trecho da carta de pero vaz de caminha3

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A carta de Pero Vaz de Caminha foi escrita com o objetivo de relatar ao rei de Portugal, dom Manuel I, os principais acontecimentos da expedição comandada por Pedro Álvares Cabral às Índias. A seguir, serão apresentados alguns trechos que se referem aos primeiros contatos dos portugueses com as populações indígenas e com as terras que deram origem ao nosso país. Leia com atenção os fragmentos selecionados e, em seguida, responda às questões propostas. TRECHO 1 A pele deles é parda e um pouco avermelhada. Têm rostos e narizes bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem se preocupam em cobrir ou deixar de cobrir suas vergonhas mais do se que preocupariam em mostrar o rosto. E a esse respeito são bastante inocentes. Ambos traziam o lábio inferior furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, fino na ponta como um furador. (…) Os cabelos deles são lisos. E os usavam cortados e raspados até acima das orelhas. E um deles trazia como uma cabeleira feita de penas amarelas que lhe cobria toda a cabeça até a nuca (…). Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, eles se tornaria, logo cristãos, visto que não aparentam ter nem conhecer crença alguma. Portanto, se os degredados que vão ficar aqui aprenderem bem a sua fala e só entenderem, não duvido que eles, de acordo com a santa intenção de Vossa Alteza, se tornem cristãos e passem a crer na nossa santa fé. Isso há de agradar a Nosso Senhor, porque certamente essa gente é boa e de bela simplicidade. E poderá ser facilmente impressa neles qualquer marca que lhes quiserem dar, já que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens. E creio que não foi sem razão o fato de Ele nos ter trazido até aqui. TRECHO 2 Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta mais ao Sul até a outra ponta ao Norte, do que nós pudemos observar deste porto, é tão grande que deve ter bem ou vinte e cinco léguas de costa. Ao longo do mar, têm, em algumas partes, grandes barreiras, uma vermelhas e outras brancas; e a terra é toda chã e muito formosa. O sertão nos pareceu, visto do mar, muito grande; porque a estender os olhos não podíamos ver senão terra e arvoredos – terra que nos parecia muito extensa.

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A carta de Pero Vaz de Caminha foi escrita com o objetivo de relatar ao rei de Portugal, dom Manuel I, os principais acontecimentos da expedio comandada por Pedro lvares Cabral s ndias.A seguir, sero apresentados alguns trechos que se referem aos primeiros contatos dos portugueses com as populaes indgenas e com as terras que deram origem ao nosso pas.Leia com ateno os fragmentos selecionados e, em seguida, responda s questes propostas.

Trecho 1A pele deles parda e um pouco avermelhada. Tm rostos e narizes bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem se preocupam em cobrir ou deixar de cobrir suas vergonhas mais do se que preocupariam em mostrar o rosto. E a esse respeito so bastante inocentes. Ambos traziam o lbio inferior furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mo travessa, e da grossura de um fuso de algodo, fino na ponta como um furador. ()Os cabelos deles so lisos. E os usavam cortados e raspados at acima das orelhas. E um deles trazia como uma cabeleira feita de penas amarelas que lhe cobria toda a cabea at a nuca ().Parece-me gente de tal inocncia que, se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa, eles se tornaria, logo cristos, visto que no aparentam ter nem conhecer crena alguma. Portanto, se os degredados que vo ficar aqui aprenderem bem a sua fala e s entenderem, no duvido que eles, de acordo com a santa inteno de Vossa Alteza, se tornem cristos e passem a crer na nossa santa f. Isso h de agradar a Nosso Senhor, porque certamente essa gente boa e de bela simplicidade. E poder ser facilmente impressa neles qualquer marca que lhes quiserem dar, j que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens. E creio que no foi sem razo o fato de Ele nos ter trazido at aqui.

Trecho 2Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta mais ao Sul at a outra ponta ao Norte, do que ns pudemos observar deste porto, to grande que deve ter bem ou vinte e cinco lguas de costa. Ao longo do mar, tm, em algumas partes, grandes barreiras, uma vermelhas e outras brancas; e a terra toda ch e muito formosa. O serto nos pareceu, visto do mar, muito grande; porque a estender os olhos no podamos ver seno terra e arvoredos terra que nos parecia muito extensa.At agora no pudemos saber se h ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem os vimos. Contudo, a terra em si de bom clima, fresco e temperado, como os de Entre-DOuro-E-Minho, nesta poca do ano. As guas so muitas; infinitas. De tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se- nela tudo, por causa das guas que tem!

Glossrio

Ch:planaDegredado:exiladoEntre-DOuro-E-Minho:regies litorneas de PortugalLgua:representava para os portugueses, 5512 m.Serto: refere-se ao interior das terras encontradas.Questes propostas1. O texto apresenta algumas caractersticas dos primeiros indgenas avistados pelos portugueses. De que forma Caminha os descreve Utilize as informaes do texto para construir sua resposta.2. Como foi tratada a questo da religiosidade das populaes indgenas pelo autor da carta? Justifique sua resposta.3. Partindo da narrao acima, possvel afirmar que Caminha teve uma boa impresso das terras encontradas? Por qu?4. Quais interesses econmicos dos portugueses sobre essas terras ficaram evidentes no texto? Justifique sua resposta, utilizando os trechos que leu.