TÍTULO: MONITORAMENTO DA FAUNA SILVESTRE ATROPELADA NAS

RODOVIAS BR-277, PR-508 E PR-407, NO LITORAL DO PARANÁ.

INTRODUÇÃO

O Brasil figura com louvor entre os países que detêm as maiores

biodiversidades do globo terrestre. O bioma da Floresta Atlântica, em

especial, abriga uma das maiores diversidades de fauna e flora do planeta,

mas hoje se encontra seriamente ameaçado. Com essa multiplicidade tão

elevada, a fauna está presente em todos os ambientes, tanto os naturais

como os já alterados pela ação humana. Obras de enorme infraestrutura,

como, por exemplo, a construção e operação de rodovias de grande porte,

acabam interagindo com populações animais locais, causando

afugentamento e isolamento de fauna, além de perdas populacionais por

atropelamentos.

Esse impacto é considerado relevante em populações animais em

estado de redução ou em casos de espécies ameaçadas de extinção, as

quais são muito comuns na Floresta Atlântica. Diversas espécies de

animais estão sujeitas à ação de atropelamentos, porém, os mamíferos,

especialmente os carnívoros, são os que se apresentam mais suscetíveis.

Neste contexto, ações de efeito significativo podem ser implantadas para

a redução destes atropelamentos.

No Brasil, ainda são poucas as rodovias de grande porte que

desenvolvem programas de monitoramento ou que aplicam medidas de

mitigação dessa natureza.

A partir deste panorama, a Concessionária Ecovia Caminho do Mar

S/A apresenta um Plano de Gestão Ambiental constituído por diversos

programas de controle, visando à defesa do patrimônio ecológico

existente ao longo das rodovias BR-277, PR-508 e PR-407. Entre os

programas existentes, destaca-se o “Programa de Ações para

Minimização dos Impactos Inerentes a Obras e ao Fluxo de Tráfego”, que

visa zelar e preservar pela segurança do usuário das rodovias e populações

lindeiras.

Como parte deste programa, a Concessionária Ecovia Caminho do

Mar S/A, implantou, em 2008, um plano de monitoramento de fauna

silvestre, descrito abaixo.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Recuperação e soltura de animais encontrados feridos;

Quantificação do número de ocorrências de acidentes com a

fauna silvestre;

Identificação das espécies dos animais atropelados;

Coleta de animais e material proveniente de atropelamento para

fins científicos;

Mapeamento das áreas de maior incidência de acidentes;

Implantação de medidas de mitigação das ocorrências,

envolvendo a fauna e os veículos.

ÁREA DE ESTUDO

O presente trabalho foi desenvolvido ao longo das rodovias BR-277,

PR-508 e PR-407, sob concessão da empresa Ecovia Caminho do Mar S/A,

localizada no litoral sul do estado do Paraná.

A BR-277 é a principal rodovia que liga o interior do estado do

Paraná ao litoral, especificamente, ao Porto de Paranaguá, um dos mais

importantes portos do Brasil. O trecho de concessão desta rodovia

compreende 84 km, desde a cidade de Curitiba até a cidade de Paranaguá.

Na região metropolitana de Curitiba, a rodovia atravessa extensas áreas

urbanas. A partir do município de São José dos Pinhais até Morretes, a

rodovia intercepta uma das mais importantes áreas de Floresta Atlântica

do sul do Brasil: a Serra do Mar. Em sua porção no município de

Paranaguá, a rodovia novamente intercepta áreas urbanizadas.

Mapa da Concessão - Concessionária Ecovia Caminho do Mar S/A.

A rodovia Engenheiro Argus Thá Heinz, PR-407, é uma estrada

muito antiga, que foi, inclusive, percorrida pelo naturalista francês Saint-

Hilaire, em 1820, durante suas andanças pelo litoral do Paraná, quando

esta era apenas o "caminho da praia". Sua construção propriamente dita

ocorreu em 1926, passando, na ocasião, a se chamar Estrada do Mar. É

uma rodovia estadual, que abrange os municípios de Paranaguá e Pontal

do Paraná, ligando a BR-277 à PR-412, utilizada como via de acesso aos

balneários situados na porção norte do litoral paranaense. Com 18,8 km

de extensão, constitui-se de duas faixas de rolamento (mão dupla) e

acostamento em ambos os lados. Suas margens são caracterizadas como

openroad side. Sua topografia é plana, com áreas urbanizadas ao início e

ao fim das cidades de Paranaguá e do balneário de Praia de Leste. Seu

transecto está no entorno da Floresta Estadual do Palmito e da Estação

Ecológica do Guaraguaçú.

A rodovia Elísio Pereira Alves Filho, PR-508, abrange os municípios

de Paranaguá e Matinhos. Foi construída em 1987 para desafogar o fluxo

da rodovia PR-407 e encurtar as distâncias entre a BR-277 e os balneários

do litoral sul paranaense. Com 30,5 km de extensão e quatro faixas de

rolagem (pista dupla), tem largura de 13 m, sem canteiro central ou

acostamentos. É limítrofe à Área de Proteção Ambiental de Guaratuba e

do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange.

Ambas as rodovias apresentam topografia plana e encontram-se

sob os limites da Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), das terras

baixas e submontanhas.

MÉTODOS

O trabalho de monitoramento ocorreu em duas etapas distintas, a

primeira delas, entre os anos de 2008 e 2009. Neste período, as três

rodovias foram percorridas semanalmente por técnicos em busca de

registros de animais silvestres, vivos ou atropelados. A segunda etapa

envolveu o treinamento dos colaboradores da concessionária para

registros e recolhimentos de animais frutos de ocorrências de acidentes

com veículos. Esta etapa se estendeu desde 2008 até o presente

momento.

Pontos de atropelamento de fauna nas rodovias BR-277, PR-508 e PR-407.

Treinamento oferecido aos colaboradores da Ecovia.

Os animais encontrados vivos são recolhidos e levados a uma

inspeção veterinária para análise das condições de saúde. A partir daí, os

que se apresentam em boas condições são colocados imediatamente em

liberdade, sempre no mesmo local onde foram descobertos. Os animais

encontrados feridos são levados para o Centro de Triagem de Animais

Silvestres da PUC/PR-IBAMA para recuperação; os que obtêm rápida

recuperação são colocados novamente em liberdade, também no local de

origem, e os que não possuem condições de soltura permaneceram em

cativeiro, sob os cuidados de técnicos-veterinários da instituição.

Os animais encontrados mortos são recolhidos, registrados e

encaminhados para tombamento no Museu de História Natural do Capão

da Imbuia, em Curitiba, para aproveitamento científico e didático. Na

instituição, estes animais são fotografados e identificados, acondicionados

em sacos plásticos, etiquetados e depositados em local apropriado.

Animais em recuperação no Centro de Triagem de Animais Silvestres da PUC/PR-IBAMA.

RESULTADOS

Desde o início do projeto, foi resgatado um total de 25

animais vivos. Destes, 12 foram recuperados e colocados em

liberdade. Quanto ao número total de animais encontrados desde o

início dos trabalhos, chegamos a 816, entre eles: aves, répteis,

anfíbios e mamíferos. Todos os animais mortos em condições de

aproveitamento foram depositados no Museu de História Natural

do Capão da Imbuia, em Curitiba. Entre os mamíferos recuperados e

colocados em liberdade, destaca-se um Gato-Maracajá (felis wiedi),

considerado ameaçado de extinção.

Reportagem do jornal “Gazeta do Povo” destacando o trabalho

de reintegração de animais silvestres realizado pela Ecovia. Registro da soltura do Gato-Maracajá.

PROGRAMAS DESENVOLVIDOS

Para a minimização do número de atropelamentos nas rodovias

monitoradas, estão sendo desenvolvidos alguns programas, em especial,

com foco no comportamento do usuário.

Estes programas visam à conscientização do usuário quanto à

possibilidade de ocorrência de animais silvestres nas pistas e ao repasse

de informações sobre as medidas a serem tomadas nestes casos.

Flyers e adesivos desenvolvidos para a campanha “A Fauna é Frágil”.

Painéis instalados ao longo das rodovias BR-277, PR-508 e PR-407.

Adesivos para veículos.

EXPOSIÇÕES DE ANIMAIS SILVESTRES TAXIDERMIZADOS

Todos os anos, são montadas exposições temáticas com animais

silvestres empalhados em ambientes simulados. Estas exposições ficam

instaladas nos Centros de Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) e,

ocasionalmente, em feiras e eventos relacionados ao meio ambiente.

Além dos animais expostos, durante os eventos são apresentados vídeos e

distribuídos materiais informativos, como adesivos, folders e flyers. Até o

momento, foram realizadas duas grandes exposições em feiras e seis

exposições menores nos SAU’s.

Exposições montadas nos SAU’s.

CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO

Ao longo do ano, também são elaboradas campanhas de

conscientização do usuário quanto à temática de animais silvestres, com

impactos em diversos formatos: instalação de painéis e distribuição de

adesivos e flyers informativos em blitz ambientais ou nas praças de

pedágio. Estas campanhas são realizadas em datas comemorativas como,

por exemplo, na Semana do Meio Ambiente e em períodos de maior fluxo

de veículos, em especial, no período de férias e festas de fim de ano. Até o

momento, foram instalados 17 painéis e distribuídos 20 mil folders e 10

mil adesivos. Também são utilizados outros meios de comunicação, como

rádio, jornal e o site da Rede Paranaense de Comunicação (RPC).

Anúncio da campanha “A Fauna é Frágil”, nos classificados do jornal Gazeta do Povo e no portal RPC.

Participação da Ecovia na Semana do Meio Ambiente, na cidade de Paranaguá.

Painéis da campanha “Não Perturbe”, instalados ao longo da BR-277.

OUTRAS MEDIDAS DE MITIGAÇÃO

Neste momento, estão sendo implantadas outras medidas físicas,

como sonorizadores, redutores de velocidade e placas de aviso de

travessia de fauna. Estas medidas deverão ser implementadas em áreas

de preservação ambiental.

Certificado conferido ao projeto realizado pela Ecovia, no simpósio Road Ecology Brazil 2010.