tribuna livre da luta de classes o militante socialista · (deolinda martin): xcamaradas, ... tanto...

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o militante socialista Tribuna Livre da luta de classes Publicação Mensal 02 Plenário nacional de sindicatos da cgtP 03 editorial: o voto do povo impôs uma maioria na ar 04 o “fenómeno” da abstenção em Portugal 05 eleições em Portugal… vistas de espanha 06 tribuna livre: um debate rico e profundo que o ms se propõe ajudar a organizar e alargar contribuição de edite carvalho 07 contribuição de João Pedro Freire e resposta de aires rodrigues 08 contribuição de antónio serra 09 contribuição de augusto Pascoal 10 contribuição de alexandre café 11 contribuição de maria Luísa Patrício e depois da renomeação de Passos coelho? 12 apelo para a unidade 13 air France: trabalhadores em luta contra o plano de despedimentos/taP 14 o povo palestiniano manifesta-se na rua 15 mentiras, hipocrisia e incúria dos “promotores da paz” no médio oriente 16 Da guerra do iraque… ao êxodo dos refugiados para a europa 19 exploração, imperialismo e guerra por Xabier arrizabalo 20 na catalunha, derrota da constituição monárquica Defesa dos sindicalistas espanhóis Indice Director: Joaquim Pagarete ano XVii (ii série) 117 30 De outubro De 2015 1 euro O povo não quer o governo PSD/CDS e a sua política! Respeitar a soberania popular é respeitar o voto do povo!

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Page 1: Tribuna Livre da luta de classes o militante socialista · (Deolinda Martin): XCamaradas, ... tanto mal provocaram à sua vida e ao país. ... o que está em pano de fundo Og r au

o militante

socialista

Tribuna Livre da luta de classes

Publicação Mensal

02 Plenário nacional de sindicatos da

cgtP

03 editorial: o voto do povo impôs uma maioria na ar

04 o “fenómeno” da abstenção em Portugal

05 eleições em Portugal… vistas de espanha

06 tribuna livre: um debate rico e profundo que o ms se propõe ajudar a organizar e alargar contribuição de edite carvalho

07 contribuição de João Pedro Freire e resposta de aires rodrigues

08 contribuição de antónio serra

09 contribuição de augusto Pascoal

10 contribuição de alexandre café

11 contribuição de maria Luísa Patrício e depois da renomeação de Passos coelho?

12 apelo para a unidade

13 air France: trabalhadores em luta contra o plano de despedimentos/taP

14 o povo palestiniano manifesta-se na rua

15 mentiras, hipocrisia e incúria dos “promotores da paz” no médio oriente

16 Da guerra do iraque… ao êxodo dos refugiados para a europa

19 exploração, imperialismo e guerrapor Xabier arrizabalo

20 na catalunha, derrota da constituição monárquicaDefesa dos sindicalistas espanhóis

Indice

Director: Joaquim Pagarete ano XVii (ii série) nº 117 30 De outubro De 2015 1 euro

O povo não quer o governoPSD/CDS e a sua política!

Respeitar a soberania popularé respeitar o voto do povo!

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actualidade nacional >>>

Satisfação, expectativa e desconfiançaPlenário nacional desindicatos da cgtP reunidono novo quadro político

Foram 600 dirigentes edelegados sindicaisque encheram o FórumLisboa, no dia 15 deOutubro.

Podemos dizer que elesrepresentam uma grande parteda CGTP – a maior forçaorganizada dos trabalhadoresportugueses, a força socialcapaz de unir quase todos ossectores da classe trabalhadorae das populações. Qual é aoutra parte? Será que essaoutra é necessária para poderrealizar-se a frente única declasse? Como fazer uma lutacom sucesso em sectorescomo o dos transportespúblicos ou da Função Públicasem a participação dossindicatos filiados na UGT?Deixemos estas questões paraos diálogos entre militantes etrabalhadores noutromomento…Em todas as intervençõesfeitas no plenário se expressouum sentimento de alívio emvirtude da coligação PSD/CDSter perdido a maioria absoluta,e a convicção de que esta jánão tem capacidade paraprosseguir num novo Governosozinha.E, se ali fosse colocado àvotação a mobilização dostrabalhadores para impor aformação de um Governo comas forças políticas queprometeram acabar com aausteridade, a resposta positivaseria certamente imediata,como se pôde ver na reacçãodo plenário à intervenção deuma professora – membro doConselho Nacional da CGTP(Deolinda Martin):

“Camaradas, se o Presidenteda República nomear PassosCoelho para formar Governo,o que vamos fazer? Não temosque ocupar a rua?”

Arménio Carlos esfriou aresposta que muitos quadrossindicais desejavam,afirmando: “Quem faz aagenda do movimento sindicalsomos nós. Até podemosconcluir que se tem querecorrer a outras formas deluta. Cá estaremos nomomento certo. O essencial éestarmos coesos. Fazer tudo oque for possível para que oresultado do voto sejaconcretizado. A direita nãoganhou. Quem pode formargoverno é o PS, o PCP e oBE… Vamos preparar ostrabalhadores para reforçar aligação aos locais detrabalho… É o momento deapresentar a factura aquelesque que prometeram o fim daausteridade.”

Flashes de intervenções feitasno Plenário

os trabalhadoresdisseram basta!

“A 4 de Outubro ostrabalhadores disseram basta!Eles abriram caminho a umapolítica de esquerda! Foi coma nossa luta que foi possívelderrotar este Governo.”

não podemos ficar naexpectativa

“Em condições normais,teríamos conseguido anegociação de contratoscolectivos de trabalho,abrangendo mais de 700 miltrabalhadores. Afrontando aofensiva do Governo, oscontratos negociados

abrangem cerca de 600 miltrabalhadores. Mas sãocontratos onde estãogarantidos todos os direitosadquiridos.Temos agora condições parapartir para uma nova fasenegocial, salvaguardandotodos os direitos em todos oscontratos colectivos.(…) Não nos é indiferente asolução política. Mas,qualquer que seja o Governo,os direitos e as reivindicaçõessó dependem da luta dostrabalhadores. Estamos cheios de esperançanuma mudança de política e deGoverno. Mas não podemosficar na expectativa.”

governo bloqueado noataque à soberanianacional

“No dia 2 de Outubro, aministra da Finançasassinou um Despachoordenando a alienação demúltiplos espaços militares.Entre eles, constavam:dezoito quartéis, edifícios damanutenção militar, estradasmilitares e paióis, doisconventos, uma capela, doishospitais militares.Na Presidência da Repúblicaestava para ser promulgadoum Decreto-lei, assinado nomês de Agosto, ordenando aextinção do Laboratóriomilitar de produtos químicose farmacêuticos.Para tentar impedir estegolpe na soberania nacionalos trabalhadoresmanifestaram-se diante daPresidência da República a9 de Setembro.

O Governo que vier terá queanular todas estas medidas.”

traduzir o voto nacorrelação de forças nasempresas

“Quando o Grupo Visabeiraentrou na hotelaria, as novasadmissões de trabalhadorespassaram a ser feitas com aassinatura numa folha embranco, para o trabalhadorpoder ser despedido aqualquer momento.Os trabalhadores fizeram umagreve, para pôr termo a isto, eganharam. Nunca maistiveram medo.Agora é o tempo de pôr emcima da mesa todas asreivindicações. Ostrabalhadores estão à espera.A expectativa não pode serdefraudada.Propomos uma grandecampanha contra aprecariedade.” n

Carmelinda Pereira

excerto da resoluçãoaprovada no Plenário

No Plenário foi aprovada umaResolução de que destacamoso seguinte excerto: “Este é omomento certo para pôr fim àpolítica anti-laboral e anti-social, para revogar asnormas gravosas do Códigodo Trabalho e da Lei Geral doTrabalho em FunçõesPúblicas, para repor osdireitos e os rendimentoscortados, para exigir oaumento geral dos salários, dosalário mínimo nacional, daspensões, da protecção e dosapoios sociais aosdesempregados e às famílias,para assegurar a dinamizaçãoda contratação colectiva eefectivar as 35 horas semanaispara os trabalhadores dossectores público e privado semredução de salários.”

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ANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

E d i t o r i a lFicha técnica

Tribuna livre impulsionada pelo POUS

o militantesocialista

Proprietário: Carmelinda PereiraNIF: 149281919

editor: POUS - Partido Operáriode Unidade SocialistaNIPC: 504211269

sede: Rua de Sto António da Glória, 52-B / cave C 1250-217 LISBOA

Nº de registo na ERC: 123029

Director: Joaquim Pagarete

comissão de redacção:Carmelinda PereiraAires RodriguesJosé LopesJoaquim Pagarete

impressão: Imaginação ImpressaRua Braancamp, 15A 1250-049 Lisboa

edição: 150 Exemplares

a nossa história:

O jornal “o militante socialista”nasceu em 1975, sob aresponsabilidade de militantes doPartido Socialista (PS),pertencentes às Coordenadorasdos núcleos de empresa,organizados na sua Comissão deTrabalho.Nasceu identificado com os ideais da Revolução do 25 de Abril, do socialismo e da democracia.Esses mesmos ideais continuarama ser assumidos pela corrente desocialistas afastados do PS, quefundaram o Partido Operário deUnidadeSocialista (POUS), em conjuntocom a Secção portuguesa da IVª Internacional.Em continuidade com os ideaisque presidiram à publicação dos primeiros “Militantes Socialistas”, o POUSimpulsiona actualmente estejornal, como tribuna livre da lutade classes, aberta a todas ascorrentes e militantes queintervêm democraticamente para defender as conquistas do 25de Abril.A defesa destas conquistas exige o desenvolvimento de uma acção política totalmenteindependente das instituiçõesligadas aos Estados, às religiõesou ao capital – e, por isso, a orientação de “O MilitanteSocialista” identifica-se com a doAcordo Internacional dosTrabalhadorese dos Povos.

o voto do povo impôs uma maioria na arO seu voto e a sua luta exigem um Governo e uma política

de acordo com esta maioria

Aquilo que ostrabalhadores e osmilitantes esperam– com a novamaioria de partidos

da esquerda na AR, fruto dasua luta e do seu voto – é aformação de um governosem PSD nem CDS, paraanular todas as medidas quetanto mal provocaram à suavida e ao país.É esta a aspiração da maioriados trabalhadores, tal como éesta a vontade de muitosmilitantes socialistas aoafirmarem:“É a hora de nãoficar à espera, devemos agir”.

O capital financeiro nãosubestima esta convicção dabase do PS. Uma convicçãoque faz parte de umsentimento colectivo deesperança, de expectativapositiva e de determinaçãoem impor a saída do PSD edo CDS do governo,compreendendo que nãopodem deixar perder estaoportunidade resultante daluta e do voto do povo.

Não será por acaso que obanqueiro Fernando Ulrich –que teve a coragem deafirmar que o povoportuguês tinha de aguentaros sacrifícios impostos pelaTroika para salvar os bancos,incluindo o dele – diz, agora,ser necessário deixar aesquerda ir para o Governo.Ele sabe que o povo podenão aguentar mais. Ele temeuma resposta popular.

os factos são cabeçudos!

Deem-lhe as voltas quederem, chumbado ou não o“novo governo”Passos/Portas na AR, nãoconseguirão alterar acorrelação de forças presentenesta Assembleia e no país.

Qualquer soluçãobloqueadora de um Governosaído do acordo da esquerdaarriscará um levantamentopopular, unindo todo oeleitorado dos partidos quecolocou o PSD e o CDS emminoria.

A posição da CGTP – aoconvocar a concentraçãopara a AR, no dia marcadopara ser votada a rejeição do“novo” Governo – dá aindicação do sentimento damaioria dos militantes etrabalhadores. A CGTP nãofaz mais do que interpretaraquilo que foi expresso pelosquadros e dirigentessindicais, no seu Plenárionacional realizado após aseleições.Mas ela deve constituirtambém um ponto de apoiopara uma política de unidadenecessária para impor asreivindicações daspopulações trabalhadoras.

o que está em pano defundo

O grau de maturação daconsciência colectiva dostrabalhadores e dos cidadãosportugueses leva-os acompreender que asdificuldades não serãoultrapassadas só porque oPSD e o CDS saem do poder.Sabem quanto é forte ocondicionamento da UniãoEuropeia, quanto é forte opoder dos chamadosmercados. Sabem que oGoverno está despossuído deinstrumentos de soberaniapara poder começar a tomarmedidas que permitam odesenvolvimento do país. Oexemplo da situação do povogrego está bem presente nopensamento de todos.

Mas muitos também têmconsciência que, em cadapaís, os trabalhadores e aspopulações se batem pararesistir às medidas doscredores, impostas a partir daComissão Europeia, do BCEe do FMI.

Esta preocupação centra odebate entre muitosmilitantes e trabalhadores –quer sindicalistas quermembros de partidospolíticos ou sem qualquerfiliação partidária – quecompreendem que é precisointervir na construção de umcaminho que garanta amanutenção de todas asconquistas obtidas com amobilização dos povos.Constatam que todas elasestão ameaçadas pelacontinuação das políticasditadas pela União Europeia.E muitos reconhecem que énecessário coordenar a suaacção com a dos povos etrabalhadores dos outrospaíses para as derrotar.

Os militantes do POUScontinuarão a participar – com os meios que são osseus – na mobilização paraque se constitua um Governosem os partidosrepresentantes directos daclasse dominante (PSD eCDS), capaz de responder àsaspirações e legítimosanseios da maioria do povo.Fazem-no lado a lado comoutros militantes etrabalhadores, ao mesmotempo que não se demitirãodo debate centrado naprocura do caminho parauma união de povos livres esoberanos, assente nacooperação solidária, cujaforma a vida se encarregaráde ditar. n

Carmelinda Pereira

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actualidade nacional >>>

780 mil (9% do universo eleitoral).Embora haja esta chamada “abstençãotécnica”, não é entrando com ela nascontas que se inverteria a tendência desubida sistemática da taxa deabstenção, uma vez que sempre houveestes “eleitores-fantasma”… aindaque actualmente possam ser em maiornúmero. (*) Esta descida teve lugar no anoem que o PS conseguiu uma maioriaabsoluta de 121 deputados, após 10anos de governos liderados porCavaco Silva.(**) A este valor há que juntar asubida de 1% do número de votosbrancos e nulos, daqueles eleitoresque vão às urnas para dizer que nãose reveem em nenhum dos partidosou coligações que se apresentam.

Joaquim Pagarete

O “fenómeno” da abstenção em Portugal

Os resultados das legislativas ao longo do tempo (1)

Opolitólogo ManuelMeirinho, doInstituto Superiorde Ciências Sociaise Políticas,

afirmava já em 2011: “Aabstenção elevada é umsintoma de que o sistemademocrático não está bem,de que começa a ficardoente”, acrescentando que

Olhando em pormenor para ográfico das abstenções (maisos votos brancos e nulos) –onde estão expressos essesresultados desde a votaçãopara a Assembleia Constituinte(1975) até às últimaslegislativas (2015) – há duasgrandes conclusões que podemser tiradas (ver tabela abaixo): - A progressiva subida da taxade abstenção, só interrompidapor uma descida significativaem 2005, teve 5 saltos bruscos,nas primeiras legislativas(1976) e em 1983, 1991, 1999e 2009.

- Agora, a grande descida devotação nos partidos dacoligação PSD/CDS (que,entre 2011 e 2015, perderamcerca de 727 mil votos,atingindo o seu score maisbaixo desde 1975) foicompensada pelos quase 545mil votos distribuídos pelosrestantes partidos (emparticular o BE e o PS). Isto,em conjunto com odecréscimo de cerca de 185mil do número de inscritos,levou a que a abstenção nãotivesse subido tanto como assondagens previam.

notas

(1) Quando se faz uma análise do“fenómeno” da abstenção é necessárioter em conta tanto a desactualizaçãodos cadernos eleitorais, como outrosfactos que podem falsear o valor dataxa de abstenção (como é o caso, porexemplo, dos cerca de 395 milportugueses e portuguesas – em idadede votar, isto é, com pelo menos 17anos – que indicaram a morada emPortugal e não vêm cá votar nemvotam no Consulado português nopaís para que emigraram). Dados de2014 do INE sobre este assunto (verPúblico, 11/10/2015) mostram que oscidadãos com direito de voto eram, noano passado, cerca de 8,66 milhões,inferior aos 9,44 milhões que constamdos cadernos eleitorais. E daquiresulta um grande número de“eleitores-fantasma”, que ronda os

campanhas de que ospolíticos só se lembram dosproblemas a cada quatroanos?”, concluindo: “Aabstenção deve servir comoaviso aos partidos e aoEstado de que o sistema estádoente. Um dia será opróprio regime.”(Público, 23/1/2011)De facto, a subida da taxa deabstenção que tem existidoem Portugal (ver ao lado ográfico correspondente àseleições legislativas) – e queatingiu valores máximos emtodos os últimos actoseleitorais (tanto para aPresidência da República,como para a Assembleia daRepública e as Autarquias) –não é um fenómenomeramente “português”: eletem lugar em praticamentetodo o mundo e, emparticular, nos outros paísesda Europa, mesmo onde ovoto é obrigatório (como é o caso da Grécia,por exemplo).

“a indiferença e a apatia sãotambém duras formas decriticar.” E o mesmo

politólogo enfatizava:“Quem nunca ouviu asqueixas recorrentes nas

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ANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

Recebemos doPartido OperárioSocialistaInternacionalista(POSI) – que é a

Secção da IVª Internacionalno Estado espanhol, tal comoo POUS o é em Portugal – asua Carta semanal nº 546,publicada a 12 de Outubro.Nela são abordados osresultados das eleiçõeslegislativas portuguesas, comvista a procurar tirarensinamentos para a acçãono seu próprio país, em queirão também realizar-seeleições gerais (legislativas)a 20 de Dezembro.Transcrevemos abaixo oessencial da sua análise dosresultados e uma visãosintética das perspectivasfuturas, tanto em Portugalcomo no Estado espanhol.

o carácter “ilusório” deuma vitória eleitoral

Em Junho de 2011, a direitaconseguiu uma vitóriahistórica, com maioriaabsoluta. E uma boa parte dapopulação operária nãovotou. Em Maio de 2011, aDirecção do PS e a direita

haviam assinado com aTroika um “Memorando deentendimento” (como o que,um ano mais tarde, seriaassinado pelo Governoespanhol para resgatar osbancos), ou seja a aplicaçãode um plano de ajustamentoduro, com o qual essespartidos se comprometeram– ganhasse quem ganhasse aseleições. Para uma boa partedos trabalhadores aconclusão era clara: todosfaziam a mesma política.

Este fenómeno agudizou-se:o PS, na oposição, propunhapraticamente as mesmaspolíticas de ajustamento (umpouco suavizadas).

Por outro lado, os partidosmais à “esquerda”, ou seja oPCP e o BE, fizeram toda acampanha eleitoraldenunciando o PS.

Nesta situação, quecredibilidade pode ter um“governo de esquerda”,quando – na própria noitedas eleições – o Secretário-geral do PS, António Costa,negou a possibilidade dehaver um tal Governo e osdirigentes do BE e do PCP

criticaram o PS? É claro quese pode objectar: mas oGoverno de esquerda é o quequer a maioria. É discutível,pois uma boa parte destamaioria não votou. Repete-se aqui o fenómeno daGrécia: a experiência daseleições gregas, de Janeirodeste ano, fez perder aconfiança em que umavitória eleitoral semmobilização operária possamodificar a política a serseguida, ou seja, a políticaimposta pelo capitalfinanceiro. E Tsipras aseguir, em Julho, apresentou-se para aplicar um novoMemorando deentendimento que acabavade assinar com a Troika.

A trajectória de Tsiprassobrevoa Portugal e aEuropa, reforçando aexperiência em cada país.

assim vão as coisas.então, o que fazer?

Como militantesrevolucionários quecombatemos pela unidadedas nossas organizações,para impor a retirada dosplanos de austeridade, somosobrigados a reflectir e tirarconclusões. Declaramos quenão somos cretinosparlamentares nem cretinosantiparlamentares. A nossabitola é o interesse dostrabalhadores, a suaorganização e a sua luta.Constatamos – é a nossaexperiência – que as vitóriaseleitorais dos partidos que sereclamam da classe operária,e no nosso país desdeOutubro de 1982, semearamdesilusões no seu conjunto,sobretudo a partir daviragem de Zapatero, emMaio de 2010, que é amesma viragem do dirigentesocialista português Sócratese seus sucessores, a mesma

Eleições em Portugal… vistas de Espanhaviragem de Hollande, deRenzi e dos dirigentes doPartido Social-democrataalemão.

Constatamos que todas asconquistas sociais edemocráticas foram oproduto da acção directa daclasse trabalhadora. Que, nomelhor dos casos, osgovernos legalizaram “porbaixo” conquistas arrancadaspela acção directa, comoaconteceu no nosso país como estatuto dos trabalhadores,a liberdade sindical ou aSaúde pública.

Em Portugal, com umarevolução pelo meio, oexemplo é ainda mais claro.A Constituição legalizou“por baixo” o que ostrabalhadores já haviamconquistado. Mas, parasalvar o capital na sua criseprofunda, os renegados dosocialismo empenham-sehoje em demolir, passo apasso, as conquistas darevolução inscritas naConstituição.

Por isso, no Estado espanholconsideramos que – mais doque nunca – só a luta declasses pode anular as leisreaccionárias do Governo. E,em vésperas das eleições, a“direitização” crescente dospartidos que reclamam ser deesquerda ou progressistas – eque declaram que Tsiprasnão podia fazer outra coisa –

deve alertar-nos sobre aspromessas eleitorais e sobrea vontade de alguns deformar um Governo de“esquerda”. Tudo istosublinha a absolutanecessidade de defender, nopróximo processo eleitoral,uma plataforma política deruptura com a Monarquia ecom as instituiçõesinternacionais do capitalfinanceiro: o FMI, a UniãoEuropeia. n

Rajoy, Durão Barroso e Juncker no Congresso do PPE, realizado em Madrid, a 17 de Outubro.

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tribuna

Um debate rico e profundo que o MS se propõeajudar a organizar e alargar

Edite de Carvalho entrevistada por Aires Rodrigues (MS - Marinha Grande)

Neste nº do MSapresentamos umconjunto decontribuições decamaradas de

diferentes tendências domovimento operário que têmprocurado – cada um à suamaneira – ajudar a encontraruma saída para o impassepolítico que existiu emPortugal até às eleiçõeslegislativas de 4 de Outubro.Impasse que o resultadodestas eleições crioucondições para serultrapassado.Alguns desses camaradasestão ou estiveram no PS,outros vêm do BE ou doPCP, e ainda outros têm umalarga experiência como

sindicalistas ou comomembros de Comissões deTrabalhadores. Estas contribuiçõesconstituem também umreflexo do intenso e vivodebate que tem estado a terlugar em todas as camadasde trabalhadores – esobretudo de militantespartidários ou sindicais –sobre o problema central deque Governo iria serconstruído após os resultadosdas legislativas.Este debate – que já existiaantes desta nova provocaçãoque Cavaco Silva acaba defazer à maioria dostrabalhadores e daspopulações, ao não respeitaro seu voto com a indigitação

de Passos Coelho paraconstituir um novo Governoque pretende continuar coma mesma política – irácertamente prosseguir e seraprofundado.Ele tem um fio condutor queé o movimento profundopara a unidade que tem sidosistematicamente travado,desviado e golpeado desde o25 de Abril e que agora foiretomado, por largas massasde trabalhadores.Para que este debate tenhacomo corolário prático aconstrução da unidade dostrabalhadores com asorganizações que elesconsideram como sendo suas– tanto no terrenoparlamentar, como no

desenrolar da sua luta declasse – ele precisa de ter umveículo que o ajude aorganizar, divulgar e alargar.A Comissão de Redacção doMS – periódico que sempretem afirmado a necessidadede haver uma tribuna livre daluta de classes e que, à suamedida, o tem procurado ser– propõe a todos os seusleitores que divulguem ascontribuições aquipublicadas e se constituamem novos correspondentesdo MS, relatando-nos oscombates em que estãoinseridos e os debates emque eles próprios vêmintervindo. n

O Director do MSJoaquim Pagarete

Aires Rodrigues (AR) - AEdite, imediatamente após aseleições legislativas, foi dasmais dinâmicas a assumir apreparação de uma reuniãopara o dia 10 de outubro, comos principais participantes daPlataforma, do POUS eindependentes que intervieramna campanha. O que amotivou a empenhar-se na suaorganização?

Edite de Carvalho (EC) - Aminha participação naPlataforma Livre/Tempo deAvançar foi, desde o início,motivada pelo facto de o fazerna qualidade de cidadã livre,participando em pleno direito,quer nas Primárias, quer depoisna Campanha, mesmo semqualquer militância partidária;mas, efetivamente, a motivaçãoessencial está direcionada paraos problemas reais, sentidos nasaúde, na educação, nasquestões do emprego, nostransportes, nos custosdemasiado altos da energia,nos jovens que precisam deemigrar (depois de selicenciarem em Portugal), nosidosos solitários sem recursos,na asfixia pelos impostos, parajá não falar da falta deincentivo à cultura, etc., etc.

O resultado das eleições ficouaquém do objectivo, mas pelos1786 votantes do distrito deLeiria e pelas razões essenciaisreferidas não podemos

desmobilizar. A manutençãode reuniões é meio caminhoandado para a troca de ideias,para novas iniciativas, paracontribuir para gerar novosobjetivos. É urgente nãoparar…

AR - Na sua opinião, aparticipação no debate, e noconvívio que se seguiu, porparte dos intervenientes,correspondeu às suasexpectativas de ver continuadoum trabalho de unidade,apoiado nos anseios easpirações dos trabalhadores epopulações mais carenciadas?

EC - A preocupação pelosproblemas atuais da nossasociedade é comum aoselementos do grupo. Apresença de todos foientusiástica, quer no debate,quer no convívio, e deixaantever a sua envolvência notrabalho necessário em proldos reais problemas dapopulação.

AR - Pensa que o Apelo para aUnidade aprovado na reunião,(ver página 12) podeconstituir um primeiro passode um movimento maisalargado para a realização deum Encontro Nacional para aUnidade?

EC - É um contributo, defacto. A Unidade, já está emcada um de nós,individualmente, no sentircomum dos problemas dodia-a-dia. Em muitos de nós,a dureza da vida geradesencontros. Sentimo-loindividualmente, mas não opartilhamos. Secoletivizássemos este sentirindividual, substanciávamosesta Unidade. O “se”, pareceincutir alguma subjectividadea esta resposta, mas querdizer que precisamos depensar no coletivo e semprotagonismos, em prol daUnidade e de todos. n

edite de carvalho é membro daPlataforma Livre/Tempo de Avançardo Distrito de Leiria e representanteno Conselho Nacional doMovimento Tempo de Avançar.

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livreANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

resposta ao artigo de João Pedro FreireE SE?...

Ese surgisse umacorrente deesquerda, socialista,anticapitalista queresolvesse intervir no

seio do Partido Socialista?Não seria a primeira vez. Nosanos do chamado PREC jáaconteceu com diversascorrentes que tiveram acçãomilitante dentro da estruturado PS. Sem êxito, é umaverdade!

Mas os tempos são outros. E,neste momento, há um dadonovo extremamente relevante:pela primeira vez, depois do25 de Abril de 1974, decorremconversações formais entre osprincipais partidos de esquerdapara se tentar um governo deesquerda.

Intervir no PS, pode não ser sóuma intervenção nas suasquatro-paredes. Intervir, nestemomento, no PS equivaleria aacompanhar todo o debate queexiste à esquerda sobre aformação de um governo deesquerda, tentando influenciartambém o debate que jádecorre no seio do PartidoSocialista.

E esse debate interno no PS, éum debate que, pela primeiravez em muitos anos, é político,é ideológico e vinca muitoclaramente quem é deesquerda e socialista e quemnão o é.

Alguns no PS – que se opõemà formação de um governo doPS com a restante esquerdaparlamentar – vão buscar aobaú da História as imagens daluta contra os governos deVasco Gonçalves. Essa é uma

parte da História do PS.Porque também há a outraparte em que o PS se dizia um“partido marxista”, defendia o“poder democrático dostrabalhadores”, defendia o fimdos blocos político-militares…esta parte da memória éobjecto deliberado de amnésiaselectiva! Isto também fazparte desse debate profundoque já decorre…

O processo de luta de classesdesenvolve-se em todos oscantos e becos da sociedade.Os partidos, nomeadamente osmaioritários à esquerda, nãoescapam às consequências dosascensos e refluxos da luta declasses.

Tem sido o social queinfluencia o político. Só assimé que se compreende, porexemplo, que em Inglaterra, oLabour Party (PartidoTrabalhista) tenha eleito um“líder” com o perfil político deJeremy Corbyn. Certamenteque a abertura do partido aossimpatizantes e o processo demobilizações contra aspolíticas de cortesinfluenciaram decisivamenteessa eleição.

Os tempos de crise docapitalismo provocarão muitomais mobilizações e maioresconfrontos sociais, tendo issoenorme influência em todos ospartidos que existem àesquerda.

É possível que surjam novospartidos onde antes estavamoutros. Mas uma coisa é certa:será sempre a partir daebulição social que surgirãomudanças visíveis eestruturantes, e será decisivoque quem quer influenciar temde estar onde a onda se forma.Não onde a onda quebra!

Daí a minha pergunta inicial: ESE? n

João Pedro Freire

Editor do blogue Tribuna Socialista(Matosinhos)

18 de Outubro

Permito-me dar umaprimeira resposta aoteu artigo, não tendo apretensão de encerrareste debate que, a meu

ver, tem toda a legitimidade edeve prosseguir.A tua proposta de umacorrente de esquerda,socialista e anticapitalistaque interviesse no seio doPartido Socialista será hojepossível, num terreno deindependência política?

Fui dos que, com outroscamaradas, hoje no POUS,ajudámos a construir e aimplantar o PS nos sectoresoperários, apoiando as CTs e aUnidade Sindical, em defesade uma AssembleiaConstituinte Soberana, contraos que – sob diversas formas ematizes – defendiam o poder“revolucionário” dos militares.Ajudámos a inscrever no textoConstitucional, a partir daComissão de Trabalho do PS,os direitos sociais, asliberdades e as garantias que asmassas populares arrancavamnas ruas.

Em 1977, pouco mais de 3anos após o 25 de Abril, o 1ºplano do FMI implicousubordinar a Direcção do PS àsua aplicação, “o socialismona gaveta” e a expulsão ouafastamento de todos os que serecusaram a aceitá-la. Foi noseguimento desta batalha e emconjunto com a OST(Organização Socialista dosTrabalhadores – Secçãoportuguesa da IVª

Internacional) que se veio aconstituir o POUS, em 1979.

Hoje, 38 anos volvidos, após asubordinação da Direcção doPS à aplicação do primeiroplano do FMI, dasubordinação aos Tratados deMaastricht, de Nice e deLisboa (que fundaram ereforçaram a União Europeia -UE), da submissão aossucessivos planos da Troika, oque significaria constituir umatendência de esquerda,socialista e anticapitalista?Não significaria ter de aceitarque são possíveis de reformaresses Tratados e as instituiçõesda UE, podendo pô-las aoserviço de uma políticasocialista?

Naturalmente, não podemosnem devemos alhear-nos doque se passa no PS.

António Costa procura agoraformar um Governo “deesquerda” dando, ao mesmotempo, todas as garantias àsinstituições da UE e ao FMI,responsáveis pelas políticas deausteridade, impostas aPortugal e aos diferentes povosda Europa. Garantias emedidas que se irão chocarcom as aspirações dos seusmilitantes e activistas ligados àclasse que as querem versatisfeitas.

Neste sentido, aquilo que podeajudar a impedir as medidas –que, qualquer que seja a formade Governo adoptada, estequiser aplicar – são propostasconcretas, na base da luta,sobre uma linha de unidade,correspondendo ao sentimentoe à vontade da massa socialistae do conjunto da populaçãotrabalhadora. n

Aires RodriguesMembro da redacção do MS

19 de Outubro

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Eleições Legislativas 2015

PS – o eterno dilemaAs eleições de 2015demonstraram que:

1 - a abstenção continuou acrescer;

2 - os portugueses votantesderam ao Ps a possibilidadede ser o “fiel da balança”;

3 - os portugueses estãofartos da austeridade.

Perante este cenário,tem-se assistido aos“namoro” ealiciamentoconstantes da

coligação PSD-CDS ao PS.Por outro lado, o PS já tevereuniões com o PCP e BEpara “auscultar” opiniões.A questão estará em saber seo PS irá sucumbir ao “cantode sereia” da coligação,sendo que assim a “maioriade esquerda” ruirá e o PSterá na rua, contra si, ossindicatos e seus aliados. Se,pelo contrário, optar por umcomprometimento mais àesquerda, terá de se havercom os mercados e osimpiedosos credores.As incógnitas continuam aser muitas e as certezasquase nenhumas. Ao PScaberá a decisão de apoiar(pela abstenção) oOrçamento a apresentar pelacoligação (colocandoalgumas das suas premissaseleitorais) ou, pura esimplesmente, votar contra omesmo e coligar-se paraformar uma alternativa deesquerda.

Pessoalmente, não creio quevá optar pela última. Sãovariadas as razões que o“prendem” às decisões do

eixo Alemanha-França (e atéda própria Inglaterra):

- A assinatura conjunta doplano elaborado pela“troika”;

- A conjuntura vigente nestaEuropa “neoliberal”;

- Pacto com a NATO.

Estes são os travões que setransformaram em MEDOno seio da “família PS”. Este“medo” está bem patente nasdeclarações do líder da UGT:

“Em entrevista à Antena 1,Carlos Silva diz que umacordo do PS com Bloco deEsquerda e PCP paraviabilizar um governoalternativo ao da direitaseria «muito instável» e«não dá garantias de que agovernabilidade sejaassegurada por quatroanos». «Ficaremos maistranquilos se a decisão doPs for encontrar umcompromisso com o PsD eo cDs», afirmou o líder daUGT.”

Ou ainda nalgumasdeclarações de dirigentes doPS:

“Outras figuras influentesna vida do PS têm preferidoa escrita nos seus bloguesou nas redes sociais paramarcar as suas posições.Vital Moreira, no bloguecausa nossa, diz que umacordo à esquerda «podeser uma péssima solução eestar votado ao fracasso»,mas argumenta que esseeventual acordo «não podeser acusado de ilegítimopor alegadamente

tribuna

defraudar a vontade doseleitores». Num texto emquatro pontos, VitalMoreira defende que umentendimento à esquerdanunca esteve afastado dodiscurso dos três partidosdurante a campanhaeleitoral. E desmonta “oargumento falso” de umasuposta ilegitimidade de umacordo de governo àesquerda que tem sido«ativamente perfilhadopela generalidade dosmédia (como é escandalosoo alinhamento da imprensacom a direita!)», exclamaVital no mais recente deuma série de postsdedicados à situação pós-eleições.

Também Augusto SantosSilva, numa série de quatroposts no Facebook, expõevários cenários em abertopara a nova legislatura,defendendo que, para o PSaceitar formar governo, umacordo à esquerda teria depassar por compromissos deBloco e PCP que incluem aviabilização do Orçamentodo Estado com aceitação dameta do défice inscrita noTratado Orçamental. E sóno caso desse acordo não seconcretizar, entende SantosSilva, deverá o PS negociarcompromissos com o PSD,mantendo-se formalmentena oposição masviabilizando a continuidadede Passos e Portas.

Quem não aceita alegitimidade ou sequer ahipótese de acordos àesquerda é o ex-líder dadistrital de Viseu, José

Junqueiro. «só é possível seJerónimo de sousa meter ocomunismo na gaveta»,afirmou ao Público,acrescentando que, mesmonesse caso, «o resto do paíspode não apreciar umatentativa de vitória nasecretaria». «mas alguémse lembra de um únicoorçamento viabilizado poresses dois partidos nestes40 anos?», questionaJunqueiro.”

No entanto, outros militantesdo PS têm uma opinião algodiferente:

“A defender abertamenteque é preciso «acabar comesse absurdo a quechamam arco dagovernação» está ohistórico militante AntónioArnaut, considerado o «paido sns» e que foimandatário nacional dacandidatura do PS àslegislativas. Em declaraçõesà Lusa, defendeu que o PS,Bloco e PCP devem«assumir as suasresponsabilidades» econstituir «um governomais conforme osinteresses nacionais». Seriaum governo que «estariaem melhores condições dedefender os interesses dopovo, dos trabalhadores,reformados epensionistas», bem como oEstado social e aConstituição. Arnautpreferia que os três partidosestivessem representados noExecutivo, mas admite umcenário de «apoioparlamentar» a umgoverno liderado pelo PS.

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Nas eleições dopassado dia 4 amaioria dos eleitoresmanifestou-se afavor de um governo

de esquerda, colocando acoligação em minoria.Fazendo-o, identificaram-semais com as propostaspolíticas que os partidos deesquerda lhes apresentaram,do que com as que Passos ePortas, não apenas porquedesejam outro governo, comoutra política, mas tambémporque do balanço do queforam os 4 anos de martírio,que flagelaram o País e osportugueses, se conclui que acoligação e os seusresponsáveis depressaesquecem as promessaseleitorais, feitas levianamente,para iludir os eleitores menosinformados, os indecisos e osque receiam a mudança. Aqueda de votos na coligaçãonão foi mais expressiva,

porque muitos eleitores terãoreceado a ideia de caos e deretrocesso que pairoupermanentemente no discursodos seus responsáveis, se nãofosse garantida a suacontinuidade no governo etemido a novidade que podemconstituir políticas deesquerda. Mesmo assim, oseleitores deram o seu votomaioritário aos partidos comrepresentação parlamentar,que nos últimos 4 anoscorporizaram a oposição,preferindo a mudança.É com toda a legitimidadedemocrática que AntónioCosta está a reunir com acoligação, muitoprovavelmente para fazer sairo coelho da toca e mostrar aosportugueses que dela nadapodem esperar de bom e dediferente do que já conhecem.É com essa mesmalegitimidade que ele está aprocurar entendimentos àesquerda, que assegurem umamaioria parlamentar de apoioà governação, com base emcompromissos e verdadeirassoluções políticas para osproblemas que afetam o Paíse os portugueses. Com estaatitude, António Costa e adireção do PS estão a assustaro Presidente da República, adireita e os seus interessespolíticos e económicos e atéalguns inscritos no PS, que

temem que a componenteverdadeiramente socialista doseu partido demonstre queestão errados nas suasanálises, que concluemsempre por recear acordos àesquerda e por preferiralinhamentos à direita.

O País precisa que aeconomia se desenvolva, queos atores, que se movemnessa dimensão, acreditemque nada têm a perder com ocrescimento que ela podetrazer, que é possível edesejável exportar mais eafirmar o prestigio dos nossosprodutos no mundo, aomesmo tempo queaprofundamos a democracia,que tudo se faz para que osportugueses vivam melhor,com salários dignos e acerteza de que as suascontribuições para os sistemasde segurança e de apoio socialsão para isso mesmo e nãopara serem desviadas dessafinalidade. É necessário que tenhamospolíticas mais justas,centradas no desenvolvimentodo País, nos trabalhadores, noapoio à pobreza e aos novospobres, que privilegiemapostas seguras na educação ena formação ao longo da vida,na manutenção e na qualidadedo Serviço Nacional deSaúde, na Segurança Social e

no seu funcionamento. Taispolíticas, só podem ser postasem prática pela esquerda, queseja capaz de se unir à voltada intenção de defender aRepública, das funçõessociais do Estado, dademocracia económica esocial, que governe compreocupações sociais, que sejacapaz de dar aos portuguesesuma vida melhor, com maisqualidade, com a esperança ea alegria de viver e detrabalhar no seu País.

Por esta ordem de motivos, édesejável que António Costaseja indigitado para formargoverno e que se acordem asgarantias políticas para que aesquerda parlamentar possadar o apoio político ao futurogoverno, que por seu ladocom elas se comprometa e astenha sempre emconsideração na governaçãodo País, nos planos nacionale internacional, para que aestabilidade política durantea legislatura seja um facto eum exemplo, que evidencieque a esquerda temcompetência para governarPortugal. n

Augusto Pascoal(Sindicalista e militante do PS)

17 de outubro de 2015

A maioria dos eleitores quer um Governo de esquerda

Uma solução deste tipo «atépode ter repercussões naeuropa», concluiu AntónioArnaut.

Também em defesa dalegitimidade de um acordopara uma maioriaparlamentar que dê umasolução de governo está oex-líder socialista FerroRodrigues. «a únicaposição anti-democráticaou golpista é a que não seja

constitucional. Porexemplo, impor oprograma de qualquergoverno minoritário semse aferir as reais condiçõesde governabilidade»,afirmou ao Público nasexta-feira, após a reuniãodas delegações do PS com oPSD e o CDS.”

Pelo que, neste momento,não consigo perceber se o PSé um partido de esquerda ou

um partido que se diz deesquerda e vota à direita.

Como refere António-PedroVasconcelos na sua crónicado jornal Público:

“Estamos num tempohistórico que oscila entre osversos de Yeats e os deO’Neill. É preciso que osmelhores, de que fala opoeta irlandês, recuperem a«apaixonada intensidade»das suas convicções, que,

nestes últimos 30 anos,abandonaram nas mãos deuma direita revanchista epredadora.

Será desta vez, comopressentiu O’Neill, que «onosso destino, tac, vaimudar?».” n

António SerraEx-membro da CT da Imprensa

Nacional / Casa da Moeda

13 de Outubro

livreANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

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tribuna

Àdata em queescrevo, ainda nãose sabe qual vai sera opção de Governoque Portugal vai ter

atendendo aos resultados daseleições (1). Mas, seja qualfor a solução encontrada,algumas coisas estas eleiçõesvieram mudar.Uma, é a percepção que amaioria dos portuguesestinha de que elegiam umprimeiro-ministro e oGoverno (esta ideia eraveiculada, até à exaustão,pela Comunicação social –em particular a TV – que, emcanal aberto, só fez debatescom Pedro Passos Coelho eAntónio Costa, como se osoutros representantes nãointeressassem para nada;aqui salva-se a rádio –principalmente a rádiopública que fez, na minhaopinião um bom trabalho emostrou pluralidade). Ora,parece ser agoraentendimento geral queelegemos deputados àAssembleia da República eque são estes todos, e nãoapenas alguns, que dãorepresentatividade à escolhados portugueses e que dãoviabilidade ou não a umfuturo Governo.

Outra boa notícia é a perdada maioria absoluta para acoligação PSD-CDS, o quefará com que as políticas jánão possam ser as mesmas,mesmo se eles continuarem aser Governo e a governação

não possa ser arrogantecomo tem sido até aqui. Eisso já se começou a ver naforma como falam comAntónio Costa e todas asbenesses que lhe oferecempara que este lhes viabilize oGoverno: primeiro, levaram4 anos para aumentar osalário mínimo e, agora, jápode ser para a semana; é areposição de abonos defamília; é a eliminação dasobretaxa de IRS; é adevolução de salários aosfuncionários públicos.Enfim, vem aí o paraíso ouos amanhãs que cantam.

Outra novidade, é o medoque a direita e os interessesinstalados têm de uma outrasolução diferente dahabitual: um governoapoiado pelo Bloco deEsquerda e CDU (mas é tãobom ver o medo mudar delugar). Dá mesmo a ideiaque a direita ainda estáprestes a ver passar ocalendário do dia 24 de Abrilde 1974 para o dia 25 deAbril de 1974. Esta é adireita mais bafienta quegovernou Portugal desde arevolução de Abril eapoiante de um Governoque, não tendo os votos parafazer uma revisãoconstitucional, governousempre à margem da leicontra a Constituição, tendoum recorde de 21 chumbosno Constitucional.

Também por isso julgo quese conseguiu um encontro devontades que permita estasolução de Governo àesquerda, seja por apoioparlamentar ou seja mesmocom participaçãogovernativa.

Vemos muitos comentadoresjornalistas e outros

servidores com donotentando interpretar o sentidode voto dos portugueses – eprincipalmente dos eleitoresdo PS, do BE e da CDU –dizendo que não queriamesta solução quando votaramnos respectivos partidos. Oraeu penso que o queessencialmente os votantesdisseram foi que nãoqueriam estas políticas, nãoqueriam esta direita acontinuar a empobrecer opaís. Porque, apesar de antesdas eleições nunca ter estadoem cima da mesa um acordode Governo à esquerda, é noentanto um facto que os 3partidos à esquerdadisseram, de uma forma oude outra, que haviaalternativas a estas políticasde empobrecimento demuitos para enriquecimentode alguns. Porque foi isso oque se passou nestes anos:foi uma brutal transferênciade rendimentos do factortrabalho para o factor capital,e é uma possível reversãodesta situação que assustauma minoria de poderosos eprivilegiados e seus lacaiosque enchem páginas dejornais, écrans de TV e horasde rádio.

O que pode mudar para ostrabalhadores com esta novaperspectiva de um Governo àesquerda? Penso que estepoderá ser um Governodiferente dos outros quetivemos, porque pelaprimeira vez o PS terá defazer uma viragem à

Os resultados das legislativas de 4 de outubro obrigama uma análise cuidada. O que representam?

esquerda e pode haveralgumas coisas que serevelem, como por exemploa reposição dos feriados (quejulgo devia de ser a primeiramedida pelo seusimbolismo), a reactivaçãoda contratação colectiva, oaumento do salário mínimonacional, novas formas definanciamento da Segurançasocial (fazendo com que oslucros das empresas tambémcontribuam para o seufinanciamento), mais meiose poderes para a ACT(Autoridade para asCondições de Trabalho)poder cumprir as suasfunções, fim dos contractosemprego-inserção. E, ainda,uma medida que tenhoalgumas dúvidas que o PSaceite, mas que eu considerofundamental como criadorade emprego e um passo deprogresso civilizacional, queé a redução de horário detrabalho para todos ostrabalhadores para as 35horas semanais. n

Alexandre CaféMembro da

Comissão de Trabalhadores daLogoplaste – Santa Iria, delegado

sindical do SITE Sul (Sindicato dosTrabalhadores das IndústriasTransformadoras, Energia e

Actividades do Ambiente do Sul)

(1) Texto escrito a 21 de Outubro de2015, quando ainda não eraconhecida a decisão de CavacoSilva de nomear Passos Coelho para“formar governo”.

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livreANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

Há homens que lutam um dia, esão bons;Há outros que lutam um ano, e sãomelhores;Há aqueles que lutam muitos anos,e são muito bons;Porém há os que lutam toda a vida;Estes são os imprescindíveis.

Bertold Brecht

Os resultados daslegislativas de 4 deoutubro obrigam auma análisecuidada. A maioria

dos votos expressos indicauma vontade de mudança naspolíticas governativas. Demudança e de esquerda.A responsabilidade cometidaàs esquerdas é enorme. Quis oeleitor não dar maiorias anenhum partido, obrigando anegociações, acordos e balizaspara a atuação política.A maioria parlamentar passoua ser de esquerda e dessamaioria espera-se o corte comas políticas que, durante osúltimos quatro anos,aprofundaram asdesigualdades sociais emPortugal.Cabe ao Partido Socialista,enquanto segundo partidomais votado, aresponsabilidade maior nacondução do processonegocial ao decidir assumir asua matriz de esquerda,redefinindo a sua orientação

política e abandonando,aparentemente, “o centrão”.O momento é de granderesponsabilidade, mas tambémde grande atenção. Logo que oPresidente da Republicaanunciou a indigitação dePassos Coelho como Primeiro-ministro, o atual Governo,pese embora a sua condição deGoverno de gestão até àtomada de posse de um novo,aplicou medidas que tinhapreparadas e que são – comonão podia deixar de ser –gravosas para o povoportuguês. Desde logo, aalteração da percentagem dadevolução da sobretaxa deIRS, que passou de 35% para9%. E ontem, o anúncio dasnovas regras para a atribuiçãodo subsídio de sobrevivência,que passa a ser atribuído “commorte anunciada”, ou seja,quando em dependência total e

quando seja expectável que ofalecimento ocorra numperíodo de três anos. Sabe-seainda que a famosa tabelaúnica para a Função públicaestá preparada, tendo sidoescondida para não influenciarnegativamente os resultadosdas eleições.Perante estes factos – que aComunicação social, aoserviço do capital, pretendedesvalorizar – pede-se aosdemocratas, vigilância emilitância, no sentido defacilitar um acordo à esquerdaque, no quadro dos acordosinternacionais, não deixe dezelar em primeiro lugar pelopaís e pelo povo português. n

Maria Luísa Alves PatrícioMilitante 63798 do Partido Socialista

28 de Outubro

A Direcção do PS decidiu, aparentemente, sair do “centrão”

Iniciativas para responder à renomeação de Passos Coelho

Todas as contribuiçõesque publicamos nestasecção de TribunaLivre foram-nosenviadas após as

eleições de 4 de Outubro, massó uma delas é posterior àindigitação de Passos Coelhopara formar um “novo”Governo, que se propõecontinuar a pôr em prática amesma política.No momento em quefechamos este número do MS,ainda é uma questão em abertoqual o desenlace do braço-de-ferro entre Cavaco Silva (e osseus correligionários, a nívelnacional e internacional) e adeterminação da maioria dopovo português em acabar devez com o governo PSD/CDS.Relatamos abaixo duasiniciativas – uma da Direcçãoda CGTP e outra da ComissãoPromotora das ComemoraçõesPopulares do 25 de Abril –que, segundo os seus

organizadores, visam fazercom que esse braço-de-ferroseja ganho pela maioria dopovo português.

cgtP marca concentraçãona assembleia da república

Numa Conferência deimprensa, realizada a 28 deOutubro, Arménio Carlosanunciou que a CGTP vaiorganizar uma concentração naAssembleia da República nodia em que os deputados irãovotar o programa do “novo”governo de Passos Coelho(que está prevista para o dia 10de Novembro).Declarou também quais osobjectivos que a CGTPpretende atingir com essaconcentração:

«I. Reafirmar a recusapopular e a determinação defazer tudo para que oprograma do Governo dacoligação PSD/CDS seja

rejeitado;

II. Reclamar uma respostapositiva às propostas daCGTP-IN e às reivindicaçõesdos trabalhadores e daspopulações;

III. Exigir uma nova políticaque coloque os trabalhadorese o povo no centro dereferência dodesenvolvimento da economiae afirme os direitos, os valorese as conquistas de Abril.»

“Defesa dos Valores de Abril,onde a Constituição daRepública ocupa lugarcimeiro”

Também no mesmo dia 28,reuniu nas instalações daAssociação 25 de Abril, emLisboa, a comissãoPromotora dascomemorações Popularesdo 25 de abril.Nesta reunião, em queparticipou o POUS, estiveram

presentes mais 27organizações (de entre asquais nos permitimosdestacar os partidos que,tendo sido oposição aogoverno PSD/CDS naanterior legislatura, estãoagora em maioria naAssembleia da República – PS, BE, PCP e PEV).

O consenso mínimo gerado foirealizado em torno da“vontade firme de defesa dosValores de Abril, onde aConstituição da Repúblicaocupa lugar cimeiro”. Estandoconscientes “que essa defesanão se faz com atitudes comoa expressa pelo Presidente daRepública na suacomunicação ao País, ondemanifestou a vontade de nãocumprimento da Constituiçãoda República”, foi decididorealizar uma nova reunião (a 4de Novembro), “onde serãoanalisadas as acções adesenvolver”. n

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actualidade nacional >>>bateram durante acampanha eleitoral paraderrotar a coligação dadireita – para que, emconjunto, possamos discutira maneira de responder aeste desafio urgente.

Por um Governo que

comece a tomar as medidas

necessárias à recuperação e

ao desenvolvimento do

nosso país, entre as quais:

- A retirada dos cortes nos

salários e pensões;

- A dignificação do trabalho

restabelecendo os direitos

na contração coletiva;

- A proteção do emprego e o

combate à precaridade;

- A defesa do Serviço

Nacional de Saúde;

- A revisão dos processos

fraudulentos das

privatizações, das

concessões e das parcerias

público-privadas;

- A suspensão do processo de

municipalização/privatizaçã

o da Escola Pública.» n

Numa reunião queteve lugar namarinha grande,a 10 de outubro,foi adoptado o

apelo para a unidadedirigido a “militantes esimpatizantes do PS, doPCP, do PEV, do BE e deoutras organizações quenão tiveram expressãoparlamentar – mas que sebateram durante acampanha eleitoral paraderrotar a coligação dadireita” para que sejaimposta a vontade expressapela maioria do povo naseleições legislativas.

«Os votos da populaçãocolocaram em maioria naAssembleia da República osdeputados eleitos pelospartidos que afirmaram nãoaceitar a continuação dapolítica de austeridade, apolítica de destruição dasfunções sociais do Estado,das privatizações, dodesemprego e daprecariedade, a política quelevou a que centenas demilhares de portugueses

tivessem que sair do nossopaís.

As condições políticasresultantes deste votomaioritário permitem,agora, que possa serformado um Governo sem ospartidos cujo programa é acontinuação do que fizeramao longo destes últimosquatro anos.

Sabemos bem que, se esteGoverno for constituído, osproblemas e as dificuldadesnão irão acabar como pormagia.

Sabemos bem que asexigências dos interessesfinanceiros irão prosseguir,através das pressões echantagens da ComissãoEuropeia, do Eurogrupo e do BCE.

Sabemos que as condiçõesde combate e de defesa dopovo serão mais favoráveis,se o Governo for formadopelos partidos quereceberam o voto querejeitou a continuação dapolítica de austeridade.

É a hora de nos

mobilizarmos em prol daformação deste Governo,frustrando as manobrasdaqueles que tudo farãopara preservar o governoPSD/CDS.

É a hora das organizaçõesque representam ostrabalhadores se reunirem,para organizar este combate.

Cada um fará a sua parte.

Nós – apoiantes daCandidatura LIVRE/Tempode Avançar, em conjunto comos militantes do POUS eindependentes que sejuntaram nesta Candidatura,para derrotar a coligaçãoPSD/CDS e construir umaalternativa política –reunidos na MarinhaGrande, a 10 de Outubro2015, consideramos que éagora o momento deagirmos para construir todasas pontes com militantes,apoiantes e simpatizantes deoutras tendências políticas,para ajudar a pôr de pé estemovimento para a unidade.

Dirigimo-nos aos militantese simpatizantes do PS, doPCP, do PEV, do BE e deoutras organizações que nãotiveram expressãoparlamentar – mas que se

Apelo para a unidade

“Portugal: O novo paraíso fiscal - O país perfeito para a sua reforma”

em contraponto com oapelo para a unidade acimatranscrito, não resistimos adivulgar (sem fins depropaganda!) este anúncioda agência imobiliáriaatlanticHomes – Portugal,pela sua clareza e“acutilância”.

«Desde o início de 2013, oGoverno de Portugal permitea qualquer pessoa que queira

estabelecer a sua residênciafiscal habitual em Portugal, eque não tenha tido residênciafiscal em Portugal nos últimos5 anos, uma isenção fiscalpelo prazo de 10 anos, prazoesse que poderá serprorrogado.Assim, quem beneficie de umareforma paga num país com oqual Portugal estabeleceuuma acordo sobre duplatributação (abrange toda aUnião Europeia e Suíça, porexemplo), deixa de pagarimpostos no seu o país deorigem porque passa a terresidência fiscal em Portugale, também, não paga impostosem Portugal por força dasnormas legais especiais de

isenção agora estabelecidas.Portugal tornou-se, destemodo, um paraíso fiscalatraente na União Europeia –com o seu excelente clima,belas praias, multiplicidade decampos de golfe, as opções depropriedade fantástica eexcelente qualidade de vida.Portugal é hoje um destinoPrime a considerar para gozara sua reforma, e para comprarum imóvel.Em 10 anos pode comprar oseu imóvel em Portugal, efinanciá-lo com a sua isençãode imposto.Por outro lado, os nãoresidentes na União Europeia,e que estejam dispostos ainvestir em Portugal,

comprando um imóvel novalor de pelo menos €500.000,obterão o chamado visto de“ouro” – uma permissão paraviver em Portugal de formapermanente.Somos uma empresa deinvestimento, mediação epromoção imobiliária,abrangendo todo o territóriode Portugal, especializada empropriedades com vista para omar, no Algarve, e na CostaAtlântica.Temos também espectacularesimóveis na Região do Douro.»

De facto, fica muito claro afavor de quem agiu ogoverno PsD/cDs e a queminteressa a suacontinuidade… n

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ANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

taP: A luta contra a privatizaçãoA TAP é pública e tudo justifica que continue a sê-loTodas as condições estão reunidas para isso

air France – Trabalhadores em luta contra o plano de despedimentos

No último estrebuchardo seu mandato, ogoverno de PassosCoelho procurou“rapidamente e a

todo o vapor” encerrar osprocessos de privatização doconjunto do sector dostransportes (TAP, CP, Carris eMetro de Lisboa, STCP eMetro do Porto, entre outras).Saiu-se mal! Além da oposiçãodos trabalhadores e daspopulações, agrupados emtorno das suas organizações,teve igualmente que se havercom exigências suplementaresdos reguladores (a que nãoserão estranhas a resistência

dos trabalhadores e asmovimentações dos seussindicatos).A 13 de Outubro, já depois daseleições, a Lusa noticiava: “Aprivatização da TAP foiaprovada pela entidade quefaltava em Portugal, a ANAC -Autoridade Nacional deAviação Civil.(…) Mas a ANAC impõe, noentanto, a revisão dosestatutos da Atlantic Gatewaypara clarificar que HumbertoPedrosa é quem controlaefetivamente o consórcio.”No dia anterior, a TVI tinhanoticiado: “Privatização daTAP pode estar em risco

Estado comprometeu-se, nocontrato de venda, areestruturar a dívida, mas jápassaram 4 meses e ainda nãohá solução à vista.”Mesmo no terreno das suasinstituições, o Governoencontrou escolhos que oimpediram de concretizar maiseste ataque.Com a actual composição daAR, resultante da derrotainfligida à coligaçãoPSD/CDS, não há hoje umaúnica razão para que todasessas privatizações não sejamanuladas. Não há uma únicarazão para que a TAP nãocontinue pública e ao serviço

do país, tal como no sector daNavegação Aérea para que nãoseja liminarmente recusada aaplicação do pacote SES2+(Céu Único Europeu), que põeem causa a soberania doEstado sobre o espaço aéreoportuguês (e igualmente emtodos os países europeus),abrindo caminho à destruiçãodas empresas nacionais denavegação aérea e a milharesde despedimentos em toda aEuropa (cerca de 600 a 800 emPortugal, num universo decerca de 1000 postos detrabalho).Tudo continuará, no fim, adepender da luta dostrabalhadores ligados em tornodas suas organizações, masseguramente – com umamaioria PS/BE/CDU na AR– esse caminho mostra-sefacilitado e com melhorescondições de sucesso. n

a administração e o governorespondem com a repressão

A5 de Outubro, 3 milassalariados da AirFrancemanifestaram-separa se opor ao

plano de reestruturação daAdministração, plano desupressão de 3 mil postos detrabalho que se vem juntar aplanos precedentes. Quandopilotos, pessoal de cabine epessoal de terra semanifestaram com as suasorganizações sindicais, emunidade, a Administração daAir France e o Governo(francês) escolheramresponder com a repressão.No total, pelo menos, 6assalariados foram detidos epostos sob custódia nasequência de queixas daAdministração da Air France,após a manifestação de 5 deOutubro, que deu lugar aosincidentes que Administração,imprensa e Governoamplificaram com a fuga, em

camisa rasgada, de doisdirigentes da companhia.É da Administração da AirFrance e do Governo a totalresponsabilidade do que sepassou, ao recusarem ouvir asreivindicações dosassalariados.

a acção sindicalcriminalizadaApós as detenções, foramlançados apelos à greve, pelossindicatos CGT e FO da AirFrance, para participar numplenário de apoio aosassalariados sob custódia. Esteplenário reuniu muitascentenas de pessoas.Dando seguimento àsdeclarações de Valls(presidente do governo francês– NdT) falando de “capangas”e apelando a “sançõesseveras”, estas detençõesmostram a vontade decriminalizar a acção sindical ereivindicativa.A violência, como dizem ossindicatos do pessoal de terra,tal como o dos pilotos e do

pessoal de voo, reside é nabrutalidade dos planos dedespedimento que se sucedemna Air France (perto de 15000empregos em 63000 já foramperdidos desde 2012, e háagora o anúncio de 3000despedimentos suplementares).

unidade do movimentooperárioMilhares de assalariados daAir France manifestaram-se a22 de Outubro, nasproximidades da AssembleiaNacional, ao apelo de todos ossindicatos (menos a CFDT e aCGC), todas as categoriasjuntas, e acompanhados pornumerosos militantes de todosos sectores profissionais.Pilotos, hospedeiras eseguranças, com os seusuniformes, operadores deplaca – todos numaimpressionante unidade:“Parem com as perseguições,não somos criminosos”!“É formidável porque todas asprofissões da Air France estãoaqui” dizia um chefe de

cabine. Um operador de placa:“Compreendemos que se nosjuntarmos todos somos maisfortes”.Uniões departamentais esindicatos de todos os sectoresapelaram ao apoio aosassalariados da Air France eexigem, com eles, olevantamento das sanções e ofim dos despedimentos. Umfuncionário público dizia: “Osassalariados da Air Franceestão muito determinados, maso que é importante é apresença de todos os outros.Vieram delegações decarteiros, trabalhadoreshospitalares de Paris, daenergia, camionistas, etc.”Um técnico da Air France:“Estamos aqui contra assanções, contra o plano. Todosse devem juntar pela mesmacausa; estamos cá para isso.O que se passa na Air Franceé o que se passa por todo olado. O Governo éinteiramente responsável peloque acontecer a seguir.” n

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dos territórios de 1948 foramdespedidos de 44 empresas,a pretexto da “manutençãoda segurança” e porqueexprimiram a sua opinião. ÀComunicação social, foi ditoexplicitamente: “A partir dehoje não queremostrabalhadores árabes.”

O Sindicato dostrabalhadores árabesanunciou, no seucomunicado de imprensa,que está a juntar activamentetestemunhos, com oobjectivo de fornecer apoiojurídico às queixasapresentadas por 71 dostrabalhadores despedidos deempresas situadas nosterritórios de 1948 e naRegião de Jerusalém.

O Sindicato continuará a suaacção para juntar o maiornúmero de trabalhadores,com o objectivo de lhesfacultar apoio jurídicoperante os Tribunais deTrabalho israelitas.

apoiem a campanha paraacabar com as agressõescontra os trabalhadoresárabes palestinianos!

apoiem e contribuamfinanceiramente para abatalha jurídica visando aprotecção destestrabalhadores e areintegração nos seuspostos de trabalho!

Viva a classe operária!

enviai as vossas tomadas de posição para:[email protected]: arab.workers.un

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“Legítima defesa”?Apelo urgente pela protecção dostrabalhadores árabes palestinianos de Israel (25 de Outubro de 2015)

O povo palestiniano manifesta-se na rua

Face ao povopalestiniano que sebate pelos seusdireitos, o presidenteObama reafirmou, a 16

de Outubro de 2015, a sua«convicção de que Israel tem odireito de manter a ordem e alei, e de proteger os seuscidadãos dos ataques comfacas».Tal como se passou com asagressões contra Gaza em2008-2009, 2012 e 2014, omais alto representante doimperialismo dos EUAmanifesta o seu apoio aoEstado sionista, que pretendeestar a agir em «legítimadefesa». A juntar à nãocolocação de «nenhum limitenas actividades das forças desegurança», como tinha sidoprevenido por BenyaminNetanyahou.O seu ministro da SegurançaPública, Gilad Erdan, traduziuassim essa afirmação:«Qualquer terrorista deveriasaber que não sobreviverá aum ataque que esteja em viasde cometer.»É o “shoot to kill” (dispararpara matar), slogan com baseno qual mais de 20 jovens –que não traziam nem arma defogo nem faca – foramabatidos pelo Exército ou pelaPolícia, desde 1 de Outubro.Legítima defesa?Legítima defesa, a caça àsaparências e o linchamento deinocentes – como o de umtrabalhador da Estaçãorodoviária central de BeerSheva, linchado «por causa dacor da pele», como foinoticiado pelo jornal israelita

Yediot Aharonot, a 19 deOutubro?Legítima defesa, a execuçãosumária de Fadi Alloun e deShaaban, abatidos com dezbalas, na Estação rodoviária deJerusalém, porque houvepessoas que gritaram«terrorista!»? Homens que«não tocaram em ninguém enão tinham faca» – disseramtestemunhas desvairadas.Legítima defesa, a demoliçãono prazo de 15 dias das casasde Palestinianos suspeitos deserem agressores, comproibição das famílias asreconstruirem?Legítima defesa, odespedimento dos assalariadosde uma municipalidade – pelosimples facto de que sãoÁrabes palestinianos – ou deempregados que falam árabeentre si, quando o seuempregador lhes proibiu isso?(Ver ao lado o Apelo doSindicato dos trabalhadoresárabes de Nazaré.)O Estado sionista é possuidorde um Exército dos maispoderosos do mundo. Elereprime impiedosamente edispara sem aviso sobrerapazes e raparigas armados defisgas lançadoras de pedras…porque eles são Palestinianos.Isto ilustra o caos que significaa «solução dos dois Estados».A legítima defesa é o pretextofalacioso utilizado pelosdefensores do velho mundopara justificar a negação dodireito do povo palestiniano aviver na terra dos seusantepassados e a ter um país –a Palestina histórica. n

Manifestação na cidade de Nazaré, a 8 de Outubro.

israel prendeu 959trabalhadores árabespalestinianos desde oinício de outubro e 322foram agredidos edespedidos

OSindicato dostrabalhadoresárabes de Nazarélançou um Apelo àsorganizações

sindicais, a nívelinternacional, e àsorganizações de defesa dosdireitos democráticos, paraque intervenham junto daOrganização Internacionaldo Trabalho (OIT). Oobjectivo desse Apelo ésolicitar protecção para ostrabalhadores árabespalestinianos de Israel, queestão a ser sistematicamenteagredidos por parte decolonos de cidades israelitas.A última dessas agressões foirealizada contra 13trabalhadores árabespalestinianos da cidade deUmm al-Fahm (no distrito deHaifa, em Israel) e quetrabalham em Bet Shemesh(no distrito de Jerusalém).

Num comunicado deimprensa, publicado nacidade de Nazaré a 25 deOutubro de 2015, oSindicato refere que Israelprendeu 959 trabalhadoresárabes palestinianos daCisjordânia, de Jerusalém edos territórios de 1948(ocupados nessa data peloEstado de Israel) desde oinício de Outubro.

332 trabalhadores árabespalestinianos de Jerusalém e

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Desde o princípio deoutubro, a aviação russaestá empenhada numacampanha debombardeamentos contra oschamados grupos “islamitas”opostos ao regime sírio.encontram-se actualmenteno céu da síria aviõesmilitares da França, doseua, da rússia, da arábiasaudita e dos emiratosÁrabes, turcos e por vezesisraelitas.

Os EUA e os seusaliados do Golfocontestam à Rússia asua decisão debombardear alvos

“rebeldes” ou “terroristas” afim de apoiar o regime sírio(de Bachar-al-Assad). Jáexistem 20 a 30 gruposdistintos apoiados pelaTurquia, o Qatar, a ArábiaSaudita e ainda os Estados doGolfo (notemos que nenhumdestes países combate o Daech– Estado Islâmico). Algunsdias antes do início daintervenção russa, os EUAanunciaram que um grupo“moderado” de opositoressírios – treinados pela CIA –tinha acabado de se ligar àFrente al-Nosra, que é o ramooficial da al-Qaeda na Síria.Hollande – a partir da tribunada ONU – apelou àintensificação dos ataques“contra o Daech e unicamenteo Daech”. Ao Daech o seuministro dos NegóciosEstrangeiros (Fabius)acrescentou a Frente al-Nosra.Numa palavra, os “Aliadosocidentais” bombardeiam-sepacatamente entre si atravésdos grupos de “rebeldes” quecada um apoia.

manutenção da confusãoou incúria das grandespotências?

O Governo francês pede arenúncia incondicional deBachar al-Assad.A Turquia, pelo seu lado,acentuou a repressão sobreas organizações curdas – acomeçar pelo PKK – econsidera o Daech como umapoio à sua ofensiva contraos Curdos.Na Europa, Merkelconsidera que Bachar-al-Assad deve participar nasnegociações sobre o futuroda Síria. Hollande eCameron opõem-se a isso.Desde há mais de quatroanos, de acordo com amudança de alianças,repetem-se os mesmoscenários, e a imensa maioriado povo sírio – qualquer queseja a região do país em quehabite – é submetido àsdestruições, aosbombardeamentos e à mortepor todos os beligerantes.Convém insistir sobre umponto: os grupos emconfronto, tal como o regimesírio, estão todos ligados agrandes potências, quefornecem armas para mantero conflito e, na prática,demonstra na Síria a suaincapacidade para semearoutra coisa que não seja umcaos destruidor. Elas são asresponsáveis pelo êxodo –para os campos da Síria, paraos países limítrofes e atépara a Europa – de mais demetade da população síria,com todas as suasconsequências. A intervenção russainscreve-se na profunda criseque abala as cúpulasdirigentes dos EUA. Obamaqueria intervir, mas as

condições internas no seupaís – ligadas à luta declasses, à rejeição em massada guerra pela populaçãoamericana e as contradiçõesno seio da classe dominantedo país – não permitemefectuar uma intervençãodirecta do tipo da feita na 1ªguerra do Golfo, nem mesmoda 2ª. Foi por isso queObama decidiu, tal como aRússia, impedir as potênciaseuropeias de participar nas“negociações” sobre o futuroda Síria. Contudo, a Françapretende fazer passar a ideiade que também manda nojogo.Os bombardeamentos russossão do interesse dos EUA,que não quer o afundamentoda Síria – o que provocaria oafundamento de toda aregião – mas não têmcondições para executaremeles próprios a tarefa. Desdea queda do Muro de Berlim,os EUA não têm cessado apressionar os seus aliadospara tomarem a cargo –como subordinados – amanutenção da ordemmundial, isto é, dos seusinteresses capitalistas. OsEUA são a primeira potênciamundial, o 1º consumidor dehidrocarbonetos, e de longeo 1º produtor de armas.Contudo, a fraqueza dopoder político – em totalcontradição com o peso docapital dos EUA naeconomia mundial – abrebrechas nas quais todos osseus aliados, tal como aRússia, procuram defenderos seus próprios interessesno quadro comum da defesada ordem mundial,

provocando a seguir outrascrises. Todos chegaram auma situação em que o cursodos acontecimentos lhesescapa. Mas aquilo que osune, acima de tudo, éimpedir aos povos o direito adisporem de si próprios.A política das grandespotências – e, em 1º lugar, ados EUA – provoca odesmantelamento das naçõese a ruína dos povos. OMédio Oriente está hoje àbeira de um afundamentototal, que terá consequênciasmundiais e em particular naEuropa. n

Lágrimas de crocodilo

As declaraçõesescandalizadas das grandespotências: EUA, França,Alemanha, Arábia Saudita eGrã-Bretanha indignam-seapós cada bombardeamentorusso sobre populações civis.Mas, massacres do mesmotipo efectuados no Iémenpela Arábia Saudita – commais de 3 mil civis mortos,segundo várias agências daONU – deixaram de sernotícia. Ao mesmo tempo, aaviação dos EUAbombardeou um hospital dosMédicos Sem Fronteiras, naprovíncia de Kandar, noAfeganistão. Dos 19 mortos,9 eram membros das equipasmédicas (entre os quais oDirector do hospital). Comoqualificar aqueles que nosquerem convencer que umaguerra pode ser “limpa” epoupar as populações civis?

Mentiras, hipocrisia e incúria dos“promotores da paz” no Médio Oriente(artigo de François Lazar, publicado no IO do POI, de França, a 8 de Outubro)

Bombardeamentos da cidade de Talbisseh (Província de Homs), a 30 de Setembro de 2015.

ANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

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Na tarde de 16 de Março de 2003, o então Primeiro-ministro Durão Barroso recebia, nasLages, George W. Bush (EUA), Tony Blair (Reino Unido) e José Maria Aznar (Espanha),para se reunirem numa Cimeira que culminaria, quatro dias depois, na madrugada de 20desse mês, com a intervenção militar no Iraque.

O pretexto invocado pelos “senhores da guerra”, para a intervenção militar no Iraque, foi aalegada existência de armas de destruição maciça. Aos congressistas e deputados dessespaíses foram apresentados “dossiês” com provas falsas. A intervenção militar no Iraqueassentou numa mentira monstruosa, que os Serviços secretos procuram ocultar da opiniãopública. O cientista inglês Dr. David Kelly – que, então, denunciou na BBC o embusteorquestrado – apareceu morto dias depois, a 18/10/2003. Em 2008, após 5 anos de guerra, o nível de devastação social do Iraque era enorme:

Da guerra do Iraque… ao êxodo dos refugiados para a Europa

genocídio: desde o início daocupação, mais de um milhãode iraquianos foram mortos,sendo a principal causa demorte violenta a actuação dasforças de ocupação.

refugiados: havia 2,5milhões de refugiados nointerior do país e 2,2 milhõesnos países vizinhos.

Pobreza extrema: 43% dosiraquianos viviam com menosde 70 cêntimos por dia. 60% a70% da população activa nãotinha trabalho.

contaminação nuclear: nasinvasões de 1991 e 2003, osEUA lançaram 2500toneladas de bombas deurânio empobrecido. Solos ereservas de água ficaramcontaminados. Os efeitos irão

Indiferentes ao sofrimentoprovocado, as intervençõesmilitares sucederam-se.

na Líbia, a intervençãomilitar de 2011, liderada pelaNATO, lançou a sociedadeno caos. O país transformou-se num enorme campo debatalha. Grupos rivaisarmados fomentam o terror,lançando a população nasgarras dos traficantes que seaproveitam do terrorprovocado. “Há mais de 1milhão de pessoasamontoadas na Líbiaprontas a rumarem para aEuropa”, avisa o Governoitaliano.

na síria, arrasta-se umaguerra civil sangrenta, que oditador Bachar-al-Assaddesencadeou, há mais de 4anos, contra o povo sírio.Agora, com o apoio daaviação e do exército russos,os bombardeamentosintensificaram-se, asbombas de cloro e de gásmostarda paralisante,lançadas dia e noite, tornaminsuportável a vida dossírios na Síria.

Quase metade das mais de300 mil pessoas, que esteano chegaram à Europa, vemda Síria. Estas famíliasvêem-se obrigadas aabandonar o seu própriopaís, para escapar àsperseguições do regimesanguinário de Assad e daguerra que incendeia aregião. O grau de crueldadee desespero é tal, que osriscos que correm, porpermanecerem no seu país,se sobrepõem aos datravessia rumo à Europa e àhostilidade dos governos daUnião Europeia.

Do interesse pelosrecursosenergéticos…O Monde Diplomatique(edição portuguesa), deOutubro de 2015, num artigo

perdurar por 4,5 milmilhões de anos.

cancros e malformações:em consequência daradioactividade,aumentaram em flecha asmalformações congénitas,as leucemias, as doenças datiróide e o número decancros. As malformaçõescongénitas atingem 67%dos filhos de soldados dosEUA que estiveram noIraque.

Destruição do sistema desaúde: 2 mil médicos foramassassinados. Dos 34 milmédicos existentes em2003, metade abandonou opaís. Dos 180 grandeshospitais, 90% carecem derecursos essenciais. Oshospitais foram

transformados, pelos esquadrõesda morte, em centros clandestinosde detenção, tortura e assassinato.

Destruição do sistema de ensino:mais de 800 mil alunos (22%)deixaram de ir à escola primária esó metade dos que completam ainstrução primária iniciam osecundário. Outras 220 milcrianças, refugiadas com asfamílias em países vizinhos, estãosem escola. Mais de 300professores universitários foramassassinados.

Pilhagem de recursos: calcula-seque a exportação actual depetróleo iraquiano, dominada porempresas dos EUA, atinja 2,1milhões de barris por dia, menosmeio milhão que antes da invasão.O Iraque tem de importarcombustíveis para transportes euso doméstico.

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eis o resultado da missão “civilizadora” da “pax americana” dos eua no iraque!

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intitulado “Corrida ao gás noMediterrâneo”, afirmava:

“As recentes descobertas degás natural nas águasterritoriais do Egipto vêmconfirmar a importância dosrecursos do Mediterrâneooriental. Um maná como estepode vir a sacudir aeconomia dos paísesribeirinhos …” e “…representa uma nova fontede conflitos (…)”. Como éevidente, o acesso ao gásnatural do Mediterrâneolibertaria os países da UniãoEuropeia da dependência daRússia, de quem dependemexclusivamente para ofornecimento desse recursoenergético.

… aos interessesgeoestratégicosCentremo-nos no caso sírio.Apesar de o Governoreaccionário de Bashar-al-Assad ter feito o seu melhorpara integrar o país nomercado mundial dominadopelo Ocidente, os EUA – quequerem ter o domínio políticoda região – não toleram asligações do regime de Assad àRússia, ou ao Irão.

Os EUA, a França, aInglaterra e a Alemanha, entreoutros países da UniãoEuropeia – juntamente com aArábia Saudita, o Qatar e aTurquia, cada um com os seuspróprios interesses políticos eideológicos reaccionários –financiaram e armaramgrupos islamitas, que lançamo terror entre os povos árabes,como o autodenominado“Estado Islâmico”, gruposque têm alimentado e

inflamado a guerra que visasubstituir Assad porelementos da classedominante síria ditos“moderados” ou “pró-ocidentais”, enquanto aRússia pretende impedir oderrube de Assad, porentender que, através dele, osinteresses energéticos dosmagnatas russos ficam melhorprotegidos.

As desastrosas consequênciasdesta política eramprevisíveis. Mas, que sesaiba, até há uns meses atrás,antes de milhares de síriosaparecerem à porta daEuropa, não havianenhuma crisepara os EUA e osseus aliadoseuropeus!!

Que se saiba, oafogamento de3000 pessoas em2014 e de cerca de2500 mortes nosprimeiros seismeses deste ano,ao tentarematravessar oMediterrâneo, nãomereceu nenhuma“Cimeira deemergência” naEuropa! Que sesaiba, comexcepção do Primeiro-ministro italiano, MatteoRenzi, nenhum chefe deEstado da União Europeia oudas outras principaispotências imperialistasergueu a sua voz paraexpressar a sua indignaçãoface à catástrofe humanitáriados refugiados. Nessa altura,não se falava de nenhuma“crise de refugiados”! Falava-se em “migrantes”!

Ao invés, Cameron disse quese opunha ao salvamentodesses “migrantes” – dessa“praga”, como lhes chamou –porque salvá-los seria dar umsinal de incentivo à sua vinda,seria facilitar a sua chegada àGrã-Bretanha. E AngelaMerkel manteve um silênciosepulcral sobre o assunto.

Mas, quando centenas demilhares de pessoasdecidiram entrar, e marcharpelo meio da Europa, algunspaíses da União Europeia –como a França, a Inglaterra ea Alemanha – forambalbuciando alguma

“preocupação”, foramdizendo que erapreciso estabelecerlimites de entrada edefinir quotas para adistribuição dosrefugiados por todosos países da UniãoEuropeia.

A imprensa europeiaveio logo falar de“mudança de atitude”das autoridadeseuropeias! Será assim?

Mas, não foi Cameronque, há bem poucotempo, propôs apenalização doscidadãos ingleses que

alugassem as suas casas aimigrantes ilegais e defendeua criminalização dosimigrantes que trabalhassemsem autorização legal?

Não foi Angela Merkel que,em 2010, expressou a suaxenofobia, ao declarar que“esta ideia de termos pessoasde diferentes origensculturais, vivendo felizeslado a lado, não funciona.(…) O multiculturalismo

falhou, e falhoucompletamente” (AngelaMerkel, The Guardian,17/10/2010)? Será queAngela Merkel se rendeu a“motivações humanitárias”…que no passado recentesempre ostracizou?

Será que esses governos daUnião Europeia foramacometidos por um súbitorebate de consciência?

a alegada “mudança” éapenas aparente,circunstancial e interesseira– o número de recém-chegados à Alemanhacorresponde, quaseexactamente, ao número detrabalhadores necessáriospara renovar anualmente amão-de-obra dos empresáriosalemães.

Este aparente acto defilantropia do Governoalemão tem um propósito –satisfazer o interesse dosindustriais alemães em mão-de-obra qualificada e barata.

O Público de 15/9/2015noticiava:

“A Daimler e a Volkswagenvêem com bons olhos achegada de refugiados àAlemanha, e acreditam quepodem integrar um grandenúmero nas suas fábricas.Dieter Zetsche, administradorexecutivo da Daimler, dizmesmo que podem contribuirpara um grande crescimentoeconómico.

O administrador executivo daDaimler AG, Dieter Zetsche,afirmou a 14 de Setembro – noevento anual FrankfurtInternational Motor Show –que o fluxo de mais de 800 milrefugiados em direcção àAlemanha vai dar ao país asbases para um crescimentoeconómico semelhante àdécada de 1950 e 1960.”

Nem Angela Merkel, nemCameron, nem FrançoisHollande mudaram de atitudeem relação aos refugiados. O t t t

A guerra é acausa destacatástrofehumanitária,da desordeme do caos quereinam noMédioOriente!

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“bombardeamentos ebloqueio naval”! Eis aproposta de Matteo Salvini, olíder da organização pró-fascista da “Liga do Norte”,em Itália, para dissuadir osrefugiados de embarcarem nosportos da Líbia rumo àEuropa.

Para a UniãoEuropeia, resolver oproblema dosrefugiados da guerra,não é acabar com aguerra. Para a UniãoEuropeia, a “solução”para os efeitos daguerra, é … maisguerra!Com este (ou outro) propósito,a NATO está a efectuarmanobras militares emPortugal, Espanha e Itália.

No seu comunicado de24/10/2015 contra a NATO eos seus treinos bélicos, oPOUS dizia:

“(…) Não aceitamos que oGoverno português tenhaautorizado a NATO a fazer assuas manobras de guerra emPortugal (…). Sabemos que(…) as guerras na Síria, naLíbia, na Palestina, noAfeganistão ou na Ucrânia(...) são (…) guerras dedestruição e de morte quelevam a que centenas ecentenas de milhar de pessoas,de pais com filhos nos braços,arrisquem a vida para tentarchegar à Europa. Uma Europaonde a maioria dos governosaceita e é também responsávelpelo inferno de onde essesrefugiados fogem.”

E o comunicado acrescentavaque estes são “(…) os mesmosgovernos que se acoitam atrásdas instituições da UniãoEuropeia, para aplicar asmedidas de destruição dosdireitos sociais e laborais, de

que pode ter mudado é aavaliação sobre a melhorforma de defenderem osinteresses nacionais dosgrupos económicos efinanceiros que cada governoda União Europeia representa.

Uma vez satisfeitas asnecessidades das empresas dosrespectivos países, estesmesmos governantes nãohesitarão em ordenar o fechoimediato das fronteiras aosrefugiados.

Direito incondicionalde asilo aosrefugiados! Fim àguerra! Dissoluçãoda NATO! A forma como os governoseuropeus estão a lidar com osrefugiados é determinada pelosinteresses nacionais,contraditórios entre si, e pelavisão política diferenciada decada país sobre a melhorforma de servir os seusinteresses específicos.

Ao mesmo tempo que aceitamdefinir quotas para receberemrefugiados, reúnem-se emcimeiras para intensificarem aguerra de que fogem osrefugiados.

Os EUA anunciaram queiriam incrementar a suacampanha de organização deum exército mercenário naSíria que possa representardirectamente os seusinteresses, visando asubstituição de Assad,independentemente dogenocídio e da catástrofehumanitária que isso iriaprovocar.

O chanceler britânico GeorgeOsborne disse abertamenteque, para estancar o êxodo dosrefugiados, a Grã-Bretanha iriaaliar-se aos EUA ebombardear da Síria. FrançoisHollande juntou-se ao “coro”.

desertificação de regiõesinteiras, de empobrecimento ede usurpação da soberania dospovos.”

Sim, é verdade. Os governosda União Europeia, quefomentam e se alimentam daguerra – com as armas ebombas que vendem aosregimes sanguinários da Síria,da Arábia Saudita e da Turquia– são os mesmos que armamos terroristas do “EstadoIslâmico”, contra quemaqueles dizem estar acombater.

Kinan Masalemeh, um rapazsírio com apenas 13 anos,comentava assim a situação dopovo sírio:

“A minha mensagem é: porfavor ajudem os sírios. Ossírios precisam de ajuda já.Parem simplesmente com aguerra, nós não queremos irpara a Europa. Parem aguerra na Síria, apenas isso.”(Kinan Masalemeh, refugiado,um sírio de 13 anos)

Sim, é verdade. Os governosda União Europeia,responsáveis pelo êxodo para aEuropa das vítimas dessaguerra, são os mesmosgovernos que, nos seus países,lançam milhões detrabalhadores na miséria e nodesemprego.

Sim, é verdade, os refugiadosque fogem da guerra e osdesempregados são ambosvítimas do mesmo mal – oregime capitalista, onde olucro é a “regra sagrada” a quetudo querem subordinar.

Morte, guerras, destruição,mais de 60 milhões derefugiados – que jáultrapassam, em número, os da2ª Guerra mundial – tudo istoem pleno sec. XXI!!!

O “Direito internacional” édeterminado pelos interessesdos países que dominam aeconomia mundial, e o“Conselho de Segurança” daONU serve para legitimar aintervenção armada das

grandes potências para apilhagem dos recursos naturaise energéticos localizados nospaíses mais débeis.

Para o capitalismo, as únicasmedidas admissíveis são asque preservam os grandesgrupos económicos e o capitalfinanceiro, enquanto classe.Essas medidas – denominem-se elas de “austeridade”, de“reformas estruturais”, ou de“acções militares preventivas”– consubstanciam a destruiçãodas forças produtivas quelançam as sociedades no caos,os povos na miséria, os paísesna guerra e transfiguram orosto da civilização na faceamargurada da tragédiahumana.

Não se trata de uma figura deestilo. É antes a expressão dabrutalidade das botas cardadasdo capital financeiro aespezinharem a vida dospovos. O sofrimento atrozinfligido aos refugiados doMediterrâneo, ao povo grego eao povo português, são ailustração viva do que estamosa falar.

Na sua luta desesperada parase salvar enquanto classedominante e o sistemacapitalista que a sustenta, aclasse capitalista, e a suagestão da sociedade, está aarrastar a humanidade para ocaos e a barbárie. n

Pedro Nunes

Para ahumanidadesobreviver, ocapitalismotem de servarrido dopoder!

actualidade internacional >>>t t t

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ANO XVII ( II Série ) nº 117 de 30 de Outudro de 2015 Publicação do

Exploração, imperialismo e guerrapor Xabier Arrizabalo (Primeira parte)

Nenhum fenómenosocial escapa àexigência derentabilidade querege o capitalismo.

Mas poucos fenómenos estãomais intrinsecamenteassociados ao capitalismo doque a guerra. O lucro quepermite a rentabilidade de quevive a classe capitalista não caido céu: ele resulta daexploração da classetrabalhadora, da mais-valiaque dela é extraída mediante onão pagamento de todo otrabalho que realiza. É esta arazão de não ser de nenhummodo possível conciliar osinteresses destas duas classes.Por isso, a luta de classes não éuma ideia, mas sim aexpressão da realidadematerial em que se assenta ocapitalismo, a referidaexploração. Após a mais-valiaser gerada, ela é repartida entreos capitalistas, no plural, queconcorrem ferozmente,tentando cada um delesapropriar-se do maior quinhãodessa mais-valia. Estaconcorrência exclui, por issomesmo, qualquer possibilidadede um capitalismoregulamentado, pacífico,estável. O capitalismo não é sócontraditório, mascrescentemente contraditório:como explica Marx (em “OCapital”), a rentabilidade

tende a cair em resultado dopróprio processo deacumulação capitalista. E, paracompensar esta tendência, emúltima instância só existe ummétodo: aumentar aexploração. Isto é, o aumentoda exploração – que sematerializa na desvalorizaçãoda força de trabalho, queameaça as nossas condições devida – é uma exigência darentabilidade. Na suatrajectória histórica ocapitalismo tornou possível –ainda que não de forma idílica(impossível numa sociedadedividida em classes) – umconsiderável desenvolvimentodas forças produtivas. Mas,desde há mais de cem anosessa possibilidadedesapareceu, passando ocapitalismo a um novo estádiohistórico: o estádioimperialista. Ele foicaracterizado por Lenine, em1916, na sua obra “Oimperialismo, estádio supremodo capitalismo”, explicando aconfiguração do capitalfinanceiro como concentraçãonas mesmas mãos de grandesmassas de capitais, cada vezmais monopolizadas einternacionalizadas.Neste quadro, o conflito entreos capitais financeiros dasprincipais potências –respaldados militarmente pelosrespectivos Estados – naprocura de mercados, permiteentender porque é que a guerraé uma parte constitutiva docapitalismo, especialmentequando as dificuldades daacumulação conduzem cadavez mais crises (e, além disso,os gastos militares são umafonte de negócio em simesmos), processo que foianalisado por RosaLuxemburg em “Aacumulação do capital”. O

próprio Lenine resumiu asconsequências doimperialismo na fórmula“crises, guerras erevoluções”. Actualmente,como sabemos, esta fórmulacontinua plenamente válida,em todos e cada um dos seustrês elementos. As crises – oumelhor, a crise crónica docapitalismo –, tal como asguerras, acompanhamnecessariamente este modo deprodução obsoleto. E emconsequência disso, asrevoluções – ou melhor, o fiode continuidade da revoluçãopermanente, evidenciado porMarx e Trotski – apresenta-secomo uma necessidadeimperativa. Porque o conflito competitivodos capitais, não somenteexclui qualquer possibilidadede desenvolvimento estável,mas também – tendo ocapitalismo chegado ao seuestádio imperialista –desemboca, inevitavelmente,em constrangimentos cada vezmaiores sobre as forçasprodutivas. Como explicaTrotski no Programa deTransição – adoptado pela IVªInternacional, em 1938 – jánão se pode depositarnenhuma ilusão em novosdesenvolvimentos das forçasprodutivas, pois elas

“pararam de crescer”. Pelocontrário: a sua destruiçãoestende-se e aprofunda-se. É adesvalorização da força detrabalho, imposta através dosajustamentos do FMI, mas nãosó. É a própria destruição dasnações, a destruição dequalquer base democráticapara a sociedade. Na segunda parte deste artigo (1), explicaremos emparticular como na Europa istose apresenta sob a forma dasubordinação ao imperialismonorte-americano (selada em1949 com a criação da NATO)que enquadra a origeminstitucional do que hoje,ironicamente, se autoproclamacomo “União Europeia”,quando se trata apenas doprincipal instrumento para atutela dos EUA (sob a capa deuma troika que, na realidade, ésomente do “cavalo de Troia”para o controlo directo dapolítica económica nocontinente europeu pelo seuFMI), como se tornou evidentena guerra da Ucrânia. Mas nãoapenas na Europa, também noAfeganistão, no Iraque, naLíbia, na Síria,… n

(1) A ser publicado no próximonúmero do Militante Socialista.

Sobre-exploração dos trabalhadores no Bangladesh.

Page 20: Tribuna Livre da luta de classes o militante socialista · (Deolinda Martin): XCamaradas, ... tanto mal provocaram à sua vida e ao país. ... o que está em pano de fundo Og r au

actualidade internacional

Nas eleições regionaispara o Parlamento daCatalunha foiregistada umaesmagadora derrota

do primeiro-ministro espanhol,Mariano Rajoy. Os quevotaram em partidos pró-independência da Catalunha(47,8% da coligação “Juntospelo sim” e da Candidatura deUnidade Popular-CUP), maisos que são partidários dodireito à autodeterminação(8,9% de “Catalunha, sim,pode-se”) e os 2,5% da UniãoDemocrática totalizam umamaioria de 59% contra aConstituição monárquica doEstado espanhol. O Partido Socialista daCatalunha (PSC) – obteve opior resultado de sua história(12,7%), em virtude da políticapró-monárquica da Direcçãofederal – propõe também umareforma federal. Isso significaque os partidos que defendema actual Constituiçãorepresentam apenas 26% dosvotos: o Partido Popular (PP)de Rajoy, afundou-se com8,5% e o partido “Cidadãos”obteve 17,9%. Ao mesmotempo, a proposta de “Juntospelo sim” de proceder a umadeclaração unilateral deindependência choca-se comum facto inegável: a soma dosseus votos com os da CUP nãochega a 48% do total.

Vazio de representaçãopolítica

Os trabalhadores de todos ospovos da Espanha constituemuma única classe, com asmesmas conquistas sociais, asmesmas convenções, umaSeguriança Social única,serviços públicosconquistados para toda apopulação, e, particularmente,Centrais sindicais que actuamem todo o país, o que dá forçaà classe operária.

O actual afundamentoeconómico do país – produtoda crise do capital financeiro àescala internacional e dapolítica praticada pelas suasinstituições, a União Europeiae o FMI – levou às maioresmobilizações dostrabalhadores e das suasorganizações no país; mas osdirigentes das Centraissindicais assinaram um pactosocial e deram uma trégua aoGoverno. Isso levou aindignação social a ter comoexpressão o crescimentoespectacular do independen-tismo na Catalunha. Os trabalhadores, camponesese jovens que votam a favor daindependência querem, antesde tudo, libertar-se daMonarquia, do Estadocorrupto e dos privilégios dogrande capital. A política pró-monárquica daDirecção do PSOE impediueste partido de desempenharum papel de ligação entre osinteresses dos trabalhadores detodos os povos e os seusdireitos. Nessas condições, háum verdadeiro vazio derepresentação política dosinteresses comuns dostrabalhadores e dos povos. Num manifesto lançado porcerca de 200 sindicalistas emilitantes operários de todo oEstado espanhol pode ler-se:“Defendemos a união livre depovos livres como sendo amelhor opção. É a opção quemais nos interessa, comotrabalhadores que lutamosjuntos e, juntos, arrancámosconquistas comuns a todos. Opovo catalão não pode ficarisolado na defesa de umaexigência democrática, porqueessa exigência diz respeito atodos os trabalhadores.Afirmamos que é um dever detodo o movimento operário doEstado espanhol fazer sua estacausa.” n

Correspondente

Na Catalunha, derrota da Constituição monárquicaEleições regionais no Estado espanhol impõem derrota esmagadora ao governo de Rajoy

Defesa dos sindicalistas espanhóis

e agora?A Declaração do POSI,Secção da IVª Internacionalno Estado espanhol– como o POUS o é emPortugal – afirma:«Os grupos parlamentares de“Juntos pelo sim” e da CUPapresentaram no Parlamentoda Catalunha, a 26 deOutubro, uma proposta deResolução proclamando aabertura de “um processoconstituinte nãosubordinado” iniciando “oprocesso de criação doEstado catalão independenteem forma de República”.Resolução a que o governo deRajoy respondeu, deimediato, com novasameaças.

Para derrotar Rajoy e aMonarquia (que têm o apoioda União Europeia), éimprescindível forjar aunidade do povo catalão eprocurar a aliança com ostrabalhadores e povos de todoo Estado espanhol. É a únicapossibilidade de conseguir asoberania, o que requer algomais que uma maioriaparlamentar. Para abrirefectivamente um processoconstituinte não subordinado– isto é, não subordinado nemà Monarquia nem à UE – noqual a soberania popular sejaalgo mais que umaproclamação. Defesa da sua soberania porque estão também a lutar opovo português e os outrospovos da Europa e do restodo mundo.» n

Sindicalistas do Estadoespanhol divulgaramum apelo à constituiçãode uma Comissãointernacional em defesa

dos 300 processados porgreves na Espanha e pelarevogação do artigo 315.3 doCódigo Penal espanhol, quepossibilita a criminalização desindicalistas no exercício deseu mandato. Esta legislaçãotem sido utilizada para tentardeter a mobilização dostrabalhadores, num momentoem que o governo de MarianoRajoy enfrenta dificuldades,como se viu nas recenteseleições regionais naCatalunha (ver ao lado). A proposta de realizar oEncontro para constituir aComissão partiu dosadvogados dos sindicatos quedefendem os camaradasprocessados. O apelo, dirigidoa todo o movimento operário

internacional, propõe que oEncontro ocorra a 20 deNovembro, em Madrid. O texto afirma:“Consideramos que essacomissão pode ser de grandeajuda para reforçar a açãointernacional, antes de tudopara que se conheça asituação concreta dosprocessados na Espanha porparticipação em greves, efundamentalmente paracolocar no centro a exigência,dirigida ao Governo espanhol,de anulação do artigo 315.3,que permite condenar à prisãoou a graves sançõesfinanceiras”. Reuniões etomadas de posição em defesados sindicalistas espanhóisocorreram em vários países:Brasil, França, Reino Unido,Alemanha, Suíça, Portugal,Argélia, EUA e Guadalupe. n