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UFSM Dissertação de Mestrado UMA ANÁLISE DE GÊNERO EM ARTIGOS ELETRÔNICOS DE LINGÜÍSTICA APLICADA COM FOCO EM TÓPICOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA _________________________________ Fabiana Diniz Kurtz PPGL Santa Maria, RS, Brasil 2004

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  • UFSM

    Dissertação de Mestrado

    UMA ANÁLISE DE GÊNERO EM ARTIGOS ELETRÔNICOS DE LINGÜÍSTICA 

    APLICADA COM FOCO EM TÓPICOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

    _________________________________

    Fabiana Diniz Kurtz

    PPGL

    Santa Maria, RS, Brasil

    2004

  • UMA ANÁLISE DE GÊNERO EM ARTIGOS ELETRÔNICOS DE LINGÜÍSTICA 

    APLICADA COM FOCO EM TÓPICOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

    por

    Fabiana Diniz Kurtz

    Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de PósGraduação em Letras, Área de Concentração em Estudos Lingüísticos, da Universidade Federal 

    de Santa Maria, (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau deMestre em Letras

    PPGL

    Santa Maria, RS, Brasil

    2004

  • Universidade Federal de Santa MariaCentro de Artes e Letras

    Programa de PósGraduação em Letras

    A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a dissertação de Mestrado

    UMA ANÁLISE DE GÊNERO EM ARTIGOS ELETRÔNICOS DE 

    LINGÜÍSTICA APLICADA COM FOCO EM TÓPICOS E PROCEDIMENTOS 

    DE PESQUISA

    elaborada por

    Fabiana Diniz Kurtz

    Como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Letras

    COMISSÃO ORGANIZADORA:

    ____________________________________Désirée MottaRoth – Orientadora

    ____________________________________Kanavillil Rajagopalan  1º argüidor

    ____________________________________Cláudia Stumpf Toldo – 2ª argüidora

    Santa Maria, 30 de março de 2004

  • AGRADECIMENTOS

    À Désirée, marco em minha formação acadêmica, pela lição de vida provada a cada dia   de   nossa   convivência,   pelo   símbolo   de   profissionalismo   e   competência,   por   ter demonstrado tanto respeito, carinho, amizade, incentivo e confiança em meu trabalho e, fundamentalmente,  por   terme ensinado  o  valor  e  a   importância  desta    extraordinária profissão.

    À minha família, em especial à minha mãe, Cleuza, e meu irmão, Fábio, pelo amor, carinho, paciência, e principalmente pela dedicação que somente aquelas pessoas que realmente nos amam conseguem ter e dar em momentos tão difíceis.

    Ao meu noivo, Denílson, pelo apoio incansável desde sempre, pelo respeito, amor e companheirismo constante e pelos “empurrões”, imprescindíveis nas horas de fraqueza e cansaço.

    À Luciane Ticks, colega e amiga, com quem pude compartilhar os momentos de angústia e alegria, e que, com toda sua experiência, ajudoume a trilhar esses dois anos, com certeza, de forma mais suave e construtiva.

    Aos   colegas  e  amigos  do  LabLeR,   em especial  à  Pati,  Grasi   e  Franciele   que, sempre solidárias, mesmo nas horas de correria, sempre estiveram dispostas a ajudar.

    À Graci, Roséli, Léo, Lu, Val e principalmente à Flávia, colegas e amigos, sempre dispostos a responder às minhas perguntas de corredor sobre o mestrado ou sobre minha pesquisa.

    Às amigas Gabi e Debi, que, desde a graduação, vêm sempre me ajudando nos momentos mais difíceis, sempre com uma palavra de estímulo e de amizade sincera.

    À Capes, pela bolsa concedida.

  • RESUMO

    UMA ANÁLISE DE GÊNERO EM ARTIGOS ELETRÔNICOS DE LINGÜÍSTICA APLICADA COM FOCO EM TÓPICOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

    Autora: Fabiana Diniz KurtzOrientadora: Dra. Désirée MottaRoth

    A publicação em periódicos acadêmicos parece apresentar, conforme autores apontam (Marcuschi, 2001; Valauskas, 1997), maior prestígio que textos publicados em coletâneas porque servem como veículo   fácil,  econômico e   rápido para divulgar  o  conhecimento. Aliado   a   isso,   o   meio   eletrônico   vem   sendo   considerado   um   veículo   de   produção   e consumo de conhecimento essencial e inovador, sendo que uma de suas influências mais relevantes na sociedade é  o   rápido e crescente processo de edição e distribuição de artigos   acadêmicos   em   periódicos   eletrônicos   (ejournals)   (Holoviak   &   Seitter,   1997). Nesses   termos,   na   área   de   Inglês   para   Fins   Acadêmicos,   pesquisas   sugerem   a necessidade   de   investigar   como   esses   novos   ambientes   de   publicação   ou   “gêneros emergentes” são configurados (Auría & Alastrué, 1998:80). Neste estudo, quarenta artigos acadêmicos eletrônicos coletados de dois  ejournals  em Lingüística Aplicada (Language Learning and Technology  e  Reading online)  são analisados em termos de sua estrutura textual e contextual com duplo objetivo: 1) verificar os tópicos de pesquisa presentes nos artigos que compõem o  corpus;  e  2)  os procedimentos metodológicos que os autores utilizam ao investigar tais tópicos. Para analisar o contexto, foram realizadas entrevistas com   os   autores  dos  artigos   que   compõem  o  corpus  deste   estudo.  A  análise   textual evidenciou que os artigos podem ser reunidos em um tópico geral,   “Aprendizagem de línguas assistida por computador”, com ênfase em quatro subtópicos: a) processos de letramento;   b)   interface   tecnológica;   c)   formação   de   professores;   e   d)   análise   do discurso/análise textual. Os procedimentos metodológicos associados a estes tópicos são semelhantes na medida em que, para cada tópico observado, os autores parecem utilizar procedimentos metodológicos específicos de coleta e análise de dados.  Em relação a esse   aspecto,   observamos   um   maior   uso   de   métodos   quantitativos,   em   oposição   a qualitativos. Outro aspecto evidenciado na análise diz respeito à presença de artigos de relato  de  experiência.  Nesses  artigos,  os  autores   referemse  à   pesquisa  realizada de forma pessoal, através do uso de pronomes pessoais, fazendo também um maior uso de processos mentais. Nos demais artigos, os autores dão preferência, aparentemente, ao uso   de   expressões   impessoais   e   nominalizações   ao   referirse   à   pesquisa   realizada, utilizando   processos   materiais   e   relacionais.   A   presença   de   artigos   de   relatos   de experiência   parece   indicar   uma   variação   ao   relato   de   pesquisa   em   que   os   autores apresentam uma seção de metodologia com procedimentos de coleta e análise de dados. A pessoalidade explicitada pelos autores ao referiremse à pesquisa, associada ao uso de processos materiais e mentais nesses artigos parece indicar que os autores assumem 

  • explicitamente  a   responsabilidade  sobre  a  pesquisa  realizada,  além de exporem seus pensamentos acerca do estudo.

  • ABSTRACT

    A GENRE ANALYSIS IN ELECTRONIC RESEARCH ARTICLES IN APLLIED LINGUISTICS WITH FOCUS ON RESEARCH TOPICS AND PROCEDURES

    Author: Fabiana Diniz KurtzAdvisor: Dra. Désirée MottaRoth

    Texts   published   in   academic   journals   seem   to   present,   as   pointed   out   by   authors (Marcuschi, 2001; Valauskas, 1997), more status than texts published in edited books since they represent an easy, economic and quick vehicle to disseminate knowledge. Linked to this   aspect,   the   electronic   medium   has   been   considered   an   essential   and   innovative knowledge production and consumption vehicle. One of its most relevant influences within society is the rapid and unfolding processes of editing and distributing research articles by electronic journals (ejournals) (Holoviak & Seitter, 1997). In these terms, in the English for Academic Purposes area, researches suggest the need of investigating how these new publication   environments   or   “emergent   genres”   are   configurated   (Auría   &   Alastrué, 1998:80).   In   this   study,   forty   electronic   research   articles,   collected   from   two   Applied Linguistics   ejournals   (Language   Learning   and   Technology   and   Reading   online)   are analyzed according to their macrostructure and context with a twofold purpose: 1) verify the research topics observed in the corpus; and 2) the methodological procedures the authors use to analyse these topics. To investigate the context, interviews were carried out with the authors of the articles that are part of the  corpus  collected for this research. The textual analysis evidenced that the articles can be grouped in a general topic, “Computerassisted language learning”, with emphasis in four subtopics: a) literacy processes; b) technological interface;   c)   teacher   education;   and   d)   discourse   and   textual   analysis   analysis.   The methodological procedures associated to these topics are similar in the sense that, to each research   topic   observed,   the   authors   seem   to   use   specific   collection   and   analysis procedures. In relation to this aspect, we observed a higher use of quantitative procedures in opposition to qualitative ones. Another aspect evidenced in the analysis is related to the presence of experiencing articles. In these articles, the authors refer to the research in a personal way, through the use of personal pronouns and mental processes. In the other articles, apparently, the authors give preference to the use of impersonal expressions and nominalizations when referring to the research, using material and relational processes. The presence of experiencing articles seems to indicate a variation to the research report in   which   the   authors   present   a   methods   section   with   explicit   collection   and   analysis procedures. The explicit personality when referring to the research associated to the use of material  and mental  processes  in   these articles seem to  indicate   the authors explicitly assume the responsibility over the research and expose their thoughts towards the study.

  • SUMÁRIO

    RESUMO .................................................................................................

    ABSTRACT ............................................................................................. 

    LISTA DE TABELAS ..............................................................................

    LISTA DE FIGURAS ...............................................................................

    LISTA DE ANEXOS ................................................................................

    CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ...............................................................   

    1.1 Contextualização ...............................................................................

    1.2 Objetivos ............................................................................................

    1.3 Organização do estudo ......................................................................

    CAPÍTULO 2  REVISÃO DA LITERATURA ..........................................

    2.1 Gêneros textuais ...............................................................................

    2.2 Gêneros acadêmicos: o Artigo Acadêmico Eletrônico (AAE) ............

    2.3 Práticas discursivas e publicação acadêmica eletrônica ...................

    2.4 A seção de metodologia em AAEs ....................................................

    2.4.1 Pesquisa quantitativa .....................................................................

    2.4.2 Pesquisa qualitativa  .......................................................................

    2.4.3 A organização retórica da seção de metodologia em AAEs ..........

    2.4.4 O papel do autor na seção de metodologia em AAEs ...................

    CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA ............................................................

    3.1 Contexto dos AAEs ...........................................................................

    3.1.1 Descrição dos ejournals ................................................................

    3.1.2 Entrevistas com os autores ............................................................

    3.2 Critérios de seleção do corpus ..........................................................

    v

    vii

    xi

    xii

    xiii

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    1

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    38

    39

    42

    43

  • 3.2.1 Artigos selecionados do LLT ..........................................................

    3.2.2 Artigos selecionados do ROL .........................................................

    3.3 Critérios de análise textual do corpus ...............................................

    CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................

    4.1 Artigos com seção de metodologia ...................................................

    4.1.1   Componente   textual:   organização   retórica   da   seção   de   metodologia 

    .............................................................................................

    4.1.2  Componente   ideacional   dos   artigos:   tópicos   e   procedimentos   de   pesquisa 

    ..................................................................................................

    4.1.2.1 Subtópico I: Processos de Letramento .......................................

    4.1.2.2 Subtópico II: Interface Tecnológica ............................................

    4.1.2.3 Subtópico III: Formação de Professores ....................................

    4.1.2.4 Subtópico IV: Análise do Texto / Discurso ..................................

    4.1.3 Procedimentos metodológicos quanto aos processos ...................

    4.1.4 Procedimentos metodológicos quanto ao componente interpessoal: o uso de 1ª 

    pessoa .............................................................

    4.2 Artigos classificados como Relatos de Experiência (RE) ..................

    4.2.1 Componente ideacional e tópicos de pesquisa ..............................

    4.2.2 Componente textual: a organização do RE ....................................

    4.2.3 Tipos de processos nos RE ...........................................................

    4.2.4 Componente interpessoal: o papel do autor no RE .......................

    CAPÍTULO   5   –   CONSIDERAÇÕES   FINAIS,   LIMITAÇÕES   DA   PESQUISA   E 

    SUGESTÃO PARA PESQUISAS FUTURAS .................

    5.1 Considerações finais ........................................................................

    44

    46

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    95

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    100

    102

    110

    110

  • 5.2 Limitações da pesquisa ...................................................................

    5.3 Sugestão para pesquisas futuras ....................................................

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................

    112

    113

    115

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1 Lista de artigos coletados do LLT ........................................ 

    Tabela 3.2 Lista de artigos coletados do ROL .......................................  Tabela 4.1 

    Itens   lexicais   de   tendência  quantitativa  e   qualitativa  associados  aos  movimentos 

    retóricos   da   seção   de   metodologia   de   AAEs 

    ......................................................................................................

    Tabela 4.2 Resumo dos tópicos e procedimentos de pesquisa adotados em 30 AAEs 

    do corpus ..........................................................

    Tabela 4.3 Artigos sobre “Processos de letramento” ............................

    Tabela 4.4 Artigos sobre “Interface tecnológica” ...................................

    Tabela 4.5 Artigos sobre “Formação de professores” ...........................

    Tabela 4.6 Artigos sobre “Análise do Texto / Discurso” ........................

    Tabela 4.7 Artigos de RE com ênfase em “Processos de letramento”...

    Tabela 4.8 Artigos com ênfase em “Formação de professores” ............

    Tabela 4.9 AAEs e REs .........................................................................

    44

    46

    57

    62

    66

    74

    78

    82

    96

    97

    104

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Representação esquemática da seção de metodologia segundo Oliveira 

    (2003) ........................................................................

    Figura 4.1Tópicos de pesquisa verificados nos AAEs ..........................

    Figura 4.2 Pesquisas qualitativas e quantitativas em relação aos periódicos 

    selecionados ........................................................................

    Figura 4.3 Pesquisas qualitativas e quantitativas em relação aos subtópicos de 

    pesquisa .........................................................................

    29

    61

    64

    64

  • LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 Emails enviados aos autores .................................................

    Anexo 2 Respostas dos autores aos emails enviados ........................

    Anexo 3 Amostras da seção de Metodologia de AAEs com tendência qualitativa de 

    cada ejournal selecionado .............................................

    Anexo 4 Amostras da seção de Metodologia de AAEs com tendência quantitativa de 

    cada ejournal selecionado ..........................................

    Anexo 5 Amostras da seção de Relato de Experiência de REs ..........

    123

    125

    128

    137

    142

  • CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

    1.1 Contextualização

    A   informática,   particularmente,   a   Internet,   é   uma   das   principais   modificações 

    geradas pelo  progresso da  tecnologia  em nossa sociedade,  especialmente no que se 

    refere   aos   campos   do   pensamento,   ensino,   disseminação   da   informação   e   pesquisa 

    científica (Máttar Neto, 2002). Nossas formas de pensar, agir e comunicar se modificam 

    em função desse novo meio, inclusive os modos de ler e publicar no contexto acadêmico.

    Apesar da variação na freqüência e no tipo de acesso aos recursos da Internet, 

    esse serviço de informação já faz parte do contexto acadêmico, dada a possibilidade de 

    se acessar periódicos acadêmicos eletrônicos gratuitamente. A rede mundial, ou  World  

    Wide Web (www), portanto, passa a ser vista como um instrumento de disseminação de 

    informação   relevante   ao   estudo   acadêmico   e   que,   portanto,   não   pode   ser   ignorado 

    (Slaouti, 2002; Stapleton, 2003).

    Em meio a esse contexto, pesquisas na área de Análise de Gêneros Textuais e 

    Ensino de Línguas para Fins Acadêmicos em nível nacional (Cristóvão, 2002; MottaRoth, 

    1995; 2002c) e internacional (Bhatia, 1993; Swales, 1990) têm explorado como se dá a 

    produção de conhecimento em diferentes áreas. Dentre estes estudos, MottaRoth (1995) 

    e  Swales  (1990),  por  exemplo,   têm investigado que práticas de consumo, produção e 

    publicação  de   textos  permeiam   esse   processo  e  que  gêneros   textuais   são   utilizados 

    efetivamente nas comunidades disciplinares em meio à era da tecnologia da informação.

    Dada a expansão da publicação acadêmica no meio eletrônico (Marcuschi, 2001; 

    Slaouti,   2002;   Stapleton,   2003;   MottaRoth   et   al.,   2003),   este   estudo   enfatiza 

    particularmente o gênero textual AAE, publicado em ejournals na Internet. Tomo por base 

    pesquisas   anteriores,     desenvolvidas   pelo   grupo   de   pesquisa   ao   qual   pertenço 

    (GrPesq/CNPq, “Linguagem como Prática Social”), especialmente trabalhos como os de 

    Hendges   (2001)  e  Oliveira   (2003),   sobre  a  análise  de  AAEs  em Lingüística  Aplicada 

    (referida neste estudo como LA).  Esses estudos enfatizam a  importância  do AAE em 

    termos   de   seu   uso   na   academia   como   veículo   de   disseminação   de   conhecimento, 

  • servindo de via de comunicação entre pesquisadores, profissionais e alunos de graduação 

    e pósgraduação 1.

    Nesse   sentido,   de   forma   a   dar   continuidade   a   esses   estudos,   proponhome   a 

    investigar   a   seção   de   metodologia   em   AAEs,   tendo   em   vista   a   dificuldade   de 

    pesquisadores mais e menos experientes para redigir tal seção, conforme verificado por 

    MottaRoth (1999) na disciplina de Redação Acadêmica, do Programa de PósGraduação 

    em Letras da UFSM. 

    Parece importante ressaltar ainda que não apenas o AAE e o meio eletrônico são 

    relevantes no processo de troca de informação nos tempos atuais, mas também que o 

    papel do professor de Línguas para Fins Acadêmicos nesse novo contexto é crucial na 

    formação acadêmica do aluno. Cabe justamente a este profissional a função de orientar os 

    alunos para criarem espaços de pesquisa para si mesmos, além de divulgar sua área de 

    pesquisa (Swales, 1987: 62).

    1.2 Objetivos

    O panorama discutido acima revela o papel da Internet como contexto potencial de 

    consulta e publicação de textos acadêmicos. A possibilidade de disponibilizar um AA por 

    meio da Internet permitiu o surgimento dos chamados  ejournals, periódicos eletrônicos 

    cujo foco é a publicação e divulgação, na Internet, de trabalhos produzidos por uma dada 

    comunidade disciplinar.

    No entanto, devido à recência do meio eletrônico enquanto instância de consulta e 

    publicação  acadêmica,   podemos  observar   a   lenta   fase  de   transição  em  que  este   se 

    encontra,   com   transformações   que   atingem   não   apenas   o   meio   onde   estão   sendo 

    1 Conforme pesquisa realizada por MottaRoth (2000), com pesquisadores da ALAB e ABRALIN, no ano de 2000, o AA foi apontado como um dos gêneros mais utilizados para consulta e publicação. O meio eletrônico foi referido por tais pesquisadores como uma instância de consulta de textos acadêmicos e, na época, ainda pouco  usado  para  publicação   (MottaRoth,  2000).  Outra  pesquisa,   realizada  por  Nie  &  Erbring   (2000), demonstrou que cerca de 38% dos usuários (americanos) da Internet têm idade acima de 18 anos, sendo esta a faixa etária em que estão iniciando ou desenvolvendo sua vida acadêmica, na universidade.

  • divulgados   os   trabalhos   produzidos   pela   comunidade   acadêmica,   mas   também  as 

    configurações  dos textos publicados (MottaRoth et al,  2003). A configuração de textos 

    publicados eletronicamente é diferente da verificada no meio impresso, principalmente no 

    que diz respeito à questão hipertextual, ou seja, a presença de hiperlinks,  links de áudio, 

    de vídeo, além da possibilidade de o leitor comunicarse diretamente com o autor do texto 

    através de hiperlinks para seu email (Hendges, 2001; MottaRoth et al, 2003).

    O contexto atual parece indicar ainda que a Internet vem sendo pouco explorada 

    enquanto instância de publicação acadêmica, ao menos em nível nacional, especialmente 

    devido a sua precária divulgação. O Portal de Periódicos da Capes, por exemplo, ainda 

    não disponibiliza periódicos unicamente eletrônicos, assim como o Qualis, índice de títulos 

    criado pela Capes, que também não inclui ejournals em sua classificação2.

    Isso se deve, talvez, a questões discutidas em relação à publicação eletrônica, 

    como a recência desse meio enquanto instância de pesquisa acadêmica e à qualidade do 

    material publicado. Quanto ao primeiro, autores como Sabattini (2000) e Stapleton (2003) 

    têm   discutido  a   carência  de   mecanismos   estabelecidos   para   estimar   a   qualidade   de 

    determinado título ou as restrições sobre direitos autorais, visto que, diferentemente do 

    que  acontece  no  meio   impresso  em  inglês,  onde   se  usam  recursos  como o  Journal  

    Citation Index, a publicação eletrônica ainda carece de critérios mais precisos (MottaRoth 

    et al, 2003). Quanto à qualidade, essas pesquisas têm enfatizado o papel do processo de 

    revisão por pares, feito por membros do corpo editorial de um periódico, que ainda parece 

    ser   o   único   meio   para   legitimar   a   qualidade   das   informações   veiculadas   em   AAEs 

    publicados em ejournals (Sabattini, 2000).

    Com o avanço da tecnologia nos tempos atuais, podemos observar que a utilização 

    da Internet como alternativa na busca por informações no meio acadêmico é cada vez 

    mais comum. Autores como Auría e Alastrué (1998), Slaouti (2002) e Stapleton (2003) 

    apontam para o fortalecimento dos gêneros eletrônicos, como o AAE e o livro eletrônico 

    (ebook),   devido   a   fatores   como   a   crescente   rapidez   de   acesso   à   informação,   a 

    diversidade maior de materiais disponíveis e a possibilidade de entrar em contato com 

    2 Informações acessadas pela última vez em dezembro/2003. 

  • informações mais atualizadas o  que,  muitas vezes,   levaria mais   tempo em bibliotecas 

    tradicionais e no meio impresso.

    Pesquisas   (Hopkins   &   DudleyEvans,   1988;   Swales,   1990;   Bloor,   1993)   têm 

    investigado   o   AA,   especialmente,   quanto   aos   movimentos   retóricos   de   Introdução 

    (incluindo Revisão de Literatura), Resultados e Discussão. A seção de Métodos, em meio 

    a esses estudos, fica, aparentemente, sem um aporte teórico consistente, fundamentado 

    em pesquisa e análise.

    Nesse contexto, com vistas a informar o ensino de Línguas para Fins Acadêmicos e 

    assessorar a prática de publicação de alunos e professores, fazendo com que tenham a 

    oportunidade   de   interagir   com   suas   comunidades   disciplinares   e,   principalmente,   de 

    explorar padrões ou convenções de forma a inovar e criar novos gêneros adaptados a 

    novos contextos (MottaRoth, 1999), parece  importante  investigar o perfil  desses novos 

    ambientes de publicação. Nesses termos, o objetivo geral deste estudo é:

    • Analisar   a   organização   retórica   do   AAE,   com   ênfase   nos   procedimentos 

    metodológicos adotados nesse gênero.

    Dando continuidade ao projeto de pesquisa a que este estudo está vinculado, que 

    abrange a análise do AA impresso e de sua seção de metodologia 3, pretendo investigar 

    em que medida exemplares de um mesmo gênero apresentam variabilidade em relação a 

    elementos estruturais e de conteúdo da seção de metodologia. 

    Com base nisso, os objetivos específicos traçados para este estudo são:

    1) Identificar quais os objetivos traçados e os tópicos de pesquisa definidos pelos autores 

    dos artigos que compõem o corpus;

    2) Com   base   nas   respostas   à   questão   anterior,   verificar   quais   os   procedimentos 

    metodológicos que pesquisadores têm utilizado para  cumprir tais objetivos e analisar 

    3  Projeto Integrado de Pesquisa/CNPq, “Discursos de investigação: uma análise de gênero da ‘seção de metodologia’ em artigos acadêmicos”.

  • tais   tópicos,   enfocando   aspectos   como   participantes   e   instrumentos   utilizados   na 

    pesquisa.

    A   exploração   dessas   duas   questões   pode   gerar   informações   acerca   da 

    variabilidade   estrutural   e   de   conteúdo   do   gênero   textual   AAE   a   partir   de   diferentes 

    enfoques, oferecendo, portanto, subsídios teóricos e práticos a profissionais  ligados ao 

    ensino e aprendizagem de línguas em contextos acadêmicos.

    1.3 Organização do estudo

    O   presente   capítulo   serviu   para   contextualizar   sinteticamente   esta   pesquisa   e 

    apresentar os objetivos norteadores deste estudo.

    No segundo capítulo, destinado à Revisão da Literatura, apresento alguns trabalhos 

    teóricos relacionados a esta pesquisa, enfatizando questões ligadas a gêneros textuais, 

    publicação acadêmica no meio impresso e no meio eletrônico, o processo de organização 

    retórica da seção de metodologia em AAEs e o papel do autor ao relatar procedimentos 

    metodológicos em seu artigo.

    No terceiro capítulo, trato da Metodologia adotada para a pesquisa, enfocando o 

    contexto   de  análise   do  estudo,   o  corpus  selecionado  e   os   critérios  adotados  para   a 

    seleção e análise dos dados.

    No quarto capítulo, apresento os Resultados obtidos na análise do  corpus  e das 

    entrevistas com os autores.

    Por fim, apresento algumas Implicações Pedagógicas deste estudo no capítulo 5, 

    destacando a possível relevância das informações obtidas com a análise realizada para a 

    prática pedagógica do ensino de Línguas para Fins Acadêmicos, objetivo principal deste 

    estudo.

     

  • CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

    Apresento, neste capítulo, a revisão teórica realizada de forma a contextualizar a 

    linha de pesquisa em que este trabalho está inserido. O capítulo está organizado em cinco 

    seções: na primeira (2.1), realizo uma breve discussão sobre gêneros textuais. A segunda 

    seção (2.2)   trata do gênero AAE e a terceira  (2.3),  de alguns aspectos da publicação 

    acadêmica   eletrônica.   Na   quarta   seção   (2.4),   discuto   algumas   questões   referentes   à 

    organização retórica da seção de metodologia em AAEs, foco da análise realizada neste 

    estudo, ressaltando a metodologia de pesquisa em Lingüística Aplicada. Por fim, na seção 

    2.5, investigo um aspecto evidenciado na análise quanto ao papel do autor ao relatar os 

    procedimentos metodológicos no AAE.

    2.1 Gêneros textuais

    Com base nas informações apresentadas no capítulo de Introdução, acredito que, 

    dentre as inúmeras transformações que a Internet vem provocando no modo de vida e 

    comportamento   de   milhares   de   pessoas   ao   redor   do   mundo,   a   forma   inovadora   de 

    disseminação e  de  acesso à   informação seja  o  que,   talvez,   cause  maior   impacto  na 

    sociedade. Essas transformações propiciam o surgimento de novos gêneros textuais, em 

    função   da   necessidade   das   pessoas   em   comunicaremse   umas   com   as   outras, 

    estabelecendose enquanto indivíduos participantes de suas comunidades específicas.

    Gêneros   textuais,   neste   estudo,   são   entendidos   como   classes   de   eventos 

    comunicativos   cujos   membros   compartilham   alguns   de   seus   objetivos   comunicativos 

    (Swales, 1990: 58). Segundo o autor (idem), além de objetivos, exemplares de um mesmo 

    gênero apresentam também padrões de similaridade quanto à estrutura, estilo, conteúdo e 

    audiênciaalvo.

  • Com base nisso,  acredito  que estudos que envolvam a organização retórica de 

    gêneros textuais são necessários, especialmente porque um entendimento maior acerca 

    destes acarreta uma percepção mais apurada da forma como os textos são ou podem ser 

    percebidos,   categorizados  e  utilizados  por  membros  de  um determinado  grupo  social 

    (Miller, 1984: 42). Entendo que um conhecimento maior sobre gêneros, especialmente no 

    contexto acadêmico, é imprescindível na medida em que grande parte dos pesquisadores 

    é incentivada a publicar seus trabalhos.

    Reiterando   esse   aspecto,   MottaRoth   (1999:   121)   ressalta   duas   questões   que 

    devem ser analisadas mais cuidadosamente no ensino de redação acadêmica. A primeira 

    questão trata de que um conhecimento sobre gêneros:

    Embora sendo fator  importantíssimo para a compreensão   e   uso   de   textos,   impõe convenções  e  expectativas  da   comunidade disciplinar   a   escritores   iniciantes,   enquanto possibilita a escritores consagrados explorar convenções   para   criar   novos   gêneros adaptados   a   novos   contextos   (a teleconferência, por exemplo) (idem).

    A   segunda   questão   enfatizada   pela   autora   (idem)   trata   do   ensino   de   redação 

    orientado   de   forma  a  desenvolver   competências  acadêmicas   relacionadas  ao  uso  de 

    gêneros acadêmicos e aos elementos lingüísticos que os materializam (ibidem), facilitando 

    o processo de engajamento de membros novatos não só no discurso acadêmico, como 

    também em suas comunidades disciplinares específicas.

    Nesses   termos,   enquanto   professora   de   língua   inglesa   em   início   de   carreira, 

    entendo   ser   importante   aprofundarmos   as   pesquisas   ligadas   à   análise   de   gêneros 

    textuais,  especialmente por estes virem sendo amplamente discutidos não apenas por 

    pesquisadores da área, mas também por professores de língua materna e estrangeira em 

    serviço na rede escolar. Esses profissionais passaram a voltar sua atenção às teorias de 

    gênero,   visto  que  os  Parâmetros  Curriculares  Nacionais   (PCNs)  de  Ensino  Médio  de 

    Língua   Portuguesa  e   Línguas   Estrangeiras   fazem   explícitas   indicações   às   teorias   de 

  • gêneros   textuais   como   objeto   de   ensino,   mudando,   até   certo   ponto,   o   enfoque   e   a 

    natureza do ensino de línguas.

    Dessa forma, após realizar uma contextualização sobre a questão relacionada a 

    gêneros   textuais,   passo   a   discutir,   na   próxima   seção,   aspectos   ligados   ao   gênero 

    analisado neste estudo – o AAE –, abordando questões como o processo de pesquisa na 

    Internet e a publicação acadêmica eletrônica.

    2.2 Gêneros acadêmicos: o AAE

    De   acordo   com   Swales   (1990:110),   pesquisadores,   por   volta   do   século   XVII, 

    necessitavam do reconhecimento da sociedade em suas pesquisas, no sentido de que as 

    pessoas deviam ser testemunhas nas descobertas realizadas nas pesquisas científicas ou 

    acadêmicas. Hoje, apesar de os pesquisadores também necessitarem do reconhecimento 

    e da aprovação de suas comunidades, estas são mais refinadas e específicas,  isto é, 

    diferentemente, de certa forma, do século XVII, os pesquisadores ainda são avaliados e 

    aceitos na academia de acordo com o que produzem. Conforme apontado por MottaRoth 

    (2001b: 11),

    Na   cultura   acadêmica,   a   produtividade intelectual   é   medida   pela   produtividade   na publicação.   Embora   pesquisadores   de diferentes áreas questionem o valor de uma política   de   publicação   pautada   pela quantidade   em   detrimento   de   uma   análise mais atenta da qualidade dessa publicação, parecenos   que   para   mudar   o   sistema, precisamos conhecêlo.

    O   AA   é   visto   como   o   gênero   mais   conceituado   na   divulgação   do   saber 

    especializado acadêmico (idem: 39), constituindose no “mecanismo institucionalizado de 

  • disseminação de conhecimento na academia” (Martínez, 2001). Segundo Swales (1990: 

    93),

    O artigo acadêmico ou  paper  é  visto como um   texto   escrito   (embora   contenha freqüentemente   elementos   nãoverbais), geralmente   limitado   a   alguns   milhares   de palavras,   que   reporta   alguma   investigação conduzida  por   seu  autor   ou  autores.  Além disso,   o   AA   geralmente   relacionará   as descobertas   reportadas   por   ele   a   outras reportadas   em   outros   artigos   e   também poderá   examinar   assuntos   teóricos   e/ou metodológicos. Será ou foi publicado em um periódico ou, menos freqüentemente, em um livro de coletânea de artigos (Swales, idem) 4

    .

    Nesse sentido, sob a ótica do autor (ibidem: 11), o objetivo do AA é  discutir  ou 

    apresentar fatos referentes a um projeto de pesquisa sobre uma dada questão em uma 

    dada área do conhecimento.  Servindo de base para muitos outros  trabalhos em nível 

    internacional (Hopkins & DudleyEvans, 1988; Weissberg, 1984; Bloor, 1993) e nacional 

    (Silva, 1999; Hendges, 2001; Nascimento, 2002; Oliveira, 2003) sobre a análise do AA, 

    Swales (1990: 134) reproduz a estrutura retórica básica desse gênero, conhecida como 

    IMRD (Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão), a partir de Hill et al. (1982). 

    Cada   seção   apresenta   objetivos   comunicativos   específicos,   tratando   de 

    informações  ligadas a  cada estágio  da pesquisa.  A  Introdução apresenta  o   tópico da 

    pesquisa e a revisão da literatura, caracterizandose como uma transição entre uma visão 

    geral da disciplina e o tópico específico a ser discutido. A seção de Metodologia descreve 

    os passos seguidos, os materiais ou instrumentos e os procedimentos adotados para se 

    chegar aos resultados. A seguir, a seção destinada aos Resultados apresenta a síntese 4 The research article or paper is taken to be a written text (although often containing nonverbal elements), usually   limited  to a  few  thousand words,  that   reports on some  investigation carried out by  its author  or authors. In addition, the RA will usually relate the findings within it to those of others, and may also examine issues of theory and/or methodology. It is to appear or has appeared in a research journal or, less typically, in an edited booklength collection of papers.

  • dos dados coletados, recorrendo, também a exemplificações. Por fim, na Discussão, há a 

    avaliação   e   interpretação   dos   dados   coletados   em   relação   ao   problema   ou   questão 

    levantada na Introdução. Nesse momento, há uma outra transição, desta vez, do tópico 

    específico para uma visão geral da disciplina (Swales, 1990: 137174).

    No entanto, essa estrutura apresenta variações entre as diferentes disciplinas ou 

    áreas   do   conhecimento.   Pesquisas   ligadas   à   análise   do   AA   nas   diversas   áreas   do 

    conhecimento como Biológicas, Rurais, Exatas e Humanas (Weissberg, 1984; Hopkins & 

    DudleyEvans, 1988; Bloor, 1993),  têm constatado variações estruturais de acordo com o 

    contexto disciplinar, seguindo a relação dialética entre texto e contexto, conforme apontado 

    por Halliday & Hasan (1989). Seguindo a teoria hallidayana (idem: 5), “texto e contexto são 

    aspectos do mesmo processo”: existe um texto – uma unidade da linguagem em uso, isto 

    é, uma unidade semântica – e existe um outro texto que o acompanha, o contexto, que 

    serve de ponte entre o texto e a situação na qual este ocorre (ibidem).

    Nesse   sentido,   se  pretendemos   identificar   o   objetivo  de  um   texto,  é   pertinente 

    investigarmos o contexto em que este é usado. Conforme MottaRoth (2002c: 78) observa, 

    reiterando a idéia bakhtiniana, o conceito de gênero – reconhecido por sua estabilidade 

    lingüística e por sua capacidade de se evidenciar em eventos comunicativos recorrentes 

    levando a uma convencionalidade de uso – “pressupõe uma interconexão entre fatores 

    textuais (da linguagem) e contextuais (das relações sociais envolvidas)”.

    Seguindo essa linha, o contexto social de um texto, ou seja, o ambiente em que os 

    participantes interagem de forma a construir significado, pode ser definido pelas variáveis 

    campo,   relação   e   modo   e   pelas   metafunções   ideacional,   interpessoal   e   textual   da 

    linguagem. Mais especificamente, cada mecanismo do contexto é realizado ou expresso 

    por uma determinada função da linguagem (Halliday & Hasan, 1989: 2526).

    Meurer & MottaRoth (2002: 11) ressaltam que a observação desses três aspectos – 

    ou dessas três variáveis contextuais – “nos possibilita sermos mais ou menos articulados 

    no   uso   da   linguagem   para   alcançar   determinados   objetivos   e   nos   apropriarmos   e 

    expandirmos nosso repertório de gêneros” disponíveis em nossa cultura. É nesse sentido 

    que se pode identificar a linguagem enquanto gênero: “ao servir de materialidade textual a 

  • uma determinada interação humana recorrente em um dado tempo e espaço, a linguagem 

    se constitui como gênero” (idem).

    O gênero textual analisado neste estudo – AAE , da mesma forma que o ejournal,  

    onde é publicado, é formatado para ter estilos e designs específicos, assim como o artigo 

    impresso, mas com todos os recursos disponíveis no meio eletrônico, que permite amplas 

    oportunidades   de   experimentação   com   formatos,   fontes   e   outras   características 

    inexistentes no meio impresso.

    Isso faz com que pessoas de diferentes lugares tenham a possibilidade de entrar 

    em contato com saberes,  muitas vezes,  de difícil  acesso, em diferentes  idiomas, bem 

    como possibilita formas mais efetivas de interação: a) autor x leitor, através de recursos 

    como hiperlinks para o email ou currículo do autor do texto e b) leitor x texto, através de 

    hiperlinks externos,  que levam às obras consultadas pelo autor ao escrever o texto, ou 

    ainda através de hiperlinks internos, que auxiliam o leitor a movimentarse dentro do texto, 

    ou seja, conexões que, quando ativadas, conduzem o leitor a tabelas, gráficos, notas de 

    final de texto, etc (Hendges, 2001; MottaRoth et al, 2003).

    Como conseqüência, parece importante que profissionais ligados à área de Inglês 

    para   Fins   Acadêmicos   investiguem   esses   gêneros   emergentes,   presentes   no   meio 

    eletrônico,   com o  objetivo  de verificarem como são configurados  e  como as  pessoas 

    podem utilizálos de acordo com seus objetivos específicos.

    A seguir, na próxima seção, concentro minha discussão no processo de publicação 

    acadêmica eletrônica.

    2.3 Práticas discursivas e publicação acadêmica eletrônica

    No contexto acadêmico, o meio eletrônico pode representar uma oportunidade para 

    alunos universitários terem acesso a práticas discursivas/disciplinares, tais como leitura e 

    escritura de textos acadêmicos.

  • Nesse sentido, em se tratando do contexto de publicação  impressa e eletrônica, 

    Willis (1995) sugere que a evolução do meio impresso (ou tradicional) e do eletrônico está 

    atrelada a duas questões centrais: tempo e custo. O intervalo de tempo entre a conclusão 

    de um artigo e sua publicação, que no meio impresso, pode levar meses, no eletrônico é 

    bastante reduzido; e o custo da produção, distribuição e armazenamento de periódicos, 

    que no meio  impresso é  bastante elevado, no eletrônico é  muito reduzido. Segundo o 

    autor   (idem),   essas   são   duas   das   razões   mais   citadas   como   responsáveis   por   uma 

    provável mudança dos periódicos impressos para o meio eletrônico.

    No entanto, conforme Marcuschi (2001) ressalta, nossa área ainda não despertou 

    para a publicação acadêmica eletrônica. Segundo Marcuschi (idem), isso deverá ocorrer 

    em breve,  pois,  dado o contexto  tecnológico atual,  é   imprescindível  que uma área do 

    conhecimento tenha periódicos sistematicamente editados pela via eletrônica.  Isso não 

    significa dizer, conforme o autor aponta, apenas  lançar na  Internet  trabalhos na forma 

    como estão  no  papel,   visto   que  a   tecnologia  das   revistas  eletrônicas  está   bem mais 

    avançada.

    Tratase   de   uma   forma   muito   diferente   de publicação. Falo em revistas eletrônicas com características   hipertextuais   e   não   em revistas   atualmente   impressas   replicadas eletronicamente.   Pois   isto   não   seria suficiente (Marcuschi, 2001).

    A questão levantada por Marcuschi (idem) reitera aspectos constatados por Motta

    Roth et  al.   (2003) quanto à  utilização dos recursos disponíveis no meio eletrônico em 

    periódicos brasileiros. Conforme as autoras (idem) apontam, as características do meio 

    eletrônico (como hiperlinks de áudio e/ou vídeo,  gifs animados, etc.) são pouco ou nada 

    explorados em AAEs publicados no Brasil. Isso se deve, talvez, à  novidade que o meio 

    representa – visto que grande parte dos textos referenciados em trabalhos acadêmicos, 

    inclusive em AAEs, é impressa , e à “resistência da academia a grandes mudanças nos 

    meios de divulgação tradicionalmente consagrados”.

  • Em meio a  tais discussões, outras questões  levantadas por autores como Willis 

    (1995), Holoviak & Seitter (1997), Marcuschi (2001) e Stapleton (2003) dizem respeito à 

    qualidade do  material  disponível  e  ao status  da  publicação eletrônica  em oposição à 

    impressa. Willis (idem) observa que, apesar de muitos periódicos publicados em CDROM 

    e na Internet desempenharem um papel importante em suas áreas, alguns membros da 

    comunidade acadêmica continuam a vêlos como sendo menos importantes e de menor 

    status do que os impressos.

    Assim   como   profissionais   das   diferentes   áreas,   bibliotecas   de   universidades 

    assinam periódicos, em parte, porque sabem que os artigos publicados foram avaliados e 

    julgados por outros, sendo, portanto, eleitos como aqueles que podem ser lidos. Assim, 

    em um período de transição como este, as realidades sociais, políticas e econômicas irão 

    provavelmente   ditar   que   alguns   periódicos   permanecerão   apenas   no   meio   impresso, 

    outros, apenas no meio eletrônico, e outros, em ambos os formatos (Willis, 1995).

    Em relação a esse aspecto, Stapleton (2003) questiona se os aprendizes de língua 

    estrangeira  –  mais  especificamente  de   inglês  –  estão  realmente atentos  às  possíveis 

    diferenças de qualidade entre a pesquisa impressa e a eletrônica. O autor ressalta que a 

    Internet tem se tornado uma fonte legítima de pesquisa (e publicação) acadêmica, mas 

    diferentemente das   fontes  de  pesquisa  impressa  (como bibliotecas,  cuja  variedade de 

    mídia   impressa,   como   livros   e   periódicos   internacionais,   vinha,   até   recentemente, 

    controlando o processo de disseminação da  informação ou,  ao menos,   tentando atuar 

    como uma espécie de “filtro” de qualidade). Antes da existência da Internet, os autores 

    precisavam das editoras para realmente ter uma chance de alcançar grandes audiências 

    ou terem seu trabalho seriamente considerado (idem: 229).

    Stapleton observa que a Internet passou a ser vista como um contexto de consulta 

    e publicação legítimo, nos últimos anos, devido a pelo menos quatro fatores: 1) a criação 

    de  browsers  (navegadores como Internet Explorer  ou  Netscape, por exemplo) amigáveis 

    ao   usuário;   2)   a   criação   de   mecanismos   de   busca   altamente   sofisticados;   3)   o 

    desenvolvimento  de  softwares  (programas de  computador)  para  a  criação de  páginas 

  • eletrônicas mais amigáveis ao usuário; e 4) o crescente barateamento dos computadores 

    e do acesso à rede mundial (idem: ibidem).

    Essencialmente, esses desenvolvimentos alteraram o perfil  da Internet, conforme 

    observado na última década  de mídia altamente complexa e exclusiva, requerendo um 

    conhecimento   especializado   de   hipertexto,   para   uma   ferramenta   disponível   e   mais 

    facilmente utilizável e manipulada por grandes massas (ibidem: 230). Essa facilidade de 

    uso, no entanto, aliada à ausência de um “filtro” de controle de qualidade, resultou em um 

    grande  aumento  na   variabilidade  da  qualidade  da   informação  disponível.   Uma  busca 

    aleatória  a  partir   de  uma dada  palavrachave  pode  gerar  milhares  de   resultados  que 

    variam de páginas pessoais (personal homepages) a periódicos revisados e avaliados (e

    journals).

    Considerando   esse   aspecto,   seguindo   Slaouti   (2002),   penso   que   é   papel   do 

    professor de Línguas para Fins Acadêmicos – ou de Redação Acadêmica – discutir com o 

    aluno as nuances da Internet como fonte de informação na pesquisa acadêmica. Segundo 

    a autora (idem), para os alunos de Inglês para Fins Acadêmicos, um dos elementos mais 

    difíceis da transição para a vida acadêmica é a expectativa, por parte da comunidade 

    disciplinar, de que o aprendiz demonstre habilidades críticas e analíticas. Ao adotar uma 

    abordagem   que   explore   a   Internet   no   contexto   de   ensino   de   Línguas   para   Fins 

    Acadêmicos, o que encoraja uma constante avaliação, o professor de línguas poderá estar 

    fornecendo ao aluno uma proposta de desenvolvimento da percepção crítica necessária 

    no ensino superior (ibidem).

    Nesse   sentido,   após   apresentar   algumas   questões   ligadas   ao   processo   de 

    publicação acadêmica na área de LA e sobre o gênero AAE, discuto, na próxima seção, 

    alguns aspectos sobre a configuração da seção de metodologia desse gênero, foco da 

    análise   realizada neste  estudo,  e  como algumas pesquisas  têm tratado a  questão da 

    metodologia de pesquisa em nossa área, especialmente em relação a dois paradigmas 

    centrais:   qualitativo   e   quantitativo.   Essa   discussão   irá   auxiliar   a   análise   dos   dados 

    coletados nesta pesquisa, visto que muitos dos artigos selecionados para análise referem

    se a essas abordagens em sua seção de metodologia, conforme discuto a seguir.

  • 2.4 A seção de metodologia em AAEs

    Nesta seção, trato da organização retórica e textual da seção de metodologia do 

    AAE, com base na descrição esquemática proposta por Oliveira (2003), com o objetivo de 

    conhecer um pouco mais esse gênero e compreender melhor sua organização textual e 

    retórica.

    Se considerarmos uma pesquisa como “um conjunto de ações determinadas para o 

    propósito de se investigar, analisar e [criticamente] avaliar uma determinada questão ou 

    problema em uma dada área do conhecimento” (MottaRoth, 2001b: 67), veremos que, ao 

    relatála de forma escrita – em um AA –, a seção que deverá receber um certo destaque é 

    a  seção de metodologia.   Isso porque é  nessa seção que o  pesquisador   irá  expor  os 

    materiais e métodos utilizados na pesquisa de forma a chegar aos resultados.

    Dessa forma, ao enfatizar a seção de metodologia do AA, refirome à sua função 

    retórica, que pode ser definida como sendo a de “descrever o método de coleta e análise 

    dos dados e os materiais e procedimentos utilizados para chegar aos resultados, com 

    maior ou menor detalhamento, dependendo do objeto de estudo” (idem: 70).

    Apesar de autores (Weissberg, 1984; Hopkins & DudleyEvans, 1988; Bloor, 1993) 

    indicarem que,  em áreas  como Engenharia,  Biologia,  Física,  Medicina  e  Zoologia,  os 

    pesquisadores utilizam estratégias relativamente similares em relação à redação da seção 

    de métodos, Swales (1990: 167) observa que isso não ocorre em todas as áreas.

    Nesse sentido, ao constatar variações – na seção de metodologia – à medida que 

    varia   o   contexto   disciplinar,   conforme   evidenciado   na   literatura,   é   importante   que   o 

    professor   de   Línguas   para   Fins   Acadêmicos   oriente   seus   alunos   no   sentido   de 

    reconhecerem e reconstruírem o estilo  apropriado aos seus campos de estudo (Bloor, 

    1999: 99).

    Neste   estudo,   conforme   apresentado   no   primeiro   capítulo,   um   dos   objetivos 

    traçados   é   investigar   a   seção   de   metodologia   em   AAEs   de   LA   com   base   nos 

    procedimentos metodológicos adotados por pesquisadores ao analisarem determinados 

  • tópicos ou assuntos da área. No entanto, foi necessário recorrer à literatura referente às 

    abordagens qualitativa e quantitativa de pesquisa em LA, especialmente porque alguns 

    artigos do corpus analisado fazem referências explícitas a elas, por exemplo, enfatizando 

    as perspectivas êmica/ética (emic/etic) de pesquisa.

    Com base  nesse  aspecto,  a   leitura  de  textos   (Chaudron,  1986;  Henning,  1986; 

    WatsonGegeo, 1988; Moita Lopes, 1994; Davis, 1995; Lazaraton et al., 1997; Ramanathan 

    &   Atkinson,   1999),  relacionados   a   essa   discussão,   foime   bastante   útil   na   análise   e 

    interpretação dos dados coletados neste estudo.

    Conforme Moita Lopes (1994: 329) observa, a discussão sobre pesquisa em LA 

    contribui para definila, no sentido de estabelecêla como área de investigação, visto que, 

    segundo o autor, muito das pesquisas que se produzem, no Brasil, sob o rótulo de LA, 

    ignoram as tradições de pesquisa nas quais se inserem. Não se trata, conforme o autor 

    verifica, de demarcar áreas de investigação (Lingüística versus LA), mas, sim, de refinar 

    modos de  se   realizar  pesquisa  nesse campo.  Cabe  aos  que   fazem pesquisa  em LA 

    discutir  como se dá a produção de conhecimento nessa área, de forma a definir  suas 

    formas de investigação (idem: 329). É necessário, portanto, segundo os termos do autor 

    (ibidem), que o pesquisador desenvolva um metaconhecimento sobre seu procedimento 

    de   investigação,   auxiliando,   assim,   no  processo   de  desenvolvimento  de   sua  área   de 

    investigação.

    Nesse sentido,  diferentes autores  em nível  nacional   (Cavalcanti  &  Moita  Lopes, 

    1991; Moita Lopes, 1994; Telles, 2002) e internacional (Chaudron, 1986; Henning, 1986; 

    WatsonGegeo, 1988; Davis, 1995; Lazaraton et al., 1997; Ramanathan & Atkinson, 1999) 

    têm enfatizado como se dá a prática de pesquisa em LA, essencialmente voltandose para 

    os paradigmas qualitativo e quantitativo.

    A   seguir,   apresento   algumas   questões   ligadas   a   essas   duas   tendências, 

    constatando aspectos que as diferenciam, relacionados à  visão da natureza dos objetos 

    investigados,  ao papel  do pesquisador  e dos pesquisados na  investigação e a alguns 

    conceitos   teóricometodológicos   imbricados   nessas   tendências.  As   informações 

    apresentadas a seguir servirão de subsídio para a análise realizada nos artigos do corpus, 

  • auxiliando a  identificação de características qualitativas e/ou quantitativas na seção de 

    metodologia,  atendendo ao   segundo objetivo   traçado para  este  estudo,   “investigar   os 

    procedimentos   metodológicos   adotados   pelos   autores   ao   investigarem   determinados 

    tópicos de pesquisa”.

    2.4.1 Pesquisa quantitativa

    A pesquisa quantitativa pode ser vista como aquela que compreende o cálculo, a 

    manipulação ou o conjunto sistemático de quantidades de dados, podendo envolver o uso 

    de estatística descritiva como médias, porcentagens, desvio padrão e proporções, ou pode 

    requerer   o   uso   de   estatística   inferencial   como   análise   da   variância   e   variedades   de 

    estatística correlacional (Henning, 1986: 702).

    Referindose a autores como Davis (1995), Henning (1986) e Moita Lopes (1994), 

    Oliveira (2003: 16) verifica que, por estar embasada em uma visão positivista de ciência, a 

    pesquisa quantitativa é marcada essencialmente pela objetividade, “não havendo espaço 

    para   a   interpretação   e   reflexão   da   realidade   social   por   parte   do   pesquisador   e/ou 

    pesquisados”. Segundo a autora (idem: 1617),

    A realidade é reduzida a uma causa possível de   ser   observada,   medida   e   padronizada; pesquisador e pesquisado são considerados independentes   um   do   outro;   o   papel   do pesquisador   é   investigar   a   causa   de   um fenômeno por meio de sistemáticos métodos experimentais e estatísticos, sendo que ele mesmo   discute   e   interpreta   os   resultados obtidos,   sem   considerar   a   visão   dos pesquisados.

    Nesses   termos,   as   pesquisas   quantitativas   assumem   o   que   Davis   (1995:   433) 

    classifica como uma perspectiva  etic  do processo de coleta, análise e interpretação dos 

  • dados. Nesse caso, o pesquisador observa um dado fenômeno “pelo lado de fora”, ou 

    seja,   em   busca  de   uma   descrição   rica   (rich   description)  das   ações   realizadas   pelos 

    participantes (Davis, 1995: 434), ele se distancia do que é pesquisado de forma a reduzir 

    sua  interferência  ao máximo  (Cameron et  al,  1992:  5).  Nesse sentido,   idealmente,  os 

    pesquisadores   quantitativos   produzem   representações   objetivas   da   realidade,   dado   o 

    compromisso   positivista     inerente   a   tal   abordagem     em   estudar   a   freqüência,   a 

    distribuição e a padronização do fenômeno observado (idem: 6).

    Abordagens  e  métodos  quantitativos  em  pesquisas   ligadas  à  área  de  LA  vêm 

    também sendo discutidos por pesquisadores (Lazaraton et al., 1997: 64) no sentido de 

    verificar se o conhecimento em métodos quantitativos é realmente relevante aos lingüistas 

    ou às demais Ciências Humanas. Conforme Lazaraton et. al (idem) sugerem, apesar de a 

    abordagem qualitativa para coleta e análise de dados ser importante para as diferentes 

    questões em LA, a realização de estudos direcionados a métodos quantitativos também é 

    necessária,  especialmente porque essas duas modalidades podem coocorrer  em uma 

    mesma investigação. Um estudo quantitativo pode utilizar técnicas qualitativas (apesar de 

    o oposto não ser tão comum), mas de forma independente, ou seja, com o objetivo de 

    responder diferentes questões (Davis, 1995: 435).

    Conforme   a   literatura   (Chaudron,   1988;   Moita   Lopes,   1994;   Davis,   1995; 

    Ramanathan  &  Atkinson,   1999)   tem  evidenciado,   a   pesquisa  qualitativa   tem   recebido 

    críticas no sentido de “não ser rigorosa” e seus dados “não poderem ser replicados” como 

    nas pesquisas  quantitativas.  A visão de que os  resultados  de pesquisas  quantitativas 

    podem ser generalizados a outros estudos, em oposição à tendência qualitativa, conforme 

    Ramanathan & Atkinson (1999: 55), ainda é forte.

    Em   sentido   técnico,   segundo   Ramanathan   &   Atkinson   (idem),   o   termo 

    “generalização”   (generalizability)   parece   indicar   que   existem   fenômenos   uniformes   de 

    importância educacional que, uma vez tratados, podem ser medidos em freqüência ou 

    nível em uma escala comum:  

  • Essas  medidas,   feitas  uma ou  mais   vezes entre várias salas de aula ou laboratórios e, freqüentemente,   por   diferentes pesquisadores,   podem   ser   comparadas diretamente, neutralizando seus contextos de ocorrência.5

    Uma das razões para a crítica quanto ao rigor da abordagem qualitativa e ao seu 

    poder de generalização pode estar relacionada ao fato discutido por Moita Lopes (1994: 

    331),  de que, provavelmente devido à  crença de que o fazer científico deva pautarse 

    pelos mesmos princípios que orientam as Ciências Naturais, possa ser possível constatar 

    uma preferência pela posição positivista, “considerada, muitas vezes, a maneira legítima 

    de se produzir ciência” (idem).

    Conforme apontado na literatura (Cameron et. al, 1992; Davis, 1995; Moita Lopes, 

    1994; WatsonGegeo, 1988), no entanto, o estudo do uso da linguagem pelo ser humano 

    tornaria   inadequado   o   uso   dos   mesmos   procedimentos   empregados   nas   Ciências 

    Naturais, visto que o objeto de investigação, nas Ciências Sociais, inclui a linguagem. Em 

    uma relação dialética, a linguagem possibilita a construção do mundo social e é condição 

    para que ele exista (Moita Lopes, 1994: 331).

    2.4.2 Pesquisa qualitativa

    Segundo Cameron et. al (1992: 5), a subjetividade do pesquisador não deve ser 

    vista   como   um   “dano”,   mas   como   um   elemento   nas   interações   humanas   que 

    compreendem o objeto de estudo na área de LA. Contrariamente à descrição rica (rich  

    description) das ações dos participantes, presente na pesquisa quantitativa, cujo foco é a 

    descrição   das   ações   desempenhadas   pelos   participantes,   sem   o   envolvimento   do 

    pesquisador e sem a visão dos sujeitos, o objetivo central da tendência qualitativa é obter 5 Such measurements, taken once or more across various classrooms or laboratories and often by different reearchers, can then be directly compared, their specific contexts of occurrence having been neutralized or rendered basically irrelevant.

  • uma descrição densa (thick description) do contexto investigado, de forma a capturar parte 

    da   singularidade   que   caracteriza   cada   fenômeno   cultural,   sob   a   perspectiva   dos 

    participantes envolvidos nesses fenômenos (Ramanathan & Atkinson, 1999: 56).

    Telles (2002: 102) observa que, na área educacional, atualmente, os estudos têm 

    privilegiado abordagens qualitativas de pesquisa, visto que pesquisadores e educadores 

    têm se interessado pela natureza dos fenômenos educacionais em detrimento de números 

    que, muitas vezes, escondem a dimensão humana, a pluralidade e a interdependência 

    dos fenômenos educacionais na escola.

    Referida   como   a   pesquisa   que   adota   procedimentos   nãoquantitativos,   como 

    entrevistas, estudos de diários e análise do discurso em sala de aula (Davis, 1995: 432), a 

    pesquisa  de  cunho  qualitativo   tem sido   tratada  como sendo  sinônimo de  etnográfica, 

    naturalística  e   interpretativista   (WatsonGegeo,  1988:  576).  No  entanto,  ao  enfatizar  a 

    natureza em oposição ao cálculo, a pesquisa qualitativa é um termo guardachuva para 

    várias   abordagens   de   pesquisa   incluindo   etnografia,   estudos   de   caso,   dentre   outros 

    (idem).

    Uma das grandes divergências entre a pesquisa quantitativa e qualitativa é que a 

    última considera a realidade como sendo socialmente construída e o papel do pesquisador 

    sendo o de explicitar essa realidade ao longo do processo de investigação de seu objeto 

    de estudo (Oliveira, 2003: 1718).

    Além   de   considerar   o   contexto   sóciocultural,   outra   divergência   apontada   na 

    literatura (Davis, 1995: 433434) entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa é que a última 

    adota uma perspectiva  emic  (ou êmica) de pesquisa, isto é, o pesquisador conta com a 

    visão  dos  participantes  do   contexto  estudado,   considerando  o  ponto  de   vista   desses 

    participantes na condução e interpretação de seus resultados, em oposição à perspectiva 

    etic adotada na pesquisa quantitativa, na qual o pesquisador observa o contexto de fora 

    dele.

    Uma  terceira  divergência   também apontada por  Davis   (idem:  439444)   trata  da 

    natureza cíclica dos estudos qualitativos, isto é, da questão de a análise e a interpretação 

    dos dados se constituírem em um processo cíclico na pesquisa qualitativa. Segundo a 

  • autora,   a   teoria   não  apenas  guia  a  pesquisa   como   também é   usada  para  auxiliar   a 

    interpretação dos dados, constituindo o que a autora chama de grounded theory, ou teoria 

    desenvolvida  a  partir   dos  dados,   caracterizando  o  princípio  de   indução.  Na  pesquisa 

    quantitativa,   por   outro   lado,   os   dados   são   analisados   a   partir   de   uma   hipótese 

    estabelecida pela   teoria,  caracterizando  o  princípio  da  dedução  (ver   também Oliveira, 

    2003: 19).

    Abordagens qualitativas, conforme discutido por Telles (2002: 114), podem fornecer 

    instrumentos para o professor refletir sobre sua prática e construir significados relevantes a 

    ela. Tais abordagens partilham uma concepção de verdade como algo coconstruído pelos 

    agentes da pesquisa (oposta a uma visão positivista, em que a verdade está lá fora e cabe 

    ao pesquisador encontrála), e buscam descrever e explicar os fenômenos educacionais 

    do ponto de vista dos participantes.

    Visto que a linguagem só é produzida ou interpretada em um dado contexto social, 

    parece um tanto  inapropriado, seguindo Cameron et.  al   (1992: 12),  utilizar  unicamente 

    métodos positivistas objetivos em um estudo da  linguagem. Sob a ótica qualitativa de 

    pesquisa, portanto, não se pode ignorar os conceitos, descrições e interpretações que os 

    participantes ou atores sociais têm sobre a realidade sendo investigada.

    Além disso, conforme recémapresentado, a pesquisa qualitativa é um termo amplo 

    que engloba várias abordagens de pesquisa, incluindo a pesquisa etnográfica, conforme 

    alguns  artigos  analisados  no  corpus  evidenciam.  Uma pesquisa  etnográfica  pode   ser 

    entendida como “o estudo do comportamento das pessoas em contextos naturais, com 

    foco   na   interpretação   cultural   desse   comportamento”   (WatsonGegeo,   1988:   576)6. 

    WatsonGegeo (idem) apresenta seis princípios subjacentes ao estudo etnográfico, que 

    representam   pontos   de   partida   na   discussão   acerca   desse   método   e   da   pesquisa 

    qualitativa de modo mais amplo:

    6 Ethnography is the study of people’s behavior in naturally occurring, ongoing settings, with a focus on the cultural interpretation of behavior. 

  • • Foco   no   comportamento   de   grupos,   isto   é,   apesar   de   não   excluir   as 

    diferenças   individuais   para   o   estabelecimento   da   variação   no 

    comportamento, a pesquisa etnográfica, segundo a autora (ibidem: 577), 

    ocupase com o comportamento cultural, compartilhado.

    • Natureza holística, em que qualquer aspecto cultural ou do comportamento 

    deve ser descrito e explicado em relação ao sistema do qual faz parte.

    • A teoria guia a investigação mas não a controla, visto que cada pesquisa 

    deve  ser  entendida  em seus  próprios   termos,  em busca  de uma  teoria 

    surgida a partir dos dados investigados (grounded theory).

    • Perspectivas  emic/etic:   quanto  a  este  aspecto,  Ramanathan  &  Atkinson 

    (1999: 48) observam que há  um consenso de que o objetivo central  da 

    pesquisa etnográfica é ter acesso à perspectiva cultural (êmica) do membro 

    ou participante do contexto investigado. No entanto, WatsonGegeo (1988: 

    581) sugere que, uma vez obtida, tal perspectiva pode ser estendida por 

    meio da perspectiva etic, de forma a se fazer comparações entre diferentes 

    contextos.

    • A pesquisa  etnográfica,   por   natureza,  é   comparativa.  Dadas  as   críticas 

    acerca da nãogeneralização das pesquisas qualitativas, a autora (idem) 

    sugere que a idéia de comparação é abstrata, ao passo que não é possível 

    comparar duas culturas específicas detalhe a detalhe; porém, em um nível 

    mais   amplo,   similaridades   aparecem.   A   teoria   que   emerge   dos   dados 

    (grounded theory), potencialmente, permite transferir (ou comparar) teorias 

    constatadas em um estudo, a outro (Davis, 1995: 440). O ônus, segundo 

    Davis (idem), está no leitor, que irá determinar se e como a teoria descrita 

    em um estudo aplicase a outra situação. Essa determinação é feita com o 

    acúmulo de evidência empírica acerca da similaridade contextual entre as 

    duas situações.

    • Concepção   social   da   linguagem,   que   perpassa   os   cinco   princípios 

    anteriores:   os   indivíduos   são   socializados   em   discursos   específicos   ou 

  • forma de crer e comportarse que incluem não apenas suas experiências de 

    infância, mas também aquelas de seus campos de interesse, em oposição 

    à  Aquisição da  linguagem, que prevê   linguagem como sendo  interna ao 

    indivíduo.

    Ao observar esses seis princípios relacionados à tendência qualitativa / etnográfica 

    de pesquisa, Ramanathan & Atkinson (1999: 49) sugerem que a pesquisa qualitativa de 

    base etnográfica seja entendida como uma forma de pesquisa que pretende descrever as 

    práticas sociais dos indivíduos sob uma perspectiva êmica. Dessa forma, pretende trazer 

    diferentes tipos de dados para sustentar tal descrição, sob o princípio de que perspectivas 

    múltiplas possibilitam uma descrição mais válida das complexas realidades sociais do que 

    dados únicos poderiam por si só (idem: 50).

    Ao  tentar  esclarecer  quais  são e como se caracterizam os dois  paradigmas de 

    pesquisa atualmente discutidos em LA, e em contextos educacionais de modo geral, é 

    importante   ressaltar   que   eles   não   estão   necessariamente   em   uma   posição   de 

    “competição” no discurso acadêmico; ao contrário, diferentes paradigmas são usados com 

    diferentes  propósitos   (Davis,   1995:   448).  Conforme   Chaudron   (1986:   710)   verifica,   as 

    pesquisas em e sobre sala de aula de segunda língua ou língua estrangeira ilustram a 

    interdependência e uma virtual inseparabilidade das pesquisas qualitativas e quantitativas.

    Essa discussão, além de auxiliar  a análise e  interpretação dos dados coletados 

    neste estudo, quanto aos procedimentos metodológicos adotados em AAEs de LA, parece 

    ilustrar   uma   virtual   necessidade   de   o   profissional   engajado   no   processo   de 

    ensino/aprendizagem de línguas informarse a respeito de metodologia de pesquisa.

    Conforme Telles (2002: 95) constata, aparentemente, ainda hoje, crêse no mito de 

    que pesquisa só é realizada na universidade e que a escola deve ser mero receptáculo 

    dos resultados: a universidade produz o conhecimento e a escola o utiliza. Segundo o 

    autor, uma relação de poder e dependência entre aquele que sabe e aquele que não sabe 

    é   instaurada   no   sentido   de   que,   mesmo   em   situações   em   que   a   escola   procura   a 

    universidade, a situação é de uma tentativa de resolução de problemas. Em ambos os 

  • casos, a universidade assumiria a posição de retentora do saber e tentará “passálo” aos 

    professores e à escola.

    Esse   contexto,   conforme   apontado   pelo   autor   (ibidem),   parece   indicar   uma 

    imprescindível   necessidade   de   que   os   professores,   bem   como   demais   profissionais 

    envolvidos com a prática pedagógica nas escolas, tenham uma perspectiva geral de linhas 

    de   pesquisa   que   propiciem   seu   próprio   desenvolvimento   profissional   e   também   o 

    desenvolvimento da escola (idem: 96). Conforme o autor aponta,

    Há várias modalidades de pesquisa que nos auxiliam a melhor entender a prática de um professor,   de   sua   sala   de   aula   e   de   sua escola.   Tais   modalidades   podem   levar pesquisadores e professores à produção de conhecimentos   relevantes   tanto   para   o contexto acadêmico como para o contexto da prática.   O   método   de   pesquisa   a   ser escolhido dependerá do objeto ou questão a ser  estudada.  Por  exemplo,  se  o  professor desejar   saber   a   freqüência   de   visitas   dos pais à escola dentro dos vários períodos do ano   letivo,   provavelmente   terá   que   utilizar métodos   quantitativos,   tais   como   análise estatística e fatorial, de covariação, etc. Se ele desejar entender a relação do aluno com a   leitura,   será   mais   apropriado   utilizar métodos qualitativos de investigação (ibidem: 101).

    Com  base   nas   palavras  de   Telles   (2002),   a   abordagem   ou  metodologia  a   ser 

    adotada pelo pesquisador será resultante do objetivo ou foco da pesquisa, bem como de 

    considerações teóricofilosóficas que este tem adotado consciente ou inconscientemente.

    A grande   tendência  da pesquisa em sala  de  aula  de  línguas nos  tempos mais 

    recentes,   talvez,   esteja   relacionada   à   questão   do   professorpesquisador,   em   que   o 

    professor   deixa   seu   papel   de   cliente   ou   consumidor   de   pesquisa,   realizada   por 

    pesquisadores externos, e assume o papel de pesquisador envolvido efetivamente com a 

  • investigação crítica de sua própria prática (Moita Lopes,1996: 89). Segundo Moita Lopes 

    (idem), 

    Acredito que se verá cada vez mais pesquisa realizada   por   professores   de   línguas apresentada   em   seus   próprios   foros   de discussão   e   em   congressos,   contribuindo inclusive para gerar teorias sobre o processo de   ensino/aprendizagem   de   línguas   (idem: ibidem).

    Conforme evidenciado nos termos do autor, há uma tendência ou um incentivo à 

    divulgação de pesquisas realizadas pelo professor,  ou seja,  um  incentivo para que os 

    professores   investiguem   questões   imediatas   à   sua   prática   docente   e   publiquem   ou 

    apresentem suas  descobertas  a  seus  pares,  o  que  contribuirá  para  o  enriquecimento 

    teórico da pesquisa em LA.

    Dessa forma, a discussão realizada nessa seção foime bastante útil, não apenas 

    como   uma  maneira  de   informar   teoricamente  a   análise   realizada  neste  estudo,  mas, 

    especialmente, por  terme auxiliado a refletir  acerca da  importância de o professor de 

    línguas, de modo geral, seguindo seus objetivos específicos, ter uma maior familiaridade 

    com pesquisa, principalmente, devido à  complexa natureza de nossa área de atuação. 

    Nesse   sentido,   penso   que,   ao   conhecermos   um   pouco   mais   sobre   metodologia   de 

    pesquisa,   poderemos   ter   nossa   própria   prática   como   foco   de   reflexão   e   pesquisa 

    (Cavalcanti & Moita Lopes, 1991: 142).

    Após discutir  alguns aspectos teóricos sobre a seção de metodologia em AAEs, 

    enfatizando também duas das tendências atualmente discutidas quanto à metodologia de 

    pesquisa em LA, evidenciadas nos artigos analisados, apresento, a seguir, a organização 

    retórica   da   seção   de  metodologia  em  AAEs,   seguindo   a   representação  proposta  por 

    Oliveira (2003).

    2.4.3 A organização retórica da seção de metodologia em AAEs

  • Conforme   referido   anteriormente,   um   dos   trabalhos   diretamente   relacionado   à 

    análise proposta neste estudo, é o de Oliveira (2003). A autora, ao analisar 39 AAEs da 

    área   de   LA  7,   propõe   uma   representação   esquemática   da   estrutura   da   seção   de 

    metodologia deste gênero, conforme apresento na Figura 2.1.

    _____________________________________________________________

        MOVIMENTO 1 – Descrição do corpus ou participantes da pesquisa

    PASSO 1 Especificação do tamanho da amostra (tamanho do corpus ou número de participantes)

    PASSO 2A Especificação do perfil dos participantes (sexo e idade)

    PASSO 2B Especificação do nível de escolaridade (estudantes, professores, etc...)

    PASSO 2C Especificação da subárea a que os participantes pertencem 

    PASSO 2D Especificação do nível de conhecimento dos participantes

    na língua ou tópico que está sendo investigado pela pesquisa

    OU

    PASSO 3 Especificação do corpus selecionado

    MOVIMENTO 2 – Descrição dos materiais ou instrumentos utilizados na coleta dos dados

    MOVIMENTO 3 – Descrição dos procedimentos

    MOVIMENTO 4   Descrição da análise dos dados

    FIGURA   2.1   –   Representação   esquemática   da   estrutura   da   seção   de   Metodologia (Oliveira, 2003: 86)

    O   primeiro   movimento,   ”Descrição   do  corpus  ou   participantes   da   pesquisa”,   é 

    geralmente a primeira informação a aparecer na seção; está relacionado ao momento em 

    que   o   autor   apresenta   o   tamanho   do  corpus  investigado   ou   o   número   de   pessoas 

    envolvidas   na   pesquisa   (usando   expressões   como  X   subjects   were   selected,   X  

    participants took part, the sample/population consisted of X). Em seguida, freqüentemente, 

    o autor  do artigo apresenta o perfil  dos participantes (sexo,  faixa etária),  seu nível de 

    escolaridade (estudantes, professores) e a subárea ou nível a que pertencem (Inglês para 7 Coletados em cinco ejournals: 1) Language Learning and Technology (LLT); 2) Reading Online (ROL); 3) Teaching English as a Second or Foreign Language EJournal  (TESLEJ);  4)  Reading Matrix (RM);  e  5) Journal of Asybchronous Learning Networks (JALN).

  • Fins  Acadêmicos   (EAP),   Inglês  como Língua Estrangeira   (EFL)).  O  autor  pode  ainda 

    descrever   o   nível   de   conhecimento   do   participante,   isto   é,   por   meio   de   testes   de 

    proficiência ou questionários em geral, em que medida o participante conhece a língua

    alvo ou o tópico a ser investigado.

    O   segundo   movimento,   “Descrição   dos   materiais   ou   instrumentos   utilizados  na 

    coleta dos dados”, conforme investigado pela autora (ibidem: 88), trata da descrição dos 

    materiais   ou   instrumentos   utilizados   para   realizar   a   pesquisa   como,   por   exemplo, 

    programas   de   computador   já   existentes   no   mercado   ou   criados   pelos   autores, 

    questionários, gravações em áudio e/ou vídeo, prétestes e póstestes.

    Oliveira (2003: 88) ressalta que, apes