda.

Os rendimentos futuros decorrentesdesta actividade podem ser aumentadosatravés do aumento de investimento na ca-pacidade nacional de pesca e pelolicenciamento de embarcações estrangeiras.Actualmente, o principal obstáculo é a faltade zonas de pesca internacionalmentereconhecidas. Isto tem criado uma consi-derável incerteza e também encorajou oalastramento da pesca irregular que podeestar a degradar importantes recursos. Umaprioridade para o novo governo será, porisso, o estabelecimento de zonas económicase pesqueiras. Isto permitirá ao governo obterreceitas das licenças de pesca de, possivel-mente, $2 milhões por ano, bem como umrendimento para a Marinha de Timor Les-te constituído pelas multas aplicadas.

O Ministério da Agricultura e Pescasdefiniu uma estratégia para as pescas deTimor Leste. Nela se afirma que as capaci-dades pesqueiras serão aproximadamente33 vezes maiores que as do passado e que acaptura anual poderia representar entre $25e $35 milhões.

A estratégia de pesca deve tomar emconsideração questões como asustentabilidade do esforço de pesca e aprotecção dos interesses das comunidadesde pescadores tradicionais. As agências go-vernamentais, a indústria local e as comuni-dades locais necessitarão de trabalhar emconjunto para descobrir formas de aumentara sua capacidade e produtividade.

Dado que as comunidades de pesca lo-cais não possuem ainda capacidade técnicasuficiente para operações de pesca em gran-de escala, com a utilização de traineiras epesca à rede, o governo terá de ceder amaior parte das licenças a operadoresestrangeiros.

Timor Leste podeaumentar os seusrendimentosatravés damelhoria daqualidadedo café

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O crescimentobaseado nomercado podeaumentar asdesigualdades

Silvicultura

Timor Leste gerou no passado receitas con-sideráveis da silvicultura. Mas com a disse-minação da prática do desmatamento dasterras para permitir o cultivo ou a criaçãode gado, reduziu-se a maior parte da antigafloresta transformando-a em zonas de ve-getação rala. Uma estimativa sugere que aactividade humana afectou a cobertura ve-getal de cerca de 90% do território. Qual-quer rendimento futuro a obter da silvicul-tura, seja de sândalo ou de outros produ-tos, terá assim de ser baseado numa cuida-dosa plantação e gestão das áreas florestais.

ManufacturasTimor Leste tem uma indústriamanufactureira relativamente reduzida. Em1996 as manufacturas representavam ape-nas 3,5% do PIB, a maior parte do qual emactividades de pequena escala—4.000 em-presas empregavam cerca de 10.000 pes-soas. As empresas que empregavam maispessoas em 1996 eram as que se dedica-vam à tecelagem de roupa tradicional (tais)e mobiliário. Contudo, as empresas maio-res e mais produtivas eram as relacionadascom o processamento de café e madeirade sândalo. Alguma da capacidade produ-tiva das manufacturas foi perdida em 1999,quando os equipamentos foram enviadaspara a Indonésia ou queimados.

O potencial imediato da indústriamanufactureira é limitado, tendo em contaa escassez de mão-de-obra especializada emTimor Leste, os relativamente elevados cus-to de vida e salários e as fracas ligações detransporte. Até agora, as tentativas deencorajamento de investimentos de largaescala têm sido infrutíferas e apenas umamão cheia de empresas relacionadas com avenda a retalho, a construção e asinfraestruturas parecem ser prósperas. Asmelhores opções para o futuro parecem servia investimento estrangeiro nos têxteis e nocalçado.

Uma estratégia para o desenvolvi-mento humano

Um dos perigos de promover o tipo derápido crescimento económico baseado nomercado de que Timor Leste precisa é odo alargamento das desigualdades, particu-larmente entre as áreas rurais e urbanas. Al-

guns destes desfasamentos resultam do fun-cionamento corrente dos mercados livresmas podem ser também o resultado depolíticas governamentais que actuam namesma direcção. Estes enviesamentos pró-urbanos podem actuar através do sistemafiscal—taxando implicitamente os produ-tos agrícolas através de preços de apoio,por exemplo—, de uma taxa de câmbiosobreavaliada ou taxando directamente asexportações agrícolas e subsidiando as im-portações. As políticas também podemactuar contra os pobres rurais se envolve-rem subsídios para tecnologias capital-in-tensivas ou se favorecerem as culturas deexportação em detrimento das culturas ali-mentares.

Há também o risco de estabelecersistemas de posse de terra e arrendamentoque favoreçam os grandes proprietários deterra e os produtores para o mercado dan-do-lhes também acesso mais fácil ao crédi-to e aos serviços de extensão rural. Assim,o objectivo deve ser a promoção do cres-cimento com equidade, criando oportuni-dades para o sector privado ao mesmotempo que protege os interesses dos pobres.

Trabalhando com o sector privadoO futuro de Timor Leste dependerá, emúltima instância, do estabelecimento de umsector privado forte que possa gerar pro-duções, poupanças, investimento privadoe comércio internacional. As políticas pú-blicas tem, por isso, de criar um ambienteno qual o sector privado possa expandir-see florescer. Isto irá exigir:

• Estabeleer regras claras—o governo temde estabelecer e manter regras simples,transparentes e estáveis para as activida-des do sector privado. Estas devem in-cluir políticas de concorrência para li-mitar a possibilidade de práticasmonopolísticas.

• Investir em desenvolvimento humano—parti-cularmente na saúde e na educação, paraassegurar que os pobres podem tirar par-tido das novas oportunidades.

• Estabelecer um sistema legal forte—istosignificará lidar com questões tão difí-ceis como os direitos de propriedadeda terra e as reivindicações sobre a pos-se de terrenos com eles relacionados,construir um sistema judicial forte emanter a lei e a ordem. Também preci-

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O micro-créditoprecisa de sercombinado comserviçoscomerciais deapoio

sará de legislar nos domínios das leis dasempresas, dos contratos e das falências.

• Reforçar a estabilidade macroeconómica—estabelecer políticas fiscais, monetárias,comerciais e de investimentos que per-mitam uma eficiente afectação derecursos.

• Infraestruturas—assegurar abastecimentosfiáveis de energia e água, estradas apro-priadas e portos e aeroportos eficientes.

Crescimento pró-pobresTimor Leste tem a possibilidade de, logodesde o seu início como país independente,estabelecer um novo caminho de desenvol-vimento, seguindo um crescimentotrabalho-intensivo e virado para os pobres.Isto também significará a abertura de opor-tunidades para os pobres, utilizando esque-mas de micro-crédito com serviços deapoio ao desenvolvimento de negóciosapropriados que, por exemplo, aumentemas oportunidades de emprego para asmulheres e outros grupos que possam estarfora da força de trabalho formal.

Isto sublinha a importância não só dedesenvolver a agricultura como também deassegurar o tipo de desenvolvimento equi-librado que permita que os benefícios se-jam disseminados pelo país.

A economia rural de Timor Leste já estárelativamente aberta ao comércio privadomas as facilidades de comercialização asse-guradas por este são bastante primitivas.Muitas regiões rurais permanecem relativa-mente intocadas pelas oportunidades queum sector privado dinâmico deveria esti-mular.

Aspecto fundamental para que isto severifique será o desenvolvimento deinfraestruturas rurais, particularmente estra-das e sistemas de comunicações fiáveis quepermitam o funcionamento eficiente dosmercados agrícolas e o aumento dos preçosque os agricultores mais pobres obtêm dasua produção.

Ao mesmo tempo Timor Leste deveconsiderar um sistema de financiamentorural que ajude a aumentar o investimentonas áreas rurais e também a oferecer umlocal seguro para as poupanças geradas nes-sas áreas. Isto poderia envolver, por exem-plo, créditos de curto e médio prazo aosagricultores e comerciantes bem comocréditos de investimento a processadoresde produtos alimentares, companhias de

camionagem e outras empresas que estãopreparadas para investir nas áreas rurais.

Muitas regiões do país, particularmenteas produtoras de arroz, têm solos muitoférteis, um clima favorável e oferecemoportunidades para uma agricultura maisintensiva. Mas isto também precisa de in-vestimentos públicos e privados no tipo depesquisa agrícola que irá indicar as melho-res técnicas para assegurar condições devida sustentáveis.

A melhoria das infraestruturas ruraisdeverá também permitir o aumento dasactividades rurais não agrícolas, incluindomanufacturas pouco especializadas e traba-lho-intensivas e actividades com elas relacio-nadas. Aqui o objectivo deve ser aumentaros ganhos das famílias, particularmentedurante as estações baixas.

TurismoMuitos pequenos estados insulares depen-dem fortemente das receitas turísticas. TimorLeste tem muitas atracções para os turistas,sendo os mercados mais próximos os daAustrália, da Nova Zelândia e dos paísesda ASEAN. Para lá da sua rica culturanacional, Timor Leste pode oferecer espec-taculares montanhas, lagos e fontes de águaquente bem como praias de areia branca elocais para a prática do surf. Também exis-tem muitas construções coloniais interessan-tes, incluindo fortes e igrejas.

No entanto e apesar disto o país temrecebido relativamente poucos turistas.Durante o período 1989-95 as chegadasanuais de turistas internacionais rondaramapenas os 1.500 por ano. O governoindonésio fez, em teoria, alguns esforços deinvestimento no turismo mas obteve pou-cos resultados. Na prática, a Indonésia es-tava mais interessada em fechar Timor Lesteao mundo para evitar que as pessoas teste-munhassem as contínuas violações dos di-reitos humanos.

Mas mesmo com a perspectiva de umambiente de paz num Timor Leste inde-pendente, ainda existem alguns obstáculos.Estes incluem a falta de alojamento ade-quado—especialmente fora de Dili—, afalta de pessoas habilitadas para gerirem asinstalações turísticas—particularmente aque-les que podem falar inglês—e também afraqueza geral em infraestruturas, incluindoo abastecimento de água e o tratamento delixo. As ligações internacionais aéreas para

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Em 5 de Julho de 2001, representan-tes da UNTAET/Timor Leste e da Aus-trália assinaram o Acordo sobre o Marde Timor, um documento que irágovernar as operações petrolíferas doMar de Timor. Esta é a primeira vezque as Nações Unidas negociaramum tratado bilateral em nome de umpaís em vias de se tornar indepen-dente. A equipa de negociação in-cluiu líderes timorenses e representan-tes das Nações Unidas. O Acordoserá ratificado como um Tratado logoa seguir à Independência de TimorLeste.

O Acordo também garante a con-tinuação dos contratos estabelecidosentre as empresas e a Indonésia aoabrigo do Tratado de 1989 e relati-vos aos campos de Bayu-Undan eGreater Sunrise. O campo de Bayu-Undan, gerido pela Phillips PetroleumCompany Australia Pty Ltd., tem re-servas estimadas em 400 milhões debarris de petróleo líquido econdensado (LPG) e 3,4 trilhões depés cúbicos (TCF) de gás. Os parcei-ros actuais de Bayu-Undan são aPhillips (50,3%), a Santos (11,8%), aInpex (11,7%), a Kerr-McGee Corp.

(11,2%), a Petroz (8,3%) e a Agip(6,7%). O segundo campo é o deGreater Sunrise, operado pelaWoodside Australian Energy, e temreservas estimadas em 321 milhõesde barris de condensado e 9.16 TCFde gás. Os actuais parceiros no cam-po de Greater Sunrise são aWoodside Energy (33,4%), a PhillipsPetroleum (30%), a Royal Dutch/ShellGroup (26,56%) e a Osaka Gas (10%).

O primeiro desenvolvimento petro-lífero significativo a avançar no JPDAé a fase do gás reciclado no campode Bayu-Undan. Espera-se que esteprojecto comece a produção e oprocessamento de gás em 2004, se-parando e vendendo os líquidos ereinjectando o gás de volta no reser-vatório. O benefício estimado paraTimor Leste do desenvolvimento do gásreciclado é de aproximadamente $2bilhões durante os 15 anos espera-dos de vida do campo.

Uma complicação que contribuiupara o atraso na construção dopipeline do campo de Bayu-Undanpara Darwin, Austrália, é a incertezasobre os royalties que Timor Leste irácobrar.

O Acordo sobre o Mar de TimorCaixa 5.4

Timor Leste também são limitadas. Os úni-cos voos são de Bali e Darwin e, sujeitoscomo estão a pouca competição, podemser bastante caros.

Enquanto a falta de experiência no tu-rismo pode ser vista como uma desvanta-gem, ela pode tornar-se também numaoportunidade. Timor Leste pode evitarmuitos dos inconvenientes sociais eambientais de uma rápida expansão turísti-ca. O novo governo tem oportunidade deestabelecer o nicho que Timor Leste deve-rá ocupar no mercado turístico regional einternacional. Os turistas mais fáceis paraatrair inicialmente serão os mais aventurei-ros backpackers. Isto será bem vindo no curtoprazo mas eles não gastam muito, não po-dendo pois ser vistos como a base de umaindústria viável.

Uma opção seria desenvolver estânciasturísticas, existindo alguns sinais favoráveisde que investidores pioneiros poderão es-tar preparados para o fazer. Outra opçãoseria capitalizar no carácter inexplorado epreservado de Timor Leste focalizando-seno ecoturismo. Contudo, isto pode ser ain-da mais capital intensivo e exigente em ter-mos de competências; manter uma indús-tria ecoturística requer consideráveis esfor-ços para assegurar padrões ambientais.

A maior parte das formas de desenvol-vimento do turismo exigirão investimentose peritos estrangeiros. Algumas empresas denavegação turística e mergulho já fizeraminvestimentos. Estes e outros desenvolvi-mentos em áreas turísticas podem aumen-tar as instalações em acomodação, abaste-cimento de água, telecomunicações e trans-porte. Mas estas também têm de estar liga-das às prioridades gerais de desenvolvimentohumano. Além disso, os contratos comempresas estrangeiras necessitarão demaximizar o potencial de formação dosempregados timorenses.

Isto exigirá o grande envolvimento dacomunidade. As pessoas de Timor Lestetêm de ser parceiros e beneficiários do pro-cesso, de estar conscientes dos possíveisimpactos negativos e positivos do turismona sociedade e no ambiente.

Petróleo e gásUm dos principais determinantes do futu-ro económico de Timor Leste será a for-ma como ele utilizará as receitas de petró-leo e gás. Apesar de haver algum petróleo e

gás em terra, os maiores depósitos encon-tram-se offshore, entre Timor Leste e aAustrália. A potencialidade total dos depó-sitos é desconhecida, mas irá certamentegerar receitas substanciais no curto prazo(caixa 5.4).

A incerteza que persistiu neste camposurgiu porque, quando a Austrália e aIndonésia desenharam as fronteiras maríti-mas entre si, em 1972, Timor Leste era en-tão uma colónia portuguesa. Isto deixouuma falha na linha de fronteira, o ‘TimorGap’. A Austrália e a Indonésia assinaramum tratado em 1991 que criou a Zona deCooperação, na qual ambos os países sedispunham a repartir igualmente os recur-sos do ‘Timor Gap’, numa área quecorrespondia à sobreposição entre as suaszonas económicas exclusivas de 200 milhas.

Portugal contestou a validade deste tra-tado no Tribunal Internacional de Justiça deHaia argumentando que, dado que aIndonésia invadiu Timor Leste contrarian-do a lei internacional, não podia reclamarde forma válida a soberania e, desta for-ma, não podia ter feito um acordo sobre o“Timor Gap”. Em Junho de 1995 o

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A agricultura nãodeve ser sujeita amuitos impostosnos primeirosanos

Tribunal de Justiça Internacional declarouque, apesar de reconhecer os direitos doshabitantes locais à autodeterminação, nãopoderia regulamentar esta questão dado quea Indonésia não o reconhecia como um Tri-bunal com jurisdição sobre ela.

Quando Timor Leste votou pela inde-pendência, a UNTAET e os líderes deTimor Leste renegociaram o tratado e, em5 de Julho de 2001, assinaram o Acordodo Mar de Timor. Este, mais uma vez, nãofixa as fronteiras entre Timor Leste e aAustrália mas trata os campos de petróleoe de gás como uma única entidade partilhada—a Área Petrolífera de DesenvolvimentoConjunto (JPDA). Este acordo é muito maisfavorável do que o anterior dado queTimor Leste irá agora obter 90% dos ren-dimentos fiscais da produção da JPDA.

As principais implicações deste acordosão sobre dois campos: o primeiro é o deBayu-Undan, que cai inteiramente na áreaJPDA; e o segundo é o campo GreaterSunrise, 20% o qual se situa na JPDA. Nasduas décadas a seguir a 2004 espera-se queos rendimentos do petróleo e gás paraTimor atinjam os $7 biliões.

Política fiscalEm meados desta década, o governo deTimor Leste poderá ter custos anuais, cor-rentes e de capital, entre os $120 milhões eos $170 milhões. As três principais fontesde financiamento serão:

• Impostos internos—isto inclui impostossobre a produção, serviços e comércio;

• Fundos de doadores—isto inclui não ape-nas doações, mas também empréstimosconcessionais das instituições multilate-rais, tais como o Banco Mundial e oBanco Asiático de Desenvolvimento;

• Rendimentos do Mar de Timor—Receitas dopetróleo e campos de gás.

Na frente interna, a agricultura terá certa-mente de contribuir fortemente para as re-ceitas públicas mas é importante assegurarque nos anos mais próximos Timor Lesteinvista na agricultura em vez de tentar reti-rar demasiado dela. O governo pode sertentado a usar em primeiro lugar as fontesde recursos mais disponíveis: impostos so-bre a terra e as exportações agrícolas mastributar fortemente a agricultura nesta con-juntura crucial pode revelar-se contra-

producente para o crescimento económicoa longo prazo.

No limiar do orçamento de 2002/03,Timor Leste irá realizar uma revisão pro-funda do seu sistema de rendimentos. Istopermitirá explorar potenciais novas fontesde receitas: impostos sobre os utilizadoresda terra; impostos sobre o jogo ou lotariasnacionais; taxas adicionais aos utilizadoresde vários serviços e taxas e encargos locais.Ao mesmo tempo, o governo necessitaráde incentivar o cumprimento das obriga-ções fiscais, reduzindo o contrabando aolongo da fronteira com a Indonésia eaumentando a sua capacidade de cobrançados impostos.

Os fundos de ajuda serão tambémcruciais mas terão de ser cuidadosamenteutilizados. Uma área de preocupação será ade evitar recorrer a muitos empréstimos dasagências multilaterais. Estes podem ser fei-tos em termos concessionais mas podem,por outro lado, acumular-se pesadamentedando origem a uma forte dívida internaci-onal. O governo já disse que não irá pedirempréstimos nos primeiros três anos.

Gestão das receitas petrolíferasComo devem ser geridas as receitas dopetróleo? A perspectiva mais comum é ade que o país não deve utilizar todas as re-ceitas para financiar actividades correntes.Em vez disso, deve aplicar pelo menosmetade delas num trust fund que irá garantiralgum do valor obtido para as próximasgerações. Existe claramente um equilíbrio aser alcançado neste domínio: poupar umaparcela demasiado elevada significará oadiamento de algumas oportunidades dedesenvolvimento e talvez o aumento do ris-co das poupanças desaparecerem devido àcorrupção; poupar demasiado pouco pode,no entanto, expor o país a futuros proble-mas financeiros, especialmente dadas as in-certezas nos preços do petróleo. TimorLeste poderá considerar uma estratégia fis-cal quadripartida:

1. Controlo dos gastos públicos—dar priorida-de aos gastos na saúde e educação a fimde aumentar as habilitações das pessoase estimular o desenvolvimento humano.

2. Evitar subsidiar os mais abastados—finan-ciar alguns serviços públicos, pelo me-nos parcialmente, através de taxas a pa-gar pelos utilizadores.

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A maioria doinvestimentoestrangeiro emTimor Leste é nossectores doalojamento e dosserviços

3. Construir a confiança dos doadores—manterum ambiente social, económico e polí-tico estável e um respeito pelos direitoshumanos é não só vital para o desen-volvimento humano mas também en-coraja os doadores que querem concen-trar os seus recursos nos países maispobres, mas só naqueles que têm umambiente adequado onde a ajuda possaser bem utilizada.

4. Guardar receitas petrolíferas e de gás—usá-las moderadamente para o investimen-to, dado que são uma oportunidadeúnica que irá durar apenas cerca de 20anos.

O desafio para Timor Leste é a manuten-ção de uma disciplina fiscal suficiente paraassegurar o investimento essencial no de-senvolvimento humano e estimular as em-presas privadas mas resistindo à tentaçãode gastar as receitas do petróleo e do gásem consumo corrente.

Atraindo investimentos estrangeirosDada a baixa taxa de poupança em TimorLeste e a limitada disponibilidade de capa-cidade ou experiência empresarial, muito doestímulo para o futuro desenvolvimentoeconómico e humano através do sectorformal terá de vir do investimento directoestrangeiro (IDE). O capital privado podenão só aumentar a produtividade mastambém alargar as opções de desenvolvi-mento humano ao permitir que ostimorenses desenvolvam as suascapacidades através da formação e experi-ência que ganham por trabalharem emempresas estrangeiras.

À primeira vista, Timor Leste pode nãoparecer o destino mais atractivo para osinvestidores estrangeiros. A população épequena e os níveis de consumo são bai-xos. A base industrial é praticamenteinexistente e uma grande proporção da for-ça de trabalho não tem muitas das habilita-ções necessárias às empresas modernas.Além disso, a escassez de capital internodificulta a obtenção de crédito interno atra-vés do sistema bancário e encontrar parcei-ros nacionais para alguns projectos de in-vestimento.

Tal como em outros países pequenos epobres, o desafio para Timor Leste é a su-peração destes obstáculos e a capacidadede atrair investimento suficiente sem com-

prometer a independência nacional. Esta éa razão porque é tão crítico para TimorLeste prosseguir não só desenvolvimentoeconómico mas também desenvolvimentohumano. Uma estratégia de desenvolvimen-to humano baseia-se na expansão das ca-pacidades humanas e na participaçãodemocrática no processo de decisão. Isto écrítico em políticas de investimento estran-geiro porque, a menos que as decisões deinvestimento sejam obtidas através de umconsenso democrático, podem provocaruma reacção popular negativa edesestabilizar tanto a economia como asociedade.

Não existe um modelo padrão interna-cional para a utilização do investimento es-trangeiro. Mesmo os países de rápido cres-cimento da Ásia Oriental mostram o su-cesso de modelos contrastantes. A Repú-blica da Coreia do Sul, por exemplo, deci-diu caminhar sem muito investimento es-trangeiro. O governo protegeu as empre-sas nacionais e financiou o investimentodestas com fundos dos bancos nacionaliza-dos e comprando a maioria da tecnologiade que necessitava ou adquirindo-a atravésda participação limitada de empresas es-trangeiras no capital de empresas nacionais.,Singapura, pelo contrário, fez todos os pos-síveis por atrair investimento estrangeiro efez grandes esforços para assegurar que oseu ambiente económico e social era atrac-tivo para as empresas estrangeiras que tra-riam consigo novas tecnologias.

Timor Leste terá de alcançar um equilí-brio entre estas duas perspectivas. Por umlado, necessita de criar as condições quepermitam aos timorenses, em geral, e aosseus empresários, em particular, espaço eoportunidades para desenvolverem as suaspotencialidades. Por outro lado, tambémprecisa de, urgentemente, atrair IDE paradeterminados sectores estratégicos.

Actualmente, a maioria do investimen-to estrangeiro em Timor Leste é nos secto-res do alojamento e dos serviços. Muitadesta actividade é sustentada pela presençade grande número de pessoal das NaçõesUnidas e outro pessoal internacional. Existeo risco real de que quando estas pessoas seforem embora os investidores também sai-am com eles. Até agora, poucas destas acti-vidades transferiram muita especializaçãopara os funcionários de Timor Leste. Uminquérito de 2001 efectuado pelo

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As licenças depesca podem-sebasear em jointventures

Departamento de Assuntos Económicos edo Desenvolvimento mostrou que menosde metade destas actividades estavam adesenvolver as capacidades humanas deuma forma significativa. A maioria dasempresas declararam que, para actividadesque requeriam maior preparação técnica—por exemplo, em termos de gestão ou decontabilidade-, empregavam nacionais dopaís de origem da empresa.

Sectores estratégicos para o IDEO investimento estrangeiro podia dar umestímulo importante a certos sectores chave:

• Agricultura—a participação estrangeirapode ser particularmente útil no cultivo eprocessamento de café e baunilha. Contudo,isto não seria como proprietários das ter-ras mas como instrutores e comerciantes.• Pescas—existem algumas propostas deinvestimento na pesca, tais como na doatum e do camarão. Aqui, a cooperaçãoentre governo, comunidades pesqueiras lo-cais e sector privado pode ajudar a desen-volver as capacidades técnicas e humanas.Contudo, o governo pode conceder licen-ças de pesca sob a condição de as empre-sas licenciadas formarem os nacionais oucriarem joint ventures com empresas locais.• Turismo—a indústria turística de TimorLeste necessitará de investimentos interna-cionais. Mas, mais uma vez, esta deve estarcondicionada às transferências de saber aostaff local.• Manufacturas—aqui, os melhores pontosde partida, tal como o foram para muitosoutros países em vias de desenvolvimento,são provavelmente o vestuário, os têxteis eo calçado. Contudo, a competição externanestes produtos é intensa, nomeadamenteda China e de outros países Asiáticos.

Timor Leste terá de assegurar que tem ainfraestrutura e a legislação laboral prontapara convencer as empresas de que este éum país onde vale a pena investir. Uma van-tagem que Timor Leste pode oferecer éque, como “país menos desenvolvido”, temacesso preferencial a determinados merca-dos. Esta vantagem é menos importante doque há umas décadas dado que as barreirastarifárias diminuíram entretanto. Porém, al-guns potenciais investidores foram atraídospelo acesso de alguns países à UniãoEuropeia por intermédio do Acordo de

Cotonou, para os países da África, Caraíbase Pacífico.

Barreiras aos fluxos de IDEDada a dimensão da concorrência, TimorLeste terá de trabalhar muito se deseja atra-ir investidores estrangeiros. Há actualmenteum certo número de barreiras que sãocríticas:

• Gestão da propriedade—as maiores barrei-ras centram-se em redor dos direitos depropriedade e especificamente da posse daterra. Actualmente não existe nenhum me-canismo de registo da posse da terra. Du-rante o período de transição o ‘Mecanismode Uso Temporário da Terra’ tornou algu-ma terra disponível para fins de investimen-to. Mas o cenário a mais longo prazo é in-certo. Muitos indivíduos e entidades têmvindo a alugar terras que não possuem e osinvestidores sabem que se alugarem a terraarriscam-se a ter conflitos e ocupações ile-gais. A resolução da questão da proprieda-de da terra é também crucial para promo-ver a actividade empresarial de uma formageral dado que os bancos exigem frequen-temente títulos de propriedade comocolateral dos empréstimos.• Utilização do dólar americano—Timor Lesteadoptou o dólar americano como a formamais rápida de lidar com uma súbita neces-sidade de divisas. Mas, esta pode não ser amelhor opção a longo prazo. A dolarizaçãotem as suas vantagens na imposição de dis-ciplina monetária mas também tem a des-vantagem de o país perder um importantegrau de flexibilização no lidar com as cir-cunstâncias e os acontecimentos locais. Pode,por exemplo, considerar-se que as impor-tações se tornam muito baratas e as expor-tações pouco competitivas—como aArgentina concluiu à sua custa. Timor Lestetambém terá de competir com países, comoa Indonésia, que podem desvalorizar a suamoeda para adquirir vantagens competitivas.• Custos elevados—muitos investidoresvêem Timor Leste como um país com cus-tos relativamente elevados. Isto resulta, emparte, dos elevados salários—algumas esti-mativas sugerem que os custos salariais emTimor Leste são duas a três vezes mais al-tos que na Indonésia. Mas há também des-pesas mais indirectas da actividade empre-sarial. A fraca infraestrutura e um sistemalegal subdesenvolvido criam situações im-

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previstas e caras. Os investidores, podempor exemplo, pensar que têm todas as au-torizações necessárias ao estabelecimento doseu negócio e mais tarde verificarem queainda lhes falta uma autorização vital.• Questões laborais—actualmente as leis detrabalho são pouco claras acerca dos direi-tos e deveres dos trabalhadores e não hámecanismos rápidos para resolver as dis-putas laborais.• Incertezas legais—Timor Leste defronta-se com a falta de um quadro legal para aactividade empresarial. O Regulamento1999/1 da UNTAET estabelece que amaioria das leis indonésias se aplicam emTimor Leste, com excepção dos casos ondeexista regulamentação própria daUNTAET. Infelizmente, devido à falta decapacidade administrativa e de conhecimen-to das leis, esta legislação é difícil de aplicare as empresas encontram-se vulneráveis adecisões aleatórias e arbitrárias. Isto aplica-se a muitas áreas cruciais, incluindo os se-guros, falências, planeamentos urbanos, tra-balho e uso da terra, bem como leis em-presariais e códigos de construção civil.

Linhas de orientação do IDEDurante o ano de 2001, o gabinete provi-sório debateu um esboço do Regulamentoe Directivas de Investimento Estrangeiroque tentava estabelecer um equilíbrio entreo valor do IDE e a sua capacidade paraestimular o crescimento e a transferência detecnologia, por um lado, e qualquer perdade controlo (real ou entendida como tal)sobre a economia nacional, por outro. Po-rém, o debate sobre isto ficou parado du-rante o período de transição. A promulga-ção de tal directiva iria reduzir fortementea incerteza nos investimentos.

Esta forma de regulamentação necessi-taria de estabelecer diferentes categorias denegócios-alguns reservados aos nacionais eoutros aos investidores estrangeiros sobdeterminadas condições. Poderia ser argu-mentado, por exemplo, que o sector dostransportes internos não necessita de inves-timento estrangeiro e que poderia serreservado para os nacionais. O mesmo sepoderia dizer da venda por grosso ou aretalho dos bens de consumo. Mas noutrasáreas, tais como o petróleo e a distribuiçãode carburantes, que são mais técnicas ecapital intensivas, seria mais apropriado criarjoint ventures. A agricultura também pode

ser um sector reservado aos nacionais, ex-cluindo talvez os projectos pioneiros e deelevado risco fortemente capital intensivos.Contudo, a aquisição e exportação da pro-dução agrícola iria certamente beneficiar daexperiência estrangeira.

No lado industrial, o sector da constru-ção já demonstrou os benefícios das jointventures e a mesma situação iria provavel-mente aplicar-se a outros sectoresfortemente exigentes em organização e equi-pamento. Contudo, aqui seria importanteestabelecer mecanismos para se asseguraro desenvolvimento das capacidades nacio-nais. Adicionalmente, o regime de investi-mentos poderia estabelecer um montantemínimo para estes dado que isto teria tam-bém o efeito de concentrar IDE em áreasonde os recursos locais são inadequados.

Questões fiscaisA maior parte dos países oferecem incenti-vos fiscais aos investidores, sejam eles naci-onais ou internacionais. Alguns permitemregimes especiais de depreciação de capi-tal, por exemplo, ou isentam os investido-res em certas indústrias estratégicas dopagamento de direitos alfandegários e ou-tros impostos, particularmente se as em-presas produzirem para exportação. Ospaíses da Ásia Oriental fizeram bom usodestas técnicas. Certamente que num paíscomo Timor Leste, onde a maior parte dosbens e do capital utilizados no sector mo-derno precisam de ser importados, taxarexcessivamente as importações é um gran-de desincentivo para os investidores. É,porém, necessário algum nível de impos-tos, dado que, com poucos contribuintes,Timor Leste depende, de algum modo, dosimpostos sobre o comércio internacional.Assim, terá de alcançar um equilíbrio entreas necessidades de curto prazo em termosde receitas fiscais e as necessidades de lon-go prazo em termos de investimentos.

Organizações regionaisTimor Leste alcança a sua independêncianuma era de globalização em que é impor-tante estabelecer relações económicas atra-vés de organizações globais e regionais. Dasprimeiras, a mais importante é aOrganização Mundial do Comércio, sendomais ou menos inevitável a necessidade deTimor se tornar membro dela. Outradecisão útil para Timor Leste seria associ-

Timor Lestedefronta-se com afalta de umquadro legal paraa actividadeempresarial

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ar-se aos países da África, Caraíbas e Pací-fico (ACP) que subscreveram o Acordo deCotonou—o sucessor da Convenção deLomé—que, para além de apoio financeiro,oferece o benefício de acesso preferencialaos mercados da União Europeia.

Quanto às organizações económicasregionais, existem duas opções principais:aliar-se à Associação das Nações do SudesteAsiático (ASEAN) ou ao Fórum do PacíficoSul. De facto, esta escolha, que tem impli-cações tanto políticas como económicas, jáfoi, provavelmente, feita dado que a lide-rança de Timor Leste optou por reforçaras relações com a ASEAN.

Isto permitirá acesso aos mercadosadjacentes para exportação e a importaçõesmais baratas. Contudo, num prazo maislongo, poderão surgir conflitos entre sermembro do ACP e do ASEAN. Outra en-tidade regional é o fórum da CooperaçãoEconómica da Ásia-Pacífico.

A economia para as pessoasO arquitecto original dos relatórios de de-senvolvimento humano, o falecido Mahbub

ul Haq, era ele próprio economista e ex-ministro das finanças. Mas, ele não tinhadúvidas sobre onde estavam as reaisprioridades:

Nós estamos a redescobrir a verdade essencial deque as pessoas têm de estar no centro de todo odesenvolvimento. O propósito do desenvolvimento édar às pessoas mais opções. Uma das suas opções éo acesso ao rendimento—não só como um fim em simesmo, mas como um meio de adquirir bem estarhumano.

Há medida que Timor Leste passa de dé-cadas de luta política para os novos desafiosda independência, há muitas decisões paratomar e políticas para implementar. Algu-mas das decisões mais urgentes dirão res-peito ao desenvolvimento económico-—como aumentar os níveis de rendimentonum dos mais novos mas também maispobres países do mundo. Mas o teste finalde todas estas decisões—sejam quanto àagricultura, indústria, turismo ou indústriapetrolífera—é se irão ou não melhorar di-rectamente as vidas das famílias mais pobres.

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ANEXO

Uma breve história de Timor Leste

Investigações antropológicas indicam queas primeiras pessoas a chegar a Timor,aproximadamente 40.000 a 20.000 anosAC, eram do tipo Vedo-Australóide, seme-lhante aos Vedas de Ceilão. Uma segundaonda, que chegou cerca de 3000 anos AC,consistiu nos Melanésios, semelhantes aosque vivem actualmente na Papua NovaGuiné e em algumas ilhas do Pacífico; lín-guas de Timor Leste, tal como Macassae,Bunac e outras parecem ter tido esta ori-gem. Provavelmente devido à naturezamontanhosa do país, estes novos recémchegados não se misturaram com os pri-meiros habitantes, os quais se dirigiram paraas regiões montanhosas do interior. Estapode ser uma razão pela qual Timor Lestetem tantas línguas diferentes.

Uma terceira onda, que chegou cerca de2500 AC, consistiu nos ‘proto-malaios’—pessoas vindas do Sul da China e do Norteda Indochina. Mesmo hoje, os chineses emTimor Leste são uma das mais importantescomunidades comerciais.

Os portugueses colonizam TimorOs portugueses atingiram a costa de Timorpor volta de 1515, no que é hoje o enclavede Oécussi. Porém, foi só após 1700, coma instalação do Governador em Dili, queeles começaram uma mais eficiente explo-ração comercial dos recursos. Fizeram lu-cros enormes com a exportação de ma-deira de sândalo, tendo sobre-exploradoeste recurso. Há medida que o sândalo setornava quase extinto, os portugueses intro-duziram em 1815 o café, juntamente coma cana de açúcar e o algodão.

O colonialismo português assegurou quea população nativa, particularmente os pro-dutores de café, nunca conseguissem acu-mular muito capital. Em vez disso, as recei-tas das exportações do café iam largamen-te para os comerciantes portugueses e chi-neses. O descontentamento em relação a istofoi, talvez, uma das causas de várias rebeli-ões timorenses—incluindo a revolta deManufahi conduzida por D. Boaventura.Após doze anos de resistência e luta contraos portugueses, as forças de D. Boaventura

foram finalmente esmagadas pelas tropasportuguesas em 1912.

Timor Leste permaneceu basicamentesubdesenvolvido, com uma economia ba-seada na troca de géneros. Nas vésperas daII Guerra Mundial, a capital, Dili, não tinhanem electricidade nem abastecimento deágua e apenas existiam algumas estradas.Mesmo assim, antes da Segunda GuerraMundial o Império Japonês consideravaTimor Leste como sendo de importânciaestratégica por três razões. Primeiro, a po-sição geopolítica de Timor facilitaria a ex-pansão do Japão em direcção ao sul, aju-dando a separar as colónias britânicas dosudeste da Ásia da Austrália. Segundo, Por-tugal, que era um dos mais fracos poderescoloniais e tinha declarado a sua neutralida-de entre o ‘Eixo’ e os ‘Aliados’, era consi-derado uma presa fácil para os interessespolíticos e militares do Japão. Terceiro, asreservas de petróleo e de gás no Mar deTimor Leste poderiam ajudar a satisfazeras necessidades de combustível dosjaponeses.

Quando a II Guerra Mundial começou,os australianos e os alemães, cientes da im-portância de Timor Leste como zona tam-pão, aterraram em Dili apesar dos protes-tos portugueses. Os japoneses utilizaramentão a presença dos Australianos comopretexto para uma invasão em Fevereiro de1942 e ficaram até Setembro de 1945.

No final da guerra Timor Leste estavaem ruínas. Aproximadamente 60.000timorenses tinham perdido as suas vidascomo resultado da ocupação japonesa e daresistência aos invasores tentando protegera Austrália. As pessoas também foram for-çadas a dar alimentos aos japoneses, de talforma que quando eles finalmente se ren-deram, o cenário em Timor era de misériahumana e devastação. A população estavapróxima da inanição e a maioria das plan-tações de café, cacau e de borracha tinhamsido abandonadas.

Uma nova era de colonizaçãoOs timorenses e os portugueses ajudaramo país a recuperar mas o desenvolvimento

UMA BREVE HISTÓRIA DE TIMOR LESTE

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foi lento. A taxa de crescimento anual entre1953 e 1962 foi de apenas 2%. Entretanto,as Nações Unidas, através da Resolução1514 (XV) de 14 de Dezembro de 1960declarou Timor Leste um território nãoautónomo sob administração Portuguesa.Portugal tentou séria e sistematicamentedesenvolver Timor Leste através de trêsplanos sucessivos de cinco anos. O dinhei-ro começou a chegar e houve um súbitosurto de crescimento económico que, emmédia foi de 6% ao ano. Não obstante, istonão foi suficiente para ultrapassar décadasde subdesenvolvimento e, em 1974, o ren-dimento per capita era ainda de apenas $98ao ano.

A agricultura absorvia pelo menos 80%da força de trabalho, mas permanecia lar-gamente ao nível de subsistência, represen-tando apenas 33% do PIB em 1962. Asprincipais exportações eram o café, com73% do total, seguidas da copra, borracha,cera e frutos de cerieira. Havia muito pou-ca actividade privada fora do sector docomércio e as oscilações nos preços inter-nacionais das mercadorias conduziram anumerosos défices da balança de pagamen-tos. Entretanto, a população estava a cres-cer a um ritmo de mais de 2% ao ano.

Portugal governou Timor Leste comuma combinação de ‘direct’ e de ‘indirectrule’, governando as populações essencial-mente através das estruturas de poder tra-dicionais, em vez de utilizar os empregadoscivis coloniais. Isto manteve a sociedade tra-dicional timorense praticamente inalterada.

Contudo, em 1974 a ‘transição para ademocracia’ em Portugal teve um súbitoimpacto em todas as suas colónias. O climapolítico em Portugal mudou para a esquer-da e pela primeira vez foi dada aostimorenses a liberdade para formarem osseus próprios partidos políticos.

Após uma série de alterações nas alian-ças políticas, os dois principais partidospolíticos, a União Democrática Timorense(UDT) e a Frente Revolucionária do TimorLeste Independente (FRETILIN) forma-ram uma coligação nos inícios de 1974 pre-parando-se para uma eventual independên-cia sob a orientação da administraçãoPortuguesa.

Em 11 de Agosto de 1975, a UDTsecretamente apoiada pelo governoindonésio, efectuou um golpe de estado,numa tentativa de se apoderar do poder

dos portugueses e travar a ascendência daFretilin, que na altura se tinha tornado nopartido com maior apoio popular. Duran-te a tentativa de golpe de estado da UDT,morreram mais de 2.000 pessoas. A maiorparte dos membros da UDT e muitos dosseus apoiantes fugiram através da fronteirapara Timor Ocidental (Indonésio). AIndonésia permitiu-lhes a entrada se assi-nassem documentos concordando com aintegração de Timor Leste na RepúblicaIndonésia. Nos primeiros dias do golpe deestado, a administração portuguesa deixouDili tendo ido para a ilha de Ataúro, dei-xando à Fretilin o controlo de facto deTimor Leste. Então, a Fretilin administrouo território até à invasão indonésia.

Em 28 de Novembro de 1975, numatentativa de levar este caso às Nações Uni-das e de publicitar as incursões armadas dosindonésios no seu território, a Fretilin de-clarou Timor Leste como a República De-mocrática de Timor Leste (RDTL). ARDTL, foi reconhecida por um pequenonúmero de países, principalmente antigascolónias portuguesas, e teve uma vida cur-ta. Dez dias mais tarde, a 7 de Dezembrode 1975, as tropas indonésias lançaram umainvasão em grande escala.

A ocupação indonésiaA ‘Nova Ordem’ da administração do pre-sidente indonésio Suharto estava determi-nada a impedir a emergência de um novopaís no arquipélago indonésio pois temiaque isso pudesse estabelecer um preceden-te para outras ilhas, particularmente naIndonésia oriental.

O resultado foi a invasão indonésia de7 de Dezembro de 1975. Cerca de 60.000pessoas perderam as suas vidas nos anosiniciais da anexação, contribuindo para umtotal de cerca de 200.000 mortes durante operíodo de administração indonésia. Numesforço para assegurar um maior controlosobre a sua nova província dissidente—cujatomada pela força foi condenada pelasNações Unidas—, a Indonésia investiu so-mas consideráveis em Timor Leste paraaumentar o seu poder militar. Esses investi-mentos deram-se principalmente eminfraestruturas e no desenvolvimento deproduções agrícolas para exportação. Ogoverno indonésio também empregou umagrande quantidade de pessoas na funçãopública.

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79UMA BREVE HISTÓRIA DE TIMOR LESTE

Na sequência da invasão, a maior parteda população dirigiu-se para as montanhas,onde sobreviveram durante três anos viven-do fora do controlo indonésio. Na sequên-cia de um forte bombardeamento aéreodestas áreas e das suas culturas, em 1978 amaioria da população foi forçada a descerpara áreas mais baixas, onde encontraramas tropas indonésias e muitos foram mor-tos. Os militares indonésios começaramentão a realojar a população restante emnovos campos de realojamento então esta-belecidos. Ao restringir aos aldeãos o tem-po de produção da sua alimentação, osmilitares indonésios forçaram-nos a cons-truir estradas, derrube de árvores e ao cul-tivo de culturas cerealíferas para exportação.

Contrariamente aos portugueses, osindonésios favoreceram o ‘direct rule’ numaversão forte. Mas, o povo de Timor Lestenunca aceitou isto e estava determinado apreservar a sua cultura e a identidade naci-onal, na qual a religião e a Igreja Católicadesempenham um papel crucial.

Em 1991 os militares indonésios derampermissão a uma delegação parlamentar dePortugal para visitar Timor Leste. Era su-posto a missão preparar o terreno para umenvolvimento mais sério das Nações Uni-das. Contudo, a visita foi cancelada no últi-mo minuto. Os militares indonésios passa-ram imediatamente ao ataque. Um jovemestudante, Sebastião Gomes, foi morto emuitos outros foram presos.

A 12 de Novembro de 1991, milharesde timorenses marcharam em direcção aocemitério de Santa Cruz para rezar emmemória de Sebastião Gomes. As tropasindonésias abriram fogo e mataram maisde 200 pessoas. O “Massacre de SantaCruz” marcou um ponto de viragem nabrutal ocupação de Timor Leste à medidaque as chocantes imagens eram difundidasà volta do mundo. Pessoas e organizaçõescomeçaram a pôr maior pressão nos seusgovernos e nas organizações internacionaisa favor de Timor Leste.

A captura e a prisão do líder da resis-tência, Xanana Gusmão, em 1992 tambémchamou a atenção para a situação dos di-reitos humanos. A Indonésia foi sujeita auma crescente crítica internacional por par-te dos governos, agências e ONGs, culmi-nando em Outubro de 1996 com a atribui-ção do prémio Nobel da Paz a dois líderestimorenses, Bispo Carlos Ximenes Belo e

José Ramos Horta em representação dopovo de Timor Leste. Isto ajudou ao cres-cente apoio ao movimento de independên-cia, prosseguido desde o final dos anos 80através do crescente envolvimento dos jo-vens nas áreas urbanas de Dili e Baucau.

Em 1997 e 1998, o governo da NovaOrdem de Suharto (Orde Baru) foi agita-do por uma severa crise económica, queinflamou os protestos sociais em Jacarta quelevaram a um aumento cada vez maior dospedidos para mudanças políticas naIndonésia. À medida que a situação conti-nuou a deteriorar-se, Suharto foi obrigadoa resignar e foi substituído pelo seu vicepresidente, Dr. Habibie.

Com a preocupação de se distinguir doperíodo de Suharto e para melhorar a ima-gem internacional da Indonésia, o PresidenteHabibie afirmou que não estava na dispo-sição de manter o ‘fardo’ de Timor Lestee, em Janeiro de 1999 ofereceu ao seu povouma ‘grande área de autonomia’ dentro daRepública Indonésia. Habibie tinha decla-rou também que o Governo indonésio es-tava preparado para “deixar ir Timor Les-te” no caso de os timorenses rejeitaremaquela proposta de autonomia.

Finalmente foi acordado, em Maio de1999 e sob os auspícios do Secretário Ge-ral das Nações Unidas, Kofi Annan, umacordo entre os governos português eindonésio para se fazer um referendo so-bre a autonomia (ou “consulta popular”como foi então designado). As NaçõesUnidas começaram a preparar-se para oreferendo através do estabelecimento daMissão de Assistência das Nações Unidaspara Timor Leste, UNAMET. A 3 de Ju-nho de 1999 as Nações Unidas içaram asua bandeira no solo de Timor Leste. A 30de Agosto de 1999 os timorenses votarammaciçamente—78%—contra a autonomiae a favor da independência da Indonésia.Os grupos de milícias pró-integração e asforças armadas indonésias responderamcom extrema brutalidade, estendendo a vi-olência e as pilhagens ao longo do país.Como resultado das suas acções, um terçoda população foi forçada a deslocar-se paracampos de refugiados em Timor Ociden-tal e nas ilhas vizinhas. Outro terço procu-rou refúgio nas montanhas de Timor Les-te. Entre 1.000 e 2.000 pessoas foram da-das como mortas na violência. À medidaque partiam, os soldados indonésios e as

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milícias por eles apoiados destruíram casase outros edifícios, incluindo os escritórios eo equipamento das Nações Unidas e dasONGs.

Na sequência de veementes protestosinternacionais pelos tumultos provocadospelos para-militares e da pressão governa-mental—particularmente dos Estados Uni-dos, Austrália e Portugal ---, o Conselho deSegurança das Nações Unidas autorizouuma força multinacional (INTERFET), sobo comando unificado de um Estado mem-bro, a Austrália, a restaurar a paz e a segu-rança. As Nações Unidas também lançaramuma operação humanitária em grande es-cala que incluíu oferta de alimentos e ou-tros serviços básicos.

A 19 de Outubro de 1999, a AssembleiaPopular Consultiva da Indonésia reconhe-

ceu formalmente os resultados do referen-do. Depois, em 25 de Outubro, o Conse-lho das Nações Unidas, através da Resolu-ção 1272 (1999), estabeleceu a Administra-ção Transitória das Nações Unidas emTimor Leste (UNTAET) como uma ope-ração integrada, multi-dimensional, de pazresponsável pela administração de TimorLeste durante a sua transição para a inde-pendência.

Em 30 de Agosto de 2001, no aniver-sário do referendo, Timor Leste efectuoueleições para representantes políticos, cujatarefa foi a de elaborar uma nova Consti-tuição que foi aprovada a 24 de Março de2002. Em 14 de Abril, ocorreu a eleiçãodo primeiro Presidente, ganha por XananaGusmão. A independência estava marcadapara 20 de Maio de 2002.

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1985 1990 1995 1999 20011

População total (pessoas))))) 630.676 747.557 839.719 779.567 794.298

Taxa de crescimento anual da população (%) 3,46 2,35 -1,5 0,90

População urbana (% do total) .. 7,8 9,5 9,8 23,53

População entre os 0-4 anos (% do total) 19,2 18,0 16,6 16,2 17,1

População entre os 5-9 anos (% do total) 14,0 14,3 15,6 15,1 14,9

População com menos de 15 anos (% do total) 40,6 41,5 43,5 41,1 43,9

População entre os 15-64 anos (% do total) 57,6 56,5 54,8 57,0 53,7

População com idade de 65 e mais anos (% do total) 1,8 2,0 1,7 1,9 2,4

Rácio de dependência (%) 79,8 78,5 81,6 78,6 82,2

Urbano 77,3 71,0 73,8 69,2 74,3

Rural 83,5 79,7 82,4 80,8 84,4

Rácio dos sexos( homens/mulheres) .. 1,07 1,03 1,03 1,01

Taxa de fertilidade total (por mulher) .. 5,7 5,1 3,8 ..

Dimensão média familiar, total (pessoas) 5,1 5,0 4,9 4,7 5,1

Urbano .. 5,8 6,0 4,7 4,9

Rural .. 5,0 4,8 4,7 5,2

Mulheres chefes de família, total (%) .. 9,4 8,9 8,9 10,0

Urbano 10,2 11,7 9,8 12,1

Rural 9,3 8,6 8,7 9,2

Densidade populacional (pessoas/km2)2 37 50 56 57,3 55,7

QUADRO ANEXO 1

Indicadores Demográficos

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93. 1) A população total a meio do ano, em 2001 baseou-se nos Registos Iniciaisde Maio de 2001 (793.000 pessoas) publicados pela UNTAET (Registo Civil de Timor Leste, 2 de Julho de 2001) e juntando-se o número de refugiados retornados em Junho de 2001 (1.298 pessoas), publicado pela UNHCR (Resumo da RepatriaçãoVoluntária, 20 de Março de 2002). As estatísticas sobre a população, estruturadas por grupos etários e rácio de dependênciabasearam-se nos Registos Civis de Timor Leste. Outros indicadores (população urbana, dimensão das famílias médias e famíliaschefiadas por mulheres, basearam-se nos resultados dos Inquéritos às Famílias de Timor Leste de 2001. 2) A área total estáestimada em 14.874 quilómetros quadrados. 3) A percentagem de população vivendo em áreas urbanas em 2001 não écomparável com dados de anos anteriores dado que se baseia em dados dos Inquéritos às Famílias de Timor Leste de 2001, oqual teve uma amostra de apenas 1.800 famílias (9.113 indivíduos) enquanto os dados anteriores se baseavam em resultadosde inquéritos ou censos da era Indonésia, que tinham amostras de cerca de 5.314 famílias (24.698 pessoas). As duas fontestambém utilizaram diferentes definições das áreas rurais.

Fontes: Censos Populacionais (1980, 1990), Inquéritos Intercensos (1985, 1995), Inquéritos Sócio Económicos às Famílias,Susenas 1999, Common Country Assessment (CCA) de Timor Leste (Nações Unidas), Condições Sociais e Económicas em TimorLeste (Pedersen, J. e Marie Arneberg, 1999), Inquérito às Famílias de Timor Leste, 2001.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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1993 1996 1997 1999 2001

Esperança de vida à nascença, total (ano) 52,2 53,9 54,4 56,0 57,4

Homens 50,7 52,3 52,6 54,2 55,6

Mulheres 53,7 55,5 56,1 57,7 59,2

Taxa de mortalidade infantil, total (por 1000 nados vivos) 108,6 99,7 92,8 86,0 80,1

Homens 118,1 108,9 101,9 94,7 88,4

Mulheres 99,6 91,1 84,2 77,8 72,3

Taxa de mortalidade infantil, total (por 1000 nados vivos) 75,6 66,8 64,3 56,6 50,3

Homens 75,9 67,6 65,7 58,0 51,8

Mulheres 75,2 66,0 63,0 55,2 48,8

Taxa de mortalidade juvenil (crianças com menos de 5 anos), 204,6 183,5 177,6 158,8 143,5

total (por 1000 nados vivos)

Homens 217,7 196,3 191,3 171,6 155,5

Mulheres 192,3 171,5 164,6 146,7 132,1

Taxa de mortalidade materna (por 100,000 nados vivos) .. .. .. 420 ..

Probabilidade à nascença de não sobreviver à idade 40 anos, total (%) 45,9 41,1 39,8 35,6 32,2

Homens 48,5 43,8 42,7 38,3 34,8

Mulheres 43,4 38,7 37,1 33,1 29,8

Probabilidade à nascença de não sobreviver à idade 60 anos, total (%) 103,0 93,8 91,2 83,2 76,6

Homens 115,3 105,6 103,3 94,5 87,2

Mulheres 91,3 82,7 79,9 72,6 66,6

Crianças subnutridas e com idade inferior a 5 anos (%) .. 50,6 .. 44,5 ..

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93. A esperança de vida à nascença em 1997 foi calculada dos dados brutos dosInquéritos às Famílias de Timor Leste de 2001, utilizando-se Modelos de Coale-Demeney (equações Trussel) para o modeloOcidental, sendo as estimativas para outros anos baseadas na extrapolação (curva melhor adaptada) de um modelo com váriasestimativas provenientes de diversas fontes (incluindo as estimativas de 1997) e aplicando a mesma metodologia (ver ‘Notasobre o cálculo dos indicadores’).

Fontes: Censo Indonésio sobre População 1990, Inquéritos Intercenso Indonésio (SUPAS), 1995, Inquéritos Sócio Económicos àsFamílias Indonésias (SUSENAS, 1993, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999), Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001.

QUADRO ANEXO 2

Indicadores sobre esperança de vida à nascença e mortalidade

QUADROS ANEXOS

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1993 1996 1997 1999 2001

Taxa mensal de morbilidade, total (%) 20,0 20,9 22,5 18,0 13,0

Urbano 24,4 20,4 19,8 17,2 ..

Rural 19,6 20,9 23,3 19,0 ..

Taxa mensal de morbilidade para crianças 28,0 30,4 28,2 23,5 25,2

com menos de 5 anos (0-4 anos) [%]

Urbano 39,6 38,2 27,0 22,6 ..

Rural 27,0 29,6 29,4 24,4 ..

Nascimentos acompanhados por pessoal qualificado, total (%) 16,2 23,4 27,3 30,0 ..

Urbano 44,9 53,9 52,9 62,2 ..

Rural 13,5 20,0 24,3 25,4 ..

Crianças vacinadas com menos de 5 anos (0-4 anos), total (%) 57,7 73,6 78,5 75,1 51,8

Urbano 65,9 87,1 80,5 86,0 ..

Rural 56,9 72,1 78,2 73,5 ..

Taxa de visitas a instalações de saúde modernas/pessoa, total (%) 11,4 12,7 14,5 13,8 53,9

Urbano 17,0 13,5 15,7 14,9 ..

Rural 10,9 12,6 13,1 11,7 ..

Taxa de visitas a instalações de saúde modernas

de crianças com menos de 5 anos (0-4 anos), total (%) 18,0 21,1 20,5 17,9 60,6

Urbano 29,9 30,7 22,7 19,0 ..

Rural 16,9 20,0 18,2 15,2 ..

Número médio de crianças nascidas de mulheres

que nunca casaram com 35 anos e mais, total 4,7 4,5 4,4 4,2 4,2

Urbano 4,8 4,7 4,2 4,5 ..

Rural 4,7 4,5 4,4 4,2 ..

Rácio criança-mulher, total 70,5 65,9 63,4 54,2 77,7

Urbano 66,3 62,1 65,0 56,0 ..

Rural 70,9 66,3 63,2 54,0 ..

Taxa de utilização de contraceptivos modernos, total (%) 16,7 18,7 21,9 19,9 5,6

Urbano 19,7 30,0 26,3 27,1 ..

Rural 16,4 17,4 21,5 19,1 ..

QUADRO ANEXO 3

Indicadores sobre a saúde, fertilidade e planeamento familiar

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93.

Fontes: Dados recolhidos de SUSENAS para 1993, 1996, 1997, 1999; Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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1993 1996 1999 2001

Taxa de alfabetização de adultos, total (%) 35.6 40.4 40.6 43.0

Urbano 69.3 79.6 80.4 81.5

Rural 32.5 36.2 36.6 37.2

Homens 45.3 48.6 46.9 43.1

Mulheres 25.8 32.0 33.9 42.8

Taxa bruta de matrícula, total (%) 52.6 55.5 59.1 56.1

Urbano 55.1 57.2 63.2 60.3

Rural 48.6 51.1 54.3 50.1

Homens 56.8 58.1 62.1 58.4

Mulheres 50.1 54.2 57.9 55.1

Educação primária 83.1 90.6 94.4 111.6

Educação secundária inferior 62.7 60.5 63.9 62.4

Educação secundária superior 32.2 36.1 37.2 27.0

Educação terciária 2.8 3.3 5.1 3.9

Taxa líquida de inscrição, total (%) 38.4 41.6 45.6 41.2

Urbano 40.8 43.7 49.1 47.5

Rural 35.2 37.4 40.2 38.1

Homens 41.1 43.2 48.5 44.9

Mulheres 36.3 37.6 42.7 38.4

Educação primária 65.3 71.0 74.2 76.2

Educação secundária inferior 25.0 27.0 36.3 33.1

Educação secundária superior 13.5 17.9 20.4 17.6

Educação terciária 1.6 2.0 3.8 2.8

Taxa de repetência (%) .. .. .. 14

Homens .. .. .. 13

Mulheres .. .. .. 15

Média de anos de escolaridade idade de 20-54, total (anos) 3.0 3.7 3.8 3.5

Homens 3.8 4.5 4.5 4.3

Mulheres 2.1 2.9 3.2 3.0

Urbano 6.2 8.0 7.8 7.5

Rural 2.7 3.2 3.3 3.1

QUADRO ANEXO 4

Indicadores sobre a educação

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93.

Fontes: Dados recolhidos de SUSENAS para 1993, 1996, 1997, 1999; Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001.

QUADROS ANEXOS

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1993 1996 1998 1999 2001

Famílias com menos de 10 m2 de área de chão

per capita, como % do total 67,8 59,6 53,5 51,6 56,9

Urbano 60,7 49,6 45,0 49,1 56,3

Rural 68,4 60,5 54,2 51,9 57,4

Famílias com chão principalmente de terra/bambu, como % do total 73,8 69,9 63,7 64,5 64,0

Urbano 35,5 25,0 21,9 20,4 62,7

Rural 76,8 73,7 67,6 69,8 64,8

Famílias com parede principal de bambu, como % do total 38,2 41,9 37,4 40,7 37,4

Urbano 19,3 21,4 12,5 21,8 23,1

Rural 39,7 43,7 39,7 43,0 55,3

Famílias com telhado principal de madeira/colmo/folhas, 51,4 49,4 42,6 43,4 37,4

como % do total

Urbano 22,1 11,5 9,0 8,2 16,6

Rural 53,8 52,6 45,7 47,7 50,9

Famílias com electricidade como principal fonte de iluminação, 16,9 22,7 27,2 30,1 35,9

como % do total

Urbano 53,7 72,6 80,8 83,0 75,2

Rural 13,9 18,2 22,3 23,7 11,1

Famílias com instalações próprias de água potável, como % do total .. 14,0 16,7 20,4 18,6

Urbano .. 46,5 45,5 40,6 35,9

Rural .. 11,3 14,1 18,0 7,6

Famílias com água potável canalizada/bombeada, como % do total 29,1 23,9 26,0 27,6 46,3

Urbano 68,1 83,6 78,4 78,2 64,9

Rural 26,0 18,9 21,2 21,6 34,3

Famílias com instalações próprias de saneamento, como % do total 32,4 45,8 50,8 53,6 ..

Urbano 49,2 69,2 72,1 77,7 ..

Rural 31,0 43,8 48,9 50,7 ..

Famílias com instalações sanitárias, como % do total .. 11,0 14,4 14,2 13,8

Urbano .. 39,9 53,6 54,0 51,2

Rural .. 8,6 10,8 9,5 8,5

Famílias com esgotos e fossas sépticas, como % do total .. 12,6 15,0 12,7 14,8

Urbano .. 53,1 55,1 40,7 53,2

Rural .. 9,2 11,3 9,3 12,0

Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes de dados pré e pós 1999, ver ‘Nota sobre o cálculodos indicadores’ na página 87.

Fontes: Dados recolhidos de SUSENAS para 1993, 1996, 1998, 1999; Insan Hitawasana Sejahlera 2000; IndicadoresSociais e Provinciais de Pobreza; SUSENAS 1993-1999; Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001.

QUADRO ANEXO 5

Indicadores sobre a habitação e condições de vida

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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1993 1996 1999 2001

Número de pobres, total (em milhares de pessoas) 292,9 267,6 270,3 341,0

Urbano 14,8 11,5 19,6 50,0

Rural 278,1 256,1 250,7 291,0

Rácio de incidência, total (% dos pobres na população total) 37,0 31,7 29,9 41,0

Urbano 22,0 14,2 20,1 26,0

Rural 38,4 33,6 31,1 46,0

Índice do gap de pobreza, P1 (%) 2,5 2,3 2,3 2,8

PÍndice de rigor de pobreza, P2 (%) 9,2 7,2 8,0 9,7

Índice de Gini, total (%) 34,8 34,1 30,5 35,4

Urbano 39,0 38,4 35,7 37,1

Rural 33,5 31,8 28,1 32,3

Consumo (médio),total (rupias/pessoa/mês)1 28.360 38.090 78.269 346.639

1º Quintil 17.693 23.763 50.007 95.906

2º Quintil 29.705 39.897 82.929 158.202

3º Quintil 38.634 51.889 106.742 226.439

4º Quintil 51.285 68.880 142.104 336.085

5º Quintil 97.794 131.346 259.127 916.061

Mediana do consumo, total (rupias/pessoa/mês)1 21.540 29.134 64.280 225.308

1º Quintil 17414 23.554 50.622 96.231

2º Quintil 27447 37.123 82.297 157.304

3º Quintil 35908 48.567 106.203 225.308

4º Quintil 48139 65.111 140.726 334.304

5º Quintil 80425 108.779 219.645 620.295

Parte dos alimentos no consumo 69,6 70,7 73,0 65,9

Urbano 62,6 62,8 67,3 ..

Rural 70,3 71,5 73,7 ..

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver “Notasobre os cálculos dos indicadores” na página 87.

Fontes: Dados recolhidos de SUSENAS para 1993, 1996, 1999; Insan Hitawasana Sejahlera 2000; Indicadores Sociais eProvinciais de Pobreza; SUSENAS 1993-1999; Inquérito às Famílias de Timor Leste 2001.

QUADRO ANEXO 6

Indicadores sobre pobreza e consumo

QUADROS ANEXOS

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90

1985 1990 1995 1999 2001

Taxa da participação da população de 15 anos e mais

na mão-de-obra, total (%) 65,6 67,0 71,8 67,3 56,0

Masculino 83,0 84,0 89,6 87,6 76,2

Feminino 47,5 49,1 53,4 52,4 35,6

Urbano .. 54,5 64,2 63,4 52,1

Rural 65,6 68,1 72,6 70,4 61,2

Mão de obra à procura de trabalho (%) 0,6 1,7 5,3 5,8 7,8

Masculino 0,6 1,4 3,6 3,9 6,6

Feminino 0,6 2,4 8,2 8,3 10,2

Urbano .. 7,3 14,6 13,8 15,3

Rural 0,6 1,3 4,6 4,7 7,0

Crianças dos 10-14 anos na mão-de-obra, total (%) 23,1 22,2 19,9 20,5 9,2

Masculino 22,7 23,4 21,1 22,7 9,4

Feminino 23,7 20,9 18,3 18,9 8,9

Urbano 6,0 5,8 5,7 3,2

Rural 23,1 23,6 22,3 23,1 14,5

Employment structure by sector 1) (as % of total workers)

Sector A 84,1 73,6 73,2 71,5 73,2

Sector M 4,7 6,2 6,2 6,8 4,8

Sector S 11,2 20,2 20,6 21,7 22,0

Estrutura no emprego por sector 1) (como % dos trabalhadores totais)

Emprego próprio 45,1 43,7 52,0 51,2 59,3

Trabalhadores na família 43,1 36,4 30,2 30,0 21,2

Patrão 0,3 0,9 0,4 0,8 1,7

Empregado remunerado 11,5 18,9 17,4 18,0 17,4

Intensidade das horas trabalhadas (% dos trabalhadores totais)

Menos de 25 horas/semana 30,2 27,9 26,5 26,1 14,9

25—44 horas/semana 45,9 53,6 54,2 54,9 44,1

45 horas e mais/semana 23,9 18,5 19,3 19,0 41,1

Número de funcionários públicos .. 27.439 34.270 9.035 ..

Masculino .. .. .. 25.720 ..

Feminino .. .. .. 8.550 ..

No sector educacional .. .. .. .. 5.125

No sector da saúde .. .. .. .. 1.087

Em outros sectores .. .. .. .. 2,823

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93. 1) Aqui, o sector industrial foi agrupado em três categorias principais: sector A(agricultura); sector M (incluindo a mineração e transporte, indústria manufactureira, electricidade, gás, água e construção) esector S (inclui comércio, restaurantes e hotéis, transporte, armazenamento e comunicação, financiamento de negócios e outrosserviços pessoais).

Fontes: Censo de População Indonésio (1990); SUSENAS 1999; Common Country Assesment para Timor Leste (UN).

QUADRO ANEXO 7

Indicadores sobre mão de obra

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Estimativa Projecção Projecção

PIB total (em milhões de US$)1 315 368 383 390 263 312 380

PIB per capita (US$) 374 429 442 424 3372 3963 4784

Alterações no crescimento do PIB real (%) 9 11 4 -2 -38 15 18

Taxa de inflação (IPC em Dili: preços em rupias) 8 5 10 80 140 20 ..

PIB real por sector (como % do PIB total) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 ..

Agricultura 27,5 24,0 24,2 24,9 25,5 21,3 ..

Minas e pedreiras 0,9 1,0 1,0 1,2 1,0 1,4 ..

Indústria manufactureira 3,0 3,3 3,3 3,5 3,4 3,5 ..

Electricidade, gás & água 0,6 0,7 0,8 0,8 0,9 0,7 ..

Construção 21,8 23,2 22,1 21,7 15,7 23,2 ..

Comércio, hotéis e restaurantes 11,0 10,4 10,3 10,3 10,9 8,1 ..

Transportes & comunicações 8,7 10,0 10,3 10,3 11,0 8,1 ..

Finanças e serviços comerciais 3,9 3,9 4,5 4,0 5,2 4,6 ..

Administração pública e defesa 21,4 22,3 22,4 22,1 25,4 27,8 ..

Serviços comunitários pessoais 1,2 1,2 1,1 1,2 1,1 1,2 ..

Quotas do PIB regional

a preços correntes (como % do PIB total)

Covalima 4,7 4,6 4,1 4,9 .. .. ..

Ainaro 4,5 5,8 5,5 4,7 .. .. ..

Manufahi 6,1 6,0 4,6 5,1 .. .. ..

Viqueque 5,5 5,6 5,8 6,2 .. .. ..

Lautem 3,8 3,9 3,9 3,9 .. .. ..

Baucau 8,0 7,9 6,9 6,0 .. .. ..

Manatuto 4,5 4,3 3,9 3,4 .. .. ..

Dil i 30,7 30,0 33,6 34,6 .. .. ..

Aileu 3,5 3,5 2,9 2,1 .. .. ..

Liquiçá 5,6 5,8 5,3 5,7 .. .. ..

Ermera 9,9 10,5 10,8 11,0 .. .. ..

Bobonaro 6,7 6,9 6,3 7,7 .. .. ..

Oecussi 5,4 5,3 5,5 4,9 .. .. ..

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilidade dos dados entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Notasobre os cálculos dos indicadores’ na página 93. 1) Calculado na base na taxa de câmbio da paridade do poder de compraconstante (ano base, 1996); 2) Calculado através da divisão do PIB total pela população estimada em 1999 (779,567pessoas); 3) Como na nota 1) com a população estimada a meio do ano 2000 (786.932 pessoas); 4) Como na nota 1) coma população estimada a meio do ano 2001 (794.298 pessoas).

Fontes: Dados PIB em 1998-2001 retirados do IMF Statement at the Donor's Meeting on East Timor (Oslo, Dezembro de2001); Dados do PIB em 1995-1997 retirados do BPS (1999); Regional Income at District Level 1993-1998; CommomCountry Assesment for East Timor (UN).

QUADRO ANEXO 8

Indicadores económicos

QUADROS ANEXOS

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1996 1997 1998 2000

Terra adequada à agricultura (hectares) .. .. .. 600.000

Terra adequada sob cultivo (% da área total de terra) .. .. .. 40

Área de cultivo de arroz—terras húmidas (hectares) 17.418 12.400 12.054 ..

Área de cultivo de arroz—terras secas (hectares) 2,266 1,798 1,772 ..

Produção média de arroz—terras húmidas (quintal/hectare) 28,04 28,18 28,18 ..

Produção média de arroz—terras secas (quintal/hectare) 16,65 16,85 16,25 ..

Produção de arroz—terras húmidas (ton) 48.835 34.938 33.968 ..

Produção de arroz—terras secas (ton) 3.772 3.030 2.880 ..

Produção de milho (ton) 106.616 99.204 58.931 ..

Produção de mandioca (ton) 53.781 41.379 32.092 ..

Produção de batata doce (ton) 15.681 14.997 11.989 ..

Produção de amendoim (ton) 3.335 3.302 4.669 ..

Produção de soja (ton) 1.244 783 690 ..

População rural trabalhando na agricultura 79 .. .. 75

(% da população rural total)

População tendo a agricultura como principal fonte de rendimentos 76 .. .. 70

(% da população rural total)

QUADRO ANEXO 9

Indicadores agrícolas

Fonte: Statistical Yearbook of Indonesia, 1996 e 1999, Common Country Assesment for East Timor (UN).

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Nota sobre o cálculo dos indicadores

Os indicadores apresentados neste relatóriobaseiam-se nos dados disponíveis de umavasta gama de fontes bem como de estimati-vas directas e indirectas. Contudo, deve serenfatizado que os dados sobre o desenvolvi-mento humano em Timor Leste são limita-dos e de confiança questionável. Diferentesfontes produzem frequentemente diferentesestimativas para os mesmos indicadores. Istoacontece principalmente para as estatísticase os indicadores relativos a 2001. Assim, éimportante utilizar os dados de forma pru-dente, particularmente quando se compara-ra o ano de 2001 com os anos antecedentes.

Os indicadores no Capítulo 1—o índicede desenvolvimento humano (IDH), o índi-ce de pobreza humana (IPH-1) e o índice dedesenvolvimento ajustado ao género(IDG)—foram produzidos através da apli-cação dos métodos habituais. Apesar de osindicadores poderem ser utilizados como re-ferência para a medição do progresso no de-senvolvimento humano, melhorias posterio-res nos dados e nos sistemas de monitorizaçãodeverão fornecer, no futuro, indicadores demaior confiança.

Esperança de vida à nascençaOs dados sobre a esperança de vida à nas-cença baseiam-se em vários inquéritos à po-pulação de Timor Leste. Estes dados inclu-em o censo à população Indonésia de 1990,o inquérito intercenso de 1995 (SUPAS), umasérie de indicadores sobre as característicassócio-económicas das famílias (SUSENAS1993, 1996, 1999) e os resultados das condi-ções de vida das famílias de Timor Leste em2001. Dados sobre a média de nados vivos eo número de crianças sobreviventes de mãescom idades entre os 15 e os 50 anos tambémforam integrados no programa de software,Mortpak, o qual foi utilizado para produziros seguintes índices: probabilidade de mor-rer antes dos 40 anos, taxa de mortalidadeinfantil, a probabilidade de morrer entre aidade de 1 e 5 anos e a esperança de vida ànascença. O output do programa também criadois modelos com as suas variantes possíveis,embora para Timor Leste—como para ou-tros países em vias de desenvolvimento—asestimativas destes indicadores utilizem Mo-delos de Coale-Demeny (equações Trussel)com uma variante de modelo Ocidental. Cada

NOTA SOBRE O CÁLCULO DOS INDICADORES

estimativa da esperança de vida e os corres-pondentes índices de mortalidade referem-se a um período de há quatro anos relativa-mente ao tempo de referência do respectivoinquérito. Dado que as estimativas obtidas apartir destes índices produzem uma tendên-cia errática, devido a diferentes dimensõesdas amostras cobertas nestes inquéritos, asestimativas finais apresentadas neste relató-rio basearam-se numa extrapolação, aplican-do-se a curva de regressão logarítmica quemais se ajustou. No final desta nota apresen-ta-se uma explicação mais detalhada acercada extrapolação deste modelo.

Literacia dos adultosAs taxas de literacia dos adultos deste relató-rio utilizam estimativas de séries doSUSENAS (para 1993, 1996, 1997 e 1999)e o inquérito às famílias de Timor Leste rea-lizado em 2001 (para 2001). Esta fonte dedados pode não ser exactamente compará-vel devido a diferenças na cobertura da amos-tra (ver explicações posteriores para os da-dos demográficos). O inquérito de TimorLeste para 2001 é a única fonte de dadossobre literacia de adultos.

Rácios brutos de inscriçãoOs rácios combinados de inscrição neste re-latório também utilizam estimativas doSUSENAS (para 1993, 1996, 1997 e 1999)e os inquéritos às famílias de Timor Leste2001 (para 2001). Tentou-se determinar astaxas brutas de inscrição em 2001 a partirdos dados oficiais da Departamento Educa-cional e a da UNTIL recorrendo-se ao nú-mero de estudantes inscritos em cada nívelde educação e a população de estudantes porfaixas etárias baseada nas datas não oficiaisde nascimento; estes dados provêm dos re-sultados preliminares nos registos civis emmeados de 2001. Os rácios brutos de inscri-ção obtidos a partir deste cálculo dão umaestimativa elevada—cerca de 80—que se as-sume ser improvável dado que estimativasanteriores variaram entre 52 e 59.

Os rácios brutos de inscrição definem-secomo o número de estudantes matriculadosem cada nível escolar em percentagem dapopulação que pertence ao grupo de idadeque corresponde àquele nível (escola primá-ria: 7-12 anos, escola secundária inicial: 13-

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15 anos, escola secundária final: 16-18 anose terciária: 19-24 anos). Os rácios são, poisafectados pela idade e o sexo das estimativasespecíficas da população. Também podemesconder diferenças importantes entre paí-ses devido às diferenças nos grupos etáriosque correspondem a um determinado nívelde educação e à duração dos programas deeducação. A incidência de repetição pode tam-bém criar distorção nos rácios. Os rácios lí-quidos de inscrição são melhores indicadoresde acesso à educação ou ao conhecimentona medida em que medem a inscrição ape-nas para um determinado grupo etário. To-davia, este relatório utiliza o rácio combina-do de inscrição como uma componente doíndice de desenvolvimento humano (IDH)de forma a manter as comparações interna-cionais nos moldes dos relatórios de desen-volvimento humano global.

PIB per capita ($PPP)Os dados acerca do PIB per capita ($PPP)utilizados neste relatório baseiam-se na de-claração do Fundo Monetário Internacional(FMI) e no Encontro de Doadores em TimorLeste em Oslo em Dezembro de 2001. Con-tudo, é difícil obter estimativas para o PIBper capita devido à falta de confiança estatís-tica não apenas para o PIB mas tambémpara a população.

Estatísticas sobre indicadores associadosEste relatório também apresenta outros indi-cadores de desenvolvimento humano. Estesprovêm de várias fontes, incluindo as sériesdos inquéritos indonésios SUSENAS e o in-quérito às famílias de Timor Leste 2001 (paraindicadores de educação, saúde, fertilidade,planeamento familiar, habitação e condiçõesde vida, pobreza e consumo), o censo à po-pulação indonésio de 1990 e o os inquéritosintercensos SUPAS de 1985 e 1995 (paraestatísticas demográficas e de mão-de-obra),as Estatísticas Anuais da Indonésia em 1996e 1999 (para estatísticas agrícolas), a declara-ção do FMI sobre a Reunião de Doadoresem Timor Leste em Oslo (Dezembro de2001) e o relatório BPS-EstatísticasIndonésias sobre “Rendimentos Regionais aNível Distrital, 1993-1998” (para indicado-res económicos). Quando se fizerem compa-rações ao longo do tempo é importante terem atenção esta variedade de fontes.

Também é muito limitado o facto dos in-quéritos às famílias de Timor Leste para 2001

apenas cobrir 1.800 famílias e 9.113 indiví-duos—uma amostra muito menor do que autilizada em inquéritos anteriores em TimorLeste durante a administração Indonésia. Oinquérito SUSENAS de 1999, por exemplo,cobre 5.314 famílias e 24.698 indivíduos—uma amostra quase três vezes maior do quea dos inquéritos às famílias de Timor Lestepara 2001. Esta discrepância na amostra iráobviamente afectar a comparabilidade entreas duas fontes.

Esperança de vida e mortalidadeOs indicadores para a esperança de vida ànascença e mortalidade foram calculadas uti-lizando um método indirecto. Isto aplica-se àtaxa de mortalidade infantil (IMR), taxa demortalidade das crianças (CMR), a taxa demortalidade para crianças com menos de cin-co anos (U5MR), e a probabilidade de à nas-cença não se sobreviver na idade dos 40-60anos.

O primeiro passo foi integrar dados so-bre o número de nados vivos e o número decrianças que sobreviveram de acordo comos escalões etários no programa Mortpakproduzido pelo Instituto de População Les-te-Oeste, Honolulu, Hawai. Os dados pro-vêm do censo indonésio da população, doinquérito intercenso Indonésio de 1995, da-dos do SUSENAS de 1993 e 1999 e os inqu-éritos às famílias de Timor Leste em 2001.

Os resultados deste procedimento produ-ziram indicadores da taxa de mortalidade in-fantil, a probabilidade de morrer entre as ida-des de 1 e 5 anos e a esperança de vida ànascença por grupos etários de mulheres.Estes indicadores são fornecidos em doismodelos: Modelos das Nações Unidas (Equa-ções Palloni-Heligman) e os Modelos Coale-Demeny (Equações Trussel). O primeiromodelo tem cinco variantes: América Latina,Chile, Ásia do Sul, Ásia Oriental e Geral. Osegundo modelo tem quatro variantes: Oes-te, Norte, Este e Sul. Tal como para a maio-ria dos outros países Asiáticos, o modelo es-colhido e a variante para Timor Leste é omodelo para o Oeste de Coale-Demeny(Trussel).

Dado que os indicadores da esperança devida e da mortalidade obtidos a partir destasdiferentes fontes de dados geram uma ten-dência errática, a estimação prevista baseia-se na curva que melhor se adapta, utilizan-do-se uma equação de regressão.

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

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Definições de termos estatísticos

DEFINIÇÕES DE TERMOS ESTADÍSTICOS

Coeficiente de dependência: refere-se aonúmero de população com idade < 15anose > 65 anos como percentagem da popu-lação trabalhadora com idade de 15–64anos.Consumo médio: refere-se à média dovalor nominal dos gastos totais mensais das-famílias.Consumo, mediana: refere-se ao valorcentral nominal dos gastos totais mensaisdas famílias analisadas.Consumo, parte dos alimentos no: refe-re-se à média percentual de gastos em ali-mentação relativamente ao total dos gastosmensais das famílias.Contribuição dos trabalhadores famili-ares: definido de acordo com a Classifica-ção Internacional da Situação no Trabalhocomo sendo uma pessoa que trabalha sempagamentos numa empresa económicagerida por um familiar e que faz parte domesmo lar.Crianças vacinadas com menos de 5 (ida-des 0-4), total: refere-se ao número depessoas com idades 0-4, que receberam al-guma forma de vacinação, em percentagemda população total dos 0-4 anos.Escolaridade, número médio de anos:refere-se à média de anos de escolaridadecompleta da população com idades entreos 20-54 anos.Esperança de vida à nascença: o núme-ro de anos que uma criança recém nascidapode viver se os níveis prevalecentes dastaxas de mortalidade em idades específicasna altura do nascimento permanecereminalteradas durante a vida da criança.Estrutura de emprego por sector prin-cipal: emprego na indústria, agricultura ouserviços definido de acordo com o siste-ma de Classificação Internacional das Acti-vidades Industriais (ISIC) (revisão 2 e 3). Aindústria refere-se à mineração e exploraçãode pedreiras, manufacturas, construção ebens públicos (gás, água e electricidade). Aagricultura refere-se à agricultura, caça, silvi-cultura e pesca. Os serviços referem-se àsvendas por grosso e a retalho; restaurantese hotéis, transportes, armazenamento e co-municações, finanças, seguros, serviços denegócios e estatais bem como serviços co-munitários, sociais e pessoais.

Famílias com chão principal de terra/bambu: refere-se ao número de famílias quevivem em casas com chão principal de terra/bambu em percentagem do total de famílias.Famílias com electricidade como luzprincipal: refere-se ao número de famíliasque vivem em casas com electricidade comoprincipal fonte de energia em percentagemdo total de famílias.Famílias com esgotos ou fossas sépti-cas: refere-se ao número de famílias quevivem em casas com esgotos ou fossas sép-ticas relativamente ao total de famílias.Famílias com fontes de água potávelcanalizada/bombeada: refere-se ao nú-mero de famílias que vivem em casas comfontes de água potável canalizada/bombe-ada relativamente ao total de famílias.Famílias com instalações próprias deágua: refere-se ao número de famílias quevive em casas com abastecimento própriode água potável relativamente ao total de-famílias.Famílias com instalações próprias desaneamento: refere-se ao número de fa-mílias que vivem em casas com instalaçõessanitárias próprias relativamente ao total de-famílias.Famílias com menos de 10 metros qua-drados de área de chão per capita: refere-se ao número de famílias com menos de10 metros quadrados de área de chão percapita em percentagem do total de famílias.Famílias com paredes principalmenteconstruídas em bambu: refere-se ao nú-mero de famílias que vivem em casas comparedes construídas principalmente embambu relativamente ao total de famílias.Famílias com quartos de banho: refere-se ao número de famílias que vivem emcasas com casas de banho relativamente aototal de famílias.Famílias com telhado principalmenteconstruído em madeira/colmo/folhas:refere-se ao número de famílias que mo-ram em casas cujos telhados sãomaioritariamente construídos de madeira/colmo/folhas relativamente ao total de fa-mílias.Fontes de água seguras, população quenão utiliza: calculado como 100 menos apercentagem de pessoas que utilizam fon-

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96 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE 2002

tes de água melhoradas. Ver fontes de águaseguras, população utilizando fontes a utilizar asseguras.Fontes de água seguras, população queutiliza: percentagem de pessoas com ra-zoável acesso a um adequado sistema deacesso de água potável. Define-se um aces-so razoável como a disponibilidade de seter pelo menos 20 litros diários por pessoaprovenientes de uma fonte até um quiló-metro de local de utilização. As fontes se-guras incluem ligações às casas, poços combombas manuais, poços protegidos, nas-centes protegidas e retenção de águas daschuvas das chuvas (não incluem vendedo-res, camiões cisternas, poços desprotegidose nascentes).Força da mão de obra, crianças 10—14anos: refere-se à incidência de trabalho in-fantil, definido como o número de crian-ças de 10 a 14 anos que fazem parte daforça de trabalho (a trabalhar ou à procurade trabalho) em percentagem do númerototal de população com idades entre os 10e os 14 anos.Força de trabalho: todos os que estãoempregados, incluindo pessoas acima deuma determinada idade (este relatório utili-za 15 anos e mais) que, durante o períodode referência (este relatório utiliza a semanaantes do inquérito), estavam a trabalhar emempregos remunerados, com um trabalhomas não a trabalhar ou auto-empregados)e desempregados (incluindo pessoas acimade uma idade específica que, durante o pe-ríodo de referência estavam sem trabalho,disponíveis e à procura de trabalho).Índice de desenvolvimento humano(IDH): índice compósito medindo os re-sultados médios de três dimensões básicasdo desenvolvimento humano: uma vida lon-ga e saudável, conhecimento e um nível devida decente. Para detalhes sobre a formade construção do índice ver nota técnica 1.Índice de desenvolvimento relacionadocom o género (GDI): índice compósitomedindo as melhorias médias nas três di-mensões básicas captadas pelo índice dedesenvolvimento humano—uma vida lon-ga e saudável, conhecimento e padrões de-centes de vida—mas ajustado de forma amedir as desigualdades entre os homens eas mulheres. Para detalhes sobre como secalcula o índice, ver nota técnica 1.Índice de educação: um dos três índicesque faz parte do índice de desenvolvimen-

to humano. Baseia-se na taxa de alfabetiza-ção de adultos e na taxa bruta de inscriçãonos ensinos primário, secundário e terciário.Para detalhes sobre a forma de cálculo doíndice, ver nota técnica 1.Índice de esperança de vida: um dos trêsíndices que compõem Índice de Desenvol-vimento Humano. Para detalhes sobre adeterminação do índice, ver nota técnica 1.Índice de Gini: mede de que forma a dis-tribuição do rendimento (ou gastos comconsumo) entre indivíduos ou famílias numpaís ou região se desvia de uma distribui-ção perfeitamente igual. Um valor de 0 re-presenta uma igualdade perfeita, um valorde 100 refere-se a uma desigualdadeperfeita.Índice de incidência da pobreza(headcount index): refere-se à proporçãoda população que vive abaixo da linha depobreza. Ver linha de pobreza do rendimento. Oíndice é uma das três medidas indicandomudanças no nível de pobreza entre ospobres propostas por Foster, Geer eThorbecke (1984; a partir de agora chama-dos índices FGT). Os índices FGT incluemP0 (índice de incidência), P1 (índice de gapde pobreza) e P2 (índice de profundidadede pobreza).Índice de pobreza humana (IDH-1)para países em desenvolvimento: índicecomposto medindo as carências nas trêsdimensões básicas captadas no índice dedesenvolvimento humano — longevidade,conhecimento e nível de vida. Para detalhessobre a forma de construção do índice vernota -técnica 1.Índice de preços no consumidor (IPC)(variação): refere-se às mudanças no custoao consumidor médio da aquisição de umcabaz de bens e serviços que podem serfixados ou alterados em períodos de tem-po específicos.Índice de profundidade da pobreza: re-fere-se a uma medida de distribuição derigor do índice, a qual é sensível às altera-ções da distribuição de rendimentos (oudespesas como uma aproximação dos ren-dimentos) entre os pobres O índice de pro-fundidade da pobreza é um dos três índi-ces FGT. Ver índice de incidência da pobreza.Esta medida satisfaz a maioria dos axio-mas de bem estar, nomeadamente “axio-ma da monotonicidade” (com tudo o res-to constante, um declínio nos rendimentosdas famílias pobres deve aumentar a medi-

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da de pobreza) e o “axioma de transferên-cia” (com tudo o resto constante, uma trans-ferência pura de rendimentos de uma fa-mília pobre para outra menos pobre deveaumentar a medida de pobreza).Índice do gap de pobreza: refere-se aogap médio de pobreza na população (P1),expresso como proporção da linha de po-breza. O índice de gap de pobreza é umdos três índices FGT. Ver índice de incidênciada pobreza. Por exemplo, P1 = 0,028 signifi-ca que o défice agregado dos pobres relati-vamente à linha de pobreza, quando calcu-lada a média de todas as famílias (pobresou não), representa 2,8% da linha depobreza. P1/P0 é o gap de pobreza médiados pobres como proporção da linha depobreza.Índice do PIB: um dos três índices quecompõem o índice de desenvolvimentohumano. Baseia-se no PIB per capita ($PPC)..Linha de pobreza, população abaixo da:refere-se à percentagem de população quevive abaixo de uma linha pré determinadade pobreza estimada para Timor Leste. Alinha de pobreza define-se como um nívelmínimo de gastos necessários para um in-divíduo satisfazer as suas necessidades, in-cluindo bens alimentares e não-alimentares.Este nível mínimo foi calculado, para TimorLeste, utilizando os dados sobre gastos emconsumo obtidos nos Inquéritos Sócio-económicos Nacionais (Susenas) de 1993,1996 e 1999 e do Inquérito às Famílias deTimor Leste em 2001. Os resultados daslinhas de pobreza a partir destes cálculossão 23.206 rupias/per capita/mês em 1993,32.742 rupias/per capita/mês em 1996,78.396 rupias/per capita/mês em 1999 e161.264 rupias/per capita/mês em 2001.Mão de obra à procura de trabalho: re-fere-se à percentagem de população comidade de 15 anos e mais que estão à procu-ra de trabalho durante uma semana antesdo inquérito relativamente ao total da mãode obra com idade de 15 anos e mais.Matrícula, Taxa bruta de : número deestudantes matriculados num determinadonível de ensino, independentemente da ida-de, em percentagem da população escolarcom idade oficial para estar nesse nível. Vernível de educação.Matrícula, Taxa líquida: número de es-tudantes matriculados num nível educacio-nal e com idade oficial para frequentar essenível, em percentagem da população esco-

lar com idade oficial para estar nesse nível.Ver nível de educação.Média de crianças nascidas de mulhe-res com 35 e mais anos que nunca casa-ram : refere-se ao número de crianças nas-cidas de mulheres com 35 e mais anos quenunca casaram como percentagem da po-pulação total de mulheres com 35 e maisanos que nunca casaram.Nascimentos acompanhados por pesso-al qualificado: percentagem de partos as-sistidos por um médico (ou por um espe-cialista, um não especialista ou uma pessoacom qualificações de parteiro/a que possadiagnosticar e tratar complicações obstétri-cas bem como partos normais), enfermei-ra ou parteira (pessoa que concluiu comsucesso o curso específico de parteira e estáapta a dar a necessária supervisão, tratamen-to e aconselhamento às mulheres durante agravidez, período de parto e pós-parto etratar dos recém nascidos e crianças), ouparteira tradicional e qualificada (pessoa queinicialmente adquire a sua capacidade aju-dando a partos ou através da aprendiza-gem com outras pessoas habituadas a as-sistir partos e que teve formação subsequen-te e que está agora integrado no sistema decuidados de saúde).Nível de educação: encontra-secategorizado como primário, secundário outerciário de acordo com a Classificação In-ternacional da Educação (ISCED). A edu-cação primária (nível 1 do ISCED) dá os ele-mentos básicos da educação nas escolasprimárias e elementares. A educação secundá-ria (níveis 2 e 3 do ISCED) baseia-se empelo menos quatro anos de instrução pré-via no primeiro nível e dá instrução geral,especializada ou ambas na escola média,secundária, liceu, escola de formação deprofessores a este nível e escolas vocacionaisou técnicas. A educação terciária (nível 5 – 7do ISCED) refere-se à educação em insti-tuições como faculdades, colégios de pro-fessores e escolas profissionais de nível su-perior – exigindo como condição mínimade admissão evidência da frequência de umnível equivalente de conhecimento.Peso a menos relativamente à idade,crianças com menos de cinco anos: in-clui falta de peso de forma moderada ousevera, que é definida como inferior a doisdesvios padrões da mediana do peso mé-dio da população de referência.

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PIB (produto interno bruto): a produ-ção total de bens e serviços para uso finalproduzidos por uma economia, quer porresidentes quer por não residentes, indepen-dentemente da afectação para satisfazersolicitações internas ou externas. Não incluideduções para depreciação de capital físi-co ou esgotamento e degradação dos re-cursos -naturais.PIB per capita (PPC US$): ver PIB (pro-duto interno bruto) e PPC (paridade dopoder de compra).PNB (Produto Nacional Bruto): integrao PIB mais os rendimentos líquidos do es-trangeiro, que é o rendimento dos factores(trabalho e capital)que os residentes rece-bem do exterior menos os pagamentos si-milares feitos aos não-residentes que con-tribuem para a economia nacional.Pobres, número de: refere-se ao númeroabsoluto de população que vive abaixo dalinha de pobreza. Ver linha de pobreza, popu-lação abaixo da.População total: refere-se à população defacto, o que inclui todas as pessoas actual-mente presentes num dado local.População urbana: a população, a meiodo ano, vivendo nas áreas legalmente defi-nidas como urbanas.PPC (paridade do poder de compra):uma taxa de câmbio que tem em conside-ração as diferenças de preços entre os paí-ses, permitindo comparações internacionaisda produção real e dos rendimentos. A taxade PPC US$, tem o mesmo poder de com-pra na economia nacional que $1 tem nosEstados -Unidos.Probabilidade à nascença de não sobre-viver a uma idade específica: calculadocomo 1 menos a probabilidade de sobre-viver a uma idade especificada para umdado grupo. Ver probabilidade de, à nascença,sobreviver a uma idade específica.Probabilidade de, à nascença, sobrevi-ver a uma idade específica: probabilida-de de uma criança recém nascida sobrevi-ver a uma idade específica, se sujeita aospadrões de mortalidade para idadesespecíficas.Rácio crianças–mulher: refere-se ao nú-mero de pessoas com idades compreendi-das entre os 0—4 anos em percentagemdo número de população feminina comidades compreendidas entre os 15 e os 45anos.

Rácio de sexo: refere-se ao rácio entre onúmero mulheres comparado com o nú-mero de homens.Rendimentos ganhos (PPP US$), esti-mados (feminino e masculino): calcula-do com base no rácio dos salários dasmulheres para trabalho não-agrícola relati-vamente aos salários não-agrícolas dos ho-mens, na parte das mulheres e dos homensque integram a população economicamen-te activa e na população total feminina emasculina e o PIB per capita (PPP US$). Paradetalhes sobre sesta estimativa, ver nota téc-nica 1.Rendimentos ganhos, rácio estimado demulheres relativamente aos homens: orácio estimado do total dos rendimentosauferidos por mulheres relativamente aosauferidos por homens.Taxa de alfabetização, adultos: a percen-tagem de pessoas com idades de 15 e maisque podem, na vida do dia-a-dia e com-preendendo o conteúdo do que estão a fa-zer, ler e escrever um pequeno texto.Taxa de analfabetização de adultos: cal-culada como 100 menos a taxa de alfabeti-zação dos adultos. Ver taxa de alfabetizaçãode adultos.Taxa de crescimento anual do PIB percapita: taxa anual de crescimento do PIBcalculado pelo método dos mínimos qua-drados, calculadas a partir do PIB per capitaa preços constantes, em unidades de moe-da local.Taxa de crescimento populacional, anu-al: refere-se à taxa de crescimento anualexponencial da população para o períodoindicado. Ver população, total.Taxa de fertilidade, total: número mé-dio de crianças que uma mulher pode ge-rar se as taxas de fertilidade específica paraa sua -idade permanecerem inalteradas du-rante a sua vida.Taxa de morbidade, crianças com me-nos de 5 anos (idades 0—4), mensal:refere-se ao número de pessoas com ida-des entre os 0-4 anos, doentes no mês an-terior ao inquérito, em percentagem dapopulação total do mesmo grupo etário.Taxa de morbidade, total, mensal: refe-re-se ao número de pessoas que, por doença,interrompem as suas actividades diárias detrabalho/estudo no mês anterior ao inqué-rito, em percentagem da população total.Taxa de mortalidade com menos de cin-co anos: probabilidade de se morrer entre

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a nascença e exactamente cinco anos de ida-de expresso por cada 1.000 nado-vivos.Taxa de mortalidade infantil: a probabi-lidade de morrer entre o nascimento e aidade exacta de um ano expresso por cada1.000 nados vivos.Taxa de mortalidade materna regista-da: número anual registado de mortes demulheres devido a gravidez por cada100.000 nados vivos, não ajustado tendoem consideração os bem documentadosproblemas de falta de registo e de má clas-sificação da causa de óbito.Taxa de participação da mão de obra,total: refere-se à percentagem do total demão-de-obra com idade de 15 anos e maisque estão a trabalhar/empregados ou àprocura de trabalho/desempregados du-rante a semana anterior ao inquérito em re-lação ao total da população com idade de15 anos e mais.Taxa de repetição: refere-se ao númerode estudantes (na escola primária e níveissecundários) que repetiram o mesmo níveldo ano anterior em percentagem do totalexistentes durante o tempo do -inquérito.Taxa de utilização de contraceptivoscom métodos modernos, total: percen-tagem de mulheres com idades de 15–49anos actualmente casadas e que utilizam

métodos modernos de contracepção empercentagem de todas as mulheres com ida-des entre os 15–49 e actualmente casadas.Taxa de visita a instalações modernasde saúde/pessoal, crianças com idadeinferior a 5 (0-4 anos): refere-se ao nú-mero de pessoas com idade entre os 0-4anos que visitam as modernas instalaçõesmédicas (hospitais, centros de saúde e clíni-cas) ou o pessoal (médicos ou outro pes-soal especializado) durante o mês anteriorao inquérito, em percentagem da popula-ção total com idades entre os 0-4 anos.Taxa de visita às instalações modernasde saúde/pessoal, total: refere-se ao nú-mero de pessoas que visitam as modernasinstalações médicas (hospitais, centros desaúde, clínicas) ou pessoal (médicos ou ou-tro pessoal especializado) durante o mêsanterior ao inquérito em percentagem dapopulação total.Trabalhadores profissionais e técnicos,mulheres: mulheres que detêm posiçõesdefinidas de acordo com a ClassificaçãoInternacional Standard das Ocupações(ISCO-88) em termos de profissionais defísica, matemática, engenharia e ciências (eprofissionais associados), ciência da vida eprofissionais da saúde (e profissionais as-sociados) e outras profissões e seus similares.