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Artigo Paraná Eleitoral v. 2 n. 2 p. 229-260 Centralismo e desenvolvimentismo: processos de institucionalização dos partidos marxistas brasileiros nos anos 1950 Mabelle Bandoli Dias 1 Resumo Este artigo analisa os programas para o desenvolvimento nacional produzidos pelos partidos da extrema esquerda no Brasil durante a década de 1950: do Partido Comu- nista do Brasil (PCB), do Partido Operário Revolucionário (POR) e da Liga Socialis- ta Independente (LSI). Tais programas foram comparados entre si em função de sua maior ou menor adesão ao ideário desenvolvimentista. Concluímos que, além de se remeterem às divergências entre as vertentes ideológicas às quais cada um deles se filiava, tais variações programáticas eram ligadas à própria organização dos partidos, correspondendo aos seus graus de institucionalização. As variáveis utilizadas para a mensuração dos diferentes graus de institucionalização foram: i) os níveis de disciplina/ democracia interna – que resultavam da maior padronização dos processos decisó- rios, bem como da maior distribuição do poder organizativo entre seus membros; ii) os níveis de autonomia organizativa em relação a outras instituições partidárias. Este artigo se dedica à análise da primeira variável, concentrando-se no debate sobre as conformações institucionais que resultavam em maior ou menor grau de democracia interna. A pesquisa consistiu na comparação das diretrizes organizativas e ideológicas dos partidos, garimpadas nos discursos presentes em jornais e programas partidários, bem como entrevistas realizadas com alguns de seus membros mais importantes. As conclusões revelaram fortes correlações entre os níveis de institucionalização parti- dária e a conformação programática de cada uma dessas organizações. Palavras-chave: partidos de extrema-esquerda; desenvolvimentismo; organizações partidárias; ideologia; institucionalização partidária. Abstract This article aims to present the main results of the survey carried out for the pre- paration of our dissertation. In that work, we analyzed the programs for national development produced by the parties of the extreme left in Brazil during the 1950s, namely the Communist Party of Brazil (PCB), the Revolutionary Workers Party (POR) and the Independent Socialist League (LSI). Such programs were compared on the basis of their degree of adherence to the developmentalist ideals.We conclude that, in addition to remitting the ideological differences between the strands to which each of them to become affiliated, such programmatic and ideological variations were linked to the very organization of parties, corresponding to their specific degree of party Sobre a autora Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. E-mail: [email protected]

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  • Artigo Paran Eleitoral v. 2 n. 2 p. 229-260

    Centralismo e desenvolvimentismo:processos de institucionalizao dos partidos marxistas brasileiros nos anos 1950

    Mabelle Bandoli Dias1

    ResumoEste artigo analisa os programas para o desenvolvimento nacional produzidos pelos partidos da extrema esquerda no Brasil durante a dcada de 1950: do Partido Comu-nista do Brasil (PCB), do Partido Operrio Revolucionrio (POR) e da Liga Socialis-ta Independente (LSI). Tais programas foram comparados entre si em funo de sua maior ou menor adeso ao iderio desenvolvimentista. Conclumos que, alm de se remeterem s divergncias entre as vertentes ideolgicas s quais cada um deles se filiava, tais variaes programticas eram ligadas prpria organizao dos partidos, correspondendo aos seus graus de institucionalizao. As variveis utilizadas para a mensurao dos diferentes graus de institucionalizao foram: i) os nveis de disciplina/democracia interna que resultavam da maior padronizao dos processos decis-rios, bem como da maior distribuio do poder organizativo entre seus membros; ii) os nveis de autonomia organizativa em relao a outras instituies partidrias. Este artigo se dedica anlise da primeira varivel, concentrando-se no debate sobre as conformaes institucionais que resultavam em maior ou menor grau de democracia interna. A pesquisa consistiu na comparao das diretrizes organizativas e ideolgicas dos partidos, garimpadas nos discursos presentes em jornais e programas partidrios, bem como entrevistas realizadas com alguns de seus membros mais importantes. As concluses revelaram fortes correlaes entre os nveis de institucionalizao parti-dria e a conformao programtica de cada uma dessas organizaes. Palavras-chave: partidos de extrema-esquerda; desenvolvimentismo; organizaes partidrias; ideologia; institucionalizao partidria.

    AbstractThis article aims to present the main results of the survey carried out for the pre-paration of our dissertation. In that work, we analyzed the programs for national development produced by the parties of the extreme left in Brazil during the 1950s, namely the Communist Party of Brazil (PCB), the Revolutionary Workers Party (POR) and the Independent Socialist League (LSI). Such programs were compared on the basis of their degree of adherence to the developmentalist ideals. We conclude that, in addition to remitting the ideological differences between the strands to which each of them to become affiliated, such programmatic and ideological variations were linked to the very organization of parties, corresponding to their specific degree of party

    Sobre a autoraMestranda no Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da Universidade Federal do Paran. E-mail: [email protected]

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    institutionalization. The variables used for this measurement of different degrees of institutionalization, in that work were: i) the levels of discipline / internal democracy - which resulted from greater standardization of decision processes, as well as the lar-gest distribution of power among organizational members, ii) levels of organizational autonomy in relation to other institutions partidrias.Este article is dedicated to the analysis of the first variable , focusing on the debate about institutional conformations that resulted in greater or lesser degree of internal democracy. The research was to compare the organizational and ideological guidelines of the parties, mined in the dis-courses present in newspapers and party programs as well as interviews with some of its most important members. The findings revealed a strong correlation between the levels of party institutionalization and programmatic conformation of each of these organizations . [vou trocar; depois eu mando]Keywords: parties of the extreme left; developmentalism; party organizations; ideo-logy; party institutionalization.

    Artigo recebido em 1 de abril de 2013; aceito para publicao em 14 de julho de 2013.

    Introduo

    Este artigo tem como objetivo analisar os programas para o desen-volvimento nacional produzidos pelos partidos da extrema esquerda no Brasil durante a dcada de 1950, a saber: do Partido Comunista do Brasil (PCB), do Partido Operrio Revolucionrio (POR) e da Liga Socialista Independente (LSI). Tais programas foram comparados entre si em funo de sua maior ou menor adeso ao iderio desen-volvimentista, mais especificamente ao conjunto de proposies que ficou conhecido como modelo democrtico-burgus (MANTEGA, 1984). Tal modelo consistia, para Mantega, na verso marxista dos preceitos fundamentais do desenvolvimentismo, distinguindo-se do Modelo de Substituio de Importaes, por exemplo, por subli-nhar, junto s teses que pregavam a necessidade da promoo de uma industrializao de carter nacional comandada pelo Estado, uma srie de imperativos eminentemente polticos, como a consolidao do regime democrtico no pas. Entre os crculos intelectuais que formularam tal vertente, destacam-se aqueles ligados ao Partido Co-munista do Brasil, principal organizao partidria marxista da poca.

    Disputando as preferncias da esquerda com o pensamento de [Cel-so] Furtado e seus seguidores, toma corpo uma corrente gestada pelos

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    intelectuais ligados ao PCB, que pretende formular uma abordagem marxista da realidade brasileira. Com base nas anlises de Lnin sobre a Rssia czarista e em sua proposta de revoluo democrtico- burguesa, formulada em 1905, o PCB procurava aplicar no Brasil as teses da III Internacional para os pases coloniais e atrasados, ressaltando o carter semifeudal da agricultura brasileira, voltada para a exportao de pro-dutos primrios coloniais, que impedia a expanso das foras produti-vas industriais. Da a importncia atribuda ao imperialismo enquanto principal inimigo do desenvolvimento da nao e aliado das foras mais retrgradas na manuteno do status quo semicolonial, e a necessidade da revoluo democrtico-burguesa. (MANTEGA, 1984, p.13).

    Tais caractersticas gerais do modelo democrtico-burgus nos apontam questes que instigam a comparao com os programas de outros partidos de orientao marxista. Por esse motivo, decidimos compar-las s formulaes dos partidos pertencentes chamada oposio de esquerda1 os trotskistas do Partido Operrio Re-volucionrio e os luxemburguistas da Liga Socialista Independente.

    Parece-nos fundamental ressaltar aqui a relao inextrincvel especialmente para os partidos de orientao marxista entre suas definies ideolgicas e conformaes organizativas. A questo central que norteou este trabalho se relaciona significativa cor-relao entre o grau de adeso dos partidos analisados ideologia desenvolvimentista e os nveis de institucionalizao organizativa que atingiram.

    Colocando a questo nos termos propostos por Panebianco (2005), apontamos que existiu uma ligao entre a capacidade dos partidos de esquerda de formar, naquele contexto, sua identidade ideolgica com a eficincia de sua institucionalizao, mensurada a partir de duas variveis fundamentais: i) os nveis de democracia partidria, entendida como a forma de distribuio e exerccio do poder decisrio interno. importante ressaltar que levamos em considerao, para a investigao dessa varivel, a existncia de mecanismos estveis, em toda a estrutura partidria, que permitissem a participao constante e ativa dos militantes, em diferentes nveis, na definio dos rumos polticos e ideolgicos dos partidos. Assim, to importantes como os

    1. A Oposio de Esquerda foi um movimento internacional criado em outubro de 1923 por dissidentes do PCUS entre eles Trotsky para se contrapor poltica stalinista, sem abdicar da herana da Revoluo Russa de 1917.

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    procedimentos para a escolha de lideranas internas (j que a seleo de candidatos a cargos eletivos, se no inexistente, era muito fortuita), mas tambm a possibilidade de participar dos crculos mais altos da deciso da agenda poltica, bem como de organizar, internamente, grupos de oposio e concorrncia a tais espaos, mantendo-se um nvel mnimo da estabilidade partidria; ii) os nveis de autonomia organizativa em relao a outras organizaes partidrias do Brasil e do exterior. Discutiremos aqui somente os aspectos relativos primeira varivel, numa tentativa de concentrar nossos esforos na compreenso dos princpios fundamentais da organizao do poder interno dos partidos da extrema esquerda.

    Vale mencionar que a pesquisa revelou que os partidos que en-contraram maiores obstculos para a consolidao desses dois traos (que consideramos fundamentais na observao do processo de amadurecimento organizativo especfico dos partidos clandestinos) foram justamente aqueles que contaram com recursos mais escassos para a formulao de programas de oposio originais, o que se traduziu, em ampla medida, em maior adeso s propostas polticas oficiais, alinhadas ideologia desenvolvimentista propagada por governos e altos crculos intelectuais.

    Dessa forma, alm de trabalharmos com algumas das categorias sugeridas por Panebianco - especificamente aquelas que parecem, a nosso ver, adaptar-se melhor anlise de partidos clandestinos e com pouqussima relao com o sistema eleitoral, como os aqui observa-dos, encontramos nas propostas de Maurice Duverger (1987) alguns conceitos bastante teis para o debate. Entre os diversos mritos de sua obra, encontramos, na anlise dos organismos de base do parti-do, uma contribuio de extrema importncia para a compreenso da questo que o objetivo deste trabalho. A organizao da base dos partidos em forma de clulas, sua relao com as instncias superiores, suas atribuies e poderes so um bom indicativo dos nveis de democracia interna.

    A escolha da clula como base de organizao ocasiona, portanto, uma evoluo profunda na prpria noo de partido poltico. Em vez de um rgo destinado conquista de sufrgios, unio dos eleitores e manuteno do contato entre eles e os seus eleitores, este se torna um instrumento de agitao, de propaganda, de enquadramento, e eventualmente de ao clandestina, para o qual as eleies e os debates

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    parlamentares no passam de um meio de ao entre outros, e mesmo um meio secundrio. (DUVERGER, 1987, p.71)

    A anlise dessas conformaes, tal como definidas nos estatutos partidrios fornece um bom mapa daquilo que Duverger chama de repartio de poderes (idem, p.88). Nos casos de ausncia de esta-tutos oficiais, recorremos a outras estratgias que nos possibilitaram preencher as lacunas nos dados e manter as condies minimamente necessrias ao estudo comparativo. A principal delas foi a recorrn-cia a debates sobre princpios de organizao partidria, realizados nos jornais publicados pelas organizaes estudadas, e a entrevistas com seus ex-membros.

    Nas sesses que seguem, procuramos apresentar as principais caractersticas dos partidos analisados, desde sua composio his-trica, seus traos programticos, sua insero nos debates polticos mais candentes para o campo da esquerda da poca e suas princi-pais caractersticas organizativas. Procuramos apresentar, de forma simultnea, as mudanas e variaes programticas compiladas nos principais documentos partidrios produzidos pelas agremiaes na dcada 1950 (Programas de Partido, Resolues Congressuais, textos para o debate ideolgico escritos por seus militantes em seus jornais internos) e as definies organizativas e de regras institucionais, plasmadas nos Estatutos e documentos de consolidao dos prin-cpios norteadores das organizaes. Foram utilizados como fontes para essa anlise todos os documentos produzidos na poca e que se encontravam disponveis para a consulta em arquivos pblicos e na internet2. A apresentao, nas sesses que seguem, das variaes

    2. Os documentos consultados de cada partido foram: 1) PCB A resoluo Poltica do IV Congresso do Partido bem como o Estatuto aprovado na mesma ocasio, em 1954; A Declarao Sobre a Poltica do Partido Comunista do Brasil, conhecida como Declarao de Maro de 1958; A Resoluo Poltica do V Congresso do PCB. 2) POR O partido no contava com documentos oficiais para definio de programa ou estatutos. Foram trabalhadas todas as edies disponveis do jornal Frente Operria, veculo central do partido, cobrindo todo o perodo. 3) LSI O Projeto de Programa e Estatutos da Liga, elaborados e aprovados em 1956; Todos os nmeros publicados do Ao Socialista, que cobrem o perodo de junho de 1958 ao final de 1960. Tais documentos se encontram disponveis do Arquivo Edgard Leuenroth, Unicamp. Alm disso, contamos tambm com informaes disponibilizadas pelos ex-militantes dessas agremiaes: Tullo Vigevani e Ruy Fausto, que atuaram no POR e Michael Lwy, que atuou na LSI, em entrevistas realizadas entre os dias 18 e 19 de abril de 2013.

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    ideolgicas e organizativas, tem como objetivo proporcionar um vis-lumbre dos processos de transformao vividos pelas organizaes, permitindo ao leitor perceber a coincidncia temporal e as relaes causais entre as mudanas programticas e organizativas, oferecendo assim a fundamentao dos resultados apresentados na concluso.

    Iniciamos o debate com a anlise do PCB, partido que, por ser o maior e mais estruturado da poca, acabou cumprindo o papel de farol para os demais, ocupando um espao de inconteste hegemonia e definindo os alicerces do campo da extrema esquerda. Os dois outros partidos no deixaram de ser avaliados de acordo com sua maior ou menor proximidade s proposies pecebistas, j que, em ampla medida, era com base nessas proposies que definiam sua prpria identidade.

    Nas concluses, procuramos apresentar, a partir da comparao entre os resultados obtidos na observao de cada partido, sua localizao no espectro de adeso ideologia desenvolvimentista, em um grfico no qual se estabelece uma relao entre adeso a tal iderio e o respectivo nvel de democracia partidria.

    1. O modelo democrtico-burgus do PCB: centralismo stalinista e desenvolvimentismo de esquerda

    Algumas das conjecturas tericas que marcaram a poltica comu-nista nos anos 1950 de forma mais decisiva podem ser identificadas com o programa geral do desenvolvimentismo, que fora difundido como ideologia oficial dos governos que o elegeram como princpio norteador de suas aes mais relevantes. A crena no desenvolvimento gradual e inexorvel do capitalismo em sentido modernizao da sociedade e na construo, por esta via, da revoluo socialista se conjugou, no programa do PCB, atribuio de um papel destacado industrializao no processo de consolidao da democracia no Brasil.

    A tese de que estaria se processando um desenvolvimento ca-pitalista nacional, que faria surgir um capitalismo de Estado de carter nacional e progressista era amplamente defendida pelos comunistas. O protagonismo desse processo era naturalmente con-ferido burguesia nacional, que estaria cada vez mais interessada no desenvolvimento independente e progressista da economia nacional. A poltica brasileira, impulsionada por um processo de industriali-zao que trataria de introduzir de uma vez o capitalismo no Brasil,

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    estaria caminhando ainda que com alguns tropeos rumo a uma irresistvel ampliao da democracia. A tarefa de impulsionar a mar-cha do progresso se converteria na prioridade fundamental para os comunistas, que avaliavam que, em sua etapa atual, a revoluo brasileira no seria socialista, mas democrtico-burguesa.

    Desde o ano de 1950, o PCB experimentava um perodo de endu-recimento de sua linha poltica. Expressa no Manifesto de 1950, a orientao adotada pelo Partido era caracterizada por uma forte crtica poltica adotada no perodo precedente ao ano de 1947, quando o governo Dutra o condena novamente clandestinidade. Segundo Jos Antnio Segatto (1989), a cassao do registro legal provocou nos militantes comunistas um profundo descrdito no regime democrtico, o que os levou a uma reviso radical de seus princpios. O perodo que ficou conhecido como o da linha poltica mais radicalizada teve seu primeiro esboo no Manifesto de 1948, e ganhou uma verso mais elaborada no Manifesto de 1950.

    A elevao do tom radicalizado nos discursos do partido se adequava s diretrizes programticas da poltica stalinista. Essa orientao levou o PCB a desdenhar, naquele momento, da demo-cracia burguesa e das eleies como instrumento de transformao da realidade brasileira. Embora tenha optado por uma oposio ferrenha ao governo, o partido no conseguiu sustentar por muito tempo essa poltica. A linha que vinha sendo seguida desde 1947 no parece ter se formulado sobre bases que fossem slidas o suficiente a ponto de faz-la resistir aos impactos do suicdio de Getlio Var-gas, em 1954. A comoo da populao que inclusive depredou as sedes de dois jornais ligados ao partido levou os comunistas a rever rapidamente seu discurso, ainda que de forma tmida.

    Em meio tamanha presso, o PCB comea a esboar um ca-minho de importantes transformaes, mas seus primeiros passos ainda no indicam mudanas mais profundas na estrutura de seu pensamento. Alguns meses depois do impacto do suicdio de Vargas, e ainda em meio crise poltica vivida pelo pas, o partido realizou seu IV Congresso, no qual a essncia do Manifesto de 1950 foi reafirmada. Em linhas gerais, a Resoluo aprovada por unanimi-dade no IV Congresso do Partido Comunista Brasileiro repetiu a caracterizao do Brasil como um pas totalmente subordinado ao imperialismo, que transformava sua economia em um simples apndice da economia de guerra dos Estados Unidos.

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    A postura crtica e de descrdito na poltica a principal marca da resoluo aprovada em novembro de 1954 no IV Congresso do Partido Comunista do Brasil. O pas, submetido economicamente ao imperialismo e abandonado aos interesses do setor agroexpor-tador, no conseguiria garantir direitos polticos bsicos popula-o, que se via constantemente governada por representantes das chamadas foras retrgradas, aliadas aos interesses dominantes. O povo brasileiro estaria submetido s piores condies de vida em consequncia da poltica de rapina dos monoplios norte-a-mericanos e da dominao dos latifundirios e grandes capitalistas brasileiros.

    A submisso ao imperialismo levava piora das condies de vida do povo brasileiro em geral. No quadro descrito pelos comunistas, as exigncias colocadas pelo capital monopolista internacional nossa economia tinham efeitos nefastos para os membros de todas as classes, que deviam reconhecer nele seu principal inimigo. Os efeitos da subordinao aos interesses externos percorriam a nao de modo geral, e deviam ser reconhecidos como fruto da ao de um inimigo comum.

    O governo de traio nacional deveria ser derrubado e subs-titudo por um governo capaz de libertar o pas do jugo imperia-lista, representasse as foras progressistas e antiimperialistas e realizasse as transformaes democrticas radicais indispensveis ao progresso da nao. A democracia s poderia ser atingida com um governo composto por uma coalizo entre a classe operria, os camponeses, a intelectualidade, a pequena burguesia e elementos mais progressistas da burguesia nacional. A causa da independncia e do progresso demandaria a defesa de bandeiras que se opusessem ao controle dos Estados Unidos sobre esferas estratgicas da vida na-cional. Para colocar em prtica essas propostas, a Resoluo afirma que a atuao dentro dos marcos do atual regime reacionrio seria insuficiente. Seria necessrio forjar uma ampla frente nica antica-pitalista e antifeudal, a frente democrtica de libertao nacional. Ironicamente, o tom radical que marca o discurso no acompanha as metas que o partido estabelece: ainda que sugerissem que o regi-me fosse determinado pelas contradies estruturais da sociedade brasileira, os comunistas no fazem mais que propor a substituio de um governo por outro (ainda que para isso fosse eventualmente necessrio adotar tticas externas legalidade).

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    No obstante as continuidades que marcam a Resoluo Poltica unanimemente aprovada na ocasio, a realizao do IV Congresso acabou marcando o fim do perodo radicalizado do PCB. Abre-se um curso no qual a linha adotada pelos comunistas desde 1948-50 comea a apresentar seus primeiros sinais de mudana. Antes da reorientao programtica oficial, as transformaes se tornam perceptveis no terreno da prtica poltica e das alianas que os comunistas forjam no perodo. No entanto, a linha poltica radi-cal no s foi oficialmente abjurada pelos comunistas depois do desenlace da crise internacional produzida pelas Resolues do XX Congresso do PCUS em 19563.

    Aps uma srie de manobras e que redesenharam a composio da direo do partido, o novo Comit Central, buscando recuperar sua legitimidade com o conjunto de militantes do partido, em-preendeu um esforo de autocrtica em relao s concepes e s polticas expressas no Manifesto de Agosto de 1950 e na Resoluo do IV Congresso do PCB, procurando conciliar a manuteno da orientao stalinista com a reavaliao da realidade nacional e das tticas a serem promovidas na ao dos comunistas. Junto com essa autocrtica, foram tomadas providncias e feitas articulaes para a elaborao da nova linha poltica que coadunasse com os novos princpios.

    Redigiu-se um documento que ficou conhecido como a De-clarao de Maro de 1958. Segundo Mrcio Kieller (2002), a Declarao seria a gota dgua numa relao entre correntes do Comit Central que disputavam desde o IV Congresso uma queda-de-brao para impor sua concepo de partido. A Declarao de maro de 1958 foi um novo programa poltico, com anlises e propostas que diferiam em muitos aspectos dos projetos revolu-cionrios plasmados nos manifestos de 48 e 50 e na Resoluo do IV Congresso do PCB.

    O documento v nos elementos do capitalismo em desenvolvimen-to no pas os traos de um progresso que correspondia aos interesses

    3. Na ocasio, o ento Secretrio Geral do PCUS, Nikita Kruschev, leu o relatrio secreto que denunciava o culto personalidade de Stlin, alm de fazer srias acusaes que trouxeram tona o autoritarismo, o rompimento da legalidade socialista, as execues de opositores e outros crimes que teriam marcado o regime stalinista.

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    do proletariado e de todo o povo brasileiro, j que ele sofria mais com o atraso do pas do que com as contradies inerentes ao sistema capitalista. Tal atraso seria proveniente de sobrevivncias de um passado baseado no latifndio e em relaes pr-capitalistas de trabalho, no predomnio macio da produo agropecuria no conjunto da produo, na exportao de produtos agrcolas como eixo de toda a vida econmica nacional e da dependncia em relao ao estrangeiro.

    A Declarao descreve ainda um cenrio no qual, apesar de ta-manhas dificuldades, estaria se processando um desenvolvimento capitalista nacional, elemento progressista por excelncia da eco-nomia brasileira. Esse desenvolvimento inelutvel do capitalismo consistiria no incremento das foras produtivas e na expanso de novas relaes mais avanadas de produo. O progresso e a industrializao se revelavam no aumento do nmero e do peso do proletariado na populao, bem como pelo surgimento de uma burguesia nacional cada vez mais interessada no desenvolvimento independente e progressista da nossa economia.

    O PCB define no documento os inimigos do progresso: para o partido, as chamadas sobrevivncias feudais na agricultura e a de-pendncia em relao ao imperialismo eram os grandes obstculos colocados no caminho do pleno desenvolvimento da economia brasileira.

    A Declarao pinta um cenrio no qual a poltica brasileira, im-pulsionada por um processo de industrializao, estaria caminhando na linha do irrefrevel processo de democratizao poltica. Dessa vez, os comunistas afirmavam claramente que o governo naciona-lista e democrtico poderia ser conquistado dentro dos quadros do regime. A direo do PCB avaliava que existiam possibilidades reais de conduzir, por meios pacficos, a revoluo antiimperialista e antifeudal no pas. Estava aberto o caminho para uma ao dentro da legalidade que pudesse estender os benefcios da constituio maioria da populao. O desenvolvimento da vida poltica nacional determinaria quais seriam as estratgias de luta por um governo nacionalista democrtico, buscando sempre a via legal e pacfica de ao.

    Seguindo essas instrues da direo, os membros do Partido Comunista Brasileiro deviam prepar-lo para se tornar o instru-mento adequado execuo vitoriosa da nova poltica, a fim de

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    se depurar de persistentes defeitos e adquirir qualidades novas. Seria indispensvel, portanto, que os comunistas privilegiassem sua unidade, abandonassem as disputas internas e dispusessem seus maiores esforos a servio das massas. Abriu-se um perodo de crises e disputas entre correntes que visavam conservar a linha radical ou renov-la nos moldes da Declarao. Em 1962, esse processo culmina com a convocao, pelo grupo liderado pelos defensores do Programa aprovado no IV Congresso, de uma Conferncia Ex-traordinria. Os conservadores abandonaram as fileiras do PCB (ento Partido Comunista Brasileiro) e fundam o PC do B - Partido Comunista do Brasil.

    Antes desse desfecho, a reviravolta programtica provocou uma reorganizao do poder interno no partido que merece ser analisada. Ainda nos Estatutos aprovados no IV Congresso de 1954, em suas primeiras definies mais importantes, apresentam-se as caracters-ticas do que Duverger (1987) considera ser a grande inovao dos partidos comunistas: a organizao dos elementos de base em clulas.

    Criadas pelo PC Russo, e impostas pela III Internacional desde 1924 aos demais partidos comunistas, as clulas seriam, para Du-verger, a forma de organizao mais adequada aos partidos clandes-tinos. Reunindo todos os membros do partido de um mesmo local de trabalho, ela beneficia a ao secreta ao facilitar a mobilizao, a comunicao e a convocao dos militantes para as reunies e aes polticas (j que o contato entre eles dirio) e dificulta a represso, pois as clulas costumam reunir grupos pequenos e com pouco contato com os organismos superiores. A terceira vantagem seria o fortalecimento da solidariedade partidria. A nosso ver, essa consi-derao merece uma discusso mais detalhada. Segundo Duverger:

    A natureza profissional aumenta ainda mais esta [solidariedade par-tidria] proporcionando-lhe uma base concreta e direta: os problemas da empresa, as condies de trabalho, os salrios, constituem ponto de partida excelente para uma slida educao poltica. Certamente, isso comporta um perigo: que a clula se absorva inteiramente nas reivindi-caes profissionais e esquea as questes puramente polticas isto , que execute o trabalho normal dum sindicato. Esse desvio economista constitui a tentao permanente das clulas: lendo-se os relatrios da or-ganizao no Congresso do Partido Comunista observar-se- que muitos esforos so necessrios para no cair ali. (DUVERGER, 1987, p.64).

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    Se, por um lado, a tentao ao economismo um problema com o qual os comunistas se confrontam historicamente nas suas organi-zaes partidrias e na sua atuao dentro de entidades sindicais, por exemplo, h uma ressalva que precisa ser feita: em alguns momentos da histria do PCB o perigo se converteu em ferramenta til. A rele-vncia dada a questes imediatas, tratadas de forma relativamente descolada das questes puramente polticas proporcionou aos comunistas mais flexibilidade em seus programas e maior margem de manobra para a composio de suas alianas. s bases militantes radicadas nas clulas destinavam-se os debates relativos aplicao da poltica decidida pelo centro, que concentrava o monoplio da reflexo terica. Em vrias passagens do Estatuto, encontramos dis-positivos que facilitavam e induziam a essa concentrao de poder. No artigo 14, o PCB estabelece que:

    a organizao do Partido que desenvolve sua atividade em uma rea determinada considerada superior a todas as organizaes do Partido que limitam sua atividade a partes dessa rea; a organizao do Partido que desenvolve sua atividade em um ramo da produo considerada superior a todas as organizaes do Partido que limitam sua atividade a partes desse ramo da produo (PCB, 1954, s/p)

    Dessa forma, cada organismo de base estabelece uma relao de subordinao s superiores. A esse tipo de desenho institucional, Duverger chamou de ligao vertical que justamente aquela que une dois organismos subordinados um ao outro. Em partidos organizados nesses termos, os grupos de um mesmo escalo no podem comunicar-se entre si seno por intermdio da cpula. Isso pressupe duas coisas: a ausncia de toda ligao horizontal direta e o emprego da delegao pra compor instncias superiores (DU-VERGER, 1987).

    Alm de centralizar o poder, essa estrutura evita cises. A comuni-cao entre as clulas passa necessariamente para rgos superiores atravs do seu delegado, e assim sucessivamente; a cada novo nvel hierrquico, uma nova triagem de informaes e interesses em manter o poder nas mos dos dirigentes. E uma nova relao de mando que coloca o delegado a servio dos seus superiores.

    Os riscos de contgio so ainda atenuados pela centralizao que refora o carter vertical das ligaes. Cada delegado de um organismo

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    inferior no responsvel perante seus mandantes, porm perante o organismo superior: tem ele portanto como dever por este ao corrente das dissidncias eventuais que surjam no grupo que lhe confiado, no para defender o ponto de vista deste, mas para provocar a interveno salvadora do centro (Idem, p.84)

    Ainda que observemos que um sistema de ligaes verticais no define uma estrutura mais centralizadora de poder, essa caracterstica se mostra visvel em vrias passagens do documento. No artigo 20, o Estatuto define que:

    Nenhum Comit ou organizao do Partido, nem seus dirigentes, tm o direito de fazer declaraes ou manifestar-se publicamente sobre qualquer questo de mbito nacional antes que o Comit Central tenha feito declarao ou tomado deciso a respeito.

    Mas concluir que a estrutura do PCB era mais centralizada no nos parece suficiente. A repartio desigual de poderes entre os di-versos escales do partido e sua maior concentrao nos cargos de direo no , em si, um indicativo de falta de democracia interna. A rigidez hierrquica, poderamos argumentar, pode ser atenuada com uma alternncia regular dos dirigentes ou com mecanismos efetivos de participao e legitimao da liderana. Em contrapartida, os militantes de base ganham, mesmo sacrificando parte de seu poder decisrio, pela eficcia de um partido estruturado e organizativa-mente capaz de responder s questes da poltica cotidiana.

    Essas seriam as principais vantagens do centralismo democrtico. Princpio em que se baseia a estrutura orgnica (PCB, 1954) do PCB, ele descrito como um conjunto de normas nos Estatutos, mais do que como um conceito. Para Duverger, o centralismo de-mocrtico um conjunto de instituies complexas, que permite que toda a organizao do partido permanea centralizada (porque as decises ainda so tomadas do alto), sem perder em democracia (pois elas so mantidas em funo das opinies da base, que precisa legitimar cada resoluo).

    Mas nem sempre essa liberdade de debate se verificou na pr-tica dos comunistas. Nos anos que se seguiram entre o IV e o V Congresso do PCB, muitas foram as ocasies em que a direo do partido alegou a necessidade de evitar cises e o prejuzo da classe operria para fechar os canais de dilogo e de debate previstos nas

  • 242 Mabelle Bandoli Dias: Centralismo e desenvolvimentismo

    regras do Estatuto, bem como para exceder o poder de suas funes, em detrimento do organismo supremo, o Congresso. O princpio do centralismo democrtico perdeu progressivamente seu carter de organizao e execuo organizada das decises coletivamente definidas para dar lugar a uma autocracia de direes a cada vez mais isoladas em seus postos de mando.

    Tal tendncia se verificou em vrios momentos. Ainda sob os primeiros impactos da crise aberta com o XX Congresso do PCUS, surgiram as primeiras crticas de militantes s estruturas organi-zativas do PCB. Naquela ocasio, a direo do partido procurou restringir para dirigir os debates, esboando mais claramente a linha poltica que seria seguida pelo partido posteriormente.

    Os questionamentos sobre a estrutura partidria continuaram apesar de tentativas de autocrtica feitas pela direo, em um esforo frustrado de apaziguar as dissidncias. As divergncias foram agu-adas a um ponto em que a legitimidade do ncleo dirigente do PCB foi questionada. Como soluo para a tenso crescente, o lder mximo do partido, Luiz Carlos Prestes, escreveu uma carta que ficou posteriormente conhecida como Carta-Rolha ao Comit Central, na qual considera inadmissveis os ataques Unio Sovitica e ao PCUS e impele o rgo a assumir sua condio de centro nico de autoridade do partido para no permitir ameaas disciplina partidria, encerrando a discusso.

    Com a suspenso dos debates foram excludas alas inteiras das fileiras comunistas. A partir de maio de 1957, as discusses tiveram continuidade em artigos publicados por membros do ncleo diri-gente. O centro das discusses girou em torno da questo da inter-veno do PCB na frente nica nacionalista. Com o desenvolvimento da disputa interna, criou-se no PCB uma situao na qual o grupo denominado centro pragmtico tornou-se a corrente majoritria no partido e no Comit Central, mas o grupo dos conservadores continuava a deter os principais cargos de direo.

    Em agosto de 1957, o Comit Central se reuniu em plenria e aprovou uma resoluo que, entre outras medidas, alterou a Comis-so Executiva e o Secretariado, suprimindo as suplncias. Estavam afastados da direo aqueles que se identificavam com a corrente conservadora. Foi designada tambm uma comisso para elaborar um documento de atualizao da poltica do PCB a ser discutido na reunio seguinte do Comit Central. O centro pragmtico detm

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    ento o controle dos principais rgos diretivos do PCB. Em todas essas ocasies, militantes foram expulsos ou impedidos de expressar suas opinies nos rgos, a despeito das regras estatutrias.

    Como vimos, o perodo que seguiu o Congresso no qual o Esta-tuto foi aprovado foi marcado por uma srie de transformaes na linha poltica do partido. Para que elas fossem adotadas, muitas das definies estatutrias aqui ressaltadas foram colocadas abaixo por membros da alta direo do partido, rompendo mecanismos bsicos do controle das bases sobre a sua atuao. O resultado desse processo para a dimenso organizativa envolveu uma maior concentrao do poder, o fechamento de canais de comunicao entre a base e a direo, um endurecimento da disciplina interna e a inviabilizao do dilogo democrtico como combustvel para a vida partidria.

    A nova poltica exigia um partido mais disciplinado, com me-nos espaos para dissidncias e mais permevel s grandes alianas eleitorais, como a que levou JK ao poder e apoiou as polticas de-senvolvimentistas adotadas por seu governo. Ao mesmo tempo, o aumento da dependncia em relao organizao patrocinadora contribuiu sobremaneira para retirar dos militantes a capacidade de decidir sobre a poltica que o partido deveria implementar, transfe-rindo ainda mais o poder de reflexo e elaborao para os grandes chefes soviticos os prprios chefes locais iam assumindo, com o passar do tempo, um papel de tradutores dos modelos tericos exportados pelo centro de poder do comunismo internacional.

    Portanto, o PCB apresentou, no perodo analisado, uma dimi-nuio considervel da democracia interna aliada a uma maior aproximao ideolgica do desenvolvimentismo, em um processo que se aprofundou medida que aumentavam as possibilidades conjunturais de participar oficialmente do aparato do Estado. Assim, mais do que o modelo originrio, a posio conjuntural do PCB em relao ideologia oficial coincidiu com o progressivo processo de decomposio de suas bases institucionais.

    2. O trotskismo sui generis do Partido Operrio Revolucion-rio (POR)

    Fundando a chamada terceira gerao de trotskistas no Brasil (Karepovs & NETO, 2002) o POR foi criado em 1952. As motiva-es para sua criao so ligadas s necessidades de organizar no

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    Brasil os militantes identificados internacionalmente com a Oposio de Esquerda, atendendo s demandas da dinmica de cises na IV Internacional, principalmente a que vinha se desenvolvendo entre os dirigentes argentinos J. Posadas e Nahuel Moreno. A disputa entre os dirigentes argentinos se deveu orientao poltica decidida no III Congresso da IV Internacional, que ocorreu em 1951 na cidade de Paris. Nesse congresso, o ento secretrio-geral, o grego M. Rap-tkis (em codinome Michel Pablo) apresentou um polmico conjunto de teses que, ao serem aprovadas, reorientaram toda a poltica dos partidos filiados. Nesses textos, encontravam-se as bases de uma vertente do trotskismo que ficou conhecida como pablismo.

    Em essncia, os textos defendiam que a emergncia de uma Terceira Guerra Mundial abreviava o tempo histrico disponvel para a construo de partidos verdadeiramente revolucionrios (trotskistas). Diversos fatores empurravam o comando da provvel revoluo socialista para as mos da burocracia stalinista: somente sculos de transio para o socialismo poderiam diluir tamanha fora poltica.

    Somente depois de vencer a guerra contra o imperialismo, seria o momento de levar as massas a lutar diretamente contra o stalinis-mo. Antes disso, os trotskistas deveriam puxar a poltica sovitica para a esquerda, tendo como tarefa urgente se integrar no real mo-vimento das massas. O primeiro passo a ser dado era integrar os militantes trotskistas nos partidos comunistas em todo o mundo, com o objetivo de influenciar sua poltica. Assim, a partir de dentro, seria iniciado o longo processo de reconquista do imenso aparato controlado por Stlin.

    A poltica que ficou conhecida como entrismo sui generis foi aprovada e provocou a primeira diviso da IV Internacional: em novembro de 1953, as sees partidrias que optaram por se opor s teses pablistas organizaram o Comit Internacional da IV Inter-nacional (CI). A frao que se manteve ligada direo de Pablo, consolidada na direo da IV Internacional, reuniu boa parte dos partidos trotskistas e ficou conhecida como Secretariado Interna-cional (SI).

    Na Amrica Latina, a liderana de Posadas, que defendia que as atenes fossem voltadas ao dilogo com os movimentos naciona-listas, mostrava-se mais compatvel com a poltica recm-aprovada. Seu grupo foi declarado seo argentina da IV, e ele se manteve

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    como o encarregado da organizao do Bureau Latino-Americano da Internacional, o BLA.

    No Brasil, o incipiente POR aderiu ao SI. Na verdade, o partido no contava com muitas outras opes: desde o incio, suas ativi-dades estavam intimamente ligadas ao trabalho de Posadas no con-tinente. A linha defendida por ele era, no mnimo, a mais provvel a ser seguida pelo partido que s se organizou com o impulso do Bureau que ele dirigia. Foi ainda em meados de 1952 que o delegado do Bureau Guillermo Almeyra chegou a So Paulo com a tarefa de estabelecer ligao com os trotskistas brasileiros, editar um jornal e liderar um grupo. Em novembro do mesmo ano, foi lanada a primeira edio do Frente Operria, em torno do qual se nucleou a equipe de militantes que constituiu o POR.

    Segundo KAREPOVS & NETO (2002), o BLA exercia forte fisca-lizao dos debates ocorridos internacionalmente, o que alimentava e agravava as consequncias da poltica de centralismo extremo. A exacerbao do culto da personalidade de Posadas entre os partidos do BLA se somou a uma poltica de caractersticas mono-lticas. A indicao de Posadas era que as relaes da organizao internacional com os partidos seguissem a frmula: centralismo 90%, democracia 10% (KAREPOVS & NETO, 2002). No raro, o Bureau ordenava que se enviassem delegados s suas sees, o que mantinha as organizaes trotskistas latino-americanas sob rdeas curtas.

    Dessa forma, entre os traos originrios do POR, ressalta-se uma concentrao de poder decisrio acentuada, com diminuio pro-gressiva dos nveis de democracia interna. Para melhor vislumbrar as articulaes entre essas caractersticas, passemos anlise da estrutura do POR.

    Em um artigo intitulado A luta por um Partido, publicado no jornal Frente Operria, os trotskistas expem alguns de seus princpios organizativos fundamentais. Afirmando a necessidade de construir um instrumento para uma luta que pudesse resolver as tarefas democrtico-burguesas, liquidando os latifndios e expulsan-do o imperialismo, alm de ser capaz de expropriar a burguesia nacional e prosseguir vitoriosamente at o socialismo, o POR elege as caractersticas ideais de um partido.

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    [...] Para levar frente tal luta, precisamos de um instrumento. Esse instrumento o partido. De que tipo deve ser o partido? Em primeiro lugar, deve ser um partido armado com uma teoria cientfica. O de-senvolvimento do capitalismo e a agonia do imperialismo no podem deixar de ser estudados cuidadosamente para saber como e onde apressar sua queda. Esse estudo baseado na cincia de Marx, Engels, Lenine e Trotsky. Por isso, o partido deve ser um partido marxista-le-ninista, isto , um partido verdadeiramente socialista que prepare essa queda. O partido deve ser internacional, organizado num centralismo democrtico, capaz de ligar as lutas nacionais s lutas mundiais, capaz de dirigir derrubada mundial do capitalismo; um partido proletrio, pois s o proletariado representa o progresso da humanidade toda. (A luta por um partido. Frente Operria, N 5 em junho de 1953, s/p)

    A disputa em torno das noes de internacionalismo, marxis-mo-leninismo e centralismo democrtico, mais que uma mera contenda em torno de termos, parece-nos significativa para a defi-nio daquilo que o POR buscava ser o que expunha, na maioria das vezes, em contraposio quilo que buscava no ser.

    Os trotskistas mobilizavam, na sua crtica poltica comunista, boa parte daquelas questes que se mostrariam mais difceis de equacionar em sua prpria trajetria. As contradies da forma de aplicao do centralismo burocrtico pelo PCB, duramente criticadas pelos trotskistas, no foram superadas pelo POR. Sem a manuteno dos mecanismos bsicos de participao e deliberao das bases, o modelo original de centralismo democrtico criado pelos partidos comunistas e reivindicado pelos trotskistas no se realizou na prtica da organizao. Em seu lugar, encontramos uma forma de centralizao mais prxima ao que Duverger chama de centralismo autocrtico. Nos seus termos:

    [...] podem-se distinguir duas formas de centralizao, uma auto-crtica a outra democrtica, se considerar-se esse ltimo termo como ndice de uma vontade de manter o contato com a base. No centralismo autocrtico, todas as decises vm do alto, e sua aplicao controlada localmente por representantes da cpula. (DUVERGER, 1987, p. 92)

    Em 1955, o POR adere oficialmente ttica do entrismo, mais uma vez seguindo as determinaes externas. Seus militantes come-aram a ingressar no PCB para formar uma ala revolucionria e

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    buscar maior audincia do que at ento vinham obtendo, em espe-cial entre as bases do partido stalinista. Segundo Leal (2004), esse foi um dos momentos da histria da organizao que determinou mudanas drsticas da sua linha poltica, podendo-se mesmo falar em substituio de fins oficiais, tendo como consequncia um abalo na identidade poltica do partido. (idem). De fato, o deslocamento dos escassos recursos da organizao para a realizao de uma tarefa to extraordinria cobrou seu preo para a formulao programtica dos trotskistas.

    Alm do programa, h uma dimenso que merece ser ressaltada, que a do desgaste da militncia. As demais condies de ao oferecidas pelo POR (falta de autonomia e extrema centralizao com a transferncia do poder decisrio da base para as direes externas), chegaram a colocar a sobrevivncia da organizao em risco, pois afastava cada vez mais seus membros da organizao. E essa tenso foi ainda mais agravada pela hostilidade ambiental que encontraram no PCB.

    Outra explicao para o fracasso do entrismo pode ser encontrada nas caractersticas da prpria poltica e na natureza das organizaes envolvidas. Muito prximo ao processo que Duverger (1987) chama de nucleamento, o sucesso do entrismo pressupe uma relao entre duas organizaes na qual a nucleadora seja institucional-mente mais slida que a nucleada o que, obviamente, no era o caso do POR em relao ao PCB.

    Com uma organizao to frgil, os trotskistas do POR no con-seguiram concretizar os objetivos de sua ttica. Essa uma avaliao que aparece, inclusive, em boa parte dos textos que eles prprios produziram na poca. Ainda que em nenhum deles decretasse o fracasso do entrismo, o reconhecimento das inmeras limitaes da organizao era uma constante, que se impunha como realidade inescapvel a cada vez que o partido buscava apontar sadas para o movimento de massas ou explicar as razes para a no realizao imediata de seus propsitos. A mutilao de sua capacidade de ela-borao de proposies concretas e de alternativas programticas mais um dos efeitos da sua fragilidade institucional.

    Seus militantes, embora tenham redobrado os esforos crticos s polticas comunistas, assumiram, a cada vez mais, o ponto de refe-rncia da compreenso comunista da realidade brasileira; repetiam e aplicavam a frmula do pas semicolonial e semifeudal de maneiras

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    cada vez mais contraditrias. Em vrias de suas apreciaes, o POR transitava de maneira bastante indecisa entre a adeso e a rejeio aos postulados comunistas. O Partido acabou seguindo a direo j traada pelo PCB, embora pesasse a mo, em seu discurso, na rejeio sistemtica de cada ponto do programa comunista.

    J durante o governo JK, o Frente Operria, veculo central do POR, publica um texto no qual fica mais clara a posio dos trotskistas diante das polticas desenvolvimentistas e sua similari-dade com as pecebistas. Assinado por Lencio Martins Rodrigues, o artigo se inicia levantando algumas das questes gerais que mais preocuparam os tericos do desenvolvimentismo. Afirma-se que, apesar de atravessar um perodo de industrializao e progresso, o Brasil continuaria sendo um pas semicolonial sujeito dominao das grandes potncias imperialistas, alm de fundamentalmente agrcola, exportador de caf e algodo.

    Para se libertar do asfixiante controle que os grandes trustes inter-nacionais exercem sobre a economia brasileira, o pas necessita montar uma indstria pesada, com fabricao em grande escala de caminhes, tratores, locomotivas, motores; precisa de um parque siderrgico, pre-cisa montar uma rede de usinas hidroeltricas, etc. Para realizar isto, a burguesia nacional industrialista necessita de capitais, coisa que no possui em quantidade suficiente e necessria. Para remediar tal situa-o, o ex-governador mineiro pensa em recorrer (e j o est fazendo) ao auxlio de capitais estrangeiros. Mas, os trustes e monoplios imperialistas no pretendem aplicar seus capitais no Brasil com a fina-lidade de incrementar nosso progresso, mas sim para tirar lucro com a explorao desenfreada da mo de obra nacional. [...] Para permitir nosso real desenvolvimento econmico imprescindvel a expropria-o sem indenizao dos trustes imperialistas que sugam, controlam e entravam o progresso do Brasil. [...]Porm, alm de tudo isso, Juscelino Kubitschek omite um ponto fundamental, sem cuja realizao no se pode nem pensar em progresso no Brasil: a reforma agrria. [...].En-quanto subsistirem grandes latifndios improdutivos (ou de baixssima produtividade) o regime da meia e da tera (vestgios feudais) nosso pas no sair da miservel condio de semi-colnia, gozando de independncia poltica apenas formal, apesar dos imensos recursos que possui. Sem reforma agrria no h progresso real no Brasil. [grifos do autor] (RODRIGUES, L. M. O governo Juscelino: O Programa da Burguesia nacional.. Frente Operria, N 18, maio de 1956, pp.3-6)

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    Em 1957, depois de aparecerem os primeiros reflexos mais signi-ficativos da crise internacional do comunismo dentro do Partido, o POR passa a se dedicar no s avaliao dos movimentos da direo do partido, como tambm das correntes que surgem ao longo da disputa. Na esperana de finalmente colher os frutos de sua ao dentro do PCB, os trotskistas acompanham passo a passo a fragmentao da coalizo dirigente, buscando, ao mesmo tempo, alvejar as lideranas das principais fraes em disputa e ganhar a simpatia das bases que impunham questionamentos poltica que vinha sendo realizada at o momento.

    Mas os prognsticos no so animadores para os trotskistas. Afinal, desde o incio da crise, das fraes que ganharam mais noto-riedade na disputa e adeso de maiores parcelas das bases, nenhuma se aproximava das polticas do POR. Ao reconhecer que no havia organizaes, dentro do PCB, que cumprissem o papel de tensionar o partido por dentro e levar a crise aos fins que almejavam atingir desde que se voltaram para a ao dentro do campo dos comunistas, os trotskistas abriam flancos para que se chegasse concluso, mais cedo ou mais tarde, de que, mesmo com todos os esforos emprega-dos, a ttica do entrismo no funcionou.

    Ainda antes desse reconhecimento, os militantes do POR seguiram investindo em questionar, da maneira que podiam, a movimentao comunista. Mas o alcance e a consistncia dessa crtica diminuem progressivamente. As contradies vividas pelos militantes trotskistas se tornam to agudas que passam a influenciar mais notadamente nos textos.

    Por outro lado, ainda que tenha consumido muito de sua capaci-dade propositiva, o esforo em realizar uma anlise pormenorizada das propostas das diferentes correntes em disputa na crise do PCB possibilitou ao POR uma crtica ao nacional desenvolvimentismo como ideologia. Discutindo nacionalismo presente no programa dos chamados renovadores corrente que foi expulsa do Partido ainda no ano de 1957 os trotskistas destacam:

    [...] Quais so as inovaes dos novos idelogos do nacionalismo? O nacionalismo apresenta-se como um tipo de ideologia caracterstico dos pases subdesenvolvidos, bandeira anti-imperialista [...] para o estatismo econmico e para a participao cada vez mais intensa das camadas populares na vida poltica [...] O nacionalismo, ao mesmo

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    tempo que exerce a funo de ideologia do desenvolvimento econmico exerce tambm a funo de ideologia poltica das massas. Atravs dele as massas tomam conscincia social de sua posio enquanto parte da nao, etc. Subjacente a toda anlise dos renovadores est a perspec-tiva de um impetuoso desenvolvimento econmico-industrial do Brasil (e de outros pases coloniais e semi- coloniais) dentro dos quadros do regime capitalista. [...] Para os renovadores o nacionalismo seria a ideologia que uniria operrios e capitalistas, latifundirios e trabalha-dores agrcolas, a ideologia de toda nao. (CAMPOS. Prestes e a Crise no PCB. Frente Operria, N - indefinido, de outubro de 1957, matria de capa.)

    Ao analisar o carter dos movimentos nacionalistas pelo mundo, o POR deixa vir tona a tautologia que guia a lgica geral do seu pensamento. Resumindo sua avaliao, o cenrio no Brasil e no mundo - era o seguinte: os movimentos de massas no avanam para alm das reivindicaes nacionalistas por falta de uma dire-o consequente. Os PCs seriam os partidos que contavam com as melhores condies de fazer avanar tais lutas, mas encontravam-se deformados ideologicamente por uma direo oportunista, que freava o avano da histria para manter seus privilgios de casta burocrtica. Seria preciso recuperar essas organizaes para a luta de massas, pois sua essncia era marxista e sua base ainda estaria fortemente ancorada na classe operria, nico agente capaz de le-var o progresso a cabo e conduzir ao socialismo. Mas, no caso do PCB, isso se mostrava impossvel ou, ao menos, muito improv-vel: mesmo dentro do partido ao qual os trotskistas se filiaram in bloco, no haveria fraes e tendncias organizadas a ponto de dar consequncia s dissenes com a direo.

    A sada seria confiar a direo desses movimentos, bem como da poltica comunista, nica classe capaz de superar o atraso dos pases semi-coloniais, de terminar as tarefas democrtico-burguesas que a burguesia iniciou, mas no capaz de lev-las a seu trmino [que] a classe operria, apoiada nas massas agrcolas e pequeno-burgueses pobres (Frente Operria, 1957).

    A partir de meados do governo JK, o POR desenvolveu algumas crticas que o afastaram relativamente do PCB. Para o partido, haviam se esgotado no Brasil todas as chances de um modelo na-cionalista de desenvolvimento, dado o apego ao capital externo no fomento da economia. De 1959 em diante, a antiga caracterizao

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    da crise de crescimento deu lugar, definitivamente, a uma interpre-tao do esgotamento do papel do nacionalismo na modernizao do pas, o que impunha a necessidade da construo de uma frente anti-imperialista para desmascarar supostas prticas nacionalistas nos sindicatos pelegos.

    Esse afastamento relativo do PCB chegou a levar o POR a ensaiar movimentos para a formao de um novo partido revolucionrio. Durante o perodo de maro de 1959 a janeiro de 1960, o partido chegou a tentar se reunir com os integrantes a LSI (Liga Socialista Independente) e da Juventude Socialista, j que as trs organizaes convergiam na defesa do lanamento de uma candidatura operria presidncia da Repblica nas eleies de 1960. A tentativa se frustrou no final de janeiro de 1960, quando, em Conferncia, o POR decidiu considerar encerrada a fase transitria de luta pela construo de um partido marxista revolucionrio de quadros com base na articulao entre os grupos independentes de esquerda. Voltou a ser defendida a ttica do entrismo no PCB, considerada vlida at 1963, quando J. Posadas recusou sua validade nos casos brasileiro e uruguaio.

    Assim, observamos que no perodo analisado o POR apresentou aproximaes relativas ao projeto desenvolvimentista, uma vez que a formulao de suas crticas ao modelo se encontrou bastante limitada pela submisso ao BLA e pela poltica de entrismo no PCB. Altamen-te centralizado pelo BLA, o partido apresentou os menores ndices de democracia interna, j que o poder de deciso e de formulao poltica dos militantes se transferia para as mos dos dirigentes do Bureau. O partido reivindicava o centralismo democrtico criticando o autoritarismo do PCB identificado como uma distoro do mo-delo, mas no conseguiu p-lo em prtica devido sua baixssima institucionalizao, chegando a um modelo que mais se assemelhava ao centralismo autocrtico descrito por Duverger. O entrismo no PCB prejudicou ainda mais a sua institucionalizao, j que os limites da organizao ficaram mais permeveis influncia externa.

    As alteraes da formulao programtica no perodo ps-54 indicam um aumento da presso dos pressupostos pecebistas sobre as formulaes do POR como consequncia do entrismo, mas no alteram a orientao geral que j se notava nos textos antes da entrada no PCB: as coloraes desenvolvimentistas aparecem, no mximo, com tons mais fortes, assim como as crticas diretas ao poltica comunista. Em suma: o POR era um partido com baixssimos

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    ndices de democracia interna e com alguma aproximao ideolgica do modelo desenvolvimentista, determinada principalmente pela progressiva diminuio da capacidade organizativa de formular al-ternativas programticas que correspondessem crtica ao modelo pecebista.

    3. O socialismo democrtico da Liga Socialista Independente (LSI)

    A ciso gerada pelo III Congresso da IV Internacional tambm foi decisiva para a criao da Liga. Contrrio s teses de Michel Pablo, em 1952, o militante e importante liderana da Liga, Hermnio Sa-chetta, rompeu com o trotskismo. Segundo Luiz Alberto Moniz Ban-deira (apud OLIVEIRA, 2007), essa divergncia evoluiu para a tese de que a URSS era um Capitalismo de Estado tese, alis, presente no Programa da LSI e para a convico de que o modelo poltico bolchevique era o grande responsvel pelo fenmeno stalinista.

    A crtica ao centralismo e a caracterizao da Unio Sovitica como um capitalismo de Estado aproximavam a LSI das teses luxem-burguistas e as afastavam da IV Internacional, mas algumas aproxi-maes com as anlises trotskistas so percebidas nas apreenses do capitalismo no Brasil. Como bem observa Pedro Roberto Ferreira (FERREIRA, 2005), a utilizao de conceitos como desenvolvimen-to desigual e combinado identificam as formulaes da Liga mais com Trotsky e Lnin do que com Rosa Luxemburgo.

    A Liga Socialista Independente dava continuidade ao trotskismo no Brasil, ao entender que a burguesia industrial que se combinava com a agrria sob as determinaes de uma financeira e internacio-nal, necessitava de um Estado na reproduo do seu capital, de um bonapartismo, sobretudo, frente aos movimentos sociais e polticos mais incisivos, para frear os movimentos mais radicais do proleta-riado. (idem, p.43).

    Adiantando algumas anlises, tambm presentes na Revoluo Burguesa de Florestan Fernandes (1975), a LSI avaliava que o capitalismo monopolista, ao deparar com formas de produo pr-capitalista, as submete sua lgica, gerando um desenvolvimento desigual e combinado dirigido pelo capital financeiro. O capitalismo tardio que se desenvolveu no Brasil combinava situaes econ-micas desiguais em seu territrio com reflexos nas organizaes

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    polticas e partidrias da burguesia (FERREIRA, 2005). O regime poltico burgus brasileiro no experimentou grandes transforma-es democrticas. Os traos autocrticos da dominao burguesa (FERNANDES, 1975) e a herana dos longos perodos ditatoriais se faziam sentir mesmo nos intervalos democrticos. As consequn-cias conferiam aos socialistas maiores dificuldades no trabalho de mobilizao e conscientizao dos trabalhadores, j que se mantinha a freqente combinao entre represso e manipulao imposta pela burguesia poltica nacional. A formao de um ambiente demo-crtico-burgus foi impossibilitada pela (...) estrutura econmica marcada pelo domnio da grande propriedade no campo, com os seus milhares de trabalhadores assalariados em condies miser-veis, aliada ao predomnio da grande indstria a do alto comrcio nos centros urbanos, que monopolizavam o controle dos meios de produo, a produo e a distribuio dos produtos no mercado, gerando consumo para poucos. (FERREIRA, 2005, p. 44).

    Nada mais apropriado, portanto, que a defesa intransigente de uma poltica pautada pela independncia de classe, o que afastava a LSI do POR e do PCB. Expresses como a revoluo em etapas, aliana com a burguesia progressista ou mesmo a superao dos restos feudais no faziam sentido em seu lxico. O apoio dos comunistas candidatura de Jnio Quadros e a insistncia do POR em se manter a reboque do PCB estavam fora dos horizontes pol-ticos da Liga.

    As prioridades da LSI estavam mais ligadas conscientizao dos trabalhadores atravs da progressiva ampliao de sua participa-o poltica atividade que a tradio luxemburguista acredita ser primordial para o amadurecimento da conscincia revolucionria. Por isso, defendia que as liberdades democrticas deviam ser ra-dicalizadas, elevando ao mximo as potencialidades presentes nas instituies do regime liberal.

    A preocupao com a ampliao dos espaos democrticos e de participao aparece com destaque nos princpios fundamentais que orientam o Programa da LSI. Em sua definio de socialismo, o documento afirma:

    O socialismo, quando critica as liberdades formais da democra-cia burguesa, no pretende destruir a liberdade, mas dar-lhe formas concretas que possam, efetivamente, ser utilizadas por todos. Como

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    j foi afirmado, a questo da forma democrtica uma questo de contedo socialista. A luta pelo Socialismo inseparvel da luta pela Liberdade, do mesmo modo que a luta pela Liberdade hoje inseparvel da luta pelo Socialismo. (LSI. Projeto de Programa e Estatutos. 1956, s/p).

    Alm do destaque educao da coletividade em bases demo-crtico-socialistas, os luxemburguistas afirmam no estabelecer hierarquias entre os diferentes setores dos trabalhadores, distingue-os substancialmente das propostas pecebistas e trotskistas que viam no proletariado urbano industrial o grande sujeito da luta de classes. Essa alterao, mais do que uma simples divergncia ttica, assinala a peculiaridade do programa da LSI em relao aos demais.

    Essa particularidade se deve, a nosso ver, anlise que a Liga fazia da situao brasileira. Ainda que, como os trotskistas, os luxembur-guistas se inspirem em muitas categorias encontradas nos textos de Caio Prado Junior e de Trotsky, as articulaes conceituais que realizavam se desenvolviam de uma forma bastante distinta daquela caracterstica dos textos do POR.

    Para a LSI, o Brasil era um pas no qual o capitalismo teria se desenvolvido de maneira retardatria, o que no o teria permitido resolver a questo agrria nem se libertar da sua sujeio ao Im-perialismo. Tal condio imporia uma redobrada explorao sobre seus trabalhadores, que se veriam oprimidos pela burguesia nacional e, por meio dela, pelo Imperialismo. A burguesia nacional contaria com uma escassa capitalizao, o que a levaria a buscar mais formas de extorso da mais-valia e a reclamar uma taxa de lucro de alto nvel, o que redundaria em brutal explorao econmica, no apenas da classe operria, mas tambm da pequena burguesia, na cidade e no campo. (idem).

    A burguesia nacional, portanto, estaria mais interessada em re-solver os problemas desse capitalismo retardatrio, mas resolver a seu modo e a seu favor. Isso significaria que, longe das aspiraes progressistas, essa burguesia se amparava no Estado para ampliar seu poder econmico e social, aumentando a presso sobre os ombros da classe trabalhadora. Esse movimento seria o distintivo fundamental do processo de industrializao do Brasil.

    Como soluo geral para essa situao, a LSI propunha que o movimento dos trabalhadores urbanos e rurais se unisse em torno da perspectiva de uma sociedade socialista, que reorganizaria a

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    economia e restabeleceria as formas de propriedade no pas. Nesse sentido, destacam-se os projetos relativos socializao das terras e dos meios de produo industrial, bem como a nacionalizao dos bancos estrangeiros.

    A relao da Liga com o cotidiano da ao poltica - bem como a articulao dessas proposies programticas com os desafios concretos que esse cotidiano impunha fica mais clara quando ob-servamos sua postura diante dos debates travados com os demais partidos de esquerda. As consideraes da Liga trazem alguns ele-mentos at ento ausentes das anlises trotskistas. Entre eles, uma formulao crtica mais precisa a respeito do Plano de Metas, na qual consideravam questes de poltica econmica como impor-tantes medidores das caractersticas e consequncias das medidas governamentais na vida dos trabalhadores.

    A rejeio aos princpios de organizao adotados pelos comu-nistas e trotskistas foi o ponto de partida do movimento de criao da LSI. Segundo os prprios luxemburguistas, a deciso de fundar a organizao foi precedida pela realizao de um balano crtico das atividades socialistas e seus partidos no sculo XX e de um estudo geral de suas polticas organizatrias. As concluses a que chegaram relacionam o abandono absoluto dos princpios do socialismo com a condenao da antidemocrtica, ultra-centralista e monoltica dos partidos bolcheviques, o que os fez optar por uma forma organizatria que conjugue DISCIPLINA com DEMOCRACIA SOCIALISTA. [grifo do autor] (A Razo da LSI. Ao Socialista. N1, junho de 1958, p.3)

    Seus membros estariam ligados por uma disciplina consciente e obrigatria para todos sem distino (LSI, 1956. Projeto de Pro-grama e Estatutos, s/p). Entre os direitos conferidos ao membro da LSI que seria admitido depois da indicao de um membro mais antigo e de um estgio de trs meses, passando pela aceitao da organizao de base e da Comisso Executiva Nacional enfatiza-mos, alm do direito de expresso de possveis divergncias com a maioria (com garantia de espao na imprensa da LSI ou em boletins intrapartidrios), o direito organizao poltica dessa divergncia em tendncias internas.

    Apesar de elaborar essas crticas e de sugerir, no seu estatuto, algumas modificaes na aplicao de seus pressupostos, os luxem-burguistas afirmavam que o centralismo democrtico criado pelos

  • 256 Mabelle Bandoli Dias: Centralismo e desenvolvimentismo

    bolcheviques era uma boa formulao terica de organizao par-tidria. De fato, encontramos em seus estatutos muitas similarida-des com os princpios descritos nos estatutos pecebistas, ainda que sempre acompanhadas das ressalvas sobre a necessidade de respeitar os fruns de livre debate, reivindicando o princpio da democracia interna que implica liberdade como conscincia da necessidade de disciplina livremente consentida.

    A adoo crtica de algumas caractersticas do centralismo de-mocrtico, aliada rejeio daqueles que seriam seus principais desvios autoritrios, formam um conjunto que, a nosso ver, d organizao descrita nos Estatutos da Liga um desenho que combi-naria uma organizao bem estruturada com espaos de participao das bases. Entre os casos aqui trabalhados, os documentos da LSI oferecem um panorama de uma organizao que combinou de for-ma mais efetiva a preocupao com a manuteno da democracia na diviso do poder decisrio interno com a elaborao crtica do contexto poltico. A nosso ver, essas caractersticas apontam para uma correlao importante entre traos organizativos e program-ticos dos partidos.

    Concluses

    Do modelo de partido leninista (em sua verso stalinista) adota-do pelo PCB at o modelo luxemburguista da LSI, passando pelo trotskismo do POR, h um acrscimo significativo de princpios democrticos de organizao. A coincidncia dessa progresso democrtica com a presena de propostas crticas ao desenvolvi-mentismo dos programas e textos dos partidos nos levou a inves-tigar as possveis ligaes entre as variveis. No quadro a seguir, apresentamos a representao grfica da localizao de cada partido de acordo com o cruzamento entre as variveis variao progra-mtica e democracia interna. Em um eixo, temos um extremo mais desenvolvimentista e outro menos desenvolvimentista, e, em outro, passamos de um extremo mais democrtico e outro menos democrtico. Este artigo fornecer os elementos empricos que nos levaram a construir esse mapa.

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    Quadro 1 Programa versus democracia partidriavariao programtica

    dem

    ocra

    cia

    inte

    rna

    menos desenvolvimentista intermediria

    mais desenvolvimentista

    mais democrtico LSI

    intermediria POR

    menos democrtico PCB

    Entre os partidos aqui estudados, o PCB apresentou maior proximidade com o programa geral do desenvolvimentismo, ainda que algumas variaes programticas tenham sido notadas durante o perodo. Essas variaes giravam em torno de certa retrica revolucionria, presente no intervalo compreendido en-tre a data da cassao de seu registro legal (1948) e a morte de Getlio Vargas (1954), no qual o partido recusou as alianas que vinha realizando com o governo. Em todo caso, os termos gerais de seu programa no chegaram a se alterar significativamente, reafirmando seus traos mais caractersticos: a noo do progresso industrial como motor da histria, o projeto de revoluo dividi-do por etapas, a afirmao da necessidade de superar a condio agroexportadora e de estabelecer um parque industrial no Brasil como meio para a resoluo das questes ligadas desigualdade social e aos limites do regime democrtico-liberal. O perodo que segue at a reorientao total da linha poltica do partido, crista-lizada no Congresso de 1960, apresenta o gradativo abandono do tom radicalizado encontrado nos documentos pr-1954, com maior aproximao s teses nacionalistas e desenvolvimentistas oficiais.

    A aliana com o governo do Plano de Metas se casou perfei-tamente com a nova diretiva sovitica, que passou a defender que os partidos comunistas de todo o mundo aderissem tese da con-vivncia pacfica com o plo capitalista do globo e adotassem, no caso dos pases subdesenvolvidos, a estratgia da revoluo demo-crtico-burguesa. O mesmo perodo significou, para os comunistas, o endurecimento da hierarquia interna, solapada por sucessivas manobras dos ncleos dirigentes para fazer valer a nova poltica e

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    sufocar os crescentes movimentos de contestao, com a diminuio da autonomia em relao s determinaes soviticas.

    O POR apresentou aproximaes relativas ao projeto desenvol-vimentista, uma vez que a formulao de suas crticas ao modelo se encontrou bastante limitada pela submisso ao BLA e pela poltica de entrismo no PCB. Altamente centralizado pelo BLA, o partido apresentou os menores ndices de democracia interna, j que o poder de deciso e de formulao poltica dos militantes se transferia para as mos dos dirigentes do Bureau. Reivindicava o centralismo democrtico criticando o autoritarismo do PCB como uma distoro do modelo, mas no conseguiu coloc-lo em prtica devido sua baixssima institucionalizao, chegando a um modelo que mais se assemelhava ao centralismo autocrtico descrito por Duverger. A formulao programtica indica um aumento da presso dos pressupostos pecebistas sobre as formulaes do POR. A hostilidade do meio e a transformao da denncia minuciosa e implacvel de cada passo das direes comunistas em prioridade minaram a capacidade propositiva e de autoconstruo do partido.

    A LSI apresentou o programa com menor adeso ao desenvol-vimentismo, definido nos seguintes termos gerais: concordava com muitas propostas e anlises feitas pelo POR, principalmente quando se tratava de criticar o extremo centralismo do PCB e de sua poltica de revoluo democrtico burguesa. A LSI reconhece o papel da organizao poltica das massas fora dos partidos e sindicatos como formas legtimas de luta, afirmando que tais mobilizaes tambm seriam capazes de fazer frente s questes colocadas para o pas inclusive com certa vantagem diante das corrompidas direes sin-dicais. A organizao luxemburguista tambm ofereceu um quadro de altos nveis de democracia interna, com definies estatutrias que garantiam a livre participao e formulao de seus militantes. A conformao de uma organizao mais democrtica permitiu Liga que concentrasse os esforos de seus militantes na elaborao de uma leitura prpria da conjuntura nacional e internacional, o que lhe conferiu maiores xitos na formulao de um programa alternativo e de uma identidade organizativa prpria.

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