tribuna da calha norte

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ANO IX - Nº 21 / EDIÇÃO LOCAL DIGITAL www.tribunadacalhanorte.com.br Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 CIRCULAÇÃO - MONTE ALEGRE, SANTARÉM, ALMEIRIM, ALENQUER, FARO, GURUPÁ, JURUTI, ÓBIDOS, ORIXIMINÁ, PRAINHA E TERRA SANTA. DISTRITO DE MONTE DOURADO, PORTO TROMBETAS, SANTA MARIA DO URUARA E ALTER DO CHÃO Três faculdades do Pará foram fechadas pela Justiça Federal PÁGINA 08 REGIÃO Pescadores elegeram comissão governamental para a Z19 de Óbidos PÁGINA 09 Pará é classificado como área livre de febre aftosa PÁGINA 09 GERAL Incra não usa 70% dos lotes disponíveis para reforma agrária PÁGINA 10 TRABALHO RURAL A situação fundiária no Pará exige que providências urgentes sejam tomadas. Os produtores rurais, por meio de 126 sindicatos ligados à Federação da Agricultura do Pará (Faepa), estão usando números de assentados no Estado divulgados pelo próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para provar que há muita terra sobrando para as famílias de agricultores que precisam de lotes para morar e produzir. E se tem muita terra, as invasões seriam não apenas inoportunas, mas desnecessárias. Marinete Macêdo perde o mandato de vereadora MUNDURUKU MONTE ALEGRE Seleção de Monte Alegre está entre as melhores na Copa Oeste ESPORTE A seleção de Monte Alegre, está entre as melhores nos jogos da Copa Oeste do Pará, que ocorre em Santarém. Apesar de uma participação baixa tanto das seleções como de torcedores a Copa Oeste o município de Monte Alegre está sendo representado na competição, que já se encontra com 3 pontos. PÁGINA 11 Funai garante que contrato não tem validade Estudante de 17 anos é assassinado com tiro na cabeça em Juruti Foi assassinado na madrugada de domingo, 25, com um tiro na cabeça o estudante Victor Alexandre Vasconcelos Costa, 17 anos, quando se encontrava em um banheiro do bar Saudosa Maloca, na cidade de Juruti. PÁGINA 11 ASSASSINATO MEIO AMBIENTE Governadores da Amazônia se reúnem para elaborar a ‘Carta da Amazônia’ O primeiro passo para a elaboração da “Carta da Amazônia”, documento conjunto que reúne temas relativos à região, a ser apresentado na Rio+20 em junho deste ano, aconteceu na segunda-feira (26), no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia em Belém, reunindo governadores e representantes de nove Estados da Amazônia . PÁGINA 07 Semma ganha maior autonomia para fiscalizar a questão ambiental PÁGINA 08 JURUTI Juruti foi habilitado a ter mais autonomia na fiscalização das questões ambientais,. Estudantes adolescentes aprendem sobre saúde sexual em escola em Oriximiná PÁGINA 11 EDUCAÇÃO O renomado médico e palestrante Jairo Bouer foi atração no cineteatro de Porto Trombetas, em Oriximiná,. PÁGINA 04 PÁGINA 07

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Edição digital local 21

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ANO IX - Nº 21 / EDIÇÃO LOCAL DIGITAL www.tribunadacalhanorte.com.br Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012CIRCULAÇÃO - MONTE ALEGRE, SANTARÉM, ALMEIRIM, ALENQUER, FARO, GURUPÁ, JURUTI, ÓBIDOS, ORIXIMINÁ, PRAINHA E TERRA SANTA. DISTRITO DE MONTE DOURADO, PORTO TROMBETAS, SANTA MARIA DO URUARA E ALTER DO CHÃO

Três faculdades do Pará foram fechadas pela Justiça Federal

PÁGINA 08

REGIÃOPescadores elegeram comissão governamental para a Z19 de Óbidos

PÁGINA 09

Pará é classificado como área livre de febre aftosa

PÁGINA 09

GERAL

Incra não usa 70% dos lotes disponíveis para reforma agrária

PÁGINA 10

TRABALHO RURAL

A situação fundiária no Pará exige que providências urgentes sejam tomadas. Os produtores rurais, por meio de 126 sindicatos ligados à Federação da Agricultura do Pará (Faepa), estão usando números de assentados no Estado divulgados pelo próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para provar que há muita terra sobrando para as famílias de agricultores que precisam de lotes para morar e produzir. E se tem muita terra, as invasões seriam não apenas inoportunas, mas desnecessárias.

Marinete Macêdo perde o mandato de vereadora

MUNDURUKUMONTE ALEGRE

Seleção de Monte Alegre está entre as melhores na Copa Oeste

ESPORTE

A seleção de Monte Alegre, está entre as melhores nos jogos da Copa Oeste do Pará, que ocorre em Santarém.

Apesar de uma participação baixa tanto das seleções como de torcedores a Copa Oeste o município de

Monte Alegre está sendo representado na competição, que já se encontra com 3 pontos. PÁGINA 11

Funai garante que contrato

não tem validade

Estudante de 17 anos é assassinado com tiro na cabeça em JurutiFoi assassinado na madrugada de domingo, 25, com um tiro na cabeça o estudante Victor Alexandre Vasconcelos Costa, 17 anos, quando se encontrava em um banheiro do bar Saudosa Maloca, na cidade de Juruti.

PÁGINA 11

ASSASSINATO

MEIO AMBIENTE

Governadores da Amazônia se reúnem para elaborar a ‘Carta da Amazônia’O primeiro passo para a elaboração da “Carta da Amazônia”, documento conjunto que reúne temas relativos à região, a ser apresentado na Rio+20 em junho deste ano, aconteceu na segunda-feira (26), no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia em Belém, reunindo governadores e representantes de nove Estados da Amazônia . PÁGINA 07

Semma ganha maior autonomia para fiscalizar a questão ambiental

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JURUTI

Juruti foi habilitado a ter mais autonomia na fiscalização das questões ambientais,.

Estudantes adolescentes aprendem sobre saúde sexual em escola em Oriximiná

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EDUCAÇÃO

O renomado médico e palestrante J a i r o B o u e r f o i a t r a ç ã o n o cineteatro de Porto Trombetas, em Oriximiná,.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012TRIBUNA DA CALHA NORTE2 COMENTÁRIO

Irlan Simões

CBF: Para que tudo continue como estáMal aconteceu e logo tornou-s e u m d o s t e m a s m a i s c o m e n t a d o s n o B r a s i l . A renúncia do presidente da Confederação Brasileira de Futebol , Ricardo Teixeira

— anunciada em entrevista coletiva no dia 12/03, pelo seu sucessor direto José Maria Marin — pegou muitos de surpresa. O dirigente larga o maior posto do futebol b r a s i l e i r o a p ó s 2 3 a n o s d e p o l ê m i c a s e i n t e n s a s transformações no esporte mais amado do país.Talvez a maior surpresa tenha sido a forma do adeus. Ao agir como se estivesse saindo pela porta dos fundos, como fazem os derrotados e humilhados, Teixeira conseguiu desviar muito da atenção daqueles que tanto desejaram esse momento.Pouca coisa mudará na CBF, principalmente a partir das primeiras declarações públicas do paulista José Maria Marin, que chegou ao cargo por ser o vice-presidente com idade mais avançada no momento. No alto dos seus 79 anos, o novo presidente deixou claro que assume a presidência de acordo com o estatuto da entidade e que cumprirá o mandato até o final para fazer – vale sublinhar

– uma gestão de continuidade.O que se sabe é que Marin, c o m p a r a d o c o m R i c a r d o Teixeira é um nome muito frágil, sem o mesmo cacife político e que já pega o posto desgastado pela história curiosa do “roubo

da medalhinha”. Um detalhe qualquer ao lado do passado desse senhor. Marin, que já foi deputado pelo Arena, partido ligado à ditadura (aquele que deixou crias como Antônio C a r l o s M a g a l h ã e s e J o s é Sarney), sempre foi homem de confiança de Teixeira, e ganha hoje os últimos louros pelo papel cumprido.Quase octagenário, Marin será o homem que fará o papel de Texeira… por ele mesmo. Da forma mais fácil e justificável p o ssí v e l , M a ri n re c e b e o bastão da CBF e até das ações pertencentes a Teixeira na sociedade criada para gerir o Comitê Organizador da Copa. Vale lembrar: a gestão de que o cartola paulista faz parte (e que agora lidera) foi prorrogada até 2015 por conta da proximidade da Copa do Mundo. Ou seja, não foi eleita, mas “prolongada” c o m o a v a l d a s o u t r a s federações filiadas em nome do torneio que era capitaneado por Ricardo Teixeira.O a n t i g o p r e s i d e n t e f o i bombardeado, nos últimos meses, por denuncias que já pesavam sobre ele desde o início de sua carreira na CBF. Hoje abalado publicamente, passava a comprometer o negócio dos seus parceiros, e era mais do que conveniente que deixasse de ser uma figura pública e atuasse, na medida do possível, apenas nos bastidores. Partirá para Miami, mas não deixará de ser uma figura a ser consultada.

O que ainda pesará nessa históriaAcontece que Marin não terá vida tão fácil como esperava, ou ao menos terá que ceder um pouco mais do que desejava. Um bloco de Federações Estaduais, já alcunhado de “ala rebelada” não gostou nem um pouco da manobra feita pelo grupo que mantém a gestão. Tal bloco é composto por dirigentes da Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, contando com o apoio das federações paranaense e paraense.Antes mesmo do anuncio dessa segunda-feira, uma crise ameaçava rachar a CBF. Quando Ricardo Teixeira pediu afastamento por motivos médicos, os

“rebelados” convocaram às pressas uma Assembléia Geral da CBF para garantir que fosse realizada nova eleição. O bloco alegava temer uma hegemonia paulista na Confederação. Exatamente por isso, não se contentavam com a automática transição de Marin.Foi por isso que o dirigente da Federação Baiana, Ednaldo Rodrigues, declarou, ainda na segunda-feira: “Ninguém sabe direito como aconteceu esse acordo entre Federação Paulista de Futebol (FPF), José Maria Marin e CBF. Vamos ouvir do Marin, porque esse tempo todo eles disseram que o Teixeira não renunciaria. Eles tiveram a oportunidade de avisar a todos na Assembleia Geral Extraordinária, no último dia 29”.Vale lembrar que grande parte das federações rebeladas é composta por nomes da chamada “bancada da bola”. Entre eles, está o baiano José Rocha, deputado pelo PR, considerado o líder da bancada. Muitas fontes, ainda antes da Assembleia Geral, já indicavam uma insatisfação desses parlamentares com Ricardo Teixeira, alegando um “esquecimento” do cartola maior.É claro que desse bloco também não há muito que esperar. Os rebelados não são uma oposição, mas um mero grupo de cartolas decadentes que sentiu enfim a queda de sua influência nos rumos do jogo.

O futebol brasileiro mudou e você nem percebeuTambém, pudera. Nos últimos anos, o futebol brasileiro mudou muito, e os cartolas do plenário parece que não perceberam. Como salientou bem o site Da ideia quando g i n g a : “ É q u e a s p l a c a s t e c t ô n i c a s e c o n ô m i c a s -políticas mexeram tanto que precisaram renovar a sua superestrutura. Em miúdos: a CBF ficou obsoleta para as novas forças econômicas que emergem”.É aí que os pontos se ligam. A transição Teixeira-Marin configura o melhor quadro político possível para aqueles que já simbolizavam o grande centro do poder no futebol brasileiro. Livre de uma figura pública desgastada, mas como o mesmo poder de influência que tinha nos tempos anteriores, esse grupo consegue, mais do que nunca, transformar a CBF na correia de transmissão entre seus interesses privados e os rumos do futebol nacional. Entre eles a construção da Copa

do Mundo de 2014.O que falar da declaração que segue? “O futebol perde muito. Agora, as pessoas do futebol têm que tomar cuidado, porque muita gente de fora vai querer entrar”. A frase é de Andrés Sanches, ex-presidente do Corinthians e atual diretor de Seleções da CBF, logo após a renúncia de Teixeira.Sanches, cresceu num tiro muito rápido no jogo político do futebol nacional. De conselheiro

do Corinthians, até presidente do clube, conseguiu costurar um acordo com o governo federal e a empresa Odebretch p a r a c o n s t r u i r o e s t á d i o particular do clube paulista.Com ele , também cresceu a importancia de Ronaldo ( c u j o p a p e l n o f u t e b o l j á eraprevisto), ex-jogador e hoje megaempresário do ramo esportivo no Brasil, com a sua 9ine, que também faz parte do Comitê Organizador da Copa.

O qual também não perdeu chances de defender o “amigo Teixeira” o quando pôde.Ao lado desses dois nomes, juntam-se outras grandes empresas como a Traffic e Sonda, que tiveram, durante anos a fio, forte influência na própria def inição dos convocados para a seleição brasileira.Também se juntam grandes p o t ê n c i a s d a e c o n o m i a nacional, como os bancos BMG e Bradesco, assim como as empreiteiras “selecionadas” para levantar os estádios da Copa do Mundo: OAS e Odebretch.Definindo o raciocínio: Ricardo Teixeira parte, mas deixa de herança um núcleo duro capaz de resguardá-lo pelo resto da vida. São nomes e grupos econômicos fortes ao ponto de garantir que passará o resto da sua vida em paz, sem correr risco de processos por enriquecimento ilícito.

Novos tempos virão, novas batalhas tambémMarco Polo Del Nero, presidente d a F e d e r a ç ã o P a u l i s t a d e Futebol — que está léguas adiante das outras filiadas, em matéria de poder econômico e político — também foi bem preciso em suas declarações durante o burburinho que se formou com a renúncia do Tricky Ricky (tomo aqui emprestado o apelido que os ingleses deram ao nosso ex-presidente).A p o n t a d o p e l o s c a r t o l a s

“rebelados” como o principal a r t i c u l a d o r d a t r a n s i ç ã o Teixeira-Marin, Marco Polo declarou que “Se ele [Marin] administrar como eu, todos são iguais perante a lei. Ele é advogado, conhece as leis do nosso país e sabe que todos são iguais”. Esqueceu, no entanto, de citar a queixa de clubes como Portuguesa e Ponte Preta, sobre os privilégios concedidos aos quatro grandes de São Paulo em detrimento dos clubes menores.

C a s o o f u t e b o l b r a s i l e i r o funcione com o mesmo modelo de gestão de sempre — como afirmou Marin, seguido de todos os seus “apoiadores” até o momento – muito há o que se temer. O histórico de represálias a adversários políticos, seguido da eterna política de favores que sempre deu o tom das relações dentro da CBF, pode ser mantido, com um aspecto muito pior.Dessa vez o poder de barganha está mais enfraquecido no

plano institucional, e mais fortalecido no plano privado. O bloco dirigente hoje perde aliados, mas ganha verdadeiros funcionários dentro da CBF.Na s p a l a v ra s d e R om á rio , ex-jogador e deputado que construiu no seu mandato uma verdadeira batalha contra Ricardo Teixeira e os cartolas corruptos brasileiros: “Tomara que não tenhamos nos livrado do câncer para ter que tratar da AIDS”.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 3TRIBUNA DA CALHA NORTEESPECIAL

Natalia Viana, Ana Aranha, Jessica Mota e Carlos Arthur França

A TERRA É DOS ÍNDIOS. E O CARBONO, É DE QUEM?Por US$ 120 milhões, empresa irlandesa compra direitos sobre créditos de carbono dos índios Munduruku, no Pará; contrato valeria por 30 anos. A Funai foi deixada de fora.

O vídeo promocional da empresa Celestial G r e e n V e n t u r e s

– “verde celest ial” , em português – traz imagens d e u m a r e u n i ã o e m u m a localidade não identificada, na Amazônia. Em meio a fotos, com fundo musical, o irlandês Ciaran Kelly, CEO, explica: “Nós sentamos com a comunidade l o c a l , h á u m a d i s c u s s ã o muito aberta, dizemos o que temos que fazer, quais são as suas responsabilidades e as nossas. Se concordamos, prosseguimos”. O p o r t u g u ê s J o ã o Borges de Andrade, chefe de operações no Brasil, aparece em fotos rodeado pela população local. “Eu gosto do contato com essas pessoas, elas são muito gentis e muito amigáveis. É emocionante”.A Celestial Green atua em um novo setor que se fortalece nos recônditos da Amazônia brasileira: a venda créditos d e c a r b o n o c o m b a s e e m desmatamento evitado, focado nas florestas. Por estes créditos, a empresa tem procurado indígenas de diversas etnias e teria assinado contratos com os Parintintin, do Amazonas, e Karipuna do Amapá, segundo as suas páginas no twitter e facebook. No dia 22 de setembro do ano passado, o mesmo João Borges, da Celestial Green, foi a uma reunião a respeito de um contrato de crédito de carbono com os índios Munduruku,

n a C â m a r a M u n i c i p a l d e J a c a r e a c a n g a , n o P a r á . Assim que ficou sabendo, a missionária Izeldeti Almeida da Silva, que trabalha há dois anos com os Munduruku, correu para lá: “Fui pega de surpresa. Depois falei com um dos líderes e ele disse que fazia tempo que estavam negociando com um grupo pequeno de lideranças”. Quando chegou à sala de reunião, diz a freira, o espaço estava cheio. Estavam todos lá: caciques, cacicas, mulheres e crianças. Muitos vestidos para guerra: pintados, com arcos e roupas tradicionais. A reunião foi fotografada pelos dois lados.

“Os guerreiros e as guerreiras estavam muito brabos com o pessoal que foram falar lá em cima”, lembra o cacique Osmarino. “As guerreiras quase bateram neles”. Segundo Izeldeti, o representante da empresa mal conseguiu falar. “Eles gritavam em voz forte que estavam cansados de ser enganados. Disseram: ‘nós sabemos cuidar da floresta, não precisa de ajuda’. As mulheres guerreiras ficaram na fila e cada uma foi falando em Munduruku. Meteram a flecha perto do coração, passavam no pescoço. O representante da empresa disse que não entendia a língua, mas que não tava gostando porque era sinal de ameaça”. O contrato, no entanto, acabou sendo assinado naquele mesmo dia – tanto a empresa quanto os indígenas confirmam.

D e a c o r d o c o m Izeldeti e Osmarino, porém, o contrato foi assinado contra a v o n t a d e d a m a i o r i a d a população Munduruku.OS DONOS DO CARBONO

- Totalmente desconhecida no Brasil, a Celestial Green, sediada em Dublin, se declara proprietária dos direitos aos créditos de carbono de 20 milhões de hectares na Amazônia brasileira – o que equivale aos territórios da Suíça e da Áustria somados. Juntos, os 17 projetos da empresa na região teriam potencial para gerar mais de 6 bilhões de toneladas de créditos de carbono, segundo a própria empresa. O s c r é d i t o s p o r desmatamento evitado, ou REDD (Redução de Emissões p o r D e s m a t a m e n t o e Degradação florestal), não são

“oficiais”, ou seja, não podem ser vendidos nos mercados regulamentados pelo protocolo de Kyoto. Este protocolo só aceita, por exemplo, a venda de créditos por uma empresa de um país pobre que troque sua tecnologia por uma menos poluente; os créditos que ela deixará de emitir podem ser vendidos. No caso das florestas, não há um mecanismo oficial que permita isso. Por isso, os créditos de carbono referentes a florestas são negociados em um mercado voluntário, que não é regulado; empresas como a Landrover, o HSBC, a Google e a DuPont compram esses créditos para sinalizar que estão fazendo algo de bom pelo meio ambiente. O mercado é muito menor do que aquele resultante de projetos previstos por Kyoto: em 2010, o valor negociado foi de cerca de 400 milhões de dólares contra 140 bilhões de dólares do mercado

“oficial”. Na esteira da corrida pelo invisível – créditos de carbono que deixaria de ser emitido por desmatamento

– a irlandesa Celestial Green

se adiantou: realizou diversas n e g o c i a ç õ e s r á p i d a s e à margem de qualquer órgão federal. A empresa promete avaliar o potencial de créditos de carbono depois; mas já garante sua posse sobre eles, por contrato, e o acesso às terras para avaliação. MUNDURUKU - A proposta aos Munduruku foi feita em junho do ano passado. Segundo relatos dos indígenas, a oferta dividiu o grupo. A Celestial Green oferecia 4 milhões de dólares por ano, ao longo de 30 anos, pelos créditos de carbono dos 2,3 milhões de hectares da terra indígena – num total máximo de US$120 milhões. Em troca, teria todos os direitos sobre os créditos de carbono e mais “outros certificados e benefícios” a serem obtidos

“com a biodiversidade”. “ P r i m e i r o , e l e [representante da Celestial Green] falou que o projeto é para defender os povos indígenas. Disse que não podia mais mexer na terra, nem branco nem indígena. Quando ouvi essa conversa, era bom”, conta Osmarino Manhoari Munduruku, cacique de uma das 111 aldeias onde vivem mais de 6 mil Munduruku.

“Depois, ele mandou o papel para associação. Nós vimos que, onde esse projeto tá, não pode fazer roça, nem caçar, nem pescar. Hoje estamos a c o s t u m a d o s d e p l a n t a r mandioca, batata, cana, batata doce, banana. A gente pesca, caça, tira madeira quando precisa. Mas eles dizem que não podia mais, eles mesmos iam dar o dinheiro para comprar os alimentos. E os indígenas não pode mais fazer nada, nada, nada. Aí a maioria achou que não é certo”.A reportagem teve acesso ao texto do contrato enviado por lideranças indígenas ao CIMI, Conselho Indigenista M i s s i o n á r i o , d e p o i s d a s primeiras gestões da empresa. O documento revela claramente as linhas gerais buscadas pela

empresa no acordo. “ E s t e c o n t r a t o concede à empresa o direito de realizar todas as análises e estudos técnicos, incluindo acesso sem restrições a toda a á r e a , a o s s e u s a g e n t e s e r e p r e s e n t a n t e s ” , d i z o d o c u m e n t o . S e a s á r e a s negociadas não se adequassem à captação de carbono, o contrato seria invalidado. De qualquer maneira, a empresa teria assegurado o direito de fazer um levantamento detalhado de toda a área dos Munduruku.O contrato vetava qualquer modificação no ambiente: “O proprietário compromete-se a não efetuar quaisquer obras na área do contrato, ou outra atividade que venha a alterar a qualidade de carbono captado ou que contribua de alguma forma para afetar negativamente a imagem da empresa ou do projeto”. Outro ponto polêmico garantia à empresa “direitos sobre os créditos de carbono o b t i d o s , c o m q u a i s q u e r metodologias ut i l izadas” , além de “todos os direitos de quaisquer certificados ou benefícios que se venha a obter através da biodiversidade desta área”. A l é m d i s s o , o s Munduruku deixariam de receber o pagamento caso não submetessem suas atividades ao crivo da Celestial Green: “O proprietário compromete-se a manter a propriedade em conformidade com as metodologias estabelecidas pela empresa”. O valor, contido num anexo, chama a atenção: 4 milhões de dólares por ano, chegando a um valor total de 120 milhões de dólares. Segundo especialistas consultados pela reportagem, dif ic i lmente um contrato assim teria validade legal. Primeiro, porque parte de princípios jurídicos errados. O texto analisado se refere a o s M u n d u r u k u s c o m o

“proprietários”, quando as

terras indígenas pertencem à União. Depois, porque viola princípios de exclusividade de uso dada aos indígenas em terra homol ogada . “ É totalmente ilegal. A empresa se coloca como dona dos recursos naturais e se atribui o direito de entrar quando bem entender para fiscalizar. Em algumas cláusulas, ela quer fazer o papel do Estado”, afirma João Camerini, advogado da ONG Terra de Direitos. Para o antropólogo Miguel Aparício, coordenador d o P r o g r a m a O p e r a ç ã o Amazônia Nativa, o caso dos Munduruku deve servir de alerta para o governo. “É uma manifestação aberta da postura dos ‘biopiratas do carbono’. As cláusulas ignoram o direito indígena de usufruto exclusivo sobre suas terras, reconhecido pela Constituição Federal. O contrato proposto merece a intervenção urgente do poder público brasileiro”. Como o mercado de crédito de carbono é novo, o governo brasileiro ainda não criou parâmetros para regular essas negociações. Mas, dada a urgência da questão, 15 e n t i d a d e s e m o v i m e n t o s l i g a d o s à s p o p u l a ç õ e s indígenas elaboraram uma carta de Princípios e Critérios Socioambientais de REDD. Al gu ns desses p r inc ípios são a participação de toda a população afetada no processo de decisão e a transparência sobre os detalhes do contrato e do mercado em que estão entrando. O c a s o d o s Munduruku foi denunciado em setembro no ano passado no blog da ativista ambiental Telma Monteiro. O procurador Cláudio Henrique Dias, do Ministério Público Federal d e S a n t a r é m , a b r i u u m procedimento administrativo para investigar o caso. Ele pediu a cópia do contrato à Associação Pussuru, que representa os Munduruku, e acionou a Funai.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012TRIBUNA DA CALHA NORTE4 ESPECIAL

Funai garante que contrato com índios Munduruku não tem validade Ana Aranha

Márcio Meira, presidente da Funai, fala sobre assédio de empresas internacionais para compra de crédito de carbono em terra indígena. E explica a ausência da Funai no caso do contrato assinado pelos Mundurukus. E m s e t e m b r o d o ano passado, os líderes da p o p u l a ç ã o M u n d u r u k u assinaram um contrato leonino com uma empresa irlandesa, transferindo os direitos aos créditos de carbono da reserva por 120 milhões de dólares. Pelo documento, a empresa ganharia acesso restrito às suas terras e os índios ficariam impedidos de dispor de seu uso sem a autorização prévia da compradora. O c o n t r a t o e n t r e a O r g a n i z a ç ã o d o P o v o Munduruku e a Celestial Green foi assinado sem a presença de representante da Funai (Fundação Nacional do Índio), responsável por defender os

direitos dos índios e, portanto, por acompanhar negociações comerciais que possam colocá-los em risco. A Funai, no entanto, t o m o u c o n h e c i m e n t o d a transação no início de 2011, quando encaminhou o contrato à apreciação da Advocacia Geral da União (AGU). Em seu parecer, a AGU considera o contrato ilegal. Tese que vale para todos os contratos de crédito de carbono em terra indígena no Brasil. O parecer, ainda não conclusivo, deixa em aberto a possibilidade que outros órgãos da União encontrem meios de regularizar futuros contratos com os indígenas. O presidente da Funai, Márcio Meira, é contra as negociações atuais, como a que envolveu os Munduruku. Mas defende que o comércio de crédito carbono funcione como meio de remunerar os indígenas pela preservação das florestas depois que o mercado for regulamentado no país.

LEIA A ENTREVISTAComo a Funai avaliou o teor do contrato assinado entre os Munduruku e a Celestial Green?Desde que tivemos o primeiro contrato desse tipo, há um ano e meio, nossa avaliação é de preocupação e alerta em relação ao assédio dessas empresas aos indígenas. Procuramos a assessoria especializada da Funai, que é ligada à Advocacia Geral da União, para que analisasse e, se necessário, tomasse medidas judiciais. Tomamos medidas educativas e de precaução. Fizemos uma cartilha distribuída às comunidades indígenas alertando para contratos que podem ser danosos a elas.Por que a Funai não alertou os Munduruku sobre a ilegalidade do contrato?A Funai não estava lá, naquele momento. Ficamos sabendo depois da reunião que os Munduruku tiveram com a empresa. Na maioria dos contratos desse tipo, a gente só toma conhecimento depois.A Funai não sabia da negociação desde o início de 2011?A Funai sabe que há negociações em curso, alguns indígenas informam. A gente passa a orientação para terem cuidado em relação a esse assédio, dizemos para não assinar o contrato. Mesmo assim alguns contratos são assinados. Mas eles não têm validade jurídica. Nós alertamos as empresas: esses créditos que estão no mercado voluntário não têm validade.A informação que temos dos Munduruku é que

não houve contato e orientação da Funai.Isso não é verdade, a Funai está em contato permanente com todos os povos indígenas do Brasil. Temos 36 regionais, quase 300 coordenações técnicas locais, o próprio chefe da coordenação técnica na área é um indígena Munduruku. Ele é a própria Funai.Mas se a Funai está tão próxima, como não sabia que o contrato seria assinado?A Funai sabe de reuniões, mas não há como saber em detalhes o que acontece. Principalmente a sede da Funai. Eu não tomei conhecimento dessa reunião, a não ser depois que aconteceu.Ambientalistas e movimentos ligados às populações indígenas dizem que a Funai está sendo omissa na orientação dos indígenas assediados por essas empresas. Como o senhor responde a essa crítica?Não concordo, a Funai tem sido ativa, não tem poupado esforços. Essa cartilha que produzimos para alertar sobre os riscos foi feita com movimentos indígenas. Mas é um assédio muito forte. Mexe com recursos altos o que mobiliza os interesses.Qual é o teor dos outros contratos que a Funai teve conhecimento?Eles são parecidos. Temos cerca de 30 contratos, todos muito semelhantes e preocupantes porque não têm base jurídica. A Celestial Green é a que mais fez contratos com indígenas, são mais de dez.O que vai acontecer com os outros contratos

que já foram assinados?Os contratos com indígenas não têm validade jurídica.Eles também avançam sobre o direito dos indígenas de uso da terra?Podem ter alguma cláusula que fere o direito territorial. De qualquer forma, esses contratos não têm validade jurídica. Terras indígenas são propriedade da União, indígenas tem usufruto exclusivo. No caso, o comércio de créditos de carbono não está regulamentado pela legislação brasileira e não é possível ser feito em terras indígenas no momento. Por isso a Funai tem defendido que, o mais rápido possível, seja feita uma legislação regulamentando essa questão.A Funai já intermediou algum contrato de créditos de carbono?A Funai não intermedia contratos dessa natureza porque eles são ilegais. Tomamos conhecimento de contratos depois de assinados. O único caso foi o povo Surui que nos procurou dizendo que tinha interesse em assinar e pediu orientação da Funai. Demos a orientação que tem que dar para eles terem cuidado.A Funai acompanhou o contrato?A Funai tem acompanhado as manifestações dos Surui para que, se eventualmente assinarem o contrato, não caiam em armadilhas. Pode ser que já tenham assinado, mas eu não tenho essa informação .A Advocacia Geral da União recomenda que

os contratos de crédito carbono devem ser intermediados pela União. A Funai vai passar a desempenhar esse papel?Essa é uma missão da Funai: proteção dos direitos dos indígenas em qualquer tema. Em qualquer política pública em relação aos direitos indígenas, a Funai tem que participar. Mas esse caso depende da regulamentação.O senhor anunciou a Bolsa Verde como um incentivo para que os indígenas não cedam ao assédio financeiro. Mas R$ 100 mensais fazem frente aos milhões de dólares oferecidos pelas empresas estrangeiras?O serviço que os indígenas prestam à humanidade na preservação da floresta tropical tem que ser reconhecido. A Funai fez isso quando regulamentou um auxílio aos indígenas no trabalho de monitoramento territorial. Mas temos é que olhar para frente e buscar um mecanismo de crédito de carbono. É uma boa ideia, mas não pode ser utilizada para os interesses econômicos apenas de terceiros. Sendo regulamentado, esse é o principal fator que pode contribuir para beneficiar os indígenas.Circula a informação pelos jornais de que a Funai está funcionando em ritmo lento desde que o senhor pediu demissão. É verdade?Sobre esse assunto eu não falo, isso é fofoca. Estou trabalhando aqui todo dia, incansavelmente, desde que cheguei há cinco anos.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 5TRIBUNA DA CALHA NORTEESPECIAL

De vinis e ouro à sonhada preservação do meio ambienteO “projeto Rondônia” é o mais antigo da Celest ial Green Ventures, aliás Celestial Green I n v e s t m e n t s ( C G I ) , u m a empresa de investimentos sediada em Kent, na Inglaterra, que tem como CEO o mesmo irlandês Ciaran Kelly. O p r o j e t o b a s e i a -se em uma área de 10 mil hectares em Rondônia e foi detalhadamente descrito em um documento – registrado junto ao Security and Exchange Comission, comissão financeira dos Estados Unidos – de compra de ações da CGI pela empresa de investimento Apollo Capital, c o m s e d e e m M i a m i – d a qual Ciaran Kelly era um dos diretores. Antes de investir em negócios sustentáveis, a Apollo Capital chegou a prensar vinis e copiar CDs e DVDs. No seu site registra investimentos mi l ionários em bonds do banco central da Venezuela, da Petrobras e também em exploração de quartzo na Bahia.E s s a á r e a e m R o n d ô n i a , l o c a l i z a d a n o m u n i c í p i o de Machadinho d’Oeste, é adjacente à terra indígena dos Cinta Larga e foi comprada pela Apollo Capital da empresa b r a s i l e i r a C a p i t a l F i r s t Merchant Bank Ltda junto com a concessão para exploração

de ouro e diamantes, fato celebrado em seu site. Meses depois, Apollo e Celestial Green mudaram de ideia: decidiram não fazer a mineração da área e vender os créditos de carbono não emitido por não ter explorado o local. “A Celestial Green acredita que o desenvolvimento de operações de mineração teriam um impacto ecológico catastrófico”, diz o documento de registro. Créditos de carbono do “projeto Rondônia” estão disponíveis para os usuários do site Tree Frog. Quem quiser aliviar sua pegada ecológica, é só clicar.

“OUR PEOPLE” - Nem mesmo a equipe que compõe a empresa consta do site da Celestial Green. Quando a reportagem começou a investigar a CG, a empresa listava 29 pessoas como sua equipe, incluindo diversos brasileiros. Dois dias depois, a lista sumiu.Este jornal tentou entrar em contato com alguns desses s u p o s t o s f u n c i o n á r i o s . Conversamos com o professor Eder Zanetti, doutorando em manejo florestal pela UFPR, um consultor experiente em projetos de crédito de carbono. Eder foi responsável pela área de mudanças climáticas globais e serviços ambientais das

florestas no Centro Nacional de Pesquisas Florestais da Embrapa. A o c e l u l a r , perguntado sobre suas relações com a empresa irlandesa, ele se mostrou surpreso: “Não tenho conhecimento, não. Nunca vi nem falar esse nome [Celestial Green]”. Segundo ele, a sua consultoria foi procurada p o r “ d i v e r s a s e m p r e s a s internacionais querendo fazer negócio com terra indígena aqui no Brasil”. A procura, nos últimos dois anos, tem aumentado. “Mas não estou fazendo consultoria para nenhum projeto no momento”.

M a i s t a r d e , p o r email, Zanetti confirmou: “De fato não consegui entender a natureza do meu envolvimento com a referida empresa. Eu não saberia dizer nem se ela é séria ou não, porque não consegui navegar no site para ver quem são os proprietários. D e f i n i t i v a m e n t e n ã o s o u funcionário deles”. O u t r o b r a s i l e i r o listado no site explicou que atua como consultor em um projeto da CG. Vivaldo Campbell de Araújo foi delegado do IBDF – atual Ibama – de 1971 a 1978. Ele conta que não sabia que seu nome estava no site, mas havia

pedido reserva. Não queria ser l istado como membro da empresa. “Porque você sabe, tem muita especulação”. Segundo ele, faz cerca de oito meses que ele é consultor de um projeto de manejo sustentável que pretende

“mostrar as alternativas de manter o carbono, mas alterar as florestas pelas espécies mais valiosas”.CONTRATO QUESTIONADO

– A rep ort a g em p rocu rou repetidamente a Celestial Green. Por telefone, a funcionária Paula Cofré, brasileira nascida no Chile, explicou que o CEO Ciaran Kelly não dá entrevistas pelo telefone – apenas por email. Formada em jornalismo pela PUC do Paraná, Paula trabalha há cerca de 6 meses na empresa. Foi contratada inicialmente como secretária e hoje é “administradora sênior e assistente pessoal do CEO”. Segundo ela, o representante português João Borges não costuma dar entrevistas.Paula confirmou a assinatura do contrato entre a Celestial Green e os Mundukuru e disse que a empresa não conta com um escritório no Brasil. “Temos p e s s o a s t r a b a l h a n d o e m Manaus, mas ainda não abriram (um escritório)”. Enviamos a minuta de contrato obtida pelo

CIMI, pedindo que a empresa confirmasse se havia alguma diferença quanto ao contrato assinado. “Eu sei que eles não costumam dar detalhes sobre os contratos, tipo valor, essas coisas”, explicou Paula.Finalmente o CEO respondeu

– sem responder: “Podemos a f irma r ca t egorica ment e que os contratos da CGV PLC têm sempre o cabeçalho com os detalhes da empresa, são assinados em cada página por um representante da empresa, são autenticados e também contêm um carimbo da companhia”. Pouco depois, Antônio José do Nascimento Fernandes, do Instituto Amazônia Livre, uma ONG que trabalha com a Celestial Green em alguns projetos, ligou para a redação desde jornal e leu o anexo 1 do contrato, confirmando que se trata do mesmo texto

– inclusive reafirmando os valores acordados.Na sua entrevista em papel timbrado, Ciaran afirmou que

“a Celestial Green Ventures não pode divulgar nenhum acordo financeiro que tenha sido feito com nossos parceiros”. Mas prometeu: “no final de julho de 2012, nosso primeiro ano completo de finanças será apresentado”.

Corretores de carbono, xeretas, piratas?Antônio José do Nascimento Fernandes, mestre em Química pela Universidade Federal do Amazonas e conselheiro-s e c r e t á r i o d o I n s t i t u t o A m a z ô n i a L i v r e , p e n s a diferente. O Instituto mantém um projeto com a Celestial Green de “monitoramento e levantamento dos dados das florestas, das comunidades, do que pode ser desmatado daqui a 20, 30 anos”. Para ele, que trabalha com a empresa há cerca de um ano, o contrato assinado com os Munduruku não limita o uso da terra pelos índios: “A única coisa que fala no contrato é que eles [os índios] devem preservar os recursos e que todo uso deve ser informado”. E como isso será informado? Segundo Antônio, o plano é elaborar um conselho formado

“pelas instituições financeiras, pelos representantes indígenas e pela Instituição Amazônia Livre”, para deliberar sobre isso. “Não é de cima para baixo. É um projeto de igual pra igual. É uma troca mútua, porque eles consomem, mas sabem que [os recursos] podem acabar”. A Celestial Green não é exatamente uma empresa transparente. O site da empresa, q u e e s t á e m c o n s t r u ç ã o há alguns meses, não traz mais do que uma descrição genérica, embora declare que há três anos a empresa vem negociando com prefeituras, proprietários de terra e tribos indígenas da Amazônia.

O s o b j e t i v o s d e c l a r a d o s d o s p r o j e t o s d a C e l e s t i a l , c o m a n d a d a pelo irlandês Ciaran Kelly, são: “alcançar lucratividade para todos os investidores”,

“proteger áreas da floresta em risco dos efeitos devastadores d a e x t r a ç ã o i l e g a l d e madeira, mineração i legal e queimadas”, “proteger a biodiversidade presente nessas áreas e conduzir atividades importantes de coleta de dados”, além de “fornecer empregos, educação e cuidado médico básico para os habitantes das áreas dos projetos”. Segundo o s ite , os projetos estão em negociação com investidores no Panamá, Ásia, Vietnã, Malásia, Coreia do Sul e China.A parte que promete ao visitante “descubra mais sobre nossos projetos” está em construção. Não há mais detalhes. Em 27 de junho de 2011, a empresa anunciou vagamente ter “aumentado a sua base de contratos na A m a z ô n i a b r a s i l e i r a ” . “ A Celestial Green Ventures PLC aumentou o tamanho de sua base de terras contratadas em 1.203.226 de hectares (um aumento de 6,5%) com a assinatura de 5 novos contratos g a r a n t i n d o à e m p r e s a a produção de qualquer tipo de carbono nestas terras pelos próximos 30 anos”. Segundo o release, a empresa se listou na bolsa Deutsche Boerse, em Frankfurt, com a missão de

dobrar a área contratada para 40 milhões de hectares (duas Suíças, duas Áustrias). Mais recentemente, em fevereiro deste ano, a companhia anunciou pelo seu twitter novos contratos com as prefeituras de São Gabriel da Cachoeira, Boca do Acre e Apuí, no Amazonas, totalizando 11 milhões de hectares cujo carbono também ficará à sua disposição.O P R O J E T O “ B O R B A ” - A e m p r e s a t e m u m c a s o q u e é a p r e s e n t a d o c o m o bem-sucedido: o chamado

“projeto Borba”. O projeto, acordado com o prefeito de Borba, município de 20 mil habitantes no sul do Amazonas em 2010, não teve até hoje os créditos validados – uma empresa escocesa, a Ecometrica, está ainda desenvolvendo uma metodologia para medir e validar os créditos gerados, ou o tanto de carbono que não será jogado no ar pela proteção das áreas. “Um comunicado oficial será emitido na hora certa”, limita-se a dizer a empresa. Segundo um release que foi apagado do site , o projeto Borba consistiu na assinatura de um contrato com a prefeitura do município, i n t e r m e d i a d o p e l a O N G FEAMA – Fundação Ecológica de Amazônia – ONG capitaneada pelo brasileiro Romeu Cordeiro da Silva. A FEAMA não tem site na internet, nem telefone de contato. O acordo dava direitos

a créditos de uma área de 1.333.578 hectares, cerca de 1/3 do município. P r o c u r a d o s p e l a reportagem, nem o secretário de administração da prefeitura, Ricardo José Sá de Souza, nem o secretário de Meio Ambiente sabiam do acordo.Finalmente a reportagem conseguiu conversar com o prefeito Antonio José Muniz Cavalcante, que não explicou por que seus secretários não foram informados do caso. “A Celestial Green apareceu, falou com a associação de municípios. Como temos uma reserva municipal, fizemos um contrato que dá direito de eles negociarem o carbono nesta área. Vieram no município , f izeram um projeto e coletaram bastante material . Mas não tivemos benefícios. Esse contrato já está até quebrado, porque o prazo deve estar vencido. E como não tivemos retorno, pelo menos no que propuseram a nos pagar, nada foi desembolsado”.

Apesar dos créditos d e B o r b a n ã o t e r e m s i d o validados – e, aparentemente à revelia da prefeitura – a Industry RE, companhia britânica de investimentos anunciou em 7 de junho de 2011 a compra de 1 milhão desses créditos para serem revendidos a outras empresas. A empresa afirma, numa brochura, que vai cobrar 10 libras por cada crédito de carbono. A Industry RE tem um projeto de eficiência energética para o grupo Guardian Media Group, que detém o jornal br i tânico Guardian . A lém disso, mantém o simpático site My Tree Frog, no qual cada pessoa pode comprar créditos de carbono de onde quiser, “anulando” assim as suas próprias pegadas ecológicas. Segundo o diretor Ian Hamilton afirmou no início de março ao site econômico Point Carbon News, os créditos de Borba seriam usados para aliviar as emissões de uma

subsidiária da Coca-cola no Oriente Médio e uma unidade da gigante eletrônica japonesa Canon. U m a b r o c h u r a d a IndustryRE que tenta vender esses créditos de Borba afirma que a Celestial Green tem acesso a uma área de 18.192.193 de hectares por 30 anos, incluindo acordo com diversas prefeituras no estado do Amazonas. Os maiores terrenos estão no estado do Amazonas: 2.954.902 hectares em Barcelos, 1.066.862 hectares em Caruari; 1.761.189 h e c t a r e s e m M a n i c o r é , e 1 . 4 4 0 . 5 8 5 h e c t a r e s e m Canutama – além de Borba, claro. Segundo o documento, os projetos da Industry RE não focam apenas os créditos de carbono, mas pretendem

“expandir os parâmetros” para incluir o desenvolvimento d e e n e r g i a e á g u a l i m p a , r e f l o r e s t a m e n t o , m a n e j o sustentável de f lorestas e conservação.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012TRIBUNA DA CALHA NORTE6 REGIÃO

A centralidade da água na disputa global por recursos estratégicos Mônica Bruckman

ALAI AMLATINA - Duas visões contrapostas estão em choque na disputa global pela água. A primeira, baseada na lógica da mercantilização deste recurso, que pretende convertê-lo em uma commodity, sujeita a uma política de preços cada vez mais dominada pelo processo de financeirização e o chamado

“mercado de futuro”. Esta visão encontra no Conselho Mundial da Água, composto p o r r e p r e s e n t a n t e s d a s principais empresas privadas de água que dominam 75% do mercado mundial, seu espaço de articulação mais dinâmico. O Segundo Fórum Mundial da Água, realizado em 2000 declarou, no documento final da reunião, que a água não é mais um “direito inalienável”, m a s u m a “ n e c e s s i d a d e humana”. Esta declaração pretende justificar, do ponto de vista ético, o processo em curso de desregulamentação e privatização deste recurso

natural . A últ ima reunião realizada com o nome de IV Fórum Mundial da Água, em março de 2009, em Istambul, ratifica esta caracterização da água. Um aliado importante do Conselho Mundial da Água foi o Banco Mundial, principal impulsor das empresas mistas, público-privadas, para a gestão local da água. A o u t r a v i s ã o s e

reafirma na consideração da água como direito humano inalienável. Esta perspectiva é defendida por um amplo c o n j u n t o d e m o v i m e n t o s sociais, ativistas e intelectuais articulados em um movimento global pela defesa da água, que propõe a criação de espaços democráticos e transparentes p a r a a d i s c u s s ã o d e s t a problemática a nível planetário.

Este movimento, que não reconhece a legit imidade do Fórum Mundial da Água, e laborou uma declaração a l t e r n a t i v a à r e u n i ã o d e Istambul, reivindicando a c r i a ç ã o d e u m e s p a ç o d e debate global da água nos marcos da ONU, reafirmando a necessidade da gestão pública deste recurso e sua condição de direito humano inalienável [1]. A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, em julho de 2010, a proposta apresentada pela Bolívia, e apoiada por outros 33 Estados, de declarar o acesso à água p o t á v e l c o m o u m d i r e i t o h u m a n o . C o m o p r e v i s t o , o s g o v e r n o s d o s E s t a d o s Unidos, Canadá, Austrália e o Reino Unido se opuseram a esta resolução, fazendo que perdesse peso político e viabilidade prática, na opinião de Maude Barlow, ex-assessora sobre água do presidente da Assembleia Geral da ONU [2]. Estes quatro países, e suas forças políticas mais

conservadoras, aparecem como o grande obstáculo. O perigo para os operadores da água é grande, certamente, um reconhecimento da água e do saneamento como direito humano limitaria os direitos das grandes corporações sobre os recursos hídricos, direitos consagrados pelos acordos multilaterais de comércio e investimento. O s g o v e r n o s d a A m é r i c a L a t i n a e s t ã o avançando no reconhecimento d a á g u a c o m o d i r e i t o inalienável e na afirmação da soberania e gestão pública destes recursos. A Constituição Política do Estado Plurinacional da Bol ív ia reconhece , em s e u a r t i g o 3 7 1 , q u e o “ a água constitui um direito fundamentalíssimo para a vida, no marco da soberania do povo”, estabelece também que “o Estado promoverá o uso e aceso à água sobre a base de princípios de solidariedade, c o m p l e m e n t a r i d a d e , r e c i p r o c i d a d e , e q u i d a d e ,

diversidade e sustentabilidade”. C e r t a m e n t e , a disputa pela apropriação e o controle da água no planeta a d q u i r e d i m e n s õ e s q u e extrapolam unicamente os interesses mercantilistas das empresas transnacionais , c o l o c a n d o - s e c o m o u m elemento fundamental na geopolít ica mundial . Está claro que o planeta necessita urgentemente de uma política global para reverter a tendência do complexo processo de desordem ecológico que, ao mesmo tempo em que acelera a dinâmica de desertificação em algumas regiões, incrementa os fenômenos de inundação produto de chuvas torrenciais em outras. As consequências devastadoras que a degradação d o m e i o a m b i e n t e e s t á provocando e a gravidade da situação global que tende a se aprofundar colocam em discussão a própria noção de desenvolvimento e de civilização.

Os aquíferos e a preservação de ecossistemasH á m u i t o t e m p o a s investigações hidrológicas dos ciclos globais da água vem demonstrando que 99% da água doce acessível do planeta se encontram nos aquíferos de água doce, visíveis nos rios, lagos e capas congeladas de gelo. Estas águas constituem sistemas hídricos dinâmicos e d e s e n v o l v e m s e u s próprios mecanismos de reposição que dependem, f u n d a m e n t a l m e n t e , d a s chuvas. Parte deste caudal se infiltra nas rochas subjacentes e se deposita debaixo da superfície, no que se conhece como aquíferos. Os aquíferos recebem reposição das chuvas, portanto são, em sua maioria, renováveis. D e p e n d e n d o d o t a m a n h o e a s c o n d i ç õ e s cl imáticas da localização dos aquíferos , o período de renovação oscila entre dias e semanas (nas rochas cársticas), ou entre anos e milhares de anos tratando-s e d e g r a n d e s b a c i a s sedimentares. Em regiões

onde a reposição é muito limitada (como nas regiões á r i d a s e h i p e r á r i d a s ) o recurso da água subterrânea pode ser considerado como

“não renovável” [3]. Os aquí feros e as águas subterrâneas que os conformam, fazem parte de um ciclo hidrológico cujo funcionamento determina uma complexa inter-relação com o meio ambiente. As águas subterrâneas são um elemento chave para muitos p r o c e s s o s g e o l ó g i c o s e hidroquímicos, e tem também uma função relevante na reserva ecológica, já que mantém o caudal dos rios e s ã o a b a s e d o s l a g o s e dos pântanos, impactando definitivamente nos habitat aquáticos que se encontram neles. Portanto, os sistemas aquíferos além de serem reservas importantes de água doce, são fundamentais para a preservação dos ecossistemas. A i d e n t i f i c a ç ã o dos sistemas aquíferos é um

requisito básico para qualquer política de sustentabilidade e gestão de recursos hídricos que permitam que o sistema c o n t i n u e f u n c i o n a n d o e , d o p o n t o d e v i s t a d e n o s s a s i n v e s t i g a ç õ e s , é imprescindível para uma a n á l i s e g e o p o l í t i c a q u e procure pôr em evidência e l e m e n t o s e s t r a t é g i c o s na disputa pelo controle e apropriação da água. As grandes reservas hídricas como a bacia do Congo, Amazonas, o aquífero Guarani ou os grandes lagos de África central coincidem com a existência de grandes populações em expansão e fortes conflitos étnicos e religiosos. Além disso, grande parte dos países desta região se encontram fortemente pressionados pelo sistema financeiro internacional que tenta implantar uma gestão n e o l i b e r a l d o s r e c u r s o s h í d r i c o s a t r a v é s d e s e u pessoal técnico para os quais as estações de tratamento de água, reciclagem e construção

de mecanismos que evitem a contaminação dos aquíferos são gastos supérfluos [4]. T r a t a - s e d e u m p r o c e s s o v i o l e n t o d e expropriação e privatização d o r e c u r s o n a t u r a l m a i s i m p o r t a n t e p a r a a v i d a . Apesar da centralidade da água potável para consumo h u m a n o , é n e c e s s á r i o a s s i n a l a r t a m b é m a i m p o r t â n c i a v i t a l d e s t e recurso para a agricultura, que afeta diretamente a soberania alimentar e para o processo industrial em seu conjunto. O s m a i o r e s a q u í f e r o s d a E u r o p a s e encontram na região euro-asiática, destacando-se, por sua dimensão, a bacia Russa, mais próxima à região polar. A Europa ocidental se vê reduzida a um único aquífero de médio porte, na bacia de Paris. Em quase todos os casos, as reservas de água da Europa padecem de problemas que afetam sua qualidade, o que ampliou drasticamente o consumo de água engarrafada,

que se co nver t eu em um item obrigatório na cesta d e c o n s u m o f a m i l i a r [ 5 ] . A E u r o p a r e g i s t r a , proporcionalmente, a maior taxa mundial de extração d e á g u a p a r a c o n s u m o humano: do total de água que se extrai, mais de 50% é utilizada pelos municípios, aproximadamente 40% se dest ina à agricultura e o resto é consumido pelo setor industrial. A Ásia depende dos grandes aquíferos do norte de China e a Sibéria, mais próxima da região polar. Um dos casos mais graves é o da Índia, que junto com os Estados Unidos, tem uma das taxas mais altas de extração de água subterrânea do mundo. A A m é r i c a d o S u l possui três grandes aquíferos: a Bacia do Amazonas, a Bacia do Maranhão e o sistema aquífero Guarani, que mais parece um “mar subterrâneo” de água doce que se estende por quatro países do cone sul: Argentina, Brasil, Uruguai

e Paraguai. Pelo volume das reservas destes aquíferos e pela capacidade de reposição de água destes sistemas, a América do Sul representa a principal reserva de água doce do planeta. A s r e g i õ e s m a i s críticas, por ter uma reposição l imitada de água (menos de 5 milímetros de chuva por ano), são: o norte de África, na região desértica do Saara; a Índia; a Ásia central; grande parte da Austrália; a estreita faixa desértica que vai da costa peruana até o deserto de Atacama no Chile e a região norte do México e grande parte da região centro-oeste dos Estados Unidos. Nestas regiões, pode-se considerar a água como recurso não renovável . A África sub-saariana, o sudeste asiático, a Europa, os Bálcãs, a região norte da Ásia e a região nor-ocidental da América do Norte registram níveis moderados de reposição de água, entre 50 e 100 mm por ano. A região de maior reposição de água do mundo é a América do Sul onde, em quase todo o território subcontinental, registram-se níveis de reposição de água maiores de 500 mm/ano, o que constitui o principal fator de abastecimento dos sistemas aquíferos da região. Esta altíssima capacidade d e r e p o s i ç ã o d e á g u a s superficiais e subterrâneas é fundamental, não só para o abastecimento de água doce, mas também para a manutenção e reprodução dos sistemas ecológicos e da biodiversidade na região.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 7TRIBUNA DA CALHA NORTEPOLÍTICA

Governadores da Amazônia se reúnem para elaborar a ‘Carta da Amazônia’O primeiro passo para a

elaboração da “Carta da Amazônia”, documento

conjunto que reúne temas r e l a t i v o s à r e g i ã o , a s e r apresentado na Rio+20 em junho deste ano, aconteceu na segunda-feira (26), no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia em Belém, reunindo governadores e representantes de nove Estados da Amazônia Legal - Pará, Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso -, e ainda do Governo Federal.A Carta da Amazônia está sendo elaborada pelas Secretarias de Meio Ambiente dos nove Estados, com o objetivo de identificar falhas e desafios, e propor ações concretas visando um modelo de crescimento sustentável para os Estados amazônicos.O s p r i n c i p a i s t e m a s d o documento são erradicação da pobreza, ciência e tecnologia, florestas, produção e consumo sustentável e biodiversidade. O objetivo é constituir uma voz única, que dará maior ressonância às necessidades d a r e g i ã o . A C a r t a é “ u m documento sobre e para a Amazônia, feito por quem vive a Amazônia”, ressaltou o governador do Pará, Simão Jatene, idealizador do encontro. O documento, segundo ele, pretende apresentar ao mundo as ações implantadas pelos governos, para que sejam ampliadas, além das demandas regionais.Durante o encontro, Simão J a t e n e l e m b r o u q u e a Amazônia, que era um dos principais emissores de gás carbônico do mundo, diminuiu drasticamente estes índices, superando a meta estipulada pelo Protocolo de Kioto, o qual determinava a redução de um ponto de gigatons de toneladas de carbono lançadas na atmosfera. “A Amazônia liberava 1.2 gigatons de CO2 anualmente. A última medição indicou que estamos liberando 0.4, uma diferença de 2.2 pontos, graças às iniciativas dos governos locais, sem qualquer compensação econômica que garanta a continuidade das ações ambientais”, frisou o governador paraense.MODELO SUSTENTÁVEL - As compensações financeiras d e a ç õ e s r e l a c i o n a d a s à preservação do meio ambiente são uma preocupação dos governantes da Amazônia Legal. Além das preocupações ambientais, há a preocupação humana. “São 25 milhões de

Julia Garcia

pessoas que vivem na Amazônia e precisam produzir e consumir. A floresta como ativo é muito importante, mas não podemos ignorar as necessidades de comunidades que vivem e exploram esta f loresta . O modelo sustentável é viável e o mais indicado, mas é necessário que haja pacotes políticos para minorar as perdas e os custos deste modelo”, afirmou Omar Aziz, governador do Amazonas.A Regularização Fundiária foi outro ponto discutido p e l a s a u t o r i d a d e s n a reunião. Camilo Capiberibe, governador do Amapá, falou sobre a dificuldade de gestão no Estado, que possui 73% do seu território compostos por áreas de conservação ambiental. “Em 2002 foi criada uma reserva que corresponde a 30% do Estado do Amapá. Alguns municípios da área rural possuem até 90% de seus territórios dentro da reserva, e não podemos mais usufruir dessas áreas. O Governo Federal se comprometeu em pagar compensações, e até hoje nada”, contou ele.

“Em Rondônia praticamente n ã o e x i s t e r e g u l a r i z a ç ã o fundiária”, ressaltou o vice-governador Airton Gurgacz. Já o governador do Acre, Tião Viana, destacou a carência de ações de integração entre o Governo Federal e os Estados da Amazônia. “Qual a agenda para Amazônia? Precisamos d e f i n i r i s s o e a r t i c u l a r interfaces de relação. No Acre triplicamos o rebanho bovino e diminuímos o desmatamento. I s t o é d e s e n v o l v i m e n t o sustentável. Precisamos unir nossas experiências para exigir mais atenção para a região. A Amazônia é o maior patrimônio estratégico e financeiro do

Brasil, por isso precisamos nos integrar ao restante do país e exigir maior atenção”, destacou Tião Viana.A fa l ta de uma agenda de discussão de assuntos da Amazônia em âmbito federal foi um elemento comum no pronunciamento de todos os representantes. Os Estados se ressentem da distância da União nos assuntos relativos à região. A Carta da Amazônia pretende ser mais do que um documento para ser apresentado no Rio+20. Deve ser um instrumento de gestão e governança que, segundo Simão Jatene, “nos possibi l i tará desenvolver e preservar na Amazônia a partir de experiências e ideias nossas. Ideias baseadas na sustentabilidade. É preciso preservar, mas é necessário desenvolver, e é fundamental que encontremos este meio termo”.GOVERNO FEDERAL - Olavo Alves, subchefe de Assuntos F e d e r a t i v o s d a C o m i s s ã o de Relações Institucionais da Presidência da República, esteve no encontro e defendeu q u e a C a r t a d a A m a z ô n i a deve fazer parte de um pacto nacional , defendendo não apenas ações comuns entre os Estados, mas entre estes e a Federação.P a r a F r a n c i s c o G a e t a n i , s e c r e t á r i o e x e c u t i v o d o M i n i s t é r i o d o M e i o Ambiente, a união de forças é imprescindível. “Se a Amazônia falar uma só voz, a possibilidade de sua voz ecoar no plano global é maior”, reiterou.Segundo o secretário, a palavra chave da agenda estruturante do Governo Federal a ser a present a da na Rio+20 é desenvolvimento, e o desafio ambiental é um desafio de

implantação. “A Amazônia é a referência central no debate mundial sobre o meio ambiente. O m o d e l o p r o p o s t o p e l o Governo Federal leva em conta esta característica da região. O desenvolvimento econômico, calcado na inclusão social e uso racional dos ativos ambientais, é a proposta da União”, disse Gaetani.Vicente Falcão, secretário de Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso, apresentou as primeiras propostas para a Carta da Amazônia.FÓRUM - Esta foi a segunda reunião preparatória para a criação da agenda amazônica. A primeira - também realizada por iniciativa de Simão Jatene

- aconteceu em maio do ano passado. A terceira e última reunião acontecerá em Manaus (AM), em 1° de junho deste ano, junto com o Fórum dos Governadores, que selará a proposta a ser apresentada p e l o s g o v e r n a d o r e s d a Amazônia Legal na Rio+20.E m 1 9 9 2 , a O r g a n i z a ç ã o das Nações Unidas (ONU) realizou no Rio de Janeiro a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, apresentando ao Brasil e aos demais países o conceito de desenvolvimento sustentável.Vinte anos depois, a Conferência d a s N a ç õ e s U n i d a s s o b r e Desenvolvimento Sustentável, a R i o + 2 0 , d i s c u t i r á a estrutura institucional do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza, t e m a i m p o r t a n t e p a r a o s Estados da Amazônia, que vivem entre a necessidade de desenvolvimento econômico e social e a preservação do meio ambiente.

Marinete Macêdo perde o mandato de vereadora

MONTE ALEGRE

Marinete Macêdo perdeu o mandato de vereadora no último dia 20, por decisão do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Pará. O motivo da perda de mandato foi devido a infidelidade partidária da parlamentar que abandonou o PR para se filiar no PSDB a pedido do deputado Zenaldo Coutinho. A corte eleitoral do TRE decidiu por 9 votos a 0 pela perda do mandato, porque Maria Pereira de Macedo, a Marinete, deixou o partido que lhe elegeu em 2008, o PR, e migrou para o PSDB partido do governador Simão Jatene e que tem como Zenaldo Coutinho o parlamentar ‘manda chuva’, homem que Marinete apenas obedece ordens. Além da perda do mandato Marinete Macêdo também deverá pagar uma multa no valor de R$ 5 mil.M a r i n e t e M a c ê d o f o i p r e s i d e n t e d a C â m a r a Municipal de Monte Alegre no período de 2009 a 2010, onde não apresentou resultados expressivos na presidência do legislativo.Com a saída de Marinete do

legislativo montealegrense, assumirá a vaga o ex-vereador A n t o n i n o O l i v e i r a d e Vasconcelos, o Toca (PR), que está apenas aguardando uma notificação do TRE para a câmara de Monte Alegre, para assumir sua cadeira naquela casa. NÉLIO MAGALHÃES – Outro vereador montealegrense c o r r e r i s c o d e t a m b é m perder o mandato, trata-se do radialista Nélio Magalhães, que conseguiu se eleger pelo PMDB, partido do prefeito do município Jardel Vasconcelos e que, após a mudança de posicionamento junto ao executivo de Monte Alegre, Nélio mudou de partido, s e f i l i a n d o n o P S D s e m apresentar justa causa. Com a saída de Marinete a base do prefeito Jardel V a s c o n c e l o s ( P M D B ) na Câmara passa a ter 6 vereadores , contra 4 da oposição. Mas essa proporção de força política pode ser alterada, caso o vereador N é l i o t a m b é m p e r d a o mandato por infidelidade partidária.

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012TRIBUNA DA CALHA NORTE8 GERAL

HOROSCOPO Por Joao BiduAnuncie

AQUIE TENHA RETORNO GARANTIDO

Semma ganha maior autonomia para fiscalizar e monitorar a questão ambientalO m u n i c í p i o d e J u r u t i f o i h a b i l i t a d o a t e r m a i s autonomia na fiscalização e monitoramente das questões ambientais, principalmente n o q u e d i z r e s p e i t o a l i c e n c i a m e n t o s . E m u m a reunião com o secretário de estado de Meio Ambiente (SEMA), José Colares , e a Prefeitura de Juruti, através d o p r e f e i t o H e n r i q u e Costa , dec idiram a que a SEMMA Juruti assumirá suas competências no município.Com essa transferência de parte das responsabilidades para o município de Juruti, a SEMMA fará novas atividades como o licenciamento. “Não só vai facilitar o trabalho, como melhorar a vida das pessoas que precisam de informações, precisam resolver pequenos problemas sem precisar ir a Belém, porque antes somente a SEMA tinha essa competência”, afirmou o prefeito Henrique Costa.O novo diretor do Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (IDEFLOR), Thiago Valente, parabenizou a SEMMA e disse que espera o retorno dessa nova etapa. “Para o estado do Pará, essa divisão de tarefas vai descentralizar a gestão ambiental. Significa que a ação de estado fica mais próxima do cidadão. Para o

JURUTI

município, significa autonomia na gestão, poder com seus próprios meios, destravar os problemas locais. Antes não poderia ser feito porque quase 90% dos problemas só poderiam ser resolvidos em Belém, e hoje Juruti pode, com o seu corpo técnico ter uma autonomia de gestão”.O biólogo, Bruno Leão, que representou o secretár io

Expedito Repolho, evidenciou que a liberdade que a atual gestão deu a ele e a sua equipe foi determinante. “A gestão nos deu carta branca para tratar desse assunto e conseguimos com muita luta, já que foram inúmeras reuniões e viagens a Belém. Sabemos dos desafios e das responsabilidades que nos esperam. Mas estamos t o d o s f e l i z e s . T e m o s o

reconhecimento da sociedade dos trabalhos que fazemos em Juruti a frente da Secretaria”, disse o biólogo.A p r o m o t o r a d e j u s t i ç a , Lilian Braga, afirmou em seu discurso que a habilitação deixa o Ministério Público mais amparado na questão ambienta l , pois de fato a SEMMA Juruti assumirá suas competências.

Três faculdades do Pará foram fechadas pela Justiça FederalA Justiça Federal publicou no dia 19, decisão em que obriga a Faculdade de Educação Superior do Pará (Faespa) a interromper imediatamente as atividades acadêmicas, matrículas e propagandas relacionadas aos cursos de graduação que a instituição oferece. Segundo o Ministério Púb l ic o Federal (MPF) , a Faespa não tem autorização do Ministério da Educação (MEC) para promover cursos de ensino superior. É a s e g u n d a instituição denunciada pelo MPF e suspensa pela Justiça por esse mesmo motivo. A primeira foi a Faculdade de Educação Tecnológica do Pará (Facete), cuja suspensão foi decretada no início de 2011. Outra instituição q u e t e v e a s a t i v i d a d e s interrompidas foi a Faculdade Teológica do Pará (Fatep), por meio de acordo assinado este ano com o MPF. C o m b a s e e m denúncias de alunos, o MPF também já tomou providências em cinco outros casos. Na última quinta-feira, 15 de março, o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Alan Rogério Mansur Silva, entrou com ação contra o Instituto de Educação Superior e Serviço

Social do Brasil (Iessb), que, além de promover cursos de nível superior de maneira ilegal, tentava dar aparência de legalidade à sua atuação repassando os alunos para uma instituição supostamente credenciada pelo MEC. Na sexta-feira, dia 1 6 , M a n s u r S i l v a e n v i o u recomendação ao Centro de Estudos Avançados Alfa e Proficiência e ao Instituto de Desenvolvimento Educacional São Lucas (Idesal) para notificar oficialmente as empresas sobre a necessidade de interrupção das atividades ilegais. Se essas instituições não atenderem à recomendação, esses casos t a m b é m p o d e r ã o s e r e m levados à Justiça Federal. E m r e l a ç ã o a o Instituto Superior de Filosofia, Educação, Ciências Humanas e Religiosas do Pará (Isefechr-PA) e ao Instituto de Ensino Superior do Marajó (Iesm), o M P F d e t e r m i n o u q u e a s i n s t i t u i ç õ e s p r o v e m a regularidade dos cursos que realizam. Se esses institutos não apresentarem tais provas, o MPF vai tomar todas as medidas necessárias para a regularização ou suspensão dos cursos. (As informações são do MPF)

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 9TRIBUNA DA CALHA NORTEGERAL

Pescadores elegeram comissão governamental para a Z19 de Óbidos

Em a s s e m b l e i a g e r a l , convocada na manhã d e s e g u n d a - f e i r a 2 6 ,

os pescadores associados à Colônia Z-19 de Óbidos, e l e g e r a m u m a J u n t a Governamental Administrativa para dirigir a entidade. Nivaldo Aquino que era o presidente deixou o cargo durante a reunião. A saída foi em cumprimento da decisão da Ação Civil Pública do Ministério Público do Trabalho, com base nos artigos 530, III e 553, C da CLT, artigo 53 do estatuto e artigo 19, do regimento Interno da Colônia de Pescadores Z-19, e também da suspensão da eleição realizada no dia 23/07/2010 onde Nival Aquino foi eleito. Logo após a saída de Nivaldo do cargo, foi eleita

uma Junta Governamental Administrativa formada em sua maioria por mulheres pescadoras, que após tomarem posse elegeram uma Comissão Eleitoral que organizará o processo da eleição para a escolha da nova diretoria da colônia. Durante a reunião de assembleia geral podemos observar a movimentação d e a l g u n s p e s c a d o r e s tentando montar chapas com pré-candidatos aos cargos. A data da eleição foi decidida pela assembleia que será realizada no dia 22 de julho deste e que a até esta data a Junta Governamental deverá administrar a colônia de pescadores.Nivaldo Aquino - O presidente da colônia de Pescadores Nivaldo Aquino, teve que

deixar o cargo de presidente da entidade por ordem expedida na sexta-feira dia 23. A saída de Nivaldo da presidência é em cumprimento da decisão da Ação Civil Pública do Ministério Público do Trabalho, com base nos artigos 530, III e 553, C da CLT, artigo 53 do estatuto e artigo 19, do regimento Interno

da Colônia de Pescadores Z-19, e também da suspensão da eleição realizada no dia 23/07/2010 onde Nivaldo Aquino foi eleito. Nivaldo Aquino falou sobre as decisões da justiça,

“Decidimos que não vamos recorrer da decisão da justiça. Saio com a sensação do dever cumprido e dizer que sofremos muitas perseguições por partes daqueles que quiseram se

“aproveitar” desta entidade. No

estatuto da Colônia nada diz que não posso ser o presidente, por ser vereador” afirmou Nivaldo. Ao ser perguntado se recebia salário pelo cargo de presidente, disse que recebia da entidade uma ajuda de custo.

Edsergio Moraes

Sema explica procedimentos para licença de aquiculturaV e m c r e s c e n d o a o l o n g o deste semestre os pedidos de licenciamento de aquicultura em áreas degradadas, como forma de compensação ao passivo deixado no nordeste paraense. Mas ainda é na região do Baixo Tocantins

- municípios de Oeiras do Pará, Cametá, Igarapé-Miri, Abaetetuba, Moju, e outros - que se concentra a atividade, por conta da abundância de água e da logística, que favorece o escoamento da produção por via terrestre e f luvial , como informa a Gerência de Licenciamento de Pesca e Aquicultura, da

Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).Criadores de peixe, de camarão e de ostra, entre outros da mesma categoria , devem pedir licenciamento ambiental munidos de documentação p r ó p r i a o u d a e m p r e s a interessada, acompanhado d e u m p r o j e t o c o m o detalhamento da atividade. Se a área total inundada em tanques escavados for de até 3 hectares ou de 200 m³ em tanques-redes localizados diretamente no corpo hídrico, o empreendedor pode requerer a dispensa do licenciamento, apresentando o Cadastro

Ambiental Rural (CAR) da sua propriedade e o relatório de informações ambientais que está no anexo II da Instrução Normativa 09/2008 da Sema.Empreendimentos ac ima dessas áreas devem protocolar projeto com a documentação exigida, que inclui, além do CAR, Carteira de Identidade, CPF ou CNPJ, comprovante de regularidade do imóvel, a lvará de funcionamento da Prefeitura, entre outros n e c e s s á r i o s . O p r o j e t o apresentado deve obedecer aos itens exigidos no Termo de Referência disponibilizado pela Secretaria.

Em ambas situações, dispensa ou pedido de licenciamento, o s d o c u m e n t o s d e v e m ser protocolados no órgão a m b i e n t a l , o q u e g e r a r á p r o c e s s o . A p a r t i r d a í , é f e i t a u m a v i s t o r i a p e l a equipe técnica da Sema. Se não houver pendências, o processo é encaminhado para a Gerência de Geotecnologias e para avaliação jurídica. A etapa seguinte é a entrega da licença ao solicitante e o envio da notif icação de inexigibilidade, nos casos de dispensa. A apresentação d a d o c u m e n t a ç ã o completa, principalmente

em re l ação ao CA R - que agora deve ser definitivo e não mais provisório, como anteriormente - acelera o trâmite.E s s a s a t i v i d a d e s t ê m potencial econômico para o d e s e n v o l v i m e n t o d o Estado, visto que o Pará tem muitos recursos hídricos a serem aproveitados. Uma breve estatística feita pela Gerência de Licenciamento e s t i m a a u m e n t o d e 8 0 % na produção de 2007 até 2 0 0 9 . “ E s s e p e r c e n t u a l corresponde principalmente a pequenos produtores, ou seja, agricultores familiares,

que vendem o excedente da produção para garantir a subsistência”, explica a gerente de Licenciamento de Fauna, Pesca e Aquicultura da Sema, Palmira Gonçalves.A aquicultura nem sempre é uma atividade degradadora, mas pode se tornar caso os efluentes sejam lançados sem tratamentos nos corpos das águas naturais. “Daí a importância do licenciamento para que haja instruções aos interessados a respeito dos procedimentos adequados para o início da atividade”, pontua a gerente.

Pará é classificado como área livre de febre aftosaO resultado da auditoria da febre aftosa ocorrida entre os dias 13 e 17 de fevereiro nas regiões norte, nordeste, oeste e Marajó, foi divulgado nesta terça-feira, 27, na sede do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Brasília. O Pará obteve a melhor avaliação pelo Mapa, com nota superior a 80%, estando apto à classificação l ivre de febre af tosa com vacinação. O estado paraense evoluiu nos 28 itens avaliados, crescendo

em 27 e mantendo o mesmo s t a t u s , s e m r e g r e s s ã o . E n t r e o s i t e n s a v a l i a d o s estão controle de trânsito, epidemiologia, controle de revendas, funcionamentos dos escritórios e afins. Os estados de Alagoa, Ceará, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte também foram classificados para área livre de aftosa com vacinação.

“É uma meta pela qual governo e produtores das regiões nordeste , oeste , e Marajó vem lutando há mais de 10

anos. Isso melhora muito a exportação de carnes, atrai novos frigoríficos e permite aos municipios localizados nessas regiões levar animais de alta genética para qualquer exposição”, ressalta o diretor g e r a l d a A d e p a r á M á r i o Moreira”.Agora, classificado a dar início no processo de sorologia para verificação de circulação v i r a l n o s a n i m a i s , o P a r á

está próximo de ser todo considerado área l ivre de febra aftosa até final do ano. Hoje isso já acontece com 75% do seu rebanho. Depois desse processo, no ano que vem, o Pará poderá ser reconhecido i n t e r n a c i o n a l m e n t e p e l a Organização Mundial de Saúde Animal.Participaram da reunião em Brasília todos os diretores d a s A g ê n c i a s d e D e f e s a

Agropecuária das regiões brasileiras, secretários de Agricultura, superintendentes dos Ministérios da Agricultura,

Federações de Agricultura, além de representantes dos governadores. (Agência Pará)

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012TRIBUNA DA CALHA NORTE10 REGIÃO

Incra não usa 70% dos lotes disponíveis para reforma agráriaA situação fundiária no Pará e x i g e q u e p r o v i d ê n c i a s urgentes sejam tomadas. Os produtores rurais, por meio de 126 sindicatos ligados à Federação da Agricultura do Pará (Faepa), estão usando n ú m e r o s d e a s s e n t a d o s no Estado divulgados pelo próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para provar que há muita terra sobrando para as famílias de agricultores que precisam de lotes para morar e produzir. E se tem muita terra, as invasões seriam não apenas inoportunas, mas desnecessárias.Não dá para brigar contra os fatos: segundo o Incra, em relatório divulgado em março do ano passado, existem 1 .031 a ssen t a men t os no Estado, onde deveriam estar assentadas 263,5 mil famílias, mas somente 187,2 mil estão ocupando as terras. Ou seja, haveria, teoricamente, 30% de terras disponíveis e ociosas.O problema é que o governo federal, por teimosia, não admite que seu programa de reforma agrária, sobretudo no Pará, onde os conflitos pela posse da terra já mataram mais de 900 pessoas nos últimos 30 anos, está muito a q u é m d a s e x p e c t a t i v a s sociais. A lentidão do processo é regra . Há uma pol í t ica assistencialista de beira de estrada, com doação de cestas básicas às famílias acampadas, o que representa um desvio de finalidade. O foco político-ideológico, com sua visão estreita, também contribui

para colocar mais lenha na fogueira agrária.P a r a o s s i n d i c a t o s d e produtores rurais, a evasão de assentados também é um fato preocupante. Sem políticas sociais que atraiam e mantenham o homem no c a m p o , e s t i m u l a n d o - o a produzir e gerar renda para sua própria sobrevivência, as famílias abandonam os lotes e migram para as cidades médias e grandes do Pará. Por conta dessas evasões, estima-se que atualmente apenas 56 mil famílias estejam assentadas em condições de produzir. Ou apenas 30% da capacidade dos assentamentos.Outro detalhe: a fuga dos assentados faz aumentar ainda mais a disponibilidade dos lotes para os clientes da reforma agrária que estão sem terra. Em números que o Incra não pode desmentir, os lotes disponíveis seriam, na verdade, 207 mil, aumentando

o tamanho das terras para 16,6 milhões de hectares, com área média ociosa de 80,54 hectares, superior inclusive ao tamanho da média das propriedades no Brasil, que é de 73 hectares.A B U S O S - A r e s p e i t o d a s invasões, a Faepa salienta que nos últimos dois anos despachou 24 di ferentes expedientes para diversos ó r g ã o s p ú b l i c o s l i g a d o s à q u e s t ã o , o f e r e c e n d o sugestões e contribuição para intermediar os conflitos no campo, mas até hoje não obteve respostas.

“ A s i n v a s õ e s d e á r e a s produtivas e titularizadas c o n s t i t u e m g r a v í s s i m a v i o l a ç ã o a o s d i r e i t o s humanos e aos preceitos constitucionais garantidores da propriedade como direito fundamental do cidadão”, diz a Faepa, assinalando que, em contrapartida, a repressão do Estado a “essa conduta criminosa” tem sido tão “tímida

que acaba estimulando, pela impunidade, a continuidade das ações desses malfeitores”.Afirma ainda que em grande parte das invasões ocorridas no Pará, além da destruição de bens, tem ocorrido maus-tratos, desrespeitos e até abusos sexuais contra funcionários das propriedades invadidas e seus familiares. Cansados de pedir providências e não ser atendidos, os fazendeiros instruíram seus advogados a ingressar com representação judicial contra todo e qualquer agente público que deixe de cumprir com suas obrigações legais.Isso inclui delegados de polícia, escrivães, oficiais de justiça, magistrados , secretários de Estado, comandantes da PM ou governador. As ações judiciais incluem reparação de danos materiais e morais, lucros cessantes, causados pela “omissão” das autoridades. Fonte: Diário do Pará

Justiça declara inválida licença da usina Teles PiresA Justiça Federal declarou i n v á l i d a a l i c e n ç a d e i n s t a l a ç ã o d a u s i n a hidrelétr ica Teles Pires e x p e d i d a p e l o I b a m a , e s u s p e n d e u a s o b r a s d o e m p r e e n d i m e n t o , e m especial as detonações de rochas naturais na região do Salto Sete Quedas, segundo a decisão ocorrida na segunda-feira.A s u s p e n s ã o a t e n d e u ao pedido do Ministério Público, que alegou que o Ibama emitiu as licenças prévia e de instalação do e m p r e e n d i m e n t o “ s e m c o n s u l t a l i v r e , p r é v i a e i n f o r m a d a a o s p o v o s indígenas”. Além disso, o MP alega que a obra viola áreas consideradas sagradas para os povos indígenas.Na decisão, a juíza substituta da 2a Vara Federal de Mato

Grosso, Célia Regina Ody B e r n a r d e s , f i x o u m u l t a d i á r i a d e 1 0 0 m i l r e a i s pelo descumprimento da suspensão das obras.O Consórcio Teles Pires já foi notificado da decisão e, segundo a assessoria de imprensa, estava definindo as providências a serem tomadas. O Ibama informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que recebeu a notificação nesta terça. Além disso, o órgão ambiental está analisando as alegações do processo e estudando as medidas jurídicas cabíveis.A usina Teles Pires terá 1.820 megawatts (MW) e é de responsabilidade da Neonergia (50,1 por cento), Eletrosul (24,5 por cento), Furnas (24,5 por cento) e Odebrecht (0,9 por cento). Fonte: G1

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Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012 11TRIBUNA DA CALHA NORTEGERAL

Estudante de 17 anos é assassinado com tiro na cabeça em JurutiFoi assassinado na madrugada de domingo, 25, com um tiro na cabeça o estudante Victor Alexandre Vasconcelos Costa, 17 anos, quando se encontrava e m u m b a n h e i r o d o b a r Saudosa Maloca, na cidade de Juruti.O c r i m e a i n d a n ã o f o i esclarecido pela polícia, que busca prender o acusado Jonas dos Santos Albuquerque, o ‘Neto’, 24 anos, que após o disparo se evadiu do local e até o fechamento desta edição ainda se encontrava foragido.De acordo com relatos policias, o crime aconteceu por volta das 3h da manhã de domingo, q u a n d o a v í t i m a V i c t o r Alexandre foi até o banheiro do bar urinar, em seguida entrou no banheiro Neto armado com um revolver e não se sabe o certo como aconteceu o disparo que atingiu o estudante pela parte de trás da cabeça. Em seguida Neto saiu do banheiro dizendo que teria ‘feito uma besteira mas que não foi por querer’.Após o crime, Neto fugiu da cidade de Juruti para o Paraná de Dona Rosa, em uma lancha de seu patrão em companhia de um rapaz. A reportagem do Tribuna da Calha Norte conseguiu falar com o rapaz q u e a c o m p a n h o u J o n a s Albuquerque, onde pediu para não ser identificado, disse que foi procurado por Neto por volta das 4h dizendo que acompanhasse ele até

o Paraná de Dona Rosa pois sua avó estava passando mau, o rapaz acompanhou pois também possui familiares na comunidade, ao se aproximar do local Neto falou o motivo da viagem e teria dito que era amigo da vítima e que o crime foi sem querer. VELÓRIO – Victor Alexandre, foi velado por dois dias em uma igreja de seu bairro, onde atraiu centenas de curiosos e amigos. O jovem era estudante do segundo ano do colégio Raimundo Sousa Coelho, que esteve sem aula na segunda-feira como forma de luto. Victor foi enterrado na tarde desta segunda-feira, 26.FAMÍLIA – A mãe de vítima, Rejeane Vasconcelos, muito abala com a forma trágica da morte de seu filho, disse que vem recebendo apoio da Polícia Militar mas que clama

por justiça, para que o autor não fique impune. Rejeane apresenta versão diferente sobre o crime, disse que ouviu testemunhas que estavam no bar Saudosa Maloca. Conforme o que ela apurou sobre o fato, Neto ligou para seu filho que estava no local ‘Por do Sol’ por volta das 0h00, que de lá a vítima foi ao bar Saudosa Maloca, onde se encontrou com Neto que estava acompanhado de um funcionário da Promotoria P ú b l i c a e s u a n a m o r a d a . Conforme seu relato, ouviu das testemunhas que Victor foi ao banheiro acompanhado de Neto e o amigo funcionário Público e ouviram o disparo, em seguida saiu Neto dizendo que teria ‘feito uma besteira’ e depois saiu o funcionário público.

R e j e a n e d i s s e que não acredita em crime acidental, por ter sido de forma ‘queima-roupa’ e pela parte de trás da cabeça. Aproveitou a reportagem do jornal Tribuna da Calha Norte para pedir que a polícia civil investigue com mais carinho o caso, pois suspeita de ‘queima de arquivo’.

Seleção de Monte Alegre está entre as melhores na Copa Oeste do ParáA seleção de Monte Alegre, está entre as melhores nos jogos da Copa Oeste do Pará, que ocorre em Santarém.Apesar de uma participação baixa tanto das seleções como de torcedores a Copa Oeste está sendo realizada pela Liga Esportiva de Santarém, e o município de Monte Alegre está sendo representado na competição, que já se encontra com 3 pontos.Participam da Copa as seleções de: Belterra, Santarém, Monte Alegre, Altamira, Alenquer e Itaituba. Estão na frente com melhor pontuação Monte Alegre , Santarém, Belterra e Altamira, todas com 3 pontos. O pior desempenho apresentado vem da seleção de Itaituba que chegou a perder com o placar de 5 a 1 para a seleção de Beterra.Nesta quarta-feira, 28, mais

uma vez a seleção de Monte Alegre entra em campo, jogando contra a seleção de Belterra, as 16h30 no Campo do SESI. Amanhã. quinta-feira a seleção de Monte Alegre enfrenta a seleção de Altamira.Ontem terça-feira, 27, jogou no estádio Colosso do Tapajós as seleções de Altamira 3 x 1

Itaituba, com arbitragem de Lenivaldo Pedroso Barbosa. A seleção de Altamira estreou a copa perdendo para a seleção de Santarém, mas conseguiu se reabilitar ao vencer Itaituba.CLASSIFICAÇÃO DA COPA OESTEGrupo A1º Seleção de Santarém 3 pontos

2º Seleção de Monte Alegre 3 pontos3º Itaituba 0

Grupo B1º Seleção de Belterra 3 pontos2º Seleção de Altamira 3 pontos3º Seleção de Alenquer 0

Estudantes adolescentes aprendem sobre saúde sexual em escolaO r e n o m a d o m é d i c o e palestrante Jairo Bouer foi atração no cineteatro de Porto Trombetas, em O r i x i m i n á , n o ú l t i m o d i a 2 0 . O m é d i c o f o i recebido por um grupo de 226 adolescentes da Escola Professor Jonathas Pontes Athias para um bate-papo descontraído e i n f o r m a t i v o s o b r e sexualidade. F o r a m q u a s e duas horas de conversa e mais de cem perguntas respondidas sobre temas variados - desde o uso de preservativos, passando pelo início da vida sexual até gravidez precoce. O e s t u d a n t e Paulo Eduardo Mendonça, 14 anos, foi um dos que participaram da discussão.

“ F i q u e i s u r p r e s o e m c o m o e l e a b o r d o u o s adolescentes. Apesar de ser um adulto, ele fala c o m o u m a d o l e s c e n t e . Isso facilitou a interação e deixou todo mundo a vontade para perguntar”. A e s t u d a n t e Clara Suane dos Santos, 1 4 a n o s , a p r o v e i t o u a o p o r t u n i d a d e p a r a esclarecer dúvidas e se i n f o r m a r . “ F o i m u i t o interessante perguntar coisas que, às vezes, temos vergonha. Também foi legal a pesquisa que ele mostrou, do Ministério da Saúde, que mostra quem se protege mais, o homem ou a mulher, e como eram os jovens na década de 90 e agora. Mostra que a nossa geração é precoce”, relata. Para Jairo Bouer, a s p e r g u n t a s f i c a r a m dentro da faixa de idade d e s s e p ú b l i c o . “ S ã o perguntas que resultam da preocupação das meninas com a primeira relação sexual e dos meninos com o uso do preservativo. Em geral, as meninas sempre perguntam mais que os meninos”, conta o médico.

J a i r o r e s s a l t a a importância do papel da escola na formação da sexualidade e diz que, d e u m a f o r m a g e r a l , a e d u c a ç ã o s e x u a l t e m contribuído para redução d o s c a s o s d e g r a v i d e z precoce e de doenças entre os jovens. Mas lembra: “A informação é importante, mas o uso dela é que faz a diferença. Temos a família, a e s c o l a e t a m b é m o s veículos de comunicação que tratam do assunto, estes últimos, nem sempre da forma como se deve. E n t ã o , é i n t e r e s s a n t e a e s c o l a f a z e r e s s e contraponto, colocando u m v i é s e d u c a t i v o e trabalhando isso de forma transversal, ensinando ao adolescente como tomar conta do próprio corpo e da sua saúde”, pontua. A coordenadora d e E v e n t o s e P r o j e t o s Especiais da Fundação V a l e d o T r o m b e t a s , instituição que administra a e s c o l a , R o z z a n e G r u b a , a f i r m a q u e l e v a r i n f o r m a ç ã o a o público estudantil é uma n e c e s s i d a d e . “ M u i t o s a d o l e s c e n t e s t ê m m e d o o u v e r g o n h a d e pe r gun t a r a os pa is ou aos professores. Então, existe essa necessidade de informar. A escola não é a única responsável e tem um papel educativo muito for te a de se mpe n ha r ” , ressalta. J a i r o B o u e r é r e f e r ê n c i a n o B r a s i l q u a n d o o a s s u n t o é saúde e comportamento j o v e m . O m é d i c o f a z p a l e s t r a s e m e s c o l a s , universidades, empresas e grandes eventos abertos à população. O médico esteve em Porto Trombetas a c o n v i t e d a M i n e r a ç ã o Rio do Norte. À noite, ele proferirá palestra sobre álcool e drogas.

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TRIBUNA DA CALHA NORTE PUBLICIDADE12 Oeste do Pará, quarta-feira, 28 de março de 2012