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8 de fevereiro de 2017 - NOTÍCIA BIOLOGIA PEDRO LIVORATTI P esquisadores do Laboratório de Entomologia Geral e Médi-ca, ligado ao Departamento de Biologia Animal e Vegetal do Centro de Ciências Biológi- cas (CCB) da UEL estão mapeando as chamadas áreas periurbanas de Londri- na, que guardam resquícios de mata, para coletar amostras de mosquitos que podem servir de vetores para vírus como os causadores da dengue, chikungunya, zika e febre amarela. O trabalho está sendo feito nas proximida- des da Avenida Arthur Thomas, no parque estadual Mata dos Godoy e no Jardim Botânico. Nestes locais foram instaladas armadilhas e as amostras re- velaram a presença do mosquito Aedes albopictus, que pode ser considerado um “primo” do Aedes aegypt. A importância deste levantamento está ligada ao comportamento dos mos- quitos transmissores de patógenos que causam doenças tropicais, que se carac- terizam pela dinâmica frente a mudanças ambientais. Estas espécies têm como característica a chamada plasticidade genética, ou seja, alta capacidade de adaptação no meio ambiente. Em que pese a preferência da espécie Aedes albopictus por áreas consideradas intactas ou alteradas, como matas e florestas, pesquisadores têm interesse em enten- der os hábitos do inseto, que podem representar riscos à saúde pública. Este levantamento não era realizado há cerca de duas décadas, de acordo com o professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL, João Antonio Cyrino Zequi, que coorde- na a pesquisa. Os mapeamentos foram iniciados pelo professor pioneiro, José Lopes, que desenvolveu os primeiros estudos sobre o Aedes na UEL. Hoje a pesquisa já está na terceira geração a cargo do estudante de mestrado em Ciências Biológicas, Luiz Eduardo Grossi. Também participa da equipe a estudante de graduação do Instituto Federal do Paraná (IFPR) de Londrina, Lílian Mirian de Moraes. No final de janeiro a reportagem do Notícia acompanhou uma parte da coleta dos pesquisadores, na mata existente no interior do Jardim Botânico, onde foram instaladas armadilhas para verificar a infestação do mosquito. São utilizados pneu e bambu, locais que comumente acumulam grande quantidade de água, Pesquisadores mapeiam mosquitos silvestres na área periurbana servindo como criadouro. Para caracterizar os criadouros os pesquisadores verificam PH, tem- peratura, salinidade, quantidade de oxigênio. De acordo com o biólogo Luiz Eduardo Grossi, as coletas são semanais, realizadas em todas esta- ções do ano e têm demonstrado pre- sença do Aedes albopictus. Ele sus- tenta que este mapeamento deverá apontar informações para se conhe- cer os limites do Aedes aegypti, Aedes albopictus e outros mosquitos na interface mata e ci- dade. Segundo o pes- quisador, além do Aedes albopictus, existem outros gêne- ros identificados que também po- dem ser potenciais vetores de doen- ças. Há registros em outros estudos de Sabethes, e Haemagogus. “Nos criadouros atuais já encontramos, além do Aedes albopictus Limatus, Culex e até larvas de mosquitos pre- dadores que vivem nesses criadouros como o Toxorhynchites”, exemplifica Grossi. Os pesquisadores querem se certifi- car se as larvas encontradas em matas podem eventualmente agir no perímetro urbano ou se o Aedes aegypti estrita- mente urbano e domiciliado poderia estar presente nesses locais, dada a proximi- dade, mudanças na paisagem e condi- ções climáticas favoráveis. O que a lite- ratura mostra é que esta possibilidade não é remota, já que os mosquitos tem grande capacidade de adaptação, poden- do trocar o ambiente natural por uma área densamente habitada para aquelas espé- cies que tem potencial genético para isso. “Nosso foco é tentar entender a dinâmica dos mosquitos nesses ambientes na região de Londrina”, resume o professor João Zequi. Monitoramento - O Grupo de Traba- lho de Vigilância e Controle do Aedes da UEL pretende ampliar o raio de ação a partir do envolvimento dos pesquisadores do CCB que estudam os macacos-pregos que habitam o horto florestal, localiza- do nas proximidades da Fazenda Esco- la e que se aproximam de salas de aula e de unidades administrativas. A pri- meira reunião será realizada ainda nes- te mês de fevereiro e tem o objetivo de organizar o acompanhamento da saú- de destes animais. No mês passado foram notificadas mortes de macacos em Minas Gerais, o que fez com que autoridades daquele estado intensificas- sem a vacinação contra a febre amarela na região. Em Londrina o trabalho tem caráter preventivo. De acordo com o professor João Zequi, na UEL o índice de infestação do mosquito é zero, segundo o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRA). Esta conquista se deve aos esforços despendidos no último ano pelo Grupo de Trabalho, que envolve a Divisão de Assistência à Saúde da Comunidade (DASC), Prefeitura do Campus (PCU), Programa ReciclaUEL e o Laboratório de Entomologia Geral e Médica. As atividades compreendem jardinagem e roçagem de grama, lim- peza e coleta de materiais dispostos em locais inadequados e envolvimento da comunidade. O grupo incentiva o “check list” se- manal em todas as unidades da UEL. O objetivo é envolver a comunidade interna para que mantenha o hábito de verificar periodicamente locais que possam acu- mular água. Segundo os membros do grupo, bastam apenas 10 minutos de checagem nos locais de estudo e de trabalho para eliminar potenciais focos de criadouros. Grupo de Trabalho de Vigilância e Controle do Aedes da UEL pretende ampliar o raio de ação a partir do envolvimento dos pesquisadores do CCB que estudam os macacos-pregos que habitam o horto florestal Os pesquisadores instalaram armadilhas para conseguir amostras que revelam a presença do mosquito UEL tem 120 armadilhas instaladas no Campus

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8 de fevereiro de 2017 - NOTÍCIABIOLOGIA

PEDRO LIVORATTI

Pesquisadores do Laboratório deEntomologia Geral e Médi-ca, ligado

ao Departamento de Biologia Animal eVegetal do Centro de Ciências Biológi-cas (CCB) da UEL estão mapeando aschamadas áreas periurbanas de Londri-na, que guardam resquícios de mata,para coletar amostras de mosquitos quepodem servir de vetores para víruscomo os causadores da dengue,chikungunya, zika e febre amarela. Otrabalho está sendo feito nas proximida-des da Avenida Arthur Thomas, noparque estadual Mata dos Godoy e noJardim Botânico. Nestes locais foraminstaladas armadilhas e as amostras re-velaram a presença do mosquito Aedesalbopictus, que pode ser consideradoum “primo” do Aedes aegypt.

A importância deste levantamentoestá ligada ao comportamento dos mos-quitos transmissores de patógenos quecausam doenças tropicais, que se carac-terizam pela dinâmica frente a mudançasambientais. Estas espécies têm comocaracterística a chamada plasticidadegenética, ou seja, alta capacidade deadaptação no meio ambiente. Em quepese a preferência da espécie Aedesalbopictus por áreas consideradas intactasou alteradas, como matas e florestas,pesquisadores têm interesse em enten-der os hábitos do inseto, que podemrepresentar riscos à saúde pública.

Este levantamento não era realizadohá cerca de duas décadas, de acordocom o professor do Departamento deBiologia Animal e Vegetal da UEL,João Antonio Cyrino Zequi, que coorde-na a pesquisa. Os mapeamentos foraminiciados pelo professor pioneiro, JoséLopes, que desenvolveu os primeirosestudos sobre o Aedes na UEL. Hoje apesquisa já está na terceira geração acargo do estudante de mestrado emCiências Biológicas, Luiz EduardoGrossi. Também participa da equipe aestudante de graduação do InstitutoFederal do Paraná (IFPR) de Londrina,Lílian Mirian de Moraes.

No final de janeiro a reportagem doNotícia acompanhou uma parte da coletados pesquisadores, na mata existente nointerior do Jardim Botânico, onde foraminstaladas armadilhas para verificar ainfestação do mosquito. São utilizadospneu e bambu, locais que comumenteacumulam grande quantidade de água,

Pesquisadores mapeiam mosquitossilvestres na área periurbana

servindo como criadouro.Para caracterizar os criadouros

os pesquisadores verificam PH, tem-peratura, salinidade, quantidade deoxigênio. De acordo com o biólogoLuiz Eduardo Grossi, as coletas sãosemanais, realizadas em todas esta-ções do ano e têm demonstrado pre-sença do Aedes albopictus. Ele sus-tenta que este mapeamento deveráapontar informações para se conhe-cer os limites do Aedes aegypti,Aedes albopictus eoutros mosquitos nainterface mata e ci-dade. Segundo o pes-qu isa dor , a lém doAedes a lb opictu s ,existem outros gêne-ros identificados que também po-dem ser potenciais vetores de doen-ças. Há registros em outros estudosde Sabethes, e Haemagogus. “Noscriadouros atuais já encontramos,além do Aedes albopictus Limatus,Culex e até larvas de mosquitos pre-da dor es que vivem ness escriadouros como o Toxorhynchites”,exemplifica Grossi.

Os pesquisadores querem se certifi-car se as larvas encontradas em mataspodem eventualmente agir no perímetro

urbano ou se o Aedes aegypti estrita-mente urbano e domiciliado poderia estarpresente nesses locais, dada a proximi-dade, mudanças na paisagem e condi-ções climáticas favoráveis. O que a lite-ratura mostra é que esta possibilidadenão é remota, já que os mosquitos temgrande capacidade de adaptação, poden-do trocar o ambiente natural por uma áreadensamente habitada para aquelas espé-cies que tem potencial genético para isso.“Nosso foco é tentar entender a dinâmica

dos mosquitos nessesambientes na região deLondrina”, resume oprofessor João Zequi.

Monitoramento- O Grupo de Traba-lho de Vigilância e

Controle do Aedes da UEL pretendeampliar o raio de ação a partir doenvolvimento dos pesquisadores doCCB que estudam os macacos-pregosque habitam o horto florestal, localiza-do nas proximidades da Fazenda Esco-la e que se aproximam de salas de aulae de unidades administrativas. A pri-meira reunião será realizada ainda nes-te mês de fevereiro e tem o objetivo deorganizar o acompanhamento da saú-de destes animais. No mês passadoforam notificadas mortes de macacos

em Minas Gerais, o que fez com queautoridades daquele estado intensificas-sem a vacinação contra a febre amarelana região. Em Londrina o trabalho temcaráter preventivo.

De acordo com o professor JoãoZequi, na UEL o índice de infestaçãodo mosquito é zero, segundo o últimoLevantamento Rápido do Índice deInfestação por Aedes aegypti (LIRA).Esta conquista se deve aos esforçosdespendidos no último ano pelo Grupode Trabalho, que envolve a Divisão deAssistência à Saúde da Comunidade(DASC), Prefeitura do Campus(PCU), Programa ReciclaUEL e oLaboratório de Entomologia Geral eMédica. As atividades compreendemjardinagem e roçagem de grama, lim-peza e coleta de materiais dispostosem locais inadequados e envolvimentoda comunidade.

O grupo incentiva o “check list” se-manal em todas as unidades da UEL. Oobjetivo é envolver a comunidade internapara que mantenha o hábito de verificarperiodicamente locais que possam acu-mular água. Segundo os membros dogrupo, bastam apenas 10 minutos dechecagem nos locais de estudo e detrabalho para eliminar potenciais focosde criadouros.

Grupo de Trabalho de Vigilância e Controle do Aedes da UEL pretende ampliar o raio de ação a partir doenvolvimento dos pesquisadores do CCB que estudam os macacos-pregos que habitam o horto florestal

Os pesquisadores instalaram armadilhas para conseguir amostras que revelam a presença do mosquito

UEL tem 120armadilhas instaladas

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