tucunaré embrapa

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ALIMENTAÇÃO DO TUCUNARÉ Cichla sp. (PISCES, CICHLIDAE) UM PEIXE INTRODUZIDO NO PANTANAL, BRASIL 23 ISSN 1517-1981 Outubro 2000 ISSN 1517-1981 Novembro, 2001

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tucunaré embrapa

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  • ALIMENTAO DO TUCUNARCichla sp. (PISCES, CICHLIDAE) UMPEIXE INTRODUZIDO NOPANTANAL, BRASIL

    23ISSN 1517-1981Outubro 2000ISSN 1517-1981Novembro, 2001

  • Repblica Federativa do Brasil

    Fernando Henrique CardosoPresidente

    Ministrio da Agricultura e do Abastecimento

    Marcus Vinicius Pratini de MoraesMinistro

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa

    Conselho de Administrao

    Marcio Fortes de AlmeidaPresidenteAlberto Duque PortugalVice-PresidenteJos Honrio AccariniSergio FaustoDietrich Gerhard QuastUrbano Campos RibeiralMembros

    Diretoria-Executiva da Embrapa

    Alberto Duque PortugalDiretor-Presidente

    Bonifcio Hideyuki NakasuDante Daniel Giacomelli ScolariJos Roberto Rodrigues PeresDiretores-Executivos

    Embrapa Pantanal

    Emiko Kawakami de ResendeChefe-Geral

    Jos Anibal Comastri FilhoChefe Adjunto de Administrao

    Aiesca Oliveira PellegrinChefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento

  • ISSN 1517-1981Novembro, 2001

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro de Pesquisa Agropecuria do PantanalMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    ALIMENTAO DO TUCUNAR Cichla sp.(PISCES, CICHLIDAE) UM PEIXEINTRODUZIDO NO PANTANAL, BRASIL

    Izel Rondon SarezFlvio Lima NascimentoAgostinho Carlos Catella

    Corumb - MS

    2001

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa PantanalRua 21 de Setembro, 1880 Caixa Postal 109Fone: (67) 233-2430Fax: (67) 233-101179320-900 Corumb, MSEmail: [email protected]

    Comit de Publicaes:

    Presidente: Aiesca Oliveira PellegrinSecretria Executiva: Vnia da Silva Nunes -Membros: Balbina Maria Arajo Soriano Cristina Aparecida Gonalves Rodrigues Andr Steffens MoraesSecretria: Regina Clia Rachel dos Santos -

    Revisora de texto: Mirane Santos da CostaNormalizao Bibliogrfica: Romero de Amorim

    1 edio:1 impresso (2001): 250 exemplares2 edio (2002): Formato digital

    Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou emparte, constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).SAREZ, I.R.; NASCIMENTO, F.L.; CATELLA, A.C. Alimentao do

    tucunar Cichla sp. (Pisces, cichlidae) um peixe introduzidono Pantanal, Brasil. Corumb: Embrapa Pantanal, 2001. 21p.(Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa, 23).

    ISSN 1517-1981

    1. Tucunar - Alimentao - Pantanal. I. Embrapa Pantanal(Corumb, MS). II. Ttulo. III. Srie.

    CDD 639.409817 Embrapa 2001

  • Sumrio

    Pg.

    Resumo................................................................................. 05

    Abstract................................................................................. 06

    Introduo.............................................................................. 07

    rea de Estudo ...................................................................... 08

    Material e Mtodos ..................................................................09

    Resultados e Discusso ............................................................10

    Concluso...............................................................................18

    Referncias Bibliogrficas .........................................................18

  • Alimentao do Tucunar Cichlasp. (Pisces, Cichlidae) - Um PeixeIntroduzido no Pantanal, Brasil

    Yzel Rondon Sarez1

    Flvio Lima Nascimento2

    Agostinho Carlos Catella 2

    Resumo

    Com o objetivo de estudar a alimentao do tucunar (Cichla sp.) noPantanal, foram realizadas cinco coletas entre novembro/1992 ejunho/1994. Foram capturados 425 espcimens, destes 207apresentaram contedo estomacal. Foram analisadas a Freqncia deOcorrncia (FO), Volume Relativo (Vr) e "ndice Alimentar" (IAi). Ospeixes foram o principal item alimentar (FO=97,10%, Vr=96,45,IAi=99,81%), seguido de "restos vegetais" ,(FO=6,28%,Vr=2,49, IAi=16%) e camares ((FO=1,93%, Vr=1,04,IAi=2%). Foram identificadas 21 espcies de peixes no contedoestomacal do "tucunar". Curimatella dorsalis foi a presapredominante em nmero de indivduos (18,75 %) e em biomassa(28,81%). A famlia mais representativa em biomassa foiCurimatidae (27,36%) e Cichlidae (26,93%); em nmero deindivduos, Sternopygidae foi mais representada (26,66%), seguidade Cichlidae e Curimatidae, com 15,55%. Os resultados permitemcaracterizar o tucunar como piscvoro generalista.

    Termos para indexao: tucunar; Cichla sp.; alimentao; Pantanal

    1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul- Unidade de Ensino de Ivinhema.Av. Brasil 679 - CEP 79.740-000, Ivinhema - MS, e-mail: [email protected] Embrapa Pantanal, CP. 109, CEP: 79320.900, Corumb - MS, e-mail:[email protected]

  • Feeding Habits of Tucunar Cichlasp. (Pisces, Cichlidae) a FishIntroduced in the Pantanal, Brazil

    Abstract

    With the objective of studying the feeding habits of the PeacockBass (Cichla sp.) in the Pantanal, five collections were accomplishedbetween November/1992 and June/1994. A total of 425 specimenswere captured, 207 of them presented stomachal content. Theywere analyzed by Frequency of Occurrence (FO), Relative Volume(Vr) and "Alimentary Index" (IAi). The fish were the main alimentaryitem (FO=97,10%, Vr=96,45, IAi=99,81%), followed by "vegetable " remains, (FO=6,28%, Vr=2,49, IAi=16%) andshrimps (FO=1,93%, Vr=1,04, IAi=2%). 21 species of fish wereidentified in the stomachal content of the Peacock Bass. Curimatelladorsalis was the predominant prey in number of individuals(18,75%) and in biomass (28,81%). The most representative familyin biomass was Curimatidae (27,36%) and Cichlidae (26,93%); innumber of individuals, Sternopygidae was represented (26,66%),followed by Cichlidae and Curimatidae, with 15,55%. The resultsallow to characterize the Peacock Bass as a generalist fish.

    Index terms: tucunar; Cichla sp.; Feeding Habits; Pantanal

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 7

    Introduo

    A introduo de espcies exticas, seja casual ouintencional, tem produzido conseqncias no ambiente receptor,desde muito pequenas, a mudanas catastrficas. Apesar daintroduo ser uma prtica, at certo ponto comum em aquacultura,pouco se sabe sobre as conseqncias dessas introdues.

    As comunidades de peixes que recebem uma espcieextica podem ser alteradas diretamente pela competio entreas espcies nativas e a nova espcie e pela predao dasespcies nativas (Welcomme, 1988), alm da possibilidade deintroduo de parasitas exticos.

    O tucunar, Cichla sp., peixe carnvoro da baciaAmaznica, foi introduzido no Pantanal em 1982, pelo rompimentode um aude em uma fazenda localizada entre os rios Itiquira ePiquir, na divisa dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,(Ferraz de Lima, 1993). O gnero Cichla est passando por umareviso, motivo pelo qual a espcie no foi identificada nestetrabalho. Para futuras consultas, indicamos a existncia deexemplares na Coleo de Referncia da Embrapa Pantanal, sob osn.os: 551,552 e 553.

    Zaret e Paine (1973), estudando a introduo do tucunar(Cichla ocellaris) no lago Gatum, na zona do Canal do Panam,observaram uma queda acentuada na abundncia de quase todas asespcies de peixes. Das 11 espcies de peixes importantes em nvelde biomassa, 7 desapareceram completamente e outras 3 sofreramdrsticas redues, alterando toda a cadeia trfica do lago. Noentanto, no rio Chagres (Panam), estes autores no notaramdiminuio das populaes de peixes e atriburam este fato estabilidade encontrada no rio, na relao predador/presa em funodas diferenas do ambiente fsico, facilidade de refgio, diferenas deturbidez dos ambientes que facilitam ou no a captura das presas.

    Segundo Arcifa e Meschiatti (1993) as espcies do gneroCichla apresentam modificaes no regime alimentar de acordo coma faixa etria; os indivduos jovens alimentam-se principalmente deinsetos aquticos, e os adultos so estritamente carnvoros.

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil8

    A maioria dos dados existentes para esta espcie soprovenientes de estudos em estaes de piscicultura (Braga, 1952;1953); Fontenele (1950, 1952); Silva (1971).

    O objetivo deste trabalho foi conhecer alguns aspectos daalimentao do tucunar no Pantanal, determinando as espciespredadas, quantificando os principais itens alimentares e analisandoaspectos da relao de tamanho entre predador/presa.

    rea de Estudo

    O Pantanal constitudo por uma extensa plancie aluvial(140.000 km2), situada abaixo da cota de 200m, ocupando cerca de35% da superfcie da Bacia do Alto Paraguai. uma plancie sujeita aalternncia de perodos anuais de seca e de cheia, caracterizada porum baixo ndice de declividade, de 2 a 4 cm/km de norte para o sul esituada aproximadamente entre os paralelos 13 e 22 Sul e entre53 e 61 Oeste.

    O rio Piquir origina-se na confluncia dos rios Correntes eItiquira. Esses tributrios nascem no planalto, entre as serras deSaudade e de Maracaj, e so orientados para o oeste. O rio Piquir,procedente do planalto, penetra na depresso do rio Paraguai,apresenta curso mendrico, com direo geral Noroeste/Sudoeste erecebe toda a rede de drenagem circunvizinha at alcanar o rioCuiab. Todos esses cursos comportam largas faixas de planciesaluviais (Fig. 1).

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 9

    Fig. 1. Localizao da rea de estudo, Bacia Hidrogrfica do rioPiquiri

    Material e Mtodos

    Foram realizadas 5 coletas no perodo de novembro/1992 ajunho/1994, no rio Piquir e seus afluentes, rio Correntes e Itiquira,utilizando-se como petrechos de pesca malhadeiras e anzis. Noperodo da seca, as coletas foram realizadas nos braos mortos dosrios e lagoas adjacentes. No perodo de cheia foram tambmefetuadas dentro da mata ciliar e campos inundados.

    Os estmagos foram retirados por inciso abdominal,fixados em formol a 10% por um perodo mnimo de 24 horas econservados em lcool 70%, para posterior anlise. Foi avaliado onvel de repleo estomacal: (1) repleto; (2) acima de 1/2; (3) abaixode 1/2; (4) vazio. Os itens alimentares foram triados sobestereomicroscpio. Calculou-se a Freqncia de Ocorrncia (Fo) eVolume Relativo (Vr) de cada item no contedo estomacal pelomtodo de pontos modificado de Hunes (1950). Utilizou-se a

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil10

    metodologia proposta por Kawakami e Vazzoler (1980) para calcularo ndice alimentar (IAi) de cada item:

    ( )IAi Fi Vi Fi Vii

    n

    = =

    1

    Onde : i = 1, 2,...., n, item alimentar.Fi = Freqncia de ocorrncia (%) do item i.Vi = Volume (%) do item i.

    A fim de se determinar a relao de tamanho entrepredador/presa, foi realizada uma anlise de regresso entre ocomprimento padro e abertura bucal do tucunar (altura e largura),cuja relao foi medida pela equao: Ab= 0,2 Ls. Foram medidos34 tucunars, que apresentavam alimento intacto, sendo que daspresas intactas, tambm foi anotado o comprimento padro, alturado corpo e peso mido. Foi verificado o sentido de ingesto dospeixes (pela cabea ou pela cauda) para que se pudesse inferir sobrea ttica alimentar do tucunar.

    Para a identificao dos peixes encontrados nos tratosdigestivos utilizou-se o trabalho de BRITSKI et al. (1999).

    Resultados e Discusso

    Foram capturados 425 exemplares de tucunar comcomprimento padro variando de 180 a 475mm. Observou-segrande nmero de estmagos vazios (n=218), o que representa51,2% do total analisado. Nas coletas de julho/93 e junho/94 (seca),foi observada a maior porcentagem de estmagos vazios, emcontraste com o perodo de cheia, novembro/92 e janeiro/94, queapresentaram as maiores porcentagens de estmagos com alimento(Fig. 2).

    As anlises revelaram que peixes foram o principal itemalimentar (IAi=99,81%), seguido de restos vegetais (IAi=0,16) ecamares (IAi=0,02), comprovando-se o hbito alimentar piscvorodo tucunar. (Fig. 2)

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 11

    Trs das quatro ocorrncias de camares foram na coletade julho/93 e restos vegetais ocorreram principalmente emjaneiro/94, sendo que apenas um caso foi registrado emsetembro/93. A variao do ndice Alimentar (IAi) de cada um dositens alimentares durante as coletas pode ser observado na Tabela 1.

    Tabela 1. Variao do ndice Alimentar (IAi) dos itens alimentares doTucunar Cichla sp. para o perodo de novembro/92 ajunho/94.

    Item Alimentar Nov/92 Jul/93 Set/93 Jan/94 Jun/94

    Peixes 99,82 98,97 99,97 99,64 100

    Camaro 0,18 1,24 0 0 0

    Restos Vegetais 0 0 0,03 0,36 0

    Dentre os peixes ingeridos, foram identificadas 21espcies, distribudas em 10 famlias, sendo a grande maioria nacoleta de janeiro/94 (Tabela 2). Observou-se que todos os peixesencontrados no contedo estomacal do tucunar foram ingeridospela cabea. Presas portadoras de estruturas de defesa como raiosde nadadeiras transformados em espinhos (ex: Hypostomus sp. eBrochis sp.) no foram evitadas.

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    30

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    70

    80

    90

    100

    Nov/92 Jul/93 Set/93 Jan/94 Jul/94

    % d

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    ple

    o

    VazioAbaixo 1/2Acima 1/2Repleto

    Fig. 2. Distribuio do grau de repleo estomacal para o tucunarCichla sp., no perodo de novembro/92 a junho/94 noPantanal MS/MT.

    Constatou-se a predominncia de Curimatella dorsalis tantoem nmero de indivduos (18,75 %) quanto em biomassa (28,81%)(Tabela 2), seguida de Aequidens plagiozonatus (10,02%) eCrenicichla lepidota (7,76%). As famlias mais representativas emnmero de indivduos foram Sternopygidae (26,66%) seguida deCichlidae e Curimatidae com (15,55%), Characidae (13,33%),Loricariidae (11,11%), Callichthyidae e outras (6,66%) eHemiodontidae (4,44%). Em biomassa, constata-se a predominnciade Curimatidae (27,36%) e Cichlidae (26,93%) seguidas deSternopygidae (15,15%), Characidae (11,48%), Hemiodontidae(7,44%), Erythrinidae (4,86%), Loricariidae (4,02%) e outras(2,71%).

    Efetuada a relao entre a abertura bucal (Ab) e ocomprimento padro (Ls) do tucunar, obteve-se de n=34:r2=0,851; P

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 13

    Tabela 2. Taxon, Nmero de Indivduos (Ni) e Biomassa Relativa (Br)dos peixes encontrados no contedo estomacal dotucunar no perodo de novembro/92 a junho/94 noPantanal MS/MT.

    Txon Ni BrTriportheus sp.Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)Moenkhausia sanctae-filomena (Steidachner, 1907)Tetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)Serrasalmus marginatus (Valenciennes, 1847)Hemiodopsis semitaeniatus (Kner, 1859)Hemiodus ortonops (Eigenmnann & Kennedy, 1903)Curimatella dorsalis (Eigenmann & Eigenmann, 1889)Steindachnerina spHoplias malabaricus (Bloch, 1794)Brochis sp.Corydoras sp.Hypoptopoma guentheri (Boulenger, 1895)Hypostomus sp.Eigenmannia trilineata (Lopez & Castello, 1966)Sturisoma sp.Pimelodella gracilis (Valenciennes, 1840)Aequidens plagiozonatus (Kullander, 1984)Bujurquina vittata (Heckel, 1840)Crenicichla edithae (Ploeg, 1981)Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795)Espcie no identificada

    030101010101010601010101010102010103030201-

    5,250,630,405,950,201,396,6728,810,765,261,220,320,771,341,970,361,0010,025,107,760,4214,40

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil14

    Os peixes ingeridos pelo tucunar apresentam altura docorpo menores que sua abertura bucal (Fig. 3). No foi constatadarelao entre o comprimento da presa e o comprimento do predador(n=45; R=0,052; P=0,134). medida que o tucunar aumenta detamanho ele passa a ingerir presas maiores, mas no deixa de ingerirpeixes pequenos (Fig. 4).

    Comprimento padro (mm)

    Abe

    rtur

    a bu

    cal d

    o tu

    cuna

    r (

    mm

    )

    Altura da presa (mm)

    Fig. 3. Relao entre a abertura bucal e comprimento padrotucunar Cichla sp.. Os pontos do grfico representam aaltura corporal dos peixes ingeridos no perodo denovembro/1992 a junho/1994, no Pantanal MS/MT.

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 15

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    180

    200

    200 250 300 350 400 450 500

    Comprimento padro do tucunar (mm)

    Com

    prim

    ento

    pad

    ro

    da p

    resa

    (m

    m)

    Fig. 4. Relao entre o Comprimento padro do Tucunar e oComprimento padro das presas identificadas noscontedos estomacais analisados para o perodo denovembro/92 a junho/94, no Pantanal MS/MT.

    A predominncia de estmagos vazios entre os exemplaresde tucunar pode ser explicada por sua dieta basicamente piscvora,pois uma dieta base de peixe tem elevado coeficiente nutricional,reduzindo a necessidade de ingesto contnua de alimento (Nikolsky,1963).

    O maior nmero de estmagos com alimento foi observadono perodo mais quente do ano, novembro/1992 e janeiro/1994 quecoincide com o perodo de cheia na regio, assim como o maiornmero de estmagos vazios foi obtido nas coletas de julho/93 ejunho/94, poca mais fria do ano e perodo de seca (Fig. 5). Barbieriet al. (1982) estudando a alimentao de H. malabaricus na represado Lobo (SP) observou as maiores porcentagens de estmagoscheios no perodo que antecede a reproduo e a maior proporo deestmagos vazios no inverno.

    O elevado nmero de espcies encontradas no contedoestomacal do tucunar (21 espcies) permite caracteriz-lo como

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil16

    piscvoro generalista. Popova (1978) comenta que peixes predadorestem espectro alimentar geralmente amplo, consumindo em torno de30 espcies de presas, embora a dieta bsica inclua umas poucasdelas. Esta observao parece vlida para este estudo, pois,Curimatella dorsalis corresponde a 28,81% da biomassa dos peixesingeridos.

    Nv

    el d

    o ri

    o (m

    )

    2

    2.4

    2.8

    3.2

    3.6

    4

    4.4

    4.8

    Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul.

    1992 1993 1994

    Mdia

    Fig. 5. Variao do nvel do rio Piquir (Estao SoJernimo/DNAEE), no perodo de outubro/1992 ajulho/1994.

    Arcifa e Meschiatti (1993) constataram mudana naalimentao do tucunar durante seu crescimento em uma represade So Paulo. Na fase jovem (< 87mm) o tucunar alimenta-se deinsetos e na fase adulta, de peixes, fato no observado no presenteestudo, o que provavelmente deve-se no captura de exemplaresmenores que 180mm.

    Segundo Lowe-McConnell (1964) e Machado-Allison(1990) os peixes tornam-se mais especializados durante a seca,restringindo seu espectro alimentar. Almeida et al (1997) constatoumaior ocorrncia de camares na dieta de algumas espciespiscvoras na bacia do rio Paran, no perodo de seca, atribuindo estefato abundncia sazonal desta presa neste perodo. Esta seria umaestratgia do predador para maximizar o ganho de energia e

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil 17

    sobreviver aos perodos estressantes de retrao das guas (hbitatsreduzidos, baixos nveis de oxignio dissolvido, alimento escasso).De modo semelhante, apesar de sua pequena ocorrncia, foramencontrados camares no contedo estomacal dos tucunar,provenientes principalmente da poca de seca (Tabela 2/Fig. 5).

    Catella e Trres (1984), estudando a alimentao dopiscvoro Acestrorhynchus lacustris na represa de Trs Mariasconstataram que, medida que o predador aumenta de tamanho,ingere presas de maior porte, cerca de 1/3 do seu comprimento.Neste estudo no foi constatada esta relao, ou seja, tucunars degrande porte continuam se alimentando de presas de pequeno porte(comprimento padro mdio=78,5 mm); como foi observado para acorvina Pachyurus squamipinnis por Mouro e Trres (1984),tambm na represa de Trs Marias.

    O consumo de presas pequenas por grandes predadorestem sido objeto de discusso, no que se refere aos custosenergticos decorrentes deste tipo de captura. No entanto, a grandeoferta de alimento na plancie deve minimizar estes custos (PITCHER& HART, 1982). Pergunta-se, no entanto, se a ingesto de presaspequenas deve-se a sua disponibilidade e facilidade de captura ou reduo das presas de maior porte.

    Almeida (1997) estudando a alimentao de algumasespcies carnvoras na plancie de inundao do rio Paran comentaque os hbitats complexos de plancie, com lagoas, canais eextensos bancos de macrfitas, onde ocorre maior quantidade deabrigo, favorecem a ttica de emboscada (as presas so capturadaspela regio anterior). Possivelmente esta concluso se aplica aqui,uma vez que todos os peixes identificados no contedo estomacaldo tucunar foram ingeridos no sentido antero-posterior.

    Constatou-se que o tamanho da boca do tucunar limita aaltura mxima das presas ingeridas, como observaram Catella &Trres (1984) para A. lacustris e Mouro e Trres (1984) para P.squamipinnis. Segundo Lowe-McConnell 1975, este fato podeconduzir a uma presso de seleo para o rpido crescimento dasespcies de presas, bem como a modificao dos padres eco-morfolgicos das comunidades, uma vez que as espcies de "corpobaixo" seriam mais predadas que as de "corpo alto". Curiosamenteno ocorreram exemplares de Mileinae, que so peixes de "corpoalto", o que dificulta sua ingesto e ocorreu apenas um exemplar de

  • Alimentao do Tucunar Cichla sp. (Pisces, Cichlidae) - Um Peixe Introduzido no Pantanal, Brasil18

    Serrasalminae, tambm de "corpo alto", mas com apenas 23mm decomprimento padro, portanto, de fcil ingesto.

    Concluso

    Nossos resultados permitem concluir que:1) O tucunar (Cichla sp.) no Pantanal alimenta-se

    principalmente de peixes;2) Curimatella dorsalis foi a principal presa do tucunar no

    perodo estudado, tanto em nmero de indivduos quanto embiomassa;

    3) Existe uma marcante variao sazonal na ingesto daspresas, que maior no perodo de cheia;

    4) No existe relao positiva entre o tamanho do tucunare de suas presas, sendo que mesmo animais grandes continuam sealimentando de presas de pequeno porte;

    Referncias Bibliogrficas

    ALMEIDA, V. L. L.; HAHN, N. S.; VAZZOLER, A. E. A. M.. Feedingpatterns in five predatory fishes of righ Paran river floodplain (PR,Brasil). Ecology of Freshwater Fish. v.6, p.123-133. 1997.

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