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Tribunal de Contas

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  • Tribunal de Contas

  • O trabalho de fiscalização tem sido alvo de fortescriticas e também de contestação por parte doExecutivo. Economistas ouvidos pelo i admitemque tem havido alguma "agressividade"por parte do Governo que entendem"não ser desejável nem compreensível".

    SÔNIA PERES PINTOsortia, pm to @ ionline.pt

    O Tribunal de Contas (TdC) arrancouo ano com auditorias arrasadoras e quefizeram correr tinta. O verniz estalouentre a entidade liderada por Vítor Cal-deira e o Governo, com este último arefutar muitas das conclusões dos docu-mentos. A venda de imóveis por parteda Segurança Social e o modelo de finan-ciamento do ensino superior foram os

    que receberam reações mais "tempes-tivas". Mas com o relatório sobre a aná-lise das infraestruturas, onde é revela-do que "perto de dois terços (62,2%) davia férrea se apresenta num estado quecarece de investimento", o presidentedo TdC foi chamado ao Parlamento faceà "necessidade de aprofundar" os pro-blemas levantados.

    Esta quinta-feira, o vice-presidentedo Tribunal de Contas, António Mar-tins, esclareceu que os atrasos na exe-

    cução do Plano Estratégico dos Trans-

    portes e Infraestruturas não se devema recusa de visto de fiscalização prévia

    da entidade.Mas estas reações não são exclusivas

    deste Executivo: também os anterioresGovernos sempre "lidaram mal" commuitas das conclusões do TdC.

    Contactado pelo i, João Duque admiteque estes comportamentos são "natu-rais", mas garante que o atual Governotem tido "alguma reação epidérmica quenão é desejável nem compreensível". Evai mais longe: "Não fica muito bem aoGoverno este tipo de atitudes", acrescen-tando que a velha máxima de "à justiçao que é da justiça não se aplica a todos",já que o Tribunal de Contas é um órgãode controlo dentro do Estado. Ainda assim,lembra que as "sanções que podem seratribuídas ao Executivo não passam de

    sanções políticas". E dá como exemplo areação do presidente da Câmara de Lis-boa quando confrontado com o caso davenda de imóveis (ver abaixo).

    Apesar de o economista reconhecer queas análises feitas pelo Tribunal de Con-tas são sérias e técnicas, admite que àsvezes pecam por excesso de rigor técni-co. "O TdC é um bocadinho fechado e

    aparentemente tem uma leitura muitorestritiva. Também os técnicos apresen-tam uma visão muito focada mas, cmalguns casos, desinserida dos problemas.Não é uma leitura errada, mas não con-templa a realidade em que os problemasestão inseridos. Na maioria dos casos, osgestores públicos tomam decisões masnão é para seu proveito nem para lesaro Estado. É quase como os médicos quequerem tratar o problema, mas esque-cem-se do doente", refere ao í.

    E lembra a sua experiência enquantoprofessor universitário, "Tenho de medeslocar a outra cidade e, em vez decomprar um bilhete de transporte epedir o reembolso, tem de ser a univer-sidade a fazer essa compra através daagência que contratualizou. Acaba porsair mais caro porque tem de pagar umacomissão mas, se não o fizer, está a vio-lar as regras. No fundo, estaria a bene-ficiar o Estado, mas se o fizesse seriasancionado pelo Tribunal de Contas".

    Também para Pedro Ferraz da Cos-ta, esta "pressão" do Executivo sobre oTdC não é nova, e lembra o mandato

    de Guilherme d'Oliveira Martins, entre2005 e 2015. "O Governo sempre teveopiniões diferentes. Mas sempre foiassim. Todos se lembram da célebrefrase de Cavaco Silva 'deixem-nos tra-balhar', sugerindo a existência de for-

    ças de bloqueio", garante ao í.No entanto, o presidente do Fórum para

    a Competitividade estranha que "alguémvenha a dizer que se audita demais cmPortugal", acrescentando que "hã sem-

    pre um afastamento entre a opinião públi-ca, eventualmente pouco esclarecida,que quer mais inspeçÕes, e o Governo,que acha tudo em demasia".

    E lembra que países onde há um maiorcontrolo e escrutínio são, por norma,economias mais desenvolvidas. "Nonosso caso há menos escrutín io e, depois,são sempre os contribuintes a pagar afatura. Há muitos anos que Portugalvive contra a autoridade, seja ela qualfor", diz, aconselhando o Executivo aque "haja bom senso".

    Já Mira Amaral defende que as enti-dades visadas têm o direito à defesaface às conclusões que são apresen-

    TdC. Governoabre guerraàs auditorias

    Zoom // Tribunal de Contas

  • tadas pelo TdC. No entanto, admiteque a forma como são feitas essas crí-ticas "são exageradas e é usado umestilo agressivo".

    O economista lembra que "ninguémé perfeito, nem mesmo os órgãos de

    supervisão e, por isso, todas as conclu-sões podem e devem ser escrutinadas".Mas face à reação que tem sido mos-trada pelo Executivo, não tem dúvidas:"Parece que o Governo não quer serfiscalizado pelos órgãos competentes",diz ao i.

    Também para António Bagão Félixexiste sempre o princípio do contradi-tório. No entanto, admite que com esteGoverno existe "uma magnitude dife-rente do ponto de vista quantitativo equalitativo", admitindo que existe "mani-festamente uma relação inadequadaentre o Executivo e os órgãos de sobe-rania, nomeadamente o Tribunal deContas", diz ao ;'.

    O economista vai mais longe e lem-bra que "o principal propósito do Tri-bunal de Contas é escrutinar o cará-ter regular das ações que implicamdespesas. No entanto, lembra que este"tom" usado pelo Governo de AntónioCosta não é comum em relação a Gover-nos anteriores. "É usado um tom a quenão estávamos habituados e dá a sen-

    sação de que o Tribunal de Contas é

    um tribunal menor, quando é umaentidade importante num Estado dedireito", refere.

    Bagão Félix garante ainda que, comocontribuinte "não gosta deste tipo decomportamento" por parte do atualGoverno, uma vez que, no seu enten-der, "dá ideia que tenta condicionar otrabalho" do Tribunal de Contas. "Comocontribuinte, quero que o Tribunal deContas seja uma entidade eficaz, justae célere". Mas ao i admite que "estaprática é típica dos Governos socialis-tas", E vai mais longe: "O que seria seeste tipo de reações partisse de Gover-nos de extrema-direita?" E responde:"Seria o fim do mundo".

    O certo é que nem todas as conclu-sões das auditorias realizadas pela ins-

    tituição liderada por Caldeira Cabral"caem bem" às entidades que são visa-das. Ainda esta quinta-feira foram divul-

    gadas as conclusões da auditoria rea-lizada ao Hospital das Forças Armadas

    (HFAR) e foram identificadas "falhasno sistema de controlo interno, nomea-damente a ausência de instrumentos

    previsionais de gestão, de controlo ereporte dos resultados operacionais econtabilísticos do hospital, e deficiên-cias nos procedimentos de contrataçãopública e de realização da despesa",acrescentando-se que "a informaçãofinanceira extraída dos sistemas deinformação contabilistica apresentavárias deficiências, destacando-se aomissão de informação relevante sobreo património e os custos do HFAR".

    Foram também identificadas váriasirregularidades nos processos de aqui-sição de serviços, "que denotam falhasno planeamento atempado das neces-sidades, na definição de funções e res-ponsabilidades e no controlo do cum-primento pontual dos contratos cele-brados". Já os processos analisadosapresentam indícios da prática de infra-

    ções financeiras, "devido à preteriçãode normas relativas à formação e exe-cução dos contratos públicos; ao con-trolo orçamental da despesa; à compe-tência para realização da despesa e à

    "O Governo tem tidoalguma reação epidérmicaque não é desejávelnem compreensível",diz João Duque

    "Há muitos anosque Portugal vivecontra a autoridade,seja ela qual for",alerta Ferraz da Costa

  • sujeição de atos e contratos ao contro-lo prévio do Tribunal de Contas", refe-re o documento.

    E as críticas não ficam por aqui. Deacordo com o TdC. o hospital está a serutilizado abaixo das suas capacidades,uma vez que a realização de exames ecirurgias aos utentes do SNS previstaficou "aquém do esperado" e que onúmero de camas e médicos não estáa ser rentabilizado.

    FINANCIAMENTODO ENSINO SUPERIOR

    O relatório do Tribunal de Contas publi-cado em fevereiro, e também polémico,disse respeito ao financiamento das ins-

    tituições de ensino superior (lES) atra-vés dos contratos celebrados entre 2016e 2019 e que, segundo o documento, não

    cumpriu o acordo previsto na lei de basesnem "promoveu o desempenho eficien-te e a qualidade das instituições".

    As reações não se fizeram esperar,com o ministro da Ciência, Tecnologiae Ensino Superior a garantir que o rela-tório do TdC "não aponta qualquer ile-galidade no processo de financiamen-to do ensino superior, limita-se a umaavaliação geral, de lugares-comuns, deíndole política". Segundo Manuel Hei-tor, o relatório "é um elogio à burocra-cia e à ignorância, não enquadra o ensi-no superior português nos desafios daconvergência com a Europa, faz ape-nas considerações de índole política".E acrescentou: "Toda a informação for-necida mal foi usada".

    Estas declarações levaram o TdC agarantir que irá continuar "a cumpriras suas funções com respeito pelos prin-cípios da independência, isenção eimparcialidade, em nome do superiorinteresse público, na defesa dos inte-resses dos cidadãos e contribuintes",lembrando que compete à entidade,entre várias atribuições, fiscalizar alegalidade e regularidade das receitase despesas públicas e apreciar a gestãofinanceira pública, e que a sua missãoé feita "no respeito pelo principio daseparação de poderes".

    No seu relatório, o Tribunal de Con-tas recorda que, durante esse perío-

    do, foram celebrados dois contratos,e no seu financiamento "não foramconsiderados nem o desempenho daslES, nem os critérios objetivos dequalidade e de excelência, valores-padrão e indicadores de desempe-nho, todos eles previstos na Lei de

    Bases". A auditoria diz ainda que nãoforam considerados os fatores exter-nos das instituições de ensino supe-rior. É o caso, por exemplo, da evo-lução demográfica, as suas especifi-cidades e "os resultados e níveisqualitativos ou qualquer outro cri-tério suscetível de conferir um finan-ciamento diferenciador, promotor dagestão eficiente e do desempenho daslES, premiando o mérito e alavan-cando a excelência".

    Face a esse cenário, considera o TdCque "as insuficiências observadas colo-caram em crise o princípio orçamen-tal da transparência". E não só: de acor-do com a entidade liderada por VítorCaldeira, não foi estabelecida "qual-quer afetação específica" a atividadesprincipais, investimento, desenvolvi-mento de projetos, investigação ououtras atividades - uma situação que.segundo a mesma, prejudica a clarezada atribuição do financiamento e nãocontribui para melhorar o desempe-nho das lES.

    O TdC detetou ainda que existe depen-dência entre contratos, vigência do

    "Parece queo Governo não querser fiscalizado pelos

    órgãos competentes",diz Mira Amaral

    TdC arrasoufinanciamento do ensino

    superior, mas ministrofala em "elogio à

    burocracia e ignorância"

    Citações

    "Não fica muitobem ao Governo estetipo de atitudes (....)a velha máxima 'à justiçao que é da justiça'não se aplica a todos"

    João DuqueECONOMISTA

    "O Governosempre teve opiniõesdiferentes. Mas nemsempre foi assim.Todos se lembramda célebre frasede Cavaco Silva'deixem-nos trabalhar',sugerindo a existênciade forças de bloqueio"

    Pedro Ferraz da CostaECONOMISTA

    "Ninguém é perfeito,nem mesmo os órgãosde supervisão e,por isso, todasas conclusões podemser escrutinadas"Mira AmaralECONOMISTA

    "Há uma magnitudediferente do pontode vista qualificativoe quantitativo.O principal propósitodo Tribunal de Contasé escrutinar o caráterregular das ações queimplicam despesas"António Bagão FélixECONOMISTA

    Uma das auditorias maispolémicas foi à venda de

    imóveis por parte da SegurançaSocial durante o consulado

    de Vieira da Silva, mas a vozmais crítica foi a de Fernando

    Medina ao afirmar que orelatório é de "fraca qualidade",

    acusando mesmo o TdCde estar a fazer "política pura"

  • Governo e diplomas orçamentais e,como tal, considera que "a estabilida-de e a previsibilidade, que são relevan-tes para uma gestão autónoma e estra-tégica das instituições, não estão garan-tidas no longo prazo, além da legislatura",uma vez que defende que "a estabili-dade e previsibilidade do financiamen-to, fundamentais à autonomia e à boagestão das lES, bem como ao desenvol-vimento das suas estratégias", ficamcomprometidas.

    A entidade liderada por Vítor Caldei-ra recomenda ao ministro da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior que asse-

    gure o cumprimento integral da Leide Bases de Financiamento do Ensi-no Superior ou promova as diligên-cias necessárias à sua alteração. Aomesmo tempo, aconselha a que sejamlevadas a cabo as melhorias necessá-rias para acabar com as insuficiênciase fragilidades identificadas pela audi-toria, assim como a promoção da divul-

    gação dos resultados das ações deacompanhamento e controlo do finan-ciamento público das lES que vierema ser realizadas.

    INFRAESTRUTURASANALISADAS A RAIO-X

    Também no início de fevereiro, o Tri-bunal de Contas avaliou o estado deconservação das infraestruturas por-

    tuguesas e concluiu que o estado deconservação de 12%, ou seja, 936 infraes-truturas sob a alçada da Infraestrutu-ras de Portugal (IP) é "inferior a regu-lar" ou não está classificado.

    E, tal como tem acontecido com outrasauditorias, o Governo afastou acusa-ções. A resposta veio do ministro dasInfraestruturas e Habitação ao afirmarque "a segurança não está em causa".Pedro Nuno Santos foi mais longe aogarantir que "a segurança é preocupa-ção número um da IP" e acrescentouque "nenhuma infraestrutura pode estaraberta e sem condicionalidades se nãoestiver em condições". O "nível de clas-

    sificação do estado dessas obras é fun-damental para, dentro da IP, poderemcalendarizar a necessidade e o tempopara fazer as intervenções", assegurou.

    Nesta análise, o TdC diz que existeum "risco material" nesta área, tendoem conta que o "conjunto das 7608obras de arte [como pontes, viadutosou túneis] em exploração sob jurisdi-ção direta da IP" não abrange "infraes-truturas de transportes sob gestão deoutras entidades públicas ou objeto de

    concessão, cujo risco de inoperaciona-lidade importa conhecer".

    A entidade alerta para o facto de "oestado de conservação de 936 das obrasde arte (12%) ser inferior a regular (satis-fatório) para 779 obras ou não estarclassificado (ainda não estar inspecio-nado) para 157 obras".

    O TdC diz ainda que o estado de con-dição dos ativos é "inferior a satisfatórioem 33% da ferrovia e 18% da rodovia,com destaque para 62% da via-férrea,em que 15% é avaliada com estado insa-tisfatório (necessita de investimento)".

    Esta auditoria também analisou amaterialidade financeira do investi-mento previsto no PETI3+ que faltavarealizar no final de dezembro de 2018face à taxa de execução financeira repor-tada na Conta Geral do Estado desseano: 13%.

    Face a este cenário, o Tribunal de Con-tas aconselhou o Governo a promoveras condições para que o investimentonestes planos seja implementado, des-tacando que é preciso "concretizar, comurgência, o financiamento necessáriopara, pelo menos, passar a satisfatórioo estado de condição das infraestrutu-ras avaliado como insatisfatório", entreoutras recomendações.

    VENDA DE IMÓVEIS:O MAIS POLÉMICO

    A auditoria mais polémica deste anofoi, sem dúvida, a alienações de imó-veis levadas a cabo pela SegurançaSocial entre 2016 e 2018. Lançado emjaneiro, o documento concluiu queessa venda não teve em conta a maxi-mização de receitas e que a seleçãodos imóveis e dos procedimentos devenda não foi fundamentada do pon-to de vista económico-financeiro, "ten-do a venda dos imóveis sido realiza-da maioritariamente por procedimen-to de ajuste direto, na sequência dapublicitação de anúncios no sitio daSegurança Social na internet".

    E os alertas prosseguiram. Segundoa entidade liderada por Vítor Caldeira,assistiu-se a um diferencial entre o valorde mercado e o valor de venda dos imó-veis que nos procedimentos de ajuste

    TdC falou eminfi-aestruturas em risco

    de inoperacionalidade.Governo garante

    a sua segurança

    Venda de imóveispor parte da Segurança

    Social não teve emconta a maximização

    de receitas

  • direto foi de apenas 1,7%, "revelandoexígua criação de valor", enquanto nos

    procedimentos por concurso foi de 12,1%

    e, por venda eletrónica, 21,6%.A voz de Fernando Medina foi a mais

    mordaz ao afirmar que o relatório é de"fraca qualidade", acusando mesmo oTdC de estar a fazer "política pura" comesta conclusão. O presidente da Câma-ra de Lisboa disse ainda que os técni-cos que o elaboraram preferiam que aSegurança Social fizesse "especulação"em vez de ajudar à causa de fornecerhabitação a preços acessíveis.

    "O que o Tribunal de Contas vem dizeré que a Segurança Social devia ter espe-culado no mercado imobiliário venden-do ao mais alto preço e utilizando astécnicas todas que pudesse utilizar parahipervalorizar o seu património", refe-riu o autarca. E foi mais longe: "Seja-mos claros. O Tribunal de Contas ava-liou uma operação, avaliou todo o seuconteúdo, os contratos, as avaliações,e deu visto favorável à compra pelaCâmara Municipal de Lisboa de 11 imó-veis da Segurança Social. E o mesmoTribunal de Contas vem, uns mesesdepois, num outro relatório de outrasecção do Tribunal de Contas, tecer for-tíssimas críticas ã operação", disse.

    De acordo com o chefe do executivomunicipal, a Segurança Social, "nestaoperação, teve lucro". E explicou: "Por-

    que comprou um edifício por cerca de56 milhões de euros, alienou 11 edifí-cios de imediato à Câmara de Lisboa,sem nenhuma chatice, sem nenhumadificuldade adicional, por mais de 57milhões de euros, ao mesmo tempo quecontribuiu para um objetivo de rendaacessível", justificou.

    Esta declaração foi ao encontro do quetambém foi defendido pelo Ministériodo Trabalho, Solidariedade e Seguran-ça Social ao assegurar que não houve

    qualquer favorecimento na cedência de11 imóveis à Câmara Municipal de Lis-boa, considerando que a operação "foirentável" para a Segurança Social.

    Mas a reação da entidade lideradapor Vitor Caldeira não se fez esperarao garantir que atuou de forma "coe-rente e conforme a lei", considerandoas tomadas de posição públicas comoinaceitáveis.

    "A atuação do Tribunal foi coerente econforme a lei: apreciou, no âmbito dafiscalização prévia, a legalidade de umcontrato gerador de despesa no municí-pio de Lisboa e realizou uma auditoria,de âmbito alargado, à gestão e alienaçãodo património da Segurança Social", acres-centando que "tendo em vista informaros cidadãos, o Tribunal esclarece que nos

    processos de fiscalização prévia é exclu-sivamente apreciada a legalidade dos atosou contratos geradores de despesa quelhe são submetidos, à luz das informa-ções que lhe são apresentadas naquelemomento, e se os respetivos encargostêm cabimento orçamental".

    Apesar de garantir respeitar as "opi-niões divergentes", o TdC considerou"inaceitáveis tomadas de posição públi-cas que não respeitem institucionalmen-te o Tribunal enquanto órgão de sobe-rania, os seus juizes e os seus técnicos".

    Segundo a auditoria, dos 147 imóveisalienados no triénio 2016-2018, dosquais 71 no concelho de Lisboa, no valor

    global de 40,8 milhões de euros, foramalienados por ajuste direto 61 (41,5%),representando 28,3% (11,6 milhões deeuros) da receita total. Por concursoforam alienados 50 imóveis (34%), nomontante de 21,7 milhões de euros(53,2%); por venda eletrónica, 28 (19%),por 7,3 milhões de euros (18%); e porvenda direta ao arrendatário 8 (5%),por 0,2 milhões de euros (0,5%).

    E o documento lembra que foi utiliza-do como critério de adjudicação, em pro-

    Ministério de AnaMendes Godinho

    afastou favorecimentos,TdC diz que atuou

    de forma "coerente"

    TdC respondeu econsiderou "inaceitáveis

    tomadas de posiçãopúblicas que não

    respeitem o Tribunal"

    Citações

    "O financiamentodas instituições nãocumpriu o acordode lei de basesnem promoveuo desempenhoeficiente e a qualidadedas instituições"Tribunal Constitucional

    "O relatório nãoaponta qualquerilegalidade no processode financiamentodo ensino superior,limita-se a umaavaliação geral,de lugares-comuns,de índole política"Manuel HeitorMINISTRO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIAE ENSINO SUPERIOR

    "O TdC irá cumpriras suas funçõescom respeito pelosprincípios daindependência, isençãoe imparcialidade,cm nome do superiorinteresse públicona defesa dosinteresses dos cidadãose contribuintes (...)e compete à entidadefiscalizar a legalidadedas receitas e despesaspúblicas"

    Tribunal de ContasEM RESPOSTA A MANUEL HEITOR

    Zoom // Tribunal de Contas

  • Tribunal de Contas revelou quea Segurança Social pagou maisde 700 milhões de forma indevidaa milhares de beneficiários quenão devolveram o dinheiro, segundoo parecer da Conta Geral do EstadoMIGUEL SILVA

    cedimentos de alienação de imóveis porajuste direto, a ordem de entrada das pro-postas. Como tal, garante que não foi tidaem conta a proposta de maior valor e,por isso, verificou-se uma perda poten-cial de receita na alienação de 10 imóveisde 0,3 milhões de euros.

    O TdC apontou também o dedo ao Ins-tituto de Gestão Financeira da Seguran-ça Social ao considerar que este "não ado-tou as melhores práticas quer na avalia-

    ção de imóveis quer na divulgação epublicidade dos procedimentos de alie-

    nação, de modo a atingir novos merca-dos e potenciais interessados". Ao mes-mo tempo, "verificaram-se fainas no preen-chimento das fichas de identificação dosimóveis, seja por inexistência de informa-

    ção obrigatória, seja por informação insu-ficiente ou incorreta; ao nível do inventá-rio de bens imóveis, já que, no triénio2015-2018, foram alienados três imóveis

    que não se encontravam inventariadosnem registados contabilisticamente".

    A auditoria do TdC também avaliou ascondições acordadas para o arrendamen-to, com opção de compra, de um conjun-to de 11 imóveis da Segurança Social pelomunicípio de Lisboa, no memorando deentendimento celebrado com o Ministé-rio do Trabalho, Solidariedade e Seguran-ça Social. De acordo com o documento,esses contratos "não asseguraram, comelevado grau de verosimilhança, a recei-ta expetável para a Segurança Social".

    No final de 2018, a dívida de rendasascendeu a 3,5 milhões de euros, da

    qual cerca de 96% (3,3 milhões deeuros) é de cobrança duvidosa, cor-respondendo a cerca de 18 meses deproveitos de rendas. Dai o TdC consi-derar "que os procedimentos de con-trolo e monitorização dos contratosde arrendamento implementados nãoasseguraram a eficácia na cobrançadas rendas, a recuperação da dívidae uma atuação tempestiva peranteincumprimentos, em prejuízo da sus-tentabilidade do sistema".

    E recomendou à ministra do Traba-lho, Solidariedade e Segurança Social

    que se assegure de instrumentos decooperação com entidades públicaspara que a alienação ou o arrendamen-to de património da Segurança Socialnão prejudiquem a receita desta enti-dade e sejam suportados por estudoseconómico-financeiros.

    SEGURANÇA SOCIAL:PAGAMENTOS INDEVIDOS

    Quase na véspera de terminar o ano, oTdC alertou que, no final de 2018, a Segu-rança Social tinha pago mais de 700milhões de euros de forma indevida amilhares de beneficiários que não devol-veram o dinheiro, revelou no parecerda Conta Geral do Estado. A verba resul-ta do pagamento de prestações já depoisda morte do beneficiário e do fim dasituação de desemprego ou de doença.

    "As prestações sociais a repor corres-

    pondem a dívidas provenientes de paga-mentos indevidos a beneficiários e em2018 totalizam 715 milhões de eurosem valor bruto e 147 milhões de eurosem valor líquido (mais 1,6%, 11 milhões,do que em 2017)", revelou o relatório.

    "Do valor bruto total, 84,5% (604milhões de euros) estava classificadocomo dividas de cobrança duvidosa eprovisionado em 94%, o que significatratar-se de dívidas com antiguidadesignificativa", assinala a entidade defiscalização das contas públicas.

    O Tribunal de Contas indicou que ape-nas 12,5% das dívidas apuradas estavamem pagamento voluntário ou em execu-

    ção fiscal. Cerca de "32 milhões de euros

    (4,4%) referiam-se a planos prestacionaisde cobrança voluntária" e "54 milhões de

    A esmagadora maioriados pagamentos

    indevidos que foramfeitos é considerada

    de difícil cobrança

    TdC indicou que apenas12,5% das dividas

    apuradas estavam empagamento voluntário

    ou execução fiscal

  • Entidade liderada por VítorCaldeira apontou para uma

    tendência para atrasos no circuitode elaboração e aprovaçãoda estratégia de defesa da

    floresta contra incêndiose que estes atrasos são da

    responsabilidade dos municípiose do Instituto da Conservação

    da Natureza e das FlorestasMAI-ALDAGUM£S

    euros (7,5%) estavam participados a exe-

    cução fiscal". Do total participado a exe-

    cução fiscal, cerca de 13 milhões estavam

    enquadrados em planos prestacíonais".No entanto, e apesar das melhorias,

    "ainda se verifica um volume de dívi-da muito significativo que não foi par-ticipado a execução fiscal nem estáenquadrado em planos prestacionaisde cobrança voluntária (88%, 629 milhõesde euros)", sublinham os juizes do TdC.

    Esta não é a primeira vez que o TdCchama a atenção para o acumular dedívidas resultantes do pagamento inde-vido de prestações sociais. Em anterio-res pareceres, a entidade liderada porVítor Caldeira tem insistido na neces-sidade de maior controlo interno, apon-tando várias falhas na informação sobreos beneficiários ou sobre a antiguida-de da dívida que pode prescrever.

    "Estes valores resultam, em parte, defragilidades do sistema traduzidas empagamentos indevidos a beneficiáriose são representativos da dificuldade na

    recuperação dessas dividas, que sócomeçaram a ser participadas a execu-

    ção fiscal em 2014", aponta a entidadefiscalizadora das contas.

    PLANO DE INCÊNDIOSARRASADO

    Antes de terminar 2019, a entidade lide-rada por Vítor Caldeira analisou os Pla-nos Municipais de Defesa da FlorestaContra Incêndios e apontou para umatendência para atrasos no circuito de ela-boração e aprovação da estratégia de defe-sa da floresta contra incêndios (DFCI),garantindo que estes atrasos são da res-

    ponsabilidade não só dos municípios, pornão terem avançado "atempadamentepara a elaboração do novo plano ou demo-rado no seu envio para aprovação", mastambém do Instituto da Conservação daNatureza e das Florestas (ICNF), por nãoter conseguido decidir no tempo legal-mente previsto para o efeito porque emer-

    giram divergências entre as partes - emgeral, relacionadas com as regras de edi-

    ficação em espaço florestal.Mas as criticas não ficaram por aqui. De

    acordo com o mesmo relatório, a estru-tura local de estratégia de defesa da flo-

    resta contra incêndios não está dimen-sionada e organizada de forma a retiraro melhor partido dos planos. "Os gabine-tes técnicos florestais não revelaram capa-cidade para acompanhar a sua execução,a Comissão Municipal de Defesa da Flo-resta (DFCI) revelou-se pouco operacio-

    nal e a coordenação e gestão do Plano

    Municipal de Defesa da Floresta ContraIncêndios (PMDFO) não é exercida", acres-centando que "não foram implementa-dos procedimentos, e definidos níveis de

    responsabilidade, que garantam uma ade-

    quada execução e monitorização".De acordo com o Tribunal de Contas,

    também os sistemas de informação dos

    municípios não estão parametrizados deforma a permitir a análise da execuçãofinanceira dos planos e, como tal, care-cem de desenvolvimentos ao nível da con-tabilidade analítica.

    Para melhorar este sistema, o Tribunalde Contas aconselhou o Governo a avan-

    çar com medidas administrativas que per-mitam aumentar a qualidade do PlanoMunicipal de Defesa da Floresta ContraIncêndios e a promover alterações no qua-dro legal que reforcem a sua eficácia. Aomesmo tempo, sugere que seja definidauma entidade supramunicipal responsá-vel pela monitorização da execução dos

    planos e que a "capacite para o efeito".Já ao Instituto da Conservação da Natu-

    reza e das Florestas pediu que "garan-ta a observação de critérios mínimos

    TdC também revelouatrasos na aprovação

    da estratégia de defesada floresta e apontou

    responsáveis

    Entidade recomenda aoGoverno avançar com

    medidas administrativaspara aumentar plano de

    defesa da floresta

    Citações

    "A venda dos imóveisfoi realizadamaioritariamente porprocedimento de ajustedireto, na sequência dapublicação de anúnciosno sítio da SegurançaSocial na internet (...)assistiu-se a umdiferencial entre o valorde mercado e o valor devenda dos imóveis quenos procedimentos deajuste direto foi de

    apenas 1,7%"Tribunal de Contas

    "O que oTribunal deContas vem dizer é quea Segurança Socialdevia ter especulado nomercado imobiliáriovendendo ao mais altopreço e utilizando astécnicas todas quepudesse parahipervalorizar o seupatrimónio"Fernando Mearia

    PRESIDENTE DA CÂMARA DE LISBOA

    "A atuação foi coerente econforme a lei: apreciouno âmbito da fiscalizaçãoprévia a legalidade deum contrato gerador dedespesa no município deLisboa"

    Tribunal de ContasEM RESPOSTA A FERNANDO MEDINA

  • de qualidade na elaboração dos PMDFCI,bem como a conformidade legal dasregras de edificação e a coincidênciaentre períodos de vigência e de progra-mação", acrescentando que a entidadedeve "zelar pela correção da informa-ção relativa aos pontos de situação dosPMDFCI e disponibilize os dados sobreáreas ardidas por concelho".

    Quanto aos municípios, é sugeridoo reforço não só da eficácia da estra-tégia municipal de defesa da florestacontra incêndios, mas também da ati-vidade de coordenação do Plano Muni-cipal de Defesa da Floresta ContraIncêndios, e que garantam o funcio-namento da Comissão Municipal deDefesa da Floresta.

    ADSE INSUSTENTÁVELA CURTO PRAZO

    No final de outubro, o TdC analisou ascontas da ADSE e, mais uma vez, asconclusões não foram animadoras. Osubsistema de saúde dos funcionários

    públicos só será viável a longo prazo

    se forem tomadas medidas que garan-tam benefícios atrativos, mais jovensentre os beneficiários e mais receitas.

    Os auditores traçam duras críticas ao atua!modelo de gestão do subsistema de saúdedos funcionários públicos, um institutopúblico tutelado por Saúde e Finanças. E

    alertam para a falta de uma estratégia aprazo, avisando que com um universo debeneficiários cada vez mais envelhecido, eas despesas de saúde nas faixas etárias mais

    velhas a aumentarem, a partir de 2020, aADSE começará a dar prejuízo e a almofa-da não vai chegar para muito tempo.

    A previsão é de um défice anual de 17milhões de euros já no próximo ano, comos auditores a projetar que os exceden-tes acumulados até 2019 (535 milhões de

    euros) acabarão por esgotar-se em 2026.O TdC recorda a intenção de alargar o

    universo de beneficiários, decisão adiada

    pelo Governo na última legislatura, e avi-sa que os 100 mil novos beneficiários esti-mados, por exemplo, com a abertura daADSE a funcionários do Estado com con-tratos individuais de trabalho já não garan-tiriam a sustentabilidade. "Seria necessá-rio um alargamento adicional a cerca de300 mil novos titulares com uma idademédia de 30 anos para garantir que o sal-do acumulado da ADSE seria suficienteaté 2028. Para assegurar um saldo anual

    positivo até esse ano, o alargamento teriade ser na ordem dos 1,1 milhões de novosquotizados", disse no documento.

    TdC aponta para umuniverso de beneficiáriosda ADSE cada vez mais

    envelhecido e paraaumento de despesas

    Auditoria revelou quea ADSE precisa de mais

    300 mil beneficiáriospara ser sustentável

    a curto prazo

    TdC.Comofuncionae qual a suamissão

    Presidente é nomeado peloPresidente da Repúblicasob proposta do Governopara um mandatode quatro anos.

    O Tribunal de Contas (TdC) tem comomissão "fiscalizar a legalidade e regu-laridade das receitas e das despesaspúblicas, julga as Contas que a lei man-da submeter-lhe, dá parecer sobre aconta geral do Estado e sobre as con-tas das regiões autónomas, aprecia agestão financeira pública, efetiva asresponsabílidades financeiras e exer-ce as demais competências que lheforem atribuídas pela lei", lê-se no siteda entidade liderada por Vítor Caldei-ra. Isto significa que é a entidade máxi-ma responsável pela fiscalização exter-na e auditoria da utilização e gestãode dinheiros e valores públicos, inde-pendentemente de quem os utiliza oudeles beneficia.

    Além da função de controlo finan-ceiro, o TdC possui em exclusividadea competência jurisdicional para jul-gar infrações financeiras que envol-vam dinheiros ou valores públicos.

    Como funciona? O Tribunal de Con-tas é composto, na sede, pelo con-selheiro presidente e por 16 juizesconselheiros. Além disso, integraduas secções regionais, na Madei-ra e nos Açores, cada uma com umjuiz conselheiro.

    O presidente do Tribunal de Contasé nomeado pelo Presidente da Repú-blica sob proposta do Governo paraum mandato de quatro anos. Já os jui-zes conselheiros são nomeados porconcurso curricular.

    O Tribunal de Contas conta aindacom a presença do Ministério Públi-co, que atua oficiosamente, sendorepresentado na sede pelo procura-dor-geral da República (que pode dele-

    gar as suas funções num ou mais pro-curadores-gerais adjuntos) e, nas sec-

    ções regionais, pelo magistradodesignado para o efeito pelo procura-dor-geral da República.

    Em consequência do princípio daseparação de poderes, o Tribunal deContas é totalmente independente,com autonomia administrativa, finan-ceira e patrimonial. Os seus juizes con-selheiros são inamovíveis e irrespon-sáveis pelas suas decisões.