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Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011 TWITTER E BLOG COMO ESPAÇOS ALTERNATIVOS DE LEITURA Bruna B. Lessa dos Santos 1 Nídia M. L. Lubisco 2 Resumo: As tecnologias digitais do século XXI proporcionaram novas demandas que culminaram em novas formas de organização social. O sujeito leitor foi apresentado aos novos espaços de leitura em meio virtual, deparando-se com novas linguagens, novas ferramentas, novas formas de expressão e comunicação o que explica o uso intenso das redes e plataformas sociais como blogs e twitters. O presente estudo pretende criar uma reflexão sobre esses novos ambientes de leitura, assim como os benefícios em seu uso e o incentivo ao hábito da leitura. Propõe-se a analisar as mídias sociais blog e twitter como espaços alternativos de leitura, originando um novo leitor, caracterizado aqui como leitor-espectador- internauta. Palavras-chave: espaços de leitura, blog, twitter. Abstract: Digital technologies have provided new twenty-first century demands that led to new forms of social organization. The subject was presented to the reader new reading spaces in virtual media, faced with new languages, new tools, new forms of expression and communication which explains the heavy use of social networks and platforms such as blogs and twitters. The present study aims to create a reflection on these new reading environments, as well as the benefits in its use and encouraging the reading habit. It is proposed to analyze the social media blog and twitter as alternative spaces for reading, creating a new reader, here characterized as a reader-spectator-surfer. Keywords: spaces for reading, blog, twitter. Introdução As transformações vivenciadas em todos os ramos sociedade é uma característica marcante do século XXI, mudanças estas que interferem até mesmo em práticas sociais há bastante tempo conhecidas e alicerçadas, como por exemplo, a escrita e a leitura. Estas práticas sociais são alvo de grandes revoluções, podendo-se citar a primeira, quando o rolo de papel foi substituído pelo códice, ou seja, o volume encadernado, reunindo páginas e capítulos. Atualmente, vemos o salto para o suporte eletrônico, no qual uma tela pode exibir 1 Estudante do 7º semestre do curso de Biblioteconomia e Documentação UFBA/ICI. 2 Professora do ICI/UFBA, Doutora em Documentação.

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Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011

TWITTER E BLOG COMO ESPAÇOS ALTERNATIVOS DE LEITURA

Bruna B. Lessa dos Santos1

Nídia M. L. Lubisco2

Resumo: As tecnologias digitais do século XXI proporcionaram novas demandas que

culminaram em novas formas de organização social. O sujeito leitor foi apresentado aos

novos espaços de leitura em meio virtual, deparando-se com novas linguagens, novas

ferramentas, novas formas de expressão e comunicação o que explica o uso intenso das redes

e plataformas sociais como blogs e twitters. O presente estudo pretende criar uma reflexão

sobre esses novos ambientes de leitura, assim como os benefícios em seu uso e o incentivo ao

hábito da leitura. Propõe-se a analisar as mídias sociais blog e twitter como espaços

alternativos de leitura, originando um novo leitor, caracterizado aqui como leitor-espectador-

internauta.

Palavras-chave: espaços de leitura, blog, twitter.

Abstract: Digital technologies have provided new twenty-first century demands that led to

new forms of social organization. The subject was presented to the reader new reading spaces

in virtual media, faced with new languages, new tools, new forms of expression and

communication which explains the heavy use of social networks and platforms such as blogs

and twitters. The present study aims to create a reflection on these new reading environments,

as well as the benefits in its use and encouraging the reading habit. It is proposed to analyze

the social media blog and twitter as alternative spaces for reading, creating a new reader, here

characterized as a reader-spectator-surfer.

Keywords: spaces for reading, blog, twitter.

Introdução

As transformações vivenciadas em todos os ramos sociedade é uma característica

marcante do século XXI, mudanças estas que interferem até mesmo em práticas sociais há

bastante tempo conhecidas e alicerçadas, como por exemplo, a escrita e a leitura. Estas

práticas sociais são alvo de grandes revoluções, podendo-se citar a primeira, quando o rolo de

papel foi substituído pelo códice, ou seja, o volume encadernado, reunindo páginas e

capítulos. Atualmente, vemos o salto para o suporte eletrônico, no qual uma tela pode exibir

1 Estudante do 7º semestre do curso de Biblioteconomia e Documentação – UFBA/ICI. 2 Professora do ICI/UFBA, Doutora em Documentação.

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todos os tipos de obra já escritos; uma nova técnica de produção e reprodução de textos e a

forma como são disponibilizados compõem algumas das características desta nova sociedade,

baseadas nas novas tecnologias da informação.

O perfil do leitor também foi alterado, como não poderia deixar de ser, principalmente

em relação ao material escrito, tendo-se que outrora era impossível ler e escrever num mesmo

momento, ou fazer críticas a um texto e expor suas interpretações simultaneamente com o

autor. A leitura tornou-se mais ágil e livre, surge o "leitor extensivo"; que lê várias obras com

rapidez e sob um olhar crítico. Sendo assim, confirma-se que a leitura interativa, autor e

leitor,

[...] não é um processo unidirecional, do escritor para o leitor. A leitura envolve

mais do que a mera decodificação de símbolos. A leitura envolve significação, que

envolve a compreensão. Trata-se de pensamento, ação e reação. Um bom leitor vai

ler o que está declarado, mas também ler o que não é declarado, um bom leitor irá

relacionar o que é lido com seu conhecimento e experiência, e assim ser levado à

decisão, ou, talvez, a indecisão, quando crenças são desafiadas. Ler é resposta.

(ROYCE, 2004, p. 255 apud FURTADO; OLIVEIRA, 2011)

Este novo leitor, ou leitor contemporâneo, cada vez mais crítico, propõe novos meios

de acesso à leitura, visto que a velocidade em que atualmente circulam as informações, por

conta das novas tecnologias, não o deixa esperar. A Web 2.0, termo utilizado em 2004 por

Tim O’Reilly, da empresa O’Reilly Media, é definida como os serviços baseados em

plataforma web, cuja maior característica é a colaboração entre usuários e autores, inclusive

com inversão de papeis entre esses personagens, com o ambiente online deixando de ser

estático para se tornar dinâmico, e onde se desenvolve uma nova filosofia, interativa,

colaborativa e participativa, tendo como enfoque principal o usuário (GARCIA, 2009).

Com isto, a chamada revolução digital e as tecnologias digitais do século XXI

proporcionaram novas demandas que culminaram em novas formas de organização social,

quando fronteiras geográficas quase não existem e a organização se dá por interesses afins. A

partir dos recursos oferecidos pelo fenômeno da internetização, da representação do texto e da

imagem no ciberespaço, o sujeito-leitor foi apresentado aos novos espaços de leitura em meio

virtual, deparando-se com novas linguagens, novas ferramentas, novas formas de expressão e

comunicação, o que explica o uso intenso das redes e plataformas sociais como Blog, Twitter,

Facebook, Orkut, entre outras, onde os usuários, além de compartilhar conteúdo, trocam

informações e participam de comunidades que unem pessoas com afinidades em comum. Este

ambiente de interação – ciberespeaço –, para Lévy (1999, p. 92), é definido como “o espaço

de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos

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computadores, [...] condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em

tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação [...].”

A leitura, por meio de recursos que a internet dispõe, nos faz refletir sobre uma nova

linguagem com potencialidade para a aprendizagem, pois ao fazer uso desses recursos para

expressão escrita, a promoção e o uso da linguagem, numa versão moderna, poderão ser

desenvolvidos. Com isso, há de se observar que a usabilidade dessa ferramenta de interação

potencializou o nascimento das redes sociais virtuais, utilizadas também para construção do

conhecimento e universalização do saber, quando seus usuários estabelecem relações por

meio de conversas, produções e troca de informações, pois a “internet por estar estruturada

em uma arquitetura de redes permite a fácil conexão entre as pessoas”. (SILVEIRA, 2008)

Neste sentido, sob a égide de inovações tecnológicas para o acesso a leitura, este

estudo pretende abordar a utilização dos sites interativos de redes sociais, especialmente Blog

e Twitter, como espaços desterritorializados e alternativos de leitura que, por meio do caráter

colaborativo, criam a possibilidade da democratização da leitura e do avanço na “construção

de saberes pelos próprios aprendentes, em ambientes ativos e culturalmente ricos [...].”

(FIGUEIREDO, 2002)

Novos olhares para a leitura – do impresso ao virtual

“A leitura foi durante muito tempo operador brutal de discriminação social”.

(BARTHES; COMPAGON, 1987) Ao longo dos séculos, principalmente a partir da Idade

Média, foi associada a lutas, poder, discriminação e desigualdade, quando o clero impedia a

leitura para as classes populares; esses fatores podem ter desencadeado nos dias atuais a

“aliteratura, falta do hábito de leitura em leitores capazes que preferem não ler." (CRAMER;

CASTLE, 2001, p.14 citando HARRIS; HODGES, 1981)

O acesso à leitura insere-se nos direitos sociais e desempenha importante papel no

exercício da cidadania. Sua importância é fundamental a vidas das pessoas, seja para obtenção

de informação ou como fonte de entretenimento, pois “[...] amplia e integra conhecimentos

[...], abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade

de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência [...].” (RUIZ, 2002, p. 35)

Surge, com isso, a problemática do desenvolvimento do hábito da leitura, assim como

a interpretação, reflexão, espírito crítico, análise e síntese, capacidade de pensar e construir

novos saberes em ambientes virtuais, onde se pode, em tempo real, interferir em qualquer

conteúdo. O entorno da problemática aqui descrita encontra respaldo em Luckesi (2003, p.

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119) para quem “[...] a leitura, para atender o seu pleno sentido e significado, deve,

intencionalmente, referir-se à realidade. Caso contrário, ela será um processo mecânico de

decodificação de símbolos”.

A nova modelagem em que estão sendo redesenhadas as práticas de leitura e escrita

propõe a desestruturação de tempo-espaço em virtude da pós-modernização, quando se utiliza

espaços desterritorializados virtuais para uma leitura dinâmica e interativa. A Web 2.0,

associada ao conceito de inteligência coletiva, espalhada por toda a parte, valorizada,

coordenada em tempo real, resulta em uma mobilização efetiva, cujos objetivos são o

reconhecimento e o enriquecimento mútuo de pessoas, e não o culto de comunidades fechadas

(LÉVY, 1999); e também se insere na rotina dos indivíduos, proporcionando privilégios às

pessoas e suas relações. Com isso, entende-se que a inclusão dessas práticas também em redes

sociais ampliam as possibilidades de leitura e escrita.

O processo de transformação do leitor inativo (aquele que lê, assimila o conteúdo, mas

não o critica, não é reflexivo) para o leitor ativo aumenta a percepção do sujeito sobre o

mundo, o objeto de estudo, a linguagem e a sociedade, quando ao ser integrado a internet

tornar-se-á leitor virtual; esse novo ambiente de leitura em que ele será inserido “propõe uma

nova técnica de difusão da escrita, incita uma nova relação com os textos, impondo uma nova

forma de inscrição” (CHARTIER, 2002), que irá reforçar a convivência com os modernos

tipos de conteúdos utilizados pelos internautas, integrando-os socialmente no mundo em

constante mutação e adquirindo habilidades essenciais para a aprendizagem e o

relacionamento com saberes essenciais para o século XXI. No entanto, sabemos que o

estímulo à prática da leitura não está diretamente relacionada apenas à acessibilidade; para

Chartier (1998, p. 154),

[...] um livro existe sem leitor? Ele pode existir como objeto, mas sem leitor, o texto

do qual ele é portador é apenas virtual. Será que o mundo do texto existe quando não

há ninguém para dele se apossar, para inscrevê-lo na memória ou transformá-lo em

experiência?

A comunicação com o texto é imprescindível no processo de leitura. O leitor que não

desenvolve as habilidades necessárias para que este processo concretize seus objetivos, que

envolve o compartilhamento do conhecimento adquirido, essa leitura não será satisfatória. A

utilização de sites de redes sociais como estímulo a leitura propõe uma saída para a situação

real que atualmente vive o Brasil, de acordo uma pesquisa da Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE)3, onde o Brasil fica em 51° lugar no ranking de

3 http://www.oecd.org/. Pesquisa realizada em 2009. O Brasil obteve um resultado de 412 pontos, enquanto a média em leitura dos países ricos que integram a OCDE foi de 493 pontos.

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leitura entre 65 países. A era digital estimula a nova geração a ser participativa, a exercer na

web 2.0 o papel de cocriador de conteúdo, além de também aprender ensinando outros por

meio das redes sociais. Segundo a Harvard Business Review (2000),

O compartilhamento da informação é crítico, pois os ativos intelectuais, ao contrário

dos ativos físicos, aumentam de valor com o uso. Sob estímulos adequados, o

conhecimento e o intelecto crescem exponencialmente quando compartilhados.

Todas as curvas de aprendizado e experiência apresentam essa característica.

A partir disto, podem-se sugerir algumas vantagens desses novos espaços alternativos

virtuais de leitura, twitter e blog:

Relacionar ideias;

Ter velocidade (ritmo) da leitura ao assunto, tema e/ou texto que está lendo;

Avaliar o que se está lendo, perguntando pelo sentido, identificando a ideia

central e seus fundamentos;

Aprimorar o vocabulário esclarecendo termos e palavras “novas”.

Refletir sobre o assunto da obra;

Saber quando é conveniente ou não interromper uma leitura, bem como quando

retomá-la;

Ter possibilidade de leituras complementares;

Discutir em tempo real do que se lê, centrando-se no valor objetivo do texto,

visto que “o diálogo é a condição necessária para a indagação, para a

intercomunicação, para a troca de saberes [...].” (ECCO, 2004, p. 80)

Adquirir livros que são fundamentais (clássicos), zelando por uma biblioteca

particular por meio dos downloads;

Ler assuntos vários. Não estar condicionado a ler sempre a mesma espécie de

assunto;

Ter motivação para o hábito da leitura, como meio de entretenimento e, por

conseguinte, como forma de aprendizagem continuada;

Combinar múltiplas informações.

Lévy (2001, p.43) afirma que:

[...] o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas) coletivas. Um

continuum variado se estende assim entre a leitura individual de um texto preciso e a

navegação em vastas redes digitais no interior das quais um grande número de

pessoas anota, aumenta, conecta textos uns aos outros por meio de ligações

hipertextuais.

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Para o historiador francês, Roger Chartier, estudioso no campo da história da leitura

como prática cultural,

O hipertexto e a hiperleitura que ele [o conteúdo informacional digital] permite e

produz transformam as relações possíveis entre as imagens, os sons e os textos

associados de maneira não linear, mediante conexões eletrônicas, assim como as

ligações realizadas entre os textos fluidos em seus contornos e em número

virtualmente ilimitado. Nesse mundo textual sem fronteiras a noção essencial torna-

se a do elo, pensado como a operação que relaciona às unidades textuais recortadas

para a leitura. (CHARTIER, 2002, p. 108-109)

Redes Sociais

A palavra rede significa “conjunto de entrelaçado de fios [...] sistema que lembra uma

rede de comunicação [...].” (XIMENES, 2000) Na relação estrutural da rede com o grupo

social formam-se as “assinaturas de identidade social - o padrão de relações entre os

indivíduos, mapeando as preferências e características dos próprios envolvidos na rede."

(WATTS, 2003, p. 48)

Para Tomaél (2007), as redes sociais são uma forma complexa de relacionamento

entre indivíduos, grupos ou organizações agrupados em torno de valores, crenças ou

interesses comuns. O desenvolvimento das redes sociais ocorre a partir da interação e

comunicação entre os participantes de uma rede, o que a configura como uma construção

social.

Estão baseadas nas relações entre as pessoas (caracterizadas por conteúdo, direção e

força), laços sociais (que conectam pares de atores através de uma ou mais relações),

multiplexidade (quanto mais relações um laço social possui, maior a sua multiplexidade) e

composição do laço social (derivada dos atributos individuais dos atores envolvidos).

(RECUERO, 2005)

As redes sociais, entendidas como veículos estruturados para comunicação de grupos

sociais, constituem muito mais que meros sites de relacionamento, encontro e lazer; refletem

a identidade do indivíduo que faz uso dela, representando, assim, suas preferências e

características. A base estrutural focada na interação, sua característica fundamental, é o que

as compõem, quando os agentes humanos são os nós e arestas que constituem os laços sociais.

Blogs

De acordo com Ganhão (2004), o blog é uma abreviatura simpática que os internautas

criaram para o termo inglês weblog. São páginas na internet onde qualquer pessoa pode

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escrever sobre diversos assuntos de seu interesse, geralmente acompanhadas de imagens e

sons, caracterizados pela dinamicidade e facilidade. Por meio dos blogs, qualquer indivíduo

pode comentar sobre o que foi postado, sendo um recurso de comunicação muito usado

atualmente, considerado como veículo de disseminação de informações. Há muitos blogs que

são verdadeiros diários virtuais onde o sujeito informa, por exemplo, onde se encontra, para

onde vai, o que se está lendo ou até mesmo críticas sobre determinado texto.

Por se tratar de uma ferramenta colaborativa, onde pessoas trocam informações e

conhecimentos, há a possibilidade de interação ao trocar experiências sobre assuntos do

mesmo interesse e atualizações contínuas sobre eles e é exatamente esta funcionalidade que o

diferencia de outras ferramentas como listas de discussão, fóruns, chats etc. O blop possibilita

o exercício do diálogo, da autoria e coautoria, inclusive a alteração da própria estrutura, além

do retorno à própria produção, a reflexão crítica, a reinterpretação de conceitos e práticas.

Suas principais caraterísticas são atualização frequente e organização apresentada de

forma cronológica. “É um laboratório de escrita criativa e colaborativa on-line cujo objetivo

principal é oferecer a comunidade de leitores e escritores trocar experiências e saberes através

da interação dos diversos participantes.” (BITENCOURT, 2004)

A partir do seu uso podem ser desenvolvidos

[...] subjetividades e potencialidades, capacidade de expressão na prática da escrita,

compartilhamento das histórias documentadas iniciadas com as histórias de vida e

de leitura, auto-valorização (sic) dos sujeitos envolvidos neste processo de

aprendizagem, além de oportunizar outras leituras, respeitando-se seus pontos de

vistas e perspectivas.” (SAMPAIO, 2011)

Twitter

A palavra twitter representa, em inglês, o som emitido pelo canto acelerado dos

pássaros. Todavia, como rede social, ela representa bem mais que isto. O twitter é um serviço

que permite a publicação de mensagens de até 140 caracteres, através da web ou de SMS

(serviço de mensagens de celular). De acordo com Barros (2009),

Já que cada mensagem possui uma sentença ou duas, um post bem produzido pode

representar uma boa transação de informação sem exigir muito tempo para leitura ou

escrita. Além disso, em função de o Twitter ter milhões de usuários, é um bom lugar

para encontrar e se conectar com pessoas interessadas em sua instituição e suas áreas

de expertise.

A pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?), no início, soava

apenas como troca de mensagens, pessoais quando o usuário compartilhava com outros seu

dia-a-dia; contudo, descobriu-se o potencial da ferramenta para a disseminação de

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informações específicas, como também sendo um GPS on-line de dados para diversos tipos de

arquivos. Além da característica de mensagens curtas, mas que possuem significado, o twitter

também é capaz de criar conexões entre as mensagens de qualquer pessoa do mundo que

escreva sobre o mesmo assunto por meio do símbolo hash (#), segundo consta no relatório de

pesquisa da O’Reilly Media4 (2008)

Users have also created an on-the-fly categorization feature that extends the utility

of Twitter. Because updates have no title or any other organizational element, users

have jumped in with something called a hashtag to help group similar content. A

hashtag is a hash symbol (#) followed by a tag (or label) associated with an event or

topic […]5.

O Twitter, por ser uma rede social, possibilita aproximações num ambiente

personalizado, quando seus usuários podem se comunicar com indivíduos de todos os níveis

culturais de modo interativo e participativo, recebendo e dando opiniões sobre uma infinidade

de assuntos. Para Renato Shirakashi (apud LEMOS, 2008, p. 2), é “uma mistura de blog com

serviço de mensagem instantânea (MSN), no qual os posts são enviados sem a necessidade ou

expectativa de uma resposta. Fala-se para o mundo, com a velocidade de uma mensagem

instantânea”.

Espaços Alternativos Virtuais de Leitura – Twitter e Blogs

O uso do twitter e do blog como instrumento incentivador do hábito da leitura fornece à

nova geração um novo espaço de construção de ideias e saberes, um espaço alternativo virtual

que pode democratizar a leitura de forma rápida, alcançando os mais variados níveis sociais.

O surgimento de um novo leitor, que se alimenta da circulação da informação de maneira

instantânea, distingue-se pelo seu nível de acesso a esta informação, bem como de capacidade

de uso dessa mesma informação. O desenvolver desta nova forma de leitura, originada das

ferramentas digitais por meio dos benefícios que a Web 2.0 propõe e capacita seu usuário à

compreensão e à produção da escrita cada vez mais efetivas.

A utilização desses espaços de leitura forma leitores que desejam ir além da leitura

estática, pois estimula o pensamento, o sentido crítico, apostando em objetos de leitura ricos e

diversificados por meio do diálogo e cooperação. Surge como uma saída para tentar

4 http://oreilly.com/. Companhia de mídia (editora) americana criada por Tim O'Reilly, que publica livros e websites e organiza conferências sobre temas de informática. Coautores do relatório: Sarah Milstein, Abdur Chowdhury, Hochmuth Gregor, Lorica Ben e Roger Magoulas. 5 Usuários também criaram uma característica categorização on-the-fly que se estende a utilidade do Twitter. Pois, as atualizações não têm título ou qualquer outro elemento de organização, eles criaram algo chamado de hashtag para ajudar o conteúdo do grupo similar. A hashtag é um símbolo hash (#) seguido por um tag (ou label) associado a um evento ou tópico.

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solucionar as lacunas que afastam determinados grupos da leitura, assim como oferece a

possibilidade de conviver com níveis culturais mais avançados, partindo do princípio que a

leitura e sua compreensão se constituem em um fator predominante na ascensão social.

A integração multimídia que essas mídias possibilita ler através do celular, palm ou do

iphone, textos escritos, além de guardá-los e comunicar a outras pessoas e ainda receber

informações novas em um instante. Estes leitores-expectadores-internautas constituem um

novo modelo de atores da leitura.

Existem alguns blogs e twitters destinados exclusivamente para o incentivo à leitura.

O Blog do Galeno (www.blogdogaleno.com.br), professor de Ética e Legislação no

Jornalismo na Universidade de Ribeirão Preto, que em 2006, liderou o Manifesto do Povo do

Livro, entregue aos candidatos a presidência da República, dispõe de opções de leitura como:

crônicas, artigos, publicações, histórias, dicas de livros, clipping de livro e leitura, entre

outros.

Fonte: www.blogdogaleno.com.br

Há também o Blog Livros só mudam pessoas (www.livrosepessoas.com), criado por

Sérgio Pavarini. Desde 2008 distribui centenas de livros para quem se compromete a

mensalmente expor o que leu. Essa experiência mostrou que compromissos assumidos

publicamente são mais fortes.

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Fonte: www.livrosepessoas.com

O twitter @amigosdolivro, pertencente ao Grupo Editorial Scortecci, constitui-se em

um endereço para estudo, pesquisa, divulgação e promoção do livro e do hábito da leitura. Por

meio dele, encontram-se autores, editoras, livrarias e sebos, gráficas, bibliotecas, grupos

literários e academias, prêmios e concursos, associações literárias e culturais, profissionais do

livro, instituições, fundações, ONGs, casas de cultura, notícias sobre o mundo do livro e

serviços.

Fonte: twitter.com/#!/amigosdolivro

O twitter @ebooks_gratis, do Projeto democratização da leitura – PDL, sem fins

lucrativos, visa incentivar e popularizar a leitura pela distribuição gratuita de e-books, livros

que podem ser lidos em qualquer computador e ainda com a possibilidade de serem

imprimidos. Tem sido visto como uma das melhor bibliotecas virtuais gratuitas em língua

portuguesa, pela qualidade e variedade do material disponível.

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Fonte: twitter.com/#!/ebooks_gratis

Considerações Finais

O twitter e o blog, como espaços alternativos virtuais de leitura, levam seu usuário, a

partir do contato com a interface, a manejar os conteúdos que ele lê como maneja um

hipertexto, pois, ao examinar uma determinada página, ele é direcionado a outras correlatas,

fato que, naturalmente, promove seu espírito crítico e de pesquisa, além do suscitar seu desejo

e fomentar seu hábito de leitura, fenômenos estes desencadeados pelos recursos digitais que

as hipermídias possibilitam.

Pretendeu-se, com este estudo, refletir sobre as ferramentas que a sociedade atual

oferece para incentivar a leitura, contudo vale salientar que espaços tradicionais de leitura,

como a biblioteca pública, têm funções inerentes no incentivo à leitura, tradicionalmente

consensuadas a partir do Manifesto da UNESCO (1994). Com isso, estes espaços virtuais de

leitura surgem como componentes alternativos que, mediados pelas tecnologias da

informação e da comunicação (TIC), garantem ao usuário maior acessibilidade à leitura.

Todavia, o aproveitamento de ferramentas de navegação online no incentivo à leitura é um

desafio que vai além da disponibilidade de computadores e do acesso às TIC: está associado

ao nível de escolaridade e as políticas sociais de acesso dos sujeitos a melhores condições de

vida e de acesso aos bens culturais.

Discussões sobre a leitura e redes sociais sugerem a necessidade de estudos

posteriores, visto que ainda há muito a conhecer sobre assuntos tão impactantes na vida dos

sujeitos – na condição de indivíduos e de cidadãos -, que nos levam a refeltir sobre o papel

dessas ferramentas na aquisição e no desenvolvimento de competências orientadas ao

domínio da leitura.

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