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TributAção Julho de 2015 - Edição nº 105 STJ / Conceito de insumo: 2ª Turma reconhece o direito a créditos de PIS/COFINS sobre despesas que, direta ou indiretamente, relacionam-se às atividades da empresa LEGISLAÇÃO Estado de São Paulo publica Lei implementando regras da EC nº 87/2015 (pag. 2) Aprovado Acordo entre Brasil e Estados Unidos para Troca de Informações Fiscais e criada nova declaração fiscal (e-Financeira) (pag. 2) IN/RFB: Alteração nas multas em casos de compensação não homologada e de ressarcimento indeferido (pag. 3) CONFAZ autoriza os Estados do Piauí, Amapá, Acre, Maranhão e Alagoas a conceder anistia (pag. 3) Estado do Rio de Janeiro: últimos dias para adesão ao Termo de Ajuste de Conduta Tributária (“TAC”) (pag. 4) Estado do Espírito Santo: últimos dias para adesão à anistia com maiores reduções de juros e multa (pag. 4) JURISPRUDÊNCIA STJ reconhece direito do contribuinte a créditos de PIS e COFINS sobre despesas com produtos de limpeza e de dedetização (pag. 4) STF reconhece direito reaver o ICMS recolhido na importação submetida a arrendamento mercantil (leasing) (pag. 5) Justiça Federal: liminares concedidas para suspender a exigibilidade do PIS e COFINS sobre receitas financeiras (pag. 5) CARF examina tributação de PIS/COFINS sobre a cessão de carteira de clientes (pag. 6) STF irá analisar os limites das multas impostas pelo atraso no pagamento de tributos (pag. 6) Este Boletim foi redigido meramente para fins de informação e debate, não devendo ser considerado opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. © 2015. Direitos autorais reservados a Pinheiro Neto Advogados. TributAção é elaborado mensalmente pela Área Tributária de Pinheiro Neto Advogados, composta por 111 integrantes, sendo 15 sócios, 4 consultores, 73 associados e 19 estagiários. DIREITO COMENTADO A (in)aplicabilidade da nova Lei de Mediação aos débitos de natureza tributária (pag. 7)

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TributAção

Julho de 2015 - Edição nº 105

STJ / Conceito de insumo: 2ª Turma reconhece o direito a créditos de

PIS/COFINS sobre despesas que, direta ou indiretamente, relacionam-se às

atividades da empresa

LEGISLAÇÃO

Estado de São Paulo publica Lei implementando

regras da EC nº 87/2015 (pag. 2)

Aprovado Acordo entre Brasil e Estados Unidos

para Troca de Informações Fiscais e criada nova

declaração fiscal (e-Financeira) (pag. 2)

IN/RFB: Alteração nas multas em casos de

compensação não homologada e de

ressarcimento indeferido (pag. 3)

CONFAZ autoriza os Estados do Piauí, Amapá,

Acre, Maranhão e Alagoas a conceder anistia

(pag. 3)

Estado do Rio de Janeiro: últimos dias para

adesão ao Termo de Ajuste de Conduta Tributária

(“TAC”) (pag. 4)

Estado do Espírito Santo: últimos dias para

adesão à anistia com maiores reduções de juros e

multa (pag. 4)

JURISPRUDÊNCIA

STJ reconhece direito do contribuinte a créditos de

PIS e COFINS sobre despesas com produtos de

limpeza e de dedetização (pag. 4)

STF reconhece direito reaver o ICMS recolhido na

importação submetida a arrendamento mercantil

(leasing) (pag. 5)

Justiça Federal: liminares concedidas para

suspender a exigibilidade do PIS e COFINS sobre

receitas financeiras (pag. 5)

CARF examina tributação de PIS/COFINS sobre a

cessão de carteira de clientes (pag. 6)

STF irá analisar os limites das multas impostaspelo atraso no pagamento de tributos (pag. 6)

Este Boletim foi redigido meramente para fins de informação e debate, nãodevendo ser considerado opinião legal para qualquer operação ou negócioespecífico.© 2015. Direitos autorais reservados a Pinheiro Neto Advogados.

TributAção é elaborado mensalmente pela ÁreaTributária de Pinheiro Neto Advogados, compostapor 111 integrantes, sendo 15 sócios, 4 consultores,73 associados e 19 estagiários.

DIREITO COMENTADO

A (in)aplicabilidade da nova Lei de

Mediação aos débitos de natureza

tributária (pag. 7)

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LEGISLAÇÃO

Estado de São Paulo publica Lei implementando regras da EC nº 87/2015

Em 3.7.2015, foi publicada a Lei nº

15.856/2015 do Estado de São Paulo, que

alterou a legislação tributária paulista então

vigente para implementar as inovações da

Emenda Constitucional nº 87/2015 (“EC

87/2015”), que estabeleceu regras para a

repartição do ICMS decorrente do comércio

eletrônico.

É importante lembrar que, de acordo com as

novas regras, o ICMS arrecadado em

operações interestaduais destinadas a

consumidor final, contribuinte ou não do

imposto, será devido à alíquota interestadual e

a diferença entre a alíquota interna e a

interestadual caberá – após período de

transição, previsto até 2019 – integralmente

ao Estado de destino.

Em geral, a Lei paulista apenas adapta a

legislação às novas determinações da Emenda

Constitucional, estabelecendo os parâmetros a

serem adotados nestas operações a partir de

1º.1.2016. Ainda pendem de regulamentação

alguns aspectos práticos referentes à

arrecadação destes valores.

Ainda assim, a edição da Lei nº 15.856/2015

foi de extrema importância para esclarecer, ao

menos sob a perspectiva do Estado de São

Paulo, o momento a partir do qual as novas

regras deverão ser aplicadas (1º.1.2016). Isto

porque a redação da EC 87/2015 foi

contraditória ao prever que estas normas

produziriam efeitos no ano subsequente

(1º.1.2016) e após noventa dias da sua

publicação (17.7.2015) e, ainda, trazer

período de transição das alíquotas aplicáveis

com vigência já para o ano de 2015, gerando

dúvidas nos contribuintes quanto à sua

aplicabilidade

Aprovado Acordo entre Brasil e Estados Unidos para Troca de InformaçõesFiscais e criada nova declaração fiscal

Em 26.6.2015, foi publicado o Decreto

Legislativo 146/15, por meio do qual o

Congresso Nacional aprovou o Acordo entre

Brasil e Estados Unidos da América (IGA

Brasil/EUA) para permitir o intercâmbio

automático de informações fiscais no âmbito

do Foreign Account Tax Compliance Act

(FATCA).

Em linhas gerais, o Decreto Legislativo 146/15

foi firmado para viabilizar a aplicação do

FATCA em relação às instituições financeiras

brasileiras, ampliando, dessa forma, o acesso,

pela Receita Federal do Brasil, de informações

fiscais dos contribuintes.

Como resultado, em 3.7.2015, a Receita

Federal editou a Instrução Normativa

1.571/15, que estabelece a obrigatoriedade de

prestação de informações relativas a

operações financeiras por meio de uma nova

declaração fiscal (“e-Financeira”).

As informações a serem prestadas no âmbito

da e-Financeira incluem os dados de usuários

dos serviços das instituições obrigadas a

gerarem referida declaração, tais como nome,

nacionalidade, residência fiscal, endereço,

número da conta ou equivalente, número de

inscrição no CPF ou no CNPJ, Número de

Identificação Fiscal (NIF) no exterior (se

aplicável), nome empresarial, os saldos e os

montantes globais mensalmente

movimentados, entre outras informações

cadastrais.

Segundo a Instrução Normativa 1.571/15, são

obrigadas a apresentar a e-Financeira as

entidades supervisionadas pelo Banco Central

do Brasil (Bacen), pela Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), pela Superintendência de

Seguros Privados (Susep) e pela

Superintendência Nacional de Previdência

Complementar (Previc), quando o montante

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global movimentado ou o saldo em cada mês,

por tipo de operação financeira, for superior a

R$ 2.000,00, no caso de pessoas físicas, e R$

6.000,00, no caso de pessoas jurídicas.

A e-Financeira deverá ser transmitida

semestralmente, sendo que sua primeira

entrega está prevista para o mês de maio de

2016, contendo dados a partir de 1.12.2015.

Em razão da e-Financeira, não mais será

necessária a apresentação da Declaração de

Informações sobre Movimentação Financeira

(“DIMOF”) para o ano de 2016.

RFB altera Instrução Normativa sobre multa em compensações nãohomologadas e em ressarcimentos indeferidos

Em 10.7.2015, foi publicada a Instrução

Normativa RFB nº 1.573 que, ao alterar a

Instrução Normativa RFB nº 1.300/12, trouxe

modificações nas penalidades em casos de

compensação e de ressarcimento de tributos

administrados pela Receita Federal.

Quanto à compensação, a IN 1.573/15 alterou

a redação do artigo 45, § 1º, inciso I, da IN

1.300/12 para prever que a multa aplicada

nas compensações não homologadas deverá

ser de 50% sobre o valor do débito

compensado. Antes da alteração, a aplicação

da multa se dava, no entendimento do Fisco,

sobre o valor total do crédito do contribuinte,

que geralmente envolvia um montante

significativamente superior.

Por sua vez, quanto aos pedidos de

ressarcimento, a IN 1.573/15 revogou

formalmente o artigo 36 da IN 1.300/12, que

previa a aplicação da penalidade de 50%

sobre o valor do crédito objeto de

ressarcimento indeferido.

Portanto, verifica-se que tais alterações são

favoráveis aos contribuintes, na medida em

que reduz ou afasta as penalidades aplicadas

em casos de compensação e de ressarcimento

em âmbito administrativo.

CONFAZ autoriza os Estados do Piauí, Amapá, Acre, Maranhão e Alagoas aconceder programas de anistia

Foram publicados em 2.7.2015 os Convênios

ICMS nºs 53, 54, 55 e 56 que autorizam,

respectivamente, os Estados do Piauí, Amapá,

Acre e Maranhão a concederem programa de

parcelamento de débitos de ICMS, bem como

a dispensar ou reduzir juros e multas

decorrentes desses débitos. Em 13.7.2015, foi

publicado o Convênio ICMS nº 58 que autoriza

também o Estado de Alagoas a conceder

programa de parcelamento e dispensa ou

redução de multa e juros.

As autorizações de dispensas e reduções

variam de acordo com o Estado, mas podem

chegar a 100% dos juros e da multa se o

débito for pago em uma única parcela. De

qualquer forma, importa ressaltar que tais

Convênios aguardam ratificação e ainda

deverão ser regulamentados pela legislação

dos Estados autorizados pelo CONFAZ, o que

deverá ocorrer nos próximos dias

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Últimos Dias para Aderir ao Termo de Ajuste de Conduta Tributária doEstado do Rio de Janeiro (“TAC”)

Conforme anteriormente noticiado em nosso

Boletim extraordinário, em 12.6.2015 foi

publicada a Lei nº 7.020, do Estado do Rio de

Janeiro, que autorizou o Poder Executivo a

celebrar o “Termo de Ajuste de Conduta

Tributária – TAC”.

O TAC objetiva a regularização da situação do

contribuinte do ICMS que “não cumpriu

adequadamente a legislação por conta de

divergência interpretativa, objeto de litígio

judicial ou administrativo”.

A celebração do TAC implica o compromisso

de que o devedor não mais incorrerá na

conduta objeto de divergência, ocasião em

que poderá regularizar a situação perante o

Estado, com a realização do pagamento à

vista de todos os créditos tributários

relacionados ao TAC, com a exclusão de 100%

das multas e redução de 60% dos juros de

mora.

O prazo para formular o requerimento para

celebração TAC vence agora no próximo dia

31.7.2015. Clique aqui para visualizar.

Anistia no Espírito Santo: prazo para adesão com maiores reduções seencerra em 31.7.2015

Como noticiado no TributAção de junho/15,

encerra-se em 31.7.2015 o primeiro prazo

para adesão à anistia instituída pela Lei

10.376/15 no Estado do Espírito Santo.

Até aquela data, as reduções de multa e juros

podem chegar a 95% para os débitos

tributários estaduais, em especial o ICMS, com

valores acima de R$ 50.000,00. Vale lembrar

que o prazo para adesão à anistia se estende

até 30.9.2015, porém com reduções menores

depois de 31.7.2015. Clique aqui para

visualizar.

JURISPRUDÊNCIA

STJ reconhece direito a crédito de PIS e COFINS sobre despesas comprodutos de limpeza e dedetização

Em 19.5.2015, no julgamento do REsp

1.246.317/MG, a Segunda Turma do STJ

reconheceu, por maioria, o direito ao

aproveitamento de créditos de PIS e COFINS

sobre despesas decorrentes da aquisição de

materiais de limpeza e desinfecção, bem como

serviços de dedetização aplicados no ambiente

produtivo da fabricação de alimentos.

Basicamente, a maioria dos Ministros

entendeu que o conceito de insumo, para fins

do creditamento do PIS e da COFINS não deve

ser equiparável ao conceito adotado na

sistemática específica do IPI, mas sim ser

compreendido como todos os bens e serviços

que, direta ou indiretamente, impactem no

processo produtivo ou prestação de serviço do

contribuinte, obstando a atividade ou mesmo

gerando perda da sua qualidade.

No caso concreto de indústria alimentícia, a

Segunda Turma do STJ reconheceu o direito

ao crédito de PIS e COFINS sobre gastos com

materiais de limpeza, desinfecção e

dedetização, por serem despesas essenciais

para manutenção das condições sanitárias

exigidas para a produção de alimentos, que,

se não cumpridas, impactam diretamente na

qualidade dos produtos.

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Contribuintes podem reaver ICMS recolhido sobre importação demercadoria submetida a arrendamento mercantil (leasing)

O STF negou o pedido do Estado de São Paulo

de modulação dos efeitos da decisão proferida

no RE 540.829, que, em repercussão geral,

afastou a incidência de ICMS nas importações

envolvendo mercadorias submetidas por

arrendamento mercantil (ou leasing), salvo

nas hipóteses de antecipação da opção de

compra, como noticiado no Boletim

Extraordinário de setembro/14.

Na prática, isso significa que os efeitos da

decisão do STF retroagem ao julgamento do

RE 540.829 e permite que os contribuintes

que se sentirem lesados pleiteiem a restituição

do ICMS indevidamente pago nos últimos 5

anos sobre importações de bens submetidos

ao regime de arrendamento mercantil. Clique

aqui para visualizar

Justiça Federal concede liminares suspendendo exigibilidade do PIS eCOFINS sobre receitas financeiras com alíquotas majoradas

Em 1º.7.2015, entraram em vigor as novas

alíquotas de PIS e COFINS incidentes sobre as

receitas financeiras de pessoas jurídicas

sujeitas ao regime não-cumulativo,

reestabelecidas pelo Decreto nº 4.826/15 para

0,65% e 4%, respectivamente.

Desde a publicação do referido Decreto, em

1º.4.2015, diversas empresas ingressaram

com medidas judiciais para contestar a

majoração das alíquotas, argumentando que o

reestabelecimento da tributação (i) ofenderia

o princípio da legalidade, já que a majoração

de alíquota dependeria da expedição de lei;

(ii) contrariaria o conceito constitucional de

receita e as disposições da Lei nº

12.973/2014, que impossibilitariam a

tributação sobre receitas financeiras; e (iii)

violaria a sistemática não-cumulativa das

contribuições, na medida em que a legislação

não prevê o direito ao creditamento em

relação às despesas financeiras incorridas.

A esse respeito, destacamos que a Justiça

Federal já proferiu algumas decisões

favoráveis aos contribuintes, suspendendo a

exigibilidade dos tributos. Em geral, as

decisões têm por principal fundamento a

impossibilidade de o decreto majorar as

alíquotas das contribuições PIS e COFINS por

Decreto, sob pena de ofensa ao princípio da

legalidade.

Embora ainda sejam decisões preliminares e a

discussão deva se estender ao longo dos

próximos anos, tais precedentes apontam para

a efetiva ilegalidade da medida e para a

possibilidade de seu questionamento em juízo.

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CARF examina tributação de PIS/COFINS sobre cessão de carteira declientes

Em decisão publicada em 18.5.2015, a 2ª

Câmara da 1ª Turma Ordinária da 1ª Seção do

CARF examinou a possibilidade de tributação

pelo PIS/COFINS sobre receita da cessão

onerosa de carteira de clientes.

Enquanto as autoridades fiscais alegavam

tratar-se de receita operacional, a empresa

cedente argumentava que a sua carteira de

clientes cedida integrava seu fundo de

comércio e, como tal, seria parte de seu ativo

permanente. Assim, o pagamento recebido

pela cessão da carteira, por se enquadrar

como receita de venda do ativo permanente,

não estaria sujeita à tributação pelo

PIS/COFINS (artigo 1º, § 3º, II da Lei nº

10.833/2003).

Com base no Pronunciamento Técnico nº 4 do

Comitê de Pronunciamentos Contábeis, o

CARF reconheceu que a carteira de clientes

corresponde a um ativo intangível que integra

o fundo de comércio. No seu entender, a

carteira de clientes deveria ser contabilizada

no ativo permanente diferido (contra passivo

exigível a longo prazo) e, pois, a receita

decorrente da alienação desse ativo não

estaria sujeita à tributação.

De todo modo, a decisão demonstra que o

CARF tem considerado em suas decisões as

peculiaridades de cada caso, atendo-se à

realidade econômica dos negócios.

STF irá analisar os limites das multas impostas pelo atraso nopagamento de tributos

O STF reconheceu a repercussão geral do RE

nº 882.461/MG em que se discute a

constitucionalidade de uma multa moratória

de 50%, fixada pelo Município de Contagem,

pelo alegado atraso no pagamento do

imposto.

Ao reconhecer a repercussão geral, a Corte

destacou que em atenção ao "princípio da

segurança jurídica” e à “necessidade de

concretização da norma constitucional que

veda o confisco na seara tributária” é preciso

fixar as “balizas para aferição da existência de

efeito confiscatório na aplicação de multas

fiscais moratórias”.

Espera-se, portanto, que o julgamento desse

caso sirva como um precedente para fixar

uma limitação para o valor de multas

moratórias, que, por vezes, alcançam

patamares bastante elevados, que aumentam

substancialmente o montante cobrado do

contribuinte pelo simples atraso no pagamento

de tributos.

Cabe destacar que nesse precedente também

foi reconhecida a repercussão geral da

questão da tributação da operação de

industrialização por encomenda, quando

ocorrida em meio ao ciclo produtivo da

mercadoria. No caso em questão, será

discutido se é o ISS ou o ICMS o imposto

incidente sobre a operação de uma empresa

que recebeu o aço produzido por um terceiro,

efetuou o corte desse material e o devolveu ao

industrial.

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DIREITO TRIBUTÁRIO COMENTADO

A (in)aplicabilidade da nova Lei de Mediação aos débitos de naturezatributária

Diego Caldas R. de Simone

Mariana Monte Alegre de Paiva

Associados da Área Tributária de Pinheiro Neto Advogados

Em 29.6.2015, foi publicada a Lei nº 13.140 (“Lei de Mediação”), que dispõe sobre a mediação entre

particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a auto composição de conflitos no

âmbito da administração pública. De acordo com a definição trazida pela própria lei, “considera-se

mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou

aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a

controvérsia”.

Desde a sua publicação, a Lei de Mediação gerou acaloradas discussões sobre a sua aplicabilidade

no âmbito tributário, notadamente em face do disposto no artigo 38 que, fazendo referência

expressa às controvérsias jurídicas relativas a tributos administrados pela Receita Federal do Brasil

ou a créditos inscritos em dívida ativa da União, foi visto por muitos como indicação clara de sua

aplicação à controvérsias desta natureza.

Os defensores da aplicabilidade da Lei de Mediação no âmbito fiscal também reforçaram a sua

argumentação com base no disposto no artigo 45, que altera a regulamentação do Processo

Administrativo Tributário (Decreto nº 70.235/72) para prever que a “submissão do litígio à

composição extrajudicial pela Advocacia-Geral da União é considerada reclamação”, para efeitos de

suspensão da exigibilidade do crédito tributário com base no artigo 151, III, do Código Tributário

Nacional (“CTN”).

De outro lado, a Advocacia-Geral da União (“AGU”) e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional

(“PGFN”) apressaram-se em apresentar posição no sentido de que as disposições da Lei de Mediação

não seriam aplicáveis às relações mantidas entre particulares (contribuintes) e as autoridades

públicas, mas sim para solucionar hipóteses diversas envolvendo, por exemplo, controvérsia jurídica

entre órgãos ou entidades de direito público que integram a administração pública. Segundo a PGFN,

o artigo 38, inciso I, da Lei de Mediação excluiria expressamente a possibilidade de mediação nas

hipóteses envolvendo pessoas físicas ou jurídicas privadas.

Ademais, vários especialistas afirmaram que, a par das disposições que parecem apontar pela

aplicabilidade da Lei de Mediação no âmbito tributário, o procedimento a ser adotado para esse fim

dependeria de regulamentação (a Lei de Mediação, pois, não seria autoaplicável) e existiriam

diversos óbices para essa espécie de resolução alternativa de controvérsias. (como, por exemplo, a

indisponibilidade do crédito tributário e eventuais ofensas à Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF

pela sua adoção).

Independentemente desta discussão – plenamente justificável ante a imprecisa e por vezes

contraditória redação da lei, que abre margem para diferentes interpretações – não se pode perder

de vista que, na prática, a adoção da mediação dependeria da essencial participação da AGU que,

como se viu, tem entendido pela inaplicabilidade da Lei de Mediação na esfera tributária.

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Por outro lado, vale lembrar que o próprio artigo 171 do Código Tributário Nacional (“CTN”) prevê a

possibilidade de transação em relação à débitos tributários, ao dispor que a lei poderá facultar, nas

condições que estabeleça, a possibilidade da celebração de transação que, mediante concessões

mútuas, importe em terminação de litígio e consequente extinção do crédito tributário.

Neste particular, importante notar que existem diversos projetos de lei em andamento que visam

regulamentar a transação prevista no artigo 171 do CTN, como o PL nº 5082/2009. Até o momento,

no entanto, nenhum dos projetos em andamento foi aprovado e ainda existem uma série de

aspectos técnicos a serem superados para a sua efetiva implementação, com posições destacadas

tanto a favor como contra a adoção destas soluções.

Portanto, salvo exceções específicas pouco utilizadas (como a previsão da Lei nº 9.469/1997, que

autoriza a AGU a transigir ou acordar nas ações de interesse da União Federal nas causas de valor

até R$ 500.000,00) ou adoção de transação com abrangência territorial limitada (o Estado de

Pernambuco, por exemplo, adotou a iniciativa e regulamentou a possibilidade de transação,

autorizando a negociação das dívidas tributárias com as Autoridades Fiscais Estaduais), o

contribuinte, de forma geral, também não dispõe dessa alternativa.

Nesse contexto, percebemos que (i) a transação de que trata o artigo 171 do CTN ainda não foi

regulamentada; e (ii) a Lei de Mediação apresenta dúvidas razoáveis quanto à sua aplicabilidade no

campo tributário e, a par das técnicas interpretativas que possam levar a essa ou aquela conclusão,

na prática, com posição contrária da AGU e da PGFN, não deverá se prestar para esse fim.

Ainda assim, é interessante notar que o Governo tem se esforçado em criar meios alternativos mais

eficazes para permitir a resolução de conflitos, contribuindo para a redução da litigiosidade. Resta

aguardar que esse esforço seja igualmente adotado no campo tributário. *****

O Informativo TributAção é desenvolvido mensalmente pelos profissionais que integram a Área

Tributária de Pinheiro Neto Advogados.

Sócios da Área Tributária:

São Paulo: Sérgio Farina Filho, Marcelo Mazon Malaquias, Ricardo Luiz Becker, Luciana Rosanova

Galhardo, Mauro Berenholc, Eduardo Carvalho Caiuby, Luiz Roberto Peroba Barbosa, Tércio

Chiavassa, Marcelo Marques Roncaglia, Giancarlo Chamma Matarazzo, Flávio Veitzman, Jorge Lopes

e Cristiane I. Matsumoto Gago

Rio de Janeiro: Carlos Henrique T. Bechara, Marcos de Vicq de Cumptich e Emir Nunes de Oliveira

Neto.

Colaboraram com esta edição: Eduardo Carvalho Caiuby, Flávio Veitzman, Rodrigo de Sá Giarola,

Diego Caldas R. de Simone, Otávio Henrique de C. Bertolino, João Rafael L. Gândara de Carvalho,

Fabio Tarandach, Mariana Monte Alegre de Paiva, Mariana Monfrinatti de André, Gustavo

Andrejozuk, Andre Duarte Montuori, Guilherme Villas Boas e Silva, Fernando Watanabe, Caroline Pin

Tin Zing, Maria Rufino Carvalho da Silva, Fernanda Moura e Luis Felipe Vieira Rangel.

RUA HUNGRIA, 1.100,

01455-906 SÃO PAULO, SP

T.: +55 (11) 3247-8400

F.: +55 (11) 3247-8600

BRASIL

RUA HUMAITÁ, 275, 16º ANDAR

22261-005 RIO DE JANEIRO, RJ

T.: +55 (21) 2506-1600

F.: +55 (21) 2506-1660

BRASIL

SAFS QUADRA 2, BLOCO B,

3º ANDAR, ED. VIA OFFICE,

70070-600, BRASÍLIA, DF

T.: +55 (61) 3312-9400

F.: +55 (61) 3312-9444

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