tributos editorial arrecadação...

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SEGURIDADE Social & Tributos ANO 01 | BRASÍLIA | NOVEMBRO DE 2010 SEGURIDADE SOCIAL A verdade nas contas da Seguridade Social PREVIDÊNCIA SOCIAL PNAD 2009: A situação previdenciária e do mercado de trabalho Caro leitor, A Fundação Anfip de Estudos da Seguridade Social, sempre empenhada em difundir conhecimentos e propiciar o debate em torno de questões que en- volvam temas de interesse dos Audito- res Fiscais da Receita Federal do Brasil e da sociedade em geral, passa a pu- blicar, mensalmente, o Boletim Seguri- dade Social & Tributos. O novo meio de comunicação será distribuído eletroni- camente aos associados da Anfip e a todos que desejarem se inteirar sobre assuntos ligados a previdência social, saúde, assistência social e tributação. O Conselho Editorial será res- ponsável pela avaliação dos textos a serem divulgados, de produção pró- pria da equipe de colaboradores da Fundação Anfip e de sua mantenedora, a Anfip, sendo que não nos responsa- bilizamos pelas opiniões emitidas em artigos e teses assinadas. Esperamos que esta publicação contribua para difundir e ampliar a discussão e o conhecimento acerca de temas tão importantes para a cidada- nia brasileira como são a Seguridade Social pública de qualidade e a justiça fiscal e tributária. Boa leitura! Editorial 1 Tributos Arrecadação Federal: A importância da Receita Previdenciária A arrecadação previdenciária teve crescimento de 10,8% nos oito primeiros meses de 2010 De maneira geral, o resultado acumulado das Arrecadações Fe- derais de 2010 foi melhor que o de 2009, fundamentalmente, devido a recuperação dos principais indicado- res macroeconômicos que influen- ciam a arrecadação de tributos. De acordo com índices divulgados pelo IBGE, a produção industrial, a venda de bens, e a massa salarial, fatores que influenciam respectivamente a arrecadação do IPI, do PIS/Cofins e da contribuição previdenciária, apre- sentaram forte crescimento. A contribuição previdenci- ária, objeto de análise, responsável pela sobrevivência de dezenas de milhões de cidadãos brasileiros e propulsora da economia na grande maioria dos municípios brasileiros, obteve o maior valor de arrecadação de tributos federais, superando, in- clusive, o Imposto de Renda, no perí- odo de janeiro a agosto de 2010. A arrecadação previdenciária alcançou o valor de R$ 144,6 bilhões, crescimento de 10,8% em relação ao mesmo período de 2009, e a arreca- dação com o Imposto de Renda Total (IRPF, IRPJ e IR retido na fonte) o valor de R$ 135,2 bilhões, crescimento de apenas 3,2%. A arrecadação previden- ciária só não superou, em termos de valor, a soma das contribuições Cofins, PIS/Pasep, CSLL e CIDE-Combustíveis, que totalizou R$ 148,8 bilhões (Ta- bela 1). Como se pode ver as demais arrecadações tiveram crescimento superior a receita previdenciária. Mas esse resultado não deve ser levado a cabo visto que estão ligados a forte queda no período da crise financeira mundial. É de se esperar um aumen- to percentual significativo de rubricas como o IPI, por exemplo, haja vista as medidas de desoneração utilizadas no combate à crise. Desagregando a arrecadação previdenciária, as receitas que mais contribuíram para o resultado acu- mulado em 2010, segundo dados da Receita Federal do Brasil, foram de repasses (43,5%), empresas optantes pelo Simples (19,8%), empresas em geral (17,4%), retenção de 11% (17,1%), órgãos do Poder Público (14,1%) e ar- recadação de pessoa física (12,4). O crescimento da massa salarial e o sal- do positivo empregos formais também foram determinantes para o aumento.

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S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

a N O 0 1 | B r a S Í L i a | N O V e M B r O d e 2 0 1 0

SEGURIDADE SOCIAL

A verdade nas contas da Seguridade Social

PREVIDÊNCIA SOCIAL

PNAD 2009: A situação previdenciária e do mercado de trabalho

Caro leitor,

A Fundação Anfi p de Estudos da Seguridade Social, sempre empenhada em difundir conhecimentos e propiciar o debate em torno de questões que en-volvam temas de interesse dos Audito-res Fiscais da Receita Federal do Brasil e da sociedade em geral, passa a pu-blicar, mensalmente, o Boletim Seguri-dade Social & Tributos. O novo meio de comunicação será distribuído eletroni-camente aos associados da Anfi p e a todos que desejarem se inteirar sobre assuntos ligados a previdência social, saúde, assistência social e tributação.

O Conselho Editorial será res-ponsável pela avaliação dos textos a serem divulgados, de produção pró-pria da equipe de colaboradores da Fundação Anfi p e de sua mantenedora, a Anfi p, sendo que não nos responsa-bilizamos pelas opiniões emitidas em artigos e teses assinadas.

Esperamos que esta publicação contribua para difundir e ampliar a discussão e o conhecimento acerca de temas tão importantes para a cidada-nia brasileira como são a Seguridade Social pública de qualidade e a justiça fi scal e tributária.

Boa leitura!

Editorial

1

Tributos

Arrecadação Federal:A importância da Receita Previdenciária

A arrecadação previdenciária teve

crescimento de 10,8% nos oito primeiros meses de 2010

De maneira geral, o resultado acumulado das Arrecadações Fe-derais de 2010 foi melhor que o de 2009, fundamentalmente, devido a recuperação dos principais indicado-res macroeconômicos que infl uen-ciam a arrecadação de tributos. De acordo com índices divulgados pelo IBGE, a produção industrial, a venda de bens, e a massa salarial, fatores que infl uenciam respectivamente a arrecadação do IPI, do PIS/Cofi ns e da contribuição previdenciária, apre-sentaram forte crescimento.

A contribuição previdenci-ária, objeto de análise, responsável pela sobrevivência de dezenas de milhões de cidadãos brasileiros e propulsora da economia na grande maioria dos municípios brasileiros, obteve o maior valor de arrecadação de tributos federais, superando, in-clusive, o Imposto de Renda, no perí-odo de janeiro a agosto de 2010.

A arrecadação previdenciária alcançou o valor de R$ 144,6 bilhões, crescimento de 10,8% em relação ao

mesmo período de 2009, e a arreca-dação com o Imposto de Renda Total (IRPF, IRPJ e IR retido na fonte) o valor de R$ 135,2 bilhões, crescimento de apenas 3,2%. A arrecadação previden-ciária só não superou, em termos de valor, a soma das contribuições Cofi ns, PIS/Pasep, CSLL e CIDE-Combustíveis, que totalizou R$ 148,8 bilhões (Ta-bela 1). Como se pode ver as demais arrecadações tiveram crescimento superior a receita previdenciária. Mas esse resultado não deve ser levado a cabo visto que estão ligados a forte queda no período da crise fi nanceira mundial. É de se esperar um aumen-to percentual signifi cativo de rubricas como o IPI, por exemplo, haja vista as medidas de desoneração utilizadas no combate à crise.

Desagregando a arrecadação previdenciária, as receitas que mais contribuíram para o resultado acu-mulado em 2010, segundo dados da Receita Federal do Brasil, foram de repasses (43,5%), empresas optantes pelo Simples (19,8%), empresas em geral (17,4%), retenção de 11% (17,1%), órgãos do Poder Público (14,1%) e ar-recadação de pessoa física (12,4). O crescimento da massa salarial e o sal-do positivo empregos formais também foram determinantes para o aumento.

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O Boletim Seguridade Social e Tributos é publicação mensal de propriedade da Fundação Anfi p de Estudos da Seguridade Social, com tiragem de 5 mil exemplares. As opiniões externadas nos artigos selecionados e publicados são de responsabilidade de seus autores.

Seguridade Social & TributosSeguridade Social & Tributos é uma publicação da Fundação Anfi p de Estudos da Seguridade SocialSBN Qd 01 Bl H - Edifício Anfi p - Sala 45 - Asa Norte - Brasília/DF - Brasil - Cep: 70040-907 - Tel: 3326-0676 - Fax: 3326-0646Site: www.fundacaoanfi p.org.br - e-mail: fundacao@anfi p.org.br

Expe

dien

te

SeGuridade Social

A verdade nas contas da Seguridade SocialNão bastassem as rotineiras

afi rmações de défi cit da previdência social, como se esta não fi zesse parte do tripé da Seguridade Social, agora “a bola da vez” é a própria Segurida-de Social, dita, por parte da mídia, como defi citária. Essas informações não procedem visto que em 2009, as-sim como em anos anteriores, houve superávit orçamentário (Gráfi co 1).

No entanto, ano após ano, a Seguridade vem perdendo receitas. São exemplos: o fi m da CPMF, em

2007; os efeitos diretos da crise mun-dial em 2008 e a adoção de medidas como as renúncias fi scais, redução de postos formais de trabalho, queda na produção industrial afetando ne-gativamente a arrecadação da Cofi ns e do PIS/Pasep, perda na lucrativida-de das empresas, acarretando queda nas receitas da CSLL, medidas de de-soneração tributária praticadas para tentar alavancar o consumo e ate-nuar os efeitos da crise; ou mesmo indiretamente, com a DRU – Desvin-

culações de Recursos da União –, por exemplo, que constitucionalmente autoriza a desvinculação de 20% de todos os impostos e contribuições, podendo o governo alocar em recur-sos que julgar conveniente.

Ainda assim, a Seguridade Social apresentou um resultado po-sitivo em 2009: após pagar todas as despesas, o saldo foi de R$ 32,60 bi-lhões ou 1,04% do PIB como ilustra o Gráfi co 1. Foi um resultado inferior ao de 2008 (R$ 64,77 bilhões, 2,16%

Conselho EditorialAlbenize Gatto CerqueiraAurora Maria Miranda BorgesBenedito Leite Sobrinho

Equipe Técnica Floriano Martins de Sá NetoJuliano Sander MusseVilson Antônio Romero

Jornalista Responsável Vilson Antonio Romero

Digramação e Projeto Gráfi coGilmar Eumar Vitalino

CoordenaçãoFloriano Martins de Sá Neto

Tabela 1 - Arrecadação das Receitas Federais - jan a ago de 2006 a 2010 - corrigidos pelo IPCA a preços de agosto/10 - em R$ milhões

2006 a 2007 b b/a 2008c c/b 2009 d d/c 2010 e e/d

IR 106.100 119.744 12,86 140.974 17,73 130.991 -7,08 135.214 3,22

IPI1 16.529 18.633 12,73 21.288 14,25 14.026 -34,11 17.699 26,19

II2 12.545 14.662 16,88 18.218 24,25 16.607 -8,84 20.395 22,81

Contribuições3 143.603 156.676 9,10 149.816 -4,38 130.541 -12,87 148.766 13,96

Rec. Prev. 99.044 111.172 12,25 124.054 11,59 130.512 5,21 144.588 10,79

Outros 9.001 11.868 31,85 19.487 64,20 20.562 5,52 27.570 34,08Fonte: RFB. Disponível em:http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/arre/2010/Analisemensalago10.pdf. Elaboração: ANFIPNotas: (1) exceto IPI vinculado a importação(2) incluindo IPI vinculado a importação(3) CPMF, COFINS, PIS/PASEP, CSLL e CIDE-Combustíveis

Em virtude da crise mundial instalada no fi nal de 2008, a impor-tância da arrecadação previdenci-ária se multiplica. No período em análise (neste caso comparando o período de janeiro a agosto de 2009 frente ao mesmo período de 2008) foi a única arrecadação que apre-sentou crescimento.

Ademais, no período da crise, a Previdência Social funcionou como um dos instrumentos de política anticícli-ca do governo ao se reajustar o valor dos benefícios e do salário mínimo, piso para aposentadorias e pensões.

Com a retomada da econo-mia, os empregos celetistas apresen-tam crescimento superior a média global e a porção informal. No âmbi-to do emprego a recuperação do sal-do de admissões e demissões divul-gados pelo Caged – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - tem superado as expectativas. O saldo, no acumulado de 2010, é de 1.954.531 postos formais de trabalho, número muito superior aos 680.034 postos formais criados de janeiro a agosto de 2009. O saldo de 2010 também é superior aos de 2007 e 2008.

A confi ança na economia faz com que postos informais pré-existentes sejam formalizados. O crescimento da Construção Civil é emblemático. Era um setor muito informal e de 2005 para cá, notadamente, vem se formalizando. Esse fato está diretamente ligado a abertura de capital que aconteceu no setor, princi-palmente a partir de 2007, com o acesso ao crédito, que possibilitou a inúmeras famílias de baixa renda adquirir imóveis pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, o que deixa o mercado mais dinâmico e, fi nalmente, com o investimento em infra-estrutura em todo o país.

S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

O panorama dos últimos anos mostra que é possível ao país bus-car desdobramentos de sua estrutu-ra produtiva, ampliando o segmento formal do mercado de trabalho com claras possibilidades de estratégias de desenvolvimento que contemple o crescimento sustentado com políti-cas de emprego e renda que, em con-junto, venham criar melhores condi-ções de trabalho e uma distribuição de renda menos desigual.

Diferentemente do que ocorre nos dias de hoje, o que se viu nos anos 90 foi o baixo desempe-nho econômico, em um contexto de abertura externa e de valorização cambial, provocando uma destrui-ção de empregos formais sem pre-cedentes. No período 1990-2003, o crescimento médio do PIB foi insu-ficiente para superar o incremento da PEA - População Economica-mente Ativa -, tendência que, inde-pendentemente da taxa de aumento da produtividade, foi, per si, desas-trosa para o mercado de trabalho.

A partir de 2003, a economia brasileira iniciou movimento de re-cuperação que, desde 2005, tem se transformado em uma tendência de crescimento com ascensão da taxa de investimento. A recomposição da ati-vidade econômica foi acompanha da reversão do processo de deterioração do mercado de trabalho percorrido pelo país ao longo dos anos 90, com políticas setoriais e sociais em favor do crescimento com objetivo claro de viabilizar a recuperação do segmento formal do mercado de trabalho.

Em 1992, o número de tra-balhadores com carteira represen-tou pouco mais de 30% do total de ocupados no trabalho principal se-gundo a PNAD1 - Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio – real-izada anualmente pelo IBGE. Em 2009 o percentual subiu para mais

1 Os resultados de 2004 a 2009 foram harmoniza-dos para abranger a cobertura geográfica da PNAD até 2003. As pessoas da área rural do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e Rondônia foram excluídas das amostragens, criando assim uma padronização metodológica.

de 37%. Analisando-se a evolução dos percentuais, entre 1992 e 2002 houve um crescimento de apenas 2,9 p.p., dos empregados e tra-balhadores domésticos no Brasil, enquanto de 2002 a 2009 elevou--se 4,9 p.p. Desmembrando essas informações, verifica-se que houve aumento percentual bem maior do número de trabalhadores com car-teira assinada entre 2002 e 2009, graças à políticas que de certa for-ma auxiliaram a formalização.

No que se refere aos tra-balhadores por conta própria hou-ve uma redução percentual. Ao que tudo indica está havendo uma migra-ção desse contingente para a classe de trabalhadores com carteira as-sinada ou de empregadores. Entre 1992 e 2002 a variação foi positiva em 0,3 p.p, enquanto entre 2002 e 2009 houve uma redução de 2,0 p.p. Registre-se que essa tendência é ex-tremamente salutar, visto que a co-bertura previdenciária brasileira é muito baixa em relação àqueles que

Pre vidência Social

PNAD 2009: A situação previdenciária e do mercado de trabalho

do PIB), mas representou mais de 80% de todo o superávit produzido pelo governo federal (que foi de R$ 39,20 bilhões).

Quando os Constituintes ins-culpiram no texto Constitucional o capítulo da Seguridade Social (arts. 194 a 204) dentro das disposições da Ordem Social, visavam a ampliação e democratização do acesso da popu-lação à saúde, à previdência social e à assistência social. Nesse tripé, cuja implementação deveria envolver ini-ciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, os Constituintes deposita-ram suas esperanças de maior justiça social, bem-estar e melhoria da qua-lidade de vida dos brasileiros. E isso

vem ocorrendo, mesmo que à custa de grande esforço daqueles que en-

tendem e enxergam a Seguridade So-cial como parte dos direitos sociais.

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Gráfico 1 - Receitas e Despesas da Seguridade Social - em % PIB - 2005 a 2009

Fonte: MPS p/ receitas e despesas previdenciárias; STN/MF p/ demais receitas e despesas. Elaboração: Anfip e Fundação Anfip

13,50 13,13 13,32 12,50 12,48

10,08 10,61 10,58 10,34 11,44

3,42 2,52 2,74 2,16

1,04

2005 2006 2007 2008 2009

Receitas Seg. Social Despesas Seg. Social

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

Saldo Seg. Social

trabalham por conta própria, onde a probabilidade de existir um traba-lhador desprotegido é quase 2 vezes maior do que no total da população ocupada. É vital que os segmentos que hoje contam com baixíssimas taxas de adesão à Previdência Social possam ingressar no sistema, dimi-nuindo o gargalo entre os incluídos e excluídos do sistema.

Esses dados são detalhados na Tabela 1, que mostra a distribui-ção das pessoas com 10 anos ou mais de idade ocupadas, segundo a cate-goria do emprego.

Uma importante mensura-ção sobre a questão previdenciária envolve a população ocupada por faixa etária, mencionada na Tabela 2. O destaque, neste caso, é para os 10,8 milhões de trabalhadores acima dos 50 anos de idade sem cobertura previdenciária, representando cerca de ¼ do total de trabalhadores não-contribuintes entre todas as faixas

etárias. Houve melhoria do número de contribuintes em 2009 frente a 2008, quando cerca de 1 milhão de trabalhadores ocupados passaram a contribuir para o sistema. Se com-pararmos com o ano de 1990, em que só havia 4,7 milhões de ocupados contribuintes frente aos 11,9 milhões de ocupados (60,5% do total de ocu-pados não contribuiam para a pre-vidência) compreende-se o quanto melhorou a situação previdenciária. No entanto, também houve aumento do número de não-contribuintes, embora pequeno, passando de 23% do total, em 2008, para 25%, em 2009. Devido à proximidade do es-gotamento da capacidade laborativa, os números são críticos. A inclusão desse contingente resgataria um período significativo de vida laboral com cobertura, anterior à aposenta-doria por idade (65 anos, homem, e 60 anos, mulher). A preocupação só não é maior do que com o grupo en-

tre 30 e 49 anos de idade (17,4 mil-hões de trabalhadores ou 40,4% de ocupados excluídos).

Para a faixa acima dos 60 anos a inclusão previdenciária re-solve parcialmente os problemas se levarmos em conta a saúde do idoso, que corrobora para o pro-blemática envolvendo sua perma-nência no mercado de trabalho. De acordo com a Síntese de Indicado-res Sociais (SIS) 2010 divulgada em 17 de agosto pelo IBGE, o padrão de mortes provocadas por causas in-fecciosas e transmissíveis no Brasil está sendo progressivamente subs-tituído por óbitos decorrentes de doenças crônicas, degenerativas e também por causas externas liga-das a acidentes e à violência.

A pesquisa indica que quase a metade dos idosos (48,9%) do país sofre de mais de uma doença crônica, como diabetes, problemas cardiovas-culares e câncer. A SIS 2009 mostra

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Tabela 1 - Distribuição das pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas e a categoria do emprego no trabalho principal - Brasil - 1992 a 2009 - série harmonizada

Categoria do emprego no trabalho principal

Percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas em relação ao total ∆ em p.p

1992 (a) 1997 2002 (b) 2007 2009 (c) (b) - (a) (c) - (b)

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 * *

1. Empregado e trabalhador doméstico 59,0 59,7 61,9 65,2 66,9 2,9 4,9

Com carteira de trabalho assinada 30,8 30,4 31,3 35,6 37,5 0,5 6,2

Militar e estatutário 6,1 6,5 6,4 6,9 7,2 0,3 0,8

Outro sem carteira de trabalho assinada 22,1 22,8 24,3 22,8 22,2 2,2 - 2,1

Sem declaração 0,0 0,0 0,0 - - - 0,0 - 0,0

Empregado 52,3 52,1 54,2 57,7 59,0 1,9 4,8

Com carteira de trabalho assinada 29,6 28,7 29,3 33,5 35,3 - 0,3 6,0

Militar e estatutário 6,1 6,5 6,4 6,9 7,2 0,3 0,8

Outro sem carteira de trabalho assinada 16,6 17,0 18,5 17,3 16,5 1,9 - 2,1

Sem declaração 0,0 0,0 0,0 - - - 0,0 - 0,0

Trabalhador doméstico 6,7 7,6 7,7 7,5 7,9 1,1 0,1

Com carteira de trabalho assinada 1,2 1,7 2,0 2,0 2,2 0,8 0,2

Sem carteira de trabalho assinada 5,5 5,8 5,7 5,4 5,7 0,3 - 0,1

Sem declaração 0,0 0,0 0,0 - - - 0,0 - 0,0

2. Conta própria 21,7 22,7 22,3 21,0 20,3 0,6 - 2,0

3. Empregador 3,7 4,0 4,2 3,8 4,3 0,6 0,1

4. Não remunerado 10,5 9,0 7,4 5,6 4,4 - 3,1 - 3,0

5. Trabalhador na prod. para o próprio consumo 4,9 4,3 4,0 4,2 4,0 - 0,9 0,0

6. Trabalhador na construção para o próprio uso 0,2 0,3 0,2 0,2 0,1 - 0,0 - 0,1

7. Sem declaração 0,0 0,0 0,0 - - 0,0 - 0,0

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, PNADs. Elaboração Anfip Nota: Exclusive as pessoas da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

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que, à medida que a pessoa envelhe-ce, maiores são as chances de con-trair uma doença crônica. Entre as doenças, a hipertensão é a que mais aparece em idosos, atingindo 50% da população acima de 60 anos. Dores na coluna e artrite ou reumatismo também são frequentes e atingem 35,1% e 24,2%, respectivamente, das pessoas nessa faixa etária.

Em relação à saúde, também chama a atenção o fato de 32,5% dos idosos não terem o domicílio cadas-trado em programas de saúde do governo ou não terem cobertura de planos particulares.

A atual posição previden-ciária requer, de imediato, regras de inclusão para a massa de ocu-

pados fora do sistema que, por sua vez,  deverão exigir subvenções de alíquotas contributivas. Planos de ação para incrementar a inclusão dos trabalhadores que atuam por conta própria e não têm proteção social, como foi o caso do Plano Simplificado de Inclusão e do MEI - Programa Empreendedor Indivi-dual – que estimula a legalização das atividades de homens e mu-lheres que trabalham por conta própria no comércio, na indústria e no setor de serviços, são impor-tantes, mas é preciso intensificar a inclusão com alíquotas dife-renciadas. Também é importante atentar para o grande número de trabalhadores acima dos 50 e 60

anos sem a cobertura previden-ciária, bem como as condições de saúde, muitas vezes inadequada a atividade laborativa.

Mediante essas ações, se-guramente mais trabalhadores in-formais passarão a contribuir para a previdência e, quando diante da necessidade, em razão da incapaci-dade laboral, terão a proteção pre-videnciária. Dessa forma veremos, mesmo que parcialmente, a imple-mentação do objetivo preceituado no inciso III, do art. 3º da Consti-tuição Federal, “erradicar a pobre-za e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”, garantindo, assim, a efetividade do fundamento do Estado brasileiro.

Tabela 2 - Situação previdenciária da população ocupada por faixa etária – 2009

Situação(1)Contribuintes Não-contribuintes Total

milhões % total milhões % total milhões % total

Faixa etária 49,63 100,00 43,06 100,00 92,69 100,00

10 a 14 anos 0,01 0,01 1,25 2,91 1,26 1,36

15 a 19 anos 1,78 3,59 4,40 10,23 6,19 6,67

20 a 24 anos 6,37 12,82 4,68 10,86 11,04 11,91

25 a 29 anos 7,86 15,84 4,55 10,56 12,41 13,38

30 a 39 anos 13,73 27,65 9,13 21,19 22,85 24,65

40 a 49 anos 11,61 23,38 8,25 19,17 19,86 21,42

50 a 59 anos 6,71 13,52 6,02 13,97 12,73 13,73

60 ou mais 1,57 3,17 4,79 11,12 6,36 6,86

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, PNAD 2009. Elaboração ANFIP. Nota: (1) Em qualquer trabalho

S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

* Clóvis Panzarini

Imposto é o preço que a socie-dade paga para ser organizada. Sem ele não haveria governo, ente abs-trato que tem o poder de regrar uma sociedade política, exercer sua auto-ridade, distribuir justiça e segurança, promover, enfim, o bem-estar social. Ou seja, a alternativa ao imposto é o caos, a pré-civilização, a barbárie... Mas poucos cidadãos-contribuintes notam que são eles que arcam com o custo dessa organização, com cada centavo gasto pelo governo, da cons-trução da autoestrada ao pagamen-to do Bolsa-Família, passando pelo caviar das refeições palacianas. Esse desconhecimento incentiva o gover-nante a estufar o peito e proclamar, impune, barbaridades como “eu fiz”, “eu construí”, “eu distribuí”, “eu conce-di”, quando na verdade é regiamente remunerado para administrar - bem ou mal - a aplicação dos impostos.

Grande parte do povo, espe-cialmente os desvalidos, tem o go-vernante como um semideus, um ser desprendido que tira do próprio bolso os recursos que financiam as generosidades governamentais. É fato que o bom governante, que ad-ministra adequadamente e com justi-ça os recursos arrecadados, promove aumento no bem-estar social, ainda que tais recursos sejam amealhados por meio de tentáculos tributários, que no caso brasileiro são essen-cialmente injustos. Há antigo debate acadêmico sobre a forma mais eficaz de promover a justiça fiscal: se por meio de impostos ou do gasto públi-co. Um sistema tributário justo há de ser progressivo, gravando mais pe-sadamente os mais ricos. No caso do Brasil, o sistema tributário é exces-sivamente regressivo e grava propor-cionalmente mais o orçamento dos cidadãos de renda mais baixa.

Isso ocorre porque na compo-sição da carga tributária predominam impostos indiretos, cuja base de inci-

dência é o consumo, e têm natureza regressiva, pois tributam igualmente os desiguais: o imposto que incide so-bre um prato de feijão, seja ele con-sumido por assalariado ou magnata, é sempre o mesmo. Nesse sentido, Es-tudo da Fundação Instituto de Pesqui-sas Econômicas da Universidade de São Paulo mostra que as famílias com renda mensal de até 2 salários míni-mos (SM) gastam com tributos 48,8% da renda, enquanto as que têm renda mensal acima de 30 SM suportam só 26,3% de carga tributária.

Mas a busca da justiça fiscal pelo lado do imposto não depende de reforma tributária, como muitos de-magogicamente apregoam, mas da calibragem das alíquotas dos tributos diretos e indiretos. Uma singela redu-ção das alíquotas do PIS/Cofins sobre alimentos e concomitante aumento do Imposto de Renda sobre os ganhos de capital, por exemplo, reduziriam a regressividade do sistema, mas te-riam efeitos colaterais indesejáveis. Ocorre que o agravamento na tribu-tação sobre bases de incidência com grande mobilidade horizontal, como é o capital, ensejaria arbitragem dos agentes econômicos e poderia provo-car fuga de investimentos do Brasil para outros países.

De outro lado, o consumo é uma base de incidência com pouca mobilidade e apresenta maior facili-dade de coleta - na fonte de produ-ção ou na cadeia de circulação -, o que explica a preferência injusta do governo para compor seu Orçamen-to. Da mesma forma, a redução da carga tributária, que hoje equivale a 35% do PIB, também não depende de reforma tributária, mas de cali-bragem para baixo de algumas (ou todas) alíquotas dos impostos. Des-tarte, não é de esperar que a busca da justiça fiscal possa ser feita com eficácia pela via tributária.

Também do lado da despesa pública não há muito que esperar em face do engessamento da estrutura

de custeio do setor público do País, que deixa pouca margem para inves-timentos ou melhoria na qualidade dos serviços, o que ensejaria mais jus-tiça fiscal. A despesa com salário do funcionalismo, blindado por direitos constitucionais, o déficit crônico da previdência social e os juros da dívida pública comprometem parte substan-cial do orçamento público. Só os juros nominais da dívida pública, próxima de R$ 1,5 trilhão, exigem do governo, ou melhor, de nós, contribuintes, o equivalente a 5,40% do PIB ou 15,5% da carga tributária.

E o que é pior, não há recursos fiscais para pagar todo esse juro: no fluxo de 12 meses até julho, o “supe-rávit primário” - exótico conceito que mede a diferença entre a arrecadação total e gastos não financeiros do go-verno - equivaleu a só 2,03% do PIB, menos da metade das necessidades para pagar os juros (os tais 5,40% do PIB) e bem abaixo da meta de 3,3% es-tabelecida para este ano. A diferença, o déficit nominal de 3,36% do PIB, foi coberta com dívidas novas, que nós, nossos filhos e netos, haveremos de honrar. Verdadeira bola de neve!

Mas o governo alardeia - e a mídia repercute - que faz enorme esforço fiscal e gera “superávit pri-mário” para pagar os juros da dívi-da. Esse “superávit primário” teria de ser 162% maior (cerca de R$ 115 bilhões) para poder honrar todo o juro da dívida e zerar o déficit ver-dadeiro, o nominal. Enquanto isso, nosso rico e esbanjador governo anuncia faraônicos trens-bala e bi-lionárias festas esportivas nos pró-ximos anos. E há quem ainda sonhe com redução da carga tributária e maior justiça fiscal.

* Economista, Sócio-diretor da CP Consul-tores Associados Ltda. (www.cpconsultores.com.br), foi Coordenador Tributário da Se-cretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Artigo publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 30/08/10.

Tributos

Justiça fiscal e superávit primário

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S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

Pre vidência Social

A Previdência Social e o combate à pobreza* Álvaro Sólon de França

A Seguridade Social ocupa no texto da Carta constitucional um dos principais capítulos do título relativo à Ordem Social. Compreende um con-junto de ações, de responsabilidade dos poderes públicos, nas áreas de saúde, previdência e assistência so-cial, dirigidas ao alcance de objetivos básicos de uma sociedade democráti-ca: o bem estar e a justiça social.

A concepção de Seguridade So-cial assumida pela Constituição Fede-ral de 1988 foi inovadora em relação aos preceitos basilares dos progra-mas sociais desenvolvidos até então em nosso país, bem como constituiu significativo avanço no campo da de-finição dos direitos fundamentais para um exercício pleno da cidadania. Fun-dada nos alicerces da solidariedade nacional, a Seguridade Social produz vida; sem ela se rompe a vida e vem a morte. O conceito de Seguridade Social adotado na Carta Magna de 1988, em que pese não haver sido implementado em sua plenitude, continua atual, co-erente e viável. Apesar de todos esses objetivos nobres, a Seguridade Social brasileira tem sido vítima, ao longo dos anos, de todos os tipos de ataques perpetrados pelos piratas sociais de plantão que acusam principalmen-te a Previdência Social de ser a causa dos rombos estratosféricos nas contas públicas. Mas, o que os piratas sociais teimavam em esconder agora está es-cancarado em todas as pesquisas so-bre pobreza, divulgadas nos últimos dias: a expansão da Previdência Social – Regime Geral de Previdência Social administrado pelo Instituto Nacional

do Seguro Social - INSS - foi um dos prin-

cipais fatores da redução da pobreza nos últimos anos.

Entre os anos de 1988 e 2009, a quantidade de benefícios pagos pela Previdência Social aumentou 132,7%, passando de 11,6 milhões para 27,0 milhões de beneficiários. Segundo o IBGE, para cada beneficiário da Previ-dência Social há, em média, 2,5 pesso-as beneficiadas indiretamente. Assim, em 2009, a Previdência beneficiou 96,25 milhões de pessoas.

Nos últimos anos o Brasil pas-sou por pelo menos duas mudanças, que atuaram de maneira importante sobre a pobreza, que foram: a criação de milhões de novos postos de traba-lho, com carteira assinada, e a expan-são do pagamento de benefícios pela Previdência Social. Em 2009, segundo dados da PNAD/IBGE, 55,13 milhões (29,7%) dos brasileiros viviam abaixo da linha de Pobreza (linha de pobreza = meio salário mínimo). Se não fosse a Previdência, esse percentual seria de 42,2% (78,25 milhões de pessoas), ou seja, a Previdência foi responsável por uma redução de 12,5% no nível de pobreza, o que significa que 23,12 milhões de pessoas deixaram de ficar abaixo da linha de pobreza.

Após extensa pesquisa que ti-vemos a oportunidade de realizar (A Previdência Social e a Economia dos Municípios, 5ª edição), com base nos dados de 2003, constatamos que: em 3.773 dos 5.564 municípios brasilei-ros avaliados (67,85%), o volume de pagamento de benefícios previden-ciários efetuados pelo INSS supera o FPM - Fundo de Participação dos Mu-nicípios. Esses dados são altamente representativos de uma realidade que não pode ser ignorada: a Previdência Social reduz as desigualdades sociais e exerce uma influência extraordi-nária na economia de um incontável número de municípios brasileiros. E há ainda outro aspecto que não pode deixar de ser mencionado: em mais de 83,50% dos municípios brasileiros o pagamento de benefícios é superior à arrecadação previdenciária no pró-

prio município, o que nos remete à evidente conclusão de que a Previdên-cia reduz as desigualdades regionais de forma bastante acentuada.

A Seguridade Social estampa-da na Carta Magna de 88 constitui um avanço extraordinário na redução das nossas profundas desigualdades sociais. Lutar pelo seu aperfeiçoa-mento é dever de todos os brasileiros que querem uma nação mais justa e solidária. Precisamos gerar em nos-sa sociedade um maior espírito de preservação e de aperfeiçoamento da Previdência Social, estimulando as chamadas “elites pensantes” a es-tudar com maior acuidade o que re-presenta a instituição na melhoria do padrão de vida de tantas localidades que muitas vezes não fazem parte do nosso mapa de preocupações. Cremos que a Previdência Social está cum-prindo o seu papel na construção de um Brasil mais justo e solidário.

Destarte, conclamamos toda a sociedade, legítima proprietária da Previdência Social, para que nos aju-de a aperfeiçoá-la, tornando-a cada vez mais pública e eficaz, sob pena de sermos “pegos de surpresa” pelos pi-ratas sociais travestidos de arautos da modernidade, mas que, na realidade, estão a serviço do sistema financeiro nacional e internacional, até porque essa gente tem ojeriza à solidarie-dade entre as pessoas e as gerações. Até porque, como ensinava o saudoso mestre Martin Luther King, “o que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas”.

* Álvaro Sólon de França – Auditor Fiscal da Re-ceita Federal do Brasil – Ex-Presidente do Con-selho Curador da Fundação ANFIP de Estudos da Seguridade Social – Ex-Presidente do Conse-lho Executivo da ANFIP – Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal do Brasil - Au-tor dos Livros A Previdência Social é Cidadania e A Previdência Social e a Economia dos Municí-pios. E-mail: [email protected]

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S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

Reflexão

* Clemilce Sanfim de Carvalho

O Brasil é grande; são enor-mes os problemas, porém são signi-ficativas as suas vitórias.

Causou-nos muita satisfação poder ler, publicada em diversos pe-riódicos, a notícia: ‘Previdência tem maior cobertura da América Latina’. Essa manifestação da importância e abrangência da previdência pública anula e solapa todas as inverdades divulgadas a respeito do sistema pú-blico de Seguridade Social.

Avaliamos, neste momen-to, que valeram todas as lutas das entidades reconhecidamente empe-nhadas na defesa e divulgação da veracidade dos números, do sistema que registrou taxa de cobertura de 67% da população brasileira – cerca de 60 milhões de pessoas seguradas pela previdência social, segundo da-dos da Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domicílio 2009 (PNAD/IBGE).

A análise detalhada da notí-cia nos leva a saber que o esforço empreendido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para a formalização superou as metas estabelecidas. A geração de 14 mi-lhões de postos formais de traba-lho, consequente da fiscalização

permanente nas empresas, ao lado dos programas de

capacitação de jovens para o primeiro em-prego, são destaques

na política pública de prote-ção ao trabalhador e incentivo ao trabalho qualificado.

A nós, que defendemos de maneira intransigente o princípio constitucional do primado do tra-balho, causa satisfação vermos res-

surgir, finalmente, o alicerce para a garantia dos recursos que manterão os programas da Seguridade Social. A manutenção e criação de novos postos de trabalho, com a elevação do valor médio de salário, provoca-da pela maior qualificação dos tra-balhadores, nos parecem a ‘fórmula mágica’ para a garantia de nosso maior sistema de cobertura social.

As informações oficiais do resultado da última PNAD já eram previstas pela observação da ten-dência de crescimento da receita da contribuição previdenciária, que se vem elevando mês a mês, superando os limites mesmo em plena crise econômica.

A pujança do sistema, tão de-tratado e pouco protegido, é para to-dos nós motivo de recompensa pela luta diuturna. É confortável saber que 81,7% dos idosos brasileiros são amparados pela previdência social. O esforço para a formalização do trabalho dos que atuam por con-ta própria, através do Programa do Empreendedor Individual, deu sua contribuição para o crescimento da massa de trabalhadores cobertos pelos direitos previdenciários. Os objetivos de 1923 estão consolida-dos, à vista da divulgação dos últi-mos números levantados.

A formalização referida, bem como a criação de 14 mi-lhões de novos postos, são dados de 2009; o aumento registrado em 2010 é significativamente maior e pode ser mensurado pelo acrés-cimo nas contribuições sociais e demais tributos – incidentes so-bre consumo e renda, anunciados, mensalmente, como crescentes em todos os meses do exercício.

Os jornais anunciam seguida-mente os recordes obtidos e comen-tam a eficácia da fiscalização junto às empresas; o estímulo à adesão de novos contribuintes; e a importân-cia da filiação ao sistema público de previdência. Práticas que enfrentam e desmistificam o discurso menti-roso do déficit que nunca existiu. O que existiu sempre foi o desvio de recursos para programas outros que não os da Seguridade, e para a cons-trução do superávit primário que privilegia o pagamento absurdo dos juros da dívida pública.

O grande debate que de-veríamos provocar junto à so-ciedade seria: pagar juros ou os segurados da previdência social? Qual a prioridade?

No momento em que nos acenam com notícias motivadoras e gratificantes, não podemos deixar de voltar ao tema de nosso artigo anterior: ‘Brasil, um novo tempo!’

Parabéns a todos que con-tribuíram, em 3 de outubro, para a recondução ao Congresso Nacional de parlamentares como Paulo Paim, Miro Teixei-ra e Arnaldo Faria de Sá, para citar somente alguns dos combatentes comprometidos com os trabalha-dores brasileiros.

Parabéns, especialmente, aos aposentados e pensionistas, que es-tão levando ao parlamento a forte bancada que há de lutar pelas suas conquistas, acenando para o Brasil com novos tempos: de justiça e res-peito aos direitos sociais garantidos pela nossa Constituição.

* Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil. E-mail: [email protected]

Brasil,

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S e g u r i d a d e S o c i a l & Tr i b u t o s

um novo tempo