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1 revista UCS JUNHO.2014 . ANO 2 . Nº 12 LITERATURA CASO BERNARDO OPINIÃO PÚBLICA AFETA AÇÃO DA JUSTIÇA O LEGADO DA VIÚVA DE JORGE LUIS BORGES JUNHO, UM ANO DEPOIS O FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO FUTEBOL COMO AS REIVINDICAÇÕES POR DIREITOS AFETARAM A CIDADE E O PAÍS

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Edição 12

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revistaUCSJunho.2014 . Ano 2 . nº 12

LITERATURACASO BERNARDOOPINIÃO PÚBLICA AFETA

AÇÃO DA JUSTIÇA

O LEGADO DA VIÚVA

DE JORGE LUIS BORGES

JUNHO,UM ANO DEPOIS

O FUNCIONAMENTO

DO CORPO HUMANO

FUTEBOL

COMO AS REIVINDICAÇÕES

POR DIREITOS AFETARAM

A CIDADE E O PAÍS

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CASO BERNANDO MOBILIZA OPINIÃO PÚBLICA10

UCS ESTIMULA A

INOVAÇÃO19

Universidade de Caxias do SulReitor: Evaldo Antonio KuiavaVice-Reitor: Odacir Deonisio GraciolliPró-Reitor Acadêmico: Marcelo RossatoPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos KöchePró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio GraciolliChefe de Gabinete: Gelson Leonardo RechDiretor Administrativo: Cesar Augusto Bernardi

Expediente: Assessoria de Comunicação da UCS/Área de Mídias Digitais (Edição: Paula Sperb; Redação: Ana Carolina Vivan, Vagner Espeiorin, Wagner Júnior de Oliveira, Fotos: Claudia Velho) | Tiragem: 6.000 exemplaresContato: (54) 3218.2116, @ucs_oficial, www.facebook.com/ucsoficialLeia também no site www.ucs.brFoto de Capa: Hugo Araújo

ARTE

ORION, CENTAURO, CARAVELA E MAIS CONSTELAÇÕES QUE PODEM

SER VISTAS NO CÉU DA REGIÃO 13

FÉ E REDES SOCIAIS

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A MAIOR DIVULGADORA

DA OBRA DE BORGES

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AS REFLEXÕES A PARTIR DA PASSEATA QUE REUNIU 35 MIL PESSOAS EM CAXIAS DO SUL4

UMA RARA FLOR SURGE NA CIDADE UNIVERSITÁRIA18

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Só há democracia quando existe participação. Esse foi um dos recados que o professor Paulo César Carbonari, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, deixou aos alunos do curso de especialização em Educação em Direitos Humanos, durante aula aberta realizada no final de maio. Para ele, a democracia brasileira ainda precisa avançar especialmente nos aspectos que envolvem a diminuição das desigualdades sociais e a democratização dos meios de comunicação.

Ele aproveitou ainda para condenar

os casos de linchamento que se destacaram negativamente pelo país. “A sociedade não é capaz de acreditar nos próprios meios de participação que ela criou”, constatou ao lembrar do caso de uma mulher que foi espancada por populares na cidade de Guarujá, em São Paulo, após ser confundida com uma imagem de retrato falado.

“Espero que isso sirva de alerta para as pessoas que promovem um discurso de violência, que só leva a mais violência, mais medo e destruição”, finalizou.

Use seu leitor de QR Code para ver mais fotos do Campus 8 da UCS e curta nossa página do Facebook (www.facebook.com/ucsoficial)

Na edição 11 da Revista UCS, na matéria A Copa é nossa (p.15), faltou a informação de que a Alemanha também foi sede do campeonato mundial de 2006.

O verde e amarelo estarão em alta na UCS em junho. Durante os jogos do Brasil na Copa, a Universidade vai contar com telões espalhados pela Cidade Universitária. Eles ficarão localizados em três pontos: no UCS Cinema, no Centro de Convivência e no Salão de Atos do Bloco A. Além disso, televisores serão colocados nos blocos dos campi e núcleos para facilitar a torcida para Seleção – e aquela secadinha para o time adversário, é claro.

Durante os jogos do Brasil, não haverá aulas. E a liberação dos alunos ocorre meia hora antes da partida e se estende até meia hora depois do encerramento do jogo. Traga sua torcida e vista seu uniforme.

Recomenda-se também um casaco. Sabe como é: Copa em junho + UCS = grandes chances de estar frio!

Brasil x CroáciaData: 12 de junho – quinta-feiraHorário do jogo: 17h Liberação: 16h30

Brasil x MéxicoData: 17 de junho – terça-feiraHorário do jogo: 16h Liberação: 15h30

Brasil x CamarõesData: 23 de junho – segunda-feiraHorário do jogo: 17h Liberação: 16h30

CASOS DE LINCHAMENTO SÃO ALERTA

MÍDIAS DIGITAIS

FOI MAL

EM RITMO DE COPA

AS ARMADILHAS DO FRIO PARA MANTER A BOA FORMA

No inverno, o metabolismo é mais intenso para manter a temperatura do corpo. Como se perdem mais calorias para preservar o organismo aquecido, seria mais fácil emagrecer. Mas por que afinal a estação é conhecida por ser o terror de quem deseja manter o peso? Simples: “Esse menor consumo de energia não é suficiente para permitir exageros alimentares. Além disso, no inverno, temos a tendência de diminuirmos a atividade física. O resultado é o aumento de peso devido ao excesso alimentar e à diminuição do gasto calórico”, alerta a coordenadora do curso de Nutrição da UCS, professora Karina Giane Mendes.

Ela também deixa algumas dicas para quem não quer fazer feio na balança ao final da estação que começa em junho. “É importante ter uma alimentação variada e colorida. Muitas vezes, deixamos de comer verduras e frutas por causa do frio, o que é contraindicado, já que nesse período precisamos de um grande aporte de vitaminas e minerais para aumentar nossa imunidade”.

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REBELDESCOMCAUSASDE DIFÍCIL COMPREENSÃO, AS RAZÕES

DOS PROTESTOS DE JUNHO DE 2013

REVERBERAM UM ANO APÓS A

MOBILIZAÇÃO DE MILHARES DE PESSOAS

PAULA SPERB | [email protected]

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O sol já havia cedido seu lugar para a noite mais longa do ano quando 35 mil pessoas se reuniram no Centro de Caxias do Sul. Um dos momentos mais marcantes da história recente da cida-de aconteceu em 21 de junho de 2013, durante o solstício de inverno. Naquele mês, centenas de manifestações ocor-reram em todo o Brasil. Os 35 mil que protestaram em Caxias equivalem a 8% da população local. Proporcionalmente, os caxienses eram mais numerosos que os paulistas. Na véspera, 100 mil pes-soas protestaram em São Paulo, pouco menos do que 1% da população daque-la cidade. Somando todos os protestos de junho passado, estima-se que 2 mi-lhões de brasileiros tenham saído de casa para clamar por mudanças.

Um ano depois, ainda se procura entender o que mobilizou tantos bra-sileiros, que não estavam organizados como no caso de uma greve, por exem-plo. “Em um primeiro momento, parecia tudo diluído”, lembra Carlos Roberto Winckler, mestre em Sociologia e pro-fessor da UCS. “As manifestações de ju-nho foram um desaguadouro do que já vinha ocorrendo no mínimo há dois ou três anos, em vários locais. Elas estão li-gadas principalmente ao transporte pú-blico”, relembra Winkler sobre o aumen-to da passagem de ônibus em diversas cidades, o estopim dos protestos.

Entretanto, as reivindicações não fo-ram apenas por um preço justo ou pas-sagens gratuitas de ônibus. Movimentos gay, de igualdade de gênero e ambien-talistas também aderiram aos protestos. Nesses casos, os motivos estão mais claros. O que intriga a muitos é justa-mente a participação de jovens sem li-gação a nenhuma causa específica ou partido. “Havia um componente mais popular: jovens que ascenderam so-cialmente nos últimos anos a partir das políticas sociais como Bolsa Família, aumento do salário mínimo, oportunida-

de de emprego e, consequentemente, aumento do consumo”, opina Winkler. Para o professor, a ascensão econômi-ca também elevou o nível de exigência sobre os serviços públicos. “Houve uma relativa melhora social, mas as pesso-as querem mais”, diz Winkler, lembran-do que, além da saúde e segurança, a educação de qualidade também foi uma bandeira.

REIVINDICAÇÕES MULTIFACETADAS

Esferas vermelhas e redondas ador-navam os narizes de muitos manifestan-tes que aguardavam o início da cami-nhada na rua Marquês do Herval. Por volta das 18:00, palhaços, mascarados como Guy Fawkes – soldado rebelde inglês, morto em 1606, que se popula-rizou na versão anarquista das histórias em quadrinhos – e encasacados (era a primeira noite de inverno, afinal) se deslocaram pela rua Pinheiro Macha-do em direção ao bairro São Pelegrino. De lá, retornaram pela Sinimbu, quando o grupo se dividiu entre os que foram à prefeitura, os que voltaram à praça Dante Alighieri e os que foram embora com receio de alguma ação violenta. “Ninguém sabia muito bem o que es-perar. No Facebook tinha muita gente confirmada no evento, mas no fim aca-bou tendo mais gente na rua do que no Facebook”, conta Andressa Marques, 18 anos, estudante de Serviço Social da UCS e uma das coordenadoras do Di-retório Central de Estudantes (DCE) da Universidade. A referência à rede social é obrigatória porque o encontro foi com-binado pela internet, com 27 mil confir-mações virtuais. No mundo real, 35 mil pessoas compareceram. “Apesar de as manifestações não terem foco, algumas pautas que levaram o pessoal para a

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rua foram justas. Não tinha por que eu não ir para a luta junto. A intenção era boa”, diz Andressa sobre sua razão para participar da marcha. Milhares de pessoas chegaram ao protesto através da divulgação no Facebook. E outras tantas se informaram sobre o desenro-lar da manifestação através das redes, e não por meio da imprensa tradicional. Breno Dallas, de 28 anos, formado em Filosofia pela UCS e produtor cultural, participou do protesto para realizar uma cobertura multimídia alternativa divulga-da no Facebook do grupo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). “A maior parte das pessoas presentes não sabia o que estava fazen-do lá, parecia mais uma festa, uma co-memoração. E não era. Estavam todos felizes cantando o hino do Brasil e do Rio Grande do Sul. Eu não conseguia sorrir e ver graça em nada daquilo. Pa-recia que estava diante de um bando de autômatos”, relembra Breno. Para ele, faltou consciência política aos atos. “A reivindicação genérica do ‘ser contra a corrupção’ não respondia mais ao que realmente se necessitava”, analisa.

Com uma perspectiva mais otimis-ta sobre os atos de junho, Ramone Mincato, doutora em Ciência Política e professora da UCS, percebe que “havia o receio de que o protesto fosse instru-mentalizado pelos partidos”. A partici-pação de órgãos políticos seria legítima, mas as próprias pessoas que foram às ruas rejeitaram a organização parti-dária, conforme a professora. Segun-do ela, “também porque boa parte da população não se sente representada pelos partidos. Não foi o movimento de um partido, foi cívico. O indivíduo não se sente representado. Daí ele se autor-representa com a sua demanda”, con-textualiza Ramone. “Não mudei quanto à concepção que eu tinha há um ano sobre o movimento. Considero um ato de cidadania justamente por não ter um líder ou organização. O foco da mani-festação foi o sistema político brasileiro, que é fechado e não abre para as de-mandas da sociedade”, explica a pro-fessora, que ressalta que o protesto não era contra o governo em si, mas contra a forma tradicional de se fazer política.

Do asfalto, um jovem acena para a sacada de um alto prédio no Centro de Caxias. A luz acesa indica que lá em cima alguém observa a passeata. De

baixo surge o convite: “vem pra rua!”. Por onde a marcha passava, palavras de ordem eram entoadas acompanha-das do som de apitos – exceto em frente ao Hospital Pompéia. Do alto dos edifí-cios ou ao lado dos manifestantes, era possível ler faixas com dizeres como “todo poder emana do povo” e “povo calado é povo roubado”. Entre tantas reivindicações, pedia-se inclusive “mais Brasil, menos impostos”. A maior parte dos manifestantes nasceu depois da di-tadura militar, portanto em pleno regime democrático. “Lembro que desde os 15 anos eu escuto que os jovens não se mobilizavam por uma causa, o que é uma verdade. Mas há muito tempo não se via uma mobilização tão grande como a de junho. Tiveram bons resulta-dos, sim. A gente sente que tem uma ne-cessidade da juventude participar mais. Ficou uma grande vontade do pessoal de contribuir com o país”, defende a es-tudante Andressa, que participa de mo-vimentos juvenis organizados. “O que eu acho mais fantástico é que tínhamos um jovem apolítico e agora temos um antipolítico, ou seja, ele faz política con-tra o modo tradicional de fazer política, luta pelo que é correto”, analisa a pro-fessora Ramone. Para ela, “a sociedade quer mais, quer participar e controlar as decisões. A população clama por mais participação”. Justamente por isso a Copa do Mundo virou um alvo em po-tencial a um ano da competição mun-dial. A sociedade se sentiu excluída da organização do evento por “não ter sido consultada sobre como os recursos deveriam ser utilizados. Provavelmente as pessoas decidiriam por outro investi-mento”, reflete a professora.

VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL

Se fosse uma pessoa, o semáforo da rua Alfredo Chaves com a rua Dom José Barea estaria falando sozinho. Segun-dos com a luz vermelha intercalada pela amarela – mais rápida –, seguida da verde, trabalhavam em vão. Não circu-lavam carros por ali, apenas os manifes-tantes tomavam a rua, outros ocupavam o pátio em frente à prefeitura. Dezenas chegaram a deitar no asfalto pedindo paz. Um garoto, sem adeptos, deitou sozinho segurando uma flor. Uma cena digna de protesto contra a Guerra do

“AS MANIFESTAÇÕES

DE JUNHO FORAM

UM DESAGUADOURO

DO QUE JÁ VINHA

OCORRENDO NO MÍNIMO

HÁ DOIS OU TRÊS ANOS,

EM VÁRIOS LOCAIS.

ELAS ESTÃO LIGADAS

PRINCIPALMENTE AO

TRANSPORTE PÚBLICO”,

RELEMBRA CARLOS

ROBERTO WINKLER,

PROFESSOR DA UCS B

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Vietnã, mas que terminou com atos vio-lentos, por parte de vândalos e também da polícia. Em um vídeo entre dezenas de registros amadores do protesto que estão disponíveis no YouTube, um rapaz de blusão está caminhando quando é atingido por um golpe de cassetete na barriga. A agressão gratuita partiu de um policial. Em outros vídeos, percebe--se claramente quando se soltam rojões entre os manifestantes, o que gerou re-pressão policial com bombas de gás la-crimogênio, balas de borracha e cavala-ria. “A polícia atacou a todos quando viu necessidade, atingindo inclusive os que estavam ali por uma presença não poli-tizada. É sempre um tanto covarde este tipo de posicionamento, de provocar a dispersão através de bombas de efeito moral e de gás. Mas há outra maneira? Não sei. A imprensa tradicional, como de costume, tachou de ‘baderneiros’ os que atrapalharam a ‘passeata’, ‘bo-nita do jeito que estava’”, relata Breno. A estudante Andressa também foi tes-temunha de atos violentos: “no final, indo para casa de ônibus, vi pessoas correndo e os policias atirando bombas de gás. Lembro também que algumas pessoas depredaram um banco e ban-quinhas (de revista)”. Em aproximada-mente 4 horas de manifestação, o que

mais marcou Breno foram os momen-tos finais, “a correria, junto com aquela multidão, quando as bombas de gás explodiram na prefeitura. Eu estava com uma jaqueta que impedia tapar o nariz, o que irritou bastante minhas narinas”.

POR MAIS PARTICIPAÇÃO

A violência policial foi uma constan-te durante os protestos de junho, assim como as críticas à mídia, que iniciou sua cobertura destacando os atos de vandalismo e não as reivindicações. Tanto para Winkler como para Ramone, a mídia não desempenhou seu papel de mediar discussões importantes como a reforma política, que agora está prati-camente esquecida na esfera pública. Mesmo assim, os professores da UCS concordam que os protestos deixaram avanços. “Ficou um alerta de que as pessoas querem ter mais políticas so-ciais, mais presença do Estado, mas de modo que as pessoas tenham o direito a ter sua opinião”, destaca Winkler. Para Ramone, o desejo de uma maior parti-cipação popular também é um fruto co-lhido: “iniciamos uma fase importante da política brasileira. Junho foi o marco desse processo”.

“INICIAMOS UMA

FASE IMPORTANTE DA

POLÍTICA BRASILEIRA.

JUNHO FOI O MARCO

DESSE PROCESSO”, DIZ

RAMONE MINCATO,

PROFESSORA DA UCS

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Ele cativa pessoas por onde passa. Suas turmas de “Ética Organizacional” e “Empreendedorismo Cristão”, do curso de Administração da Universidade de Caxias do Sul, estão sempre repletas de alunos matriculados. Seu programa nas rádios São Francisco e Mais Nova tem público garantido e suas colunas publi-cadas nos jornais Correio Riograndense e Pioneiro levam palavras de otimismo periodicamente aos seus leitores. Seja através da fala ou da escrita, frei Jaime Bettega consegue fidelizar multidões que buscam conforto e respostas para situa-ções do dia a dia.

Frei Jaime Bettega tem a rara capaci-dade de conquistar pessoas em diferen-tes situações que não ficam restritas às missas na Igreja Imaculada Conceição. Nos últimos anos, ele também se faz pre-sente nas redes sociais, um fenômeno de audiência. A sua página no Facebook (facebook.com/freijaime) tem mais de 45 mil curtidas – já alcançou 200 mil visuali-zações – e o perfil no Twitter (@freijaime) conta com cerca de três mil seguidores. Suas publicações geram comentários como “sua mensagem nos faz refletir que realmente não precisamos de muito para sermos felizes. Obrigada!”. “Realmente não precisamos de muito quando temos paz no coração”, comentou outra leitora na página do frei. Em resposta à posta-gem “Ontem eu era inteligente, queria mudar o mundo. Hoje eu sou sábio, estou mudando a mim mesmo”, um seguidor comentou que há 20 anos havia andado de ônibus em direção à UCS junto ao frei e que também gostaria de ser sábio. Bet-

tega respondeu ao comentário: “gostei de ler a sua postagem. Obrigado! Jun-tos, em busca da sabedoria de cada dia. Forte abraço! Paz e Bem!”. Aliás, “paz e bem” é praticamente a assinatura regis-trada do frei, que já é adotada pelos seus seguidores virtuais nas postagens. A sau-dação tem origem nos ensinamentos de São Francisco de Assis.

No último dia 13 de maio, frei Jaime levou o seu carisma online para o mundo offline. Ele palestrou para os funcionários da UCS na abertura da XXXII Semana In-terna de Prevenção de Acidentes de Tra-balho. Leia a entrevista com o professor:

Como o senhor explica o sucesso nas redes sociais?

Cheguei a ter três perfis no Facebook, depois migrei para uma página. Existe uma lacuna onde as pessoas estariam buscando uma palavra com mais signi-ficado, com mais profundidade e talvez algo mais sobre o cotidiano. Porque o grande desafio das pessoas hoje é viver bem neste cenário, que depende muito mais da interioridade do que daquilo que se sucede fora da pessoa. Me assusto com tantas pessoas seguindo e multipli-cando isso. Existia essa lacuna, a falta de uma palavra que tivesse um significado e que fosse uma palavra muito simples e que relatasse o cotidiano das pessoas na sua normalidade.

Na hora de escrever para os perfis online, quais são as suas preocupações?

O contato com as pessoas permite que a gente vá entendendo essa dinâmi-

ca da vida. Temos endereços diversifica-dos, mas temos a mesma questão exis-tencial: a busca pelo sentido da vida.

Sou muito livre para escrever, mas com a preocupação de dar o entendi-mento muito simples para que a vida no dia a dia tenha um significado. Gosto de encostar as palavras na vida e, necessa-riamente, elas precisam ter um conteúdo vivencial.

Minha preocupação não é com a te-oria, não é com o escrever bonito, mas é conseguir fazer com que as palavras deem um significado novo à vida.

A tecnologia afasta as pessoas?As tecnologias, por si só, não causam

AUDIÊNCIA FIEL

WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | [email protected]

“QUANDO NÃO ESTOU

ESCREVENDO, ESTOU

PENSANDO NAQUILO

QUE PODERIA ESCREVER.

NA FRENTE DO MEU

COMPUTADOR TEM UM

MONTE DE BILHETINHOS

QUE VOU FAZENDO

DURANTE A SEMANA.

CADA PALAVRA ALI

VAI INSPIRANDO UM

CAMINHO”, CONTA O

FREI

PROFESSOR DA UCS, FREI JAIME BETTEGA AMPLIA

O ALCANCE DE SUAS MENSAGENS DE ESTIMULO À

POSITIVIDADE ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS

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tudo isso. As tecnologias têm encontrado pes-soas defasadas no sentido antropológico, isto é, nem sempre a gente sabe o que é a vida. Nem sempre a gente tem claro as metas, as buscas, os sonhos. Então esbarramos em problemas, não sabemos lidar com as nossas carências. Para alguns, as novas tecnologias te tiram do cotidiano. Eu já penso que muitas pessoas estão ampliando os horizontes tam-bém através das tecnologias, sem desmere-cer ou deixar em segundo plano aquilo que é próprio: família, amigos, local de trabalho, etc.. As tecnologias dependem muito das pessoas e elas estão defasadas no quesito antropoló-gico, humano e até filosófico. Quando bem utilizadas, as tecnologias sempre vão permitir novos horizontes, novos entrelaçamentos e também vão confirmar que não existe distân-cia: o que está perto tem valor, mas o que está longe também tem valor.

Com tantas atividades, como o senhor organiza o tempo para escrever?

Tento buscar os momentos de maior silên-cio para escrever. No dia a dia de exigências maiores, como atendimento a pessoas, plane-jamento de aulas, eu não consigo. Mas eu me programo e tento, por exemplo, em um domin-go à tarde, dar conta daquilo que vai acontecer durante a semana e o que eu preciso deixar escrito.

Hoje, o tempo é muito precioso, valorizo os minutos. Quando não estou escrevendo, estou pensando naquilo que poderia escrever. Na frente do meu computador tem um mon-te de bilhetinhos que vou fazendo durante a semana. Cada palavra ali vai inspirando um caminho. De vez em quando, tiro um tempo para pesquisa de frases, de ideias, de jeitos de pensar. Tu tens que ser muito organizado. Quando tu gostas de escrever, te identifica na escrita e sabe que isso tem impactado na vida das pessoas, tu te motivas ainda mais. Se tu não podes ajudar materialmente, se tu não po-des ajudar com a tua presença, se não podes aliviar a dor de alguém, podes escrever. Isso se torna uma forma de ajudar muitas pessoas.

Essa leitura nas redes sociais faz com que as pes-soas expressem sentimentos pouco explorados?

Depois de um tempo, percebi e tive retorno de que os escritos têm proporcionado o apren-dizado para a maturidade. As pessoas dizem “tu estás me ensinando a viver” ou “estou olhando a vida diferente”. Vejo que nós temos espaços em aberto. As redes sociais te pedem disciplina. São textos rápidos, pois as pesso-as não têm tanto tempo. Tu tens que ser muito fiel. Também aprende a não tratar de assuntos muito polêmicos. Convém utilizar esse espaço para falar sobre vida no cotidiano.

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NO TRIBUNALDA OPINIÃOPÚBLICA

OS HOLOFOTES MIDIÁTICOS SOBRE O CASO

BERNARDO OPORTUNIZAM DEBATE SOBRE A

INFLUÊNCIA DA IMPRENSA NAS DECISÕES JURÍDICAS

E NA ATUAÇÃO DA POLÍCIA

VAGNER ESPEIORIN | [email protected]

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NO TRIBUNALDA OPINIÃOPÚBLICA

Entrevistas coletivas dia sim, ou-tro também. Coberturas minuto a mi-nuto na internet e ampla repercussão no rádio, na televisão e no jornal. Três Passos, ao norte do Estado, ganhou o centro da atenção do público. O motivo: Bernardo.

Com apenas 11 anos, o corpo de Bernardo Uglione Boldrini foi encontra-do no dia 14 de abril, enterrado em um matagal na cidade de Frederico Wes-tphalen, distante 80km de Três Passos. As principais suspeitas do homicídio recaem sobre o pai da criança, o mé-dico Leandro Boldrini, a madrasta do menino, a enfermeira Graciele Ugulini, e a amiga do casal e assistente social Edelvânia Wirganovicz. O caso chocou o público e mobilizou a imprensa em busca de informações sobre a morte do garoto.

O caso Bernardo ilustra uma situ-ação que tem se tornado comum: as grandes coberturas jornalísticas de tra-gédias. Foi assim com o incêndio da Boate Kiss, quando 242 jovens morre-ram após uma casa noturna em Santa Maria pegar fogo. Igualmente noticiado, o Caso Eliza Samudio ganhou a aten-ção do país e do mundo pelo desapare-cimento da modelo que namorava o go-leiro do Flamengo, Bruno Fernandes de Souza. O jogador foi condenado como um dos autores do crime.

Além de ganharem os noticiários, esses casos foram acompanhados de perto por Jader Marques, advogado criminalista que faz a defesa do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, representa o sócio-proprietário da Boate Kiss, Elis-

sandro Spohr, e ajudou na acusação de Bruno. Marques esteve na Universidade de Caxias do Sul em maio para pales-trar aos alunos do curso de Direito. No debate, um tema com que convive no seu dia a dia: processo penal e impren-sa.

UM PALCO TRANSFORMADO EM JÚRI

Voz potente para um UCS Teatro lo-tado. Em qualquer sinal de distração, batidas fortes do pé na madeira do pal-co faziam com que o público retornasse o foco para ele. Mas, Jader Marques não precisou recorrer ao artifício muitas vezes. O assunto atrativo bastou, soma-do ao excesso de gestos, para que os acadêmicos – normalmente apaixona-dos por direito penal – mantivessem os olhares atentos. Falou das influências da imprensa no processo penal e da im-portância que instituições como Minis-tério Público e Polícia Civil atribuem aos noticiários. Questionou os programas sensacionalistas da tevê. Não poupou críticas.

“Se a autoridade policial não tomar cuidado de preservar o inquérito, corre o risco do interesse midiático se sobre-por à busca da prova, à elucidação dos fatos. Isso é muito perigoso”, disse Mar-ques na UCS.

A preocupação do advogado não se dá apenas por defender o princi-pal suspeito de cometer um crime que chocou o país. Tem relação com alguns

institutos jurídicos que alicerçam a de-mocracia: a ampla garantia de defesa e o direito ao contraditório – sem eles, viveríamos numa ditadura. Mas assim como essas garantias se baseiam em princípios constitucionais, a liberdade de expressão também. E é justamente aí que surgem jornais, rádios e emisso-ras de televisão com seu potencial no-ticiador.

O criminalista depara-se diariamen-te com a influência da imprensa. Exceto pelo Caso Eliza Samudio, em que foi acusação, o criminalista está sempre no lado contrário à opinião pública. Na época da Boate Kiss, aparecia quase que diariamente na televisão. Mais re-centemente, ele respondeu pelo Face-book uma crônica do escritor Fabrício Carpinejar. No jornal Zero Hora, Carpi-nejar escreveu um texto para Leandro Boldrini: “Você nem pai foi. Nem homem foi. Você foi o que restou”. Marques re-trucou pelo seu cliente: “Fabricio sujou de sangue as mãos de Leandro, antes de a própria Polícia fazer qualquer afir-mação”.

EMOÇÃO X RACIONALIDADE: ENTRE A TÉCNICA E O PÚBLICO

Por trás do debate travado entre os dois está o confronto entre a emoção – estampada nas palavras de Carpine-jar – e a racionalidade no discurso de Marques, afinal, só há criminalização após o julgamento. Parecem ser esses os aspectos que envolvem as grandes

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Jader Marques, advogado criminalista

Projeção mostra o céu de Caxias do Sul | Foto: Claudia Velho

coberturas jornalísticas. De um lado, a opinião pública alimentada pelas notícias. De outro a defesa dos suspeitos, quase sempre acuada.

“Os fatos de grande impacto emocio-nal são comuns na imprensa. As cober-turas acabam ganhando essa dimensão porque nós, humanos, somos movidos pela emoção”, explica a professora do Centro de Ciências da Comunicação e do Mestrado em Turismo, Maria Luiza Cardi-nale Baptista.

E a emoção tomou os jornais ainda no século XIX. Foi na França que notícias colocadas nos rodapés passaram a fazer sucesso. Casos familiares, tragédias e fa-tos relacionados às pessoas começaram a atrair a atenção do público. Em substi-tuição às páginas oficiosas, os textos fize-ram sucesso e até mesmo deram algum retorno financeiro a jornais que viviam num período de crise e conviviam com um população quase que totalmente analfa-beta. Desde aquela época, a notícias se transformaram em produto. “Se a impren-sa é uma indústria, a notícia é o seu pro-duto. Eu parto da ideia que a informação é também um bem simbólico”, afirma Maria Luiza, que coordena o grupo de pesquisa Amorcom (Comunicação, Amorosidade e Autopoiese).

Além disso, a informação tornou-se poder. Empoderada, a mídia tem uma ca-pacidade mobilizante. Ela trabalha em pa-ralelo com outras instituições e, por vezes, influencia a atuação delas. “O jornalismo ocupa um espaço que é alternativa de jurisdição. Ele tem posicionamentos que interferem não só no público, mas na opi-nião de pessoas que diretamente estão envolvidas nas decisões técnicas”, anali-sa Maria Luiza.

A pesquisadora da UCS alerta para alguns cuidados que envolvem a crítica e que costumam generalizar a atuação profissional: “A comunicação social tem sido o bode expiatório de uma sociedade em que tudo está em crise. Parece que o problema social se resolve criticando a mídia”.

Noticiar com ética e respeitar a histó-ria das pessoas são elementos básicos de uma cobertura jornalística. Ambas características podem guiar a apuração das informações e o modo como elas são levadas ao público. Apesar disso, a rela-ção entre imprensa e direito está longe do consenso. Seja no campo jurídico ou na Mídia, por enquanto só há um veredicto: a opinião pública, cada dia mais, dita as regras.

“SE A AUTORIDADE POLICIAL NÃO TOMAR

CUIDADO DE PRESERVAR O INQUÉRITO, CORRE

O RISCO DO INTERESSE MIDIÁTICO SE SOBREPOR

À BUSCA DA PROVA, À ELUCIDAÇÃO DOS

FATOS. ISSO É MUITO PERIGOSO”, DISSE MARQUES,

ADVOGADO DO PAI DE BERNARDO

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Projeção mostra o céu de Caxias do Sul | Foto: Claudia Velho

ANA CAROLINA VIVAN, especial | [email protected]

O ZODÍACO NO CÉU DE CAXIASPLANETÁRIO DA UCS PROJETA

CONSTELAÇÕES MUITO ALÉM DAS

TRÊS MARIAS E DO CRUZEIRO DO SUL

As estrelas que enxergamos ao olhar o céu são diferentes das percebidas nos países ao Norte da linha do Equa-dor. A explicação é simples: a Terra é redonda, o que gera diferentes pontos de vista para quem observa o infinito. Isso significa de Caxias do Sul se tem uma visão muito particular do céu. Aqui, a popular constelação Cruzeiro do Sul é facilmente vista, mas não seria visuali-zada nos Estados Unidos, por exemplo. A explicação é do professor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Odilon Giovannini, que também coordena o Planetário da UCS.

Conforme o professor, as estrelas estão organizadas em 88 constela-ções. Além dos conjuntos do Zodíaco, em Caxias do Sul enxergamos Orion, Centauro e Caravela. Além das estre-las, eventualmente é possível enxergar os planetas. A olho nu, podemos ver Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Satur-no. Os demais só podem ser vistos por meio de telescópios ou lunetas.

As estrelas possuem um ciclo de evolução e a unidade de distância uti-lizada é anos-luz, que equivale a cen-tenas de milhões de quilômetros. “Usa-mos essa unidade de medida porque a distância entre as estrelas é muito grande. Então, nos referimos a quanto tempo a luz leva para sair daquela es-trela e chegar até nós. As galáxias mais próximas, como a Andrômeda, estão a centenas de milhões de anos-luz. A luz que estamos vendo hoje, provavelmen-te saiu da estrela quando ainda existiam os dinossauros na Terra ” explica Gio-vannini.

No inverno, a constelação que con-seguimos identificar mais facilmente é a de Escorpião – Antares é a principal estrela do grupo com sua cor vermelha. No verão, é possível visualizar a conste-lação de Orion e das Três Marias. “Para identificar as constelações, só precisa ter um pouco de vontade e um céu bem escuro sem estar afetado pela poluição luminosa”, afirma.

O Planetário da UCS , junto Museu de Ciências Naturais, é aberto ao públi-co às terças e quartas-feiras pela ma-nhã e nas quintas-feiras pela manhã e tarde.

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WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | [email protected]

O ESQUEMA TÁTICO DO CORPO HUMANOO ORGANISMO DE UM JOGADOR DE FUTEBOL FUNCIONA

COMO UM SISTEMA DE INFORMAÇÕES SIMULTÂNEAS

CÉREBRO

WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | [email protected]

No instante em que um jogador vê a bola sendo lançada, seu sistema neurológico entra em ação. Automaticamente o cerebelo (responsável pela precisão dos movimentos) e o lobo paretal (parte do cérebro responsável pela atenção) concentram-se no objeto. Estas partes do cérebro já estão atuando junto com o lobo temporal, calculando o momento em que essa bola vai chegar para o jogador. Ao mesmo tempo, a informação de como deve-rá ser realizado o movimento de parada de bola e o que deve fazer depois já chegou até as pernas. “É um processo extremamente complexo. Isso tudo é atenção. Por isso que é correto afi rmar que, se o jogador se distrair um pouco, o time perde”, explica o professor Asdrubal Falavigna, neurocirurgião, coordenador do curso de Medicina da UCS. Inúmeras áreas do cérebro funcionam simultaneamente quando a ação exige resposta motora rápida.

POR QUE TREINAR É TÃO IMPORTANTEO treinamento é indispensável para o bom desempenho de um jogador porque os dois

períodos de 45 minutos em campo são de estresse intenso. “Além de todas as condições físicas, é necessário ter um controle neurológico de comando muito bem treinado. O trei-namento faz com que os atletas tenham refl exos involuntários, que a gente também chama de movimentos automáticos, feitos sem pensar. É tão automático que o cérebro não os registra”, detalha o professor Falavigna.

CRAQUES DA MENTEA precisão dos movimentos e a capacidade de realizá-los de forma rápida e involuntária

é facilmente adquirida durante a infância e a adolescência. Falavigna conta que os times de futebol não costumam apenas exercitar o físico de crianças e jovens com o intuito de de-senvolver os talentos precoces. Os times também testam o modo como as promessas do futebol respondem a todas as táticas dos treinamentos. “Eles passam tarefas de execução e analisam a resposta do cérebro, aí defi nem quem será um bom jogador no futuro. O atleta não é bom com 15 ou 16 anos, ele já é bom aos sete”, enfatiza o neurocirurgião.

Assim como os 11 titulares da Seleção Brasileira que estarão em campo durante a Copa do Mundo, os órgãos do corpo humano desempenham funções específi cas para trabalhar em conjunto. Do cérebro que dispara os estímulos ao músculo que responde, o corpo é uma máquina que funciona como um time: de forma complexa e muito bem esquematizada. Três pro-fessores da UCS explicam como alguns órgãos atuam quando acionados para uma partida de futebol.

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Metabolismo, o artilheiro da partidaDurante os 90 minutos que os jogadores da Seleção

Brasileira permanecerão em campo, o corpo passará por alterações cardíacas, musculares e respiratórias. As alterações provocadas pela prática esportiva têm predo-minância no metabolismo, que é o caminho que o nosso corpo faz para produzir e utilizar energia.

O professor de Fisiologia do Centro de Ciências da Saúde da UCS, Rafael Colombo, explica que na prática do futebol predomina o metabolismo aeróbio, que ocor-re na presença de oxigênio, com picos de metabolismo anaeróbio, sem a presença de oxigênio. “Uma das suas características é, primeiro, aumentar a frequência cardí-aca. O coração bate mais vezes por minuto e a quanti-dade de sangue que gira pelo corpo passa dos cerca

de 5 para 30 litros por minuto”, explica Colombo. Segundo o professor, quando o jogador realiza

um chute que atinge uma distância entre cin-co e 10 metros, a frequência cardíaca au-

menta e a força de contração do co-

ração também, já que existe a necessidade do aumento da quantidade de sangue que está circulando pelo cor-po. “A musculatura precisa contrair e relaxar numa veloci-dade mais alta. Por conta disso, a quantidade de sangue levada para os músculos é muito maior.”

INSPIRAR E EXPIRARO jogo de futebol nada mais é do que um exercício

físico de alto rendimento, que exige respostas de todo o organismo. Durante o período em que os jogadores es-tão em campo, diversas transformações ocorrem, como a sobrecarga do sistema respiratório. “Há um aumento da frequência respiratória. A respiração passa das 12 in-cursões por minuto (normalmente, em repouso, é essa a quantidade de vezes que inspiramos e expiramos), para um número muito maior, pois as células precisam de mais oxigênio. Esse volume maior de oxigênio vai che-gar nas células e vai gerar a energia que vai manter as contrações musculares”, descreve o professor Colombo.

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características é, primeiro, aumentar a frequência cardí-aca. O coração bate mais vezes por minuto e a quanti-dade de sangue que gira pelo corpo passa dos cerca

de 5 para 30 litros por minuto”, explica Colombo. Segundo o professor, quando o jogador realiza

um chute que atinge uma distância entre cin-co e 10 metros, a frequência cardíaca au-

menta e a força de contração do co-

a sobrecarga do sistema respiratório. “Há um aumento da frequência respiratória. A respiração passa das 12 in-cursões por minuto (normalmente, em repouso, é essa a quantidade de vezes que inspiramos e expiramos), para um número muito maior, pois as células precisam de mais oxigênio. Esse volume maior de oxigênio vai che-gar nas células e vai gerar a energia que vai manter as contrações musculares”, descreve o professor Colombo.

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Os jogadores profi ssionais vivem um paradoxo interessante: possuem uma frequência cardíaca baixa, na faixa dos 45 batimentos por minuto. Isso se deve ao treinamento pelo qual eles são submetidos. “Uma pessoa que não é atleta e tem essa frequência cardíaca merece atenção redobrada”, ressalta a diretora do Instituto de Medicina do Esporte da UCS (IME-UCS) e cardiologista, professora Olga Tairova.

A médica explica que o ser humano é portador de um sistema nervoso autônomo que regula também a frequência cardíaca. Ele é importante para o rendimento do jogador, já que é necessário que entre em campo com um alto número de batimentos cardíacos. Este sistema tem duas partes: simpática, que está ligada ao emocional, por aumentar a frequên-cia cardíaca, e a parte parassimpática, responsável pela economia de energia e diminui a frequência cardíaca. O treinamento físico aumenta a atividade parassimpática. O organismo treinado conserva muito bem a energia e sabe usá-la de modo econômico. “Por isso os atletas têm baixa frequência cardíaca”, ilustra Tairova.

MOTIVAÇÃO, A CHAVE DA VITÓRIAQuando um jogo está prestes a iniciar, os técnicos estimulam seus atletas para que

alcancem o objetivo maior da competição: vencer. E isso tem tudo a ver com o coração. “É uma estratégia fi siológica para que a frequência cardíaca aumente. Isso é bom, porque um coração treinado vai bombear uma grande quantidade de sangue para os músculos. Dessa forma, o jogador vai correr mais rápido. Vai render mais em campo”, destaca a di-retora do IME-UCS. Ela ainda reforça que a motivação é essencial: “se não tem um bom clima na equipe, isso refl ete no sistema nervoso autônomo e os atletas não terão um bom rendimento”.

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HERDEIRA DO LEGADO LITERÁRIO

MARÍA KODAMA, QUE

FOI COMPANHEIRA DO

ESCRITOR JORGE LUIS

BORGES, PERSISTE NA

MISSÃO DE DIFUNDIR

A OBRA DO ESCRITOR

ARGENTINO

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Seja pelo cabelo parcialmente bran-co, parcialmente escuro, María Kodama pode ser percebida de longe. O sem-blante tranquilamente simpático anun-cia que, sim, é permitido perguntar à vontade sobre o tema de interesse da maioria dos que assistiram à sua pa-lestra de encerramento do II Seminário Internacional de Língua, Literatura e Processos Culturais (SILLPRO) na UCS: Jorge Luis Borges, seu falecido marido.

Famosa por sua intimidade com um dos escritores latino-americanos mais célebres, María Kodama palestrou na Universidade de Caxias do Sul, em 21 de maio. A viúva de Borges desembar-cou em Caxias após partir de Tel-Aviv, com escala em Frankfurt e Rio de Ja-neiro, até chegar a Porto Alegre e, final-mente, à UCS. Após tantas milhas, os olhos puxados de Kodama – herança do pai japonês – pareciam ainda mais fechados, mas não menos sagazes. Na cidade israelense, Kodama divulgou a obra de Borges. Tarefa que assumiu após a morte do autor, em 1986. Pro-fessora e tradutora, ela responde por todos os direitos autorais do ex-marido. Mesmo com o trajeto longo e cansativo, Kodama falou ao público presente no UCS Teatro ao estilo de uma conversa. O tema do encontro acadêmico era o espaço e cenários de alguns contos do autor. Kodama preferiu responder aos questionamentos da plateia. Deixou al-gumas oportunidades para que todos conhecessem Borges de um lugar mais próximo.

“Borges era sensível e tímido, mas não deixava de ser comunicativo. Dizia que sem livros, não poderia imaginar a própria vida”, recorda. A colocação da viúva procede. A infância do argentino foi cercada por brochuras. O pai, advo-gado, tinha uma grande biblioteca par-ticular. Mais velho, o célebre escritor se tornou diretor da Biblioteca Nacional da

República Argentina. Foi num mundo de livros – onde a imaginação é matéria principal – que Borges foi criado. Não por acaso, ele se tornou um ícone do realismo fantástico, estilo marcado por agregar ao cotidiano, fatos mágicos como se fossem naturais.

Kodama e Borges se conheceram na faculdade. Ela foi aluna do mestre da escrita durante a graduação na Univer-sidade de Buenos Aires, onde ele lecio-nou por um bom tempo. “Não sabia se havia me aprovado porque eu sabia (o conteúdo), ou porque me queria”, brin-ca ela.

No intervalo entre as posições de aluna e mulher, surgiu a função de se-cretária literária. Durante os últimos anos de vida de Borges, Kodama aju-dou o escritor principalmente quando a visão já não lhe era tão boa e a cegueira o acometia. Após se casar, além de ser a herdeira intelectual, Kodama se trans-formou numa ferrenha defensora da obra do autor de “Aleph”. Hoje, preside o Instituto que leva o nome do ex-com-panheiro.

Logo após a morte de Borges, ela se deparou com um poema cuja autoria era a ele atribuída. Uma observação do texto já demonstrava: não poderia ser. Durante oito anos, ela foi irredutível ao não desistir da tarefa de descobrir a ver-dadeira fonte do texto literário atribuído ao marido. Ela conseguiu desvendar a autoria real do texto. “O poema, que se chamava Instantes ou Momentos, era um disparate atômico. Era um absurdo atribuir a Borges aqueles versos. Era di-ferente da forma como escrevia”, relata.

Apesar do jeito aparentemente tími-do, Kodama demonstrou na UCS saber ser indômita quando o assunto é o le-gado de Borges. Provou, não que fosse necessário, que pode ser mais do que apenas a viúva de um dos maiores es-critores que o mundo já conheceu.

“BORGES ERA SENSÍVEL

E TÍMIDO, MAS NÃO

DEIXAVA DE SER

COMUNICATIVO. DIZIA

QUE SEM LIVROS, NÃO

PODERIA IMAGINAR

A PRÓPRIA VIDA”,

RECORDA KODAMA

VAGNER ESPEIORIN | [email protected]

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PRIMEIRA FLOR EM DÉCADAS Na entrada do UCS Aquário, uma planta chama atenção.

Seu nome científico é Agave attenuata Salm-Dyck e pela pri-meira – e última – vez ela floresceu. Isso porque as agaves florescem uma única vez durante sua vida após pelo menos 10 anos, podendo chegar a 30. Depois a floração, a planta morre. Nativa do México, é mais cultivada como ornamental pela sua beleza paisagística. Conforme o biólogo Felipe Gon-zatti, curador do Herbário UCS, ela é uma planta suculenta que atinge até 1,5 metros de altura com suas folhas. Quando em floração, pode atingir até 5m de altura. Suas flores ficam reunidas verticalmente ao centro e desabrocham gradativa-mente da base até o ápice. É uma planta cultivada ao sol, que normalmente não resiste ao frio intenso. A agave da UCS parece ser uma exceção.

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A UCS tem como missão gerar e disseminar o conhecimento. A atual Reitoria propõe uma univer-sidade de qualidade e excelência, uma universidade contemporâ-nea e inovadora. A Pró-Reitoria de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico – PIDT tem um papel fundamental nesta construção como um elo articulador/agrega-dor entre as demandas do mundo empresarial e setor público com a pesquisa desenvolvida na univer-sidade.

A PIDT está estruturada em três grandes alicerces: proje-tos de inovação e pesquisa apli-cada, o parque científico e tecno-lógico e a prestação de serviços com alto valor agregado. De for-ma planejada e coletiva esta Pró--reitoria tem como objetivo propor ações que visam incrementar a inovação e o empreendedorismo tanto no ensino quanto na pes-quisa de forma a contribuir para o desenvolvimento tecnológico da sociedade, além de ampliar a geração de ambientes de transfe-rência de tecnologia e de conheci-mento que propiciem a inovação e geração do desenvolvimento de toda a região. Cabe à PIDT forta-lecer a capacidade de inovação e empreendedorismo através da ar-ticulação e consolidação de uma plataforma de desenvolvimento científico e tecnológico através de um fortemente relacionamento com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação juntamente com os núcleos de pesquisa, núcleos de inovação e da infraestrutura

instalada na universidade além da rede de relacionamento com outras instituições de pesquisa e inovação no Brasil e no exterior.

A UCS já atende às condições básicas para fomentar empresas inovadoras: conhecimento ge-rado pela pesquisa consolidada em várias áreas, incubadoras em funcionamento e programas de empreendedorismo institucional. Ainda precisamos avançar na ar-ticulação junto às empresas. Ou-tro ponto forte da instituição está na infraestrutura de laboratórios tecnológicos e institutos reconhe-cidos nacionalmente que pres-tam serviços diferenciados com credenciamento junto a órgãos certificadores a nível nacional. En-tretanto, ainda podemos avançar na utilização destes recursos de forma obter melhores resultados tanto na questão de sustentabili-dade quando na questão da qua-lidade na prestação do serviço.

Com o Parque Científico e Tec-nológico (TECNOUCS) vamos buscar soluções conjuntas para o desenvolvimento científico e tecnológico, através de parcerias com as entidades governamen-tais, com os setores produtivos e com a classe empresarial. Com o TECNOUCS caberá mais ainda à Universidade estimular o proces-so de inovação, facilitar a trans-ferência de tecnologia e articular as relações entre a academia e a sociedade, bem como promover o desenvolvimento.

Professor

Odacir Deonisio GraciolliVice-Reitor e Pró-Reitor de Inovação e

Desenvolvimento Tecnológico

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

ARTIGO

COM O TECNOUCS CABERÁ À UNIVERSIDADE

ESTIMULAR O PROCESSO DE INOVAÇÃO, FACILITAR

A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E ARTICULAR

AS RELAÇÕES ENTRE A ACADEMIA E A SOCIEDADE,

BEM COMO PROMOVER O DESENVOLVIMENTO.

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2020

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