tratos culturais - agencia.cnptia.embrapa.br · 80 maçã produção frutas do brasil, 37 ção da...

25
Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção 78 Foto: L. P. Couto 9 TRATOS CULTURAIS Alexandre Hoffmann José Luiz Petri Gabriel Berenhauser Leite Celso Zancan Darci Camelatto INTRODUÇÃO A produção tecnicamente eficiente e economicamente viável de maçãs pres- supõe a realização de diversas práticas culturais no pomar, visando a manutenção do equilíbrio entre vegetação e frutificação, a sanidade das plantas e a sustentabilidade do pomar. O manejo da cobertura do solo, a retirada de brotações dos porta-enxertos, a poda, a condução e o raleio de frutas, entre outras, são práticas essenciais para a obtenção de um pomar produtivo e de frutas de qualidade. MANEJO DA COBERTURA DO SOLO O manejo da cobertura do solo é de grande importância, por estar diretamente relacionado a: a) concorrência de plantas invasoras por água e nutrientes com as plantas, especialmente na sua fase inicial de desenvolvimento; b) concorrência entre as plantas se a floração de ambas ocorrer simultaneamente; c) composição de ambiente favorável à proliferação de organismos benéficos ao pomar (inimigos naturais) ou prejudiciais (lagartas-desfo- lhadoras, fungos); d) proteção do solo con- tra a erosão, especialmente em áreas de maior declividade e) proteção do solo contra a compactação decorrente do tráfego de máquinas. A cobertura do solo em pomares pode ser feita com uso de vegetação nativa ou cultivada (gramíneas e/ou leguminosas), solo limpo com capina ou herbicidas ou por meio de cobertura com materiais inertes naturais (mulching com cobertura morta) ou sintéticos (filmes plásticos). Embora muitos sistemas de manejo da cobertura do solo tenham sido empregados ou testados, para as condições edafoclimáticas brasileiras o manejo mais adequado consiste em: Pomares novos (até 1 ano): solo limpo, podendo ser utilizado para cultivo com uma espécie anual intercalar (milho e soja). Até o 2 o ano, numa faixa de 75 cm em cada lado da linha de plantio, o solo deve ser mantido limpo. O crescimento das plantas daninhas, nessa faixa, é controlado com o uso de capina mecânica ou manual (Fig. 1). Fig. 1. Manejo da cobertura do solo em po- mares novos. Pomares em formação (2-3 anos): início da cobertura permanente com espécies de gramíneas (nativas ou cultivadas) de porte baixo ou leguminosas perenes (trevo branco ou subterrâneo) ou prosseguimento da cultura intercalar, em espaço gradativamente reduzido, conforme o crescimento da planta. Na entrelinha, a cobertura deve ser mantida roçada, com

Upload: letruc

Post on 14-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção78

Foto

: L. P

. Cou

to

9 TRATOSCULTURAIS

Alexandre HoffmannJosé Luiz Petri

Gabriel Berenhauser LeiteCelso Zancan

Darci Camelatto

INTRODUÇÃO

A produção tecnicamente eficiente eeconomicamente viável de maçãs pres-supõe a realização de diversas práticasculturais no pomar, visando a manutençãodo equilíbrio entre vegetação e frutificação,a sanidade das plantas e a sustentabilidadedo pomar. O manejo da cobertura do solo,a retirada de brotações dos porta-enxertos,a poda, a condução e o raleio de frutas,entre outras, são práticas essenciais para aobtenção de um pomar produtivo e defrutas de qualidade.

MANEJO DACOBERTURA DO SOLO

O manejo da cobertura do solo é degrande importância, por estar diretamenterelacionado a: a) concorrência de plantasinvasoras por água e nutrientes com asplantas, especialmente na sua fase inicialde desenvolvimento; b) concorrência entreas plantas se a floração de ambas ocorrersimultaneamente; c) composição deambiente favorável à proliferação deorganismos benéficos ao pomar (inimigosnaturais) ou prejudiciais (lagartas-desfo-lhadoras, fungos); d) proteção do solo con-tra a erosão, especialmente em áreas demaior declividade e) proteção do solocontra a compactação decorrente do tráfegode máquinas.

A cobertura do solo em pomares podeser feita com uso de vegetação nativa oucultivada (gramíneas e/ou leguminosas),solo limpo com capina ou herbicidas ou

por meio de cobertura com materiais inertesnaturais (mulching com cobertura morta) ousintéticos (filmes plásticos). Embora muitossistemas de manejo da cobertura do solotenham sido empregados ou testados, paraas condições edafoclimáticas brasileiras omanejo mais adequado consiste em:

• Pomares novos (até 1 ano): sololimpo, podendo ser utilizado para cultivocom uma espécie anual intercalar (milho esoja). Até o 2o ano, numa faixa de 75 cmem cada lado da linha de plantio, o solodeve ser mantido limpo. O crescimentodas plantas daninhas, nessa faixa, écontrolado com o uso de capina mecânicaou manual (Fig. 1).

Fig. 1. Manejo da cobertura do solo em po-mares novos.

• Pomares em formação (2-3 anos):início da cobertura permanente comespécies de gramíneas (nativas oucultivadas) de porte baixo ou leguminosasperenes (trevo branco ou subterrâneo) ouprosseguimento da cultura intercalar, emespaço gradativamente reduzido, conformeo crescimento da planta. Na entrelinha, acobertura deve ser mantida roçada, com

79Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

altura inferior a 30 cm. Após o 2o ano deimplantação do pomar, a faixa de sololimpo com herbicidas ou capina mecânicadeve ser mantida no período de setembroa abril (Fig. 2).

de herbicidas consiste na forma mais viávelpara controle das invasoras, especialmenteem virtude da abundância de chuvas noSul do Brasil, que dificulta o manejo dasinvasoras. O uso de herbicidas deve seracompanhado de cuidados no que dizrespeito à escolha do produto, ao modo deaplicação, à dosagem empregada, aoreconhecimento das plantas daninhaspresentes e aos problemas advindos douso contínuo de um mesmo herbicida(favorecimento de uma ou de poucasespécies). Até o 3º ano não se devemutilizar herbicidas pré-emergentes. Apósesse período, pode-se utilizar o Diuron de2,5 a 3,0 kg do i.a. por ha ou o Simazine,de 4 a 5 kg/ha do i.a., os quais devem serutilizados preferencialmente entre agostoe outubro ou após a colheita. Comoherbicida pós-emergente, utiliza-se oGlyphosate, de 0,4 a 2,0 l/ha do i.a.,variando a dosagem de acordo com o tipode planta daninha que se deseja controlar.Tratando-se de um herbicida sistêmico,deve-se evitar atingir o tronco das plantasou, se houver rebrote do porta-enxerto,esses deverão ser retirados antes daaplicação.

ESLADROAMENTO

Alguns porta-enxertos de macieira têma capacidade de rebrotar no pomar. Taisrebrotes devem ser eliminados preferencial-mente durante a fase vegetativa, cortando-os na base para evitar o rebrote. Se a retiradafor realizada no período de dormência, deve-se cortar com tesoura ou canivete junto aoponto de inserção. O corte na superfície dosolo irá estimular a emissão de novos rebrotes.O herbicida Finale (glufosinate) pode serusado para a eliminação dos rebrotes, nadosagem de 2,0 L/ha de área útil.

PODA E CONDUÇÃO

A condução das plantas consiste emdirecionar os ramos, procurando dar umaforma à planta, a fim de melhorar a distribui-

Foto

: G. R

. Nac

htig

all

Fig. 2. Manejo da cobertura do solo em po-mares em formação.

• Pomares adultos (3 anos emdiante): início ou prosseguimento dacobertura permanente, que deve ser roçadaa, no máximo, 10 cm de altura, para facilitara proliferação de inimigos naturais,especialmente durante a primavera e overão, para reduzir a concorrência dasplantas da cobertura permanente com asmacieiras. Na linha, deve ser mantido osolo limpo, por meio de capinas manuaisou mecânicas ou com uso de herbicidas,no período compreendido entre a floraçãoe a colheita (Fig. 3).

Foto

: J. L

. Pet

ri

Fig. 3. Manejo da cobertura do solo empomares adultos

As capinas manuais somente sãoviáveis em pomares de pequeno porte,enquanto as capinas mecânicas, emboraproporcionem elevado rendimento, podemdanificar as raízes superficiais. O emprego

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção80

ção da luz por todas as partes de copa.Também visa reduzir custos, melhorar aeficiência dos tratamentos fitossanitários edeterminar a qualidade dos frutos. A formaideal de condução é a que propicia umaadequada interceptação de luz, ao mesmotempo que promove sua adequada distri-buição por todas as partes no interior dacopa. Na entrada de luz, o tamanho e a formada planta são determinantes. Para tanto,plantas conduzidas em líder centralfavorecem maior a formação de superfíciefoliar adequada à entrada de luz econsequentemente, toda a sua estrutura édirecionada à produção, tendo menosestrutura de madeira de sustentação,direcionando a grande proporção de hidratosde carbono para a frutificação.

Alguns princípios básicos devem serconsiderados:

• A macieira tem o hábito de frutifica-ção misto, com gemas terminais compostasde flores e folhas e as laterais, predominante-mente vegetativas, que poderão eventual-mente originar esporões e brindilas (Fig. 4).

• A condução baseia-se no estabeleci-mento de um equilíbrio entre as funçõesvegetativa e reprodutiva (produtiva).O desbalanço entre estas funções acarretarábaixa produtividade ou esgotamento precoce

da planta, respectivamente, ambos inde-sejados.

• A dominância apical é conceito im-portante para entender a base da condução.Consiste na tendência de a gema ou docrescimento terminal inibir o crescimentodas gemas laterais, uma vez que as auxinassão produzidas no ápice e movem-se porgravidade, gerando um desbalanço emrelação às citocininas, que promovem abrotação dessas gemas laterais. Há 3 ma-neiras de interferir sobre a dominânciaapical no processo de condução: a) pelaremoção da fonte de auxina pela retiradada ponta (é um processo paliativo, porqueo broto que surgirá rapidamente passará adominar como uma nova fonte de auxinas);b) pelo uso de reguladores de crescimentopara ajustar o balanço entre eles e provocaro crescimento desejado; c) pelo arquea-mento dos ramos, que é o processo maisnatural e mais comumente empregado, emangulações de 45º a 120o, com a utilizaçãode palitos, pesos, fitas, madeiras, arames,etc., pretendendo-se, com isso, que asauxinas produzidas pelo meristema apicaltenham dificuldade em mover-se evitando,consequentemente, a inibição das brota-ções laterais (Fig. 5).

• Para se optar por um tipo de condução,devem ser considerados fatores como cultivare a combinação enxerto/porta-enxerto, poisestes fatores influenciam o vigor e o hábitode crescimento da planta.

• O sistema de tutoramento, oposicionamento dos ramos, a poda deformação e a produção também afetam acondução.

• Há sete componentes da conduçãodas plantas: arranjo das plantas, qualidadedas mudas, sistemas de suporte, densidade,poda, porta-enxerto e cultivar-copa quedevem estar integrados, como peças de umquebra-cabeça.

Embora sejam muitas as formas decondução da macieira, a maioria dossistemas em pomares comerciais utilizamformas diversas de eixo central. Assim,muitas regiões no mundo, desenvolveramseus próprios sistemas de condução, quepoderão variar com a densidade de plantio.(Tabela 1).

Foto

: L. P

. Cou

to

Fig. 4. Hábito de frutificação misto em macieira.

81Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Foto

s: J.

L. P

etri

Fig. 5.Controle da dominância apical por arqueamento com palitos, estacas e cordas

Tabela 1. Principais sistemas de condução da macieira em eixo central desenvolvidos no mundo, emeixo central.

* Baixa: 6 x 3 m; média: 5 x 2 m; alta: 4,5 x 1,5 m ou inferior.

Líder Central

Slender PirâmideVertical Axis

Cone híbrido (HYTEC)

Spindle bushSolenSolaxSlender spindle

SpindleSuper spindle

Sistema de condução Forma da planta

Alta, forma de pirâmide, semsustentaçãoLivre, forma de pirâmideCone, altura média, ramos lateraisfracos.Cone altura média, difícilfrutificação ramos laterais.Pirâmide, altura e largura médiaCurta, ramos abaixo de 90o

Cone alto, ramos abaixo de 90o

Curta, fracos ramos laterais, conefracoCurta, cone muito estreitoCurta, largura limitada aoespaçamento entre filas.

Densidadeapropriada*

Baixa

MédiaMédia

Média

MédiaMédiaAltaAlta

AltaAlta

País deorigem

Washington – EUANova ZelândiaNova Zelândia

França

Washington – EUA

AlemanhaFrançaFrançaHolanda

HolandaAlemanha

Os principais sistemas de conduçãosão descritos a seguir.

Sistema de condução parabaixa e média densidade

Líder central

A forma de líder central é a que melhorse adapta às baixas e médias densidades.

Este sistema clássico de condução foi criadona metade dos anos 60, nos EUA, com apopularização dos porta-enxertos clonais eem razão do longo tempo necessário paraatingir a plena produção do sistema vaso(superior a 12 anos), o excesso de trabalhocom poda, o difícil equilíbrio entre vegetaçãoe frutificação e a baixa qualidade das frutas.Este sistema, no qual a densidade passou de

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção82

200 plantas/ha (vaso) para 500 plantas/ha,foi definido como alta densidade pelo seucriador, Dr. Heinicke.

O sistema líder central foi desenvolvidocom porta-enxertos semi-anões a vigorosose variedades do tipo spur. No Brasil, estesistema foi largamente adotado nas duasprimeiras décadas do cultivo, pela dominân-cia dos porta-enxertos semi-vigorosos entãoem uso; porém atualmente trabalha-se comdensidades maiores, que atingem até2.000 plantas ou até mais e com variedadesstandard, resultando, em alguns casos, emproblemas de excesso de vegetação esombreamento.

Para a obtenção do sistema lídercentral (Fig. 6) e para preencher os espaçosnuma densidade de 500 plantas/ha, seucriador recomenda despontar a muda de80-90 cm do ponto de enxertia quando doplantio, visando obter-se um líder forte eramos laterais bem desenvolvidos. Acimados 50 cm do solo, selecionam-se de 3 a5 ramos (Fig. 7 e 8), deixando-se crescerlivremente o prolongamento do eixocentral. Os ramos laterais, na formação dacopa de um sistema de líder central, sãoabertos com palitos, fitas, pesos, arames emadeira, durante a fase de crescimento equando atingirem 10 cm de comprimento,em ângulos de 45o nas variedades spur e de60º-90o nas variedades standard, parafavorecer a entrada de luz e forçar a entradaem produção. A colocação do palito deveser evitada em dias chuvosos ou com altaumidade, pois a fixação dos mesmos édificultada nestas condições.

Nas variedades spur, o líder e os ramossecundários são despontados em um terçoou mais até o 4o ou 5o ano, com objetivo deemitirem brotações.

Com o passar dos anos, começam asurgir problemas com sombreamento nointerior da copa (os ramos secundáriosdevem ser retirados inteiros), motivo porque passa-se a adotar um sistema emcamadas para não perder a eficiência daprodução. A primeira camada é formada a50-60 cm do solo, a segunda, 80-90 cm

Fig. 6. Planta conduzida em sistema de lídercentral.Ilustração: Forshey, C. G., 1992.

acima da primeira, e a terceira, a 60-70 cmacima da segunda.

A seguir, são apresentados os procedi-mentos para formação no segundo e noterceiro anos.

Formação do segundo ano: noprolongamento do eixo central, selecionam-se mais três a quatro ramos, procurando-sedeixar no mínimo 50 cm de distância emrelação à primeira camada de ramos.Os ramos da segunda camada deverão serconduzidos da mesma forma que os daprimeira camada, porém, no arqueamentodeverá se dado um ângulo de 60º a 75o emrelação ao eixo central. Próximo do inícioda brotação, os ramos do primeiro e dosegundo andar deverão ser despontadosem um terço, no mesmo sistema dedesponte do ano anterior. O prolon-gamento do eixo central também deveráser despontado a 80 cm do corte do anoanterior. Nessa oportunidade deverão sereliminados os ramos muito vigorosos,principalmente os ramos secundários daprimeira camada, devendo-se manter umdiâmetro inferior a um terço no ponto deinserção com o ramo primário.

Formação do terceiro ano: no pro-longamento do eixo central selecionam-se

83Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

mesmo sistema do desponte do anoanterior. A partir do terceiro ano não sedeve despontar o eixo central, pois já atingiua altura desejada, completando a suaformação. Nesse período continua-se como arqueamento dos ramos e a eliminaçãode ramos mal colocados, muito vigorosos,que estejam sobrepostos ou sombreandoos ramos dos andares inferiores. De acordocom a densidade de plantio poderá variara largura da copa e a distribuição dosramos ao longo do eixo central.

O sistema líder central clássico éutilizado em médias densidades, suaprodução é medianamente precoce e dealta produtividade depois que atinge aplena produção (8-9 anos), o tamanho e aqualidade das frutas são bons pela boailuminação e poda severa, porém aeficiência do trabalho só é superior quandocomparado com o sistema vaso. No Brasil,atualmente, esse sistema está sendo subs-tituído por outros mais eficientes e commelhor possibilidade de uso em porta-enxertos anões.

Sistemas de conduçãopara alta densidade

Nos sistemas de condução em altadensidade, tem-se como objetivo alcançarprodução precoce, de alta qualidade e boacoloração para as cultivares de corvermelha. Nos sistema de alta densidadedeve-se dar preferência a porta-enxertosanões, semi-anões ou porta-enxerto comfiltro de M-9 (M-26, M-9, Maruba comfiltro de M-9). Para o sistema de altadensidade utilizam-se os sistemas spindlebush, slender spindle, super spindle e axe vertical,entre outros, que apresentam os mesmosprincípios, ou seja caracterizam-se por nãoapresentar andares definidos e ramos deprodução não permanentes.

Spindle bush

Este sistema de condução, em formade arbusto, foi desenvolvido na década de

Fig 7. Plantio da muda com o corte derebaixamento.Ilustração: J. L. Petri.

Fig. 8. Distribuição dos ramos ao final doprimeiro ano.Ilustração: Forshey, D. C.

três a quatro ramos que deverão ser menosvigorosos que os do segundo andar.Os ramos da terceira camada serãoconduzidos da mesma maneira que naprimeira e na segunda camadas, arqueando-os em um ângulo de 75º a 90o em relaçãoao eixo central. Próximo do início dabrotação, os ramos de prolongamento queainda não tiverem preenchido os espaçose, portanto, necessitarem de crescimento,deverão ser despontados em um terço no

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção84

1930 na Alemanha (Fig. 9). As mudaseram plantadas no meio dos pomares tradi-cionais da época com porte e espaçamentomaiores, e eram conduzidas livremente emforma de arbusto, para aumentar aprodução inicial e depois eram removidas.A precocidade dessas plantas despertouinteresse naquele período de guerra e pós-guerra. Como consequência, no início dadécada de 1950, a Holanda só trabalhavacom porta-enxertos anões e densidade de1000-1500 plantas/ha. No início da décadade 1960, já havia excesso de produção naEuropa e a necessidade de produção rápidadas novas cultivares, os porta-enxertosanões e o sistema Spindle Bush tornaram-sepopulares nos principais países produtoresda Europa e foi desenvolvido um sistemaainda mais intensivo, o Slender Spindle.

A muda no plantio é despontada a 80-90 cm (mudas de haste única) e 20-30 cmacima do último lateral (mudas pré-formadas). A cada inverno, o líder éremovido completamente e um lateral,abaixo e fraco é puxado para cima comonovo líder. Este processo é repetido todoano até a árvore alcançar a altura desejada(2,0-2,5 m). Os ramos laterais sãoarqueados a 90o ou mais com fitas e pesos.Normalmente, logo após esses ramos teremcessado o crescimento de cada ciclo, osramos que são muito fortes são retiradosna poda de inverno. O espaçamentoadotado varia de 3,3 a 4 m entre linhas e1,0 a 1,6 m entre plantas.

Para manter as plantas nos respectivosespaços, os ramos permanentes da partede baixo da copa, são podados na madeiravelha e os secundários, nos dois terçossuperiores são removidos inteiros, deixan-do-se 1 a 2 cm da base, para enfraquecer osbrotos que serão emitidos lateralmente aesses. A condução e a poda mínima dasplantas jovens do sistema Slender Spindlefavorecem a precocidade de produção, jáque a produção, o que também é um meio decontrole do vigor.

Fig. 9. Formação em Spindle bush (A) para média densidadee em líder central (B) para baixa densidade.

Fig. 10. Plantas conduzidas em sistema deslender spindle.

Ilust

raçã

o: B

arrit

, B. C

.

Slender Spindle

Com o mesmo porta-enxerto M-9 e odobro da densidade dos primeiros spindles(2000-3000 plantas/ha), foi necessária umamaior atenção ao arqueamento de lateraise a manipulação do líder e a poda foiminimizada. Para este sistema de árvorespequenas e estreitas, o ponto críticoconsiste em manter ramos de crescimentofraco e substituir os ramos fortes (Fig. 10).

Ilust

raçã

o: B

arrit

, B. C

.

85Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Na metade da década de 1980, esteera o principal sistema de condução naEuropa. A Holanda, onde este sistemainicialmente foi popularizado, está numalatitude de 52oN e necessita muita exposiçãodas frutas à luz e renovação do material deprodução. Porém, este pode ser tambémum problema para regiões de clima maisquente como o do Brasil.

A densidade, para este sistema como porta-enxerto M-9, é de no mínimo2.500 plantas/ha. Utilizaram-se arranjoscom filas triplas, duplas ou simples. Porématualmente utiliza-se, basicamente, a filasimples, pois é de manejo mais fácil e oefeito do arranjo é mínimo, quandocomparado com a mesma densidade naprecocidade e produtividade. Com osucesso na Holanda, a partir da década de1970, o sistema Slender foi difundido paraa Alemanha, Bélgica, Inglaterra, França eItália. Houve poucas modificações e emtodos os casos, as plantas apresentam-sede forma cônica, alta densidade, tutoradase de pouco vigor.

Superspindle

Na década de 1980, ao redor do LagoConstança (Alemanha e Suíça), foramdesenvolvidos sistemas ultra-densos, comoo V Sistem e o Superspindle, nos quaisbuscou-se a extrema precocidade, visandoa alguma produção no primeiro ano e 30-40 t/ha no segundo ano, atingindo-se aplena produção no terceiro ano. Apesar doalto custo inicial, esses sistemas, em razãoda necessidade de 7 mil a 13 mil mudas porhectare e do sistema de tutoramento maiscomplexo, atendem à precocidade exigidapelo comércio, para suprir com novidadesos consumidores.

O superspindle é implantado com filastriplas, duplas ou simples, com distânciasde 2,8 ou 3,5 m entre filas e 0,2 a 0,5 mentre plantas (Fig. 11). Os porta-enxertosrecomendados são o M.9 ou outros menosvigorosos, utilizando-se preferencialmentemudas pré-formadas. O trabalho de condu-

ção é mínimo, pois, no momento do plantio,os espaços já ficam ocupados. É importanteretirar todos os ramos verticais, ou os maisgrossos, para evitar problemas desombreamento. Esse sistema está sendoutilizado na Europa e nos EUA para todasas cultivares, de forma a reduzir anecessidade de mão-de-obra e ganhar emprecocidade. No Brasil, em alguns experimen-tos, têm apresentado bom comportamento.

Especialmente quando utilizadas altasdensidades de plantio, associadas a porta-enxertos anões, torna-se necessário oemprego de sistemas de suporte. O própriopeso e o da produção podem danificar asplantas; por essa razão, devem ser usadossuportes individuais, balancins (estacas)presas a uma espaldeira ou uma espaldeiracom múltiplos fios. A escolha do sistemade suporte é dependente do custo e dafacilidade proporcionada ao manejo daplanta. Quando utilizados porta-enxertossemi-anões, os suportes podem serdispensados. Porém, quando utilizados,há menor necessidade de mão-de-obra e aprodução é mais precoce.

Fig. 11. Plantas conduzidas em sistema desuperspindle.

Ilust

raçã

o: B

arrit

, B. C

.

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção86

Axe vertical

A França, nas décadas de 1960 a1970, trabalhava com os sistemas depalmeta com poda de formação e produçãoextremamente fortes e complexas. O ba-lanço entre a vegetação e a produção eradifícil, bem como manter as plantas no seuespaço, em razão da falta de distribuiçãode luz nas copas. A qualidade das frutastambém era ruim. No final da década de1970, J. M. Lespinasse introduziu um novosistema, o Axe Vertical, com o objetivo deobter produções precoces, com boa cor etamanho, pela melhor distribuicão de luz(Fig. 12). Para isso, minimizou os trabalhosde poda e condução e atingiu rapidamenteo balanço entre vegetação e produção.

Originalmente, o sistema não previanenhum desponte das mudas no plantio emesmo posteriormente, até a muda atingiro tamanho final. Depois, em razão da difi-culdade em se fechar os espaços na base,foi proposto um desponte no plantio a0,9 a 1 m. No ano seguinte, os líderes sãotutorados e não são despontados. Os ramosda base são permanentes e os ramossecundários dos dois terços superiores sãosubstituídos a cada 4-5 anos, deixando-se 1a 2 cm na base, para o rebrote.

A densidade sugerida por Lespinasse éde 1,100 a 2,100 plantas/ha, arranjadas emfilas simples, com espaçamento de 1,5 a 2 mentre plantas e 4,3 a 5 m entre filas. Os porta-enxertos recomendados são M.9 e M.26

Fig. 12. Plantas conduzidas em sistema de axe vertical.

Ilust

raçã

o: B

arrit

, B. C

.

(variedades standard) e M.7 e MM.106(variedades spur). A altura do pomar écontrolada pela produção e desvio num ramolateral fraco e pode chegar a 4 – 4,5 m. Essesistema tem apresentado sucesso no Brasil,com porta-enxertos anões e semi-anões. NaFrança e outros países, o controle da alturadas plantas pode ser um problema para essesistema de condução, podendo ocorrersombreamento no interior da copa. O própriopesquisador, a partir destas observações,sugeriu também outro sistema de condução,o Solaxe.

Solaxe

É um sistema de condução que requerbom controle do crescimento vegetativo.A obtenção de ramos dobrados sem ladrõesé o principal objetivo para o líder (troncoprincipal ou eixo central) e suasramificações (Fig. 13). Para facilitar oestabelecimento das plantas e favorecer aprecocidade, não se recomenda despontaro líder no plantio. Deve-se utilizar, depreferência, mudas pré-formadas e o líderdeve ser arqueado para deter a planta naaltura desejada.

No esquema a seguir, é apresentada aregra geral de condução para este sistema.Para cultivares coloridas, é importante oposicionamento dos ramos para facilitar apenetração de luz na copa. O sistema Solaxeadapta-se a diferentes densidades de plantioem filas simples e são determinados os

87Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Poda e conduçãopara formação

Primeiro ano

Poda de plantio: quando utilizadasmudas de haste única, pode-se deixá-lasinteiras ou despontá-las numa altura de 90a 120 cm, dependendo do espaçamento edos objetivos iniciais. A poda é executadana primavera, no início da brotação. Todosos brotos abaixo de 50 cm devem sereliminados. Quando o plantio é feito commudas pré-formadas, o líder poderá serdespontado a 20-30 cm acima do últimoramo lateral ou ficar sem desponte, se fordesenvolvida a muda e o líder.

Ângulo dos brotos e ramos: ângu-los fechados não são desejados na formaçãodos ramos laterais. Para evitá-los, deve-seselecionar brotações que formam ângulosmais abertos ou o que pode ser obtido como uso de reguladores de crescimento e omanuseio de meristemas na muda pré-formada, ou, então, em mudas de hasteúnica, deve-se abrir o ângulo pela inserçãode palitos ou pedaços curtos de arame àmedida que a brotação se forma. Os palitos(ou objetos similares) devem ser colocadosquando as brotações atingirem 8 a 10 cmde comprimento, isto é, crescendoativamente. Após um período de 5 a 8 dias,os palitos terão alcançado o efeito desejadoe poderão ser removidos.

Arqueamento: para cada densidade,recomenda-se diferente arqueamento dosramos laterais. Quanto mais próxima for adistância entre plantas, mais intensamentedeverá ser inclinado o ramo, pois essaprática reduz o seu vigor. Normalmente,essa prática é feita com fitas de plásticos,sisal, embira ou material equivalente. Emdensidades maiores, a inclinação é feitaquando o ramo alcança a metade doespaçamento para um ângulo de 90o emrelação ao líder e, para densidades menores,essa inclinação é feita quando cessa ocrescimento dos ramos laterais no final dociclo (nos meses de abril e maio), para

Fig.13. Plantas conduzidas em sistema desolaxe.Ilustração: Sansavini, S., 1998 (adaptado).

espaçamentos de acordo com a alturadesejada das plantas. Para o porta-enxertoM.9, as distâncias de plantio recomendadaspara este sistema são de 3,5 a 4 m entre filase 1 a 1,75 m entre plantas, dependendo davariedade e altura desejada. Para a altura de2 m, o criador desse sistema sugere 0,25 mmais espaçado do que um pomar de 3 m dealtura. É prudente não utilizar porta-enxertosmais vigorosos do que o M.9.

Regra geral de condução para osistema solaxe1. Arquear fortemente os ramossecundários, no momento do plantio.2. Retirar os brotos auxiliares, que sãopotencialmente competitivos com olíder.3. Arquear os ramos muito fechados amais de 90o no primeiro verão após oplantio4. Arquear o líder para deter o cres-cimento no segundo ou no terceiroanos, dependendo da altura desejadapara o pomar e do seu vigor.5. Fazer a poda do excesso de ramosprogressivamente, desde a 4a

folha.

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção88

60o a 90º. Em mudas pré-formadas, osramos laterais poderão ser arqueados nomomento do plantio se os ângulos dosramos vindos do viveiro não estiverem deacordo com as recomendações ou quandocessar o crescimento no final do ciclo,conforme descrito anteriormente paramudas de vareta única.

Segundo ano

Após definidos os ramos laterais,dependendo do porta-enxerto, doespaçamento, da cultivar e do sistema decondução, o ramo líder e os ramossecundários poderão ou não ser despon-tados após a quebra de dormência, comobjetivo de reduzir a dominância apical(ver Sistemas de Condução). Os ramossecundários competidores, com diâmetrosuperior a um terço até meio do mestre,deverão ser removidos inteiros no outono-inverno. Durante o ciclo, os ramos terciárioscom crescimento vertical deverão sereliminados quando atingirem 30-40 cm.

Terceiro ano

A poda de condução no terceiro anoé semelhante à do segundo, sendo restritapara o novo crescimento da parte superiorda copa. Para a parte mais velha, em algunscasos, já serão necessárias, além de fitas,algumas estacas de madeira para auxiliarna condução, principalmente em plantioscom porta-enxertos semi-anões. Durantea fase de verão e de inverno devem serremovidos ramos mal colocados, ladrões eramos doentes.

Após 3 anos, a planta já está formadae pronta para iniciar a produção.

Poda de frutificação

A macieira necessita anualmente depoda de frutificação para que possa manterum equilíbrio entre o crescimentovegetativo e a frutificação, mantendo assimproduções constantes, com frutos de

qualidade. Com a poda também se eliminamramos com problemas fitossanitários, ouramos velhos ou que apresentam poucasgemas floríferas. Também serve pararemover ramos mal colocados que estejamsombreando outros ramos e encurtaraqueles que estão ocupando o espaço dasplantas adjacentes. A poda mantém aprodução mais bem distribuída na copa epermite uma melhor distribuição da luz.

Apesar de, na poda de frutificação,obedecer-se a princípios básicos, suaaplicação poderá variar de pomar parapomar, pois diversos fatores poderãoinfluenciá-la.

Entre os fatores a considerar, des-tacam-se:

• Qualidade de fruta desejada,incluindo tamanho e coloração dos frutos.

• O clima e sua influência nocrescimento.

• A cultivar, considerando o hábito defrutificação e o seu crescimento.

• O sistema de condução, a densidadede plantio e o porta-enxerto.

• A estabilidade da produção e a produ-tividade desejada.

Todos esses fatores não devem serconsiderados de maneira isolada, poissempre estão interrelacionados, necessitan-do uma análise conjunta.

Sob o aspecto de qualidade da fruta, apoda que permite uma melhor entrada de luze uma renovação dos ramos de frutificaçãoresultará em melhores coloração e tamanhoda fruta.

Em regiões onde as exigências em frioda cultivar não forem satisfeitas, ocorreráum crescimento vegetativo excessivo emenor formação de órgãos de frutificação.Nesse caso não se despontam os ramos decrescimento do ano, sendo necessária umapoda de encurtamento nos ramos comórgãos de frutificação, pois a renovaçãodesses ramos é mais difícil após seuenvelhecimento.

Quanto maior a densidade de plantio,menor será a intensidade de poda, poispraticamente não são necessárias podas

89Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

para estimular o crescimento, visto que jána formação da planta, são preenchidostodos os espaços e como não são necessáriosramos permanentes, pratica-se a poda derenovação total dos ramos. Havendoespaçamentos maiores que 1,5 m entreplantas, serão formados ramos permanen-tes, que necessitam podas de encurtamentoem seus ramos de frutificação, evitando-seo envelhecimento.

Um dos fatores mais importantes aconsiderar na poda é a cultivar. Para tanto,é necessário o conhecimento do hábito decrescimento e frutificação da cultivar, antesde se definir a poda. Segundo Lespinasse(1996), as cultivares de macieira podemser classificadas em quatro tipos, baseando-se no desenvolvimento das ramificações,no ângulo de inserção, na localização e nonúmero de órgãos de frutificação e naidade e na localização das zonas de fruti-ficação:

• Tipo 1: cultivares Spurs.• Tipo 2: Delicious Standard.• Tipo 3: Gala e Golden Delicious.• Tipo 4: cultivares com produção

terminal como Granny Smith e Fuji.As cultivares do tipo 3, Gala e Golden

Delicious, possuem ramificações abertas comângulos de inserção abertos. Os órgãos defrutificação são produzidos em esporões de1 e 2 anos e em brindilas com até 30 cm de

comprimento (Fig. 14 e 15). Caracterizam-se por produzir frutos em gemas axilares,porém de tamanho inferior aos produzidosnos demais órgãos de frutificação (Fig. 16).Há necessidade de renovação dos ramos quefrutificaram, pois os melhores frutos sãoproduzidos em madeira de 2 e 3 anos.

As cultivares do tipo 4, como Fuji eGranny Smith, produzem ramos longoscom ângulo de inserção fechados. Os frutossão produzidos primeiramente na pontados ramos de ano, para, no ano seguinteocorrer a formação de esporões ao longo

Fig. 14. Tipo de ramo de frutificação do tipo ‘Gala’ e ‘GoldenDelicious’.

Fig. 15. Posição de gemas em ramo da cv.Gala.

Fig. 16. Sistema de frutificação na cv. Gala.

Ilust

raçã

o: J.

L. P

etri

Ilust

raçã

o: J.

L. P

etri

Ilust

raçã

o: J.

L. P

etri

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção90

Fig. 17. Poda de encurtamento de ramos oudesvio.Ilustração: Barrit, B. C. (adaptado)

Fig.18. Poda de raleio de ramos e a respostaesperada no próximo ciclo.Ilustração: Barrit, B. C. (adaptado)

dos ramos. Nesta situação não se pratica odesponte dos ramos de ano, pois com aprodução na ponta do ramo ocorre umarqueamento natural formando esporões ebrindilas curtas que produzirão no próximoano. A frutificação em gemas axilarestambém pode ocorrer, porém não com amesma intensidade que ocorre na cv. Gala.

Na poda de frutificação, podem-serealizar dois tipos de cortes: o deencurtamento ou desvio e os cortes deraleio (Fig. 17 e 18).

a renovação dos ramos que frutificaramintensamente e necessitam de renovaçãopara manter um equilíbrio entre os órgãosde frutificação e o crescimento vegetativo(Fig. 19). Cortes de encurtamento em ramosde 1 ano só devem ser praticados quandose necessita crescimento, pois estimulaum crescimento vigoroso duas a três gemasabaixo do corte. O corte de encurtamentotambém é utilizado para definir a altura daplanta. Definida a altura ideal, pratica-se apoda de encurtamento do prolongamentodo eixo central cortando-se logo acima deum ramo fraco, em condições de frutificar,e de preferência na posição próxima dahorizontal. Outra alternativa para oprolongamento do eixo central é arqueá-loo mesmo a 90o e, no ano seguinte, fazer apoda de encurtamento. Em ramos do anomuito vigorosos, principalmente na cultivarFuji, pode-se fazer o encurtamento emuma gema localizada na parte superior e asegunda gema na parte inferior, ocorrendoum forte crescimento na gema superior eum fraco crescimento na gema inferior.No ano seguinte, pratica-se o desvio, elimi-nando-se o ramo vigoroso com crescimentona vertical.

Os cortes de raleio removem comple-tamente o ramo na inserção, sendo prati-cado principalmente nos sistemas de plan-tio em alta densidade. Quando for feito emramos que produziram por 2 a 3 anos,serão conhecidos como cortes de reno-vação, porque um novo ramo deverá

Fig.19. Ramo de frutificação que necessitarenovação.Ilustração: Lespinasse, J. M.

O corte de encurtamento removeparte do ramo, procurando-se fazer sempreo corte numa gema florífera ou desviandoo ramo em uma brindila. É utilizado para

91Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

ocupar o lugar do ramo removido.Os cortes de raleio são indicados tambémpara melhorar a entrada de luz no interiorda copa e eliminar ramos velhos, ramosladrões e ramos em excesso. Quando sepratica o corte de raleio para a renovaçãodo ramo, deve-se usar o corte de banqueta,onde, na parte de baixo é deixado uns5 mm, com o que se desenvolverá um ramocom ângulo mais aberto.

Os cortes de raleio são utilizados paraa renovação de ramos que frutificaram e seposicionaram com um ângulo maior que90o, pois neste tipo de ramo os frutos serãomenores.

Poda verde

A poda verde é praticada quando asfolhas estão ainda sobre a planta antes doperíodo de dormência, provocando arenovação de parte da área foliar. A podaverde só deve ser praticada em plantasbem equilibradas ou com excesso decrescimento vegetativo, pois ela nãorevigora a planta. Ela deve ser praticadaem determinadas situações como:

• Para melhorar a entrada de luz nacopa, com a remoção de brotos que estejamsombreando parte da planta.

• Para melhorar a coloração dos frutospróximo a colheita.

• Para induzir a formação de gemasfloríferas em brotos com crescimento acimade 30 cm, realizada em janeiro e fevereiro.

• Para reduzir o crescimento vegeta-tivo, principalmente na cv. Fuji, quandorealizada em pós-colheita, reduzindo-se apoda de inverno.

• Para realizar a poda de estrutura emplantas vigorosas, retirando-se ramosvigorosos após a colheita.

• Para melhorar a penetração dostratamentos fitossanitários.

A poda verde, por retirar parte daplanta com folhas reduz a atividadefotossintética da planta e as reservasacumuladas para o novo crescimento no

próximo ciclo. Também pode alternar aprodução e o movimento de hormôniosdentro da planta, interferindo nos processosfisiológicos.

Deve-se destacar que a poda verdevaria consideravelmente conforme otempo, o tipo e a intensidade.

O tempo de realizar a poda verdevaria de acordo com o objetivo. Podaverde logo após a floração, quando nãoocorreu a formação da gema terminal, induza um novo crescimento, que poderá nãoformar uma gema florífera, motivo por queserá necessário a eliminação do ramo napoda de inverno, aumentando o númerode cortes na planta. Portanto, a poda verdeno início do ciclo vegetativo só deve serpraticada para a eliminação total do ramo,não recomendando-se o desponte do ramo.Com vista à formação de gemas floríferas,a poda verde deve ser realizada no final dedezembro e janeiro, pois normalmente nãoocorre um vigoroso crescimento.

O tipo de poda verde poderá ser o derenovação total dos brotos ou o corte aduas ou três gemas da base, o que poderálevar à formação de esporões em algumascultivares; varia, porém, conforme ascondições ambientais. A renovação totaldo ramo não leva ao recrescimento,principalmente quando o corte for feito noponto de inserção.

A intensidade da poda verde variaconforme o vigor da planta. Deve-sesalientar que não se deve praticar a podaverde em plantas fracas, nem fazer a podaverde muito intensa no período dediferenciação floral (30 a 45 dias após afloração), pois poderá induzir à nãoformação de gemas floríferas, resultandoem alternância da produção.

QUEBRA DE DORMÊNCIA

A macieira, como as demais frutíferasde clima temperado, entra em dormênciadurante o inverno, para garantir a

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção92

sobrevivência das plantas ao frio. Ocorremneste período transformações hormonaisque, posteriormente, estimulam a planta ainiciar um novo ciclo vegetativo naprimavera.

Para que este processo ocorranormalmente, a planta exige nesse período,um acúmulo contínuo de horas com baixastemperaturas. A maioria das cultivarescomerciais de macieira necessita de 800ou mais horas de frio inferiores a 7,2ºC.Hoje sabe-se que não são somente astemperaturas abaixo de 7,2oC que sãoeficientes para induzir a brotação, após adormência. Por isso, utilizam-se, com maioreficiência os modelos de unidades de frioque atribuem valores para às diversas faixasde temperatura e com valores negativospara temperaturas acima de 19oC. Para acultura da macieira no Sul do Brasil, utiliza-se o modelo da Carolina do NorteModificado. O número de unidades de friopara as três principais regiões é apresentadona Tabela 2.

Quando a macieira é cultivada emregiões em que as necessidades em frio nãosão satisfeitas para completar a dormência,ocorrem as seguintes anomalias:

• Brotação e floração retardada edesuniforme, com grande percentual dasgemas permanecendo dormentes (Fig. 20).

• Frutas de menor tamanho que opotencial da cultivar.

• Folhas e flores com tamanhoreduzido.

• Emissão de poucos ramos noprimeiro e no segundo ano de plantiodificultando a formação da planta.

• Redução da produção.

Tabela 2. Número médio de unidades de frio pelo modelo da Carolina do Norte modificado.

* Os dados de Caçador podem ser estendidos para o município de Fraiburgo, acrescentando-se 20%.

São Joaquim

Vacaria

Caçador*

Região Maio

440

316

220

Junho

874

678

502

Julho

1.304

1.046

774

Agosto

1.683

1.320

958

Setembro

2.036

1.579

1.084

Fig. 20. Efeito do suprimento adequado (A)e inadequado (B) do frio em macieiras.

Foto

s: J.

L. P

etri

A

B

O principal fator relacionado àexigência de frio é o genético. Porém, alémdeste fator, há outros que influenciam adormência das gemas. Em condições defrio suficiente para a quebra de dormência,estes outros fatores são de pouca importân-cia. Porém, no Brasil, devido aos invernosamenos e com freqüente ocorrência detemperaturas elevadas nesta estação,também são importantes:

Temperaturas de verão: gemasformadas sob temperaturas elevadas deverão apresentam dormência mais profun-da do que as formadas após verões mais

93Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

amenos quando são necessárias menoshoras de frio.

Flutuações de temperatura noinverno: a temperatura mais eficiente paraa quebra da dormência é de 6ºC. Tempe-raturas superiores a 21ºC desfazem o efeitodo frio previamente acumulado. Com basena eficiência de cada faixa de temperatura naquebra de dormência, foi estabelecido osistema de Unidades de Frio, que permitemelhor quantificação do frio para a quebrada dormência, em relação ao total absolutode horas abaixo de 7,2ºC, para as condiçõesclimáticas do Sul do Brasil, no qual a tem-peratura não é mantida continuamente baixa.

Localização das gemas: gemasterminais requerem menos frio do quegemas axilares. Quando o frio é insuficien-te, somente as gemas terminais brotamenquanto as gemas axilares permanecemdormentes, reduzindo a área fotossintetica-mente ativa da planta e a formação deesporões, comprometendo, assim, aprodução e acumulação de reservas paraos ciclos seguintes. Mesmo entre gemasterminais há diferenças: gemas terminaisde esporões brotam mais cedo do queaquelas localizadas no ápice de brindilas.

Vigor da planta: gemas localizadasem ramos de plantas muito vigorosastendem a ser mais exigentes em frio.A combinação enxerto/porta-enxerto e aadubação nitrogenada podem acarretaraumento do vigor e dificuldade de quebrade dormência no início do ciclo seguinte.

Época de início de dormência: emclimas com estações bem definidas, o inícioda dormência dá-se uniformemente emtoda a planta, e isso facilita a quebra dadormência, uma vez que a uniformidadede estádio fenológico das gemas é maior.Em climas amenos, entretanto, a desuni-formidade entre gemas faz com que, nummesmo momento, sejam encontradasgemas em diferentes estádios de dormência,diminuindo a eficiência da acumulação defrio ou de tratamentos químicos.

Luminosidade: dias nublados e chu-vosos, com baixa intensidade luminosa,

favorecem a quebra de dormência das gemas,principalmente das gemas floríferas.

Precipitações durante o inverno:tem-se observado que a ocorrência de preci-pitações durante o inverno favorece aquebra da dormência. Isso pode estarrelacionado à menor luminosidade e àocorrência de temperaturas baixas econstantes e também ao resfriamento dasgemas pela evaporação da água das chuvas.

Resultante da insuficiente acumulaçãode horas de frio na maior parte dos anos, aquebra de dormência artificial deve seradotada, para que o comportamento daplanta seja o mais próximo possível donormal, observando as seguintes práticas:

Arqueamento dos ramos: o arquea-mento dos ramos durante a fase de formaçãoda planta causa a diminuição da domi-nância apical e do vigor do crescimentovegetativo e, dessa forma, favorece a menorexigência em frio para a quebra dadormência.

Incisão anelar: também realizadadurante a formação da planta, a incisãoanelar consiste em um corte em meia lua,1 cm acima da gema cuja brotação sedeseja induzir (Fig. 21).

Armazenamento sob baixas tem-peraturas: a armazenagem em câmarafrigorífica das mudas, antes do plantio, àtemperatura de 4oC por um período de 30a 45 dias melhora a brotação e o cresci-mento dos ramos após o plantio.

Fig. 21. Prática da incisão anelar em mudasde macieiras.Ilustração: J. L. Petri.

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção94

Uso de produtos químicos: a quebrada dormência com o uso de produtosquímicos já está incorporada ao sistemaprodutivo no Sul do Brasil. Fazem exceçãoa essa necessidade os casos de cultivaresde menor exigência em frio e quanto àépoca ou as regiões onde o frio foi acu-mulado de forma mais intensa e constante.

Diversos produtos químicos podem serutilizados para quebrar artificialmente adormência das gemas tendo sido testados,entre outros, os seguintes: óleo mineral,dinitro-orto-cresol (DNOC), dinitro-orto-butil-fenol (DNOBP), dinitro-butil-fenol(DNBP), calciocianamida (CaCN2), nitratode potássio (KNO3), thiourea, ácidogiberélico (GA3), thidiazuron (TDZ) ecianamida hidrogenada, usados isoladamenteou combinados.

De todos eles, porém, o que propor-ciona melhores resultados e é o preferido éa Cianamida Hidrogenada (Dormex®). Esseproduto, associado ao óleo mineral,apresenta eficiência comprovada, ativandoa respiração de gemas e uniformizando abrotação e a floração. Esse tratamento,entretanto, não substitui o frio, apenas ocomplementa. A dosagem requerida parasuperação da dormência depende do graue da profundidade da dormência em que asgemas se encontram. Além disso, devemser considerados outros fatores:

Cultivar: quanto mais exigente emfrio, maior deverá ser a concentração doproduto.

Região/microclima: quanto maisuniforme e mais intenso for o frio durante oinverno, menor deverá ser a concentração doproduto.

Horas de frio: quanto maior a acumu-lação de frio, menor deverá ser a concentraçãodo produto.

Vigor da planta: plantas comcrescimento vegetativo mais vigorosoexigem maior concentração do produto.

Época de aplicação: quando as gemasestão nos estádios fenológicos A e B, aconcentração do produto deve ser maiselevada. O momento ideal de aplicação é

o estado de inchamento das gemas (B),que acontece 25 a 30 dias antes do inícioda brotação normal. Embora a aplicaçãosobre gemas em estádio C e C3 possacausar a queima de parte das gemas, aeficiência do tratamento e o resultado finalem produção e qualidade das frutas sãoadequados.

Em geral, aplica-se a cianamidahidrogenada em concentrações de 0,25 a0,5%, associada ao óleo mineral (3% a5%). Na Tabela 3, são apresentadas asconcentrações de cianamida hidrogenadae óleo mineral conforme o número deunidades de frio e o comprimento dosramos. O óleo mineral aumenta a eficiênciae melhora a uniformidade do tratamentocom a cianamida hidrogenada, além de sereficiente no tratamento de inverno contraovos do ácaro-vermelho. É importanteque a solução de cianamida e Dormex®

atinja todas as partes da planta, pois o seuefeito na gema é localizado e não étranslocado. Quanto ao volume de calda,podem-se utilizar de 500 a 1000 L /ha,porém se utilizado baixo volume, asquantidades dos produtos devem sermantidas para a equivalência de 1000 litrosde calda por ha. Quando da aplicação decianamida hidrogenada, as plantas não devemter resíduos de cobre ou calda sulfocálcicapois formam-se compostos que inibem aação da cianamida hidrogenada.

RALEIO DE FRUTAS

O raleio de frutas é a retirada do excessoda frutificação efetiva, com vista à melhoriada qualidade das frutas remanescentes. Éuma prática normalmente utilizada namacieira. Para que a prática do raleio consigaatingir seus objetivos, deve ser realizada até4 a 6 semanas após a plena floração, períodode divisão celular e indução da floração paraa safra seguinte. Dispõe-se de duasalternativas para o raleio:

Raleio químico: consiste na aplica-ção de produtos químicos que agem nobalanço hormonal na nutrição das frutasou têm efeito cáustico sobre a flor. Por estarazão, os raleantes químicos devem ser

95Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Tabela 3. Recomendação da dosagem de óleo mineral (OM) e cianamida hidrogenada (CH), conformeas unidades de frio e o crescimento dos ramos novos.

OM = óleo mineral CH = cianamida hidrogenada (Dormex)

< 800800 – 10001000 – 1200

> 1200

Unidadesde frio

Crescimento dos ramos

OM 4% + CH 0,25%OM 4% + CH 0,25%OM 3% à 4% + CH 0,15%à 0,25%OM 4% ouOM 3% + CH 0,15%

< 10 cm

OM 4% + CH 0,25%OM 4% + CH 0,25%OM 4% + CH 0,15% à 0,25%

OM 3% + CH 0,15% à 0,25%

10 cm – 50 cm

OM 4% + CH 0,25% à 0,35%OM 4% + CH 0,25%OM 4% + CH 0,20% à 0,25%OM 3% + CH 0,25%

> 50 cm

aplicados na plena floração ou poucos dias(até 30 dias) após este estádio fenológico.

O raleio químico apresenta vantagense desvantagens. Como vantagens, podemser citadas: facilidade de uso em áreasextensas, maior eficiência, especialmentequando a frutificação efetiva for muitoelevada, rapidez de ação e menor custocom mão-de-obra. Porém, apresentadesvantagens, como a não-seleção de frutaspara o raleio (em qualidade e posição) e avariabilidade de efeito dos raleantes emrazão de serem afetados por muitos fatores.Apesar de pouco seletiva, é uma práticaindispensável em áreas extensas.Normalmente, após o raleio químico, deve-se fazer um repasse manual, porque sempresobram cachopas de frutas, frutasdanificados e/ou mal distribuídos.

As principais opções de raleantesquímicos são o ANA (ácido naftalenacé-tico), como raleante de flor e o Carbarylcomo raleante de frutas no estágio inicial.O ANA deve ser aplicado de 5 a 10 diasapós a plena floração, sendo recomendadaa dosagem de 7,5 a 10 mg . L-1 para a cv.Gala e 12 a 15 mg . L-1 para a cv. Fuji,ambos em mistura com óleo mineral a0,2%. O Carbaryl deve ser aplicado emcultivares de difícil raleio químico, como acv. Fuji, e/ou em anos com alta frutificaçãoefetiva. O momento adequado é entre 15a 30 dias após a plena floração, ou quandoas frutas apresentarem de 8 a 12 mm dediâmetro. A dosagem varia de 500 a

1000 ppm para as cvs. Gala e Fuji,dependendo da intensidade de raleiodesejada. É possível também na aplicaçãode Carbaryl, adicionar ANA 7,5 ppm emmistura de tanque, aumentando-se aintensidade do raleio. Para a realização doraleio químico, o produtor necessitadeterminar a plena floração.

Por conta da irregularidade da flora-ção, principalmente nas regiões de baixaaltitude, é difícil determinar a plena floraçãovisualmente. Para tanto, recomenda-semarcar um ramo, contar o número total degemas floríferas e duas vezes por semanacontar o número de gemas com no mínimouma flor aberta. Quando atingir 70% dasgemas com no mínimo uma flor aberta,considera-se chegada a data da plenafloração. Para uma melhor eficiência naaplicação dos raleantes químicos, atemperatura ambiente deve ser superior a20oC, porém não deve ultrapassar 28oC.Temperaturas baixas, reduzem a absorçãoe consequentemente a eficiência doproduto.

Raleio manual: consiste na retiradamanual das frutas em excesso, podendo-seutilizar uma tesoura de ponta fina parafacilitar o trabalho, especialmente na cv.Fuji. A principal vantagem do raleio manualé a seletividade das frutas a seremeliminadas, e sua principal desvantagem éa demora para a realização, o custo demão-de-obra e a inviabilidade de aplicação,no momento correto, especialmente em

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção96

grandes pomares. Deve-se dar preferênciaà retirada das frutas localizadas em gemasaxilares ou em esporões fracos e localizadasem locais sombreados da planta. O raleiomanual deve ser realizado de 30 a 40 diasapós a plena floração ou quando asfrutinhas atingirem entre 10 a 15 mm dediâmetro.

Os principais critérios para determinara quantidade de frutas por planta são o dametragem quadrada da silhueta da copa,também conhecido como capacidade deprodução (CP) bem como o do número defrutas por cacho floral e a distância entrefrutas. A CP é calculada medindo-se aaltura média da planta, multiplicada pelodiâmetro da copa (Fig.22). Para a cultivarGala, recomenda-se deixar de 100 a 120frutas por m2 de copa e para a cv. Fuji de140 a 150 frutas.

• Dar preferência a frutas maiores,bem formadas e sem defeitos;

• Nos botões florais que, no momentodo raleio estiverem com um lançamentovegetativo superior a 10 cm, podem-sedeixar 2 frutas.

• Nos botões florais com lançamentovegetativo inferior a 10 cm, ousimplesmente bem enfolhados, deixar umafruta.

• Nos botões florais mal enfolhados esem lançamento, não deixar nenhuma fruta.

• Nas regiões mais frias (altitudesacima de 1.200 m) recomenda-se deixaruma fruta por gema floral, distanciadaentre 8 a 12 cm uma fruta da outra. Nasregiões de menor altitude podem-se deixarde 2 a 3 frutas por gema floral localizadaem ramos com crescimento entre 10 e30 cm na cv. Gala e 2 frutas na cv. Fuji.Em gemas de esporões deixa-se uma frutapor inflorescência.

REGULADORESDE CRESCIMENTO

Por se tratar de uma cultura bastanteestudada e de cultivo intensivo em muitasregiões, diversos reguladores de crescimentotêm sido empregados na pomicultura. Porconceito, “reguladores de crescimento” sãosubstâncias sintéticas, de fórmula químicae/ou ação fisiológica semelhante à doshormônios, que, ao serem aplicadas sobre asplantas, afetam o seu metabolismo emdiferentes fases da fenologia das plantas.

Embora seja mencionado um grandenúmero de experiências com reguladoresde crescimento em macieira, algunsdestacam-se pelo efeito significativo naformação ou no crescimento da planta, naprodução e na qualidade da fruta e naviabilidade econômica do uso. Deve-seconsiderar, entretanto, que o efeito dosreguladores de crescimento é muitoinfluenciado por diversos fatores, comotemperatura, umidade relativa do ar,cultivar, vigor, frutificação efetiva, idadeda planta, momento de aplicação, luz,

Fig. 22. Silhueta da copa de uma planta demacieira utilizada para determinar acapacidade de produção (CP).Ilustração: Ebert et al, 1987.

Alguns critérios a serem obedecidosno raleio manual:

• Determinar o número de frutas quedeverão permanecer na planta de acordocom o tamanho da copa, do diâmetro dotronco, da carga do ano anterior, dohistórico do pomar, etc.

• Distribuir as frutas em toda a copa.• Ao retirar uma fruta, deixar o seu

pedúnculo, para evitar a queda dos frutasremanescentes.

97Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

entre outros. Os principais reguladores decrescimento para uso em macieiras são:

Formação de mudas em viveiro: aobtenção de mudas pré-formadas podeocorrer pelo uso de Promalina® (GA4+7 +6-Benziladenina), ou pela aplicação dessesreguladores em separado, em concen-trações de 150 a 500 ppm. Como efeitodessa aplicação, há a formação de ramoslaterais já no viveiro.

Quebra de dormência química emvirtude da insuficiência de frio: paraessa finalidade, é empregada a CianamidaHidrogenada (Dormex®), que, aplicadasobre gemas em final de dormência,aumenta a atividade respiratória das gemase estimula a brotação e a floração unifor-mes, compensando parcialmente a falta defrio para quebra da dormência. O óleomineral, por atuar como espalhante adesivoe veículo de penetração, aumenta aeficiência da cianamida hidrogenada.

Estimulação de floração abundan-te e uniforme: o uso de ethephon 5 a6 semanas após a plena floração podecontribuir para a melhor floração em plantasjovens ou adultas em alternância.

Raleio químico: com o raleioquímico, são melhorados a distribuição, aqualidade e o tamanho das frutas, bemcomo é reduzida a alternância de produçãoao longo dos anos. Os principais produtosutilizados para o raleio químico emmacieira são o ANA (Ácido naftalenoacé-tico), ANAm (Ácido Naftalenoacetamida),Carbaryl, Ethephon, 6-Benziladenina eÁcido Giberélico.

Aumento da frutificação efetiva:em algumas situações, pode ocorrer umabaixa frutificação efetiva natural e o seuaumento pode ser obtido com a aplicaçãode Thidiazuron (Dropp®) em concentra-ções de 5 a 10 ppm, durante a floração.O AVG (Amynoethoxivinylglycine ouRetain®) também tem aumentado a frutifi-cação efetiva em alguns casos.

Aumento do tamanho e melhoriada forma da fruta: com esta finalidade,pode ser empregada a Promalina®

(GA4+7 + Benziladenina), entre o início e aplena floração, a 2,5 L/ha. O Thidiazuron,quando aplicado na floração ou poucosdias após, também favorece o aumento dotamanho das frutas, embora freqüentemente,promova a formação de frutas assimétricas ede formato diferente do típico da cultivar.

Redução da ocorrência derusseting: a aplicação de Promalina® nofinal da floração, inserida em um programade adequado manejo da adubaçãonitrogenada, pode reduzir a ocorrência derusseting.

Controle do crescimento vegeta-tivo e estímulo do desenvolvimentode gemas floríferas: inibidores do cresci-mento, como as anti-giberelinas (Paclobu-trazol, Uniconazole e Proexa-dione Ca),apresentam-se promissores para a reduçãodo vigor e conseqüente aumento da ativi-dade reprodutiva (floração e frutificação).O Ethephon, quando empregado emconcentrações de 250 a 500 ppm, tambémproporciona a redução do crescimento deramos – por essa razão, deve ser utilizadoem plantas novas ou com frutas não-sensíveis ao raleio químico pelo etilenogerado.

Controle da queda prematura dasfrutas: com este objetivo, podem serutilizadas auxinas, como o ANA (20 ppm) ea Aminoethoxivinilglicina (Retain®).O ANA, porém, apresenta o inconvenientede acelerar a maturação e afetar negativa-mente a firmeza das frutas. O Retain® é umaminoácido que ocorre naturalmente nasplantas. Quando aplicado na planta, inibe abiossíntese de etileno, diminuindo a quedade frutas pré-colheita. A redução da quedapré-colheita é especialmente impor-tante nacv. Gala, na qual este problema é crítico.

Manejo da maturação das frutas:além da redução da queda de frutas empré-colheita, o Retain® atua atrasando amaturação, retardando a perda de firmezada fruta na frigoconservação, reduzindo aocorrência de pingo-de-mel e favorecendo,indiretamente, a coloração das frutas.

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção98

Observou-se que o uso de Retain® a125 g/ha + espalhante à base de silicone a0,05% atrasa o ponto de colheita de 10 a15 dias. Observou-se, ainda, que o Retain®

atrasou a degradação do amido, mantendoa resistência da polpa, mas influenciandopouco o teor de sólidos solúveis totais.Concentrações maiores podem atrasarainda mais a colheita, permitindo que hajaum aumento do peso médio das frutas,decorrente do maior tempo de crescimento.O uso do Retain® só é viável, porém, empomares de alta produtividade, paracompensar o custo do produto. O Ethephon,aplicado entre 2 a 3 semanas antes da colheitaestimada (200 a 300 ppm), em cultivaresprecoces ou de meia estação, pode aumentara coloração das frutas, por adiantar amaturação das frutas em 10 a 15 dias. Essetratamento, porém, acarreta a necessidadeda colheita e do consumo rápido da fruta.Como o Ethephon acelera a abscisão dasfrutas, é importante associar-se o ANA aotratamento como forma de reduzir a quedaem pré-colheita.

POLINIZAÇÃO

Das diversas fases que envolvem aprodução de maçã, pode-se dizer que apolinização e a fecundação são das maisimportantes e complexas. A polinizaçãoda macieira é cruzada, ou seja, é necessáriaa presença do pólen de uma segundacultivar para que ocorra a fecundação.Assim, um ponto importante é adistribuição das cultivares polinizadorasintercaladas com a cultivar principal. Umaquantidade adequada de pólen deverá estardisponível em toda a área do pomar parauma boa polinização cruzada e máximaeficiência na distribuição do pólen pelasabelhas.

É difícil estabelecer a distância entrea cultivar polinizadora e a cultivar a serpolinizada, visto que sua influência poderávariar de um ano para outro, conforme acultivar utilizada, a intensidade da floração,

a presença dos insetos polinizadores e operíodo de que se dispõe para efetuar apolinização.

Qualquer esquema de distribuiçãodeve prever no mínimo 10% de plantaspolinizadoras. Em esquemas que envolvemmenos de 20% de polinizadoras, elas sedistribuem na fila da cultivar produtora.Nos plantios em alta densidade, com maisde 1500 plantas por hectare, também deve-se utilizar a polinizadora na fila da cultivarprodutora.

Alguns esquemas de distribuição,visando a uma adequada polinização,podem ser vistos na Fig. 23. Os planos 1,2 e 5 são utilizados quando não se dispõede uma cultivar principal, sendo consi-deradas ambas produtoras, enquanto osplanos 3, 4, 6 e 7 envolvem uma cultivarprincipal e uma ou duas secundárias, porémconsideradas também cultivares produtoras.Os planos que envolvem somente duascultivares produtoras deverão ser comple-tados com uma terceira cultivar polinizadora,que deverá participar com 5% do número deplantas do pomar.

Os planos 8, 9, 10 e 11 são utilizadosquando se dispõe de uma cultivar principal,nos chamados plantios em blocos. Parafacilitar o manejo do pomar, principalmentenos plantios em blocos, as polinizadorasdeverão ser de maturação antecipada oucoincidente com a da cultivar principal,excluindo as polinizadoras com maturaçãoposterior, para evitar que uma baixaporcentagem de plantas ainda requeressemos tratamentos fitossanitários, onerando,assim, o custo da produção.

As cultivares polinizadoras devem sercompatíveis entre si. Os casos mais comunsde incompatibilidade são as cultivarestriplóides, a exemplo das cvs. Mutsu eJonagold, não servem como polinizadoras, ecultivares provenientes de mutações quenão são efetivas em polinizar as cultivaresque as originaram. No caso de mutações,podem-se citar as cvs. Gala e Royal Gala eFuji e Fuji Suprema, que são incompatíveis

99Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Fig. 23. Esquemas de plantio com a distribuição das polinizadoras.Ilustração: Petri., J. L., 1986.

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção100

entre si. Nos casos de incompatibilidade, osgrãos de pólen, quando depositados noestigma da outra cultivar, não germinam ou,se germinam, têm um crescimento do tubopolínico muito lento, não possibilitando afecundação.

O período de floração deve ser coinci-dente entre as cultivares interplantadas. NasFig. 24, 25 e 26, são apresentados os períodosde floração das principais cultivares de ma-cieira plantadas no Sul do Brasil. As cultivaresque apresentam problemas de alternância defloração, não devem ser utilizadas comopolinizadoras, pois em anos de alternância, abaixa densidade de floração leva a umainadequada polinização, por falta de pólen.

As cultivares polinizadoras tambémdevem apresentar precocidade de floração,para não ocorrerem problemas de falta de

pólen nos primeiros anos de implantaçãodo pomar.

Um aspecto essencial na polinizaçãoé a transferência dos grãos de pólen para oestigma, atividade realizada quase queexclusivamente por insetos, destacando-se as abelhas (Fig. 27).

As abelhas sociais Apis melifera,meliponíneos, mamangavas e as abelhassolitárias, são insetos polinizadores maisabundantes e eficientes nos pomares demacieira no Sul do Brasil. Sua importânciapode ser vista na Tabela 31. Em geral, asabelhas não se deslocam a grandes distâncias,atingindo um raio de ação não superior a300 m. Esta distância, bem como asatividades de vôo, é afetada pelas condiçõesambientais, entre as quais destaca-se atemperatura, a velocidade dos ventos, anebulosidade e a radiação solar.

Época de floração

Gala

Granny Smith

Fuji

Golden Delicious

Setembro

Fig. 25. Período de floração de algumas cultivares de macieira em São Joaquim, SC. Altitude média de 1.200 m.

Agosto NovembroOutubro

05 10 15 20 25 30

Cultivar

05 10 15 20 25 30 05 10 15 20 25 30 05 10

Época de floração

Duquesa

Princesa

Fred Hough

Fuji

Gala

Granny Smith

Mollies Delicious

Golden Delicious

Setembro

Fig. 24. Período de floração de algumas cultivares de macieira em Caçador, SC. Altitude média de 940 m.

Agosto NovembroOutubro

05 10 15 20 25 30

Cultivar

05 10 15 20 25 30 05 10 15 20 25 30 05 10

101Frutas do Brasil, 37 Maçã Produção

Época de floração

Condessa

Princesa

Fred Hough

Fuji

Gala e mutações

Imperatriz

Mollies Delicious

Golden Delicious

Setembro

Fig. 26. Período de floração de algumas cultivares de macieira em Vacaria, RS. Altitude média de 940 m.

Agosto NovembroOutubro

05 10 15 20 25 30

Cultivar

05 10 15 20 25 30 05 10 15 20 25 30 05 10

adultas, esse referencial pode ser consi-derado adequado quando 20 a 25 abelhasvisitam as flores em um minuto ou 4 abelhaspor minuto, em uma área da planta comaproximadamente 100 cachos florais.

O número de colméias a ser colocadono pomar depende do tamanho da colméia,da intensidade da floração, das condiçõesclimáticas, do número e do arranjo dascultivares polinizadoras e da densidade deplantio. Em condições normais, recomen-dam-se de 2 a 4 colmeias por hectare.No arranjo das colmeias, deve-se agrupá-las em 4 a 6 caixas a intervalos de 150 mpara pomares de até 20 ha; em áreas maiorespodem ser agrupadas de 8 a 16 colmeiasdistanciadas 150 a 250 m. Para facilitar omanejo, deve-se localizá-las próximo dasvias de acesso ao pomar. As abelhas devemser trazidas para o pomar quando asprimeiras flores abrirem e deverão ser

Fig. 27. Atividade de abelha na polinizaçãode macieira cv. Gala.

Foto

: L. P

. Cou

ro

Tabela 4. Influência das abelhas sobre a polinização da macieira cv. Golden Delicious. Fraiburgo, SC.

Fonte: Wiese, 1974

Total de floresFlores frutificadasFrutificação efetiva (%)Frutas colhidasPeso total - kg

Variável Polinização sem abelhas

4.125601,45.07,49

Polinização com abelhas

2.7511.00636,61.745125,82

É fundamental ao fruticultor avaliar aefetividade das abelhas em visitar as floresda macieira. Isso pode ser feito contando-se em dez plantas o número de abelhas quevisitam as flores em um minuto. Em plantas

Frutas do Brasil, 37Maçã Produção102

retiradas logo após o final da floração.Durante o período em que as abelhasestiverem no pomar, devem-se utilizarprodutos seletivos ou menos tóxicos àsabelhas.

Em pomares implantados, onde não háadequada suplementação de pólen para queocorra a polinização cruzada, são necessáriasmedidas corretivas como a sobre-enxertia, ouso de bouquets e a polinização manual. Taismedidas, embora possam apresentar algumaeficiência, sempre são paliativas, indicandoa importância do planejamento do pomarpara uma adequada distribuição e frequênciade polinizadoras.

A sobre-enxertia consiste em enxertarramos de uma cultivar polinizadora naplanta da cultivar produtora (Fig. 28).A sobre-enxertia deve ser feita no terçomédio da planta e no lado de maior inso-lação. A porcentagem de plantas a seremsobre-enxertadas vai depender da intensi-dade do problema, porém deve serexecutada no mínimo em 20% das plantas.Em pomares com sobre-enxertia, recomen-da-se marcar os ramos sobre-enxertados comuma fita, para evitar cortá-los na poda.

Bouquets são ramos de macieira dacultivar polinizadora com flores abertas ebotões florais que são colocados em sacosplásticos ou latas com água. Os bouquetsdevem ser trocados quando não houvermais flores para abrir (Fig. 29).

A polinização manual consiste naaplicação direta do pólen sobre a flor, feitapelo homem. Devem-se coletar as floresda cultivar polinizadora no estádio de balãoou flores recém-abertas. Separam-se asanteras das flores e seca-se à temperaturade 20oC a 25oC durante 48 horas, nasombra. Após a secagem, o pólen deve sercolocado em frasco de vidro com tampa dealgodão e conservado em refrigerador ou àtemperatura de 18oC negativo, se forconservado por mais de 15 dias. A polini-zação manual poderá ser feita com algodão,cotonete ou plumas de ganso. A polinizaçãoé feita tocando-se no estigma da flor a serpolinizada. A polinização manual deve serrealizada em 20% das flores, dando-sepreferência à flor central do cacho floral eàs situadas na parte sombreada da planta.

Fig. 28. Planta de macieira sobre-enxer-tada.

Foto

: A. H

offm

ann

Fig. 29. Uso de bouquets na fecundação deflores de macieira.

Foto

: J. L

. Pet

ri