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Azul é o primeiro dos filmes da famosa trilogia de Kieslowski alusiva às três cores da bandeira francesa, que representam os ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. E, simbolicamente, um magistral hino a uma Europa unificada. O filme explora o tema da liberdade no campo das emoções. Depois de perder o marido, um famoso compositor, e a filha, num acidente de automóvel, Julie (Juliette Binoche) tenta recomeçar a sua vida libertando-se de todos os laços e compromissos. Para isso, decide afastar-se das pessoas que até aí conhecera e viver completamente anónima e independente no bulício de Paris. Mas as pessoas da sua antiga e da sua nova vida insistem em intrometer-se, com as suas próprias carências e preocupações. A realidade criada pelos que precisam e se preocupam com ela acaba por a trazer de volta ao mundo dos vivos. - Festival de Veneza 1993 – Leão de Ouro para Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Actriz (Juliette Binoche), Melhor Realização Golden Globes 1994 – Nomeação para Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Actriz – Drama, Melhor Música Original - Prémios César 1992 – Melhor Actriz (Juliette Binoche), Melhor Montagem, Melhor Som - Festival de Chicago 1993 – Prémio Especial do Júri - Prémios Goya 1994 – Melhor Filme Europeu TRÊS CORES: AZUL um filme de Krzysztof Kieslowski com Juliette Binoche, Florence Pernel, Emmanuelle Riva, Charlotte Véry, Benoît Régent, Hélène Vincent Trois Couleurs: Bleu, SUI/POL/FRA, 1993, Cores, 94 min. | M/12 Segunda parte da trilogia francesa de Kieslowski, Branco, que simboliza a igualdade, é uma comédia negra, centrada nas dinâmicas destrutivas de uma relação a dois baseada na desigualdade. Karol (Zbigniew Zamachowski ) é um cabeleireiro polaco, imigrado em França. A mulher, Dominique (Julie Delpy), que ele ama de forma obsessiva, pede o divórcio, alegando um casamento “não consumado”. Karol perde tudo o que tinha e regressa à Polónia, passando por sucessivas humilhações sexuais, económicas e físicas, que acabam por vir reforçar a sua paixão obsessiva pela ex-mulher e um desejo de vingança. Os desencontros entre as vontades dos dois tornam sinuoso o caminho para a descoberta de que o amor necessita de tempo e compreensão mútua. Branco é também um olhar irónico sobre as transformações que se viviam no Leste europeu. - Festival de Berlim 1994 – Urso de Prata para Melhor Realizador TRÊS CORES: BRANCO um filme de Krzysztof Kieslowski com Julie Delpy, Janusz Gajos, Zbigniew Zamachowski Trzy kolory: Bialy, SUI/POL/FRA, 1993, Cores, 86 min. | M/12 Há em Três Cores: Vermelho uma carga testamentária em duas dimensões simultâneas: foi a última longa-metragem para cinema rodada por Krzysztof Kieslowski (com ele, o mestre polaco anunciaria o fim da sua carreira) e foi também o derradeiro da sua famosa “Trilogia das Cores”, baseada conceptualmente nas três cores da bandeira francesa e no lema da Revolução Francesa. Conta a história de uma invulgar cumplicidade entre Valentine (Irène Jacob), uma jovem modelo, e um velho juiz (Jean-Louis Trintignant) “retirado do mundo”, com um hábito excêntrico: espiar a vida dos outros. A relação entre os dois nasce no sentimento de piedade de Valentine, que, como escreveu o crítico Manuel Cintra Ferreira [Expresso], “é a personagem ‘salvífica’ por excelência”, neste que, e remata, é “o melhor dos filmes [da Trilogia] e um dos melhores de toda a filmografia de Kieslowski”. «Krzysztof Kieslowski (1941-1996) é um dos nomes fulcrais da história do cinema europeu na segunda metade do século XX; […] estes filmes nascidos sob o signo das cores da bandeira francesa — e, mais do que isso, os temas da - Festival de Cannes 1994 – Selecção Oficial, em Competição - Oscars 1995- Nomeações para Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Fotografia - Golden Globes 1995 – Melhor Filme Estrangeiro - Prémios BAFTA 1995 – Nomeações para Melhor Realização, Melhor Actriz, Melhor Argumento, Melhor Filme Estrangeiro TRÊS CORES: VERMELHO um filme de Krzysztof Kieslowski com Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Frédérique Feder Trois Couleurs: Rouge, SUI/POL/FRA, 1994, cores, 97 min. | M/12 Três Cores: Branco Três Cores: Azul

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Page 1: TRÊS CORES - Leopardo Filmes · mais declarado traço de união entre os três, através da reunião das personagens vistas nos vários filmes. Como os filmes tinham cenários diferentes

Azul é o primeiro dos filmes da famosa trilogia de Kieslowski alusiva às três cores da bandeira francesa, que representam os ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. E, simbolicamente, um magistral hino a uma Europa unificada. O filme explora o tema da liberdade no campo das emoções. Depois de perder o marido, um famoso compositor, e a filha, num acidente de automóvel, Julie (Juliette Binoche) tenta recomeçar a sua vida libertando-se de todos os laços e compromissos. Para isso, decide afastar-se das pessoas que até aí conhecera e viver completamente anónima e independente no bulício de Paris. Mas as pessoas da sua antiga e da sua nova vida insistem em intrometer-se, com as suas próprias carências e preocupações. A realidade criada pelos que precisam e se preocupam com ela acaba por a trazer de volta ao mundo dos vivos.

- Festival de Veneza 1993 – Leão de Ouro para Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Actriz (Juliette Binoche), Melhor Realização  Golden Globes 1994 – Nomeação  para Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Actriz – Drama, Melhor Música Original- Prémios César 1992 – Melhor Actriz (Juliette Binoche), Melhor Montagem, Melhor Som- Festival de Chicago 1993 – Prémio Especial do Júri- Prémios Goya 1994 – Melhor Filme Europeu

TRÊS CORES: AZULum filme de Krzysztof Kieslowskicom Juliette Binoche, Florence Pernel, Emmanuelle Riva, Charlotte Véry, Benoît Régent, Hélène VincentTrois Couleurs: Bleu, SUI/POL/FRA, 1993, Cores, 94 min. | M/12

Segunda parte da trilogia francesa de Kieslowski, Branco, que simboliza a igualdade, é uma comédia negra, centrada nas dinâmicas destrutivas de uma relação a dois baseada na desigualdade. Karol (Zbigniew Zamachowski ) é um cabeleireiro polaco, imigrado em França. A mulher, Dominique (Julie Delpy), que ele ama de forma obsessiva, pede o divórcio, alegando um casamento “não consumado”. Karol perde tudo o que tinha e regressa à Polónia, passando por sucessivas humilhações sexuais, económicas e físicas, que acabam por vir reforçar a sua paixão obsessiva pela ex-mulher e um desejo de vingança. Os desencontros entre as vontades dos dois tornam sinuoso o caminho para a descoberta de que o amor necessita de tempo e compreensão mútua. Branco é também um olhar irónico sobre as transformações que se viviam no Leste europeu.

- Festival de Berlim 1994 – Urso de Prata para Melhor Realizador

TRÊS CORES: BRANCOum filme de Krzysztof Kieslowskicom Julie Delpy, Janusz Gajos, Zbigniew ZamachowskiTrzy kolory: Bialy, SUI/POL/FRA, 1993, Cores, 86 min. | M/12

Há em Três Cores: Vermelho uma carga testamentária em duas dimensões simultâneas: foi a última longa-metragem para cinema rodada por Krzysztof Kieslowski (com ele, o mestre polaco anunciaria o fim da sua carreira) e foi também o derradeiro da sua famosa “Trilogia das Cores”, baseada conceptualmente nas três cores da bandeira francesa e no lema da Revolução Francesa. Conta a história de uma invulgar cumplicidade entre Valentine (Irène Jacob), uma jovem modelo, e um velho juiz (Jean-Louis Trintignant) “retirado do mundo”, com um hábito excêntrico: espiar a vida dos outros. A relação entre os dois nasce no sentimento de piedade de Valentine, que, como escreveu o crítico Manuel Cintra Ferreira [Expresso], “é a personagem ‘salvífica’ por excelência”, neste que, e remata, é “o melhor dos filmes [da Trilogia] e um dos melhores de toda a filmografia de Kieslowski”.

«Krzysztof Kieslowski (1941-1996) é um dos nomes fulcrais da história do cinema europeu na segunda metade do século XX; […] estes filmes nascidos sob o signo das cores da bandeira francesa — e, mais do que isso, os temas da

- Festival de Cannes 1994 – Selecção Oficial, em Competição- Oscars 1995- Nomeações para Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Fotografia- Golden Globes 1995 – Melhor Filme Estrangeiro- Prémios BAFTA 1995 – Nomeações para Melhor Realização, Melhor Actriz, Melhor Argumento, Melhor Filme Estrangeiro

TRÊS CORES: VERMELHOum filme de Krzysztof Kieslowskicom Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Frédérique FederTrois Couleurs: Rouge, SUI/POL/FRA, 1994, cores, 97 min. | M/12

Três Cores: Branco

Três Cores: Azul

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Liberdade, Igualdade e Fraternidade — ficaram como um testamento da visão do seu autor, em particular através do angustiado confronto com as tensões entre a vida do quotidiano e o silencioso apelo da transcendência divina.Azul (1993) centra-se no luto de uma mulher; Branco (1994) explora os dramas quase burlescos de um casal desavindo; enfim, Vermelho (1994) questiona os enigmas, e também os limites, de uma genuína solidariedade entre os seres humanos.São filmes que, além do mais, observam a dicotomia masculino/feminino muito para além de qualquer cliché moral ou moralista. Em última análise, através deles, deparamos com a nossa fragilidade de ser e não ser.»João Lopes, Diário de Notícias

Três Cores: Vermelho

OS SINAIS DA ALMA Às vezes o melhor é voltarmos aos clássicos. Ao rever A Dupla Vida de Véronique e a Trilogia das Cores — Azul / Branco / Vermelho de Krzysztof Kieslowski, lembrei-me de Plutarco e das suas Vidas Paralelas. Logo no início da Vida de Alexandre, diz-nos esse grego do século I que “nem sempre são os feitos mais brilhantes que mostram melhor os vícios ou as virtudes dos homens. Uma coisa insignificante, uma simples palavra ou uma brincadeira lançam mais luz sobre o seu carácter do que combates sangrentos, grandes batalhas ou conquistas de cidades. Assim, tal como os pintores, nos seus retratos, procuram captar os traços do rosto ou do olhar onde vibra a natureza de uma pessoa, sem se deterem noutras partes do seu corpo, que nos seja também concedido concentrarmos o nosso estudo nos sinais distintivos da alma, desenhando através deles a vida dessas personagens.”

Filmes como os de Kieslowski têm várias histórias para nos contar, com as personagens que as vivem, os actores e as actrizes que as interpretam, os tempos e os espaços onde se movem e se cruzam, mas o essencial nunca parecem ser apenas as histórias ou os factos que as sustentam — sobre eles paira sempre outra coisa, que perpassa por este cinema e lhe infunde um sopro de vida único e insubstituível. Um sopro que pertence a esta vida tal como a conhecemos, mas que ao mesmo tempo se situa sempre um pouco para lá dela e dos seus contornos mais evidentes ou previsíveis.

Saber exactamente em que consiste esse sopro torna-se difícil — sobretudo saber explicá-lo com palavras que fizessem jus a estes filmes. Claro que há a música, as imagens, os actores — ou neste caso duas actrizes sublimes, Juliette Binoche e Irène Jacob, que nunca mais veríamos como aqui. Claro que há as leituras simbólicas

que poderíamos fazer, por exemplo através do significado atribuído às três cores — azul = liberdade; branco = igualdade; vermelho = fraternidade — , mas o que retenho destas obras preciosas, vinte anos depois, é acima de tudo um clima, uma atmosfera, um tom que não consigo cristalizar em nenhuma palavra ou em nenhuma imagem. A arte de Kieslowski vive desse tom, dessa “gravitas” em que o acaso desempenha um papel fundamental. Falo do acaso, mas não se trata simplesmente do acaso, já que cada gesto ou cada facto destas vidas, cada palavra ou cada silêncio destes homens ou destas mulheres nos leva a transpor uma fronteira para lá da qual o acaso se torna também outra coisa — um acaso que de súbito passa a fazer sentido e a que alguns poderiam chamar um destino.

Talvez por isso haja quem use o adjectivo “metafísico” ao falar do cinema de Kieslowski. Seja qual for o termo escolhido, estamos aqui perante uma metafísica dos acasos, próxima das “petrificantes coincidências” de que falava André Breton em Nadja, um livro de 1928 em que desenvolve a ideia surrealista do “acaso objectivo”, que em L’ amour fou (1937) viria a definir como “manifestação da necessidade exterior que traça o seu caminho através do inconsciente humano.” Aparentes coincidências que deixam de ser apenas coincidências, pormenores irrelevantes que afinal se tornam relevantes, familiaridades repentinas ou “factos-precipícios” (ainda Breton) em que descortinamos uma verdade nova e diferente, capaz de fazer inflectir uma vida humana noutro sentido ou de lhe dar outro sentido, sem que tal passe imediatamente para o nível da consciência.

Em Kieslowski está sempre subjacente uma noção de tudo isto, com as inevitáveis implicações éticas e o pressentimento dessa verdade digamos pré-consciente, mas atingindo-a sem o peso de amplas meditações ou de longos diálogos filosóficos que nos fizessem pensar explicitamente nessas questões. Aqui não precisamos disso, porque tudo fica implícito. Como se bastasse a própria vida para no-lo mostrar na sua urgência mais premente, ensinando-nos que cada uma das nossas vidas só pode fazer sentido quando se mistura com outras vidas até deixar de ser apenas nossa. Ou como se bastasse sabermos ler alguns dos seus sinais — sinais do acaso, do destino ou, como diria Plutarco, os sinais da alma.Fernando Pinto do Amaral, Medeia Magazine

Três Cores: Branco

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www.medeiafilmes.com

«Krzysztof Kieslowski […] foi o último grande autor polaco, pelo menos em termos de capacidade de circulação internacional, numa cinematografia cheia de tradições mas um pouco órfã desde o relativo ocaso de Andrzej Wajda e os prolongados exílios de Roman Polanski e Jerzy Skolimowski. Foi, também, um fenómeno: a implantação de Kieslowski no imaginário cinéfilo internacional foi uma questão de quatro filmes feitos em quatro anos, entre 1991 e 1994: precisamente estes que agora voltam aos écras, A Dupla Vida de Veronique e a trilogia das três cores, Azul, Branco e Vermelho. Antes disso houvera, claro, o Decálogo, uma série de televisão que seguia os Dez Mandamentos, um episódio para cada um, e que deu origem, nalguns casos (nomeadamente A Short Film About Killing), a versões mais extensas para exibições em sala de cinema.O Decálogo é de 1988 e foi o início da projecção internacional de Kieslowski, que até então filmara sempre com capitais polacos e raramente era visto fora da Polónia. A partir daí, abertas as portas do financiamento internacional (França, sobretudo), arrancaria para essa série final de quatro filmes, todos feitos no estrangeiro ou entre a Polónia e o estrangeiro, antes de anunciar a reforma, pouco antes da morte, professando o desejo de passar o tempo que lhe restava “a pintar e a fumar”.

Kieslowski atravessou a cena internacional como um meteorito, e hoje até é fácil ver nele e no seu sucesso um dos últimos estertores de uma ideia de cinema europeu — a do “autor” capaz de conciliar uma ideia de “prestígio” fundada na sua própria idiossincrasia e conservando um módico de apelo popular — que depois dele, e ao longo destes vinte anos, se foi lentamente extinguindo. […]

No final da trilogia das cores, em Vermelho, dava-se o mais declarado traço de união entre os três, através da reunião das personagens vistas nos vários filmes. Como os filmes tinham cenários diferentes (a Polónia, a França e a Suíça), essa reunião podia ter essa leitura mais ou menos política referente a uma Europa finalmente sem barreiras, onde todos podem estar próximos de todos […] Por outro lado, introduz o tema do “destino”, dos acasos e das coincidências como manifestação de algum tipo de teleologia, com uma incidência na construção narrativa mas também na “moral” a extrair dela [… e] quer a Veronique quer a trilogia das cores colocam Kieslowski na linhagem de alguns grandes cineastas europeus do “acaso”, como Bresson ou Jacques Demy. Mas se as referências religiosas, ou pelo menos a um qualquer mecanismo supra-humano capaz de misteriosamente controlar os destinos individuais ou colectivos, o aproximariam mais de Bresson, a relativa euforia estética (pelo menos bem longe da secura “austeritária” do autor de Pickpocket) a que Kieslowski se entrega deixam-no bastante mais perto do romanesco segundo Demy (que também foi, já agora, um cineasta de “cores”, e sempre atravessado por um vento sombrio).»Luís Miguel Oliveira, Público

Três Cores: Azul