tratamento inseticida para controle de pragas...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SEMENTES
TRATAMENTO INSETICIDA PARA CONTROLE DE PRAGAS DO ARMAZENAMENTO E A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES
DE TRIGO
CAIRO CEZAR FERREIRA
Pelotas, 2012
ii
CAIRO CEZAR FERREIRA
TRATAMENTO INSETICIDA PARA CONTROLE DE PRAGAS DO ARMAZENAMENTO E A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES
DE TRIGO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da Universidade Federal de Pelotas, sob a orientação do Professor Dr. Francisco Amaral Villela como requisito parcial à obtenção do título de Mestre Profissional.
Pelotas, 2012
iii
F383t Ferreira, Cairo Cezar
Tratamento inseticida para controle de pragas do
armazenamento e a qualidade fisiológica de sementes
de trigo / Cairo Cezar Ferreira ; orientador Francisco
Amaral Villela - Pelotas,2012.-32f. : il..- Dissertação
(Mestrado Profissionalizante ) –Programa de Pós-
Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes.
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel . Universidade
Federal de Pelotas. Pelotas, 2012.
1.Triticum aestivum 2.Expurgo 3.Conservação
4.Qualidade de sementes I.Villela, Francisco
Amaral(orientador) II.Título.
CDD 633.11
iv
CAIRO CEZAR FERREIRA
TRATAMENTO INSETICIDA PARA CONTROLE DE PRAGAS DO ARMAZENAMENTO E A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES
DE TRIGO
BANCA EXAMINADORA
________________________________________ Professor Dr. Francisco Amaral Villela
Orientador
________________________________________ Engenheiro Agrônomo Dr. Géri Eduardo Meneghello
________________________________________ Professor Dr. Nilson Lemos de Menezes
________________________________________ Professor Dr. Demócrito Amorim Chiesa Freitas
v
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho em especial para minha esposa Deyse, meus filhos
Lívia, Luciano e Laís. Para minha nora, Mirian e para meus netos Matheus e
Amanda.
vi
AGRADECIMENTOS
À minha família
Aos amigos
Professor Dr. Francisco Amaral Villela
Dr. Irineu Lorini
Dr. Luiz Carlos Miranda
Dr. Ronaldo Pereira de Andrade
Dr. José Roberto Rodrigues Peres
Sr. Anderson Alves da Fonseca
Ao Deivide Rodrigues Fernandes
Ao Paulo Henrique Zempulski Maranha
À Kelly Catharin
À Vilma Cardoso Luiz Stroka
Aos colegas de turma
vii
TRATAMENTO INSETICIDA PARA CONTROLE DE PRAGAS DO
ARMAZENAMENTO E A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE TRIGO
Autor: Cairo Cezar Ferreira Orientador: Prof. Dr. Francisco Amaral Villela Co-orientador: Eng. Agr. Dr. Irineu Lorini RESUMO - Os insetos-pragas de armazenamento são limitadores da conservação
de sementes de trigo, pois danificam o produto dificultando ou inviabilizando sua utilização, causando perdas qualitativas e quantitativas. As sementes requerem o uso de medidas preventivas, caso não estejam infestadas e curativas se infestadas por insetos-pragas, para garantir a preservação da qualidade fisiológica e sanitária durante o período de armazenamento. Visando determinar o efeito do tratamento inseticida durante o armazenamento, sobre a qualidade fisiológica das sementes de trigo, foram segregados quatro lotes de sementes de trigo, cultivar BRS 210. Os tratamentos consistiram em: a) testemunha sem aplicação de inseticida; b) expurgo com fosfina na dose de 2,0 g de i.a. /m3; c) tratamento químico líquido, usando pirimiphos-methyl a 6 g de i.a./t (12 mL de Actellic 500 EC/t) + bifenthrin a 0,4 g de i.a./t (16 mL de ProStore 25 CE/t); e d) pó inerte, usando terra de diatomáceas a 860 g.i.a./t (Keepdry a 1000 g/t). Para o expurgo foi monitorada a concentração de fosfina, usando o medidor de concentração Silo Chek. Quinzenalmente, foi monitorada a presença de insetos-pragas de sementes armazenadas. Mensalmente, foram realizados os testes de germinação em laboratório, emergência em areia em casa de vegetação e de envelhecimento acelerado em laboratório. Os tratamentos com inseticidas foram eficazes na prevenção e controle dos insetos-pragas de sementes. O monitoramento do gás fosfina durante o expurgo demonstrou a manutenção da concentração mínima necessária para eliminar todas as fases de vida dos insetos-pragas. Os inseticidas químicos e a terra de diatomáceas não permitiram o desenvolvimento de insetos-pragas e os tratamentos com inseticidas não afetaram negativamente a qualidade fisiológica das sementes de trigo durante o armazenamento das sementes. Termos para indexação: Triticum aestivum, expurgo, conservação, qualidade de sementes
viii
INSECTICIDE TREATMENT FOR CONTROL OF STORAGE PESTS AND PHYSIOLOGICAL QUALITY OF SEEDS WHEAT
Author: Cairo Cezar Ferreira Advisor: Dr. Francisco Amaral Villela
ABSTRACT - The pest-insects of storage are limiters the conservation of wheat
seeds, because damage the product or invalidate their use, causing qualitative and quantitative losses. The seeds require the use of preventive measures if they are not infested and curatives when infested by pest-insects to ensure the preservation of physiological and sanitary quality during storage. In order to determine the effect of insecticide treatment on the physiological quality of wheat seeds during storage, were segregated four lots, BRS 210. Treatments consisted: a) control without insecticide application b) expurgation with phosphine at a dose of 2.0 g i.a/m3; c) liquid chemical treatment, using Pirimiphos-methyl to 6 g i.a/t (12 mL Actellic of 500 EC/t) Bifenthrin 0.4 g i.a/t (16 ml ProStore 25 EC / t); d) inert powder using diatomaceous earth to 860 gy/t (Keepdry to 1000 g/t). Expurgation was monitored by concentration of phosphine using the concentration meter Silo Chek. Fortnightly, was monitored the presence of pests-insects in stored seeds. Monthly, were conducted in laboratory germination test, emergence in sand at greenhouse and laboratory accelerated aging. The treatments with insecticides were effective in the prevention and control of pest-insects in seeds. The monitoring of phosphine gas during expurgation demonstrated the maintenance of minimum concentration required to supress life stages of the pest-insects. The chemical insecticides and diatomaceous earth did not allow the development of pest-insects and insecticide treatments did not affect the physiological quality of wheat seeds during storage. Index terms: Triticum aestivum, expurgation, conservation, seed quality
ix
SUMÁRIO
Página
RESUMO .......................................................................................................... vi
ABSTRACT ...................................................................................................... vii
SUMÁRIO ......................................................................................................... viii
1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 09
2 – REVISÂO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 10
2.1 – Pragas de Armazenamento ................................................................ 10
2.2 – Métodos de Controle de Insetos-pragas de armazenamento ............. 16
3 – MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 21
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 24
5 – CONCLUSÃO ............................................................................................. 28
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 29
10
1 – INTRODUÇÃO
O trigo constitui-se num dos mais importantes cereais cultivados,
representando cerca de 30% da produção mundial de cereais. O cultivo de trigo
contribui para a viabilização econômica da propriedade produtora de milho e soja e
auxilia a melhoria do solo, pela incorporação de restos culturais.
Pesquisas na área de sementes permitiram aumentar a área cultivada e o
rendimento da cultura de trigo. Hoje, o Brasil produz cerca de seis milhões de
toneladas, importando mais quatro milhões para atender ao consumo interno
(ABITRIGO, 2012).
O trigo semeado na região meridional do Brasil (Norte e Oeste do Paraná, Sul
e Sudoeste de São Paulo e Mato Grosso do Sul) tem apresentado problemas de
qualidade de sementes, especialmente em razão de ocorrência de chuvas no
período de pré-colheita e de danos mecânicos causados na colheita, secagem e
armazenamento, uma vez que o armazenamento ocorre no verão, recebendo
interferência de fatores como temperatura, umidade relativa do ar e insetos-pragas
de armazenamento (OHLSON et al., 2010).
Dentre os insetos-pragas de armazenamento, em especial Sitophilus zeamais,
S. oryzae, Rhyzopertha dominica, Ephestia kuehniella e Ephestia elutella podem ser
responsáveis pela deterioração física, fisiológica e sanitária do lote de sementes no
armazenamento (LORINI, 2008).
Dependendo das condições ambientais de armazenamento, especialmente em
sementes de trigo, ocorre incremento da incidência de insetos-pragas, o que exige a
adoção de medidas preventivas e corretivas de controle de insetos-pragas para
evitar ou minimizar danos causados às sementes armazenadas.
O emprego de expurgo, o tratamento de sementes com inseticidas e o uso de
terra de diatomáceas, podem constituir-se em técnicas eficientes no controle de
insetos-pragas durante o armazenamento de sementes de trigo.
Desta forma o presente trabalho teve como objetivo determinar o efeito dos
tratamentos inseticidas, aplicados para controle de insetos-pragas durante o
armazenamento, na qualidade fisiológica das sementes de trigo.
11
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O trigo está presente na alimentação humana há cerca de 10 mil anos. Em sua
trajetória, na história da humanidade, o trigo tem papel decisivo também na invenção
da escrita: segundo a história, a escrita foi criada pelos sumérios como forma de
registrar e controlar o comércio dos excedentes de alimentos, entre estes, o trigo.
Da região da Mesopotâmia, o trigo distribui-se pelo mundo. Os chineses já
conheciam o trigo cerca de dois mil anos antes de Cristo. Produziam farinha,
macarrões e pastéis. No século XIII, Marco Pólo esteve na China e levou o macarrão
para a Itália.
Na Europa, o cultivo do trigo expandiu-se nas regiões mais frias, como Rússia
e Polônia. Pelas mãos dos europeus, no século XV, o trigo alcançou as Américas
(ABITRIGO, 2012).
No Brasil, o trigo chegou em 1534, trazido por Martim Afonso de Souza, que
desembarcou na capitania de São Vicente. Todavia, o clima quente dificultou a
expansão da cultura. Cartas dos colonizadores registraram a falta do trigo e
reclamaram dos pães preparados com farinha de mandioca.
Somente na segunda metade do século XVIII, a cultura do trigo começou a
desenvolver-se no Rio Grande do Sul. Mas, no começo do século XIX, a ferrugem
dizimou os trigais. O cultivo só foi retomado na década de 1920.
A partir da década de 1940, as áreas de cultivo de trigo começaram a se
expandir no Rio Grande do Sul e no Paraná, que se transformou no principal Estado
produtor no Brasil.
O trigo é um dos principais cultivos produzidos no mundo, com
aproximadamente 30% da produção mundial de cereais. O principal produtor é a
China com participação aproximada de 17,7% na safra 2011, já a participação do
Brasil foi de apenas 0,9% (ABITRIGO, 2012).
2.1 - PRAGAS DE ARMAZENAMENTO
Dentre os insetos-pragas de armazenamento, em especial Sitophilus zeamais,
S. oryzae, Rhyzopertha dominica, Ephestia kuehniella e Ephestia elutella podem ser
responsáveis pela deterioração física do lote de sementes no armazenamento
(LORINI, 2008).
12
O conhecimento dos hábitos alimentares de cada inseto-praga constitui fator
importante para definir o manejo a ser aplicado durante o período de
armazenamento. Segundo esse hábito, os insetos-pragas podem ser classificados
em primários ou secundários.
Os insetos-pragas primários atacam sementes e grãos inteiros e sadios e
dependendo da parte que atacam podem ser denominados insetos-pragas primários
internos ou externos. Os primários internos perfuram as sementes e nestas
penetram para completar seu desenvolvimento. Alimentam-se de todo o tecido de
reserva da semente e possibilitam a instalação de outros agentes de deterioração.
Exemplos desses insetos-pragas são as espécies Rhyzopertha dominica, Sitophilus
oryzae e Sitophilus zeamais. Os insetos-pragas primários externos destroem a parte
exterior da semente (cobertura protetora) e, posteriormente, alimentam-se da parte
interna sem, no entanto, se desenvolverem no interior. Há destruição da semente
apenas para fins de alimentação. Como exemplo cita-se a Plodia interpunctella
(LORINI, 2008).
Os insetos-pragas secundários não conseguem atacar sementes e grãos
inteiros, pois dependem que estes estejam danificados ou quebrados para que
possam alimentar-se. Esses insetos-pragas encontram-se nas sementes trincadas,
quebradas ou mesmo danificadas por insetos-pragas primários e, geralmente,
ocorrem desde o período de recebimento até o de beneficiamento dos lotes de
sementes. Multiplicam-se rapidamente e causam prejuízos elevados. Como
exemplos citam-se as espécies Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis
e Tribolium castaneum (LORINI, 2008).
Além de insetos-pragas, há roedores e pássaros causadores de perdas,
principalmente qualitativas, pela sujeira que deixam no produto final, que também
devem ser considerados no manejo integrado de pragas (MIP).
A descrição, a biologia e os danos de cada inseto-praga devem ser
conhecidos, para que seja adotada a melhor estratégia para evitar os respectivos
prejuízos. Tais informações encontram-se detalhadas no trabalho de Lorini et al
(2009), como descrito a seguir: existem dois principais grupos de insetos-pragas que
atacam as sementes de trigo armazenadas, besouros e traças. Entre os besouros
encontram-se as espécies: R. dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais. As espécies
de traças mais importantes são Sitotroga cerealella, Ephestia kuehniella e Ephestia
13
elutella. Entre esses insetos-pragas, R. dominica, S. oryzae e S. zeamais são os
mais preocupantes economicamente e justificam a maior parte do controle químico
praticado nos armazéns de sementes.
A seguir, serão apresentadas descrições, biologias e danos causados pelos
principais insetos-pragas de armazenamento de sementes de trigo:
Rhyzopertha dominica (Coleoptera, Bostrichidae) - besourinho dos cereais
a) Descrição e biologia
Os adultos são besouros de 2,3 mm a 2,8 mm de comprimento, de cor
castanho-escura, corpo cilíndrico e cabeça globular, normalmente escondida pelo
protórax (Figura 1). A cor das pupas varia de branca, inicialmente, a castanha,
próximo à emergência dos adultos; possuem 3,9 mm de comprimento e 1,0 mm de
largura do corpo, aproximadamente. As larvas são de cor branca, com cabeça
escura, e medem cerca de 2,8 mm se completamente desenvolvidas. Os ovos são
cilíndricos, embora variáveis na forma, inicialmente brancos e posteriormente
rosados e opacos, com 0,59 mm de comprimento e 0,2 mm de diâmetro (POTTER,
1935).
O período de incubação, variável em função da temperatura, é de 15,5 dias a
26 °C (POTTER, 1935) e de 4,5 dias a 36 °C (BIRCH e SNOWBALL, 1945). Os ovos
podem ser colocados em grupos ou isolados, em fendas ou rachaduras das
sementes ou mesmo na própria massa de sementes (POY, 1991). A duração do
período larval é de aproximadamente 22 dias, o período de pupa é de 5 dias e a
longevidade dos adultos atinge 29 dias a 30 °C e 70% de umidade relativa. O ciclo
de vida do inseto-praga é de aproximadamente 60 dias. A fêmea tem fecundidade
média de até 250 ovos (ALMEIDA e POY, 1994; POY, 1991), a qual depende da
qualidade do alimento e das condições de temperatura e de umidade.
b) Danos
Esse inseto-praga primário interno possui elevado potencial de destruição em
sementes e grãos de trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio e triticale, sendo
capaz de destruir de 5 a 6 vezes seu próprio peso em uma semana (POY, 1991). É
o principal inseto-praga na armazenagem no Brasil, em razão da incidência e da
grande dificuldade de se evitar os prejuízos que causa aos produtos.
14
Deixa as sementes perfuradas e com grande quantidade de resíduos na forma
de farinha, decorrentes do hábito alimentar. Tanto adultos como larvas causam
danos às sementes armazenadas. Possui grande número de hospedeiros, e
adaptam-se rapidamente às mais diversas condições climáticas, sobrevivendo
mesmo em extremos de temperatura.
Figura 1. Inseto adulto de Rhyzopertha dominica (Coleoptera, Bostrichidae)
Sitophilus oryzae e S. zeamais (Coleoptera, Curculionidae) - gorgulhos dos cereais
a) Descrição e biologia
Essas duas espécies são muito semelhantes em caracteres morfológicos e
podem ser distinguidas somente pelo estudo da genitália. Ambas podem ocorrer
juntas no mesmo lote de sementes, independentemente da espécie de semente.
Os adultos são gorgulhos de 2,0 a 3,5 mm de comprimento, de cor castanho-
escura, com manchas mais claras nos élitros (asas anteriores), visíveis logo após a
emergência. Têm a cabeça projetada à frente, na forma de face curvada (Figura 2).
Nos machos, a face é mais curta e grossa, e nas fêmeas, mais longa e afilada. As
larvas são de cor amarelo-clara, com a cabeça de cor marrom-escura, e as pupas
são brancas (MOUND, 1989; BOOTH et al., 1990). O período de oviposição é de
104 dias e o número médio de ovos por fêmea é de 282. A longevidade das fêmeas
é de 140 dias. O período de incubação oscila entre 3 e 6 dias e o ciclo de ovo até a
emergência de adultos é de 34 dias (LORINI e SCHNEIDER, 1994; LORINI, 2008).
b) Danos
Inseto-praga primário interno de grande importância que pode apresentar
15
infestação cruzada, ou seja, infestar sementes no campo e também no armazém,
onde penetra profundamente na massa de sementes. Apresenta elevado potencial
de reprodução, possui muitos hospedeiros, como trigo, milho, arroz, cevada, triticale
e aveia. Tanto larvas como adultos são prejudiciais e atacam sementes inteiras. A
postura é feita dentro da semente; as larvas, após o desenvolvimento, tornam-se
pupa e transformam em adultos. Os danos decorrem da redução de peso e de
qualidade física e fisiológica da semente (LORINI, 2008).
Figura 2. Inseto adulto de Sitophilus oryzae (Coleoptera, Curculionidae)
Sitotroga cerealella (Lepidoptera, Gelechiidae) - traça dos cereais
a) Descrição e biologia
Os adultos (Figura 3) são mariposas com 10 mm a 15 mm de envergadura e 6
a 8 mm de comprimento. As asas anteriores são cor de palha, com franjas, e as
posteriores são mais claras, com franjas maiores. Vivem de 6 a 10 dias. Os ovos são
colocados sobre as sementes, preferencialmente naquelas danificadas e/ou
fendidas. A fêmea pode ovipositar de 40 a 280 ovos, dependendo do substrato.
Após a eclosão, as larvas penetram no interior das sementes, onde se alimentam e
completam a fase larval, que se estende por, aproximadamente, 15 dias. As larvas
podem atingir 6 mm de comprimento e possuem cor branca com as mandíbulas
escuras. A pupa varia de cor desde branca, no início, a marrom-escura, próximo à
emergência do adulto. O período de ovo a adulto dura, em média, 30 dias (LORINI,
2008).
16
b) Danos
Inseto-praga que ataca sementes intactas (primária), porém afeta mais a
superfície do lote de sementes. As larvas destroem a semente, alterando o peso e a
qualidade. Também atacam as farinhas, nas quais se desenvolvem, causando
deterioração de produto pronto para consumo.
Figura 3. Inseto adulto de Sitotroga cerealella (Lepidoptera, Gelechiidae)
Ephestia kuehniella e E. elutella (Lepidoptera, Pyralidae) - traças
a) Descrição e biologia
As duas espécies são muito semelhantes. Os adultos (Figuras 4 e 5) são
mariposas de cor parda, com 20 mm de envergadura, com asas anteriores longas e
estreitas, de cor acinzentada, com manchas transversais cinza-escuras. As asas
posteriores são mais claras. A fêmea oviposita de 200 a 300 ovos. As larvas atingem
até 15 mm de comprimento; possuem cor rosada e pernas e cabeça castanhas;
tecem um casulo de seda, em cujo interior desenvolve-se a pupa. O período de ovo
a adulto estende-se por aproximadamente 40 dias. O período de incubação dura
cerca de 3 dias, a fase larval 32 dias, a fase de pupa 7 dias e a longevidade de
adultos é de aproximadamente 15 dias (LORINI e SCHNEIDER, 1994; LORINI,
2008).
b) Danos
Insetos-pragas secundários cujas larvas desenvolvem-se sobre resíduos de
grãos e de farinhas deixados pela ação de outros insetos-pragas. Seu ataque
prejudica a qualidade das sementes armazenadas, devido à formação de uma teia
sobre a massa de sementes ou mesmo nas sacarias durante o armazenamento.
Penetra no interior dos lotes de sementes, fazendo a postura nas costuras da
sacaria ou “bags”. Este inseto-praga é responsável pela grande quantidade de
17
tratamentos em termonebulização nas UBS, durante o período de armazenamento
dos lotes de semente.
Figura 4. Inseto adulto de Ephestia kuehniella (Lepidoptera, Pyralidae)
Figura 5. Inseto adulto de Ephestia elutella (Lepidoptera, Pyralidae)
2.2 - MÉTODOS DE CONTROLE DE INSETOS-PRAGAS DE ARMAZENAMENTO
Os insetos-pragas que comumente infestam unidades de beneficiamento de
sementes precisam ser controlados para evitar os prejuízos à qualidade e à
comercialização das sementes. Para isto, é necessário medidas e métodos de
controle para evitar o ataque de insetos-pragas. Uma descrição destas medidas e
métodos de controle são encontrados nas publicações de Lorini (2008) e Lorini et al.
(2009). Entre estes é possível sintetizar o seguinte:
Limpeza das instalações
Uma das medidas mais antigas, eficientes e imprescindíveis ao combate dos
insetos-pragas que atacam as sementes armazenadas – embora muitas vezes não é
levada a sério por grande maioria de unidades armazenadoras – é,
indiscutivelmente, a adequada e permanente limpeza e higienização das instalações
de armazenamento.
Assim, antes de iniciar uma nova safra ou o recebimento de novos produtos,
deve-se efetuar uma adequada limpeza de todas as instalações de armazenamento,
ou seja, dos silos, armazéns, depósitos e moegas, assim como de todas as
máquinas, equipamentos, correias transportadoras, elevadores (incluindo os poços),
18
passarelas, dutos e túneis. Alem disso, a varredura e, se possível lavagem, de pisos,
escadas, pátios e áreas de estacionamento, escovadas as paredes internas e
externas e removidos todos os resíduos de grãos, incrustações, poeiras, detritos e
restos de safras anteriores. O uso de ar comprimido e de aspiradores pneumáticos
pode contribuir bastante para o bom êxito das operações de limpeza.
Esses detritos nunca devem ser simplesmente amontoados nas proximidades e
sim, queimados ou enterrados. Do contrário, constituir-se-ão inevitavelmente, no
principal foco de infestação dos novos produtos estocados, pois os insetos-pragas
existentes, em sua grande maioria, têm capacidade de voo (STRESSER, 2012).
Limpeza e secagem das sementes
É sabido, que de um modo geral o trigo pode ser atacado por insetos-pragas
ainda nas próprias lavouras. Por isso, na amostragem que se procede na recepção
do produto, especial atenção deve ser dada à eventual presença de insetos-pragas.
As cargas infestadas devem ser preferentemente separadas e desinfestadas.
Redobrado cuidado deve ser tomado no caso de recebimento de produtos que estão
sendo transferidos de outros locais de armazenamento, em especial, os de safras
anteriores.
Jamais devem ser recolhidos nos armazéns, produtos que não estejam
perfeitamente secos. Uma única carga de grãos com umidade superior a 15%, que
seja recolhida num armazém graneleiro ou silo, certamente irá formar um "bolsão"
de calor, favorável ao desenvolvimento de insetos-pragas e fungos.
A mesma prática aplica-se também à limpeza das sementes, visto que as
impurezas também favorecem as infestações e a multiplicação de insetos-pragas.
Em resumo, deve sempre prevalecer a regra básica para um adequado
armazenamento: o produto tem que estar seco, isento de insetos-pragas e limpo
(STRESSER, 2012).
Inseticidas químicos líquidos (tratamento preventivo)
O controle químico de insetos-pragas de grãos armazenados é realizado,
normalmente, com inseticidas protetores, que apesar de eficazes podem causar
intoxicações aos aplicadores, presença de resíduos tóxicos nos grãos e o
19
desenvolvimento de populações de insetos-pragas resistentes (BENHALIMA et al.,
2004).
Um dos problemas que tem aumentado no Brasil refere-se à resistência de
pragas ao pequeno número de inseticidas registrados no país. Já foram detectadas
raças resistentes aos inseticidas químicos utilizados para controle. Torna-se,
portanto, urgente a necessidade de se fazer o manejo integrado de pragas, para que
se possa preservar estes inseticidas por maior tempo, devido à dificuldade de
substituição (LORINI, 2008).
Inseticida natural à base de terra de diatomáceas (tratamento preventivo)
Dentre os pós-inertes, os mais utilizados para o controle de insetos-pragas são
as argilas e areias, terra de diatomáceas, sílica aerogel (silicato de sódio) e não
derivados de sílica (rochas fosfatadas) (KLJAJIC et al., 2009). Dentre estes, a terra
de diatomáceas destaca-se no controle de insetos-pragas de grãos e sementes
armazenadas (LORINI et al., 2009).
A terra de diatomáceas é obtida de depósitos de carapaças de algas
diatomáceas oriundas da era Cenozóica, constituídas predominantemente de sílica
amorfa (dióxido de sílica). Existem aproximadamente 250 gêneros e 8.000 espécies
de algas diatomáceas, cujas carapaças ricas em sílica foram sendo depositadas há
mais ou menos 20 a 80 milhões de anos no fundo dos oceanos e lagos, formando
camadas que podem ter de poucos centímetros a centenas de metros. As camadas
depositadas principalmente em águas marinhas são extraídas e trituradas formando
um pó fino, semelhante a talco, que é utilizado no controle de insetos-pragas
(SUBRAMANYAM e ROESLI, 2000). Segundo os autores, a morte dos insetos-
pragas ocorre por dessecação provocada pela adsorção e abrasividade do pó inerte
que rompe a camada de cera da epicutícula dos insetos-pragas, fazendo com que
haja perda de água por desidratação.
Expurgo das sementes (tratamento curativo)
Para evitar o desenvolvimento ou eliminar insetos-pragas presentes na massa
de grãos e sementes, torna-se necessária a adoção de medidas de controle que
podem ser preventivas ou curativas. O tratamento curativo deve ser realizado
somente se houver a infestação de insetos-pragas, através de expurgos com fosfina,
20
cujos efeitos na qualidade fisiológica das sementes ainda não estão totalmente
elucidados (BRIDI et al., 2010).
Para que o expurgo seja eficaz na mortalidade de todas as fases de vida dos
insetos-pragas de sementes armazenadas é necessária uma concentração mínima
de 400 mg/dcm-3 de fosfina, por período mínimo de 120 horas (DAGLISH et al.,
2002). A liberação da fosfina proveniente da formulação comercial em pastilhas,
única com registro no país, é dependente da temperatura e umidade relativa do ar
no local de aplicação.
Quanto maior a temperatura e umidade relativa do ar, mais rapidamente a
concentração mínima necessária é atingida. Assim, a taxa de liberação do gás
fosfina proveniente das pastilhas fumigantes, determinarão o tempo necessário de
duração do expurgo para a mortalidade total dos insetos-pragas, uma vez que a
exigência anterior seja atendida (LORINI et al., 2011).
A distribuição do gás deve ser uniforme em todos os pontos da massa de
sementes a serem tratadas, controlando assim todos os insetos-pragas, nas suas
diferentes formas do ciclo de vida (LORINI et al., 2002).
A hermeticidade do local a ser expurgado, no caso lotes de sementes, deve ser
considerada para que se consiga esta concentração pelo tempo necessário para
garantir a eficácia do processo (LORINI et al., 2009).
Sumarizando os métodos de controle de insetos-pragas de sementes
armazenadas, verifica-se a necessidade e o uso adequado dos inseticidas
registrados para controle dos insetos-pragas. Detalhes sobre estes inseticidas, como
doses, nomes comerciais, intervalo de segurança, formulações, classe toxicológica e
empresa registrante, podem ser buscados no trabalho de LORINI et al. (2009),
apresentados na Tabela 1.
21
TABELA 1. Inseticidas indicados para tratamento preventivo e/ou curativo de insetos-pragas de sementes armazenadas. LORINI et al. (2009).
Nome Dose (i.a.) Nome comercial Dose
comercial/t
Formulação1 Concentração
(g i.a./l,kg)
Intervalo de
segurança2
Classe
toxicológica
Registrante
Fosfina3 2,0 g/m3 Gastoxin 6g PF 570 4 dias I Bernardo Química
2,0 g/m3 Phostek 6g PF 570 4 dias I Bernardo Química
2,0 g/m3 Gastoxin B-57 6g PF 570 4 dias I Bernardo Química
2,0 g/m3 Degesch Aluphos 6g PF 560 4 dias I Degesch do Brasil
2,0 g/m3 Degesch Fumicel 6g PF 560 4 dias I Degesch do Brasil
2,0 g/m3 Phostoxin 6g PF 560 4 dias I Detia Degesch
2,0 g/m3 Fertox 6g PF 560 4 dias I Fersol
2,0 g/m3 Fermag 6g PF 660 4 dias I Fersol
Terra de diatomácea 0,9-1,7kg/t Insecto 1-2kg/t Pó 867 - IV Bernardo Química
Terra de diatomácea 0,9-1,7kg/t Keepdry 1-2kg/t Pó 860 - IV Irrigação Dias Cruz
Deltamethrin 0,35-0,50 mg/dcm-3
K-Obiol 14-20 ml CE 25 30 dias III Bayer
Bifenthrin 0,40 mg/dcm-3 ProStore 16 ml CE 25 30 dias III FMC
Bifenthrin 0,40 mg/dcm-3 Starion 16 ml CE 25 30 dias III FMC
Fenitrothion 5,0-10,0 mg/dcm-3 Sumigran 10-20 ml CE 500 120 dias II Iharabras
Pirimiphos-methyl 4,0-8,0 mg/dcm-3 Actellic 8-16 ml CE 500 30 dias II Syngenta
1 CE = Concentrado emulsionável; PF = Pastilha fumigante; Pó = Pó seco. 2 Período entre a última aplicação e o consumo. 3 O período de exposição da fosfina é de, no mínimo, 168 horas, dependendo da temperatura e da umidade relativa do ar no armazém.
22
3 - MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado na Unidade de Beneficiamento de Sementes
(UBS) da Embrapa Produtos e Mercado do Escritório de Londrina, em casa de
vegetação e no laboratório de Análise de Sementes da Embrapa Soja, localizados
no município de Londrina, PR. O período de duração do trabalho estendeu-se de
setembro de 2010 a agosto de 2011.
As sementes foram colhidas em setembro de 2010, com umidade média de
13%. Na UBS, foram pré-limpas e armazenadas em silos ventiláveis até serem
beneficiadas e tratadas em dezembro de 2010.
Após o beneficiamento, foram segregados quatro lotes de sementes de trigo,
cultivar BRS 210, produzidos na safra 2010/2010 e aplicados os tratamentos
inseticidas em três, cada um com 1.850 kg, acondicionados em sacaria de papel
multifoliado com capacidade para 25 kg, deixando o quarto lote, de 25 kg, como
testemunha sem aplicação de inseticida.
Os tratamentos consistiram em:
a) Expurgo com fosfina na dose de 2,0 g de i.a. /m3 (2 pastilhas de 3 g cada de
Fertox/ m3). Depois de beneficiadas e ensacadas, as sementes foram cobertas com
lona de expurgo e colocados pesos do tipo “cobras de areia” ao redor do lote
garantindo a hermeticidade. As pastilhas foram colocadas em caixinhas medindo
10X10X10 cm nos dois lados do lote, no piso do armazém. Durante o expurgo de
216 horas foi monitorada a concentração do gás fosfina, diariamente, medindo a
quantidade de gás liberado pelas pastilhas fumigantes. Para medição foi usado o
medidor de concentração Silo Chek, cuja leitura máxima é de 2.000 mg/dcm-3.
b) Tratamento químico líquido aplicado logo após o beneficiamento das
sementes, usando pirimiphos-methyl a 6 g de i.a./t (12 mL de Actellic 500 EC/t) +
bifenthrin a 0,4 g de i.a./t (16 mL de ProStore 25 CE/t). Para aplicação dos
inseticidas nas sementes foi usado o tratador modelo Grazmec, de modo que as
sementes receberam a calda inseticida, no volume de 2,0 l/t, à medida que eram
homogeneizadas no tratador e, posteriormente, embaladas em sacarias valvuladas
de papel multifoliado e formados os blocos;
c) Pó inerte aplicado logo após o beneficiamento das sementes, usando terra
de diatomáceas a 860 g.i.a./t (Keepdry a 1000 g/t). Para aplicação da terra de
23
diatomáceas nas sementes foi usado o tratador modelo Grazmec, de forma que as
sementes receberam o pó inerte dentro de um duto com helicóide, na quantidade de
1000 g de Keepdry/t de sementes. Depois de homogeneizadas no tratador foram
embaladas em sacarias valvuladas de papel multifoliado e formados os blocos.
Após o tratamento e a formação dos blocos, as sementes foram armazenadas
sob condições ambientais não controladas de temperatura e umidade relativa do ar,
por um período de seis meses, de dezembro de 2010 a julho de 2011.
Foi monitorada a presença de insetos-pragas de sementes armazenadas,
através da ficha de monitoramento de pragas, realizada quinzenalmente durante
todo o período experimental.
Para avaliação da germinação, emergência e vigor (envelhecimento
acelerado), mensalmente foram coletadas amostras nos quatro lotes de sementes e
levadas ao Laboratório de Análise de Sementes e à casa de vegetação. As amostras
de cada lote de sementes foram provenientes de 15 subamostras, retiradas com
calador simples, formando uma amostra representativa do lote.
Nos lotes de sementes tratados com inseticidas, as amostras foram retiradas
mensalmente no período de janeiro a julho de 2011. Todavia, no lote testemunha, as
amostras foram retiradas mensalmente no período de janeiro a abril de 2011, uma
vez que o lote encontrava-se com elevada infestação por insetos-pragas, correndo-
se o risco de contaminação de toda a UBS e, por isto, foi descartado.
As amostras de sementes foram submetidas às seguintes avaliações:
Germinação – foram realizadas utilizando-se rolos de papel, com quatro
subamostras de 50 sementes cada, semeadas entre quatro folhas de papel
substrato, umedecidas com quantidade de água, equivalente a duas vezes e meia o
peso do substrato seco, e colocadas em germinador a 20°C, em regime constante
de luz. As avaliações foram realizadas no oitavo dia após a semeadura, conforme as
Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009). Os resultados foram expressos
em porcentagem de plântulas normais.
Emergência em areia - foram empregadas quatro subamostras de 50
sementes, em caixas plásticas contendo uma camada de areia lavada esterilizada.
Foram efetuadas irrigações periódicas e as avaliações, realizadas em casa de
vegetação na Embrapa Soja em Londrina, após 10 dias da semeadura, por meio de
24
contagem das plântulas emergidas, sendo os resultados expressos em porcentagem
de plântulas emergidas.
Teste de envelhecimento acelerado - foi realizado com quatro subamostras
de 50 sementes cada, utilizando gerbox – caixa plástica (11,0 x 11,0 x 3,5 cm) com
uma bandeja de tela de aço inoxidável em seu interior - como compartimento
individual. Foram adicionados 40 ml de água no interior de cada caixa. Cada
subamostra foi colocada em câmara jaquetada, por 60 horas a 42°C. Decorrido esse
tempo, foi conduzido o teste de germinação, com avaliação no quinto dia após a
semeadura, sendo os resultados expressos em porcentagem (KRZYZANOWSKI et
al., 1999).
Os resultados da medição da concentração de fosfina durante o expurgo das
sementes foram representados graficamente e os dados de germinação e vigor
(envelhecimento acelerado) foram submetidos à análise de variância. Para análise
estatística os dados foram transformados em raiz quadrada de x+1. Para as análises
estatísticas, foi utilizado o software SASM - Agri (CANTERI et al., 2001).
25
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados mostraram que os tratamentos com inseticidas foram eficazes na
prevenção e controle dos insetos-pragas de sementes de trigo, deixando-as isentas
de infestação. O monitoramento do gás fosfina durante o expurgo demonstrou a
manutenção da concentração mínima necessária para eliminar todas as fases de
vida dos insetos- pragas, garantindo a eficácia do tratamento (Tabela 2 e Figura 6).
Em menos de 24h, a concentração da fosfina já ultrapassava 1.000 mg/dcm-3 e
manteve-se acima desse nível, até sete dias (168h) após a aplicação. Estes
resultados evidenciam o período de ação e a capacidade de difusão da fosfina na
pilha e no interior dos sacos de sementes. Além disso, vale destacar o cuidado
necessário devido à persistência do produto.
Os resultados das avaliações de germinação das sementes em laboratório e
avaliações de emergências em casa de vegetação, não diferiram entre os
tratamentos empregando fosfina, inseticidas líquidos e terra de diatomáceas
(Tabelas 3, 4 e 5), nas sete épocas de avaliação. Todavia, as sementes não
submetidas aos tratamentos inseticidas apresentaram germinação nula aos 90 dias
e emergência em areia aos 120 dias de armazenamento. Entre março e abril
(30dias) ocorreu uma redução de 40 pontos percentuais na emergência em areia
das sementes não tratadas.
As sementes submetidas aos três tratamentos inseticidas apresentaram ao
final de sete meses de armazenamento, em condições ambientais, uma redução
média de germinação e emergência de oito pontos percentuais relativamente ao
início do período de armazenamento. Esta ocorrência pode ser atribuída às
condições ambientais prevalecentes durante o período de armazenamento, que
embora favoráveis, sempre há redução de qualidade, conforme destacam Baudet e
Villela (2012). Armazenando sementes de trigo, cultivares IAC-24 e IAC-362, durante
12 meses com aplicação trimestral de fosfina com exposição por 120h, Rocha Junior
e Usberti (2007) verificaram que a fosfina foi eficiente no controle da infestação por
insetos-pragas e a qualidade fisiológica das sementes não tratadas decresceu mais
rápida e acentuadamente do que a das sementes expurgadas.
O teste de envelhecimento acelerado (Tabela 5) indicou redução de vigor nas
sementes não tratadas em março (90 dias) em relação às sementes tratadas com
26
inseticidas. Esta ocorrência evidencia a redução antecipada de vigor (Tabela 5)
relativamente à germinação (Tabela 3), concordando com as afirmações de Marcos
Filho (2005). Vale destacar que mesmo as sementes tratadas com inseticidas
apresentaram, de maneira geral, redução de vigor a partir de quatro meses de
armazenamento. No final do período, o vigor das sementes de trigo, avaliado pelo
teste de envelhecimento acelerado, apresentou redução de 26 pontos percentuais
nas sementes tratadas com fosfina e 20 pontos percentuais nas sementes que
receberam terra de diatomáceas, em comparação ao início do período de
armazenamento.
A utilização de 42°C, por 60h, no teste de envelhecimento acelerado permitiu
estimar os efeitos de tratamento, a semelhança do verificado por Ohlson et al
(2010), ao concluírem que o teste de envelhecimento acelerado, utilizando
temperatura de 43oC, por 48 h, forneceu informações consistentes que permitiram a
diferenciação de lotes de sementes de trigo.
O custo dos inseticidas, tomando-se como base os preços em Londrina-PR, no
mês de setembro de 2012, atinge: expurgo com fosfina R$ 0,54 por tonelada,
tratamento químico líquido R$ 1,96 por tonelada e tratamento com terra de
diatomáceas R$ 9,30 por tonelada. Verifica-se que o tratamento químico líquido
equivale a 3,6 vezes o valor da fosfina e a terra de diatomáceas corresponde a 17,2
vezes o custo da fosfina e 4,7 vezes o do tratamento químico líquido. Embora a
diferença acentuada de valor, a terra de diatomáceas apresenta vantagens pelo fato
de não constituir-se em fonte potencial de contaminação ambiental, tampouco deixar
resíduos com efeitos prejudiciais às sementes e à saúde das pessoas,
comparativamente ao tratamento com inseticidas químicos.
Uma análise geral dos resultados obtidos permite verificar que os tratamentos
com fosfina, inseticidas líquidos e terra de diatomáceas permitiram um eficiente
controle de insetos-pragas durante os sete meses de armazenamento das sementes
de trigo, sob condições ambientais não controladas, mantendo a qualidade
fisiológica elevada até o final do período de armazenamento.
27
TABELA 2 – Concentração de fosfina em diferentes partes do lote de sementes de trigo no período de 216 horas - (mg/dcm-3) de fosfina.
Unidade: Embrapa Produtos e Mercado - Escritório de Londrina
Data do início do expurgo: 15-12-2010 Data do final do expurgo: 24-12-2010
Responsável pela medição: Cairo Cezar Ferreira
Início da avaliação: 3 horas após a colocação das pastilhas
Pontos de medição da fosfina
Concentração de fosfina (mg/dcm-3
)/Tempo após a liberação da fosfina 03 horas
24 horas
48 horas
72 horas
96 horas
120 horas
144 horas
168 horas
192 horas
216 horas
1 Parte inferior esquerda do lote 333 1940 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1745 1403 1041 805 653
2 Parte superior esquerda do lote 238 1913 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1785 1344 1027 661 660
3 Parte inferior direita do lote 339 1880 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1708 1322 1018 823 653
4 Parte superior direita do lote 340 1894 ≥2000 1944 ≥2000 1720 1321 1022 673 656
5 Centro do lote 330 1975 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1741 1365 1070 678 671
6 Dentro do saco de sementes 282 1883 ≥2000 1615 1776 1737 1310 1023 741 595
Média 310 1914 ≥2000 1926 1963
1739 1344 1034 730
648
Fosfina a 2 g/m
3 de PH3( = 6 g/m
3 de Fertox = 2 pastilhas por m
3)
Figura 6. Concentração de fosfina (PH3) durante o período de expurgo de sementes
de trigo cultivar BRS 210. Embrapa Produtos e Mercado - Escritório de Londrina, 2010.
0
400
800
1200
1600
2000
2400
3 horas 24 horas 48 horas 72 horas 96 horas 120 horas 144 horas 168 horas 192 horas 216 horas
Tempo de exposição das sementes ao PH3 (horas)
Co
nc
en
tra
çã
o d
e P
H3
(p
pm
)
Parte inferior esquerda do lote Parte superior esquerda do lote Parte inferior direita do lote
Parte superior direita do lote Centro do lote Dentro do saco de sementes
28
TABELA 3 - Germinação de sementes de trigo submetidas aos tratamentos para controle de insetos-pragas durante o armazenamento. Londrina, PR,
2011.
Tratamentos Meses
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho
Testemunha (sem controle) 89 a 94 a 90 a - b - b - b - b
Expurgo com fosfina 93 a 93 a 90 a 87 a 94 a 90 a 89 a
Tratamento químico 96 a 96 a 96 a 92 a 90 a 92 a 88 a
Terra de diatomáceas 91 a 91 a 94 a 90 a 90 a 87 a 85 a
CV (%) 2,02 1,74 1,59 2,56 2,00 2,91 1,88
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
TABELA 4. Emergência de sementes de trigo, em areia, submetidas a tratamentos para controle de insetos-pragas durante o armazenamento. Londrina,
PR, 2011.
Tratamentos Meses
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho
Testemunha (sem controle) 91 a 90 a 89 a 49 b - b - b - b
Expurgo com fosfina 94 a 91 a 88 a 89 a 90 a 89 a 86 a
Tratamento químico 93 a 92 a 93 a 91 a 88 a 92 a 86 a
Terra de diatomáceas 96 a 90 a 91 a 92 a 88 a 88 a 86 a
CV(%) 1,38 1,37 1,98 1,61 1,77 2,27 1,35
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
TABELA 5 – Vigor (envelhecimento acelerado) em sementes de trigo submetidas aos tratamentos para controle de insetos-pragas durante o
armazenamento. Londrina, PR, 2011.
Tratamentos Meses
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho
Testemunha (sem controle) 62 a 61 a 50 b - b - b - b - c
Expurgo com fosfina 70 a 64 a 68 a 36 a 43 a 39 a 44 a
Tratamento químico 58 a 61 a 68 a 46 a 35 a 33 a 35 b
Terra de diatomáceas 56 a 59 a 67 a 38 a 45 a 38 a 36 b
CV (%) 4,94 4,70 5,56 11,00 9,03 13,29 6,07
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
29
5 - CONCLUSÃO
Os inseticidas químicos e a terra de diatomáceas não permitiram o
desenvolvimento de insetos-pragas e não afetaram negativamente a qualidade
fisiológica das sementes de trigo durante o armazenamento das sementes pelo
período de sete meses.
30
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, A.A.; POY, L.D.A. Reprodução de Rhyzopertha dominica (F., 1792)
(Coleoptera, Bostrychidae) em grãos inteiros e partidos, de cultivares de trigo, de
textura vítrea e suave. Revista Brasileira de Entomologia, Curitiba, v.38, p.599-
604, 1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO TRIGO (Abitrigo). História do
trigo. Produção mundial de trigo. Disponível em: www.abitrigo.com.br Acesso em
abril de 2012.
BAUDET, L.; VILLELA, F. A. Armazenamento de sementes. In: PESKE, S.T.;
VILLELA, F.A.; MENEGHELLO, G.E. SEMENTES: fundamentos científicos e
tecnológicos. Pelotas, 2012. p. 482 – 528.
BENHALIMA, H.; CHAUDRY, M.Q.; MILLS, K.A.; PRICE, N.R. Phosphine resistance
in stored-product insects collected from various grain storage facilities in Marocco.
Journal of Stored Products Research, Inglaterra, v.40, p. 241-249, 2004.
BIRCH, L.C.; SNOWBALL, J.G. The development of eggs of Rhizopertha dominica
(Fab. Coleoptera) at constant temperature. Journal of Experimental Biology,
Medicine and Science, EUA, v.23, p.37-40, 1945.
BOOTH, R.G.; COX, M.L.; MADGE, R.B. IIE Guides to insects of importance to man
3. COLEOPTERA. London: C.A.B. International, p. 384, 1990.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa
Agropecuária. Regras para Análise de Sementes. Brasília, p. 26, p. 148-151, 2009.
BRIDI, J.; LORINI, I.; SALVADORI, J.R. Efeito da fosfina em três concentrações na
qualidade fisiológica da semente de trigo armazenada. In: CONFERÊNCIA
BRASILEIRA DE PÓS-COLHEITA, 5, Anais... , Foz do Iguaçu, 2010, p. 281-286.
31
CANTERI, M. G.; ALTHAUS, R. A.; VIRGENS FILHO, J. S.; GIGLIOTI, E. A.;
GODOY, C. V. SASM - Agri: Sistema para análise e separação de médias em
experimentos agrícolas pelos métodos Scoft - Knott, Tukey e Duncan. Revista
Brasileira de Agrocomputação, Ponta Grossa, v.1, n.2, p.18-24, 2001.
DAGLISH, G. J.; COLLINS, P. J.; PAVIC, H.; KOPITTKE, R. Effects of time and
concentration on mortality of phosphine-resistant Sitophilus oryzae (L) fumigated with
phosphine. Pest Management Science, Inglaterra, v.58, p.1015-1021, 2002.
LORINI, I.; SCHNEIDER, S. Pragas de grãos armazenados: resultados de
pesquisa. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, p.47, 1994.
LORINI, I.; MIIKE, L. H.; SCUSSEL, V. M. Armazenagem de grãos. Campinas: IBG,
p.983, 2002.
LORINI, I.; COLLINS, P.J.; DAGLISH, G.J.; NAYAK, M.K.; PAVIC, H. Detection and
characterisation of strong resistance to phosphine in Brasilian Rhyzoperta dominica
(F.) (Coleoptera: Bostrychidae). Pest Management Science, Inglaterra, v. 63, p.
358-364, 2007.
LORINI, I. Manejo integrado de pragas de grãos de cereais armazenados. Passo
Fundo: Embrapa Trigo, p.72, 2008.
LORINI, I. KRZYZANOWSKI, F.C.; FRANÇA-NETO, J.B.; HENNING, A.A.
Principais pragas e métodos de controle em sementes durante o
armazenamento – série sementes. Londrina: Embrapa Soja, 2009. (Embrapa
Soja. Circular Técnica, 73)
LORINI, I.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA-NETO, J. B.; HENNING, A. A.
Monitoramento da liberação do gás PH3 por pastilhas de fosfina usadas para
expurgo de sementes. Informativo Abrates, Londrina, v. 21, n. 3, p. 57-60, 2011.
32
MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba:
FEALQ, 2005. 495.
MOUND, L. Common insect pests of stored food products. London: British
Museum of Natural History, p.68, 1989.
OHLSON, O.C.; KRZYZANOWSKI, F.C.; CAIEIRO, J.T.; PANOBIANCO, M. Teste de
envelhecimento acelerado em sementes de trigo. Revista Brasileira de Sementes,
Londrina, v.32, n.4, p.118-124, 2010.
PEREIRA, P.R.V.S. Principais insetos que atacam grãos armazenados. In:
SIMPÓSIO DE PROTEÇÃO DE GRÃOS ARMAZENADOS, 1993, Passo Fundo, RS.
Anais... Passo Fundo: Embrapa-CNPT, p.104-116, 1993.
POTTER, C. The biology and distribution of Rhizopertha dominica (Fab.).
Transactions of the Royal Entomological Society of London, v.83, p.449-482,
1935.
POY, L. de A. Ciclo de vida de Rhizopertha dominica (Fabricius, 1972) (Col.,
Bostrychidae) em farinhas e grãos de diferentes cultivares de trigo. 1991. 135f.
Dissertação (Mestrado em Entomologia). Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
1991.
ROCHA JUNIOR, L.S.; USBERTI, R. Qualidade física e fisiológica de sementes de
trigo expurgadas com fosfina durante o armazenamento. Revista Brasileira de
Sementes. Londrina, v. 29, n.1, p. , 2007.
STRESSER, R. Tratamentos preventivos e curativos no controle de insetos e
pragas em silos e armazéns graneleiros. Disponível em
www.tecnigran.com.br/html.tratamentos_preventivos_e_curativos.html Acesso em abril de 2012.
33
SUBRAMANYAM, B.; ROELSI, R. Inert dusts. In: ____; HAGSTRUM,D.W. (Ed.).
Alternatives to pesticides in stored-product IPM. Norwell: Kluwer Academic
Publishers, p. 321-380, 2000.
KLJAJIC, P.; PERIC, L. Residual effects of deltamethrin and malathion on different
populations of Sitophilus granarius (L.) on treated wheat grains. Journal of stored
products research, Inglaterra, v.45 , n.1, p. 45-48, 2009.
KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA R.D.; FRANÇA-NETO, J.B. Vigor de Sementes
Conceitos e Testes, Londrina: Embrapa Soja, 1999, cap. 3, p. 3-14.