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Túmulo de Aper-El (Bubasteion I.1)

O túmulo de Aper-El (Bubasteion I.1) integra os chamados Túmulos do Bubasteion e foi

descoberto por Alain Zivie e por ele estudado ao longo dos últimos anos1. A fig.1 mostra a sua

disposição no referido agregado tumular.

Fig. 1 − A face sul da falésia do Bubasteion e os seus principais túmulos. ZIVIE, Alain-Pierre, La tombe de

Maia, Pl. I.

1. Túmulo de Aper-El, Bubasteion I.1

A fig. 2 mostra um corte vertical deste túmulo. A fachada e a porta iniciais desapareceram,

deixando o túmulo completamente aberto exterior e daí a sua ocupação por animais vadios e a sua

utilização como lixeira2.

1 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, Paris: Le Seuil, 1990

ZIVIE, Alain-Pierre,, «La tombe d’un officier de la XVIIIe dynastie à Saqqarah», Revue d’Egyptologie, 1979,

31, pp. 135-151.

ZIVIE, Alain-Pierre, «Une tombe d’époque amarnienne à Saqqarah», BSFE, 1979, 84, p. 21-32.

ZIVIE, Alain-Pierre, «Recherches et découvertes récentes dans la tombe d’Aperia à Saqqarah», CRAIBL, 1989,

vol. 133, nº 2, pp. 409-505.

ZIVIE, Alain-Pierre, «Le trésor funéraire du vizir Aper-El», BSFE, 1989, 116 pp. 31-44.

ZIVIE, Alain-Pierre, «Aper-El, Taouret et Houy: La fouille et l’enquête continue», in Etudes Egyptologiques et

Bibliques de la Société Française d’Egyptologie, 1993, 126, pp. 5-16.

ZIVIE, Alain-Pierre, «Le nom du vizir Aper-El», in Etudes Egyptologiques et Bibliques à la mémoire du Père

B. Couroyer (Cahiers de la Revue Biblique 36), Paris, 1997, 126, pp. 115-123.

ZIVIE, Alain-Pierre, La tombe de Maia, Toulouse, Caracara Edition, 2010. 2 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p. 37.

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Fig. 2 − Corte vertical do túmulo de Aper-El, Bubasteion I.1, mostrando os seus quatro níveis. Dados:

Profundidade aproximada do primeiro poço 7 m, do segundo poço 8 m; profundidade total 20 m,

aproximadamente. ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah, p. 99.

Em algumas zonas do tecto abobadado pode ainda reconhecer-se um resto de decoração

geométrica. A toda a volta da parede direita (E), dividida em quatro painéis separados por pilastras,

e da esquerda (W), plana, há cornijas talhadas na rocha. No quarto painel da primeira câmara,

encontra-se gravada uma cena de purificação ritual3.

Fig. 3 − Purificação de Aper-El e da esposa. Cena do quarto painel da primeira câmara, parede ocidental.

3 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p.54.

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Os outros painéis encontram-se degradados mas no terceiro há registo de títulos de Aper-El,

nomeadamente o importante bAk-tpy n Itn, «primeiro servidor de Aton» que,

imediatamente, nos leva até ao reinado de Akhenaton4.

Na parede do fundo existem vestígios de hieróglifos em colunas. Ali foi aberta uma porta.

Na cornija distinguem-se os vestígios de um udjat e dois signos nefer. Através desta porta é

possível, através de uma série de degraus, penetrar numa segunda câmara com dois pilares

quadrados. Na face interna do pilar norte há uma representação de Aper-El, tem a cabeça rapada e

enverga a comprida veste dos vizires5. O seu nome está escrito sob a forma Aperiar, Aperial ou

Aper-El6.

Fig. 4 − Aper-El envergando os trajes de vizir. Cena da face interna (E) do pilar norte

da segunda câmara.

A face interna do pilar sul estava decorada mas já nada resta da parte superior. Em baixo é

ainda possível distinguir uma cena de lustração do vizir e sua esposa pelos filhos do casal, um dos

quais se chama Amenemhat e o outro Huy, já mencionado na primeira câmara7. Uma outra cena

mostra as suas filhas, que não é possível identificar, e uma dedicatória a Ré-Horakhti8.

4 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p.15. 5 Ibidem, p. 51. 6 Ibidem, pp. 38, 51. 7 Ibidem, p. 59. 8 Ibidem, p. 59.

4

Os outros painéis encontram-se degradados mas no terceiro há registo de títulos de Aper-el,

nomeadamente o importante «primeiro servidor de Aton» que imediatamente nos leva até ao

reinado de Akhenaton. Aqui foram encontrados restos de inumações, muitos dos quais mostravam a

acção do fogo mas também um fragmento de estela, representando um casal anónimo, vestido de

cerimónia e sentado e uma paleta de maquilhagem representando uma tilápia9.

O acesso ao terceiro nível é feito através de um poço com cerca de oito metros de

profundidade e cheio de destroços. Nele se descobriu, no entanto uma estela funerária, mostrando

Kenna homenageando seus pais, respectivamente Tit e Tu10. Esta senhora, contrariamente ao que é

habitual nas representações femininas apresenta uma pele muito escura, o que poderá indiciar uma

origem núbia.

O terceiro nível, inicialmente muito deteriorado, teve de ser sujeito a importantes obras de

consolidação11. Aí se descobriu um novo poço que dava entrada para um quarto nível. A sua

limpeza, realizada em 1986, permitiu verificar a existência de uma galeria descendente que conduz

a uma câmara, com cerca de 3 m de lado, onde uma pequena entrada leva finalmente à câmara

funerária de Aper-El12. Encontraram-se aqui seis impressões de selos representando um canídeo

deitado sobre nove prisioneiros, selo da necrópole tebana que lembra o túmulo de Tutankhamon13.

A análise cuidadosa do espólio do terceiro nível permitiu, em 1985, o achado de uma bela

cabeça de madeira pintada representando uma jovem de cabelo muito curto e com as orelhas

ornamentadas com grandes brincos em forma de disco. De acordo com A. Zivie, seria utilizada

como suporte de cabeleiras14

Fig. 5 − Cabeça de madeira representando uma jovem e encontrada no terceiro nível do túmulo.

9 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p. 65. 10 Ibidem, p. 76-78 11 Ibidem, pp. 80-82 12 Ibidem, pp. 141-153. 13 REEVES, Nicholas, The Complete Tutankhamun, p. 94. 14 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqqrah. Le vizir oublié, pp. 82-86.

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Quando, em 1987, a câmara funerária foi alcançada o seu aspecto era de um conjunto

heteróclito de restos de sarcófagos e objectos diversos (fig. 6)15. As campanhas de 1988-1989

permitiram recuperar três séries de quatro vasos de vísceras e respectivas tampas (fig. 7) entre os

quais que pertenciam a Aper-El, amuletos ligados às múmias – escaravelho do coração, objectos

cordiformes, nó de Ísis, partes de móveis, jarros de vinho com etiquetas em hierático, vasos

importados do Egeu16.

Fig. 6 − Aspecto inicial da câmara funerária, segundo um desenho de Marie-Geneviève Froidevaux. ZIVIE,

Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah, p. 97.

Foram encontrados três sarcófagos e três esqueletos. O primeiro pertencia a uma senhora,

Taueret de seu nome. O exame do esqueleto, estudado em 1988 por Eugen Strouhal do Museu

Nacional de Praga mostrou que teria entre quarenta e cinquenta anos e sido mãe por várias vezes. À

altura da morte sofria de ossificação das cartilagens e de espondilose evolutiva17. O seu corpo

esteve protegido por três sarcófagos antropóides, (fig. 7).

15 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p. 97. 16 Ibidem, pp. 144-145. 17 STROUHAL, Eugène, «L’étude anthropologique et paléopathologique des restes du vizir Aper-El et

de sa famille : premiers resultats», BSFE 126 (Mars 1993), pp. 24-27.

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Fig. 7 − Sarcófago da dama Taueret. 1 − Cobertura do sarcófago interior em madeira dourada, com uma

aplicação em faiança da deusa Nut; 2 − Máscara do sarcófago exterior; 3 − Máscara do segundo sarcófago; 4

− Máscara do terceiro sarcófago. ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah, p. 109.

Dela se encontraram igualmente dois anéis de ouro e um belo conjunto de vasos de vísceras

(fig. 8), cujas inscrições a designam por nebet per. Todo este luxo funerário deveria pertencer

7

logicamente à esposa do vizir mas isto não está especificado. No entanto, na primeira câmara, esta é

designada pelo nome de Uriai. De acordo com A. Zivie, poderia ser um diminutivo18.

Fig. 8 − Vasos de vísceras de calcário fino pertencentes à dama Taueret. ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à

Saqqarah, p. 103.

Outro sarcófago e respectivo esqueleto foi identificado como Huy, (fig. 9), filho do vizir e

que exerceu as funções de imy-r ssmwt nb(w) n Hm.f, «Superintendente de todos os

cavalos de Sua Majestade» e de sS-nfrw, «escriba dos recrutas». Foi enterrado cerca do ano 10

do reinado de Akhenaton e terá falecido entre os 25 e os 35 anos de idade19.

Fig. 9 − Sarcófagos de Huy. 1 − Tampa do sarcófago interior. São visíveis os resto do revesti-mento douradoe

um elemento decorativo em pasta de vidro representando a deusa Nut; 2 − Máscara do sarcófago exterior de

Huy. ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah, p. 10

18 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p. 116 19 Ibidem, pp. 116-121.

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Há também referência a outros dois filhos, Seny e Hatiay. O primeiro seguiu o

funcionalismo civil e Hatiay foi sacerdote de Nefertum20.

Em Junho de 1989, o esqueleto de Aper-El foi identificado, ainda num deteriorado

sarcófago, por entre restos das jóias que ornamentavam a sua múmia, (fig. 10). Terá morrido com

uma idade compreendida entre 50 e 60 anos21.

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Fig. 7 − Bens funerários de Aper-El. 1 – Tampa do sarcófago exterior; 2 – Amuletos pertencentes

à múmia 3 – Chauábti; 4 – Vaso de vísceras em alabastro.

Tal como Ay, ostenta o nome de it-nTjr, «Pai divino»22 e o achado de duas réguas-

padrão de um côvado mostrou ainda que era um Xrd n kp, «menino do kep»23

20 ZIVIE, Alain-Pierre, The lost tombs of Saqqarah., p. 48. 21 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, pp. 125-137. 22 Ibidem, p. 152. 23 Ibidem, p p. 136, 154.

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Fig. 8 − Os dois côvados pertencentes a Aper-El. 1 − Côvado de madeira mencionando os título de «menino

do kap», mensageiro do rei e vizir. 2 – Côvado de xisto encontrado em 1988, com a cartela de Amen-hotep III

Foram ainda encontrados selos de barro com a indicação «Neferkheperuré Uaenré, amado

de Unenefer»24. O espólio está actualmente no Imhotep Museum de Sakara25.

Iconotextualidade

Nos seus escritos sobre este túmulo, Alan Zivie não transcreveu quaisquer textos. No entanto,

existe um texto copiado por Petrie26 numa visita breve. Diz assim:

1

r-pat HAty-a sDAw-bity smr-waty xrp rs-tp n nb tAwy

Senhor e membro da elite, administrador vigilante do senhor das Duas Terras,

24 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p.162. 25 Consultaram-se os sites:

http://www.let.leidenuniv.nl/saqqara/; www.youtube.com/watch?v=1LzmpFQyrt0

http: //www.digitalegypt.ucl.ac.uk/saqqara/nk/index.html 26 ZIVIE, Alain-Pierre, Découverte à Saqqarah. Le vizir oublié, p. 40. Para a transcrição do texto, ver o site

https://sites.google.com/site/historyofancientegypt/new-kingdom-viziers/aperel-viziet de 16-07-2014.

10

2

m mH-ib n mnx nb.f

fiel e eficiente para o seu senhor.

3

Hsy mrt nb tAwy Hr bitw.f saA n nswt

Um que é favorecido e amado pelo senhor das Duas Terras, pelas suas qualidades e engrandecido

pelo rei

4

sqr n nsw-bity

prisioneiro (refém) do rei do Alto e do Baixo Egipto, criado pelo senhor das Duas Terras no seu ka

5

imy-r niwt TAt(y) AperiA mAa-xrw Hr imnt Mn-nfr

O governador da cidade, o Vizir Aperia, justificado no Ocidente de Mênfis

6

Snt.f (XAr)t

E a sua irmã viúva, a dona de casa Ueriai

7

mAa(t)-xrw Hr imnt Mn-nfr Hsy(t) n Wn-nfr

11

justificada no Ocidente de Mênfis e favorecida por Uennefer.