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Tribunal Regional Federal da 5ª Região Gabinete do Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho   PJe-AC 0801206-15.2013.4.05.8300 APELANTE : MASTERCARD BRASIL SOLUÇOES DE PAGAMENTO LTDA. ADV               : FERNANDO COIMBRA JUNIOR ADV               : ERALDO MONTEIRO MICHILES APELADO    : ALEXANDRE PEDROSA DE ALMEIDA ADV               : CARLOS HENRIQUE LEDEBOUR LÓCIO TERCEIRO   : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL- CEF ORIGEM        : 5ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO RELATOR    : DES. FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO - 2ª TURMA                                     (férias - 11/01 a 09/02/2016) RELATOR    : DES. FEDERAL RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR (convocado)                    RELATÓRIO   O Des. Federal RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR (convocado):   Trata-se de recurso de apelação (id. 340338), interposto por MASTERCARD BRASILSOLUÇÕES DE PAGAMENTO LTDA contra a sentença (id. 314582) proferida pela eminenteJuíza Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária de Pernambuco, NILCÉIA MARIA BARBOSAMAGGI, que, homologando transação realizada entre o apelado e a CEF, extinguiu o feito (AçãoOrdinária nº 0800052-25.2014.4.05.8300 - PJe), com resolução do mérito, em relação à Caixa,porém julgou procedente, em parte, o pleito do apelado/autor, relativamente à apelante(MASTERCARD), condenando-a em danos morais, em prol do recorrido, arbitrados em R$5.000,00 (cinco mil reais).   Em suas razões recursais, a apelante suscitou preliminar de ilegitimidade para figurar no polopassivo da demanda, argumentando, em síntese, que o fato da existência da marca"MASTERCARD" no cartão do autor não significa que tal empresa efetivamente administre ocontrato que envolve o serviço em questão.  

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Aduz que o contrato relativo à licença de uso da referida bandeira foi pactuado apenas entre ela(apelante) e a CEF, ao passo que a avença concernente ao crédito rotativo, que ensejou oalegado dano, deu-se entre a instituição financeira (CEF) e o consumidor, ora apelado. Daíconcluir que não há qualquer ligação entre si e o autor/apelado, pugnando, de conseguinte, peladeclaração de sua ilegitimidade passiva ad causam, nos moldes do art. 267, VI, do CPC.   No que tange ao mérito da obrigação de indenizar, reconhecida na sentença vergastada, osseguintes excertos das razões recursais sintetizam os fundamentos lançados pela apelante (verbo ad verbum):   Colenda Câmara, quanto ao ponto, resta evidente que a sentença ora combatida se encontraequivocada ao determinar que a ré arque com o pagamento de danos morais por ter havido falhano seu serviço, tendo em vista que a Mastercard não presta qualquer serviço ao autor.   Veja-se que em nenhum momento dos autos percebe-se alguma responsabilidade da RecorrenteMastercard para a ocorrência dos eventos danosos, o que reforça a tese de que esta apenaslicencia o uso de sua marca a terceiros. Portanto, a Mastercard não possui qualquer responsabilidade indenizatória para com o recorrido. E, nesse sentido, é importante mencionarmos que o artigo 14 do Código de Defesa doConsumidor, embora tenha reconhecido a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços,não afasta a análise, caso a caso, dos demais pressupostos da responsabilidade civil, aexistência do a) dano; b) ato ilícito; c) nexo de causalidade. Desta forma, para que haja odever de indenizar há que haver a convergência dos três requisitos citados concomitantemente, oque não se verifica no presente caso. Assim sendo, de pronto, Excelência, resta nítida a total ausência de responsabilidade da réMastercard para a ocorrência do evento danoso, pois, devido ao fato de não ser a administradorado cartão da parte autora, por certo não possui qualquer ingerência ou responsabilidade pelaCOBRANÇA indevida, O AUTOR NÃO POSSUI QUALQUER DÉBITO PERANTE AMASTERCARD. (Os destaques vêm do original.)   Acerca dos critérios de arbitramento do quantum devido, em caso de eventual manutenção dacondenação, argumenta a apelante, em síntese (verbis):   Em eventual manutenção da condenação, no tocante ao quantum indenizatório, conforme dispõeo artigo 944 do Código Civil, a indenização deve ser medida pela extensão dos danosexperimentados, bem como de acordo com a gravidade da culpa, que no caso em telasequer foram provocados pela Recorrente Mastercard! Não subsistindo comprovação dos danos provocados pela Mastercard, sua fixação, em caso deuma condenação, deve atender ao artigo 5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro(redação dada pela Lei 12.376/2010), já que o julgador, na aplicação da lei, atenderá aos fins

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sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Destarte, aplicam-se, ainda, os princípios constitucionais da razoabilidade e proporcionalidadeinsculpidos na Constituição Federal, cabendo ao Poder Judiciário rechaçar qualquer possibilidadede locupletamento na atual fábrica de danos morais que se visualiza atualmente. (Reproduziu-se o trecho em negrito.)   O apelado apresentou contrarrazões, nas quais defendeu a manutenção da sentença de piso,com arrimo em doutrina e jurisprudência arroladas, que acolhem a tese de que, a teor dos artigos14, 18 e 20 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), havendo caracterização de uma cadeiade serviços entre os fornecedores, como no caso dos autos, as bandeiras de cartão de créditorespondem solidariamente pelos danos decorrentes da má prestação do serviço.   Eis como essa ideia se encontra tecida nas exatas palavras do apelado:   O art. 14 do CDC estabelece verdadeira regra de responsabilidade solidária entre osfornecedores de uma mesma cadeia de serviços e por esta razão que as "bandeiras" de cartão decrédito respondem pelos danos decorrentes da má prestação do serviço. Confira-se a esterespeito às lições de doutrina:   "A cadeia de fornecimento é um fenômeno econômico de organização do modo de produção edistribuição, do modo de fornecimento de serviços complexos, envolvendo grande número deatores que unem esforços e atividades para uma finalidade comum, qual seja a de poder oferecerno mercado produtos e serviços para os consumidores (...) O reflexo mais importante, o resultadomais destacável desta visualização da cadeia de fornecimento, do aparecimento plural de sujeitosfornecedores, é a solidariedade dentre os participantes da cadeia mencionada nos arts. 18 e 20do CDC e indiciada na expressão genérica "fornecedor de serviços" do art. 14, caput, do CDC(...)" (Cláudia Lima Marques. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. O novo regime dasrelações contratuais. São Paulo: RT, 2002, p. 334-335).   Ora, havendo culpa da administradora do cartão de crédito, privilegia-se o acesso da vítima àreparação do dano, com o reconhecimento da solidariedade entre os agentes que compõem acadeia de fornecimento de serviços.   É o Relatório.   Tribunal Regional Federal da 5ª Região

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Gabinete do Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho     PJe-AC 0801206-15.2013.4.05.8300 APELANTE : MASTERCARD BRASIL SOLUÇÕES DE PAGAMENTO LTDA ADV               : FERNANDO COIMBRA JUNIOR ADV               : ERALDO MONTEIRO MICHILES APELADO    : ALEXANDRE PEDROSA DE ALMEIDA ADV               : CARLOS HENRIQUE LEDEBOUR LÓCIO TERCEIRO   : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL- CEF ORIGEM        : 5ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO RELATOR    : DES. FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO - 2ª TURMA                                     (férias - 11/01 a 09/02/2016) RELATOR    : DES. FEDERAL RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR (convocado)                                        VOTO   O Des. Federal RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR (convocado):   Bem examinando o caso posto, verifico que a sentença rechaçada não merece reprimenda noque tange a dois pontos de sua estruturação, em relação aos quais, vou aplicar a fundamentação per relationem, técnica de motivação firmemente reconhecida pela jurisprudência do SupremoTribunal Federal como válida e não incompatível com o preceptivo do art. 93, IX, da Constituiçãoda República, método também adotado por esta E. Corte Regional.   O primeiro ponto que corroboro, nos termos em que fundamentado pela magistrada de piso,concerne ao reconhecimento de que a preliminar de ilegitimidade passiva, suscitada pelaMASTERCARD BRASIL SOLUÇÕES DE PAGAMENTO LTDA em sua contestação (e ratificadanas razões da apelação sub examine), confunde-se com o próprio mérito, e, como tal, seráapreciado naquela sede (no mérito).  

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O segundo ponto da sentença fustigada de que me sirvo, utilizando a técnica anunciada (perrelationem), diz respeito à própria fundamentação deduzida na análise da responsabilidadesolidária dos fornecedores de serviço, vazada nos seguintes termos (verbis):   3.2. DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS FORNECEDORES DE SERVIÇOS   Inicialmente, oportuno registrar que, tal como ocorre com o fornecimento de produtos, osfornecedores de serviços podem se organizar em uma verdadeira cadeia de fornecimento, com aadoção de modernos meios de gestão empresarial, que permitam repartição de tarefas e aadoção de diversos outros modos de associação, colocando, assim, serviços à disposição deconsumidores.   Nesse panorama, a relação jurídica de consumo é formada por dois polos distintos.   De um lado, figuram os consumidores ou pessoas a eles equiparadas; de outro, podem figurar umúnico fornecedor ou até mesmo uma multiplicidade de fornecedores que, por qualquer forma deorganização empresarial, integrem determinada cadeia de prestação de serviços ou de produção.   No caso dos autos, vislumbra-se inequivocamente existir uma colaboração entre a instituiçãofinanceira (CAIXA), que funciona como administradora do cartão de crédito, e a Bandeira"Mastercard", os quais fornecem serviços conjuntamente e de forma coordenada ao consumidor(autor).   Assim, muito embora não haja uma relação contratual direta entre o consumidor e a Bandeira"Mastercard", a empresa concede o uso de sua marca para a efetivação dos serviços de créditoscontratados pelo autor junto à CAIXA, em razão da sua credibilidade no mercado, o que atraiconsumidores e gera lucro.   Ademais, a melhor exegese dos arts. 14 e 18 do CDC indica que todos aqueles que participam daintrodução do produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente por eventualdefeito ou vício, isto é, imputa-se a toda a cadeia de fornecimento a responsabilidade pelagarantia de qualidade e adequação (segurança).   A jurista Cláudia Lima Marques destaca que a organização dessa cadeia de fornecimento "éresponsabilidade do fornecedor (dever de escolha, de vigilância), aqui pouco importando aparticipação eventual do consumidor na escolha de alguns entre os muitos possíveis", concluindoser "impossível transferir aos membros da cadeia responsabilidade exclusiva". A autoraprossegue afirmando que "a legitimação passiva se amplia com a responsabilidade solidáriae com um dever de qualidade que ultrapassa os limites do vínculo contratual

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consumidor/fornecedor direito"[1].   Por essa razão, no sistema do CDC, fica a critério do consumidor a escolha dos fornecedoressolidários que irão integrar o polo passivo da ação. Poderá exercitar sua pretensão contra todosou apenas contra alguns desses fornecedores, conforme sua comodidade eou conveniência.   Assim, qualquer fornecedor que integre a cadeia de fornecimento do serviço - proprietárias dasbandeiras (responsáveis pela comunicação da transação entre adquirente e administradora), administradoras (instituições financeiras emissoras dos cartões) e estabelecimentoscomerciais - pode ser demando por prejuízos decorrentes da inobservância deste procedimentode segurança.   Nesse sentido, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: Consumidor. Recurso Especial. Ação de compensação por danos morais. Embargos dedeclaração. Omissão, contradição ou obscuridade. Não ocorrência. Recusa indevida depagamento com cartão de crédito. Responsabilidade solidária. 'Bandeira'/marca do cartão decrédito. Legitimidade passiva. Reexame de fatos e provas. Incidência da Súmula 7/STJ. -Ausentes os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. - O art. 14 doCDC estabelece regra de responsabilidade solidária entre os fornecedores de uma mesmacadeia de serviços, razão pela qual as 'bandeiras'/marcas de cartão de crédito respondemsolidariamente com os bancos e as administradoras de cartão de crédito pelos danosdecorrentes da má prestação de serviços. - É inadmissível o reexame de fatos e provas emrecurso especial. - A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais somenteé possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal deorigem revela-se irrisória ou exagerada. Recurso especial não provido. (REsp 259.816-RJ, DJ 27/11/2000. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/10/2009) (Sem grifos nooriginal).   CIVIL E CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. CARTÃO DE CRÉDITO. EXTRAVIO. 1. A melhor exegese dos arts. 14 e 18 do CDC indica que todos aqueles que participam daintrodução do produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente por eventualdefeito ou vício, isto é, imputa-se a toda a cadeia de fornecimento a responsabilidade pelagarantia de qualidade e adequação. 2. No sistema do CDC, fica a critério do consumidor a escolha dos fornecedores solidáriosque irão integrar o polo passivo da ação.  Poderá exercitar sua pretensão contra todos ouapenas contra alguns desses fornecedores, conforme sua comodidade e/ou conveniência. 3. São nulas as cláusulas contratuais que impõem exclusivamente ao consumidor aresponsabilidade por compras realizadas com cartão de crédito furtado ou roubado, até omomento da comunicação do furto à administradora. Precedentes. 4. Cabe às administradoras, em parceria com o restante da cadeia de fornecedores do

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serviço (proprietárias das bandeiras, adquirentes e estabelecimentos comerciais), averificação da idoneidade das compras realizadas com cartões magnéticos, utilizando-sede meios que dificultem ou impossibilitem fraudes e transações realizadas por estranhosem nome de seus clientes, independentemente de qualquer ato do consumidor, tenha ounão ocorrido roubo ou furto. Precedentes. 5. Recurso especial provido. (REsp 1058221/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em04/10/2011, DJe 14/10/2011). Os grifos são da magistrada sentenciante.   Ressalte-se, por oportuno, que a obrigação de colocar no mercado somente produtos ouserviços sem defeitos ou vícios é objetiva, de resultado, de sorte que não cabe perquirir dequal dos fornecedores foi a culpa.   De mais a mais, tem-se que uma das grandes vantagens alardeadas pelos fornecedores decartões de crédito é a segurança. O consumidor é levado a crer que se trata de um sistemaseguro e que mesmo havendo roubo ou furto do cartão estará protegido contra o uso indevido porterceiros.   Não é essa, porém, a situação encontrada nos autos. Consoante admitiu a própria CaixaEconômica Federal, após análise realizada pelo setor técnico competente da instituiçãofinanceira, concluiu-se que o autor efetivamente não realizou as despesas contestadas,tendo sido, na realidade, vítima de fraude, através da falsificação do seu cartão de crédito.   Ora, ao disponibilizar o serviço no mercado, devem os fornecedores arcar com os riscos a elesinerentes.   Assim, diante da falha na segurança do serviço oferecido, a responsabilidade recairá nãoapenas sobre a administradora, mas, como destacado anteriormente, sobre todos aquelesque compõem a cadeia de fornecimento.   Nesse contexto, no caso dos autos, não resta dúvida acerca da responsabilidade daMASTERCARD pelos danos eventualmente suportados pelo autor.   (Os trechos negritados provêm do texto original.)    Todavia, se é certo que a MASTERCARD não poderia se eximir da responsabilidade por

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eventuais danos suportados pelo autor, em razão da solidariedade passiva alhures demonstrada,igualmente certo é que a transação que o credor (ora apelado) celebrou com a CEF, dando plenae irrevogável quitação da dívida total referente à demanda, sem qualquer ressalva (consoante seconstata do Termo de Transação com id. 281994), aproveita integralmente à apelante,extinguindo a obrigação respectiva também em relação a esta (à MASTERCARD), por incidênciado preceptivo do art. 844, caput e § 3º, do Código Civil Brasileiro, do seguinte teor:   Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda quediga respeito a coisa indivisível. (...) § 3o Se entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores.   Nessa linha intelectiva há enfáticos precedentes jurisprudenciais do STJ, assim ementados:   ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL.LEI Nº 6.024/74. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIOECONÔMICO. PROTEÇÃO. MERCADO FINANCEIRO E CONSUMIDORES. ACORDO ENTREAS PARTES. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO BACEN. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃODO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535, I e II, DO CPC. NÃOCONFIGURADA. 1. "A responsabilidade civil extracontratual do Bacen decorrente de comportamento omissivofrente a ato de sua atribuição é subjetiva. Consequentemente, sua responsabilidade somenteocorre no caso de o ente público atuar de forma omissa, quando a lei lhe imponha o dever deimpedir o evento lesivo." REsp 242513/RS, DJ de 01.07.2005. Precedente: Ag 988679, RelatorMin. Luiz Fux, 27/05/2008. 2. A previsão do artigo 844, § 3º, do Código Civil, torna inequívoco que a transação não aproveitae nem prejudica senão os que nela intervieram, verbis: Art. 844 - A transação não aproveita, nemprejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível. (...) § 3º - Seentre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores. 3. In casu, consta da sentença (fls. 648) que os réus JOFRAN DISTRIBUIDORA DE TÍTULOS EVALORES MOBILIÁRIOS LTDA (instituição financeira em liquidação extrajudicial) e JOÃO DEOLIVEIRA FRANCO NETO em audiência judicial celebraram acordo, pelo qual declararam osautores haver recebido seus créditos constantes no Quadro Geral de Credores, deles dandoplena, geral e irrevogável quitação, conforme instrumento de cessão de créditos firmado entre osautores e a empresa JOFF - Construção Civil, Administração e Participações LTDA, pessoajurídica estranha à  presente lide. 4. O Bacen, posto não ter participado do referido acordo, responde solidariamente e,portanto, se aproveita dessa transação, razão pela qual se exonera da referidaresponsabilidade nos limites da quitação.

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5. A admissão do Recurso Especial pela alínea "c" exige a comprovação do dissídio na formaprevista pelo RISTJ, com a demonstração das circunstâncias que assemelham os casosconfrontados, não bastando, para tanto, a simples transcrição das ementas dos paradigmas(Precedentes:AgRg no AG 394.723/RS, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 19/11/2001;REsp 335.976/RS, Rel. Min. Vicente Leal, DJ 12/11/2001). 6. Inexiste ofensa ao art. 535, I e II, CPC, quando o Tribunal de origem pronuncia-se de formaclara e suficiente sobre a questão posta nos autos, cujo decisum revela-se devidamentefundamentado. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte,desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 7. Recurso Especial provido. (REsp 866.355/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2008, DJe23/04/2009)   DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. ACORDO ENTRE AS PARTES. QUITAÇÃOPARCIAL. EXCLUSÃO DE UM DOS DEVEDORES. 1. O art. 844, § 3º, do Código Civil estabelece que a transação não aproveita  nem prejudicasenão aos que nela intervierem. Contudo, se realizada entre um dos devedores solidários eseu credor, extingue-se a dívida em relação aos co-devedores. 2. A quitação parcial da dívida dada pelo credor a um dos devedores solidários por meio detransação, tal como ocorre na remissão não aproveita aos outros devedores, senão até aconcorrência da quantia paga. 3. Se, na transação, libera-se o devedor que dela participou com relação à quota-parte pela qualera responsável, ficam os devedores remanescentes responsáveis somente pelo saldo que, prorata, lhes cabe. 4. Agravo provido. (AgRg no REsp 1002491/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA,julgado em 28/06/2011, DJe 01/07/2011).   RESCISÃO E INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULOS.TRANSAÇÃO REALIZADA ENTRE ADQUIRENTE-CREDOR E UM DOS DEVEDORESSOLIDÁRIOS (AGENCIADOR) SOBRE OS DANOS MATERIAIS. EXTINÇÃO DA DÍVIDA EMRELAÇÃO AO CODEVEDOR SOLIDÁRIO POR FORÇA DO ART. 844, § 3º DO CC/02.IMPROCEDENTE. 1. A preliminar de ilegitimidade passiva deve ser rejeitada, uma vez que o negócio havido entre aspartes, segundo afirmações do autor, envolveu três pessoas: a empresa proprietária do veículovendido, um agenciador, e o próprio adquirente. Considerando que o pedido deduzido pelo autorconsiste da rescisão deste contrato e indenização, resulta evidente a legitimação da empresapara responder a esta demanda.

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2. A homologação judicial de acordo realizado entre o adquirente-credor e apenas um dosdevedores solidários extingue a dívida em relação aos demais codevedores por força daregra inscrita no art. 844, § 3º do CC/02. (...) (AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 600.757 - RS (2014/0271000-2) - Relator MinistroPAULO DE TARSO SANSEVERINO, 27/11/2015)   A título de ilustração, trago à colação os atualíssimos, e de insuperável pertinência temática,precedentes jurisprudenciais emanados pelos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul e do Riode Janeiro, a saber:   TJ-RS - Apelação Cível AC 70064481864 RS (TJ-RS)  Data de publicação: 16/11/2015 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIADE NULIDADE CONTRATUAL. EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS. UTILIZAÇÃO DEDOCUMENTOS POR TERCEIROS. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.RESPONSABILIDADE OBJETIVA.  INDENIZAÇÃO. TRANSAÇÃO HOMOLOGADAJUDICIALMENTE. SEM RESSALVAS QUANTO AO PROSSEGUIMENTO DA DEMANDA.EXTINÇÃO DO FEITO EM  RELAÇÃO  AO DEVEDOR SOLIDÁRIO.  Resta prejudicado o exame do apelo interposto pela co-ré, ante a superveniência do acordofirmado entre o autor e o banco co-réu, no qual, sem ressalvas, o demandante desistiu doprosseguimento da ação, concordando com a extinção do feito, com resolução de mérito, nostermos do art. 269, III, do CPC. Ademais, o § 3º do art. 844 do Código Civil é claro ao disporque a transação extingue a dívida com relação aos co-devedores, quando firmada entre ocredor e um dos devedores solidários. Apelação prejudicada. (Apelação Cível Nº70064481864, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: UmbertoGuaspari Sudbrack, Julgado em 12/11/2015).   TJ-MG - Apelação Cível AC 10701100324642001 MG (TJ-MG)  Data de publicação: 11/10/2013 Ementa: APELAÇÃO.  AÇÃO COBRANÇA SEGURO CUMULADA COM DANO MORAL EMATERIAL. RELAÇÃO DE CONSUMO. SOLIDARIEDADE PASSIVA. TRANSAÇÃO ENTRE OAUTOR E DOIS DOS RÉUS- APLICAÇÃO DO ARTIGO 844, § 3º DO CÓDIGO CIVIL.EXTINÇÃO DA DÍVIDA EM RELAÇÃO A TODOS OS DEVEDORES SOLIDÁRIOS. - Diante da solidariedade passiva a obrigação é única com respeito aos devedores, tantoque o credor pode exigi-la apenas de um ou de todos. - Considerando que o acordocelebrado entre o Apelante e dois dos devedores diz respeito à integralidade da dívida,sendo que, há solidariedade no pólo passivo da demanda, pois se trata de relação de

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consumo (art. 7º, parágrafo único do CDC), aplicável a previsão do art. 844, § 3º do CódigoCivil , aproveitando a transação para extinguir a dívida em relação aos co-devedores solidários.   Destarte, como a mencionada transação culminou com a extinção da integralidade da dívida emcobrança, em relação aos codevedores solidários (CEF e MASTERCARD), esgotou-se todo oconteúdo da demanda, de sorte que a extinção do processo, com resolução do mérito, nosmoldes do art. 269, III, do CPC, alcança também à MASTERCARD. Sendo assim, apesar de tal questão ter passado ao largo do julgamento de primeiro grau, e nãoter sido agitada pela apelante em suas razões recursais, não se pode olvidar que configuramatéria de ordem pública, que, como tal, autoriza o conhecimento de ofício por esta InstânciaRevisora. Por todo o exposto, dou provimento à apelação em tela, para, procedendo à reforma ex officio dasentença objurgada, estender à MASTERCARD BRASIL SOLUÇÕES DE PAGAMENTO LTDA osefeitos da homologação da transação envidada entre o autor/apelado e a CEF, assim como osefeitos da respectiva extinção do processo, com resolução do mérito, a teor do art. 269, III, doCPC, com o consequente afastamento da aventada condenação da MASTERCARD em danosmorais, mantendo, no mais, a sentença revisada.   É como voto.   Tribunal Regional Federal da 5ª Região Gabinete do Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho     PJe-AC 0801206-15.2013.4.05.8300 APELANTE : MASTERCARD BRASIL SOLUÇOES DE PAGAMENTO LTDA. ADV               : FERNANDO COIMBRA JUNIOR ADV               : ERALDO MONTEIRO MICHILES APELADO    : ALEXANDRE PEDROSA DE ALMEIDA ADV               : CARLOS HENRIQUE LEDEBOUR LÓCIO TERCEIRO   : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL- CEF ORIGEM        : 5ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO

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RELATOR    : DES. FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO - 2ª TURMA                                     (férias - 11/01 a 09/02/2016) RELATOR    : DES. FEDERAL RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR (convocado)                                                         EMENTA   CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E CÓDIGO DO CONSUMIDOR. ILEGITIMIDADE PASSIVA ADCAUSAM. CONFUSÃO COM O MÉRITO. FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM. CARTÃO DECRÉDITO CLONADO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAMASTERCARD E DA CEF. ARTS. 14, 18 E 20 DO CDC. TRANSAÇÃO REALIZADA ENTRE ACEF E A PARTE LESADA. HOMOLOGAÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO EM RELAÇÃO ÀCEF (ART. 269, III, DO CPC). CONDENAÇÃO DA MASTERCARD EM DANOS MORAIS.INCIDÊNCIA DO ART. 844, CAPUT E § 3º, DO CÓDIGO CIVIL. TRANSAÇÃO COM QUITAÇÃOINTEGRAL DA DÍVIDA REALIZADA COM UM DEVEDOR. PROVEITO PARA O CODEVEDORSOLIDÁRIO. APELAÇÃO PREJUDICADA. SENTENÇA REFORMADA EX OFFICIO PARAESTENDER À MASTERCARD OS EFEITOS DA HOMOLOGAÇÃO DA TRANSAÇÃO COM ACEF. 1.  Trata-se de recurso de apelação, interposto por MASTERCARD BRASIL SOLUÇÕES DEPAGAMENTO LTDA contra a sentença que, homologando transação realizada entre o apelado ea CEF, extinguiu o feito com resolução do mérito, em relação à Caixa, porém julgou procedente,em parte, o pleito do apelado/autor, relativamente à apelante (MASTERCARD), condenando-a emdanos morais arbitrados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 2.  Em suas razões recursais, a apelante suscitou preliminar de ilegitimidade para figurar no polopassivo da demanda, argumentando, em síntese, que o fato da existência da marca"MASTERCARD" no cartão do autor não significa que tal empresa efetivamente administre ocontrato que envolve o serviço em questão. 3.  A preliminar de ilegitimidade passiva, suscitada pela MASTERCARD BRASIL SOLUCOES DEPAGAMENTO LTDA confunde-se com o próprio mérito. Aplicação da fundamentação perrelationem. 4.  Na reparação de dano decorrente de fraude em cartão de crédito, respondem solidariamente aempresa detentora da bandeira (no caso a MASTERCARD) e a instituição administradora docartão (CEF), por caracterizar formação de cadeia de fornecedor de serviço, nos termos dosartigos 14, 18 e 29 do CDC. 5.  A transação que o credor (ora apelado) celebrou com a CEF, dando plena e irrevogávelquitação da dívida total referente à demanda, sem qualquer ressalva (consoante se constata doTermo de Transação com id. 281994), aproveita integralmente à apelante, extinguindo aobrigação respectiva também em relação a esta (à MASTERCARD), por incidência do preceptivodo art. 844, caput e § 3º, do Código Civil Brasileiro. 6.  Sentença de primeiro grau reformada, ex officio, para estender à MASTERCARD BRASIL

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SOLUÇÕES DE PAGAMENTO LTDA os efeitos da homologação da transação envidada peloautor/apelado, bem como os efeitos da extinção do processo, com resolução do mérito, a teor doart. 269, III, do CPC, com o consequente afastamento da condenação da MASTERCARD emdanos morais, mantendo, no mais a sentença revisada. 7.  Apelação provida.                                                   ACÓRDÃO    Vistos, etc.   Decide a Egrégia Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar provimento à apelação, reformando, em parte, a sentença recorrida, nos termos do votodo relator. Recife (PE), 02 de fevereiro de 2016. (Data do julgamento)     Desembargador Federal RAIMUNDO ALVES DE CAMPOS JÚNIOR                              Relator (convocado)       /racj