tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

19
ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 54CBC 1 Fibras Plásticas Como Reforço de Tubos de Concreto. Parte 1: Caracterização Tecnológica Macro-synthetic Fiber-reinforced Concrete Pipes. Part 1: Technological Characterization Antonio Domingues de Figueiredo (1); Albert de la Fuente Antequera (2); Antonio Aguado de Cea (3); Renan Pícolo Salvador (4) ); Renata Campos Escariz (5) (1) Professor Associado, Departamento de Engenharia de Construção Civil. Escola Politécnica da USP e-mail: [email protected] (2) Profesor Doctor, Departamento de Ingeniería de la Construcción. Universidad Politécnica de Catalunya e-mail: [email protected] (3) Catedrático, Departamento de Ingeniería de la Construcción. Universidad Politécnica de Catalunya e-mail: [email protected] (4) Qímico, Construquímica. e-mail: [email protected] (5) Engenheira Civil, Msc,. Construtora Norberto Odebrecht. e-mail: [email protected] Resumo A utilização de macrofibras plásticas em concretos vem crescendo progressivamente. Sua aplicação é particularmente interessante em ambientes onde há maior nível de agressividade, pelo fato de serem mais quimicamente inertes. Por se tratar de uma tecnologia relativamente recente, é necessário avaliar seu comportamento mecânico, de forma a caracterizar seu desempenho. Este trabalho apresenta uma caracterização dos concretos reforçados com macrofibras poliméricas, comparando o seu desempenho mecânico com as fibras de aço, cuja utilização já está mais consolidada no mercado. Para tal, utiliza-se de ensaios de caracterização do material que consistem na determinação da tenacidade no ensaio de flexão de prismas. Em sequência, são apresentados os resultados obtidos em tubos de concreto reforçado com fibras de aço e macrofibras poliméricas. Com isto, se obtém uma avaliação comparativa de desempenho dos diferentes níveis de reforço, tendo sido possível obter consumos com desempenho equivalentes. Os resultados demonstraram que as macrofibras poliméricas apresentam uma capacidade de reforço reduzida em relação ao mesmo teor em volume das fibras de aço, o que faz como que o volume de macrofibras necessário para atender aos requisitos de projeto seja bem superior ao das fibras de aço. Palavra-Chave: tubos de concreto, fibras de aço, macrofibras poliméricas, comportamento mecânico Abstract The use of macro-synthetic fibers in concrete has presented a constant growth over the past years. Its application is particularly useful in very aggressive environments where there is a higher risk of corrosion, because they are more chemically resistant. Because the macro-synthetic fiber is a relatively new technology, it is necessary to evaluate their mechanical behavior in concrete, in order to characterize its performance. This work presents a characterization of the mechanical behavior of macro-synthetic fiber- reinforced concrete comparing their performance with steel fiber reinforced concrete, whose use is now more consolidated market. In that sense, tests for characterization of the material were carried out with the aim of determining toughness in flexural beam tests. In addition, the results obtained in concrete pipes, reinforced with steel and macro-synthetic fibers are also presented. So, a comparative evaluation of performance at both the basic characterization and as a concrete component was obtained. Fiber consumptions with same level of performance were achieved. The results showed that the macro-synthetic fibers have a lower reinforcement capacity over the same content by volume, which means that the volume of macro-synthetic fibers required to meet design requirements is much higher than that one of steel fibers. Keywords:concrete pipes, steel fibres, synthetic macrofibers, mechanical behavior

Upload: barbara-salgado

Post on 07-Apr-2016

6 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

TRANSCRIPT

Page 1: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 1

Fibras Plásticas Como Reforço de Tubos de Concreto. Parte 1: Caracterização Tecnológica

Macro-synthetic Fiber-reinforced Concrete Pipes. Part 1: Technological Characterization

Antonio Domingues de Figueiredo (1); Albert de la Fuente Antequera (2); Antonio Aguado de Cea

(3); Renan Pícolo Salvador (4) ); Renata Campos Escariz (5)

(1) Professor Associado, Departamento de Engenharia de Construção Civil. Escola Politécnica da USP

e-mail: [email protected] (2) Profesor Doctor, Departamento de Ingeniería de la Construcción. Universidad Politécnica de Catalunya

e-mail: [email protected] (3) Catedrático, Departamento de Ingeniería de la Construcción. Universidad Politécnica de Catalunya

e-mail: [email protected] (4) Qímico, Construquímica. e-mail: [email protected]

(5) Engenheira Civil, Msc,. Construtora Norberto Odebrecht. e-mail: [email protected]

Resumo

A utilização de macrofibras plásticas em concretos vem crescendo progressivamente. Sua aplicação é particularmente interessante em ambientes onde há maior nível de agressividade, pelo fato de serem mais quimicamente inertes. Por se tratar de uma tecnologia relativamente recente, é necessário avaliar seu comportamento mecânico, de forma a caracterizar seu desempenho. Este trabalho apresenta uma caracterização dos concretos reforçados com macrofibras poliméricas, comparando o seu desempenho mecânico com as fibras de aço, cuja utilização já está mais consolidada no mercado. Para tal, utiliza-se de ensaios de caracterização do material que consistem na determinação da tenacidade no ensaio de flexão de prismas. Em sequência, são apresentados os resultados obtidos em tubos de concreto reforçado com fibras de aço e macrofibras poliméricas. Com isto, se obtém uma avaliação comparativa de desempenho dos diferentes níveis de reforço, tendo sido possível obter consumos com desempenho equivalentes. Os resultados demonstraram que as macrofibras poliméricas apresentam uma capacidade de reforço reduzida em relação ao mesmo teor em volume das fibras de aço, o que faz como que o volume de macrofibras necessário para atender aos requisitos de projeto seja bem superior ao das fibras de aço. Palavra-Chave: tubos de concreto, fibras de aço, macrofibras poliméricas, comportamento mecânico

Abstract

The use of macro-synthetic fibers in concrete has presented a constant growth over the past years. Its application is particularly useful in very aggressive environments where there is a higher risk of corrosion, because they are more chemically resistant. Because the macro-synthetic fiber is a relatively new technology, it is necessary to evaluate their mechanical behavior in concrete, in order to characterize its performance. This work presents a characterization of the mechanical behavior of macro-synthetic fiber-reinforced concrete comparing their performance with steel fiber reinforced concrete, whose use is now more consolidated market. In that sense, tests for characterization of the material were carried out with the aim of determining toughness in flexural beam tests. In addition, the results obtained in concrete pipes, reinforced with steel and macro-synthetic fibers are also presented. So, a comparative evaluation of performance at both the basic characterization and as a concrete component was obtained. Fiber consumptions with same level of performance were achieved. The results showed that the macro-synthetic fibers have a lower reinforcement capacity over the same content by volume, which means that the volume of macro-synthetic fibers required to meet design requirements is much higher than that one of steel fibers. Keywords:concrete pipes, steel fibres, synthetic macrofibers, mechanical behavior

Page 2: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 2

1 Introdução

A necessidade de implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgoto no Brasil e em vários países em desenvolvimento é de conhecimento público. Apesar da utilização de tubos de concreto na produção destes sistemas poder ser considerada como tradicional, as pesquisas focando este tema são de grande interesse, dado o grande volume necessário para atender as demandas sociais. Além disso, por ser um produto industrializado, toda a otimização obtida com estes tubos pode reverter em economia de escala. Por essa razão foram desenvolvidos estudos no Brasil há algum tempo sobre a utilização de fibras de aço como reforço, como ocorreu na Escola Politécnica da USP (CHAMA NETO, 2002), na Universidade Estadual de Campinas (RAMOS, 2002) e na Universidade Estadual Paulista de Ilha Solteira (FUGII, 2008). A partir destes trabalhos foi demonstrado que o principal fundamento para a avaliação destes componentes é a utilização de um sistema de controle de deformação diametral no ensaio de compressão diametral (FIGUEIREDO et al., 2007). Apesar de recente, o estudo de tubos de concreto reforçados com fibras já possibilitou a revisão da norma NBR 8890:2007 - Tubo de concreto, de seção circular, para águas pluviais e esgotos sanitários, que incorporou a utilização das fibras de aço como único reforço do componente (FIGUEIREDO; CHAMA NETO, 2007). A concepção da norma brasileira, publicada em 2007, é similar ao recomendado pela norma européia NBN EN 1916:2002 - Concrete pipes and fittings, unreinforced, steel fibre and reinforced, apesar de introduzir algumas inovações no que se refere à avaliação do componente. Esta norma é a primeira do Brasil a parametrizar o uso do concreto reforçado com fibras de aço, tendo sido desenvolvida em paralelo com a norma de especificação da própria fibra NBR 15530:2007 (FIGUEIREDO; CHAMA NETO; FARIA, 2008). Assim, hoje é possível contar com o fornecimento de tubos de concreto reforçado com fibras de aço no mercado brasileiro. No entanto, como todos os estudos desenvolvidos nesta área só abordaram apenas o uso das fibras de aço, ainda não é possível utilizar outros tipos de fibras pelo ponto de vista das normas NBR 8890:2007 e NBN EM 1916:2002. No entanto, como as macrofibras poliméricas não sofrem com a corrosão eletrolítica, ao contrário das fibras de aço, pode-se ter um ganho de durabilidade potencial do compósito com sua utilização. Além disso, por serem mais flexíveis, as macrofibras não prejudicarem tanto a trabalhabilidade do material (FIGUEIREDO, 2010). No entanto, por se tratar de uma tecnologia relativamente recente, é necessário avaliar o comportamento mecânico dessas macrofibras no reforço do concreto, de forma a caracterizar seu desempenho (FIGUEIREDO, 2010). Com este panorama em vista, foi desenvolvido um estudo experimental avaliando o comportamento mecânico dos concretos reforçados com macrofibras poliméricas e fibras de aço. Isto ocorreu em dois níveis básicos sendo o primeiro a avaliação básica do compósito através de ensaios de tração na flexão com deformação controlada, o qual pode ser considerado como o procedimento básico de avaliação dos concretos reforçados com fibras (FIGUEIREDO, 2011a). O segundo nível de avaliação foi no componente tubo de concreto, através do ensaio de compressão diametral, o qual é utilizado nas normas para avaliação da capacidade estrutural do componente, somando-se ao procedimento o

Page 3: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 3

controle de deformação para melhor visualização do comportamento (FIGUEIREDO et al. 2012).

2 Avaliação da tenacidade em prismas

Para avaliar o comportamento mecânico do concreto reforçado com fibras, o método utilizado foi o proposto pela norma EN 14651:2007. Este procedimento experimental prescreve ensaios de flexão de corpos-de-prova prismáticos, cujas dimensões são 150x150x550mm3, com vão de ensaio de 500 mm. Entretanto, devido à padronização brasileira de ensaios de tração na flexão optou por utilizar corpos-de-prova com dimensões de 150x150x500 mm3, sendo ensaiados com vão de 450 mm, dado que estas eram as medidas disponíveis para fôrmas e vãos dos cutelos. Os corpos-de-prova possuem um entalhe centralizado em sua face inferior, de 5 mm de largura por 25 mm de profundidade. A função do entalhe é induzir o posicionamento da fissura. A carga é aplicada por apenas um cutelo superior, centralizado em relação ao vão de ensaio. O deslocamento vertical do corpo-de-prova foi a variável de controle do ensaio, ou seja, a velocidade do ensaio era controlada pela velocidade de deslocamento imposto ao corpo-de-prova. Uma visualização do aparato de ensaio está apresentada na Figura 1. Este ensaio é muito promissor pelo fato de o novo código modelo fib de dimensionamento de estruturas produzidas com concretos reforçados com fibras estar baseado neste ensaio fundamental de controle (di PRISCO et al, 2010).

Figura 1: Esquema de realização do ensaio com posicionamento de yoke e LVDT no corpo-de-prova.

Foram utilizadas duas velocidades de ensaio: no primeiro trecho, correspondente ao intervalo de abertura de fissura entre 0 mm e 0,10 mm, a velocidade de deslocamento vertical foi de 0,05 mm/min. No segundo, entre 0,10 mm e 4,0 mm, a velocidade de ensaio foi de 0,20 mm/min. A adoção de uma velocidade menor no trecho inicial ocorre por ser esta a etapa crítica da realização dos ensaios, onde pode ocorrer uma transferência brusca de carga da matriz para as fibras, gerando a instabilidade pós-pico que já é conhecida a bom tempo (FIGUEIREDO; HELENE, 1997). Esse intervalo de deslocamento está associado ao trecho elástico (0 mm a 0,05 mm de deslocamento vertical, aproximadamente) e ao início do comportamento plástico. No segundo trecho, correspondente ao comportamento pós-fissuração, foi adotada uma maior velocidade de ensaio para que o mesmo não fosse muito lento e por não se esperar nenhum tipo de instabilidade nesta etapa.

Page 4: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 4

Foram avaliadas duas fibras para reforço de concreto, sendo uma polimérica e uma de aço. Foi utilizada uma matriz (resistência média à compressão de 35 MPa), com dosagens de 3,0, 4,5 e 6,0 kg/m3 (0,33%, 0,50% e 0,66% em volume, respectivamente) para a macrofibra sintética e de 15, 25 e 35 kg/m3 (0,19%, 0,32% e 0,45% em volume, respectivamente) para a fibra de aço. O procedimento de moldagem dos corpos-de-prova foi realizado segundo o método JSCE-SF2 (1984), o qual é muito similar ao da norma NBN EN14651:2007. Para cada traço, foram moldados quatro corpos-de-prova prismáticos para ensaio de flexão e três cilíndricos de 15 cm de diâmetro para ensaio de compressão (ABNT NBR 5739:2007). A Tabela 1 apresenta as características do traço de concreto utilizado no estudo. As características das fibras utilizadas no estudo experimental estão apresentadas na Tabela 2. Uma visão das mesmas pode ser obtida a partir das fotos da Figura 2. O valor adotado para o abatimento foi de 120 mm, o qual foi ajustado para a matriz sem fibras. A adição da fibra produz uma redução de abatimento e este não foi corrigido pelo fato de se utilizar baixos volumes de fibra, o que não proporciona prejuízo significativo à compactação do material quando o mesmo é vibrado (CECCATO et al., 1997). Com isto, procurou-se verificar o impacto da utilização da fibra no abatimento do concreto. Tabela 1 – Características da matriz de concreto utilizada no estudo de avaliação da tenacidade na flexão.

Traço unitário 1,00 : 2,50 : 3,10 : 0,60

Massa específica / kg/m3 2287

Ar incorporado / % 3,2

Abatimento / mm 120

Teor de argamassa seca / % 53,0

Tabela 2 – Propriedades das fibras utilizadas.

Fibra PP AÇO

Material copolímero de polipropileno virgem aço

Forma monofilamento / fibrilado Tipo A1

Número de filamentos por quilograma 221000 4600

Número de filamentos por litro 201100 36100

Comprimento / mm 54 60

Diâmetro equivalente / mm 0,32 0,75

Densidade / g/cm3 0,91 7,85

Módulo de elasticidade / GPa 5 210

Resistência à tração / MPa 570 - 660 1100

Para a análise da curva carga-abertura de fissura segundo a norma EN 14651:2007, são utilizadas duas equações principais. Com a equação 1, é calculada a resistência da matriz correspondente ao limite de proporcionalidade. Já a equação 2 é utilizada para calcular as resistências residuais em 0,50, 1,50, 2,50 e 3,50 mm de abertura de fissura (fR,1, fR,2, fR,3 e fR,4, respectivamente).

f f

ct,L = (3.FL.l) / (2.b.hsp2) (1)

fR,j = (3.Fj.l) / (2.b.hsp2) (2)

Page 5: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 5

Onde,

f fct,L: Limite de proporcionalidade (MPa);

fR,j: Resistência residual à flexão correspondente à abertura de fissura j, onde j = 0,50, 1,5, 2,5 ou 3,5mm – fR,1, fR,2, fR,3 e fR,4, respectivamente (MPa);

FL: Carga máxima de ensaio no intervalo de abertura de fissura de 0 a 0,50mm (N); Fj: Carga correspondente à abertura de fissura j, onde j = 0,50, 1,5, 2,5 ou 3,5mm –

F1, F2, F3 e F4, respectivamente (N); l: Vão de ensaio (mm); b: Largura do corpo-de-prova (mm); hsp: Distância entre o topo do entalhe e a face superior do corpo-de-prova (mm).

(a) (b)

Figura 2 – Fibra de aço (a) e macrofibra polimérica (b).

Os resultados de resistência à compressão estão mostrados na Tabela 3. Os ensaios foram feitos com o objetivo de caracterizar a matriz de concreto e se observou uma baixa variação entre os resultados. Ou seja, as fibras não influenciaram a resistência à compressão e tal fato confirma com o estabelecido na literatura normativa (di PRISCO, et al, 2010). A resistência à compressão média entre todos os ensaios foi de 33,9 MPa, com coeficiente de variação de 3,7%.

Tabela 3 – Resultados obtidos para a resistência à compressão.

Fibra Dosagem em volume (%) fcm (MPa)

PP

0,33 33,4 0,3

0,50 34,1 0,7

0,66 33,3 0,1

Aço

0,19 35,5 0,2

0,32 32,1 0,5

0,45 32,9 0,3

Para cada corpo-de-prova prismático de 150x150x500mm3, foi obtida uma curva de carga por abertura de fissura e para cada conjunto de corpos-de-prova do mesmo traço, foi determinada a curva média, a partir das curvas individuais. As Figuras 3 (a) e (b) apresentam as curvas unitárias para a macrofibra PP na dosagem de 3,0kg/m3 (0,33% em volume) e para a fibra de aço na dosagem de 25kg/m3 (0,32% em volume), respectivamente. Percebe-se que as fibras de PP, que possuem maior número de filamentos por unidade de volume, apresentam menor dispersão nos resultados, no que se refere à capacidade resistente pós-fissuração. Em todos os casos, o comportamento

Page 6: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 6

apresentado nas curvas é bem uniforme, sem os sinais de instabilidade pós-pico. Na Figura 4 estão apresentadas as curvas médias de carga por deslocamento vertical dos concretos reforçados com as duas fibras. Verifica-se que as fibras acabam por alterar a resistência residual pós-fissuração, com pouca influência na carga de pico, como era esperado, dado que se está trabalhando abaixo do volume crítico de fibras (FIGUEIREDO, 2011a).

Figura 3 – Curvas unitárias e médias obtidas com o concreto reforçado com a macrofibra PP na dosagem

de 3,0kg/m3 (a) e com a fibra de aço na dosagem de 25kg/m

3 (b).

Figura 4 – Curvas médias de carga por abertura de fissuras obtidas com o concreto reforçado com a

macrofibra PP (a) e com a fibra de aço (b).

A partir da análise das curvas experimentais, foram calculadas as resistências residuais em 0,50 mm e 2,5 mm de abertura de fissura, além das relações fR,1 / LOP e fR,3 / fR,1 sendo todos estes resultados determinados segundo o critério da EN14651 (2007). Os resultados estão apresentados na Tabela 4. Estes resultados são importantes porque são base para a utilização de modelos numéricos de previsão de comportamento dos tubos,

(a) (b)

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,00

5

10

15

20 Curva média

Car

ga

/ k

N

Abertura de fissura / mm

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,00

5

10

15

20 Curva média

Car

ga

/ k

N

Abertura de fissura / mm

(a) (b)

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,00

5

10

15

20 0,33%

0,50%

0,66%

Car

ga

/ k

N

Abertura de fissura / mm

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,00

5

10

15

20 0,19%

0,32%

0,45%

Car

ga

/ kN

Abertura de fissura / mm

Page 7: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 7

conforme o apresentado por de la FUENTE et al. (2012a). Os resultados apresentados na Tabela 4 foram utilizados para a produção de gráficos de correlação entre a medida da resistência residual média e o teor de fibra. Nos cálculos das razões entre resistências residuais e a resistência referente ao limite de proporcionalidade foram utilizados os valores médios ao invés dos valores característicos como recomenda a norma. Isto ocorreu pelo fato da amostragem ser reduzida e não ser possível estabelecer valores característicos com precisão. Foram obtidos então gráficos de dosagem das fibras, apresentados na Figura 5, que permitem avaliar comparativamente o desempenho desses compósitos.

Tabela 4 – Limite de proporcionalidade, resistências residuais em 0,50mm e 2,50 mm de abertura de fissura e relações fR,1 / LOP e fR,3 / fR,1, calculados a partir das curvas de carga por deslocamento vertical de cada

corpo-de-prova de cada traço.

Fibra Dosagem (%

em volume) LOP (MPa) fR,1 (MPa) fR,3 (MPa) Razão fR,1 / LOP Razão fR,3 / fR,1

PP 0,33 4,46 0,12 1,72 0,04 1,41 0,08 0,39 0,01 0,82 0,04

0,50 4,70 0,23 1,86 0,32 1,94 0,19 0,40 0,08 1,06 0,12

0,66 4,56 0,25 2,08 0,14 2,26 0,28 0,46 0,04 1,09 0,11

Aço 0,19 4,20 0,24 1,92 0,36 1,78 0,41 0,45 0,06 0,92 0,07

0,32 4,39 0,15 2,58 0,25 2,69 0,49 0,59 0,07 1,04 0,10

0,45 4,40 0,50 3,60 0,37 4,28 0,47 0,82 0,10 1,19 0,11

Figura 5 – Correlação entre a resistência residual a 2,5 mm de abertura de fissura e o teor de fibras

expresso em porcentagem do volume do compósito.

Nos gráficos da Figura 5 foi obtida excelente aderência da curva de tendência aos dados experimentais, visto que o valor de R2 foi superior a 0,9 nas regressões. Como esperado, quando se compara um mesmo teor em volume de fibras de aço e poliméricas, as fibras de aço conferem maiores resistências residuais, proporcionando praticamente o dobro de capacidade resistente residual dada pela fibra de PP. Uma relação de equivalência de desempenho para um nível de fR,3 de 2 MPa seria obtido com os teores em volume de 0,22% para as fibras de aço e 0,52% para as macrofibras poliméricas. Isto corresponde a um consumo de 17,3 kg/m3 e 4,7 kg/m3 para as fibras de aço e plásticas respectivamente.

y = 1,2302ln(x) + 2,7792 R² = 0,9993

y = 2,8036ln(x) + 6,2797 R² = 0,9258

0

1

2

3

4

5

6

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

f R,3

(M

Pa)

Teor de fibra (% em volume)

PP

Aço

Page 8: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 8

No próximo item, será verificado se esta condição de diferença comportamental se mantém para os tubos.

3 Avaliação do comportamento em tubos de concreto

Neste item é apresentado o procedimento experimental utilizado para avaliar comparativamente o desempenho mecânico das macrofibras poliméricas e das fibras de aço como reforço para tubos de concreto. Este estudo faz parte do trabalho experimental da dissertação de mestrado de Escariz (2011). Na produção de todos os tubos de concreto reforçados com macrofibras poliméricas e fibras de aço foram adotados os mesmos materiais e a mesma dosagem empregada pela empresa fabricante dos tubos. Apenas a quantidade de água foi alterada em alguns casos para manutenção da trabalhabilidade e, consequentemente, a relação água/cimento sofreu modificações. Foram mantidas também as recomendações da norma brasileira NBR 8890:2007 relativas às dimensões e tolerâncias, de maneira a não interferir no processo produtivo. O cimento utilizado foi o Portland composto com adição de escória, de resistência de 40 MPa aos 28 dias (CP II-E 40). O agregado miúdo utilizado possuía uma dimensão máxima de 2,4 mm e um módulo de finura de 2,60 e massa específica de 2,63 g/cm3. O agregado graúdo utilizado era uma brita com 12,5 mm e massa específica de 2,66 g/cm³. A produção dos tubos em escala real e os ensaios de compressão diametral foram executados na fábrica de tubos de concreto Fermix, localizada na cidade de Guarulhos - SP. Foram fixados os teores de 20 kg/m³, 25 kg/m³, 35 kg/m³ e 45 kg/m³ para as fibras de aço. Já para as macrofibras poliméricas foram fixados os teores de 3 kg/m³, 4 kg/m³ e 5,5 kg/m³. Estes teores em massa foram divididos pela massa específica de cada fibra especificada pelo fabricante, que no caso das fibras de aço é de 7,85 g/cm³ e das macrofibras poliméricas de 0,91 g/cm³, para obter o volume adicionado para cada fibra conforme Tabela 5.

Tabela 5 – Teor em massa e em volume de fibras utilizado na produção dos tubos

Fibra Consumo em massa (kg/m3) Teor em volume (%)

PP

3 0,33

4 0,44

5,5 0,60

Aço

20 0,25

25 0,32

35 0,45

45 0,57

O traço em massa da matriz de concreto utilizado na fabricação de todos os tubos foi de 1:2,4:3,75 (cimento:areia:pedra), sendo que a quantidade de água não apresentou um valor fixo, pois foi alterada sempre que necessário visando manter a mesma consistência do concreto para garantir a moldabilidade de todos os tubos. Isto porque, a matriz tem reologia de concreto seco, e por isso não há metodologia de dosagem pré-estabelecido

Page 9: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 9

para o ajuste desta matriz. Então, para melhorar caracterização da matriz, foram feitos ensaios complementares de compressão de axial em corpos-de-prova cilíndricos moldados. De forma a possibilitar estas avaliações, foi feita uma verificação de desempenho por meio do ensaio de compressão diametral, com controle de deslocamentos nas duas extremidades dos tubos (FIGUEIREDO et al, 2012), em tubos de concreto reforçados com macrofibras poliméricas e fibras de aço. Foram produzidos, no mínimo, três tubos para cada determinação, ou seja, três tubos de concreto simples e três tubos para cada teor de fibra. Todos os tubos foram produzidos no mesmo equipamento e com as mesmas dimensões de 1000 mm de diâmetro nominal, 1500 mm de comprimento e parede de 80 mm de espessura (Figura 6), destinados a atender os requisitos para a produção de canalizações de redes de águas pluviais. Essas dimensões foram utilizadas, pois são as máximas aceitas para tubos reforçados com fibras de aço, segundo NBR 8890:07. Em tubos de maiores diâmetros, as fibras de aço, mesmo com alta resistência mecânica e alto módulo, necessitam de elevados teores para atingirem os requisitos mínimos para atuarem como reforço (de la Fuente et al., 2012a). Assim, embora não abordado nesse estudo, é importante a realização de avaliações futuras do emprego das macrofibras poliméricas em tubos de menores diâmetros, para que sejam definidas as condições ótimas de utilização das mesmas (de la Fuente et al, 2012c).

Figura 6 – Caracterização geométrica do tubo utilizado no estudo

Estabeleceu-se como critério que todos os tubos moldados não apresentassem defeitos ou variação substancial nas condições de produção. Assim, se houvesse alguma dúvida, mais tubos eram produzidos para se garantir o número mínimo de três tubos por variável. Dessa forma foram produzidos doze tubos de concreto reforçados com fibras de aço, sendo três tubos com teor de 20 kg/m³, três tubos com teor de 25 kg/m³, três tubos com

Page 10: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 10

teor de 35 kg/m³ e três tubos com teor de 45 kg/m³. Foram produzidos dez tubos de concreto reforçados com macrofibras poliméricas, sendo três tubos com teor de 3 kg/m³, três tubos com teor de 4 kg/m³ e quatro tubos com teor de 5,5 kg/m³. Como o concreto com fibras apresenta uma menor mobilidade, houve dificuldade para garantir boas condições de moldagem dos tubos. Assim, houve necessidade de ajustes da quantidade de água. Isto, associado ao fato da perda de rigidez do tubo recém-moldado por não possuír tela metálica, provocou empenamentos em boa parte dos tubos. Para evitar que os empenamentos prejudicassem os ensaios foi utilizado um colchão de areia entre o cutelo e o tubo (Figura 7). Tomou-se o cuidado de garantir que o colchão de areia ocupasse exatamente o mesmo local que o cutelo iria ocupar se estivesse em contato direto com o tubo, o que pode ser observado na Figura 7 em conjunto com o aparato de ensaio.

Figura 7 – Colchão de areia utilizado para regularizar o contato do cutelo com o tubo.

As resistências médias à compressão, obtidas no ensaio de compressão axial para cada teor da macrofibra polimérica, estão apresentados na Tabela 6 onde se pode observar que o desempenho foi similar ao obtido no estudo anterior com flexão de prismas.

Tabela 6 – Resultados do ensaio de compressão axial nos corpos-de-prova moldados.

Teor de macrofibra de PP 3 kg/m3 4 kg/m

3 5,5 kg/m

3

Resistência à compressão média (MPa) 37,1 39,9 34,6

Relação água/cimento 0,48 0,50 0,48

Para melhor analisar os resultados obtidos no ensaio de compressão diametral foram produzidos gráficos de carga por deslocamento diametral. Em todos os gráficos há a indicação da carga mínima de ruptura e da carga mínima pós-fissuração exigida pela norma NBR 8890:2007 para o tubo PA1 de 1 m de diâmetro nominal. A carga mínima de ruptura por norma é de 60 kN/m e, como o tubo utilizado neste estudo possui um comprimento de 1,5 m então, a carga mínima de ruptura é de 90 kN. Já a carga mínima pós-fissuração é obtida em função da carga mínima isenta de dano que por norma é de 40 kN/m e, como o tubo utilizado neste estudo possui um comprimento de 1,5 m então, a carga mínima isenta de dano é de 60 kN. Dessa forma, a carga mínima pós-fissuração é de 63 kN, já que a mesma tem que ser pelo menos 5% maior que a carga mínima isenta de dano.

Page 11: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 11

Os resultados obtidos com a fibra de aço são mostrados nas Figuras 8 a 11, e as cargas de ruptura e pós-fissuração estão destacadas nas Tabelas 7 e 8. A partir das curvas pode-se observar que com 20 kg/m³ da fibra de aço, apenas um tubo atingiu a carga de ruptura e nenhum dos três tubos atingiu a carga mínima na fase pós-fissuração. Já com 25 kg/m³, apenas um tubo não atingiu tanto a carga mínima de ruptura como a carga mínima pós-fissuração. Já com 35 e 45 kg/m³ todos os tubos conseguiram atingir a carga mínima de ruptura e a carga mínima pós-fissuração, chegando a superá-las em aproximadamente 20% e 64%, respectivamente.

Figura 8 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 20 kg/m³ da fibra de aço.

Os tubos reforçados com a macrofibra polimérica receberam o mesmo tratamento experimental. Assim, os resultados obtidos no ensaio de compressão diametral se encontram apresentados nas Figuras 12 a 14 e as cargas de ruptura e pós-fissuração estão destacadas nas Tabelas 9 e 10. A partir das curvas acima se pode observar que com todos os teores utilizados para a macrofibra polimérica nenhum dos tubos atingiu a carga de ruptura e a carga pós-fissuração requerida. A curva 1 da Figura 13 apresentou valores bem inferiores ao dos apresentados pelos demais tubos. Isto ocorreu porque, durante o processo de fabricação do tubo, o concreto ficou muito tempo no misturador devido a atrasos de execução e, provavelmente, houve início das reações de hidratação. Para poder utilizá-lo foi colocado um pouco mais de água, o que prejudicou sua resistência final. Isto evidencia o quanto a qualidade do concreto dos tubos com fibras interfere na sua resistência à compressão diametral.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 3 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

Page 12: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 12

Figura 9 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 25 kg/m³ da fibra de aço.

Figura 10 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 35 kg/m³ da fibra de aço.

0

20

40

60

80

100

120

0 2 4 6 8 10 12

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 3 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

0

20

40

60

80

100

120

0 2 4 6 8 10 12

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 3 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

Page 13: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 13

Figura 11 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 45 kg/m³ da fibra de aço.

Tabela 7 – Resultados de carga de ruptura obtidos no ensaio compressão diametral para os tubos com fibra de aço.

Teor de fibra Carga de ruptura

(kN)

Valor Médio

(kN)

Desvio Padrão

(kN)

Coeficiente de

variação (%)

20 kg/m³ 93

88,67 3,79 4,27

87

86

25 kg/m³ 88

93,33 5,51 5,90

99

93

35 kg/m³ 102

107,33 4,62 4,30

110

110

45 kg/m³ 107

106,67 3,51 3,29 103

110

A partir dos resultados obtidos no ensaio de compressão diametral foram elaboradas correlações entre a carga máxima pós-fissuração e o teor de fibra de aço e polimérica. Estas correlações estão apresentadas na Figura 15. Para obter a curva de dosagem foi utilizada regressão logarítimica, baseada em resultados prévios já mostrados por Armelin e Banthia (1997) que indicaram ganho não linear de resistência residual pós-fissuração

0

20

40

60

80

100

120

0 2 4 6 8 10 12

Ca

rga

(k

N)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 3 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

Page 14: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 14

com o aumento do teor de fibras. Este comportamento também foi observado na etapa anterior onde o estudo foi desenvolvido em prismas, e é utilizado com bons resultados para a dosagem do concreto reforçado com fibras em diferentes condições de aplicação (FIGUEIREDO, 2011b).

Tabela 8 – Resultados de carga máxima pós-fissuração obtida no ensaio de compressão diametral para os tubos com fibra de aço.

Teor de fibra Carga máxima pós

fissuração (kN)

Valor Médio

(kN)

Desvio Padrão

(kN)

Coeficiente de

variação (%)

20 kg/m³ 51

51,00 5,00 9,80

46

56

25 kg/m³ 58

63,00 4,36 6,92

65

66

35 kg/m³ 84

93,33 9,02 9,66

102

94

45 kg/m³ 100

99,00 4,58 4,63 94

103

Figura 12 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 3 kg/m³ da macrofibra polimérica.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12

Ca

rga

(k

N)

Deslocamento (mm) tubo 2 tubo 3 tubo 4 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

Page 15: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 15

Figura 13 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 4 kg/m³ da macrofibra polimérica.

Figura 14 – Curvas de carga por deslocamento obtidas no ensaio de compressão diametral dos tubos com 5,5 kg/m³ da macrofibra polimérica.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12

Ca

rga

(k

N)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 4 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 2 4 6 8 10 12

Carg

a (

kN

)

Deslocamento (mm)

tubo 1 tubo 2 tubo 3

tubo 4 Carga mínima de ruptura Carga mínima pós-fissuração

Page 16: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 16

Tabela 9 – Resultado de carga de ruptura para os tubos com macrofibra polimérica.

Teor de fibra Carga de

ruptura (kN)

Valor Médio

(kN)

Desvio Padrão

(kN)

Coeficiente de

variação (%)

3 kg/m³ 74

78,00 3,46 4,44

80

80

4 kg/m³ 76

75,33 0,58 0,77

75

75

5,5 kg/m³ 78

76,67 1,53 1,99 75

77

Tabela 10 – Resultado de carga máxima pós-fissuração para os tubos com macrofibra polimérica.

Teor de fibra Carga máxima pós

fissuração (kN)

Valor Médio

(kN)

Desvio Padrão

(kN)

Coeficiente de

variação (%)

3 kg/m³ 22

24,33 3,21 13,21

23

28

4 kg/m³ 32

30,67 2,31 7,53

28

32

5,5 kg/m³ 36

38,33 2,08 5,43

39

40

A partir das curvas de dosagem pode-se observar que as fibras de aço apresentam desempenho mecânico muito maior em relação às macrofibras poliméricas. A diferença de padrão comportamental foi similar ao ocorrido no estudo com prismas. A fibra de aço apresenta melhor desempenho global porque possui maiores resistência e módulo de elasticidade. A influência da resistência já foi evidenciada anteriormente no trabalho de Chama Neto (2002), onde foram comparadas fibras de aço de diferentes níveis de resistência. Neste caso, os tubos de concreto reforçado com fibras de aço de maior resistência apresentaram desempenho bem superior ao reforçado com fibras menos resistentes. Assim, os tubos com macrofibras poliméricas atingiram cerca da metade da resistência residual pós-fissuração dos valores alcançados com as fibras de aço, ou seja, para o mesmo teor em volume, as macrofibras poliméricas apresentam valores cerca de 50% inferiores ao das fibras de aço. Da mesma forma como foi feito na análise dos resultados em prismas, aqui se tentará obter a equivalência de desempenho para um dado nível de resistência residual em termos de consumo de fibra. Apesar de não haver concomitância das curvas para a mesma faixa de resistência, procurou-se obter o consumo necessário para o valor de resistência residual de 40 kN. Neste caso, o teor de fibra de aço necessário seria 0,22% e o de macrofibras de 0,64%, correspondendo a 17,3 kg/m3 e 5,8 kg/m3, respectivamente. Ou seja, a diferença de desempenho foi ainda maior para os tubos em relação aos

Page 17: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 17

prismas, dados os teores equivalentes encontrados. Além disso, quanto maior for o diâmetro do tubo de concreto maior é a necessidade de reforço com fibras para atender as exigências de desempenho estabelecidas nas classes resistentes da norma, o que já foi comprovado numericamente (de la FUENTE et al., 2012b). Isto dificultou a aprovação nos critérios da NBR 8890:2007. Assim, para que estes tubos pudessem atingir as cargas especificadas nesta norma seria preciso aumentar o teor ou o comprimento das fibras, o que iria dificultar a moldagem dos tubos.

Figura 15 – Correlação logarítmica entre a carga máxima pós-pico e os teores das fibras utilizadas no estudo.

4 Conclusões

As macrofibras poliméricas, apesar do grande potencial de utilização que têm, apresentaram desempenho mecânico inferior ao das fibras de aço em ambas as condições de verificação. Ou seja, tanto no ensaio básico de caracterização da tenacidade, como no ensaio de avaliação de um componente com função estrutural, como é o caso dos tubos de concreto, a resistência residual das macrofibras poliméricas foi cerca de metade do apresentado pelas fibras de aço no mesmo teor em volume. No entanto, isto não inviabiliza por suposto o uso das macrofibras, as quais devem ser utilizadas com consumos que garantam o mesmo nível de desempenho. Neste estudo, foram obtidos teores de macrofibras de 4,7 kg/m3 e 5,8 kg/m3 equivalentes a 17,3 kg/m3 de fibras de aço para as avaliações em prismas e tubos, respectivamente. Obviamente que a decisão de que fibra se vai utilizar irá depender do custo e de aspectos executivos associados a cada um dos respectivos teores equivalentes. Vale ressaltar que os resultados obtidos neste trabalho não podem ser extrapolados para toda e qualquer condição de aplicação e o objetivo é apenas ilustrar como se deve procurar atender às exigências de desempenho em igualdade de condições para o reforço com fibras. Isto porque o elemento estrutural em análise acaba por interferir no tipo de resposta do material, como já foi bem observado por di Prisco et al (2010). Esta resposta depende

y = 23,114ln(x) + 49,872 R² = 0,9994

y = 63,589ln(x) + 138,2 R² = 0,9613

0

20

40

60

80

100

120

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Ca

rga

xim

a p

ós

-pic

o (

kN

)

Teor de fibra incorporado (% em volume)

PP

Aço

Page 18: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 18

também do grau de redundância da estrutura e de outros fatores. Isto já foi comprovado para o caso dos tubos onde o desempenho da fibra acaba por ser ampliado com a diminuição dos diâmetros (de la FUENTE et al., 2012b). Assim, as avaliações de relação de equivalência são fundamentais e devem ser estudadas caso a caso, através de estudos de dosagem específicos ou de avaliações de desempenho como é o caso dos tubos. Por isso, reforça-se a importância da realização de estudos futuros com macrofibras poliméricas em tubos de menores dimensões, onde seu potencial de atendimento de desempenho é maior (de la FUENTE et al., 2012c).

5 Referências

ARMELIN, H. S.; BANTHIA, N. Predicting the flexural postcracking performance of steel fiber reinforced concrete from the pullout of single fibers. ACI Materials Journal, v. 94, n. 1, p.18-31, 1997.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto: ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8890: Tubo de concreto de seção circular para águas pluviais e esgotos sanitários–requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15530. Fibras de aço para concreto - Especificação. ABNT, Rio de Janeiro.

CECCATO, M. R.; NUNES, N. L.; FIGUEIREDO, A. D., Estudo do controle da trabalhabilidade do concreto reforçado com fibras de aço. In: IV Congresso Iberoamericano de Patologia das Construções e VI Congresso de Controle de Qualidade CONPAT97. Porto Alegre. 1997. v.2. p. 539-546.

CHAMA NETO, P. J. Avaliação de desempenho de tubos de concreto reforçados com fibras de aço. 2002. 87 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

de la FUENTE, A.; FIGUEIREDO, A. D.; AGUADO, A.; MOLINS, C.; CHAMA NETO, P. J. Steel fibre reinforced concrete pipes. Part 2: Numerical model to simulate the crushing test. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais. , v.5, p.12 - 25, 2012a.

de la FUENTE, A., ESCARIZ, R. C., FIGUEIREDO, A. D., MOLINS, C., AGUADO, A. A new design method for steel fibre reinforced concrete pipes. Construction & Building Materials. , v.30, p.547 - 555, 2012b.

de la FUENTE, A.; FIGUEIREDO, A. D.; AGUADO, A.; VÉRAS, J. C. Fibras plásticas como reforço de tubos de concreto. Parte 2: otimização da armadura. In: 54

o CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 2012c,

Maceió-AL. Anais. São Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2012c.

di PRISCO, M.; PLIZZARI, G.; VANDEWALLE, L. Fiber reinforced concrete in the new fib Model Code. In:

3rd

fib International Congress. Washington, 2010. 12pp.

ESCARIZ, R. C. Análise comparativa de desempenho mecânico de tubos de concreto reforçados com macrofibras poliméricas e fibras de aço. 2011. 133 f. Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

FIGUEIREDO, A. D. O concreto com reforço de macrofibras poliméricas. Concreto & Construção. v.59, p.39 - 43, 2010.

FIGUEIREDO, A. D. Concreto com fibras In: Concreto: Ciência e Tecnologia. 2 ed.São Paulo : Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), 2011a, v.2, p. 1327-1365.

FIGUEIREDO, A. D. Concreto reforçado com fibras. Tese (Livre docência). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo. 2011b. 247p.

FIGUEIREDO, A. D.; CHAMA NETO, P. J. A nova especificação brasileira para tubos de concreto para águas pluviais e esgoto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 49., 2007, Rio de Janeiro-RJ. Anais. São Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2007.

Page 19: Tubos de concreto com fibras plásticas parte 1

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 19

FIGUEIREDO, A. D.; CHAMA NETO, P. J.; FARIA, H. M. A nova normalização brasileira sobre fibras de aço. Concreto e Construções, v. XXXVI, p. 67-76, 2008.

FIGUEIREDO, A.D.; CHAMA NETO, P. J.; QUINTA, M. T.; GIMENEZ, A. B. Avaliação de metodologia de ensaio de tubos de concreto reforçado com fibras para esgoto. Concreto e Construções, v. XXXIV, n. 46, p. 44-51, 2007.

FIGUEIREDO, A. D.; de la FUENTE, A.; AGUADO, A.; MOLINS, C.; CHAMA NETO, P. J. Steel fiber reinforced concrete pipes. Part 1: technological analysis of the echanical behavior. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais. , v.5, p.1 - 11, 2012.

FIGUEIREDO, A. D.; HELENE, P. R. L. Controle da tenacidade do concreto com fibras de aço. In: 39a

Reunião do IBRACON - Instituto Brasileiro do Concreto, São Paulo. 1997. Anais. v.1. p.357 - 372

FUGII, A. P. Avaliação de tubos de concreto reforçados com fibras de aço segundo a NBR 8890. 2008. 161 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ilha Solteira, 2008.

JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. JSCE-SF2: Method of making specimens for strength and toughness tests of steel fiber reinforced concrete. Concrete library of JSCE. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced concrete. n. 3, p. 48-55, 1984.

NBN EN 1916 Concrete pipes and fittings, unreinforced, steel fibre and reinforced. Belgisch Instituut voor normalisatie (BIN), Brussel, December, 2002.

RAMOS, M. F. Análise experimental de tubos de concreto reforçado com fibras de aço. 2002. 130 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.