tudo que sonhei

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Livro de poesia de Fernando Cancela

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Page 1: Tudo que sonhei

Fernando Duarte Gomes Cancela nasceu no Rio de Janeiro em 18 de Abril de 1954.

Do mesmo autor “Fome de Amor, Afago de Coração”.

que aqui se encontra é o desnudamento do que há de mais íntimo em um homem que acima de tudo ama a vida. Esse amor, contudo, não o impede de reconhecer os momentos árduos e difusos que cercam a existência humana. Fernando - Fernandão O

para os amigos - possui uma escrita visceral, uma influência multiforme daqueles que enxergam os mistérios que nos cercam com um misto de perplexidade e admiração.

Este livro é um mosaico de uma atividade criadora heterodoxa. O autor não se prende a escolas literárias e modismos acadêmicos:

é somente alguém que deseja conquistar o direito de se expressar livre e soberanamente. Apesar de descrever inúmeras vezes um cenário de desesperança e desolação, encontramos sempre em seus versos rasgos de esperança e redenção.

A obra de Fernandão expressa muito bem a aridez e a desolação causada por um mundo que caminha rápida e perigosamente para o individualismo que vem desenhando um universo humano de solidão e angústias. Mas aqui e ali, entretanto, encontramos em sua obra momentos intensos em que se condensam a esperança e a fé na capacidade humana de ultrapassar o desconcertante e, por vezes, assustador momento em que vivemos.

O que leremos a seguir, enfim, é fruto de uma sensibilidade que combate o pessimismo permitindo-se encenar livre e poeticamente sua visão de mundo.

Trata-se da obra de alguém que buscou, e conquistou, o poderoso e desejado espaço para o exercício da floração de sua liberdade.

José Mauro Loureiro

Page 2: Tudo que sonhei
Page 3: Tudo que sonhei

Tudo que Sonhei

Page 4: Tudo que sonhei
Page 5: Tudo que sonhei

Tudo que Sonhei

Fernando Duarte Gomes Cancela

Page 6: Tudo que sonhei

©2006. Fernando Duarte Gomes Cancela.Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei dos Direitos

Autorais 9.610/98. Nenhuma parte deste livro poderá serreproduzida, sob quaisquer meios (eletrônico, fotográfico eoutros). O conteúdo original da obra, é de total e exclusiva

responsabilidade do autor.

DiagramadorRicardo Alexandre Monteiro

ImpressãoOficina de Livros

Catalogação-na-Publicação (CIP) - Brasil

C 16 t Cancela, Fernando Duarte Gomes.Tudo que sonhei / Fernando Duarte Gomes

Cancela. - Rio de Janeiro: o autor, 2006.

70 p. ; 23 cm.ISBN 85-905534-2-6

1. Poesia Brasileira. I. Título.

CDD: B869.1

SENAI Artes GráficasNúcleo de Informação Tecnológica

Rua São Francisco Xavier, 417 - MaracanãRio de Janeiro, R.J. - 20550-010

Tel: (21) 3978-5313 / 5314Fax: (21) 2234-7476

[email protected]

Page 7: Tudo que sonhei

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

Coríntios 13:13

Page 8: Tudo que sonhei
Page 9: Tudo que sonhei

Para minha esposa Gina e minha filha, Clarisse.

Page 10: Tudo que sonhei

[8] [9]

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]O nde foi que me esco ndi

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]O nde foi que me esco ndi

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]

O nde fui? O nde fi quei?O nde foi que me esco ndiO nde fui? O nde fi quei?O nde foi que me esco ndi

Co nsegui, mas nAo me Co nsegui, mas nAo me Co

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]

Continuo pensando se não errei o caminho[por onde eu ando, só vejo dor e espinho]

Agora cheguei num momento

Page 11: Tudo que sonhei

[8] [9]

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]O nde foi que me esco ndi

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]O nde foi que me esco ndi

Co nsegui, mas nAo me e nco ntrei]

O nde fui? O nde fi quei?O nde foi que me esco ndiO nde fui? O nde fi quei?O nde foi que me esco ndi

nsegui, mas nAo me

[9]

Agora cheguei num momentoEm que paro e espero, atento, ao meu próximo movimentoJá não tenho esperança Já não tenho vontadeJá não sei se ainda sou

Se vale o que é escrito, nada valho, admito

Queria retornar ao instante, um pouco antes, onde me perdi [Consegui, mas não me encontrei]Onde foi que me escondiOnde fui? Onde fiquei?

Retiro tudo que disseRetiro tudo que fizRetiro tudo que viviRetiro tudo que pensei

Agora cheguei num instanteEm que paro e espero, atento, ao meu próximo momentoJá vai longe o dia em que nasciJá vai longe o dia em que cresciJá vai longe tudo que sonhei

Se vale o que é sentido, talvez fique aborrecido, fui feliz, mas esqueci

Quero voltar a ser alguémSe não for tarde para tantoApesar do meu próprio espantoDe querer viver, portanto,Mesmo preso. Mesmo refém.

Page 12: Tudo que sonhei

[10] [11]

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...

Lembra que te falei...Perti nho de mim

Lembra que te falei...Perti nho de mim

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...Lembra daquele dia...

Daquela manhãDaquele solDaquela florDaquele pássaro azul

Lembra que te falei...Dos meus sonhosDos meus desejosDas minhas doresDos meus amores

Lembra que te contei...Todos os meus segredosMeus momentos mais íntimosQual a minha cor favorita E te cantei minha música predileta

Lembra do meu sorrisoDo carinho que te fizDo beijo que te roubeiDo abraço que te dei

Pois é...

Não me lembro de nadaNão me lembro de ter acordadoNão me lembro de ter te ligadoNão me lembro de sair com vocêNão me lembro sequer do momentoDo momento em que o tempo parouE eu e você nos olhamosE fizemos juras de amor

Page 13: Tudo que sonhei

[10] [11]

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...

Lembra que te falei...Perti nho de mim

Lembra que te falei...Perti nho de mim

Lembra que te falei...Impossível, Impossível, Impossível...Impossível continuar a andar, cair, me arrastar por este

caminho tão áridoCheio de pedras e espinhosPor este caminho tão molhado de sangue dos passos anteriores daqueles que não desistiramImprovável, talvez impossível que eu chegue ao fim do caminho

Impossível, Impossível, Impossível...Mas que palavra chata que fica ecoando no vazio do meu coração...Não me deixando esquecer que estou (sou) tão fraco para percorrer este caminho

Impossível continuar a andar, cair, me arrastar por esta vida de rumo indefinidoCheia de interrogações, tão rica em dúvidas, tão pobre em soluçõesImprovável, talvez impossível que eu continue a viver esta vida

Impossível, Impossível, Impossível...Mas que palavra chata que fica me perseguindo, me torturando, me atingindo

Impossível continuar a andar, cair, me arrastar por este mar tão lindo Nadar, nadar, nadar....Chegar numa ilha deserta, sorrir, rezar, subir o morro, o topo alcançarQue vista tranqüila, que vista perfeitaSerá o fim do caminho, daquele caminho que um dia penseiQue era tão impossível de andarQue de tão impossível, chorei...

Impossível, Impossível, Impossível...Mas que palavra chata que insiste em me atormentar, me desafiar, me aborrecer

Mesmo agora que estou no alto do morro Daquela ilha perfeita, tranqüilaQue fica no fim do caminhoQue fica ali na esquina, pertinhoPertinho de mim

Page 14: Tudo que sonhei

[12] [13]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Hoje acordei bem disposto

Vou parar de fumar Vou parar de beberVou parar de te aborrecer

Vou jogar fora todas as revistas, os jornaisVou pendurar a toalhaVou dar banho no gato (mesmo que ele não queira)

Vou botar a mesaVou arrumar a cozinhaVou lavar os pratosVou arrumar o quarto

Vou regar as plantas, a (única) florVou comprar o pão, os jornais

Vou te beijarVou te abraçarVou te despirVou te amar

Page 15: Tudo que sonhei

[12] [13]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais[de cores tAo perfeitas]

Vou comprar o pão, os jor nais

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Vou parar de fumar [de cores tAo perfeitas]

Uma pétala tão perfeita de uma flor tão perfeita [de cores tão perfeitas]

Uma lembrança tão amarga de uma saudade tão presente

Page 16: Tudo que sonhei

[14] [15][14]

Quero muito e nte nder

Qua ndo você está prese nteGosto de ge nte, gosto muito de ge nteQuero muito e nte nder

Gosto de ge nte, gosto muito de ge nteQuero muito e nte nder

Qua ndo você está prese nteGosto de ge nte, gosto muito de ge nteQua ndo você está prese nte

Quero muito entenderPorque tudo fica tão diferenteQuando você está presente

Quando você fica tão bonita, embora aflitaE radiante nesta luz infinitaQue te veste de vermelho, verde, azulE te deixa tão colorida, tão cheia de vida

Quero muito entenderPorque tudo fica tão distanteQuando você parte, num instante

Quando você fica tão longe que só (nem) um grito te alcançaQuando você deixa não mais que uma lembrança

Page 17: Tudo que sonhei

[14] [15]

Quero muito e nte nder

Qua ndo você está prese nteGosto de ge nte, gosto muito de ge nteQuero muito e nte nder

Gosto de ge nte, gosto muito de ge nteQuero muito e nte nder

Qua ndo você está prese nteGosto de ge nte, gosto muito de ge nteQua ndo você está prese nte

Gosto de gente, gosto muito de genteGosto de gente todo dia

Que seja do JapãoQue fale AlemãoQue sussurre em InglêsQue grite em Norueguês

Que passe férias na IslândiaQue trabalhe na Finlândia

Gosto de gente, gosto muito de genteGosto de gente todo dia

Que envelheça em PortugalQue tome café no SenegalQue plante uma árvore na RomêniaQue goste de um safári lá no Quênia Que sinta calor no IrãQue tenha uma casa no Vietnã

Gosto de gente, gosto muito de muita genteGosto de gente todo dia

Quer dizer, pensando bem, nem sei se gosto tanto assim

Não gosto de ninguém do BeninMuito menos da Letônia

Desisti e não vou para a EstôniaNunca, jamais para o HaitiMuito menos pescar em Fiji

Não gosto de gente, não gosto muito de gente

Vou me exilar no EquadorIr sem volta para El SalvadorMe perder no QuirguistãoEsquecer que estive no Butão

Page 18: Tudo que sonhei

[16] [17]

Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.Ge nte me esquece. Tchau.

Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.Ge nte me esquece. Tchau.

Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.Ge nte me esquece. Tchau.

Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.Ge nte me esquece. Tchau.

Sempre que posso, saio (desesperado) na rua.

Apagar a visita a ComoresE pensar que dormi nos Açores

Não gosto de gente, não gosto muito de muita genteEntão me estabeleço em Palau.

Gente me esquece. Tchau.

Page 19: Tudo que sonhei
Page 20: Tudo que sonhei

Fernando Duarte Gomes Cancela nasceu no Rio de Janeiro em 18 de Abril de 1954.

Do mesmo autor “Fome de Amor, Afago de Coração”.

que aqui se encontra é o desnudamento do que há de mais íntimo em um homem que acima de tudo ama a vida. Esse amor, contudo, não o impede de reconhecer os momentos árduos e difusos que cercam a existência humana. Fernando - Fernandão O

para os amigos - possui uma escrita visceral, uma influência multiforme daqueles que enxergam os mistérios que nos cercam com um misto de perplexidade e admiração.

Este livro é um mosaico de uma atividade criadora heterodoxa. O autor não se prende a escolas literárias e modismos acadêmicos:

é somente alguém que deseja conquistar o direito de se expressar livre e soberanamente. Apesar de descrever inúmeras vezes um cenário de desesperança e desolação, encontramos sempre em seus versos rasgos de esperança e redenção.

A obra de Fernandão expressa muito bem a aridez e a desolação causada por um mundo que caminha rápida e perigosamente para o individualismo que vem desenhando um universo humano de solidão e angústias. Mas aqui e ali, entretanto, encontramos em sua obra momentos intensos em que se condensam a esperança e a fé na capacidade humana de ultrapassar o desconcertante e, por vezes, assustador momento em que vivemos.

O que leremos a seguir, enfim, é fruto de uma sensibilidade que combate o pessimismo permitindo-se encenar livre e poeticamente sua visão de mundo.

Trata-se da obra de alguém que buscou, e conquistou, o poderoso e desejado espaço para o exercício da floração de sua liberdade.

José Mauro Loureiro