trecho do livro "a espada juramentada"
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IntroduçãoEm O cavaleiro andante, conhecemos Dunk, o jovem escudeiro de um cavaleiro andante de Wes-teros. Após a morte de seu mestre, Dunk assumiu a espada e o escudo e, chamando a si mesmo de “Sor Duncan, o Alto”, entrou em um torneio na Campina de Vaufreixo, do qual participavam os melhores cavaleiros dos Sete Reinos. Infelizmente, ao defender, de forma cavalheiresca, uma bela e inocente titereira, Dunk derramou o sangue e atraiu a ira do cruel e presunçoso Príncipe Aerion. Dunk foi salvo da cólera imediata do Príncipe pela intervenção do seu escudeiro, “Egg” (sem que Dunk soubesse, o irmão mais novo de Aerion, Aegon). Porém, derramar sangue real não é algo trivial, e Dunk foi forçado a responder por seu crime no Julgamento de Sete…
DUNK EGG SORBENNIS
SOREUSTACE
Dois anos depois…Sor Duncan, o Alto, e seu escudeiro, Egg, continuaram a vagar por Westeros como cavaleiros andantes, oferecendo seus serviços em troca de carne, hidromel e acomodações ocasionais. Quan-do nossa história tem início, eles se encontram a serviço de Sor Eustace, um cavaleiro idoso cuja glória sobrevive apenas nas lembranças de feitos antigos. As terras de Sor Eustace sofrem com a seca, e a situação fica séria quando Dunk descobre que o calor insuportável pode lhe trazer mais problemas do que esperava…
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Quando eu era escudeiro de Sor Arlan, ele
costumava dizer que nenhum cavaleiro andante jamais precisava sentir
sede. “Não enquanto tiver seu elmo para pegar
água da chuva. É a melhor bebida que há!”
O velho nunca vira um verão como este.
E agora ele estava morto. Eu tinha meu próprio
escudeiro.
Egg me servia havia um ano e meio,
embora, às vezes, parecesse vinte.
Egg mantinha meu cavalo bem cuidado, minha espada longa afiada, minha cota de malha livre de
ferrugem.
Tinha dez anos. Ultimamente, tinha dado
uma boa espichada. Parecia exatamente com o cavalariço que não era, e nem um pouco com quem
era de verdade.
Tínhamos dormido em estábulos, estalagens e valas, dividido o pão com irmãos santos,
putas e pantomimeiros, e seguido uma centena de espetáculos de títeres.
Era tão boa companhia quanto qualquer homem poderia desejar.
EGG, VOCÊ ESTÁ...
SOR!
VEJA!
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QUEM… QUEM ACHA QUE
ERAM, SOR?
LADRÕES.
ESTUPRA-DORES.
ASSASSINOS.
DEVE TER SIDO ALGO RUIM, PARA
DEIXAREM OS DOIS MORREREM DENTRO DE UMA GAIOLA DE
CORVOS.
Algumas vezes, Egg era tão sábio quanto um meistre, mas outras vezes
ainda era um garoto de dez anos.
HÁ SENHORES E SENHORES. ALGUNS NÃO PRECISAM DE
MUITOS MOTIVOS PARA MANDAR UM HOMEM À MORTE.
QUEM QUER QUE FOSSEM,
PARECIAM MEIO FAMINTOS.
TALVEZ TENHAM ROUBADO UM POUCO DE PÃO, OU CAÇADO
UM CERVO NA FLORESTA DE ALGUM
SENHOR.
Com a seca entrando em seu segundo ano, a maior
parte dos senhores se tornara menos
tolerante com a caça ilegal, e, para começar, nunca tinham sido muito
tolerantes.
PODE SER QUE FOSSEM UM GRUPO
DE FORAS DA LEI.
Em Dosk, tínhamos ouvido um harpista
cantar “O dia em que enforcaram o Robin
Negro”. Desde então, Egg via galantes foras
da lei atrás de cada arbusto.
Nenhum dos foras da lei que conheci era especialmente
galante.
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FORAS DA LEI OU LARÁPIOS, NÃO IMPORTA.
HOMENS MORTOS SÃO MÁ
COMPANHIA.
Os olhos vazios pareciam
me seguir.
E aquela boca aberta…
Corvos sempre bicavam os olhos do cadáver em primeiro
lugar, ouvi dizer, mas talvez a língua viesse
em seguida.
Ou talvez um senhor a tivesse
arrancado, por algo que ele
disse.
Qualquer que fosse a razão, eu não podia fazer
nada pelos mortos. POR ONDE VIEMOS?
ESTOU DANDO A VOLTA.
POUSOVELOZ É POR ALI,
SOR.
É POR ONDE VAMOS, ENTÃO.
PODEMOS ESTAR DE VOLTA AO CAIR DA NOITE, MAS NÃO SE FICARMOS O DIA
TODO AQUI CONTANDO MOSCAS.
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vamos, MEISTRE!
Tive o cuidado em manter Trovão na parte mais alta da estrada, entre os sulcos. Eu mesmo torcera o
tornozelo no dia em que deixamos Dosk andando no escuro da noite,
quando era mais fresco.
“Um cavaleiro tinha que aprender a viver com machucados e dores”, Sor Arlan
costumava dizer.
“Sim, rapaz, e com ossos quebrados e cicatrizes. São
tão parte de um cavaleiro quanto a espada e o escudo.”
Se Trovão quebrasse uma pata, no entanto… bem, um cavaleiro sem um cavalo
não era um cavaleiro.
Os mortos logo desapareceram atrás de nós, mas me peguei pensando neles
do mesmo jeito.
O reino estava cheio de foras da lei nesses dias.
A seca não mostrava sinais de acabar, e os plebeus, aos milhares, iam para as estradas, procurando
algum lugar onde a chuva ainda caísse.
Muitos culpavam o Corvo de Sangue e o Rei Aerys
pela seca. Era um castigo dos deuses, diziam, pois o regicida é amaldiçoado.
Se eram prudentes, no entanto, não
diziam isso em voz alta. Como dizia a charada que Egg ouvira
em Vilavelha:
EI, GAROTO! QUANTOS OLHOS O
LORDE CORVO DE SANGUE
TEM?
EU… ELE TEM
UM?
NÃO! MIL OLHOS E MAIS
UM!
E UM DELES ESTÁ EM VOCÊ!
HAHAhahaHAHA!
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SOR? ESTÁ PASSANDO
MAL?NÃO.
ESTOU COM TANTO CALOR E SEDE QUANTO
ELES.
O QUE UM CAVALEIRO ANDANTE
FAZ QUANDO ATÉ AS SEBES ESTÃO
MARRONS, SECAS E MORRENDO?
Talvez quando chegarmos ao riacho eu
possa me molhar.
Como seria bom pular bem no meio do riacho
e sair ensopado e sorridente, com água
escorrendo pelo rosto e pelo cabelo
embaraçado, e a túnica encharcada grudada
na pele.
Egg poderia querer um mergulho também,
embora o garoto parecesse fresco e
seco, mais empoeirado do que suado.
Ele nunca sua muito. Gosta
do calor.
É o sangue de dragão dele. Quem já ouviu falar de um dragão
suado?
Eu teria ficado feliz em tirar a minha túnica, mas isso não cairia bem.
Um cavaleiro andante podia
andar de peito nu se quisesse; não
tinha ninguém para envergonhar além
de si mesmo.
Era diferente quando sua espada era
juramentada. Sor Arlan costumava dizer:
QUANDO VOCÊ ACEITA A
COMIDA E A BEBIDA DE UM SENHOR, TUDO O QUE FAZ REFLETE NELE. SEMPRE FAÇA MAIS DO QUE ELE ESPERA DE VOCÊ,
NUNCA MENOS.
NUNCA RECUE DIANTE DE QUALQUER TAREFA OU DIFICULDADE. E, ACIMA DE TUDO, NUNCA ENVERGONHE
O SENHOR QUE VOCÊ SERVE.
Em Pousoveloz, “comida e bebida” significavam frango e cerveja, mas
Sor Eustace também comia a mesma comida simples.
Mantive a túnica no corpo, mesmo sufocado pelo
calor.
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ENTÃO VOCÊ VOLTOU!
DEMOROU TANTO QUE PENSEI QUE TINHA FUGIDO
COM A PRATA DO VELHO!
Sor Bennis do Escudo Marrom estava esperando na velha ponte de madeira, sentado em seu garrano felpudo, mastigando um punhado de folhamarga,
que fazia sua boca parecer cheia de sangue.
TIVEMOS QUE IR ATÉ DOSK PARA ENCONTRAR
ALGUM VINHO.
VIU O VELHO PATE TRASEIRO
APERTADO?
DISSERAM QUE ESTAVA MORTO.
OS HOMENS DE FERRO O MATARAM QUANDO
ELE TENTOU IMPEDI-LOS DE LEVAR SUA FILHA.
MALDITOS SETE.
INFERNOS! VI ESSA FILHA UMA VEZ. NÃO VALIA MORRER
POR ELA, SE ME PERGUNTASSE!
AQUELE TOLO DO PATE ME DEVIA MEIA PRATA…
O cavaleiro marrom parecia
exatamente igual a quando
o deixamos.
E, o que era pior, cheirava
do mesmo jeito também.
SÓ DOIS BARRIS.
SOR INÚTIL QUERIA QUATRO.
TIVEMOS SORTE DE
ENCONTRAR DOIS. A SECA
CHEGOU À ÁRVORE TAMBÉM.
OUVIMOS DIZER QUE AS UVAS ESTÃO SE
TRANSFORMANDO EM PASSAS NAS VIDEIRAS,
E QUE OS HOMENS DE FERRO ANDAM PIRATEANDO... SOR?
A ÁGUA SE FOI!
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Eu estava tão concentrado em Bennis que não tinha notado.
ISSO É ESTRANHO. O
RIACHO ESTAVA BAIXO QUANDO PARTIMOS, MAS AINDA CORRIA…
HEH, HEH, HEH.
SECOU ENQUANTO VOCÊS SE FORAM, ACHO.
A SECA FEZ ISSO!
COISA RUIM A ÁGUA.
BEBI UMA VEZ E FIQUEI DOENTE COMO UM CÃO! VINHO
É MELHOR.
NÃO PARA A AVEIA. NEM PARA
A CEVADA. NEM PARA AS CENOURAS,
AS CEBOLAS, AS COUVES. ATÉ AS UVAS PRECISAM
DE ÁGUA.
COMO PODE TER SECADO TÃO RÁPIDO? FORAM
SÓ SEIS DIAS!
PARA COMEÇAR, NÃO TINHA
MUITA ÁGUA AQUI, DUNK.
NÃO É DUNK.
JÁ LHE DISSE ISSO. SOU
CHAMADO DE SOR DUNCAN,
O ALTO.
POR QUEM? PELO SEU FILHOTE CARECA? HE, HE,
HE!
VOCÊ ESTÁ MAIS ALTO DO QUE QUANDO
TRABALHAVA EM CENTARBOR, MAS, PARA MIM, AINDA
PARECE UM DUNK DO MESMO JEITO!
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O QUE TEMOS QUE FAZER?
GUARDAR OS VINHOS E
CONTAR AO SOR INÚTIL QUE O
RIACHO SECOU.
O POÇO DE POUSOVELOZ
AINDA TEM ÁGUA, NÃO VAMOS MORRER DE
SEDE.
NÃO O CHAME DE INÚTIL.
VOCÊ DORME EMBAIXO DO TETO DELE. TENHA ALGUM
RESPEITO POR ELE.
VOCÊ O RESPEITA POR NÓS DOIS,
DUNK. VOU CHAMÁ-LO DO QUE QUISER.
PEIXES MORTOS, ALI E
ALI, VÊ?
EU VEJO, SOR.
A ÁGUA NÃO DEVE TER
SUMIDO HÁ MUITO TEMPO.
O SOLO ESTÁ RACHADO NAS
MARGENS, MAS MACIO E
ENLAMEADO NO MEIO.
AQUELES PEIXES
ESTAVAM VIVOS ONTEM.
EM CENTARBOR COSTUMAVAM CHAMÁ-LO DE
DUNK, O PATETA.
EU ME LEMBRO.
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