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Turismo e desenvolvimento territorial sustentável a partir da instalação dos Parques Eólicos no município de Osório-RS

Ana Lúcia Olegário Saraiva (1) e Shana Sabbado Flores (2)(1) IFRS (Campus Osório), Brasil. E-mail: [email protected]

(2) Núcleo de Estudos de Gestão para Sustentabilidade (NEGES), IFRS (Campus Osório), Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo: No ano de 2006, os investimentos de R$ 670 milhões no município de Osório (RS) possibilitaram a instalação dos Parques Eólicos de Osório, projeto que vem ao encontro da necessidade de infra-estrutura vivenciada no contexto brasileiro, conciliando desenvolvimento com uma alternativa energética sustentável. É inegável que a diversificação energética, utilizando as chamadas energias renováveis está entre os pilares de modelos ditos sustentáveis. Todavia, em um conceito tão complexo cabe uma reflexão mais ampla, analisando os efeitos desse tipo de iniciativa para a comunidade local e seu desenvolvimento. A instalação dos parques no município reestrutura as relações locais, com impacto na paisagem, na auto-estima da comunidade e na movimentação que tem causado na região. Nesse sentido, o turismo (destaque para Ecoturismo, Turismo Aventura e Turismo Rural) é um dos setores que pode ser beneficiado diretamente, reposicionando a estratégia local para a valorização das questões ambientais, uma vez que a implantação dos parques prevê como contrapartida a recuperação de áreas degradadas no município. O presente artigo objetiva analisar o impacto da instalação dos Parques Eólicos na atividade turística local, vislumbrando o desenvolvimento territorial sustentável; que será abordado através das cinco perspectivas ou “sustentabilidades” – política, social, econômica, ambiental e territorial, em um modelo de análise que privilegia os espaços de discussão local e a apropriação dos recursos dentro do território, proporcionando a reterritorialização – sinônimo de sustentabilidade territorial. Também serão trabalhados os “Sistemas Locais Territoriais” (SLOTs), relacionando a abordagem territorial com os “Arranjos Produtivos Locais” (APLs) ou clusters, muito utilizado para arranjos industriais, que ganha corpo também para o turismo.

Palavras-chave: energia renovável, sustentabilidade, território, turismo

Abstract: In 2006, investments of $ 403 million in the municipality of Osório (RS) allowed the installation of wind farm of Osório, a project that encounters the need for infrastructure experienced in the Brazilian context, combining development with a sustainable energy alternative. It is undeniable that energy diversification, using so-called renewable energies are among the pillars of sustainable mode. However, a complex concept as it is needs a broader reflection, analyzing the effects of such an initiative for the local community and its development. The installation of the parks in the city restructures local relationships with landscape impact, self-esteem of the community and workflow changes that has caused in the region. In this sense, tourism (especially Ecotourism, Adventure Tourism and Rural Tourism) is one of the sectors that can benefit directly, repositioning strategy for the enhancement of local environmental issues, since the establishment of parks provides a counterpart in the recovery degraded areas in the municipality. This article aims to analyze the impact of the installation of wind farms on tourism site, envisioning sustainable territorial development, which will be addressed through the five perspectives or "sustainability" - political, social, economic, environmental and territorial, in an analysis model that emphasizes the opportunities for discussion and ownership of local resources within the territory, providing the repossession - synonymous with sustainability planning. Will also be worked the "Local Territorial Systems" (slots), relating to the territorial approach "Local Productive Arrangements" (APLs) or clusters, often used for industrial arrangements, which also gains body for tourism.

Key-words: renewable energy, sustainability, territory, tourism

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1. OSÓRIO E O TURISMO NO LITORAL NORTE GAÚCHO

A área de estudo esta localizada no Litoral Norte Gaúcho, uma das onze Regiões Turísticas do Estado do Rio Grande do Sul (SETUR, 2011). A região é formada por vinte e três municípios. Caracteriza-se por ser uma planície, com um cordão lagunar que se estende por toda a Região, dunas, derrames basálticos, áreas protegidas de Mata Atlântica, cachoeiras. Além disso, destaque para os aspectos culturais da região: influência açoriana, alemã, italiana e negra, que povoaram a região. Podem-se perceber tais traços pelas tradições de seu povo, nas danças, costumes e produtos típicos como o sonho, a rapadura, o mel e a cachaça “marisqueira”.O desenvolvimento turístico ocorre de modo sazonal, pois há uma grande concentração de visitantes nos meses de verão (janeiro e fevereiro). Nos demais meses alguns municípios procuram organizar eventos, baseados em sua grande maioria nos traços culturais locais, com objetivo de minimizar a falta de demanda nestes períodos.Moesch (2002) conceitua o turismo como uma combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição se integra uma prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais. O somatório desta dimensão sociocultural gera o fenômeno recheado de objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas como síntese do produto turístico.O turismo pode ser considerado como uma alternativa para promoção do desenvolvimento territorial. Para isso, ele deve ser visto sob a ótica do turismo sustentável, que considera a estabilidade dos recursos patrimoniais, culturais e identidade do lugar. Cruz (2000, p 8) explica que a “(...) importância do turismo reside menos nas estatísticas que mostram, parcialmente, seu significado e mais na sua incontestável capacidade de organizar sociedades inteiras e de condicionar o (re) ordenamento de territórios para sua realização”. A atividade turística ordena e reordena territórios, produzindo assim novos espaços geográficos.O município de Osório, pólo de comércio e serviços na região, detentor de características naturais e culturais com significativo destaque, poderá ter um planejamento turístico ordenado e sistematizado, pois o território apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento turístico sustentável. Além disso, a rede hoteleira e a estrutura de serviços complementares ao turismo sazonal poderiam ser melhor aproveitadas, através de um enfoque além do turismo de sol e mar, restrito a temporada de verão. Os segmentos de Ecoturismo, Turismo Aventura e Turismo Rural encontram no município condições de desenvolvimento pleno, considerando o as características deste território.Um território é configurado a partir de características próprias, incluindo fatores históricos, físicos e subjetivos, que caracterizam cada território como único, produto de uma relação. Nessa linha, os territórios podem ser comparados a um sistema dinâmico, que evolui e se adapta buscando sua sobrevivência ao longo do tempo, numa condição de “resiliência”, a chamada auto-sustentabilidade.Assim, pensar em alternativas de desenvolvimento implica a oposição entre propostas exógenas – decorrentes de “receitas” ou modelos prontos, externos ao território, que são implantados em países e regiões; e endógenas, destacando a participação dos atores locais em todo o processo, identificando as potencialidades e limitações da região em questão e influindo diretamente nas decisões de desenvolvimento (ALVES, 2008).É importante considerar que a abordagem acima trata de tendências e não de características absolutas. Já que a constituição de alternativas pode vir a partir de propostas e investimentos “de fora” que, adaptados ao contexto local, são incorporadas (se territorializam) com a participação dos atores locais, sem subordinar o território a outros e respeitando as especificidades da região. Na verdade, territórios são construções subjetivas por ação exógena e/ou endógena, onde os modelos não são absolutos: um território pode ter seu impulso inicial de desenvolvimento a partir de ação exógena que passa a ser legitimada pela população local, que se apropria e reconhece; por outro lado, uma ação tomada por dirigentes locais que não encontra legitimidade na população não pode ser considerada endógena (PAULA, 2004).Nesse sentido, o caso analisado no presente trabalho evidencia investimentos exógenos, com a participação massiva de agentes externos ao território, que pode se territorializar por meio de suas contrapartidas que, integradas à comunidade vêm a potencializar os valores locais e reafirmar a

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identidade da população com suas próprias riquezas naturais. Assim, a partir de uma breve revisão teórica, a implantação dos Parques Eólicos será analisada à luz do Desenvolvimento Territorial Sustentável.

2. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E SUSTENTABILIDADE

A abordagem territorial teve seu embrião nos estudos de sociólogos e economistas italianos (sobretudo os trabalhos de Bagnasco e Becattini) sobre a “Terceira Itália”, onde a partir das premissas de Marshall a respeito das “economias externas” os autores enfatizaram o “desenvolvimento” a partir de fatores que emanam do território. Dessa maneira, uma ampla gama de metodologias de análise e propostas emergiu sob nomenclatura de: distritos industriais, clusters, arranjos produtivos locais (APLs), sistemas produtivos locais (SPLs), entre outras variações. As abordagens propostas destacam os fatores territoriais como fomentadores de seu próprio desenvolvimento. Fauré e Hasenclever (2007) classificam três dimensões básicas para o tratamento do tema: ( i ) endogeneidade, existência de um potencial de recursos locais; ( ii ) territorialidade, interação homem-espaço, onde atores constroem um espaço de atuação que torna as relações mais densas e produtivas, diferenciando a região; e ( iii ) instituições, desempenho do conjunto de relações fundadas em valores, crenças e organizações; também referido como “capital social” (redes, normas, confiança, cultura, etc.).Levando em conta as características do turismo Candiotto e Santos (2009, p. 325) sugerem o termo “território turístico” correspondendo “(...) ao espaço onde se efetivam as relações de poder entre os atores sociais envolvidos com turismo”. Acreditam que tais atividades permeiam territórios já existentes e, aliado a outras atividades econômicas decorrentes, pode modificar e/ou criar territórios e territorialidades.A terminologia “Desenvolvimento Territorial Sustentável” (FLORES, 2011) surge a partir da integração das abordagens da sustentabilidade e território. Apesar das temáticas de território e sustentabilidade serem amplamente debatidas, sua integração não é algo evidente. Se o desenvolvimento sustentável é definido nas esferas econômica, ambiental e social, de uma forma geral, a abordagem territorial exige que se olhe com mais detalhe para os quesitos locais, integrando as esferas política, cultural-identitária e territorial.Nessa perspectiva, autores italianos como Magnaghi (2000), utilizam o que denomina “abordagem territorialista”, com “destaque para o lugar, para a dinâmica ambiental e para a elaboração de projetos de desenvolvimento” (SAQUET, 2007, p. 116). No “projeto local” Magnaghi defende que para a sustentabilidade do desenvolvimento sejam levados em conta fatores locais, que deverão dar origem a novos indicadores na avaliação do desenvolvimento, abordando 5 dimensões de sustentabilidade ou “5 sustentabilidades”, conforme Quadro 1.

Dimensão CaracterísticaSustentabilidade política Auto-gestão das comunidades locais; participação dos cidadãos na vida política,

seu acesso às decisões e capacidade do território de efetuar apropriação do valor agregado territorial gerado.

Sustentabilidade social Indicadores sociais, acesso dos cidadãos à tomada de decisão sobre o território.Sustentabilidade

econômicaProdução de valor agregado territorial. Planos de desenvolvimento devem abordar atividades que valorizem patrimônio territorial e ambiental, desenvolvimento autônomo das empresas locais, entre outros.

Sustentabilidade ambiental Auto-sustentabilidade; capacidade de reduzir a pegada ecológica do territórioSustentabilidade territorial Capacidade de favorecer e desenvolver a reterritorialização, respeitando as

condições locaisQuadro I - Fonte: Elaborado por FLORES e FALCADE (2010) a partir de Magnaghi (2000).

O território é o “(...) produto do diálogo permanente entre entidades vivas, o homem e a natureza, no tempo” (MAGNAGHI, 2000, p.7). Assim, as relações econômicas, políticas e culturais – seja interna ao território ou em sua relação com o exterior, apropriam e ordenam o território (SAQUET, 2006). Para Saquet (2004 apud SAQUET, 2006), o território é compreendido como resultado de um processo de territorialização. O autor considera que o homem “(...) territorializa-se através de suas atividades

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cotidianas” (SAQUET, 2006, p. 62). As territorialidades ao mesmo tempo dão ao território identidade e são influenciadas por suas condições históricas e geográficas.O método de orientação para o desenvolvimento dos trabalhos será de analisar o reordenamento nesse território sob essa perspectiva das “cinco” sustentabilidades, a partir dos estudos de Magnaghi (2000). Sustentando a aplicação desta metodologia foram realizadas previamente a análise documentais da implantação dos Parques, entrevistas com gestores e representantes da comunidade e busca de informações em fontes secundárias (órgãos públicos de energia, planejamento e infra-estrutura), a fim de fornecer subsídios para o desenvolvimento do presente estudo.

3. A IMPLANTAÇÃO DOS PARQUES: PERSPECTIVAS DE APROPRIAÇÃO LOCAL?

As razões para a escolha do município de Osório, localizado no Estado do Rio Grande do Sul para a instalação dos Parques Eólicos de Osório são significativas. A localização estratégica na América Latina, a estrutura logística, a capacitação da mão de obra, aliados ao potencial eólico, as boas condições ambientais, a parceria com pequenos e médios produtores locais e ao apoio institucional dos Governos Estadual e Municipal, foram condições determinantes na escolha do local.

3.1. Processo de implantação

No ano de 2006 os investimentos de R$ 670 milhões, possibilitaram a efetiva instalação dos Parques Eólicos de Osório, considerado o maior do projeto de energia eólica da América Latina. O empreendimento coloca o Brasil no mapa mundial do desenvolvimento sustentável e em consonância com as nações mais desenvolvidas do planeta. Do valor total do investimento, R$ 470 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sendo pioneiro na obtenção deste tipo de financiamento. Ainda está inserido no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), do Governo Federal, que garante a aquisição pela ELETROBRAS da energia gerada pelos Parques, durante vinte anos.A iniciativa é do grupo espanhol Elecnor, através de suas subsidiárias: Enerfín Ebervento (investidora), Enerfín do Brasil (gerente e responsável pela operação) e Elecnor do Brasil (construtora). A empresa Wobben Windpower (subsidiária do grupo Enercon, de origem alemã) participa do projeto como parceira minoritária e fornecedora de tecnologia.O empreendimento está subdividido em três parques: Osório, Sangradouro e Índios. Passou a operar em sua totalidade em janeiro de 2007, tem um total de 75 aerogeradores e uma potência instalada de 150 MW, capaz de produzir 425 milhões de kW/h por ano de energia.Este é o primeiro grande projeto de energia eólica da América Latina, que coloca o Brasil em posição de destaque, juntamente com as nações mais desenvolvidas, como Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Índia e Dinamarca.Também, o processo de instalação dos Parques foi realizado através do desenvolvimento de um projeto que tem como premissa a sustentabilidade ambiental, procurando preservar as atividades produtivas das comunidades locais e do entorno.Cabe destacar que o empreendimento foi registrado pelo Comitê Executivo de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), de acordo com o artigo 12, do Protocolo de Kyoto. Pois, a energia limpa renovável produzida pelos Parques, evita a emissão por parte do sistema elétrico brasileiro de 148.325 toneladas de gás carbônico (CO2) anuais.Através das medidas compensatórias exigidas pela FEPAM, e em consonância com o poder público municipal, na área ambiental e turística, estão sendo vislumbradas várias possibilidades de desenvolvimento turístico, através de seu ambiente natural; morro, lagoa e espaço rural, nos segmentos de Ecoturismo, Turismo Aventura e Turismo Rural.

3.2. Contrapartidas e perspectivas de sustentabilidade

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A instalação dos Parques Eólicos de Osório está atrelada aos princípios de sustentabilidade ambiental desde sua concepção, uma vez que além de evitar a emissão de CO2, o empreendimento também preserva a flora e a fauna dos campos onde se situam, assim como as atividades produtivas da região onde estão instalados.Para a implantação dos Parques na região de Osório foram realizados 3 anos de estudos e monitoramento ambiental, iniciados em 2002, abrangendo a área de Torres a Tavares. Foi um estudo complexo que serve de referência nacional para a implantação de novos projetos e serve como consulta da FEPAM. Durante a construção e também na fase de operação do empreendimento, os estudos ambientais continuam sendo realizados visando analisar detalhadamente o real impacto de sua instalação na região.Medidas compensatórias pela instalação dos Parques Eólicos foram exigidas pela FEPAM, o que propiciou uma série de benefícios para a região de Osório. Dentre os benefícios gerados, pode-se agrupá-los em: benefícios energéticos, ambientais, tecnológicos e sócio-econômicos.Os benefícios energéticos constituem-se na contribuição da matriz energética brasileira, tornando o país menos dependente de recursos não renováveis. Os Parques representam mais de 50% da energia eólica instalada no Brasil. Esta energia auxilia o Estado do Rio Grande do Sul a diminuir a dependência de compra de energia de outros estados.Com relação aos benefícios tecnológicos como já citado, a transferência de tecnologia e a capacitação da mão de obra, com treinamento especializado na Europa para 60 técnicos e engenheiros, possibilitaram que 60% dos equipamentos e serviços fossem nacionalizados.Quanto aos benefícios ambientais, destaque para o processo de geração de energia que é limpo. Se emissão de gases poluentes, sem risco de contaminações e resíduos radioativos. Além disso, não altera a atividade produtiva das áreas em que está instalado. Ainda, as usinas são de instalações reversíveis. Citam-se também os estudos ambientais realizados para a obtenção das licenças prévias e de instalação.Os benefícios socioeconômicos têm sido percebidos através da atratividade dos Parques Eólicos, o que está fomentando o crescimento da atividade turística. A infra-estrutura da área rural de Osório, com melhoria em seus acessos, a criação de mil postos de trabalho na implantação dos Parques, a arrecadação de impostos para o município e para o governo. A cidade, a partir da implantação dos Parques, tornou-se sinônimo de desenvolvimento sustentável, também, o que gerou uma imagem externa positiva para a comunidade.A instalação dos parques no município reestrutura as relações locais, com impacto na paisagem, na auto-estima da comunidade, na movimentação que tem causado, considerando o turismo como um dos setores que poderá ser beneficiado e a valorização agora remetida às questões ambientais, como recuperação de áreas degradadas no município.As medidas compensatórias decorrentes da instalação dos Parques Eólicos em Osório exigidas pela FEPAM, e efetivamente realizadas pela gestão dos Parques são: a participação no processo de saneamento básico municipal, através da revitalização de uma estação de tratamento de esgoto; a aquisição de uma esteira de reciclagem do lixo; o desenvolvimento de um processo de Educação Ambiental no município (investimentos em cursos e seminários para professores e alunos na área ambiental, e o aprimoramento da Biblioteca Municipal); a elaboração de um diagnóstico ambiental e sócio-econômico do município (disponibilizando dados sistematizados a gestão e comunidade local); a construção de um mirante no Morro da Borússia e os diagnósticos, monitoramento e revitalização das lagoas do Marcelino e do Peixoto.Tais medidas compensatórias em consonância com o poder público municipal, na área ambiental e turística, estão sendo vislumbradas várias possibilidades de desenvolvimento turístico, através de seu ambiente natural: morro, lagoa e espaço rural. Neste momento começa a se perceber uma mudança na dinâmica da cidade e em seu espaço. O município agora tem orgulho dos ventos que sopram antes motivo de ironias. A comunidade está se reorganizando em função dos Parques, que se caracteriza como um atrativo técnico-científico, de acordo com a classificação dos atrativos turísticos do Ministério do Turismo. A instalação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a recuperação de áreas degradadas, o incremento do fluxo turístico aos finais de semana ao mirante no Morro das Antenas, são sinalizadores de que a mudança em termos de estruturas de gestão e políticas municipais relativas ao meio ambiente e turismo, está ocorrendo no município.

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4. RESULTADOS

A partir da análise do caso, é possível observar pontos de convergência entre o impacto da instalação dos Parques Eólicos e suas devidas contrapartidas, o desenvolvimento do turismo local e princípios de sustentabilidade, dentro de uma lógica territorial, conforme categorias de análise utilizadas por Magnaghi (2000). O quadro abaixo sintetiza os fatores levantados, relacionando com as 5 “sustentabilidades”.

Dimensão Aspectos observados no caso estudado

Sustentabilidade política Projeção a região no cenário brasileiro e internacional.

Sustentabilidade social Geração de empregos, qualificação da população local e revitalização do patrimônio local.

Sustentabilidade econômica

Geração de renda e fomento da atividade turística através da revitalização e criação de novos atrativos, diversificando a economia.

Sustentabilidade ambiental

Energia renovável, instalação dos Parques em harmonia com ambiente local, estrutura de saneamento básico e revitalização das lagoas, entre outros.

Sustentabilidade territorial

Fortalecimento da identidade local com seu patrimônio ambiental e valores (torres com geradores passam a representar o município)

Quadro I1 – Expressões de sustentabilidade no município de Osório.

Fonte: Elaborado pelas autoras a partir das perspectivas definidas por Magnaghi (2000).

Pode ser evidenciado que o projeto dos Parques está diretamente alinhado com questões ambientais desde a sua concepção, além de fomentar o turismo sustentável, colocando em evidência o patrimônio natural da região.A dimensão política pode ser percebida na medida em que o processo projeta a região do litoral, em especial Osório, no cenário nacional e até mesmo internacional. Todavia, cabe ressaltar a fragilidade na sustentabilidade política, uma vez que o poder de decisão local sobre fatores críticos do processo ainda é restrito. Por outro lado, são investimentos com visão de longo prazo, o que proporciona uma relativa estabilidade local para planejamento e apropriação dos recursos e resultados.Do ponto de vista econômico, os Parques são nova alternativa de renda para a região. As contrapartidas se configuram em propulsores para o desenvolvimento do turismo, contribuindo diretamente para a diversificação da economia e melhor aproveitamento da atividade fora do veraneio.Na questão social, a instalação dos Parques e o desenvolvimento do turismo são alternativas para a população. Entre outros fatores, o investimento acaba por ser apropriado pela população local também pelas ações de revitalização e valorização do patrimônio natural. Para efetivar a sustentabilidade social, é sugerida uma maior participação da população no processo, na definição de compensações e investimentos. Além disso, muitas das contrapartidas necessitam de participação do poder público local ou comunidade para ser dada a devida continuidade. As contrapartidas atuam muito mais como molas propulsoras para iniciativas, não garantindo por si só a perenidade do processo.Na esfera ambiental, a utilização de energia renovável com a instalação dos Parques, em harmonia com o ambiente local, o fomento e a atuação na recuperação de áreas degradadas, tanto da iniciativa privada como pública são investimentos que proporcionam benefícios diretos ao homem e ao ambiente em que está inserido.Toda revitalização do patrimônio é fator importante para a manutenção da identidade territorial, favorecendo processos de reterritorialização e a própria sustentabilidade territorial. A apropriação dos geradores como símbolo local, transforma características naturais tipicamente locais em fator de “orgulho” contribuindo para auto-estima local e fortalecendo os vínculos dos habitantes com o território, pilar básico para o desenvolvimento territorial sustentável.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O efeito da instalação dos Parques Eólicos em Osório em nível nacional cumpre seu papel de contribuir para a diversificação da matriz energética brasileira, considerando também a instalação de novas tecnologias no país, nacionalização de equipamentos de última geração e capacitação técnica. Além disso, o uso da energia eólica é considerado um dos modelos de desenvolvimento sustentável por se utilizar de um recurso renovável.Em nível local é evidente os efeitos positivos da instalação dos Parques Eólicos. O estudo aponta que todas as dimensões propostas para a análise da sustentabilidade são contempladas a partir da instalação dos Parques Eólicos no município de Osório – a ambiental, econômica, política, social e territorial.Por fim, as análises aqui apresentadas apontam para o fato de que, mesmo investimentos externos, podem contribuir diretamente para a sustentabilidade e desenvolvimento de um turismo sustentável, desde que apropriados e legitimados pela população local. É claro que o caso deve ser acompanhado, de modo a observar as transformações no longo prazo. Acima de tudo, no que concerne ao tema sustentabilidade, se torna sempre definitivo observá-los, vislumbrando compreender a complexidade dos processos.

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