tributo a marina bruna

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Marina Bruna Franca/SP 25 de janeiro de 1935 São Paulo/SP 16 de dezembro de 2013

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Marina

Bruna

Franca/SP 25 de janeiro de 1935 São Paulo/SP 16 de dezembro de 2013

Marina Bruna (1935 – 2013) Marina Bruna nasceu em Franca, SP, filha de Diva Luz Paiva Bruna, diretora de escola e Jaime Bruna, doutor em Latim pela USP e tradutor de grego e latim, além de professor de Latim no curso de Letras da universidade. Marina Bruna, graduada em Matemática pela PUC/SP; em Pedagogia pela “Carlos Pasquale” e em Jornalismo pela “Cásper Líbero”, exerceu o Magistério como professora concursada em Escolas Estaduais e Municipais de São Paulo. Lecionou, também, em Escolas particulares. Aposentada dessas funções. Uniu conceitos de áreas supostamente opostas, mas que resultaram em sua formação poética. Descobriu o mundo mágico do movimento trovista na década de 90 por meio de Mário Graciotti, da Casa do Poeta de São Paulo. Poetisa desde a adolescência, distinguiu-se como Trovadora, com mais de 500 trovas classificadas em concursos de âmbito nacional e internacional, entre as quais se incluem premiações em Portugal, Argentina e República Dominicana. Somente em 1988 passou a frequentar a Casa do Poeta Lampião de Gás, de São Paulo. Fez parte da União Brasileira de Trovadores, onde foi agraciada com os troféus “Revelação” (1989); “Destaque” (1994) e os de Trovador mais premiado do ano (1999; 2001; 2004; 2005; 2007 e 2009).

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Recebeu em 2007 o troféu “Lilinha Fernandes”, que a União Brasileira de Trovadores de Porto Alegre atribui ao Trovador mais premiado nacionalmente nos concursos de Trovas do ano. Publicou os livros: “Transparências” (poemas e trovas); “Cintilações” (trovas), Cantares (trovas) e trabalhos em Jornais Literários, Antologias e Coletâneas poéticas. Proferiu várias palestras sobre Trovas em diversos espaços culturais de São Paulo, Santos, Niterói e outros, entre as quais “A Esperança nas Trovas” (1993), “Cantigas do Paranaso” (1998), “Pegando Carona na Trova” (1999), entre outras. Foi colaboradora da revista “Litteratrova”, de Taubaté, na qual mantinha uma coluna mensal intitulada “Redondilhas”. Além da Academia de Letras, Ciências e Artes da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo, onde ocupou a cadeira de n. 13, cujo patrono é Paulo Setubal, pertenceu às seguintes entidades culturais: Casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo; Movimento Poético Nacional; União Brasileira de Escritores; e “União Brasileira de Trovadores, seção São Paulo. Fontes: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/3167512

http://blogdopedromello.blogspot.com.br/2013/01/trova-do-dia-25012012-marina-bruna.html BRUNA, Marina. Cantares: trovas. São Paulo: Ar-Wak, 2010.

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A ciranda traz lembranças,

que a saudade perpetua,

de um tempo em que nós, crianças,

éramos todas de rua...

Afeto infinito eu leio

nos olhos, cheios de brilho,

da mãe que desnuda o seio

e oferta seu leite ao filho!

Amena e doce ebriedade,

que a adega do tempo apura,

o amor, na terceira idade,

é um vinho de uva madura!

À noite, a areia da praia,

com rendas à beira-mar,

lembra um lençol de cambraia

onde se deita o luar...

A noite desfez em contas

seu rosário de cristal

e enfeitou todas as pontas

da grama do meu quintal!

Ante um berço, comovida,

e no adeus dos cemitérios,

fui aprendendo que a vida

é ponte entre dois mistérios.

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Ao tanger minha guitarra,

ser pobre não me importuna.

Tenho o perfil da cigarra

que é feliz sem ter fortuna.

A Primavera passou...

mas passou tão distraída,

que nem sequer se lembrou

de reflorir minha vida...

Aqueles grãos sem valor

- e eu fico pensando agora -

eram sementes de amor

e eu, sem querer, joguei fora...

A teu lado, mas... sozinho...

quantas noites, quantos dias

eu transbordei de carinho

mas te achei de mãos vazias...

A tua mão deslizando

no meu corpo, em leve afago,

é como a brisa encrespando

a superfície de um lago.

A tua ofensa me assusta

e, desta vez, digo “não”!

Quem ama sabe o que custa

ter que negar o perdão!

7

A vida insiste em manter

em dois tons sua canção:

o mais agudo é o poder;

o mais grave, a servidão!

Blasfemar... sei que é errado

mas, Te pergunto, Senhor:

se o amor que eu sinto é pecado,

por que me deste este amor?...

Bondes... quintais... lampiões...

Nesta saudade eu me abrigo

aconchegando ilusões

que envelheceram comigo...

Brinquedos velhos, em trapos,

sem importância parecem,

mas guardam, nos seus farrapos,

lembranças que não se esquecem.

“Cachorro!”, gritou o pato

numa atitude insensata,

quando ouviu dizer que o gato

estava lambendo a pata!

Canta, Poeta! O teu canto,

de um sentimento profundo,

é o turíbulo de encanto

que vai incensar o mundo!

8

Chega alguém...corro à janela...

mas tenha calma , emoção!

Não confunda os passos dela

com os passos da ilusão!

Colombo aos mares se fez

sem que o perigo o assustasse...

e, graças ao genovês,

ganhou, o mundo, outra face!

Com a emoção renascida

no amor que só veio agora,

o ocaso de minha vida

ganhou matizes de aurora!

Com meu orgulho pisado

mas, de saudades vencida,

dou-te o perdão e a teu lado

esqueço as mágoas da vida.

Como é grande a solidão

de um ator, que em sua estréia,

põe em cena o coração

e está vazia a platéia...

Crepita a floresta... e os ninhos

vão de roldão na queimada.

Que vai ser dos passarinhos

que não têm culpa de nada?

9

Da cruz, do açoite, do espinho,

de um sofrimento profundo

veio o sangue que, sozinho,

lavou as culpas do mundo!

Das saudades e lembranças

do amor, que foi verdadeiro,

restou um par de alianças

na mão de um só companheiro.

De cada galho abatido,

em silêncio a seiva escorre

mostrando o pranto sentido

de uma floresta que morre!

Depois da tua partida,

na desordem dos meus passos,

o que me prende na vida

é a memória dos teus braços…

Descalços pelo gramado

teus pés mansamente vão...

Pões, no pisar, tanto agrado,

que eu tenho inveja do chão!...

Descem do morro, sambando,

o Conde, o Rei e a Princesa.

É o Carnaval mascarando

de sangue azul a pobreza…

10

Deus modela a nossa estrada

porém nós, em atos falhos,

modificando a jornada,

nos perdemos nos atalhos...

Disse um "sábio" picareta

sobre um voo espacial:

- "Pra chegar noutro planeta

é só ter um mapa astral...”

Dos naufrágios, dos degredos,

restaram, dentro do mar,

ecos de velhos segredos

que as conchas sabem guardar...

Ele partia e, na pressa,

prometeu que voltaria.

Hoje eu sei, não foi promessa.

Na verdade... ele mentia...

Em fortuna, eu tenho sido

qual uma agulha modesta

que borda um belo vestido

e a linha é quem vai à festa!

Em meu caminho, a poesia

não me empresta sonhos vãos.

Vou de bagagem vazia

mas tenho o mundo nas mãos!

11

Em minha família, unida,

todos sempre me apoiaram

e em troca eu busco na vida

ser a filha que sonharam...

Enfim voltaste... mas peço

que este clima de alegria

envolvendo o teu regresso

não dure só por um dia...

Esta fé que me incentiva,

e em minha vida se espalma,

é uma luzinha votiva

na capela de minha alma!

Esta flor que me restou

num livro da mocidade

é um sonho que se tornou

medalha de uma saudade!

Eu faço um apelo mudo

na velhice que me alcança:

– Destino, tire-me tudo

mas não me roube a esperança!

Eu nunca amarei um poeta

mesmo que ele me seduza

pois seu verso, de alma inquieta,

vagueia, de Musa em Musa!...

12

Falo de tuas ausências

à garoa, que não passa

e ela deixa reticências

sobre o frio da vidraça.

Fim do amor… mas nosso enredo

restou em minha lembrança,

como ficou em meu dedo

a marca de uma aliança…

Foi num mar encapelado

que o meu barco de ideais

naufragou de tão pesado:

- tinha esperanças demais!

Homem bom de rosto feio!

Tua aparência enganosa

lembra a pedra cujo seio

guarda uma gema preciosa!

Impiedoso, o fogo avança

e a floresta, calcinada,

perde o verde da esperança;

ganha o cinza do mais nada!

Já fui musa no passado

e hoje só, bem que eu queria

os versos de pé quebrado

que eu desprezei certo dia…

13

Jorra a fonte com fartura

e ao ver toda esta riqueza,

encho o copo de água pura

e ergo um brinde à natureza!

Mágico no seu cantar,

o poeta tem na voz

a virtude de criar

mil mundos dentro de nós!

Meu olhar no céu passeia

e me diz, mesmo disperso,

que o mundo é só um grão de areia

na imensidão do Universo…

Meu viver lembra uma estrada

com mistérios para mim:

do começo não sei nada...

não sei nada do seu fim...

Minha mão leve desliza

no teu corpo sensual,

como as andanças da brisa

nas plumas do capinzal...

Morrem florestas, açudes

e o mundo, pobre de afeto,

perde os versos e as virtudes:

– vira selva de concreto!

14

Na história de tua vida

sou apenas, sem escolha,

uma sentença esquecida

no rodapé de uma folha.

Na insânia de uma paixão,

que me pega e não tem cura,

deixo de lado a razão

e dou razão à loucura!

Na insônia da solidão,

eu só sei que o tempo passa

porque escuto um carrilhão

dando as horas, lá na praça!

Na insônia, escuto um rumor

e percebo, entre ansiedades,

que anda na noite um pastor

apascentando saudades!

Na Quaresma, a natureza,

com flores de manacás,

tece um manto e, com tristeza,

veste as serras de lilás...

Nas águas turvas dos rios,

os venenos poluidores

nos darão dias sombrios

de primaveras sem flores…

15

Na tarde cálida e mansa,

o tempo quase não passa

e até o silêncio descansa

nos velhos bancos da praça.

Neste ano novo eu pretendo

rasgar meus dias tristonhos

e, de remendo em remendo,

reconstruir os meus sonhos...

No abandono, em desalinho,

eu sonho me embriagar

na branca taça de vinho

que se derrama em luar...

No acolchoado de paina,

colhida ao pé da paineira,

o homem esquece da faina

nos braços da companheira.

No leito, o rio desliza

numa preguiça de sexta-feira

e, em silêncio, fertiliza

os meandros da floresta!

No solar da poesia

há uma janela indiscreta,

por onde o leitor espia

o coração do poeta!

16

Nosso amor, hoje em desgaste,

fez do convívio um açoite...

Tempo! Por que não paraste

naquela primeira noite?

Nosso amor hoje e passado

e, apesar de breve história,

persiste, ainda, ancorado

no cais de minha memória.

Num foguetório cerrado,

o céu junino reluz

qual um chuveiro dourado

pingando gotas de luz!

O Ano Novo se avizinha

e eu, de tristezas cansado,

compro uma nova folhinha

e rasgo o tempo passado.

O cheiro de flor que invade

a varanda, onde eu me abrigo,

engana a minha saudade

e eu penso que estás comigo.

O coração nunca esquece

as mágoas de uma traição...

Quem trai, no amor, não merece

a largueza do perdão!

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O destino rege as vidas

num balé, cujo andamento

lembra o das folhas caídas

dançando ao sabor do vento…

O destino se disfarça...

Veste risos e tristezas

e apresenta, em cada farsa,

incalculáveis surpresas...

O flerte, as voltas na praça,

o tempo levou embora

e o amor foi perdendo a graça

sem o respeito de outrora...

O homem pobre, passo a passo,

ergue a cidade cinzenta

tirando da pedra e do aço

a quimera que o sustenta!

O que mais feriu minha alma,

relendo os bilhetes teus,

foi ver a grafia calma

com que me escreveste “Adeus”!

Ousei te amar sem medida,

sem cautela, sem pudor...

e hoje pago, arrependida,

por esse instante de amor...

18

Passei a viver tristonho

depois que encontrei, surpreso,

o limite do meu sonho

no muro do teu desprezo!

Partias... mas era tarde

para eu tentar te deter...

E nessa omissão covarde

te perdi... sem combater...

Partiste... e a tarde silente,

daquele dia tristonho,

vestiu de roxo o poente

no funeral do meu sonho...

Parto... não levo saudade...

as desavenças são tais,

que a minha e a tua verdade

já são mentiras iguais.

Pessoas que, na ilusão,

cantam virtudes sem tê-las,

são como as poças do chão

que pensam conter estrelas.

Poeta! Colhe o teu canto

peneirando sobre as lavras,

pois há pepitas de encanto

no garimpo das palavras!

19

Por florescer altaneira

na paisagem descampada,

aquela velha paineira

tornou-se um marco de estrada!

Primeiro amor... é a ternura

que a nossa memória enfeita.

É como a fruta madura

de uma primeira colheita...

Prostrado... na dor infinda

de um desprezo que o consome,

meu coração bate ainda,

porque murmura o teu nome...

Quanta família é desfeita

sem notar, que em meio aos brados,

há uma vítima que espreita

de olhinhos arregalados ...

Quando a ingênua ressonância

de um realejo me invade,

eu sinto emoções da infância

dançando em minha saudade!

Quanto sonho se vislumbra

numa esteira, à luz de vela,

quando um amor e a penumbra

se encontram numa favela!

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Quebra o trenzinho... eu conserto

e sinto, ao vê-lo nos trilhos,

a minha infância mais perto

quando eu brinco com meus filhos.

Que eu te esqueça... não me peças...

Não me obrigues a fingir

e fazer falsas promessas

que jamais irei cumprir.

Quem faz poemas alcança

todo o brilho do Universo

pondo estrelas de esperança

nas rimas de cada verso!

Que o amor faz sofrer... sabia...

mas, mesmo assim, eu te amei

e, agora, a sabedoria

vive a dizer: - Não falei?...

Quis te falar... mas não pude...

E, então, te dei uma flor...

As flores têm a virtude

de saber falar de amor...

Sabiá, guarda teu canto!

Eu sei que o dia é bem vindo

mas não despertes o encanto

que em meu leito está dormindo!

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Se alegres, vão repicando;

se tristes, plangem com calma...

E eu fico, às vezes, pensando

que os sinos também têm alma!

Se, à noite, a lua promete

sonhos de amor... tem cautela!

O luar que ela reflete

é luz do sol... nem é dela!

Sem aliança no dedo,

sem altar, sem certidão,

quanto amor vive em segredo

com laços no coração!

Sem muros, as casas pobres

trocam favores, carinhos...

enquanto que em ruas nobres

ninguém conhece os vizinhos.

Se um dia o céu censurar

o nosso amor, não aceito...

e a teu lado hei de encontrar

um outro céu...mais perfeito!

Sigo em frente em meus trabalhos,

porém não sigo sozinho.

Com Deus, que aponta os atalhos,

encurto muito caminho.

22

Sobre os espelhos fanados,

o tempo, em seu transcorrer,

passa escrevendo recados

que não gostamos de ler...

Sobre seda ou algodão,

na trama dos figurinos,

o Supremo Tecelão

faz desiguais os destinos.

Tão suave é o teu carinho

que eu penso, quando te enlaço,

que o meu corpo é um passarinho

que fez ninho em teu regaço...

Tem melodia tristonha

minha seresta, sei bem…

pois canto para quem sonha

nos braços de um outro alguém.

Tem pena de minha dor!

Por favor, usa a franqueza!

Pois as dúvidas, no amor,

maltratam mais que a certeza!

“Terra à vista”! e, em praias calmas,

foi ancorando Cabral.

E o destino bateu palmas

nos unindo a Portugal!

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Teu amor... quase acabado...

Mas, tentando me iludir,

sigo sofrendo a teu lado

sem coragem de partir...

Teu desprezo me magoa.

Não me queres, não te forço.

Mas, o que mais me atordoa

é não sentires remorso...

Tímida, não disse nada,

mas o sorriso que deu

foi a mensagem cifrada

que o meu amor entendeu...

Trago um porongo em meu peito

onde a saudade, contida,

é um chimarrão que tem feito

o amargor de minha vida…

Tua carícia atrevida,

num suave dedilhado,

musicou a minha vida

com acordes de pecado.

Tu chegavas e eu ouvia

o trem, em tons comoventes,

tocar canções de alegria

no teclado dos dormentes…

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Tu fizeste um leve aceno

e a esperança que me deste

teve o alento de um sereno

caindo num solo agreste!

Vai com seu dono mendigo,

dando-lhe o único alento...

E eu penso: - Este cão amigo

bem merece um monumento!

Vai, de saberes repleto,

um sábio pela metade.

Para ser sábio completo

faltou-lhe o grau de humildade...

Vão ficando tão distantes

os carinhos do passado,

que nem sei se o que era antes

foi vivido... ou foi sonhado...

Velho bilhete... lembrança

de um amor que não foi meu...

Um pedido de esperança

que a vida não respondeu…

Vêm mais tarde os desarranjos

e nos transformam de vez

mas, na infância somos anjos

do jeito que Deus nos fez!

25

Vem setembro... e algumas flores,

nos galhos desabrochando,

trazem notícias em cores

da primavera chegando...

Voltei, amor, já sem pranto,

sem as mágoas que levei...

A saudade pesou tanto

que antes da esquina... eu voltei.

Vou, na insônia de meus passos,

esquecer, na boemia,

que um felizardo, em teus braços,

dorme o sono que eu queria...

Vou te deixar... Partirei...

Sem saudade... Sem sofrer...

Por um motivo eu te amei;

por muitos, vou te esquecer…

Zéfiro da tarde mansa!

por favor, sopra esta vela

e leva ao mar da esperança

minha triste caravela!

Fontes:

BRUNA, Marina. Cantares: trovas. São Paulo: Ar-Wak, 2010.

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Seleção, organização, layout e editoração: José Feldman

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