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8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios
Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018
TURISMO GENEALÓGICO EM COIMBRA. DIVERSIFICAÇÃO DA OFERTA
TURÍSTICA E QUALIFICAÇÃO TERRITORIAL: PROPOSTA DE UMA ROTA
DA CULTURA JUDAICA
RESUMO
O Turismo de Coimbra está, hoje, marcado pelo facto de a Univer(c)sidade ter sido
distinguida como Sítio Classificado do Património da Humanidade. O aumento da
visitação é muito significativo nos últimos anos mas a diversificação da oferta turística
contínua débil e incapaz de aproveitar os recursos existentes. O texto aqui apresentado
pretende evidenciar a existência de outros recursos turísticos qualificados, dando ênfase ao
turismo genealógico como contributo para reduzir sazonalidades e massificações.
Identificam-se dois grupos de procura: os turistas originários do Brasil e os Judeus
residentes em diferentes partes do mundo; neste texto dá-se atenção apenas a estes últimos.
Enfatizam-se os valores e a motivação criada pelo contacto com os lugares onde viveram
antepassados, os testemunhos da história, as descobertas recentes, os elementos da cultura
judaica presentes na cidade. Com base na história e nos elementos patrimoniais é
organizada uma rota turística associada ao património judaico na cidade de Coimbra.
1 INTRODUÇÃO
“É possível distinguir uma categoria de pessoas pelo seu comportamento e isto está associado às suas perceções relacionadas com a sua própria herança?” (Poria et al., 2003)
O lazer constitui-se, na contemporaneidade, especialmente nas sociedades do mundo
desenvolvido, como um valor social com reflexos económicos evidentes, concorrente com
o valor social do trabalho, apresentando-se o turismo como uma das principais motivações
de livre arbítrio no tempo livre das pessoas que constituem essas sociedades. Pode afirmar-
se que o novo turista é um mix de produtos massificados e de produtos de identidade, se
bem que cada vez mais ativo, consciente e informado, no que se refere à escolha dos seus
destinos, dos modos de viagem e da escolha das animações turísticas, indo ao encontro do
entendimento de Poon (1993), no que se refere ao novo e ao velho turista, neste texto
entendidos como consubstanciados, se bem que não de um modo compulsivo, numa
mesma pessoa.
Ainda assim, esta tipologia mesclada, dependente de inúmeros fatores (socioeconómicos,
culturais, políticos, geográficos, mesmo de ciclo de vida, etários e educacionais), é
responsável, no mercado do Lazer e Turismo, por alterações comportamentais. Estas são,
de facto, a expressão da procura turística e da adequação, orientação ou definição que a
oferta turística promove e suscita, levando a que novos lugares sejam oferecidos, que
novas atividades turísticas sejam criadas, que novas experiências surjam, que novas
emoções sejam desencadeadas, tal como atividades conexas sejam valorizadas. Tudo isto
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acontece para que o turista atinja a satisfação. Mais, acontece para que supere as suas
expetativas por intermédio da oferta de autenticidade, de identidade, de singularidade, de
notoriedade e, não menos importante nos dias de hoje, de sustentabilidade. O marketing,
cada vez mais experiencial e estratégico, recria cada oferta, abre espaço e desenvolve um
novo tipo de mercado: o do turismo de nicho/alternativo, para dar resposta à procura
crescentemente informada, diversificada, diferenciada, ética, aventureira, de contacto com
a comunidade local (Martins, 2010) e, claramente, ancorada no turismo cultural e no
desenvolvimento pessoal através do turismo. Nesta oferta são tidos em conta “aspetos
específicos das pessoas e dos seus comportamentos” (Simões e Ferreira, 2009: 19). Os
comportamentos, na aceção de Gruffudd, Herbert e Piccini (1999) resultam do facto de os
pensamentos e noções suscitadas pelos contactos indiretos com materiais associados ao
património serem estimulados, com base nos antecedentes das pessoas. Neste sentido, é
importante ver o turismo patrimonial não como elemento arbitrário, mas como
necessidades sociopsicológicas (Poria et al., 2003).
É neste enquadramento que se integra o turismo genealógico e é neste âmbito que se
explorará esta motivação do turista neste texto: a da procura de uma cultura comum, do
passado e das histórias familiares de antanho, das raízes de um povo, do conhecimento das
tradições e do saber próprios de etnias, regiões e lugares, que apresentam uma relação
especial com o turista.
Esta leitura pretende, por um lado, ser o suporte para a criação de uma rota da cultura
judaica em Coimbra, valorizando, em simultâneo, o projeto Coimbra Judaica e elementos
culturais de grande relevância existentes na cidade, explorando as relações com outros
espaços da cultura judaica, eventualmente integrados na Rede de Judiarias de Portugal.
2 O TURISMO GENEALÓGICO
O estudo das relações entre as gerações pertencentes a uma família permite às pessoas
reunir um vasto conjunto de informações relativas à sua ascendência e criar a árvore
genealógica (Oliveira, 1987, citado por Solé, 2005). Como afirma Basu (2004) quando nos
perguntam quem somos frequentemente orientamos a resposta informando sobre de onde
viemos, sobre as nossas heranças espácio culturais e familiares. É por isso que a identidade
está tão presente tanto na investigação académica como no discurso popular com o intuito
de valorizar a procura do ‘eu’. Compreende-se, pois que Santos e Yan (2010: 56) afirmem
que “o turismo genealógico surge como um dos subsegmentos que mais cresce no mercado
de património”.
Cada vez mais as pessoas se interessam pelo passado da sua família, pelos lugares onde os
seus avós e bisavós viveram, tratando-se, inicialmente de um modo para compreender o
significado da família, sentir empatia cultural e, no final, num modo de perceber melhor a
sua maneira de ser, de encontrar as características que lhes permitem explicar os seus atos,
orientações e preferências. Todavia, esta procura de ancestralidade e de raízes pode ser de
difícil abordagem, visto que este tipo de turismo precisa de ser inscrito naquilo que
Stebbins (2007) refere como sendo serious leisure e/ou project-based leisure, devido ao
investimento em tempo, informação especializada, procura orientada de elementos que
definam o caminho a percorrer, o destino a escolher. São as histórias das raízes e as
memórias que levam muitas pessoas a querer conhecer novos territórios que foram espaços
de vida ou de acontecimentos de comunidades e grupos que lhes dizem algo. Trata-se de
um turismo simultaneamente participativo e de experiências, em que a viagem cria uma
narrativa com expressão idiossincrática e de grande introspeção. Todavia, a temática
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necessita ainda de aprofundamento significativo. Como refere Yakel (2004) as
experiências vividas da interseção entre o turismo e as histórias das famílias assente, por
exemplo, nas viagens a bibliotecas que contêm fontes genealógicas não foram ainda
investigadas, e apresentam uma enorme possibilidade de progressão enquanto facto
turístico.
Esta visitação afirma-se com base na busca da identidade, do escrutinar do passado e do
perscrutar da memória como motivações para viagens turísticas. Os lugares da história das
famílias, da história percebida e da história representada em diferentes suportes e fontes
ganham competências para a promoção da visitação. Daí as referências de Basu (2004: 28)
afirmando que “a pesquisa genealógica se tornou um passatempo quase global nos últimos
anos, e, auxiliado pela Internet e pelas viagens aéreas relativamente baratas, o turismo
cultural relacionado com a história – ‘turismo de raízes’ - tornou-se um importante
mercado de turismo de nicho”. Esta é também a perceção de Santos e Yan (2010)
afirmando, mesmo, que, aquando da pesquisa online ou da utilização da internet, a
impossibilidade de obter as informações adequadas dessa forma transforma a viagem no
passo seguinte. Josiam e Frazier (2008: 37) fazem, precisamente, a apologia desta relação
entre a genealogia, a internet e a viagem, porque
para estabelecer uma conexão autêntica com um antepassado, a maioria dos genealogistas
precisa de viajar, ver, sentir e copiar documentos, ou fotografar lápides e lugares. Há ‘algo tátil
e emocional’, pois os documentos genealógicos e as fotos frágeis têm localizações específicas,
estão guardados ou precisam de ser vistos pessoalmente.
Despoletada a viagem motivada pelo interesse da genealogia, os monumentos e os
patrimónios imbuídos de vivência quotidiana, os museus e os espaços de vida, os
documentos históricos e os itinerários de vida, os eventos e os acontecimentos, as
recreações e o trabalho, as tradições e a inovação, as histórias e os factos, a gastronomia,
são elementos territoriais e culturais que, evidenciando uma pertença à família ou às
origens ou presença de familiares, são a principal motivação de viagem, atuando como
atração de visita. Temos, então, o desenvolvimento de um novo produto turístico, que
surge no seio de uma sociedade em crise de memória, fazendo crescer um sentimento
simultaneamente de nostalgia e de descoberta pelo passado (Marschall, 2012). Dessa
nostalgia surge um desejo/necessidade de mergulhar em tempos pretéritos, procurar bens
representativos desse passado, sejam eles tangíveis ou intangíveis, e ‘viver’ as atividades
que se relacionem com essa história específica (Tagarrinha, 2013). Apesar de essa ligação
ao passado ser sempre mediada por encenações, recreações ou alterações resultantes da sua
integração no mercado enquanto produto, a memória permite ajustar o simulacro de toda a
história e percebê-la como esta aconteceu, filtrada pela idiossincrasia de cada pessoa.
Assim, o desejo em conhecer a história da família, de uma cultura numa localização
específica, de uma etnia a que se sente ligado, faz o turista visitar lugares que lhe
transmitam um conhecimento que o integre numa memória de algo que sente como seu.
Motivado pela memória, o turista escolhe e decide qual o melhor destino ou destinos a
visitar. Como refere Prinke (2010) a procura dos antepassados, de uma cultura com que
nos identificamos e que nos torna únicos envolve sempre a definição da identidade própria
de cada pessoa ou família, sabendo-se que a identidade integra, sempre, a semelhança, mas
também a diferença. A identidade assume-se como um elemento fundamental da vida da
pessoa, funcionando como elo integrante da sua vida (Tagarrinha, 2013). A problemática
relacionada com as questões identitárias é respondida através das motivações turísticas,
porque permitem a escolha do lugar com o qual o turista sente uma maior ligação familiar
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ou de enraizamento, após ter feito uma pesquisa aprofundada em relação à sua genealogia
(Prinke, 2010).
A memória e a identidade são motivações turísticas muito robustas, e para McCain e Ray
(2003) o significado que o turista procura obter sobre si nessas viagens apenas é possível
combinando os dois elementos referidos. Contrariamente ao turista, entendido em sentido
lato, que viaja com base na imagem ou memória que tem de um espaço ou na memória de
um sentimento que o liga com um espaço, neste caso o turista procura obter um
conhecimento sério (no sentido expresso por Stebbins, 2007) e é esse desejo de criar algo
até aí pouco materializado que o leva a viajar e a procurar experiências que futuramente
lhe transmitam memórias sobre si. Sendo a identidade aquilo que nos identifica perante o
mundo, um conhecimento do nosso passado e dos nossos antepassados irá permitir
conhecermo-nos melhor e criar novas atitudes e novas formas de estar na vida à medida
que nos vamos descobrindo. O turista que procura o seu passado e viaja em busca da sua
identidade familiar e cultural fá-lo dentro de uma dimensão mais pessoal do que o turista
no geral.
A viagem motivada pela genealogia pode, de facto, ser reconhecida como turismo cultural,
turismo urbano, turismo patrimonial, turismo rural, turismo religioso, visitas a familiares e
amigos (VFA), entre outras. Todavia, Josiam e Frazier (2008) apontam um conjunto de
motivações principais (Quadro 1):
Quadro 1 Principais Motivações no Turismo Genealógico
Motivações Autores
Pertença familiar Visitar os lugares de origem dos seus
antepassados.
Myers (2000); Timothy
(1997)
Visita a Familiares e
Amigos (VFA)
Turismo genealógico pode ser entendido como
nicho dentro da VFA (entendido não apenas
como a visita aos vivos mas também aos
mortos).
Moscardo, Pearce, Morrison,
Green e O’Leary (2000);
Burrows (2000); Hornblower
(1999); Gormley (2000);
Nicol (1999); Woodtor,
(1994); Zakin (1997)
Auto-identidade
Viajar para um melhor conhecimento da sua
personalidade (personhood). Auto
compreensão de si e uma autoconsciência do
seu lugar no mundo e no tempo através do
turismo.
Desforges (2000); Galani-
Moutafi (2000)
Reafirmação de
identidade
Os visitantes a locais históricos exibem
discernimento para obter benefícios através de
intuições sobre o passado, a reafirmação da
identidade, e uma compreensão da localização
de uma pessoa no tempo e no espaço. Papel
ativo no desenvolvimento de seu próprio
“ambiente significativo”.
Tuan (1977); McIntosh e
Prentice (1999)
Lugar patrimonial
ligado à história da
família
Visitar um local histórico de referência, que
faz parte da história da família ou do passado
de um viajante, é uma evocação às emoções.
McClay (2000); Timothy
(1997); Poria, Butler, Airey e
Cheung (2003)
Fonte: Josiam e Frazier (2008: 39 e 40).
Na perspectiva de gestão turística é reconhecida a importância de identificar e de atender
às necessidades dos clientes de nicho, mas tem havido uma negligência das oportunidades
associadas ao segmento do mercado de turismo genealógico (Evans, 1998, citada por
Santos e Yan, 2010). Em particular, alguns propõem que a geração baby boomer teve, e
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continuará a ter, o impacto mais considerável na interseção de pesquisa genealógica e de
viagens, pois acredita-se que eles tenham a motivação, o tempo e os recursos disponíveis
para viajar e identificar antepassados seus familiares.
3 O TURISMO GENEALÓGICO NA CIDADE DE COIMBRA
Com a elevação e integração, em 2013, de Coimbra (Universidade de Coimbra, Alta e
Sofia) a Património Mundial, pela UNESCO, o número de visitantes tem consistentemente
vindo a aumentar, tendo já ultrapassado o meio milhão, em 2017. Com uma grande
variedade de países de origem de visitantes, Israel tem vindo a crescer e a ocupar uma
posição significante no turismo da cidade de Coimbra. Em 2016 os turistas israelitas
ocupavam a 9.ª posição entre os que mais visitaram a Universidade de Coimbra,
representando cerca de 3,4% do total de visitantes, sendo que em 2015 assumiam a 8.ª
posição significando 3,5% da procura total (TUC, 2017). Há aqui uma procura turística que
é algo expressiva, que se acentua entre abril e outubro (Figura 1), que importa valorizar e
cuja experiência turística releva enriquecer. A estruturação de uma rota que integre os
principais elementos judaicos presentes na cidade, como aqui se propõe, permitiria
enriquecer e diversificar a oferta turística. Em Coimbra, na fase de
desenvolvimento/crescimento do destino turístico (Butler, 2006), a oferta tem vindo a
diversificar-se, procurando-se cada vez mais produtos complementares e distintos em
relação à capacidade de atração do produto turístico principal: o Pátio das Escolas (Paço
Real) da Universidade e todos os equipamentos e atrações envolventes.
Fig. 1 Número de visitantes com origem em Israel que visitaram a Universidade de
Coimbra, variação intra-anual, em 2015 e em 2017. Fonte dos dados: Turismo da UC.
3.1 Elementos judaicos em Coimbra
Se conjugarmos um grupo de turistas com poder de compra, como os israelitas, com
grande sentimento de pertença cultural, enquanto povo, e profundo interesse cosmopolita,
pelo seu passado, e acrescentarmos o facto de Coimbra ter, no seu legado, a manifestação,
material e imaterial da vivência de judeus sefarditas, é licito pensar na oferta futura de um
produto turístico que potencie o seu património e promova a diversificação da oferta
turística da cidade. Para além disto, a presença continuada do turista israelita/hebraico no
mercado do turismo mundial tem vindo a resultar no levantamento e catalogação, em
Portugal, do património, tangível e intangível, associado a esta cultura, constituindo-se
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como atração turística. Vilas e cidades como Belmonte, Castelo Rodrigo, Castelo Branco,
Coimbra, Guarda, Trancoso e Tomar, entre tantas outras, ainda guardam, na atualidade, um
importante legado judaico. Com o objetivo de valorizar a história e o património judaico
em Portugal foi criada, em 2011, a Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad
(termo hebraico para Península Ibérica) (Figura 2), com sede em Belmonte. Esta rede,
muito implantada no Centro Interior de Portugal, dispersa-se pelo Alto Alentejo (Castelo
de Vide e Elvas), pelo Alentejo Central (Évora e Reguengos de Monsaraz) e pela Região
de Lisboa (Lisboa, Cascais, Alenquer e Torres Vedras). A Entidade Regional Turismo
Centro de Portugal, promove na sua página da internet o Património Judaico no Centro de
Portugal e a sua visitação através da Rota das Antigas Judiarias (Turismo Centro de
Portugal, 2018). A promoção do legado sefardita da região também é difundida pela
Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal (Center of Portugal, 2018).
Fig. 2 Rede de judiarias de Portugal, em 2018, com inclusão de Coimbra, uma cidade
que teve uma importante comunidade judaica que não está integrada na rede Fonte: Rede de Judiarias de Portugal
Coimbra teve uma comunidade de judeus (sefarditas) documentada, ainda pouco estudada,
mas cujo conhecimento, apesar de incipiente, se tem alargado, sistematizado e aprofundado
por contributos vários (Gomes, 2003; Alarcão, 2007; Alarcão, 2009; Gomes, 2009, entre
outros), merecendo beneficiar de uma maior investigação. A organização, em 2008, do
colóquio e da exposição Coimbra Judaica e, em 2017, do colóquio internacional Diálogos
Luso-Sefarditas e da exposição O património bibliográfico hebraico da Biblioteca Geral
da Universidade de Coimbra foram contributos importantes para divulgar marcas da
presença judaica em Coimbra.
Quadro 2 Elementos judaicos em Coimbra a constar em circuitos, propostos pelo
VisitPortugal, pelo Center of Portugal (2018) e pela CMC-DRU (2014)
VisitPortugal Center of Portugal (2018) CMC-DRU (2014)
Judiaria Velha ou de Santiago Judiaria Velha Judiaria Velha
Judiaria Nova ou de Santa Justa Judiaria Nova ou de Sansão Judiaria Nova ou de Sansão
Judiaria da Pedreira
Almocávar Almocávar
Sinagoga (Judiaria Velha)
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Fonte Nova ou Fonte dos Judeus Fonte dos Judeus ou Fonte Nova Fonte dos Judeus ou Fonte Nova
Praça 8 de Maio
(Autos de fé)
Praça 8 de Maio (antigo Largo de
Sansão)
Praça 8 de Maio (antigo Largo de
Sansão)
Praça do Comércio Praça Velha ou Praça do Comércio Praça Velha ou Praça do Comércio
Pátio da Inquisição
(Tribunal da Inquisição) Pátio da Inquisição Tribunal da Inquisição
Sé Nova
Biblioteca Joanina
Estudos de cristãos-novos que
foram lentes Pedro Nunes e André
de Avelar
Bíblia hebraica de Abravanel
Universidade de Coimbra Biblioteca da Universidade de
Coimbra
Aristides de Sousa Mendes
Mikvé
Fonte: elaborado a partir de VisitPortugal Portugal Herança Judaica Património Judío, folheto, Center of
Portugal (2018) e CMC-DRU (2014).
A comunidade judaica, que estaria já minimamente organizada na Coimbra dos séculos IX
e X (Gomes, 2003), cresceu e prosperou. No século XII Coimbra possuía uma das mais
importantes comunidades hebraicas, a par de Évora, Lisboa e Santarém; uma comunidade
que era proprietária e arrendatária, dedicada ao cultivo da vinha, do olival e de cereais
(Gomes, 2003), mas também a ofícios mecânicos (sapateiros, alfaiates, tintureiros, entre
outros) e a operações financeiras (Alarcão, 2003). O legado judaico ou outros elementos
relacionados com a sua presença em Coimbra reportam-se e distribuem-se por várias partes
da cidade (Quadro 2) (Figura 3). Todos se localizam na Área de Proteção do Bem
Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, inscrito em 2013 na Lista Representativa do
Património Mundial UNESCO.
Fig. 3 Elementos da presença judaica em Coimbra
Entre os elementos judaicos merecem referência as judiarias, bairros construídos e
ocupados pelos hebreus, acabando por ser cidade dentro da cidade. No caso de Coimbra,
como em outras, localizavam-se geralmente nos arrabaldes. A atual Rua Corpo de Deus, é
parte da encosta onde o bairro judaico mais antigo (Judiaria Velha ou de Santiago),
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localizado fora da muralha, se situava. Este bairro ocupou, entre os séculos X e XIV, uma
área com cerca de 2 a 2,5 hectares (implantava-se entre as ruas Corpo de Deus, Martins de
Carvalho e a Visconde da Luz, o que correspondia a cerca de 4,5% da área urbana de
Coimbra Medieval, sendo uma das maiores de Portugal trecentista (Gomes, 2003: 17). A
Judiaria Velha funcionou até a década de 1360 ou 1370 (Gomes, 2003: 17) (Alarcão, 2007:
152), por esta altura terá sido parcialmente abandonada. A Judiaria Nova ou de Sansão foi
delimitada e construída por volta de 1360/80, ocupou cerca de dois hectares e localizou-se
no que hoje corresponde à área entre a Rua Nova e parte da Rua Direita (em direção ao
Adro de Santa Justa), paredes meias com o antigo Largo de Sansão (hoje Praça 8 de maio).
O Almocávar, que corresponderia ao cemitério judaico, localizado a nascente da Judiaria
Velha (na encosta sobranceira ao atual Mercado D. Pedro V) evidencia a importância desta
comunidade em Coimbra. Elemento urbano importante da comunidade judaica é a
sinagoga. Na Judiaria Velha esta localizar-se-ia no local, ou próximo, onde em 1360 se
implantou a ermida do Corpo de Deus (Alarcão, 2009: 21). A identificação de estruturas
datáveis de um período entre os séculos XII e XIV, concluiu (com alguma segurança)
tratarem-se de partes da outrora existente sinagoga com edificação própria (Almeida e
Temudo, 2013). A Judiaria Nova também tinha a sua sinagoga (Gomes, 2003: 29; Alarcão,
2009: 24-25), esta “funcionava nas imediações de Santa Justa e da Porta Mourisca”
(Gomes, 2003: 29).
Entre os elementos principais associados à presença judaica em Coimbra consta a
descoberta pública recente, em 2013, de um Mikvé (imersão ritual em água) através de
uma estrutura construída numa gruta calcária para retenção de água. Esta composição,
embora com transformações estruturais ao longo do tempo, ainda permite perceber a sua
funcionalidade original (CMC-DRU, 2014). Localiza-se na Rua Visconde da Luz (num dos
limites da Judiaria Velha) e pode ser um dos mais antigos banhos rituais (talvez
exclusivamente femininos) descobertos na Europa, já que há indícios de ser anterior ao
século XV (Queirós, 2013).
Alarcão (2007: 177), na montagem do cenário urbano de Coimbra, alude a um documento
de 1151 no qual se refere a existência, no local onde está atualmente implantada a Escola
Secundária Jaime Cortesão, de magnis lapis Judeorum que pode ser traduzido como
Penedo Grande dos Judeus ou Lapa Grande dos Judeus, havendo igualmente uma fonte
(Alarcão, 2009: 23). Ora a Fonte Nova que foi construída naquele local em 1725 é
conhecida também como a Fonte dos Judeus. Com a transferência definitiva da
Universidade, de Lisboa para Coimbra, em 1537, uma importante comunidade judaica e
cristã nova passou a estar presente no seu corpo docente, tendo trazido importantes
contributos para o avanço do conhecimento, nomeadamente nas áreas da medicina, da
botânica e das ciências exatas. O matemático Pedro Nunes (1502-1578) e o botânico
Garcia da Orta (1501-1568) tinham ascendência judaica, sendo que ambos estudaram
medicina em Espanha (Fiolhais, 2009: 17). Para além do contributo dos docentes de
origem judaica também a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra guarda
importantes documentos associados a esta comunidade, nomeadamente a Bíblia hebraica
de Isaac Abravanel, judeu sefardita, escriturista ilustre, que nasceu em Lisboa em 1437 e
que faleceu em Veneza em 1508, e que, de acordo com Rodrigues (1998: 19), foi o “maior
representante da exegese bíblica judaica quinhentista” da segunda metade do século XV,
“o mais importante exegeta judeu e filósofo da religião de fins da Idade Média”
(Rodrigues, 2010: 77). À Bíblia hebraica no acervo da Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra somam-se os códices, os cimélios, entre outros, assim como obras de autores
judeus como Abraão Zacuto, António Homem, João Rodrigues Castelo Branco (Amatus
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Lusitano), e documentos oficiais como os regimentos do Tribunal da Inquisição e edições
de sermões, de autos de fé celebrados na cidade de Coimbra. Em 1536 D. João III
estabelece em Portugal o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição como o objetivo de
“extripar toda a heresia, especialmente o judaísmo” (Andrade, 1999: 12). O Tribunal é um
outro elemento associado à história do judaísmo em Coimbra, hoje espacialmente
referenciado no Pátio da Inquisição, assim designado por integrar o Tribunal da Inquisição
da Igreja Católica, entre 1566 e 1821, e os cárceres onde, amontoados e com poucas
condições humanas, eram enclausurados os denunciados pelo Santo Ofício, aguardando
meses ou anos até que os processos de inquisição terminassem. Cifrou-se em cerca de
11.000 os acusados de conversos e queimadas (nas praças) mais de 400 pessoas por prática
de bruxaria, pela ausência de bons costumes e, principalmente, pelo judaísmo (CMC-DRU,
2014). A Praça 8 de Maio e a Praça Velha ou do Comércio, para além de pontos de
encontro da cidade foram os locais utilizados pelo Tribunal da Inquisição para a realização
de vários autos de fé. A Sé Nova de Coimbra, que começou a ser construída em 1598, foi a
igreja privativa da Companhia de Jesus até à sua expulsão de Portugal, em 1759. O
Colégio de Jesus, residência da Companhia de Jesus, residência do Padre António Vieira,
de 1663 a 1665, converteu-se à época num protetorado para os cristãos novos e terá sido o
primeiro Colégio Jesuíta do mundo.
Nos números 18-20 da Rua Sobre Ripas localiza-se a casa onde, enquanto estudante
universitário, residiu Aristides de Sousa Mendes, uma das pessoas que mais vidas judaicas
salvou através da sua posição de cônsul em Bordéus em vários países europeus durante a II
Guerra Mundial, com a concessão de vistos de trânsito a milhares de judeus refugiados.
Esta atitude de grande coragem tem suscitado o interesse à escala internacional, sobretudo
da comunidade judaica, pela vida e obra deste diplomata português.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fig. 4 Proposta de Rota Judaica na cidade de Coimbra
Coimbra constitui-se como um importante centro do judaísmo peninsular. As marcas
indeléveis que ficaram da presença da comunidade judaica coimbrã na Coimbra medieva,
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renascentista e iluminista, no arranjo urbanístico da urbe, no património construído e nos
acervos bibliográficos, carecem de um estudo mais aturado e sistemático; este muito
poderia beneficiar com a criação de uma rota da herança hebraica na cidade de Coimbra.
Esta minoria religiosa que foi alvo de atos de perseguição e vítima de intolerância, é
detentora de uma singularidade de rituais. O passado coimbrão judaico, que faz parte do
património cultural da cidade, identificado, estudado, e interpretado, pode contribuir para
valorizar a experiência turística e diversificar criativamente a oferta. Hoje, os espaços de
memória da comunidade judaica na cidade de Coimbra passam despercebidos ao
transeunte, residente, visitante ou turista. Pelo facto de não estarem identificados, de alguns
não serem visitáveis, de não estarem contextualizados à época nem se apresentarem
coerentemente integrados num roteiro, não existem enquanto oferta turística senão como
peças soltas de histórias não reveladas. É este o contributo deste texto: a elaboração de um
Rota Judaica na cidade de Coimbra, com base nos elementos aduzidos e explicitados
(Figura 4).
AGRADECIMENTOS
Trabalho cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
através do COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e
Internacionalização (POCI) e por fundos nacionais através da FCT, no âmbito do projeto
POCI‐01‐0145‐FEDER‐006891 (Ref.a FCT: UID/GEO/04084/2013).
6 REFERÊNCIAS
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de Coimbra, Coimbra.
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