tratado de petrópolis

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SENADO FEDERAL Gabinete do Senador Geraldo Mesquita Júnior DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DO ACRE O TRATADO DE PETRÓPOLIS E O CONGRESSO NACIONAL Edição comemorativa do cente- nário do Tratado de Petrópolis (1903-2003). BRASÍLIA Novembro – 2003

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Page 1: Tratado de Petrópolis

SENADO FEDERAL

Ga bi ne te do Se na dorGe ral do Mes qui ta Jú ni or

DOCUMENTOS PARA AHISTÓRIA DO ACRE

O TRATADO DE PETRÓPOLISE O CONGRESSO NACIONAL

Edi ção co me mo ra ti va do cen te -ná rio do Tra ta do de Pe tró po lis(1903-2003).

BRASÍLIANo vem bro – 2003

Page 2: Tratado de Petrópolis

COLEÇÃO DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DO ACRE

Obras pu bli ca das:

1 - Cons ti tu i ções do Esta do do Acre (2003)

O Tra ta do de Pe tró po lis e o Con gres so Na ci o nal. – Bra sí lia :Se na do Fe de ral, Ga bi ne te do Se na dor Ge ral do Mes qui taJú ni or, 2003.

327 p. – (Do cu men tos para a his tó ria do Acre)

1. Fron te i ra, Bra sil, Bo lí via. 2. Qu es tão do Acre (1903).3. Tra ta do de Pe tró po lis (1903). I. Sé rie.

CDDir. 341.124

Page 3: Tratado de Petrópolis

SUMÁRIO

Pág.

Intro du ção – Acre, Odis séia e Epo péia ................................................ 9I – A de vas sa dos rios in do má ve is ................................................ 10II – Ca pi tu la ção em Aya cu cho ................................................... 12III – Aven tu ra da ciên cia, des ven tu ras da na tu re za ..................... 15IV – “Onde fala o ouro, cala a ra zão” .......................................... 16V – Gal vez, im pe ra dor dos so nhos alhe i os .................................. 18VI – Re bel dia a qual quer pre ço ................................................... 21VII – A paz dos ino cen tes ............................................................. 23VIII – “Es tem pra no para la fi es ta...” ............................................. 25IX – Des ti nos cru za dos .................................................................. 27X – Arma ge don nos tró pi cos ........................................................ 29XI – Inter reg no so bre os acre a nos e sua his tó ria .......................... 30XII – A di fí cil e fas ci nan te arte da di plo ma cia ............................. 32XIII – O pro fe ta de sar ma do .......................................................... 34XIV – O pro fe ta re a bi li ta do e o Acre res ta u ra do .......................... 36

De cre to nº 5.093, de 28-12-1903 – Con vo ca ção Extra or di ná ria do

Con gres so ............................................................................................ 41

Men sa gem do Pre si den te da Re pú bli ca sub me ten do o Tra ta do ao

Con gres so ............................................................................................ 45

Expo si ção de Mo ti vos so bre o Tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 ..

en tre o Bra sil e a Bo lí via ...................................................................... 47

O Tra ta do de Pe tró po lis ........................................................................ 69

Ses sões pú bli cas re la ti vas às dis cus sões do Tra ta do na Câ ma ra

dos De pu ta dos ..................................................................................... 81

Page 4: Tratado de Petrópolis

1ª Ses são Extra or di ná ria em 31-12-1903 ..................................... 852ª Ses são Extra or di ná ria em 13-1-1904 ....................................... 87Pro pos ta ini ci al dos ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros........................... 91Con trapro pos ta dos ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos ........................ 933ª Ses são Extra or di ná ria em 14-1-1904 ....................................... 1084ª Ses são Extra or di ná ria em 15-1-1904 ....................................... 1098ª Ses são Extra or di ná ria em 20-1-1904 ....................................... 11012ª Ses são Extra or di ná ria em 25-1-1904 ..................................... 112Ses são Extra or di ná ria nº 1-A – 1904 ............................................. 11413ª Ses são Extra or di ná ria em 26-1-1904 ..................................... 115Pro je to nº 5 – 1904 ....................................................................... 11714ª Ses são Extra or di ná ria em 27-1-1904 ..................................... 12117ª Ses são Extra or di ná ria em 30-1-1904 ..................................... 12218ª Ses são Extra or di ná ria em 1º-2-1904 ..................................... 126Emen das ao Pro je to nº 5, de 1904 ............................................. 13319ª Ses são Extra or di ná ria em 2-2-1904 ....................................... 147Pro je to nº 5-A, de 1904 ................................................................ 14920ª Ses são Extra or di ná ria em 3-2-1904 ....................................... 150Subs ti tu ti vo ao Pro je to nº 5-A, de 1904 ........................................ 16521ª Ses são Extra or di ná ria em 4-2-1904 ....................................... 167Pro je to nº 5-C, de 1904 ............................................................... 172Re da ção nº 5-B, de 1904 ............................................................ 174Re da ção nº 5-D, de 1904 ........................................................... 17622ª Ses são Extra or di ná ria em 25-2-1904 ..................................... 179Ses são So le ne de en cer ra men to da 1ª Ses são da 5ª Le gis la tu rae de aber tu ra da Ses são Extra or di ná ria do Con gres so Nacionalcon vo ca da pelo De cre to nº 5.093, de 28-12-1903, para o dia 30 do mes mo mês ........................................................................... 181Ses sões Pú bli cas re la ti vas às dis cus sões do Tra ta do no Se na do Fe -de ral ............................................................................................. 187Ata em 6 de ja ne i ro de 1904 ....................................................... 18915ª Ses são em 3-2-1904 ............................................................. 193Pa re cer nº 5, de 1904 . ................................................................ 19318ª Ses são em 17-2-1904 ........................................................... 19820ª Ses são em 19-2-1904 ........................................................... 19921ª Ses são em 20-2-1904 . .......................................................... 201

Page 5: Tratado de Petrópolis

22ª Ses são em 22-2-1904 ............................................................ 20323ª Ses são em 23-2-1904 ........................................................... 204Ses são So le ne de en cer ra men to da Ses são Extraordinária doCongresso Nacional dos Estados Unidos do Bra sil, con vo ca dapor De cre to nº 5.093, de 28-12-1903 .......................................... 206Pa re cer do Se na dor Fran cis co Gli cé rio so bre o Tra ta do na Co mis -são de Cons ti tu i ção e Di plo ma cia do Se na do, em 27-1-1904 . . 207Voto se pa ra do do Se na dor A. Aze re do na Co mis são de Cons ti tu i -ção e Di plo ma cia do Se na do, em 3-2-1904 .............................. 211Apro va ção do Tra ta do na Co mis são de Cons ti tu i ção e Di plo ma -cia do Se na do . ............................................................................ 229Expo si ção de Mo ti vos do ple ni po ten ciá rio ven ci do, Se na dor .....

Rui Bar bo sa, em 28-1-1904 ......................................................... 232Do cu men tos com ple men ta res ............................................................ 275

Afas ta men to de Rui Bar bo sa como ple ni po ten ciá rio bra si le i ro......na ne go ci a ção do Tra ta do ................................................................. 275

A ques tão do Acre – Tex to do Mi nis tro Car los Hen ri que Car dim so -bre o pe di do de afas ta men to de Rui .......................................... 277Car ta de Rio Bran co a Rui Bar bo sa, de 20-10-1903 .................... 279Res pos ta de Rui Barbosa a Rio Bran co, de 22-10-1903 .............. 282Rio Bran co de fen de sua obra ...................................................... 286

Arti gos anô ni mos e pse u dô ni mos do Ba rão do Rio Bran co ..... 286A ques tão do Acre e o Tra ta do com a Bo lí via I ....................... 289A ques tão do Acre e o Tra ta do com a Bo lí via II ...................... 295A ques tão do Acre e o Tra ta do com a Bo lí via III ..................... 302A ques tão do Acre e o Tra ta do com a Bo lí via IV ..................... 308Bra sil, Bo lí via e Peru .................................................................. 315

Le gis la ção ............................................................................................ 317De cre to nº 1.180, de 25-2-1904 .............................................. 319De cre to nº 1.181, de 25-2-1904 ............................................. 320De cre to nº 5.188, de 7-4-1904 ............................................... 321

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INTRODUÇÃO

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ACRE, ODISSÉIA E EPOPÉIA

Ge ral do Mes qui ta Jú ni or

O Acre, en si nou Eu cli des da Cu nha, é “a úl ti ma pá gi na a es cre ver-sedo Gê ne sis”. O Tra ta do de Pe tró po lis, a mais me mo rá vel de quan tas pro du -ziu a po lí ti ca ex ter na bra si le i ra. A paz se la da com a Bo lí via em 1903 não é,por si só, uma epo péia, mas o co ro a men to dela, tra ça da a gol pes de au -dá cia, es ti mu la da pela am bi ção dos ho mens, ta lha da pela co ra gem dosnor des ti nos, im pul si o na da pela ou sa dia com que se es cre ve a his tó ria,con quis ta da pelo atre vi men to dos he róis, sus ten ta da pelo ta len to, a obs ti -na ção e a têm pe ra dos que dela nun ca de sis ti ram e dos que nela sem preacre di ta ram. O Acre não é só uma epo péia. É tam bém uma odis séia.

A Con quis ta do De ser to Oci den tal, tí tu lo da se gun da edi ção do li vrono tá vel do ala go a no Cra ve i ro Cos ta, não foi, como es cre veu Eu cli des emre la ção a seu po vo a men to, “um caso for tu i to”. Em al guns mo men tos, an tes dos con fli tos que an te ce de ram sua ocu pa ção pe los bra si le i ros, foi sim, nafe liz ex pres são de Le an dro To can tins, au tor da mais com ple ta his tó ria dafor ma ção da que le ter ri tó rio, “um as sal to a lé guas de de ser to sem dono”.Com toda ra zão, e ali cer ça do na du re za que sem pre adu ba a ver da de, obo li vi a no Ma nu el Apon te, de po is da ren di ção em Por to Acre, es cre veu quede lá “sa li mos ar ro ja dos por las bor ras cas de la des gra cia”.

As “bor ras cas de la des gra cia” fo ram as mes mas que ce i fa ram a vidae a es pe ran ça de mi lha res de bra si le i ros, he róis anô ni mos, po vo a do res dater ra que sem re sis tên cia ocu pa ram, que por ela lu ta ram, que apren de ram a amá-la, que a con ser va ram e que a pre ser va ram, para que, em seunome, pu dés se mos hoje la men tar sua odis séia e ce le brar sua epo péia.

Os de sen con tros en tre as as pi ra ções da Bo lí via e do Peru a uma dasmais ri cas e pro mis so ras re giões ama zô ni cas, ba nha da por essa rede en -tão des co nhe ci da e hoje ain da es tu an te de vida que são os va les do Pu rus,do Ju ruá e do Ja va ri, per dem-se nas bru mas do sé cu lo XVIII. As pre ten sõesbo li vi a nas sem pre se ba se a ram no Tra ta do de San to Idel fon so de 1777,

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quan do os re i nos de Por tu gal e Espa nha in ten ta ram es ta be le cer li mi tes dedo mí ni os que des co nhe ci am. A paz se la da em Ba da joz, em 6 de ju nho de1801, por fal ta de de fi ni ção ade qua da de seus fun da men tos ge o grá fi cos,tor na ra, se gun do os bra si le i ros, ju ri di ca men te ine xis ten te e ma te ri al men tein sub sis ten te o acor do en tre as duas me tró po les. Ne nhu ma ten ta ti va a mais se en ta bu lou en tres as co ro as dos dois pa í ses. De tal modo que a in de pen -dên cia sur pre en deu o Bra sil sem as suas fron te i ras de mar ca das por um atodi plo má ti co ju ri di ca men te vá li do.

I – A de vas sa dos rios in do má ve is

As ra zões bo li vi a nas para re i vin di car o Acre ti nham um ob je ti vo não ex -pres sa men te de cla ra do: o aces so ao Atlân ti co e ao Ca ri be, atra vés do in -do ma do e in do má vel Ama zo nas, de po is que o país se viu re du zi do a duaspre cá ri as sa í das para o Pa cí fi co, atra vés do Chi le e do Peru. Por fal ta deme i os ma te ri a is para ga ran tir sua so be ra nia nes sa des co nhe ci da e in de -vas sa da re gião, o Bra sil per sis tiu em não abrir essa rede hi dro grá fi ca, sem si -mi lar no mun do, à na ve ga ção in ter na ci o nal. Era uma po si ção vin da dostem pos co lo ni a is, mas que não se sus ten ta ria du ran te mu i to tem po, con -tes ta da até mes mo in ter na men te, en tre tan tas ou tras vo zes, pela de Au re li -a no Cân di do Ta va res Bas tos. A Bo lí via ten tou fran queá-la à na ve ga çãoin ter na ci o nal em 1844, ante o pro tes to pron to e ve e men te da Chan ce la riabra si le i ra.

Em 1847, o se gun do con gres so de Lima, que se pro pu nha a fun dar aliga sul- ame ri ca na, pre ten deu di ri gir a ação co mum das Re pú bli cas do Pa -cí fi co, para o fim de al can çar a li vre na ve ga ção dos gran des rios, pre ten sãoque vol tou a se ma ni fes tar em ou tras oca siões. Dan do pros se gui men to aessa as pi ra ção, a Co lôm bia, por de cre to de 7 de abril de 1852, abriu os riosde seu ter ri tó rio aos bar cos de va por de qual quer pro ce dên cia. Em 26 de no -vem bro de 1853 foi a vez do Equa dor ado tar idên ti ca me di da, tan to em re -la ção ao Ama zo nas, de que se jul ga va ri be i ri nho, quan to aos res pec ti vostri bu tá ri os. O mes mo já fi ze ra a Bo lí via em fe ve re i ro do mes mo ano. E em 15de abril, foi a vez do Peru de cla rar que po di am as na ções ami gas na ve garaté a ci da de de Na u ta, des de que ob ti ves sem a en tra da pelo Ama zo nas.Nes te sen ti do, che gou a ce le brar con ven ções com os Esta dos Uni dos e aGrã-Bre ta nha. A re a ção bra si le i ra mos trou que es ses atos vi o la vam o tra ta dode 23 de ou tu bro de 1851, fir ma do en tre os dois pa í ses, o que le vou o Go ver -no pe ru a no, em 4 de ou tu bro de 1854, a ba i xar novo de cre to in ter pre tan doo an te ri or, para ex clu ir os Esta dos não ri be i ri nhos da na ve ga ção do Ama zo -nas e per mi ti-la ao Bra sil, além do li mi te es ta be le ci do na ci da de de Na u ta. Oepi só dio ser viu para mos trar que, sem o con sen ti men to bra si le i ro, as me di -das ado ta das pe los Esta dos sul-ame ri ca nos do Pa cí fi co re sul ta vam inó cu as,como efe ti va men te se tor na ram.

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A ge o gra fia, mais que a ge o po lí ti ca, ex pli ca por que os bo li vi a nos ja -ma is con se gui ram ocu par o Acre. Os ca mi nhos que se pa ra vam La Paz des -se ter ri tó rio por um lado eram lon gos, de mo ra dos e one ro sos, exi gin do daruma vol ta qua se com ple ta ao con ti nen te. Para che gar ao vale do Pu rus oudo Ju ruá, ti nham que ace der ao rio Pa ra ná e daí ao Pra ta, para, de Bu e nosAi res ou Mon te vi déu, de man dar o Rio de Ja ne i ro, de onde po di am ter aces -so a Be lém, a Ma na us e, fi nal men te, à re gião por eles des co nhe ci da doAqui ri, como o de no mi na vam os ín di os, des de tem pos ime mo ri a is. Por ter ra,mes mo dis pen san do essa tor tu o sa rota flu vi al e ma rí ti ma, o ca mi nho era ár -duo, ás pe ro e pe no so, se me a do de obs tá cu los qua se in trans po ní ve is e su je i -to a toda sor te de per cal ços. Impli ca va em do mar di fi cul da desdes co nhe ci das para ho mens acos tu ma dos a vi ver no cli ma do al ti pla no enos cu mes de sa fi a do res dos Andes e, por isso, pou co afe i tos aos mis té ri os da den sa flo res ta ama zô ni ca.

Os sa cri fí ci os im pos tos aos que se aven tu ra vam a esse de sa fio tor na -ram para nos sos ir mãos bo li vi a nos im pos sí vel a ta re fa que, até a cri a ção da pro vín cia do Ama zo nas em 1852, tam bém as som bra va os bra si le i ros. Nin -guém com mais pro pri e da de que o es cri tor J. Ro dri gues Achá, no pre fá ciodo li vro do Cel. Ben ja min Azcui, Cam pa ñas del Acre, sin te ti zou de for mamais crua as ad ver si da des do meio e a du re za para do mar o meio hos til:“O es pan to so, o in des cri tí vel, o he rói co, é su por tar em si lên cio, e com umsor ri so nos lá bi os, to das as pri va ções im pos tas por aque la na tu re za es tra -nha, de ser ta e inós pi ta; to das as hos ti li da des de ele men tos que cons pi ramcon tra a pre sen ça do ho mem, tra tan do de anu lá-la por medo dos ata ques das fe ras; pelo ir re du tí vel, te naz e cons tan te as sé dio dos in se tos; as ema na -ções ve ne no sas da ve ge ta ção pu tre fa ta, do ar imó vel e do pân ta no mi as -má ti co; e, por fim, o ho mem, a sede, a in tem pé rie, o es go ta men toner vo so, a nos tal gia e as pro lon ga das ago ni as do im pa lu dis mo e do be ri -bé ri”. O que es pan ta va a quan tos que se aven tu ra vam a de vas sar a flo res -ta som bria e seus rios mis te ri o sos não ame a ça va só os bo li vi a nos, masigual men te os bra si le i ros que, para domá-los, afron ta ram os mes mos ris cose me dos.

A de pen dên cia em que se acha vam os bo li vi a nos, re la ti va men te aoChi le e ao Peru, para seu aces so ao Pa cí fi co, cons ti tu ía para o país um ônus in su por tá vel. Como es cre veu Antô nio Pe re i ra Pin to em seus Apon ta men tospara o Di re i to Inter na ci o nal, re fe rin do-se ao Tra ta do de 1867, “por se me -lhan te de pen dên cia, paga a Bo lí via o do bro por tudo o que com pra e im -por ta, e re ce be a me ta de do que ven de e ex por ta”.

Co nhe cer e do mar esse am bi en te hos til e des co nhe ci do cus tou imen soônus em vi das, de si lu sões e fra cas sos, mas tam bém im pli cou em vi tó ri as me -mo rá ve is e im pe re cí ve is, que sub sis tem até hoje. Para a ex plo ra ção do Pu rus,fo ram ne ces sá ri as cin co ex pe di ções. A de 1852, di ri gi da por João Jo dri guesCa me tá, fun ci o ná rio en car re ga do da pa ci fi ca ção dos ín di os, foi de ter mi na -

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da pelo pri me i ro pre si den te da nova pro vín cia do Alto Ama zo nas, des do bra da da do Pará, o pa ra en se João Ba tis ta de Fi gue i re do Ten re i ro Ara nha, de pu ta doà Assem bléia Ge ral, nas le gis la tu ras de 1848 a 1850 e na de 1850 a 1852. Ase gun da, tam bém em 1852, foi co man da da por Se ra fim Sal ga do e sul cou oPu rus até aci ma da boca do Iaco, na ve gan do 2.250 mi lhas. A ter ce i ra se re a li -zou nove anos de po is, em 1861, li de ra da pelo ma i or co nhe ce dor e des bra va -dor da que les con fins, Ma nu el Urba no da Encar na ção, a quem o Acre tri bu toujus ta ho me na gem, dan do seu nome a um de seus mu ni cí pi os. Da quar ta ex -pe di ção, or ga ni za da pelo en ge nhe i ro João Mar tins da Sil va Cou ti nho, em1862, há um va li o so tes te mu nho pu bli ca do no re la tó rio do Mi nis té rio da Agri -cul tu ra de 1865. Dela tam bém par ti ci pou, como prá ti co, o mes mo Ma nu elUrba no que, anos de po is, iria ser o guia do geó gra fo in glês W. Chand less, en vi -a do pela “Ro yal Ge o grap hi cal So ci ety” de Lon dres e que che gou às ca be ce i -ras do Pu rus, ten do des bra va do o aflu en te que hoje leva o seu nome. A úl ti main cur são des se pe río do, a quin ta, foi re a li za da em 1866 e en ca be ça da maisuma vez por Ma nu el Urba no.

A ex plo ra ção do Ju ruá exi giu me nos, mas não me no res es for ços. Apri me i ra ex pe di ção tam bém foi or de na da pelo pre si den te da pro vín cia doAma zo nas, em 1852. Como no caso do Pu rus, foi di ri gi da pelo prá ti co JoséRo mão de Oli ve i ra, que ti nha a mis são de atra ir e pa ci fi car os ín di os da re -gião. A se guin te, or de na da em 1856 pelo se gun do pre si den te des sa mes -ma pro vín cia, João Pe dro Dias Vi e i ra, ma ra nhen se, de pu ta do ge ral dale gis la tu ra de 1857 a 1860, se na dor de 1861 a 1870 e Mi nis tro da Ma ri nha edos Estran ge i ros, no 19o e 20o e ga bi ne tes do 2o re i na do, foi co man da dapor João da Cu nha Cor re ia, di re tor dos ín di os, que não só su biu o rio Ta ra u a -cá, mas atra vés dele pas sou ao Envi ra. O in glês Chand less alu de a essa jor -na da como das mais im por tan tes e suas ob ser va ções es tão tam bémpu bli ca das no re la tó rio do Mi nis té rio da Agri cul tu ra, re la ti vo ao ano de 1870.

II – Ca pi tu la ção em Aya cu cho

As ten ta ti vas bo li vi a nas de ver re co nhe ci da sua so be ra nia em ter rasen tão não de mar ca das que hoje cons ti tu em o Acre acen tu a ram-se nomo men to em que o Bra sil en fren tou o ma i or de sa fio à sua so be ra nia, coma in va são do nos so ter ri tó rio por tro pas pa ra gua i as. O mais pe no so con fli tomi li tar da Amé ri ca do Sul en con trou o Bra sil de sar ma do e ten do que seapa re lhar po lí ti ca, mi li tar, eco nô mi ca e di plo ma ti ca men te para um con -fron to que se pre via lon go e san gren to, con su min do mi lha res de vi das.Con su ma das as ne go ci a ções en tre o Bra sil, a Argen ti na e o Uru guai, de que re sul ta ram a Trí pli ce Ali an ça, re for çan do nos sa po si ção po lí ti ca no Pra ta, opaís ne ces si ta va de ha bi li da de e ca u te la para evi tar que as de ma is na -ções sul-ame ri ca nas do Pa cí fi co, es pe ci al men te Bo lí via e Peru, es ti mu la das

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Page 13: Tratado de Petrópolis

por suas pre ten sões fron te i ri ças com o Bra sil, fos sem ten ta das a se so li da ri -zar com o Pa ra guai em sua mais ar ris ca da e au da ci o sa em pre sa mi li tar.

Além da guer ra, a po si ção bra si le i ra em re la ção ao Ama zo nas se viase ri a men te en fra que ci da, quan do con fron ta da com nos sa pos tu ra em re -la ção ao Pra ta, de que de pen dia o aces so à pro vín cia de Mato Gros so.Como na épo ca es cre veu Ta va res Bas tos em O Vale do Ama zo nas, “se oBra sil não foi quem ini ci ou a po lí ti ca de li vre na ve ga ção que ali pre va le ce,des de a que da de Ro sas, ao me nos as so ci ou-se a ela e san ci o nou o prin cí -pio, es ten den do-o ao seu pró prio ter ri tó rio”. O li vro do jo vem de pu ta do ala -go a no, pu bli ca do em 1866, era o re sul ta do de uma cam pa nha que eleen ce ta ra na Câ ma ra des de 1862, quan do o Ple ná rio re je i tou, na ses são de 14 de agos to, seu pri me i ro pro je to de ter mi nan do a aber tu ra do Ama zo nasà na ve ga ção in ter na ci o nal. Por isso, vale aten tar para seus ar gu men tosque tam bém aju dam a ex pli car os fa tos ime di a ta men te pos te ri o res.

“O que me lhor as si na la va a in co e rên cia da po lí ti ca se gui da no Ama -zo nas com a ado ta da no Pra ta é a his tó ria dos in ci den tes da nos sa ques tão com a Re pú bli ca do Pa ra guai. O Go ver no des ta pre ten dia não re gu lar co -nos co a na ve ga ção dos rios co muns sem acor do si mul tâ neo so bre os li mi -tes con tes ta dos: nós al can ça mos, pela con ven ção de 1858, o li vre trân si toaté Mato Gros so para to das as ban de i ras, adi an do-se a ou tra ques tão.Envi a mos para esse fim uma ex pe di ção ar ma da ao Pa ra guai (1855) e pre -pa ra mos ou tra (1857), que en tão po de ria ter dado a es ses ne gó ci os umaso lu ção com ple ta e dig na de nos so in con tes tá vel di re i to, se não hou ves -sem pre fe ri do a so lu ção mé dia, o ex pe di en te das pro cras ti na ções. Assim,a Gu er ra do Pa ra guai, que já em 1853 se afi gu ra va imi nen te, veio sur pre en -der-nos.”

Tudo isso de mons tra em que con di ções a po lí ti ca ex te ri or do Impé rio seviu for ça da a ne go ci ar um tra ta do de ami za de, li mi tes, na ve ga ção, co mér -cio e ex tra di ção que a Bo lí via sem pre re cla ma va para a so lu ção de seus pro -ble mas eco nô mi cos e co mer ci a is, e no qual nun ca de i xou de in sis tir. ODe cre to no 3.749, de 7 de de zem bro de 1866, não foi mais que o anún cio deque o Go ver no de D. Pe dro II ce deu ante o ine vi tá vel. Deu fim à in co e rên ciade nos sa po lí ti ca ex ter na ante a ques tão do aces so aos nos sos rios que ser -vem a mais de um país, e pro cu rou ama i nar as con di ções sob as qua is iría -mos ne go ci ar com o Go ver no bo li vi a no. O preâm bu lo do ato evi den cia que o Bra sil ter mi nou ce den do mais do que lhe pe di am, ao in clu ir em sua nova po lí ti -ca o São Fran cis co, o To can tins e o Ta pa jós, rios ex clu si va men te na ci o na is: “No in tu i to de pro mo ver o en gran de ci men to do Impé rio, fa ci li tan do cada vez mais suas re la ções in ter na ci o na is, e ani man do a na ve ga ção e o co mér cio do rioAma zo nas e seus aflu en tes, dos rios To can tins e São Fran cis co, ou vi do o meuCon se lho de Esta do, hei por bem de cre tar: “Art. 1o Fi ca rá aber ta, des de o dia 7 de se tem bro de 1867, aos na vi os mer can tes de to das as na ções a na ve ga -

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ção do rio Ama zo nas até a fron te i ra do Bra sil, do rio To can tins até Ca me tá, doTa pa jós até San ta rém, do Ma de i ra até Bor ba, e do rio Ne gro até Ma na us”.

As ne go ci a ções com o Bra sil ser vi ram aos pro pó si tos da po lí ti ca in -ter na bo li vi a na, pre si di da na épo ca pelo Ge ne ral Ma ri a no Mal ga re jo,como for ma de cre den ciá-lo ante a opo si ção que se va lia da ques tãode li mi tes, como fri sa Antô nio Pe re i ra Pin to, como “um aríe te de guer ra”con tra o seu go ver no. O pre si den te bo li vi a no pro cu ra va as sim abran daras re cri mi na ções de seus ali a dos, os pa í ses da Liga Sul-Ame ri ca na queviam, nas ne go ci a ções bi la te ra is, uma for ma de se for ta le cer as as pi ra -ções da Trí pli ce Ali an ça, no que eles de no mi na vam uma es ca la da con -tra o Pa ra guai. Ao ce der à pres são das cir cuns tân ci as ad ver sas a quefora ar ras ta do, era na tu ral que o Bra sil ca pi tu las se ao as si nar o Tra ta dode Aya cu cho. Apre ci an do o que isto sig ni fi cou, Rio Bran co, a quem maistar de in cum bi ria des fa zer os efe i tos des sa ne go ci a ção, lem brou que,por esse tra ta do, “mu i to di fe ren te do de 1777, o Bra sil ce deu a essa Re -pú bli ca os ter ri tó ri os do Ju ruá e do Pu rus, o Acre, ou Aqui ri, e os do Iáco,ou Hiá co, ao sul da dita li nha Ja va ri-Beni”. Ao abrir mão da li nha que a di -plo ma cia ibé ri ca “ris ca ra para o oci den te, a co me çar da mé dia dis tân -cia en tre as con fluên ci as do Ma de i ra e Ma mo ré”, para ace i tar a li nhales te-oes te, a Bo lí via ad mi tiu por fim a ca du ci da de do Tra ta do de San toIdel fon so, tese que o Bra sil sem pre de fen de ra.

Em tro ca des sa re nún cia, o Bra sil ce deu à Bo lí via os por tos si tu a dos nas la go as Man di o ré, Ga i ba, Ube ra ba e Cá ce res que, com a Ba hia Ne -gra, cons ti tu em os úni cos lo ca li za dos à mar gem di re i ta do rio Pa ra guai. Sem dú vi da, o tra ta do ali vi ou as ten sões en tre a Bo lí via e o Bra sil. Mas,como lem brou Cra ve i ro Cos ta, na obra já re fe ri da, “trin ta e cin co anosde po is, fra cas sa das as ten ta ti vas que se fi ze ram para a lo ca ção da li -nha ajus ta da em 1867, a ques tão de li mi tes res sur giu alar man te, mer cê da ina bi li da de de nos sa Chan ce la ria, no mo men to”.

Mas nada dis so nos per mi te es que cer que foi so bre a ca pi tu la ção deAya cu cho que Rio Bran co eri giu o mo nu men to di plo má ti co de Pe tró po lis.

III – Aven tu ra da ciên cia, des ven tu ras da na tu re za

Por trás da epo péia e da odis séia do Acre, es pre i ta vam sua his tó ria, aaven tu ra da ciên cia e as des ven tu ras da na tu re za. Nos qua ren ta anos quese pa ram 1827, quan do se re gis tra o pri me i ro dado da pro du ção ama zô ni -ca, de 1867, ano do Tra ta do de Aya cu cho, a ex por ta ção da bor ra cha au -men tou 188 ve zes. Pas sou de 31 para 5.826 toneladas. Nos trin ta anosse guin tes, a Ama zô nia bra si le i ra já res pon dia por 65% da pro du ção mun di -al de bor ra cha. No co me ço, des de a re ve la ção de La Con da mi ne, o “ca u -cho”, como a cha ma vam bo li vi a nos e pe ru a nos, a “he vea bra si li en sis”,como fi cou co nhe ci da ci en ti fi ca men te, e as “pe les de bor ra cha”, como a

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tra ta vam os se rin gue i ros, eram ape nas uma cu ri o si da de de pou ca e par -cas apli ca ções.

Como em qua se to dos os avan ços da hu ma ni da de, foi a ciên cia quelhe atri bu iu cres cen te va lor eco nô mi co, na me di da em que foi des co brin do auti li da de de seu em pre go e a tec no lo gia de suas apli ca ções. Adi ci o nan doáto mos de en xo fre à ca de ia do po lí me ro na tu ral, o ame ri ca no Char les Go od -ye ar e o in glês Tho mas Hanc koc des co bri ram o pro ces so de vul ca ni za ção,qua se si mul ta ne a men te. O úl ti mo ob te ve a pa ten te de sua in ven ção em 30de maio de 1844 e o ame ri ca no 15 dias de po is. Por esse mé to do, a bor ra chana tu ral se tor na va re sis ten te, elás ti ca e in so lú vel, dan do um enor me sal to alémde suas apli ca ções ori gi ná ri as co nhe ci das pe los in dí ge nas. Em 1888, o ir lan -dês John Boyd Dun lop, de Bel fast, in ven tou o pne u má ti co e os ir mãos Mi che linos tor na ram des mon tá ve is, o que lhes per mi tiu usá-los pela pri me i ra vez nacor ri da de au to mó ve is le va da a efe i to na Fran ça em 1895, nos pró dro mos daque veio se tor nar uma das mais im por tan tes in dús tri as do sé cu lo se guin te, aau to mo ti va.

O Acre, onde o aden sa men to dos se rin ga is na ti vos tor na va a ex tra ção do lá tex mais pro du ti va e mais ren tá vel, tor nou-se as sim fi lho di le to da aven -tu ra da ciên cia e en te a do das des ven tu ras da na tu re za.

Entre 1877 e 1879, o Nor des te co nhe ceu a mais de vas ta do ra das se -cas que, pe rió di ca e ime mo ri al men te, as so lam a re gião. No pri me i ro anodes se êxo do tris te e trá gi co, nada me nos de 14.000 pes so as de i xa ram oCe a rá to man do o rumo da Ama zô nia. No ano se guin te, essa quan ti da deatin giu o ex pres si vo nú me ro de 54.000 ce a ren ses, a que se se gui ram, nosanos se guin te, nor des ti nos de to das as ori gens e pro ce dên ci as. Eram asdes ven tu ras da na tu re za co bran do seu tri bu to de san gue e so cor ren do,com esse for mi dá vel las tro hu ma no, as vi cis si tu des da aven tu ra de sen ca -de a da pela ciên cia. Esta va co me çan do a odis séia dos fu tu ros acre a nosque tro ca ram o de ser to seco pelo de ser to úmi do, que con quis ta ram emcon di ções ad ver sas, às ve zes de su ma na, ge ran do in for tú nio, des cren ça epo bre za, mas tam bém pro du zin do ri que zas.

“A onda po vo a do ra, es cre veu Cra ve i ro Cos ta, di ri giu-se de pre fe rên -cia para as ba ci as do Ju ruá e Pu rus, rios mais fa cil men te na ve gá ve is, ser vi -dos por va po res, com um co mér cio que se anun ci a va pro mis sor e a in dús tria da bor ra cha em adi an ta da fase de or ga ni za ção”. Ho mens acos tu ma dosao ama nho da ter ra bru ta, ári da e seca viam-se se gre ga dos a um modo de vida que nun ca ti nham en fren ta do. Os co mer ci an tes os lar ga vam, emgran de par te se mi nus e es que lé ti cos, de i xan do-os às mar gens dos rios,abas te ci dos de man ti men tos, ar mas e mu ni ções. Os que não su cum bi amàs fe bres, à ma lá ria e a do en ças de que nun ca ti nham ou vi do fa lar, os quecon se gui am im por-se à sel va e so bre vi ver à lei bra via que im pe ra va nes sasáre as iso la das, fo ram os que des bra va ram, do ma ram e ocu pa ram aque later ra, onde só os in dí ge nas ti nham con se gui do so bre vi ver.

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Os nor des ti nos, como em tan tas ou tras re giões do Bra sil, fe cun da ram,po vo a ram e ci vi li za ram o Acre. Mi lha res fi ca ram se pul ta dos nos bar ran cos,ví ti mas da se le ção que a na tu re za im põe à es pé cie ani mal a que to dosper ten ce mos. Os mais for tes, po rém, trans for ma ram-se em pi o ne i ros, cu josno mes a his tó ria es que ceu, mas a me mó ria sal vou. Le an dro To can tins res -ga tou al guns de les: O “Co ro nel” Ale xan dre Oli ve i ra Lima, o “Ba rão da Bocado Acre”. O “Co ro nel” Ca e ta no Mon te i ro da Sil va, fun da dor dos se rin ga is Si -lên cio e Des ter ro, no alto Pu rus, em 1880. O “Co ro nel” Her mí nio Ro dri guesPes soa, des bra va dor do Iaco. Ne u tel Maia, fun da dor do se rin gal Empre sa,onde hoje se lo ca li za Rio Bran co. Ra i mun do Vi e i ra Lima, o Ra i mun do Sar -gen to, che ga do em 1886 e dono do se rin gal Ira ce ma. Fran cis co de Car va -lho, des de 1870 es ta be le ci do no Ri o zi nho da Li ber da de. Em Ta ra u a cá, em1887, fi xa ram-se Antô nio Pe tro li no Albu quer que, Mi guel Fer nan des e JoãoBus son. Em 1883, o ce a ren se Antô nio Mar ques de Me ne zes fun dou o se rin -gal na foz do Um. Fi nal men te, João Dou ra do e Bal du i no de Oli ve i ra le va ram a ocu pa ção às ra i as do Peru.

IV – “Onde fala o ouro, cala a ra zão”

A Re pú bli ca en con trou o Acre ocu pa do pe los bra si le i ros que se ins ta -la ram numa ter ra de fron te i ras des co nhe ci das e nun ca an tes de mar ca das. A pri me i ra in ves ti da bo li vi a na para ti rar pro ve i to da opu lên cia eco nô mi cada re gião ocor reu com a ten ta ti va de ins ta la ção de uma al fân de ga no Acre, fe i ta em ju lho de 1898, quan do che gou a Ma na us o en vi a do Juan Fran cis coVe lar de, frus tra do em seu in ten to, ao não lo grar aqui es cên cia do Go ver na -dor ama zo nen se Ra ma lho Jú ni or.

Em 22 de no vem bro, qua tro me ses de po is da fra cas sa da mis são deJuan Ve lar de, o Ita ma ra ti con ce deu au to ri za ção ao em ba i xa dor bo li vi a nono Bra sil, o Mi nis tro José Pa ra vi ci ni, para ins ta lar a al fân de ga de seu país emter ras acre a nas que a po lí ti ca ex ter na bra si le i ra, em 1867, re co nhe ceucomo de do mí nio bo li vi a no. Cum pri da sua mis são, o di plo ma ta não per ma -ne ceu du ran te mu i to tem po em seu novo des ti no, por ele fun da do e de no -mi na do de Pu er to Alon so, em ho me na gem ao pre si den te de seu país. Aoto mar co nhe ci men to, em 23 de abril de 1899, do gol pe de Esta do li de ra dopelo Ge ne ral Pan do con tra o Pre si den te Se ve ro Alon so a cujo Go ver no ser via, Pa ra vi ci ni de i xou em seu lu gar o côn sul bo li vi a no em Be lém e par tiu para oRio de Ja ne i ro a fim de re as su mir o seu pos to de che fe da Le ga ção bo li vi a na jun to ao Go ver no bra si le i ro. Pou co de po is de se afas tar do Acre, seu pre pos to ter mi nou de pos to por uma in ti ma ção dos se rin gue i ros acre a nos, pon do fimà pri me i ra ten ta ti va do Go ver no bo li vi a no de as se gu rar sua so be ra nia na re -gião.

Enquan to o em ba i xa dor bo li vi a no aguar da va em Be lém em bar quepara o Rio, che gou à ca pi tal pa ra en se, em 11 de mar ço des se mes mo ano,

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a ca nho ne i ra ame ri ca na Wil ming ton, pro ta go nis ta do epi só dio que iria de -mons trar a pro ce dên cia do di ta do po pu lar de que “onde fala o ouro cala ara zão”. Su bin do o Ama zo nas além de Ma na us, sem au to ri za ção do Go ver nobra si le i ro, e ante a im po tên cia do Go ver no es ta du al, sem me i os paradetê-la, na ve gou até Iqui tos, no Peru, onde eclo di ra uma re vo lu ção, semque se sou bes se de suas in ten ções. O ato de pre po tên cia cri ou um in ci den te di plo má ti co com o Go ver no bra si le i ro. Em 28 de abril, o na vio da Ma ri nha deguer ra ame ri ca na re tor nou aos Esta dos Uni dos, pou co de po is da che ga da a Be lém do ci da dão es pa nhol Luiz Gal vez Ro dri gues de Ári as que, con se guin -do em pre go como re pór ter do jor nal Pro vín cia do Pará, pu bli cou, sob o tí tu lode “Caso sen sa ci o nal”, a de nún cia de que, em sua vol ta, o co man dan teTodd da Wil ming ton ti nha sido por ta dor de uma pro pos ta de acor do as si na -da pelo em ba i xa dor bo li vi a no, o Mi nis tro Pa va ri ci ni e o côn sul ame ri ca no emBe lém.

A mi nu ta do tex to, tam bém pu bli ca do cin co dias de po is pelo jor nalCo mér cio do Ama zo nas de Ma na us, dava con ta de que o do cu men tocons ta va de sete itens. O pri me i ro es ta be le cia que o Go ver no ame ri ca noques ti o na ria o Bra sil, por via di plo má ti ca, para ob ter o ple no re co nhe ci men -to dos di re i tos da Bo lí via aos ter ri tó ri os do Acre, Pu rus e Iaco, em vis ta do Tra ta -do de Aya cu cho. O se gun do es ti pu la va que os Esta dos Uni dos for ne ce ri amre cur sos fi nan ce i ros e ma te ri al bé li co ao país an di no, na hi pó te se de umaguer ra en tre o Bra sil e a Bo lí via, en quan to a ter ce i ra con di ção pre via exi gir doBra sil de sig nar uma co mis são para, em per fe i to acor do com a Bo lí via, fi xar as fron te i ras nos rios Ju ruá e Ja va ri. O quar to item con ce dia li vre trân si to pe las al -fân de gas bra si le i ras de Ma na us e Be lém, aos pro du tos des ti na dos aos por tosda Bo lí via ou de les pro ce den tes, en quan to a quin ta cláu su la as se gu ra va oaba ti men to de 50% dos di re i tos de im por ta ção de to das as mer ca do ri as ori -un das dos Esta dos Uni dos e de 25% de toda a bor ra cha des ti na da a seuspor tos. Por fim, a sex ta e sé ti ma cláu su las di zi am res pe i to às con di ções a se -rem cum pri das no caso de guer ra: a Bo lí via de nun ci a ria o Tra ta do de Aya cu -cho de 1867, e es ta be le ce ria, com a con cor dân cia do Go ver no ame ri ca -no, que a li nha li mí tro fe com o Bra sil pas sa ria a cor rer pela Boca do Acre en -quan to os res tan tes ter ri tó ri os si tu a dos nas áre as com pre en di das en tre essepon to e a ocu pa ção bo li vi a na na que la re gião se ri am en tre gues em li vrepas se aos Esta dos Uni dos, que ar ca ri am com os gas tos da guer ra, re ce ben -do em hi po te ca a ren da das al fân de gas bo li vi a nas.

A no tí cia ca u sou es cân da lo em Ma na us e Be lém e re per cu tiu no Riode Ja ne i ro, in clu si ve na Câ ma ra dos De pu ta dos, em face da ati tu de doGo ver na dor pa ra en se Paes de Car va lho dan do ciên cia dos fa tos ao Pre si -den te Cam pos Sa les e ao Mi nis tro do Exte ri or, atra vés do De pu ta do Au gus toMon te ne gro, e não di re ta men te, por via ofi ci al. O Bra sil pro tes tou jun to aoDe par ta men to de Esta do que apre sen tou des cul pas ao Mi nis tro Assis Bra sil,che fe da Le ga ção do Bra sil em Was hing ton. O epi só dio ser viu para aler tar o país de que o ouro ti nha co me ça do a fa lar, ca lan do a ra zão. Ante ci pa va,

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ao mes mo tem po, as sus pe i tas que mais tar de se con fir ma ram, quan to aos ris cos do ar ren da men to do Acre a uma ter ce i ra na ção, ou a con sór ci os pri -va dos es tran ge i ros, como pou co mais tar de veio a ocor rer com o “Bo li vi anSyndi ca te”.

Pou co tem po de po is do pe di do de des cul pas ofi ci a is do De par ta -men to de Esta do ame ri ca no ao Go ver no bra si le i ro, de Was hing ton che -ga ram te le gra mas anun ci an do ter o pre si den te ame ri ca no Mac Kin leyexo ne ra do o Ca pi tão-de-Fra ga ta Chap man Todd do co man do da ca -nho ne i ra Wil ming ton. O mo ti vo ale ga do foi ter o man da tá rio ame ri ca nore pro va do a in cur são do vaso de guer ra ao alto Ama zo nas e as re la çõesque o ofi ci al ame ri ca no man te ve em Iqui tos com os re vo lu ci o ná ri os pe ru -a nos. A di vul ga ção de to dos es ses fa tos frus trou os pla nos do Mi nis tro bo li -vi a no Pa va ri ci ni e do Côn sul ame ri ca no em Be lém, mas não adi ou ospro je tos que ani ma ram a aven tu ra de Gal vez no Bra sil.

V – Gal vez, im pe ra dor dos so nhos alhe i os

O li vro do ama zo nen se Már cio de Sou za, Gal vez, im pe ra dor do Acre,não ser viu ape nas para re ve lar ao país um jo vem, di li gen te e ta len to so es -cri tor. Con tri bu iu, tam bém, para co lo car em evi dên cia no va men te, de po isde mu i tos anos de es que ci men to, a con tro ver ti da fi gu ra do aven tu re i ro es -pa nhol Luís Gal vez Ro dri guez de Ári as e da fa ça nha que o le vou a li gar oseu nome à his tó ria do Acre. Pri me i ro, ao de nun ci ar o frus tra do acor do en tre o côn sul ame ri ca no em Be lém e o Mi nis tro Pa va ri ci ni, che fe da Le ga çãoBo li vi a na no Rio de Ja ne i ro; em se gui da, na qua li da de de agen te na ca pi -tal pa ra en se, de uma Jun ta Re vo lu ci o ná ria do Acre, for ma da em São Je rô -ni mo por do nos de se rin ga is acre a nos e, por fim, como pro cla ma dor daRe pú bli ca Inde pen den te do Acre.

Sabe-se que Gal vez se ofe re ceu à Jun ta Re vo lu ci o ná ria de São Je rô -ni mo para or ga ni zar e li de rar uma ex pe di ção ao Acre, ten do fi nal men te fi -ca do acor da do que de ve ria fazê-lo a par tir de Ma na us, onde o am bi en tecon tra a ocu pa ção bo li vi a na do Acre era mais cris pa do. As ra zões do in te -res se di re to do Go ver na dor José Car do so Ra ma lho Jú ni or na ques tão acre a -na po di am ser en con tra das em sua men sa gem ao Le gis la ti vo es ta du al,lida na ses são de 10 de ju lho de 1899, afir man do que “a ocu pa ção bo li vi a -na no Acre trou xe aos Esta dos do Ama zo nas e Pará não pe que na per tur ba -ção nas re la ções eco nô mi cas, des fal can do o pri me i ro em não me nos detrês mil con tos de sua re ce i ta”.

Se gun do seu de po i men to pu bli ca do na edi ção do Diá rio de No tí ci asde Ma na us de 26-1-1900, sob o tí tu lo “Ao Povo Bra si le i ro”, Gal vez afir ma tersido sua ex pe di ção cons ti tu í da sob o ma i or si gi lo, sob o pre tex to de ex plo rar um se rin gal no Ju ruá. E se jus ti fi ca: “Pro ce den do as sim, não me ex pus a serde nun ci a do e se ve ra men te pu ni do como o fo ram, pelo Go ver no do Ama -

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zo nas, os ilus tres e des te mi dos bra si le i ros que no dia 1º de maio ex pul sa ram de Pu er to Alon so as au to ri da des bo li vi a nas. Esta no tí cia, che ga da a Ma na -us na que les dias, mo ti vou a de mis são das au to ri da des de Anti ma ri e a no -me a ção de ou tras no vas, que le va ram a es pe ci al mis são de re por nos seus lu ga res as odi o sas au to ri da des bo li vi a nas”.

A des pe i to de seu tes te mu nho, as se gu ran do ter fi ca do “pa ten te e pro -va do que a ex pe di ção que or ga ni zei e con du zi ao rio Acre não foi pro te gi -da nem paga por pa tri o tas da ci da de de Ma na us”, o au xí lio que re ce beure al men te não veio de les, mas do Go ver na dor do Ama zo nas, se gun do re -ve la J. Fer re i ra So bri nho, nos ori gi na is de sua obra As qua tro in sur re i çõesacre a nas, ao afir mar ter lido o re la tó rio em que Gal vez pres tou con tas dos400 con tos de réis de au xí lio re ce bi do para esse fim. Ape tre cha do o seu“exér ci to” com 20 ho mens con tra ta dos para cor tar se rin ga, e 202 vo lu mes,dois dos qua is com 20 ri fles e dois cu nhe tes de mu ni ção, Gal vez par tiu deMa na us no dia 4 de ju nho de 1899, na mes ma ga i o la em que tam bémem bar ca ram as au to ri da des es ta du a is que iam subs ti tu ir no Mu ni cí pio deAnti ma ri, re ba ti za do como Flo ri a no Pe i xo to, as que agi ram con tra os bo li vi a -nos de Pu er to Alon so, de pon do-os, sem re sis tên cia.

Pou co mais de um mês de po is de sua che ga da, es co lhi do o dia 14de ju lho, para co in ci dir com a data da Re vo lu ção Fran ce sa, acla ma do pe -los mem bros da Jun ta Re vo lu ci o ná ria de São Je rô ni mo, Gal vez pro cla mou,ao mes mo tem po, a Inde pen dên cia e a Re pú bli ca do que ele mes mo de -no mi nou Esta do Inde pen den te do Acre. No me ou seus Mi nis tros, ba i xou ospri me i ros de cre tos e co mu ni cou ao Go ver no bra si le i ro e aos dos prin ci pa ispa í ses a cri a ção da Re pú bli ca com que, jul gan do tal vez ma te ri a li zar a ma i -or fa ça nha de sua vida, es ta va ape nas con cre ti zan do so nhos alhe i os. Nocaso, o do Go ver na dor ama zo nen se Ra ma lho Jú ni or que, com os 400 con -tos em pre ga dos na aven tu ra por ele em pre sa da, jul ga va re cu pe rar-se dopre ju í zo anu al de 3.000 con tos que a al fân de ga bo li vi a na de Pu er to Alon soca u sa va a seu Go ver no.

O ges to gran di o so de Gal vez du rou exa tos oito me ses, de 14 de ju lhode 1899 a 15 de mar ço de 1900. E pro vo ca ria tam bém re a ções.

A pri me i ra veio do Go ver no bo li vi a no, or ga ni zan do uma ex pe di çãomi li tar de ter mi na da pela Jun ta que, de po is do gol pe do Ge ne ral José Ma -nu el Pan do, e com pos ta por ele mes mo, por Se ra fim Re yes Ortiz e Ma cá rioPi nil la, go ver na va o país. A for ça mi li tar, co man da da pelo de le ga do na ci o -nal de sig na do para o Acre, D. Andrés Mu ñoz, par tiu de La Paz no dia 25 deou tu bro de 1899. Em abril de 1900, já era com pos ta de 400 ho mens dis tri -bu í dos em dois pi que tes e três co lu nas. Em 22 de agos to, par tiu de Mer ce -des e em 22 de se tem bro, qua se um ano de po is de sua par ti da, che goufi nal men te a Ca pa ta rá, já na fron te i ra com o Bra sil. Des sa ex pe di ção re sul -tou como tes te mu nho o li vro La cam pa ña del Acre, do Te nen te Co ro nelEmí lio Fer nan dez, que a in te grou.

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Se a pri me i ra re a ção veio da Bo lí via, a mais efi caz par tiu do Go ver nobra si le i ro. Re sol vi do a man ter a so be ra nia bo li vi a na na re gião, de sig nou um côn sul bra si le i ro para Pu er to Alon so e re sol veu in ter vir mi li tar men te, en vi an -do ao Ama zo nas uma flo ti lha com pos ta dos avi sos-de-guer ra Ju ru e ma,Tefé e To can tins, sob o co man do do Ca pi tão-de-Fra ga ta José Ra mos Fon -se ca e in te gra da, en tre ou tros ofi ci a is, pelo Te nen te Arman do Bur la ma qui,co man dan te do avi so-de-guer ra To can tins. Este ofi ci al, que mais tar de en -tre 1920 e 1927 veio a exer cer o man da to de de pu ta do fe de ral pelo Pi a uí,de i xou na co le tâ nea de seus dis cur sos pro nun ci a dos na le gis la tu ra de1920, sob o tí tu lo A Qu es tão do Acre, seu tes te mu nho so bre a re u nião que,no dia 19 de fe ve re i ro de 1900, re u niu no pa lá cio do Go ver no do Ama zo -nas, sob a di re ção do Go ver na dor Ra ma lho Jú ni or, as au to ri da des fe de ra is, de pu ta dos, se na do res, o pre si den te do Le gis la ti vo es ta du al e os ofi ci a isque in te gra vam a flo ti lha de guer ra. De po is de re su mir o que dis se o Go ver -na dor, afir ma que ele mes mo usou a pa la vra para de fen der a re vo lu çãocomo um ato pa trió ti co, di zen do ser acon se lhá vel que o Go ver no do Ama -zo nas bus cas se uma fór mu la con ci li a tó ria com os re vol to sos. Lem brou res -tar aos mi li ta res em pre gar as for ças a seu dis por para de be lar a re vo lu çãoe, no que dele de pen des se, tudo fa ria “para evi tar que o Acre seja para aMa ri nha o que Ca nu dos foi para o Exér ci to”.

Não foi ne ces sá rio qual quer con fron to. De po is de di zer que esse eratam bém o seu de se jo, o Go ver na dor adi an tou que um seu de le ga doacom pa nha ria a ex pe di ção com esse pro pó si to e au to ri zou que o na viomer can te Be lém, fre ta do pelo Go ver no es ta du al, le van do a bor do 100 sol -da dos e 12 ofi ci a is, in te gras se a flo ti lha que par tiu de Ma na us no dia 24 defe ve re i ro. No dia 15 de mar ço, de po is de le va do a bor do do ca pi tâ nia daflo ti lha e pos to a par das de ci sões do Go ver no Fe de ral, Gal vez as si nou aata de sua re nún cia, tam bém fir ma da pelo Ca pi tão-de-Fra ga ta José Ra -mos Fon se ca, o co mis sá rio do Go ver no ama zo nen se Lopo Gon çal ves Bas -tos Neto e o Te nen te Arman do Bur lam qui. Ter mi na ra sua aven tu ra.Co me ça ram suas des ven tu ras.

VI – Re bel dia a qual quer pre ço

Três dias an tes do fim da aven tu ra de Gal vez, o che fe da Le ga ção Bo li vi -a na no Bra sil as si nou no Rio, com o co nhe ci men to do Mi nis té rio das Re la çõesExte ri o res, um con tra to de ar ren da men to da al fân de ga de Pu er to Alon so como co mer ci an te bra si le i ro Arsê nio Cin tra da Sil va. Para re a fir mar a po si ção doGo ver no bra si le i ro, de re co nhe cer e as se gu rar por to dos os me i os pos sí ve is, in -clu si ve com o em pre go de for ça mi li tar, como aca ba ra de de mons trar, a so -be ra nia bo li vi a na so bre o Acre, o Mi nis tro Olin to de Ma ga lhães fez ques tão deas si na lar, no re la tó rio do mi nis té rio de 1902, que “não pus qual quer im pe di -men to ao con tra to”.

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Na mes ma data da re nún cia de Gal vez, o Go ver no do Ge ne ral Pan doen vi ou a seu em ba i xa dor em Lon dres, Fe lix Ave li no Ara ma yo, ins tru ções paraor ga ni zar uma em pre sa com o ca pi tal mí ni mo de 300 mil li bras es ter li nas,com o con cur so de in ves ti do res pri va dos, com o ob je ti vo de ar ren dar-lhe osdo mí ni os bo li vi a nos no Acre. Re e di ta va-se em nova ver são o fra cas sa do pro -je to ten ta do pelo Mi nis tro Pa va ri ci ni com o Côn sul ame ri ca no, afas tan dodes sa nova ten ta ti va os in con ve ni en tes da pri me i ra. O mun do vi via a era daex pan são co lo ni a lis ta, de que par ti ci pa vam, na Áfri ca e no Su des te da Ásia,as “char te red com pa ni es”. Por que não ten tar o mo de lo na Amé ri ca do Sul?Tra tan do-se de em pre sas pri va das, atu an do com a com pla cên cia e a co ni -vên cia dos Go ver nos in di re ta men te en vol vi dos, evi ta va-se a in ter fe rên cia dadi plo ma cia e do peso po lí ti co de qual quer Go ver no que se sen tis se pre ju di -ca do.

O em ba i xa dor bo li vi a no em Lon dres agiu com efi ciên cia e ra pi dez.Em pou co mais de um ano, em 14 de ju lho de 1901, mes ma data es co lhi -da por Gal vez para con su mar o ato mais im por tan te de sua vida em suabre ve pas sa gem pelo Acre, o di plo ma ta apôs sua as si na tu ra no con tra tode cons ti tu i ção do “Bo li vi an Syndi ca te”. Por esse ins tru men to, 60% dos lu -cros ob ti dos com a ex plo ra ção das ter ras e se rin ga is ar ren da dos se ri amdes ti na dos ao Go ver no bo li vi a no e 40% aos ar ren da tá ri os. Seis me ses de -po is, em 17 de de zem bro, o con tra to foi apro va do pelo Con gres so bo li vi a -no.

Embo ra o con tra to per mi tis se aos ar ren da tá ri os po de res ili mi ta dos, oGo ver no da Bo lí via de ci diu or ga ni zar sua se gun da ex pe di ção ao Acre, em1900. A for ça mi li tar foi di vi di da em duas co lu nas. Uma par tiu de Co cha -bam ba em maio, che fi a da por D. Luís Pe rez Ve las co, Vice-Pre si den te daRe pú bli ca. A ou tra, or ga ni za da em La Paz, com o nome de ba ta lhão “Inde -pen dên cia”, pôs-se em mo vi men to sob o co man do do Mi nis tro da Gu er ra.

Enquan to isso, em 23 de ju lho des se mes mo ano, to mou pos se o novo Go ver na dor do Ama zo nas, José Néri, su ces sor de José Car do so Ra ma lhoJú ni or. A in ter ven ção mi li tar do Go ver no bra si le i ro e a re nún cia de Gal vez in -cen ti va ram a re bel dia in con ti da dos jo vens e de mu i tos dos ro mân ti cos ide -a lis tas bra si le i ros, in con for ma dos com a sor te dos acre a nos. Umaex pe di ção ba ti za da de “Flo ri a no Pe i xo to” e cha ma da de pre ci a ti va men tede “ex pe di ção dos po e tas” apres ta va-se para par tir de Ma na us, in cen ti va -da pe los jor na is lo ca is e a tá ci ta com pla cên cia do Go ver no es ta du al. Era li -de ra da pelo jor na lis ta Orlan do Cor re ia Lo pes, se cun da do pelo jo vemtri bu no João Bar re to de Me ne zes, fi lho de To bi as Bar re to. Entre in te lec tu a is,po e tas e le tra dos de to dos os ti pos, que dela par ti ci pa vam, es ta vam Efi gê -nio Sa les, que na dé ca da de 20 veio a go ver nar o Ama zo nas, Epa mi non -das Já co me, que se tor nou o pri me i ro Go ver na dor do fu tu ro Ter ri tó rio doAcre, de po is do fim do re gi me de Pre fe i tu ras, Arnal do Vi e i ra Ma cha do, oper nam bu ca no Tra ja no Cha con, bru tal men te as sas si na do em 1913 no Re -

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ci fe por suas con vic ções po lí ti cas, Vi tor Fran cis co Gon çal ves e José Ma riados San tos, jor na lis ta e au tor, en tre ou tros clás si cos, de A po lí ti ca ge ral doBra sil.

Os jo vens po e tas re pe ti am Gal vez, sem con tar com a sua sor te. Qu -an do che ga ram à foz do Acre, sou be ram que a re vo lu ção la vra va pe lasmar gens do rio, con cen tran do-se em Ba ga ço, sob o co man do de J. Xa vi -er, em Vol ta da Empre sa, onde se pos ta va ou tro ba ta lhão che fi a do por Ale -xan dri no José da Sil va e em Bom Des ti no. Em 12 de de zem bro, o ba ta lhão“Inde pen dên cia”, en vi a do de La Paz, sob o co man do do Mi nis tro da Gu er -ra, acam pou no se rin gal Ri o zi nho, onde re pe li ram ata que dos acre a nos,con se guin do sua ma i or vi tó ria mi li tar no con fli to que se anun ci a va. Para osex pe di ci o ná ri os, não ha via ou tra al ter na ti va se não jun tar-se aos in sur re tos e, sem qual quer ex pe riên cia, re sol ve ram ata car Pu er to Alon so, o que fi ze ramsem êxi to no dia 28 de de zem bro, até se rem des ba ra ta dos. A des pe i to davi tó ria, o cer co a que es ta vam sub me ti dos os bo li vi a nos ame a ça va ven -cê-los pela fome. Fo ram sal vos pe los na vi os re ti dos em Ca que tá pe los in -sur gen tes que, re be lan do-se con tra o blo que io im pos to pe los po e tas, orom pe ram, para alí vio e re den ção dos bo li vi a nos até en tão si ti a dos.

O en tu si as mo dos jo vens in te lec tu a is, que por um mo men to se ilu di -ram com seu pró prio ide a lis mo, ti nha-lhes mos tra do que re be lar-se a qual -quer pre ço, po di am. O que não po di am é ven cer sem ex pe riên cia eor ga ni za ção.

VII – A paz dos ino cen tes

A der ro ta da ex pe di ção dos po e tas pa re cia ter tra zi do a paz al me ja dape los bo li vi a nos. Pela pri me i ra vez, um ano in te i ro trans cor ria sem ma i o res in -ci den tes. A al fân de ga de Pu er to Alon so co me çou a apre sen tar re sul ta dospro mis so res. Du ran te 1901, pro du ziu uma ar re ca da ção de qua se dois milcon tos, cer ca de um mi lhão de bo li vi a nos. O li vro de José Ma no el Apon te, La Re vo lu ción del Acre, es ti ma va que tão logo fos sem ins ta la dos os pos tos adu -a ne i ros do rio Iaco e do Alto Pu rus, a ren da pro por ci o na ria uma re ce i ta depelo me nos qua tro mi lhões de bo li vi a nos. Para não de i xar des guar ne ci do oen cla ve acre a no, o Go ver no de La Paz en vi ou uma for ça de 150 ho mens,sob o co man do do Te nen te Co ro nel Ma nu el Can se co, para subs ti tu ir os ex te -nu a dos con tin gen tes do ba ta lhão De fen so res del Acre e seu co man dan tePe dro Sa la zar.

Na men sa gem anu al lida em 15 de ja ne i ro pe ran te o Le gis la ti vo do Esta -do, o Go ver na dor Sil vé rio Néri não de i xou sem uma re fe rên cia a ques tão quetan to in te res sa va a seu Go ver no: “(...) ao ter mi nar esta ex po si ção, seja-me per -mi ti do ren der um pre i to de ho me na gem àque la por ção de bra si le i ros que emzona lon gín qua re gam com seu sa gra do san gue a idéia pa trió ti ca de fa zerper ma ne cer bra si le i ra a lar ga fa i xa de ter ra, ora ocu pa da pelo es tran ge i ro, ao

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sul da cha ma da li nha Cu nha Go mes, que o Go ver no vê-se obri ga do a res pe i -tar, por for ça de um tra ta do”.

Em 28 de agos to, che ga ram ao fim os tra ba lhos das co mis sões téc ni -cas en car re ga das pelo pro to co lo bra si le i ro-bo li vi a no de 30 de ou tu bro de1899 de de mar car a lo ca li za ção exa ta do mar co ge o dé si co que de ve ria in -di car a po si ção da fron te i ra en tre os dois pa í ses. A equi pe bra si le i ra, che fi a da pelo en ge nhe i ro Luís Cruls, di re tor do Obser va tó rio Na ci o nal, e a bo li vi a na por D. Adol fo Bal li vi an con se gui ram, por fim, des ven dar uma in cóg ni ta des co -nhe ci da há qua se dois sé cu los. La men ta vel men te para as as pi ra ções dosbra si le i ros do Acre, o mar co foi fi xa do a 7 gra us, 6 mi nu tos e 66 se gun dos, dis -si pan do as es pe ran ças bra si le i ras de des lo car a li nha Cu nha Go mes maispara o sul, a fa vor do Bra sil.

Sem ou tro meio com que par ti ci par da ar re ca da ção dos tri bu tos co -bra dos pela al fân de ga bo li vi a na em Pu er to Alon so, o Go ver na dor do Ama -zo nas cri ou, no fim de 1901, uma co le to ria es ta du al em Ca que tá, fron te i racom o Acre, sob o ar gu men to de que mu i ta bor ra cha co lhi da em ter ri tó rioama zo nen se es ta va sen do es co a da como se fos se pro du zi da no Acre. E de -sig nou para di ri gi-la Ro dri go de Car va lho, que ti nha or ga ni za do a in sur re i çãoem an da men to, quan do lá che gou a ex pe di ção dos po e tas. Ao pro tes to do de le ga do bo li vi a no no Acre, en vi a do por seu em ba i xa dor ao Mi nis tro doExte ri or, e por este trans mi ti do ao Go ver na dor, este res pon deu não po der sa -tis fa zer o de se jo do chan ce ler bra si le i ro, ar gu men tan do no te le gra ma, tex tu -al men te: “no me a do úni co po de rá evi tar au da ci o sos con tra ban dos le si vosUnião Esta do, já se guiu Ca que tá com em pre ga dos co le to ria e des ta ca -men to mi li tar. Nada re ce e is sua con du ta. Esta rei vi gi lan te não per mi tir agres -são. Se rei en tre tan to ine xo rá vel re pres são con tra ban dis tas”. Em 8 deno vem bro Ro dri go de Car va lho che gou a Ca que tá e re co me çou, ain daque de for ma dis si mu la da e dis cre ta, o seu obs ti na do tra ba lho de ar re gi -men ta ção.

O ano de 1901 es go tou-se sem mais no vi da des. Em 3 de abril de1902, che gou a Pu er to Alon so D. Lino Ro me ro, novo de le ga do bo li vi a no,com a mis são de pre pa rar a en tre ga das ter ras ar ren da das ao “Bo li vi anSyndi ca te”. Mu i tas de suas me di das o fo ram in com pa ti bi li zan do com al -guns dos an ti gos fun ci o ná ri os bo li vi a nos e com a ma i or par te dos acre a nos. Uma de las, po rém, to ma da seis me ses de po is de sua che ga da, quan do jáes ta va sob o cer co das tro pas de Plá ci do de Cas tro, pa re ceu do ta da de in -tu i ti vo bom sen so. Foi a car ta que, em 25 de ou tu bro de 1902, en de re çouao pre si den te de seu país, o Ge ne ral Pan do, na qual es cre veu: “O Acre éno mi nal men te da Bo lí via, mas ma te ri al men te do Bra sil; tudo con tri bui paraisso: as imen sas dis tân ci as e obs tá cu los que o se pa ram do res to do país, apo pu la ção es tra nha que o po voa, a fal ta de vias de co mu ni ca ção den trodo mes mo ter ri tó rio, e fi nal men te a im pos sí vel adap ta ção de nos sa raça aesse cli ma mor tí fe ro”.

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A paz que, em 1901 e no iní cio de 1902, pa re cia ter ca í do so bre o Acree amor te ci do o ím pe to re bel de dos acre a nos, três ve zes in sur gen tes con tra o do mí nio bo li vi a no, não era a paz dos con for ma dos, mas a dos ino cen tes.Aque les que, nela, ain da eram ca pa zes de acre di tar.

Não era o caso de Ro dri go de Car va lho que, em com pa nhia de JoséGal di no Assis Ma ri nho e Jo a quim Alves Maia, pro pri e tá ri os de gran des ex -ten sões, pro cu rou em Ma na us o jo vem agri men sor Plá ci do de Cas tro, cujopas sa do mi li tar já co nhe cia, para pro por-lhe, an tes de sua par ti da para oJu ruá, para onde de via cum prir com pro mis sos de cu nho pro fis si o nal, queas su mis se o co man do da nova in sur re i ção em que, com o apo io do Go -ver no ama zo nen se, to dos es ta vam en ga ja dos. Plá ci do, en tão com 29anos, os ou viu em si lên cio e pe diu três dias para dar uma res pos ta. Qu an do o pro cu ra ram no va men te já ti nha es ta be le ci do as con di ções para ace i taro de sa fio. Exi giu em pri me i ro lu gar que o Go ver no do Ama zo nas não in ter fe -ris se na cam pa nha; que se for mas se uma Jun ta Re vo lu ci o ná ria que se dis -sol ve ria no iní cio das ope ra ções mi li ta res, fi can do cen tra li za dos noco man dan te to dos os po de res ci vis e mi li ta res. Por fim, todo aque le que fal -tas se aos de ve res im pos tos pela cam pa nha, ou se re cu sas se a cum pri-los,se ria su ma ri a men te pas sa do pe las ar mas.

No dia 23 de ju nho, Plá ci do to mou co nhe ci men to das con di ções docon tra to fir ma do pelo Go ver no bo li vi a no, com o “Bo li vi an Syndi ca te”. Do se -rin gal Bom Des ti no, onde se en con tra va, se guiu em com pa nhia do an fi trião até Ca que tá, onde se re u niu com os mem bros da Jun ta Re vo lu ci o ná ria eos prin ci pa is do nos de se rin ga is e co mer ci an tes. Cons ta ta da a im pos si bi li -da de de se de fla grar o mo vi men to em 14 de ju lho, como pre ten di am, es -co lhe ram o dia 6 de agos to, data na ci o nal da Bo lí via. Acla ma doco man dan te, as sen ta ram que o mo vi men to eclo di ria em Xa pu ri, mu i toem bo ra Plá ci do op tas se por Pu er to Acre, nome que os bo li vi a nos ti nhamdado a Pu er to Alon so.

VIII – “Es tem pra no para la fi es ta...”

Na ma dru ga da do dia 6 de agos to, foi o pró prio Plá ci do quem de i xoure gis tra do em seus Apon ta men tos so bre a Re vo lu ção Acre a na in clu í do noli vro de seu ir mão, Ge nes co de Cas tro: “Pe ne tran do na Inten dên cia, de láre ti ra mos umas ca ra bi nas e dois cu nhe tes de ba las; em se gui da, cha -mei-os em voz alta. O Inten den te, mal acor da do, ain da res pon deu: Es tem -pra no para la fi es ta [é cedo para a fes ta], ao que lhe re tor qui: Não é fes ta,Sr. Inten den te, é a re vo lu ção!”.

Esta va co me çan do a quar ta in sur re i ção dos acre a nos con tra o do mí -nio bo li vi a no. É ain da do co man dan te-em-che fe a sim pli ci da de do re la to:“(...) de i xei-os sob guar da e fui à casa do Sr. Nu nes [em seu li vro For ma çãoHis tó ri ca do Acre, Le an dro To can tins es cla re ce o en ga no de Plá ci do, já

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que a pes soa in di ca da era Ne ves], onde Mo re i ra nada ha via fe i to. Pren -di-os to dos. O Co ro nel José Gal di no já vi nha da casa de Alfre do Pi res, commu i tos pre sos. Assim co me çou a re vo lu ção”.

Na vila Ma ris cal Su cre, que vol tou a se cha mar Xa pu ri, Plá ci do se de te vepara ar re gi men tar efe ti vos para a sua tro pa e tre i ná-los para os de sa fi os que ti -nha à fren te, con se guin do en ga jar em uma se ma na 150 ho mens. Ao to marco nhe ci men to dos su ces sos de Xa pu ri, o de le ga do bo li vi a no D. Lino Ro me ropren deu al guns dos mais im por tan tes do nos de se rin ga is e de cre tou es ta dode sí tio em Pu er to Acre, fato de que Plá ci do veio to mar co nhe ci men to quan -do che gou a Ca que tá. De po is de re du zir à obe diên cia seus ali a dos re cal ci -tran tes, em pe nhou-se em ar re gi men tar sol da dos para a ca u sa, per cor ren doto dos os se rin ga is a que ti nha aces so. A sua rota está pon tu a da de pro pri e da -des da re gião: Bom Des ti no, Ba ga ço, Ca tu a ba e Li ber da de es ta vam en tre osprin ci pa is a que re cor reu.

Nes sa ro ma ria, de pa rou-se com duas das fu tu ras ví ti mas de suas rí gi -das nor mas de dis ci pli na. Uma era um jo vem dos pou quís si mos al fa be ti za -dos en tre os sol da dos, Antô nio Fran cis co Sil va, cog no mi na do Dou tor,acu sa do de pre gar a de ser ção pela inu ti li da de da luta. Ao to mar co nhe ci -men to dos fa tos, Plá ci do man dou tra zê-lo à sua pre sen ça e o ad ver tiu se -ve ra men te, sob o ris co de ser fu zi la do. Ou tro era o pa de i ro de Vol ta daEmpre sa, co nhe ci do como Antô nio Por tu guês, que Plá ci do man da ra pren -der sob a acu sa ção de es tar a ser vi ço das for ças ini mi gas, mas sol tou a pe -di do de pes so as que lhe me re ci am con fi an ça. O co man dan te to mouco nhe ci men to de que era o guia das tro pas bo li vi a nas sob o co man do doCo ro nel Ro sen do Ro sas que se di ri gia ao se rin gal Empre sa. Antes do fim daguer ra, am bos ter mi na ram fu zi la dos por or dem de Plá ci do, ser vin do de ad -ver tên cia à tro pa.

Ao to mar co nhe ci men to do des lo ca men to dos bo li vi a nos, em 19 dese tem bro, Plá ci do re sol veu sur pre en dê-los. Co man dan do 63 re cru tas ain -da sem ex pe riên cia par tiu à no i te e che gou ao se rin gal Empre sa de ma dru -ga da, onde já o aguar da vam os bo li vi a nos que ha vi am mar cha do toda ano i te. For ça da a re cu ar, a tro pa de Plá ci do con tou en tre as ví ti mas vin te edois mor tos e dez fe ri dos, en quan to os bo li vi a nos, com dez mor tos e oito fe -ri dos, co me mo ra vam a vi tó ria. As tro pas do ca u di lho es ta vam sen do acu a -das. O de le ga do bo li vi a no D. Lino Ro me ro or de nou um ata que a Te lhe i ro,cap tu ran do os que ali en con tras se e a Bom Des ti no, ata can do de sur pre sase fos se pe que no o nú me ro de seus de fen so res. A in cur são se deu sob oco man do do Co ro nel Her mó ge nes Iba ñez, onde a tro pa bo li vi a na con ta bi -li zou a pri são de sete pes so as, pon do ou tros seis em fuga e mais três mor tosque os acre a nos de nun ci a ram ter sido fu zi la dos de po is de ren der-se. Masnão che gou a Bom Des ti no, seu ob je ti vo fi nal.

A se gun da in cur são foi or de na da sob o co man do do Co ro nel Can se -co, que de ve ria al can çar Te lhe i ro e de lá se guir por ter ra para Bom Des ti no,

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onde foi re ce bi do pe los in sur re tos co man da dos pelo Co ro nel La dis lau Fer -re i ra da Sil va bem en trin che i ra dos fa zen do de sis tir os ata can tes que con ta -bi li za ram sete ba i xas: um ofi ci al e um sol da do mor tos e cin co fe ri dos.

No dia 5 de ou tu bro, Plá ci do de Cas tro ini ci ou o ata que às tro pas doCo ro nel Ro sen do, en trin che i ra das no Vol ta da Empre sa e pro te gi das pelona vio Rio Afuá, que, ato la do no le i to seco do rio, foi trans for ma do em for timonde uma guar ni ção di fi cul ta va os mo vi men tos dos re vo lu ci o ná ri os. A pri -me i ra leva do ata que du rou dois dias se gui dos, ao fim dos qua is, aper tan -do-se o cer co, ren deu-se o efe ti vo do Rio Afuá. O ca u di lho pro pôs umatré gua para par la men ta rem os ter mos da ren di ção re je i ta da pelo co man -do das tro pas bo li vi a nas. Os com ba tes fo ram re to ma dos e pros se gui ramaté o dia 14, quan do o pri si o ne i ro bo li vi a no Luís Pi ne do se ofe re ceu comoin ter me diá rio para a sus pen são das hos ti li da des que se con su ma ram coma ca pi tu la ção do Co ro nel Ro sen do e sua tro pa, li be ra dos to dos para vol ta -rem à Bo lí via e às suas ca sas. Era a pri me i ra e a mais im por tan te vi tó ria nocur so da guer ra, ain da lon ge do fim.

Enquan to as tro pas de Plá ci do ven ci am na Vol ta da Empre sa, ou trode seus con tin gen tes, sob o co man do de Ma nu el Nu nes, en car re ga do dade fe sa do bar ra cão do Iga ra pé Ba hia, era ven ci do em 10 de se tem bro noAlto Acre. Não re sis tin do ao ata que da co lu na Por ve nir, or ga ni za da pe losdo nos de se rin ga is bo li vi a nos, Nu nes re fu gi ou-se em Xa pu ri, de po is de de i -xar 53 ba i xas, sete dos qua is fe ri dos e fu zi la dos, mes mo des ti no de ou trosseis, pre sos quan do se eva di am. Des sa der ro ta, Plá ci do só to mou co nhe ci -men to no fim de se tem bro. A der ro ta no Iga ra pé Ba hia abria um flan co emsuas for ças, con cen tra das em Xa pu ri. Se a tro pa que ven ceu aque la re fre -ga se jun tas se às for ças bo li vi a nas, acam pa das no Abu nã, todo o Alto Acrecor ria o ris co de ser re con quis ta do. Re sol veu en tão re a gir.

Par tiu por ter ra em di re ção ao rio Iqui ri, aon de che gou a 4 de no vem -bro, fa zen do uma pa u sa para ar re gi men tar-se. No dia 15, se gun do re gis -tram seus Apon ta men tos, man dou en fe i tar o acam pa men to e mar couuma pa ra da às 10 ho ras da ma nhã, para co me mo rar o ani ver sá rio da Pro -cla ma ção da Re pú bli ca.

IX – Des ti nos cru za dos

Enquan to, ter mi na do o des fi le, Plá ci do e suas tro pas co me ça ram a se des lo car, em di re ção da bar ra ca Bela Vis ta, no Rio Abu nã, aon de che ga ri -am dois dias de po is, no Rio de Ja ne i ro Ro dri gues Alves re ce bia das mãosde seu an te ces sor, Cam pos Sa les, pa u lis ta como ele, a fa i xa de Pre si den teda Re pú bli ca, tor nan do-se o ti tu lar do 4o pe río do re pu bli ca no de go ver noem nos so País e o 3o ci vil a ocu par o car go. Dos seis mi nis tros es co lhi dos porele, um, o das Re la ções Exte ri o res, não to mou pos se, sen do subs ti tu í do in te -ri na men te pelo da Jus ti ça, o ba i a no J.J. Se a bra.

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A es co lha de mi nis tros no Rio de Ja ne i ro cer ta men te era as sun to re -mo to e de pou co in te res se para Plá ci do de Cas tro, seus co man da dos e ama i or par te dos nor des ti nos que, ten do se trans for ma do em acre a nos, na -que le ano, de ar mas na mão, lu ta vam para con ti nu ar sen do bra si le i ros. Dapas ta das Re la ções Exte ri o res, pou co mais que re pri men das e agra vos sepo de ria es pe rar, de po is da atu a ção dos dois úl ti mos ti tu la res. Afi nal, en tre1889 e 1894, nada me nos de onze mi nis tros se su ce de ram na que le mi nis -té rio. Qu an do, fi nal men te, no dia 3 de de zem bro, ain da ace sa a ba ta lhado Acre, to mou pos se como mi nis tro o Ba rão do Rio Bran co, co me ça ram ase cru zar os des ti nos dos dois ho mens pú bli cos aos qua is o Acre fi cou a de -ver a so lu ção dos gra ves pro ble mas que mar ti ri za vam pelo me nos duasdas pri me i ras ge ra ções de bra si le i ros res pon sá ve is pela in cor po ra ção deseu ter ri tó rio ao Bra sil.

Enquan to o novo Go ver no se ins ta la va, Plá ci do de Cas tro deu pros se -gui men to ao novo de sa fio a que se ti nha pro pos to, eli mi nar as ame a çasque po de ri am vir do Abu nã. Na ma nhã de 18 de no vem bro, com uma bar -re i ra de fogo cer ra do que atin gia os bo li vi a nos res guar da dos em pa ra pe i -tos de bor ra cha, as tro pas de Plá ci do cru za ram o rio e ini ci a ram o ata queàs po si ções ini mi gas com um ti ro te io que du rou cin co ho ras. Sem ter comosus ten tar suas po si ções, os bo li vi a nos se re ti ra ram e, mais uma vez em seusApon ta men tos, o ca u di lho re gis trou de for ma sim ples e di re ta como era oseu es ti lo, o re sul ta do da re fre ga: “O com ba te ter mi nou por um vas to in cên -dio que ate a mos às ca sas e trin che i ras ini mi gas.” Ao ra i ar do dia 20, de po isde um cur to des can so, par tiu à fren te de 400 ho mens no rumo de Pa les ti nano rio Orton, sob do mí nio bo li vi a no, para ata car aque le re du to. Foi dis su a di -do por seus ofi ci a is que te mi am o dis tan ci a men to ex ces si vo de suas li nhasde su pri men to e de sua base em Xa pu ri.

Em 108 dias de cam pa nha, seu exér ci to do mi nou todo o vale do rioAcre, com ex ce ção de Pu er to Acre. Foi du ran te esse pe río do que o de le ga -do bo li vi a no D. Lino Ro me ro es cre veu a car ta dra má ti ca en de re ça da aoPre si den te Pan do, con fes san do a im pos si bi li da de de seu país do mi nar oAcre, onde to dos os ele men tos eram ad ver sos à pre ten são de um do mí nioper ma nen te e de fi ni ti vo. Na ver da de, o úni co tí tu lo de que dis pu nha a Bo lí -via era o Tra ta do de Aya cu cho, cal ca do em an ti gas pre ten sões do de San -to Idel fon so, fir ma do en tre Por tu gal e a Espa nha, cuja va li da de forahis to ri ca men te con tes ta da pelo Bra sil até 1867.

A cam pa nha mi li tar teve um enor me cus to eco nô mi co para os se rin -ga lis tas bra si le i ros, re fle tin do-se nos ba lan ços das ca sas avi a do ras de Be -lém e Ma na us que for ne ci am os su pri men tos sem os qua is os se rin gue i rosnão ti nham con di ções de sus ten tar a pro du ção de um lon go ci clo de ati vi -da des que se ini ci a va nos se rin ga is, se es ten dia por todo o vale do Ja va ri,do Ju ruá e do Acre, sus ten ta va boa par te da eco no mia dos dois Esta dos

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ama zô ni cos, e su pria a fome dos pa í ses in dus tri a li za dos por um pro du topara o qual não se co nhe cia su ce dâ neo.

No dia 29 de de zem bro, che gou a Ca que tá o avi so-de-guer ra Tefé,da Ma ri nha bra si le i ra, en vi a do pelo Go ver no Fe de ral, su pos ta men te paraga ran tir o trân si to dos na vi os co mer ci a is. Se in ter fe ris se nos pla nos de Plá ci -do de Cas tro, os con tra tem pos para a re vo lu ção se ri am in cal cu lá ve is. Noen tan to, em vez de más no tí ci as, a tri pu la ção trou xe a boa nova da pos sedo Ba rão do Rio Bran co na pas ta do Exte ri or, a que che ga ra con sa gra dopor suas vi tó ri as di plo má ti cas, como re pre sen tan te do Bra sil nos tri bu na is ar -bi tra is dos Esta dos Uni dos e da Su í ça, sen do lí ci to es pe rar que o seu enor mepres tí gio po lí ti co e po pu lar im pu ses se mu dan ças à or to do xa po lí ti ca do go -ver no an te ri or. Além do mais, o Tefé ter mi nou re gres san do a Ma na us an tesdo fim de ja ne i ro, sem in ter fe rir nos pla nos e na ação dos re vo lu ci o ná ri os.

No iní cio da que le mês de ja ne i ro, Plá ci do de Cas tro se en con tra vaem Ca que tá, re u ni do com os co man dan tes das ga i o las, ali de ti dos em de -cor rên cia dos com ba tes que se ami u da vam. Ele cer ta men te co nhe cia ore vés que, em de zem bro de 1900, eles im pu se ram à ex pe di ção dos po e -tas, em de cor rên cia das mes mas res tri ções sob as qua is ago ra se en con -tra vam. Por isso, no dia 9 as se gu rou-lhes que, an tes do fim do mês,ter mi na ria sua cam pa nha com a vi tó ria fi nal, quan do as ati vi da des há me -ses in ter rom pi das se ri am re to ma das. Infor mou que, cons ti tu í do o novo Go -ver no, os tri bu tos co bra dos so bre a bor ra cha se ri am os mes mos que já sepa ga vam aos bo li vi a nos, mas que de les fi ca ri am isen tos os gê ne ros es sen -ci a is, como ar mas e mu ni ções, re mé di os, ins tru men tos, bo vi nos e mu a res.Os im pos tos se ri am pa gos em bor ra cha ou em sa ques so bre as pra ças deBe lém e Ma na us, fi can do os na vi os obri ga dos a for ne cer, me di an te re qui si -ção sua, pas sa gens para a tro pa e trans por te de mer ca do ri as por con ta da re vo lu ção, me di an te pa ga men to a ser li qui da do em en con tro de con tascom os tri bu tos de vi dos.

E para que não pa i ras sem dú vi das so bre sua pro mes sa, ar re ma tou di -zen do que “an tes do fim de ja ne i ro os na vi os dos se nho res pas sa rão emPor to Acre sa u dan do a ban de i ra acre a na vi to ri o sa”. Na ver da de, es ta vapron to para a ba ta lha fi nal.

X – Arma ge don nos tró pi cos

O efe ti vo dos re vo lu ci o ná ri os era de mil ho mens, di vi di dos em três ba -ta lhões: o “Inde pen dên cia”, sob o co man do do Co ro nel José Bran dão, o“Acre a no”, sob a che fia do Co ro nel José Antô nio Du ar te, e o “Fran co Ati ra -do res”, com pos to pe los re ma nes cen tes das in sur re i ções an te ri o res e comos ex ce den tes dos dois ou tros, sen do co man da do pelo Co ro nel Antu nesde Alen car, du ran te a ba ta lha subs ti tu í do pelo Co ro nel Hi pó li to Mo re i ra. Eles iri am se de fron tar com uma tro pa que, em bo ra for ma da por 229 ho mens,

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con ta va com ofi ci a is ex pe ri en tes e tes ta dos em com ba te. O ata que es ta -va pro gra ma do para o dia 14, mas foi adi a do por 24 ho ras, em face doaci den te com um ba te lão que con du zia 60 com ba ten tes à fren te de ba ta -lha, quatro dos qua is mor re ram afo ga dos. Nes se mes mo dia, o co man -dan te-em-che fe das tro pas acre a nas en vi ou emis sá rio a D. Lino Ro me ro, ode le ga do bo li vi a no, com a ofer ta, logo re je i ta da, de um hos pi tal de san -gue em co mum que, em Ca que tá, aten de ria os fe ri dos dos dois la dos emluta.

A ba ta lha co me çou quan do, às 9 ho ras da ma nhã do dia 15, rom peu o ti ro te io. Pri me i ro, vin do da par te de ba i xo onde se lo ca li za va a li nha deata que e logo em se gui da do ba ta lhão “Inde pen dên cia”, pos ta do à mar -gem di re i ta do rio. Ao res pon der ao fogo, os bo li vi a nos fo ram sur pre en di -dos por ati ra do res do ba ta lhão “Inde pen dên cia”, cu jos efe ti vos ti nham sees ten di do até a par te de cima do ter re no. Um con tra-ata que for çou o re -cuo dos acre a nos para suas po si ções pri mi ti vas, com 50 ba i xas. Ao ano i te -cer, ces sou o ti ro te io, re co me ça do pela ma nhã, quan do o an ti go na vioAfuá, uti li za do pela ex pe di ção dos po e tas e re ba ti za do Inde pen dên cia,car re ga do de bor ra cha a ser tro ca da por ar mas e mu ni ções, con se guiu,sob o co man do do pró prio Plá ci do de Cas tro, rom per o cer co e che gar aCa que tá, de po is de ser ra da, du ran te a ma dru ga da, a cor ren te com queos bo li vi a nos im pe di am a uti li za ção do rio pe los re vol to sos. O ata que re co -me çou sob lu fa das das tor ren ci a is chu vas ama zô ni cas que, nes sa épo ca,pa re cem anun ci ar o di lú vio. No dia 23, quan do os bra si le i ros já se acha vam a 80 me tros da pri me i ra li nha de for ti fi ca ções de Pu er to Acre, uma ban de i ra bran ca tre mu lou no edi fí cio da de le ga ção bo li vi a na e o emis sá rio de D.Lino Ro me ro veio pro por uma pa u sa para o en ter ro dos mor tos, ne ga da por Plá ci do, jus ti fi can do-se sob o ar gu men to de que “nes te mo men to, es ta mos dis cu tin do a sor te dos vi vos e mais tar de tra ta re mos a dos mor tos, que nãofi ca rão in se pul tos”.

O com ba te pros se guiu du ran te a no i te, como afir ma Le an dro To can -tins, “com re ti cên ci as de cal ma”, até que, pela ma nhã, nova pro pos ta depaz foi re cu sa da por Plá ci do, em face de cláu su la por ele jul ga da ofen si vade se “res pe i tar as fa mí li as”. Ele con sen tiu ape nas em ga ran tir as vi das dosad ver sá ri os e dar-lhes pas sa gem até Ma na us. Ace i tas as con di ções, foi es -co lhi do o lo cal para a ren di ção, a pra ça de Pu er to Acre in di ca da pelo che -fe re vo lu ci o ná rio, onde foi fi nal men te as si na da a ata de ren di çãoin con di ci o nal.

No Acre, os com ba ten tes en fren ta ram o seu Arma ge don, o con fron tofi nal que ou po ria fim às pre ten sões bo li vi a nas de do mi nar de vez o ter ri tó rioque nun ca lo gra ram con quis tar, ou se pul ta ria para sem pre a obs ti na çãodos bra si le i ros que o ocu pa ram, nem sem pre pa ci fi ca men te, em fa zer dopa ra í so do ouro bran co que es cor ria de suas ár vo res uma par te im por tan teda pá tria pela qual tan tos mor re ram.

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Os dois la dos sa bi am que a ba ta lha em que ti nham se em pe nha do fi -nal men te ter mi na ra. Fal ta va ga nhar a guer ra e, com ela, a paz de quehoje des fru tam, ir ma na dos, bra si le i ros de to das as pro ce dên ci as e nos sosvi zi nhos bo li vi a nos.

XI – Inter reg no so bre os acre a nos e sua his tó ria

Aqui se faz ne ces sá ria uma pa u sa nes sa des pre ten si o sa in tro du ção.Fui cri a do ou vin do nar ra ti vas da epo péia acre a na que, em mi nha casa,nun ca de i xa ram de ser lem bra das e exal ta das. Afi nal, meu pai é pro fes sorde His tó ria e em seu lon go ma gis té rio, as sim como du ran te sua vida pú bli -ca de De pu ta do, Se na dor e Go ver na dor nun ca se es que ceu de tri bu tar, àhis tó ria da ter ra em que nas ceu, a re ve rên cia que es ti ves se a seu al can ce.Em seu Go ver no, cri ou o Mu seu da Bor ra cha, ins ti tu iu a Fun da ção Cul tu ralque me cou be a hon ra de di ri gir por um pe río do e co-edi tou obras re pu ta -das es sen ci a is para o co nhe ci men to de nos sa re a li da de.

No exer cí cio de meu man da to de se na dor, es tou se guin do seus en si -na men tos e pro cu ran do me de sin cum bir, pe los me i os a meu al can ce, dode ver que tem todo ci da dão, e em es pe ci al todo ho mem pú bli co, não sóde co nhe cer, mas tam bém de di vul gar a his tó ria de seu país e de sua ter rana tal. Como os par la men ta res têm di re i to a uma quo ta anu al de pu bli ca -ções, re sol vi apro ve i tar par te dela para cri ar a co le ção de no mi na da “Do -cu men tos para a His tó ria do Acre”. Este será seu tí tu lo ina u gu ral,apro ve i tan do a efe mé ri de co me mo ra ti va do cen te ná rio do Tra ta do de Pe -tró po lis, da ta do de 17 de no vem bro de 1903, mas as si na do efe ti va men te,como es cla re ce Rio Bran co, no dia se guin te.

Os ou tros dois, tam bém em vias de or ga ni za ção, são, res pec ti va men -te, o vo lu me Cons ti tu i ções do Acre, que tem por ob je ti vo es ti mu lar os es tu -dos de nos sa his tó ria po lí ti ca e a re e di ção de uma obra no tá vel de au to riado gran de geó gra fo bra si le i ro Antô nio Te i xe i ra Gu er ra, pu bli ca da pelo IBGEem 1955, com o tí tu lo Estu do Ge o grá fi co do Ter ri tó rio do Acre, vol. 11, daBi bli o te ca Ge o grá fi ca Bra si le i ra. Tra ta-se de edi ção pron ta e gen til men teau to ri za da pelo pre si den te do IBGE, o prof. Edson Nu nes, e pelo Sr. Da vidWu Tai, co or de na dor-ge ral do Cen tro de Do cu men ta ção e Dis se mi na çãode Infor ma ções – CDDI, aten den do a meu pe di do e que con ta rá, in clu si ve, com o acer vo ico no grá fi co des sa be ne mé ri ta ins ti tu i ção pú bli ca que é oIBGE.

Qu an do co me cei a pes qui sar e a or ga ni zar es sas edi ções, fi quei im -pres si o na do com a enor me bi bli o gra fia, par te co nhe ci da e par te pra ti ca -men te ain da iné di ta ou ina ces sí vel, re fe ren te à his tó ria acre a na e suaepo péia. E con ven ci-me de que pu bli car os tex tos e do cu men tos re fe ren -tes ao Tra ta do de Pe tró po lis, sem uma pe que na e bre vís si ma in tro du ção àhis tó ria da re vo lu ção acre a na, se ria como se es ti vés se mos mu ti lan do ou

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con tan do pela me ta de o pa pel de Rio Bran co e a mais me mo rá vel e bri -lhan te pá gi na de nos sa his tó ria di plo má ti ca. Este li vro se des ti na, pri o ri tá ria e fun da men tal men te, aos acre a nos de to das as ida des, mas even tu al men te será uti li za do por bra si le i ros de ou tros es ta dos. Só co nhe cen do os prin ci pa isan te ce den tes da obra no tá vel de Rio Bran co, per pas sa da de di fi cul da dese obs tá cu los que a mu i tos pa re ci am in trans po ní ve is, re a li za da em ape nasonze me ses, será pos sí vel com pre en der toda a gran de za des se mo nu men -to eri gi do à di plo ma cia de nos so País. Con su ma da a obra, Rio Bran co po -de ria, com toda jus ti ça, ter dor mi do so bre os lou ros de sua con quis ta.

A di men são de sua es ta tu ra como ci da dão e como ho mem pú bli co,po rém, pode ser me di da pelo fato de que se lan çou à de fe sa ir re pa rá vel eir re fu tá vel de sua obra res pon den do, com o peso de sua enor me eru di ção, a to das as crí ti cas e do es tos que, no cur so das ne go ci a ções e de po is de -las, lhes fo ram di ri gi dos, por no mes que a his tó ria nem sem pre guar dou. Emse gun do lu gar, pela cir cuns tân cia de que não se de sin te res sou dos des ti -nos da ter ra que seu ta len to aju dou a in cor po rar ao Bra sil. E, fi nal men te,quan do pro tes tou, re a giu e con se guiu, jun to ao Pre si den te Ro dri gues Alves,re pa rar a in jus ti ça que os ex ces sos e en ga nos de um mi li tar per pe tra ramcon tra o he rói da epo péia acre a na, Plá ci do de Cas tro que sem pre me re -ceu de Rio Bran co ad mi ra ção e res pe i to, re tri bu í dos com os mes mos sen ti -men tos de no bre za do ca rá ter do ca u di lho a quem o Bra sil e o Acre tan tode vem.

Este in ter reg no na nar ra ti va que pre ce de a bre ve des cri ção do con te -ú do do li vro e do de sem pe nho do Ba rão do Rio Bran co na luta pelo Tra ta doque o imor ta li zou é, me nos que uma ad ver tên cia, um con se lho e um pe di -do aos jo vens acre a nos, para lem brar-lhes que, as sim como nos sos an ces -tra is cons tru í ram com sa cri fí ci os e exem plos nos sa his tó ria, cabe às atu a isge ra ções apren dê-la, pes qui sá-la, cul tuá-la, re ve ren ciá-la e re es cre vê-la,sem pre que ne ces sá rio. Este é o pro pó si to des te li vro e a ra zão des se in ter -reg no.

XII – A di fí cil e fas ci nan te arte da di plo ma cia

No cam po de ba ta lha, os acre a nos, li de ra dos pelo ma i or he rói de suahis tó ria, ti nham mos tra do do que eram ca pa zes, de sa fi an do os obs tá cu los dana tu re za e a têm pe ra ad mi rá vel dos bo li vi a nos. Ne go ci ar a con ci li a ção dosin te res ses dos dois pa í ses, e sa cra men tar a paz, im pu nha o de sa fio de ma ne -jar, com ha bi li da de e ta len to, as ar mas su tis da di plo ma cia.

Ao as su mir, o novo Mi nis tro en con tra va-se em si tu a ção de enor me des -van ta gem, cer ca do de di fi cul da des e obs tá cu los por to dos os la dos. Em pri -me i ro lu gar, es ta va a ame a ça da re a ção mi li tar bo li vi a na, a ser li de ra dapelo pró prio Pre si den te da Re pú bli ca, o Ge ne ral Pan do, à fren te de suas tro -pas, para re to mar o con fli to e vin gar as der ro tas que lhes im pu se ram os acre -

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a nos e Plá ci do de Cas tro. Ti nha que en fren tar, por ou tro lado, a im per ti nên cia dos re pre sen tan tes di plo má ti cos e da im pren sa dos Esta dos Uni dos e daIngla ter ra, aci o na dos pe los aci o nis tas do “Bo li vi an Syndi ca te”, cu jos re pre sen -tan tes aguar da vam em Ma na us a opor tu ni da de de dar efe ti vi da de ao con -tra to de ar ren da men to as si na do com o Go ver no bo li vi a no. Em ter ce i ro lu gar, es ta vam as pre ten sões pe ru a nas ao ter ri tó rio dis pu ta do pela Bo lí via ao Bra sil,que in sis tia em par ti ci par das ne go ci a ções, com pre ten sões que só as tu mul -tu a ri am. E, por fim, pen di am so bre as po si ções bra si le i ras as cláu su las do Tra -ta do de Aya cu cho de 1967, o ma i or tí tu lo de pro pri e da de de quedis pu nham os bo li vi a nos, pas sa do pelo Go ver no bra si le i ro du ran te o Impé rio.

Se gu ra men te, foi a ex pe riên cia de Rio Bran co que lhe in di cou a ne ces si -da de de afas tar, des de logo, o in con ve ni en te dos in te res ses ame ri ca nos e bri -tâ ni cos, re pre sen ta dos pe los aci o nis tas do Bo li vi an Syndi ca te. Tra tan do-se deho mens de ne gó ci os que po de ri am de man dar tan to o Go ver no bo li vi a no,quan to ado tar me di das im per ti nen tes e per tur ba do ras das ne go ci a ções como Bra sil, o Mi nis tro pro pôs e ob te ve, com a in ter me di a ção da Casa Rots child,nos sos ban que i ros em Lon dres, a as si na tu ra, em 26 de ja ne i ro de 1903, emNova Iorque, de um con tra to com a di re ção do con sór cio, re nun ci an do aqual quer di re i to me di an te a in de ni za ção de 110 mil li bras es ter li nas, equi va len -tes na épo ca a 550 mil dó la res.

Para pre ve nir a so be ra nia bra si le i ra so bre a re gião em dis pu ta e de ses -ti mu lar qual quer nova ten ta ti va de re a ber tu ra das hos ti li da des mi li ta res, de -ter mi nou a ocu pa ção do ter ri tó rio em li tí gio. No dia 10 de mar çoes ta ci o nou em Ma na us uma di vi são na val sob o co man do do al mi ran teAle xan dri no de Alen car, com pos ta do en cou ra ça do Flo ri a no, do cru za dorTupi e do caça-tor pe de i ro Gus ta vo Sam pa io. No dia 10 em bar ca ram parao Acre o 4o re gi men to de ar ti lha ria e o 15o ba ta lhão de in fan ta ria. No dia 13che ga ram mais tro pas a Ma na us: o 27o de in fan ta ria do Re ci fe, e o 40o dein fan ta ria, com 425 pra ças. No dia 17, em bar cou no Rio Ta pa jós, na qua li -da de de Go ver na dor do Acre Se ten tri o nal, o Ge ne ral Olím pio da Sil ve i ra. Ao mes mo tem po, fo ram co lo ca das de so bre a vi so as tro pas fe de ra is de MatoGros so. Com isso, cri ou um fato con su ma do, cujo efe i to de mons tra ção de -ve ria de ses ti mu lar no vas in ves ti das mi li ta res bo li vi a nas, sob o ris co de terque en fren tar uma guer ra con tra o Bra sil.

Antes que es sas pro vi dên ci as se con cre ti zas sem, as for ças bo li vi a nas já ti -nham se pos to em mar cha. Em me a dos de ja ne i ro, saiu a 1a co lu na, cons ti tu í -da do Ba tal lón 1o, sob o co man do do Mi nis tro da Gu er ra, Isma el Mon tes, eno dia 26 o Ba tal lón 5o, sob o co man do do pró prio pre si den te bo li vi a no, oGe ne ral Pan do, que ins ta lou o seu quar tel-gene ral em Pu er to Rico, na con -fluên cia dos rios Ta u a ma nu e Ma nu ri pe, que for mam o rio Órton. Sa ben dode sua pre sen ça, Plá ci do de Cas tro re sol veu ata car as tro pas bo li vi a nas, oque fez du ran te cin co dias, até re ce ber do Ge ne ral Olím pio da Sil ve i ra co -mu ni ca do de que os Go ver nos do Bra sil e da Bo lí via ha vi am fir ma do, em 21

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de mar ço, em La Paz, o pro to co lo de um “mo dus vi ven di” com pra zo li mi ta -do, as se gu ran do o “sta tus quo”, en quan to fos sem dis cu ti das as so lu çõesaven ta das para a con ti nu a ção das ne go ci a ções. Ao mes mo tem po,numa de mons tra ção de boa von ta de e do de se jo de co o pe ra ção do Bra -sil, man dou o chan ce ler que fos sem res ta be le ci das as li ga ções co mer ci a isda Bo lí via com o ex te ri or, atra vés dos rios ama zô ni cos.

Se gui ram-se qua tro me ses de di fí ce is e can sa ti vos en ten di men tos, pois sóem ju lho os bo li vi a nos con sen ti ram em re a brir as ne go ci a ções para um acor doso bre a base de uma per mu ta eqüi ta ti va de ter ri tó ri os, as se gu ran do-se que, nahi pó te se de não ha ver en ten di men to, as par tes em li tí gio re cor re ri am ao ar bi -tra men to, para a in ter pre ta ção do Tra ta do de Aya cu cho, de 1867. O Go ver -no bo li vi a no no me ou para re pre sen tá-lo, seu em ba i xa dor em Was hing ton,Fer nan do Gu a chal la, na qua li da de de Envi a do Extra or di ná rio e Mi nis tro Ple ni po -ten ciá rio, para agir em mis são es pe ci al, jun to com o Mi nis tro bo li vi a no acre di ta -do no Rio de Ja ne i ro, Cláu dio Pi nil la. Por par te do Bra sil, a ne go ci a ção fi cou acar go de Rio Bran co e, a seu pe di do, de Rui Bar bo sa, que em vá ri as opor tu ni da -des ti nha se pro nun ci a do a fa vor dos bra si le i ros do Acre e do em ba i xa dor bra si -le i ro em Was hing ton, Assis Bra sil, co le ga de Gu a chal la na ca pi tal ame ri ca na.

Rui, por dis cor dar de al gu mas das cláu su las que já es ta vam sen do en -ca mi nha das, re nun ci ou à mis são em 17 de ou tu bro, um mês an tes da as si -na tu ra do Tra ta do. Mu i tos bra si le i ros e inú me ras opi niões no es tran ge i rore co men da vam uma so lu ção ar bi tral, cer ta men te in flu en ci a dos os bra si le i -ros pe las vi tó ri as al can ça das por Rio Bran co nos dois ca sos an te ri o res que ocon sa gra ram e lhe gran je a ram enor me po pu la ri da de pe ran te a opi niãopú bli ca. Rio Bran co mos trou o quan to era in con ve ni en te essa so lu ção que,além de tar dar no mí ni mo qua tro ou cin co anos, não po ria fim ao con fli to.Seu ar gu men to prin ci pal é um si nal de sua vi são de es ta dis ta: “Iría mos aoar bi tra men to, ex pli ca va ele, aban do nan do e sa cri fi can do os mi lha res debra si le i ros que, de boa fé, se es ta be le ce ram ao sul do pa ra le lo 10o e 20’. Oár bi tro só nos po dia dar o ter ri tó rio que ha vía mos de cla ra do em li tí gio aonor te des se pa ra le lo e é ao sul que está a ma i or par te do Acre, sen do tam -bém aí mu i to mais nu me ro sos os es ta be le ci men tos bra si le i ros”.

Quem lê hoje a Expo si ção de Mo ti vos com que Rio Bran co sub me teu aoPre si den te Ro dri gues Alves sua obra mo nu men tal, e toma co nhe ci men to dosar ti gos com os qua is, sob o pse u dô ni mo de Kent, ele des mon tou, des tru iu ede mo liu os ar gu men tos dos que o ata ca ram du ra men te pela im pren sa, pode afe rir e ava li ar como ele exer ci ta va, com ma es tria até hoje não igua la da, asu til, pa ci en te e fas ci nan te arte da di plo ma cia.

XIII – O pro fe ta de sar ma do

Em fe ve re i ro, Plá ci do teve co nhe ci men to de que o Go ver no Ro dri guesAlves man dou ocu par mi li tar men te o Acre, en tre a li nha Cu nha Go mes e o

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pa ra le lo 10o20’, área que pas sou a se de no mi nar Acre Se ten tri o nal, de sig -nan do go ver na dor o Ge ne ral Olím pio da Sil ve i ra. O ca u di lho per ce beu quenes sa mes ma área se ria im pos sí vel a exis tên cia do pro cla ma do Esta do Inde -pen den te. Tra tou de en vi ar para Xa pu ri, acom pa nha do de 400 ho mens, nona vio Inde pen dên cia, o Co ro nel José Bran dão, en quan to se re cu pe ra va deuma re in ci dên cia da fe bre pa lus tre que o aco me te ra. Nos úl ti mos dias demar ço, foi re ce ber em Por to Acre o Ge ne ral, que não co mu ni cou sua qua li -da de de go ver na dor do Acre Se ten tri o nal, nem re ve lou que, em suas Instru -ções, Plá ci do era re co nhe ci do e man ti do como go ver na dor do AcreMe ri di o nal. For ne ceu-lhe ape nas um pa co te de jor na is que da vam no tí ciade sua de sig na ção.

No dia 6 de abril, o Ge ne ral en vi ou-lhe co mu ni ca do a que ane xou apro cla ma ção em que dava con ta de sua no me a ção, en cer ran do-a coma de cla ra ção de que ha via as su mi do o Go ver no do ter ri tó rio que lhe foracon fi a do, sob o re gi me das leis mi li ta res. No dia 10, Plá ci do ba i xou o De cre -to n° 7, com ape nas dois ar ti gos: “1o Fica trans fe ri da para a ci da de de Xa -pu ri a sede do Go ver no do Esta do Inde pen den te do Acre. 2o Ficatrans fe ri da, pro vi so ri a men te, a Alfân de ga do Esta do para o lu gar de Ca pa -ta rá, até que seja de ter mi na do o pon to onde o pa ra le lo de 10o20’ cor ta orio Acre”.

Em sua jor na da para Xa pu ri, o ca u di lho pôde no tar que os ofi ci a is doExér ci to já re cla ma vam do des con for to de sua si tu a ção e da so li dão pro vo -ca da por seu iso la men to, atri bu in do-lhe a res pon sa bi li da de por fazê-los sairdo con for to das ci da des em que vi vi am. Cons ta tou tam bém que a rí gi dadis ci pli na que im pu se ra a seus sol da dos e ofi ci a is co me ça va a so frer o re la -xa men to a que os in du zi am os que, se gun do re gis trou em seus Apon ta men -tos, ale ga vam que ele “era pa i sa no e, como tal, não os po dia co man dar emu i to me nos obri gá-los ao ser vi ço mi li tar, e que fos sem se que i xar ao Ge ne -ral Olím pio, que da ria as pro vi dên ci as”. Enquan to es ta va em Pu er to Rico, as -se di an do as tro pas bo li vi a nas, Plá ci do re ce beu ou tro men sa ge i ro doGe ne ral Olím pio, tra zen do men sa gem ao Pre si den te Pan do, atra vés daqual, se gun do o por ta dor, o co man dan te das tro pas bra si le i ras pro pu nhauma con fe rên cia com o Ge ne ral bo li vi a no, para o que es ta ria na ci da deden tro de três dias, o que nun ca ocor reu. Re sol veu en tão di ri gir-se a Por toAcre para se en tre vis tar com o Ge ne ral Olím pio. No ca mi nho, viu um ofi ci albo li vi a no di ri gir-se por um va ra dou ro es tra té gi co para Pu er to Rico, acom pa -nha do de ou tro de suas tro pas que, in ter pe la do por ele com li cen ça dequem as sim pro ce dia, re ce beu a res pos ta de que o fa zia “com or dem doGe ne ral Olím pio”. A in dis ci pli na e a in su bor di na ção já mi na vam suas tro pas.

Enquan to ain da se en con tra va em Ta u a ma nu, e como a tro pa es ti -ves se sem ví ve res, Plá ci do de ter mi nou ao seu aju dan te ge ne ral, Co ro nelGen til Nor ber to, que re u nis se to dos os mu a res exis ten tes nas vi zi nhan ças een vi as se com ví ve res para Gi ron da. Esti mu la do pe los ofi ci a is do 27o ba ta -

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lhão do Exér ci to, acam pa dos em Boa Fé, onde Plá ci do de Cas tro ti nha oseu Qu ar tel Mes tre, João Cos ta, das tro pas acre a nas, re cu sou-se a cum priras or dens re ce bi das, sen do pre so pelo co ro nel aju dan te ge ne ral de Plá ci -do, sob pro tes to do Ma jor Car ne i ro, co man dan te do 27o ba ta lhão do Exér -ci to, sob a ale ga ção de que só o Ge ne ral Olím pio ti nha a fa cul da de depu nir. No dia se guin te, por ins ti ga ção do Ma jor Car ne i ro um pi que te acre a -no re vol tou-se e foi se asi lar no quar tel do 27o ba ta lhão. A ten são au men toucom a pre sen ça do Ge ne ral Olím pio que, cha ma do a Boa Fé para re sol ver o im pas se, deu ra zão ao ma jor co man dan te do ba ta lhão e man dou pren -der os co ro néis Gen til Nor ber to, aju dan te ge ne ral de Plá ci do, e Gas tão deOli ve i ra. Em se gui da, re u ni da a tro pa, fez eli mi nar os dis tin ti vos acre a nos doco man do de Boa Fé e en tre gou ao te nen te-co ro nel José Antô nio Du ar te,sus pen so do ser vi ço por Plá ci do de Cas tro, em vir tu de de em bri a guez, ache fia dos amo ti na dos.

Esses fa tos fo ram co mu ni ca dos por Gen til Nor ber to em te le gra ma de29 de maio, di re ta men te ao Mi nis tro Rio Bran co que o en vi ou por có pia aseu co le ga ti tu lar da pas ta da Gu er ra. Em 14 de ju nho, o Co ro nel Hen ri queVa la da res, do Co man do do 1o Dis tri to Mi li tar em Ma na us en vi ou re la tó rio te -le grá fi co ao Esta do-Ma i or do Exér ci to, in for man do que “(...) al guns ofi ci a isdo 27o [...] fa zi am ver da de i ro ali ci a men to de re vol ta en tre acre a nos di zen -do aban do nas sem ser vi ços não eram obri ga dos. Aque les qui ses sem ser virfos sem alis tar-se exér ci to”. Có pia des se re la tó rio foi en vi a da pelo Mi nis tro da Gu er ra, Ma re chal Argo lo, a seu co le ga da pas ta do Exte ri or.

Apro ve i tan do os in ci den tes de Boa Fé, o Ge ne ral Olím pio or de nou ocon fis co da fro ta acre a na e o de sar ma men to do exér ci to de Plá ci do deCas tro. O lí der da in de pen dên cia acre a na trans for mou-se, en fim, no pro fe -ta de sar ma do. Em sua úl ti ma e amar gu ra da or dem do dia, em que li cen ci -ou seu exér ci to, es cre veu: “Como ve des, fiéis sol da dos, aqui lo que oini mi go não con se guiu fa zer pe las ar mas, o Ge ne ral bra si le i ro al can çoupela tra i ção”.

XIV – O pro fe ta re a bi li ta do e o Acre res ta u ra do

Em 16 de ju nho, dois dias de po is de che gar ao Rio a in for ma ção doCo ro nel Hen ri que Va la da res ao Esta do-Ma i or do Exér ci to so bre os in ci den -tes de Boa Fé, o Mi nis tro da Gu er ra ex pe diu te le gra ma afas tan do, por or -dem do Pre si den te da Re pú bli ca, o Ge ne ral Olím pio da Sil ve i ra doco man do que exer cia no Acre e de ter mi nan do seu re gres so a Ma na us.Para subs ti tuí-lo, foi no me a do o Co ro nel Cu nha Ma tos, até a che ga da deseu su ces sor, o Ge ne ral Luís Antô nio Me de i ros. De po is de sua che ga da aoRio, o Ge ne ral des ti tu í do foi re co lhi do pre so à sua re si dên cia, por 48 ho ras,em vir tu de de re cu sar cum pri men to ao Mi nis tro da Gu er ra e ao Che fe doEsta do-Ma i or do Exér ci to.

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Em Ma na us des de o iní cio do mês, Plá ci do de Cas tro re ce beu do Co -ro nel Cu nha Ma tos, novo Go ver na dor do Acre Se ten tri o nal, o De cre to no 1,re in te gran do-o no car go de Go ver na dor do Acre Me ri di o nal, e con ce den -do in de ni za ção aos in te gran tes de seu Exér ci to.

No mês se guin te co me ça ram, en fim, as ne go ci a ções em bus ca de so -lu ções para as pen dên ci as en tre os dois pa í ses, na re si dên cia de Rio Bran co,em Pe tró po lis. Qu a tro me ses de po is, os ten sos e can sa ti vos en ten di men tosche ga ram ao fim, de les re sul tan do um tra ta do de per mu ta de ter ri tó ri os en treos dois pa í ses, e o com pro mis so do Bra sil de cons tru ir uma es tra da de fer ro en -tre o Ma de i ra e o Ma mo ré que ser vi ria de via de aces so da Bo lí via para o seuco mér cio com o ex te ri or. Como a tro ca de ter ri tó ri os não era eqüi ta ti va, o Bra sil se com pro me teu a in de ni zar a re nún cia aos ter ri tó ri os ce di dos ao país, com aim por tân cia de 2 mi lhões de li bras es ter li nas, a se rem pa gas em duas pres ta -ções. Fir ma do o Tra ta do no dia 18, ain da que da ta do de 17 de no vem bro,ain da ha via al guns trâ mi tes a se rem cum pri dos, en tre eles a ra ti fi ca ção pe losdois pa í ses.

Na Bo lí via, a tra mi ta ção do Tra ta do co me çou no dia 28 de no vem -bro, e no dia de Na tal, foi apro va do pelo Con gres so por 48 vo tos a 11. RioBran co aguar da va essa eta pa para só en tão sub me tê-lo à apre ci a ção daCâ ma ra e do Se na do. Para isso, o Pre si den te con vo cou ex tra or di na ri a men -te o Con gres so no dia 28 de de zem bro, para se re u nir a par tir do dia se guin -te. O cur so da men sa gem pre si den ci al só ter mi nou na Câ ma ra no dia 25de ja ne i ro de 1904, com a apro va ção da pro pos ta do Go ver no por 118 a13. Envi a da ao Se na do a ra ti fi ca ção se deu no dia 12 de fe ve re i ro, por 27 a4, es tan do au sen tes 13 se na do res.

Jun ta men te com a men sa gem sub me ten do ao es cru tí nio das duasCa sas do Con gres so o tex to do Tra ta do, Ro dri gues Alves so li ci tou a aber tu rade um cré di to es pe ci al des ti na do a co brir as des pe sas com a exe cu çãodas me di das dele de cor ren tes e a apro va ção de um pro je to de lei con ce -den do po de res ao Exe cu ti vo para ad mi nis trar a mais nova uni da de da Fe -de ra ção. Nos Ana is da con vo ca ção ex tra or di ná ria da Câ ma ra e doSe na do, ob ti ve mos a dis cus são des ses pro je tos com ple men ta res, mas não a re la ti va ao tex to do Tra ta do. Os de ba tes fo ram re a li za dos em ses sões se -cre tas nas duas Ca sas. As atas ma nus cri tas des sas ses sões se cre tas da Câ -ma ra já fo ram aber tas, mas, por ques tões bu ro crá ti cas, la men ta vel men teain da não es tão dis po ní ve is para pu bli ca ção, um sé cu lo de po is, num paísque, pelo con ser va do ris mo de suas ins ti tu i ções, não dis põe, em ple no sé -cu lo XXI, de uma lei de aces so aos do cu men tos pú bli cos. No Arqui vo His tó ri -co do Se na do con se gui mos a re pro du ção de al guns do cu men tos, masnão cons ta o re gis tro das atas das ses sões se cre tas, não ta qui gra fa das,como na Câ ma ra.

Além de toda a dis cus são os ten si va nas ses sões do Con gres so, cons -tan te dos Ana is das duas Ca sas, dos pa re ce res das co mis sões téc ni cas em

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que tra mi tou a pro pos ta e dos vo tos em se pa ra do dos se na do res Antô nioAze re do e Rui Bar bo sa, o des te sob o tí tu lo dado por ele mes mo de “ple ni -po ten ciá rio ven ci do”, jun ta mos ou tros do cu men tos es sen ci a is à com pre -en são de todo o pro ces so.

Assim, pu bli ca mos tam bém as car tas tro ca das en tre Rui e Rio Bran coso bre a exo ne ra ção so li ci ta da por Rui do car go de Ple ni po ten ciá rio quejun ta men te com Assis Bra sil e o pró prio Rio Bran co exer cia nas ne go ci a çõescom a Bo lí via, pre ce di das do tex to gen til men te ce di do pelo Mi nis tro Car losHen ri que Car dim so bre o epi só dio, pu bli ca do na obra Rio Bran co, a Amé ri -ca do Sul e a Mo der ni za ção do Bra sil.

Os ar ti gos em que o pa tro no da di plo ma cia bra si le i ra de fen de a suaobra, com o pse u dô ni mo de Kent, fo ram fa ci li ta dos pelo Emba i xa dor Álva -ro da Cos ta Fran co, di re tor do Cen tro de His tó ria e Do cu men ta ção Di plo -má ti ca, a quem igual men te agra de ço, não só por essa su ges tão, mastam bém pela foto em que apa re cem os di plo ma tas que to ma ram par tenas dis cus sões, fe i ta em Pe tró po lis no dia da as si na tu ra do Tra ta do, e as re -pro du ções do Arqui vo His tó ri co do Ita ma ra ti com os ma nus cri tos do Ba rãoso bre a vo ta ção no Se na do e o ba lan ço das des pe sas e re ce i tas de cor ren -tes do acor do fir ma do com a Bo lí via. Por fim, trans cre ve mos tam bém ostex tos le ga is com ple men ta res do Tra ta do, os De cre tos nos 1.180 e 1.181,am bos de 25 de ja ne i ro, e 5.188, de 7 de abril, que or ga ni zou a Admi nis tra -ção do Ter ri tó rio.

A ques tão do Acre não se en cer rou com o Tra ta do de Pe tró po lis, name di da em que fi ca ram pen den tes as de man das do Peru, sá bia e ha bil -men te se pa ra das por Rio Bran co das dis cus sões com a Bo lí via, e só re sol vi -das pelo Tra ta do Bra si le i ro-Pe ru a no de 8 de se tem bro de 1909, tam bémobra do nos so ma i or di plo ma ta e cujo cen te ná rio ce le bra re mos den tro deseis anos.

Espe ra mos que este tra ba lho seja útil não só aos acre a nos, mas aquan tos cul tu am a nos sa his tó ria e os su ces sos que a en gran de ce ram,como fo ram a re vo lu ção acre a na e a ação de Rio Bran co, no que me per -mi to con si de rar o mais im por tan te ato de nos sa po lí ti ca ex ter na.

Bra sí lia, 17 de no vem bro de 2003.

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(Os ne go ci a do res do Tra ta do de Pe tró po lis e osseus au xi li a res) Da es quer da para di re i ta

1 – Se na dor Fer nan do Gu a chal la, Mi nis tro da Bo lí via em mis são es pe ci al, um dos ple ni po ten -ciá ri os.2 – Ernes to Fer re i ra, 1o ofi ci al da Se cre ta ria das Re la ções Exte ri o res, ser vin do no ga bi ne te.3 – Con tra-Almi ran te José Cân di do Gu i lo bel, con sul tor téc ni co.4 – Dr. J.F. de Assis Bra sil, Mi nis tro do Bra sil nos Esta dos Uni dos da Amé ri ca, um dos ple ni po ten -ciá ri os.5 – Dr. Cláu dio Pi nil la, Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res da Bo lí via, um dos ple ni po ten ciá ri os.6 – Za cha ri as de Góes, ama nu en se da Se cre ta ria das Re la ções Exte ri o res, ser vin do no Ga bi ne te.7 – Ba rão do Rio Bran co, Mi nis tro das Re la ções Exto ri o res do Bra sil, um dos ple ni po ten ciá ri os.8 – Do mí cio da Gama, 1o se cre tá rio de le ga ções, ser vin do no ga bi ne te.9 – Cam pos Pa ra de da, 1o ofi ci al da Se cre ta ria das Re la ções Exte ri o res, ser vin do no Ga bi ne te.10 – Pe ce gue i ro do Ama ral (Ray mun do), 1o ofi ci al da Se cre ta ria de Re la ções Exte ri o res, ser vin -do no Ga bi en te.11 – Paulo Fon se ca, 1o ofi ci al da Se cre ta ria das Re la ções Exte ri o res, ser vin do no Ga bi ne te.

12 – Emi lio Fer nan des, se cre tá rio dos ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos.

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CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DOCONGRESSO NACIONAL

DECRETO 5.093, – DE 28 DEZEMBRO DE 1903

Con vo ca ex tra or di na ri a men te o Con -gres so Na ci o nal para o dia 30 do cor ren temês.

O Pre si den te da Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil:

Con si de ran do que o Con gres so Na ci o nal, até o ter mo dos seus tra ba -lhos na pre sen te ses são, não pôde pro nun ci ar-se so bre o tra ta do re cen te -men te ce le bra do com a Bo lí via, o qual só ago ra será sub me ti do à suaapro va ção; e por que se tor na ur gen te de ci dir so bre tal as sun to, de alta re -le vân cia para os in te res ses na ci o na is:

Re sol ve, nos ter mos do art. 48, nº10, da Cons ti tu i ção da Re pú bli ca,con vo car o Con gres so Na ci o nal, que se re u ni rá ex tra or di na ri a men te no dia30 do cor ren te mês.

Rio de Ja ne i ro, 28 de de zem bro de 1903, 15º da Re pú bli ca.

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES

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(2 fo lhas – Men sa gem do Pre si den te da Re pú bli ca ao Con gres so Na ci o nal, em 30 de de zem bro de 1903, pe din do ur gên cia nas de li be ra ções re fe ren tes ao Tra ta do

de Pe tró po lis.)

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MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICASUBMETENDO O TRATADO AO CONGRESSO NACIONAL

Se nho res Mem bros do Con gres so Na ci o nal:

Sub me to ao vos so exa me e apro va ção o tra ta do con clu í do aos 17de no vem bro úl ti mo pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, e jun to aele uma ex po si ção que me en tre gou o Mi nis tro de Esta do das Re la çõesExte ri o res, acom pa nha da de vá ri os do cu men tos.

Se esse pac to me re cer a vos sa apro va ção, peço-vos que ao mes motem po au to ri ze is o Go ver no a fa zer as ope ra ções de cré di to ne ces sá ri aspara a sua exe cu ção, e a pro ver so bre a ad mi nis tra ção pro vi só ria e ar re ca -da ção das ren das dos ter ri tó ri os que fi ca rão re co nhe ci dos como bra si le i ros.

Rio de Ja ne i ro, 29 de de zem bro de 1903.

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES

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EXPOSIÇÃO DE MOTIVOSSOBRE O

TRATADO DE 17 DE NOVEMBRO DE 1903ENTRE O

BRASIL E A BOLÍVIA

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Rio de Ja ne i ro, Mi nis té rio das Re la ções Exte ri o res,27 de de zem bro de 1903

Sr. Pre si den te da Re pú bli ca,

Te nho a hon ra de pôr nas mãos de V. Exa, uma có pia au tên ti ca do Tra -ta do de per mu ta de ter ri tó ri os e ou tras com pen sa ções fir ma das em Pe tró -po lis aos 17 de no vem bro úl ti mo pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e daBo lí via.

As pri me i ras ten ta ti vas de ne go ci a ção para um acor do di re to fo ramfe i tas por mim, pou co de po is de as su mir a di re ção do Mi nis té rio das Re la -ções Exte ri o res, no dia 3 de de zem bro do ano pas sa do. Au to ri za do por V.Exa, pro pus en tão a com pra do Ter ri tó rio do Acre. Essa pro pos ta foi logo re je -i ta da. De po is, pro cu rei ne go ci ar so bre a base de uma per mu ta de si gual de ter ri tó rio a que ou tras com pen sa ções ser vi ri am de com ple men to. A mar -cha das ex pe di ções mi li ta res da Bo lí via con tra os nos sos com pa tri o tas doAcre in ter rom peu a ne go ci a ção.

De ci di da a ocu pa ção mi li tar, pelo Bra sil, do ter ri tó rio que só en tão foiofi ci al men te de cla ra do em li tí gio, ao nor te do pa ra le lo de 10° 20’, teve co -me ço a ne go ci a ção do acor do pre li mi nar re la ti vo ao mo dus vi ven di noAcre. Essa ne go ci a ção ter mi nou em 21 de mar ço. Em vir tu de do acor doen tão as si na do em La Paz, e que ne go ci ei, pelo te lé gra fo, se cun da do pelo Sr. Edu ar do Lis boa, nos so dig no re pre sen tan te na Bo lí via, as tro pas bra si le i -ras fi ca ram ocu pan do o ter ri tó rio em li tí gio e foi au to ri za do o Go ver na dormi li tar bra si le i ro a man dar des ta ca men tos ao sul do ci ta do pa ra le lo, em ter -ri tó rio re co nhe ci da men te bo li vi a no, e den tro de li mi tes con ven ci o na dos,para o fim es pe ci al de evi tar con fli tos en tre os acre a nos ar ma dos e as tro -pas bo li vi a nas du ran te o pra zo da sus pen são de hos ti li da des im pli ci ta men -te ajus ta da, de ven do con ti nu ar a exer cer a sua au to ri da de ao sul do ditopa ra le lo o Go ver na dor acla ma do pe los acre a nos. A nos sa in ter ven çãonão vi sa va re pri mir a in sur re i ção, mas sim pro te ger os nos sos com pa tri o tas e man ter o sta tus quo en quan to se tra ta va da dis cus são do as sun to prin ci pal,que era um acor do ca paz de re mo ver para sem pre as di fi cul da des comque os dois pa í ses lu ta vam des de 1899.

No 1º de ju lho, o Sr. Dr. D. Fer nan do Gu a chal la, Envi a do Extra or di ná rioe Mi nis tro Ple ni po ten ciá rio da Bo lí via em mis são es pe ci al, fez en tre ga dasua cre den ci al a V. Exa como cons ta dos seus ple nos po de res, e dos do Sr.D. Cláu dio Pi nil la, en tão Envi a do Extra or di ná rio e Mi nis tro Ple ni po ten ciá rioaqui acre di ta do em mis são per ma nen te , fo ram en car re ga dos esse doisilus tres di plo ma tas de ne go ci ar co nos co so bre a base de uma per mu taequi ta ti va de ter ri tó ri os ou, não sen do isso pos sí vel, so bre a do ar bi tra men to

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para a in ter pre ta ção do Art. 2º do Tra ta do de 1867. A idéia de uma com -pen sa ção em di nhe i ro, so bre que con ti nu ei a in sis tir, foi no va men te re je i ta -da, em mar ço, pelo Go ver no Bo li vi a no. Só em agos to, se gun do pa re ce,fo ram alar ga das as ins tru ções dos ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos.

De se jan do eu o va li o so au xí lio das lu zes, com pe tên cia e pa tri o tis modos Srs. Se na dor Rui Bar bo sa e Assis Bra sil, V. Exa, por de cre tos de 17 de ju lho,os as so ci ou a mim, como ple ni po ten ciá ri os, para que, con jun ta men te, tra -tás se mos com os re pre sen tan tes da Bo lí via.

Em 22 de ju lho, com bi na mos, os três, na pro pos ta a apre sen tar aosnos sos con cor ren tes bo li vi a nos, e no dia se guin te lhes foi ela en tre gue pormim, em Pe tró po lis. Pe día mos à Bo lí via os ter ri tó ri os que, pelo pre sen te tra -ta do, fi cam por ela re co nhe ci dos como bra si le i ros, e lhe ofe re cía mos emtro ca:

1º O pe que no ter ri tó rio tri an gu lar en tre o Ma de i ra e o Abu nã, cujaárea, cal cu la da apres sa da men te en tão, su pú nha mos ser de 3.500 qui lô -me tros qua dra dos;

2º Um en cra va men to de dois hec ta res, à mar gem di re i ta do Ma de i ra,jun to a San to Antô nio, para que aí es ta be le ces se um pos to adu a ne i ro;

3º Uma in de ni za ção de um mi lhão de li bras es ter li nas;4º A cons tru ção, em ter ri tó rio bra si le i ro, des de a pri me i ra ca cho e i ra

do rio Ma mo ré, que é a de Gu a ja rá-mi rim, até à de San to Antô nio no rioMa de i ra, de uma fer ro via, con ce den do nós à Bo lí via as fa ci li da des de cla -ra das no tra ta do que se con clu iu no Rio de Ja ne i ro em 15 de maio de 1882e não en trou em vi gor.

A ofer ta dos dois hec ta res em San to Antô nio ti nha por fim fa ci li tar anos sa re sis tên cia à ces são das duas mar gens do Ma de i ra aci ma de San toAntô nio. Em ou tu bro, con se gui mos re ti rar, em bo ra com di fi cul da de, essaofer ta, fa zen do va ler as ou tras com pen sa ções pos te ri o men te ofe re ci dasou con ce di das, e de mons tran do que uma al fân de ga as sim des ta ca da eiso la da ne nhu ma uti li da de prá ti ca te ria para a Bo lí via.

Antes de 22 de ju lho, ma ni fes tei aos meus co le gas ple ni po ten ciá ri os doBra sil a opi nião de que, para se po der che gar a um acor do di re to, se ria ne -ces sá rio fa zer à Bo lí via al gu ma ou al gu mas con ces sões no Ba i xo Pa ra guaibra si le i ro, de modo a re a li zar o pen sa men to do Go ver no Impe ri al em 1867,que foi o de lhe dar por esse lado por tos que ser vis sem ao seu co mér cio com o ex te ri or. Infor mei-os da ma té ria de um pro to co lo fir ma do em 1896 comesse mes mo pen sa men to. Con vi nha, en tre tan to, não ir des de a pro pos ta ini -ci al ao ex tre mo das con ces sões que po de ría mos ra zo a vel men te fa zer, e por isso re ser va mos para mais tar de a ofer ta ou a ace i ta ção do pe di do que nes -se sen ti do nos fos se fe i to.

A pro pos ta, aci ma re su mi da, foi logo no dia se guin te, 24 de ju lho, de -cla ra da ina ce i tá vel pe los ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos. Em 13 de agos to re -

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ce bi a con tra pro pos ta por eles for mu la da. Nela in di ca vam umamo di fi ca ção de fron te i ras, de que re sul ta ria o se guin te:

1º Ao sul da li nha oblí qua Ja va ri-Beni, fi ca ria per ten cen do ao Bra silape nas uma ter ça par te do ter ri tó rio que pe día mos, isto é, o que se es ten -de a oes te do rio Iqui ri, ten do por li mi tes, ao sul,o pa ra le lo que pas sa pelaboca do Xa pu ri, aflu en te da mar gem es quer da do Acre, de po is o cur so domes mo Xa pu ri , e, a oes te, a li nha de 70° de lon gi tu de oci den tal do me ri di -a no de Gre en wich.

2º Pas sa ri am a per ten cer à Bo lí via:

No Nor te (Ama zo nas e Mato Gros so):

a) As duas mar gens do Ma de i ra aci ma, ou ao sul, da boca do Ja ma ri, com pre en den do duas zo nas li mi ta das, a oes te, por uma li nha reta tra ça da des de o pa ra le lo da boca des se aflu en te até a con fluên cia do Ra pir rã e do Iqui ri, e , a les te, por ou tra reta ti ra da da boca do mes mo Ja ma ri, à con -fluên cia do Ma mo ré;

No Sul (Mato Gros so) os ter ri tó ri os si tu a dos:

b) A oes te de uma li nha tra ça da des de o cha ma do “mar co do fun doda Baía Ne gra” até o de sa gua dou ro da la goa de Cá ce res;

c) A oes te do rio Pa ra guai, o qual fi ca ria ser vin do de li mi te, des de essede sa gua dou ro até a con fluên cia do Ja u ru;

d) A oes te do Ja u ru e ao sul do seu aflu en te Ba gre; ao sul e a oes te doAlto Gu a po ré até o lu gar em que re ce be, pela mar gem es quer da, o rio Ver -de, pas san do as sim para a Bo lí via to dos os ter re nos ba nha dos pelo Agua -peí, aflu en te do Ja u ru, e pelo Ale gre e Ver de, tri bu tá ri os do Gu a po ré.

Pe di am mais os Mi nis tros bo li vi a nos que, re co nhe ci da a uti li da de re cí -pro ca da fer ro via Ma de i ra-Ma mo ré, e sen do os ter ri tó ri os que o seu país sedis pu nha a trans fe rir, in con tes ta vel men te mais ri cos e ren do sos do que osque pe dia ao Bra sil, nos obri gás se mos a cons tru ir, em ter ri tó rio que pas sa riaa ser bo li vi a no, des de San to Antô nio, no Ma de i ra, até Gu a ja rá-mi rim, noMa mo ré, aque le ca mi nho de fer ro, e o en tre gás se mos em ple na pro pri e -da de à Bo lí via.

Essa con tra pro pos ta não po dia de i xar de ser, como foi, de cli na da por mim, sem he si ta ção al gu ma e an tes de qual quer con sul ta aos meus co le -gas.

Co me ça mos, en tre tan to, o Sr. Assis Bra sil e eu, a tro car idéi as com osple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos, em re pe ti das con ver sa ções par ti cu la res, quese pas sa vam em Pe tró po lis e a es tu dar o meio de en con trar ter re no so breque nos pu dés se mos apro xi mar e en ten der, an tes de abrir con fe rên ci as for -ma is em que to ma ria par te o Sr. Rui Bar bo sa, a quem não po día mos ra zo a -vel men te pe dir que se dis tra ís se dos seus tra ba lhos no Se na do parapar ti ci par de tão lar gas e en fa do nhas ten ta ti vas. Ti nha eu, po rém, o cu i da -

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do de o in for mar de tudo quan to de subs tan ci al se ia pas san do e de lhe pe -dir sem pre o seu pa re cer.

Ha ven do os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos in sis ti do, pri me i ro, para quece des se mos uma fa i xa de cin co lé guas ao lon go da mar gem di re i ta doMa de i ra, des de o Ma mo ré até San to Antô nio, de po is, uma fa i xa da mes ma lar gu ra, so bre a mar gem es quer da, pedi, nas duas cir cuns tân ci as, re u niãodo Mi nis té rio em con se lho, para sa ber se tais pro po si ções, a pri me i ra dasqua is dis pen sa ria qual quer in de ni za ção pe cu niá ria, de vi am ou não serace i tas em caso ex tre mo, isto é, se da sua re je i ção re sul tas se o rom pi men -to das ne go ci a ções para um acor do di re to. Qu an do se tra tou do exa medo se gun do pe di do, ten do sido já en tão ele va da por mim a dois mi lhõesde li bras a in de ni za ção ofe re ci da, e es tan do tam bém em ques tão umapro pos ta de mo di fi ca ção na fron te i ra de Mato Gros so, des de a Baía Ne graaté à nas cen te do ar ro io Con ce i ção, mo di fi ca ção de que re sul ta ria a trans -fe rên cia à Bo lí via de 2.300 qui lô me tros qua dra dos, pela ma i or par te de ala -ga di ços, o Sr. Se na dor Rui Bar bo sa so li ci tou, em car ta de 17 de ou tu bro, asua exo ne ra ção e in sis tiu por ela, acre di tan do, sem dú vi da por que me ex -pli quei mal, que os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos es ta vam ir re du tí ve is, casoem que ele pre fe ria o ar bi tra men to.

Des de aque la data se pa rou-se de nós o emi nen te bra si le i ro, comgran de sen ti men to de V. Exa, meu e do Sr. Assis Bra sil, que as sim nos vi mospri va dos do pre ci o so con cur so e dos le a is con se lhos que até en tão nos ha -via dado.

Pros se gui mos ne go ci an do, o Sr. Assis Bra sil e eu, e a nós dois, tão so -men te, cabe a res pon sa bi li da de do acor do a que se che gou com os re -pre sen tan tes da Bo lí via.

Pa re ce-me con ve ni en te dar des de já uma ex pli ca ção.No tra ta do não fo ram ex pres sa men te de cla ra dos qua is os ter ri tó ri os

per mu ta dos, mas sim ples men te des cri tos com a pos sí vel mi nu ci o si da de ecla re za as no vas li nhas de fron te i ra. Pro ce den do as sim, con for ma mo-noscom a prá ti ca ge ral men te se gui da na re da ção de acor dos des ta na tu re -za. As mú tu as ces sões, ex pli ca das adi an te nes ta Expo si ção, só po dem serbem ve ri fi ca das pela aten ta le i tu ra do Art. 1º, no que diz res pe i to às pe que -nas mo di fi ca ções na nos sa fron te i ra de Mato Gros so (§§ 1 a 4), em pre sen -ça de uma có pia do mapa or ga ni za do pela Co mis são Mis ta Bra si le i ra –Bo li vi a na de 1875, e, no to can te à re gião ama zô ni ca (§§ 5 a 7), à vis ta deou tro re pre sen tan do a par te com pre en di da en tre 6½ e 12 gra us de la ti tu -de sul e 62º e 74º de lon gi tu de oes te do me ri di a no de Gre en wich. Do pri -me i ro des ses ma pas foi fe i ta uma re du ção e o se gun do foi or ga ni za doapós exa me cu i da do so dos me lho res do cu men tos, pelo Sr. Con tra-Almi -ran te Gu il lo bel.

No § 7º do mes mo Arti go 1º es tão fi gu ra das vá ri as hi pó te ses quan toao cur so prin ci pal do Alto Acre. Nis so con cor da mos com o úni co fim de sa -

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tis fa zer os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos. Tí nha mos nós, os do Bra sil, pe di dopara fron te i ra, des de a con fluên cia do iga ra pé Baía para oes te, o ál veo dorio Acre até à sua ori gem prin ci pal, e, em se gui da, o pa ra le lo des sa nas -cen te até o pon to de en con tro com o ter ri tó rio pe ru a no. Re ce a ram os ple -ni po ten ciá ri os da Bo lí via que, na de mar ca ção, a Co mis são Mis ta pu des seve ri fi car ser o ver da de i ro Acre Su pe ri or al gum dos rios ti dos ago ra por aflu en -tes me ri di o na is (o iga ra pé Ver de ou o rio Pra gas) o que le va ria mu i to para osul a nova li nha di vi só ria que de se já va mos si tu ar nas vi zi nhan ças do pa ra le -lo 11. Con des cen den do com o de se jo dos ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos, fi -gu re mos es sas hi pó te ses, mas es ta mos con ven ci dos, nós os do Bra sil, deque o li mi te há de ser o cur so su pe ri or do Aqui ri ou Acre, que se gue ora aosul, ora ao nor te do pa ra le lo 11, como se vê do le van ta men to fe i to por W.Chad less em 1865, pu bli ca do, com as suas “No tas” ex pli ca ti vas, no Jour nalof the Ro yal Ge o graf hi cal So ci ety, de Lon dres, XXXVI, de 1867.

O cha ma do ter ri tó rio do Acre, ou mais pro pri a men te, Aqui ri, prin ci palca u sa e ob je to do pre sen te acor do, é, como toda a imen sa re gião re ga da pe los aflu en tes me ri di o na is do Ama zo nas a les te do Ja va ri, uma de pen -dên cia ge o grá fi ca do Bra sil. Só pe las vias flu vi a is do sis te ma ama zô ni co sepode ter fá cil aces so a es ses ter ri tó ri os, e, as sim fo ram eles, de lon ga data,des co ber tos e ex clu si va men te po vo a dos e va lo ri za dos por com pa tri o tasnos sos. Ao sul da li nha ge o dé si ca tra ça da da con fluên cia do Beni com oMa mo ré à nas cen te do Ja va ri, con tam-se hoje por mais de 60.000 os bra si -le i ros que tra ba lham nas mar gens e nas flo res tas vi zi nhas do Alto Pu rus eseus tri bu tá ri os, en tre os qua is o Acre, o Hyu a co ou Yaco, o Chand less e oMa nu el Urba no, e nas do Alto Ju ruá, in clu si ve os seus aflu en tes mais me ri di -o na is, Moa, Ju ruá-mi rim, Amô nea, Tejo e Breu.

No ter ri tó rio do Alto Acre, ao sul de Ca que tá, há cer ca de 20.000 ha bi -tan tes de na ci o na li da de bra si le i ra, ocu pa dos prin ci pal men te na in dus triaex tra ti va da goma elás ti ca. Tal é o côm pu to, con for me com o de ou trosco nhe ce do res da que las pa ra gens, que en con tro em re la tó rio ofi ci al re -cen te de um fun ci o ná rio bo li vi a no, que ali re si diu em co mis são de seu Go -ver no.

Qu an do em 1867 ne go ci a mos com a Bo lí via o pri me i ro tra ta do deli mi tes, não es ta vam ain da po vo a das as ba ci as do Alto Pu rus e do Alto Ju -ruá, mas tí nha mos in con tes tá vel di re i to a elas em toda a sua ex ten são. OTra ta do Pre li mi nar de 1777 en tre as Co ro as de Por tu gal e Espa nha fi ca raroto des de a guer ra de 1801, pois não fora res ta be le ci do por oca sião dapaz de Ba da joz. Não ha via, por tan to, di re i to con ven ci o nal e, ocu pan donós efe ti va men te, como ocu pá va mos des de prin cí pi os do sé cu lo XVIII, amar gem di re i ta do So li mões, de mais a mais, do mi nan do nas do cur so in fe -ri or des ses seus aflu en tes, tí nha mos um tí tu lo que abran gia as ori gens de to -dos eles, uma vez que ne nhum ou tro vi zi nho nos po dia opor o daocu pa ção efe ti va do cur so su pe ri or. É o mes mo tí tu lo que de ri va da ocu pa -

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ção de uma cos ta ma rí ti ma e se apli ca às ba ci as dos rios que nela de sa -guam, como sus ten ta ram Mon roe e Pinc kney em 1805 e foi de po isen si na do por Twiss, Phil li mo re e qua se to dos os mo der nos mes tres do di re i toin ter na ci o nal.

No Ma de i ra não se dava o mes mo. Pos su ía mos todo o seu cur so in fe ri -or, a mar gem ori en tal de uma pe que na se ção do Ma mo ré e a ori en tal doGu a po ré até o seu con flu en te Pa ra gaú, e po li ciá va mos a di re i ta des te;mas, os bo li vi a nos ocu pa vam efe ti va men te o rio de La Paz, aflu en te doBeni, que é o Alto Ma de i ra .

Para a de ter mi na ção dos li mi tes, no tra ta do de 1867, ado tou-se a basedo uti pos si de tis, a mes ma so bre que fo ram as sen ta dos to dos os nos sos ajus tes si mi la res com as Re pú bli cas vi zi nhas, e, em vez de pro cu rar fron te i ras na tu ra isou ar ci fí ni as, se guin do a li nha do di vor ti um aqua rum que nos de i xa ria ín te grosto dos os aflu en tes do So li mões, en ten deu-se, com van ta gem para a Bo lí via,que o di re i to re sul tan te da pos se ou das zo nas de in fluên cia dos dois po vos po -dia ra zo a vel men te fi car de mar ca do pelo pa ra le lo da con fluên cia do Beni eMa mo ré, isto é, pelo de 10° 20’ des de esse pon to, a les te, até o Ja va ri, a oes te, cuja nas cen te se su pu nha es tar em la ti tu de mais me ri di o nal. Por isso, o Art. 2°,no seu pe núl ti mo pa rá gra fo es ta be le ceu a fron te i ra por essa li nha pa ra le la aoEqua dor, e no se guin te em pre gou a ex pres são “li nha les te-oes te.“

Como, po rém, o úl ti mo pa rá gra fo, fi gu ran do a hi pó te se de se achar a nas cen te do Ja va ri “ao nor te da que la li nha les te-oes te”, diz que, nes secaso, “se gui rá a fron te i ra, des de a mes ma la ti tu de, por uma reta, a bus cara ori gem prin ci pal do dito Ja va ri”, sem, en tre tan to, pre ci sar o pon to ini ci alda se gun da li nha na re fe ri da la ti tu de de 10° 20’, ado tou-se ofi ci al men tedes de de zem bro de 1867 a opi nião de que a fron te i ra de via ir por uma oblí -qua ao Equa dor des de a con fluên cia do Beni até a nas cen te do Ja va ri, desor te que a li nha do uti pos si de tis, que, pelo tra ta do era les te-oes te, pas soua ser des lo ca da, com pre ju í zo nos so, de pen den do a sua exa ta de ter mi na -ção do des co bri men to de um pon to in cóg ni to, como era en tão a nas cen -te do Ja va ri. Te nho lido que du ran te as ne go ci a ções em La Paz, nospri me i ros me ses de 1867, o nos so ple ni po ten ciá rio, Lo pes Neto, apre sen ta -ra ma pas de se nha dos sob a di re ção de Du ar te da Pon te Ri be i ro, nos qua isjá fi gu ra va a li nha oblí qua, mas dis so não achei ves tí gio al gum na cor res -pon dên cia ofi ci al. Des ses ma pas, o mais an ti go, que me foi mos tra do e em que en con trei a li nha oblí qua, tem a data de 1873 (1).

No Atlas do Impé rio do Bra sil, de Cân di do Men des de Alme i da, pu bli -ca do em 1868, ten do o au tor ple no co nhe ci men to do tra ta do de 1867, deque se ocu pa na in tro du ção, a fron te i ra vem tra ça da pela li nha les te-oes tedo pa ra le lo de 10° 20’. Em suma, e é o que im por ta sa ber, o Go ver no bra si -le i ro des de fins de 1867 ado tou a opi nião que mais fa vo re cia à Bo lí via.

Por esse tem po, e não ten do sido com ple ta da a de mar ca ção de li mi -tes, co me ça ram bra si le i ros a ir pe ne tran do pelo Alto Pu rus, Alto Ju ruá e seus

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aflu en tes. Em 1899, quan do pela pri me i ra vez o Go ver no bo li vi a no quis fir mar a sua so be ra nia no Acre, a po pu la ção bra si le i ra, que de boa fé ali se fi xa ra,era tão nu me ro sa como hoje. Co me ça ram en tão as re vol tas des ses bra si le i -ros con tra a do mi na ção bo li vi a na, e aqui no in te ri or agi ta ções pe rió di cas,mo ti va das pe los acon te ci men tos do Acre.

Ao ina u gu rar o seu Go ver no, em 15 de no vem bro do ano pas sa doV. Exa en con trou bas tan te es tre me ci das as nos sas re la ções de ami za decom a Bo lí via e em si tu a ção su ma men te gra ve e com pli ca da as ques tõesre la ti vas ao ter ri tó rio do Acre.

Toda a vas ta re gião aci ma men ci o na da, ao sul de uma li nha ge o dé si -ca tra ça da da nas cen te prin ci pal do Ja va ri à con fluên cia do Beni com oMa mo ré, es ta va re co nhe ci da como bo li vi a na por nu me ro sos atos e de cla -ra ções dos go ver nos que en tre nós se su ce de ram des de 1867, isto é, du ran -te o re gi me im pe ri al e após a pro cla ma ção da Re pú bli ca. Um Sin di ca toan glo-ame ri ca no, com a de no mi na ção de Bo li vi an Syndi ca te, ar ma do dedi re i tos qua se so be ra nos, que lhe ha vi am sido con fe ri dos pelo Go ver no daBo lí via para a ad mi nis tra ção, de fe sa e uti li za ção do Acre, tra ba lha va, fe liz -men te sem su ces so, por in te res sar al gu mas po tên ci as co mer ci a is da Eu ro pae os Esta dos Uni dos da Amé ri ca nes sa em pre sa, pri me i ra ten ta ti va de in tro -du ção no nos so con ti nen te do sis te ma afri ca no e asiá ti co das Char te redCom pa ni es. O ilus tre pre de ces sor de V. Exa, bal da dos to dos os es for ços paraob ter a res ci são des se con tra to ou, pelo me nos a mo di fi ca ção, com que afi -nal se con ten ta va, de cer tas cláu su las em que via in con ve ni en tes e pe ri gospara o Bra sil e para a pró pria Bo lí via, ha via en tra do no ca mi nho das re pre sá li -as, ob ten do do Con gres so, a cujo exa me es ta va sub me ti do, a re ti ra da doTra ta do de Co mér cio e Na ve ga ção en tre os dois pa í ses e sus pen den do, nosnos sos rios, a li ber da de de trân si to para a ex por ta ção e im por ta ção da Bo lí -via. No Acre, a po pu la ção, ex clu si va men te bra si le i ra, se ti nha de novo le van -ta do, des de agos to, pro cla man do a sua in de pen dên cia da Bo lí via, com oin tu i to de pe dir de po is a ane xa ção ao Bra sil do ter ri tó rio ao nor te do rio Orton.Com ex ce ção de Por to Acre, onde as for ças bo li vi a nas pu de ram re sis tir atefins de ja ne i ro des te ano, to dos os ou tros pon tos es ta vam do mi na dos pe losin sur gen tes bra si le i ros. No Ama zo nas, os re pre sen tan tes do Bo li vi an Syndi ca tedis pu nham-se para su bir o Pu rus, e efe ti va men te em pre en di am pou co de -po is essa vi a gem, na es pe ran ça de po der che gar a Por to Acre. Na Bo lí via,pre pa ra vam-se ex pe di ções mi li ta res para le van tar o as sé dio des sa pra ça,sub me ter os acre a nos e dar pos se ao Sin di ca to. Entre nós, ho mens emi nen -tes, no Con gres so, na im pren sa e em so ci e da des ci en tí fi cas, com ba ti amdes de 1900 a in te li gên cia ofi ci al men te dada ao tra ta do de 1867, e sus ten ta -vam que a fron te i ra es ti pu la da não era a li nha oblí qua ao Equa dor, mas sima do pa ra le lo de 10°20’. A opi nião, for te men te aba la da, pe dia que o ter ri tó -rio com pre en di do en tre as duas li nhas e a fron te i ra com o Peru fos se re i vin di -ca do pe los me i os di plo má ti cos ou pe los mais enér gi cos de que pu des sedis por o Go ver no.

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Vá ri os e di fí ce is fo ram os pro ble mas que de pa rei ao to mar a di re çãodes te Mi nis té rio, ori gi na dos da si tu a ção que aca bo de ex por su cin ta men te.

O pri me i ro des ses pro ble mas pro vi nha da su pres são do li vre trân si toco mer ci al en tre Bo lí via e o es tran ge i ro pe las nos sas vias flu vi a is. Con tra isso re -cla ma ram a Fran ça, a Ale ma nha, a Ingla ter ra, os Esta dos Uni dos da Amé ri -ca e a Su í ça.

Ou tra di fi cul da de po dia re sul tar do fato de ha ver o Bra sil efe ti va men teim pe di do o de sem pe nho das obri ga ções do Sin di ca to an glo- ame ri ca no,que even tu al men te nos po de ria res pon sa bi li zar por per das e da nos.

O sen ti men to pú bli co en tre nós era ou tro ele men to que não po dia de -i xar de ser to ma do em con si de ra ção. Des de a mi nha che ga da da Eu ro pa,ob ser vei que se ma ni fes ta va unâ ni me a sim pa tia na ci o nal pe los nos soscom pa tri o tas que se ba ti am no Acre. A pre vi são se im pu nha de que aque le sen ti men to ha via de avo lu mar-se tan to e to mar tal for ma que se ria im pos sí -vel a um Go ver no de opi nião como o nos so as sis tir in di fe ren te ao sa cri fí cioque fa zi am es ses bra si le i ros para con se guir um dia vi ver à som bra da nos saban de i ra. Como com bi nar o de sem pe nho do nos so de ver para com es sescom pa tri o tas na afli ção com o fir me de se jo de não pra ti car atos de hos ti li -da de con tra o Go ver no ami go que os com ba tia?

Fi nal men te, a ne ces si da de se acen tu a va cla ra e im pe ri o sa de umaso lu ção ra di cal que evi tas se de fi ni ti va men te, no in te res se do Bra sil e da pró -pria Bo lí via, si tu a ções des sa na tu re za. Tal fim só po de ria ser al can ça do fi -can do bra si le i ro, não so men te o pe que no tre cho do Acre com pre en di doen tre a li nha oblí qua e o pa ra le lo de 10°20’, mas ain da o Acre me ri di o nal,com o Xa pu ri, e toda a vas ta re gião do Oes te, igual men te po vo a da porbra si le i ros.

Esses qua tro pon tos, o da sus pen são do co mér cio flu vi al com a Bo lí -via, o do Sin di ca do in ter na ci o nal, o dos bra si le i ros do Acre e o da so be ra niano ter ri tó rio por eles ocu pa do, acham-se re sol vi dos. As co mu ni ca ções pu -ra men te co mer ci a is fo ram logo res ta be le ci das. Do Sin di ca to es tran ge i roob ti ve mos de cla ra ção le gal de ab so lu ta de sis tên cia de todo e qual quer di -re i to ou pos sí vel re cla ma ção con tra quem quer que seja, me di an te in de ni -za ção pe cu niá ria in com pa ra vel men te me nor que a mí ni ma des pe sa aque nos obri ga ria, e à Bo lí via, uma sé ria com pli ca ção in ter na ci o nal. De cla -ra mos li ti gi o sa par te do ter ri tó rio do Acre, do Alto Pu rus e do Alto Ju ruá ado -tan do a in te li gên cia mais con for me com le tra e o es pí ri to do Tra ta do de1867 e o cri té rio mais se gui do en tre nós, em bo ra não ti ves se sido até en tãoo des te Mi nis té rio. Obti ve mos ami ga vel men te da Bo lí via a ace i ta ção deum mo dus vi ven di que nos per mi tiu ocu par mi li tar e ad mi nis tra ti va men te oter ri tó rio em li tí gio e in ter vir como me di a do res no que lhe fica ao sul, para aíevi tar en con tros de ar mas du ran te as ne go ci a ções. Por úl ti mo, eli mi na dosto dos os pre li mi na res em ba ra ço sos, pro ce de mos a tra tar ami gá vel e le al -men te com a Bo lí via, ten do, de po is de ma du ro exa me das cir cuns tân ci as,

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che ga do a este pac to que as se gu ra gran des van ta gens ime di a tas e fu tu -ras para am bos os pa í ses.

Pelo pre sen te tra ta do o Bra sil in cor po ra ao seu pa tri mô nio um ter ri tó riomais ex ten so que o de qual quer dos Esta dos do Ce a rá, Rio Gran de do Nor -te, Pa ra í ba, Per nam bu co, Ala go as, Ser gi pe, Espí ri to San to, Rio de Ja ne i ro eSan ta Ca ta ri na, ter ri tó rio que pro duz ren da anu al su pe ri or à de mais deme ta de dos vin te Esta dos da nos sa União. Não fo ram, po rém, van ta gensma te ri a is de qual quer or dem o mó vel que nos ins pi rou. Desde mu i to se co -nhe ci am as ri que zas do Acre, que eram os nos sos com pa tri o tas os úni cos aex plo rar; en tre tan to, o Go ver no per sis tiu sem pre em con si de rar bo li vi a noaque le ter ri tó rio e dar à Bo lí via as pos sí ve is fa ci li da des para o uti li zar. Foi pre -ci so que a pró pria se gu ran ça des te con ti nen te fos se ame a ça da pela ten -ta ti va de in tro du ção do sis te ma per tur ba dor das Char te red Com pa ni es, e que nos con ven cês se mos da im pos si bi li da de de con ser var as boas re la -ções, que tan to pre za mos, com a na ção bo li vi a na, en quan to exis tis se sobsua so be ra nia um ter ri tó rio ex clu si va men te ha bi ta do por bra si le i ros que lheeram hos tis, para que se pro du zis se a nos sa ação em bus ca dos re sul ta dosago ra ob ti dos.

E, de fato, as ma i o res van ta gens da aqui si ção ter ri to ri al que re sul tamdes te tra ta do não são as ma te ri a is. As de or dem mo ral e po lí ti ca são in fi ni -ta men te su pe ri o res. Entre es tas bas ta apon tar a que se tra duz na me lho rasubs tan ci al que ex pe ri men tam as con di ções do nos so im pé rio so bre o sis -te ma flu vi al ama zô ni co exa ta men te no pon to em que o di re i to dos ri be i ri -nhos po dia tor nar-se-nos mo les to. Não po den do ad mi nis trar nor mal men tea re gião ago ra ce di da, a que já ti nha dado ofi ci al men te o nome sig ni fi ca ti -vo de Ter ri tó rio de Co lô ni as, a Bo lí via ti nha fa tal men te de re cor rer a ex pe di -en tes in cô mo dos para nós com o fim de su prir as con di ções es sen ci a is dedo mí nio que lhe fal ta vam. São exem plos re cen tes o de cre to que abriu o rioAcre à na ve ga ção do mun do e os con tra tos de ar ren da men to cri an do en -ti da des semi-so be ra nas. Su pri mi da a ca u sa, não há mais que te mer o efe i -to.

Do ter ri tó rio ad qui ri do, uma par te, a que jaz ao sul da la ti tu de de10°20’, e que, se bem apre sen te me nor su per fí cie que a ou tra, é a que con -tém o ma i or cur so e as mais ri cas flo res tas do Acre su pe ri or, nun ca foi, nempo dia ser por nós con tes ta da à Bo lí via. A sua área, cal cu la da pelo Sr. Con -tra-Almi ran te Gu il lo bel di an te dos me lho res ele men tos car to grá fi cos à nos -sa dis po si ção, não deve ser in fe ri or a 48.108 qui lô me tros qua dra dos.

A par te do ter ri tó rio que de mo ra ao nor te de 10°20’, cuja área pe losmes mos da dos se ava lia em cer ca de 142.900 qui lô me tros qua dra dos, foi,como fi cou dito, por nós re cen te men te de cla ra da li ti gi o sa e re cla ma dacomo nos sa. De sa pa re ceu por isso o seu va lor para a Bo lí via? Não, cer ta -men te. Assim tam bém, por mais que o Bra sil es ti ves se con ven ci do do seubom di re i to, não po dia des co nhe cer a pos si bi li da de de ser a pen dên cia

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re sol vi da em fa vor do ou tro li ti gan te. Con se guir que este de sis tis se do li tí gioe nos ce des se os seus tí tu los era uma van ta gem de gran de con si de ra çãoque não po dia ser pre ten di da a tí tu lo gra tu i to. De sa pa re ce as sim a con tra -di ção apa ren te de pro cla mar mos o nos so di re i to a uma par te do ter ri tó rio e ad qui ri-lo em se gui da me di an te re tri bu i ção. Ha via mais no caso pre sen te:a de cla ra ção do li tí gio pela nos sa par te, cor res pon den do aliás à es tri ta ver -da de, por que de fato a opi nião na ci o nal es ta va per su a di da do nos so di re i -to ao ter ri tó rio, a de cla ra ção do li tí gio, digo, res pon dia ao in tu i todi plo má ti co de re gu la ri zar a nos sa ocu pa ção, con di ção in dis pen sá velpara a ma nu ten ção da paz e para o es ta be le ci men to das ne go ci a çõesem vis ta de um acor do di re to, a que afi nal che ga mos, com pro ve i to paraas duas na ções.

O que, pe las es ti pu la ções des te tra ta do, o Bra sil dá, para ob ter da Bo -lí via a ces são de uma par te do seu ter ri tó rio e a de sis tên cia do seu ale ga dodi re i to so bre a ou tra par te, pode sem dú vi da ser con si de ra do como umacom pen sa ção su ma men te van ta jo sa, e de fato o é; mas isso não obs taque as nos sas van ta gens se jam igual men te gran des. As com bi na ções emque ne nhu ma das par tes in te res sa das per de, e, mais ain da, aque las emque to das ga nham, se rão sem pre as me lho res.

Em tro ca de 142.900 qui lô me tros qua dra dos de ter ra que lhe dis pu tá -va mos e de 48.100 de ter ra que era re co nhe ci da men te sua, isto é, em tro -ca de 191.000 qui lô me tros qua dra dos, da mos à Bo lí via en tre os riosMa de i ra e Abu nã (ain da se gun do os cál cu los aci ma re fe ri dos) uma áreade 2.296 qui lô me tros qua dra dos, que não é ha bi ta da por bra si le i ros e queo é por bo li vi a nos. Se o tí tu lo em nome do qual lhe pe día mos a ces são dasba ci as do Acre e dos rios que fi cam ao oes te des te era o de se rem es sester ri tó ri os ha bi ta dos e cul ti va dos por con ci da dãos nos sos, como po de ría -mos ho nes ta men te ne gar à Bo lí via ex ten são mu i to me nor, ha bi ta da e uti li -za da por seus na ci o na is? De ma is, era ne ces sá rio sal var o prin cí pio: não setra ta va pre ci sa men te de ces são, mas de per mu ta de ter ri tó ri os. E cum preob ser var que este tra ta do não veio ino var co i sa al gu ma: a per mu ta de ter ri -tó ri os já es ta va pre vis ta e au to ri za da no Art. 5° do Tra ta do de 27 de mar çode 1867.

A per mu ta, en tre tan to, se ria in jus ta men te de si gual, e não po de ria serace i ta pela Bo lí via, se con sis tis se em fi car re co nhe ci da a nos sa so be ra niaso bre 191.000 qui lô me tros qua dra dos de ter ras em ple na e va li o sa pro du -ção e dar mos ape nas 2.296 de ter re no por en quan to qua se im pro du ti vo.Fo ram, por isso, na tu ral men te, pe di das pe los nos sos con cor ren tes bo li vi a -nos ou tras com pen sa ções ter ri to ri a is bas tan te con si de rá ve is, e que con se -gui mos re du zir ele van do a in de ni za ção pe cu niá ria pri mi ti va ofe re ci da, aqual não te ria sido ne ces sá ria como fi cou dito, se hou vés se mos anu í do à ces -são da mar gem di re i ta do Ma de i ra des de a con fluên cia do Ma mo ré até ado Ja ma ri.

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Do tra ta do re sul tam as se guin tes con ces sões à Bo lí via, além da queaci ma fi cou in di ca da:

723 qui lô me tros qua dra dos so bre a mar gem di re i ta do rio Pa ra guai,den tro dos ter re nos ala ga dos co nhe ci dos por Baía Ne gra;

116 qui lô me tros qua dra dos so bre a la goa de Cá ce res, com pre en -den do uma nes ga de ter ra fir me (49,6 qui lô me tros qua dra dos) que per mi teo es ta be le ci men to de um an co ra dou ro mais fa vo rá vel ao co mér cio que oque fora ce di do à Bo lí via em 1867;

20,3 qui lô me tros qua dra dos, nas mes mas con di ções, so bre a la goaMan di o ré;

8,2 qui lô me tros qua dra dos so bre a mar gem me ri di o nal da la goa Ga í -ba;

A cons tru ção de uma es tra da de fer ro, em ter ri tó rio bra si le i ro, li gan doSan to Antô nio, no Ma de i ra, a Vila Bela, na con fluên cia do Beni e Ma mo ré;

Li ber da de de trân si to por essa es tra da e pe los rios até o Oce a no, com as cor res pon den tes fa ci li da des adu a ne i ras, o que já lhe era fa cul ta do poran te ri o res tra ta dos;

Fi nal men te, o pa ga men to de dois mi lhões de li bras es ter li nas em duas pres ta ções.

As con ces sões des ti na das a fa ci li tar o aces so da Bo lí via ao rio Pa ra -guai são ape nas um pe que no de sen vol vi men to do Tra ta do de 1867. Poresse pac to, foi re cu a da para les te a fron te i ra que man tí nha mos na cha ma -da Ser ra dos Li mi tes, e isso se fez para dar à Bo lí via a pro pri e da de de me ta -de da Baía Ne gra e das la go as de Cá ce res, Man di o ré, Ga í ba e Ube ra ba, afim de que se tor nas se ri be i ri nha do Pa ra guai, como acon se lha vam Ta va res Bas tos, Pi men ta Bu e no ( Mar quês de S. Vi cen te), A. Pe re i ra Pin to e ou tros ilus -tres bra si le i ros. A in ten ção do Go ver no Impe ri al foi dar as sim à Bo lí via cin copor tos nes sas la go as em co mu ni ca ção com o rio Pa ra guai. A sua par te naBaía Ne gra, os bo li vi a nos a per de ram de fato em 1888, por ter sido en tãoocu pa da pe los pa ra gua i os. Na la goa de Cá ce res a Bo lí via não achou pon -to al gum em que pu des se es ta be le cer um por to. O mes mo lhe acon te ceunas la go as Man di o ré e Ube ra ba. So men te na Ga í ba fi cou re co nhe ci do,em ex plo ra ção re cen te do Ca pi tão Bol land, ali man da do pelo Ge ne ralPan do, que há água su fi ci en te, fa ci li da de de en tra da e sa í da para pe que -nas em bar ca ções e pos si bi li da de de cons tru ir na mar gem oci den tal umpor to já pro je ta do.

Infor ma do de que o pen sa men to de 1867, do Go ver no Impe ri al, nãose pu de ra re a li zar, o Go ver no da Re pú bli ca pro cu rou em 1896 re me di ar aisso, com pre en den do tam bém a van ta gem de atra ir para Mato Gros so otrân si to co mer ci al da re gião su des te da Bo lí via. Assim é que, a 13 de mar ço des se ano, la vrou-se nes ta ci da de do Rio de Ja ne i ro um pro to co lo fir ma dope los Srs. Car los de Car va lho, Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, e Fre de ri coDíez de Me di na, Mi nis tro da Bo lí via, con ce den do a essa Re pú bli ca, em ser -

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vi dão e a tí tu lo gra tu i to, para que pu des se es ta be le cer uma al fân de ga, olu gar de Ta ma rin de i ro e uma fa i xa de ter ra so bre a mar gem me ri di o nal dala goa de Cá ce res, en tre Pu er to Suá rez e Co rum bá. O mes mo Ta ma rin de i roe a fa i xa de ter ra que aí trans fe ri mos ago ra à Bo lí via cons ti tu em a mais subs -tan ci al com pen sa ção que o pre sen te tra ta do lhe dá pelo lado do Pa ra -guai.

A cons tru ção da es tra da de fer ro Ma de i ra e Ma mo ré é ou tra gran devan ta gem que ofe re ce mos à na ção vi zi nha, com a fe liz cir cuns tân cia deser de ain da ma i or pro ve i to para nós. É exe cu ção de pro mes sa fe i ta à Bo lí -via no Art. 9° do Tra ta do de 1867 e re no va da so le ne men te no de 15 de Mar -ço de 1882, cujo úni co ob je to foi esse, sem que pe dís se mos por issoqual quer com pen sa ção ter ri to ri al. Acon se lha ram a sua cons tru ção e ins ta -ram por ela, no tem po do Impé rio, mu i tos dos nos sos mais aba li za dos epre vi den tes es ta dis tas, como fo ram Ta va res Bas tos e o Mar quês de S. Vi cen -te, já ci ta dos, o Ba rão de Co te gi pe, o Vis con de do Rio Bran co e ou tros. Ascon di ções em que nos obri ga mos ago ra a cons truí-la não são aper ta das.

O pra zo para a con clu são das obras foi vir tu al men te de i xa do à boa-fé do Bra sil, que, es tou cer to, se em pe nha rá, por isso mes mo, em cum prir opro me ti do, mas que não as su me res pon sa bi li da de ma te ri al al gu ma para o caso de for ça ma i or.

A Re pú bli ca Argen ti na e a do Chi le, ins pi ra das em sá bi as pre o cu pa çõeseco nô mi cas, es tão cons tru in do e vão cons tru ir em ter ri tó rio bo li vi a no ca mi nhos defer ro des ti na dos a ca na li zar para o seu li to ral o co mér cio des sa na ção vi zi nha. Entre -tan to, nem o Chi le, nem a Argen ti na têm con ta to com a Bo lí via por ter ras tão ri -cas como as do Beni e Ma dre de Dios, cuja co mu ni ca ção com a Eu ro pa e a Amé ri ca do Nor te só se pode re a li zar fa cil men te pelo Ma de i ra e pelo Ama zo -nas. Fi ca ría mos pri va dos dos gran des lu cros que nos pro por ci o na nos sa ma i -or pro xi mi da de dos por tos eu ro pe us e ame ri ca nos se não en trás se mos emno bre com pe tên cia, pro cu ran do be ne fi ci ar tam bém do co mér cio de trân si -to bo li vi a no.

A es tra da Ma de i ra e Ma mo ré vai tra zer in con tes tá vel pro ve i to aosEsta dos de Mato Gros so, Ama zo nas e Pará. Em tro ca de al gu ma água, deala ga di ços e de duas e meia lé guas de ter ra fir me, que lhe são in te i ra men -te inú te is e de que se pri va em bem de al tos in te res ses de toda a Na çãobra si le i ra, vai Mato Gros so ter uma im por tan te via-fér rea cons tru í da pelaUnião, e en trar em re la ção de co mér cio com o Ama zo nas e os pa í ses donor te.

Por úl ti mo, e por não ha ver equi va lên cia nas áre as dos ter ri tó ri os per -mu ta dos, o Bra sil dá à Bo lí via uma com pen sa ção pe cu niá ria de dois mi -lhões es ter li nos, des ti na dos à cons tru ção de es tra das e ou trosme lho ra men tos que, in di re ta men te, nos se rão van ta jo sos, pois vi rão au -men tar o trá fe go do nos so ca mi nho de fer ro do Ma de i ra. Além de ser o em -pre go des sa quan tia re mu ne ra dor em si pró prio, há ain da a ob ser var que,

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se gun do os da dos co nhe ci dos re la ti va men te à ren da do ter ri tó rio ane xa do, essa ren da ga ran te de so bra o sa cri fí cio do nos so Te sou ro e pro me te mes -mo em bre ve tem po amor ti zar to tal men te o de sem bol so.

O ter ri tó rio que pelo pre sen te tra ta do é atri bu í do ao Bra sil e o que pas -sa à Bo lí via, en tre o Abu nã e o Ma de i ra, são tam bém re cla ma dos peloPeru. Sa be dor des se fato, o Go ver no bra si le i ro mais de uma vez ma ni fes touao do Peru que os seus pos sí ve is di re i tos se ri am res sal va dos, fos se qual fos se o re sul ta do das ne go ci a ções com a Bo lí via. É isso o que está con fir ma do no Art. 8° do tra ta do. As pre ten sões do Peru vão, en tre tan to, mu i to além do que ge ral men te se pen sa; vão até o pon to de con si de rar pe ru a na uma par tedo Esta do do Ama zo nas mu i to mais vas ta que o ter ri tó rio que foi ca u sa prin -ci pal do pre sen te tra ta do. Para o Peru, tan to quan to o sa be mos por do cu -men tos car to grá fi cos re cen tes, de ori gem ofi ci al, a sua di vi sa com o Bra sil,des de pou co aba i xo da ca be ce i ra prin ci pal do Ja va ri, deve ser o pa ra le lodes se pon to até en con trar a mar gem es quer da do Ma de i ra. A área com -pre en di da en tre a mes ma li nha, o Ma de i ra e a oblí qua Ja va ri-Beni, for maum triân gu lo mu i to ma i or que o cha ma do triân gu lo li ti gi o so do Acre, poisabran gem nada me nos de 251.330 qui lô me tros qua dra dos de ter ri tó rioque en tre nós sem pre foi jul ga do fora de ques tão. Assim é que o li tí gio defron te i ras que te mos com o Peru não nas ce do tra ta do que aca ba mos decon clu ir com a Bo lí via.

Não é aqui oca sião de di zer cir cuns tan ci al men te por que, mas, com o de vi do res pe i to pela opi nião con trá ria, a con fi an ça no nos so di re i to é talque ne nhum re ce io de ve mos ter por esse lado.

Tal é, Sr. Pre si den te, o meu modo de pen sar re la ti va men te ao tra ta do,cuja có pia ve nho sub me ter a V. Exa para os de vi dos efe i tos. Ele re pre sen tapara mim, além das van ta gens já apon ta das, a so lu ção que me pa re ceume lhor para as di fi cul da des que vim en con trar ao to mar pos se do car goque V. Exa me con fi ou.

Duas são as ou tras so lu ções que têm sido mais ou me nos pro pos tasem pú bli co.

1) Ser vir mo-nos dos bra si le i ros do Acre, es pe ran do que eles con quis -tas sem de fi ni ti va men te a sua in de pen dên cia para de po is pe di rem a ane -xa ção ao Bra sil do Esta do que as sim fun das sem e que re ce be ría mos nanos sa União sem dar com pen sa ção al gu ma à Bo lí via; ou

2) Re cor rer des de logo ao ar bi tra men to para a in ter pre ta ção da par tefi nal do art. 2° do Tra ta do de 1867, de fen den do nós pe ran te o ár bi tro a li nha do pa ra le lo de 10°20’.

A pri me i ra in di ca ção, vi san do de fato uma con quis ta dis far ça da, nosle va ria a ter pro ce di men to em con tras te com a le al da de que o Go ver nobra si le i ro nun ca de i xou de guar dar no seu tra to com os das ou tras na ções.Entra ría mos em aven tu ra pe ri go sa, sem pre ce den tes na nos sa his tó ria di -plo má ti ca, e que, por ser de mu i to de mo ra do des do bra men to, nos tra ria

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sem dú vi da com pli ca ções e sur pre sas de sa gra dá ve is, sen do por isso mes -mo de de sen la ce in cer to. E a con quis ta dis far ça da que, vi o lan do a Cons ti -tu i ção da Re pú bli ca, iría mos as sim ten tar se es ten de ria, não só so bre oter ri tó rio a que nos jul gá va mos com di re i to, mas tam bém so bre o que lhefica ao sul, in con tes ta vel men te bo li vi a no em vir tu de do Tra ta do de 1867, eonde já do mi na vam os Acre a nos em ar mas. Por que, é pre ci so não es que -cer, o pro ble ma do Acre só se po dia ou pode re sol ver fi can do bra si le i ros to -dos os ter ri tó ri os ocu pa dos pe los nos sos na ci o na is. Acres cen ta rei, que nada nos per mi te afir mar que os Acre a nos se ri am for ço sa men te ven ce do res. Nocaso pos sí vel de não le va rem a me lhor, o seu he rói co sa cri fí cio ha via de fe -rir e mo ver o sen ti men to na ci o nal, com ris co de nos ar ras tar a uma guer rain gló ria. Esta in fe liz con tin gên cia se ria tam bém pos sí vel no caso de se remos Acre a nos vi to ri o sos e de ace i tar mos a sua pro pos ta de ane xa ção.

O re cur so ao ar bi tra men to te ria o in con ve ni en te de re tar dar de qua troou cin co anos, se não mais, a de se ja da so lu ção e de, mes mo no caso denos ser fa vo rá vel o la u do do juiz, não tra zer de ci são al gu ma ra di cal e de fi ni -ti va, por quan to ele não su pri mi ria ou re sol ve ria as di fi cul da des com que osdois pa í ses lu ta vam des de 1899. Iría mos ao ar bi tra men to aban do nan do esa cri fi can do os mi lha res de bra si le i ros que de boa-fé se es ta be le ce ram aosul do pa ra le lo de 10°20’. O ár bi tro só nos po de ria atri bu ir o ter ri tó rio que ha -vía mos de cla ra do em li tí gio ao nor te des se pa ra le lo e é ao sul que está ama i or par te do Acre, sen do tam bém aí mu i to mais nu me ro sos os es ta be le -ci men tos de bra si le i ros. Du ran te o pro ces so ar bi tral con ti nu a ri am es ses nos -sos com pa tri o tas em cons pi ra ções e re vol tas con tra a au to ri da debo li vi a na. Per sis ti ria, por tan to, en tre nós a agi ta ção po lí ti ca em tor no daques tão do Acre e na Bo lí via, tal vez, a ten ta ção de al gum novo ar ren da -men to para, com re cur sos do es tran ge i ro, sub ju gar uma po pu la ção quelhe era de ci di da men te in fen sa. E, dada a vo lu bi li da de da opi nião em al -guns dos nos sos me i os po lí ti cos e a in fluên cia que oca si o nal men te po de ri -am ter na da ma i o ria real ou apa ren te da na ção, era im pos sí vel pre ver aque de ci sões nos po de ria le var, em mo men tos de exal ta ção pa trió ti ca, oes pe tá cu lo da cons tan te re vol ta des ses bra si le i ros ou o da sua fi nal sub mis -são pelo qua se ex ter mí nio.

Por ou tro lado, era mu i to pro vá vel que, mais do que as boas ra zõesque pu dés se mos ale gar, pe sas se no âni mo do ár bi tro a tra di ção cons tan te de trin ta e cin co anos, du ran te os qua is o Go ver no bra si le i ro, não so men tecon si de rou ser in con tes ta vel men te da Bo lí via o ter ri tó rio en tre a li nha oblí -qua Ja va ri-Beni e o ci ta do pa ra le lo, mas che gou até a pra ti car atos po si ti -vos de re co nhe ci men to da so be ra nia bo li vi a na, an tes de ul ti ma da ade mar ca ção, con cor dan do na fun da ção de uma al fân de ga em Por toAlon so, de po is Por to Acre, e es ta be le cen do ali um con su la do bra si le i ro. Demim digo que, tra tan do-se de tão al tos in te res ses do pre sen te e do fu tu rodes ta Na ção, não ou sa ria acon se lhar o ar bi tra men to se não no caso de in -te i ra im pos si bi li da de de um acor do di re to sa tis fa tó rio, e fora do ter re no do

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Tra ta do de 1867, com ga ran ti as mu i to es pe ci a is e de di fí cil ace i ta ção pelaou tra par te.

O acor do di re to era na ver da de o ex pe di en te pre fe rí vel, o mais rá pi do e o úni co efi caz, po den do as se gu rar van ta gens ime di a tas, tan to para oBra sil, como para a Bo lí via. A ele re cor re mos e, de po is de pa ci en te la bor,con se gui mos re a li zá-lo de modo sa tis fa tó rio e hon ro so para os dois pa í ses,não só re sol ven do ra di cal men te to das as ques tões de atu a li da de, masabran gen do numa con cep ção ge né ri ca o con jun to das nos sas re la çõesde ca rá ter per pé tuo com a Bo lí via.

Por fe li ci da de, nem foi pre ci so ino var o di re i to exis ten te en tre os doispa í ses para al can çar tal re sul ta do. O pre sen te acor do é, no que tem de es -sen ci al, sim ples des do bra men to e apli ca ção das es ti pu la ções do de 1867, como aci ma in di quei. Não há pro pri a men te ces são, mas per mu ta de ter ri -tó ri os de am bos os pa í ses re ci pro ca men te ha bi ta dos por ci da dãos do ou -tro país, pre ci sa men te como es ta tui o pac to de 1867, no seu art. 5°, jáci ta do. Mas, ain da quan do se pu des se cha mar “ces são de ter ri tó rio” o fatode dar mos cer ca de 3.200 qui lô me tros qua dra dos para re ce ber 191.000,não se po de ria di zer que se me lhan te ato fos se in de co ro so em si e mu i tome nos que não es ti ves se au to ri za do pela tra di ção dos po vos li vres maispun do no ro sos do mun do, como os Esta dos Uni dos da Amé ri ca e a Su í ça, epe los pre ce den tes ju rí di cos e cos tu me i ros da nos sa pá tria. A Cons ti tu i ção doImpé rio ad mi tia, no Art. 102, § 8°, a ces são ter ri to ri al, fa zen do-a de pen der da san ção da Assem bléia Ge ral Le gis la ti va. E o prin cí pio foi, não só ad mi ti do,mas pra ti ca do por ve zes.

No caso do pre sen te tra ta do, en tre tan to, nós não per de mos, nós ga -nha mos ter ri tó rio. Mas ain da: efe tu a mos a nos sa pri me i ra aqui si ção ter ri to ri -al des de que so mos na ção in de pen den te.

As de ci sões dos dois ple i tos em que me cou be a hon ra de de fen der osin te res ses do Bra sil, não acres cen ta ram, ape nas man ti ve ram o pa tri mô niona ci o nal den tro de li mi tes pres ti gi a dos por afir ma ções se cu la res do nos so di -re i to. Ver da de i ra ex pan são ter ri to ri al só há ago ra e com a fe liz cir cuns tân cia de que, para a efe tu ar, não es po li a mos uma na ção vi zi nha e ami ga, an tesa li ber ta mos de um ônus, ofe re cen do-lhe com pen sa ções ma te ri a is e po lí ti -cas, que des de já se re ve lam como ver da de i ra equi va lên cia e que o fu tu ro se en car re ga rá de tra du zir em ou tros tan tos la ços de so li da ri e da de in ter na -ci o nal.

Com sin ce ri da de afi an ço a V. Exa que para mim vale mais esta obraem que tive a for tu na de co la bo rar sob o Go ver no de V. Exa, e gra ças aoapo io de ci di do com que me hon rou, do que as duas ou tras, jul ga das comtan ta bon da de pe los nos sos ci da dãos e que pude le var a ter mo em con di -ções sem dú vi da mu i to mais fa vo rá ve is.

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Entre tan to, o tra ta do não está fe i to e aca ba do an tes da san ção doCon gres so Na ci o nal. Aqui pára o tra ba lho dos ple ni po ten ciá ri os de V. Exa, e co -me ça a res pon sa bi li da de dos re pre sen tan tes da Na ção.

Te nho a hon ra de re i te rar a V. Exa os pro tes tos do meu mais pro fun dores pe i to.

RIO BRANCO

(1) O Mapa de 1873, ao con trá rio do que su pu nha Rio Bran co, não era o mais an ti go em que o li mi te en tre o Bra sil e a Bo lí via se re pre sen ta va por uma li nha oblí qua, ao equa dor, des de acon fluên cia do Beni até à ca be ce i ra do Ja va ri.

Já es ta va o Tra ta do de Pe tró po lis em es tu dos na Co mis são de Di plo ma cia da Câ ma ra dosDe pu ta dos, quan do foi en con tra do no Arqui vo do Mi nis té rio das Re la ções Exte ri o res em ummapa, da ta do de 1860, e as si na do pelo Con se lhe i ro Du ar te da Pon te Ri be i ro e Ma jor Isal ti noJosé de Men don ça de Car va lho, no qual fi gu ra va, em tin ta ver de, a re fe ri da oblí qua. Rio Bran -co deu co nhe ci men to des te fato ao Dr. Gas tão da Cu nha, re la tor da Co mis são de Di plo ma ciada Câ ma ra dos De pu ta dos, na se guin te car ta: “Exmo. Se nhor Dou tor Gas tão da Cu nha, De pu -ta do Fe de ral. Ao ler, pu bli ca da an te on tem, a Expo si ção que sub me ti ao Pre si den te da Re pú -bli ca so bre o Tra ta do de Pe tró po lis, o Sr. José Anto nio de Espi nhe i ro, Di re tor de Se ção e an ti gofun ci o ná rio nes ta Se cre ta ria, veio di zer-me que o mapa de 1873, a que me re fe ri nes sa Expo si -ção, não era, como eu su pu nha, o mais an ti go apre sen tan do como li mi te en tre o Bra sil e a Bo -lí via uma li nha oblí qua ao equa dor, des de a con fluên cia do Beni até ao Ja va ri. E o Sr.Espi nhe i ro en tre gou-me o mapa ma nus cri to de 1860, ci ta do pe los meus dois ime di a tos pre -de ces so res, e que, ao che gar, eu pe di ria ao ve ne ran do Di re tor-Ge ral des ta Se cre ta ria. Efe ti va -men te, o mapa que, dias de po is, me fora, por en ga no, man da do a Pe tró po lis, era de 1873,apa re cen do nela o prin ci pal au tor com o nome de Ba rão da Pon te Ri be i ro, tí tu lo este que sónes se ano de 1873 re ce be ra. O do cu men to ori gi nal que re ce bi das mãos do Sr. Espi nhe i ro, ees ta va sob a sua guar da, tem o se guin te tí tu lo e in di ca ção: Mapa de uma par te da fron te i rado Bra sil com a Re pú bli ca da Bo lí via or ga ni za do pelo Con se lhe i ro Du ar te da Pon te Ri be i ro eIzal ti no José Men don ça de Car va lho, Ja ne i ro de 1860. Traz, logo de po is duas as si na tu ras au tó -gra fas: “Du ar te da Pon te Ri be i ro” e “Izal ti no José Men don ça de Car va lho, Ma jor gra du a do doEsta do Ma i or de 1ª clas se”. Há no mapa uma li nha ver me lha, cor ren do pela la ti tu de de 10º 10’ des de a con fluên cia do Beni até en con trar o su pos to Ja va ri, e três ou tras li nhas, es sas oblí quas, des de a mes ma con fluên cia, em bus ca da en tão des co nhe ci da nas cen te do Ja va ri. Duasdas li nhas oblí quas, am bas pa ra le las, su põem a nas cen te do Ja va ri na la ti tu de aus tral de8°45’, uma, e na de 7º 9’ a ou tra. A ter ce i ra li nha oblí qua é ver de e su põe a nas cen te a 5º 36’da la ti tu de aus tral. O exa me des te mapa con ven ce-me in te i ra men te de que, na men te doGo ver no do Bra sil, des de 1860, a fron te i ra de ve ria ser for ma da por uma li nha oblí qua, se a nas -cen te do Ja va ri fos se acha da ao nor te do pa ra le lo de 10º 20’.

Isso, po rém, em nada al te ra o que se es ti pu lou no tra ta do que pen de do exa me e apro va -ção do Con gres so, por quan to os Ple ni po ten ciá ri os dos dois pa í ses, du ran te a ne go ci a ção,não se ocu pa ram de in ter pre tar a par te fi nal do Art. 2º do Tra ta do de 1867, mas sim de es ta be -le cer no vas fron te i ras me di an te com pen sa ção à Bo lí via. Ne go ci a mos o Tra ta do, dan do como ad mi ti do que a fron te i ra era a li nha oblí qua do Beni à nas cen te do Ja va ri. Peço a V. Exa que co -mu ni que aos seus co le gas da Co mis são de Di plo ma cia esta emen da à Expo si ção que acom -pa nha o Tra ta do. O mapa está aqui no Ita ma ra ti à sua dis po si ção. Com a mais alta es ti ma,te nho a hon ra de ser de V. Exª ami go aten to e mu i to obri ga do”. Rio Bran co.

So bre esse as sun to foi de po is tro ca da a se guin te cor res pon dên cia en tre Rio Bran co e o Dr.Olin to Ma ga lhães, Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res. Na Pre si dên cia Cam pos Sa les: “Rio de Ja -ne i ro, 17 de ju nho de 1911. Ilmo. e Exmo. Se nhor Ba rão do Rio Bran co, Mi nis tro de Esta do dasRe la ções Exte ri o res. Na vi si ta que hoje tive a hon ra de fa zer a V. Exa, foi as sun to prin ci pal da nos -sa con ver sa ção o erro ve ri fi ca do em do cu men tos ofi ci as so bre a exis tên cia do mapa de 1860de Du ar te da Ri be i ro. Dis se-me en tão V. Exa que, na ver da de, se acha nes sa Se cre ta ria de Esta -

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do, com pe ten te men te ar qui va do, tão im por tan te do cu men to, do qual teve a bon da de deme for ne cer três có pi as au tên ti cas. Infor mou-me ain da V. Exª que o men ci o na do mapa só lhefoi apre sen ta do pelo Sr. José Antô nio Espi nhe i ro, di re tor de Se ção nes sa Se cre ta ria de Esta do,de po is de ha ver V. Exa en de re ça do ao Con gres so Na ci o nal a “Expo si ção de Mo ti vos do Tra ta -do de Pe tró po lis de 1903”; mas que, em tem po, di ri gi ra à Co mis são Par la men tar en car re ga dade dar pa re cer so bre aque le tra ta do uma car ta, em que res ta be le cia a ver da de his tó ri ca. V.Exa bem pode com pre en der o vivo in te res se do país em que se di vul gue essa re ti fi ca ção, quepa re ce ig no ra da até de mem bros do Con gres so Na ci o nal. Assim que, no vo lu me 2º, à pág102, de sua obra O Di re i to do Ama zo nas ao Acre Sep ten tri o nal que só ago ra me che gou aoco nhe ci men to, de cla ra o se nhor Rui Bar bo sa o se guin te: “Para co lo rir com a ex pres são de au -ten ti ci da de ofi ci al a in te li gên cia, que subs ti tu iu a li nha que bra da, ma ni fes ta no Arti go 2º doTra ta do de 1867, tal qual se acha re di gi do, pela oblí qua do Ma de i ra à nas cen ça do Ja va ri, otra ba lho de aje i ta ção, per ti naz men te ur di do no de cur so de trin ta anos por sus ten tar o erro pri -mi ti vo da nos sa chan ce la ria, ex plo rou com sin gu lar con fi an ça a his tó ria de li nha ver de, cujader ra de i ra edi ção lhe deu seu ma i or re al ce, ain da em 1900, no Re la tó rio do Mi nis tro das Re la -ções Exte ri o res. Ale ga-se que nas ins tru ções do Mi nis tro de Estran ge i ros, Can san ção de Si nim bu,em1860, ao nos so Mi nis tro Re si den te em La Paz, João da Cos ta Rêgo Mon te i ro, acom pa nha vam opro je to de Tra ta do car tas ex pli ca ti vas, na ter ce i ra das qua is se ti ra ra do Ma de i ra ao Ja va ri uma li nhaver de, a qual, di zia Pon te Ri be i ro “é a que re gu la rá por úl ti mo se as nas cen tes do Ja va ri não al can -ça rem até a li nha en car na da ou al gu mas das in ter me diá ri as”.

“Diz ain da o Se na dor Rui Bar bo sa: Mas onde se acha esse mapa ? Que si na is de au ten ti ci -da de nos cer ti fi ca a exis tên cia des se do cu men to?...Na Se cre ta ria das Re la ções Exte ri o res ,nas suas re par ti ções, no seu ar qui vo, en tre os seus pa péis não se en con tra se me lhan te mapa.Ela mes ma é quem no-lo ates ta, por ór gão do seu che fe atu al: Te nho lido, diz o Ba rão de RioBran co, que du ran te as ne go ci a ções em La Paz, nos pri me i ro mes ses de 1867, o nos so ple ni -po ten ciá rio Lo pes Neto apre sen ta va ma pas de se nha dos sob a di re ção de Du ar te Ri be i ro, que nos qua is já fi gu ra va a li nha oblí qua; mas dis so não achei ves tí gio al gum na cor res pon dên ciaofi ci al”. Foi, como se vê o tre cho aci ma trans cri to da Expo si ção de Mo ti vos do Tra ta do de Pe -tró po lis, por V. Exa re di gi do, que le vou o Se na dor Rui Bar bo sa a pro cla mar: “Anos, lus tros, dé ca -das por aí vo gou im pu ne, ile sa, in con tro ver sa, com fu mos de cer te za his tó ri ca, deinex pug na bi li da de ofi ci al a len da que aca ba mos de ver ex pi rar. Não foi um raio: foi uma pon -ta de al fi ne te, o bico da pena do pri me i ro Mi nis tro da Re la ções Exte ri o res que se de li be rou aca tar a ver da de e con fes sá-la. O Ba rão de Rio Bran co pôs-se em bus ca do mapa, e o não en -con trou; es go tou os me i os dis po ní ve is no en cal ço da li nha ver de e não a viu. Aqui está: a Se -cre ta ria das Re la ções Exte ri o res anun cia que não sabe da li nha ver de. Três anos an tes, nãomais, no Re la tó rio anu al da mes ma Se cre ta ria de Esta do, a li nha ver de apa re cia ain da, como ogol pe má gi co na ques tão do Acre para em pal mar ao tex to do Tra ta do de 1867 o pa ra le lo de 10º 20’ e o subs ti tu ir pela oblí qua do Ma de i ra ao Ja va ri. Nes ta gran de con tro vér sia to dos alu di am à fa mi ge ra da li nha ver de, sem que nin guém lhe hou ves se pos to os olhos, fa la vam to dos nomapa, onde se ela ima gi na va es tar, sem que al guém a exi bis se. Não se co men ta a gra vi da -de des tas con clu sões. Se esta fos se a ver da de in con tras tá vel, com ela não pe ri ga va so men tea li su ra do Mi nis tro que se re fe riu tão de sa bu sa da men te, em do cu men to pú bli co, a essemapa nun ca vis to. O Mi nis té rio que as sim pro ce des se me re cia a mais se ve ra re pro va ção, por -que com tal fra u de, com pro me tia a hon ra do país e se re ve la va sem cons ciên cia de sua dig -ni da de, nem sen ti men to das suas res pon sa bi li da des. De po is que de i xei em 1863 a di re ção do Mi nis té rio das Re la ções Exte ri o res, me te nho pro po si ta da men te abs ti do de de ba tes pú bli cos,man ten do o ma i or si lên cio em face de quan tas dis cus sões se têm le van ta do em tor no da po lí -ti ca ex te ri or do Bra sil, pela con vic ção em que es tou de que ao ho mem pú bli co cum pre ace i -tar o seu qui nhão de im po pu la ri da de com âni mo se re no, des de que se tra ta de al tosin te res ses na ci o na is. Foi por essa ra zão, que du ran te as ne go ci a ções do Tra ta do de Pe tró po lis,ao ser co nhe ci da a Expo si ção de mo ti vos de V. Exa de i xei de con tes tar a de cla ra ção de ser omapa de 1873 o mais an ti go em que se en con tra a li nha oblí qua, em vez do que acom pa -nhou, em 1860, as ins tru ções e o pro je to para o Tra ta do de li mi tes. Ago ra, po rém, que está en -cer ra do o de ba te di plo má ti co e que a his tó ria tem o de ver de re i vin di car a ver da de, ape lopara V. Exa, cer to de que não se ne ga rá a di zer pu bli ca men te que a as se ve ra ção con ti da no Re -

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la tó rio do Mi nis tro do Exte ri or de 1900 era fun da da, que o men ci o na do mapa exis te e está ain dasob a guar da des sa Se cre ta ria de Esta do. Nin guém po de rá en tão as so a lhar que, “a dis cus sãoacer ca da so be ra nia de um ter ri tó rio ma i or que o de al gu mas po tên ci as do mun do, se agi toude ze nas de anos em tor no de um do cu men to su po si tí cio e um su po si tí cio de mar ca ti vo, nemque era numa “fan ta sia” que ba se a vam os es ta dis tas do Impé rio a in ter pre ta ção do Tra ta dode 1867. Foi, ao con tra rio, com ra zão que o “mapa, onde se as se gu ra va es tar a de ci fra çãodo Tra ta do, o seu co men to au tên ti co, a ex pres são cro mo grá fi ca do pen sa men to dos seus ce -le bra do res, pa i rou trin ta e seis anos so bre o de ba te como ar gu men to ir re sis tí vel”. Peço a V. Exa

que me re le ve a ex ten são des te co men tá ri os, a que me le vou in vo lun ta ri a men te a im por tân -cia do as sun to. Per mi ta, po rém, que con clua a afir ma ção de que o re la tó rio de 1900, por mim subs cri to, nas de cla ra ções que fez “ao país, à le gis la tu ra e ao es tran ge i ro”’ não “men tiu aopas sa do e ao pre sen te”, não “men tiu aos fa tos e ao Di re i to”. Apro ve i to com pra zer este en se jopara re i te rar a V. Exa os pro tes to de mi nha mui dis tin ta es ti ma e ele va da con si de ra ção. Olin tode Ma ga lhães”.

“Ga bi ne te do Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res. Rio de Ja ne i ro 22 de ju lho de 1911. Exmo. Se -nhor Dou tor Olin to de Ma ga lhães. Ver bal men te já apre sen tei des cul pas a V. Exa pela mi nhade mo ra em res pon der à sua car ta de 17 de ju nho. Sabe que an dei ado en ta do e com a aten -ção mu i to pre sa por as sun tos ur gen tes, como lhe dis se há dias. Con fir mo o que so bre o mapama nus cri to de 1860 V. Exa diz na sua car ta. Esse mapa, com as as si na tu ras au to gra fa das doCon se lhe i ro Du ar te da Pon te Ri be i ro e do Ma jor Isal ti no de Car va lho, exis te nes te Mi nis té rio.Pude ve ri fi car isso em ja ne i ro de 1904, de po is de pu bli ca da a Expo si ção de mo ti vos queacom pa nhou o Tra ta do de Pe tró po lis. A in clu sa có pia da car ta que em 11 de ja ne i ro de 1904di ri gi ao re la tor da Co mis são de Di plo ma cia da Câ ma ra dos De pu ta dos Sr. Dr. Gas tão da Cu -nha, mos tra rá a V. Exa que re ti fi quei ime di a ta men te o que so bre o as sun to eu dis se ra na Expo si -ção de mo ti vos de 27 de de zem bro de 1903. Não me pa re ceu con ve ni en te, du ran te aagi ta ção da que les dias, tor nar ime di a ta men te pú bli ca e de modo so le ne a mi nha re ti fi ca ção ou re tra ta ção, a qual em nada in va li da va o ajus te in ter na ci o nal pen den te de de ci são doCon gres so; mas tra tei logo de in for mar a Co mis são com pe ten te, pelo in ter mé dio do seu dig -no re la tor, e dis se-me este que em um dos seus dis cur sos dera à Câ ma ra no tí cia do ex pos tona mi nha car ta. Nun ca ocul tei esse in ci den te às pes so as que so bre ele me fa la ram. Nas dis -cus sões pela im pren sa re la ti vas ao ple i to que en tre a União e o Esta do do Ama zo nas tem ha vi -do, e des de al guns anos, re fe rên ci as à re ti fi ca ção que fiz em ja ne i ro de 1904. Man dei logore pro du zir em fac-si mi le o mapa na Impren sa Na ci o nal. Só pela car ta de V. Exa fi quei co nhe -cen do os tre chos nela trans cri tos da obra do Sr. Rui Bar bo sa. Não a ti nha lido. Não te nhoacom pa nha do o ple i to em an da men to e não me jul guei na obri ga ção de in ter vir nele, sal vose me fos sem re que ri dos do cu men tos ou in for ma ções.

Com a mais per fe i ta es ti ma e dis tin ta con si de ra ção, te nho a hon ra de ser de V. Exa mu i toaten to ami go e cri a do. Rio Bran co“.

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BRASIL – BOLÍVIATRATADO DE PETRÓPOLIS

Ce le bra do em Pe tró po lis a 17 de no vem brode 1903

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EM PORTUGUÊS

A Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil e a Re pú bli ca da Bo lí via, ani -ma das do de se jo de con so li dar para sem pre a sua an ti ga ami za de, re mo -ven do mo ti vos de ul te ri or de sa ven ça, e que ren do ao mes mo tem pofa ci li tar o de sen vol vi men to das suas re la ções de co mér cio e boa vi zi nhan -ça, con vi e ram em ce le brar um Tra ta do de per mu ta de ter ri tó ri os e ou trascom pen sa ções, de con for mi da de com a es ti pu la ção con ti da no Art. 5° do Tra ta do de Ami za de, Li mi tes, Na ve ga ção e Co mér cio de 27 de mar ço de1867.

E para esse fim, no me a ram Ple ni po ten ciá ri os, a sa ber:O Pre si den te da Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil, os Srs. José

Ma ria da Sil va Pa ra nhos do Rio Bran co, Mi nis tro de Esta do das Re la çõesExte ri o res, e Jo a quim Fran cis co de Assis Bra sil, Envi a do Extra or di ná rio e Mi nis -tro Ple ni po ten ciá rio nos Esta dos Uni dos da Amé ri ca; e

O Pre si den te da Re pú bli ca da Bo lí via, os Srs. Fer nan do E. Gu a chal la,Envi a do Extra or di ná rio e Mi nis tro Ple ni po ten ciá rio em Mis são Espe ci al no Bra -sil e Se na dor da Re pú bli ca, e Cláu dio Pinl la, Envi a do Extra or di ná rio e Mi nis tro Ple ni po ten ciá rio no Bra sil, no me a do Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res da Bo lí -via;

Os qua is, de po is de ha ve rem tro ca do os seus ple nos po de res, queacha ram em boa e de vi da for ma, con cor da ram nos ar ti gos se guin tes:

Arti go IA fron te i ra en tre a Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil e a da Bo lí via

fi ca rá as sim es ta be le ci da:§ 1° Par tin do da la ti tu de Sul de 20°08’35”, em fren te ao de sa gua dou ro

da Baía Ne gra, no rio Pa ra guai, su bi rá por este rio até um pon to na mar gemdi re i ta dis tan te nove qui lô me tros, em li nha reta, do for te de Co im bra, isto é,apro xi ma da men te em 19°58”05” de la ti tu de e 14º39’14” de lon gi tu de Oes -te do Obser va tó rio do Rio de Ja ne i ro (57°47’40” Oes te de Gre en wich), se -gun do o Mapa da fron te i ra le van ta do pela Co mis são Mis ta de Li mi tes, de1875; e con ti nu a rá des se pon to, na mar gem di re i ta do Pa ra guai, por umali nha ge o dé si ca que irá en con trar ou tro pon to a qua tro qui lô me tros, norumo ver da de i ro de 27°1’22” Nor des te, do cha ma do “Mar co do fun do da Baía Ne gra”, sen do a dis tân cia de qua tro qui lô me tros me di da ri go -ro sa men te so bre a fron te i ra atu al, de sor te que esse pon to de ve rá es tar,mais ou me nos, em 19°45’36”, 6 de la ti tu de e 14°55’46”,7 de lon gi tu deOes te do Rio de Ja ne i ro

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EN ESPAÑOL

La Re pú bli ca de los Esta dos Uni dos del Bra sil y la Re pú bli ca de Bo li via,ani ma das del de seo de con so li dar para si em pre su an ti gua amis tad, re mo -vi en do mo ti vos de ul te ri o res de sa ve nen ci as, y que ri en do al mis mo ti em pofa ci li tar el de sen vol vi mi en to de sus re la ci o nes de co mer cio y bu e na ve cin -dad, con vi ni e ron en ce le brar un Tra ta do de per mu ta de ter ri to ri os y otrascom pen sa ci o nes, de con for mi dad con la es ti pu la ción con te ni da en el Arti -cu lo 5° del Tra ta do de Amis tad, Lí mi tes, Na ve ga ción y Co mer cio de 27 deMar zo de 1867.

Y con ese fin, han nom bra do Ple ni po ten ci a ri os, a sa ber:El Pre si den te de la Re pú bli ca de los Esta dos Uni dos del Bra sil a los Se ño -

res José Ma ria de Sil va Pa ra nhos do Rio Bran co, Mi nis tro de Esta do de Re la ci -o nes Exte ri o res, y Jo a quim Fran cis co de Assis Bra sil, Envi a do Extra or di na rio yMi nis tro Ple ni po ten ci a rio en los Esta dos Uni dos de Ame ri ca; y

El Pre si den te de la Re pú bli ca de Bo li via, a los Se ño res Fer nan do E. Gu -a chal la, Envi a do Extra or di na rio y Mi nis tro Ple ni po ten ci a rio en Mi sión Espe ci alen el Bra sil y Se na dor de la Re pú bli ca, y Cla u dio Pi nil la, Envi a do Extra or di na -rio y Mi nis tro Ple ni pon ten ci a rio en el Bra sil, nom bra do Mi nis tro de Re la ci o nesExte ri o res de Bo li via;

Los cu a les, des pu és de ha ber can je a do sus ple nos po de res, que loshal la ron en bu e na y de bi da for ma, acor da ron los ar tí cu los si gui en tes:

Artí cu lo ILa fron te ra en tre la Re pú bli ca de los Esta dos Uni dos del Bra sil y de la Bo -

li via que da rá así es ta ble ci da:§ 1°. Par ti en do de la la ti tud Sur de 20°08’.35”, fren te al de sa gua de ro de

la Ba hia Ne gra, en el río Pa ra guay, su bi rá por este río has ta un pun to en lamar gen de re cha dis tan te nu e ve ki ló me tros en lí nea rec ta del fu er te de Co -im bra, esto es, apro xi ma da men te en 19°58’05” de la ti tud y 14°.39’.14” delon gi tud Oes te del Obser va to rio de Rio de Ja ne i ro (57°.47’.40” Oes te deGre en wich), se gún el Mapa de la fron te ra le van ta do por la Co mi sión Mix tade Lí mi tes, de 1875; y con ti nu a rá des de ese pun to, en la mar gen de re chadel Pa ra guay, por una lí nea ge o dé si ca que irá a en con trar otro pun to acu a tro ki ló me tros en el rum bo ver da de ro de 27°01’22” Nor des te del lla ma -do “Mar co del fon do de Ba hia Ne gra”, si en do la dis tan cia de cu a tro ki ló -me tros me di da ri gu ro sa men te so bre la fron te ra ac tu al, de ma ne ra queese pun to de be rá es tar, mas ó me nos, en 19°45’36”, 6 de la ti tud y14°55’46”, 7 de lon gi tud.

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(58º04’12”,7 Oes te de Gre en wich). Daí se gui rá no mes mo rumo de ter mi na -do pela Co mis são Mis ta de 1875 até 19°2’ de la ti tu de e, de po is, para Les tepor este pa ra le lo até o ar ro io Con ce i ção, que des ce rá até a sua boca namar gem me ri di o nal do de sa gua dou ro da la goa de Cá ce res, tam bémcha ma do rio Ta men gos. Su bi rá pelo de sa gua dou ro até o me ri di a no quecor ta a pon ta do Ta ma rin de i ro e de po is para o Nor te, pelo me ri di a no de Ta -ma rin de i ro, até 18’54”de la ti tu de, con ti nu an do por este pa ra le lo para Oes -te até en con trar a fron te i ra atu al.

§ 2° Do pon to de in ter se ção do pa ra le lo de 18°54’ com a li nha retaque for ma a fron te i ra atu al se gui rá, no mes mo rumo que hoje, até 18°14’de la ti tu de e por este pa ra le lo irá en con trar a Les te o de sa gua dou ro da la -goa Man di o ré, pelo qual su bi rá, atra ves san do a la goa em li nha reta até opon to, na li nha an ti ga de fron te i ra, eqüi dis tan te dos dois mar cos atu a is, ede po is, por essa li nha an ti ga, até o mar co da mar gem se ten tri o nal.

§ 3° Do mar co se ten tri o nal na la goa Man di o ré con ti nu a rá em li nha reta, no mes mo rumo que hoje, até a la ti tu de de 17°49’ e por este pa ra le lo até ome ri di a no do ex tre mo Su des te da la goa Ga í ba. Se gui rá esse me ri di a no atéa la goa e atra ves sa rá esta em li nha reta até o pon to eqüi dis tan te dos doismar cos atu a is, na li nha an ti ga de fron te i ra, e de po is por esta li nha an ti ga ouatu al até a en tra da do ca nal Pe dro Se gun do, tam bém cha ma do re cen te -men te rio Pan do.

§ 4° Da en tra da Sul do ca nal Pe dro Se gun do ou rio Pan do até a con -fluên cia do Beni e Ma mo ré os li mi tes se rão os mes mos de ter mi na dos no Arti -go 2° do Tra ta do de 27 de mar ço de 1867.

§ 5° Da con fluên cia do Beni e do Ma mo ré des ce rá a fron te i ra pelo rioMa de i ra até a boca do Abu nã, seu aflu en te da mar gem es quer da, e su bi rápelo Abu nã até a la ti tu de de 10°20’. Daí irá pelo pa ra le lo de 10°20’, paraLes te até o rio Ra pir ran e su bi rá por ele até a sua nas cen te prin ci pal.

§ 6° Da nas cen te prin ci pal do Ra pir ran irá, pelo pa ra le lo da nas cen te,en con trar a Oes te o rio Iqui ri e su bi rá por este até a sua ori gem, don de se gui -rá até o iga ra pé Ba hia pe los mais pro nun ci a dos aci den tes do ter re no ou poruma li nha reta, como aos Co mis sá ri os de mar ca do res dos dois pa í ses pa re -cer mais con ve ni en te.

§ 7° Da nas cen te do iga ra pé Ba hia se gui rá, des cen do por este, até asua con fluên cia na mar gem di re i ta do rio Acre ou Aqui ri e su bi rá por este atéa nas cen te, se não es ti ver esta em lon gi tu de mais oci den tal do que a de 69°Oes te de Gre en wich.

a) no caso fi gu ra do, isto é, se a nas cen te do Acre es ti ver em lon gi tu deme nos oci den tal do que a in di ca da, se gui rá a fron te i ra pelo me ri di a no danas cen te até o pa ra le lo de 11° e de po is, para Oes te, por esse pa ra le lo até a fron te i ra com o Peru;Oes te de Rio de Ja ne i ro (58°04’12”,7 Oes te de Gre en wich). De allí se gui rá en el mis mo rum bo de ter mi na do por la Co mi sión Mix ta de 1875 has ta

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19°2’ de la ti tud y, des pu és para el Este, por ese pa ra le lo has ta el ar ro yoCon cep ción, que ba ja rá has ta su de sem bo ca du ra en la mar gen me ri di -o nal del de sa gua de ro de la la gu na de Cá ce res, tam bién lla ma do río Ta -men gos. Su bi rá por el de sa gua de ro has ta el me ri di a no que cor ta lapun ta del Ta ma ri ne ro, y des pu és para el Nor te, por el ci ta do me ri di a nodel Ta ma ri ne ro, has ta 18°54’ de la ti tud, con ti nu an do por ese pa ra le lopara el Oes te has ta en con trar la fron te ra ac tu al.

§ 2° Del pun to de in ter sec ción del pa ra le lo 18°54’ con la lí nea rec ta quefor ma la fron te ra ac tu al se gui rá, por el mis mo rum bo que al pre sen te, has ta18°14’ de la ti tud y por ese pa ra le lo irá a en con trar al Este el de sa gua de ro dela la gu na Man di o ré, por el cual su bi rá atra ve san do la la gu na en lí nea rec ta,has ta el pun to de la lí nea de la an ti gua fron te ra equi dis tan te de los dos mar -cos ac tu a les, y des pu és, por esa lí nea an ti gua, has ta el mar co de la mar gense ten tri o nal.

§ 3° Del mar co se ten tri o nal de la la gu na Man di o ré con ti nu a rá en lí nearec ta, en el mis mo rum bo que al pre sen te, has ta la la ti tud de 17°49’, y poreste pa ra le lo has ta el me ri di a no del es tre mo Su res te de la gu na Ga hi ba. Se -gui rá ese me ri di a no has ta la la gu na y atra ve sa rá esta en lí nea rec ta has ta el pun to equi dis tan te de los dos mar cos ac tu a les, en la lí nea de la an ti guafron te ra, y, des pu és, por esta lí nea an ti gua o ac tu al, has ta la en tra da delca nal Pe dro Se gun do, lla ma do re ci en te men te río Pan do.

§ 4° De la en tra da Sur del Ca nal Pe dro Se gun do o río Pan do has ta lacon flu en cia del Beni y del Ma mo ré, los lí mi tes se rán los mis mos de ter mi na dos en el Artí cu lo 2° del Tra ta do de 27 de Mar zo de 1867.

§ 5° Des de la con flu en cia del Beni y del Ma mo ré ba ja rá la fron te ra porel río Ma de ra has ta la boca del Abu ná, su aflu en te de la mar gen iz qui er da, ysu bi rá por el Abu ná, has ta la la ti tud de 10°20’. De allí irá por el pa ra le lo 10°20’para el Oes te, has ta el río Ra pir ran y su bi rá por este has ta su na ci en te prin ci -pal.

§ 6° De la na ci en te prin ci pal del Ra pir ran, irá por el pa ra le lo de la na ci -en te a en con trar al Oes te el río Iquiry y su bi rá por este has ta su ori gen, des dedon de se gui rá has ta el ar ro yo de Ba hia por los más pro nun ci a dos ac ci den tes del ter re no o por una lí nea rec ta, como pa re ci e re más con ve ni en te a los Co -mi sa ri os de mar ca do res de am bos pa í ses.

§ 7° De la na ci en te del ar ro yo de Ba hia se gui rá, ba jan do por este, has tasu de sem bo ca du ra en la mar gem de re cha del rio Acre o Aquiry y su bi rá poreste, has ta la na ci en te, si no es tu vi e se esta en lon gi tud más oc ci den tal que la de 69° Oes te de Gre en wich:

b) se o rio Acre, como pa re ce cer to, atra ves sar a lon gi tu de de 69°Oes te de Gre en wich e cor rer ora ao Nor te, ora ao Sul do ci ta do pa ra le lo de11°, acom pa nhan do mais ou me nos este, o ál veo do rio for ma rá a li nha, di vi -só ria até a sua nas cen te, por cujo me ri di a no con ti nu a rá até o pa ra le lo de 11° e daí, na di re ção de Oes te, pelo mes mo pa ra le lo, até a fron te i ra com o Peru;

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mas, se a Oes te da ci ta da lon gi tu de 69° o Acre cor rer sem pre ao Sul do pa ra -le lo de 11o, se gui rá a fron te i ra, des de esse rio, pela lon gi tu de de 69° até opon to de in ter se ção com esse pa ra le lo de 11° e de po is por ele até a fron te i ra com o Peru.

Arti go IIA trans fe rên cia de ter ri tó ri os re sul tan te da de li mi ta ção des cri ta no ar ti -

go pre ce den te com pre en de to dos os di re i tos que lhes são ine ren tes e a res -pon sa bi li da de de ri va da da obri ga ção de man ter e res pe i tar os di re i tosre a is ad qui ri dos por na ci o na is e es tran ge i ros se gun do os prin cí pi os do di re i -to ci vil.

As re cla ma ções pro ve ni en tes de atos ad mi nis tra ti vos e de fa tosocor ri dos nos ter ri tó ri os per mu ta dos, se rão exa mi na das e jul ga das porum Tri bu nal Arbi tral com pos to de um re pre sen tan te do Bra sil, ou tro da Bo -lí via e de um Mi nis tro es tran ge i ro acre di ta do jun to ao Go ver no Bra si le i ro.Esse ter ce i ro ár bi tro, Pre si den te do Tri bu nal, será es co lhi do pe las duasAltas Par tes Con tra tan tes logo de po is da tro ca das ra ti fi ca ções do pre -sen te Tra ta do. O Tri bu nal fun ci o na rá du ran te um ano no Rio de Ja ne i ro eco me ça rá os seus tra ba lhos den tro do pra zo de seis me ses con ta dos dodia da tro ca das ra ti fi ca ções. Terá por mis são: 1°. Ace i tar ou re je i tar as re -cla ma ções; 2°. Fi xar a im por tân cia da in de ni za ção; 3°. De sig nar qualdos dois go ver nos a deve sa tis fa zer.

O pa ga men to po de rá ser fe i to em apó li ces es pe ci a is, ao par, queven çam o juro de três por cen to e te nham a amor ti za ção de três por cen toao ano.

Arti go IIIPor não ha ver equi va lên cia nas áre as dos ter ri tó ri os per mu ta dos en -

tre as duas na ções, os Esta dos Uni dos do Bra sil pa ga rão uma in de ni za -ção de £ 2.000.000 (dois mi lhões de li bras es ter li nas), que a Re pú bli cada Bo lí via ace i ta com o pro pó si to de a apli car prin ci pal men te na cons -tru ção de ca mi nhos de fer ro ou em ou tras obras ten den tes a me lho rar as co mu ni ca ções e de sen vol ver o co mér cio en tre os dois pa í ses.

O pa ga men to será fe i to em duas pres ta ções de um mi lhão de li brascada uma: a pri me i ra den tro do pra zo de três me ses, con ta do da tro ca das ra ti fi ca ções do pre sen te Tra ta do, e a se gun da em 31 de Mar ço de 1905.

a) En el caso fi gu ra do, esto es, si la na ci en te del Acre es tu vi e re en lon -gi tud me nos oc ci den tal que la in di ca da, se gui rá la fron te ra por el me ri di a -no de la na ci en te has ta el pa ra le lo 11° y des pu és, para el Oes te, por esepa ra le lo has ta la fron te ra con el Perú;

b) si el río Acre, como pa re ce evi den te, atra ve sa re la lon gi tud de69° Oes te Gre en wich y cor ri e re ya al Nor te, ya al Sur del ci ta do pa ra le lo11°, acom pa ñan do más ó me nos este, el al veo del río for ma rá la lí neadi vi so ria has ta su na ci en te, por cuyo me ri di a no con ti nu a rá has ta el pa ra -le lo 11° y de allí, en di rec ción al Oes te, por el mis mo pa ra le lo, has ta la

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fron te ra con el Perú; más, si al Oes te de la ci ta da lon gi tud 69° el Acre cor -ri e re si em pre al Sur del pa ra le lo 11°, se gui rá la fron te ra, des de ese río, porla lon gi tud 69° has ta el pun to de in ter sec ción con ese pa ra le lo 11° y des -pu és por el, has ta la fron te ra con el Perú.

Artí cu lo IILa trans fe ren cia de ter ri to ri os re sul tan te de la li mi ta ción des cri ta en el

ar tí cu lo an te ri or com pren de to dos los de re chos que les son inhe ren tes y lares pon sa bi li dad de ri va da de la obli ga ción de man te ner y res pe tar los de re -chos re a les ad qui ri dos por na ci o na les y ex tran je ros se gún los prin ci pi os delde re cho ci vil.

Las re cla ma ci o nes pro ve ni en tes de ac tos ad mi nis tra ti vos y de he chosocur ri dos en los ter ri to ri os per mu ta dos, se rán exa mi na das y juz ga das por unTri bu nal Arbi tral com pu es to de un re pre sen tan te del Bra sil, otro de Bo li via yde un Mi nis tro ex tran je ro acre di ta do ante el Go bi er no Bra si le ño. Este ter cerár bi tro pre si den te del Tri bu nal, será es co ji do por las dos Altas Par tes Con tra -tan tes des pu és del can je de las ra ti fi ca ci o nes del pre sen te Tra ta do. El Tri bu -nal fun ci o na rá du ran te un año en Rio de Ja ne i ro y dará prin ci pio a sustra ba jos en el pla zo de seis me ses con ta dos des de el día del can je de lasra ti fi ca ci o nes. Ten drá por mi sión: 1° – Acep tar o re cha zar las re cla ma ci o -nes; 2° – Fi jar el mon to de la in dem ni za ción; 3° – De sig nar cual de los dosGo bi er nos la debe sa tis fa cer.

El pago po drá ser he cho en bo nos es pe ci a les a la par, que ga nen el in te -rés del tres por ci en to y ten gan la amor ti za ción del tres por ci en to anu al.

Artí cu lo III

Por no ha ber equi va len cia en las áre as de los ter ri to ri os per mu ta dosen tre las dos na ci o nes, los Esta dos Uni dos del Bra sil pa ga rán una in dem ni -za ción de £ 2.0000.00 (dos mil lo nes de li bras es ter li nas), que la Re pú bli cade Bo li via acep ta con el pro pó si to de apli car la prin ci pal men te a la cons -truc ción de ca mi nos de hi er ro ú otras obras ten di en tes a me jo rar las co -mu ni ca ci o nes y de sen vol ver el co mer cio en tre los dos pa í ses.

Arti go IVUma Co mis são Mis ta, no me a da pe los dois go ver nos, den tro do pra zo

de um ano, con ta do da tro ca das ra ti fi ca ções, pro ce de rá à de mar ca çãoda fron te i ra des cri ta no Arti go I, co me çan do os seus tra ba lhos den tro dosseis me ses se guin te à no me a ção.

Qu al quer de sa cor do en tre a Co mis são Bra si le i ra, e a Bo li vi a na, quenão pu der ser re sol vi do pe los dois Go ver nos, será sub me ti do à de ci são ar -bi tral de um mem bro da “Ro yal Ge o grap hi cal So ci ety”, de Lon dres, es co -lhi do pelo Pre si den te e mem bros do Con se lho da mes ma.

Se os Com sis sá ri os de mar ca do res no me a dos por uma das Altas Par -tes con tra tan tes de i xa rem de con cor rer ao lu gar e na data da re u nião qufo rem con ven ci o na dos para o co me ço dos tra ba lhos, os Co mis sá ri os da

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ou tra pro ce de rão por si sós à de mar ca ção, e o re sul ta do das suas ope ra -ções será obri ga tó rio para am bas.

Arti go VAs duas Altas Par tes Con tra tan tes con clu i rão den tro do pra zo de oito

me ses um Tra ta do de Co mér cio e Na ve ga ção ba se a do no prin cí pio damais am pla li ber da de de trân si to ter res tre e na ve ga ção flu vi al para am basas na ções, di re i to que elas se re co nhe cem per pe tu a men te, res pe i ta dos osre gu la men tos fis ca is e de po lí cia es ta be le ci dos ou que se es ta be le ce remno ter ri tó rio de cada uma. Esses re gu la men tos de ve rão ser tão fa vo rá ve isquan to seja pos sí vel à na ve ga ção e ao co mér cio e guar dar nos dois pa í ses a pos sí vel uni for mi da de. Fica, po rém, en ten di do e de cla ra do que se nãocom pre en de nes sa na ve ga ção a de por to a por to do mes mo país, ou deca bo ta gem flu vi al, que con ti nu a rá su je i ta em cada um dos dois Esta do àsres pec ti vas leis.

Arti go VIDe con for mi da de com a es ti pu la ção do ar ti go pre ce den te, e para o

des pa cho em trân si to de ar ti gos de im por ta ção e ex por ta ção, a Bo lí via po -de rá man ter agen tes adu a ne i ros jun to às al fân de gas bra si le i ras de Be lémdo Pará, Ma na us e Co rum bá e nos de ma is pos tos adu a ne i ros que o Bra siles ta be le ça so bre o Ma de i ra e o Ma mo ré ou em ou tras lo ca li da des da fron -te i ra co mum. Re ci pro ca men te, o Bra sil po de rá man ter agen tes adu a ne i ros na al fân de ga bo li vi a na de Vil la Bel la ou em qual quer ou tro pos to adu a ne i ro que a Bo lí via es ta be le ça na fron te i ra co mum.

Arti go VIIOs Esta dos Uni dos do Bra sil obri gam-se a cons tru ir em ter ri tó rio bra si le i ro, por

si ou por em pre sa par ti cu lar, uma fer ro via des de o por to de San to Anto nio, no rioMa de i ra, até Gu a ja rá-Mi rim no Ma mo ré, com um

El pago será he cho en dos par ti das de un mil lón de li bras cada uma:la pri me ra den ro del pla zo de tres me ses, con ta do des de el can je de las re -ti fi ca ci ons del pre sen te Tra ta do, y la se gun da el 31 de Mar zo de 1905.

Artí cu lo IVUna Co mi sión Mix ta, nom bra da por los dos Go bi er nos den tro del pla zo

de un año, con ta do des de el can je de las ra ti fi ca ci o nes, pro ce de rá a lade mar ca ción de la fron te ra des cri ta en el ar tí cu lo I, prin ci pi an do sus tra ba -jos a los seis me ses si gui en tes a su nom bra mi en to.

Cu al qui er de sa cu er do en tre la Co mi sión Bra si le ña y la Bo li vi a na queno pu di e re ser re su el to por los dos Go bi er nos, será so me ti do a la de ci sión ar -bi tral de un mi em bro de la “Ro yal Ge o grap hi cal So ci ety”, de Lon dres, es -co ji do por el Pre si den te y mi em bros del Con se jo de la mis ma.

Si los Co mi sa ri os de mar ca do res nom bra dos por una de las Altas Par -tes Con trac tan tes de ja sen de con cur rir al lu gar y fe cha que fu e ren con ve ni -

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dos para dar prin ci pio a los tra ba jos, los Co mi sa ri os de la otra pro ce de ránpor si so los a la de mar ca ción, y el re sul ta do de sus ope ra ci o nes será obli ga -to rio para am bas.

Artí cu lo V

Las dos Altas Par tes Con trac tan tes con clu i rán den tro del pla zo deocho me ses un tra ta do de Co mer cio y Na ve ga ción, ba sa do en el prin ci -pio de la más am plia li ber tad de trán si to ter res tre y na ve ga ción flu vi al para am bas na ci o nes, de re cho que el las se re co no cen a per pe tu i dad, res pe -tan do los re gla men tos fis ca les y de po li cía es ta be le ci dos o que se es ta -ble ci e ren en el ter ri to rio de cada una. Eses re gla men tos de be rán ser tanfa vo ra bles cu an to sea po si ble a la na ve ga ción y al co mer cio y guar daren los dos pa í ses la po si ble uni for mi dad. Qu e da, sin em bar go, en ten di do y de cla ra do que no se com pren de en esa na ve ga ción la de pu er to apu er to del mis mo país, o de ca bo ta ge flu vi al, que con ti nu a rá su je ta encada uno de los dos Esta dos a sus res pec ti vas le yes.

Artí cu lo VI

En con for mi dad a la es ti pu la ción del Artí cu lo pre ce den te, y para eldes pa cho en trán si to de ar tí cu los de im por ta ción, y ex por ta ción, Bo li via po -drá man te ner agen tes adu a ne ros jun to a las adu a nas bra si le ñas de Be lémdel Pará, Ma na us, Co rum bá y de mas pu er tos adu a ne ros que el Bra sil es ta -blez ca so bre el Ma de ra, Ma mo ré o otras lo ca li da des de la fron te ra co mún. Re cí pro ca men te, el Bra sil po drá man te ner agen tesra mal que, pas san do por Vila – Mur ti nho ou ou tro pon to pró xi mo (Esta do deMato Gros so), che gue a Vil la - Bel la (Bo lí via), na con fluên cia do Beni e doMa mo ré. Des sa fer ro via, que o Bra sil se es for ça rá por con clu ir no pra zo dequa tro anos, usa rão am bos os pa í ses com di re i to às mes mas fran que zas eta ri fas.

Arti go VIIIA Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil de cla ra que ven ti la rá di re ta -

men te com a do Peru a ques tão de fron te i ras re la ti va ao ter ri tó rio com pre -en di do en tre a nas cen te do Ja va ri e o pa ra le lo de 11°, pro cu ran do che gara uma so lu ção ami gá vel do li tí gio sem res pon sa bi li da de para a Bo lí via emcaso al gum.

Arti go IXOs de sa cor dos que pos sam so bre vir en tre os dois Go ver nos quan to à

in ter pre ta ção e exe cu ção do pre sen te Tra ta do, se rão sub me ti dos a Arbi tra -men to.

Arti go XEste Tra ta do, de po is de apro va do pelo Po der Le gis la ti vo de cada uma

das duas Re pú bli cas, será ra ti fi ca do pe los res pec ti vos Go ver nos e as ra ti fi -

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ca ções se rão tro ca das na ci da de do Rio de Ja ne i ro no mais bre ve pra zopos sí vel.

Em fé do que, nós, os Ple ni po ten ciá ri os aci ma no me a dos, as si na moso pre sen te tra ta do, em dois exem pla res, cada um nas lín guas por tu gue sa e cas te lha na, apon do ne les os nos sos se los.

Fe i to na ci da de de Pe tró po lis, aos de zes se te dias do mês de no vem -bro de mil no ve cen tos e três.

– Rio Bran co– J. F. De Assis Bra sil.– Fer nan do E. Gu a chal la.– Cláu dio Pi nil la.

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adu a ne ros en la adu a na bo li vi a na de Vil la Bel la o en cu al qui er otro pu es toadu a ne ro que Bo li via es ta blez ca en la fron te ra co mún.

Artí cu lo VIILos Esta dos Uni dos del Bra sil se obli gan a cons tru ir en ter ri to rio bra si le ño,

por si o por em pre sa par ti cu lar, un fer ro car ril des de el pu er to de San to Anto -nio, en el río Ma de ra, has ta Gu a ja rá-mi rim, en el Ma mo ré, con un ra malque, pa san do por Vil la-Mur ti nho o otro pun to pró xi mo (Esta do de Mato Gros -so), lle gue a Vil la Bel la (Bo li via), en la con flu en cia del Beni con el Ma mo ré.De ese fer ro car ril, que el Bra sil se es for za rá en con clu ir en el pla zo de cu a troaños, usa rán am bos pa í ses con de re cho a las mis mas fran qui ci as y ta ri fas.

Artí cu lo VIIILa Re pú bli ca de los Esta dos Uni dos del Bra sil de cla ra que ven ti la rá di -

rec ta men te con la del Perú la cu es tión de fron te ras re la ti va al ter ri to rio com -pren di do en tre la na ci en te del Ya vary y el pa ra le lo 11°, pro cu ran do lle gar auna so lu ción ami ga ble del li ti gio sin res pon sa bi li dad para Bo li via en nin gúncaso.

Artí cu lo IXLos de sa cu er dos que pu e dan so bre ve nir en tre los dos Go bi er nos en -

cu an to a la in ter pre ta ción y eje cu ción del pre sen te Tra ta do, se rán so me ti -dos a Arbi tra je.

Artí cu lo XEste Tra ta do des pu és de apro ba do por el Po der Le gis la ti vo de cada

una de las dos Re pú bli cas, será ra ti fi ca do por los res pec ti vos Go bi er nos y las ra ti fi ca ci o nes se rán can je a das en la ci u dad de Rio de Ja ne i ro, en el másbre ve pla zo po si ble.

En fe de lo cual, no so tros, Ple ni po ten ci a ri os ar ri ba nom bra dos, fir ma -mos el pre sen te Tra ta do, en dos ejem pla res, cada uno de el los en las len -guas por tu gue sa y cas tel la na, y les po ne mos nu es tros res pec ti vos sel los.

He cho en la ci u dad de Pe tró po lis, a los di e ci si e te días del mes de no vi -em bre de mil no ve ci en tos tres.

– Rio Bran co– J. F. de Assis Bra sil– Fer nan do E. Gu a chal la– Cláu dio Pi nil la

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SESSÕES PÚBLICAS RELATIVAS ÀSDISCUSSÕES DO TRATADO

NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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CONGRESSO NACIONALANAIS DA

CÂMARA DOS DEPUTADOS

SESSÕES DE 31 DE DEZEMBRO A25 DE FEVEREIRO DE 1904

(SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS)

VOLUME I

RIO DE JANEIRO

IMPRENSA NACIONAL

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CÂMARA DOS DEPUTADOSSEGUNDA SESSÃO DA QUINTA LEGISLATURA

DO CONGRESSO NACIONAL

1ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 31 DE DEZEMBRO DE 1903Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O Sr. Bar bo sa Lima * – Sr. Pre si den te, pedi a pa la vra por dois mo ti vos,sen do o pri me i ro para en vi ar à Mesa um re que ri men to de in for ma ções queso li ci to do Go ver no da Re pú bli ca.

Ca re ço de es cla re ci men tos que até hoje, por for ma al gu ma, pudeob ter ex tra o fi ci al men te e que me va lham no es tu do do Tra ta do Rio Bran co– Pi nil la. Por isso, for mu lei o se guin te re que ri men to. (Lê).

Como eu ouvi aqui e te nho lido nas pu bli ca ções ofi ci a is que o Sr. Ba -rão do Rio Bran co de se ja que se faça o má xi mo de luz pos sí vel so bre a ne -go ci a ção di plo má ti ca de que foi o pro ta go nis ta, vou ao en con tro des seno bre de se jo de S. Exa, pe din do as in for ma ções que são ob je to des te re -que ri men to.

Cer to de que a Câ ma ra co mun ga com o hon ra do Mi nis tro do Exte ri ornos mes mos in tu i tos que o ani mam, fico per su a di do de que o meu re que ri -men to será apro va do e de que, de pos se des ses da dos, me será pro por ci -o na do o en se jo de, na me di da de mi nhas for ças, ver se é pos sí vel, afi nal de con tas, con cor dar com esse ma ra vi lho so do cu men to de po lí ti ca in ter na ci -o nal.

Vem a Mesa é lido, apo i a do e pos to em dis cus são, que é adi a da porter pe di do a pa la vra o Sr. Enéas Mar tins, o se guin te:

Re que ri men to: **

Re que i ro que por in ter mé dio da Mesa se so li ci te do Po der Exe cu ti vo:

* Sem re vi são do ora dorACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p.2** ADC, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.5.

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a) có pia de toda cor res pon dên cia di plo má ti ca, de no vem bro de1902 até no vem bro de 1903, tro ca da en tre a Chan ce la ria bra si le i ra e osple ni po ten ciá ri os da Bo lí via a pro pó si to do li tí gio do Acre;

b) có pia de to dos os te le gra mas e ofí ci os, con fi den ci a is ou não, tro -ca dos en tre a Chan ce la ria bra si le i ra e o nos so Mi nis tro em La Paz, bemcomo da cor res pon dên cia en tre esse fun ci o ná rio da Re pú bli ca Bra si le i ra ea Chan ce la ria bo li vi a na;

c) có pia da cor res pon dên cia di plo má ti ca so bre o mes mo as sun toen tre a Chan ce la ria Bra si le i ra e o ple ni po ten ciá rio da Re pú bli ca do Peru jun -to ao Go ver no do Bra sil, bem como das no tas tro ca das en tre o Mi nis tro bra -si le i ro em Lima e a Chan ce la ria pe ru a na;

d) có pia da cor res pon dên cia en tre a Chan ce la ria bra si le i ra e o Mi -nis tro da Re pú bli ca do Peru a pro pó si to dos con fli tos en tre pe ru a nos e bra si -le i ros na re gião Ju ruá – Ja va ri.

Sala das ses sões, 31 de de zem bro de 1903.

Bar bo sa Lima.

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2ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 13 DE JANEIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Paula Gu i ma rãesPro je to nº 1 – 1904

Apro va o Tra ta do as si na do emPe tró po lis, a 17 de no vem bro de 1903, pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e daBo lí via, mo di fi can do, me di an te per -mu ta de ter ri tó rio e ou tras com pen sa -ções, a li nha di vi só ria en tre os doispa í ses, tra ça da pelo an te ri or tra ta dode 27 de mar ço de 1867, pro mul ga dopelo De cre to nº 4.280, de 28 de no -vem bro de 1868.

A Co mis são de Di plo ma cia e Tra ta dos exa mi nou cu i da do sa men te opac to ce le bra do a 17 de no vem bro do ano fin do, em Pe tró po lis, pe los ple -ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, o qual, ins tru í do de vá ri os do cu men tos(Expo si ção de Mo ti vos do Sr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res da ta da de 27de de zem bro, pro pos ta ini ci al dos ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros em 23 de ju -lho de 1903, con tra pro pos ta dos ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos em 13 de agos -to de 1903 e três ma pas ori gi na is) foi re me ti do a esta Câ ma ra com amen sa gem do Sr. Pre si den te da Re pú bli ca em data de 29 de de zem bro eco nhe ci do por esta Co mis são a 31, dia em que se fez a dis tri bu i ção e en -tre ga dos pa péis ao re la tor; e

Con si de ran do*:

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.30 e 31

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Que ao Bra sil, como está de mons tra do na ex po si ção do Sr. Mi nis tro de Esta do das Re la ções Exte ri o res, por amor da or dem in ter na e da paz in ter -na ci o nal, con vi nha fir mar de fi ni ti va men te a sua so be ra nia, tan to so bre ocha ma do ter ri tó rio do Acre, como tam bém so bre ou tras re giões con tí guas,onde es tão es ta be le ci dos de boa fé mi lha res de bra si le i ros;

Que esse ele va do ob je ti vo, tor na do as pi ra ção de toda a po pu la çãona ci o nal, não se ria lí ci to pre ten der pela con quis ta, em bo ra in di re ta e maisou me nos ve la da, que se ria re pug nan te às tra di ções e ao ca rá ter do povobra si le i ro e é ex pres sa men te de fe sa pela Cons ti tu i ção da Re pú bli ca;

Que, se bem fos se por nós de cla ra da li ti gi o sa e em se gui da re cla ma -da uma par te do ter ri tó rio em ques tão, o re cur so do ar bi tra men to não erasu fi ci en te para re sol ver a di fi cul da de, por quan to a sen ten ça ar bi tral, quan -do nos fos se fa vo rá vel, não al can ça ria todo o ter ri tó rio ha bi ta do, pos su í do e mes mo ocu pa do mi li tar men te pe los bra si le i ros do Acre; e se por ven tu rafos se con tra nós, de i xa ria a si tu a ção mu i to mais em ba ra ço sa que an tes,quer para o Bra sil, quer para a Bo lí via;

Que, nes tas con di ções, um acor do di re to pelo qual a Bo lí via nos ce -des se, me di an te com pen sa ções eqüi ta ti vas, o di re i to que pu des se ter so -bre a par te do ter ri tó rio que ha vía mos de cla ra do li ti gi o so em ja ne i ro de1903 e tam bém a so be ra nia, que lhe não con tes tá va mos e nin guém noBra sil con tes tou ja ma is, so bre a ou tra par te ao sul do pa ra le lo 10°20’, era aso lu ção acon se lha da pela me lhor pre vi são po lí ti ca;

Que pelo tra ta do de Pe tró po lis, esse fim é ple na men te al can ça do, fi -can do re co nhe ci do pela Bo lí via como bra si le i ro, não só o de no mi na do ter -ri tó rio do Acre, mas tam bém ou tros ter ri tó ri os a oes te, que ela pos su íano mi nal men te e es tão de lon ga data ocu pa dos por bra si le i ros;

Que, para ob ter a le gí ti ma in cor po ra ção de fi ni ti va de um ter ri tó riomais vas to e já atu al men te mais ren do so que al guns dos Esta dos da nos saUnião, o Bra sil dá a Bo lí via com pen sa ções va li o sís si mas para ela, é ver da -de, mas que re dun dam em pro ve i to igual para nós ou vão cus tar-nos sa cri -fí ci os que se rão se gu ra e ra pi da men te re mi dos pelo que dela re ce be mos,pon de ra ção esta que com pro vam, para não in vo car se não os ônus maiscon si de rá ve is a es tra da de fer ro que te re mos de cons tru ir do Ma de i ra aoMa mo ré (art. 7º do tra ta do), obra de enor me al can ce eco nô mi co e po lí ti -co, re co men da da e de li be ra da des de mu i tos anos por suas van ta gens na -ci o na is, e a in de ni za ção pe cu niá ria de £ 2.000.000 (art. 3º, idem), que aren da do novo ter ri tó rio ga ran te e amor ti za rá fol ga da men te em cur to pra -zo;

Que o fato de se rem con tes ta das por ou tra na ção vi zi nha e ami ga, oster ri tó ri os ago ra re co nhe ci dos bra si le i ros pela Bo lí via, não vem ino var a nos sapo si ção para com aque le país li mí tro fe, o qual já pre ten dia di re i to ple no so -bre uma área do nos so ter ri tó rio ama zô ni co mais vas ta do que a que faz ob -

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je to do pre sen te tra ta do, dis pon do nós de ele men tos para de fen der comigual con fi an ça uma e ou tra se ção do solo na ci o nal;

Que o res pe i to de vi do à dig ni da de da na ção ami ga, com a qual tra -tá va mos, não nos per mi tia pre ten der e me nos lhe exi gir a ces são pura esim ples, mas uma per mu ta de ter ri tó ri os, ain da que não hou ves se equi va -lên cia na ex ten são e va lor das áre as res pec ti vas;

Que essa per mu ta es ta va pre vis ta e con ven ci o na da em prin cí pio noart. 5 do tra ta do de 27 de mar ço de 1867, de que o pre sen te pac to é as sim,nes te pon to como no seu es pí ri to ge ral, uma le gí ti ma con se qüên cia;

Que no pre sen te con vê nio foi es ta tu í do pre ci sa men te o prin cí pio dane go ci a ção de 1867, ce den do o Bra sil à Bo lí via ter ras si tu a das en tre o Abu -nã e o Ma de i ra, que não são ha bi ta das por bra si le i ros e sim por bo li vi a no, eob ten do da Bo lí via a re nún cia de toda a ba cia do Alto Pu rus, que é ha bi ta -da por bra si le i ros e não o é por bo li vi a nos;

Que as com pen sa ções da das pelo Bra sil à Bo lí via nas pro xi mi da desdo rio Pa ra guai en cer ram ape nas uma área cal cu la da em se ten ta e oitoqui lô me tros qua dra dos, em duas e meia lé guas de ter ra fir me, não ha bi ta -da por bra si le i ros e se com põe em sua ma i or par te de su per fí cie ala ga daou ala ga di ça, mes mo as sim uti lís si ma por ofe re cer àque le país por tos quefa ci li tem o seu co mér cio com e pelo Esta do de Mato Gros so e que ain daes sas con ces sões re a li zam o pen sa men to do tra ta do de 1867, pelo qual aBo lí via de via ter até cin co por tos que lhe des sem aces so ao rio Pa ra guai; fi -nal men te.

Con si de ran do, pe las ra zões ex pos tas e pe las que se evi den ci am dalu mi no sa ex po si ção do Sr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res que o pre sen tetra ta do, re sul tan te de sá bia e sa gaz pre pa ra ção di plo má ti ca, ao mes motem po que hon ra as tra di ções de nos sa cul tu ra e tes te mu nha a le al da dede nos sa po lí ti ca in ter na ci o nal, gran je an do para nós a con fi an te sim pa tiada opi nião ame ri ca na, re pre sen ta real pro gres so e be ne fí cio para o País,cu jas fron te i ras di la ta pela in cor po ra ção de ex ten so ter ri tó rio, que virá cons -ti tu ir em não re mo to fu tu ro um novo e rico Esta do; põe ter mo a uma si tu a -ção in qui e tan te, aca u te la o fu tu ro e con so li da a paz e a ami za de comuma na ção vi zi nha:

É a Co mis são de pa re cer que seja ele apro va do, apre sen tan do paraesse fim à con si de ra ção da Câ ma ra dos De pu ta dos o se guin te pro je to delei, so bre o qual pen sa que deve à Câ ma ra de li be rar em ses são se cre ta:

O Con gres so Na ci o nal re sol ve:Art. 1º. Fica apro va do, em to das as suas cláu su las, o tra ta do as si na do

em Pe tró po lis a 17 de no vem bro de 1903 pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil eda Bo lí via mo di fi can do, me di an te per mu ta de ter ri tó ri os e ou tras com pen -sa ções, a li nha di vi só ria en tre os dois pa í ses tra ça da pelo an te ri or tra ta do

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Page 88: Tratado de Petrópolis

de 27 de mar ço de 1867, pro mul ga do pelo de cre to nº. 4.280 de 28 de no -vem bro de 1868.

Art. 2º. Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

Sala das Co mis sões, 5 de ja ne i ro de 1904.*

La me nha Lins – pre si den te. Gas tão da Cu nha – re la tor. Edu ar do Ra mos. – Anto nio Bas tos. – Pe re i ra de Lyra, pela con clu são.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.30 e 31

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I

PROPOSTA INICIAL DOS PLENIPOTENCIÁRIOS BRASILEIROS

(Entre gue pelo Mi nis tro das Re -la ções Exte ri o res ao Sr. Gu a chal la,em Pe tró po lis, na tar de 28 de ju lho de1903).

1) Des de o de sa gua dou ro da Ba hia Ne gra, no rio Pa ra guai, até acon fluên cia do Ma mo ré e do Beni, a fron te i ra en tre os Esta dos Uni dos doBra sil e a Bo lí via será a mes ma des cri ta no art. 2º do Tra ta do de 27 de mar -ço de 1867.

2) Da con fluên cia do Ma mo ré e do Beni des ce rá a fron te i ra peloMa de i ra até a foz do Abu nã; su bi rá por este até a nas cen te prin ci pal do seu bra ço su pe ri or cha ma do Chi pa ma no.

3) Des sa nas cen te do Chi pa ma no, na di re ção do oes te, será for ma -da:

a) Por uma li nha que, acom pa nhan do os mais pro nun ci a dos aci den -tes de ter re no, vá en con trar a nas cen te do iga ra pé Ba hia;

b) Por este iga ra pé ou ri be i ro até a sua con fluên cia no rio Acre ouAqui ri

c) Pelo ál veo do rio Acre até a sua nas cen te prin ci pal;d) Por uma li nha Este–Oes te que se gui rá o pa ra le lo des sa nas cen te,

até o pon to de en con tro com a fron te i ra do Peru.4) Além do ter ri tó rio en tre o Abu nã e o Ma de i ra, que, pela de li mi ta -

ção aci ma in di ca da, pas sa a per ten cer à Bo lí via, o Bra sil lhe cede, no por to de San to Anto nio so bre o Ma de i ra, uma área de dois hec ta res para que aíseja es ta be le ci da uma al fân de ga bo li vi a na, jun to da es ta ção fis cal bra si le i -ra, e com pro me te-se a pa gar, nos pra zos que fo rem es ti pu la dos em con -ven ção es pe ci al, a soma de £ 1.000.000 (um mi lhão de li bras es ter li nas)apli cá vel à cons tru ção de vias-fér re as in te ri o res, como as que po dem li gar

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Page 90: Tratado de Petrópolis

La Paz e Co cha bam ba aos pon tos em que co me ça a na ve ga ção no riode La Paz (Beni) e no Cha pa ré (Ma dre de Dios).

5) O Bra sil obri ga-se a cons tru ir, por si ou por em pre sa par ti cu lar, des dea pri me i ra ca cho e i ra do rio Ma mo ré, que é a de Gu a ja rá-Mi rim, até a deSan to Anto nio, no rio Ma de i ra, do lado ori en tal des ses rios, uma fer ro via,con ce den do à Bo lí via as fa ci li da des de cla ra das no Tra ta do que se con clu -iu no Rio de Ja ne i ro em 15 de maio de 1882 e ain da não está em vi gor.

(É có pia con for me. Ga bi ne te do Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res de20 de de zem bro de 1903. O ofi ci al do ga bi ne te, R. N. Pe ce gue i ro do Ama -ral.) *

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.47

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Page 91: Tratado de Petrópolis

II

CONTRAPROPOSTA DOS PLENIPOTENCIÁRIOS BOLIVIANOS

(Re ce bi da pelo Mi nis tro das Re -la ções Exte ri o res das mãos dos ple ni -po ten ciá ri os bo li vi a nos Srs. Gu a chal lae Pi nil la, em Pe tró po lis no ga bi ne te, às5 ho ras da tar de de 13 de agos to de1903).

No se ria po si ble una per mu ta de ter ri tó ri os sino en con di ci o nes de ra -zo na ble equi va len cia.

Para lle gar a este fin y ac ce di en do a los de se os de la Can cil le ria bra si -le ña po dría acep tar se, en la si gui en te for ma, la pro po si ción que por ór ga no de su Le ga ción en La Paz ha man da do so me ter a Go bi er no de Bo li via enAbril úl ti mo.

La fron te ra en tre Bo li via y el Bra sil par ti rá del río Pa ra guay en la la ti tud20°10’ don de de sa gua la Ba hia Ne gra: se gui rá por me dio de esta has ta elfon do de ella y de ahí en li nea rec ta a la de sem bo ca du ra de la la gu na deCá ce res. Des de esa de sem bo ca du ra con ti nu a rá por el àl veo del río Pa ra -guay has ta la con quen cia del Ja u rú y su bi rá por el cur so de este río y de suaflu en te el Ba gres has ta su na ci mi en to en la si er ra de San ta Bár ba ra.

Cru zan do esta si er ra, la li nea di vi so ria irá a bus car en el pun to mas pró -xi mo el río Gu a po ré o Ite nes por cu yas aguas pro se gui rá has ta su con fluên -cia con el Ma mo ré. De este pun to la fron te ra con ti nu a rá por una li nea rec taa la de sem bo ca du ra del río Ja ma ri en el Ma de ra, y cru zan do a la oril la iz -qui er da del di cho Ma de ra en la la ti tud de la boca del Ja ma ri, pro se gui rápor otra lí nea rec ta has ta la con flu en cia de los ar ro yos Ra pir ran o Iqui ri.

Si gui en do el cur so del men ci o na do Iqui ri has ta el pa ra le lo que pasepor la boca del Xa pu ri (aflu en te del Acre) la li nea di vi so ria pro se gui rá por elál veo del Xa pu ri, has ta su in ter sec ci on con el me ri di a no 70º de lon gi tud

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Page 92: Tratado de Petrópolis

Oes te de Gre en wich y con ti nu a rá por ese me ri di a no con di rec ción al Nor te,has ta en con trar el río Pu rus , cuyo cur so re cor re rá has ta su in ter sec ción conla li nea Ma de ra-Ja va ri por la cual irá a ter mi nar en el na ci mi en to prin ci paldel Ja va ri a los 7º6’55”3 de la ti tud Sud y 73° 47’30”6 lon gi tud Oes te de Gre -en wich.

Re co no ci da la uti li dad re ci pro ca del fer ro car ril Ma de ra-Ma mo ré, ycomo los ter ri to ri os que trans fi e re Bo li via son in con tes ta ble men te más ri cosque los que re ci be y pro du cen en la ac tu a li dad con si de ra ble ren ta, el Bra silse obli ga a cons tru ir, por si o por em pre sa par ti cu lar, des de la pri me ra ca -chu e la del río Ma mo ré, que es la de Gu a ja rá-mi rim, has ta la de San Anto nio en el río Ma de ra, del lado ori en tal de esos ríos, un fer ro car ril, que será en tre -ga do en pro pi e dad al Go bi er no de Bo li via y del cual am bos pa í ses, Bo li via y el Bra sil, usa rán en las mis mas con di ci o nes y con idén ti cas fran qui ci as y ta ri -fas de acu er do con la más ab so lu ta li ber dad de co mér cio.

Igual prin cí pio re gi rá la na ve ga ci on flu vi al de am bos Esta dos.(É co pia con for me, Ga bi ne te do Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, 20

de de zem bro de 1903. O ofi ci al de ga bi ne te, R. N. Pe ce gue i ro do Ama ral.)*

O SR. PRESIDENTE – Ordem do dia. *Devo pre ve nir a Câ ma ra de que está er ra da a nu me ra ção do pro je to

da Co mis são de Di plo ma cia e Tra ta dos; em vez de nº 350, de 1903, deveser nº 1, de 1904.

Está em dis cus são o Pro je to nº 1, de 1904, da Co mis são de Di plo ma -cia e Tra ta dos, apro van do o Tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre oBra sil e a Bo lí via.

De acor do com o Re gi men to, a Co mis são deve di zer so bre a con ve -niên cia ou in con ve niên cia de ser o as sun to dis cu ti do em ses são pú bli ca ouse cre ta, opi nan do a mes ma Co mis são que a Câ ma ra deve de li be rar emses são se cre ta.

Está so bre a mesa um re que ri men to que vai ser lido; de acor do com o art. 91 do Re gi men to, os no mes dos sig na tá ri os fi ca rão se cre tos:

“Re que re mos que, na for ma in di ca da pela Co mis são de Di plo ma ciae Tra ta dos, se jam se cre tas as ses sões da Câ ma ra em que se de li be rar so -bre o Pro je to nº 1, de 1904, que apro va o Tra ta do de 17 de no vem bro de1903, en tre o Bra sil e a Bo lí via.”

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 47* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 60

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Page 93: Tratado de Petrópolis

Pos to em dis cus são o re que ri men to, é a mes ma en cer ra da.Em se gui da é anun ci a da a sua vo ta ção.Os Srs. que apro vam o re que ri men to, que i ram se le van tar. (pa u sa).Foi una ni me men te apro va do.

O SR. BRICIO FILHO – V. Exa. de cla rou una ni me men te apro va do o re -que ri men to.

O SR. PRESIDENTE – Sal vo re cla ma ção.

O SR. BRICIO FILHO – Não foi una ni me men te, por que vo tei con tra.

O SR. PRESIDENTE – Se mais al gum Sr. De pu ta do tam bém vo tou con tra, que i ra ter a gen ti le za de o co mu ni car à Mesa.

Foi o re que ri men to apro va do pela qua se una ni mi da de dos srs. De pu -ta dos, e con tra o voto do Sr. Bri cio Fi lho.

O SR. COSTA NETO – E o meu, Sr. Pre si den te.

O SR. BARBOSA LIMA (pela or dem) – Sr. Pre si den te, re que i ro ve ri fi ca çãoda vo ta ção.

O SR. PRESIDENTE – Como viu que não ti nha ha vi do re cla ma ção al gu -ma, a Mesa anun ci ou o re sul ta do que lhe pa re ceu ser o ver da de i ro.

Vai se ve ri fi car a vo ta ção.Qu e i ram se le van tar, con ser van do-se de pé para se pro ce der à con -

ta gem, os se nho res que apro vam o re que ri men to. (Pa u sa.)Vo ta ram pelo re que ri men to 112 Srs. De pu ta dos. Qu e i ram sen tar-se os

se nho res que vo ta ram pelo re que ri men to, le van tan do-se os que vo tamcon tra. (Pa u sa.).

Vo ta ram con tra oito Srs. De pu ta dos. O re que ri men to foi apro va do por 112 vo tos con tra 8.Ago ra vai se de li be rar so bre se a ses são se cre ta deve ter lu gar ime di a -

ta men te.Os se nho res que en ten dem que deve co me çar já a ses são se cre ta,

que i ram se le van tar. (Pa u sa.)A Câ ma ra de ci diu que a ses são se cre ta deve co me çar ime di a ta -

men te.

O SR. PAULO RAMOS – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra pela or dem o Sr. Pa u la Ra mos.

O SR. PAULO RAMOS (Pela or dem) – Sr. Pre si den te, o re que ri men to de -via de cla rar se a ses são se cre ta te ria de ser ime di a ta ou se te ria lu gar no dia se guin te; por ou tra, isto é ma té ria que deve cons tar do re que ri men to.

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Page 94: Tratado de Petrópolis

O SR. PRESIDENTE – Devo de cla rar a Câ ma ra que em nota se gui da aore que ri men to que à Câ ma ra aca ba de apro var os seus sig na tá ri os pe demque a ses são se cre ta te nha lu gar ime di a ta men te.

Dan do dis so co nhe ci men to à Câ ma ra, te nho res pon di do as ob ser va -ções do no bre De pu ta do por San ta Ca ta ri na.

O SR. BARBOSA LIMA – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o no bre De pu ta do.

O SR. BARBOSA LIMA (pela or dem) – Per gun to a V. Exª, Sr. Pre si den te, sea ses são se cre ta o é tam bém para os mem bros da ou tra Casa do Con gres -so Na ci o nal.

Não co nhe ço pre ce den te al gum so bre a ques tão, mas não me pa re -ce que o si gi lo deva ser guar da do, na dis cus são e na de li be ra ção que ha -ja mos de ado tar quan to ao as sun to de que nos va mos ocu par, até o pon to de ser es ten di do à ou tra Casa do Con gres so.

Assim, con sul to ain da a V. Exa so bre se será pre ci so re que ri men to, ou se,in de pen den te men te dis to, po de rá a Mesa to mar a de li be ra ção de co mu ni -car a ou tra Casa do Con gres so que nos cons ti tu í mos em ses são se cre ta paraa dis cus são de as sun to que há de ser opor tu na men te sub me ti do à apre ci a -ção dela, mas em con di ções tais que não só os mem bros do Se na do pos sam as sis tir às nos sas ses sões como pos sa mos nós ou tros as sis tir as ses sões que,para tra tar do mes mo as sun to, re a li zar aque la Casa.

V. Exa, Sr. Pre si den te, de ci di rá; na hi pó te se de ser ne ces sá rio re que ri -men to, eu o for mu la rei.

O SR. PRESIDENTE – O Re gi men to é de todo omis so so bre o as sun to e os pre ce den tes não au to ri zam o in gres so de pes soa al gu ma es tra nha quan do à Câ ma ra fun ci o na em ses são se cre ta; di zem os que co nhe cem os tra ba -lhos da Casa que nun ca se deu tal.

Se, en tre tan to, V. Exª re quer...

O SR. BARBOSA LIMA – Peço a V. Exa que con sul te a Casa so bre se estáela de acor do com este meu modo de ver, isto é, so bre a con ve niên cia dese rem ad mi ti das às ses sões des ta casa, pos to que se cre tas, os mem brosdo ou tro ramo do Po der Le gis la ti vo.

O SR. PRESIDENTE – V. Exa pede para se ofi ci ar a Mesa do Se na do, nosen ti do das ob ser va ções que aca ba de fa zer?

O SR. BARBOSA LIMA – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o no bre De pu ta do.

O SR. BARBOSA LIMA (pela or dem) – Eu pedi a V. Exª que con sul tas se àCâ ma ra so bre a con ve niên cia de se rem ad mi ti dos a as sis tir as ses sões des -

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Page 95: Tratado de Petrópolis

ta Casa, pos to que se cre tas, os mem bros do ou tro ramo do Po der Le gis la ti -vo.

Apro va do este meu re que ri men to, a Mesa fará a de vi da co mu ni ca -ção à ou tra Casa do Con gres so.

O SR. PRESIDENTE – Qu e i ra o no bre De pu ta do man dar o seu re que ri -men to por es cri to.

O SR. BARBOSA LIMA – For mu la rei este meu pe di do por es cri to.Vem a Mesa, é lido, apo i a do e pos to em dis cus são o se guin te:

Re que ri men to:

Re que i ro que se con sul te à Câ ma ra so bre a con ve niên cia de se remad mi ti dos a as sis tir a ses são des ta Casa, pos to que se cre ta, os mem bros do ou tro ramo do Po der Le gis la ti vo.

Sala das ses sões, 13 de ja ne i ro de 1904. – Bar bo sa Lima.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO* – Pa re ce-me Sr. Pre si den te, que ore que ri men to que aca ba de ser lido im por ta em al te ra ção do nos so Re gi -men to, (Apo i a dos do Sr. Be za mat).

O Re gi men to não pre viu a hi pó te se do com pa re ci men to de Se na do -res as nos sas ses sões se cre tas; e me pa re ce que des de ou tras qua is querpes so as que não os mem bros da Câ ma ra dos De pu ta dos, elas, ipso fac to,de i xa rão de ser se cre tas.

( Apo i a dos e não apo i a dos.).

O SR. MOREIRA DA SILVA – A re pre sen ta ção na ci o nal com põe-se deCâ ma ra e Se na do.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Mas esta, aqui, não está fun ci o -nan do em Con gres so Na ci o nal. (Apo i a dos.).

A Cons ti tu i ção da Re pú bli ca, con tra o meu modo de sen tir, ins ti tu iu que as duas Ca sas só fun ci o na rão con jun ta men te, para três ca sos, ex pres sos nes sames ma Cons ti tu i ção: pos se do Pre si den te ou Vice-Pre si den te da Re pú bli ca, ses -sões de aber tu ra e en cer ra men to do Con gres so, re co nhe ci men to de po de resdo Pre si den te ou Vice-Pre si den te da Re pú bli ca.

O SR. MOREIRA DA SILVA – Assis tir e de li be rar são fa tos dis tin tos.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – V. Exa dá li cen ça?

* Este discurso não foi revisto pelo orador.ACD, 1903 (sessão extraordinária), v. 1, p. 61

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Fora des tes ca sos, o le gis la dor de ter mi nou que as duas Ca sas fun ci o -na rão se pa ra da men te. E se as duas Ca sas do Con gres so fun ci o nam se pa -ra da men te...

O SR. BARBOSA LIMA – Está se confundindo assistência com deliberação.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Eu che go lá.Se as duas Ca sas do Con gres so, di zia eu, pela Cons ti tu i ção da Re pú -

bli ca, fun ci o nam se pa ra da men te, se o Se na do, por ou tro lado, tem atri bu i -ções que lhe são pri va ti vas, das qua is de ci de tam bém em ses sõesse cre tas, sem as sis tên cia ou pre sen ça dos Srs. De pu ta dos, como per mi tir àCâ ma ra que em suas ses sões se cre tas seja per mi ti da a pre sen ça dos Srs.Se na do res?

O SR. GERMANO HASSLOCHER – Para tratar de assunto que vai ser afeto a eles.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Se vai ser afe to a eles, a Cons ti tu i -ção, se pa ran do as fun ções de um e ou tro ramo, a res pe i to da apro va çãodos tra ta dos, quis exa ta men te que a de li be ra ção ou o modo de dis cu tirem uma não pre va le ces se ou não atu as se na ou tra; por que, se não for as -sim, a Cons ti tu i ção de ve ria ter dito, e este era o meu modo de sen tir, em di -re i to a cons ti tu ir, que à Câ ma ra e o Se na do, para apro va ção de tra ta dos,fun ci o nas sem con jun ta men te.

Mas nós es ta mos no ter re no do di re i to cons ti tu í do; é isto que dis põe aCons ti tu i ção; o nos so Re gi men to não co gi tou, nem po dia co gi tar de per mi -tir a as sis tên cia de quem quer que fos se a ses sões se cre tas, por que, des deque a elas são pre sen tes ou tras pes so as que não os mem bros da Câ ma rados De pu ta dos, per de rão ipso fac to o ca rá ter de ses sões se cre tas.

O SR. MOREIRA DA SILVA – Não há se gre dos para os mem bros da re -pre sen ta ção na ci o nal.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – De po is, não me re pug na ria, Sr. Pre si -den te, devo de cla rar, que as ses sões em que à Câ ma ra tem de de li be rarso bre o tra ta do de Pe tró po lis pu des sem ser as sis ti das pe los mem bros da ou -tra Casa; não me re pug na ria, se eu não ti ves se di an te dos olhos a le tra e oes pí ri to da Cons ti tu i ção da Re pú bli ca e se eu não en ten des se que o re que ri -men to, ora sub me ti do à con si de ra ção da Casa, im por ta em uma al te ra çãodo nos so Re gi men to, e não é esse o pro ces so na tu ral e nor mal de al te rar-seo Re gi men to da Casa. (Mu i to bem.)

Pode ser que eu es te ja em erro; como sem pre, sou dó cil aos con se -lhos da ma i o ria.

A pri me i ra vis ta su ge ri ram ao meu es pí ri to es tas con si de ra ções que es -tou fa zen do, a ne ces si da de e o de se jo de não ar gu men tar se não com oRe gi men to e com a Cons ti tu i ção da Re pú bli ca.

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Pode pa re cer a ou tros que não per ca o ca rá ter de se cre ta uma ses -são da Câ ma ra dos De pu ta dos des de que seja per mi ti da a as sis tên cia dequal quer ou tra pes soa que não os mem bros da Câ ma ra.

A mim, Sr. Pre si den te, me re pug na ad mi tir que aqui lo que é se cre topos sa ser ou vi do ou pre sen ci a do por quem quer que seja, que não osmem bros da Câ ma ra.

Esta sim ples con si de ra ção, mal gra do todo res pe i to e con si de ra çãoque me me re ce o no bre De pu ta do pelo Rio Gran de do Sul, meu dis tin toami go, me im pe de de vo tar o re que ri men to de V. Exa e de que, es tou cer to, V. Exa mes mo não fará ques tão.

Assim, en ten do, en quan to não for con ven ci do do con trá rio, que ses -sões se cre tas da Câ ma ra são aque la a que só po dem com pa re cer os De -pu ta dos. (Mu i to bem)

O SR. PAULA RAMOS – Sr. Pre si den te, a ques tão me pa re ce mu i to sim -ples.

O nos so Re gi men to pro í be ex pres sa men te no art. 92 que to mem par -te na ses são se cre ta pes so as que não se jam mem bros da Câ ma ra.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Então te mos lei es cri ta.

O SR. PAULA RAMOS – É isto o que de cla ra o Re gi men to.Os mem bros da ou tra Casa só po dem com pa re cer à Câ ma ra como

me ros es pec ta do res (apo i a dos ge ra is) não po dem to mar par te nas dis cus -sões, nem nas de li be ra ções da Câ ma ra.

São, por tan to, me ros ex pec ta do res.Ora, Sr. Pre si den te, o que se pede é que além dos mem bros da Câ -

ma ra as sis tam es pec ta do res; o que se pede, por tan to, é uma al te ra çãodos arts. 92 e 148 do nos so Re gi men to.

A cré di to que V. Exa, ace i tan do este re que ri men to, deu-lhe o ca rá terde uma in di ca ção e que an tes da Câ ma ra se pro nun ci ar so bre ele a Co -mis são de Po lí cia terá de emi tir o seu pa re cer.

É nes tes ter mos que está pos ta a ques tão em face do nos so Re gi men -to. (Mu i to bem.)

O SR. PRESIDENTE – A Mesa já de cla rou que o Re gi men to era omis soso bre o caso de se per mi tir ou não a pre sen ça dos Srs. Se na do res, mem -bros da ou tra Casa do Con gres so para o fim de as sis ti rem as ses sões se cre -tas da Câ ma ra.

O SR. BARBOSA LIMA – Man dou a Mesa um re que ri men to pe din do quese con sul tas se à Câ ma ra so bre o as sun to.

O re que ri men to é o que está em dis cus são e se gui rá os tur nos que oRe gi men to de ter mi na.

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O SR. PAULO RAMOS – Não apo i a do; só pode ser uma in di ca ção.

O SR. PRESIDENTE – Con ti nua a dis cus são do re que ri men to, que aMesa con si de ra com pre en di do na úl ti ma par te do art. 115 do Re gi men to,que diz o se guin te:

“São re que ri men tos, ain da que ou tros no mes se lhes dê, to das aque -las mo ções de qual quer De pu ta do ou Co mis são que ti ve rem por fim pe diral gu ma pro vi dên cia que a ocor rên cia das cir cuns tân ci as fi zer ne ces sá riaso bre o ob je to de sim ples eco no mia dos tra ba lhos da Câ ma ra ou da po lí -cia da Casa, que não es te ja de ter mi na do no Re gi men to”.

O SR. BARBOSA LIMA – Peço a pa la vra.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o no bre De pu ta do.

O SR. BARBOSA LIMA – Sr. Pre si den te, não se tra ta de pro por ci o nar aosmem bros da ou tra Casa do Con gres so Na ci o nal opor tu ni da de para vi remto mar par te nes tes nos sos tra ba lhos. A Cons ti tu i ção não está em ca u sa(apo i a do), nem foi por for ma al gu ma im plí ci ta ou ex plí ci ta, di re ta ou in di re -ta, pró xi mo ou re mo ta, de se jo meu mo di fi car o nos so re gi me cons ti tu ci o nal e, por um sim ples re que ri men to, con tri bu ir para que se fi zes se uma es pé ciede fu são dos dois ra mos do Po der Le gis la ti vo ou re u nião das duas Câ ma rasem Con gres so Na ci o nal. O que eu no meu re que ri men to pro cu rei es ta tu irfoi, me di an te con sul ta à Casa, que não se tra tan do de as sun to pri va ti vo dene nhum dos dois ra mos do Po der Le gis la ti vo, an tes tra tan do-se de ques tãoque tem de ser afe ta à ou tra casa do Con gres so Na ci o nal, sa ben do-se que essa casa tem os mes mos in te res ses em que haja o ma i or si gi lo na dis cus -são des te im por tan tís si mo as sun to...

O SR. BEZAMAT – Não apo i a do, por que o Se na do Fe de ral pode en ten -der que as suas ses sões, tra tan do do as sun to, se jam pú bli cas. Pode nãoque rer o se gre do.

O SR. BARBOSA LIMA – Não per ce bi bem o apar te de V. Exa

O SR. BEZAMAT – Dis se não apo i a do às pa la vras de V. Exª , por que oSe na do ain da não re sol veu so bre se as suas ses sões se ri am se cre tas, po -den do mu i to bem re sol ver que se jam pú bli cas.

O SR. BARBOSA LIMA – Mas eu não pre ten dia le gis lar so bre as fa cul da -des que ca bem ou não a ou tra Casa do Con gres so.

O SR. BEZAMAT – Eu to mei a li ber da de de con tra ri ar a V. Exa por queouvi de cla rar que a ou tra Casa do Con gres so re sol veu o as sun to em ses sãose cre ta.

O SR. BARBOSA LIMA – Per doe V. Exa, o que eu dis se foi isso: é que o as -sun to não é pri va ti vo de ne nhum dos ra mos de Po der Le gis la ti vo, como é

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pri va ti va do Se na do a apro va ção das no me a ções de Mi nis tros di plo má ti -cos com a qual a Câ ma ra nada tem que ver.

O caso ago ra é di fe ren te; tra ta-se de fa cul tar a pre sen ça dos mem -bros da ou tra casa para que pos sam acom pa nhar a dis cus são re la ti va aesse as sun to, pos sam en trar no co nhe ci men to de to dos os ar ca nos daques tão, por ven tu ra in con ve ni en tes, que não de vam ser le va dos ao co -nhe ci men to pú bli co. Nada obs ta a que nós con cor ra mos para que osmem bros da ou tra casa as sis tam como es pec ta do res às nos sas ses sões(apo i a dos e não apo i a dos). Nada obs ta a que isso se faça, tan to maisquan to a Cons ti tu i ção não co gi ta de ses são se cre ta.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Não apo i a do; o art. 18 fala emses são se cre ta.

O SR. BARBOSA LIMA – Qual o fim da dis po si ção le gis la ti va re fe ren te àses são se cre ta?

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – O art. 18.

O SR. BARBOSA LIMA – É a ne ces si da de de se guar dar si gi lo so bre as -sun to que não deve pas sar do co nhe ci men to dos mem bros do po der pú -bli co. Qu a is? Do Po der Exe cu ti vo e dos dois ra mos do Con gres so Na ci o nal.

Ora, in va li da-se essa dis po si ção pelo fato de co me ça rem a ter co -nhe ci men to do as sun to aqui, como es pec ta do res que te rão de to mar co -nhe ci men to do as sun to na ou tra Casa, os Se na do res, con cor ren do paraque brar esse se gre do?

O meu re que ri men to é ur gen te por sua na tu re za, e a Câ ma ra de li be ra rácomo en ten der. Como in di ca ção eu não o apre sen ta ria, por que po de ria pa -re cer re cur so pro te la tó rio e eu não dei a nin guém o di re i to de acre di tar que,nes te como em qual quer ou tro as sun to, sou obs tru ci o nis ta.

Se a Câ ma ra pode, como vo tou so bre a con ve niên cia da ses são se -cre ta, vo tar so bre o adi ti vo do re que ri men to pri mi ti vo, ace i tan do ou não omeu re que ri men to, ela que i ra ter a bon da de de ado tar a de ci são que en -ten der; se não, como in di ca ção eu não o apre sen ta ria. V. Exa dará a so lu -ção que en ten der.

O SR. EDUARDO RAMOS – Sr. Pre si den te, ve nho de cla rar o meu in te i roacor do com o re que ri men to do Sr. Bar bo sa Lima. V.Exa quer abrir uma ex ce -ção, que se des ti na a ad mi tir os Se na do res, ao re cin to da Câ ma ra, quan do ela es ti ver em ses são se cre ta, que aca ba mos de vo tar para a dis cus são do Tra ta do com a Bo lí via.

Essa ex ce ção é per fe i ta men te jus ti fi cá vel, é na tu ra lís si ma.

O SR. BEZAMAT – V. Exa está con de nan do o re que ri men to, isso é pormeio de in di ca ção.

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O SR. MOREIRA DA SILVA – O Re gi men to é ex pres so, ad mi te que o Se -na dor en tre no re cin to da Câ ma ra como es pec ta dor.

O SR. BEZAMAT – Ses são se cre ta com es pec ta dor é co i sa que nãocom pre en do. (Há mu i tos ou tros apar tes).

O SR. EDUARDO RAMOS – Sr. Pre si den te, quan do V. Exa hou ver por ter -mi na do o de ba te su ple men tar, le van ta do em ca mi nho das bre ves con si -de ra ções que eu vi nha fa zen do, peço que me con ce da a pa la vra.

O SR. PRESIDENTE – Peço aten ção.

O SR. EDUARDO RAMOS – O Se na dor, meus se nho res, não é um meroes pec ta dor dos tra ba lhos le gis la ti vos (apo i a dos); é um com po nen te ati vodo Con gres so Na ci o nal; em exer cí cio de fun ções, na ma i or par te das ve -zes, e prin ci pal men te no caso ven ti la do, idên ti cas às nos sas.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – No Se na do. Aqui, to dos os que não são De pu ta dos são em pre ga dos da casa ou es pec ta do res.

O SR. EDUARDO RAMOS – Eu di zia, Sr. Pre si den te, que não é ser sim pleses pec ta dor, en vol vi do na mul ti dão es tra nha a esta Câ ma ra, ou, se pre fe -rem, é um es pec ta dor sui ge ne ris, o Se na dor que, como nós, par ti ci pa dares pon sa bi li da de le gis la ti va. (Apo i a do). A en ti da de des sa or dem e des sa hi -e rar quia não se de vem re cu sar to dos os me i os de fir mar a sua con vic çãoju rí di ca nas ma té ri as em que lhe com pe te a co la bo ra ção cons ti tu ci o nal.

Ora, que ou tra co i sa fa ría mos nós, aco lhen do os Se na do res à au diên -cia dos de ba tes da Câ ma ra, em as sun to da re le vân cia su pre ma comoesse so bre que va mos de li be rar?

Nos sas dis cus sões fi cam se cre tas; em con se qüên cia, as elu ci da çõesda ma té ria, que os dis cur sos po dem co pi o sa men te tra zer, e mu i tas ve zestra zem, não cons ta rão das pu bli ca ções nor ma is no Diá rio do Con gres so.

O que se pas sar nes ta casa fi ca rá tão es tra nho ao Se na do, que é ór -gão de co la bo ra ção, como a qual quer pes soa alhe io as fun ções le gis la ti -vas.

O SR. BEZAMAT – E as sim deve ser em toda e qual quer ma té ria.

O SR. EDUARDO RAMOS – V. Exa acha, fir man do-se em sua au to ri da de,que, sim ples men te o de cla ran do, res pon de a toda a ar gu men ta ção ló gi -ca que eu es tou pro du zin do.

O SR. BEZAMAT – Não é au to ri da de mi nha: é dos que têm pen sa do so -bre o as sun to e dão a fór mu la: “o que uma Câ ma ra diz a ou tra não ouve”.Não é a mi nha au to ri da de, mas a de quem tem ma i or do que nós.

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Page 101: Tratado de Petrópolis

O SR. EDUARDO RAMOS – Essa fór mu la, é, des cul pe-me V. Exa., umaba na li da de que V. Exa. está am pa ran do.

O SR. BEZAMAT – Ba na li da de é?! Ba na li da de?!

O SR. EDUARDO RAMOS – Sim.

O SR. BEZAMAT – É o que V. Exª diz há mais de meia hora. (Apar tes).

O SR. EDUARDO RAMOS – Essa tri vi a li da de de que “uma Câ ma ra nãoouve o que diz a ou tra”, não está na al tu ra da ciên cia po lí ti ca do no bre De -pu ta do. (Tro cam-se apar tes).

O meu co le ga pa re ceu mo les tar-se com a ex pres são “ba na li da de”.Eli mi ne V.Exª des se vo cá bu lo tudo quan to lhe pos sa pa re cer me nos cor tez.

O SR. BEZAMAT – E V. Exa per mi ta que o ouça de cos tas, e não lhe dêmais apar tes. É a res pos ta que te nho para a in de li ca de za de V. Exa.

O SR. EDUARDO RAMOS – Aca bo de as se ve rar que o que qua li fi quei de ba na li da de foi a fór mu la, aliás cor ren te, mas sem fun da men to, nem sig ni fi -ca do na ciên cia po lí ti ca, que o no bre De pu ta do re pe tiu, sem a ter in ven ta -do. Essa fór mu la é co nhe ci da; é um axi o ma se di ço; tem o va lor úni co, quelhe em pres ta, como a mu i tos ou tros fal sos con ce i tos, o de ser au to ri za dotão so men te pela sua ir re fle ti da vul ga ri za ção.

O SR. CRUVELLO CAVALCANTI – V. Exa pode dou rar como qui ser a ex pli -ca ção. “Ba na li da de”, aqui ou fora da qui, é sem pre uma fra se ofen si va aum co le ga.

O SR. EDUARDO RAMOS – V. Exa in sis te em acre di tar que a ba na li da dede um con ce i to se es ten de em sig ni fi ca ção de pre ci a ti va a quem o re pe -te... Pois bem: de cla ro que, a meu ver, não é as sim; uma vez, po rém, que o meu pen sa men to não foi con ve ni en te men te in ter pre ta do, de cla ro re ti rar, e o faço com pra zer, tudo quan to de ofen si vo se pos sa de du zir, para o no breDe pu ta do, do em pre go que fiz da que le vo cá bu lo.

Mu i tos Srs. De pu ta dos – Mu i to bem.

O SR. BEZAMAT – Di an te dis so, de cla ro que abri rei os ou vi dos, e se reitodo aten ção, por que que ro ou vir a de mons tra ção, que a cré di to será bri -lhan te, da tese da V. Exa

O SR. EDUARDO RAMOS – Qu an do me ex pri mi do modo que V. Exa. es -tra nhou...

O SR. BEZAMAT – Estou ávi do de ou vir a de mons tra ção da tese anun ci -a da por V. Exa Con ven ci do do meu erro, da rei as mãos à pal ma tó ria.

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Page 102: Tratado de Petrópolis

O SR. EDUARDO RAMOS – Não: em caso al gum me jul ga rei no di re i tode usar de cas ti gos, mes mo os mais bran dos, para aque les que dis cor damde mi nhas opi niões. Sou ex tre ma men te to le ran te.

Pas se mos, po rém, ao que im por ta.O con ce i to, que eu qua li fi quei de erro, ca no ni za do por uma es pé cie

de axi o ma po lí ti co, en cer ra uma afir ma ção con tra ria aos ele men tos co -me si nhos das fun ções par la men ta res dos dois ra mos do Con gres so, no nos -so re gi me.

A Cons ti tu i ção Fe de ral par ti lha en tre a Câ ma ra e o Se na do a fun çãode ela bo rar as leis! Bas ta rá abrir o ca pí tu lo em que essa ma té ria é re gu la dana Cons ti tu i ção Fe de ral para ver que “os pro je tos ini ci a dos em uma Câ ma -ra vão ser dis cu ti dos na ou tra, onde po dem ser emen da dos”.

Que as emen das, as su pres sões, os subs ti tu ti vos, vol tam à Câ ma ra ini -ci a do ra, e da dos cer tos ca sos, de vol vem-se de novo às Câ ma ras re vi so ras.

Ora, tudo isso que po de ria ser se não um jogo en tre ce gos, se o ramodo Con gres so que tem de de li be rar so bre a obra da ou tra Câ ma ra lhe ti -ves se de fi car alhe io, como pre ten de o axi o ma re pe ti do pelo meu ilus treco le ga.

Como se ria pos sí vel de li be rar, ace der, re cu sar, al te rar, emen dar,subs ti tu ir ou con ser var as ma té ri as dos pro je tos se cada Câ ma ra, cer ran doos ou vi dos ao que se pas sa na ou tra, não pro cu ras se as ra zões da con ve -niên cia pú bli ca, nos pa re ce res e de ba tes, da ou tra Câ ma ra. – ra zões es sas que não po dem ser in tro du zi das na con ci são de sim ples tex to le gis la ti vo?...

E de que ser vi rá en tão a pu bli ca ção dos de ba tes dos dois ra mos doPar la men to?

As Câ ma ras ou vem-se; não se po dem de i xar de ou vir, de se aten dercom uma vi gi lan te re ci pro ci da de. Bas ta o atri bu to de co o pe ra do res nomes mo as sun to le gis la ti vo para que se in cli nem uma para ou tra, com osou vi dos aber tos para que, guar da da a li ber da de de cada uma, con vir jamnos in tu i tos da ação de le gis lar.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Dá li cen ça para um apar te?

O SR. EDUARDO RAMOS – Per fe i ta men te.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – E se o Tra ta do mor rer aqui, a quefica re du zi da a co la bo ra ção do Se na do?

O SR. EDUARDO RAMOS – Res pon do à con jec tu ra de V. Exa com ou tracon je tu ra: E, per gun to eu ago ra, se o Tra ta do pas sar aqui?...

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Isso não é res pos ta.

O SR. EDUARDO RAMOS – Se isso não é res pos ta, o que o no bre De pu -ta do in ter ro ga não é per gun ta.

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Page 103: Tratado de Petrópolis

Se aca so o Tra ta do su cum bis se na Câ ma ra, ne nhum mal se te ria fe i to aos Se na do res ad mi tin do-os a as sis ti rem às suas ses sões. Ao con trá rio mu i to cons tran gi men to lhes po de ría mos fa zer, se os pri vás se mos de acom pa -nhar dis cus sões que po dem ser bri lhan tes, tan to para nós, como para qual -quer dos re pre sen tan tes da ou tra Casa. Eu con fes so que mu i to de se ja riapo der ou vir as dis cus sões do Se na do. Te nho por ve zes ali es ta do, e compro ve i to para mim.

O SR. BEZAMAT – Dá um apar te.

O SR. EDUARDO RAMOS – Qu an do de cla rei que não ad mi tia o pro vér -bio de V. Exª ...

O SR. BEZAMAT – Não é meu.

O SR. EDUARDO RAMOS – Ou por V. Exa re pe ti do...

O SR. BEZAMAT – É dos cons ti tu ci o na lis tas.

O SR. EDUARDO RAMOS – Qu an do me re fe ri a esse axi o ma a mi nha in -ten ção era im pug nar os cons ti tu ci o na lis tas a quem se de via a cri a ção deum erro a cuja voga eu de no mi nei de ba na li da de.

E, essa pro po si ção, é, pois, Sr. Pre si den te, co nhe ci das as ín ti mas re la -ções que unem os fa to res po lí ti cos na ela bo ra ção das leis, essa pro po si ção ca re ce de sen so ju rí di co, de sen so po lí ti co; é con tra ria a na tu re za das nos -sas fun ções.

Se te mos de re sol ver so bre os mes mos as sun to, Câ ma ra e Se na do,têm for ço sa men te de se ou vir. Uma e ou tra, de li be ran do so bre o mes moob je to, não se po dem con si de rar re ci pro ca men te es tra nhas, ou vem-se,pelo me nos. Esta é a re gra.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – La vra da por V. Exa.

O SR. EDUARDO RAMOS – La vra da pela Cons ti tu i ção e pelo bom sen -so.

Se tal é a re gra, não vejo ra zão, Sr. Pre si den te, para se abrir uma ex ce -ção con tra os Se na do res, em um de ba te de ta ma nho al can ce, como adis cus são de um tra ta do de li mi tes.

O SR. BEZAMAT – V. Exa co me çou di zen do que no re que ri men to o quese pe dia era que fos se aber ta uma ex ce ção; ago ra não quer que se abraex ce ção.

O SR. EDUARDO RAMOS – Estou fa lan do em vão, ao que pa re ce. Qu e roa ex ce ção para o com pa re ci men to, ve da do aos Se na do res, exa ta men tepor que a ex ce ção da ad mis são de les se im põe como mem bros do Po derLe gis la ti vo, de que não par ti ci pa mos ex clu í dos na re gra ge ral.

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Page 104: Tratado de Petrópolis

O SR. BEZAMAT – Só por meio de re for ma do Re gi men to, em in ter pre ta -ções.

O SR. EDUARDO RAMOS – Não pen so as sim. Tra ta-se nes te caso deuma de li be ra ção de eco no mia in ter na; tra ta-se de uma me di da em umcaso ocor ren te, que tor na opor tu na a pro vi dên cia e in com pa tí vel com otra ba lho de uma re for ma re gi men tal.

Se jul gás se mos de ver ad mi tir o Sr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res a as -sis tir aos de ba tes, quem nos po de ria im pe dir?

O SR. BEZAMAT – Sim, des de que à Câ ma ra se cons ti tua em Co mis sãoGe ral.

O SR. EDUARDO RAMOS – Isso é di fe ren te. No caso de cons ti tu ir-se àCâ ma ra em co mis são Ge ral, o Sr. Mi nis tro do Exte ri or po de ria as sen tar-se no re cin to e usar da pa la vra nos de ba tes.

O SR. PAULA RAMOS – Pois é a úni ca hi pó te se em que ele pode com -pa re cer, é a Câ ma ra se cons ti tu ir em Co mis são Ge ral.

O SR. EDUARDO RAMOS – Não pen so as sim. A Câ ma ra tem a li ber da -de de se fa zer es cu tar por quem jul gar útil.

O SR. PAULA RAMOS – Sim, des de que o faça pe los me i os re gu la res,como V. Exª fez em re la ção à re for ma do Re gi men to, apre sen tan do in di ca -ção.

O SR. EDUARDO RAMOS – Os me i os re gu la res são as de li be ra ções daCâ ma ra.

Acho que o Re gi men to não pode cri ar obs tá cu los ao que à Câ ma rade ci da con ve ni en te ao an da men to de seus tra ba lhos.

São es tas, Sr. Pre si den te, as ex pli ca ções que eu que ria de i xar ex pres -sas.

E, as en cer ran do, re no vo ao meu ilus tre co le ga pelo Rio de Ja ne i ro asmi nhas ex pres sões de sig ni fi ca ti vo apre ço. V.Exa. , se me co nhe ces se maisde per to, não me te ria atri bu í do o aze du me que o ma go ou. (Mu i to bem;mu i to bem.).

O SR. BEZAMAT – Tan to mais agra de ço a V. Exa. quan to as suas pa la -vras fi na is me dis pen sam do sa cri fí cio de vir à tri bu na fa zer um dis cur so, em -bo ra pe que no.

Nin guém mais pe din do a pa la vra, é en cer ra da a dis cus são.Sub me ti do a vo tos, é re je i ta do por 98 vo tos con tra 22, o re que ri men to

do Sr. Bar bo sa Lima.

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Page 105: Tratado de Petrópolis

O SR. PRESIDENTE – Ten do à Câ ma ra de li be ra do fun ci o nar em ses sãose cre ta des de já, sus pen do a ses são por cin co mi nu tos, a fim de se re a li zara re ti ra da dos es pec ta do res.

Sus pen de-se a ses são às 2 ho ras e 30 mi nu tos da tar de.Re a bre-se a ses são às 2 ho ras e 45 mi nu tos da tar de e a Câ ma ra pas -

sa a fun ci o nar em ses são se cre ta.O Sr. Pre si den te – de sig na para ama nhã a se guin te or dem do dia:Con ti nu a ção da dis cus são úni ca do pro je to nº 1, de 1904, apro van do

o tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre o Bra sil e a Bo lí via.

De cla ra ção

De cla ro que vo tei a fa vor do re que ri men to do Sr. Bar bo sa Lima, nosen ti do de ser per mi ti da a pre sen ça dos Se na do res fa la rem em ses sões se -cre tas des ta Câ ma ra.

Sala das ses sões, 13 de ja ne i ro de 1904.* – Sá Pe i xo to.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 68

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3ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 14 DE JANEIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

Re que ri men to

Re que i ro se peça ao Go ver no uma có pia do re la tó rio do Ge ne ralOlympio da Sil ve i ra, co man dan te das for ças de ocu pa ção do Acre.

Sala das ses sões, 14 de ja ne i ro de 1904. – Alfre do Va re la.

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4ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 15 DE JANEIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. ALFREDO VARELA em à tri bu na para pon de rar à Câ ma ra que setor na in dis pen sá vel a apro va ção do re que ri men to on tem apre sen ta do, em que so li ci ta va do Pre si den te da Re pú bli ca có pia do re la tó rio do ilus tre Ge -ne ral Olympio da Sil ve i ra. E se lhe afi gu ra in dis pen sá vel, por que dele ne ces -si ta para bem fun da men tar o seu voto na ques tão do Acre.

Ain da mais: res sal ta a con ve niên cia da apro va ção para que a Câ -ma ra pos sa for mu lar ju í zo se gu ro, à vis ta do alu di do re la tó rio, des ta alta pa -ten te do Exér ci to.

Sabe a Câ ma ra, por que é fato do do mí nio pú bli co, uma vez que foidi vul ga da pela im pren sa, que em ses são se cre ta se de cla rou que esse Ge -ne ral ha via pro ce di do com des le al da de e in dis ci pli na.

O SR. PRESIDENTE – Aten ção! Não pos so con sen tir que V.Exa re pro du zapa la vras ou fra ses pro fe ri das em ses são se cre ta.

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 73

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8ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 20 DE JANEIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. PRESIDENTE – Não ha ven do mais quem peça a pa la vra na horado ex pe di en te, en tra em dis cus são o re que ri men to do Sr. Bar bo sa Limaapre sen tan do na ses são de 31 de de zem bro do ano fin do, cujo teor é o se -guin te:

“Re que i ro que, por in ter mé dio da Mesa, se so li ci te do Po der Exe cu ti -vo".

a) có pia de toda a cor res pon dên cia di plo má ti ca de no vem brode 1902 até no vem bro de 1903, tro ca da en tre a Chan ce la ria Bra si -le i ra e os ple ni po ten ciá ri os da Bo lí via, a pro pó si to do li tí gio do Acre;

b) có pia de to dos os te le gra mas e ofí ci os, con fi den ci a is ou não,tro ca dos en tre a Chan ce la ria Bra si le i ra e o nos so Mi nis tro em La Paz, bem como da cor res pon dên cia en tre esse fun ci o ná rio da Re pú bli -ca Bra si le i ra e a Chan ce la ria Bo li vi a na;

c) có pia da cor res pon dên cia di plo má ti ca so bre o mes mo as sun -to en tre a Chan ce la ria Bra si le i ra e o ple ni po ten ciá rio da Re pú bli cado Peru jun to ao Go ver no do Bra sil, bem como das no tas tro ca dasen tre o Mi nis tro bra si le i ro em Lima e a Chan ce la ria Pe ru a na;

d) có pia da cor res pon dên cia en tre a Chan ce la ria Bra si le i ra e oMi nis tro da Re pú bli ca do Peru, a pro pó si to dos con fli tos en tre pe ru a -nos e bra si le i ros, na re gião Ju ruá-Ja va ri .”

Tem a pa la vra o Sr. Enéas Mar tins (Pa u sa).Não está pre sen te, e, se ne nhum Sr. De pu ta do pede a pa la vra, vou

en cer rar a dis cus são.Está en cer ra da a dis cus são e adi a da a vo ta ção.Pas sa-se à or dem do dia.Sus pen do a ses são por cin co mi nu tos, a fim de se re ti ra rem os Srs. es -

pec ta do res, e em se gui da se abri rá a ses são se cre ta.

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Page 109: Tratado de Petrópolis

Sus pen do a ses são à 1 hora da tar de.

O SR. PRESIDENTE – De sig no para ama nhã, a se guin te or dem do dia:Con ti nu a ção da dis cus são úni ca do pro je to nº 1, de 1904, apro van do

o tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre o Bra sil e a Bo lí via. *

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 101

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12ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 25 DE JANEIRO DE 1904*

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

ORDEM DO DIA

É anun ci a da a con ti nu a ção da dis cus são úni ca do Pro je to nº 1, de1904, apro van do o tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre o Bra sil e aBo lí via.

O SR. PRESIDENTE – Sus pen do a ses são por cin co mi nu tos, a fim de sere ti ra rem os es pec ta do res e co me çar a ses são se cre ta.

Sus pen de-se a ses são às 12 ho ras e 25 mi nu tos da tar de.A Câ ma ra re sol veu, a re que ri men to do Sr. Cas si a no do Nas ci men to,

man dar pu bli car o re sul ta do da vo ta ção do Pro je to nº 1, de 1904, queapro va o tra ta do as si na do em Pe tró po lis a 17 de no vem bro de 1903, pe losple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, mo di fi can do, me di an te per mu ta deter ri tó ri os e ou tras com pen sa ções, a li nha di vi só ria en tre os dois pa í ses tra -ça da pelo an te ri or tra ta do de 27 de mar ço de 1887, pro mul ga do pelo de -cre to 4.280, de 28 de no vem bro de 1868.

Vo ta ram sim, isto é, apro va ram o re fe ri do Pro je to nº 1, de 1904, os Srs.Sá Pe i xo to, Enéas Mar tins, Au ré lio Amo rim, Pas sos Mi ran da, Índio do Bra sil,José Eu sé bio, Urba no San tos, Luiz Do min gues, Ani zio de Abreu, Be zer ril Fon te -nel le, Vir gi lio Bri gi do, Fran cis co Sá, Fre de ri co Bor ges, João Lo pes, Ser gio Sa bo -ya, Gon ça lo Sou to, Fon se ca e Sil va, Pe re i ra Reis, Pa u la e Sil va, Abdon Mi la nez, Afon so Cos ta, Pe re i ra de Lyra, João Vi e i ra, Esme ral di no Ban de i ra, Ju lio deMel lo, Cor né lio da Fon se ca, Ânge lo Neto,Wan der ley de Men don ça, Ro dri -gues Do ria, Oli ve i ra Val la dão, Do min gos Gu i ma rães, Ne i va, Le o ve gil do Fil -gue i ras, Cas tro Re bel lo, Fe lix Gas par, Gar cia Pi res, Saty ro Dias, Verg ne deAbreu, Au gus to de Fre i tas, Alves Bar bo sa, To len ti no dos San tos, Edu ar do Ra -mos, Pa ra nhos Mon te ne gro, Ro dri gues Sal da nha, Mar ce li no Mou ra.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 108

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Ber nar do Hor ta, José Mon jar dim, Gal di no Lo re to, He re dia de Sá, Iri neuMa cha do, Nel son de Vas con ce los, Bu lhões Mar ci al, Oscar Go doy, Au gus tode Vas con cel los, Sá Fre i re, Amé ri co de Albur quer que, Eri co Co e lho, Fi de lisAlves, João Ba tis ta, Be li sa rio de Sou za, Gal vão Ba tis ta, Be za mat, La u rin do Pit -ta, Ju lio San tos, Hen ri que Bor ges, Cru vel lo Ca val can ti, Ma u ri cio de Abreu, Oli -ve i ra Fi gue i re do, Car los Te i xe i ra Bran dão, Fran cis co Ve i ga, Vi ri a toMas ca re nhas, Este vão Lobo, Ber nar do Mon te i ro, José Bo ni fá cio, João Luiz,Gas tão da Cu nha, Car los Pe i xo to Fi lho, Pe ni do fi lho, Da vid Cam pis ta, Fran -cis co Ber nar di no, Ante ro Bo te lho, Car ne i ro de Re zen de, João Luiz Alves, Le o -nei Fi lho, Adal ber to Fer raz, Anto nio Za ca ri as, La mou ri er Go do fre do,Hen ri que Sal les, Ca mil lo So a res Fi lho, Ca ló ge ras, Car los Otto ni, Car va lho Bri -to, Wen ces lao Braz, Pá dua Re zen de, Ga leão Car va lal, Mo re i ra da Sil va, Ber -nar do de Cam pos, Fran cis co Ro me i ro, Va le is de Cas tro, Re bou ças deCar va lho, Cos ta Ju ni or, Arnolp ho Aze ve do, Fer nan do Pres tes, Fer re i ra Bra ga, Eloy Cha ves, José Lobo, Pa u li no Car los, Fran cis co Mal ta, Alva ro de Car va -lho, Can di do de Abreu, Car los Ca val can ti, Alen car Gu i ma rães, La me nhaLins, Pa u la Ra mos, Eli seu Gu i lher me, Cas si a no do Nas ci men to e Ves pa si a no de Albur quer que (118).

Res pon dem não, os Srs. Tho maz Ca val can ti, Bri cio Fi lho, Fe lis bel lo Fre i -re, Cos ta Net to, Be ne dic to de Sou za, Lin dolp ho Ser ra, So a res dos San tos, Ju -ve nal Mil ler, Bar bo sa Lima, Ger ma no Hass lo cher, Ange lo Pi nhe i ro, Di o goFor tu na e Ho mem de Car va lho (13).

Foi sem de ba te apro va da a se guin te re da ção fi nal, dis pen sa da deim pres são, a re que ri men to do Sr. Alen car Gu i ma rães e en vi a do o pro je toao Se na do:

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SESSÃO EXTRAORDINÁRIA Nº 1 A – 1904*

Re da ção fi nal do Pro je to nº 1, des te ano, que apro va o tra ta do as si na -do em Pe tró po lis, a 17 de no vem bro de 1903, pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, mo di fi can do, me di an te per mu ta de ter ri tó ri os e ou tras com -pen sa ções, a li nha di vi só ria en tre os dois pa í ses tra ça da pelo an te ri or tra ta -do de 27 de mar ço de 1867, pro mul ga do pelo De cre to nº 4.280, de 28 deno vem bro de 1868.

O Con gres so Na ci o nal re sol ve:

Art. 1º. Fica apro va do, em to das as suas cláu su las, o tra ta do as si na do em Pe tró po lis a 17 de no vem bro de 1903 pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil eda Bo lí via, mo di fi can do, me di an te per mu ta de ter ri tó ri os e ou tras com pen -sa ções, a li nha di vi só ria en tre os dois pa í ses tra ça da pelo an te ri or tra ta dode 27 de mar ço de 1867, pro mul ga do pelo De cre to nº 4.280, de 28 de no -vem bro de 1868.

Art. 2.º Re vo gam-se as dis po si ções em con trário.Sala das Co mis sões, 25 de ja ne i ro de 1904. – Do min gos Gu i ma rães. –

Fer re i ra Bra ga. – Vi ri a to Mas ca re nhas.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 109

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13ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 26 DE JANEIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. PARANHOS MONTENEGRO – Sr. Pre si den te es tan do apro va do poresta Câ ma ra o tra ta do de 17 de no vem bro do ano pas sa do en tre o Bra sil ea Bo lí via, ve nho, em nome das Co mis sões de Cons ti tu i ção, Le gis la ção eJus ti ça e de Orça men to, apre sen tar um pro je to com ple men tar e in dis pen -sá vel, ha bi li tan do o Go ver no a cum prir os com pro mis sos, que as su miu, au -to ri zan do-o a co brar, den tro de cer tos li mi tes, im pos tos e a pro verpro vi so ri a men te, so bre a ad mi nis tra ção do ter ri tó rio e tam bém so bre a dis -tri bu i ção da jus ti ça.

O SR. BRICIO FILHO – É um mons tro.

O SR. PARANHOS MONTENEGRO – Não pas sou des per ce bi do às Co mis -sões re u ni das que, em vez da au to ri za ção tão am pla dada ao Po der Exe cu -ti vo, se ria me lhor que aque les ser vi ços fos sem or ga ni za dos de ta lha da men tepelo Po der Le gis la ti vo, a quem cabe essa atri bu i ção.

Na ex po si ção, que pre ce de ao pro je to, se dá à ra zão do pro ce di -men to das Co mis sões, que ma ni fes tam o seu pen sa men to, sem dis far ces,com toda a fran que za e ver da de, que é de to dos sa bi da.

Pre sen te men te, nes ta qua dra, com esta tem pe ra tu ra, de po is de nove me ses con tí nu os de ses são, é pre ten der o im pos sí vel que rer que aqui se re -u na por mais tem po o nú me ro pre ci so de De pu ta dos e Se na do res, cujama i o ria re si de nos Esta dos.

Fa le mos com a pre ci sa fran que za, sem pro cu rar ilu dir a quem nosouve e a quem nos lê e acom pa nha os nos sos tra ba lhos.

Um pro je to mi nu ci o so, com ple to, não pode ser or ga ni za do às car re i -ras e de vi da men te dis cu ti do ago ra.

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 110

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As Co mis sões ti nham di an te de si, de um lado a im pos si bi li da de da or -ga ni za ção, dis cus são e apro va ção de um pro je to re gu lar, e de ou tro acon tin gên cia de de i xar in te i ra men te aban do na dos, sem ga ran tia de na tu -re za al gu ma, os di re i tos de fa mí lia, de li ber da de, de pro pri e da de e até devida de mais de 60.0000 bra si le i ros, e por tem po in de fi ni do.

O caso é in te i ra men te ex cep ci o nal.Não se po dia co gi tar da aqui si ção de um ter ri tó rio tão ex ten so e re la ti -

va men te po pu lo so, mas onde não há ser vi ço de na tu re za al gu ma or ga ni -za da.

As Co mis sões, aten den do a que não se tra ta de um caso nor mal e à im pos si bi li da de de se fa zer um tra ba lho de fi ni ti vo em ter mos con ve ni en tes,o que só des co nhe ce quem qui ser en fren tar a re a li da de ma ni fes ta e sa bi -da, pre fe ri ram, con fi an do no Go ver no, dar as au to ri za ções cons tan tes do pro -je to, a de i xar sem ga ran tia de es pé cie al gu ma os di re i tos pri va dos de tan tosbra si le i ros.

Não se tra ta de uma or ga ni za ção de fi ni ti va, mas toda pro vi só ria, atéque em nos sa pró xi ma re u nião pos sa mos nos ocu par do as sun to.

Aten den do ain da a que se tra ta de um ter ri tó rio qua se des co nhe ci do, sem que se sa i ba qua is os po vo a dos exis ten tes, suas de no mi na ções, po pu -la ção apro xi ma da e res pec ti vas dis tân ci as, sem o que é im pos sí vel qual -quer or ga ni za ção de fi ni ti va, já se pe di ram as de vi das in for ma ções, o quemos tra cla ra men te que, só for ça das pe las cir cuns tân ci as re fe ri das, as Co -mis sões pro põem que se con ce da tão la tas au to ri za ções, am plas é ver da -de, mas in dis pen sá ve is no mo men to.

Envio a Mesa o pro je to.Vem a Mesa, é lido e vai a im pri mir para en trar na or dem dos tra ba lhos

o se guin te:

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Pro je to nº 5 – 1904Ses são ex tra or di ná ria

Au to ri za o Po der Exe cu ti vo aabrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa -ga men to das des pe sas ori un das dotra ta do con clu í do em 17 de no vem brode 1903, en tre os ple ni po ten ciá ri os doBra sil e da Bo lí via e a dar ou tras pro -vi dên ci as.

A men sa gem do Sr. Pre si den te da Re pú bli ca, de 29 de de zem bro úl ti -mo, sub me ten do à apre ci a ção do Con gres so Na ci o nal o tra ta do con clu í -do em 17 de no vem bro do ano pas sa do pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil eda Bo lí via, não se li mi tou ex clu si va men te a esse ob je ti vo, mas so li ci tou ain -da do Po der Le gis la ti vo, a de vi da au to ri za ção ao Go ver no para fa zer asope ra ções de cré di to ne ces sá ri as à exe cu ção do mes mo tra ta do, e parapro ver a ad mi nis tra ção pro vi só ria e ar re ca da ção das ren das dos ter ri tó ri osre co nhe ci dos como bra si le i ros.

Achan do-se apro va do pela Câ ma ra o tra ta do a que se re fe re à ditamen sa gem, jul gam as Co mis sões de Orça men to e de Cons ti tu i ção, Le gis -la ção e Jus ti ça que é oca sião de cor res pon der a esse voto, apre sen tan doum pro je to de lei re la ti vo às me di das pe di das, e que se fa zem ne ces sá ri ase ur gen tes para a de vi da exe cu ção da que le ato.

A pri me i ra des sas me di das é a que visa ha bi li tar o Go ver no com osme i os in dis pen sá ve is para pa gar à Bo lí via a in de ni za ção que lhe é de vi daem con se qüên cia do art. III do tra ta do.

Ain da que o Go ver no já te nha com lou vá vel pre vi dên cia acu mu la dopar te dos re cur sos ne ces sá ri os para esse fim, é de in tu i ti va ne ces si da deque ele fi que ha bi li ta do com os me i os mais am plos para hon rar o com pro -mis so as su mi do pela Na ção.

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Qu an to à ad mi nis tra ção dos ter ri tó ri os ad qui ri dos, as ta xas que àUnião com pe te co brar, as sim como as ga ran ti as in dis pen sá ve is aos di re i tos pri va dos dos ha bi tan tes da que la zona pelo Po der Ju di ciá rio e das qua isnão po dem ser eles ex clu í dos (mes mo tem po ra ri a men te, e ain da mais porpra zo in de ter mi na do) sem gran de in con ve ni en te, en ten dem as Co mis sõesque são as sun tos para cuja so lu ção de fi ni ti va es cas se ia pre sen te men tetem po ao Con gres so.

São ma té ri as que sus ci tam ques tões cons ti tu ci o na is de alta re le vân -cia, que não po de ri am ser re sol vi das ago ra, com a ne ces sá ria ma du re za,em uma fa ti gan te ses são ex tra or di ná ria, con se cu ti va a uma lon ga ses sãoor di ná ria, em que mu i to na tu ral men te, por mo ti vos in tu i ti vos, sa bi dos e jus ti -fi cá ve is, será de suma di fi cul da de, se não im pos si bi li da de, a re u nião dosCon gres sis tas em nú me ro su fi ci en te e pelo lon go es pa ço de tem po ne ces -sá rio para es tu do e or ga ni za ção dos res pec ti vos pro je tos, que não po demde i xar de pro vo car lar ga crí ti ca e dis cus são.

Por tais mo ti vos, as Co mis sões, ado tan do o al vi tre su ge ri do pelo Sr.Pre si den te da Re pú bli ca em sua men sa gem, pro põem, que nos ter ri tó ri osago ra re co nhe ci dos como bra si le i ros, e onde não há ser vi ço al gum re gu -lar men te or ga ni za do pe las cir cuns tân ci as es pe ci a is em que se acha vam,con ti nue o Go ver no a co brar, den tro dos mes mos li mi tes, as ta xas até ago -ra ar re ca da das, quan do es ses ter ri tó ri os eram con tes ta dos, na exe cu çãodo mo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí via.

Pro põem mais as Co mis sões que seja o Go ver no au to ri za do a no me -ar, pro vi so ri a men te, as au to ri da des e fun ci o ná ri os, que fo rem in dis pen sá ve -is, não só para ar re ca da ção das ta xas, como para os de ma is ra mos daad mi nis tra ção e dis tri bu i ção da jus ti ça, abrin do os cré di tos pre ci sos parapa ga men to do pes so al, ma te ri al e cons tru ções in dis pen sá ve is, aguar dan -do-se a so lu ção de fi ni ti va des ses as sun tos para a pró xi ma re u nião do Po derLe gis la ti vo.

O pro je to pro vi den cia tam bém so bre a emis são de apó li ces, que fo -rem ne ces sá ri as para o fim do art. II do tra ta do, as sim como so bre a cons -tru ção da es tra da de fer ro a que se re fe re o art. VII.

Pro je to

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:

Art. 1.º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un -

das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten -ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim as ne ces sá ri asope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da dí vi da pú bli ca de 3% de ju -ros e 3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti mo do fun do de ga ran -tia ins ti tu í do pela Lei nº 581, de 20 de ju lho de 1899.

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II – A pro ver, pro vi so ri a men te, so bre a or ga ni za ção ad mi nis tra ti va e ju -di ciá ria, bem como a ar re ca da ção das ren das do ter ri tó rio re co nhe ci dobra si le i ro por aque le tra ta do, con ti nu an do a co brar, até o seu li mi te má xi -mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po do mo dus vi ven di ajus ta do com oGo ver no da Bo lí via.

III – A no me ar, pro vi so ri a men te, as au to ri da des e fun ci o ná ri os in dis -pen sá ve is aos ser vi ços que or ga ni zar.

IV – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru çãoda es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art. VII domen ci o na do tra ta do, po den do fa zer ope ra ções de cré di to, ou emis são de tí tu los in ter nos ou ex ter nos, que fo rem ne ces sá ri as.

V – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to de pes so al, ma te -ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trário.

Sala das Co mis sões, 26 de ja ne i ro de 1904. * Pa ra nhos Mon te ne gro, pre -si den te e re la tor. Cas si a no do Nas ci men to. – Cor né lio da Fon se ca. – Mel -

lo Mat tos. – Ja mes Darcy. – Ânge lo Pi nhe i ro. – Álva ro de Car va lho. –Fran cis co Sá. – Da vid Cam pis ta. – Urba no San tos. – Luiz Do min gues. –

Fre de ri co Bor ges. – Fran cis co Ve i ga. – Aní zio de Abreu. – Ga leão Car va -lhal. – La u rin do Pil la.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p. 112/3

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MENSAGEM A QUE SE REFERE O PARECER SUPRASENHORES MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL:

Sub me to ao vos so exa me e apro va ção o tra ta do con clu í do aos 17de no vem bro úl ti mo pe los ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, e jun to aele uma ex po si ção que me en tre gou o Mi nis tro de Esta do das Re la çõesExte ri o res, acom pa nha da de vá ri os do cu men tos.

Se esse pac to me re cer a vos sa apro va ção, peço-vos que ao mes motem po au to ri ze is o Go ver no a fa zer as ope ra ções de cré di to ne ces sá ri aspara a sua exe cu ção, e a pro ver so bre a ad mi nis tra ção pro vi só ria e ar re ca -da ção das ren das dos ter ri tó ri os que fi ca rão re co nhe ci dos como bra si le i ros.

Rio de Ja ne i ro, 29 de de zem bro de 1903.

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES

O SR. DOMINGUES DE CASTRO (pela or dem) – Sr. Pre si den te, peço apa la vra para de cla rar a V. Exa. que, se aqui es ti ves se pre sen te, te ria vo ta dopela ace i ta ção do tra ta do do Acre.

É o que peço a V. Exa. fa zer cons tar da ata.

O SR. PRESIDENTE. – Será aten di do.

O SR. ALFREDO VARELA de cla ra que on tem, por mo ti vo de for ça ma i -or, foi obri ga do a re ti rar-se da Câ ma ra, em mo men to em que lhe pa re cianão ha ver nú me ro para as vo ta ções. Eis por que não deu o seu voto con trao tra ta do de Pe tró po lis.

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14ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA, EM 27 DE JANEIRO DE 1904*

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. RODOLPHO PAIXÃO (pela or dem) – Sr. Pre si den te, pedi a pa la vrauni ca men te para man dar à Mesa a mi nha de cla ra ção de voto a res pe i todo tra ta do de Pe tró po lis.

Não pude com pa re cer à ses são de se gun da-fe i ra por mo ti vo im pe ri -o so, mas se ti ves se com pa re ci do te ria vo ta do a fa vor do mes mo tra ta do.

Envio, pois, à Mesa a mi nha de cla ra ção.Vem à Mesa a se guin te

De cla ra ção

De cla ro que, se es ti ves se pre sen te à ses são de se gun da-fe i ra úl ti ma,te ria vo ta do a fa vor do tra ta do de Pe tró po lis.

Sala das ses sões, 27 de ja ne i ro de 1904. – Ro dolp ho Pa i xão.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.115

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17ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 30 DE JANEIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

É anun ci a da a vo ta ção do Pro je to nº 5, de 1904, au to ri zan do o Po derExe cu ti vo a abrir os ne ces sá ri os cré di to para pa ga men to das des pe sas ori -un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po -ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, e a dar ou tras pro vi dên ci as (2ª dis cus são).

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (pela or dem) – Sr. Pre si den te, an tes devo tar a Câ ma ra o Pro je to nº 5, des te ano, que con fe re ao Go ver no au to ri za -ções de cor ren tes da apro va ção do tra ta do de Pe tró po lis, devo de cla rar à Câ -ma ra que as Co mis sões re u ni das de Orça men to e Cons ti tu i ção, Le gis la ção eJus ti ça têm al gu mas emen das a ofe re cer ao mes mo pro je to. Como, po rém,es tas emen das, sen do das Co mis sões re u ni das de Le gis la ção e Jus ti ça eOrça men to, in de pen dem de pa re cer que não re tar da rá de modo al gum oan da men to dos tra ba lhos da Câ ma ra, re ser vo-me para, em 3ª dis cus são, em nome des tas Co mis sões, vir ofe re cer à Câ ma ra es tas emen das a que me ve -nho re fe rin do.

Peço, pois, à Câ ma ra que haja, em sua alta sa be do ria, de vo tar o pro je total qual está, por isso que os vo tos da dos atu al men te não nos obri ga rão a nãoace i tar re to ques ou mo di fi ca ções no pro je to que foi ofe re ci do.

Era esta a de cla ra ção, que, em nome das Co mis sões re u ni das deOrça men to e de Le gis la ção e Jus ti ça, eu me sen tia na ne ces si da de de fa -zer para pre ve nir ob je ções e ad ver tên ci as fu tu ras.

Era o que ti nha a di zer.

O SR. ENÉAS MARTINS (pela or dem) – Fol guei imen sa men te de ou vir aspa la vras que aca bou de pro fe rir o ilus tra do e emi nen te lí der da ma i o ria daCasa.

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.131

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Como ór gão hu mil de (não apo i a dos) da ban ca da do Ama zo nas, te -nho al gu mas dú vi das, até sob o pon to de vis ta da vo ta ção do pro je to queestá su je i to à con si de ra ção da Casa: ia mes mo pe dir a V. Exa que fi zes se avo ta ção por par tes, por que en tre as au to ri za ções da das ao Go ver no fi gu -ram al gu mas para no me ar fun ci o ná ri os.

Não sei se no re gi me mais lato das au to ri za ções po día mos che gar atal...

O SR. THOMAZ CAVALCANTI – Mu i to bem.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – A no me a ção de fun ci o ná ri os foisem pre atri bu i ção pri va ti va do Po der Exe cu ti vo...

Uma voz – É uma atri bu i ção do ad mi nis tra dor.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO - ...e por isto fiz uma de cla ra ção pre -li mi nar para pre ve nir ob je ções fu tu ras.

O SR. ENÉAS MARTINS – E foi por isso que eu dis se que fol ga va de ou vir a de cla ra ção de V. Exa e que o pro je to será emen da do.

Não po de ria ab so lu ta men te su por que este pro je to, aber ta a sua dis -cus são on tem, on tem mes mo fos se en cer ra da sem de ba te. Por mo ti vo demo lés tia, como tive oca sião de co mu ni car, não pude es tar pre sen te paraapre sen tar um subs ti tu ti vo.

De ma ne i ra ne nhu ma re cu sa mos ao Go ver no os me i os de que ne -ces si te para dar cum pri men to ao Tra ta do de Pe tró po lis, nem res trin gir porfor ma al gu ma as au to ri za ções de que ele ne ces si ta sim ples men te paraad mi nis trar pro vi so ri a men te a re gião do Acre até que o Con gres so te nha re -sol vi do de fi ni ti va men te so bre o caso.

Des de, po rém, que o ilus tre lí der da ma i o ria da Casa aca ba de fa zera de cla ra ção que fez, sim ples men te por um de ver de co e rên cia ve nhode cla rar à Câ ma ra que nós vo ta mos este pro je to uni ca men te com au to ri -za ção am pla ao Go ver no para cum prir o Tra ta do de Pe tró po lis e ad mi nis -trar pro vi so ri a men te a re gião do Acre, até que se te nha re sol vi do so bre ocaso.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Per fe i ta men te e é este o in tu i to damen sa gem.

Em se gui da são su ces si va men te pos tos a vo tos e apro va dos em 2ªdis cus são os se guin tes ar ti gos do:

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Pro je to nº 5, de 1904*

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:

Art. 1º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un -

das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903, en tre os ple ni po ten -ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim as ne ces sá ri asope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da dí vi da pú bli ca de 3% de ju ros e3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti mo do fun do de ga ran tia ins ti tu -í do pela Lei nº 581, de 20 de ju lho de 1899.

II – A pro ver, pro vi so ri a men te, so bre a or ga ni za ção ad mi nis tra ti va e ju -di ciá ria, bem como a ar re ca da ção das ren das do ter ri tó rio re co nhe ci dobra si le i ro por aque le tra ta do, con ti nu an do a co brar, até o seu li mi te má xi -mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po do mo dus vi ven di ajus ta do com oGo ver no da Bo lí via.

III – A no me ar, pro vi so ri a men te, as au to ri da des e fun ci o ná ri os in dis -pen sá ve is aos ser vi ços que or ga ni zar.

IV – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru çãoda es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art. VII domen ci o na do tra ta do, po den do fa zer ope ra ções de cré di to, ou emis sãodos tí tu los in ter nos ou ex ter nos que fo rem ne ces sá ri os.

V – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al, ma te -ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (pela or dem) – Re que i ro a V. Exa que se dig ne con sul tar à Câ ma ra se con ce de dis pen sa de in ters tí cio para queeste pro je to seja dado para a or dem do dia de se gun da-fe i ra.

Con sul ta da a Câ ma ra, é con ce di da a dis pen sa pe di da.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.133

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O SR. PRESIDENTE – Esgo ta das as ma té ri as da or dem do dia, de sig nopara se gun da-fe i ra, 1o de fe ve re i ro, a se guin te or dem do dia:

3ª dis cus são do Pro je to nº 5, de 1904, au to ri zan do o Po der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un das dotra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri osdo Bra sil e da Bo lí via e dar ou tras pro vi dên ci as.

Le van ta-se a ses são às 14 ho ras.

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18ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIAEM 1o DE FEVEREIRO DE 1904**

Pre si dên cia dos Srs. Pa u la Gu i ma rães (Pre si den te), Oli ve i ra Fi gue i re do (1º Vice-Pre si den te) e Pa u la Gu i ma rães (Pre si den te)

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o Sr. Ri be i ro Jun que i ra.

O SR. RIBEIRO JUNQUEIRA – Sr. Pre si den te, ten do eu sido obri ga do, pormo ti vos in de pen den tes da mi nha von ta de, a es tar au sen te à ses são emque foi vo ta do o tra ta do de Pe tró po lis, peço a V. Exa que se dig ne fa zercons tar a ata que, se eu me achas se pre sen te, te ria vo ta do a fa vor do mes -mo tra ta do, vis to que es tou con ven ci do de que a so lu ção dada a ques tãodo Acre foi a mais con sen tâ nea com os in te res ses bra si le i ros. (Mu i to bem,mu i to bem.)

O SR. PRESIDENTE – Qu e i ra o no bre De pu ta do man dar sua de cla ra çãopor es cri to.

Con ti nua o ex pe di en te. (Pa u sa).Se não há quem peça a pa la vra, pas so a or dem do dia.

ORDEM DO DIA

É anun ci a da a 3ª dis cus são do pro je to nº 5, de 1904, au to ri zan do o Po -der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sasori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903, en tre os ple ni po -ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e a dar ou tras pro vi dên ci as.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o Sr. Cas si a no do Nas ci men to.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Não se pro põe, de po is de tan tosme ses inin ter rup tos de tra ba lho sa ses são, vir fa ti gar a aten ção da Câ ma rados De pu ta dos. Não lhe to ma rá mu i to tem po, tan to mais quan to o ob je ti voque o traz a tri bu na é de sua na tu re za sim ples e em pou cas

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.134

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pa la vras po de rá ser ex pres so: con sis te ape nas em ofe re cer, em nome dasCo mis sões re u ni das de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti ça e Orça men to,um subs ti tu ti vo ao pro je to nº 5, de 1904.

Dis se-se pela im pren sa e ou viu-se em con ver sas, acer ca do pro je toem de ba te, o su fi ci en te para de mons trar que em seu tor no ten tou-se cri ar uma at mos fe ra de ani mad ver são e an ti pa tia, fa zen do-se acre di tarque ele im por ta va em uma com ple ta ab di ca ção, por par te do Po der Le -gis la ti vo, de suas prer ro ga ti vas e dos seus di re i tos... Essa at mos fe ra con so li -dou-se em uma opo si ção, que o in cul cou como um mons tro, que lheatri bu iu a fi gu ra de uma co i sa ina u di ta e nun ca vis ta, em uma me di da que, lon ge de pres ti gi ar o Go ver no, sem con se guir esse ob je ti vo vi nha con tri bu irpara a di mi nu i ção do pres ti gio do Po der Le gis la ti vo.

Ora bem. Esse pa vo ro so mons tro, pelo que tem lido e do es tu do dascrí ti cas fe i tas, só o é com re la ção aos dis po si ti vos nos 2 e 3 do pro je to em de -ba te; e por mo ti vo des ses ar ti gos o ora dor tem sido qua li fi ca do de ti ra no ede dés po ta nas crí ti cas a que se vem re fe rin do, e não fal ta ram mes moquem lhe atri bu ís se a idéia ou o in te res se de que rer pre ci pi tar os tra ba lhosle gis la ti vos tão so men te para ob ter com mais fa ci li da de a apro va ção docon vê nio, pac to ou tra ta do que de sa fi ou tais crí ti cas, mais ou me nos apa i -xo na das.

Não é ver da de isso. O ora dor, quan do foi pre sen te à Câ ma ra a men -sa gem do Go ver no ofe re cen do à con si de ra ção e apro va ção do Con gres -so o tra ta do de 17 de no vem bro, ne go ci a do en tre os ple ni po ten ciá ri osbo li vi a nos e bra si le i ros, na ci da de de Pe tró po lis, não foi de opi nião que oas sun to des sa men sa gem de ve ria ser di vi di do em dois pro je tos de lei, e isto em opo si ção à ma i o ria de seus co le gas da Câ ma ra, que pro pug na vamaque la idéia, en ten den do que um pro je to de ve ria apro var pro pri a men te otra ta do e que um ou tro de ve ria au to ri zar o Go ver no a efe tu ar as des pe sasde cor ren tes do mes mo con vê nio.

Con fes sa que não foi des sa opi nião. E di-lo e afir ma que é um ven ci -do, exa ta men te para que bem se ava lie da in jus ti ça com que o tra tamaque les que, na im pos si bi li da de de de te rem a mar cha tri un fan te do pro je -to que apro vou o tra ta do de Pe tró po lis, ago ra se vol tam con tra o ora doraco i man do-o de dés po ta e ti ra no.

Era sua opi nião, re pe te, que os tra ba lhos le gis la ti vos re la ti va men te aesse pro je to de ve ri am en ca mi nhar-se de ou tro modo, e que o art. 2º dopro je to em de ba te, sen do con sec tá rio e ló gi co do tra ta do, de ve ria comeste ser si mul ta ne a men te dis cu ti do. Mas, e des de que a ma i o ria dos seusco le gas pen sa va de ou tra ma ne i ra, in te i ra men te di ver sa, sub me teu à con -si de ra ção de les a sua opi nião e de po is sub me teu a sua à opi nião de les: eis a his to ria ve rí di ca do que se pas sou.

Estu dan do de ti da men te as cláu su las do tra ta do de Pe tró po lis, o ora -dor pas sa em se gui da a de mons trar que as con di ções one ro sas para o Go -

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ver no bra si le i ro, exis ten tes no ter re no das com pen sa ções es ta be le ci das nomes mo acor do, são ou tras tan tas con di ções que, cons tan tes do tra ta do, já apro va do pela Câ ma ra, tem de, for ço sa men te, ser sa tis fe i tas por nós.

São com pen sa ções à Bo lí via, pela ma i or área de ter re no que per depara a per mu ta de ter ri tó ri os e são as des pe sas com a cons tru ção da Estra -da de Fer ro do Ma de i ra ao Ma mo ré; e isto sem fa lar ain da da in de ni za çãore cí pro ca dos dois pa í ses con tra tan tes aos ci da dãos aca so pre ju di ca dospela nova de li mi ta ção de fron te i ras e das des pe sas com o tri bu nal ar bi tralque esse ser vi ço na tu ral men te exi gi rá.

É isto o que cons ta da le tra do art. 2º do pro je to em de ba te, e isto écon se qüen te ime di a to do tra ta do já apro va do.

O art. 3º do pro je to se re fe re à fa cul da de dada ao Go ver no de no me -ar pro vi so ri a men te au to ri da de e fun ci o ná ri os para o ser vi ço que pro vi so ri a -men te se or ga ni zar. Ora, é a isto que as crí ti cas apa i xo na das qua li fi cam demons tru o si da de, quan do au to ri za ções de ca rá ter mu i to mais am plo têmsido con fe ri das pelo Po der Le gis la ti vo ao Exe cu ti vo?

Tais são as cir cuns tân ci as que as acon se lham, e tais se jam os mo -men tos que as jus ti fi quem, e nin guém pode de boa fé con tes tar que o Le -gis la ti vo pra ti ca um ato de sa be do ria con ce den do tais au to ri za ções.

De ma is, tra ta-se de um re gi me es sen ci al men te pro vi só rio, de um ver -da de i ro mo dus vi ven di, que pre va le ce rá até a pró xi ma re u nião do Con -gres so na ci o nal, em maio. Então, o ob je to será am pla men te de ba ti do, asme di das ne ces sá ri as à boa ad mi nis tra ção do ter ri tó rio do Acre se rão de -cre ta das de po is de de mo ra da men te es cla re ci do o as sun to, já sob seu as -pec to fi nan ce i ro e eco nô mi co, já em face das pu ra men te ad mi nis tra ti vas.

O mo dus vi ven di es ta be le ci do en tre os go ver nos bra si le i ro e bo li vi a noain da não ter mi nou; ele exis te e exis ti rá até que se jam ra ti fi ca dos os ter mosdo tra ta do de 17 de no vem bro. Ora, a si tu a ção des se mo dus vi ven di nãose al te ra rá, pois, até mar ço, tal vez até abril, pró xi mo; e é por isso que, fin -dan do esse mo dus vi ven di em oca sião em que não fun ci o ne o Con gres so,faz-se mis ter apa re lhar o Go ver no de me i os e dotá-lo de po de res ne ces sá ri -os para ad mi nis trar pro vi so ri a men te a nova re gião ad qui ri da, até que umalei de fi ni ti va seja de cre ta da pelo Con gres so Na ci o nal na fu tu ra ses são.

É pre ci so que fi que au to ri za do o Go ver no a pro ce der à boa ar re ca da -ção das ta xas. Como, po rém, es tas ta xas se des ti nam, pelo nº 1 do seusubs ti tu ti vo, à cons ti tu i ção do fun do de ga ran tia, é bem de ver o Go ver nonão po de rá ar re ca dá-las sem tal au to ri za ção.

Em res pos ta ao Sr. Esme ral di no Ban de i ra, que per gun ta qual o com -pe ten te para co brar, qual a lei que vai vi go rar, res pon de o ora dor que a au -to ri da de que for no me a da, mi li tar ou ci vil, e a pro pó si to lê o nº 2 do seusubs ti tu ti vo, por onde se verá o modo como pen sa a res pe i to.

Não tra ta de or ga ni zar o ter ri tó rio, pois se jul ga in com pe ten te para le -gis lar so bre o as sun to. O seu in tu i to, no mo men to, é man ter a si tu a ção ali

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con ser va da, du ran te um mês ou mês e meio, não achan do cri te ri o so, nemcon ve ni en te, fa zer-se uma or ga ni za ção ago ra e ou tra pou co de po is.

Os que en ten dem que se não deve de i xar sem jus ti ça os ci da dãosbra si le i ros da nova re gião su ble vam-se e ir ri tam-se. No pro je to é dada au to -ri za ção para or ga ni zar a jus ti ça, ao pas so que o seu subs ti tu ti vo su pri meessa par te, man ten do o sta tu quo até que o Con gres so pos sa le gis lar efi -caz men te na pró xi ma ses são or di ná ria.

Não se pode es tar a le gis lar de i xan do de par te cir cuns tân ci as de fato,tem po e lu gar.

Para que or ga ni zar uma co i sa que da qui a três me ses terá fa tal men tede ser re or ga ni za da?

Em res pos ta ao Sr. Esme ral di no Ban de i ra, que acha que o Con gres socum pre o seu de ver vo tan do as ba ses pro vi só ri as ou não, que é atri bu i çãosua, afir ma o ora dor ser a mes ma co i sa de le gar com ba ses ou não. A obri -ga ção é de le gis lar. (Tro cam-se vá ri os apar tes).

De cla ra que não pres ta rá, nem o seu con cur so, nem o seu voto, paraor ga ni zar ago ra uma co i sa que será fa tal men te mo di fi ca da.

A sua opi nião está ex pres sa no subs ti tu ti vo que ofe re ce. Não quer daras ba ses, por que não com pre en de que haja van ta gem em ocu par-seago ra o Con gres so com essa le gis la ção. (Apar tes.).

Além dis to, o ter ri tó rio ain da per sis te no re gi me do mo dus vi ven di, per -sis ti rá du ran te fe ve re i ro e mar ço e, qui çá, tam bém du ran te o mês de abril.Em maio, quan do es ti ver re u ni do o Con gres so, se le gis la rá com com ple toco nhe ci men to de ca u sa, tem po e lu gar so bre todo o ter ri tó rio.

Em res pos ta ao Sr. Ca ló ge ras, que in da ga o que se fará se, por exem -plo, al guém se qui ser ca sar nes se tem po, diz o ora dor que se al guém qui ser ca sar até 2 de maio, ca sa rá como se tem ca sa do até ago ra.

Ao pro je to que os seus no bres co le gas apre sen ta rem or ga ni zan do oter ri tó rio do Acre, de cla ra o ora dor que lhe nega o voto, por não que rer le -gis lar so bre o que não co nhe ce.

A idéia que teve ao apre sen tar o seu subs ti tu ti vo, foi a de con ci li ar domodo mais ra zoá vel to das as opi niões. Se, po rém, o seu subs ti tu ti vo nãoofe re ce essa con ci li a ção e se os seus co le gas que rem de fi ni ti va men te le -gis lar so bre o Acre, que o fa çam com os seus vo tos.

Lê o ora dor os nos 1, 2 e 3 do seu subs ti tu ti vo para mos trar que nele nãohá atri bu i ções de le ga das ao Po der Exe cu ti vo. O nº 1 ape nas au to ri za o Go -ver no a fa zer as ope ra ções de cré di to ne ces sá ri as a sa tis fa zer os com pro -mis sos ori un dos do tra ta do.

De cla ra que a idéia da emis são de tí tu los foi apre sen ta da por co le gas que cri ti ca ram o pro je to, de modo que, ace i ta ela, sem pre su pôs que ar re -da da fi cas se a crí ti ca.

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Pon do de par te al gum de fe i to de re da ção, fica toda a crí ti ca ao subs -ti tu ti vo cir cuns cri ta ao se guin te: a ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio ad -qui ri do.

Assim, quan to ao pro je to, clas si fi ca do como mons tro, a di ver gên ciaque man tém com os co le gas que o apre sen ta ram está cir cuns cri ta ao se -guin te: pen sa o ora dor que se deve man ter a si tu a ção que vai ser man ti dapor for ça do mo dus vi ven di até abril, que se deve pro lon gá-la por um oudois me ses, até que se pos sa le gis lar efi caz men te a res pe i to, por isso li mi -ta-se a di zer ao Go ver no: “O Sr. ad mi nis tra e não pode co brar ma i o res ta xas do que já co bra”; li mi ta a sua ação.

Per ce be ago ra que, com o subs ti tu ti vo, não sa tis fez os opo si to res dopro je to, que que rem fa zer um ou tro com ple to, di zen do quan tos ta be liães e ju í zes o Acre de ve rá ter, quan tos es cri vães se rão no me a dos, etc. Se as simqui se rem fa zer, o ora dor só terá de su bor di nar-se à opi nião de V. Exa (Apar -tes).

Pro cu rou fa zer o me lhor, aqui lo que lhe pa re cia a úni ca co i sa pos sí velno mo men to.

Po dem, en tre tan to, os seus co le gas or ga ni zar um ou tro pro je to, di zen -do em quan tas co mar cas se di vi di rá o ter ri tó rio, que le gis la ção de ve rá serapli ca da, etc.

Res pon den do a um apar te do Sr. Esme ral di no Ban de i ra, que per gun ta qual é essa le gis la ção, diz o ora dor que vi go ra a lei da Re pú bli ca. (Tro -cam-se vá ri os apar tes).

Em res pos ta ain da ao Sr. Esme ral di no Ban de i ra, que pede às lu zes doora dor a de cla ra ção da le gis la ção que vi go ra rá no ter ri tó rio, por não ter até hoje o Con gres so le gis la do a tal res pe i to e não as sis tir ao Po der Exe cu ti vocom pe tên cia para tal, diz que, se se de cla ra o ter ri tó rio acres ci do à Na ção, esse ter ri tó rio está su je i to à le gis la ção na ci o nal. (Apar tes.).

Diz o ora dor que a im pug na ção fica cir cuns cri ta ao nº 2 do pro je to oudo subs ti tu ti vo.

O pro je to au to ri za va o Go ver no a pro ver a or ga ni za ção ju di ciá ria e ci -vil; o subs ti tu ti vo su pri me es sas pa la vras, dá ape nas o po der de ad mi nis traro ter ri tó rio até que o Go ver no le gis le a res pe i to.

Per gun tan do-lhe ain da com que lei vai o Go ver no ad mi nis trar, res pon -de o ora dor que há um re mé dio: in ter ca lar no subs ti tu ti vo a in ci den te, vi go -ran do aí a le gis la ção na ci o nal. (Apar tes).

Não acha que se deva abor dar o pro ble ma da or ga ni za ção do ter ri -tó rio sem se co nhe ce rem umas tan tas co i sas que são ne ces sá ri as; é ab sur -do le gis lar sem co nhe ci men to de ca u sa.

Quem vê os pa í ses pe las car tas ge o grá fi cas não está apto a le gis larpara eles.

É sa bi do que exis tem duas cor ren tes de opi nião: uns en ten dem quenão se deve de i xar a Câ ma ra sem dar or ga ni za ção ao Acre; e ou tros en -

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ten dem que se deve adi ar o as sun to para que, sen do em maio pró xi mopres ta das in for ma ções pelo Go ver no, se le gis le com per fe i to co nhe ci men -to de ca u sa. Assim se dará tem po a que o Go ver no co gi te de no me ar umaco mis são que ha bi li te, di an te de es tu dos por ela fe i tos, o Con gres so a le gis -lar efi caz men te.

O que se faz pre ci so, diz o ora dor, é uma lei para co brar as ta xas de -po is de aca ba do o mo dus vi ven di; do con trá rio di fí cil será re gu lar aque la si -tu a ção em ma té ria de tri bu ta ção.

Se a Câ ma ra não se con for mar com este modo de ver, res ta ao ora -dor aca tar a sua opi nião. O modo de ver das co mis sões é esse que estácon sig na do no subs ti tu ti vo; se, po rém, os no bres De pu ta dos en ten de remde ver emen dá-lo, o ora dor e seus com pa nhe i ros se rão dó ce is a to das asob ser va ções, mes mo as vin das de opo si ci o nis tas.

Em sua opi nião, a Câ ma ra não está su fi ci en te men te ha bi li ta da a le -gis lar efi caz men te so bre um ter ri tó rio que não co nhe ce; e é por isso mes mo que o ora dor aguar da com aca ta men to as pa la vras de seus co le gas. (Mu i -to bem; mu i to bem. O ora dor é vi va men te cum pri men ta do.)

Vem à Mesa, é lido, apo i a do e pos to con jun ta men te em dis cus são ose guin te:

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:

Art. 1º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un -

das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten -ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim as ne ces sá ri asope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da dí vi da pú bli ca de 3% de ju -ros e 3% de amor ti za ção anu a is e con tra ir em prés ti mo do fun do de ga ran -tia ins ti tu í do pela Lei no 581, de 20 de ju lho de 1899; fi can do con sig na da àre cons ti tu i ção do mes mo fun do toda a ren da ar re ca da da no ter ri tó rio orare co nhe ci do como bra si le i ro.

II – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te aque le ter ri tó rio, con ti nu an do a co -brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po de mo dusvi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí via e os de ma is im pos tos fe de ra is.

III – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru çãoda es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art. VII domen ci o na do tra ta do, po den do fa zer ope ra ções de cré di to ou emis são detí tu los in ter nos ou ex ter nos que fo rem ne ces sá ri as, não ex ce den do 4% deju ros e ½% de amor ti za ção para os tí tu los ex ter nos e 5% e ½% para os in -ter nos.

IV – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al, ma te -ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

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Sala das Co mis sões, 30 de ja ne i ro de 1904. – Cas si a no do Nas ci -men to – Mel lo Mat tos – Da vid Cam pis ta – Ja mes Darcy – Ga leão Car va -lhal – La u rin do Pita – Luiz Do min gues – F. Ve i ga – Urba no San tos – F.Bor ges.

Vêm à Mesa, são li das, apo i a das e en vi a da às Co mis sões re u ni das as se -guin tes.

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EMENDAS AO PROJETO Nº 5, DE 1904

Ao art. 1o, I.Re di ja-se como se gue:I – a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas

ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre osple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do para tal fim fa zer asse guin tes ope ra ções de cré di tos:

a) emi tir tí tu los da dí vi da pú bli ca, 3% de ju ros e 3% de amor ti za -ção anu al, para o pa ga men to das re cla ma ções pre vis tas no art. II domen ci o na do tra ta do;

b) emi tir bi lhe tes do Te sou ro res ga tá ve is den tro de 30 me ses dadata da sua emis são;

c) con tra ir um em prés ti mo, até £1.000.000(um mi lhão de li brases ter li nas), ao fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela Lei no 581, de 20 de ju -lho de 1899.

A to ta li da de das ren das ar re ca da das no ter ri tó rio ad qui ri do emvir tu de do men ci o na do tra ta do se apli ca rá à amor ti za ção des te em -prés ti mo.

Sala das ses sões, 1o de fe ve re i ro de 1904, – Ca ló ge ras.

Ao art. 1o, II e III.Subs ti tu am-se pelo se guin te:II – a pro ver so bre a ar re ca da ção das ren das do ter ri tó rio re co -

nhe ci do bra si le i ro por aque le tra ta do, cri an do pro vi so ri a men te pos tosfis ca is, para os qua is co mis si o na rá o ne ces sá rio pes so al, e ex pe din doins tru ções que dêem as nor mas para se co bra rem:

a) as ta xas, até seu li mi te má xi mo, ali ar re ca da das ao tem po domo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí via;

b) os im pos tos de in dús tri as e pro fis sões, de acor do com as ta be -las vi gen tes na ci da de de Ma na us;

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c) o im pos to de trans mis são de pro pri e da de, se gun do as ta xasvi gen tes no Esta do do Ama zo nas;

d) os im pos tos fe de ra is, em vi gor em toda a Re pú bli ca.III – a or ga ni zar pro vi so ri a men te a ad mi nis tra ção do ter ri tó rio re -

co nhe ci do bra si le i ro por aque le tra ta do, den tro das se guin tes li mi ta -ções:

a) a ad mi nis tra ção, cuja sede o Go ver no de sig na rá, será exer ci -da por um go ver na dor, ci vil ou mi li tar, au xi li a do por um se cre tá rio,am bos de li vre no me a ção e de mis são do Pre si den te da Re pú bli ca;

b) o go ver na dor co mis si o na rá os fun ci o ná ri os in dis pen sá ve ispara au xi liá-lo no de sem pe nho de suas fun ções ad mi nis tra ti vas, de fi ni -das as atri bu i ções da que les em re gu la men to apro va do pelo Go ver noFe de ral; não po den do a des pe sa com o pes so al ad mi nis tra ti vo ex ce derde cen to e cin qüen ta con tos de réis, anu al men te;

c) ao go ver na dor com pe tem as atri bu i ções ad mi nis tra ti vas con -fe ri das pelo Go ver no Pro vi só rio pro cla ma do a 15 de no vem bro de 1889 aos go ver na do res dos Esta dos, com as li mi ta ções re sul tan tes da Cons -ti tu i ção Fe de ral e des ta lei;

d) a po lí cia pre ven ti va e re pres si va será exer ci da por um che fede se gu ran ça, de no me a ção do go ver na dor, e pe los fun ci o ná ri os au xi -li a res que fo rem in dis pen sá ve is não po den do a des pe sa com o ma te ri ale pes so al em pre ga dos nes te ser vi ço ex ce der de du zen tos con tos de réis anu al men te;

e) o po der ju di ciá rio será exer ci do em pri me i ra ins tân cia por ju í -zes do dis tri to, até o má xi mo de qua tro, cri a dos pelo Go ver no Fe de ralnas cir cuns cri ções que de sig nar, au xi li a dos pe los ne ces sá ri os es cri -vães, ofi ci a is do re gis tro e da jus ti ça; em se gun da ins tân cia por um tri -bu nal de três mem bros, au xi li a do por um se cre tá rio, um es cri vão e umofi ci al de jus ti ça;

f) o Mi nis té rio Pú bli co será exer ci do por um pro mo tor de jus ti çaem cada dis tri to ju di ciá rio, onde fun ci o na rá igual men te o tri bu nal dojúri;

g) para a ad mi nis tra ção da jus ti ça ter ri to ri al se rão ob ser va das,no que fo rem apli cá ve is nas ca sas ci vis e cri mi na is, as leis pro ces su a isdo Esta do do Ama zo nas, com pe tin do aos ju í zes do dis tri to as atri bu i -ções cu mu la ti vas dos an ti gos ju í zes mu ni ci pa is e de di re i to, além da ce -le bra ção dos ca sa men tos;

h) os ju í zes e pro mo to res se rão no me a dos pelo Pre si den te daRe pú bli ca e, uma vez em pos sa dos nos seus car gos, ser vi rão até que oCon gres so pro vi den cie so bre a or ga ni za ção de fi ni ti va do ter ri tó rio re -co nhe ci do bra si le i ro por aque le tra ta do;

i) os au xi li a res da ad mi nis tra ção da jus ti ça se rão no me a dos pe -los res pec ti vos ju í zes;

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j) nas ca u sas de ju ris di ção pri va ti va da jus ti ça fe de ral, o forocom pe ten te será o da se ção do Esta do do Ama zo nas,até que o Con -gres so Fe de ral pro vi den cie so bre a or ga ni za ção de fi ni ti va do ter ri tó rio re co nhe ci do bra si le i ro por aque le tra ta do.

k) o Go ver no mar ca rá os ven ci men tos dos fun ci o ná ri os, não ex -ce di dos os má xi mos cons tan tes da ta be la ane xa; aos ofi ci a is de jus ti ça e aos es cri vães com pe ti rão às cus tas do re gi men to em vi gor no Esta dodo Ama zo nas.

Ta be la a que se re fe re a leiVen ci men to men sal má xi mo

Go ver na dor ...........................................4:000$000Che fe de se gu ran ça...............................1:500$000Se cre tá rio do go ver no..........................1:000$000Ju í zes do dis tri to....................................1:500$000Ju í zes do tri bu nal...................................1:500$000Pro mo to res de jus ti ça...............................800$000Se cre tá rio do tri bu nal...............................800$000

Sala das ses sões, 1o de fe ve re i ro de 1904, – Ca ló ge ras.

Ao art. 1o, IV.Re di ja-se como se gue:IV – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para tor nar

efe ti va a cons tru ção da es tra da de fer ro que o Bra sil com pro me teu se afa zer pelo art. VII da que le tra ta do, po den do, para esse fim, fa zer as ne -ces sá ri as ope ra ções de cré di to, in clu si ve a emis são de tí tu los da dí vi dapú bli ca, quer in ter na, quer ex ter na. No pri me i ro caso, os ju ros se rão de 5% e a amor ti za ção de ½% ao ano; no se gun do se rão de 4% e a amor ti -za ção de ½% ao ano.

Sala das ses sões, 1o de fe ve re i ro de 1904, – Ca ló ge ras.

O SR. NEIVA – Sr. Pre si den te, an tes da im pren sa se ter ma ni fes ta -do acer ca do atu al pro je to, an tes de ser ou vi da a opi nião dos com pe ten -tes, eu ha via de cla ra do a mais de um ami go que usa ria da pa la vra ares pe i to.

Não te nho in tu i tos opo si ci o nis tas, em bo ra per ten ça ao pe que nonú me ro da que les que se ar ro gam a li ber da de de não acom pa nhar in li -mi ni tudo quan to pro ce de do Go ver no; mas, jus ta men te por que o apo io, vo tei sem dis cu tir, o pro je to re la ti vo ao Tra ta do de Pe tró po lis; por que

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nes ta ques tão de gran de al can ce, de sa bi da im por tân cia, é que pen soque se po dem ma ni fes tar os ver da de i ros go ver nis tas; e nas ques tõesim por tan tís si mas de que o Go ver no faz apa ná gio e que até como quefa zem par te do seu pro gra ma.

Nas co i sas mí ni mas, po rém, de que o Go ver no, como pre tor que é, não se deve ocu par, na qui lo que diz res pe i to à nos sa eco no mia ou,prin ci pal men te, à nos sa au to no mia, tomo a li ber da de, não de ten tar im -por a mi nha opi nião, mas de ex pen dê-la com fran que za.

Não ve nho Sr. Pre si den te, dis cu tir se o pro je to deve ou não dar aoGo ver no au to ri za ção e se ela deve ser mais ou me nos lata.

Se eu me re pu tas se com pe ten te, se eu per ten ces se a essa tur ba deim por tan tes ba cha réis que, tão dis tin tos quo ti di a na men te dão pro vado seu sa ber e da sua in ques ti o ná vel com pe tên cia, tal vez que me ar ro -gas se o di re i to de lem brar que a nós ca be ria o de or ga ni zar o pro je to,não de le gan do a ou tros aqui lo que eu re pu to ser com ple ta men te pri vi -lé gio nos so.

Po de ria em abo no da mi nha opi nião ci tar até a de Mi nis tros quejá aqui ocu pa ram o lu gar de De pu ta dos. Mas não é dis so que ve nhotra tar. Con ti nuo a di zer: não sou opo si ci o nis ta e, mais do que nun ca,hoje, quan do mes mo ti ves se al gu ma co i sa a ob je tar, ca lar-me-ia, aquifi ca ria; e es ta ria mais do que nun ca para dar ar ras das aten ções deque deve ser cre dor o Go ver no, aten ções que de vem exis tir cons tan teen tre os po de res Le gis la ti vo e Exe cu ti vo para que me lhor se com pre -en dam e sir vam mu tu a men te e à pá tria, prin ci pal men te os seus re pre -sen tan tes.

E a ra zão que eu te nho para não apre sen tar emen das nem ao pro -je to pri mi ti vo nem ao subs ti tu ti vo, que aca ba de ser lido e tão la ta men te fun da men ta do pelo ilus tre lí der, é fun da da nas pa la vras do pro je to pri -mi ti vo, que di zem que se tra ta de ma te ri al trans cen den tal; e V. Exa sabeque eu ape nas es pio a Cons ti tu i ção e mal so le tro o Re gi men to (riso).

Mas, por isso mes mo que afi nal leio o Re gi men to, é que me pa re ce que o art.104 des ta nos sa Cons ti tu i ção-mi rim veda que vo te mos en glo -ba da men te este pro je to ou mes mo o subs ti tu ti vo ven ce dor do ilus tre lí -der.

O SR. JOÃO LOPES – Já ven ceu?

O SR. NEIVA – Ven ce dor, sim, por que tem a as si na tu ra do ilus trelí der, dos mem bros das Co mis sões de Orça men to e Le gis la ção, en treos qua is fi gu ram pro e mi nen tes re pre sen tan tes das ban ca das do RioGran de do Sul, São Pa u lo, Rio de Ja ne i ro, Mi nas Ge ra is e de vos so pró -prio Ce a rá, en fim das ban ca das mais va lo ro sas pelo sa ber e tam bémpelo nú me ro, que é um co e fi ci en te al ta men te im por tan te nes tes ca sos(riso).

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É cer to que eu ti nha to ma do as mi nhas no tas para me me ter nadis cus são; mas te nho re ce io de que se dê co mi go o que se con ta ter-sedado com um sí mio que en trou em uma loja de lou ça e tudo que brou.Re ce io es ban da lhar es ses li vros que vejo em tor no de mim e... nes tecaso ... não dis cu to (Riso). Noto que nes tas ques tões po lí ti cas cons tan -te men te apa re cem tur bu len tos des ta es pé cie: não que ro fa zer par te dogru po.

Bem sei que não es tou to man do tem po à Câ ma ra; es tou a cum prirmu i to li ge i ra men te um de ver, e con cor re tam bém mu i to para que nãome de mo re por mais tem po na tri bu na o for te in co mo do que há dias me aca bru nha, pri van do-me ain da on tem de es tar ao lado de ami gos aosqua is de via abra çar, de po is do pré lio ele i to ral em que fo ram tão bri -lhan te men te ven ce do res; uso ape nas da pa la vra para apre sen tar umre que ri men to.

Não há nú me ro para se vo tar, mes mo o cré di to para pa ga men todo sub sí dio dos De pu ta dos (Riso). Acres ce que há ou tros ora do res ins -cri tos e eu es tou a con clu ir. Te mos ain da duas ho ras di an te de nós,duas ho ras não pro ble má ti cas, mas até mu i to pos sí ve is de pror ro ga -ção. Por tan to, nes tas con di ções, Sr. Pre si den te, nin guém dirá que euque ro obs tru ir. Não, se nho res, va mos vo tar tudo, por que te nho in te -res se em que se vote, a co me çar pelo pro je to que se acha em pri me i rolu gar na or dem do dia e já en cer ra do (Riso).

O SR. ENÉAS MARTINS – O pro je to que V. Exa dis cu te ain da vai àCo mis são para dar pa re cer so bre as emen das apre sen ta das.

O SR. NEIVA – E, de ma is, o Se na do pre ten de dis cu tir com a de vi -da lar gue za o pro je to re la ti vo ao tra ta do.

O que ve nho ora pe dir, é que cons ti tua um pro je to a par te o art.1o

do pro je to ou do art. 1o do subs ti tu ti vo, se este vin gar, como tudo leva acrer, o que é a mes ma co i sa, ape nas com acrés ci mo re la ti vo ao em prés -ti mo do fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela Lei no 581 de 20 de ju nho de1890, de ter mi nan do que seja apli ca da à re cons ti tu i ção des se fun do aren da que se ar re ca dar nos ter ri tó ri os que, pelo tra ta do, fi ca rão re co -nhe ci dos como bra si le i ros.

Se não são es tas tex tu al men te as pa la vras do pro je to subs ti tu ti voque aca ba de ser lido, é com cer te za esse o sen ti do. Jul gan do eu as simde ver ser ace i to o ar ti go, que, es pe ro, acor de com o meu re que ri men to, ve nha à for mar um pro je to que será vo ta do sem dis cus são, o que pa re -ce mais acer ta do, re gi men tal e qui çá mes mo cons ti tu ci o nal men te.(Apo i a dos).

Enten do que uma co i sa é o tra ta do e ou tra co i sa é o cré di to para ain de ni za ção bo li vi a na e para o iní cio das obras ...ama zo nen ses...en fimda es tra da de fer ro Ma de i ra – Ma mo ré, ou ou tra qual quer, que pelo

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nome não se a per ca; ou tra co i sa ain da é a au to ri za ção dada ao Go ver -no para pro ver os me i os de ad mi nis trar e di ri gir os ter re nos qui ri los.

Nes tas con di ções, Sr. Pre si den te, é que apre sen to este re que ri -men to, e acho que não obs ta ele a co i sa al gu ma: do mes mo modo por -que a pró pria co mis são re sol veu cor ri gir, emen dar a mão, por que oseu tra ba lho era hu ma no e pre ci sa va de uma al te ra ção, de um re to que,en fim por mais li ge i ro que fos se; as sim tam bém pode re sol ver ace i tar ajus ta se pa ra ção que pro po nho.

O pro je to pode ser vo ta do em pri me i ro lu gar, isto é, o que se con -tém na sua pri me i ra par te deve ser vo ta do sem dis cus são , por que nãoacho que es ses De pu ta dos que em tão gran de nú me ro vo ta ram o tra ta -do que i ram ne gar o seu voto ao pro je to de cré di to pre ci so para a in de -ni za ção à Bo lí via e o iní cio das obras da es tra da de fer ro que a ela vaiser vir e mais nos unir, e que é o co ro lá rio de ou tro pro je to.

Nes tas con di ções, Sr. Pre si den te, en vio à Mesa o meu re que ri -men to, para que o art.1o do pro je to ou do subs ti tu ti vo cons ti tua umpro je to a par te.

Vê V. Exa , Sr. Pre si den te que fa lei ape nas uns mi nu tos.

O SR. JOÃO LOPES – Com gran de pe sar nos so. (Apo i a dos).

O SR. NEIVA – Mais uma vez acen tuo: o meu re que ri men to visaape nas o art. 1o do pro je to ou do subs ti tu ti vo, do que for en fim vo ta doem pri me i ro lu gar ou ti ver pa re cer fa vo rá vel das Co mis sões co li ga das.

Re pi to: não te nho com pe tên cia para dis cu tir a au to ri za ção naspar tes re la ti vas às or ga ni za ções ad mi nis tra ti vas ju di ciá ri as, pelo quenão me em bre nho nes ta dis cus são, em bo ra re co nhe ça que a Cons ti tu i -ção nos con fe re esse di re i to e que os com pe ten tes, que são tan tos, nãode vem de le gá-lo ou sub de le gá-lo (Riso).

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – E V. Exa há de con tri bu irpara fazê-lo em maio

O SR. NEIVA – V. Exa sabe que sem pre o acom pa nho na qui lo...que me é pos sí vel (Riso. Mu i to bem mu i to bem).

Vem à Mesa, é lido apo i a do e pos to con jun ta men te em dis cus são o se guin te:

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Re que ri men to

Re que i ro que o art. 1o cons ti tua um pro je to à par te.

Sala das ses sões, 1o de fe ve re i ro de 1904. * – J. A. Ne i va

Con ti nua a 3ª dis cus são do pro je to no 5 de 1904, au to ri zan do o Po -der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des -pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en treos ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e a dar ou tras pro vi dên ci as.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o Sr. Bri cio Fi lho.O SR. BRICIO FILHO – Diz que vem com ba ter o pro je to das duas

co mis sões re u ni das e o subs ti tu ti vo apre sen ta do pelo Sr. Cas si a no doNas ci men to, por que am bos aten tam con tra as prer ro ga ti vas do Con -gres so Na ci o nal.

Antes de en trar pro pri a men te na ma té ria, seja lí ci to di ri gir umacen su ra à Mesa por ha ver pos to em or dem do dia o pro je to pre sen tean tes que o Se na do se te nha pro nun ci a do a res pe i to. É para es tra nharque es te ja mos pro vi den ci an do so bre a si tu a ção do Acre an tes que aou tra Casa do Con gres so te nha dito se apro va ou não o tra ta do de Pe -tró po lis. O fato im por ta, além dis so em uma des con si de ra ção ao ou troramo do Po der Le gis la ti vo.

O Sr. Cas si a no do Nas ci men to, no dis cur so há pou co pro fe ri do,pro cu rou re ba ter as cen su ras fe i tas pela im pren sa à con du ta do Po derLe gis la ti vo, mas aca bou con fes san do a jus ti ça do ata que di ri gi do aoCon gres so Na ci o nal no mo men to em que re co nhe ceu ser ne ces sá rioapre sen tar mo di fi ca ções para evi tar que se en xer gas se nas dis po si ções do pro je to a ali e na ção de atri bu i ções ine ren tes ao Con gres so. Nun cauma cen su ra da im pren sa foi mais apro pri a da. Afo ra um ou ou tro ter -mo es pe ro um ou ou tro vo cá bu lo mais pe sa do, o ora dor subs cre ve acrí ti ca se ve ra dos jor na is des ta Ca pi tal ao ato da Câ ma ra dos De pu ta dos,

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.140

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con fe rin do ao Exe cu ti vo po de res ili mi ta dos, com pre ju í zo da ação par -la men tar. O pro je to que isso pro põe é um pro je to – mons tro, como foiclas si fi ca do pela im pren sa e pelo ora dor em apar tes no mo men to desua apre sen ta ção.

Infe liz men te o Sr. Cas si a no do Nas ci men to, que re co nhe ceu a ne -ces si da de de emen dar, fê-lo de modo ne ga ti vo, pro pon do um subs ti tu -ti vo que re ú ne os arts. 2o e 3o do pro je to em um só, au to ri zan do oGo ver no a ad mi nis trar o Acre, sem pro por uma base, sem es ta be le cerum li mi te à ação go ver na men tal, o que im por ta em am pli ar as dis po si -ções do pro je to pri mi ti vo. É o caso de afir mar que saiu pior a emen dado que o so ne to.

O ora dor não pode con cor dar com o pro je to, por que, além de ou -tros mo ti vos, uma vez apro va do, o Go ver no no me a rá à sua von ta de osem pre ga dos que qui ser e mar ca rá os seus ven ci men tos, quan do peladis po si ção do nº 25 do art. 34 da Cons ti tu i ção com pe te pri va ti va men teao Con gres so Na ci o nal cri ar ou su pri mir em pre gos pú bli cos fe de ra is,fi xar-lhes as atri bu i ções e es ti pu lar-lhes os ven ci men tos.

A um apar te do Sr. Luiz Do min gues de que se tra ta de um caso es -pe ci al, o ora dor res pon de que a Cons ti tu i ção não faz ex ce ção para osca sos es pe ci a is.

Ana li san do a ex po si ção que o Sr. Pa ra nhos Mon te ne gro, re la tor,for mu lou ao apre sen tar o pro je to, en con tra o ora dor, en tre ou tros ar -gu men tos, esta ori gi na li da de: “Pre sen te men te, nes ta qua dra, com estatem pe ra tu ra, de po is de nove me ses con tí nu os de ses são, é pre ten der oim pos sí vel que rer que aqui se re ú na por mais tem po o nú me ro pre ci sode De pu ta dos e Se na do res, cuja ma i o ria re si de nos Esta dos.”

Re al men te é in crí vel que se ve nha jus ti fi car uma me di da gra vís si -ma com um ar gu men to des ta or dem, como se os re pre sen tan tes da Na -ção não ti ves sem a obri ga ção de tra ba lhar para bem pu bli co du ran te aes ta ção cal mo sa.

Espe ra que o re la tor ve nha de fen der a sua obra. Ou vin do emapar te que V. Exa se re ti ra ra para o Esta do da Ba hia, faz vo tos para queos po de ro sos mo ti vos que o fi ze ram de i xar os tra ba lhos par la men ta resnão se jam os de cor ren tes da ele va ção da tem pe ra tu ra e dos nove me -ses con tí nu os de ses sões.

Pros se guin do na de fe sa do pro je to, dis se o re la tor:“Não se tra ta de uma or ga ni za ção de fi ni ti va, mas toda pro vi só ria,

até que em nos sa pró xi ma re u nião nos pos sa mos ocu par do as sun to.Aten den do ain da a que se tra ta de um ter ri tó rio qua se des co nhe -

ci do, sem que se sa bia qua is os po vo a dos exis ten tes, suas de no mi na -ções, po pu la ção apro xi ma da e res pec ti vas dis tân ci as, sem o que éim pos sí vel qual quer or ga ni za ção de fi ni ti va já pe di ram as de vi das in -for ma ções, o que mos tra cla ra men te que, só for ça das pe las cir cuns tân -

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ci as re fe ri das, as Co mis sões pro põem que se con ce dam tão la tasau to ri za ções, am plas, é ver da de, mas in dis pen sá ve is no mo men to”.

Ora, se o pro je to visa uma or ga ni za ção pro vi só ria, se não te mosco nhe ci men tos su fi ci en tes para uma or ga ni za ção de fi ni ti va, por quenão es ta be le cer as base de uma or ga ni za ção tran si tó ria, de i xan do parana pró xi ma re u nião no Con gres so Na ci o nal em maio, re gu la ri zar de fi -ni ti va men te si tu a ção do Acre?

Per gun ta o ora dor se, apro va do ago ra o pro je to como está com asmais la tas au to ri za ções ao Go ver no, está o Po der Exe cu ti vo pre pa ran -do para pôr em prá ti ca as me di das que jul gar ne ces sá ri as, ou já names ma ig no rân cia em que se acha Con gres so.

Na se gun da hi pó te se nada po de rá fa zer, e nes se caso o Po der Le -gis la ti vo não de ve ria vo tar a me di da am pla que vai apro var, es pe ran dopara agir em suas ses sões or di ná ri as. No pri me i ro caso, se Go ver noco nhe ce su fi ci en te men te a si tu a ção do Acre, se sabe o que con vém fa -zer já, por que o lí der, já que se tra ta de um go ver no ami go não per gun -tou, pa la vra por pa la vra, pon to por pon to, vír gu la por vír gu la, qua is aspro vi dên ci as de se ja das para que to das fos sem con subs tan ci a das empro je to? Assim fin gi ría mos que le gis la mos, si mu la ría mos que so mosre al men te um dos ór gãos da so be ra nia na ci o nal, sal va ría mos ao me nos as apa rên ci as.

Não pode o ora dor con cor dar com que se está fa zen do. Se to dosos dias es ta mos apro van do leis par ci a is au to ri zan do o Po der Exe cu ti voa le gis lar, me lhor se ria apro var uma dis po si ção ge ral dan do-lhe a fa -cul da de de fa zer o que en ten der em to dos os ra mos do ser vi ço pú bli co,en cer ran do logo em se gui da os nos sos tra ba lhos. Isso ao me nos se riavan ta gem, já que não que re mos cum prir com as nos sas obri ga ções, deevi tar que a na ção con su mis se anu al men te a soma de 5.000:000$ comum Con gres so que não le gis la, fal tan do as sim ao mais ele men tar deseus de ve res. (Mu i to bem ; mu i to bem. O ora dor é cum pri men ta do.)

O SR. ESMERALDINO BANDEIRA – Diz que a im pru dên cia deuns tan tos apar tes seus ao dis cur so do ilus tre lí der da Câ ma ra o ar ras -tou ao de ba te, em que não pre ten dia se em pe nhar, do pro je to e subs ti -tu ti vo das Co mis sões de Orça men to e de Le gis la ção e Jus ti ça.

O ora dor si len ci ou so bre o Tra ta do de Pe tró po lis.Não tem por ele en tu si as mos nem ani mad ver são.Afi gu ra-se-lhe ape nas uma so lu ção ace i tá vel de mal pos ta e ir ri -

tan te pen dên cia in ter na ci o nal; o que po rém, não lhe obs ta a fa zer jus ti -ça aos pa trió ti cos in tu i tos do emi nen te es ta dis ta que o ne go ci ou econ clu iu.

Não ten do o ora dor dis cu ti do aque le tra ta do, não dis cu ti ria tam -bém o pro je to com ple men tar, se nes se não se de pa ras sem ver da de i ras

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der ro ga ções da Cons ti tu i ção Fe de ral, como foi ar ras ta do a di zer emseus apar tes.

A idéia de re vi são cons ti tu ci o nal le van ta e tem le van ta do nes tePaís for te e po de ro sa cor ren te opo si ci o nis ta; en tre tan to, o pro je to e osubs ti tu ti vo em de ba te, im po ri am em pas so ace le ra do essa re vi são im -pug na da e com ba ti da.

O ora dor não com pre en de a po si ção da que les que com ba tem are vi são quan do pos ta com le al da de e cla re za, mas que a ace i tam quan -do dis far ça da em pro je tos que aten tam fla gran te men te con tra prin cí -pi os bá si cos do re gi me.

Ora, pelo pro je to e subs ti tu ti vo, re fe ri dos, a Câ ma ra de le ga ao Po -der Exe cu ti vo a fa cul da de de cri ar e su pri mir em pre gos pú bli cos, fi -xar-lhes as atri bu i ções e es ti pu lar-lhes os ven ci men tos, pois tan to valeau to ri zá-lo a pro ver a or ga ni za ção ad mi nis tra ti va e ju di ciá ria do ter ri -tó rio do Acre, sem lei an te ri or que pro vi den cie so bre aque las hi pó te -ses.

Mas a com pe tên cia para cri ar e su pri mir em pre gos fi xar-lhes asatri bu i ções, etc. é pri va ti va do Con gres so Na ci o nal, se gun do o dis po si -ti vo ex pres so do art. 34, no 25 do Esta tu to de 24 de fe ve re i ro.

Sen do as sim, o pro je to e subs ti tu ti vo a que de le gam do Go ver nouma atri bu i ção pri mi ti va do Con gres so, são fun da men tal men te in -cons ti tu ci o na is e sua apro va ção pelo Po der Le gis la ti vo im por ta em re -vi são da Cons ti tu i ção Fe de ral, pois que a der ro ga em ma té riapro pri a men te cons ti tu ci o nal, como seja a atri bu i ção dos po de res po lí -ti cos da Re pú bli ca. (Apar tes).

No pro je to e subs ti tu ti vo em dis cus são tudo se de i xa ao ar bí triodo Go ver no.

Nem ao me nos se de cla ra a le gis la ção que tem de vi go rar no ter ri -tó rio alu di do, de po is de ra ti fi ca do o Tra ta do de Pe tró po lis e após a ter -mi na ção do pra zo do mo dus vi ven di.

Será a le gis la ção fe de ral, ou a de qual quer dos Esta dos bra si le i rosli mí tro fes do in di ca do ter ri tó rio?

Que au to ri da de ju di ciá ria terá com pe tên cia para ao me nos as se -gu rar por meio do ha be as-cor pus o di re i to ame a ça do ou vi o la do dosbra si le i ros ali re si den tes? (Apar tes e apo i a dos).

Não co lhe o ar gu men to de que a au to ri za ção que se dá ao Go ver -no é para or ga ni zar pro vi so ri a men te o dito ter ri tó rio e não co lhe por -que a Cons ti tu i ção não dis tin gue en tre or ga ni za ção pro vi só ria eor ga ni za ção de fi ni ti va quan do tra ta das atri bu i ções pri va ti vas dos Po -de res po lí ti cos.(Apo i a dos).

Aten da mais a Câ ma ra às con se qüên ci as fu nes tas que po dem ad -vir para os di re i tos ci vis e po lí ti cos dos ci da dãos, exer ci ta dos den tro de

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uma or ga ni za ção ad mi nis tra ti va e ju di ciá ria sem exis tên cia cons ti tu -ci o nal! (Apo i a dos e apar tes).

A so lu ção para o caso do Acre não pode ser adi a da, ao me nos emduas ba ses ge ra is pelo Con gres so Na ci o nal, isso por que – ter ri tó rio,como en ti da de po lí ti ca ou ad mi nis tra ti va, é des co nhe ci do na Cons ti tu i -ção de 24 de fe ve re i ro.

É uma en ti da de que urge ser de fi ni ti va a nor ma li za da em lei, e só o Con gres so pode fazê-lo.

E ne nhu ma di fi cul da de sé ria pode ser opos ta à Câ ma ra para vo tar as ba ses de uma or ga ni za ção pro vi só ria do ter ri tó rio do Acre.

A or ga ni za ção dos ter ri tó ri os per ten cen tes à Amé ri ca do Nor teestá ex pos ta e es tu da da mi nu ci o sa men te na Com mon we alth, de Bryce,obra tão co nhe ci da pe los ilus tres mem bros des ta Casa e das Co mis sões de Jus ti ça e de Orça men to. (Apar tes).

Em ver da de, a Câ ma ra não pode des de já vo tar uma or ga ni za çãocom ple ta e per fe i ta para o caso; mas os ele men tos de que ago ra mes mo dis põe, for ne ci dos em abun dân cia na ex po si ção do atu al Mi nis tro doExte ri or, nos re la tó ri os de seus an te ces so res e nas car tas ge o grá fi casdis tri bu í das aos Srs. De pu ta dos, bas tam para ha bi li tá-la a vo tar as ba -ses de uma or ga ni za ção pro vi só ria, cum prin do as sim um de seus de ve -res cons ti tu ci o na is. (Apo i a dos; apar te).

O fato de não co nhe cer per fe i ta men te o ter ri tó rio do Acre não éra zão para se de i xar de le gis lar a res pe i to, pois tam bém são des co nhe -ci das gran des por ções do in te ri or do Ama zo nas, de Go iás, de MatoGros so, e nem por isso se tem de i xa do de vo tar leis para es ses Esta dos.(Apar tes).

De ma is dis so, como os Esta dos mo di fi cam a sua le gis la ção à me -di da que me lhor vão co nhe cen do as sua ne ces si da des e seus le gí ti mosin te res ses, as sim tam bém a le gis la ção para o ter ri tó rio do Acre serámo di fi ca da à pro por ção que me lhor se co nhe ça o seu ter ri tó rio e a suapo pu la ção.

Tan to mais quan to, no caso, não se tra ta de uma or ga ni za ção per -fe i ta e de fi ni ti va, mas sim das ba ses le ga is de uma or ga ni za ção pro vi só -ria.

E es sas ba ses a Câ ma ra vo ta ria fol ga da men te en quan to o Se na dodis cu te o Tra ta do de Pe tró po lis. (Apo i a dos).

O ora dor, como ami go sin ce ro do Go ver no do Sr. Dr. Ro dri gues Alves, jul ga-se in sus pe i to para se ex ter nar, como até aqui se tem ex ter -na do, so bre os pro je tos em de ba te, e como ami go sin ce ro do Go ver nofaz vo tos para que se não con ver ta em lei tão fla gran te vi o la ção doEsta tu to po lí ti co da Re pú bli ca. (Mu i to bem, Mu i to bem. O ora dor é mu -i to cum pri men ta do e fe li ci ta do).

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O SR. ALFREDO VARELA – Diz que não ocu pa rá mais a tri bu na nases são atu al e de cla ra que não opôs uma con tes ta ção for mal ao ilus tre re -pre sen tan te do Espí ri to San to que de fen deu a oli gar quia lo cal por que não teve opor tu ni da de para o fa zer. Em maio o fará, exi bin do pro vas da ru i -no sa ad mi nis tra ção do Sr. Mu niz Fre i re. (O Sr. Mon jar dim dá um apar teafir man do que, por essa oca sião,V. Exa será vi to ri o sa men te re fu ta do).

Pas san do à ma té ria em de ba te e an tes de apre sen tar um re que ri men -to que vai ter a hon ra de en vi ar à Mesa, pede per mis são para no tar a sin gu -la ri da de da de cla ra ção do ilus tre lí der, in sis tin do em afir mar que à Câ ma ranão co nhe ce su fi ci en te men te o Acre. Essa de cla ra ção de V. Exa, fe i ta comin sis tên cia, des trói ou con tra diz a que aqui foi fe i ta cons tan te men te, a sa -ber, que 60.000 bra si le i ros ali pe na vam e fo ram li ber ta dos pelo o Tra ta dode Pe tró po lis. Se a Câ ma ra não co nhe ce su fi ci en te men te o Acre, como oGo ver no pôde ob ter da dos tão pre ci sos so bre sua po pu la ção?

De acor do em que não nos é bem co nhe ci da àque la re gião, acen -tua, en tre tan to, que a de cla ra ção do ilus tre lí der é a pro va de quão pou -co liso foi o pro ce di men to do Go ver no man da do a esta Casain for ma ções que não po di am de i xar de ser fan ta si o sas.

Ama nhã ver-se-á qual é re al men te a po pu la ção do Acre.Entra na jus ti fi ca ção do seu re que ri men to que tem por fim fa zer

vol tar o pro je to ao seio das Co mis sões re u ni das, afim de es tas di ze remde novo so bre elas, aten di das va ri as con si de ra ções de or dem cons ti tu -ci o nal que o ora dor lê.

De po is des sas con si de ra ções, o ora dor de cla ra que o pro je to nãopode ser ace i to so bre tu do por que gol pe ia a Cons ti tu i ção e anu la o Po -der Le gis la ti vo Fe de ral. Com as dis tin ções das fun ções dos três Po de -res da Re pú bli ca se tem a uni da de do sis te ma po lí ti co em vi gor; opro je to des trói essa dis tin ção e essa uni da de, re du zin do a Re pú bli ca auma des pe ja da au to cra cia.

Vai man dar seu re que ri men to à Mesa.

O SR. PRESIDENTE – O hon ra do De pu ta do vai man dar um re -que ri men to à Mesa no sen ti do de vol tar o subs ti tu ti vo às Co mis sões?

O SR. ALFREDO VARELA – Sim se nhor.

O SR. PRESIDENTE – Ele tem de vol tar às co mis sões re u ni das,vis to que o Sr. Ca ló ge ras apre sen tou emen da; as sim, é des ne ces sá rio ore que ri men to.

O SR. ALFREDO VARELA – O pro je to pri mi ti vo tam bém vol ta?

O SR. PRESIDENTE – Tudo vol ta às co mis sões.

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Page 143: Tratado de Petrópolis

O SR. ALFREDO VARELA – Então o meu re que ri men to é um pe -ca di lho co me ti do por quem não se ha bi tou ain da a co nhe cer bem o re -gi men to.

O SR. PRESIDENTE – Eu es ta va pre ve nin do a V. Exa de que erades ne ces sá rio o re que ri men to.

O SR. ALFREDO VARELA – Nes tas con di ções de sis to de apre sen tá-lo.Nin guém mais pe din do a pa la vra é en cer ra da a dis cus são e adi a da

a vo ta ção do pro je to no 5, de 1904, au to ri zan do o Po der Exe cu ti vo aabrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un dasdo tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten -ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e dar ou tras pro vi dên ci as, até que as Co -mis sões dêem pa re cer so bre as emen das ofe re ci das pelo Sr. Ca ló ge ras.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o no bre De pu ta do.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (pela or dem) – Pedi a pa la -vra, Sr. Pre si den te, para de cla rar que de i xei en cer rar a dis cus são por -que co nhe cia a dis po si ção do Re gi men to que obri ga va a vol ta dospro je tos às Co mis sões, vis to que fo ram apre sen ta das emen das, e tam -bém que me aguar do para dar as ex pli ca ções, que a dis cus são do pro je -to me su ge riu, por oca sião da vol ta do as sun to a de ba te, de po is dopa re cer das Co mis sões.

E, vis to que a Co mis são de Le gis la ção e Jus ti ça se acha des fal ca -da de seu Pre si den te, que, por mo ti vos de for ça ma i or mu i to jus tos,teve de se re ti rar para a Ba hia; e, vis to que a V. Exa ca bia, pela dis po si -ção re gi men tal, a pre si dên cia das Co mis sões re u ni das, re que i ro a V.Exa que se dig ne de dar um subs ti tu to ao Sr. Pa ra nhos Mon te ne gro,nos so dig no co le ga, para que ama nhã as Co mis sões se pos sam re u nir.(Pa u sa).

Ocor re-me ain da lem brar que está au sen te da Ca pi tal Fe de ral, éna tu ral que por mo ti vos da mes ma or dem dos que le va ram o Sr. Pa ra -nhos Mon te ne gro a se au sen tar, o nos so dig no co le ga por Per nam bu -co, Sr. Te i xe i ra de Sá, ilus tre mem bro da que la Co mis são; e nes tascon di ções, Sr. Pre si den te, pe di ria a V. Exa que no me as se, em vez de um, dois De pu ta dos que in te ri na men te subs ti tu ís sem aque les a fim de que,re pi to, as Co mis sões se pu des sem re u nir ama nhã para dar an da men toaos seus tra ba lhos (Mu i to bem; mu i to bem).

O SR. PRESIDENTE – No me io, para subs ti tu í rem os Srs. Te i xe i rade Sá e Pa ra nhos Mon te ne gro, na Co mis são de Le gis la ção e Jus ti ça,aos Srs. João Vi e i ra e Verg ne de Abreu.

Nada mais ha ven do a tra tar, vou le van tar a ses são.

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Page 144: Tratado de Petrópolis

De cla ra ção

For ça do, por mo ti vos in de pen den tes de mi nha von ta de, a es tarau sen te à ses são em que se vo tou o Tra ta do de Pe tró po lis, peço se con -sig ne na ata que, se es ti ves se pre sen te te ria vo ta do a fa vor do Tra ta do.

Sala das ses sões, 1o de fe ve re i ro de 1904. – José Mon te i ro Ri be i roJun que i ra*

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.144

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19ª SESSÃO EXTRAORDINARIAEM 2 DE FEVEREIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. PRESIDENTE – O Sr. De pu ta do Bri cio Fi lho, em dis cur sopro nun ci a do na ses são de on tem, cen su rou a Mesa por ter dado paraor dem do dia o Pro je to no 5, an tes que o Se na do se hou ves se pro nun ci -a do a res pe i to do Tra ta do, acres cen tan do que o fato im por ta va em uma des con si de ra ção ao ou tro ramo do Po der Le gis la ti vo.

Ten do sido obri ga do a de i xar esta ca de i ra quan do o hon ra do De -pu ta do por Per nam bu co co me ça va o seu dis cur so, não me foi dado ofe -re cer ime di a ta con tes ta ção às pa la vras de S. Exa, o que ago ra faço,per mi tin do-me S. Exa pro tes tar con tra qual quer idéia de me nor con si -de ra ção ao Se na do, a quem a Mesa da Câ ma ra não po de ria, de modoal gum, fal tar com a aten ção e res pe i to que lhe são de vi dos.

De acor do com os ter mos da men sa gem do Sr. Pre si den te da Re pú -bli ca, quan do con vo cou a atu al ses são ex tra or di ná ria do Con gres so, asCo mis sões res pec ti vas apre sen ta ram, em tem po, à de li be ra ção des taCasa, os pro je tos que lhes in cum bi am ofe re cer, pro je tos cor re la ti vos aomo men to so as sun to de que co gi ta va a men sa gem e que aten di am às me -di das co ne xas e ur gen tes so li ci ta das pelo Po der Exe cu ti vo. Apro va do opri me i ro, de via se guir-se, na tu ral men te, a in clu são do se gun do na or demdo dia dos tra ba lhos da Câ ma ra, a qual ti nha o de ver de en fren tar o ob je to sub me ti do a seu es tu do em to das as suas fa ces, para re me ter à ou tra Casado Con gres so, sem ma i or de mo ra os pro je tos de lei so bre os qua is tem depro nun ci ar-se o Se na do, com os di re i tos que lhe ga ran te a Cons ti tu i ção.

Cer ta de que a ati vi da de e a ini ci a ti va de uma Casa do Con gres sonão po dem fi car em ba ra ça das ou na de pen dên cia da ou tra, em as sun -tos de com pe tên cia par la men tar, a Mesa afir ma que cum priu o seu de -ver, ci en te e cons ci en te men te, dan do para or dem do dia o pro je to emques tão. (Mu i to bem; mu i to bem).

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.145

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O SR. PRESIDENTE – A lis ta da por ta acu sa a pre sen ça de 82 Srs.De pu ta dos.

Não há nú me ro le gal, para se pro ce der à vo ta ção da ma té ria en -cer ra da e cons tan te da or dem do dia.

Vou le van tar a ses são.Vai a im pri mir o se guin te:*

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.146

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PROJETO Nº 5 A – 1904SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

Pa re cer so bre emen das ofe re ci das na 3ª dis cus são do Pro je to nº 5, des te ano, que au to ri za o Po der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri -os para pa ga men to das des pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17de no vem bro de 1903, en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí viae a dar ou tras pro vi dên ci as.

As Co mis sões de Orça men to e de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti -ça, re u ni das, man têm o subs ti tu ti vo por elas ofe re ci do, de pre fe rên ciaàs emen das do Sr. De pu ta do Ca ló ge ras.

So bre con sig na rem me di das que a si tu a ção sin gu lar do Acre nãocom por ta, não pro põem as emen das, em úl ti ma aná li se, au to ri za çãomais res tri ta que a dada ao Go ver no pelo subs ti tu ti vo das Co mis sõesre u ni das.

Sen tem as Co mis sões a im pos si bi li da de de dar, de mo men to,àque le ter ri tó rio or ga ni za ção de fi ni ti va. Na pre sen te emer gên cia, a au -to ri za ção pro pos ta se lhes afi gu ra a úni ca pro vi dên cia pos sí vel. Nem éela sem pre ce den tes na nos sa vida po lí ti ca, nem pode re pug nar emcaso ex cep ci o nal, qual o de acrés ci mo do ter ri tó rio na ci o nal, não co gi -ta do se quer pela Cons ti tu i ção.

Sala das Co mis sões, 2 de fe ve re i ro de 1904. * – João Vi e i ra, Pre si -den te – Luiz Do min gues, Re la tor. – Fran cis co Ve i ga. – Da vid Cam pis ta – Verg ne de Abreu – Fre de ri co Bor ges – Ga leão Car va lhal – Cas si a no doNas ci men to – Fran cis co Sá – Ja mes Darcy – Ho san nah de Oli ve i ra.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.146

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20ª SESSÃO EXTRAORDINARIA EM 3 DE FEVEREIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (Pela Ordem) – Sr. Pre si -den te, achan do-se im pres so no jor nal da Casa e dis tri bu í do em avul soo pa re cer das Co mis sões re u ni das so bre o subs ti tu ti vo que tive a hon ra de ofe re cer, há duas ses sões atrás, à con si de ra ção da Câ ma ra, bemcomo so bre as emen das do hon ra do De pu ta do por Mi nas, o Sr. Ca ló -ge ras, re que i ro a V. Exa. que con sul te a Casa no sen ti do de dis pen sar afor ma li da de re gi men tal, de modo a ser com ur gên cia dis cu ti do e vo ta -do esse pa re cer. (Mu i to bem).

O SR. PRESIDENTE – O Sr. De pu ta do Cas si a no do Nas ci men tore quer que o Pro je to no 5-A, apre sen ta do pe las Co mis sões re u ni das,com o pa re cer so bre as emen das ofe re ci das pelo Sr. De pu ta do Ca ló ge -ras, de acor do com o Re gi men to, en tre ime di a ta men te em dis cus são,dis pen sa da a im pres são.

O re que ri men to está no caso do art. 111 do Re gi men to, que diz:“Qu an do a ma té ria do pro je to for de sim ples in tu i ção e cons tar de

pou cos ar ti gos ou mes mo em qual quer caso de ur gên cia e ab so lu ta ne -ces si da de, à Câ ma ra po de rá dis pen sar a im pres são, a re que ri men to dequal quer De pu ta do, in de pen den te de dis cus são.”

Os se nho res que apro vam o re que ri men to, de acor do com o art.111 do Re gi men to, que i ram le van tar-se. (Pa u sa). Foi apro va do.

Vai en trar ime di a ta men te em dis cus são o pro je to com o pa re cerso bre as emen das.

O pa re cer é o se guin te:As Co mis sões de Orça men to e de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti -

ça, re u ni das, man tém o subs ti tu ti vo por elas ofe re ci do, de pre fe rên ciaas emen das do Sr. De pu ta do Ca ló ge ras.

** ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.148

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Page 149: Tratado de Petrópolis

So bre con sig na rem me di das que a si tu a ção sin gu lar do Acre nãocom por ta, não pro põem as emen das, em úl ti ma aná li se, au to ri za çãomais res tri ta que a dada ao Go ver no pelo subs ti tu ti vo das Co mis sõesre u ni das.

Sen tem as Co mis sões a im pos si bi li da de de dar, de mo men to,àque le ter ri tó rio or ga ni za ção de fi ni ti va. Na pre sen te emer gên cia, a au -to ri za ção pro pos ta se lhes afi gu ra a úni ca pro vi dên cia pos sí vel. Nem éela sem pre ce den tes na nos sa vida po lí ti ca, nem pode re pug nar emcaso ex cep ci o nal, qual o de acrés ci mo do ter ri tó rio na ci o nal, não co gi -ta do se quer pela Cons ti tu i ção.

Sala das Co mis sões, 2 de fe ve re i ro de 1904. – João Vi e i ra, Pre si -den te – Luiz Do min gues, Re la tor – Fran cis co Ve i ga – Da vid Cam pis ta –Verg ne de Abreu – Fre de ri co Bor ges – Ga leão Car va lhal – Cas si a no doNas ci men to – Fran cis co Sá – Ja mes Darcy – Ho san nah de Oli ve i ra.

Está em dis cus são o pa re cer. (Pa u sa)

O SR. NEIVA – Peço a pa la vra.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra o Sr. De pu ta do Ne i va.

O SR. NEIVA – Sr. Pre si den te, não ve nho dis cu tir o pro je to, nem oseu subs ti tu ti vo, nem tão pou co as emen das apre sen ta das pelo ilus treSr. Ca ló ge ras. De ve ria até ter pe di do a pa la vra pela or dem, pois o queve nho é ex pli car que na pre ci pi ta ção com que for mu lei, na pe núl ti mases são, quan do o fun da men tei, o re que ri men to pe din do, de acor docom o dis po si ti vo fun da men tal, a di vi são do pro je to em duas par tes, oque é de fá cil in tu i ção, des de que, de um lado, tra ta-se de um as sun topo si ti va men te eco nô mi co, fi nan ce i ro, e de ou tro de um pon to ad mi -nis tra ti vo, do meio de se pro ver à or ga ni za ção dos ter re nos ad qui ri -dos, de acor do com o tra ta do apro va do de um modo tão bri lhan tepela Câ ma ra dos De pu ta dos, de cla rei tam bém que era na tu ral que to -dos os De pu ta dos que em tão gran de nú me ro, cre io que 113, vo ta ramesse tra ta do, na tu ral men te vo ta ri am ou vo tam os cré di tos pre ci sospara que seja in de ni za da a Bo lí via da qui lo que fi cou acor da do en treos dois po de res in cum bi dos de tra tar des sa ques tão in ter na ci o nal;bem como que haja tam bém o di nhe i ro ne ces sá rio para se rem ini ci a -das as obras da es tra da de fer ro pro me ti da, e que será de uti li da depara as duas na ções.

Essa pre ci pi ta ção em con clu ir e re ti rar-me da tri bu na, esse de se jode de mons trar que não faço opo si ção, que não que ro obs tru ir, que,mes mo nes ta in si piên cia que me é na tu ral, re di gi tão pres su ro sa men teo re que ri men to de modo que jul go ter ha vi do uma la cu na, não sei semi nha ou se da im pren sa.

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Page 150: Tratado de Petrópolis

Como quer que seja, é o tem po de fa zer de cla ra ção que re sol ve ami nha idéia: re fi ro-me à par te pri me i ra e à ter ce i ra do art. 1º, as qua ises tão na tu ral men te e lo gi ca men te li ga das, pois am bas di zem res pe i toao mes mo as sun to, os cré di tos; a pri me i ra e a ter ce i ra par tes do ar ti goúni co, re pi to. Se as sim não está ela bo ra do o re que ri men to, meus co le -gas que ace i tem mi nhas des cul pas por essa la cu na; mas, aten den do aque o prin cí pio que sus ten to é jus to, é ra zoá vel, é na tu ral, es tou cer toque, mes mo aque les que vo ta ram con tra o tra ta do, uma vez que o tra ta -do, pode se di zer, vai em ca mi nho de tor nar-se lei, de ser apro va do, vo -ta rão ago ra os cré di tos, por que não se ria cu ri al que uma dú zia deDe pu ta dos se qui ses se opor àqui lo que já é co ro lá rio da pre mis sa es ta -be le ci da, a vo ta ção do tra ta do.

Nes tas con di ções, Sr. Pre si den te, peço a V. Exa que, se por aca so oen ga no foi meu, seja fe i ta a al te ra ção, para que a Câ ma ra, des te modo,se pos sa ma ni fes tar, ou vi das como já fo ram as res pe i tá ve is Co mis sõesde Orça men to e de Jus ti ça, com as qua is fol go em es tar de acor do prin -ci pal men te nes te pon to de se pa ga rem as quan ti as de vi das.

Era o que eu ti nha a pe dir a V. Exa Sr. Pre si den te, tan to mais quan -to o que re que i ro e sus ten to é acor de com o art. 104, e essa dis po si çãocla ra da nos sa Cons ti tu i ção deve ser aca ta da.

V. Exa que tão bem sabe cum prir o Re gi men to, o que em boa horalhe foi con fi a do, jul go que não de i xa rá que o pro je to siga en glo ba da -men te, como está, de vem ser des cri mi na das as duas me di das, cré di tose or ga ni za ções. (Apo i a dos).

Assim, te nho con clu í do, ape lan do para o co nhe ci do bom sen so epara o ele va do cri té rio de V. Exa, côns cio de que não ha ve rá se quer ne -ces si da de de vo ta ção so bre o meu re que ri men to, e que vin ga rá o meumodo de pen sar, que é o jus to, o cor re to e o re gi men tal. (Mu i to bem;mu i to bem).

O SR. PRESIDENTE – Devo de cla rar ao no bre De pu ta do que o re -que ri men to é per fe i ta men te re gi men tal. Em vir tu de do art. 104 do Re -gi men to, com bi na do com o art. 132, a Mesa tem de des ta car os ns. II eIV do subs ti tu ti vo do Sr. Cas si a no do Nas ci men to, para cons ti tu ir comeles um pro je to em se pa ra do, o que vai fa zer.

Con ti nua a dis cus são do pa re cer.

O SR. CALÓGERAS – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra pela or dem o Sr. Ca ló ge ras.

O SR. CALÓGERAS (Pela Ordem) – Sr. Pre si den te, V. Exa aca ba de se pa rar em duas par tes o pro je to ini ci al, não é exa to?

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Page 151: Tratado de Petrópolis

O SR. PRESIDENTE – O subs ti tu ti vo, apre sen ta do em 3ª dis cus -são, tem pre fe rên cia na vo ta ção. Apro va do o subs ti tu ti vo, des ta ca reidele, de acor do com o art. 104, com bi na do com o art. 132 do Re gi men -to, os nos. II e IV, para cons ti tu í rem pro je to à par te.

O SR. CALÓGERAS – Nes te caso, con sul to a V. Exa para se fa ze -rem al gu mas ob ser va ções so bre o subs ti tu ti vo, a oca sião opor tu na é aatu al?

O SR. PRESIDENTE – Sim, está em dis cus são o pa re cer. Dei ex pli -ca ções ao no bre De pu ta do pela Ba hia a pro pó si to do re que ri men to que V. Exa apre sen tou e dis se logo qual a de li be ra ção da Mesa.

O SR. CALÓGERAS – Nes tas con di ções, peço a pa la vra.

O SR. PRESIDENTE – V. Exa quer a pa la vra so bre o pa re cer, não?Tem a pa la vra.

O SR. CALÓGERAS – É bem de ver, Sr. Pre si den te, que, ur gi doscomo es ta mos pela fal ta de tem po, pela ne ces si da de de, quan to an tes,ter mi nar mos o de ba te e en cer rar mos os nos sos tra ba lhos, não nos é lí -ci to dis cu tir con for me o caso me re ce ria o tris tís si mo sin to ma que, quer o pro je to ini ci al, quer o subs ti tu ti vo, re pre sen tam na nos sa his tó riapar la men tar.

O SR. ALFREDO VARELA – Apo i a dís si mo.

O SR. CALÓGERAS – Não me diz a cons ciên cia, Sr. Pre si den te,que eu te nha al gu ma vez tido a res pon sa bi li da de de vo tar de le ga çõesin cons ti tu ci o na is, como fla gran te men te são es tas que fo ram pro pos taspe las Co mis sões re u ni das.

Não que ro en tre tan to, de sen vol ver este as pec to da ques tão, dadaa pre mên cia do as sun to e a ne ces si da de de en cer rar mos os nos sos tra -ba lhos, como eu há pou co dis se.

Vou li mi tar-me tão-so men te a ex pli car o dú pli ce mo ti vo que mele vou a apre sen tar as emen das que me re ce ram do hon ra do re la tor dasco mis sões re u ni das o lu mi no sís si mo pa re cer, que há de fi gu rar nosAna is des ta Casa, não di rei como pa drão de gló ria para S. Exa mascomo tris tís si mo si nal dos tem pos.

Não jul go ne ces sá rio alu dir à in cons ti tu ci o na li da de das de le ga -ções fe i tas de atri bu i ções pri va ti vas do Con gres so Na ci o nal ao Po derExe cu ti vo. Seja qual for o voto da Câ ma ra, está na cons ciên cia de to dos que só por mo ti vos, que não cabe qua li fi car, esse voto será dado.

Enca ran do es pe ci al men te para a face fi nan ce i ra do pro ble ma,lem bra rei à Câ ma ra que as emen das que tive a hon ra de apre sen tar àcon si de ra ção da Casa pro cu ra ram obe de cer, ou me lhor – re pre sen tam,

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Page 152: Tratado de Petrópolis

(como di rei), re pre sen tam um pro tes to, em nome do bom sen so, con tra as me di das que a Co mis são pro pôs.

No in ci so I, do art. 1o, dá o Con gres so ao Po der Exe cu ti vo au to ri -za ção para, sem de cla rar o fim a que se des ti nam, sem dis cri mi na ção de es pé cie al gu ma, emi tir tí tu los da dí vi da pú bli ca de 3% de ju ros e 3% deamor ti za ção anu al; como se, pelo tex to ex pres so do Tra ta do de Pe tró -po lis, não ti ves sem es ses tí tu los uma apli ca ção es pe ci al.

É co i sa sa bi da que a ori en ta ção fi nan ce i ra de to dos os pa í ses sefaz no sen ti do de ob ter a uni fi ca ção pro gres si va de to dos os ti pos de tí -tu los da dí vi da.

Por mo ti vo que não vem ago ra ao caso adu zir, foi es ta be le ci do um tipo in te i ra men te novo para pa ga men to das obri ga ções men ci o na dasno art. 2º do Tra ta do de Pe tró po lis.

Para esse fim es pe ci al é que es ses tí tu los vão ser emi ti dos.Entre tan to, pelo que aqui se vê, a au to ri za ção, am pla como está,

per mi te que eles se jam des ti na dos a fim di ver so da que le que fora co li -ma do pelo ato di plo má ti co a que me es tou re fe rin do.

Por ou tro lado, o modo por que foi re di gi da a au to ri za ção dada aoPo der Exe cu ti vo de con tra ir um em prés ti mo ao fun do da ga ran tia, é,por lata de mais, ex tre ma men te pe ri go sa.

Sei per fe i ta men te que se pode ale gar a con fi an ça que me re ce oPo der Exe cu ti vo.

Mas, peço li cen ça para di zer que, em as sun to des ta or dem não mepa re ce este o ar gu men to mais fe liz.

Tra ta-se de atri bu i ção ex clu si va nos sa que não me pa re ce ló gi coseja de le ga da a um po der di ver so.

Da po lí ti ca fi nan ce i ra, ina u gu ra da pelo acor do de 1898, des de ofun ding-loan, com to dos os seus con sec tá ri os, pela cons ti tu i ção do fun -do de ga ran tia, do fun do de res ga te de apó li ces, etc., sa be mos que oeixo prin ci pal de re cons tru ção fi nan ce i ra do nos so país, ba se a da na va -lo ri za ção pro gres si va de nos sa mo e da, gira so bre a exis tên cia e fun ci o -na men to nor mal do fun do de ga ran tia.

Tan to quan to pos sí vel, se ria ne ces sá rio di mi nu ir o va lor do em -prés ti mo, que vem a des fal car a soma em ouro de po si ta da para estefim, em Lon dres.

Para isto sem pre me pa re ceu mais ra zoá vel fa zer pe sar este ônus,par te so bre o fun do de ga ran tia e par te so bre o im pos to.

Lem brei-me por isso de apre sen tar à con si de ra ção da Casa um me -ca nis mo fi nan ce i ro que, por meio de em prés ti mo a pra zos cur tos, comoseja da emis são de bi lhe tes do te sou ro a pra zos ra zoá ve is, per mi tis se ha -u rir re cur sos ou tros que não os do men ci o na do las tro ga ran ti dor.

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Page 153: Tratado de Petrópolis

Por ou tro lado, não jul guei con ve ni en te de i xar essa por ta aber tapara des tru i ção com ple ta do me ca nis mo ins ti tu í do pela lei de ju lho de1899.

Lata como foi re di gi da a au to ri za ção para o em prés ti mo pelo fun -do de ga ran tia, pode este de sa pa re cer com ple ta men te.

Estou cer to que não há go ver no que se aba lan ças se a tal. Por quede i xar po rém , na lei um se não des ta na tu re za, quan do com uma sim -ples mo di fi ca ção no modo de re di gi-la, tão fá cil é cor ri gir um de fe i todes ta or dem?

Isto, quan to ao item I do art. 1o.Qu an to ao item III do art. 4o, uma mo di fi ca ção exis te de sim ples

re da ção e que está a ser pe di da pelo bom sen so.Na nos sa or ga ni za ção fi nan ce i ra, nós te mos tí tu los in ter nos e tí tu -

los ex ter nos.Tí tu lo in ter no é aque le que só pode ser ne go ci a do den tro do país.Tí tu lo ex ter no é aque le que so men te pode ser ne go ci a do em pra -

ças es tran ge i ras.Ora, em pri me i ro lu gar, os nos sos tí tu los in ter nos po dem ser ad -

mi ti dos à co ta ção em qual quer pra ça es tran ge i ra; isto de pen de tão so -men te da au to ri za ção do re fe ri do país, me di an te au diên cia dasre par ti ções com pe ten tes.

É cer to que as flu tu a ções de cam bio mu i to in flu i ri am para co ta çãodes ses tí tu los, por que fa ri am va ri ar o va lor de les en tre li mi tes tais quenão ofe re ce ri am se gu ran ça e tran qüi li da de aos ca pi ta lis tas que qui ses -sem em pre gar di nhe i ro em tí tu los nos sos.

Por ou tro lado, os cha ma dos tí tu los da dí vi da ex ter na, que aquisão cha ma dos tí tu los ex ter nos, se pelo nos so me ca nis mo fi nan ce i ro,an te ri or a 1900, só po di am ser ne go ci a dos em pra ças es tran ge i ras, jáago ra, fo ram por uma dis po si ção do or ça men to de 1901 ad mi ti dos àco ta ção e ne go ci a ção nas pra ças do ter ri tó rio na ci o nal.

Nes tas con di ções, es ses tí tu los que o subs ti tu ti vo cha ma er ra da -men te ex ter nos, po dem ser ne go ci a dos no país.

Não há dú vi da que o in tu i to da Co mis são era alu dir aos tí tu los dadí vi da na ci o nal quer in ter na ou emi ti da no país, quer ex ter na, ou ne go -ci a da no es tran ge i ro.

Por tan to, a mi nha emen da ao item III do art. 1o re pre sen ta nes tepar ti cu lar o res ta be le ci men to do pen sa men to ini ci al das Co mis sões re -u ni das.

É cer to, e há mu i to, é sa bi do, que a re da ção de nos sas leis é em ex -tre mo de fe i tu o sa.

É na tu ral, por tan to, que se pro cu re em re la ção a este tex to le gis la -ti vo, qua se se pode di zer, em nome da pró pria gra má ti ca ...

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O SR. ALFREDO VARELA – Isto é gra ve.

O SR. CALÓGERAS – ... mo di fi car os ter mos em que o pro je to foilan ça do.

Sei que a mi nha res pon sa bi li da de in di vi du al não está li ga da aofato, des de que pro tes to, pelo modo por que o faço, con tra a re da ção de me di das fi nan ce i ras aqui cri a das como tam bém con tra as de le ga çõesque re pu to in cons ti tu ci o na is. (Apo i a dos).

Como mem bro, po rém, que sou de uma Câ ma ra so bre a qual re cai o des pres tí gio de um fato la men tá vel des tes, e que ren do mu i to ex pres -sa men te var rer mi nha tes ta da, de cla ro que voto con tra o subs ti tu ti vodas Co mis sões e a fa vor das emen das que apre sen tei.

Era o que eu ti nha a di zer. (Mu i to bem, mu i to bem).

O SR. LUIZ DOMINGUES – Diz que o pro je to em de ba te vem aore cin to le gis la ti vo com a res pon sa bi li da de e a so li da ri e da de de duasdas Co mis sões da Câ ma ra.

A Co mis são de Orça men to e a de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti -ça re fle ti ram jun tas so bre as me di das a to mar no Acre e jun tas su ge ri -ram à Câ ma ra as que o pro je to con sa gra.

É a ra zão por que o ora dor, quan do im pug na va o pro je to o Sr. Bri -cio Fi lho (e pro nun ci an do-lhe o nome, dá o ora dor ao ilus tre par la men -tar a se gu ran ça de sua ad mi ra ção pelo cu i da do com que es tu da ospro je tos e a com pe tên cia com que os dis cu te) to mou a li ber da de depon de rar que não era do ilus tre Sr. Pa ra nhos Mon te ne gro o pro je to,se não das duas Co mis sões, ten do por isso um de fen sor em cada umdos mem bros de qual quer das duas que o as si na ram. E não é ou tra ara zão por que se atre ve o ora dor a fa lar nes te ins tan te, en tre tan tos par -la men ta res que tan to hão glo ri fi ca do a Pá tria e a Re pú bli ca na atu al le -gis la tu ra.

Re ce be ram o pro je to com o qua li fi ca ti vo de mons tro os seus dig -nos opo si to res. Não sabe o ora dor se o Sr. Pre si den te tem no ta do: detem pos a esta par te já pa re ce até re gi men tal re ce ber-se as sim aqui ospro je tos das Co mis sões. Dir-se-ia que por inér cia ou ser vi lis mo, nãosão elas ca pa zes de ou tra co i sa.

Um mons tro o pro je to. Mas mons tro por que? Por que de le ga aoGo ver no atri bu i ções le gis la ti vas.

Ora, em pri me i ro lu gar, pu lu lam sem pre com essa mes ma acu sa -ção, nas nos sas leis, de to dos os tem pos, do Impé rio como da Re pú bli -ca, es sas es pé ci es de de le ga ção, aliás, mu i tas ve zes ex pli cá ve is e atéjus ti fi ca das pelo in te res se pú bli co, que é a su pre ma lei dos po vos.

Bas ta abrir as obras, do mar quês de São Vi cen te e do vis con de doUru guai no Impé rio e na Re pú bli ca às leis or ça men tá ri as para com pro -vá-lo.

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De po is, não há no subs ti tu ti vo das Co mis sões tal de le ga ção. Qu al -quer dos qua tro nú me ros do art. 1º, a que se re du zem suas dis po si ções, co me te ao Go ver no fun ções pu ra men te ad mi nis tra ti vas, qua is se jam as de pa gar des pe sas, co brar im pos tos, cons tru ir es tra das.

Admi nis tra rá o Go ver no pro vi so ri a men te o Acre. Mas quan doad mi nis trar de i xou de ser fun ção de go ver no? Se o subs ti tu ti vo, por -tan to, nes sa par te in cor re em cen su ra, é na de atri bu ir ao Go ver no oque já é fun ção sua pró pria.

Os im pos tos são li mi ta dos e li mi ta dos os ju ros e amor ti za ção dostí tu los a emi tir.

Ape nas o pro je to não li mi ta as des pe sas. Po rém, no caso do Acre,como li mi tar as que se fa çam pre ci sas no cum pri men to ini lu dí vel doTra ta do e as pri me i ras da ad mi nis tra ção de uma re gião que va mos re -ce ber em con di ções es pe ci a lís si mas. O ilus tre Sr. Ca ló ge ras pro põe um li mi te a es sas des pe sas, mas um li mi te todo ar bi trá rio, pois que ne -nhum ele men to te mos para jus ti fi cá-lo.

Cen to e cin qüen ta con tos, du zen tos con tos, por que? Por que nãotre zen tos, qua tro cen tos, qui nhen tos con tos? São de ma is? Por que? Epor que não são de me nos os 150 e os 200 con tos?

O go ver no não po de rá pa gar ao go ver na dor mais de 4:000$, aoche fe de po lí cia mais de 1:500$, ao de sem bar ga dor mais do que isso, aum pro mo tor mais de 800$000.

Acha rá o Go ver no ho mem idô neo, qual re quer o Acre, que seaven tu re a de sem pe nhar ali es sas fun ções? Não achan do, de i xa aban -do na da a re gião, ou re cor re ao re cru ta men to?

O pro je to pri mi ti vo au to ri za o Go ver no a cri ar em pre gos e fi -xar-lhes as atri bu i ções e os ven ci men tos, e pela Cons ti tu i ção essa atri -bu i ção é pri va ti va do Con gres so. Dis põe de ou tro modo o subs ti tu ti vo,con so an te as au to ri za ções até hoje con ce di das. Mas o que pro pu nhamos no bres de pu ta dos que im pug na vam o pro je to?

As emen das do ilus tre Sr. Ca ló ge ras con têm igual au to ri za ção.Assim é que au to ri za o go ver no a cri ar pos tos fis ca is; a de fi nir as atri -bu i ções dos fun ci o ná ri os que co mis si o nar; a cri ar os au xi li a res quebem en ten der; e a mar car-lhes os ven ci men tos. Ser ve-se a emen da daex pres são co mis si o nar. É a di fe ren ça, e essa de sa pa re ce aten den do-sea que não é ou tra co i sa que o pro je to au to ri za o Go ver no co me ten -do-lhe a ad mi nis tra ção pro vi só ria. Os lu ga res cri a dos pro vi so ri a men te são es ses mes mos que se di zem em co mis são, e os em pre ga dos no me a -dos pro vi so ri a men te são es ses mes mos que se di zem co mis si o na dos.

Os dig nos opo si to res do pro je to per gun ta ram que le gis la ção vaiter o Acre. Des de que se in cor po re ao Bra sil, a le gis la ção pá tria, o di re i -to ci vil, o di re i to cri mi nal e o co mer ci al, úni co para to dos os bra si le i ros, sem pre ci sar o pro je to dizê-lo.

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Não tem o dig no e mu i to dis tin to De pu ta do por Per nam bu co peloTra ta do de Pe tró po lis nem en tu si as mos, nem pre ven ções.

Não sabe o ora dor o que pos sa per der a Pá tria em ser gran de, -gran de em ter ri tó rio e gran de no sen ti men to de paz e con fra ter ni za -ção. E não sabe que ou tra obra te nha ser vi do me lhor até hoje a essagran de za do que o Tra ta do de Pe tró po lis.

For ça, po rém, é con vir: a so lu ção que o Tra ta do deu à ques tão doAcre nem se quer foi co gi ta da pela Cons ti tu i ção. Não foi uma so lu çãode Di re i to Cons ti tu ci o nal, se não de Di re i to Inter na ci o nal.

Não há quem apon te na nos sa Cons ti tu i ção um ar ti go que co gi tede acrés ci mo do ter ri tó rio na ci o nal.

O que to dos, po rém, en con tram dis pos to nela é que não é atri bu i -ção pri va ti va do Con gres so pro vi den ci ar so bre as ne ces si da des de ca -rá ter fe de ral, e to dos hão de con vir que se há caso em que os Po de resLe gis la ti vo e Exe cu ti vo, no exer cí cio des sa atri bu i ção co mum, se de -vam toda in te li gên cia e con fi an ça, o prin ci pal é esse do Acre, logo de -po is de re ce bi do do es tran ge i ro e de in cor po ra do ao ter ri tó riona ci o nal.

Não há mu i to, esta Câ ma ra, por ma i o ria ab so lu ta de seus mem -bros, san ci o nou, en tre apla u sos, o Tra ta do de Pe tró po lis.

Nós de ve mos a sua as si na tu ra a esse mes mo Go ver no a quem da -mos au to ri za ção de ad mi nis trar a re gião ad qui ri da até que lhe pos sa -mos dar or ga ni za ção de fi ni ti va, ha bi li ta dos para isso com os da dos que ago ra nos fa lham.

Pede o ora dor per mis são à Câ ma ra para de i xar a sua cons ciên ciaa res pos ta à esta per gun ta:

Como dou tri na Ri bas, com a his to ria do nos so e de es tra nhos pa í -ses, a ma i or ou me nor con fi an ça que o Po der Le gis la ti vo de po si ta naad mi nis tra ção in flui po de ro sa men te na am pli tu de re la ti va de sua ação.Ora, per gun ta à Câ ma ra: Pode ins pi rar re ce io de sa cri fí cio o in te res sepú bli co no Acre o Go ver no que no Acre sal vou o in te res se pú bli co peloTra ta do de Pe tró po lis? (Mu i to bem; mu i to bem. O ora dor é mu i to fe li ci -ta do).

O SR. ESMERALDINO BANDEIRA – Diz que hoje como on tem não pre ten dia fa lar so bre o pro je to e subs ti tu ti vo em de ba te, mas que a re fe -rên cia di re ta que a seu nome fez o ilus tre De pu ta do pelo Ma ra nhão, Sr.Luiz Do min gues, na oca sião em que ora va, o ar ras ta à tri bu na.

Não é exa to que o ora dor te nha qua li fi ca do de mons tro o pro je topri mi ti vo das Co mis sões de Le gis la ção de Orça men to.

Entre tan to, se fos se in ter pe la do a res pe i to, não va ci la ria em di zerque aque le pro je to lhe pa re ce um caso de te ra to lo gia le gis la ti va.

E as pró pri as Co mis sões dão ra zão ao ora dor.

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Tan to as sim que no subs ti tu ti vo que apre sen ta ram à dis cus são eao voto na Câ ma ra, su pri mi ram a au to ri za ção dada ao Go ver no paraor ga ni zar ad mi nis tra ti va e ju di ci a ri a men te o ter ri tó rio do Acre.

Ora, se os opo si to res a essa au to ri za ção do pro je to pri mi ti vo es ta -vam er ra dos, e se essa au to ri za ção nada ti nha de in con ve ni en te e de in -cons ti tu ci o nal, por que as ilus tres Co mis sões re u ni das não aman ti ve ram em seu subs ti tu ti vo ora em de ba te?

Assim, pois, se al guém há que te nha ca pi tu la do na es pé cie, re co -nhe cen do o seu erro, cer to não fo ram os im pug na do res do pro je to,mas os au to res do subs ti tu ti vo, isto é, as ilus tres Co mis sões no me a das.(Apo i a dos, mu i to bem).

No pri me i ro dis cur so pro nun ci a do pelo ora dor so bre os pro je tosalu di dos, con tes tou-lhe o ilus tre De pu ta do pelo Ma ra nhão à as ser çãode que a Cons ti tu i ção bra si le i ra não co gi ta va de ter ri tó rio como o queaca ba de ser ad qui ri do pelo tra ta do de Pe tró po lis.

Entre tan to, no pa re cer que on tem ela bo rou como mem bro dasCo mis sões re u ni das, pa re cer que hoje veio pu bli ca do no Diá rio doCon gres so, o ilus tre De pu ta do afir mou jus ta men te o que ha via con tes -ta do ao ora dor. (Apar te do Sr. Luiz Do min gues)

E não é tudo. No dis cur so que V. Exa aca bou ago ra mes mo de pro -nun ci ar dis se que a Cons ti tu i ção da Re pú bli ca da Amé ri ca do Nor te co -gi ta va de ter ri tó ri os em seus dis po si ti vos.

O ora dor, po rém, pede vê nia a seu eru di to co le ga para lem -brar-lhe as pa la vras de Co o ley em sua apre ci a da obra , The Ge ne ralPrin ci ples on Cons ti tu ti o nal Law, onde à pág. 35, ini cia um ca pí tu lo,afir man do que, “A Cons ti tu i ção foi fe i ta para os Esta dos e não paraTer ri tó ri os”, jus ti fi can do por esse modo a omis são da que le Esta tu toPo lí ti co a tal res pe i to. (Apar te do Sr. Luiz Do min gues).

E foi jus ta men te por aten der a que co i sa idên ti ca se ve ri fi ca naCons ti tu i ção Bra si le i ra, que ao ora dor pa re ceu pru den te que o Con -gres so vo tas se as ba ses le ga is de uma or ga ni za ção pro vi só ria para odito ter ri tó rio.

Com ver da de i ra es tra nhe za, po rém, viu o ora dor que o ilus tra dore pre sen tan te do Ma ra nhão as sen ta va o de ba te no ter re no da con fi an -ça ao hon ra do Pre si den te da Re pú bli ca, pon de ran do que sen do estaCâ ma ra em sua ma i o ria ami ga do go ver no, não de ve ria ne gar-lhe a au -to ri za ção alu di da.

Ao obs cu ro de pu ta do que ocu pa a tri bu na não pa re ce que a ques -tão deva ser pos ta nes se ter re no.

Não se tra ta ab so lu ta men te na hi pó te se de pro va de con fi an ça aoGo ver no, mas sim e uni ca men te do cum pri men to de um de ver cons ti -tu ci o nal por par te dos Srs. De pu ta dos.

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Se, de fato, se tra tas se de uma pro va de con fi an ça, o ora dor, comoami go do Go ver no, dá-la-ia sem he si tar.

Con clu in do o seu dis cur so, o ilus tre re pre sen tan te do Ma ra nhãoci tou, co men tan do as se guin tes pa la vras pro fe ri das em ou tra ses sãopelo ora dor: que não ti nha en tu si as mo nem ani mad ver são pelo Tra ta -do de Pe tró po lis.

É ver da de que pro fe riu es sas pa la vras, como tam bém é ver da deter na oca sião acres cen ta do que, en tre tan to, re co nhe cia e res pe i ta va os al tos in tu i tos pa trió ti cos com que o emi nen te Sr. Rio Bran co ne go ci a -ra e con clu i ra o dito Tra ta do.

Pa re ça o que pos sa pa re cer essa sua opi nião; bas ta ao ora dor queela seja, como é, fru to da me di ta ção e do es tu do.

Era o que ti nha a di zer.(Mu i to bem; mu i to bem. O ora dor é vi va men te fe li ci ta do).

O SR. ENÉAS MARTINS – Não re pu ta ne ces sá rio fa zer pra ça deque não pode ter in tu i tos pro te la tó ri os a sua pre sen ça na tri bu na. Sen -te, en tre tan to, não po der pro fe rir com toda a se gu ran ça o seu voto,sem que o pre ce dam de cla ra ções fran cas e po si ti vas do ilus tre lí der dama i o ria.

Tan to mais se im põem elas quan to en ten dem com as sun to que, nomo men to po lí ti co e na or dem cons ti tu ci o nal, é da mais alta im por tân cia.

Não pode con ce ber, e esse pon to fi cou fe liz men te as sen te, que amais gra ve das ques tões cons ti tu ci o na is que, em con se qüên cia daapro va ção do tra ta do de Pe tró po lis, vai ser aber ta na apli ca ção daCons ti tu i ção Fe de ral, pos sa ser re sol vi da de afo ga di lho, na pre mên ciado tem po, sem o pre ci so es tu do. (Apo i a dos). Enca ra o pro je to, por isso, e re gis tra esse con ce i to, re pe ti do a cada pas so na dis cus são, como umame di da ab so lu ta men te de oca sião, tran si tó ria ...

O. SR. LUIZ DOMINGUES – Per fe i ta men te.

O SR. ENÉAS MARTINS – de ca rá ter pro vi só rio, não sol ve rão demodo al gum a ques tão cons ti tu ci o nal de cor ren te do re co nhe ci men todo Acre como ter ri tó rio.

Uma Voz – E não pode de i xar de ser as sim.

O SR. GERMANO HASSLOCHER – Por tan to, é des ne ces sá rio opro je to.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Não há tal; é bas tan te ne -ces sá rio. (Há ou tros apar tes).

O SR. ENÉAS MARTINS – re ce io do modo por que fo ram pre sen -tes à Câ ma ra, quer o pro je to pri mi ti vo, quer o subs ti tu ti vo das Co mis -

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sões re u ni das, que por um sim ples in ci den te, em ar ti go de lei, seadi tas se à Cons ti tu i ção, re sol ven do às pres sas e sem os pre ci sos es cla -re ci men tos e exa me a gra ve e im por tan te ques tão a que se re fe re.

Pon de rou-lhe o seu ilus tre ami go, o emi nen te lí der da Câ ma ra, as -se gu ran do, com o pres tí gio de sua opi nião e alta sig ni fi ca ção mo ral epo lí ti ca que ela tem na Casa, que o Go ver no não pre ci sa va se não de au -to ri za ção para, exer ci tan do a ação ad mi nis tra ti va pro vi só ria, es pe ci al -men te em re la ção a im pos tos, de so bri gar-se em toda a am pli tu de doscom pro mis sos de cor ren tes do Tra ta do de Pe tró po lis.

Esses com pro mis sos, nin guém pen sa de modo con trá rio, de vemser sol vi dos com o con cur so das ren das que a re gião do Acre pos sapro du zir. Nes se sen ti do, apro va do o tra ta do e com ele as des pe sas queacar re ta, ipso fac to está ar ma do o Go ver no do cré di to para elas, cum -prin do só, e é nes se pon to que tem todo va lor o pro je to em dis cus são,au to ri zar um pos sí vel em prés ti mo ao fun do de ga ran tia, e a ar re ca da -ção de ta xas de im pos tos, base ex clu si va da ren da re gi o nal.

Vi san do esse pon to, o subs ti tu ti vo re gu lou a ma té ria, man dan doque toda a ren da ar re ca da da en tre a re cons ti tu ir o fun do de ga ran tiada Lei nº 581, de ju lho de 1899.

Pon de rou o ora dor às Co mis sões on tem re u ni das os re pa ros quea me di da lhe pro vo ca, não só por que a ren da pa re ce que deve res pon -der por to dos os com pro mis sos e não só pela re cons ti tu i ção da que lefun do, como tam bém, por que com in ter pre ta ção ou tra, a dis po si ção do subs ti tu ti vo po de ria ter um ca rá ter de ge ne ra li da de, re sol ven do umaques tão ou re gu lan do um as sun to de que nele não se co gi ta.

O hon ra do lí der da Câ ma ra, em res pos ta de cla ra que vi ria à tri bu -na por oca sião da dis cus são...

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Enca mi nhan do a vo ta ção.

O SR. ENÉAS MARTINS – por oca sião da vo ta ção ex pli car cla ro open sa men to do pro je to, na me di da ab so lu ta men te pro vi só ria, sem ca -rá ter de fi ni ti vo que ele tem.

O SR. VERGNE DE ABREU – dá um apar te.

O SR. ENÉAS MARTINS – não está le van tan do ques tão ne nhu ma, ape sar de que po de ria le van tá-la o que de mo ra ria a so lu ção pro vi só riada ques tão que dis cu ti mos.

O SR. ALFREDO VARELLA – Po de ria, sem dú vi da ne nhu ma.

O SR. ENÉAS MARTINS – O mo men to é da que les em que o maisalto de ver de pa tri o tis mo fala para que re sol va mos, sem de li be rar, se -não pro vi so ri a men te, so bre o que se nos pede – au to ri zar ex clu si va -

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men te o Po der Exe cu ti vo a co brar os mes mos im pos tos que atu al men te co bra na re gião acre a na.

Fol gou imen so o ora dor – e de se ja que fi que ex pres sa men te e con -sig na do – com o que ma ni fes tou o hon ra do re la tor das Co mis sões re u -ni das de Orça men to e Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti ça, afir man doque a Cons ti tu i ção não co gi ta da hi pó te se de ter ri tó ri os e, por tan to, deque o subs ti tu ti vo em de ba te não pode de ci dir nes te pres su pos to. (Tro -cam-se mu i tos apar tes. O Sr. Pre si den te re cla ma aten ção).

Pro va de que as sim é, de ram as Co mis sões re je i tan do as emen dasdo Sr. De pu ta do Ca ló ge ras, que re gu la va logo a ques tão ge ral de im -pos tos, que a Cons ti tu i ção se pa ra em es ta du a is e fe de ra is, a que acres -cem os mu ni ci pa is. To dos es ses en fe i xa dos nas emen das do ilus treDe pu ta do mi ne i ro e atri bu í dos ex pres sa men te à União.

Tão de li ca do é o as sun to, e tão acen tu a da men te pro ce de ram asCo mis sões. Não que ren do re sol vê-lo no pro je to em de ba te que, ten doelas mes mas, no seu pri mi ti vo pro je to, au to ri za ção em ge ral a ar re ca -da ção de ren das de qual quer es pé cie, no subs ti tu ti vo ex pres sa men te li -mi ta ram esse di re i to aos im pos tos fe de ra is.

Pen sa que não há dú vi das, por tan to, quan to à na tu re za do votoque a Câ ma ra vai pro fe rir e, so men te nes sa con for mi da de, o pode ace i -tar. Sem pre jul gar de modo al gum as ques tões cons ti tu ci o na is a de ba -ter na pró xi ma ses são or di ná ria.

Nem vai in co e rên cia nes se modo de pro ce der. Vo tan do a au to ri -za ção para co brar ta xas, o ora dor aten de ao ex clu si vo de se jo que opró prio Go ver no tem de não fi car esse as pec to da ques tão no re gi meda di ta du ra; apli can do o que for o su fi ci en te das mes mas ta xas à re -cons tru ção do fun do de ga ran tia, aten de-se ao de se jo de não aba lar ore gi me fi nan ce i ro, de que este mes mo fun do é base, as sun to para oqual era pre ci so o voto ex plí ci to do po der le gis la ti vo.

Re gu lan do pro vi so ri a men te essa ma té ria, não se re gu lou, na for -ma cons ti tu ci o nal es tá vel, a ques tão do Acre, pro vi den ci an do-se ex clu -si va men te so bre de li ca da ma té ria fi nan ce i ra, de in te i ra har mo nia devis tas com o exe cu ti vo e de acor do com a si tu a ção de fato. (Apo i a dos).

Para a ad mi nis tra ção, di ria me lhor, tal vez, para a ma nu ten çãopro vi só ria do Acre, até que o Con gres so te nha re sol vi do so bre ele, oGo ver no nem pre ci sa de de le ga ções do Con gres so, (Apo i a dos e nãoapo i a dos; apar tes). Até a tro ca de ra ti fi ca ções o Acre é uma re gião emli tí gio di plo má ti co; en quan to o Con gres so não lhe ti ver dado a for maju rí di ca pela qual deve en trar na es tru tu ra cons ti tu ci o nal, além de nãode mar ca do re gu lar men te, para as exi gên ci as de or dem in ter na, é umter re no em po der da União que, para ad mi nis trá-lo pro vi so ri a men teestá ar ma da do po der de, cu mu la ti va men te com o Con gres so (art. 35,no 1, da Cons ti tu i ção), pro vi den ci ar so bre ne ces si da des e con ve niên ci as

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de ca rá ter fe de ral (Apo i a dos). Ou tra co i sa não é o de ver de man ter pro -vi so ri a men te a re gião, até que pe los pro ces sos le ga is ela te nha des ti nore gu lar na or dem ins ti tu ci o nal.

Fe i tas es tas de cla ra ções, in vo can do as de cla ra ções pelo emi nen telí der da Câ ma ra fe i tas e que o ora dor re gis trou, sa li en tan do a de cla ra -ção for mal do re la tor do pa re cer das Co mis sões re u ni das a res pe i to deter ri tó ri os, fica tran qüi lo o ora dor com a sua cons ciên cia para vo tar em in te i ra har mo nia de vis tas com o Go ver no que, como ora dor, no as sun -to, res sal va to dos os prin cí pi os de or ga ni za ção cons ti tu ci o nal es tá vel,na me di da pro vi só ria de ca rá ter emi nen te men te tran si tó rio que o pro -je to em dis cus são re pre sen ta. (Mu i to bem; mu i to bem. O ora dor é vi va -men te cum pri men ta do).

O SR. PRESIDENTE – Ao pro je to fo ram apre sen ta dos um subs ti -tu ti vo e emen das do Sr. De pu ta do Ca ló ge ras.

Não apre sen to à con si de ra ção da Casa, por des ne ces sá rio, o re -que ri men to do Sr. Ne i va, por que, como de cla rei em tem po, em vir tu dedo art. 104, com bi na do com o 132, do Re gi men to, cum pre à Mesa des -ta car os nos 2 e 4 do subs ti tu ti vo, caso seja apro va do, para cons ti tu í rempro je to em se pa ra do.

O art. 104 diz:“Ne nhum ar ti go do pro je to po de rá con ter duas ou mais pro po si -

ções in de pen den tes en tre si, de modo que, su je i tas à dis cus são, se pos -sa adap tar uma e re je i tar ou tra”.

Estão nes te caso os nos 2 e 4 do pro je to.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (pela or dem) – Pedi a pa la -vra, Sr. Pre si den te, afim de me de so bri gar de um com pro mis so que to -mei on tem na re u nião das Co mis sões re u ni das, para este mo men to eesta hora, e não para a oca sião do de ba te.

Ontem, tive en se jo de di zer qual o pen sa men to que me ha via do -mi na do ao re di gir o in ci so 1 do art. 1º do pro je to. Como no fi nal des tear ti go, no pro je to pri mi ti vo se au to ri za va o Go ver no a to mar de em -prés ti mo ao fun do de ga ran tia, caso ne ces si tas se, as quan ti as des ti na -das à so lu ção dos nos sos com pro mis sos com a Bo lí via, e como euque ria que fi cas se bem acen tu a do que o Po der Le gis la ti vo e o Po derExe cu ti vo não de ser ta vam da po lí ti ca fi nan ce i ra que nos ti nha con du zi -do à re a bi li ta ção do cré di to na ci o nal, acres cen tei, quan do apre sen tei osubs ti tu ti vo: “..fi can do con sig na da à re cons ti tu i ção do mes mo fun dotoda a ren da do ter ri tó rio ora re co nhe ci do bra si le i ro”

Era bem de ver que, se esta ren da ex ce des se àqui lo que se to ma vade em prés ti mo do fun do de ga ran tia, o ex ce den te se ria es cri tu ra do,con for me é de es ti lo, como ren da even tu al da Na ção.

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Page 162: Tratado de Petrópolis

O SR. CRUVELLO CAVALCANTI – Da Na ção, da União, mu i tobem.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Isto é que é in tu i ti vo, istoé que é ló gi co.

As me di das con sig na das no subs ti tu ti vo, como no pro je to pri mi ti -vo, obe de ce ram sem pre a um pla no: ad mi nis tra ção ou a or ga ni za çãopro vi só ria. Tudo era fe i to in te ri na men te, si et in quan tum, até que oCon gres so se re u nis se e de li be ras se com per fe i to co nhe ci men to de ca -u sa so bre o as sun to.

Como, po rém a ex pres são, pro ver a or ga ni za ção ju di ciá ria e ci vil,des per tas se tan ta gri ta da opi nião e mes mo ob ser va ções de mu i tos denos sos co le gas, as Co mis sões re u ni das, dan do mos tras de sua do ci li da -de e o de se jo que têm da co la bo ra ção de to dos os seus co le gas, se lem -bra ram de apre sen tar o subs ti tu ti vo, su pri min do qual quer po der deor ga ni zar e dan do ao Go ver no ape nas o po der de ad mi nis trar pro vi so -ri a men te, o que quer di zer que to das as no me a ções que se fi ze rem res -sen tir-se-ão des se ca rá ter de pro vi só ri as, até que o Con gres so se re ú na e de li be re.

Ora, pa re ce, que ten do as Co mis sões re u ni das ofe re ci do essesubs ti tu ti vo e sen do pen sa men to do mi nan te na Câ ma ra ocu par-se estado as sun to com per fe i to co nhe ci men to de ca u sa na ses são or di ná ria,pa re ce que, re pi to, numa Câ ma ra de ami gos, não de via o as sun to des -per tar a ani mo si da de que des per tou da par te de al guns de meus hon ra -dos co le gas.

Essas ex pli ca ções eu as de via, por que as ti nha pro me ti do na Co -mis são. E cre io que as sim fica sa tis fe i to o in tu i to dos no bres co le gas.

Os nos I, III e IV do subs ti tu ti vo não cons ti tu em no vi da de al gu ma,Sr. Pre si den te, são au to ri za ções co muns, que to dos os dias o Par la men -to, na sua vida or di ná ria, con ce de ao Po der Exe cu ti vo, quan do este lheins pi ra con fi an ça. O no II con sig na uma si tu a ção cri a da pela ex cep ci o -na li da de das cir cuns tân ci as, em que se de le ga a fun ção de ad mi nis trarpro vi so ri a men te, até que o Con gres so de li be re, e o po der de ar re ca daras ta xas até o li mi te má xi mo das que são ar re ca da das em vir tu de domo dus vi ven di.

O pen sa men to do mi nan te na Co mis são, está cla ro, é man ter, fin -do o mo dus vi ven di, o sta tus quo no Acre, até que pos sa mos de li be rar.

Não vejo, por tan to, fe i tas es tas de cla ra ções, que nas cem ne ces sa -ri a men te do subs ti tu ti vo que ti ve mos a hon ra de apre sen tar e que a elese fi li am, que nele es tão con ti dos im plí ci ta e ex pli ci ta men te, não vejomo ti vos para que os ami gos do Go ver no se ar re ce i em de lhe con fi ar aau to ri za ção que as Co mis sões re u ni das in clu i ram no subs ti tu ti vo.

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Page 163: Tratado de Petrópolis

Cre io que com es tas ex pli ca ções sa tis fa ço ao meu hon ra do ami goDe pu ta do pelo Ama zo nas e à ex pec ta ti va da Câ ma ra.

Te nho dito. (Mu i to bem; mu i to bem).

O SR. PRESIDENTE (fa zen do soar os tím pa nos) – Vai-se pro ce derà vo ta ção do subs ti tu ti vo.

Em se gui da é pos to a vo tos e apro va do o se guin te:

SUBSTITUTIVO AO PROJETO Nº 5-A – 1904

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:Art. 1º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas

ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre osple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim asne ces sá ri as ope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da dí vi da pú -bli ca de 3% de ju ros e 3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti -mo do fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela Lei no 581, de 20 de ju lho de1899; fi can do con sig na da à re cons ti tu i ção do mes mo fun do toda a ren -da ar re ca da da no ter ri tó rio ora re co nhe ci do como bra si le i ro.

II – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te aque le ter ri tó rio, con ti nu an doa co brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po domo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí via e os de ma is im pos -tos fe de ra is.

III – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru -ção da es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art.VII do men ci o na do tra ta do, po den do fa zer ope ra ções de cré di to ouemis são de tí tu los in ter nos ou ex ter nos que fo rem ne ces sá ri os, não ex -ce den do 4% de ju ros de ½% de amor ti za ção para os tí tu los ex ter nos e5% e ½% para os in ter nos.

IV – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

O SR. ALFREDO VARELA (Pela or dem) – Sr. Pre si den te, peço a V. Exa se dig ne pro ce der à ve ri fi ca ção da vo ta ção.

Pro ce den do-se à ve ri fi ca ção, re co nhe ce-se que vo ta ram a fa vor84 Srs. De pu ta dos e con tra 14, to tal 98.

O SR. PRESIDENTE – Vo ta ram a fa vor do subs ti tu ti vo 84 Srs. De -pu ta dos e con tra 14. Não há nú me ro, vai-se pro ce der à cha ma da.

Pro ce den do-se à cha ma da, ve ri fi ca-se te rem-se au sen ta do os Srs.Car los de No va is, Jo a quim Pi res, Vir gí lio Brí gi do, Fran cis co Sá, Ânge -lo Neto e Sá Fre i re.

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Page 164: Tratado de Petrópolis

O SR. PRESIDENTE – Res pon de ram à cha ma da 105 Srs. De pu ta dos.Não há nú me ro.Fica adi a da a vo ta ção.De sig no para ama nhã a se guin te or dem do dia:Vo ta ção do Pro je to no 5 A, de 1904, com pa re cer so bre emen das

ofe re ci das na 3ª dis cus são do Pro je to no 5, des te ano, que au to ri za o Po -der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des -pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en treos ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e a dar ou tras pro vi dên ci as(3ª dis cus são).

Le van ta-se a ses são às 3 ho ras da tar de.

De cla ra ções

De cla ro que, se es ti ves se pre sen te à res pec ti va ses são, te ria vo ta -do pela apro va ção do Tra ta do de Pe tró po lis.

Sala das ses sões, 3 de fe ve re i ro de 1904Ber nar des de Fa ria.

De cla ra mos que vo ta ría mos a fa vor do Tra ta do de Pe tró po lis sees ti vés se mos pre sen tes.

Sala das ses sões, 3 de fe ve re i ro de 1904Igná cio Tos ta – Bul cão Vi an na – Eu gê nio Tou ri nho.

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Page 165: Tratado de Petrópolis

21ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 4 DE FEVEREIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Paula Gu i ma rães

O SR. ENÉAS MARTINS – Sr. Pre si den te, não há nin guém maisaves so do que eu a fa zer cor ri gen das de dis cur sos; apro ve i to até a oca -sião para di zer que o re su mo do meu dis cur so so bre re for ma ele i to ral étudo quan to há de mais opos to ao que eu dis se da tri bu na, e só sin tonão ter tido tem po de revê-lo para fa zer a pu bli ca ção na ín te gra.

Qu an to às pa la vras que on tem pro fe ri, pa re ce-me que não pos sode i xar sem re pa ro e re ti fi ca ção ime di a ta aque las que se re fe rem ao tre -cho que pas so a ler:

“O SR. ENÉAS MARTINS – ... de ca rá ter pro vi só rio, não sol ve rãode modo al gum a ques tão cons ti tu ci o nal de cor ren te do re co nhe ci men -to do Acre como ter ri tó rio”.

Bas ta ria a le i tu ra do que eu dis se para se ver que não é ab so lu ta -men te pos sí vel que eu te nha ex ter na do em re la ção a ter ri tó rio; o quees ta va es cri to nas no tas ta qui grá fi cas, o que foi man da do à Impren saNa ci o nal era – o Acre como bra si le i ro – e não – como ter ri tó rio.

A emen da é es sen ci al, Sr. Pre si den te, e, pois, peço a V. Exa se dig -ne man dar fa zer a ne ces sá ria re ti fi ca ção.

O SR. SÁ PEIXOTO – O Sr. De pu ta do Ray mun do Nery pede-mepara co mu ni car à Casa que, por mo lés tia de pes soa de sua fa mí lia, nãotem po di do com pa re cer às ses sões.

Apro ve i to a opor tu ni da de para de cla rar, afim de que cons te dosana is que voto con tra o subs ti tu ti vo das Co mis sões de Orça men to e deCons ti tu i ção e Jus ti ça, ao pro je to no 5, des te ano, e o faço por que o mes -mo con tém ma té ria que re pu to in cons ti tu ci o nal e por que não res sal vaos di re i tos do Ama zo nas.

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Page 166: Tratado de Petrópolis

Lan ço mão des te meio por que o Re gi men to não me per mi te fa zerde cla ra ção de voto, mo ti va da. Qu an do foi en cer ra da a dis cus são, on -tem, eu não me acha va no re cin to.

Em se gui da é apro va da a ata da ses são an te ce den te.Pas sa-se ao ex pe di en te.O SR. ALENCAR GUIMARÃES (1º Se cre tá rio) de cla ra que não há

ex pe di en te so bre a mesa.O SR. WANDERLEY DE MENDONÇA – Pedi a pa la vra, Sr. Pre si -

den te, para le var ao co nhe ci men to de V. Exa e da Câ ma ra que re ce bi domeu dig no co le ga de ban ca da Sr. Ray mun do de Mi ran da, atu al men teem Pe ne do, onde o re tém mo lés tia em pes soa de sua fa mí lia, um te le -gra ma au to ri zan do-me a de cla rar que, se aqui es ti ves se, te ria vo ta do afa vor do tra ta do ce le bra do em Pe tró po lis, en tre o Bra sil e a Bo lí via, re -la ti vo à ques tão do Acre.

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Page 167: Tratado de Petrópolis

ORDEM DO DIA

É anun ci a da a vo ta ção do Pro je to no 5–A, de 1904, com pa re cer so -bre emen das ofe re ci das na 3ª dis cus são do pro je to no 5, des te ano, queau to ri za o Po der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga -men to das des pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e a dar ou traspro vi dên ci as (3ª dis cus são).

O SR. PRESIDENTE – Não ha ven do nú me ro le gal para a vo ta çãoda ma té ria en cer ra da, le van to a ses são por uma hora até que haja nú -me ro.

Sus pen de-se a ses são às 12 ho ras e 45 mi nu tos da tar de.Re a bre-se a ses são à 1 hora e 50 mi nu tos da tar de.

O SR. PRESIDENTE – Con vi do os Srs. De pu ta dos a ocu pa remseus lu ga res.

A lis ta da por ta acu sa a pre sen ça de 117 Srs. De pu ta dos.Há nú me ro le gal; vai-se pro ce der à vo ta ção de ma té ria cons tan te

da or dem do dia.É anun ci a da a vo ta ção do Pro je to no 5–A, de 1904, com pa re cer so -

bre emen das ofe re ci das na 3ª dis cus são do pro je to no 5, des te ano, queau to ri za o Po der Exe cu ti vo a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga -men to das des pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e a dar ou traspro vi dên ci as (3ª dis cus são).

Pos to a vo tos o subs ti tu ti vo da Co mis são, ve ri fi ca-se te rem vo ta -do a fa vor 91 Srs. De pu ta dos e con tra 11, to tal 102.

O SR. PRESIDENTE – Não há nú me ro. Vai-se pro ce der à cha ma da.Pro ce den do-se à cha ma da, ve ri fi ca-se te rem se au sen ta do os

Srs. Fon se ca e Sil va e Iri neu Ma cha do.

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Page 168: Tratado de Petrópolis

SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS

O SR. PRESIDENTE – Res pon de ram à cha ma da 115 Srs. De pu ta dos.Vai-se pros se guir a vo ta ção.Em se gui da é pos to a vo tos e apro va do o se guin te:

SUBSTITUTIVO AO PROJETO Nº 5–A – 1904(Da Co mis são de Orça men to)

Ao Pro je to no 5, de 1904:

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:Art. 1º fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas

ori un dos do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tres osple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim asne ces sá ri as ope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da di vi da pú -bli ca de 3% de ju ros e 3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti -mo do fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela lei nº 581, de 20 de ju lho de1899; fi can do con sig na da à re cons ti tu i ção do mes mo fun do toda a ren -da ar re ca da da no ter ri tó rio ora re co nhe ci do como bra si le i ro.

II – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te aque le ter ri tó rio, con ti nu an doa co bra, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po domo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí via e os de ma is im pos -tos fe de ra is.

III – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru -ção da es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art.VII do men ci o na do tra ta do, po den do fa zer ope ra ções do cré di to ouemis são de tí tu los in ter nos ou ex ter nos que fo rem ne ces sá ri os, não ex -ce den do 4% de ju ros e 1/2% de amor ti za ção para os tí tu los ex ter nos e5% e 1/2% para os in ter nos.

IV – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

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Page 169: Tratado de Petrópolis

Art. 2º Ro vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

O SR. PRESIDENTE – O subs ti tu ti vo foi apro va do por 101 vo toscon tra 16, to tal, 117.

São con si de ra das pre ju di ca das as emen das ofe re ci das pelo Sr.Ca ló ge ras.

Em vir tu de do que de cla rou a Mesa na ses são de on tem, de acor do com os ar ti gos 104 e 132 do Re gi men to, des ta co, para cons ti tu í rempro je to em se pa ra do, os nos II e IV do subs ti tu ti vo. Esta par te des ta ca davai ser en vi a da às Co mis sões, afim de que a re di jam em pro je to, queterá mais uma dis cus são.

O SR.CASSIANO DO NASCIMENTO – Peço a pa la vra pela or dem.

O SR. PRESIDENTE – Tem a pa la vra pela or dem o Sr. Cas si a no do Nas ci men to.

O SR.CASSIANO DO NASCIMENTO (pela or dem) – Sr. Pre si den -te, ten do V. Exa de cla ra do des ta ca dos do subs ti tu ti vo, que em nome das Co mis sões re u ni das, tive a hon ra de ofe re cer à con si de ra ção da Câ ma -ra, os nos 2 e 4, que pas sa ram a ser um pro je to apar te, re que i ro a V. Exa

se dig ne con sul tar a Casa so bre se con ce de ur gên cia, afim de ser ime di -a ta men te dis cu ti da e vo ta da essa par te des ta ca da.

O SR. PRESIDENTE – Logo que a Co mis são man de à mesa a re da -ção; para nova dis cus são, da par te des ta ca da do pro je to, fa rei a con sul -ta a que V. Exa se re fe re.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO – Te nho a hon ra de pas saras mãos de V. Exa essa re da ção.

O SR. PRESIDENTE – O Sr. De pu ta do Cas si a no do Nas ci men toaca ba de en vi ar à Mesa a re da ção da par te des ta ca da do subs ti tu ti vo,para cons ti tu ir pro je to em se pa ra do.

O mes mo Sr. De pu ta do re quer ur gên cia para que, dis pen sa da a im -pres são e in ters tí cio, en tre ime di a ta men te em dis cus são este pro je to.

O pe di do é per fe i ta men te re gi men tal, está de acor do com os arts.111 e 133 do Re gi men to.

Vou sub me ter a vo tos o pe di do de ur gên cia.Os se nho res que o apro vam, que i ram, se le van tar. (Pa u sa).Foi con ce di da à ur gên cia.Não for mu lo nova con sul ta de acor do com o art. 73, por que a or -

dem do dia só co gi ta da vo ta ção des se pro je to, não ha ven do pre ju í zoal gum de ma té ria con tem pla da na or dem dos tra ba lhos.

Vai se pro ce der à le i tu ra da par te que cons ti tu iu pro je to em se pa -ra do. (Lê).

Em se gui da é anun ci a da a dis cus são do se guin te.

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Page 170: Tratado de Petrópolis

Pro je to nº 5–C – 1904Ses são Extra or di ná ria

Re da ção para nova dis cus são do pro je to des ta ca do, de acor do com oart. 104 do Re gi men to Inter no, que au -to ri za o Po der Exe cu ti vo a ad mi nis -trar pro vi so ri a men te o ter ri tó riore co nhe ci do como bra si le i ro, em vir -tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e daou tras pro vi dên ci as.

O Con gres so Na ci o nal de cre ta:Art. 1º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio, re co nhe ci do como

bra si le i ro, em vir tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre oBra sil e a Bo lí via, con ti nu an do a co brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po do mo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver noda Bo lí via e os de ma is im pos to fe de ra is.

II – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci o sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

Sala das ses sões, 4 de fe ve re i ro de 1904. – Cas si a no do Nas ci men to –João Vi e i ra – Fran cis co Sá – Luiz Do min gues – Ja mes Darcy. – Verg nede Abreu – Ga leão Car va lhal – Ho san nah de Oli ve i ra – Fran cis co Ve i ga– Fre de ri co Bor ges.

Nin guém pe din do a pa la vra é en cer ra da a dis cus são.Em se gui da é pos to a vo tos e apro va do o se guin te:

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Page 171: Tratado de Petrópolis

Pro je to nº 5–C – 1904

O Con gres so Na ci o nal de cre ta. Art. 1º Fica o Po der Exe cu ti vo au to ri za do:I – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do como

bra si le i ro, em vir tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en treBra sil e a Bo lí via, con ti nu an do a co brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar re ca da das ao tem po do mo duns vi ven di ajus ta do com o Go ver noda Bo lí via e os de ma is im pos tos fe de ra is.

II – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

O SR. VIRIATO MASCARENHAS (Pela Ordem) – Sr. Pre si den te,na qua li da de de mem bro da Co mis são de Re da ção, te nho a hon ra deen vi ar à Mesa a re da ção do pro je to que aca ba de ser vo ta do.

O SR. PRESIDENTE – A Co mis são de Re da ção aca ba de en vi ar àMesa a re da ção fi nal do pro je to no 5 B, de 1904.

Em se gui da é sem de ba te apro va da a se guin te:

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Page 172: Tratado de Petrópolis

Re da ção nº 5–B – 1904 Ses são Extra or di ná ria

Re da ção fi nal do pro je to n. 5,des te ano, que au to ri za o Pre si den teda Re pú bli ca a abrir os cré di tos ne -ces sá rio para pa ga men to das des pe -sas ori un das do tra ta do con clu í do em17 de no vem bro de 1903, ente os ple ni -po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via e adar ou tras pro vi dên ci as.

O Con gres so Na ci o nal de cre ta: Art. 1º Fica o Pre si den te da Re pú bli ca au to ri za do:I – A abrir, os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas

ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903, en tre osple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim asne ces sá ri as ope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da di vi da pú -bli ca de 3% e ju ros de 3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti -mo do fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela lei nº 581 de 20 de ju lho de1899; fi can do con sig na da à re cons ti tu i ção do mes mo fun do toda a ren -da ar re ca da da no ter ri tó rio ora re co nhe ci do como bra si le i ro.

II – A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru -ção da es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art.VII do men ci o na do tra ta do po den do fa zer ope ra ções de cré di to ouemis são de tí tu los in ter nos ou ex ter nos que fo rem ne ces sá ri as, não ex -ce den do de 4% de ju ros e ½ de amor ti za ção para os tí tu los ex ter nos e5% e ½% para os in ter nos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

Sala das Co mis sões, 4 de fe ve re i ro de 1904. –Vi ri a to Mas ca re -nhas. – Fer re i ra Bra ga.

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Page 173: Tratado de Petrópolis

É o pro je to en vi a do ao Se na do.

O SR. CASSIANO DO NASCIMENTO (Pela or dem) – Re que reobter a dis pen sa da im pres são da re da ção do pro je to no 5 D, de 1904,para o fim de ser dis cu ti do e vo ta do ime di a ta men te.

Em se gui da é sem de ba te apro va da a se guin te:

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Page 174: Tratado de Petrópolis

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Re da ção nº 5–D – 1904 Ses são ex tra or di ná ria

Re da ção fi nal do Pro je to no 5–C, des de ano, des ta ca do em vir tu de doart.104 do Re gi men to Inter no, au to ri -zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a ad -mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó riore co nhe ci do como bra si le i ro, em vir -tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de1903 en tre Bra sil e a Bo lí via; e da ou -tras pro ve niên ci as.

O Con gres so Na ci o nal re sol ve:I – Art. 1º Fica o Pre si den te da Re pú bli ca au to ri za do:A ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do bra si le i -

ro, em vir tu de do tra ta do de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí -via, con ti nu an do a co brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas aliar re ca da das ao tem po do mo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no daBo lí via, e os de ma is im pos tos fe de ra is.

II – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

Sala das Co mis sões, 4 de fe ve re i ro de 1904. – Vi ri a to Mas ca re nhas – Fer re i ra Bra ga.

É o pro je to en vi a do ao Se na do.

O SR. THOMAZ CAVALCANTI (pela or dem) – Sr. Pre si den te,peço a V. Exa para de cla rar em ata que vo tei con tra o subs ti tu ti vo quefoi apre sen ta do pe las Co mis sões de Orça men tos e de Jus ti ça, não só na pri me i ra par te que foi des ta ca da como na se gun da.

Page 175: Tratado de Petrópolis

O SR. PRESIDENTE – Qu e i ra V. Exa man dar a sua de cla ra ção pores cri to

O SR. PRESIDENTE – Não ha ven do nada mais a tra tar, de sig no,para ama nhã a se guin te or dem do dia:

Tra ba lhos de co mis sões. Le van ta-se a ses são às 2 ho ras e 25 mi nu tos da tar de.

De cla ra ções

De cla ra mos ter vo ta do con tra o subs ti tu ti vo das Co mis sões, parapre fe rir mos as emen das subs ti tu ti vas do De pu ta do Ca ló ge ras ao pro -je to no 5 A, de 1904,

Sala das ses sões, 4 de fe ve re i ro de 1904 – João Luiz – Hen ri que Sal les – Iri neu Ma cha do.

De cla ra mos ter vo ta do con tra o subs ti tu ti vo das Co mis sões deOrça men to e de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti ça ao pro je to no 5 A, de1904.

Sala das ses sões, 4 de fe ve re i ro de 1904. –Au ré lio Amo rim – Sá Pe i -xo to.

De cla ro ter vo ta do con tra tudo, tudo ab so lu ta men te, que hoje me -re ceu apro va ção da Câ ma ra.

Sala das ses sões, 4 de fe ve re i ro de 1904. – Alfre do Va re la.

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( Pro po si ção no 7 de 1904 – Re da ção fi nal da re so lu ção apro va da no Con -gres so Na ci o nal au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca à ad mi nis tra ção pro -

vi só ria do ter ri tó rio do Acre e à aber tu ra de cré di tos para tal fim. )

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22ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA EM 25 DE FEVEREIRO DE 1904*

Pre si dên cia do Sr. Pa u la Gu i ma rães

O SR. PRESIDENTE – A ses são ex tra or di ná ria que hoje ter mi nafoi con vo ca da por de cre to no 5.093, de 28 de de zem bro de 1903, ten dose re a li za do a ses são de aber tu ra a 30 e a pri me i ra ses são da Câ ma ra a31 do mes mo mês. O Sr. Pre si den te da Re pú bli ca, “con si de ran do que oCon gres so Na ci o nal, na ses são or di ná ria, não po dia pro nun ci ar-se so -bre o tra ta do de li mi tes com a Bo lí via as si na do em Pe tró po lis a 17 deno vem bro, e con si de ran do ur gen te de ci dir o Con gres so so bre tal as -sun to, de alta re le vân cia para os in te res ses na ci o na is”, fez a 28 con vo -ca ção e, a 29 de de zem bro, em men sa gem à Câ ma ra dos De pu ta dos,en vi ou aque le tra ta do, que me re ceu pa re cer fa vo rá vel da Co mis são deDi plo ma cia e Tra ta dos, a 5 de ja ne i ro des te ano. Por de li be ra ção to ma -da a 13 do mes mo mês, foi o pa re cer pu bli ca do jun ta men te com a men -sa gem e com a ex po si ção de mo ti vo do Sr. Mi nis tro do Exte ri or sob no 1 de 1904. O pa re cer ter mi na va por pro je to apro van do o tra ta do.

A Câ ma ra re sol veu, na ses são de 13, que a de li be ra ção a res pe i tode via ser to ma da em ses sões se cre tas, que nes se mes mo dia co me ça -ram e que fo ram em nú me ro de onze, ter mi nan do a 25, com apro va çãodo tra ta do por 118 vo tos con tra 13. O re sul ta do da vo ta ção, que foi no -mi nal, teve a pu bli ci da de ofi ci al re que ri da pelo Sr. Cas si a no do Nas ci -men to e con ce di da pela Câ ma ra.

O pro je to apro van do o tra ta do e os pa pe is a ele re fe ren tes fo ramen vi a dos ao Se na do em 26 de ja ne i ro. Nes se mes mo dia, as Co mis sõesre u ni das de Orça men to e de Cons ti tu i ção, Le gis la ção e Jus ti ça apre -sen ta ram o pro je to com ple men tar da apro va ção do tra ta do de Pe tró -po lis, au to ri zan do o Go ver no a ad mi nis trar o ter ri tó rio do Acre e afa zer as ope ra ções de cré di to pre ci sas para pa ga men to das des pe sasori un das do mes mo tra ta do.

* ACD, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.177 e 178

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Este pro je to, de po is de pas sar pela 2ª dis cus são, foi subs ti tu í do, em 3ª dis cus são, por ou tro das mes mas Co mis sões sen do apro va do o subs -ti tu ti vo, do qual se des ta cou a par te re la ti va à ad mi nis tra ção do Acrepara cons ti tu ir pro je to se pa ra do, com uma nova dis cus são, fe i ta ime di a -ta men te, se guin do am bas para o Se na do a 5 de fe ve re i ro cor ren te.

Du ran te a ses são ex tra or di ná ria, à Câ ma ra apro vou ain da e en vi -ou ao Se na do o cré di to so li ci ta do pelo Po der Exe cu ti vo para as des pe -sas com o pa ga men to de sub si dio aos De pu ta dos e Se na do res e com opa ga men to de ou tras des pe sas de cor ren tes da con vo ca ção ex tra or di -ná ria, tais como apa nha men to e pu bli ca ção de de ba tes.

Fi ca ram sem an da men to, ten do sido en vi a dos às co mis sões res -pec ti vas. Qu a tro pro je tos apre sen ta dos no cor rer da ses são ex tra or di -ná ria: o 1o, do Sr. Alfre do Va re la, so bre pro mo ções de al fe res ete nen tes-co ro néis e so bre re for ma de sar gen tos do exér ci to; o 2o, do Sr. Affon so Cos ta, re gu lan do o sor te io para o exer ci to e ar ma da; o 3o, doSr. Alfre do Va re la, sus pen den do a exe cu ção do re gu la men to para osor te io da ar ma da; e o 4o, do Sr. Cru vel lo Ca val can te, abrin do cré di tode 10:033$016 para pa ga men to de dois fi e is da Re ce be do ria da Ca pi talFe de ral, car gos cri a dos por de cre to le gis la ti vo.

Te nho o pe sar de de i xar con sig na do que fa le ce ram, du ran te a ses -são ex tra or di ná ria, os Srs. De pu ta dos Aris ti des Au gus to Mil ton, Edu ar -do Au gus to Pi men tel Bar bo sa e Fran cis co To len ti no Vi e i ra de Sou za,que tão gra tas e sa u do sas re cor da ções de i xa ram nes ta casa pela in te li -gên cia, zelo e de di ca ção com que de sem pe nha ram os man da dos quelhes fo ram con fi a dos pe los Esta dos da Ba hia, Mi nas e San ta Ca ta ri na.

O Se na do, em data de 23 de fe ve re i ro, co mu ni cou à Câ ma ra ha vercon clu í do nes se dia os seus tra ba lhos, aguar dan do idên ti ca co mu ni -ca ção des ta casa do Con gres so para po der ser de sig na do o dia deen cer ra men to da pre sen te ses são ex tra or di ná ria con vo ca da peloDe cre to no 5.093 de 28 de de zem bro de 1903.

A Mesa da Câ ma ra vai ofi ci ar à do Se na do que pode lo grar o en -cer ra men to dos tra ba lhos ama nhã, 26 do cor ren te, a 1 hora da tar de;do que dou co nhe ci men to aos Srs. De pu ta dos, con vi dan do-os a com -pa re ce ram nes se dia e à hora de sig na da à ses são de en cer ra men to dosre fe ri dos tra ba lhos. (Pa u sa.)

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SESSÃO SOLENE DE ENCERRAMENTO DA 1ª SESSÃO DA5ª LEGISLATURA E DE ABERTURA DA SESSÃO

EXTRAORDINÁRIA DO CONGRESSO NACIONAL,CONVOCADA PELO DECRETO No 5.093, DE 28 DE

DEZEMBRO DE 1903, PARA O DIA 30 DO MESMO MÊS. *

Pre si dên cia do Sr. José Go mes Pi nhe i ro Ma cha do (Vice-Pre si den te do Se na do)

A 1 hora da tar de do dia 30 de de zem bro de 1903, achan do-se pre -sen tes no re cin to do edi fí cio do Se na do os Srs. Se na do res e De pu ta dos, to mam as sen to na Mesa os Srs. José Go mes Pi nhe i ro Ma cha do,Vice-pre si den te do Se na do, Jo a kim de Oli ve i ra Ca tun da, 1º Se cre tá riodo Se na do, Ma no el de Alen car Gu i ma rães, 1º Se cre tá rio da Câ ma ra dosDe pu ta dos, J. B. Wan der ley de Men don ça, 3º Se cre tá rio da Câ ma ra dosDe pu ta dos, e Hen ri que da Sil va Cou ti nho, 4º Se cre tá rio do Se na do

O SR. PRESIDENTE – Está aber ta a ses são so le ne.Srs. Mem bros do Con gres so Na ci o nal, os tra ba lhos le gis la ti vos fo -

ram ini ci a dos no dia 3 de maio, que é o de sig na do pela Cons ti tu i ção, maspro lon ga ram-se até hoje em vir tu de de su ces si vas pror ro ga ções de cre ta -das em 24 de agos to, 29 de se tem bro, 29 de ou tu bro e 27 de no vem bro.

No cor ren te ano, par te do tem po des ti na do aos tra ba lhos nor ma is foi con su mi do com a ve ri fi ca ção dos po de res dos De pu ta dos e do ter çodos Se na do res, por se tra tar de nova le gis la tu ra e tam bém com a apu -ra ção das ele i ções re a li za das em de zem bro do ano pas sa do para pre en -chi men to do car go de Vice-Pre si den te da Re pú bli ca.

Aber to o Con gres so e ele i tas as res pec ti vas Me sas e Co mis sõesPer ma nen tes, nas duas Câ ma ras, fo ram es tas con vo ca das para, no dia18 do re fe ri do mês, pro ce de rem à apu ra ção a que ve nho me re fe rir, sen -do logo na pri me i ra ses são sor te a das as Co mis sões Espe ci a is in cum bi -das do exa me das atas e mais do cu men tos re la ti vos ao ple i to ele i to ral.

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Em 18 do mês se guin te pôde a Mesa ler ao Con gres so o seu pa -re cer opi nan do pela apro va ção das ele i ções e pelo re co nhe ci men to doSr. Dr. Affon so Au gus to Mo re i ra Pen na, pa re cer que foi una ni me men -te apro va do, sem dis cus são, sen do em ato con tí nuo acla ma do o ilus treci da dão em tão dig na men te de sem pe nha as fun ções do alto car go daVice-Pre si den te da Re pú bli ca, des de o dia 25 de ju nho em que, pe ran teo Con gres so con vo ca do para esse fim e com as for ma li da des do es ti lo,pres tou o com pro mis so cons ti tu ci o nal.

Se lon ga foi a ses são le gis la ti va, mu i tos fo ram os as sun tos queocu pa ram a aten ção das duas Ca sas, bas ta para o de mons trar o fatode ter o Se na do en vi a do à san ção 139 atos le gis la ti vos e 4 para a for -ma li da de da pu bli ca ção; e à Câ ma ra dos De pu ta dos 29 à san ção, e ter ain da aque la Casa ini ci a do 42 pro je tos de lei e re me ti do 16 à ou traCâ ma ra a ter esta ini ci a do 264 e en de re ça do ao Se na do 241 pro po si -ções.

Dois fo ram os ca sos de re nún cia de man da to: um no Se na do, doSr. Jo a quim Pa u lo No gue i ra Mal ta, de Ala go as, e ou tro na Câ ma ra dosDe pu ta dos, do Sr. Car los Vaz de Mel lo, de Mi nas Ge ra is.

Dois os de fa le ci men tos ocor ri dos du ran te o ano: os dos Srs. De -pu ta dos João So a res Ne i va e Ada u to Gu i ma rães, dig nos e ilus tres re -pre sen tan tes da Pa ra í ba o pri me i ro, e da Ba hia o se gun do, am bosjus ta men te apre ci a dos por seus me re ci men tos e ser vi ços ao país.

Fo ram li cen ci a dos du ran te o ano, pelo Se na do os Srs. José Ber -nar do, Baes de Car va lho, Cons tan ti no Nery , Pe dro Ve lho. Nilo Pe ça -nha, Vi cen te Ma cha do e Ba ra ta Ri be i ro; e pela Câ ma ra dos De pu ta dosos Srs. Ray mun do Mi ran da, Pe re i ra Lima, Vic to ri no Mon te i ro, Dias Vi -e i ra, Pa u li no da Sou za, Arthur Le mos, Ray mun do Nery, Sou za Ga yo so.Lin dolp ho Ca e ta no e Ma no el Ful gen cio.

Pelo Se na do foi re a li za da uma ses são se cre ta para apro var no -me a ções e re mo ções de vá ri os di plo ma tas e para con ce der a li cen çane ces sá ria para que o Sr. Se na dor Ruy Bar bo sa ser vis se como um dosple ni po ten ciá ri os nas ne go ci a ções ini ci a das com a mis são es pe ci al daBo lí via so bre a ques tão do ter ri tó rio do Acre e ou tras que ele se pren -dem.

São es tes, se nho res, os da dos que de mo men to pos so mi nis -trar-vos so bre os tra ba lhos do ano.

Antes, po rem, de con clu ir devo tra zer ao vos so co nhe ci men toque o Sr. Pre si den te da Re pú bli ca, aten den do a que só ago ra pôde sersub me ti do ao Con gres so o tra ta do re cen te men te ce le bra do com a Bo lí -via o que ur gen te é uma de ci são so bre tão im por tan te as sun to, re sol -veu con vo car para hoje, e ex tra or di na ri a men te, o Con gres so Na ci o nal.

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O SR. PRESIDENTE – Está en cer ra da a pri me i ra ses são or di ná riada quin ta le gis la tu ra e aber ta a ses são ex tra or di ná ria do Con gres soNa ci o nal, con vo ca do para hoje pelo Po der Le gis la ti vo.

Achan do-se no edi fí cio o men sa ge i ro do Sr.Pre si den te da Re pú -bli ca, por ta dor da men sa gem di ri gi da ao Con gres so, con vi do os Srs. 3ºe 4º Se cre tá ri os a in tro du zi-lo no re cin to.

Intro du zi do no re cin to, o men sa ge i ro do Sr. Pre si den te da Re pú -bli ca en tre ga a men sa gem à Mesa e re ti ra-se.

O SR. PRESIDENTE – Vai se pro ce der à le i tu ra da men sa gem. *

O Sr. 1º Se cre tário lê a se guin te

Mensagem

Srs. Membros do Congresso Nacional, o recente tratado de 17 denovembro próximo findo, celebrado entre o Brasil e a Bolívia, estádependendo de vossa aprovação.

A ses são ex tra or di ná ria que hoje se ins ta la, con vo ca da de acor docom art. 48, no 10 da Cons ti tu i ção da Re pú bli ca, foi de ter mi na da ex clu -si va men te pela con ve niên cia de não ser adi a do o vos so pro nun ci a men -to so bre o re fe ri do pac to, em vis ta dos gran des in te res ses que com elese re la ci o nam.

Não fora a ur gên cia da re so lu ção de fi ni ti va de as sun to tão im por -tan te e eu não me ani ma ria por cer to a fa zer um novo ape lo ao vos sopa tri o tis mo, após o en cer ra men to da pro lon ga da e la bo ri o sa ses sãoor di ná ria do cor ren te ano.

Por mo ti vos pon de ro sos que co nhe ce is, so men te on tem pôde sersub me ti do ao vos so exa me e apro va ção aque le tra ta do. Fi-lo acom pa -nhar de uma ex ten sa ex po si ção jus ti fi ca ti va, que me foi apre sen ta dapelo Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res e de vá ri os do cu men tos que fa ci -li ta rão o seu es tu do.

O Go ver no está con ven ci do de ha ver bem cum pri do o seu de ver,en con tran do so lu ção hon ro sa para um ve lho li tí gio in ter na ci o nal, ten -do sem pre em vis ta os gran des in te res ses da Re pú bli ca e mi nis -trar-vos-á to dos os es cla re ci men tos e in for ma ções que pre ci sar despara o de sem pe nho da alta fun ção cons ti tu ci o nal que vos in cum be.

O SR. PRESIDENTE – O Con gres so fica in te i ra do do que ex põe oSr. Pre si den te da Re pú bli ca em sua Men sa gem.

Le van ta-se a sessão so le ne.

* AS, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.único, p.3

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CONGRESSO NACIONAL

ANAIS DO SENADO FEDERALSESSÃO EXTRAORDINÁRIA

CONVOCADA PELO

DECRETO No 5.093, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1903

Ses sões de 30 de de zem bro de 1903 a 25 de fe ve re i ro de 1904

VOLUME ÚNICOE

APÊNDICE

RIO DE JANEIROIMPRENSA NACIONAL

1905

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SESSÕES PÚBLICAS RELATIVAS ÀSDISCUSSÕES DO TRATADO

NO SENADO FEDERAL

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ATA EM 6 DE JANEIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Ca tun da (1º Se cre ta rio)

A meia hora de po is do meio dia abre-se a ses são, a que con cor rem os Srs. Se na do res J. Ca tun da, Cos ta Aze ve do, Cons tan ti no Nery, JoãoCor de i ro, Álva ro Ma cha do e La u ro So dré (6). *

O SR. PRESIDENTE – tem a pa la vra o Sr. La u ro So dré:

O SR. LAURO SODRÉ – Sr. Pre si den te; a pro pó si to des te pro ces -so de dis cus são tem-se vis to, o Se na do é tes te mu nha do modo por queos tra ta dos in ter na ci o na is tem aqui sido dis cu ti dos.

Não sei de pági na que me nos re co men de o Con gres so.So bre o tra ta do do Ama pá, ocor reu o que to dos nós sa be mos: tal -

vez 14 Srs. Se na do res for mu la ram de cla ra ções de voto, mas a ver da de,é, Sr. Pre si den te, que vo ta mo-lo em um só dia.

Re u ni dos aqui em um do min go, apro va mos o tra ta do que nos vi -nha re me ti do às pres sas pela ou tra casa do Con gres so, e às car re i rasati ra do aqui, por que o go ver no exi gia a sua apro va ção ime di a ta.

De po is foi o tra ta do en tre o Bra sil e a Gu i a na Ingle sa. V. Exa sabeque o Con gres so ti nha que agir.

Então, o Exe cu ti vo re cor ria a esse acor do e fa zia va ler di an te dosseus ami gos no Con gres so a ne ces si da de ina diá vel de ser quan to an tes, ime di a ta men te, logo e apro va do esse tra ta do, por que o pe río do es ta vaex tin to, o pra zo es ta va ven ci do, e o Se na do Fe de ral teve de sub me -ter-se, e não que ro nes ta hora cen su rá-lo por esta con du ta, às exi gên -ci as do po der Exe cu ti vo.

E o tra ta do, Sr.Pre si den te, foi apro va do nas con di ções em que ti -nha de o ser: nós mal ou vi mos a le i tu ra da men sa gem pela Mesa e ti ve -mos de dar o nos so voto.

O SR. AZEREDO – Mas o pa re cer, per mi ta-me V. Exa, não foi dado ime di a ta men te.

O SR. LAURO SODRÉ – Já me re fe ri à le i tu ra do pa re cer.

Mal aca bá va mos de ou vir a le i tu ra do pa re cer, en trou ime di a ta -men te em dis cus são o tra ta do.

Ain da ago ra, Sr. Pre si den te, em se tra tan do do con vê nio so bre oAcre, isto é, da ne go ci a ção re a li za da en tre a nos sa chan ce la ria e achan ce la ria Bo li vi a na, pa re ce-me que a pers pec ti va que se nos an to lhaé a mes ma.

** AS, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p.22

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O SR. FRANCISCO GLYCERIO – Pois não há ra zão para isto.Con vo cou-se até o Con gres so ex tra or di na ri a men te para tra tar do as -sun to, o que po de rá fa zer em um, dois ou três me ses.

O SR. LAURO SODRÉ – Eu mes mo ti nha idéia de sub me ter à con -si de ra ção do Se na do, Sr. Pre si den te, uma in di ca ção que con sis ti rá emfa ci li tar o es tu do e o voto do Se na do re la ti va men te a este tra ta do.

Apro ve i tan do a mi nha pre sen ça na tri bu na, man da rei tam bém àMesa essa in di ca ção.

Nela so lí ci to, que logo que fo rem pre sen tes à Mesa do Se na do ospa pe is que se re fe rem a essa ques tão, a Mesa dê-se pres sa em fa zer im -pri mi-los para que os avul sos se jam dis tri bu í dos pe los Se na do res aquipre sen tes, isto é, quer o tra ta do, quer a ex po si ção de mo ti vos que oacom pa nha.

Esta exi gên cia é ne ces sá ria: e, ado ta da tal me di da, em vez de per der -mos tem po, pen so, ga nha-lo-e-mos e até, por que as se gu ra-se a pra xe que se vai se guin do na Câ ma ra, des de que um mem bro do Con gres so querfor mar ju í zo e dar voto cons ci en ci o so, jul gan do-se no di re i to de exa mi nar e es tu dar por si os do cu men tos que ins tru em o tra ta do, nós per de re mosmu i to mais tem po do que aque le que de ve rá ser con sa gra do ao tra ba lhoda im pres são de tais do cu men tos.

Ora, Sr. Pre si den te, eu não te nho, aliás, o pro pó si to de, na dis cus -são do tra ta do do Acre, fa zer po lí ti ca, nem se ria isto dig no, nem eu uti -li za ria uma oca sião des ta para fa zer guer ra a quem quer que seja.

Devo até, Sr. Pre si den te, fa zer a se guin te de cla ra ção:O meu pon to de vis ta é es pe ci al. Em mim ain da não se apa gou, do

meu es pí ri to ain da não de sa pa re ceu a im pres são que nele fi cou dosser vi ços que re co men dam à es ti ma do Bra sil o dis tin to com pa tri o tanos so que di ri ge a pas ta do Exte ri or.

O SR. AZEREDO – Apo i a do. *

O SR. LAURO SODRÉ – Gu ar do pois, para com S. Exa to das as de -fe rên ci as a que tem di re i to...

O SR. PIRES FERREIRA – É um be ne mé ri to.

O SR. LAURO SODRÉ – ...a es ti ma, a con si de ra ção e o apre ço aque fez jus, pela re le vân cia dos ser vi ços pres ta dos à nos sa pá tria, nade fe sa e no des lin de de duas ques tões do ma i or va lor...

O SR. PIRES FERREIRA – Essa jus ti ça a ele hon ra mu i to a V. Exa.

* AS, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p.28

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O SR. LAURO SODRÉ – quer na ques tão do Ama pá, quer na ques -tão das Mis sões, am bas com pli ca das, am bas di fí ce is.

E é pre ci so que se diga que em am bas tí nha mos an da do ao de sa -cer to, indo en ca mi nho er ra do e re cu an do até onde re cu a mos no tra ta -do do Ama pá, que gra ças à exu be rân cia de pro vas em que o nos sodi re i to se es tri ba va, as sa be do ria e com pe tên cia dos que ti ve ram en car -gos de fen dê-los, é que pu de mos con tar a jus ti ça se ve ra e im par ci al doár bi tro que de ci diu esta pen dên cia.

Mas, Sr. Pre si den te, eu, de pas sa gem, me des vi ei do as sun to es pe -ci al das mi nhas ob ser va ções e re fe ri-me à in di ca ção que te nho prin ci -pal men te em vis ta man dar à Mesa.

O SR. LAURO SODRÉ – Sr. Pre si den te, com ple tan do as ob ser va -ções que ti nha fe i to, de pas sa gem, no to can te à dis cus são do tra ta do doAcre, cu jos des ti nos es tão cla ros, o de ba te há de ser re fle ti do e cal mones ta casa, e fa zen do va ler os ar gu men tos em que me es tri bo para di ver -gir dele e à es pe ra dos ar gu men tos em con tra rio, com cons ciên cia aber -ta com con vic ção que pos sa pro vir da ló gi ca dos ad ver sá ri os, eu, noin tu i to de es cla re cer a ques tão, re me to à Mesa a in di ca ção que ser vi rápara re gu lar o an da men to des ta ques tão aqui no Se na do.

Requeiro, como V. Exa ouviu dizer, a impressão dos trabalhos quese referem ao Acre.

O Senado, parece-me, não quebrará o sigilo da discussão. Ématéria resolvida e eu requeiro, submetendo-me a este alvitre.

Mas nem por que a dis cus são é se cre ta está o Se na do ini bin do de fa zer im pri mir os do cu men tos que se re fe rem ao Acre. Esta im pres são,uma vez fe i to, per mi ti rá que fa ça mos um es tu do até mais rá pi do so breo as sun to, per mi ti rá que as sen te mos o nos so ju í zo, que pos sa mos me -lhor es tri bar o nos so voto.

Eis aqui a minha indicação:O Senado Federal, para boa ordem e andamento dos seus

trabalhos na discussão do tratado de limites entre o Brasil e a Bolívia,que vai ser sujeito ao seu juízo e ao seu voto, adota a seguinte resolução:– Logo que chegarem às mãos da Mesa o referido tratado e a exposiçãode motivos que o justifica, do Sr. Ministro do Exterior, fará a mesmaMesa imprimir com a máxima urgência e necessárias cautelas destedocumentos tantos quantos são os Senadores aqui presentes e queserão chamados a deliberar sobre essa matéria, a cada um dos quaisfar-se-á entrega dos citados documentos impressos, para osconvenientes estudos.

Sala das sessões, 2 de Janeiro de 1904. – Lauro Sodré. *

* AS, 1903 (ses são ex tra or di ná ria), v. 1, p.28

191

Page 190: Tratado de Petrópolis

Devo apenas acrescentar que esta praxe, que nós ainda nãoseguimos, é uma praxe americana. Lá, nos Estados Unidos, embora asdiscussões no Senado, que é a única Câmara que toma conhecimentodos tratados, sejam rigorosamente secretas, nem por isto os tratadosdeixam de ser impressos.

É isto o que me parece mais razoável. O segredo de que se fala não se refere se não à proibição da publicação no Diário do Congresso dostrabalhos do Senado relativos, ás sessões secretas; mas isto não devemser impressos.

Mas o Senado deliberará como bem entender, e é para provocaruma deliberação neste sentido que envio à Mesa a indicação.

O SR. PRESIDENTE – A indicação de V. Exa constitui uma verdadeira novidade para a Mesa.

Eu me vejo em ba ra ça do so bre como devo con si de rar a in di ca çãode V. Exa, por que ela tra ta de as sun to de exe cu ção hi po té ti ca.

É pos sí vel que o tra ta do não che gue ao Se na do, do mes mo modoque é pos sí vel que aqui che gue.

Ora, as sim sen do, como se ado tar uma re so lu ção que se pren de aum ato que pode ser ou de i xar de ser tra ta do pelo Se na do.

Acho mais con ve ni en te que qual quer Sr. Se na dor in di que à Mesao que pen sa a res pe i to, por que, como aca bei de di zer, sin to-me em ba -ra ça do di an te de se me lhan te no vi da de.

O SR. LAURO SODRÉ – E V. Exa ad mi te a hi pó te se de não serapro va do pela Câ ma ra?

O SR. PRESIDENTE – Não acho pro vá vel, po rém isto não trans -cen de os li mi tes do pos sí vel.

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15ª SESSÃO EM 3 DE FEVEREIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

O SR. PRESIDENTE – Achan do-se so bre a Mesa o pa re cer da Co -mis são de Cons ti tu i ção e Di plo ma cia so bre o Tra ta do de Pe tró po lis,con vo co ses são se cre ta para ama nhã, ao meio dia, para dar co nhe ci -men to ao Se na do do mes mo pa re cer e dis cu tir-se a ma té ria, na for mado re gi men to.

ATA EM 13 DE FEVEREIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

O Sr. 2º Se cre ta rio lê e vão a im pri mir para en trar na or dem dostra ba lhos os se guin tes:

PARECER* Nº 5 – 1904

Foi pre sen te à Co mis são de Jus ti ça e Le gis la ção a pro po si çãoda Câ ma ra dos De pu ta dos au to ri zan do o Go ver no a ad mi nis trarpro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do bra si le i ro pelo tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, con ti nu an do a ar -re ca dar os im pos tos es ta be le ci dos para o tem po do mo dus vi ven di,acor da do en tre as duas na ções, e a fa zer cer tas des pe sas in dis pen -sá ve is.

Se bem que não pre vis ta na Cons ti tu i ção a si tu a ção ju rí di ca danova re gião, re co nhe ci da bra si le i ra, é bem de ver que, à ma ne i ra doque em aná lo gas cir cuns tân ci as, tem pra ti ca do ou tros pa í ses, seráela or ga ni za da como ter ri tó rio su bor di na do ao Go ver no da União,como se gu ra men te o fará o Con gres so em sua fu tu ra re u nião emmaio pró xi mo.

** AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.125

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Page 192: Tratado de Petrópolis

De fi ciên cia de tem po e fal ta de co nhe ci men to exa to das con di çõeslo ca is da zona, é ma ni fes to que essa lei da or ga ni za ção não po de riafazê-la o Con gres so, de modo re gu lar e con ve ni en te, no atu al mo men to.

Não ads tri ta a Esta do al gum, por cu jas leis se reja, essa re gião seachan do sob o do mí nio e al ça da da União, pre ci so é que esta, pelomodo le gal men te pos sí vel, o ad mi nis tre pro ven do às ne ces si da des daor dem e a ou tros ser vi ços ri go ro sos ne ces sá ri os.

É o que visa a pro po si ção da Câ ma ra nos ter mos am plos da au to -ri za ção, que con fe re ao Go ver no, e sem a qual não lhe se ria lí ci to ar re -ca dar cer tos im pos tos, ins ti tu ir ser vi ços e fa zer des pe sas quede pen dem de dis po si ção ou au to ri za ção le gis la ti va.

Au to ri zar o Go ver no a fa zer uma or ga ni za ção pro vi só ria do ter -ri tó rio como tal, com ou sem ba ses de ter mi na das, quan do, den tro empou cos, se fará pelo Con gres so com da dos pre ci sos a or ga ni za ção de -fi ni ti va, se ria um pro ces so sem pla u si bi li da de, por im pro fí cuo e es cu -sa do.

Res ta va o al vi tre da ad mi nis tra ção pro vi só ria de i xan do ao cri té rio do Go ver no, se gun do o co nhe ci men to que co lha das con di ções lo ca is edu ran te o cur to pe río do até a de li be ra ção do Con gres so.

É uma me di da im pos ta pe las cir cuns tan ci as, e sem a qual se cor re -ria o ris co de se de i xar sem Go ver no, a nova re gião bra si le i ra, an tes desua or ga ni za ção de fi ni ti va.

Tais as ra zões que atu a ram na ou tra Casa do Con gres so para a au -to ri za ção de que se tra ta.

Jus ti fi ca-se a pro po si ção pela ex cep ci o na li da de das cir cuns tan ci as.Á co mis são pa re ce que o Se na do pôde, sem in con ve ni en te,

dar-lhe o seu as sen ti men to.

Sala das Co mis sões, 13 de fe ve re i ro de 1904. – J. Co e lho e Cam pos– Tho maz Del fi no – Mar ti nho Gar cez – J. M. Me tel lo – Lo pes Cha ves.

A co mis são de Fi nan ças, to man do em con si de ra ção a par te dapro po si ção so bre a qual lhe in cu be con sul tar, que é aque la em que seau to ri za o Go ver no a con ti nu ar a co bran ça, até seu li mi te ma xi mo, dasta xas que tem sido ar re ca da das em vir tu de do mo dus vi ven di ajus ta docom o go ver no da Bo lí via, bem como a pa re cer os de ma is im pos tos fe -de ra is, e a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sas, é de pa re cer que as dis po si -ções que re gu lam esse as sun to se jam apro va dos pelo Se na do.

Sa las das Co mis sões, 13 de fe ve re i ro de 1904. – Fe li ci a no Pen na,Pre si den te – Gus ta vo Ri chard, Re la tor – Be ne dic to Le i te – Álva ro Ma -cha do.

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Page 193: Tratado de Petrópolis

De fi ciên cia de tem po e fal ta de co nhe ci men to exa to das con di çõeslo ca is da zona, é ma ni fes to que essa lei da or ga ni za ção não po de ria fazê-la o Con gres so, de modo re gu lar e con ve ni en te, no atu al mo men to.

Não ads tri ta a Esta do al gum, por cu jas leis se reja, essa re gião seachan do sob o do mí nio e al ça da da União, pre ci so é que esta, pelomodo le gal men te pos sí vel, o ad mi nis tre pro ven do às ne ces si da des daor dem e a ou tros ser vi ços ri go ro sos ne ces sá ri os.

É o que visa a pro po si ção da Câ ma ra nos ter mos am plos da au to -ri za ção, que con fe re ao Go ver no, e sem a qual não Lhe se ria lí ci to ar re -ca dar cer tos im pos tos, ins ti tu ir ser vi ços e fa zer des pe sas quede pen dem de dis po si ção ou au to ri za ção le gis la ti va.

Au to ri zar o Go ver no a fa zer uma or ga ni za ção pro vi só ria do ter ri tó -rio como tal, com ou sem ba ses de ter mi na das, quan do, den tro em pou -cos, se fará pelo Con gres so com da dos pre ci sos a or ga ni za ção de fi ni ti va,se ria um pro ces so sem pla u si bi li da de, por im pro fi cuo e es cu sa do.

Res ta va o al vi tre da ad mi nis tra ção pro vi só ria de i xan do ao cri té rio do Go ver no, se gun do o co nhe ci men to que co lha das con di ções lo ca is edu ran te o cur to pe río do até a de li be ra ção do Con gres so.

É uma me di da im pos ta pe las cir cuns tan ci as, e sem a qual se co i i re -ria o ris co de se de i xar sem Go ver no, a nova re gião bra si le i ra, an tes desua or ga ni za ção de fi ni ti va.

Tais as ra zões que atu a ram na ou tra Casa do Con gres so para a au -to ri za ção de que se tra ta.

Jus ti fi ca-se a pro po si ção pela ex cep ci o na li da de das cir duns tan ci as.Á co mis são pa re ce que o Se na do pôde, sem in con ve ni en te,

dar-lhe o seu as sen ti men to.

Sala das Co mis sões, 13 de fe ve re i ro de 1904. — J. Co e lho e Cam -pos — Tho maz Del fi no — Mar ti nho Gar cez — J. M. Me te lio — Lo pesCha ves.

A co mis são de Fi nan ças, to man do em con si de ra ção a par te dapro po si ção so bre a qual lhe in cu be con sul tar, que é aque la em que seau to ri za o Go ver no a con ti nu ar a co bran ça, até seu li mi te ma xi mo, dasta xas que tem sido ar re ca da das em vir tu de do mo dus vi ven di ajus ta docom o go ver no da Bo lí via, bem como a pa re cer os de ma is im pos tos fe -de ra is, e a abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sas, é de pa re cer que as dis po si -ções que re gu lam esse as sun to se jam apro va dos pelo Se na do.

Sa las das Co mis sões, 13 de fe ve re i ro de 1904. — Fe li ci a no Pen na,Pre si den te — Gus ta vo Ri chard, Re la tor — Be ne dic to Le i te — Âlva roMa cha do.

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Page 194: Tratado de Petrópolis

PROPOSIÇÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Nº 7, de 1904, a que se re fe re o pa re cer su praO Con gres so Na ci o nal re sol ve:Art. 1º Fica o Pre si den te da Re pú bli ca au to ri za do:I – A ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do bra si -

le i ro em vir tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, con ti nu an do a co brar, até seu li mi te ma xi mo, as ta xas ali ar re -ca da das ao tem po do mo dus vi ven di ajus ta do com o Go ver no da Bo lí -via, e os de ma is im pos tos fe de ra is.

II – A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci o sos.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.

Câ ma ra dos De pu ta dos, 5 de fe ve re i ro de 1904. – F. de Pa u lo Gu i -ma rães, 1º Se cre tá rio – J. B. Wan der ley de Men don ça, 3º se cre tá rioser vin do de se gun do.

Nº 6 – 1904 A pro po si ção nº 8 do cor ren te ano, da Câ ma ra dos De pu ta dos, au -

to ri za, o Go ver no a abrir os cré di tos pre ci sos para pa ga men to das des -pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro do anopas sa do en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, e a dar ou tras pro vi dên ci as. Esta me di da le gis la ti va é con se qüên cia da apro va ção doalu di do tra ta do e por isto é a Co mis são de Fi nan ças do Se na do de pa re -cer que seja a mes ma ace i ta.

Sala das Co mis sões, 13 de fe ve re i ro de 1904. – Fe li ci a no Pen na, Pre -si den te – Álva ro Ma cha do, Re la tor – Si gis mun do Gon çal ves – J. Jo a quim de Sou za – Be ne dic to Le i te – Olympio Cam pos – Gus ta vo Ri chard. *

O SR. PRESIDENTE – Ten do com pa re ci do ape nas oito Srs. Se na -do res, hoje, não pode ha ver ses são. **

De sig no para or dem do dia da ses são se guin te:2ª dis cus são da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos n. 7, de

1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a ad mi nis trar pro vi so ri a -men te o ter ri tó rio re co nhe ci do como bra si le i ro, em vir tu de do tra ta dode 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e dan do ou traspro vi dên ci as;

* AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.128** AS,1904 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.129

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Page 195: Tratado de Petrópolis

2ª dis cus são da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos nº 8, de1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a abrir os cré di tos ne ces -sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí -via, e a dar ou tras providências.

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Page 196: Tratado de Petrópolis

18ª SESSÃO EM 17 DE FEVEREIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. J. Ca tun da (1º se cre tá rio)

Admi nis tra ção pro vi só ria do ter -ri tó rio re co nhe ci do bra si le i ro pelotra ta do de 17 de no vem bro de 1903*

Entra em 2ª dis cus são, com os pa re ce res fa vo rá ve is das Co mis -sões de Jus ti ça e Le gis la ção e de Fi nan ci as, o art. 1º da pro po si ção daCâ ma ra dos De pu ta dos. 7, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú -bli ca a ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do comobra si le i ro, em vir tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre oBra sil e a Bo lí via, e dan do ou tras pro vi dên ci as.

Nin guém pe din do a pa la vra, en cer ra-se a dis cus são.Fica adi a da a vo ta ção para quan do hou ver nú me ro.Se gue-se em dis cus são, que fica igual men te en cer ra da e adi a da a

vo ta ção, o art. 2º.

CRÉDITO PARA PAGAMENTO DE DESPESAS PROVENIENTES DO TRATADO DE 17 DE NOVEMBRO DE 1903

Entra em 2ª dis cus são, com o pa re cer fa vo rá vel da co mis são de Fi -nan ci as, o art.1º da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos nº 8, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a abrir os cré di tos ne ces sá ri ospara...(?)

** AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.130

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Page 197: Tratado de Petrópolis

20ª SESSÃO EM 19 DE FEVEREIRO DE 1904**

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

O Sr. 1º Se cre ta rio dá con ta do se guin te:

Expe di en te

Te le gra ma do Sr. Se na dor Ruy Bar bo sa ao Sr. Pre si den te do Se -na do da ta do de Pe tró po lis 19 do cor ren te, as sim con ce bi do:

Não pos so obe de cer res pe i tá vel or dem de V. Exa, com pa re cen dohoje, por es tar in co mo da do e cho ver aqui tor ren ci al men te. – Ruy Bar -bo sa. – Inte i ra do.

Ofício do Sr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, de 18 do cor ren te,trans mi tin do a men sa gem com que o Sr. Pre si den te da Re pú bli ca res ti -tui dois dos au tó gra fos da re so lu ção do Con gres so, san ci o na da, apro -van do o tra ta do as si na do em Pe tró po lis a 17 de no vem bro de 1903pe los ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros e bo li vi a nos. – Arqui ve-se um dosau tó gra fos e en vie-se o ou tro à Câ ma ra dos De pu ta dos.

ORDEM DO DIA

O SR. PRESIDENTE – A or dem do dia cons ta de vo ta ções. Não hánú me ro atu al men te na casa; en tre tan to, sou in for ma do de que al gunsSrs. Se na do res es tão pron tos a com pa re cer.

Afim de que se com ple te o nú me ro ne ces sá rio para vo tar, sus pen -do a ses são por meia hora.

Sus pen de-se a ses são.Á 1 hora e 15 mi nu tos re a bre-se a ses são.

O SR. PRESIDENTE – Com pa re ce ram mais três Srs. Se na do res;há, por tan to, pre sen tes 29. Não é nú me ro su fi ci en te para se vo tar.

** AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.134

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Page 198: Tratado de Petrópolis

Nada mais ha ven do a tra tar, vou le van tar a ses são e de sig no paraor dem do dia da ses são se guin te a mes ma já de sig na da:

Vo ta ção em 2ª dis cus são da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos, no 7, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a ad mi nis trar pro -vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do como bra si le i ro, em vir tu de dotra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e dan do ou -tras pro vi dên ci as;

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Page 199: Tratado de Petrópolis

21ª SESSÃO EM 20 DE FEVEREIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

É anun ci a da a vo ta ção do re que ri men to do Sr. B. de Men don ça So -bri nho para que seja a Mesa do Se na do au to ri za da a en ten der-se com àCâ ma ra dos De pu ta dos no sen ti do de ser res ta be le ci do por com ple to, talcomo foi vo ta do e apro va do em am bas as Ca sas do Con gres so, o no 27 doart. 1º da Lei no 1.144, de 30 de de zem bro de 1903, de ven do le var ao co -nhe ci men to do po der Exe cu ti vo que o Se na do man te ve sem a me nos al te -ra ção aque la ru bri ca do Orça men to da Re ce i ta, re cen te men te pu bli ca da. *

O SR. B. DE MENDONÇA SOBRINHO (Pela or dem) – Sr. Pre si den te,o as sun to do re que ri men to que vai ser sub me ti do à con si de ra ção do Se na -do é da ma i or im por tân cia e de suma gra vi da de para esta alta cor po ra ção.O Se na do tem de se ma ni fes tar so bre a fal si fi ca ção que hou ve – e de i xe aqui pa ten te e apro va do – na lei Vi gen te da Re ce i ta Ge ral da Re pú bli ca.

O as sun to é, pois, da ma i or gra vi da de, não po den do os Srs. Se na -do res vo tar sim bo li ca men te, não as su min do, por tan to a res pon sa bi li da -de que lhes com pe te em oca sião tão séria e tão im por tan te como esta.

Eu, pois, sa li en tan do a gra vi da de do as sun to con ti do no meu re -que ri men to, peço a V. Exa Sr. Pre si den te, que con sul te o Se na do so brese con ce de que a vo ta ção seja no mi nal.

O SR. FRANCISCO GLYCERIO (Pela Ordem) – pe las mes ma ra -zões ofe re ci das pelo no bre Se na dor, me ani mo tam bém, Sr. Pre si den te, a re que rer o adi an ta men to da vo ta ção do re que ri men to apre sen ta dopelo no bre Se na dor por Ala go as, para a pró xi ma ses são, afim de nãoco li dir essa vo ta ção com a das leis com ple men ta res do tra ta do de Pe -tró po lis, que S. Exa me per mi ti rá afir mar, con tem as sun tos mais ur gen -tes do que a vo ta ção do re que ri men to fir ma do pelo no bre Se na dor.

Pos tos a vo tos, é apro va do o re que ri men to.

* AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.135

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Page 200: Tratado de Petrópolis

Fica adi a da a vo ta ção.Pos tos a vo tos, é re je i ta do o re que ri men to do Sr. Cos ta Aze ve do

pe din do in for ma ções ao Go ver no so bre se a União, em al gum tem po,so li ci tou ao Esta do do Ama zo nas au xí li os pe cu niá ri os e para que fim;se re ce beu esse au xi lio e se já está qui te e quan do o fi cou e, fi nal men te,se o Go ver no co mu ni cou es ses fa tos ao cor po Le gis la ti vo e, se não o fez, a ra zão por que as sim pro ce deu.

O SR. AZEREDO – Sr. Pre si den te, na úl ti ma ses são se cre ta queaqui hou ve, o Sr. Se na dor Pi nhe i ro Ma cha do pe diu que fos se pu bli ca -do o pa re cer e voto em se pa ra do dado so bre o tra ta do do Acre. O pen -sa men to da que le ilus tre Se na dor era in clu ir tam bém no seu pe di do apu bli ca ção da ex po si ção do hon ra do Se na dor pelo Esta do da Ba hia; no en tre tan to, não fi cou isso con sig na do na ata da que la ses são.

Peço, pois, a V. Exa, que con sul te o Se na do se con sen te na pu bli ca -ção da que la ex po si ção, no Diá rio do Con gres so.

Pos to a vo tos, é apro va do o re que ri men to.

ORDEM DO DIA

Vo ta ção

Vo ta ção em 2ª dis cus são da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta -dos, nº 7, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a ad mi nis trarpro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do como bra si le i ro, em vir tu dedo tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e dan -do ou tras pro vi dên ci as. *

Pos tos a vo tos, são su ces si va men te apro va dos os arts. 1º e 2º.A pro po si ção fica so bre a mesa para ser opor tu na men te dada

para a 3ª dis cus são.

O SR. FRANCISCO GLYCERIO (Pela or dem) – Re quer dis pen sade in ters tí cio para 3ª dis cus são da pro po si ção.

Con sul tan do, o Se na do con ce de a des pe sa.Vo ta ção em 2ª dis cus são da pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta -

dos, no 8, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a abrir os cré -di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas ori un das do tra ta docon clu í do em 7 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri os doBra sil e da Bo lí via, e a dar ou tras pro vi den ci as.

Pos tos a vo tos, são su ces si va men te apro va dos os arts.1º e 2º.A pro po si ção fica so bre a mesa para ser opor tu na men te dada

para 3ª dis cus são.

O SR. FRANCISCO GLYCERIO (Pela or dem) – Re quer des pe sa dein ters tí cio para a 3ª dis cus são da pro po si ção.

Con sul tan do, o Se na do con ce de a dis pen sa.

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Page 201: Tratado de Petrópolis

22ª SESSÃO EM 22 DE FEVEREIRO DE 1904

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

ORDEM DO DIA

ADMINISTRAÇÃO PROVISÓRIA DO TERRITÓRIO RECONHECIDO BRASILEIRO PELO

TRATADO DE 17 DE NOVEMBRO DE 1903**

Entra em 2ª dis cus são a pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos, nº7, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a ad mi nis trar pro vi -so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do como bra si le i ro em vir tu de do tra -ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e dan doou tras pro vi den ci as.

Nin guém pe din do a pa la vra, en cer ra-se a dis cus são.Fica adi a da a vo ta ção para quan do hou ver nú me ro.

CRÉDITO PARA PAGAMENTO DE DESPESAS PROVENIENTES DO TRATADO DE 17 DE NOVEMBRO DE 1903

Entra em 3ª dis cus são a pro po si ção da Câ ma ra dos De pu ta dos,no 8, de 1904, au to ri zan do o Pre si den te da Re pú bli ca a abrir os cré di tosne ces sá ri os para pa ga men tos das des pe sas ori un das do tra ta do con -clu í do em 17 de no vem bro de 1903 en tre os ple ni po ten ciá ri os do Bra sile da Bo lí via, e a dar ou tras pro vi dên ci as.

* AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.136** AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.137

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Page 202: Tratado de Petrópolis

23ª SESSÃO EM 23 DE FEVEREIRO DE 1904*

Pre si dên cia do Sr. Affon so Pen na

ORDEM DO DIA

Vo ta ções

Votação em 3ª discussão da proposição da Câmara dos Deputadosno 7, de 1904, autorizando o Presidente da República a administrarprovisoriamente o território reconhecido como brasileiro em virtude dotratado de 17 de novembro de 1903 entre o Brasil e a Bolívia, e dandooutras providências.

Pos ta a vo tos, é apro va da e vai ser sub me ti da à san ção pre si den ci al.

O SR. CONSTANTINO NERY (Pela or dem) – Sr. Pre si den te, pedi apa la vra pela or dem para de cla rar que, vo tan do pela pro po si ção queaca ba de ser apro va da, o fiz res sal van do qua is quer di re i tos que o Esta -do do Ama zo nas pos sa ter so bre o ter ri tó rio do Acre.

É nes te sen ti do a de cla ra ção de voto que faço, pe din do a V. Exa

que to man do-a na de vi da con si de ra ção, a faça in se rir na ata.Vem a Mesa a se guin te:

De cla ra ção de Voto

De cla ro que voto pelo pre sen te pro je to de lei, res sal tan do, en tre -tan to, os di re i tos de in cor po ra ção que o Esta do do Ama zo nas, por ven -tu ra, pos sa ter so bre o Acre.

Sala das ses sões, 23 de fe ve re i ro de 1904. – Cons tan ti no Nery.

* AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.145

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Page 203: Tratado de Petrópolis

Votação em 3ª discussão da proposição da Câmara dos Deputados no 8, de 1904; autorizando o Presidente da República a abrir os créditosnecessários para pagamento das despesas oriundas do tratadoconcluído em 17 de novembro de 1903 entre os plenipotenciários doBrasil e da Bolívia, e a dar outras providências.

Pos ta a vo tos, é apro va da e vai ser sub me ti da à san ção pre si den ci al.

O SR. PRESIDENTE – Estando terminados todos os trabalhosreferentes à sessão extraordinária, a Mesa vai oficiar a da Câmara dosDeputados, afim de combinar o dia em que deve ter lugar a sessãosolene de encerramento.

De sig no para or dem do dia da ses são se guin te:Tra ba lhos de co mis sões.Le van ta-se a ses são à 1:30 hora da tar de.

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Page 204: Tratado de Petrópolis

SESSÃO SOLENE DE ENCERRAMENTO DA SESSÃOEXTRAORDINÁRIA DO CONGRESSO NACIONAL DOS

ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, CONVOCADA PORDECRETO Nº 5.093, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1903

Pre si dên cia do Sr. F. de Pa u la Oli ve i ra Gu i ma rães

A 1 hora da tar de do dia 26 de fe ve re i ro de 1904, re u ni dos no edi fí -cio do Se na do Fe de ral os Srs. Se na do res e De pu ta dos, to mam as sen toà Mesa os Srs. Fran cis co de Pa u la Oli ve i ra Gu i ma rães, Pre si den te daCâ ma ra dos De pu ta dos, Jo a kim de Oli ve i ra Ca tun da, 1º Se cre tá rio doSe na do, José de Bar ros Wan der ley de Men don ça, 3º Se cre tá rio da Câ -ma ra dos De pu ta dos, ser vin do de 2º, Hen ri que da Sil va Cou ti nho, 4ºSe cre tá rio do Se na do, ser vin do de 2º, e Gal di no Lo re to, ser vin do de 2ºSe cre tá rio da Câ ma ra dos De pu ta dos. *

O SR. PRESIDENTE – está aber ta a ses são.

O Con gres so Na ci o nal, se nho res, foi, como sa be is, con vo ca do ex -tra or di na ri a men te, por de cre to do Po der Exe cu ti vo, de 28 de de zem -bro do ano pas sa do, para o fim es pe ci al de re sol ver so bre o tra ta dofir ma do em Pe tró po lis, a 17 de no vem bro, en tre os ple ni po ten ciá ri osdo Bra sil e da Bo lí via, mo di fi can do, me di an te per mu ta de ter ri tó ri os eou tras com pen sa ções, a li nha di vi só ria en tre os dois pa í ses, tra ça dapelo an te ri or tra ta do de 27 de mar ço de 1867.

A so le ni da de do en cer ra men to da pri me i ra ses são da 4ª Le gis la tu -ra, ce le bra da em 30 de de zem bro, se guiu-se a da aber tu ra da ses são ex -tra or di ná ria, sen do por essa oca sião lida a Men sa gem do Sr.Pre si den te da Re pú bli ca jus ti fi can do a ne ces si da de da con vo ca ção.

Em 13 de ja ne i ro do cor ren te ano foi pre sen te à Mesa da Câ ma rados De pu ta dos o pa re cer so bre o tra ta do, emi ti do pela res pec ti va Co mis -são e, em ses são pú bli ca, en tão re a li za da, de li be rou a mes ma Câ ma ra.

* AS,1903 (ses são ex tra or di ná ria), v.1, p.147/8

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PARECER DO SENADOR FRANCISCO GLICÉRIO SOBRE O TRATADO NA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E

DIPLOMACIA DO SENADO, EM 27-1-1904*

SENADO FEDERAL

APÊNDICE DOS ANAIS

Pu bli ca ções fe i tas por de li be ra ções do Se na do

TRATADO DE PETRÓPOLIS

Pa re cer da Co mis são de Cons ti tu i ção e Di plo ma cia

A Co mis são de Cons ti tu i ção e Di plo ma cia, exa mi nan do o tra ta do deli mi tes, com per mu ta de ter ri tó ri os e ou tras com pen sa ções, tal qual foicon clu í do em Pe tró po lis a 17 de no vem bro de 1903 pe los ple ni po ten ciá ri -os do Bra sil e da Bo lí via, e apro va do pela Câ ma ra dos De pu ta dos, se gun -do o tex to do pro je to nº que o acom pa nha, é de pa re cer que o Se na do oapro ve.

De fato, a de sis tên cia da Bo lí via, ce den do o di re i to que sem pre ale gouter con tra o Bra sil na ex ten sa área com pre en di da en tre a li nha reta Ma de i -ra-Ja va ri e a pa ra le la de 10.20º. Assim como a re nún cia da sua so be ra niaso bre uma ou tra área me nor ao sul da mes ma pa ra le la, são atos de tão ex -cep ci o nal im por tân cia para os dois po vos, que ad mi ra se con su mas sem deum modo tão igual men te útil, jus to e de co ro so, aten den do-se de mais amais aos gra ves in te res ses eco nô mi cos e po lí ti cos que res pe i tam à si tu a çãocon ti nen tal das duas Re pú bli cas, aliás de vi da men te con si de ra dos.

O tra ta do de Pe tró po lis é um de sen vol vi men to ló gi co e mais prá ti -co do de 1867, ex pri min do as sim o con ce i to de que a re gu la ri da de dosfa tos en tre as na ções é de ter mi na da por ou tras que a pro ce de ram cor -res pon den te men te.

AS, 1903, Apên di ce, pág. 3.

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O primeiro foi concluído ao tempo em que os brasileiros, movidos por um geral e uniforme sentimento de horror que despertava a organizaçãotirânica que oprimia o povo paraguaio, fizeram ao governo de D. SolanoLopes a guerra mais cruenta de que tem sido teatro a América do Sul.

Lo gi ca men te não po di am os bra si le i ros des tru ir pe las ar mas ascons tru ções mi li ta res que im pe di am, pelo lado do ti ra no, a li vre na ve -ga ção dos rios que da vam aces so ao mar a an ti ga pro vín cia de MatoGros so, sem que da nos sa par te se ou tor gas sem as mes mas van ta gensà Bo lí via so bre os mes mos rios.

Foi o que fez o tra ta do de 1867, con ce den do a essa Re pú bli ca de -sa gua dou ros tão li vre men te na ve gá ve is so bre o rio Pa ra guai, que es ta -be le ce ram co mu ni ca ções re gu la res do seu co mér cio com os po vosvi zi nhos até o Rio da Pra ta, ces san do esse es tra nho fe cha men to de viasflu vi a is des ti na dos às ne ces si da des de uma ci vi li za ção já adi an ta da,não só pela re a ção da guer ra, como pela ação da paz e do di re i to.

Si mul ta ne a men te o tra ta do de 1867 as se gu ra va, e por esse lado de um modo mais prá ti co, a li vre sa í da e en tra da do co mér cio bo li vi a nopelo nor te do Bra sil, tor nan do viá vel a na ve ga ção dos rios pela in ter -ces são de uma es tra da de fer ro en tre os pon tos en ca cho e i ra dos.

Infe liz men te nem a Bo lí via cons tru iu ao sul os seus por tos e ou tros es ta be le ci men tos in dis pen sá ve is à nor ma li da de de seu co mér cio, nemo Bra sil se de so bri gou do com pro mis so ex pres sa men te as su mi do decons tru ir a es tra da de fer ro que os atos da nos sa ad mi nis tra ção de no -mi na ram – Ma de i ra-Mar mo ré.

O tra ta do im pe ri al, obra de pre vi dên cia dos ho mens de Esta dodos dois pa í ses vi zi nhos, fi cou sem exe cu ção, va len do mo ral men tecomo uma pro mes sa e po li ti ca men te como um pre ce den te que, maistar de ou mais cedo, vi ria a ter o seu con se qüen te.

Não se diga que esse tra ta do foi obra de puro sen ti men ta lis mo li -be ral da épo ca, des cu ran do o Go ver no bra si le i ro do as pec to pro pri a -men te da de fe sa mi li tar do Bra sil por esse lado – por quan to, emse gui da à ter mi na ção da guer ra do Pa ra guai, o Po der Le gis la ti vo doim pé rio vo tou os fun dos ne ces sá ri os a cons tru ção de uma fer ro via in -ter na li gan do Mato-Gros so ao Rio de Ja ne i ro, che gan do-se mes mo aefe ti vo prin cí pio de exe cu ção do acer ta do em pre en di men to pelo tra ça -do Pi men ta Bu e no, nome esse que re cor da o de um dos es ta dis tas doim pé rio que mais se es for ça ram pela re a li za ção do tra ta do.

Essa é de fato a so lu ção que o lado ego ís ti co da nos sa po lí ti ca in ter -na ci o nal ain da re cla ma: – a li ga ção in te ri or de Mato Gros so, pon do-o em con ta to di re to e rá pi do com a ca pi tal do Bra sil, ou seja, pelo su pra re fe ri -do tra ça do, ou pelo que o Go ver no Pro vi só rio man dou le van tar, que é oque tem por base as gran des ba ci as em que Bra sil se di vi de, uti li zan do as ex ten sas vias que for ne cem os seus gran des rios, ado ta das como ar té ria

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da rede de vi a ção uma li nha cen tral da di re ção ge ral E. O. so bre o di vi sor prin ci pal das águas, par tin do da Estra da Cen tral e ter mi nan do na fron -te i ra da Bo lí via, pas san do pe las ca pi ta is de Go iás e Mato Gros so até S.Luiz de Cá ce res, li gan do-se aí a na ve ga ção do rio Pa ra guai e tam bém doJa u rú, pon to ini ci al da pra ti cá vel li ga ção das duas ba ci as do Ama zo nas e do Pra ta, se gun do es tu dos de nos sos en ge nhe i ros mi li ta res, que de vemexis tir no Esta do-Ma i or, ou fi nal men te pelo pro je to Pa ra ná – Mato Gros -so – do ilus tre Mi nis tro Ma re chal Mal let.

A de fe sa do Bra sil por este lado está na aber tu ra de uma des sasco mu ni ca ções in te ri o res, po den do bem acres cen tar que é esse, aliás,osis te ma ge ral da nos sa de fe sa em re la ção às cos tas ma rí ti mas.

A Bo lí via, de res to, se tor nou país ri be i ri nho do rio Pa ra guai pelotra ta do de 1867, e isso não foi se não a re gu la ri za ção de um es ta do an te ri -or, pois que ja ma is se con si de rou im pra ti cá vel a co mu ni ca ção re gu lar epor via na ve gá vel do co mér cio bo li vi a no com esse rio, des de que a nos sa vi zi nha pu des se exe cu tar as obras de li ga ção com as suas re giões in ter -nas de pro du ção pelo alar ga men to dos va ra dou ros exis ten tes, ou pelaaber tu ra de ca na is, se ela qui ses se apro ve i tar a na tu re za dos ter re nos.

Tais obras de pen di am ape nas de re cur sos fi nan ce i ros ao al can cedos go ver nos bo li vi a nos nos mer ca dos do Rio da Pra ta ou do Bra sil.

Assim, pois, o tratado de Petrópolis veio colocar as coisasterritoriais e fluviais, políticas e econômicas, pelo lado do Sul, emsituação de se desenvolverem de um modo natural e efetivo, talvezmesmo exclusivo, as nossas relações comerciais com a Bolívia,bastando lembrar, para assim concluir, que essa República, bem comoo magnífico Estado de Mato Grosso pode e deve ser posto em contatocom a civilização do Rio de Janeiro e S. Paulo pela comunicação rápidae aperfeiçoada de uma ou mais ferrovias interiores.

Assim que é tra ta do, re gu la ri zan do por esse lado um es ta do anô -ma lo de re la ções e di vi sas in ter na ci o na is, por ou tro lado adi ci o na umfa tor eco nô mi co de pri me i ra or dem para a so lu ção do pro ble ma na ci -o nal da apro xi ma ção de Mato Gros so à ca pi tal da Re pú bli ca.

Em re la ção ao nor te, as co i sas se apre sen ta vam com as mes mas ten -dên ci as e in cli na ções ir re sis tí ve is para a so lu ção em que o tra ta do lhes deu.

O cur so or di ná rio dos in te res ses e das exi gên ci as eco nô mi cas queres pe i ta vam aos bra si le i ros de al guns Esta dos da União, os le vou a se es -ta be le ce rem na re gião do Acre, pon to de ir ra di a ção so ci al que ali se for -ma ra, di fun di do, na tu ral men te, as ten dên ci as e as pi ra ções para a ri que zae con se qüen te re gu la ri za ção do es ta do ju rí di co que os de via vin cu lar epro te ger, in te res san do toda essa vas ta e qua se len dá ria re gião que a Bo lí -via, por cir cuns tân ci as su pe ri o res à toda ca pa ci da de de qual quer go ver -no, não po dia ad mi nis trar, e que ao Bra sil fora fá cil in cor po rar ao seuter ri tó rio, in te gran do, dest`arte, o seu sis te ma flu vi al, in dus tri al e po lí ti co.

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Pre ce de ra, por esse lado do li tí gio, uma in sur re i ção de po vos dedi fe ren tes Esta dos do Bra sil ali do mi ci li a dos, do mi na dos da pre o cu pa -ção apa i xo na da de se cons ti tu í rem em uma uni da de po lí ti ca. O tra ta do,pres ta da pre vi a men te a de vi da ho me na gem ao go ver no da Bo lí via,veio dar-lhes essa uni da de se gun do o tipo que o po der cons ti tu ci o nalcom pe te de cre tar e fi zer cum prir.

Pelo lado do nor te, pois, o tra ta do Rio Bran co-Pi nil la deu pro vi -men to a tudo quan to ali era exi gi do do con cur so e dos cu i da dos de dois pa í ses e de dois go ver nos pre vi den tes.

Ele é, de mais a mais, um pre ce den te, fun da do com o li vre con sen -ti men to das duas po tên ci as de vi da men te re pre sen ta das e in te res sa dasno ple i to, à vis ta de ou tras na ções vi zi nhas, fi nal men te as sis ti do do exa -me diá ria das Re pú bli cas do con ti nen te que acom pa nha ram as ne go ci -a ções do tra ta do.

Sa in do, como sa be mos, pres ti gi a dos pelo su ces so dos fa tos con -su ma dos com ex cep ci o nal gran de za mo ral para os dois po vos con tra -tan tes, po de mos aguar dar tran qüi la men te o de sen la ce das úl ti maspen dên ci as ter ri to ri a is que nos res tam a di ri mir.

Foi-nos pos sí vel, den tro dos re cur sos do nos so cré di to, sem fa zer -mos in cur sões no ter ri tó rio e no di re i to alhe io, ne go ci an do e tran si gin -do so bre a base de re cí pro cos in te res ses, bem exa mi na dos eco nhe ci dos, eli mi nar um te me ro so foco de per tur ba ções in ter nas e ex -te ri o res, acer tan do e ar gu men tan do o nos so ter ri tó rio e a nos sa Fe de -ra ção, tor nan do in dis so lú ve is as nos sas re la ções de co mér cio eami za de com a Bo lí via, a quem cou be, na equi va lên cia das com pen sa -ções, o re gres so dos seus ha bi tan tes e do seu co mér cio à con vi vên ciade um oce a no mais co mu ni ca ti vo e ser vi çal em re la ção à ci vi li za ção eaos mer ca dos da Eu ro pa e dos Esta dos Uni dos.

O tra ta do de Pe tró po lis é, pois, um ato in ter na ci o nal de con su ma -da ha bi li da de po lí ti ca, que hon ra ao Bra sil e re co men da o go ver no doSr. Pre si den te da Re pú bli ca ao re co nhe ci men to dos bra si le i ros.

Ao Se na do cabe a úl ti ma pa la vra so bre ele, se lan do com a suaapro va ção, esse alto ins tru men to de paz e con cór dia, le va do a efe i topela ad mi nis tra ção da Re pú bli ca o já ho mo lo ga do por uma das Ca sasdo Con gres so.

Sala das Co mis sões, 27 de ja ne i ro de 1904 – Fran cis co Gli ce rio,Re la tor – F. Cha ves.

Em Tem po.A Co mis são opi na no sen ti do de se rem se cre tas as ses sões do Se na do.Fran cis co Gli ce rio – F. Cha ves.

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VOTO SEPARADO DO SENADOR A. AZEREDO NA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E DIPLOMACIA

DO SENADO, EM 3-2-1904*

Voto se pa ra do do pa re cer da Co mis sãode Cons ti tu i ção e Di plo ma cia do Se na do

Mem bro da Co mis são de Cons ti tu i ção e Di plo ma cia, à qual fo ramsub me ti dos o Tra ta do de Pe tró po lis, de 17 de no vem bro de 1903, e apro po si ção da Câ ma ra, que o apro va, não me achan do de acor do coma ma i o ria des sa Co mis são, cum pre-me o de ver de dar as ra zões de mi -nha di ver gên cia, o que faço com ver da de i ro cons tran gi men to, em bo rasin ce ra men te con ven ci do.

Bem sei que é de ma si a do di fí cil a ta re fa de pre ten der con tra ri ar as acla ma ções da im pren sa flu mi nen se e os apla u sos do Con gres so Na ci -o nal ao acor do co mer ci al e po lí ti co re a li za do em Pe tró po lis, en tre osple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos e bra si le i ros; mas a mi nha cons ciên cia e omeu de ver po lí ti co me obri gam a en fren tar es sas bar re i ras inex pug ná -ve is, e tan to mais di fi cil men te trans po ní ve is quan to é cer to que co man -da a ci da de la um bra si le i ro be ne mé ri to, cu jas vi tó ri as se con tam pelonú me ro de ple i tos em que se tem en vol vi do.

E se a cer te za da der ro ta me não es mo re ce tan to como o des gos to, que ex pe ri men to, de me opor a um ato do glo ri o so ven ce dor do Ama -pá, é por ser a cons ciên cia o meu guia úni co nes ta cru za da de de fen deros in te res ses de mi nha Pá tria e, par ti cu lar men te, os di re i tos do Esta dode Mato Gros so.

Não vem ao caso fa zer aqui o his tó ri co des sa fa mo sa ques tão doAcre, que tan to tem im pres si o na do o país nes tes úl ti mos tem pos, nemmes mo vale a pena, na es tre i te za des te voto se pa ra do, es tu dar os tra ta -dos fe i tos en tre Espa nha e Por tu gal, no sé cu lo XVIII, es me ri lhan do ode 1867, con clu in do en tre a Bo lí via e o Bra sil, para de mons trar o nos so

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* AS, 1903, Apên di ce, pág. 5.

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di re i to àque la re gião, até o pa ra le lo 10° 20’, di re i to que há sido sa cri fi -ca do pela in ca pa ci da de de al guns mi nis tros, prin ci pal men te nes ta úl ti -ma dé ca da de nos sa vida po lí ti ca.

É in con tes tá vel que, se não fos sem al guns atos pra ti ca dos pe losgo ver nos pas sa dos, so bres sa in do en tre eles os do mi nis tro que di ri -giu du ran te o qua triê nio úl ti mo a nos sa chan ce la ria, nós não te ría -mos de sub me ter à so lu ção odi o sa do pre sen te tra ta do, fa zen doces são de ter ri tó rio na ci o nal à Bo lí via; por que, quan do hou vés se -mos de ple i te ar o nos so di re i to ao ter ri tó rio que esta na ção vi zi nhapre ten de li ti gi o so, os po de res pú bli cos da União não pre ci sa ri amsair do ca mi nho tra ça do pelo nos so pac to fun da men tal, e a ques tãodo Acre, se não fos se re sol vi da de acor do com o tra ta do de 1867,pelo re co nhe ci men to da nos sa so be ra nia até o pa ra le lo 10º 20’,sê-lo-ia pelo ar bi tra men to e com apla u sos sin ce ros e de sin te res sa -dos do país in te i ro.

O re ce io de um de sas tre, de uma sen ten ça des fa vo rá vel ao Bra -sil, de vi do ao des ca so de nos sos go ver nan tes, des vi ou o emi nen tene go ci a dor do Tra ta do de Pe tró po lis do rumo se gu ro, que de via to -mar, e fê-lo en ve re dar para um acor do di re to, no qual a Bo lí via nosar ran cou to das as con ces sões, fin gin do pre fe rir o ar bi tra men to, quetam bém lhe não po de ria con vir; pois, ain da que o la u do do juiz lhe fa -vo re ces se, a ques tão não fi ca ria re sol vi da, por que a cha ma re vo lu ci -o ná ria se ate a ria com mais in ten si da de, e a fal ta de re cur sos não lheper mi ti ria su fo car os pa tri o tas acre a nos, que, à cus ta do pró priosan gue, ha vi am de man ter com bra vu ra aque la re gião, po vo a da e en -gran de ci da pelo seu es for ço e tra ba lho, de po is de inú me ros e ex tra -or di ná ri os sa cri fí ci os. Este fato, aliás, o emi nen te che fe da nos sachan ce la ria con sig na em a sua lu mi no sa ex po si ção ao Pre si den te daRe pú bli ca, di zen do que “du ran te o pro ces so ar bi tral con ti nu a ri amos acre a nos em cons pi ra ções e re vol tas con tra a au to ri da de bo li vi a -na”. E dis to es ta vam ple na men te con ven ci dos os ple ni po ten ciá ri osbo li vi a nos: a pro va é ter um de les dito que “o ar bi tra men to, sem opo li ci a men to pelo Bra sil, en quan to du ras se a pen dên cia, se ria me tera Bo lí via en tre a es pa da e a pa re de”.

Se era as sim, não po de ri am al me jar o ar bi tra men to, e nes te caso,como nós, de ve ri am pre fe rir o acor do di re to, mas em ter mos ra zoá ve ise não nas con di ções em que foi fe i to, com pre ju í zo ex clu si va men te doBra sil e to das as van ta gens para a Bo lí via.

E os pre ju í zos são tan to mais con si de rá ve is, quan to é cer to queen vol vem tam bém um prin cí pio cons ti tu ci o nal que, se não apa i xo nao sen ti men to na ci o nal, nes te mo men to em que to dos es tão vol ta dos

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para o Go ver no e con fi am no ele va do pa tri o tis mo do Pre si den te daRe pú bli ca, pode mais tar de cons ti tu ir ver da de i ro pe ri go, prin ci pal -men te se o caso in te res sar a um Esta do po de ro so da União e que nãoque i ra ace i tar com in di fe ren ça e fra que za o es bu lho de par te do seuter ri tó rio.

Mu i to se tem dis cu ti do já esse caso cons ti tu ci o nal, a pro pó si todes ta in can des cen te ques tão, e os nos sos cons ti tu ci o na lis tas, sem predi ver gen tes, con si de ram o as sun to, co lo can do-se cada um em pon to de vis ta es pe ci al, de modo que não pôde ser com ple ta men te es ta be le ci da a ver da de i ra dou tri na.

Den tro dos li mi tes tra ça dos pela Cons ti tu i ção, po rém, não res tadú vi da que a so be ra nia é da com pe tên cia da União, re pre sen ta da pe los seus ór gãos: o Po der Le gis la ti vo, o Exe cu ti vo e o Ju di ciá rio, har mô ni -cos e in de pen den tes en tre si. (Art. 15)

Isto quer di zer que a so be ra nia per ten ce à Na ção, ao povo bra si -le i ro, exer cen do cada Esta do da União – a par ce la de so be ra nia que aCons ti tu i ção lhe atri bui, de modo que: “os Esta dos só po dem in cor po -rar-se en tre si, sub di vi dir-se, para se ane xa rem a ou tros ou for ma remno vos Esta dos, me di an te a aqui es cên cia das res pec ti vas as sem bléi asle gis la ti vas, em duas ses sões anu a is su ces si vas e apro va ção do Con -gres so Na ci o nal.” (Art. 4º) Mas isto é em re la ção ao des mem bra men toden tro do Bra sil e não quan to à de sin te gra ção do ter ri tó rio na ci o nal,com pre ju í zo da nos sa so be ra nia.

Ora, se os Esta dos não po dem in cor po rar-se en tre si, sub di vi -dir-se ou des mem brar-se para se ane xar a ou tros, sem au diên cia desuas le gis la tu ras e o voto do Con gres so Na ci o nal, como po de rá aUnião, di an te dos tex tos cons ti tu ci o na is, fa zer ces são ao es tran ge i ro de um pe da ço do ter ri tó rio de qual quer Esta do, sem ao me nos lhe ou vir ares pec ti va le gis la tu ra?

Há in con tes ta vel men te nes te ato uma vi o lên cia à so be ra nia, umaten ta do con tra o di re i to dos Esta dos, que se vêem pri va dos da suapro pri e da de sem que, ao me nos, se lhes te nham ou vi do os ór gãos com -pe ten tes, aos qua is a Cons ti tu i ção Fe de ral atri bu iu po de res es pe ci a is,es ta be le cen do os ca sos em que os mes mos Esta dos po dem des mem -brar-se, sen do que a de Mato Gros so é ter mi nan te men te con trá ria àde sin te gra ção do seu ter ri tó rio. E o le gis la dor cons ti tu in te não pre ci -sou so men te os ter mos em que os Esta dos po dem des mem brar-se, mas pres cre veu tam bém ta xa ti va men te os ca sos em que o Po der Exe cu ti voFe de ral pode in ter vir nos ne gó ci os de cada um de les. (Art. 6º) Fora dasdis po si ções des se ar ti go a sua in ter ven ção é ile gal.

Os de fen so res do tra ta do, po rém, bra dam tri un fan tes: “Não têmra zão os que ata cam o Tra ta do de Pe tró po lis, por este lado, por que, ca -ben do à União a por ção do ter ri tó rio que for in dis pen sá vel para a de fe -

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sa das fron te i ras, for ti fi ca ções, cons tru ções mi li ta res e es tra das defer ro fe de ra is (art. 64), o tra ta do po dia fa zer re cu ar os nos sos li mi tes,ce den do à Bo lí via um pe da ço do ter ri tó rio de Mato Gros so.”

É Cla ro que o in tu i to do le gis la dor foi dar à União ape nas a por ção de ter ri tó rio in dis pen sá vel à de fe sa, que lhe com pe te, da fron te i ra, fi -can do ins cri to no tex to cons ti tu ci o nal o ad vér bio so men te. A União,po rém, apos san do-se de par te do ter ri tó rio de Mato Gros so, não o fezpara es ta be le cer for ti fi ca ções, nem cons tru ções mi li ta res, mas para oce der à Bo lí via, que mais tar de po de rá apro ve i tá-lo e nele er guer for ti -fi ca ções con tra o Bra sil, en fra que cen do, por tan to, a de fe sa da que lelon gín quo Esta do.

A Cons ti tu i ção as se gu ra aos Esta dos a pos se ab so lu ta do res pec ti voter ri tó rio e de ter mi na os ca sos em que este se pode des mem brar ou seruti li za do pela União, de modo que a ces são de par te do de Mato Gros so àBo lí via, sem au diên cia ao me nos, dos po de res cons ti tu í dos do Esta do, éuma ar bi tra ri e da de, prin ci pal men te não se con sig nan do jus ta e ime di a tacom pen sa ção pela pro pri e da de es bu lha da. Entre tan to, o tra ta do des -na ci o na li za um pe da ço do ter ri tó rio bra si le i ro, cuja pos se nos era in con -tes ta da, e o en tre ga a uma na ção es tran ge i ra, que, além dis so, au fe re ou -tras e ex tra or di ná ri as van ta gens, fi can do cu mu la da de be ne fí ci os.

Mas quan do a União qui ses se do tar a Bo lí via com di nhe i ro à cus ta do Te sou ro e por tos à cus ta de Mato Gros so, ao me nos pro cu ras seaten der às ne ces si da des des te úl ti mo. E uma vez que, con for me se diz,os dois mi lhões es ter li nos, que da mos de pre sen te à Bo lí via, são para os seus me lho ra men tos ma te ri a is, que es tes se fi zes sem na par te em queela se co mu ni ca com o Esta do, isto é, en tre San ta Cruz de La Si er ra eCo rum bá. O tra ta do, po rém, nada diz a res pe i to, nem pro me te qual -quer ou tra com pen sa ção a Mato Gros so pelo ter ri tó rio ar bi tra ri a men -te ce di do.

É cer to que o Go ver no tem o di re i to de fa zer de sa pro pri a ções poruti li da de pú bli ca, mas isso não o im pe de de pro cu rar acor do com ospro pri e tá ri os, ca ben do-lhe, quan do es tes se re cu sem a anu ir, re cor rerao Po der Ju di ciá rio, que re sol ve em úl ti ma ins tân cia.

Entre tan to, no caso do tra ta do de Pe tró po lis, que en vol ve umprin cí pio cons ti tu ci o nal, não pro cu rou ou vir, por si, nem por seusagen tes, os Esta dos do Mato Gros so e do Ama zo nas, nem con sig nouno acor do, ou fora dele, fa vo res di re tos ou ime di a tos, que lhes pu des -sem com pen sar a per da do ter ri tó rio ali e na do à Bo lí via.

É cer to que en tre os ca lo ro sos de fen so res do tra ta do há quempen se que a União, mes mo em tem po de paz, pode dar, não so men tepar te de um Esta do, como todo ele! Di an te da for ça, é cla ro que a União po de ria fa zer a ces são de Esta dos in te i ros sem os con sul tar, e para afir -má-lo não é pre ci so re cor rer à in ter na ci o na lis tas ame ri ca nos ou eu ro -

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pe us, por que nun ca o di re i to pre va le ceu con tra a for ça. E tan to é as sim, que a Fran ça não pôde evi tar a ane xa ção da Alsa cia e Lo re na ao im pé -rio ale mão, ape sar dos pro tes tos dos ha bi tan tes da que les de par ta men -tos, nem mes mo o gran de Thi ers, mau gra do to dos os seus ta len tos ees for ços, con se guiu que se não de sar mas se Bel fort.

Em tem po de guer ra não há di re i tos as se gu ra dos, por que a sal va -ção pú bli ca está aci ma de tudo; mas em ple na paz, quan do o país vai em mar de ro sas e a nau do Esta do é im pe li da por ga ler nos ven tos, a ex tor -são de ter ri tó rio a dois Esta dos da Fe de ra ção para se dar a um país es -tran ge i ro – não deve ser in di fe ren te a quem tem res pon sa bi li da depo lí ti ca, a me nos que in te res ses, de or dem su pe ri or, ou não, lhe pre do -mi nem o es pí ri to.

Re pre sen tan te do Esta do de Mato Gros so nes ta casa do Con gres -so, não pos so con sen tir que este ato se pra ti que sem o meu pro tes to.Des cul pan do, en tre tan to, os re pre sen tan tes do Ama zo nas, que apla u -dem e com en tu si as mo o Tra ta do de Pe tró po lis, cer to de que o fa zempor lo bri ga rem ao lon ge a es pe ran ça de ver ane xa dos ao seu Esta do oster ri tó ri os do Acre, li ti gi o sos, ou ad qui ri dos por com pra à Bo lí via.

Esta es pe ran ça le gí ti ma e tão aca ri ci a da pe los ama zo nen ses osleva a fe cha rem os olhos à per da do pre ci o so ter ri tó rio do Abu nã e aace i ta rem o Tra ta do de Pe tró po lis, com sa cri fí cio do prin cí pio cons ti tu -ci o nal. Além dis so os li mi tes do Ama zo nas com a Bo lí via não es tão de fi -ni ti va men te es ta be le ci dos.

Os Mato-gros sen ses, po rém, não se acham nas mes mas con di -ções, por que vêm al te ra das as suas fron te i ras com per da do seu ter ri tó -rio e pre ju í zo de sua de fe sa, em caso de guer ra com os nos sos vi zi nhos,sem com pen sa ção al gu ma, no pre sen te, nem es pe ran ças no fu tu ro,quan do é cer to que as as pi ra ções da Bo lí via es ti ve ram sem pre vol ta daspara o rio Pa ra guai, como o prin ci pal es co a dou ro para os seus pro du -tos do Ori en te, prin ci pal men te de po is da per da do Grão-Cha co, re giãoocu pa da mi li tar men te pela Re pú bli ca do Pa ra guai.

A am bi ção da Bo lí via por uma sa í da para a sua pro du ção pelo rioPa ra guai é ma ni fes ta da por to dos os seus es ta dis tas, no me a da men te oge ne ral Pan do, seu pre si den te atu al.

No im por tan te tra ba lho, pu bli ca do em La Pla ta, em 1894, em quedes cre ve a sua vi a gem à re gião de goma elás ti ca, es tu dan do a hi dro -gra fia bo li vi a na e a ri que za da que las pa ra gens, o ge ne ral Pan do as simse ex pri me a res pe i to das pre ten sões co mer ci a is da Bo lí via em re la çãoao rio Pa ra guai:

“El rio Pa ra guai ofe re ce na ve ga ción fá cil y se gu ra has ta el pu er tode Co rum bá, des de el cual se ar ran ca el ca mi no, tran si ta do por ar rías epor car re tas, que ali men ta el co mer cio de la im por tan te ci u dad de San taCruz de la Si er ra. En su tra yec to, atra vi e sa una par te de la Pro vin cia de

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Chi qui tos que és a la ves una de las me jor do ta das en ri que za na tu ral yuna de las mas sa nas y pi to res cas del Ori en te bo li vi a no. Es ali don de hade ini ci ar-se, an tes de mu cho ti em po, la cor ri en te co lo ni za do ra que alpre sen te em bi ben los cam pos ar gen ti nos; y sin las pre ten ci o nes de ha -cer una pro fe cía, es ta mos se gu ros de que la au ro ra de una era de ci vi li -za ción y de pro gre so para a Bo lí via ha de alum brar por el Ori en te..”Lle ga rá ese dia a me ri to del cre ci en te de sar rol lo co mer ci al, re gu la ri -zan do la na ve ga ción del rio Pa ra guai, y im po ni en do como ne ce si dad deina pla za ble ur gen cia, la cons truc ción, Seno de una via-fer rea, por lo me -nos de una bien es ta be le ci da car re te ra en tre San ta Cruz e Co rum bá.”

Di an te de opi nião tão va li o sa, quan to in sus pe i ta, a aber tu ra do rioPa ra guai à ex por ta ção dos pro du tos bo li vi a nos, pela ces são do ter ri tó -rio de Mato Gros so, sen do uma as pi ra ção na ci o nal da que le país, de viaser vir para con ter as pre ten sões des ca bi das de seus ple ni po ten ciá ri os,que co me ça ram por di zer no iní cio das ne go ci a ções des se tra ta do quea hon ra e a so be ra nia da Bo lí via não se co ta vam, ao mes mo tem po quede via ser vir de re sis tên cia aos ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros, tan to maisque essa va li o sís si ma con ces são à Bo lí via não es ta va ins cri ta na pro -pos ta ini ci al, en tre gue ao Sr. Gu a chal la, a 23 de ju lho de 1903.

Mas a ha bi li da de e per ti ná cia dos de le ga dos bo li vi a nos não se fi -ze ram es pe rar, e logo na pre ten si o sa con tra pro pos ta, que ofe re ce ram,re ve la ram as suas as pi ra ções, res pe i to ao rio Pa ra guai, de i xan do verque fa zi am ques tão des sa im por tan tís si ma sa í da para os seus pro du tos. Entre tan to os emi nen tes ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros, que sus ten tamcom tan to bri lho a ne ces si da de de se abrir à Bo lí via a na ve ga ção da -que le rio, e que são acom pa nha dos por to dos os de fen so res do Tra ta do de Pe tró po lis, lou van do-se aliás nas opi niões dos mais ilus tres es ta dis -tas do Impé rio, mas que não pen sa vam as sim quan do fi ze ram a pri me i -ra pro pos ta, não sou be ram apro ve i tar-se des se fato, para me lho rar ascon di ções do tra ta do, que é in ques ti o na vel men te mais van ta jo so para a Bo lí via do que para o Bra sil, sen do de ad mi rar que a nos sa ge ne ro si da -de não fos se até ao ex tre mo de ce der tam bém a mar gem do rio Ma de i ra aos bo li vi a nos, as sim como a pro pri e da de da es tra da de fer ro Ma de i rae Ma mo ré, cons tru í da à cus ta dos co fres do Bra sil, e a que eles ti ve ramain da a pre ten são de as pi rar!

E se não ve ja mos.A Bo lí via, an tes do Tra ta do de Pe tró po lis, es ta va as se di a da por di -

fi cul da des mul tí pli ce, por que não so men te lhe era im pos sí vel man -ter-se den tro do pró prio ter ri tó rio, na par te su pe ri or do Acre, comonão ti nha um es co a dou ro para os seus pro du tos do ori en te, pelo Pa ra -guai, nem fa ci li da de para a ex por ta ção pelo Ama zo nas. Entre tan to,me di an te ven da, por soma fa bu lo sa, do ter ri tó rio do Acre, que não po -dia man ter, por que o povo que o ha bi ta não se sub me te ria ja ma is à sua

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au to ri da de, a Bo lí via con se guiu não só a ane xa ção de ter ri tó ri os doEsta do de Mato Gros so, que lhe as se gu ram a na ve ga ção do rio Pa ra -guai, como a par te do ter ri tó rio do Esta do do Ama zo nas, com pre en di -da en tre o Ma de i ra e o Abu nã, e mais a cons tru ção da es tra da Ma de i rae Ma mo ré, que fa ci li ta rá gran de men te o co mér cio bo li vi a no, e re pre -sen ta uma as pi ra ção dos ho mens no tá ve is da que le país, en tre os qua isse en con tra na pri me i ra li nha o ge ne ral Pan do.

No tra ba lho aci ma ci ta do, o Pre si den te da Bo lí via se alon ga bas -tan te em de mons trar a ne ces si da de da cons tru ção da fer ro via Ma de i rae Ma mo ré, con si de ran do-a de gran de im por tân cia não so men te sob opon to de vis ta co mer ci al, como tam bém hu ma ni tá rio, por que além defa ci li tar as co mu ni ca ções, dan do gran de in cre men to àque la ubér ri mazona, pou pa rá pre ci o sas vi das, gra ças ao aban do no da na ve ga ção pe -las ca cho e i ras, onde pe re cem anu al men te cen te nas de tra ba lha do res.

O ge ne ral Pan do mos tra-se en tu si as ta da es tra da ma de i ra e Ma -mo ré e a con si de ra de um va lor ex tra or di ná rio pe las van ta gens in cal -cu lá ve is que a sua cons tru ção le va rá àque la zona, por ace le rar asco mu ni ca ções e di mi nu ir o cus to dos trans por tes, sen do in con tes ta vel -men te ver da de i ro que esse me lho ra men to apro ve i ta mais aos bo li vi a -nos, que ha bi tam a re gião do Beni e Ma dre de Dios, do que aosbra si le i ros que vi vem em Mato Gros so e no Ama zo nas.

Mas não po de mos de i xar de fa zer jus ti ça aos sen ti men tos do Pre -si den te da Bo lí via, que, con for me se vê da sua ins tru ti va ex po si ção, não as pi ra va na que le tem po a cons tru ção des sa im por tan te fer ro via co -mer ci al (hoje por um ge ne ral con si de ra da tam bém es tra té gi ca) com sa -cri fí cio ex clu si vo do Bra sil. Ele con sig na em seu li vro, que a Bo lí viaigual men te de via con cor rer para esse no tá vel me lho ra men to, vo tan douma ga ran tia sub ven ci o nal de 2,5%, e, para isso, con ci ta va os seuscom pa tri o tas con gres sis tas, ao mes mo tem po que de cla ra va con tarcom a boa von ta de do sr. Pru den te de Mo ra es, que ina u gu ra va en tão oseu go ver no, e com os es for ços da Le ga ção da Bo lí via, a cons ti tu ir-seno Rio de Ja ne i ro.

E no cor rer de toda a sua in te res san te nar ra ti va não se en con tra amí ni ma re fe rên cia ao tra ta do de 1867, pelo qual, diz-se, o Bra sil pro me -te ra cons tru ir aque la es tra da! Nem po dia ser de ou tra ma ne i ra. Se aBo lí via se jul gas se com di re i to a exi gir do Bra sil a re a li za ção de suapro mes sa, ela nos não per do a ria. É que o não ti nha, tan to que os bo li vi -a nos ten ta ram por se o re fe ri do me lho ra men to, fa zen do con ces sõesim por tan te, en tre as qua is se sa li en ta a do co ro nel Church, con ces si o -ná rio, por par te do Bra sil, do Ma de i ra e Ma mo ré, para le var-se a efe i toao mes mo tem po a na ve ga ção a va por dos rios da Bo lí via, tri bu tá ri osdo Ma de i ra.

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Estes fa tos por si sós bas ta ri am para exi mir o Bra sil da res pon sa -bi li da de de tal cons tru ção, se não exis tis sem tam bém as dis po si ções doart. 28 do pró prio tra ta do de 1867, que nos pôs li vres e de sem ba ra ça -dos do su pos to com pro mis so, sem to da via im pe dir que, como acon te -ceu mais tar de, o Bra sil fi zes se no vas ten ta ti vas para le var a caboaque le em pre en di men to, a que não era mais obri ga do, sem o con se -guir, in fe liz men te, fi can do in fru tí fe ros to dos os seus es for ços.

Sen do as sim, os nos sos com pro mis sos an ti gos de sa pa re ce ram,prin ci pal men te em re la ção à cons tru ção da M. e Ma mo ré, e, se fo ramcon sig na dos ago ra no Tra ta do de Pe tró po lis, não po dem de i xar de sercon si de ra dos como novo fa vor aos bo li vi a nos, e des ta vez com a am pli tu -de, que não ti nha no tra ta do de 1867, de ter mi nan do-se até o pra zo den trodo qual a es tra da deve fi car con clu í da. E este pra zo, in sig ni fi can te e es tre i -to, po de rá che gar ape nas para se con clu í rem os es tu dos de fi ni ti vos, epara o iní cio dos tra ba lhos, sal vo se os mo ti vos da ex po si ção pre te ri rem ale tra ex pres sa do tra ta do; por quan to, se nas cam pi nas do sul, onde as co -mu ni ca ções se fa zem com mais ra pi dez, não se con se gue com fa ci li da de,em mé dia, a cons tru ção de 50 qui lô me tros de ca mi nho de fer ro, por ano,como ha ve mos de pre ten der cons tru ir cer ca de 400 qui lô me tros em qua -tro anos, em re giões lon gín quas e de tão di fí cil aces so? Não há pro dí giode en ge nha ria en tre nós que faça bom tal erro de cál cu lo.

Fe liz men te este en ga no não é tão pre ju di ci al como o em que in -cor re ram os ne go ci a do res do tra ta do de 1867, no seu art. 2º, di zen doque a fron te i ra do Bra sil e Bo lí via se gui rá por uma pa ra le la, ti ra da damar gem es quer da do Ma de i ra, na la ti tu de 10° 20’, quan do ti nham emmen te di zer - um pa ra le lo – e não uma pa ra le la como foi ins cri to, dan do mo ti vo a ques tões que pu se ram em dú vi da o nos so di re i to.

Assim pois, e ante a opi nião mais in sus pe i ta para a Bo lí via, qual ade seu ilus tre pre si den te, car tó gra fo emé ri to e co nhe ce dor per fe i to das co i sas de seu país – o Bra sil, dan do-lhe aces so ao rio Pa ra guai, o quesem pre foi uma as pi ra ção ar den te dos bo li vi a nos, e fa ci li tan do-lhe osme i os de co mu ni ca ção ao nor te, pela cons tru ção da es tra da Ma de i ra eMa mo ré – lhe ti nha dado tudo para o es co a men to dos seus pro du tos epara o en gran de ci men to de seu co mér cio.

Mas não fi ca ram aí as con ces sões fe i tas à Bo lí via pelo Tra ta do dePe tró po lis. Além dos fa vo res ex cep ci o na is do art. 8º, as su min do gra -vís si ma res pon sa bi li da de para com o Peru, de mos-lhe ain da o ter ri tó -rio com pre en di do en tre os rios Ma de i ra e Abu nã, por que, ale ga vam osbo li vi a nos e foi con sig na do na ex po si ção de mo ti vos, aque la par te doter ri tó rio bra si le i ro era ha bi ta da por bo li vi a nos. Como se ali não ha bi -tas sem tam bém bra si le i ros, e como se bra si le i ros não fos sem os que vi -vem no Ta ma rin de i ro, ter ri tó rio à mar gem da la goa de Cá ce res, noEsta do de Mato Gros so.

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Se pelo fato de ser o alu di do ter ri tó rio ha bi ta do por sú di tos bo li vi -a nos, de vês se mos fa zer ces são dele à Bo lí via, esta por seu lado nos de -ve ria en tre gar, sem ônus al gum, todo esse ter ri tó rio do Acre, li ti gi o soou não, aon de os bra si le i ros, pelo es for ço de sua co ra gem e ati vi da de,fo ram le var a ci vi li za ção e a vida.

Assim, po rém, não acon te ceu, e para al can çar mos que os bo li vi a -nos nos des sem de di re i to àqui lo, que já tí nha mos de fato, que nos per -ten cia pelo uti pos si de tis e pela con quis ta dos in vic tos bra si le i ros, quefo ram ha bi tar aque las re giões ubér ri mas, mas do en ti as, ti ve mos de fa -zer enor mís si ma soma de sa cri fí ci os – mu ti lan do o ter ri tó rio pá trio,abrin do o te sou ro na ci o nal para en cher de di nhe i ro os co fres da Bo lí via,dan do-lhe de uma só vez, em ouro, mais de três ve zes a sua re ce i ta anu al!

Entre tan to, um dos mais ilus tres e dos mais de di ca dos de fen so resdo Tra ta do de Pe tró po lis bra da va com en tu si as mo na Câ ma ra dos De -pu ta dos que não hou ve ja ma is aqui si ção de ter ri tó rio tão ra zoá vel e ba -ra ta, como a do Acre. Para nós nun ca hou ve ou tra tão de ma si a da men te cara, como a que está con sig na da no Tra ta do de Pe tró po lis, além degran de men te des fa vo rá vel aos nos sos in te res ses. É que as nos sas re ti -nas não po dem sen tir da mes ma ma ne i ra a ima gem que ob ser va mos,prin ci pal men te sen do di fe ren tes as po si ções em que se acham os opo -si ci o nis tas e os de fen so res do tra ta do.

Mas nem pode ser con si de ra da de ou tra for ma a com pra do ter ri -tó rio do Acre, por que, se o tra ta do de 1867 ain da está em vi gor, em bo -ra os er ros dos Go ver nos pas sa dos, uti pos si de tis nos as se gu ra ria odo mí nio pelo ar bi tra men to, so bre o ter ri tó rio li ti gi o so; isto é, o li mi tese ria a li nha 10º20’, con sig na da cla ra men te na que le tra ta do, por quan to o juiz ar bi tral não se de i xa ria le var so men te pe los atos pra ti ca dos comex tre ma in ca pa ci da de por Mi nis tros, que tan to nos com pro me te ramnes se as sun to, mas que ape sar dis so fo ram ga lar do a dos com dis tin -ções bem sig ni fi ca ti vas, e es tu da ria a ques tão com a ele va ção de vis tascom que cos tu mam pro ce der os tri bu na is de úl ti ma ins tân cia, re for -man do as sen ten ças quan do vêem er ra das dos tri bu na is in fe ri o res.

Qu an to ao ter ri tó rio não li ti gi o so, ha bi li ta do por bra si le i ros, a Bo -lí via não ti nha for ça para fa zer res pe i tar ali a sua au to ri da de, de modoque, mo ral men te, os nos sos vi zi nhos não pos su íam a re gião su pe ri ordo Acre, isto é, o ter ri tó rio que fica ao sul do pa ra le lo 10º 20’. E tan to oGo ver no bo li vi a no não po dia man ter a sua so be ra nia nes se ter ri tó rio,que se viu na con tin gên cia de abrir mão dela, ar ren dan do-o a es tran ge -i ros com fa vo res ex cep ci o na is, o que pro vo cou enér gi cos pro tes tos dapar te do Go ver no bra si le i ro, sem pre ami go ge ne ro so da que le país.

Os pro tes tos que en tão se le van ta ram en tre nós, pelo re ce io doapa re ci men to de no vas Char te red Com pa ni es, con for me ain da se achacon sig na do na ex po si ção de mo ti vos des per ta ram o sen ti men to na ci o -

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nal e viva sim pa tia se ma ni fes tou em todo país pe los bra vos acre a nos,que le van ta ram de novo a ban de i ra de sua in de pen dên cia da Bo lí via.

De tal modo a idéia da Char te red Com pany im pres si o nou a opi -nião, que, ain da hoje, os de fen so res do tra ta do são unâ ni mes em con -sig nar o fato de que o acor do de Pe tró po lis eli mi nou este mal, fa zen dode sa pa re cer o re ce io, que to dos tí nha mos, de ver res ta be le ci do en trenós esse pe ri go in ter na ci o nal.

Não obs tan te, ele não de sa pa re ceu por com ple to, por que se o Go -ver no Bra si le i ro com prou ao Bo li vi an Syndi ca te por 116 mil li bras es -ter li nas a de sis tên cia dos seus di re i tos ao ar ren da men to do Acre, fe i topelo Go ver no da Bo lí via, esta na ção, ou ou tra qual quer li mí tro fe, nãoestá ini bi da de efe tu ar no vas tran sa ções de igual na tu re za, e, o que émais, uma vez que o tra ta do não es ti pu la ser de fe so à Bo lí via usar des se di re i to sem ou vir o Bra sil, essa Re pú bli ca mes ma po de rá ar ren dar nãoso men te o ter ri tó rio pro pri a men te seu, como tam bém o ad qui ri do peloTra ta do de Pe tró po lis, en tre gan do a ame ri ca nos, in gle ses ou ale mães apar te com pre en di da en tre o Ma de i ra e o Abu nã, ou mes mo a nes ga deter ra do Ta ma rin de i ro, ou qual quer dos por tos aber tos no Esta do deMato Gros so.

O pe ri go pre sen te, não há dú vi da que se con se guiu evi tar, masnão nos pre ve ni mos con tra os pe ri gos fu tu ros, prin ci pal men te ten do oBra sil com pra do ques tão com o Peru, exi min do a Bo lí via de toda res -pon sa bi li da de no li tí gio que com ele sus ten ta va.

Assim, pois, se o ter ri tó rio do Acre não po dia ser man ti do pelaBo lí via, não era jus o que ela fi zes se exi gên ci as ex tra or di ná ri as comofez, trans fe rin do por alto pre ço ao Bra sil uma pro pri e da de, que de fatonão era sua, por que ou tros a ha bi ta vam com ele men tos de for ça para acon ser var; e a pro va ti ve mo-la nas de mons tra ções da das pelo exér ci toacre a no, que te ria ven ci do o ge ne ral Pan do em pes soa, se pro vi den ci al -men te não che gas se a tem po o men sa ge i ro do ge ne ral Olympio da Sil -ve i ra ao acam pa men to do bra vo Plá ci do de Cas tro, a lhe co mu ni car omo dus vi ven di es ta be le ci do, dan do-se por esse mo ti vo a ime di a ta sus -pen são das hos ti li da des.

Se não fos se isso, achan do-se o gros so das for ças re vo lu ci o ná ri asno Gi ron da em mar cha para Por to Rico, dis tan te oito ho ras de vi a gem,e onde uma di vi são das tro pas bo li vi a nas se via si ti a da já e sem maispo der es ca par à der ro ta, que lhe in frin gi ri am os acre a nos, o Pre si den te da Bo lí via e os seus sol da dos es ta ri am ir re mis si vel men te per di dos.

Não é, pois, exa to o que se tem afir ma do, que a gen te de Plá ci do de Cas tro se ria es ma ga da pe las for ças do ge ne ral Pan do, se por ven tu ranão che gas se a tem po ao Acre a in ti ma ção para que ces sas sem as hos -ti li da des en tre os dois exér ci tos be li ge ran tes. Nem o ge ne ral Pan do,com uma for ça de 500 ho mens, di vi di da em duas co lu nas, po de ria re -

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sis tir ao exér ci to acre a no, com pos to de 1.500 ser ta ne jos bem ar ma dos,co nhe ce do res dos lu ga res, onde ope ra vam, e ati ra do res de pri me i raor dem.

Não pode ha ver dú vi da que o Acre es ta va per di do para a Bo lí via;en tre tan to, ela ce deu ao Bra sil, o di re i to que ti nha so bre esse ter ri tó rio,cuja pos se não po dia man ter, re ce ben do em paga, além do aces so aorio Pa ra guai por qua tro pon tos da fron te i ra de Mato Gros so, o ter ri tó -rio com pre en di do en tre o Ma de i ra e o Abu nã, a es tra da Ma de i ra e Ma -mo ré, e mais dois mi lhões es ter li nos. Isto é, a Bo lí via nos dá o ter ri tó riodo Acre, onde não exer cia ju ris di ção, nem a me nor par ce la de au to ri -da de, em tro ca de ter ri tó rio re co nhe ci da men te nos so e da ma i or va liapara os seus in te res ses co mer ci a is.

Se so mar mos to dos es ses sa cri fí ci os e acres cen tar mos ain da quegas ta mos com a ex pe di ção mi li tar, cer ca de 20.000.000.000, e, o que émais, se con si de rar mos as per das de vi das pre ci o sas nas pa ra gens in -sa lu bres do Ama zo nas, po de mos as se gu rar sem re ce io de er rar: - oAcre não vale tan to!

Mas os sus ten ta do res do tra ta do pro cla mam aos qua tro ven tosque nun ca se fez no mun do ne gó cio mais em con ta, que nun ca se con -se guiu uma aqui si ção ter ri to ri al tão van ta jo sa como a que fa ze mos pelo Tra ta do de Pe tró po lis.

Entre tan to, a Lu i zi a nia, já ci ta da, cus tou 80 mi lhões de fran cos,sen do 60 mi lhões como in de ni za ção do ter ri tó rio e 20 mi lhões para pa -ga men to de re cla ma ções a par ti cu la res, isto é, a Lu i zi a nia, vas tís si moter ri tó rio, si tu a do em con di ções ex cep ci o na is e mu i to po vo a do, cus toutrês mi lhões e 200 mil li bras.

O ter ri tó rio do Alas ka, que tam bém tem sido ci ta do no cor rer des -ta de ba ti da ques tão, mu i to ma i or em ex ten são do que o Acre e cu jasmi nas au rí fe ras são de uma ri que za ex tra or di ná ria, cus tou ape nas setemi lhões e 200 mil dó la res, ou um mi lhão e 440 mil li bras es ter li nas.

A Fi li pi nas, com uma ex ten são de 114.000 mi lhas qua dra das, ou296.182 qui lô me tros, com uma po pu la ção con si de rá vel, de al guns mi -lhões de al mas, gran de im pé rio, en fim, e numa po si ção ad mi rá vel paraos Esta dos Uni dos, no ex tre mo Ori en te, cus ta ram 20 mi lhões de dó la -res, ou qua tro mi lhões es ter li nos, ex clu í do o com pro mis so de sua dí vi -da, cuja res pon sa bi li da de foi as su mi da pela Espa nha.

As Ca ro li nas, pon to im por tan tís si mo e tão am bi ci o na do pela Ale -ma nha, foi à aqui si ção ter ri to ri al que, a nos so ver, cus tou mais caro,mas isso mes mo se deu de po is da in ter ven ção de Leão XIII, sen do cer to que o po de ro so im pé rio pre ten deu ad qui ri-las de qual quer for ma.

E o Acre quan to nos cus tou?Em di nhe i ro, des de logo, dois mi lhões es ter li nos; para a cons tru -

ção da es tra da Ma de i ra e Ma mo ré, se gun do os cál cu los, de po is do in -

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su ces so do co ro nel Church, que foi seu con ces si o ná rio e che gou aini ci ar a cons tru ção, três mi lhões de li bras; des pe sas fe i tas com a ex pe -di ção mi li tar, cer ca de um mi lhão; in de ni za ção ao sin di ca to ame ri ca no,para de sis tir do con tra to Ara ma yo 116.000 li bras, o que so ma do pro -duz a for mi dá vel quan tia de cer ca de 6.000.000 de li bras es ter li nas!

Estes são os com pro mis sos ime di a tos e co nhe ci dos, não es tan docom pu ta das as des pe sas que hão de apa re cer, pro ve ni en tes de fu tu rasre cla ma ções, de acor do com as dis po si ções do art. 2º do tra ta do, alémdos dis pên di os que nos po dem ad vir da res pon sa bi li da de que con tra í -mos com o Peru, pelo art. 8º, e que se rão enor mes, se por ven tu ra ti ver -mos de efe tuá-los.

Di an te des tes al ga ris mos, não é lí ci to afir mar que a aqui si ção doAcre foi um bom ne gó cio e, o que é mais, com pa ra ti va men te me lhor do que to dos os ou tros des se gê ne ro, so bre tu do se con fron tar mos as nos -sas pos ses, as nos sas con di ções fi nan ce i ras de país que aca ba de sairda mo ra tó ria, com as da prós pe ra e po de ro sa Ale ma nha ou as da gran -de e rica União-Ame ri ca na.

Os nos sos sa cri fí ci os de di nhe i ro são ex tra or di ná ri os e nos agra -vam con si de ra vel men te os or ça men tos. Mas os emi nen tes ne go ci a do res bra si le i ros não pa ra ram aí e re u ni ram a es tes no vos sa cri fí ci os, fe rin do o amor pró prio na ci o nal pela de sin te gra ção do ter ri tó rio pá trio!

A Bo lí via não fa ria com dez anos de sua re ce i ta, acu mu la da dia a dia,sem des vio de um só peso para ou tros fins, a des pe sa que nos acar re ta oTra ta do de Pe tró po lis. E, to da via, as acla ma ções são unís so nas qua se, e os de fen so res do tra ta do sur gem de toda a par te no Rio de Ja ne i ro.

É cer to, e está con sig na do na sua bri lhan te ex po si ção pelo be ne -mé ri to ne go ci a dor do ajus te, que dos três al vi tres a ado tar-se para re -sol ver a pen dên cia com a Bo lí via, o me lhor se ria o acor do di re to, sen do pe ri go so o ar bi tra men to, que de mo ra ria ain da lon go tem po e não re -sol ve ria a ques tão – e des le al a ane xa ção do ter ri tó rio do Acre ao Bra sil, por meio da sua in de pen dên cia, al can ça da pe los acre a nos.

Incon tes ta vel men te o acor do era a me lhor so lu ção, e o Go ver noan dou mu i to bem pro cu ran do des lin dar o con fli to por esse modo. Masdo que não res ta dú vi da é de que os nos sos ple ni po ten ciá ri os fra que a -ram, mos tran do-se por de ma is ge ne ro sos na ne go ci a ção, por que nãoso men te sa tis fi ze ram as as pi ra ções co mer ci a is da Bo lí via, dan do-lhesa í das para os pro du tos, como der ra ma ram di nhe i ro a man che i as nosseus co fres em po bre ci dos, quan do vi ve mos a re ga te ar au xí li os in dis -pen sá ve is aos nos sos com pa tri o tas, que mor rem de fome e a min gua,nas ter ras are no sas do Rio Gran de do Nor te e do Ce a rá.

Se bem que o al vi tre ado ta do para re sol ver a ques tão do Acre fos -se o me lhor, por que evi tou o der ra ma men to de san gue, evi tan do umaguer ra com a Bo lí via, à aqui si ção des se ter ri tó rio foi por de ma is des -

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van ta jo sa, por que além do mu i to que nos cus ta já, não sa be mos atéonde nos le va rá a dis cus são que va mos en ce tar com o Peru, cu jos olhos de vem es tar ar re ga la dos para os fa vo res ex tra or di ná ri os que aca ba -mos de con ce der à Bo lí via.

É bem cer to que de ve mos con fi ar no tino e alta ca pa ci da de doilus tre bra si le i ro que di ri ge a pas ta do Exte ri or, as sim como na pru dên -cia e pa tri o tis mo do emi nen te che fe do Po der Exe cu ti vo. Entre tan to,ape sar de toda a con fi an ça que ins pi ram es ses pre di ca dos dos ho menspú bli cos, a prá ti ca de um ato qual quer, mes mo bem in ten ci o na do podele var uma na ção até ao ex tre mo de uma guer ra, prin ci pal men te dado ocaso pre sen te, em que as su mi mos para com o Peru com pro mis so se rís -si mo, exi min do a Bo lí via de toda res pon sa bi li da de do li tí gio que man ti -nha com aque la na ção.

Não há dú vi da que, em re la ção ao Bra sil, o nos so di re i to é in con -tes tá vel di an te das pre ten sões fan ta si o sas do Peru; mas ain da as simnão es ta mos li vres do pe ri go de um rom pi men to, que nos ar ras ta ria asa cri fí ci os in cal cu lá ve is, tan to mais que o li tí gio exis ten te en tre aque lesdois pa í ses vi zi nhos, está de pen den do de sen ten ça ar bi tral, con fi a da àsa be do ria do pre si den te da Re pú bli ca Argen ti na. De modo que, se ola u do for des fa vo rá vel à Bo lí via, te re mos de nos avir com as exi gên ci asdes ca bi das do Peru, e a no vos sa cri fí ci os será obri ga do o Te sou ro Na -ci o nal para sa tis fa ção dos com pro mis sos, cuja res pon sa bi li da de aca -ba mos de as su mir.

Em re su mo, o Tra ta do de Pe tró po lis foi uma vi tó ria para a di plo ma -cia bo li vi a na, que al can çou tudo do Bra sil, sem nos dar nada – afo ra umter ri tó rio que, se era seu – de di re i to – nos per ten cia de fato, por que suaau to ri da de não se fa zia sen tir no Acre. E as sim o com pre en deu o Ge ne -ral Pan do, tan to que cha mou para fa zer par te do seu go ver no a um dosple ni po ten ciá ri os, en quan to o ou tro, can di da to à pre si dên cia da Re pú -bli ca, vai des can sar no es tran ge i ro sob os lou ros des ta vi tó ria, à es pe rade que os seus com pa tri o tas lhe sa i bam re co nhe cer os ser vi ços.

Sim, por que a Bo lí via nos ven deu bem cara a sua pro pri e da de du -vi do sa, al can çan do, além dos gran des be ne fí ci os que lhe con ce de mosdi re ta men te – li vrar-se de um li tí gio in ter na ci o nal, que po dia per tur bara sua vida po lí ti ca, ar ras tan do-a tal vez a hu mi lhan tes exi gên ci as doPeru, que, de ago ra em di an te, terá de se en ten der com o Bra sil.

Em tro ca de tudo isto, que é o que nos deu a Bo lí via?Além do ter ri tó rio aba i xo do pa ra le lo 10º20’, que lhe per ten cia de

di re i to, mas onde não exer cia de fato so be ra nia, por que dele es ta vamde pos se os acre a nos, como bem con sig na a ex po si ção de mo ti vos, –ab so lu ta men te nada, por quan to o ter ri tó rio dito li ti gi o so era bra si le i roem face do tra ta do de 1867, e ne nhum ár bi tro cons ci en ci o so de i xa riade nos ser fa vo rá vel, mes mo de po is dos atos pra ti ca dos pe los go ver nos

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pas sa dos, vis to como o nos so di re i to era in con tes tá vel e o uti pos si de tisnos as se gu ra ria a vi tó ria. E se por ven tu ra nos to cas se o in for tú nio deuma sen ten ça con trá ria, nada ha ve ria de de sa i ro so para nós, ca ben doen tão à di plo ma cia bra si le i ra de sen vol ver todo o es for ço para, a gol pes de ta len to e sa ga ci da de, re sol ver ques tão, como me lhor con vi es se aosin te res ses na ci o na is; por que ain da as sim a Bo lí via não po de ria fi cartran qüi la e des can sa da di an te da ati tu de pa trió ti ca e in te me ra ta dosacre a nos, se nho res, pela ocu pa ção, do ter ri tó rio dis pu ta do. E uma vezque es tá va mos dis pos tos a não olhar pre ço e a fa zer to das as con ces -sões e fa vo res à Bo lí via, po de ría mos im por, para ser con tem pla da nasba ses do ar bi tra men to, a con di ção es pe ci al de que, dada a sen ten çapelo juiz ar bi tral em fa vor de um dos li ti gan tes, a esse não se ria lí ci todis por do ter ri tó rio ad qui ri do sem o con sen so do ou tro.

Esta idéia, que não me per ten ce, mas a um es ta dis ta ilus tre, quere ce a va mu i to o re sul ta do do Tra ta do de Pe tró po lis, pela ces são do ter -ri tó rio na ci o nal, re sol ve ria a ques tão, e tal vez ob ti vés se mos en tão ou -tras van ta gens, que não con se gui mos al can çar nes te mo men to.

O que nos po de ri am ale gar é que o ter ri tó rio ao sul do pa ra le lo10º20’ não es ta va em ques tão e que, ven ci da a pri me i ra di fi cul da de, te -ría mos de re sol ver a se gun da.

Mas ali é que en tra ria ver da de i ra men te em ação o tra ba lho di plo -má ti co e as ne go ci a ções não se ri am me ra men te co mer ci a is. E quan dopor qual quer mo ti vo nada pu dés se mos con se guir, ne nhu ma res pon sa -bi li da de ca be ria ao Go ver no Re pu bli ca no, por que, frus tra das as suaspa trió ti cas ten ta ti vas no in tu i to de dar ao Bra sil so be ra nia no ter ri tó rioha bi ta do e en gran de ci do por bra si le i ros, a na ção in te i ra não po de riade i xar de lhe apla u dir o pro ce di men to e re co nhe cer a be ne me rên cia,em bo ra la men tan do a fa ta li da de do in su ces so.

Nem por ter mos re sol vi do a ques tão como o fi ze mos, es ta mos ain -da por este lado isen tos de no vos em ba ra ços no fu tu ro, pois que, se nostor nar mos na ção ex pan si o nis ta, con tra a nos sa ín do le e con tra a Cons ti -tu i ção, ad qui rin do por so mas fa bu lo sas e fa vo res ex tra or di ná ri os o ter -ri tó rio su pe ri or do Acre, por que bra si le i ros o ha bi tam e o ex plo ram, não es ta mos li vres ama nhã de nos ver mos em no vas di fi cul da des, não sócom a Bo lí via, como tam bém com o Peru, em con se qüên cia de in va são,pe los nos sos com pa tri o tas, das ter ras ina bi ta das des ses dois pa í ses

Mas o Tra ta do de Pe tró po lis é uma re a li da de, e o nome do seu ne -go ci a dor tão que ri do e res pe i ta do en tre nós, que, ape sar da ces são deter ri tó rio de ver fe rir o amor pró prio na ci o nal – as acla ma ções, re a is ounão, o con sa gra ram no va men te, con se guin do o Go ver no com o seupres tí gio e ta len tos o apo io do Con gres so e da im pren sa flu mi nen se em sua ma i o ria, es ten den do-se esse en tu si as mo até as clas ses mi li ta res,

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que, em bo ra par ci al men te, mes mo an tes da apro va ção do ajus te pelopo der com pe ten te vão dan do ex pan são aos seus apla u sos.

Bem sa be mos que é inú til o nos so es for ço, opon do-nos à pas sa -gem do tra ta do nes ta Casa do Con gres so, mas que re mos de i xar bemcla ro o nos so pen sa men to, pro tes tan do sin ce ra men te con tra a ces sãode ter ri tó rio pá trio, por que, ape sar das afir ma ções nele con ti das de serum tra ta do de per mu tas, nin guém des pre ve ni do o acre di ta rá, prin ci -pal men te as sen tan do, como o fi ze ram os seus ne go ci a do res nas dis po -si ções do art. 5º do de 1867.

Não pode ser um tra ta do de per mu tas, pois que da mos um ter ri tó -rio, pe que no, é ver da de, mas in te i ra men te nos so, onde exer ce mos in -te i ra so be ra nia, e pre ci o sís si mo para a Bo lí via, que com ele pode pro -mo ver o de sen vol vi men to de seu co mér cio, al can çan do es co a dou ropara os seus pro du tos, e ao mes mo tem po lhe fa vo re ce mos com umafer ro via, que lhe fa ci li ta rá as co mu ni ca ções in ter nas e que lhe fa ci li ta ráas co mu ni ca ções in ter nas e que re pre sen ta uma as pi ra ção bo li vi a na,para em tro ca re ce ber mos um ter ri tó rio, que é nos so, e mais cer ca de42 mil qui lô me tros qua dra dos de um ou tro, que lhe per ten ce, é cer to,mas onde ela não exer ce, de fato, so be ra nia.

Con tu do, con sig nas se o Tra ta do de Pe tró po lis es ses dois pon tosso men te, e ain da se o po de ria de no mi nar – Tra ta do de per mu tas. Masas sim não acon te ce: da mos à Bo lí via mais dois mi lhões es ter li nos e noscom pro me te mos a cons tru ir a es tra da Ma de i ra e Ma mo ré, que é a im -por tân cia pela qual ad qui ri mos o Acre su pe ri or.

Este co ro lá rio res sal ta evi den te da pri me i ra pro pos ta pura e fran -ca, de com pra do ter ri tó rio em ques tão, fe i ta pelo nos so emi nen te ne -go ci a dor ao ple ni po ten ciá rio bo li vi a no. Há bil, res pon deu este que aso be ra nia e a hon ra da Bo lí via não se co ta vam, mas quan do per ce beu o que cus tas se e fos se como fos se, o ter ri tó rio do Acre, já en tão re u ni dosos dois ple ni po ten ciá ri os, re do bram de es for ço e sa ga ci da de, e fo ram,pou co a pou co, tudo con se guin do, de modo a al can ça rem não so men tepor tos e ter ri tó rio, es tra da de fer ro e res pon sa bi li da de do Bra sil jun toao Peru, com quem es ta va a Bo lí via em li tí gio, como tam bém dois mi -lhões es ter li nos, que fo ram obri ga dos a ace i tar, por cir cuns tân ci as es -pe ci a is em que se vi ram co lo ca dos du ran te a dis cus são.

Não hou ve, pois, per mu ta de ter ri tó ri os e ra zão não têm os emi -nen tes ne go ci a do res e os ilus tres de fen so res do Tra ta do de Pe tró po lisquan do, para o jus ti fi ca rem, re cor rem ao de 1867.

E se não ve ja mos o que nes te diz o art. 5º ci ta do e que sim se ex pri me:“Se para o fim de fi xar, em um ou ou tro pon to, li mi tes que se jam

mais na tu ra is e con ve ni en tes a uma ou ou tra na ção, pa re cer van ta jo saa tro ca de ter ri tó ri os, po de rá esta ter lu gar, abrin do-se para isso no vas

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ne go ci a ções e fa zen do-se, não obs tan te isso, a de mar ca ção, como se tal tro ca não hou ves se de efe tu ar-se.

Com pre en de-se nes ta es ti pu la ção o caso da tro ca de ter ri tó riopara dar-se lo gra dou ro a al gum po vo a do, ou al gum es ta be le ci men topú bli co, que fi que pre ju di ca do pela de ma si a da pro xi mi da de da li nhadi vi só ria.”

O que, pois, os ne go ci a do res do tra ta do de 1867 pre ten de ram foique, para se fi xa rem li mi tes mais na tu ra is e con ve ni en tes a uma e ou trana ção, a tro ca de ter ri tó ri os po de ria ter lu gar, abrin do-se no vas ne go -ci a ções. Acres cen ta ram, po rém, cla ra men te, logo adi an te, que se riapara dar lo gra dou ro a al gum po vo a do, ou es ta be le ci men to pú bli co,que, por ven tu ra, pu des se fi car pre ju di ca do pela de ma si a da pro xi mi da -de da li nha di vi só ria.

O pen sa men to dos ne go ci a do res do tra ta do de 1867 foi o de fa vo -re cer a cer tos po vo a dos, que pela de mar ca ção de li mi tes fi cas sem pre -ju di ca dos, que pu des sem, por exem plo, vir a per der os pró pri osma nan ci a is de que se ser vi am co ti di a na men te. Então a tro ca po de ria se re a li zar na mes ma fron te i ra, sem pre ju di car o ter ri tó rio de uma pro vín -cia em fa vor da ou tra. Mas isso não acon te ce ago ra: faz-se ces são doter ri tó rio e Mato Gros so, sem se aten der às con di ções es ti pu la das notra ta do de 1867, por isso que ne nhum dos pon tos ce di dos à Bo lí via,nes se Esta do, de mo ra nas pro xi mi da des de po vo a do ou es ta be le ci -men to pú bli co da que le país, ao qual se pre ci sas se dar lo gra dou ro.

Não nos cons ta que nas pro xi mi da des da Ba hia Ne gra, onde da -mos à Bo lí via um pe da ço da ter ra à mar gem di re i ta do rio Pa ra guai, seen con trem es ta be le ci men tos pú bli cos ou po vo a dos bo li vi a nos, poisnem se quer essa na ção dis põe hoje do an ti go por to Pa che co, mi li tar -men te ocu pa do pelo Pa ra guai em 1888. Nas mes mas con di ções da Ba -hia Ne gra se acham as la go as Man di o ré e Ga hi va, nas qua is já éra mosme e i ros com a Bo lí via, e onde lhe da mos ago ra ape nas um pe da ço deter ri tó rio e um pou co mais e água, de modo que aí o nos so li mi te comela pas sa a es tar fora do meio das res pec ti vas la go as, o que não de i xade ser tam bém uma es qui si ti ce.

Qu an to à La goa de Cá ce res, os bo li vi a nos po de ri am ale gar quetêm a Alfân de ga Su a rez na sua ex tre mi da de oci den tal, e que pre fe ri amfi cas se ela mais pró xi ma do rio Pa ra guai. A isto o Tra ta do de Pe tró po lis aten deu, con sig nan do-lhe um pe da ço de ter ra fir me ao lado de Co rum -bá, no Ta ma rin de i ro, e dan do-lhe ain da uma por ção de à gua, que nosper ten cia, para lhe tor nar mais fá cil aces so ao rio Pa ra guai. E as sim, aalu di da al fân de ga em bre ve será trans fe ri da para esse pon to mais aces -sí vel às vi si tas do es tran ge i ro do que aque le, onde ain da se acha.

O tra ta do de 1867 não jus ti fi ca rá ja ma is a ces são de ter ri tó rio e,quan do o pu des se fa zer, as dis po si ções ta xa ti vas da cons ti tu i ção o im -

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pe di ram, por que, se ao Impé rio era lí ci to ali e nar ter ri tó rio, à União éisso ve da do, por per ten cer este aos Esta dos. Mas o Tra ta do de Pe tró -po lis obs cu re ce tudo e, a pre tex to de mo di fi car li mi tes e per mu tar ter ri -tó ri os, faz ces são pre ju di ci al de di ver sos pe da ços do de Mato Gros so,onde a fron te i ra com a Bo lí via es ta va de fi ni ti va men te es ta be le ci da, sem que nes sa mo di fi ca ção ou per mu ta o Esta do lu cras se co i sa al gu ma.

A Bo lí via ad qui riu ter ras e por tos que Mato Gros so per deu, per -den do ao mes mo tem po a in te gri da de de sua de fe sa, por que não so -men te a Bo lí via po de rá le van tar for ti fi ca ções ao lado das nos sas, comoos seus por tos fi cam aber tos ao mun do in te i ro, não po den do o Bra silevi tar que da Argen ti na, ou de ou tra qual quer na ção, de man dem aságuas da que le país ri be i ri nho e es ta ci o nem, se não den tro das ba ías, aome nos no pró prio rio Pa ra guai, os na vi os de suas es qua dras.

E isto é tan to mais na tu ral quan to é cer to que a Bo lí via po de rá nãoso men te ali e nar os ter ri tó ri os ad qui ri dos, como tam bém ar ren dar a al -fân de ga que tem ao lado da de Co rum bá, a qual quer na ção es tran ge i ra.

Incon tes ta vel men te a de fe sa de Mato Gros so so freu mu i to, e, ape -sar de não de ver mos te mer a Bo lí via pela sua fra que za mi li tar, se re mosobri ga dos a re for çar a nos sa es qua dri lha do Pa ra guai, com pos ta hojede na vi os im pres tá ve is, a me lho rar ao mes mo tem po as con di ções dofor te de Co im bra, onde se acha ain da ago ra as ses ta da a ve lha ar ti lha -ria, en vi a da para ali há mais de cem anos, e a fa zer des pe sas ex tra or di -ná ri as com for ti fi ca ções no vas.

O Go ver no da União não pode des cu rar mais da que la fron te i ra,cum prin do-lhe, quan to an tes, pro mo ver os me lho ra men tos in dis pen -sá ve is e ur gen tes para ga ran tir essa par te da Re pú bli ca, gran de men tepre ju di ca da em sua de fe sa pelo Tra ta do de Pe tró po lis. E se não re cu a -mos di an te do sa cri fí cio imen so que esse ajus te nos im põe não de ve -mos he si tar um mo men to ante a ne ces si da de da cons tru ção de umafer ro via, que até a fron te i ra de Mato Gros so com a Bo lí via, pas san dopor Cu i a bá, como bem lem bra o ilus tre re la tor do pa re cer, de que es ta -mos di ver gen tes.

Esse me lho ra men to, sim apro ve i ta ao Esta do de Mato Gros so eas se gu ra ria a de fe sa de seu ter ri tó rio pela fa ci li da de de co mu ni ca çõescom a Ca pi tal da União, hoje di fi cí li ma, e qua se ina ces sí vel, em tem pode guer re i ra, pelo rio da Pra ta e rio Pa ra ná.

Enfim, o Tra ta do de Pe tró po lis não traz be ne fí cio al gum ao Esta do de Mato Gros so, que vê o seu ter ri tó rio de sin te gra do, sem a me norcom pen sa ção di re ta por esse es bu lho, e não acha mos que tra ga van ta -gem para a União, obri ga da como fica con si de rá vel soma de sa cri fí ci -os, con tri bu in do para en ri que cer o te sou ro da Bo lí via, quan do o seunão se acha re ple to, e até se vê na con tin gên cia de lan çar mão do fun dode ga ran tia, para po der sa tis fa zer os com pro mis sos do tra ta do.

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Res pe i ta mos mu i to as in ten ções pa trió ti cas do Go ver no, e es ta -mos cer tos de que o be ne mé ri to ne go ci a dor do ajus te foi le va do pelacon vic ção que tem de bem ser vir à Pá tria, da qual é cre dor de ser vi çosinol vi dá ve is; po rém no que ja ma is es ta re mos de acor do é em que o ser -vi ço por ele pres ta do ago ra ao país com Tra ta do de Pe tró po lis sejamais con si de rá vel e mais im por tan te do que os que pres tou, as se gu -ran do-lhe a pos se das Mis sões e do Ama pá.

Tal vez nos en ga ne mos, e per mi ta Deus que as sim seja, mas o Tra -ta do de Pe tró po lis po de rá tra zer-nos ain da gran des des gos tos, ao pas -so que a re so lu ção das nos sas pen dên ci as com a Argen ti na e com aFran ça só nos cu mu la ram de ale gri as e de gló ri as.

Apesar da confiança que me inspira o patriotismo do eminente Sr.Presidente da República e do respeito que me merece o beneméritobrasileiro Paranhos do Rio Branco, considero o Tratado de Petrópolis ummal no presente e um perigo no futuro, e por isso penso que o Senadoandaria bem se, resistindo aos impulsos do coração e à confiança quedeposita no Governo, lhe negasse o seu assentimento, nos termos em que está concebido.

Sala das Co mis sões, 3 de fe ve re i ro de 1904. – A. Aze re do.

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APROVAÇÃO DO TRATADO NACOMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E

DIPLOMACIA DO SENADO*

Vo ta ção

A fa vor do tra ta do vo ta ram os Se na do res:

Cons tan ti no Nery, Jo nat has Pe dro sa, Go mes de Cas tro, Bel fortVi e i ra, Be ne dic to Le i te, Pi res Fer re i ra, No gue i ra Pa ra na guá, J. Ca tun -da, Fer re i ra Cha ves, Alme i da Bar re to, Álva ro Ma cha do, Rosa e Sil va,Si gis mun do Gon çal ves, B. de Men don ça So bri nho, Olympio Cam pos,Mar ti nho Gar cez, Co e lho e Cam pos, Vir gi lio Da ma sio, Cle to Nu nes, Si -que i ra Lima, Hen ri que Cou ti nho, Mar tins Tor res, Lou ren ço Bap tis ta,Tho mas Del fi no, Vaz de Mel lo, Bu e no Bran dão, Fe li ci a no Pen na, Lo pesCha ves, Fran cis co Glyce rio, Alfre do Ellis, Urba no de Gou vêa, Jo a quimde Sou za, Alber to Gon çal ves, Gus ta vo Ri chard e Fe lip pe Schmidt (35).

Vo ta ram con tra os Se na do res:

Pi nhe i ro Ma cha do, Ma no el Ba ra ta, João Cor de i ro, La u ro So dré, Ba -ra ta Ri be i ro, Jo a quim Mur ti nho, Met te lo, A. Aze re do e Ju lio Fro ta (9).**

*AS, 1903, Apên di ce, pág 15.** Sala das Co mis sões, 3 de fe ve re i ro de 1904

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Ma nus cri to do Ba rão do Rio Bran co con ten do ano ta ções so bre a vo ta ção do Tra ta do de Pe tró po lis no Se na do.

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Ma nus cri to do Ba rão do Rio Bran co con ten do ano ta ções so bre a vo ta ção do Tra ta do de Pe tró po lis no Se na do.

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EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO PLENIPOTENCIÁRIO VENCIDO,

SENADOR RUI BARBOSA, EM 28-1-1904

Sr. Se na do res, rom pen do a fic ção do si gi lo par la men tar, cujo sóefe i to, en tre nós, vem a ci frar-se em pro mo ver a di vul ga ção dos de ba -tes, ao mes mo tem po que lhes fa ci li ta as adul te ra ções, teve o Go ver no o bom sen so de fa lar, me di an te uma ex po si ção de mo ti vos, ao País. Re -du zi do pe los seus re pre sen tan tes a não os ou vir, terá ao me nos des temodo, au to ri za da ex pli ca ção do tra ta do de Pe tró po lis. Esse ar ra zo a do,subs cri to pelo Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, a cuja pena se deve, éa sua jus ti fi ca ção, a do ou tro ple ni po ten ciá rio, que com ele fir mou esseato me mo rá vel, e a do Che fe do Esta do, a quem, so bre to dos, como mo -de ra dor e ár bi tro da so lu ção ado ta da, to cam, na or dem po lí ti ca, as suas res pon sa bi li da des e lo i ros.

Hou ve, po rém, nes se tra ba lho, um co o pe ra dor, que dis sen tiu. Fuieu, in fe liz men te. E esse tem o mes mo jus à de fe sa e à pu bli ci da de. Digomal. O di re i to não é seu: a Na ção é que o tem. Eu me de sem pe nha rei deum de ver. A Na ção cabe sa ber por que me es cu sei de a ser vir, as si nan -do esse acor do. A mim cum pre dar-lhe con ta des sa ati tu de. A ex po si çãode mo ti vos dos ple ni po ten ciá ri os ven ce do res tem por con se qüên cia for -ço sa a con tra-ex po si ção do ple ni po ten ciá rio ven ci do. Aliás, não se po -de ria di zer que o juiz ou viu am bas as par tes. Por mais sin ce ras eve ra zes que se jam as duas, a au diên cia de uma não es cu sa ria ja ma is ode po i men to da ou tra. Na tu ral men te, na ex po si ção com que se ins trui otra ta do, os seus au to res se li mi tam a lhe ex pen der os mo ti vos, com ascir cuns tân ci as que os de ter mi na ram. Ne ces sá rio era, pois, que o ne go -ci a dor dis si den te con tri bu ís se tam bém com os fun da men tos do seu di -ver gir. Só as sim se da ria a pú bli co a ver da de, com am bas as fa ces que ain te i ram.

Tan to mais es tre i ta men te se me im põe esta exi gên cia da mi nha si -tu a ção, quan to pa re ce que, en tre os ga ba do res do tra ta do, hou ve suadi fi cul da de em lhe tri bu ta rem aos sig na tá ri os o de vi do lou vor, sem cas -

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ti gar pelo de sa cor do o ple ni po ten ciá rio dis cre pan te. De al guns o sal -vou a co nhe ci da be ne vo lên cia do ilus tre Mi nis tro das Re la çõesex te ri o res para co mi go. Nou tros, po rém, foi tão sú bi to o pa tri o tis mo, eos gol pes tão les tos, que a pro te ção do meu gra du a do ami go mal se in -ter pôs a tem po de for rar-me, por meio de re ti cên ci as dis cre tas, nas re -pro du ções cus te a das pelo Te sou ro, à re e di ção ofi ci al da que lasse ve ri da des. Devo esta no tí cia ao dis cur so do Sr. Bar bo sa Lima, que deuma des sas trans cri ções, por ele en con tra da nas fo lhas, ex tra tou estanota cu ri o sa:

“O com pi la dor dos ar ti gos so bre o Tra ta do de Pe tró po lis trans cri -to des de al gum tem po nes ta se ção do Jor nal do Com mer cio su pri meaqui e adi an te al guns tre chos do fo lhe tim d’A Tri bu na, por que sabeque a re pro du ção dos mes mos se ria de sa gra dá vel ao Sr. Ba rão do RioBran co, ami go e ad mi ra dor do emi nen te bra si le i ro a quem eles se re fe -rem, o qual, sem dú vi da, nun ca au to ri zou pes so as de sua in ti mi da de oujor na lis tas que com ele fa la ram a an dar di zen do que era opos to as cláu -su las es pe ci a is do tra ta do ou a uma per mu ta de si gual de ter ri tó ri os.”

Nada me li son je ia mais que essa ami za de, por mim cul ti va da comca ri nho. A ad mi ra ção de um ho mem de tal va lor se ria uma dá di va dafor tu na, que, para co mi go, só a ami za de era ca paz de ex pli car. Masnem a afe i ção, nem a ad mi ra ção de mi nis tros, por emi nen tes que se -jam, vale a ili bar cul pa dos. Não me fora pos sí vel, de mais a mais, ace i tar a ex cul pa ção, nos ter mos em que a enun cia o bon do so pa rên te ses mi -nis te ri al. Por que aí se con si de ra in ve ros sí mil pre ten der eu opor-me acláu su las es pe ci a is do tra ta do, ou à per mu ta de ter ri tó ri os, que ele es ti -pu la, quan do o meu bem fa ze jo ami go, o pre cla ro Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, tem nas mãos lon go do cu men to es cri to de que a mi nha dis -si dên cia nas ceu exa ta men te de não es tar eu pela ces são ter ri to ri al, queno tra ta do se ajus ta.

Tão pou co me faz jus ti ça a ex po si ção de mo ti vos, cuja par ci mô nia, ava ra em de ma sia quan to às cir cuns tân ci as re la ti vas ao meu pro ce derno cur so das ne go ci a ções, de i xa rá en tre os le i to res uma sen sa ção deper ple xi da de e es tra nhe za, nada fa vo rá ve is a mim, sen sa ção que aciên cia ca bal do ocor ri do evi ta ria.

O que ali se de pa ra, com efe i to, cla ro e em todo o re le vo, é uni ca -men te a com bi na ção, em que en trei, no co me ço, com os meus dois co -le gas, de sub me ter mos aos mi nis tros bo li vi a nos a pro pos ta de 22 deju lho, onde, jun ta men te com a in de ni za ção pe cu niá ria e a fer ro via, lhesofe re cía mos o tri an gu lo do Abu nã com o Ma de i ra e um en cra va men tode dois hec ta res à mar gem di re i ta des te rio. Con sig na do este pon to,não se ocu pa mais de mim a ex po si ção de mo ti vos se não nos três pa rá -gra fos su ces si vos da sua pri me i ra par te, que me vejo obri ga do a aquitras la dar:

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“Co me ça mos, o Sr. Assis Bra sil e eu, a tro car idéi as com os ple ni -po ten ciá ri os bo li vi a nos, em re pe ti das con ver sa ções par ti cu la res, quese pas sa vam em Pe tró po lis, e a es tu dar o meio de en con trar ter re no so -bre que nos pu dés se mos apro xi mar e en ten der, an tes de abrir con fe -rên ci as for ma is, em que to ma ria par te o Sr. Ruy Bar bo sa, a quem nãopo día mos ra zo a vel men te pe dir que se dis tra ís se dos seus tra ba lhos noSe na do para par ti ci par de tão lar gas e en fa do nhas ten ta ti vas. Ti nha eu, po rém, o cu i da do de o in for mar de tudo quan to de subs tan ci al se iapas san do e de lhe pe dir sem pre o seu pa re cer.

Ha ven do os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos in sis ti do, pri me i ro, paraque ce dês se mos uma fa i xa de cin co lé guas ao lon go da mar gem di re i tado Ma de i ra, des de o Ma mo ré até San to Anto nio, de po is, uma fa i xa dames ma lar gu ra, so bre a mar gem es quer da, pedi, nas duas cir cuns tân -ci as, re u nião, do mi nis té rio em con se lho, para sa ber se tais pro po si -ções, a pri me i ra das qua is dis pen sa ria qual quer in de ni za çãope cu niá ria, de vi am ou não ser ace i tas em caso ex tre mo, isto é, se da sua re je i ção re sul tas se o rom pi men to das ne go ci a ções para um acor do di -re to. Qu an do se tra tou do exa me do se gun do pe di do, ten do sido já en -tão ele va da por mim a dois mi lhões de li bras a in de ni za ção ofe re ci da, ees tan do tam bém em ques tão uma pro pos ta mo di fi ca ção na fron te i rade Mato Gros so des de a Ba hia Ne gra até a nas cen te do ar ro io Con ce i -ção, mo di fi ca ção de que re sul ta ria a trans fe rên cia à Bo lí via de 2.300qui lô me tros qua dra dos, pela ma i or par te de ala ga di ços, o Sr. Se na dorRuy Bar bo sa so li ci tou, em car ta de 17 de ou tu bro, a sua exo ne ra ção ein sis tiu por ela, acre di tan do, sem dú vi da, por que me ex pli quei mal, que os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos es ta vam ir re du tí ve is, caso em que elepre fe ria o ar bi tra men to. Des de aque la data se pa rou-se de nós o emi -nen te bra si le i ro, com gran de sen ti men to de V. Exa, meu e do Sr. AssisBra sil, que as sim nos vi mos pri va dos do pre ci o so con cur so e dos le a iscon se lhos que até en tão nos ha via dado.

Pros se gui mos ne go ci an do, o Sr. Assis Bra sil e eu, e a nós dois, tãoso men te, cabe a res pon sa bi li da de do acor do a que se che gou com osre pre sen tan tes da Bo lí via.”

Não me pos so fur tar, an tes de mais nada, a al gu mas ob ser va çõesem co men to das que faz o dig no mi nis tro so bre a mi nha au sên cia nas“lon gas e re pe ti das con ver sa ções par ti cu la res” de Sr. Exa e o Dr. AssisBra sil com os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a nos. O ilus tre au tor da ex po si -ção de mo ti vos ex pli ca a mi nha ex clu são des ses co ló qui os la bo ri o sos,ale gan do não ser ra zão dis tra í rem-me dos meus de ve res no Se na do,para com par tir no “en fa do nho” de con fe rên ci as tão lar gas e re i te ra das. Con vi da do pelo ba rão do Rio Bran co a au xi liá-lo no seu ár duo co me ti -men to, eu não me sen ti ria ja ma is com o di re i to de as su mir nos seus tra -ba lhos ou tra par te mais que a de sig na da por V. Exa com a mes ma

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es pon ta ne i da de e a mes ma li ber da de que ti ve ra em me cha mar ao seulado. Te nho o há bi to de não en trar, na casa alhe ia, além das por tas queme abrem. Por isso me cin gi em cor rer ao ape lo do no bre mi nis tro,quan do quer que lhe apro ve uti li zar-se do meu con cur so, e pela ma ne i -ra que mais lhe con vi nha. Devo, po rém, lem brar que, ou tor gan do a li -cen ça cons ti tu ci o nal re que ri da pelo Go ver no, para que eu pu des seace i tar a co mis são, me des li gou o Se na do in te i ra men te do seu ser vi ço,en tre gan do-me ao da mis são, cujo car go se me con fi a va. Não ha via,por tan to, nos meus de ve res de Se na dor, o mí ni mo em pe ci lho à con sa -gra ção ex clu si va do meu tem po e da mi nha ati vi da de as ne go ci a çõesen ce ta das.

Enfa do não cre io que me pu des sem ca u sar, cos tu ma do como es -tou a en ca rar com a pa ciên cia e a sa tis fa ção de as sí duo tra ba lha dor aari dez e mo no to nia das mais di la ta das ta re fas. Na que en tão se me en -car re ga va, não me su pu nha eu ver-me ali vi a do, como fui, pe las com -pla cên ci as do ilus tre mi nis tro e pelo con cur so do Dr. Assis Bra sil. Detal não se me fa la va no con vi te ini ci al, que aos 6 de ju lho me en de re çouo Ba rão do Rio Bran co. Eis os seus ter mos:

“Au to ri za do pelo Pre si den te da Re pú bli ca, ve nho pe dir a V. Exa que me faça a hon ra de se as so ci ar a mim como ple ni po ten ciá rio na ne go ci -a ção com os mi nis tros da Bo lí via so bre a ques tão do Acre. O Sr. Gu a -chal la de se ja ne go ci a ção rá pi da, que ter mi ne por acor do di re to ou porum tra ta do de ar bi tra men to. Pa re ce-me, po rém, pelo que lhe ouvi on -tem, que as exi gên ci as da Bo lí via para um acor do di re to se rão mu i togran des. Esta car ta será en tre gue a V. Exa pelo Sr. Do mi cio da Gama.De se jo e es pe ro que V. Exa me pos sa dar uma res pos ta fa vo rá vel.”

Como eu he si tas se em aqui es cer, al guns dias tar dou a mi nha res -pos ta, que só em 11 des se mês dei a V. Exa, ver bal men te, na Se cre ta riadas Re la ções Exte ri o res. Ain da en tão éra mos so men te dois os mem -bros da mis são pro je ta da. No dia 12, po rém, re ce bi uma car ta da vés pe -ra, onde S. Exa me co mu ni ca va ter ob ti do a au to ri za ção do Pre si den teda Re pú bli ca, e so li ci ta va a mi nha, para que o Dr. Assis Bra sil fos senos so com pa nhe i ro nas ne go ci a ções. Não me de mo rei se não o es pa çoin dis pen sá vel à ex pe di ção de um te le gra ma, que para logo di ri gi ao Mi -nis tro, as sen tin do. Eu não po dia ter em bar go de qua li da de al gu ma aes co lha tão acer ta da e adi ção tão útil às nos sas for ças.Con gra tu lei-mede ver as sim me lho ra da a mis são bra si le i ra, e pres sen ti que a ta re fa meiria sair mu i to mais leve. Mas quan do anu i ra em a de sem pe nhar, nãocal cu la va com essa im por tan te mi no ra ção de ônus. Ace i ta ra-a comtodo o seu peso, não me in qui e tan do com o en fa do even tu al da lida, eachan do per fe i ta men te ra zoá vel o qui nhão, fos se qual fos se, que nelame ta lhas se o Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, em bo ra in com pa tí velcom a mi nha as si du i da de no Se na do.

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No se gun do pa rá gra fo, dos su pra trans cri tos, con clui a ex po si çãocom al gu mas pa la vras de bon do so fa vor ao meu nome. Nada se en cer -ra, po rém, nos pe río dos an te ri o res, que jus ti fi que a be nig ni da de des saapre ci a ção, com que me hon ra. Fala-se na al vi tra da ces são da mar gemdi re i ta do Ma de i ra, sem de i xar ab so lu ta men te en tre ver, a tal res pe i to, o meu voto, cujo apo io à so lu ção mi nis te ri al, en tre tan to, se acen tu a ra,pou co an tes, na que le do cu men to, quan to à ces são, in com pa ra vel men -te me nos gra ve, do triân gu lo do Abu nã. E, quan do se tra ta da pro pos tafi nal, que in te res sa va a fron te i ra de Mato Gros so, im pon do-lhe uma al -te ra ção, que trans fe ria à Bo lí via “2.300 qui lô me tros qua dra dos, pelama i or par te de ala ga di ços,” é para se não adi an tar, a pro pó si to da mi -nha exo ne ra ção, a esse tem po so li ci ta da, se não que eu a pedi com in sis -tên cia, “acre di tan do”, es cre ve o ilus tre mi nis tro, “sem dú vi da por queme ex pli quei mal, que os bo li vi a nos es ta vam ir re du tí ve is”, caso em que, acres cen ta va ele, o ple ni po ten ciá rio de sa cor de op ta va pelo ar bi tra -men to.

Ora, des ta ma ne i ra de nar rar se de pre en de ria lo gi ca men te que, se eu pre vis se a re du ção por fim ob ti da na pro pos ta quan to à su per fí ciece di da aos bo li vi a nos, te ria dado a mi nha as si na tu ra ao con tra to; en -tre tan to que a ver da de, ates ta da pela mi nha car ta de 22 de ou tu bro aoBa rão do Rio Bran co, onde exa rei o meu pen sa men to de fi ni ti vo so bre o acor do, é que eu opug na va como ex ces si va qual quer con ces são aos bo -li vi a nos além da via fér rea e os qua ren ta mil con tos.

Em ne go ci a ções des ta na tu re za não se há de bus car o su frá gio e ares pon sa bi li da de dos ne go ci a do res na pri me i ra fase das idéi as en treeles tro ca das, quan do ape nas se es bo çam os en sa i os pre li mi na res dacon ci li a ção que se en tre luz, mas sim na evo lu ção ul te ri or, e so bre tu dono pe río do ter mi nal, quan do as opi niões ama du re ce ram e as su mi ramcor po de fi ni ti vo.

Pois não se ale ga ram, na Câ ma ra, em lou vor do Mi nis tro das Re la -ções Exte ri o res, os em ba ra ços do Sr. Pi nil la, en le a do com o mu dar co ti -di a no do Ba rão do Rio Bran co?

Não se ar gu men tou em seu be ne fí cio, na im pren sa, com a tri vi a li -da de ba nal de que “em qual quer ne go ci a ção di plo má ti ca, to das as pro -pos tas so frem mo di fi ca ções mais ou me nos pro fun das”? Ne go ci ar éson dar, é ta te ar, é acom pa nhar as os ci la ções da opor tu ni da de, pos si bi -li da de e ne ces si da de.

No ver ten te caso to dos va ri a ram. Va ri a ram os ple ni po ten ciá ri osbo li vi a nos, des de a in tran si gên cia ab so lu ta em ma té ria de sa tis fa çõespe cu niá ri as até a subs ti tu i ção das suas exi gên ci as ter ri to ri a is, na ma i or par te de las, por uma quan tia em di nhe i ro. Va ri ou o nos so mi nis tro,com o seu ilus tre com pa nhe i ro, des de a en tre ga, a que es ta vam dis pos -tos, sen do ne ces sá rio, da mar gem di re i ta do Ma de i ra até a con ces são

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em que fi ca ram, de 3.163 qui lô me tros qua dra dos no Ama zo nas e emMato Gros so. Va ri ei eu, en fim, da ali e na ção, que a prin cípio se me an -to lha ra acon se lhá vel, dos 3.500 qui lô me tros qua dra dos na con fluên ciado Ma de i ra com o Abu nã, até a re cu sa pe remp tó ria de qual quer trans -fe rên cia ter ri to ri al.

Do meu va ri ar, pois ao do ilus tre mi nis tro, a di fe ren ça ape nas estáem que, par tin do S. Exa de uma gran de con ces são ter ri to ri al re cu ou auma con ces são re du zi da, e eu par tin do de uma re du zi da con ces são,aca bei por não to le rar con ces são ne nhu ma de ter ri tó rio bra si le i ro.

No tai bem o par ti cu lar da mi nha si tu a ção. Não foi sem mu i to va ci -lar que eu me sub me te ra à hon ra, a cuja al tu ra me ele va va o Go ver no.Era ela di fí cil em ex ces so para as mi nhas con vic ções e res pon sa bi li da -des. Mi nha cons ciên cia e o meu nome es ta vam li ga dos à de fe sa dos di -re i tos do Bra sil no ter ri tó rio do Acre. Eu per ten cia, em re la ção aotra ta do de 1867, ao pu gi lo da que les que o fa na tis mo pelo tra ta do de1903 clas si fi ca de sop his tas pu e ris. Qu a se so zi nho na im pren sa e na tri -bu na, exa u ri ra, du ran te mais de um ano, to dos os me i os da evi dên cia eda ação mo ral, por sus ci tar no país um mo vi men to de re i vin di ca çãocon tra o des fal que da nos sa in te gri da de pá tria, de sal ma da men te con -su ma do pela nos sa chan ce la ria.

Qu an do a ce gue i ra po lí ti ca, aju da da pelo ma ras mo na ci o nal, ima -gi na va ter pos to co bro às agi ta ções com a en tre ga so le ne da que la es -plen di da zona bra si le i ra aos bo li vi a nos, prog nos ti quei, em to dos ostons, que o con fli to, gra ças a essa de ser ção e a essa tra i ção, en tra vanum pe río do can den te, cu jos epi só di os aba la ri am a paz sul-ame ri ca na,ou cons tran ge ri am o nos so Go ver no a se des di zer, re pu di an do a obrane fas ta de 1895 e 1899.

A ve ri fi ca ção des te fá cil va ti cí nio su ce de ra mais cedo que nin -guém es pe ra ria. Não era, pois, a mim que to ca va me ne ar a so lu ção dacri se. De po is, com os com pro mis sos do pon to de vis ta ju rí di co, em queeu in ter re i ra ra a con tro vér sia, de via sen tir-me sem a li ber da de, que sepu de ra jul gar ne ces sá ria, a fim de tra tar o as sun to no ter re no da con ve -niên cia e da tran sa ção, para onde, até cer to pon to, as cir cuns tân ci as oha vi am des lo ca do.

Mu i to, po rém de si fi a rá quem se te nha por as sás for te, para seacas te la con tra a per su a são in si nu a ti va do Ba rão do Rio Bran co. Com a cer te za, em que pa re ce es te ve sem pre, de que a oca sião lhe apres ta vamais um tri un fo, que ria ele, de sin te res sa da e ge ne ro sa men te, as so -ci ar-me à glo ria de um ser vi ço inol vi dá vel à nos sa ter ra. Não se ria hu -ma no que essa dis tin ção me não des va ne ces se e atra ís se. De ma is, es pí -ri to se ri a men te pro va do, em tan tos tran ses e vi cis si tu des, no con ta to dasco i sas, não cos tu mo per der ja ma is de vis ta a con tin gên cia dela, o frá gil,efê me ro e re la ti vo das nos sas opi niões, o gra ve, pro vi den ci al e im pe ri o so

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das opor tu ni da des hu ma nas. Não ou sa ria, por tan to, su bor di nar emab so lu to à mi nha te o ria na es pé cie o re mé dio de uma si tu a ção, em quea sim pli ci da de pri mi ti va dos nos sos tí tu los já não po dia con cor rer es -tre me e so zi nha à ba lan ça do jul ga men to. Des co nhe cê-lo fora le var aco e rên cia até a su pers ti ção, ati tu de ego ís ta e inep ta, que não está com o meu tem pe ra men to, e me se ria jus ta men te le va da a mal. Pe sa dos, pois,os meus de ve res de uma e ou tra par te, aqui es ci, des can san do, em boapar te, para o bom êxi to do meu pa pel, nas sim pa ti as des ta Casa, na ins -pi ra ção e in fluên cia do seu meio, cu jas ten dên ci as, no as sun to, bus queisem pre con sul tar.

Aber tas as ne go ci a ções, a pro pos ta onde se es ti pu la va ce der os3.500 qui lô me tros qua dra dos do triân gu lo do Ma de i ra com o Abu nã, apri me i ra das nos sas aos bo li vi a nos, apre sen tou-me o ilus tre mi nis tro,já es tu da da por S. Exa e por S. Exa for mu la da, na con fe rên cia ina u gu ralque en tre nós ti ve mos os ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros. Eram nes se dia, 22 de ju lho, se gun do a data fi xa da pela ex po si ção de mo ti vos. Eu en tra -va na que la co o pe ra ção de ba i xo do as cen den te, que so bre mim exer cia,e exer ce, a mi nha con fi an ça na ca pa ci da de do Ba rão do Rio Bran co , ami nha ad mi ra ção dos seus ser vi ços, o meu res pe i to às lu zes da sua ex -pe riên cia e do seu pa tri o tis mo. To dos es ses ele men tos de in fluên cia ha -vi am re cres ci do, aos meus olhos, com a sua po lí ti ca vi go ro sa naques tão do Acre, aban do na da pelo Go ver no an te ri or re er gui da peloatu al com uma de ci são, uma fir me za, um brio, que for ço sa men te ha vi -am de cap tar o es pí ri to a quem, até en tão, lu ta ra por essa res ti tu i çãona ci o nal en tre as hos ti li da de e os des pre zos dos nos sos go ver nan tes edos nos sos pu bli cis tas.

De po is ain da me não ti nham es que ci do as in dig na das pa la vrasdo Sr. Sa li nas Ve gas em uma car ta fa mo sa des se di plo ma ta ao re da torda Impren sa, quan do esta pro pug na ra a de vo lu ção do Acre ao Bra sil:“Nun ca a Bo lí via ven de ria o seu ter ri tó rio: se ria uma exe cra ção”. Nãoera me nos in ci si va, ao que me co mu ni ca ram, a lin gua gem do Sr. Pi nil la: “Co nhe ço per fe i ta men te a opi nião do meu go ver no, in te i ra men te con -tra ria a toda e qual quer ali e na ção ter ri to ri al.” Des ses pro pó si tos de ir -re du ti bi li da de ti ve mos ain da, pou co de po is, mos tra elo qüen te nacon tra pro pos ta bo li vi a na, onde os nos sos vi zi nhos ame a ça vam comum for mi dá vel ape ti te as duas mar gens do Ma de i ra e qua se toda a li -nha da nos sa ex tre ma, in te res san do a Ba hia Ne gra, a la goa de Cá ce res,o Rio Pa ra guai, o Ja u rú, o Agua pehy, o Ale gre e o Ver de. A re fle xão,alu mi a da pelo co nhe ci men to mais in ti mo das cir cuns tân ci as que o tra -to com a ou tra par te nos foi mi nis tran do, no cor rer das ne go ci a ções,ain da nos não des ven da ra a tá ti ca dos nos sos vi zi nhos a res pe i to do ar -bi tra men to, que eles re ce a vam, si mu lan do al me jar, para que nós viés -se mos re al men te a temê-lo, e o es qui vás se mos.

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Sob o in flu xo des sa at mos fe ra, ain da en tão em bru lha da e obs cu -ra, não é mu i to que eu ti ves se con vin do sem re sis tên cia nas cla u su lasda pri me i ra pro pos ta, com a sua ofer ta de 3.500 qui lô me tros qua dra -dos, a tro co dos 168.952, cuja aqui si ção am bi ci o ná ra mos.

Por que re le va no tar, a bem da ver da de, a men su ra ção do ter re no,que até aí jo gá ra mos, veio a pas sar por di fe ren ças no tá ve is, nos da dosque ora ofi ci al men te se pu bli cam, mu i to mais fa vo rá ve is ao Bra sil.

Ante as in for ma ções da que le tem po, cuja no tí cia ma nus cri ta metrans mi tiu o ilus tre mi nis tro, a su per fí cie, de que nos apro pri a mos, vi -nha a ser:

Ter ras abran gi das en tre a li nha Ja va ri-Ma de i ra,o pa ra le lo 10º20’ e a nos sa fron te i ra oci den tal,

se gun do o mapa bo li vi a no de Jor dan............. ..........127.556,63 Km2

Ter ras ao sul des se pa ra le lo, con for me essa car ta.....42.462,06 Km2

_______________ 170.018,69 Km2

Me nos o ter ri tó rio en cer ra do en trea Ja va ri-Ma de i ra, o pa ra le lo 10º20’e o Rio Abu nã _ _1.086,18 Km2

168.932,51 Km2

Vejo ago ra, pela ex po si ção de mo ti vos, que tra ba lhos de um altopro fis si o nal di la tam con si de ra vel men te as pro por ções da área por nósob ti da, ele van do-a a 191.000 qui lô me tros qua dra dos, dos qua is 142.900 ao nor te e 48.100 ao sul do pa ra le lo 10° 20’.

Por ou tro lado, a nes ga do Ma de i ra com o Abu nã, trans fe ri da aosbo li vi a nos, que se gun do as no tas a mim co mu ni ca das, se ele va va a3.540,61 qui lô me tros qua dra dos, ba i xa, por essa re ti fi ca ção, a 2.293.Com essa ve ri fi ca ção, pois lu cra, de am bas as par tes do Bra sil. Cres ceu23.063 qui lô me tros qua dra dos o ter ri tó rio au men ta do, e de cres ceu1.243 o sub tra í do à nos sa fron te i ra. Não pro cu ro, já se vê, ta lhar os fa -tos ao je i to da ca u sa, que ad vo go. Qu e ro ser jul ga do só com a ver da de,fran ca e li sa men te ex pos ta.

Cla ro está, pois que, se es ses fo ram em ju lho do ano pas sa do, osnos sos da dos car to grá fi cos, ain da me lhor aco lhi da en con tra ria emmim a pro pos ta àque le tem po ela bo ra da pela nos sa chan ce la ria. Masnão se es que ça que, se, com essa pro pos ta, ce día mos à Bo lí via 3.540,como en tão se su pu nha, ou 2.293 qui lô me tros qua dra dos, como ago rase crê, por ou tro lado a in de ni za ção pe cu niá ria era me ta de ape nas daque hoje se lhe dá, e essa ads tric ta a uma apli ca ção es pe ci al, de que otra ta do a li ber ta.

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Os bo li vi a nos re je i ta ram po rém, in li mi ne, a pro pos ta de 22 de ju -lho, con tra pon do-lhe ou tra, com que se do cu men ta, em apên di ce, ladoa lado com aque la, a ex po si ção de mo ti vos. Ora, exi gir se ri a men te oque nes sa con tra pro pos ta se exi gia, era cor tar pela raiz a hi pó te se deacor do. Sem pre me pa re ceu ób vio, con tu do, que tal nun ca lhes pas sa ra pela men te. Era ape nas um es tra ta ge ma di plo má ti co, des ti na do a nosim pres si o nar, me din do a elas ti ci da de pos sí vel da nos sa con des cen dên -cia no cam po das ces sões ter ri to ri a is. Pre ve ni ra-me o Ba rão do RioBran co, na sua car ta de 6 de ju lho, que “as exi gên ci as da Bo lí via paraum acor do di re to se ri am mu i to gran des”. O ame a ço re a li zou-se na con -tra pro pos ta de 13 de agos to, mo ro so pro du to de lon gos vin te e doisdias de co mu ni ca ções e com bi na ções en tre a le ga ção bo li vi a na do Riode Ja ne i ro e o go ver no de La Paz. Orçan do pelo ab sur do a pre ten são,não ad mi tia con sul ta. De via ser de cli na da no mes mo pon to, como foipelo mi nis tro que a re ce beu.

Esta vam as sim mu tu a men te anu la das as duas pro pos ta. Uma eou tra de sa pa re ci am, re co me çan do os es for ços di plo má ti cos em novoter re no de ope ra ções, onde a ne nhu ma das duas par tes era dado in vo -car, con tra a ou tra, as ofer tas an te ri o res.

Apro ve i tan do esta van ta gem, que nos pro por ci o na ra a exa ge ra -ção das exi gên ci as bo li vi a nas, tive tem po de me ori en tar me lhor, e daíem di an te me pro nun ci ei sem pre con tra to dos os ten ta mens de con ces -são em ma té ria ter ri to ri al.

Ofe re ceu-se o pri me i ro de les com a lem bran ça, ar bi tra da pelaBo lí via, de lhe ce der mos uma fa i xa de ter ra à mar gem di re i ta do Ma -de i ra. Trou xe essa idéia ao meu co nhe ci men to o Sr. Mi nis tro do Exte -ri or, em vi si ta à mi nha casa no dia 13 de se tem bro, so bre à tar de.Co me ça va a me ca lar no âni mo a re pug nân cia, que de po is me do mi -nou in te i ra men te, a qual quer alhe i a ção de ter ri tó rio nos so. Já me pa -re cia de in tu i ção que todo con vê nio as sen te em tal base, fos sem qua isfos sem os seus be ne fí ci os ma te ri a is, quan do en ca ra do à sim ples luzdo con fron to mer can til en tre os va lo res tro ca dos, ofen de ria ine vi ta -vel men te o me lin dre na ci o nal, e te ria des tar te con tra si uma pre li mi -nar in su pe rá vel.

Tais eram os meus es crú pu los. Tal a mi nha de li be ra ção. De uma eou tros fiz sa be dor, por car ta, no dia se guin te de ma nhã, o Sr. Mi nis trodas Re la ções Exte ri o res.

Ai lhe di zia eu:“De po is que V. Exa on tem da qui saiu ao ano i te cer, re fle ti mu i to so -

bre a con sul ta, que aca ba va de fa zer-me, na vi si ta com que me hon rou.Acho que, re al men te, em caso ex tre mo, a não ha ver ou tro re mé dio, se -ria sem pre uma so lu ção mui van ta jo sa para o Bra sil ob ter o Acre todo,

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ce den do à Bo lí via, sem com pen sa ção pe cu niá ria, a par te da mar gemdi re i ta do Ma de i ra, que os ple ni po ten ciá ri os da que le país pe dem. Ra -zo a vel men te não se po de ria du vi dar que fos se bom ne gó cio fi car moscom um ter ri tó rio imen so, de fer ti li da de ma ra vi lho sa, a que es tão li ga -dos os in te res ses de uma nu me ro sa co lô nia bra si le i ra, a tro co de al gu -mas lé guas de ter ra in cul ta, in sa lu bre e des po vo a da. Esta a mi nhaopi nião in di vi du al.

Mas, no es ta do atu al do es pí ri to pú bli co, e com as in fluên ci as de -sor ga ni za do ras que hoje atu am so bre a opi nião, não cre io que a pu dés -se mos con ven cer des ta ver da de. O pre tex to da ces são ter ri to ri alofe re cer-lhes-ia cam po de ex plo ra ção, em que se ria pe ri go so para ogo ver no lu tar com os seus ini mi gos. Enten do, pois, que se ria pre fe rí velau men tar um pou co a com pen sa ção pe cu niá ria a tran si gir mos so breaque la base, e se a in sis tên cia da Bo lí via fos se ir re du tí vel, abrir mosmão das ne go ci a ções, de i xan do-a en tre gue à sua fra que za con tra os re -vo lu ci o ná ri os do Acre”.

Des tar te não ne ga ra eu à tro ca ofe re ci da o mé ri to, apa ren te noseu ros to, de nos aqui nho ar me lhor do que ao ou tro con tra en te. Mas,não obs tan te, a con de na ra por um fun da men to mo ral e po lí ti co de or -dem su pe ri or. Na hi pó te se de se efe tu ar essa con ces são, por-lhe-ia eupor cla u su la ab so lu ta, o não ha ver, além des se, ou tro re mé dio.

Ain da as sim, po rem, não lhe dava o meu voto, e acon se lha va re so -lu ta men te ao go ver no que não a fi zes se.

Não era, en tre tan to, do meu pen sar o ilus tre mi nis tro. Abra ça vaS.Exa a ces são, no caso da al ter na ti va en tre esse des fe cho e o ar bi tra -men to. E nis so es tá va mos.

Ain da mu i tos dias após a mi nha car ta de 14 pen dia a ten ta ti vapor mim con tra ri a da. Aos 21 de se tem bro era ela dis cu ti da en tre mim eos meus dois co le gas, du ran te duas ou três ho ras na Se cre ta ria doExte ri or. Se pa ra mos-nos os três com as opi niões, com que nos ha vía -mos re u ni do. Por in di ca ção do ilus tre mi nis tro, o go ver no de via tercon se lho, no dia se guin te, acer ca do as sun to. Eu e o Dr. Assis Bra sil re -ce bê ra mos avi so e con vi te. Dada, po rém, a di ver gên cia, que com sumocons tran gi men to e des gos to meu, me se pa ra va do meu emi nen te ami -go, de ter mi nei abs ter-me de com pa re cer.

Re pug na va-me ir com ele me dir for ças e al ter car ra zões no seio do go ver no, en tre cu jos mem bros o ilus tre mi nis tro fa la va como paren tre os seus pa res, e eu ape nas como hós pe de im pos to pela oca sião.Nem o afe tu o so ca rá ter das mi nhas re la ções com S. Exa me per mi tiaen trar em um du e lo, que a mi nha fra que za tor na va de si gual, e a mi nha ami za de do lo ro so. Cum pri ria, pois, sim ples men te o meu de ver, ex -pen den do por es cri to o meu voto. Uma car ta me de so bri gou des se en -car go.

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Eis como nela me ex pri mi:

“Rio, 23 se tem bro de 1903

Exmo Sr. Ba rão do Rio Bran co

Bas ta-me não es tar de acor do com a opi nião de V. Exa para des -con fi ar da mi nha. Foi sob esta im pres são que me di tei, de on tem parahoje, so bre a úl ti ma pro pos ta bo li vi a na; e, con tu do, não al can cei re du -zir-me a subs cre vê-la.

Se os bo li vi a nos exi gem ab so lu ta men te a mar gem di re i ta do Ma -de i ra, eu, nes te caso, sou pelo ar bi tra men to. Co nhe cen do, como co -nhe ço, a opi nião pú bli ca en tre nós, con ven ci do es tou que ela não secon for ma ria com essa ces são ter ri to ri al, dado que van ta jo sa men tecom pen sa da, e que tal so lu ção ex po ria o Go ver no a se ri as di fi cul da des. Nem V. Exa nem eu con cor re mos, para cri ar esta ques tão. Foi V. Exa in -te i ra men te alhe io e eu aber ta men te ad ver so às cir cuns tân ci as que a de -ter mi na ram.

Fa zen do o pos sí vel pela des lin dar, te mos fe i to, pois, o nos so de -ver; e, se não lo grar mos o que as pi rá va mos sa in do-nos pelo ar bi tra -men to, sa i re mos, se jam qua is fo rem as con se qüên ci as, pela por tacons ti tu ci o nal, que não te mos o di re i to de evi tar.

Devo, po rem, acres cen tar que, anu in do ao ar bi tra men to, não re -co nhe ço à Bo lí via o di re i to de pô-lo no ter re no que lhe apraz.

O ter re no do ar bi tra men to está na tu ral men te in di ca do pelo li tí -gio, so bre que se abriu o de ba te. A Bo lí via, po rém, des lo can do-o daí,pre ten de que ele ve nha a re ca ir so bre a com pen sa ção, que lhe deva to -car pelo Acre, do qual abri ria mão. Admi ti do nes tes ter mos, o ar bi tra -men to en vol ve ria a nos sa anuên cia an te ci pa da à mes ma ou, tal vez,ma i or ces são de ter ri tó rio bra si le i ro, com a des van ta gem de se en tre -gar à dis cri ção da sen ten ça ar bi tral, em vez de ser fi xa da por mu tuoajus te en tre as duas par tes. E a mes ma tran sa ção, mas li qui da da poruma de ci são ju di ci al, tem con tra si, por tan to, a mes ma ob je ção ca pi talque a so lu ção an te ri or.

Sen do este o meu sen tir, jul go de ver abs ter-me com pa re cer aocon se lho mi nis te ri al, em cu jas de li be ra ções, não sen do par te do Go ver -no, não me cabe in flu ir, mor men te con tra o pa re cer de V. Exa, que, pelasua au to ri da de, me faz en trar em dúvi da so bre o acer to do meu, enun -ci a do, uni ca men te por não ter o di re i to de o ca lar, em de sem pe nho dami nha cons ciên cia e da mi nha res pon sa bi li da de.

Fe liz men te, sen do três os ple ni po ten ciá ri os, a au sên cia do meunome não será em ba ra ço à as si na tu ra do tra ta do nas con di ções que oGo ver no, de acor do com V. Exa, re sol ver, cer to da mi nha dis cri çãoquan to a este dis sen ti men to, que nin guém mais do que eu de plo ra.

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De V. Exa ad mi ra dor, ami go e cri a do, obri ga do. – Rui Bar bo sa”Não vos pas sa rá des per ce bi do o tó pi co des ta mis si va, em que

eu me ocu pa va com o ar bi tra men to. Na con fe rên cia do dia an te ce -den te se me re ve la ra, a este res pe i to, uma no vi da de. Pu nha-se o di le -ma en tre a mar gem di re i ta do Ma de i ra e o ar bi tra men to. Mas estenão te ria a fe i ção ju di ci al de uma sen ten ça acer ca dos nos sos di re i tos ao Acre. Se ria um la u do so bre as con di ções da per mu ta en tre o Acree uma par te, por de ter mi nar, do ter ri tó rio bra si le i ro. Assen ta da,como fi ca ria, pre vi a men te, as sim, a en tre ga do Acre ao Bra sil, o deque se cu ra ria, nes se pro ces so, era de ava li ar a com pen sa ção ter ri to -ri al, a que, em tro co, nos te ría mos de su je i tar. De sor te que, se ace -dês se mos a esse ar bi tra men to, te ría mos an te ci pa da men te, subs cri to a mu ti la ção do nos so ter ri tó rio, con fi an do ao ár bi tro a fa cul da de pe -ri go sa de tra çar na car ta a ex ten são do solo na ci o nal, que hou vés se -mos de per der.

Essa in ven ção en ge nho sa dos nos sos an ta go nis tas foi-me comouma re ve la ção. Ela me des ve la va, com a ins tan ta ne i da de de um cla rão e a ni ti dez da luz me ri di a na, o medo que a Bo lí via ti nha ao ar bi tra men to,se o es ta be le cês se mos como ple ná rio ju di ci al so bre os tí tu los dos doispa í ses con fi nan tes ao Acre li ti gi o so, e a se gu ran ça, en tra nha da no âni -mo bo li vi a no, de que a pró pria vi tó ria na de ci são da lide ape nas a ar -ma ria de uma sen ten ça ine xe qüí vel, de i xan do lu di bri a do o ven ce dor no seu tri un fo.

Ló gi co e bem acha do era, nes te su pos to, o ar ti fí cio de mu dar o ca -rá ter nor mal à ma gis tra tu ra do ar bi tra dor, cha man do-o a de ci dir, nãoso bre as pro vas da pos se ter ri to ri al ple i te a da en tre os dois li ti gan tes,mas so bre o pre ço, em ter ras nos sas, de um ter ri tó rio, a cuja per da ir -re mis sí vel a Bo lí via ha bil men te atri bu ía e nós nos pres ta ría mos ge ne -ro sa men te a com por a fi gu ra ju rí di ca de tro ca.

Con tra isso é que dei re ba te na mi nha car ta, há pou co trans cri ta.A ter mos de sol ver a pen dên cia ar bi tral men te, era da pos se bo li vi a na,ou da pos se bra si le i ra, no Acre que ha via de jul gar o ma gis tra do ele i to.Cons ti tuí-lo juiz das con di ções de uma per mu ta en tre dois ter ri tó ri osse ria trans fe rir da nos sa es ti ma ti va co mum para a dele o ajus te da tran -sa ção. E, a ser uma tran sa ção, não lhe po den do nós mes mos apu ra ascon ve niên ci as, não era um ter ce i ro que a po de ria li qui dar. Ou o di re toacor do en tre as par tes, ou a ar bi tra gem para a ad ju di ca ção do Acre auma das duas. Não ha via ou tra sa í da.

Mas o acor do com a ces são da mar gem do Ma de i ra, não. Isso nem “no caso ex tre mo”, em que o ilus tre mi nis tro a ad mi tia”.

No dia apra za do se re u niu o Go ver no em ses são ple na, fal tan do só eu, dos nos sos três ple ni po ten ciá ri os. Da mi nha car ta fez le i tu ra o Ba -rão do Rio Bran co, opug nan do-lhe os ar gu men tos e con clu sões. A as -

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Page 242: Tratado de Petrópolis

sen ta da foi lon ga. Mas to dos os mi nis tros opi na ram com o meu voto, epor ele de ci diu o Pre si den te da Re pú bli ca. Fi cou as sim de fi ni ti va men tere sol vi do não dar mos ja ma is, fos se qual fos se o caso, a mar gem di re i tado Ma de i ra.

Tal foi, a meu ver, o pon to cul mi nan te das ne go ci a ções. A de ci sãona que le dia ado ta da sal vou-as de um gran de pe ri go. Uma vez de i xa daem re ser va a ces são da que le ter ri tó rio para um caso ex tre mo, o casoex tre mo, de an te mão au to ri za do, ne ces sa ri a men te se ve ri fi ca ria. Bas -ta va que a Bo lí via o qui ses se. Bas ta va que ela es ta be le ces se in fle xi vel -men te a ques tão en tre o ar bi tra men to e a ces são da mar gem di re i ta doMa de i ra. O ar bi tra men to era, na lin gua gem do ilus tre Mi nis tro, “o caso ex tre mo”. A ex po si ção de mo ti vos acen tu a da men te o de cla ra: “em caso ex tre mo”, isto é, se da sua re je i ção re sul tas se o rom pi men to das ne go -ci a ções para o acor do di re to”. Se a Bo lí via, pois, ar ti cu las se pe remp to -ri a men te as duas al ter na ti vas, a mar gem do Ma de i ra, ou oar bi tra men to, es ta va con su ma do o caso ex tre mo; e o Go ver no bra si le i -ro, para não con vir no ar bi tra men to, que era, ao ju í zo do ilus tre mi nis -tro, a mais fu nes ta pon ta do di le ma, es ta va obri ga do a en tre gar oMa de i ra. Ora a Bo lí via não de i xa ria de o fa zer, co nhe ci do como era oob je to da con fe rên cia mi nis te ri al, e como se ria o seu re sul ta do. Logo, ocaso ex tre mo vi ria a ser, fa tal men te, o caso ime di a to. Gu ar dar, por tan -to, para o caso ex tre mo a ces são do Ma de i ra era vir tu al men te con ce -dê-la des de logo.

Trans pos to este pas so di fí cil, não vi por al guns dias o Mi nis tro.No 1º de ou tu bro, po rém, me pro cu rou V. Exa no Se na do. Como alime não achas se, con ver sou com os Se na do res Pi nhe i ro Ma cha do eAze re do, com bi nan do-se en tre eles que este, eu e o Ba rão do RioBran co al mo ça ría mos jun tos na ma nhã ime di a ta, para em se gui da,con fe rir mos eu e o ilus tre mi nis tro a ma té ria em que es ta vam os em -pe nha dos. Avi sa do por car ta do no bre Se na dor por Mato Gros so,acu di a pon to. A prá ti ca, en ce ta da pelo meio-dia, aca bou cer ca dastrês ho ras, as sen tan do-se en tre mim e o Ba rão do Rio Bran co au -men tar de um mi lhão a mi lhão e meio a in de ni za ção ofe re ci da, paraque a Bo lí via de sis tis se to tal men te das suas pre ten sões ter ri to ri a is,con ten tan do-se com duas ser vi dões para a vi gia fis cal, em dois pon -tos da nos sa di vi sa.

Aí está o Sr. Se na dor Aze re do, tes te mu nha aba li za da.Não acom pa nhei o que daí avan te pas sou en tre os ple ni po ten ciá -

ri os bo li vi a nos e os dois bra si le i ros. No dia 16 de ou tu bro à no i te, po -rém, tive a hon ra de uma lar ga vi si ta, em que o Mi nis tro das Re la çõesExte ri o res me le va va a no tí cia do úl ti mo fru to das suas di li gên ci as comos re pre sen tan tes da na ção vi zi nha. A com pen sa ção pe cu niá ria se ele -va rá, não a mi lhão e meio, mas a dois mi lhões es ter li nos, e nem as sim

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dava de mão a Bo lí via à in de ni za ção ter ri to ri al. Eis em quan to esta im -por ta ria, se gun do a nota que de seu pu nho me de i xou o Ba rão do RioBran co.

Em Mato Gros so

Km2

A) da Ba hia Ne gra ao Arro io Con ce i ção.......................................................................... 2.377,6B) ao sul da La goa Man di o ré ............................................. 39,2C) ao sul da La goa Gu a í ba .......................................... ....... 15,6 2.432,4

No Ama zo nas

A) Entre o rio Abu nã, sua con fluên cia, o Ma de i ra e a li nha oblí qua .................................... 3.540,61

5.973,01

Fiz ao meu emi nen te ami go as ob je ções, que logo me ocor re ram.Ao que V. Exa me de cla ra va, es sas eram, ir re vo ga vel men te, as con di -ções bo li vi a nas. Ou aco lhê-las, ou nos re sig nar mos ao ar bi tra men to.Nes ta co li são, eu não po dia va ci lar. Me di tei até o ou tro dia, e des pe -di-me da mis são por esta car ta:

“Exmo Sr. Ba rão do Rio Bran co,

Per doe a in sis tên cia. O as sun to de que à no i te pas sa da con ver sa -mos, de man da va mais re fle xão do que a que me era pos sí vel nos bre ves mo men tos da pa les tra. Eu te nho as mi nhas dú vi das. Cre io que as gra -ves res pon sa bi li da des da ma té ria me per mi tem.

Pa re ce-me que a Bo lí via exi ge mu i to. Para o acor do te re mos queen trar com a cons tru ção da via fér rea, um por to no Ma de i ra, 2.432 qui -lô me tros de ter ri tó rio em Mato Gros so, 3.540 no Ama zo nas e dois mi -lhões es ter li nos. Eu pre fe ri ria en tão o ar bi tra men to. Como, po rém, otem po urge, os bo li vi a nos, ao que V. Exa acre di ta, não tor cem, e to dos,in clu si ve o che fe de Esta do, são por es sas con di ções, po nho nas mãosde V. Exa para que dela use como con vi er a mi nha dis pen sa da co mis -são, com que me hon rou, e onde não que ro ser obs tá cu lo aos in tu i tospa trió ti cos do Go ver no.

Asse gu ro a V. Exa que, de i xan do-a, não me cons ti tu i rei a eles em ba -ra ço, an tes ou de po is de fir ma do o ajus te. Sim ples men te me li mi to a obe -de cer à mi nha cons ciên cia, de se jan do, en tre tan to, que as mi nhas

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Page 244: Tratado de Petrópolis

pre o cu pa ções fa lhem de todo, e que o País, apla u din do a so lu ção, co roemais uma vez o nome aben ço a do e glo ri o so do mi nis tro que a pro mo ve.

Sem pre com a mais alta con si de ra ção, de V. Exa ad mi ra dor e ami go. Mu i to obri ga do.

Rui Bar bo sa.

Aí es tri ba va eu, como se vê, a de li be ra ção, que to ma va, de me exo -ne rar, na ciên cia, que me dera o ilus tre mi nis tro, de que a Bo lí via da -que les ter mos não se ar re da ria. “Como os bo li vi a nos”, dis se eu, “ao que V. Exa. acre di ta, não tor cem, po nho nas mãos de V. Exa a dis pen sa daco mis são, com que me hon rou”. Se eu, pois, me hou ves se equi vo ca do,se o Ba rão do Rio Bran co não me ti ves se dito ser aque la a ex tre ma pos -sí vel da tran sa ção, com duas pa la vras me te ria V. Exa dado res pos ta,ne gan do a des ti tu i ção pe di da. Não ha via que lhe aten der, es tan do euem erro no su por ir re du tí vel a pro pos ta bo li vi a na.

Bem di ver so, po rém, foi o que se deu. Entre gue a mi nha car ta aS. Exa na mes ma data, em Pe tró po lis, na ime di a ta me avi sou, por te le gra -ma, de que ia res pon der-me. Mas só a 20 o fez, por que ti nha de o fa zer ex -ten sa men te. A res pos ta, com que S. Exa me ob se qui ou, des se dia, abran ge tre ze pá gi nas de sua le tra, que não re pro du zo, por não me jul gar au to ri za -do, com quan to não haja ali co i sa al gu ma, que o não hon re a ele e a mim.Mas o que ali me não diz, é que eu me hou ves se en ga na do em crer imo di -fi cá ve is as cláu su las da que la so lu ção. Antes me de cla ra: “Incli no-me di an -te da re so lu ção que me anun cia na sua car ta, la men to ver-me pri va do dagran de hon ra de o ter por com pa nhe i ro nes ta mis são”.

Nem a mi nha per cep ção, logo, nem a mi nha me mó ria me ilu di ram,quan do me cer ti fi ca ram que, ao apre sen tar-me, no dia 16, o novo pro je -to de acor do, via o Mi nis tro do Exte ri or nos seus ter mos o má xi mo da re -du ção al can çá vel, em fa vor do Bra sil, nas exi gên ci as bo li vi a nas.

Mas com a mi nha re ti ra da for ne ci eu aos ne go ci a do res bra si le i ros um ar gu men to de efi cá cia pro vá vel, para le var os ne go ci a do res bo li vi -a nos a mais um re cuo. Eu re sig na ra o car go, de cla ran do in con ci liá ve iscom o sen ti men to na ci o nal as con di ções pro pos tas. Mem bro do Se na -do, onde a be ne vo lên cia dos meus co le gas apla u di ra a mi nha es co lha, e a ro de a ra de cer ta con si de ra ção, era de su por ao me nos en tre fo ras te i -ros, não tão fa mi li a ri za dos como nós a fa li bi li da de atu al des sas ma ni -fes ta ções po lí ti cas em nos sa ter ra, que a re cu sa da mi nha as si na tu ra aessa fór mu la de tra ta do ex pri mis se as ten dên ci as do Con gres so, ou,quan do me nos, da Câ ma ra Le gis la ti va a que per ten cia o mi nis tro de -mis si o ná rio. Por pou co que se ex plo ras se a sig ni fi ca ção des sa ocor rên -cia, era im pos sí vel não vi es se a atu ar no âni mo dos nos sos vi zi nhos,in cli na dos a tran si gir, qua se cer tos da tran sa ção e na tu ral men te so -bres sal tá ve is com os in ci den tes que a pu des sem trans tor nar. Se ria in -

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con ce bí vel que des se não se uti li zas sem os nos sos ple ni po ten ciá ri os,para mo ver os seus con ten do res a mais uma con ces são. E, se o fi zes -sem, ex pli ca da es ta ria a re du ção dos 5.973 qui lô me tros, ins cri tos nader ra de i ra pro pos ta, de que eu ti ve ra ciên cia, aos 3.163 as sen tes no tra -ta do de 17 de no vem bro.

Mas um do cu men to de tão alto va lor como a car ta, que me es cre -ve ra, em 20 de ou tu bro, o Ba rão do Rio Bran co , im pu nha res pos ta. Dasua mis si va fui en tre gue a 21 des se mês, e ao ou tro dia lhe re pli quei.

Aí está de que modo:

Rio, 22 de ou tu bro 1903

Exmo ami go e Sr. Ba rão do Rio Bran co,

Re le ve-me V. Exa, se só hoje ve nho res pon der à sua car ta de an te -on tem, que me che gou às mãos on tem pe las 11 ho ras da ma nhã.Fez-me V. Exa o fa vor, pelo qual lhe sou mu i to gra to, de me ace i tar aexo ne ra ção, que na mi nha mis si va an te ri or de i xa ra ao seu ar bí trio,para que V. Exa dela dis pu ses se como mais con ve ni en te fos se; o quenão me ini be de con ti nu ar, de acor do com o de se jo que V. Exa ex pri me,às suas or dens, para o que for de seu agra do e ser vi ço.

Mu i to re co nhe ci do fico, ou tros sim, a V. Exa pe las ex pres sões desin ce ra ami za de, em que abun da para co mi go. Eu re tri buo com a mes -ma lha ne za e a mes ma fi de li da de esse sen ti men to, de que me hon ro.Pode V. Exa es tar cer to que o de i xo com pe sar, e que em qual quer tem -po, em qua is quer cir cuns tân ci as, o nome do Ba rão do Rio Bran co nãoterá tes te mu nha mais leal da sua no bre za, da sua ca pa ci da de e do seupa tri o tis mo.

De lon ge mes mo, an tes de o co nhe cer em pes soa, tive para V. Exa

sem pre a atra ção de uma sim pa tia, que só la men to não se me de pa ras -se oca sião de es tre i tar com al gu ma co i sa des sa in ti mi da de, em que tevea for tu na de lo grar as suas re la ções esse nos so co mum ami go, tão de li -ca da men te lem bra do por V. Exa nas pri me i ras li nhas de sua car ta.

Entre as fi ne zas de que a en cheu, aprou ve-lhe fa lar em ser vi ços,que fi gu ra de ver-me. Mas não há tal. Não cons ti tu em dí vi da as ho me -na gens im pos tas pela jus ti ça. Ren den do-lhas, ape nas me de sem pe nheidas mi nhas obri ga ções de ci da dão e jor na lis ta. Deu-me Deus, tal vez em grau não co mum, a fa cul da de de ad mi rar; e o pra zer de exer cê-la, ce le -bran do o me re ci men to, é um dos mais gra tos, que o meu co ra ção co -nhe ce.

Já vê que não po dia de i xar de me ca lar nele como gran de sa tis fa -ção e gran de hon ra, o ver-me por ini ci a ti va de V. Exa, a seu lado no em -pe nho de re sol ver uma com pli ca da ques tão in ter na ci o nal.

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Não me es que cia, pois, esse as pec to da mi nha si tu a ção, quan do,obri ga do a res pon der aos que me en ca re ci am a mis são do Acre comoum pos to van ta jo so, fa lei nos seus ônus e na sua res pon sa bi li da de.Esta, con si de ra das as mi nhas an te ce dên ci as no as sun to, de via ser es -pe ci al men te sen sí vel a mim, des de que me sub me tia a tra tar no ter re node uma tran sa ção um li tí gio, em que eu fora o ad vo ga do mais ca lo ro soda in dis pu ta bi li da de ab so lu ta do nos so di re i to. Não he si tei, po rém,ante as con se qüên ci as des sa ati tu de, en quan to me pa re ceu de fen sá vele van ta jo sa ao País.

Foi nes te que tive sem pre os olhos, nos seus sen ti men tos e nosseus in te res ses, sem me im por tar ja ma is que com os be ne fí ci os a elegran ge a dos se ‘aba las se de qual quer modo a mi nha si tu a ção po lí ti ca’.Esta nun ca se achou fir me, nem for te. Ne nhum ho mem pú bli co, noBra sil, a tem mais pre cá ria, mais com ba ti da, mais aba la da. E isso jus ta -men te por que das suas con ve niên ci as nun ca fiz caso, por que nun ca ali -men tei pre ten sões po lí ti cas. Re pug na ao meu tem pe ra men to cor te jar apo pu la ri da de, e, na Re pú bli ca, te nho vi vi do a con tra ri ar-lhe as cor ren -tes do mi nan tes. Gra ças a essa in de pen dên cia, che guei a ser apon ta docomo o ma i or ini mi go do re gi me, e, ain da hoje, en tre as for ças que dis -põem da sua sor te, não es tou em che i ro de san ti da de.

Ora, não ha ve ria caso em que eu mais de ves se ter os olhos nas con -si de ra ções su pe ri o res do de ver, e fu gir as de uti li da de pes so al. Assim ocom pre en di; e as sim o pra ti quei. As ques tões de ter ri tó rio, como asques tões de hon ra, são as que mais exal tam o me lin dre na ci o nal.

É de acor do com o sen ti men to na ci o nal, por tan to, que os ho mensde es ta do têm de re sol vê-las, se as qui se rem de i xar, com efe i to, re sol vi -das, e se me di rem o mal das agi ta ções ali men ta das por uma im pres sãopo pu lar de ofen sa à in te gri da de do País. Por isso me opus em ab so lu toà ces são da mar gem di re i ta do Ma de i ra, que fe liz men te não vin gou.Por isso, ain da, en ten dia que nes te gê ne ro de con ces sões, de vía mos ca -mi nhar sem pre como atra vés de ou tros tan tos pe ri gos. A prin cí pio al -gu ma co i sa, bem que mui par ca men te, era ra zoá vel se fi zes se nes sesen ti do; vis to que a Bo lí via pa re cia jul gar-se fe ri da e in tran si gen te aocon ta to do nos so di nhe i ro, ale gan do que o ter ri tó rio, como a hon ra,não tem pre ço, e não era jus to que só com o mi lhão es ter li no, in si nu a do en tre as nos sas ofer tas, a hou vés se mos por com pen sa da in te i ra men teda ex ten são ter ri to ri al que nos ce dia.

Mas, des de que os ne go ci a do res bo li vi a nos pu se ram de par te es -ses es crú pu los, e en tra ram fran ca men te no ter re no dos ajus tes pe cu -niá ri os, pe din do se ele vas se aque la quan tia ao do bro, por que nãoul ti mar mos nes sa es pé cie de com pen sa ções o nos so ajus te de con tas?Acres cen tan do a essa van ta gem a cons tru ção da es tra da, cre io que lhenão te ría mos me di do es cas sa men te o va lor do Acre. Jun tar-lhe ain da a

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ces são de um por to já se ria, tal vez, mu i to. Con tu do, até ali, se po de riair, su po nho eu. Mas so mar a to das essa ver bas 5.973 kms de ter ri tó riobra si le i ro é o que me pa re ce uma ge ne ro si da de, cuja lar gue za ex ce de -ria, a meu ver, o li mi te dos nos sos po de res.

Não que ro di zer que o Bra sil per des se na tro ca. Isso não. Masdava mais do que aqui lo que vale, para a Bo lí via, o que ela nos cede. Eessa con si de ra ção não se ha via de per der ja ma is de vis ta numa ope ra -ção des ta na tu re za. Em nos sas mãos o Acre pesa bas tan te, nas da nos -sa vi zi nha, o Acre não era nada. O va lor des se ter ri tó rio era, por tan to,uma quan ti da de re la ti va, que pra ti ca men te só ad qui ria re a li da de com a nos sa aqui si ção dele, com a sua trans fe rên cia ao nos so se nho rio. A es -ti ma ção des se va lor re la ti vo de via man ter-se, pois en tre os dois ex tre -mos, em um meio ter mo ra zoá vel. Ora, esse es ta va pre en chi do com avia fér rea, an ti ga as pi ra ção da que le pois, e os dois mi lhões es ter li nos,que para ele re pre sen tam qua se qua tro anos de sua re ce i ta.

Não es ta ria ele por isso? Então era ace i tar mos-lhe a ou tra al ter na -ti va por ele pos ta: o ar bi tra men to. Enten de V. Exa que é o que os bo li vi -a nos que ri am. Eu en ten do o con trá rio. E peço li cen ça a V. Exa, para lhere cor dar que esta é tam bém a opi nião, in sus pe i ta, do Dr. Assis Bra sil.Ain da na úl ti ma con fe rên cia nos sa ele se ma ni fes tou as sim, con fir man -do o as ser to, que nes se sen ti do eu aca ba va de fa zer. Os bo li vi a nos nãoque rem o ar bi tra men to, nun ca o qui se ram, a não ser que ti ves se porob je to a tro ca de ter ri tó ri os, ino va ção com ba ti da por mim na mi nhape núl ti ma car ta. Nem o po di am que rer, vis to que o ju í zo dos ár bi tros,já por que se te ria de cir cuns cre ver ao Acre li ti gi o so, já por que, em re -la ção a esse mes mo, se ria re je i ta do pe los acre a nos, se nos fos se con -trá rio, não re sol via a pen dên cia ar ma da en tre aque la po pu la ção e ogo ver no de La Paz. O re ce io da in ter ven ção do Peru nes sa pen dên cianão pas sa de uma hi pó te se, cuja ve ri fi ca bi li da de nada até ago ra au to -ri za.

Ora, en tre gue a si a Bo lí via na que las pa ra gens, não con ta ela como tri un fo.

Ain da fi nan ce i ra men te, gran de van ta gem lhe le va ria a po pu la çãoacre a na. Note V. Exa que no me mo ran dum re cen te men te en de re ça doaos ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros pe los bo li vi a nos, se ele va a dez mil eno ve cen tos con tos de réis o ren di men to anu al dos im pos tos de im por -ta ção e ex por ta ção no Acre. Ora essa é, mais ou me nos, anu al men te, are ce i ta to tal da Bo lí via, or ça da como V. Exa me in for mou, em seis mi -lhões de bo li vi a nos. E com isso tem ela de acu dir a to das as ne ces si da -des na ci o na is, ao pas so que o go ver no do Acre, re du zi doex clu si va men te às da sua de fe sa, com ela po de ria gas tar, sem des vio,to dos es ses re cur sos.

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Já ex pe ri men ta dos nas di fi cul da des da luta, o in te res se e o pen sa -men to dos bo li vi a nos era evi tá-la. Ora, a ela te ri am de vol tar se ven ces -sem no ar bi tra men to. Logo, não era pos sí vel que o de se jas sem. Como,po rém, pres sen tis sem que nós, con tra o que era de cu i dar, tam bém ote mía mos, ma no bra ram ha bil men te, si mu lan do am bi ci o ná-lo, para, àsom bra dos nos sos in jus ti fi ca dos re ce i os, exi gi rem o que exi gem,quan do é mi nha con vic ção que, se en ca rás se mos de sas som bra dos oes pan ta lho, eles é que re cu a ri am, sub me ten do-se às nos sas con di ções.

Este, ao me nos, o meu ju í zo. Pode ser, aliás, que es te ja em erro.Onde, po rém, te nho cer te za de que não es ta rá, é na afir ma ti va de que aopi nião pú bli ca re ce be rá mu i to mal as ces sões ter ri to ri a is pro pos tas, ede que, ou san do-as, o go ver no co me te rá uma te me ri da de. Não são es -tas so men te as ‘pre vi sões mi nhas e de ami gos me us’. Pa re ce-me queeste é o sen ti men to ge ral, até onde o te nho po di do son dar.

Dado isto, bem com pre en de V. Exa o gran de pe ri go ‘das in fluên ci -as de sor ga ni za do ras’: é que con tra elas fi quem de sar ma das as in fluên -ci as bem fa ze jas e or de i ras. Mas Deus ins pi re a V. Exa, aos seus co le gas, e a mim, se vejo mal, me es cla re ça me lhor, per mi tin do que, de ou travez, con si ga ser vir mais acer ta da men te ao país e a V. Exa.

O ad mi ra dor e ami go. Obri ga dís si mo.

Rui Bar bo sa.

Foi essa a úl ti ma vez que nos cor res pon de mos so bre o ob je to damis são. Bem que esta pros se guis se, e eu não re ce bes se ja ma is ato exo -ne ra tó rio, des de en tão me dei por de mi ti do, e como tal me con si de rouo go ver no. Nun ca mais sou be par te das ne go ci a ções. Ape nas, à vés pe -ra de o as si na rem, teve co mi go o meu emi nen te ami go a alta com pla -cên cia de me mos trar, em afe tu o sa vi si ta, o tex to do tra ta do, járe di gi do.

Per mi ti-me di zer-vos, se ao co ra ção cabe lu gar em um pa pel des -tes, que pas sei, na que les mo men tos, por uma fun da im pres são de tris -te za. Nun ca sen ti mais vi va men te quan to cus ta so pi tar um afe to, porcum prir um de ver.

A mo di fi ca ção ob ti da após as mi nhas car tas de ou tu bro não al te -ra va os mo ti vos, que eu, na úl ti ma de las, aqui há pou co exa ra da, par ti -cu la ri za ra com cer to de sen vol vi men to.

Não se cin gi am eles, bem se viu, ao meu res pe i to do sen ti men topo pu lar, como an da ram in sis tin do em pro pa lar cer tas in dis cri ções ofi -ci o sas, alu din do aos pri me i ros atos da mi nha cor res pon dên cia, aquium por um in se ri dos.

Que a mi nha pri me i ra im pres são fora essa, não con tes to. Eu, ape -sar de tudo, ti nha a in ge nu i da de, até en tão, de crer na opi nião pú bli ca,e não a to mar ape nas como sim ples ima gem con ven ci o nal. Esta va bem

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fora de cal cu lar o quan to ela se atro fi a ra e su mi ra, en tre nós, de pou cosanos a esta par te. Não me es que ce ra o tra ta do das Mis sões. Lem bra -va-me a ques tão da Trin da de. Ti nha em me mó ria o in ci den te dos pro -to co los ita li a nos. Nes ses três ca sos vira eu acor dar, sob este re gi me,essa me lin dra bi li da de na ci o nal, que, no Bra sil de ou tro ra, tan tas ve zesmos tra ra a es tra nhos po de ro sos o ca lor e a for ça do nos so brio. Bemlon ge es ta va de cu i dar que a in te gri da de ter ri to ri al da Pá tria já não nosin te res sas se, que, sem a pres são nem a ame a ça de um ini mi go te mí vel,cer ceás se mos vo lun ta ri a men te a nos sa fron te i ra, de i xan do pro ble má -ti ca a sua fu tu ra de fen sa bi li da de mi li tar, e nem a cur va da me nor ondain tur ge ces se mo men ta ne a men te a su per fí cie da Na ção. Tão mor ta vaiela. Tão au sen te de si mes ma. Tão alhe ia de todo o seu pas sa do. Tãoaban do na da no por vir às con tin gên ci as do aca so.

Via eu uns pou cos de Esta dos, na União re nhin do por fi a das lu tas,es go tan do to dos os re cur sos, para se dis pu ta rem mu tu a men te es tre i tasfi tas e aca nha das nes gas de ter ra nas suas fron te i ras in te ri o res. O Ce a rácom o Rio Gran de do Nor te. Per nam bu co com a Ba hia. Mi nas com o Riode Ja ne i ro. San ta Ca ta ri na com o Pa ra ná. Po de ria aca so ras tre ar que es -sas po pu la ções fos sem me nos sen sí ve is quan to aos nos sos con fins in ter -na ci o na is do que às di vi sas in tes ti nas en tre bra si le i ros e bra si le i ros? Oupre ver que o ego ís mo lo cal, sob to das es sas for mas ames qui nha do ras edis sol ven tes, o par ti cu la ris mo, o pro vin ci a lis mo, o ba ir ris mo, nos hou -ves sem de sa gre ga do a tal pon to, dis tan ci an do tan to as vá ri as re giõesdes te co los so va ci lan te, que os nos sos Esta dos, cada um dos qua is pe ga -ria fogo, se a caso fos se de ce der o me nor tra to de ter ra sua a ou tro Esta -do nos so, des sem as mãos en tre si, fri a men te, para en tre gar a umgo ver no es tran ge i ro re ta lhos da fron te i ra na ci o nal?

O es pe tá cu lo da im pas si bi li da de ge ral nes ta oca sião é o mais tris te dos sin to mas. De ve ria afli gir ain da os ami gos do tra ta do.

Ne nhum país, que não hou ves se per di do a sen si bi li da de, se de i xa -ria cor tar um pe da ço de sua fron te i ra, sem que a opi nião pú bli ca aome nos se di vi dis se. Tais se ri am os in te res ses, ou os re cla mos da ne ces -si da de, que, no con fli to dos su frá gi os, a ma i o ria, uma gran de ma i o riaaté, abra ças se a ces são. Mas que esta vin gas se com o apo io e o apla u so, ou a in di fe ren ça e o si lên cio de to dos, não se ria ra zoá vel es pe rar deuma na ção ain da apa ren te men te viva.

A Bo lí via de Mel ga re jo, em 1868, teve pro tes tos re la ti va men temais nu me ro sos e sem dú vi da mais ex pres si vos con tra o tra ta do de1867, que, aliás, o Ba rão do Rio Bran co, na ex po si ção de mo ti vos, qua li -fi ca de ce le bra do ‘em van ta gem’ dos nos sos vi zi nhos. Esta vam eles sobuma di ta du ra vi o len ta. Re i na va o ter ror pâ ni co no Con gres so, que,aco var da do, au to ri za va o go ver no a usar de to dos os me i os, para for -çar a com pa re ce rem os de pu ta dos, cuja in de pen dên cia bus ca va na

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fuga o úl ti mo abri go. Acon te cen do ou vir-se tos sir en tre os es pec ta do -res, quan do ora va o Mi nis tro do Exte ri or, mu i tos fo ram pre sos, man -dan do-se apli car a uns qui nhen tos aço i tes, de que o sal vou ain ter ces são do Pre si den te da Assem bléia. Com essa me di da fi ca ram se -cre tas as ses sões, por que as ga le ri as se des po vo a ram. No pró prio mo -men to de vo tar, o pre si den te da casa in ter ve io no es cru tí nio, in ti man do os le gis la do res. Mas, ain da as sim, em uma Câ ma ra pou co nu me ro sa, otra ta do re u niu con tra si não me nos de tre ze vo tos.

A não ad mi tir mos, pois, que esse pac to in ter na ci o nal ope ras secon tra a Bo lí via uma gra ve in jus ti ça, for ça dos se re mos a con vir que aBo lí via de 1867, sob aque la pe sa da at mos fe ra de ca ti ve i ro, apre sen ta vamais vi ta li da de na ci o nal que o Bra sil de 1903, sob as ins ti tu i ções que fe -liz men te nos re gem.

Mas, an tes des ta ex pe ri men ta ção con vin cen te, eu não o po dia adi -vi nhar. As mi nhas apre en sões de que gol pe an do a nos sa fron te i ra, ir ri -tás se mos a opi nião pú bli ca, não se ins pi ra ram so men te em pre vi sõesde ami gos meus, como in si nu ou o Mi nis tro de Re la ções Exte ri o res, es -cre ven do-me a 20 de ou tu bro. Não. To dos os si na is do tem po, no meiopar la men tar, cons pi ra vam em di tar-me essa in ter pre ta ção dos as pec -tos do ho ri zon te. Nes ta Casa tudo o que, di re ta ou in di re ta men te, meche ga va aos ou vi dos, era aves so em ab so lu to à ces são de ter ri tó rionos so. Che fes ou não che fes, aqui, to dos os de que eu ti nha no tí cia au -to ri za da, me aco ro ço a vam à re sis tên cia em de fe sa do nos so pa tri mô nio ter ri to ri al. O am bi en te do Se na do era esse, cla ro, trans pa ren te, vi vaz.Ti ves tes, sem dú vi da, ra zões de alto pa tri o tis mo, para vos de mo ver.Não o nego, se nho res. Mas con ce dei-me tam bém que eu não er ra va nain te li gên cia das vos sas dis po si ções àque le tem po.

Ora, eu não po dia de i xar de re fle tir as vos sas im pres sões e as queti nham to dos os mo ti vos para jul gar se rem as de meu País. Não por quetrou xes se os olhos fi tos na po pu la ri da de. A po pu la ri da de é, de or di ná -rio, o apla u so das ruas. Des sa nun ca fiz caso. O que eu su pu nha tra du -zir, era o sen ti men to re fle xi vo das al mas, nes sa re gião sã, ondenor mal men te se ela bo ra a vida mo ral das na ci o na li da des, e cuja in -fluên cia, ao me nos en tre nós, não in ter vém na dis tri bu i ção dos car gos,hon ras e emi nên ci as do Esta do, para gra ti fi car ser vi ços. Aí ti nha eupor cer to, e ain da me não aba lei in te i ra men te des sa idéia, que a alhe i a -ção de ter ri tó rio nos so, por ven da, ces são ou tro ca, eco a ria do lo ro sa -men te. O ne go ci a dor, es pe ci al men te nas ques tões de in te gri da dena ci o nal, não é só man da tá rio do seu go ver no: é tam bém, e aci ma detudo, ór gão de sua na ção. Cer to de que a mi nha pá tria re lu ta ria em cer -ce ar a sua fron te i ra, e, não en xer gan do for ça ma i or, que tal sa cri fí ciolhe im pu ses sem, eu não ti nha o di re i to de as si ná-lo. Bas ta va-me essacon si de ra ção, para não po der, em cons ciên cia, fir mar o tra ta do.

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Mas, de par ce ria com esse mo ti vo, ex trín se co à ma té ria da con -ven ção, ou tros enu me rei eu, nas mi nhas úl ti mas car tas, di re ta men teco lhi dos no exa me in ter no do as sun to.

Pos so re du zi-los a três:Vi nha a ser um de les que, ten do à Bo lí via ace i ta do, por fim, a ne -

go ci a ção no ter re no das com pen sa ções pe cu niá ri as, já não ha via ra -zão, para não li qui dar mos ex clu si va men te nes sa es pé cie o cus to doacor do.

Em se gun do lu gar, ale ga va eu que, dos três va lo res cu mu la dos, no pro je to de acor do, em pa ga men to das con ces sões bo li vi a nas, era de -ma is a ter ra, so be jan do os ou tros dois para com pen sa ção eqüi ta ti va.

Por úl ti mo, en car na do na ex tre ma hi pó te se, a do ar bi tra men to, in -sis tia eu em que a Bo lí via de via temê-lo mais do que nós, e pelo me nostan to quan to nós o te mia.

To ma rei um a um, com a bre vi da de pos sí vel, es ses três fun da men -tos, co me çan do pelo der ra de i ro, cujo es tu do nos pro por ci o na rá sub sí -dio útil ao exa me dos ou tros.

No mo dus vi ven di por nós qua se im pos to à Bo lí via o ano pas sa do,o ar bi tra men to era a se gun da al ter na ti va con ven ci o nal, fi can do ace i topara o caso de não sur tir bem, no ter mo ali apra za do, a ten ta ti va decom po si ção. Na car ta em que me con vi dou para a mis são bo li vi a na, oSr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res pre via igual men te essa even tu a li -da de, e não a re je i ta va de todo, an tes pa re cia atri bu ir-lhe vi sos de pro -vá vel. “O Sr. Gu a chal la”, di zia-me V. Exa, “de se ja ne go ci a ção rá pi da,que ter mi ne por acor do di re to ou pelo ar bi tra men to. Pa re ce-me, po -rém, pelo que lhe ouvi on tem, que as exi gên ci as da Bo lí via para umacor do di re to se rão mu i to gran des.” Não es ta va aqui pres sen ti da e ad -mi ti da a emer gên cia do ar bi tra men to?

E por que nos ater rar mos dela? Por que en xer gar nela esse de sas -tre, que se diz, para o Bra sil? O só fun da men to des ses ter ro res era atra di ção da chan ce la ria bra si le i ra, fa vo rá vel, na in ter pre ta ção do tra ta -do de 1867, ao in te res ses da Bo lí via. Tem para si por “mu i to pro vá vel” o ilus tre Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res que essa tra di ção “pe sa ria noâni mo do ár bi tro mais do que as boas ra zões, que pu dés se mos ale gar”.

Mas que ár bi tro se ria esse? Não há juiz nes te mun do, que, cha ma -do a fi xar a in te li gên cia de uma es cri tu ra, quan do o seu sen ti do so bres -sai ine quí vo co e ma ni fes to, não po nha aci ma de tudo essa ex pres sãofor mal da von ta de dos con tra en tes ao ce le bra rem o con tra to. Se pro cu -ra do res in com pe ten tes, ou in fiéis, de uma das par tes, des co nhe cen -do-lhe, por erro cras so, os di re i tos li te ral men te fir ma dos noins tru men to da con ven ção, a exe cu ta ram, sem au diên cia do in te res sa -do, em lo cu ple ta ção in dé bi ta do ou tro con tra tan te, fal ta ria ao mais tri -vi al dos seus de ve res o ma gis tra do, que, no re sol ver o li tí gio,

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so bre pu ses se esse ele men to aces só rio na pon de ra ção do acor do àscláu su las ex plí ci tas do seu tex to.

Ora, o tex to do tra ta do de 1867 é cla ro como a luz so lar e ní ti docomo a pre ci são ma te má ti ca. A her me nêu ti ca in cre pa da ago ra de “so -fís ti ca e pu e ril”, en tre os pa ne gi ris tas do Tra ta do de Pe tró po lis, é a úni -ca in te li gen te, a úni ca sen sa ta, a úni ca ir res pon dí vel. Não há pro fes sorde ge o me tria ele men tar, ou alu no bem apro ve i ta do no cur so de ma te -má ti cas ru di men ta res, que, a esse res pe i to, se em ba ra ças se um mo -men to.

Bas ta co ser mo-nos à le tra da que le acor do in ter na ci o nal.Três ele men tos nos mi nis tra ele, no art. 2º, para a cons ti tu i ção da

nos sa fron te i ra na que las pa ra gens: a con fluên cia do Beni com o Ma de -i ra, a la ti tu de 10°20’ e a prin ci pal ca be ce i ra do Ja va ri. Ora, tan to bas ta,para tor nar ma te ma ti ca men te in du bi tá vel que não é uma reta, que nãopode ser, por tan to, a ce le bre oblí qua da nos sa chan ce la ria, a li nha aliin di ca da. Para fi xar a po si ção de uma reta, não to mam se não dois pon -tos, tec ni ca men te de sig na dos pe los no mes de ge ra triz e di re triz, co me -ço e rumo da li nha con ce bi da. Ge ra triz se ria, na hi pó te se, a con fluên cia do Beni com o Ma de i ra; di re triz, a prin ci pal ca be ce i ra do Ja va ri. Di re -triz e pon to ter mi nal, a um tem po, vis to se tra ta, na es pé cie, de uma li -nha li mi ta da.

A que vi ria, pois, o ter ce i ro ele men to, a co or de na da ge o grá fi ca,essa la ti tu de de 10º20’, con sig na da no tex to? Ou era en tão su pér fluo,ou ab sur do esse ele men to. Su pér fluo, a fi car na reta já de ter mi na da pe -los ou tros dois pon tos. Absur do, a es tar fora des sa di re ção: por quan to, em caso tal, a li nha con tem pla da já não se ria reta; se ria uma que bra da,com pos ta de dois seg men tos, o que ia de en con tro a hi pó te se.

E con vém acres cen tar, nem como dado su pér fluo, ex abun dan tica u te la, na hi pós te se de ser reta a li nha con si de ra da, se po de ri am ad -mi tir, para in di cá-la, mais de dois pon tos; vis to como, não sen do pre vi -a men te co nhe ci da a si tu a ção do ter ce i ro, era im pos sí vel sa ber se seacha ria, ou não, no rumo dos ou tros dois.

Logo, a não as sa car mos aos ce le bra do res do tra ta do cha pa da ins -ciên cia dos ru di men tos de ge o me tria, su pos to que nem a jus ti ça per mi -te, nem os fa tos abo nam, nem os di ta mes da boa her me nêu ti caau to ri zam, não po de mos con si de rar o ter ce i ro ele men to como su pér -fluo, nem me nos como ab sur do por con tra di ção com os dois ou tros.Mas, se não é ab sur do, nem su pér fluo, é ne ces sá rio. E, se é ne ces sá rio,não é uma reta, mas uma que bra da, a li nha que se con si de ra. Por que sópara fi xar a di re ção de uma li nha que bra da, são ne ces sá ri os mais dedois pon tos.

Tal vez me em bar gas sem, in sis tin do, que não são três, mas dois osele men tos; por quan to no ter ce i ro, na co or de na da ge o grá fi ca, se po de -

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ria ver ape nas um sub sí dio ex pli ca ti vo, para de ter mi nar pre ci sa men tea si tu a ção do pon to ge ra triz, isto é, a con fluên cia do Beni com o Ma de i -ra. Mas quem ti ver a mais leve no tí cia dos prin cí pi os de cos mo gra fianão ig no ra ra que, para es ta be le cer a lo ca li za ção de um pon to na es fe rater res tre, não bas ta uma co or de na da. A tal re sul ta do só se che ga me di -an te o con cur so das duas co or de na das ge o grá fi cas: a la ti tu de e a lon gi -tu de. Cada uma de las, to ma da uni ca men te de por si, não de sig na umpon to, e sim uma sé rie de pon tos, que ro di zer, uma li nha; vis to que to -dos os pon tos do mes mo pa ra le lo cor rem na mes ma la ti tu de, e to dos os pon tos do mes mo me ri di a no se guem uma só lon gi tu de. De modo quesó pela con ver gên cia das duas co or de na das, isto é, pela in ter sec ção dome ri di a no com o pa ra le lo, se de ter mi na o si tio de um pon to na su per fí -cie do glo bo.

Ora, no tra ta do bra si le i ro bo li vi a no de 1867 não se fala em lon gi -tu de. Tão so men te se nos mar ca uma la ti tu de. Logo, não se pode en xer -gar nes se ele men to a in di ca ção de um pon to. É, pois, uma li nha, umapa ra le la (cir cun fe rên cia) ao equa dor ter res tre, um pa ra le lo, em suma, o que a ex pres são ge o grá fi ca 10º20’ ali está de sig nan do. Logo, nos ter -mos li te ra is do tra ta do, com três ele men tos dis tin tos ha ve mos de li dar,a fim de pre ci sar a fron te i ra ali de mar ca da: dois pon tos e um pa ra le lo.

Des ses pon tos, um, o ge ra triz, está co nhe ci do: o de par ti da, a con -fluên cia en tre os dois rios. Dali se vai es ten der a li nha, so bre cuja di re ção o tra ta do fi gu ra duas hi pó te ses: a de fin dar no se gun do pon to dado, naori gem prin ci pal do Ja va ri, se esta de mo rar no pa ra le lo 10º20’, e a de seen con trar essa nas cen te fora des ta la ti tu de. Das duas hi pó te ses pre vis -tas, a que se ve ri fi cou, foi a se gun da: a nas cen te do Ja va ri não jaz no pa -ra le lo. Como en tão ar ru mar no mapa a di vi sa pro cu ra da?

Sim pli cís si ma men te: ori en tan do-nos pe las ins tru ções tex tu a is dotra ta do, cujo art. 2º, man dan do-nos ti rar a raia, que bus ca mos, do Ma -de i ra, em sua mar gem es quer da, para oes te, pela la ti tu de 10º20’, até ocur so do Ja va ri , es ta tui que, “se o Ja va ri ti ver a nas cen te ao nor te des tali nha, se gui rá a fron te i ra, des de a mes ma la ti tu de, por uma reta, a bus car a ori gem prin ci pal des se rio”. Aqui es tão for mal men te in di ca das as duasli nhas, isto é, os dois seg men tos, cujo en con tro vai for mar a que bra da: ali nha 10º20’ (que, sen do li nha, pela su per fí cie da ter ra, à la ti tu de 10º20’),a li nha 10º20’, re pi to, por onde o tra ta do de 1867 pres cre ve se ba li ze o li -mi te da mar gem do Ma de i ra a do Ja va ri , e a ou tra li nha, que da pri me i ra se guir até ao prin ci pal nas ce dou ro do úl ti mo des ses rios.

Note-se ou tra vez: a re da ção não po dia ser mais in so fis má vel.Man da lan çar, cor ren do na la ti tu de 10º20’, uma li nha da riba si nis trado Ma de i ra às do Ja va ri, em bus ca das nas cen tes des te, pre ve nin doque, se es tas fi ca rem “ao nor te des sa li nha les te-oes te, se gui rá a fron -te i ra des de a mes ma la ti du de”, até as en con trar. Advir tam bem nas duas

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ex pres sões “se gui rá” (pon de re-se o va lor do ver bo) e “da mes ma la ti tu -de”, isto é, da mes ma li nha, uma vez que (re lem bre-se da no ção ele men -tar) la ti tu de sem lon gi tu de é pa ra le lo, como lon gi tu de sem la ti tu de éme ri di a no; por quan to de uma co or de na da ge o grá fi ca, iso la da men tecon si de ra da, o que re sul ta, não é a in di vi du a ção de um pon to, sim a di -re ção de uma li nha.

Mas se guir não é re tro ce der ao pon to de par ti da, afim de re co me -çar o ca mi nho. Antes vem a ser idéi as an ta gô ni cas re tro ce der e se guir.Re tro ce der é de san dar. Se guir é con ti nu ar, ir avan te, mu dan do em bo -ra de rumo, quan do mis ter, a cata do tér mi no pres cri to.

E por onde se guir, no caso? Em que sen ti do? É de ge o me tria ele -men tar, tam bém aqui, o des lin de. Ensi na ela aos prin ci pi an tes que,dada uma reta e um pon to fora des sa reta, o ca mi nho na tu ral da li nhaao pon to é a per pen di cu lar, que dele se ba i xar so bre ele.

Isto não só por que essa per pen di cu lar mede a dis tân cia mais bre -ve en tre a reta e o pon to, mas ain da, e ain da mais, por que, de to das asli nhas aí pos sí ve is, a per pen di cu lar, é a úni ca de po si ção de fi ni da e in -va riá vel; não se po den do ti rar de um pon to a uma reta mais que umaper pen di cu lar, ao pas so que obli quas dele a ela se tra ça ri am tan tas,quan tos fo rem os pon tos da reta.

Ora, qual se ria, na hi pó te se, a per pen di cu lar da ca be ce i ra do Ja -va ri ao pa ra le lo 10º20’? O me ri di a no da que la ca be ce i ra, co or de na daque o tra ta do não pre ci sou, jus ta men te por ser in de ter mi na da a sua si -tu a ção, como o tex to do art. 2º re co nhe ce, quan do man da ave ri guar seela es ta rá na que la la ti tu de, ou para o nor te. De ma ne i ra que apu ran -do-se, como de po is se apu rou, que as nas cen tes do Ja va ri fi cam aonor te do pa ra le lo 10º20’, in ques ti o na vel men te, ante a le tra ca te gó ri cado tra ta do, a nos sa fron te i ra com os bo li vi a nos se ria uma que bra da,cons ti tu í da pelo cru zar des se pa ra le lo com o me ri di a no que pas se pelaca be ce i ra da que le rio.

É, en tre tan to, a uma evi dên cia como esta, sin ge la, se gu ra e ir re -fra gá vel como um te o re ma de Eu cli des, que se qua li fi ca de so fis ma epu e ri li da de en tre os adep tos do Tra ta do de Pe tró po lis.

Uma ca u sa que es tri ba em con si de ra ções des ta for ça, não dis põeso men te de “boas ra zões”, na fra se da ex po si ção de mo ti vos. Boas, ad -mi te ela, mas que po dem ce der à for ça de ou tras. Não. São ra zões ine lu -tá ve is. São ra zões de ci si vas. São ra zões, em que a ma te má ti ca sepro nun cia com a sua au to ri da de ora cu lar. Não, são, por tan to, ra zões,que um ár bi tro, dig no de tal nome, que um juiz in ter na ci o nal, do ta do,em me di a no grau, das ap ti dões in dis pen sá ve is a essa ma gis tra tu ra, ou -sas se pos ter gar, di an te do mun do, para se de ci dir pelo ar bí trio va ci lan -te, com ba ti do e gros se i ra men te er rô neo de uma se cre ta ria de sa ten taaos di re i tos mais pal pá ve is da sua na ci o na li da de.

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No tri bu nal da ar bi tra ção por tan to, era nos so o ma i or dos tí tu los:le tra do tra ta do pe remp tó rio, ini lu dí vel, ter mi nan te.

O seu es pí ri to não é me nos vi sí vel. Não foi um ato de ge ne ro si da -de nos sa para com a Bo lí via o pac to de 1867. Re al men te a pre o cu pa çãodos nos sos es ta dis tas, àque le tem po, era ata lhar a ali an ça da Bo lí viacom o Pa ra guai. Isso via toda a gen te na que la épo ca. Isso di zia, emagos to de 1868, ao Go ver no do Chi le o seu mi nis tro em La Paz, na suacor res pon dên cia, de po is re u ni da por ele em vo lu me, sob o tí tu lo: La Le -ga ci on de Chi le en Bo lí via des de sep ti em bre de 1867 has ta fi nes de1870. Mas, acre cen ta va esse di plo ma ta, o Sr. So to ma yor Val dés:

“Na tu ral era que esta vez, al tra tar se de los lí mi tes en tre am bosEsta dos, el Bra sil es tu vi e ra dis pu es to a ce der mu cho de suas an ti guaspre ten si o nes, y que Bo lí via, com prendi edo la cri ti ca si tu a ción del im pe -rio, sos tu vi e se las pro pi as pre ten si o nes que an ta ño, con la casi se gu ri -dad de tri un far. Pero nada me nos que esto. La de fe ren cia de Bo li via fuela ley del ven ci do y del im po ten te. El Bra sil tra zó su li nea di vi so ria se -gún su an ti guo plan y el Go bi er no de Bo li via sus cri bió.”

Numa car ta pos te ri or (8 de se tem bro 1868) vol ta va ele ao as sun todi zen do: “Bas ta la sim ple lec tu ra del tra ta do para com pren der que la po -lí ti ca ab sor ben te del Bra sil ha ob te ni do un tri un fo com ple to a ese pac to.”

Tal era igual men te o sen tir do pú bli co bo li vi a no acer ca da que lacon ven ção, ob ti da em trin ta dias de mis são tri un fal, num ver da de i roveni, vidi, vici, pelo ple ni po ten ciá rio bra si le i ro Lo pes Net to.“Se cree”,de pu nha o mi nis tro do Chi le na que la ca pi tal, “que el tra ta do de lími tesen tre Bo lí via y Bra sil ha ar ran ca do a esta Re pú bli ca una par te con si de -ra ble de su ter ri tó rio, y en tre ga do ade más al Go bi er no del Empe rioaquel las po si ci o nes que cons ti tu yen la lla ve de la fron te ra ori en tal deBo lí via” (agos to, 23, 1868.)

Mu i tos anos de po is, o pre si den te da Bo lí via en de re ça va ao nos soim pe ra dor uma car ta so le ne a esse res pe i to. Era já em se tem bro de1883, e ain da vi bra va com in ten si da de, nes se do cu men to, o sen ti men to que o pri me i ro ma gis tra do da que la re pú bli ca ali qua li fi ca va como “una im pre si on de asom bro in des cri ti ble y de do lo ro sa in dig na ción”. (Car taau to gra fa di ri gi da por el pre si den te de la Re pú bli ca de Bo lí via al Empe -ra dor del Bra sil, pro po ni en do la rec ti fi ca ción de lí mi tes. La Paz 17 dese tem bro 1883).

Não subs cre ve rei, de cer to, es sas in jus tas apre ci a ções, nas qua isteve, sem dú vi da, gran de par te o exa ge ro do zelo pa trió ti co, na tu ral -men te pro pen so a se de ma si ar nes tes as sun tos, ou o ci ú me que as ou -tras na ções des te con ti nen te in cu tia en tão a nos sa he ge mo niasul-ame ri ca na , hoje per di da. Não foi o tra ta do de 1867, como nes sespa péis his tó ri cos se afir ma, uma pre po tên cia in so len te do Bra sil, umato le o ni no de opres são e ex tor são aos nos sos vi zi nhos. Mas, ine ga vel -

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men te, foi a ma ni fes ta ção mais sig ni fi ca ti va de um gran de pres tí gio, deuma gran de in fluên cia, de um gran de as cen den te, de que só se ria ca -paz a aca ta da su pe ri o ri da de e a pre pon de rân cia bem quis ta de umana ção for te e vi gi lan te, ser vi da por es ta dis tas ze lo sos da sua in te gri da -de e se gu ran ça. Bas ta no tar a ra pi dez tor ren to sa da mis são Lo pes Net -to, que um mês fir mou a so lu ção de ques tões se cu la res, de fi nin do, nãosó os li mi tes en tre os dois pa í ses, mas ain da as mais de li ca das e com ple -xas re la ções de co mér cio, na ve ga ção e vi zi nhan ça.

Só es que cen do, por tan to, os co me mo ra ti vos da ges ta ção des seacor do, a si tu a ção de cu jas en tra nhas saiu o pac to de 1867, e in cor ren -do no ex ces so opos to a dos que nes se ato di vi sam um con lu io es po li a -tó rio con tra os nos sos vi zi nhos, só in ver ten do, em suma, a his tó ria da que le tra ta do, se po de ria ad mi tir que ele obe de ces se ao in ten to deen gran de cer a Bo lí via à nos sa cus ta, con sig nan do a essa na ção o ter ri -tó rio se ten tri o nal ao pa ra le lo 10°20’, as se gu ra do ao Bra sil, as sim pe lascon di ções na tu ra is da que la zona, como pela ex plo ra ção e pos se bra si -le i ra de to dos os tem pos.

Eram vas sa los da Casa Por tu gue sa os que, há cer ca de dois sé cu -los, ocu pa ram a zona do Ma mo ré e do Gu a po ré. São no tó ri as as ex plo -ra ções dos ir mãos Cor rêa em 1742 e as de Ma nu el Urba no em 1860.Des de prin cí pi os do sé cu lo XVIII, é a ex po si ção mi nis te ri al de mo ti vosque o re cor da; des de essa épo ca, isto é, há du zen tos anos, “ocu pa mosefe ti va men te a mar gem di re i ta do So li mões”, as sim como do mi na moso cur so in fe ri or do Alto Pu rus, bem as sim o do Alto Ju ruá. E, em con se -qüên cia, ante a dou tri na sus ten ta da por “qua se to dos os mo der nosmes tres do di re i to in ter na ci o nal”, com quan to não es ti ve rem ain da po -vo a das es sas duas ba ci as, quan do, em 1867, ajus ta mos com a Bo lí via ofa mo so tra ta do de li mi tes, “tí nha mos in con tes tá vel di re i to a elas emtoda sua ex ten são”. É o Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res quem o as si -na la, com a mais ab so lu ta con fi an ça. Esse di re i to, “in con tes tá vel”, naex pres são mi nis te ri al, esse di re i to in con tes tá vel nos re sul ta va da pos see dos efe i tos dela de cor ren tes, se gun do a te o ria hoje uni ver sal.

Ora, o tra ta do de 1867 so le ne men te con sig na que o Bra sil e a Bo lí -via “con cor dam em re co nhe cer como base para a de ter mi na ção dafron te i ra o uti pos si de tis”. De 1867 para cá a nos sa ocu pa ção da que laspa ra gens não di mi nu iu: cres ceu em pro por ções des me di das. Ani ma dape las es ti pu la ções da que le pac to e pe los di re i tos pos ses só ri os do Bra -sil, uma co lo ni za ção ex clu si va men te bra si le i ra, ma i or de 60.000 al mas,dis tri bu in do-se pe las ri be i ras e flo res tas do Alto Pu rus e seus tri bu tá ri -os, pe las do Alto Ju ruá e seus aflu en tes, de sen vol ve ali a mais opu len tacul tu ra. A lei do uti pos si de tis, duas ve zes lei no caso, lei con su e tu di ná -ria e lei con tra tu al, lei do di re i to das gen tes e lei do di re i to pac tu a do,apre sen ta hoje, as sim, por toda aque la su per fí cie, a nos so fa vor, uma

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vas ta en car na ção hu ma na em ple na vida e ati vi da de, sem mes cla decom pe tên cia es tra nha.

Como é, pois, que esse câ non, sob cuja in vo ca ção for mal se con -clu iu o tra ta do de 1867, esse câ non una ni me men te ob ser va do ago racomo o cri té rio qua se ex clu si vo na de li mi ta ção dos con fins en tre osEsta dos sul ame ri ca nos, esse câ non a que de ve mos a vi tó ria das mis -sões e de ve mos o tri un fo no Ama pá, como é que essa base inex pug ná -vel no di re i to mo der no, tão van ta jo sa men te ex pe ri men ta da por nós em con tin gên ci as tão gra ves, con tra ad ver sá ri os ta ma nhos como a Argen -ti na e a Fran ça, só ago ra nos ha via de fal se ar, quan do o re for ça o tex topo si ti vo de um con vê nio in ter na ci o nal, a cons ti tu i ção ge o grá fi ca da re -gião dis pu ta da e a con fes sa da im po tên cia da nos sa an ta go nis ta emexer cer a apro pri a ção que de man da?

Opor a tudo isso os atos... eu ia di zer, de qua se pre va ri ca ção... osatos de ne gli gên cia, aban do no e erro de ofi cio, co me ti dos no as sun to,en tre nós, por ór gãos do po der exe cu ti vo, com as si na la da exor bi tân ciadas suas atri bu i ções, fora pros cre ver do li tí gio, além da ciên cia e do bom sen so vul gar, o di re i to cons ti tu ci o nal de am bas as na ções in te res sa das.

Te mos um mi nis tro, que se aba lan ça a esta in co men su rá vel fal si da -de e a esta he re sia des co mu nal : “Ain da mes mo que o Acre es ti ves se re -gur gi tan do de bra si le i ros, essa pos se é ile gí ti ma, por ter sido aque leter ri tó rio po vo a do so men te em 1879, sen do an tes ocu pa do por sel va -gens.” Pois esse aten ta do his tó ri co e ju rí di co não está a cair de si mes mo, ao peso da pró pria enor mi da de? Ou tro mi nis tro te mos, que, quan do acons ciên cia bo li vi a na, evi den te men te me nos par ci al para co nos co doque para con si go, re pug na em se emi tir no se nho rio da que le pa tri mô -nio, lhe em pur ra, lhe im põe, lhe for ça, como se, a não ser num caso ina u -di to de de mên cia in ter na ci o nal, uma na ção pu des se ter do mí nio so brela ti fún di os da que la gran de za, sem o sa ber de raiz. Pois des con cer tosdes de já, per pe tra dos por mi nis tros de um país, con tra ele mes mo, emma té ria de di re i tos ter ri to ri a is, à re ve lia da le gis la tu ra, po de rão en vol -ver ja ma is a res pon sa bi li da de na ci o nal, po de rão cons ti tu ir nun ca do cu -men tos in ter na ci o na is? Pois ao ár bi tro, juiz de fato e do di re i to, as sis ti rápor ven tu ra ja ma is o de fun dar uma sen ten ça em des man dos do po derexe cu ti vo, quan do este, con tra a Cons ti tu i ção do Esta do, se subs ti tui aole gis la dor, para en tre gar ao es tran ge i ro ter ras da Pá tria, em des pre zo etrans gres são vi sí vel do mais cla ro dos tra ta dos?

Qu al quer cren ça de tino mos tra ria a dedo ao nos so ár bi tro que opro to co lo de 1895 der ro gou o tra ta do de 1867; por quan to o que, emface des te acor do, te ria de ser um ân gu lo, com o seu vér ti ce no cru za -men to en tre o pa ra le lo 10°20’ e o me ri di a no da nas cen te do Ja va ri,veio a se trans for mar, por essa pres ti di gi ta ção de chan ce la ria, em uma

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sim ples obl íqua da mar gem do Ma de i ra, rumo no ro es te, a in ter se çãodes se me ri di a no com o pa ra le lo 7°1’.

O tra ta do de 1867, na hi pó te se de se rem as nas cen tes do Ja va ri se ten tri o na is ao pa ra le lo 10°20’ em sua se ção do Ma de i ra para o oci -den te, ba li za a fron te i ra, já o vi mos, por uma que bra da, um dos seg -men tos da qual é essa li nha les te-oes te, ou tro da reta (for ço sa men teper pen di cu lar) da que las nas cen tes a dita li nha. O pro to co lo de 1895,po rem, em pal mou a li nha les te-oes te, para cor rer di re ta men te a fron te i -ra por uma só reta obli qua da en tre os dois pon tos ex tre mos. Isto é:trans fe riu à Bo lí via todo o ter ri tó rio para aquém des sa oblí qua, que a li -nha que bra da nos ga ran tia. Des tar te nos sub tra iu o que o tra ta do de1867 nos afi an ça ra. Esse ato, pu ra men te mi nis te ri al, im por ta va, logo,na al te ra ção de um ato le gis la ti vo. Por tan to, só me di an te novo ato dale gis la tu ra se po de ria va li dar. É a dou tri na, aliás in ques ti o ná vel, que aBo lí via, pelo mi nis tro Diez de Me di na, e o Bra sil, pelo mi nis tro Car losde Car va lho, ha vi am re co nhe ci do ca te go ri ca men te.

Esse epi só dio con vém re lem brar.Vin te e oito anos de po is de ra ti fi ca do o tra ta do de 1867 ain da es ta -

va por ul ti mar a de mar ca ção em pre en di da; e a se ção não ter mi na daera exa ta men te a de que ora se con ten de. Ca í ra a mo nar quia, e con ta vajá seis anos de exis tên cia a for ma Re pu bli ca na, quan do a Bo lí via ins toupor de sem pe nhar mos aque le com pro mis so do an ti go acor do, que nosseus ter mos hou ve ra de ser exe cu ta do in con ti nen te. Par tia a pro pos tado mi nis tro bo li vi a no nes ta ca pi tal, D. Diez de Me di na Cla ro está que,não se tra tan do se não de le var ao cabo o acor da do em 1867, isto é, deba li zar no ter re no a fron te i ra, cujo rumo aque le tra ta do in di ca ra, ti nhade se ob ser var es cru pu lo sa men te o dis pos to no tex to da con ven ção fir -ma da, per to de trin ta anos an tes, en tre os dois go ver nos.

Ambos os con tra en tes obra vam sob a im pres são da se ve ri da dees tri ta des se li mi te, a que o re pre sen tan te da Bo lí via es pe ci al men teatri bu ía con se qüên ci as de ex tre mo ri gor. A seu ver, em bo ra a de li mi ta -ção não dis cre pas se das nor mas es ta tu í das no tra ta do exe quen do, sóse ria obri ga tó ria, de po is de re ce ber, nos dois pa í ses, a san ção do le gis -la dor. Sus ten ta va ele que “ne nhum ato, re la ti vo a li mi tes, pode ser com -ple ta men te vá li do, sem a apro va ção le gis la ti va”.

Con si de ran do, po rém, que se tra ta va de uma fase me ra men te exe -cu ti va do tra ta do, e que ao Po der Exe cu ti vo in cum be as se gu rar a exe cu -ção das leis, en tre as qua is se in clu em os con vê ni os in ter na ci o na isde vi da men te se la dos com a apro va ção da le gis la tu ra, im pug nou de ex -ces si va aque la dou tri na o Sr. Car los de Car va lho, no seu re la tó rio de1895. Mas isso nes tes ter mos: “Essa pro po si ção, pela sua de ma si a da am -pli tu de, abran ge atos, que não de pen dem de tal apro va ção. Nes te casoes tão os tra ba lhos de de mar ca ção, se não al te ram o que se ajus tou.”

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A di ver gên cia apa ren te so bre pa i ra va, logo, en tre os dois mi nis -tros e as duas chan ce la ri as, uma idéia co mum: a ne ces si da de im pre te rí -vel de se ads cre ve rem os exe cu to res e de mar ca do res ao pres cri to notra ta do, li dan do es tri ta men te se gun do a fór mu la que ele hou ves se dis -pos to, os con fins en tre as duas na ções. A se dar o me nor des li ze, a seafas tar a ba li za gem, fos se como fos se, do rumo ex pres so no tra ta do,não va le ria se não ra ti fi ca da com o as sen so le gis la ti vo. Que se não di ria, pois, a ser aber ta men te vi o la da nas se cre ta ri as essa con for mi da de, mo -di fi can do-se, a pre tex to de in ter pre ta ção, por um pro to co lo, os li mi tesas sen tes no tra ta do?

Qu an do, por tan to, a Bo lí via, no tri bu nal do ar bi tra men to, re ju bi -las se com es ses abu sos, no ta vel men te in sig nes, dos nos sos ad mi nis tra -do res, era de di re i to nos so opor-lhes os ar ti gos da nos sa leicons ti tu ci o nal (idên ti ca nes te par ti cu lar a bo li vi a na), onde, as sim naMo nar quia, como na Re pú bli ca, sem pre se re ser vou ao Po der Le gis la -ti vo dis por do ter ri tó rio na ci o nal. E as sis ti ria aca so ao jul ga dor o ar bí -trio de lan çar da ba lan ça a Cons ti tu i ção Bra si le i ra, para afe rir e usarcomo peso le gí ti mo às de ma si as go ver na ti vas?

Ora, re mo vi das es sas exor bi tân ci as mi nis te ri a is, o que nos fica, éo tra ta do de 1867. E, se o tra ta do de 1867 fos se al gu ma vez sub me ti do àin ter pre ta ção do le gis la dor bra si le i ro, não so fre dúvi da que este con -de na ria a es pú ria ver são dos pro to co los. É o de que ti ve mos pro va,quan do no Se na do se dis cu tiu, em 1900, o as sun to.

O re que ri men to La u ro So dré caiu por uma ex ce ção di la tó ria deino por tu ni da de. Mas so bre a ma té ria de sua in di ca ção es te ve em qua se una ni mi da de a as sem bléia. O Se na dor Ra mi ro Bar cel los, que rom pe rao de ba te pelo Go ver no, de cla rou-se de todo con ver ti do pe los meus ar -gu men tos. O Se na dor Qu in ti no Bo ca i ú va, que de fen dia o Go ver no, re -co nhe ceu que, li mi ta da a con tro vér sia ao tex to do tra ta do, es ta vaco mi go a ra zão. To dos os téc ni cos da Casa me apo i a ram com o seuvoto; o Se na dor La u ro So dré, o Se na dor Bel fort Vi e i ra, o Se na dor Be -zer ril Fon te nel le , o Se na dor Álva ro Ma cha do, o Se na dor Her ci lio Luz,o Se na dor Fro ta, o Se na dor La u ro Mül ler. E, este, im pug nan do porino por tu no o re que ri men to, de cla rou hi po te car o seu voto, para quan -do a ques tão se tra vas se no Con gres so.

Con tra ba ti das aque las ma ni fes ta ções dos nos sos mi nis tros comes sas dos nos sos le gis la do res po de ria o ár bi tro he si tar en tre a in com -pe tên cia dos pri me i ros e a com pe tên cia dos se gun dos?

Se em ma té ria de ali e na ção ter ri to ri al, a al ça da é pri va ti va men tele gis la ti va, quan do quer que se aver bas se de con tra ria ao tex to do tra -ta do a sua exe cu ção, não era à opi nião dos exe cu to res, jus ta men te osréus da cul pa ar güi da, que ca be ria di ri mir o ple i to. Des sa exe cu çãopre ci sa men te é que cum pria jul gar. Como jul gá-la, se não pelo tex to do

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tra ta do, a que se acu sa vam de in fi de li da de os seus exe cu to res? São no -ções de sen so co mum e da mais or di ná ria jus ti ça, que não po di am fa le -cer a uma in di vi du a li da de bas tan te alta para exer cer, en tre dois po vos,as fun ções ar bi tra is.

Não vejo, logo, por onde nos hou ves se de as sus tar o ar bi tra men to.Entre tan to, não ha via ris co de que nele fôs se mos pa rar; por que

mais do que nós o re ce a vam os bo li vi a nos. É o que eu po de ria com pro -var au ten ti ca men te, se me fora lí ci to usar de ex pan sões a este res pe i tode ci si vas, que a re ser va di plo má ti ca pro te ge, e a que alu di na mi nha der -ra de i ra car ta. Alon ga-se a ex po si ção de mo ti vos em des cre ver a agi ta -ção ar ma da, que con fla gra va o Acre, para evi den ci ar que a sen ten çaar bi tral não re sol via a ques tão. Não a re sol ve ria, sim, bem cer to é, nemem re la ção a nós, nem a Bo lí via. Mas isso em de tri men to in fi ni ta men tema i or da Bo lí via que nos so, des de que a re vo lu ção acre a na era por nóscon tra ela. Era a Bo lí via quem ti nha de de be lar esse mo vi men to. Masnão pos su ía re cur sos, para o de be lar. É o que os che fes das suas ex pe di -ções mi li ta res ex pe ri men ta ram e con fes sa ram al ta men te. É o que o seugo ver no ras ga da men te de i xou ver a con ces são Cin tra e a con ces sãoAra ma yo. É o que até os seus di plo ma tas não nos con se gui ram ocul tar.

Pode ser que a este pro pó si to o meu ju í zo ofe re ça vi sos de sus pe i -to. Mas fale por mim uma opi nião, que o não será: a do jor nal que maislan ças tem que bra do pelo acor do de Pe tró po lis. Ao co me çar das ne go -ci a ções, em 20 de ju lho do ano tran sa to, con sa gra va O País a esta facees pe ci al do as sun to um de seus lu mi no sos edi to ri a is:

“...não po mos di fi cul da de al gu ma em con cor dar que no caso dere cor rer mos a ar bi tra gem, exi gir-nos-á mu i to es tu do, mu i to ta len to, ajus ti fi ca ção da nos sa nova ati tu de, de po is dos atos go ver na men ta is,que re co nhe ce ram como li nha di vi só ria a oblí qua, que na di re ção les -te-oes te, vai das ori gens do Ma de i ra à nas cen te do Ja va ri e nes se pres -su pos to ace i ta ram como le gi ti ma a ju ris di ção da Bo lí via ao ter ri tó riodo Acre.

“E para a fa ci li da de da ar gu men ta ção es ta mos pron tos tam bém aad mi tir que a Bo lí via con ta nes ta ques tão 80 pro ba bi li da des a fa vor, oque, de res to, o Go ver no pa re ce tam bém com pre en deu, quan do pro -pôs dar-lhe uma com pen sa ção em di nhe i ro ou em ter ras pela re gião decujo do mí nio a de se ja mos ver pri va da. Em que é, po rém, que a ar bi tra -gem adi an ta à Bo lí via?

“Não pas sa ra de cer to pelo pen sa men to dos ho mens pú bli cos doBra sil a idéia de des res pe i ta rem ca vi lo sa men te o la u do, mas o fato dasen ten ça ser fa vo rá vel às pre ten sões bo li vi a nas pode não pos su ir a ne -ces sá ria in fluên cia para re fre ar os ím pe tos de al guns mi lha res de ho -mens que não es tão dis pos tos a to le rar o jugo do Go ver no de La Paz elevá-los até a cons ti tu i ção de um Esta do in de pen den te.

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“Por mais alhe io que o Bra sil se con ser ve a esse mo vi men to, nãolhe é pos sí vel evi tar que em ter re no in dis pu ta vel men te bo li vi a no, es sasagi ta ções la vrem e tri un fem; e tudo faz crer que as sim acon te ce rá, semque a Bo lí via dis po nha de ele men tos para sub ju gar a ten ta ti va de se pa -ra ção. Não são pro fe ci as de sar ra zo a das que for mu la mos: a li ção dosfa tos aí está bem elo qüen te, de mons tran do que aque la Re pú bli ca nãose acha apa re lha da para re sis tir à in sur re i ção dos acre a nos. Em taiscir cuns tân ci as, para que lhe ser ve o ter ri tó rio?

“É pre ci so no tar que o Bra sil, se qui ses se a es po li a ção da Bo lí via,nada mais ti nha a fa zer do que cru zar os bra ços e de i xar Plá ci do deCas tro com a sua gen te le var por di an te o seu ata que às for ças da que laRe pú bli ca. Com isso só te ría mos lu cra do ma te ri al men te, por que osmem bros do sin di ca to ame ri ca no, im pos si bi li ta dos de to ma rem pos sedos ter re nos que lhe ha vi am sido con ce di dos, de sis ti ri am da ex plo ra -ção, re cla man do da Bo lí via uma avul ta da soma, por per das e da nos, e,cons ti tu í do o Acre em Esta do li vre, vi ven do dos seus re cur so pró pri osha bi ta do e go ver na do por bra si le i ros, es tá va mos nós tran qüi los so brea in te gri da de do nos so ter ri tó rio e so bre os be ne fí ci os que o nos so co -mér cio co lhe ria de se me lhan te es ta do de co i sas.

“Inter vi mos no mo men to opor tu no, para evi tar à Bo lí via uma der -ro ta mi li tar tre men da e a per da de fi ni ti va sem com pen sa ção al gu ma,de to dos os sa cri fí ci os até ago ra em pre ga dos para man ter na que la re -gião a sua au to ri da de, e, o que é mais, a di mi nu i ção do seu pró prio ter -ri tó rio, por que Plá ci do de Cas tro iria avan çan do mais para o sul ein cor po ran do ao seu Esta do in de pen den te nova ter ras opu len tas emse rin ga is. O que pa re ce ra à Bo lí via uma in só li ta agres são foi um ser vi -ço re le van te.

“Pois se isto é o que vai acon te cer, que in te res se pode ter a Bo lí viaem fir mar por um la u do a sua ju ris di ção no Acre? Me lhor do que nóspor que é ab so lu ta men te in sus pe i to, fala o Sr. L. Ro me ro, Go ver na dordo Ter ri tó rio das Co lô ni as, e que ca pi tu lou em Por to Acre, na car ta di -ri gi da ao Sr. Ge ne ral Pan do so bre a im pos si bi li da de da Bo lí via con ti -nu ar a man ter o seu do mí nio na que le ter ri tó rio.

“Até ago ra a Bo lí via só teve pre ju í zos, ma te ri a is e de vi das, naocu pa ção do Acre, e, para que co me ças se, en fim, a co brar al guns lu -cros, foi ne ces sá rio que o Bra sil ocu pas se a re gião e di vi dis se com elame ta de da ren da de ex por ta ção. Se para ela o Acre é uma fon te de gas -tos e, o que é pior, um sor ve dou ro de exis tên ci as pre ci o sas, se não lhe épos sí vel ra di car a sua au to ri da de nes sa ex ten sa zona, como já fi cou so -be ja e do lo ro sa men te pro va do, para que in sis tir na re i vin di ca ção deseus di re i tos pela ar bi tra gem?

“Ao Bra sil con vém o Acre e para o pos su ir em paz está dis pos to adar à Bo lí via uma ra zoá vel com pen sa ção. Se esta in sis tir pela ar bi tra -

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gem, ace de re mos aos seus de se jos, mas a Bo lí via só terá a per der comessa am bi ci o na da so lu ção. Re co nhe ci do o nos so di re i to, fica ela no de -sem bol so das lar gas quan ti as que em pre gou na ad mi nis tra ção doAcre; ve ri fi ca do o seu, en con tra rá de novo a em bar gar-lhe o pas so a le -gião au da ci o sa dos in de pen den tes acre a nos e os de sas tres que ago ra oBra sil evi tou dar-se-ão fa tal men te, le van do aque la Re pú bli ca aos maispe sa dos sa cri fí ci os e às mais cru éis hu mi lha ções.

“Ou a Bo lí via abre mãos do Acre por um acor do hon ro so, ga -nhan do no ne gó cio, ou aguar da o la u do do ár bi tro e, qual quer que sejaa de ci são, pode con si de rá-lo ir re mis si vel men te per di do. Esta é a si tu a -ção ver da de i ra, que ne nhum es pí ri to es cla re ci do pode ter a ve le i da dede al te rar com de cla ma ções de li ris mo in ter na ci o nal, como pa re ce quese está fa zen do na im pren sa bo li vi a na.”

Assim se enun ci a rá o País, e de modo ir re fu tá vel.Se ria pos sí vel que só o go ver no bo li vi a no fos se in sen sí vel a essa

re a li da de? Não. Não o po dia ser, e não o era. Dis to hou ve fran cos in dí -ci os. Por que mo ti vo, a não ser esse, te ria sur gi do em se tem bro o al vi tre de por como ob je to ao ar bi tra men to o fi xar a equi va lên cia do ter ri tó rioacre a no em ter ras in con tro ver sa men te bra si le i ras, quan do nun ca nin -guém fa la ra no re cur so ar bi tral se não como pro ces so des ti na do a ad ju -di car o Acre àque la das duas na ções, cujo fos se? Se a Bo lí via já nãoque ria o ar bi tra men to com essa mis são me ra men te ju di ci al de li qui dardi re i tos, e trans for ma va em es ti ma do mer can til de va lo res por al bor -car, é que ti nha a vi são cla rís si ma de ha ver per di do ir re mis si vel men te o Acre, as sim na par te li ti gi o sa, como na se nho re a da pela re vo lu ção, as -sim ao nor te, como ao sul de pa ra le lo 10°20’.

Seus ape los ao ar bi tra men to, logo, não po di am ser sin ce ros. Eraape nas há bil ma no bra, para nos in du zir a fu gir mos do que ela fu giacom mais sé ri os mo ti vos e cons ciên cia mais viva do pe ri go. Assim quenão nos de vía mos de i xar ilu dir, como de i xa mos, pela es gri ma di plo má -ti ca dos seus ne go ci a do res. Se hou vés se mos pa ra do com de sem ba ra ço o fal so gol pe, de que fa zi am men ção, e ar ros ta do o es pan ta lho, com que nos ace na vam, des co ber to logo o jogo, não tar da ria a Bo lí via em secon for mar às des van ta gens da sua si tu a ção, re nun ci an do à exi gên ciade com pen sa ções ter ri to ri a is, e ace i tan do sim ples men te na in de ni za -ção pe cu niá ria o pre ço de uma com po si ção eqüi ta ti va.

Ce den do-lhe, por tan to, o ter ri tó rio, que lhe ce de mos, sub me te -mo-nos vo lun ta ri a men te a um sa cri fí cio, a que, com me nos pres sa emais fir me za, nos te ría mos pou pa do.

De sen vol vi o pri me i ro fun da men to do meu as ser to.Di rei ago ra do se gun do.Ao abrir das ne go ci a ções, não que ria a Bo lí via, já eu o dis se, ou vir

to ca rem-lhe em di nhe i ro. El ho nor y el ter ri tó rio no se co ti zan, era a

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fór mu la da re pul sa ma go a da e al ti va. Fa zia-se de solo uma eqüi po lên -cia da hon ra na ci o nal, e, como a hon ra não se taxa em nu me rá rio, tãopou co se po dia ta ri far a ter ra.

A fór mu la se ria, tal vez, jus ta, se se tra tas se de solo efe ti va men tein cor po ra do à pá tria, isto é, de ter ras so bre as qua is a Bo lí via exer ci tas -se ou pu des se exer ci tar ocu pa ção real. Mas, sen do ex clu si va men te bra -si le i ro a sua de pen dên cia ge o grá fi ca, ex clu si va men te bra si le i ra a suari que za, ex clu si va men te bra si le i ra a sua po pu la ção, ex clu si va men tebra si le i ro o im pé rio ali exer ci do pelo ho mem so bre a gle ba, e não ten do o go ver no bo li vi a no pos si bi li da de ne nhu ma de o ar re ba tar às for çasbra si le i ras que o do mi na vam, a ex ce ção de pun do nor na ci o nal, opos taà so lu ção pe cu niá ria, era uma de cla ma ção vã. Os me lin dres na po leô ni -cos da Fran ça não se aba te ram, ven den do a Lou si a na aos Esta dos Uni -dos. O or gu lho da Áus tria não se en xo va lhou, ce den do os seus di re i tosno La u em bur go à Prús sia, em tro co de ouro. A so ber ba da Rús sia nãoem pa li de ceu, pa gan do-se do Alas ka em dó la res ame ri ca nos.

Tam bém os bo li vi a nos não se ati ve ram mu i to à sua ex ce ção pe -remp tó ria. De um su biu o nos so mi lhão pri mi ti vo a mi lhão e meio; demi lhão e meio a dois; con tra in do-se as pre ten sões ter ri to ri a is da nos savi zi nha, à me di da que se ele va va a ofer ta pe cu niá ria, como se ave ri gua,co te jan do as cláu su las da pri me i ra con tra pro pos ta bo li vi a na com as do tra ta do de 17 de no vem bro e as mo di fi ca ções in ter mé di as a es ses doisex tre mos. Já o go ver no bo li vi a no, pois, não se jul ga va no do a do pelocon tra to de me tal. Já re ce bia mo e da a tro co de solo. E, se já o re ce biaem par te, por que o não re ce be ria no todo? Se já se po dia con tar em va -lor de mer ca do uma por ção do Acre, por que não lhe mer car mos names ma es pé cie o res to?

Trans fe ria-nos a Bo lí via 191.000 qui lô me tros qua dra dos de ter rasex ce len tes, que in cul ca va ou pre su mia suas, en tre gan do-lhe nós 3.163qui lô me tros de, ao que se diz, ala ga di ços im pres tá ve is. É nes ses ter mos que se jus ti fi ca o ne gó cio. Admi tin do mes mo, po rém, que os 3.163 qui -lô me tros por nós ce di dos, mui in fe ri o res, se gun do os apo lo gis tas dotra ta do, fos sem igua is em qua li da de à dos 191.000 ce di dos pela Bo lí via,so bra ri am des te to tal 187.837 qui lô me tros, que não fo ram tro ca dos emter ras, mas com pra dos a di nhe i ro. Ora, quem ali e na a peso de li bras es -ter li nas 187.837 qui lô me tros de solo, por que não alhe a ria igual men te atro co de so be ra nos os 3.163 qui lô me tros res tan tes?

Não se com pre en de esse fal so pu dor, afer ra do a uma par ce la mí -ni ma do chão por nós ad qui ri do. É ab so lu ta men te um con tra-sen so. Anos sa aqui si ção foi, na sua qua se to ta li da de, uma com pra e ven da. Por -que, pois, a in ter ven ção da per mu ta quan to a uma exí gua fra ção do ter -ri tó rio trans fe ri do? Ten do pago em nu me rá rio cin qüen ta e nove par tesdo Acre (187.837 so bre 191.000), não se con ce be que só a se xa gé si ma

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(3.163 so bre 191.000) se hou ves se de es cam bar em ter ras. Argu men tás -se mos a soma da in de ni za ção, para co brir a di fe ren ça. É o mais que senos po de ria exi gir.

Mas nem para tal ha via base. E, com o de mons trar, di rei, por fim, da mi nha ter ce i ra con tra di ta.Tras pas sa das à Bo lí via as ter ras, que lhe tras pas sa o acor do de Pe -

tró po lis, nada ha via que acres cen tar. Esta va li be ral men te re tri bu í da anos sa vi zi nha. De um lado, por que o ter ri tó rio que nos trans mi te, com serva li o so, ou não era dela, ou ela o não po dia fa zer seu. Do ou tro lado, por -que as ter ras que lhe da mos, com se rem más em qua li da de, são, para aBo lí via, as mais pre ci o sas pela si tu a ção. Abrin do-lhe aces so ao rio Pa ra -guai, re a li za esta nos sa con ces são ter ri to ri al, de fe i to, a ma i or as pi ra çãoda que le país, des cor ti nan do ao seu fu tu ro um ho ri zon te me di do até ago ra mais pelo vôo dos seus so nhos que pelo al can ce das suas es pe ran ças.

Na car ta di ri gi da, em 1883, a D. Pe dro II pelo pre si den te Cam pé ro, que i xan do-se amar ga men te das sem ra zões in fli gi das à Bo lí via pelotra ta do de 1867, o de que so bre tudo se in dig na va o che fe da que la na -ção, era de que os li mi tes ali fi xa dos lhe cor tas sem o in gres so àque lerio. E, a este pro pó si to, cla ma va: “Esta com bi na ción ar ti fi ci al, opu es ta a los de sig ni os de la na tu ra le za, man ti e ne en el co ra zón del pu e blo bo li vi -a no un sen ti mi en to de do lo ro sa pre o cu pa ción, in des truc ti ble por supro pria esen cia, por que le pri va de un ór ga no res pi ra to rio que le ha bíacon ce di do la vo lun tad del Su pre mo Ha ce dor, y por que tal pri va ciónau men ta su ma les tar de na ción me di ter ra nea y le im pi de por esa par tela po si bi li dad de ex pan sión y el pro ver al au men to de su pros pe ri dadpor el trá fi co co mer ci al, di rec to y es pe di to.” (Op. Cit., p. 6-7).

Ora bem. Era to lhi da à Bo lí via a sua ex pan são. Era-lhe ve da do ode sen vol vi men to co mer ci al. Era-lhe de ne ga do o ór gão res pi ra tó rio.Era-lhe co mi na da a an gús tia da as fi xia. Des se mal es tar, des se em pa re -da men to a eman ci pa o novo tra ta do. Ras ga-lhe o am bi en te fran co dasco mu ni ca ções. Fala ri be i ri nha das gran des águas que le vam ao mar.Qu e bra-lhe a cla u su ra opres si va de na ção me di ter râ nea. Fran que -ia-lhe ao co mér cio uma era nova. Dota-a, em suma, dos pul mões, queela in ve ja va. E não bas ta? De um tra ço esse ajus te gran je ou ao povo bo -li vi a no o es pa ço, o ar li vre, a res pi ra ção in ter na ci o nal, que lhe min gua -va. Pois tudo isso não lhe res sar ci ria com van ta gem, à lar ga, os seusdi re i tos ide a is, ir re a li zá ve is, a um ter ri tó rio con tra ele in ven ci vel men tere vol ta do, a um ter ri tó rio para ele ir re me di a vel men te per di do?

Di re i tos lhes cha mei eu. Mas o no bre mi nis tro, na ex po si ção demo ti vos, lhes cha ma “ônus”, ônus de que, ale ga V. Exa, li ber ta mos a na -ção vi zi nha e ami ga. Pois que mais afor tu na do ne gó cio do que res ga -tar-se al guém de um ônus, des ca ti var-se dele, a tro co, ain da, em cima

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de be ne fí ci os ines ti má ve is, como os que, para a nos sa ami ga e vi zi nha,re pre sen ta o aces so di re to às águas do Pa ra guai?

Con si de re mos ago ra a tran sa ção, da ou tra face: o de sem bol so pe -cu niá rio e o ca mi nho de fer ro. Ou tor ga dos es tes dois pro ve i tos, ha ve -ria ain da lu gar, em uma co mu ta ção eqüi ta ti va, para o ter ce i ro fa vor, aces são ter ri to ri al?

Pa re ce que não.Não per ca mos de vis ta que, da nos sa aqui si ção pelo tra ta do, per to

de três quar tas par tes, a sa ber, 142.900 qui lô me tros qua dra dos, abran -ge o Acre li ti gi o so, isto é, o Acre bra si le i ro pelo tra ta do de 1867 e bra si -le i ro por atos de pos se qua se duas ve zes se cu lar. Em re la ção a esse,por tan to, não tí nha mos nada que ha ver por com pra, ou tro ca. Te ría -mos sim ples men te que de ba ter uma tran sa ção, ou, em ou tras pa la vras,que pa gar a co mo di da de ob ti da em nos for rar mos aos tra ba lhos, des -pe sas e con tin gên ci as do ple i to. E quem ne ga ria que o pre ço des se be -ne fí cio, o sal dás se mos nós ge ne ro sa men te com a cons tru ção daes tra da Ma de i ra e Ma mo ré?

Ape sar dos tra ta dos de 1867 e 1882, a Bo lí via nos não re pu ta vaobri ga dos a cons ti tuí-la. Te mos a pro va na opi nião do pró prio pre si -den te atu al da que la Re pú bli ca, que, ain da em 1897, acon se lha va se le -vas se a efe i to aque la via fér rea por co o pe ra ção fi nan ce i ra dos doispa í ses con fi nan tes. “Nada se ria mas opor tu no”, es cre via D. Ma nu elPan do, na sua Vi a je a la Re gi on de la Goma Elás ti ca, “da das las con di ci -o nes pre sen tes del co mer cio que se sos ti e ne por la via de las Ca chu e las, que um ar re glo di plo má ti co en tre Bra sil y Bo lí via, en ca mi na do al fimde es ti mu lar la eje cu ción de esa obra, por me dio de ga ran tías y de con -ce si o nes que sir van de ali ci en te a los em pre sa ri os. Bo lí via em ple a rámuy bien una pe que ña par te de su ren da adu a ne ra en el ser vi cio de esaga ran tía sub ven ci o nal en fa vor del fer ro car ril Ma de i ra – Beny-Ma mo -ré... Es ti em po de que se unam los es fu er zos de Bo li via y del Bra sil, para pro mo ver el ade lan to de los ne go ci os que lle van al Ma de ra, y el me dioúni co, el re sor te más efi caz para es ti mu lar lo, es, sin duda, la cons truc -ción del fer ro car ril que nos ocu pa.” (p. 115-116.)

Esses dis pên di os, que os es ta dis tas bo li vi a nos, e à sua fren te opre si den te atu al da Bo lí via, acor co a vam o Te sou ro des se país a ou sar,es ti pu lan do por sua par te uma ga ran tia de 2 ½%, as su me-os ago ra to -tal men te o Bra sil. E em quan to lhe mon ta rão? Ain da que seja so men teem dois mi lhões es ter li nos, não será pou co. Aliás sei de que o an ti gocon ces si o ná rio, Mr. Church, os or ça va em três. E dou mais pe los cál cu -los do in glês se gu ro e prá ti co do que pe los oti mis mos de oca sião, tãofá ce is em amol gar ao je i to do seu en tu si as mo as di fi cul da des do pre ço,quan to as do tem po.

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Mas não te mos que me ter na con ta uni ca men te o nos so de sem bol -so pe cu niá rio, se não ain da as van ta gens imen sas, que daí ad vi rão aopro gres so bo li vi a no. Dir-se-á que ne las tam bém vai par ti ci par o Bra sil.

Mas se este até ago ra as dis pen sa va? Se ne las não co gi ta va? Se, pormeio de uma si tu a ção fi nan ce i ra em ba ra ço sa, ago ra se aven tu ra a essedis pên dio, só por sa tis fa zer com ele a uma as pi ra ção da nos sa vi zi nha?

O que res ta va por sal dar, pois, eram os 48.000 qui lô me tros qua dra -dos do Acre me ri di o nal. Que é, po rém, o que a Bo lí via ali pos su ía? Aluta, a guer ra, a per da inú til de vi das, a dis si pa ção da sua mo des ta re ce i -ta em ex pe di ções su ces si va men te ma lo gra das. O im pos sí vel, em suma,era o que ela pos su ía ali. E dis so é que se des car ta com o tra ta do, em bol -san do pela re nún cia a essa im pres ta bi li da de, pela ex tin ção des se ônus,na in sus pe i ta fra se da ex po si ção de mo ti vos, 40.000 con tos de réis. Alifora ven ci da a Bo lí via, por uma re vo lu ção re nas cen te e in sub mis sí vel.Não po dia, sen sa ta men te, re no var luta com aque le ini mi go, uma po pu la -ção de ati ra do res com pa rá ve is aos ja gun ços ba i a nos, dis pu tan do a ter ra como quem de fen de a pró pria casa, e in ven cí vel nela como um exér ci tode bra vos en trin che i ra do nos seus la res con tra for ças co le tí ci as, mes qui -nhas, des mo ra li za das pe las pri va ções, ce i fa das pela fe bre, exa us tas pela tra ves sia do de ser to. E des se de sas tre em que não ti nha des for ra pos sí -vel, sai re ce ben do per to de um con to de réis por cada qui lô me tro de soloper di do no ir re pa rá vel des ba ra to de suas ar mas.

Pou cas ve zes se terá fe i to ne gó cio com pa rá vel. E ain da não che ga.Ain da lhe acres cen ta mos, a tro co des sas ter ras, que ela ti nha a cer te zade nun ca po de rem vir a ser suas, par te das qua is va mos ple i te ar ago racom o Peru, e que, en tre tan to, lhe com pra mos a cer ca de con to de réis oqui lô me tro, ain da lhe va mos adi ci o nar de que bra 3.164 qui lô me trosqua dra dos da nos sa fron te i ra lim pa, in con cus sa, de sem bar ga da, ne ces -sá ria, se gun do as mais au to ri za das opi niões mi li ta res a de fe sa na ci o nal.

Eu não com pre en do. Que se ali e ne ter ri tó rio pá trio, em não ha -ven do ou tro re mé dio, é na tu ral. Se, para in te i rar o pre ço de uma aqui -si ção van ta jo sa e ne ces sá ria, como a do Acre, se hou ves se mis ter dejun tar a ou tros esse va lor, se ria, tal vez, ad mis sí vel. Mas es tan do elapaga de so bra com o di nhe i ro, que en tre ga mos, e a es tra da, que va moscons tru ir, a mu ti la ção, que se nos pro põe, do ter ri tó rio bra si le i ro, éuma pro di ga li da de in des cul pá vel.

Eu me ca la ria, se esta con vic ção me não es ti ves se bra dan do nacons ciên cia com uma for ça, que me não per mi te emu de cer. É com mu i -to pe sar que me de cla ro, ne gan do o meu su frá gio, de po is de ter ne ga do a mi nha as si na tu ra, para a con clu são des te acor do, ao Go ver no que me con fi ou e de que ace i tei a mis são de o ne go ci ar. Tive mão em mim atéeste mo men to, por não que brar o si lên cio, de i xan do cor rer as in ter ro -ga ções, as in si nu a ções, as in cre pa ções, de que tem sido alvo o meu

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nome, pelo ar ro jo, a que me atre vi, de não me as so ci ar ao po der no seutri un fo. Mas, che ga da a hora das ex pli ca ções, não acu dir eu com as mi -nhas era de ser tar do meu pos to.

Para mos trar, po rém, que me cin jo ao que não po dia evi tar sem de -ser ção qua li fi ca da, aí está o meu pro ce di men to até hoje. Fui com o Go ver -no até onde era lí ci to, e ain da após, quan do já o de i xa ra, o au xi li ei comde sin te res se e le al da de. Ha via, no ce le brar do tra ta do, uma dú vi da gran -de, a ma i or de to das, por que in te res sa va, pela ori gem, a sua le gi ti mi da de:a ques tão dos di re i tos do Go ver no Fe de ral a ali e nar ter ras na ci o na is semo be ne plá ci to dos Esta dos. Esta va eu já des ti tu í do, quan do a este res pe i tome con sul tou o re la tor do as sun to na Câ ma ra dos De pu ta dos. Não he si tei. Dei-lhe ime di a ta e fran ca men te, o meu pa re cer, fa vo rá vel ao Go ver no,des fa zen do-me as sim da mais po de ro sa das ar mas con tra o ato, que com -ba tia. Já se vê que não me im bui es pí ri to de opo si ção, nem faço po lí ti ca.Sir vo com isen ção de âni mo a mi nha ter ra, e cre io que ao pró prio Go ver -no; por quan to onde ele se com praz em crer que se co roa de uma gló ria,eu ape nas o vejo to mar aos om bros uma res pon sa bi li da de.

Para o Sr. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res mais vale, diz ele, estaúl ti ma obra sua que as duas an te ri o res. Qu an to me não cus ta dis sen tir,em co i sa tão sé ria, de ami go tão caro e emi nen te! Eu, que co bri de flo -res aque les ca pí tu los imor ta is de sua vida, sin to as mãos to lhi das, paraso bre este es par gir ex pres sões de ad mi ra ção. E, por cú mu lo do meudes gos to, se lhe ha via so bre por ain da o de ver bal dar-se as sim uma co -la bo ra ção tão bem agou ra da, e não ter lo gra do cor res pon der, afi nal, ahon ra da sua con fi an ça e do seu con vi te se não com uma dis si dên cia,que nos se pa ra en tre as ova ções do seu tri un fo.

Cu i da o au re o la do Mi nis tro ser o país quem nela, se ma ni fes ta ere go zi ja. Des va ne ce-se o exí mio au tor do tra ta do com o fe nô me no des -ta apro va ção ge ral no mun do po lí ti co, em cuja har mo nia na ad mi ra çãodes ta obra o seu emi nen te ar ti fí cio des co bre si na is de es tar ao seu lado, qua se unâ ni me, a opi nião na ci o nal.

Mas, não. Nada mais ar ris ca do, em na ci o na li da des como a nos sa,que ava li ar os sen ti men tos po pu la res pela tona de apa rên ci as su per fi ci a -is, com que es tão em con ta to... os mi nis tros. Entre esse leve en vol tó rio,que se pre su me re fle ti-la, e a Na ção, me de i am dis tân ci as e an ta go nis mos in cal cu lá ve is. O no bre Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res é, hoje, por ex -ce lên cia, en tre os seus co le gas, o mi nis tro for te. Dir-se-ia que na sua ór -bi ta ar ras ta, como sa té li te do mi na do pela sua im pe ri o sa atra ção, todo oGo ver no, do qual nor mal men te, ape nas ti nha de ser um dos mem bros. E quan do o po der, na atu a li da de, en tre nós, se cor po ri fi ca em uma des sasin ten sas con cen tra ções pes so a is, nin guém lhe re sis te.

Mas nem tan to será mis ter, hoje em dia, para que os nos sos mi nis -tros, im pu ne men te, hip no ti zem as ma i o ri as, re vo guem a Cons ti tu i ção e

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en tre guem aos pe da ços a pá tria ao es tran ge i ro, como se fez sob o Go -ver no tran sa to, sem que, ao me nos, ocor res se, para ex pli car essa ex tre -ma ab di ca ção da so ci e da de in te i ra, o pres tí gio de uma vida che ia deser vi ços, como a do Ba rão do Rio Bran co, o ful gor de um nome glo ri fi -ca do como o seu.

Se ele aten tar nes sa his tó ria, que é de on tem, e in ti ma men te en -ten de com a de hoje, verá, na que la pá gi na fa tal da nos sa di plo ma cia,como um mi nis tro de me di a na ca pa ci da de e es cas sa com pe tên cia pro -fis si o nal des mem brou do Bra sil e re ga lou a Bo lí via 142.000 qui lô me -tros qua dra dos, aque le imen so tor rão, bra si le i ro pela ori gem, pe lostra ta dos e pela pos se. Ou tro país, nes te mes mo em ou tros tem pos, essalou cu ra te ria cus ta do a vida ao Go ver no, que a co me tes se. A mais for tedas ad mi nis tra ções, ca in do em tal de sa ti no, se ria en go li da por uma tor -men ta na ci o nal. Aqui, po rém, bas tou sa be rem que o mi nis tro des can -sa va na con fi an ça ab so lu ta do pre si den te, que este lhe não sin di ca vados atos, e era in ca paz de o exa u to rar, para que o nos so es bu lho ter ri -to ri al se úl ti mas se, como se úl ti mou, num si lên cio de no i te ve lha, en tre -cor ta do ape nas de al gu mas ra ja das vi o len tas con tra mim e os meusra ros com pa nhe i ros de pro tes to. E, se essa ade são ge ne ra li za da nãore ves tiu, em toda a li nha, a ex pres são efer ves cen te do apla u so, foi por -que a po lí ti ca de en tão, sa tis fe i ta com a so li dez do fato con su ma do, nãose deu a ex plo rar a re gião do en tu si as mo, sem pre aces sí vel, em nos sater ra, aos go ver nos opi niá ti cos e amá ve is.

To das as tu bas da apo lo gia fes te jam o Tra ta do de Pe tró po lis. Masto das elas, to das es sas vo zes, hoje exal ta das em lou vo res àque la tran sa -ção, dor mi am numa ca la da tu mu lar, quan do o go ver no pas sa do en tre -ga va gra tu i ta men te o Acre à Bo lí via, não obs tan te os es crú pu los edú vi das que esta mes ma opu nha a tão des mar ca da li be ra li da de. To das,por tan to, fo ram cor res pon sá ve is, pela sua mu dez aqui es cen te, na ge -ne ro si da de pre si den ci al, que do a va aque le ter ri tó rio aos bo li vi a nossem com pen sa ção al gu ma.

Não era para es tra nhar, pois, a sua lin gua gem de ago ra. Ou tra não lhes con di zia com a ati tu de an te ri or. Ten do con des cen di do atécom uma so lu ção, que ce dia o Acre à Bo lí via in com pen sa da men te, nãopo de ri am cen su rar uma tran sa ção, que re pu ses se em li tí gio o Acre, e ocon ver tes se em ob je to de per mu ta. A po lí ti ca Olin to de Ma ga lhãestrans fe ri ra de mão be i ja da ao es tran ge i ro gran de par te do Bra sil. A po -lí ti ca Rio Bran co lhe res ti tui essa vas ta re gião a tro co de ou tra mu i tome nor. Como se ha vi am de opor com a crí ti ca à se gun da os que san ci o -na ram com a in di fe ren ça a pri me i ra?

Para os que não ti nham tido nada que no tar à so lu ção de 1900, aso lu ção de 1903 era um acha do, um de sa fo go. O ter ri tó rio mu ti la dobra da va e san gra va por to dos os po ros. A fe ri da não era das que ci ca -

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tri zam. Nu me ro sa po pu la ção bra si le i ra, ar ma da e re vol ta con tra o jugobo li vi a no, a que os pro to co los da nos sa chan ce la ria a ti nham pre sen te -a do, afir ma va a fer ro e fogo a sua von ta de ine xo rá vel de não ser des na -ci o na li za da. Ao Go ver no de La Paz min gua va o ner vo da guer ra, paraes ma gar os nos sos con ter râ ne os, ope ran do a ane xa ção com que o mi -mo seá ra mos. O es pe tá cu lo, a que as sis tía mos, da luta, em nos sa fron te -i ra, en tre o im po ten te go ver no vi zi nho e a in tré pi da par te da fa mí liana ci o nal por nós ofe re ci da a do mi na ção es tra nha, fa tal men te con de na -va, não tar de, a con fu são e a ver go nha os au to res e cúm pli ces des seaten ta do con tra a nos sa in te gri da de e o nos so san gue. A re na ci o na li za -ção do Acre, in gra ta e lou ca men te re pu di a da pela po lí ti ca bra si le i ra,ha via de se efe tu ar por obra dos acre a nos, ante cujo de no do es mo re ci -am, di zi ma das e exa us tas, as ex pe di ções bo li vi a nas. Tem po vi ria, pois,ne ces sa ri a men te, e não lon ge, em que o ter ri tó rio bra si le i ro vol ves sede todo a sua an ti ga in te i re za, re com pon do-se uni ca men te gra ças aote naz pa tri o tis mo dos nos sos ir mãos aban do na dos.

Ata lhan do essa re a ção, que se ria, ao ven cer, o ani qui la men to mo -ral dos au to res, di re tos ou in di re tos, ati vos ou iner tes, fal tan tes ou si -len ci o sos, da vo lun tá ria do a ção do Acre à Bo lí via, o Ba rão do RioBran co for rou a uma con tin gên cia das mais in fe li zes os aver ga dos por -ta do res des sa res pon sa bi li da de. Não era pos sí vel que eles lhe re ga te as -sem o ju bi lo e as pal mas.

Mas são es ses os ex po si to res da opi nião na ci o nal? E, se, para aca bar com a efu são de san gue no Acre, che gan do a uma tran sa ção ra zoá velcom a Bo lí via, bas ta vam as com pen sa ções de ou tra or dem es ti pu la das no acor do, te mos o di re i to de apla u dir, a pre tex to da re den ção acre a na, odes fal que da nos sa fron te i ra no Ama zo nas e em Mato Gros so?

Mas é pre ci so que eu ter mi ne. Ago ra vai de li be rar o Se na do. Se ri -a men te? Não me pa re ce. A sua apro va ção já está ofi ci al men te des con -ta da. Há mu i to que a Câ ma ra abriu dis cus são das leis com ple men ta resdo tra ta do, e, pro va vel men te, nos ache de man dar apro va das, an tesque nós o apro ve mos. Não es ta rá de cre ta do, por tan to, que o ha ve mosde apro var? E que vem a ser en tão o nos so pa pel, na ra ti fi ca ção par la -men tar, se não o de me ros fi gu ran tes em uma cena su pér flua?

Não há mu i tos dias, li, em uma das fo lhas ex ta si a das com o pac tode Pe tró po lis, que, nas de li be ra ções do Con gres so Na ci o nal so bre esteas sun to, a in ter fe rên cia da Câ ma ra dos De pu ta dos é um di re i to, mas ado Se na do não pas sa rá, tal vez, de uma con ves são. O tal vez aqui era de -ma is. Nos Esta dos Uni dos é o Se na do só quem co nhe ce dos tra ta dosin ter na ci o na is. Ta ma nha che gou a ser ali, nes tes as sun tos, a so be ra niado Se na do, que ele é quem efe ti va men te di ri ge, hoje, as re la ções ex te ri -o res, que, an tes de por ele ado ta das, as con ven ções com o es tran ge i rosão ape nas pro je tos de tra ta dos, que à Câ ma ra dos Se na do res as

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emen da com a má xi ma li ber da de, e que os vin te mi lhões de dó la res dacom pra das Fi li pi nas se pa ga ram à Espa nha por ato ex clu si vo da que lacasa, sem o con cur so da ou tra. Aqui a cons ti tu i ção as so ci ou as duasnes sa atri bu i ção par la men tar. Ago ra o re vi si o nis mo dos en tu si as tas dá um pas so adi an te, e re duz a pri vi lé gio ex clu si vo da Câ ma ra o que, naAmé ri ca do Nor te, é pri vi lé gio ex clu si vo do Se na do. Por que não, se are for ma apro ve i tas se ao Tra ta do de Pe tró po lis?

Mas o que eu já não sei, é se a Câ ma ra mes mo te ria que fa zer, de -po is das ma ni fes ta ções mi li ta res, aco lhi das com al vo ro ço, em vez dere pri mi das com se ve ri da de. Altas pa ten tes do Exér ci to, co man dan tesde dis tri tos mi li ta res, ca pi tães de na vi os de guer ra, a adi an tan do-se aovoto do cor po le gis la ti vo, ár bi tro na ques tão, en de re ça ram te le gra masde apla u so ao mi nis tro, que, li son je a do com essa in tro mis são das ar -mas nas re la ções en tre o Go ver no e Con gres so, lhes deu gra ças, efu si -va men te, pela sua apro va ção ao tra ta do, le van do-se uns e ou tros,cum pri men tos e agra de ci men tos, as co lu nas dos jor na is, para im pri -mir ao caso a ma i or so le ni da de.

Destarte re ce beu o tra ta do uma es pé cie de apro va ção in co gi ta dano re gi me. Se gun do a Cons ti tu i ção, o Con gres so Na ci o nal apro va osatos de in cor po ra ção, des mem bra men to ou sub di vi são dos Esta dos,vo ta das nas as sem bléi as es ta du a is, a Câ ma ra apro va os pro je to do Se -na do, o Se na do “apro va” os pro je tos da Câ ma ra, o Pre si den te da Re pú -bli ca apro va os ajus tes e con ven ções re cí pro cas dos Esta dos. Nãoes ta tu ía a Cons ti tu i ção, po rém, que os ofi ci a is de mar e ter ra apro vas -sem os nos sos tra ta dos in ter na ci o na is. Em face dela essa atri bu i çãocom pe tia pri va ti va men te ao Con gres so Na ci o nal.

Ago ra, an tes que este a exer ça, pode avo cá-la a si o ele men to ar -ma do.

A que vi ria, isto pos to, a de li be ra ção le gis la ti va, não al can ço. Por -que ou o Con gres so abun da ria no lou vor aos atos ca rim ba dos pela for -ça, e as re so lu ções dele te ri am a eiva de co-atos; ou afron ta ria os ris cosde a con tra ri ar, e te ría mos vir tu al men te de cla ra do o con fli to en tre o ór -gão da obe diên cia e o prin cí pio da lei, en tre o le gis la dor e o sol da do. Seo in tu i to, logo, não é, como não será, bem o cre io, im pe lir o sol da docon tra o le gis la dor, ou anu lar o le gis la dor pelo sol da do, não con ce boque o Go ver no en tre pu bli ca men te nes sa ali an ça com este, em ma té riaa cujo res pe i to aque le está para pro fe rir a de ci são cons ti tu ci o nal.

Qu e ro que se jam sim ples ma ni fes ta ções in di vi du a is, e ad mi to que, a isto re du zi das, não em pe nhem a so li da ri e da de da for ça ar ma da. Mas,em tal caso, de ca in do em va lia a ho me na gem, não di mi nui em gra vi da -de a cul pa. Toda a in ter ven ção, ain da que ape nas opi nan te, dos agen tes da for ça na es pe ra da ad mi nis tra ção, da jus ti ça, ou da le gis la tu ra, ofen -de a lei, e ame a ça a or dem so ci al. Nin guém re co nhe ce ria às in di vi du a li -

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da des mi li ta res o di re i to, que às co le ti vi da des mi li ta res se re cu sa, desen ten ci ar em as sun to pen den tes do Con gres so, dos tri bu na is, ou doGo ver no. Nos tem pos do ma re chal Flo ri a no a mais pa ci fi ca enun ci a ção de um voto cons ti tu ci o nal, re ve ren te men te exa ra do em um pe ti ção aoche fe do Po der Exe cu ti vo, cus ta ram a ge ne ra is e al mi ran tes o des ter rovi o len to e a per da ime di a ta das po si ções mi li ta res. Tam bém es sas eramsim ples ma ni fes ta ções de idéi as pes so a is, e nem por isso abo na ram aos seus au to res a im pu ni da de. Era, en tre tan to, uma es pa da quem ne ga vaa es pa da tais di re i tos.

Mas, por que ir mais lon ge? Bem pode ser que a ra zão es te ja detodo com o Tra ta do de Pe tró po lis. As mi no ri as nun ca têm ra zão. Esta é, em po lí ti ca, a ver da de que não fa lha. A da his to ria, po rém, tem sido ou -tra. A mi no ria que, há trin ta e seis anos, se opu nha, em La Paz, ao tra ta -do de 1867, tam bém era de tre ze vo tos. Mas toda a gen te viu em quedeu esse pac to. Pre co ni za do como a so lu ção der ra de i ra do an ti go con -fli to en tre as duas na ci o na li da des, en tre te ve-o cada vez mais in fla ma -do, até o en so par em san gue, para, afi nal, de sa pa re cer ago ra notra ta do de 1903.

Me lhor fu tu ro ou tor gue Deus a este. E os fi lhos dos que, como eu,lhe nego hoje o voto, res ga ta rão o de sa cer to de seus pais, aben ço an doa me mó ria do es ta dis ta fe liz e be ne mé ri to por eles hoje con tra ri a docom tão pro fun do sen ti men to.

Eu me con ten to de que os meus, en tão, re ven do pa péis an ti gos,achem que seu pai de al gum modo con tri bu iu para o ob je to des tas acla -ma ções, no in gra to pa pel de ami go re sis ten te, com os con se lhos dapru dên cia e da so bri e da de.

Pe tró po lis, 28 de ja ne i ro, 1904. – Rui Bar bo sa.

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Pro po si ção no 4 do Congres so Na ci o nal, que apro va o Tra ta do de Pe tró po lis em 26 de ja ne i ro de 1904.

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DOCUMENTOS COMPLEMENTARES

AFASTAMENTO DE RUI BARBOSACOMO

PLENIPOTENCIÁRIO BRASILEIRO NANEGOCIAÇÃO DO TRATADO

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O BARÃO DO RIO BRANCO E RUI BARBOSA*

“O ho mem li vre não é in ve jo so.Ace i ta de boa von ta de aqui lo que é gran de,

E re go zi ja-se de qual tal pos sa exis tir.”

He gel

A QUESTÃO DO ACRE

Car los Hen ri que Car dim

Ao as su mir o Mi nis té rio das Re la ções Exte ri o res, em 1902, RioBran co pri o ri zou a so lu ção da ques tão acre a na, para qual só via umca mi nho: tor nar na ci o nal, por aqui si ção, o ter ri tó rio já ha bi ta do pe losbra si le i ros, con si de ran do a si tu a ção de fato e a im pos si bi li da de de lo -grar la u do fa vo rá vel em ar bi tra gem, ten do em vis ta o tra ta do de 1867,cuja in ter pre ta ção dada pelo Bra sil ti nha sido be né fi ca para a Bo lí via.

Con for me nar ra A. G. de Ara ú jo Jor ge, no im por tan te en sa io in tro -du tó rio às Obras Com ple men tas de Rio Bran co: “ Em 17 de ou tu bro de1903, isto é, um mês an tes da as si na tu ra do tra ta do, o Se na dor Rui Bar bo -sa, que, des de ju lho des se ano, vi nha co la bo ran do com o pres tí gio e a au -to ri da de de seu nome nas ne go ci a ções como um dos Ple ni po ten ciá ri osbra si le i ros, con jun ta men te, com Rio Bran co e Assis Bra sil, jul gou de ver so li ci tar dis pen sa des sa co mis são. Re pug na va-lhe com par tir a res pon sa -bi li da de de con clu são de um acor do em que as con ces sões do Bra sil à Bo -lí via se lhe afi gu ra vam ex tre ma men te one ro sas e, ao mes mo tem po, nãode se ja va, por es crú pu los não com par ti lha dos pe los com pa nhe i ros demis são, ser obs tá cu lo à co ro a ção pa cí fi ca de um li tí gio que ame a ça vaeter ni zar-se com pe ri go imi nen te da or dem in ter na e, qui çá, da paz ame -ri ca na. E hon ra da men te, pre fe riu exo ne rar-se da alta fun ção a que em -pres ta ra o bri lho in com pa rá vel de seu ta len to”.

* Textos extraídos do livro Rio Branco, a América do Sul e a Modernização do Brasil.Brasília, FUNAG/IRBr/IPRI/EMC, Edições, 2002.

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Ara ú jo Jor ge trans cre ve, na obra ci ta da, duas car tas tro ca das en -tre Rio Bran co e Rui Bar bo sa so bre a ques tão acre a na, que bem ex pli -cam esse epi só dio, como tam bém re ve lam o grau da ami za de ere cí pro ca ad mi ra ção que unia os dois ho mens pú bli cos. As re fe ri dascar tas es tão re pro du zi das em Ane xos des te tex to. São do cu men tos im -por tan tes não só pela pen dên cia Bra sil/Bo lí via so bre o Acre, mas tam -bém por re ve lar dois es ti los dis tin tos, mas não an ta gô ni cos, de tra tarum tema in ter na ci o nal. O de Rio Bran co, mar ca do pela pa ciên cia e cer -to grau de oti mis mo, o de Rui, pelo tom dra má ti co e car re ga do de hi pó -te ses pes si mis tas; am bos, po rém, com um pon to em co mum: opa tri o tis mo e a sin ce ri da de na de fe sa do in te res se pú bli co.

O de sen la ce da ques tão acre a na de mons trou o acer to da es tra té giade Rio Bran co e não a re a li za ção das hi pó te ses pes si mis tas de Rui Bar -bo sa. Essa es tra té gia ti nha como meta evi tar a eclo são de um con fli to ar -ma do na Amé ri ca do Sul, com o en vol vi men to di re to do Bra sil, fato quete ria con se qüên ci as gra vís si mas para o pre sen te e o fu tu ro das pos si bi li -da des de ope ra ção di plo má ti ca do país jun to a seus vi zi nhos. Agre -gue-se, tam bém, a ób via de fe sa da ocu pa ção his tó ri ca e pa cí fi ca dosbra si le i ros na re gião em dis pu ta. Rui afer ra-se a uma vi são de po lí ti caex te ri or mu i to con di ci o na da por uma con jun tu ra in ter na pre sen te e poruma per cep ção do ter ri tó rio como va lor sa gra do. Rio Bran co ma ni fes ta nes sa di fí cil ne go ci a ção seu es ti lo de fa zer a ou tra par te tam bém par teda so lu ção da pen dên cia, a idéia de ver na ou tra par te não um ini mi go ou ad ver sá rio, mas en ten dê-la como cúm pli ce da so lu ção al can ça da. Ruicom por ta-se den tro de rí gi do pa ra dig ma re a lis ta e che ga mes mo a afir -mar, em car ta a Rio Bran co, de 14 de se tem bro de 1903, que, “ se a in sis -tên cia da Bo lí via fos se ir re du tí vel, abri mos mãos da ne go ci a ções,de i xan do-a en tre gue à sua fra que za con tra os in sur gen tes do Acre, maisca pa zes de re sol ver a ques tão do que o go ver no bra si le i ro”.

Re gis tra-se ain da, no va men te, a pa ciên cia de Rio Bran co emman ter, com se re ni da de e fir me za, sua li nha de ne go ci a ção com a Bo lí -via em meio a ata ques pú bli cos, como o de Mi guel Le mos, para quemas sis tia, no epi só dio, à “ Ro cha Tar péia do Acre, de po is do Ca pi tó lio daGu i a na e das Mis sões”.

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CARTA DE RIO BRANCO A RUI BARBOSA,DE 20-10-1903

“Pe tró po lis, 20 de ou tu bro de 1903

Exmo Ami go e Sr. Se na dor Rui Bar bo sa,

Pelo te lé gra fo já pedi des cul pas a V. Exa da de mo ra em res pon dera sua car ta de 17. Eu a re ce bi na Se cre ta ria, às 11 ho ras da ma nhã des se dia, quan do es pe ra va a hon ra e o pra zer de sua vi si ta, não só para quejun to exa mi nás se mos na Car ta Ge ral da nos sa fron te i ra com a Bo lí viaas pe que nas re ti fi ca ções que o Sr. Assis Bra sil e eu es ta ría mos dis pos to a con ce der, mas tam bém para me abrir in te i ra men te com V. Exa, comoo fa ria se es ti ves se tra tan do com o nos so sa u do so ami go Ro dol fo Dan -tas. Eu que ria re pe tir nes sa oca sião a V. Exa o que já lhe ha via dito ra pi -da men te há dias na pre sen ça do Sr. Assis Bra sil, isso é, que se V. Exa

ti ves se al gu ma he si ta ção, não se de via cons tran ger por mo ti vo de de li -ca de za pes so al e to mar pe ran te o país a res pon sa bi li da de de uma so lu -ção que lhe não pa re ça a me lhor ou que, se gun do pre vi sões pró pri as ede ami gos seus, pos sa ir ri tar uma par te da opi nião. V. Exa sabe quan too pre zo e quan to pre za va mes mo an tes de ser tido a hon ra de o co nhe -cer pes so al men te. Deve, tam bém, com pre en der quan to pe nho ra ram ami nha gra ti dão as pro vas de be ne vo lên cia que me tem dado em es cri -tos seus des de ou tu bro de 1889, e par ti cu lar men te nos seus be lís si mosar ti gos de 2 e 4 de de zem bro de 1900. O que vale hoje no con ce i to dosnos sos con ci da dãos devo-o prin ci pal men te a V. Exa que, com o gran depres tí gio do seu nome, tan to en ca re ceu os meus ser vi ços no es tran ge i -ro.Não foi para di mi nu ir as mi nhas res pon sa bi li da des que pedi a V. Exa

a sua va li o sa co la bo ra ção no ar ran jo das di fi cul da des do Acre: foi como úni co pen sa men to de lhe dar um pe que no tes te mu nho de mi nha gra -ti dão. Con ven ci do, como es ta va, de que uma so lu ção que pu ses se ter -mo às com pli ca ções ex te ri o res em que an da mos en vol vi dos des de 1899 e, ao tem po, di la tas se as fron te i ras do Bra sil, não po de ria de i xar de me -re cer a apro va ção do país in te i ro, de se jei que V. Exa con tri bu ís se para

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es ses re sul ta dos e acre di tei que lhe pu des se ser agra dá vel con cor rerpara uma im por tan te aqui si ção ter ri to ri al, a pri me i ra que fa zer mosapós a Inde pen dên cia. V. Exa não con cor da em tudo co nos co: con si de -ra mu i to pe sa do os sa cri fí ci os que o acor do di re to nos im po rá e acre di -ta que, no es ta do atu al do es pí ri to pú bli co, com as in fluên ci asde sor ga ni za do ras que atu am so bre a opi nião, ha ve ria pe ri go na so lu -ção que nos pa re ce de mais van ta gem para o Bra sil. Não se ria, pois, ra -zoá vel pe dir-lhe eu que to mas se par te nas res pon sa bi li da des que oacor do di re to acar re ta. V. Exa é es ta dis ta aca ta do por toda a na ção e eute ria gran de sen ti men to se, in vo lun ta ri a men te, que ren do dar-lhe umapro va de apre ço e de re co nhe ci men to, aba las se de qual quer modo asua si tu a ção po lí ti ca, que de se jo ver cada vez mais fir me e for ta le ci da.Incli no-me, por tan to, di an te da re so lu ção que me anun cia em sua car ta, la men tan do ver-me pri va do da gran de hon ra de o ter por com pa nhe i ro nes ta mis são. Peço, en tre tan to, li cen ça para sub me ter ao exa me deV. Exa a mi nu ta do tra ta do, logo que es ti ve rem bem as sen ta das as suascláu su la É pos sí vel que ob te nha mos ain da al gu mas mo di fi ca ções que sa tis fa çam a V. Exa sei bem que os sa cri fí ci os pe cu niá ri os que a na çãoterá que fa zer, se o tra ta do for apro va do pelo Con gres so, se rão gran -des, mas tam bém são mu i to gran des as di fi cul da des que va mos re mo -ver e urge re mo vê-las para que pos sa mos, quan to an tes, con ter asin va sões pe ru a nas na zo nas em li tí gio. Se com prás se mos dois gran desen cou ra ça dos gas ta ría mos im pro du ti va men te tan to quan to que re mosgas tar com esta aqui si ção de um vas tís si mo e rico ter ri tó rio, já po vo a -do por mi lha res de bra si le i ros que as sim li ber ta re mos do do mí nio es -tran ge i ro. Pelo ar bi tra men to no ter re no do tra ta do de 1867,co me ça ría mos aban do nan do e sa cri fi can do os bra si le i ros que de boafé se es ta be le ce ram ao sul do pa ra le lo 10 º 20’, por onde cor re a prin ci -pal par te do rio Acre, e é mi nha con vic ção que mes mo os que vi vem en -tre esse pa ra le lo e a li nha oblí qua Ja va ri-Beni fi ca ri am sa cri fi ca dos.Não cre io que um ár bi tro nos pu des se dar ga nho de ca u sa de po is de 36anos de in te li gên cia con trá ria à que só co me çou a ser dada pelo go ver -no do Bra sil em prin cí pi os des te ano. O nos so ami go Se na dor Aze re dolem brou há dias ao Pre si den te da Re pú bli ca que os Esta dos Uni dos daAmé ri ca pa ga ram à Espa nha qua tro mi lhões de li bras pe las Fi li pi nas,cuja su per fí cie e po pu la ção são mu i to mais con si de rá ve is que as doAcre. É cer to, mas deve-se ter em con ta que esse pre ço foi im pos to aoven ci do pelo ven ce dor, a qual, para po der di tar a sua von ta de, des pen -deu an tes, com a guer ra, so mas avul ta dís si mas. É por que en ten do queo ar bi tra men to se ria a der ro ta que eu pre fi ro o acor do di re to, em bo raone ro so. Este re sol ve as di fi cul da des pre sen tes, o ou tro as de i xa de pée pro va vel men te da ria lu gar a que os ter ri tó ri os ocu pa dos por bra si le i -ros ao sul da li nha oblí qua fos sem re par ti dos en tre a Bo lí via e o Peru.Estou con ven ci do de que os seus ha bi tan tes não po de ri am lu tar com

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van ta gem con tra a Bo lí via e me nos ain da con tra esta e o Peru ali a dos.Por ou tro lado, es tou mu i to cer to de que os agi ta do res e os ad ver sá ri osdo Go ver no, tam bém, ata ca ri am o re cur so do ar bi tra men to. É este oex pe di en te que de se ja vam. E de se jam ain da hoje, os ple ni po ten ciá ri osbo li vi a nos. Não pos so pre ver o aco lhi men to que en con tra rá nos doisCon gres sos o tra ta do. Pelo es for ço que aqui fa ze mos para de fen der pe -que nos tre chos do ter ri tó rio, ala ga di ço e ina pro ve i tá ve is, po de moscon jec tu rar da opo si ção que na Bo lí via vai en con trar a per da de 160 ou170 mil qui lô me tros qua dra dos. Se o nos so Con gres so re je i tar o acor -do di re to, nas con di ções em que o ti ver mos po di do re a li zar, a res pon -sa bi li da de fi ca rá sen do sua. Eu as su mi rei in te i ra a do acor do, e pen soque a po si ção do Pre si den te não fi ca rá com pro me ti da por isso. Atéaqui, como V. Exa sabe, só te mos tido com os ple ni po ten ciá ri os bo li vi a -nos con ver sa ções para achar o ter re no em que nos po de ría mos en ten -der. Ago ra é que va mos ter con fe rên ci as for ma is para pre ci sar ascláu su las do Tra ta do e dar-lhes for ma. Era, so bre tu do nes sas con fe -rên ci as que es pe rá va mos o va li o so con cur so das lu zes de V. Exa se ti -vés se mos eu e o Assis Bra sil, a for tu na de es tar de acor do com V.Exa

Antes, era im pos sí vel pe dir-lhe que se des se ao in cô mo do de vir a Pe -tró po lis, de i xan do a sua ca de i ra de Se na dor e sua ban ca de ad vo ga do,para to mar par te nas nu me ro sas pa les tras de ex plo ra ção do ter re noque te mos tido des de ju lho, mas in for ma mos sem pre V. Exa do que seia pas san do e se gui mos sem pre os seus con se lhos. Agra de ço mu i to aV. Exa as ex pres sões tão be né vo las do fi nal da sua car ta e subs cre vo-me com a mais alta e afe tu o sa es ti ma, de V. Exa ad mi ra dor e ami go mu i to emu i to gra to.

Rio Bran co”

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RESPOSTA DE RUI BARBOSA A RIO BRANCO,DE 22-10-1903

“Exmo Ami go e Sr. Ba rão do Rio Bran co,

Re le ve-me V. Exa se só hoje ve nho res pon der à sua car ta de an te -on tem que me che gou às mãos on tem pe las 11 da ma nhã. Fez-me V. Exa

o fa vor, pelo qual lhe sou mu i to gra to, de ace i tar a mi nha exo ne ra ção,que mis si va an te ri or de i xa ra ao seu ar bí trio, para que V. Exa dela dis pu -ses se como mais con ve ni en te fos se; o que não me ini be de con ti nu ar,de acor do com o de se jo que V. Exa ex pri me, à suas or dens, para o quefor de seu agra do e ser vi ço. Mu i to re co nhe ci do fico, ou tros sim, a V. Exa

pe las ex pres sões de sin ce ra ami za de, em que abun da para co mi go. Eure tri buo, com a mes ma lha ne za e a mes ma fi de li da de, esse sen ti men to,de que me hon ro. Pode V. Exa es tar cer to que o de i xo com in ti mo pe sar,e que, em qual quer par te, qual quer tem po, em qua is quer cir cuns tân cia, o nome do Ba rão do Rio Bran co não terá tes te mu nha mais leal da suano bre za, da sua ca pa ci da de e do seu pa tri o tis mo. De lon ge mes mo, an -tes de o co nhe cer em pes soa, tive para V. Exa sem pre a atra ção de umasim pa tia, que só la men to não se me de pa ras se oca sião de es tre i tar comal gu ma co i sa des sa in ti mi da de, em que teve a for tu na de lo grar as suasre la ções esse nos so co mum ami go, tão de li ca da men te lem bra do porV. Exa nas pri me i ras li nhas de suas car tas. Entre as fi ne zas de que a en -cheu, aprou ve-lhe fa lar em ser vi ços, que fi gu ra de ver-me. Mas não hátal. Não cons ti tu em dí vi das as ho me na gens im pos tas pela jus ti ça. Ren -den do-lhas ape nas me de sem pe nhei de mi nhas obri ga ções de ci da dãoe jor na lis ta. Deu-me Deus, tal vez em grau não co mum, a fa cul da de dead mi rar; e o pra zer de exer cê-la, ce le bran do o me re ci men to, é um dosmais gra tos que o meu co ra ção co nhe ce. Já vê que não po dia de i xar deca lar-me nele como uma gran de sa tis fa ção e uma gran de hon ra aver-me, por ini ci a ti va de V. Exa; a seu lado no em pe nho de re sol ver uma com pli ca da ques tão in ter na ci o nal. Não me es que cia, pois, esse as pec to

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da mi nha si tu a ção, quan do, obri ga do a res pon der aos que me en ca re -ci am a mis são do Acre como um pos to van ta jo so, fa lei nos seus ônus ena res pon sa bi li da de. Esta, con si de ra das as mi nhas an te ce dên ci as noas sun to, de via ser es pe ci al men te sen sí vel a mim, des de que me sub me -tia a tra tar no ter re no de uma tran sa ção, um li tí gio, em que eu fora oad vo ga do mais ca lo ro so da in dis pu ta bi li da de ab so lu ta do nos so di re i -to. Não he si tei, po rém, ante as con se qüên ci as des sa ati tu de, en quan tome pa re ces se de fen sá vel e van ta jo sa ao país. Foi nes te que tive sem preos olhos, nos seus sen ti men tos e nos seus in te res ses, sem me im por tarja ma is que, com os be ne fí ci os a ele gran je a dos, se “aba las se de qual -quer modo a mi nha si tu a ção po lí ti ca”. Esta nun ca se achou fir me, nemfor te. Ne nhum ho mem pú bli co, no Bra sil, a tem mais pre cá ria, maiscom ba li da, mais aba la da. E isso jus ta men te por que das suas con ve -niên ci as nun ca fiz caso, por que nun ca ali men tei pre ten sões po lí ti cas.Re pug na-me ao meu tem pe ra men to cor te jar a po pu la ri da de, e, na Re -pú bli ca, te nho vi vi do a con tra ri ar-lhe as cor ren tes do mi nan tes. Gra çasa essa in de pen dên cia, che guei a ser apon ta do como o ma i or ini mi go do re gi me, e, ain da en tre as for ças que dis põem da sua sor te, não es tou em che i ro de san ti da de. Ora, não ha ve ria caso, em que eu mais de ves se teros olhos nas con si de ra ções su pe ri o res do de ver, e fu gir às de uti li da depes so al. Assim o com pre en di e as sim o pra ti quei. As ques tões de ter ri -tó rio , como as de hon ra, são as que mais exal tam o me lin dre na ci o nal.É de acor do com o sen ti men to na ci o nal, por tan to, que os ho mens deEsta do tem de re sol vê-las, se as qui se rem de i xar com efe i to re sol vi das,e me di a rem o mal das agi ta ções ali men ta das por uma im pres são po pu -lar de ofen sa à in te gri da de do país. Por isso me opus em ab so lu to à ces -são da mar gem di re i ta do Ma de i ra, que fe liz men te não vin gou. Porisso, ain da, en ten dia que, nes te gê ne ro de con ces sões, de ve ría mos ca -mi nhar sem pre como atra vés de ou tros tan tos pe ri gos. Ao prin cí pio al -gu ma co i sa, bem que mui par ca men te, era ra zoá vel se fi zes se nes sesen ti do; vis to que a Bo lí via pa re cia jul gar-se fe ri da e in tran si gen te aocon ta to do nos so di nhe i ro, ale gan do que o ter ri tó rio, como a hon ra,não tem pre ço, e não era jus to que com o mi lhão es ter li no, in si nu a doen tre as nos sas ofer tas, a hou vés se mos por com pen sa da in te i ra men teda ex ten são ter ri to ri al que nos ce dia. Mas, des de que os ne go ci a do resbo li vi a nos pu se ram de par te es ses es crú pu los e en tra ram fran ca men teno ter re no dos ajus tes pe cu niá ri os, pe din do se ele vas se àque la quan tiaao do bro, por que não ul ti mar mos nes sa es pé cie de com pen sa ções onos so ajus te de con tas? Acres cen tan do a essa van ta gem a cons tru çãoda es tra da, cre io que lhe não te ría mos me di do es cas sa men te o va lor doAcre. Jun tar-lhe a ces são de um por to já se ria, tal vez, mu i to. Con tu do,até ai se po de ria ir, su po nho eu. Mas, so mar a to das es sas ver bas 5.973qui lô me tros de ter ri tó rio bra si le i ros é o que me pa re ce uma ge ne ro si -da de, cuja lar gue za ex ce de, a meu ver, o li mi te dos nos sos po de res. Não

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que ro di zer que o Bra sil per des se na tro ca. Isso não. Mas dava mais doque vale, para a Bo lí via, o que ela nos cede. E essa con si de ra ção não seha via de per der ja ma is de vis ta numa ope ra ção des ta na tu re za. Emnos sas mãos o Acre pesa bas tan te. Nas da nos sa vi zi nha, o Acre eranada. O va lor des se ter ri tó rio era, por tan to, uma quan ti da de re la ti va,que pra ti ca men te só ad qui ria re a li da de com a nos sa aqui si ção dele,com a sua trans fe rên cia ao nos so se nho rio. A es ti ma ção des se va lor re -la ti vo de via man ter-se, pois, en tre os dois ex tre mos, num meio ter mora zoá vel. Ora esse es ta va pre en chi do com a via fér rea, an ti ga as pi ra ção da que le país, e os dois mi lhões es ter li nos, que para eles re pre sen tamqua se qua tro anos de sua re ce i ta. Não es ta ria ele por isso? Então eraace i tar mos-lhe a ou tra al ter na ti va, por ele pos ta: o ar bi tra men to.Enten de V. Exa que é o que os bo li vi a nos que ri am. Eu en ten do o con trá -rio. E peço li cen ça a V. Exa para lhe re cor dar que está é tam bém a opi -nião, in sus pe i ta, do Dr. Assis Bra sil. Ain da na úl ti ma con fe rên cia nos sa ele se ma ni fes tou as sim, con fir man do o as sen to, que nes te sen ti do, euaca ba va de fa zer. Os bo li vi a nos não que rem o ar bi tra men to, nun ca oqui se ram, a não ser que ele ti ves se por ob je to a tro ca de ter ri tó rio, ino -va ção com ba ti da por mim na mi nha pe núl ti ma car ta. Nem o po di amque rer; vis to que o ju í zo dos ár bi tros, já por que se te ria de cir cuns cre -ver ao Acre li ti gi o so, já por que, em re la ção a esse mes mo, se ria re je i ta -do pe los acre a nos, se nos fos se con trá rio, não re sol via a pen dên ciaar ma da en tre aque la po pu la ção e o go ver no de La Paz. O re ce io de in -ter ven ção do Peru nes sa pen dên cia não pas sa de uma hi pó te se, cujave ri fi ca bi li da de nada até ago ra au to ri za. Ora, en tre gue a si a Bo lí viana que las pa ra gens, não con tra ela com o tri un fo. Ain da, fi nan ce i ra -men te, gran de van ta gem lhe le va ria a po pu la ção acre a na. Note V. Exa

que, no me mo ran dum re cen te men te en de re ça do aos Ple ni po ten ciá ri os bra si le i ros pe los bo li vi a nos, se ele va a dez mil e no ve cen tos con tos deréis o ren di men to anu al dos im pos to de im por ta ção e ex por ta ção noAcre. Ora essa é, mais ou me nos, anu al men te, a re ce i ta to tal da Bo lí via,como V. Exa me in for mou, em seis mi lhões de bo li vi a nos. E com issotem ela de acu dir a to das as ne ces si da des na ci o na is, ao pas so que o go -ver no do Acre, re du zi do ex clu si va men te às de sua de fe sa, com ela po -de ria gas tar, sem des vio, to dos es ses re cur sos. Já ex pe ri men ta dos nasdi fi cul da des da luta, o in te res se e o pen sa men to dos bo li vi a nos era evi -tá-la. Ora, a ela te ri am de vol tar, se ven ces sem no ar bi tra men to. Logo,não era pos sí vel que o de se jas sem. Como, po rém pres sen tis sem quenós, con tra o que era de cu i dar, tam bém o te mía mos, ma no bra ram ha -bil men te, si mu lan do am bi ci o ná-lo para, à som bra dos nos sos in jus ti fi -ca dos re ce i os, exi gi rem o que exi gem quan do é mi nha con vic ção que,se en ca rás se mos de sas som bra dos o es pan ta lho, eles é que re cu a ri am,sub me ten do-se às nos sas con di ções. Este ao me nos, o meu ju í zo. Podeser, aliás, que es te ja em erro. Onde, po rém, te nho a cer te za de que não

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es ta rá, é na afir ma ti va de que a opi nião pú bli ca re ce be rá mu i to mal asses sões ter ri to ri a is pro pos tas, e de que, ou san do-as, o go ver no co me -te rá uma te me ri da de. Não são es sas so men te as “pre vi sões mi nhas e de ami gos meus”. Pa re ce-me esse é o sen ti men to ge ral, até onde te nho po -di do son dar. Dado isso, bem com pre en de V. Exa o gran de pe ri go das“in fluên ci as de sor ga ni za do ras”: e que con tra elas fi quem de sar ma dasas in fluên ci as ben fa ze jas e or de i ras. Mas Deus ins pi re a V. Exa aos seusco le gas, e a mim, se vejo mal, me es 1cla re ça me lhor, per mi tin do que, de ou tra vez, con si ga ser vir mais acer ta da men te ao país e a V. Exa. O ad mi -ra dor e ami go obri ga dís simo.

Rui Bar bo sa

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RIO BRANCO DEFENDE SUA OBRA*

Arti gos Anô ni mos e Pse u dô ni mosdo Ba rão do Rio Bran co

Intro du ção

A co in ci dên cia do lan ça men to dos Ca der nos do CHDD com as co -me mo ra ções do cen te ná rio da pos se do Ba rão do Rio Bran co como Mi -nis tro das Re la ções Exte ri o res su ge re uma na tu ral ho me na gem aogran de es ta dis ta, cuja vida e ati vi da de po lí ti ca são con subs tan ci a is com as nos sas me lho res tra di ções e se con fun dem com um dos mais bri -lhan tes pe río dos de nos sa his tó ria di plo má ti ca.

É sa bi do que o Ba rão do Rio Bran co, du ran te os anos de sua ges -tão à fren te do Ita ma raty, man ti nha es tre i tos la ços de co o pe ra ção comos prin ci pa is jor na is do Rio de Ja ne i ro, no pro pó si to de in for mar e an -ga ri ar o apo io da opi nião pú bli ca para sua po lí ti ca ex te ri or. Pu bli couar ti gos as si na dos, no tas anô ni mas e, em al guns ca sos, ar ti gos não as si -na dos ou em que o au tor se ocul ta va atrás de um pse u dô ni mo.

Seus ob je ti vos tá ti cos di ta vam o grau de iden ti fi ca ção com o tex topu bli ca do. Os le i to res aten tos tal vez não de i xas sem de re co nhe cer oreal au tor, mas, como Rio Bran co ti nha tam bém o há bi to de for ne ceraos di re to res ou prin ci pa is re da to res am plas in for ma ções so bre as sun -tos em que o es cla re ci men to da opi nião pú bli ca lhe pa re cia im por tan te, em mu i tos ca sos a iden ti da de do au tor po de ria pa re cer in cer ta.

Se ria de gran de in te res se re ve lar o con jun to des ta pro du ção jor -na lís ti ca, que não foi con tem pla da nas Obras do Ba rão do Rio Bran co,edi ta das pelo MRE por oca sião do cen te ná rio de seu nas ci men to. É, en -tre tan to, ta re fa di fí cil, se não im pos sí vel. O que ora nos pro po mos é,ape nas tra zer à luz al guns tex tos que nos pa re ce ram de ma i or in te res -

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* Tex tos ex tra í dos da re vis ta Ca der nos do CHDD – Ano I – No 1, pu bli ca da pelo Cen trode His tó ria e Do cu men ta ção Di plo má ti ca – CHDD, do Ita ma raty, sob di re ção e edi ção doEmba i xa dor Álva ro da Cos ta Fran co.

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se, pu bli ca dos sob pse u dô ni mos iden ti fi ca dos como seus ou as si na la -dos com suas ini ci a is na sua co le ção de re cor tes de jor na is, guar da dano Arqui vo His tó ri co do Ita ma raty, no Rio de Ja ne i ro.

São co nhe ci dos os pse u dô ni mos “Nemo” e “Kent”. Sob o pri me i -ro, pu bli cou, em 1903, o ar ti go em que re fu ta va as crí ti cas do lí der po -si ti vis ta Mi guel Le mos aos es ti los pro to co la res de sua cor res pon dên cia ofi ci al, em que Rio Bran co se afas ta va das prá ti cas im pos tas ou ins pi -ra das pe los po si ti vis tas no iní cio da Re pú bli ca, e, em 1910, sob o tí tu lo“Con fi ar des con fi an do” a pro pó si to de um pro nun ci a men to de Qu in ti -no Bo ca yu va, en tão Se na dor, por oca sião da Re vol ta da Chi ba ta.

“Kent” foi como as si nou a sé rie de cin co ar ti gos so bre a ques tãodo Acre, em de zem bro de 1903 e ja ne i ro de 1904.

Além des ses ar ti gos, de fá cil iden ti fi ca ção, tam bém es ta mos pu -bli can do cin co ou tros so bre o caso “Pant her”, es tam pa dos por “A No tí -cia” en tre 10 e 15 de ja ne i ro de 1906. Não es tão as si na dos, mas seusre cor tes na co le ção de jor na is do Ba rão es tão as si na la dos com as ini ci -a is RB, que, com en si na Álva ro Lins, são in di ca ção cer ta de sua au to ria.

Exce tu a dos os ar ti gos de Nemo, que tra ta vam de te mas li ga dos àpo lí ti ca in ter na, os de ma is têm a mar ca evi den te dos tra ba lhos de RioBran co, re ve la do res de um pro fun do co nhe ci men to do as sun to, mi nu -ci o sos, de ar gu men ta ção exa us ti va, res pon den do a to das as ob je ções e an te ci pan do os pos sí ve is ques ti o na men to.

Sua pu bli ca ção põe à dis po si ção dos es tu di o sos tex tos im por tan -tes para o co nhe ci men to das ques tões tra ta das e para a com pre en sãodo mé to do de tra ba lho Rio Bran co. A pes qui sa foi re a li za da por Ange -la Cu nha da Mot ta Tel les, a su per vi são da trans cri ção, em or to gra fiaatu a li za da, foi fe i ta por Ma ria do Car mo Stroz zi Cou ti nho.

As re la ções de Rio Bran co com a im pren sa fo ram am pla men teabor da das por seus bió gra fos, mas há uma rica fon te de in for ma çãoso bre o as sun to na cor res pon dên cia pri va da de Rio Bran co no AHI.Espe ra mos po der, no cur so de 2003, pu bli car uma se le ção dos tex tosmais sig ni fi ca ti vos des sa cor res pon dên cia, ilus tra ti vos da for ma comoRio Bran co pro cu ra va in for mar e in flu en ci ar a mí dia e, num pla no mais am plo, da na tu re za das re la ções do po der com a im pren sa.

O Edi tor

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Ma nus cri to do Ba rão do Rio Bran co con ten do a apre sen ta ção das des pe sas fe i tascom a re cu pe ra ção pelo Bra sil do ter ri tó rio do Acre atra vés do Tra ta do de Pe tró po lis

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A QUESTÃO DO ACRE E O TRATADO COM A BOLÍVIA I(*)

KENT

O Co mér cio de S. Pa u lo, em edi to ri a is, “Car tas do Rio de Ja ne i ro”e “No tas Flu mi nen ses”, tem tra ta do por ve zes do acor do a que che ga -ram em Pe tró po lis os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via “Wa ter -loo!”, “No char co!” e “Fora do char co”, são os tí tu los de três des sesar ti gos, os dois úl ti mos sa í dos da pena do in fa ti gá vel pro pa gan dis ta dares ta u ra ção Sr. Mar tim Fran cis co Ri be i ro de Andra da.

Exa mi ne mos ra pi da men te este úl ti mo es cri to, pois aos dois pri -me i ros ar ti gos já res pon deu bri lhan te men te Edu ar do Sa la mon de nasco lu nas d’O Paíz.

As ques tões do Ama pá e Mis sões, diz o Sr. Mar tim Fran cis co, “vi -nham do Impé rio: po de ri am ter er ros, não ti nham su je i ras”. A do Acre,acres cen ta, “vi nha da Re pú bli ca: era-lhe ine vi tá vel a in ci dên cia.”

Mu i to se ilu de o ilus tre mo nar quis ta. A ques tão do Acre tem in -con tes ta vel men te as suas ra í zes do Impé rio.

Foi no tem po da mo nar quia que se ne go ci ou o tra ta do de 27 demar ço de 1867, ata ca do por Ka kis tos, pse u dô ni mo de um dos nos sosme lho res di plo ma tas, o Con se lhe i ro José Ma ria do Ama ral.

Foi no tem po do Impé rio que o Go ver no bra si le i ro co me çou a daro art. 2º a ab sur da in ter pre ta ção de que re sul tou a li nha oblí qua Ja va -ri-Beni, de fen di da de po is pe los Mi nis tros da Re pú bli ca du ran te as ad -mi nis tra ções Pru den te de Mo ra es e Cam pos Sal les.

Se isso era “su je i ra”, vi nha de mu i to lon ge, e não aos que a de fen -de ram por sen ti men to de so li da ri e da de go ver na men tal, mas sim aosque a cri a ram é que de vi am ser di ri gi das as cen su ras do Sr. Mar timFran cis co.

(*) Pu bli ca do no jor nal do Com mer cio. Rio de Ja ne i ro, 17 de de zem bro de 1903. Ses são:Pu bli ca ções a Pe di do.

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Pre ten de o emé ri to po le mis ta que o Tra ta do de Pe tró po lis, emsuas li nha ge ra is, es ti pu la o se guin te:

a) A ces são do ter ri tó rio na ci o nal, em bo ra em quan ti da de mí ni -ma;

b) O pa ga men to, pela se gun da vez, e oito ou dez ve zes mais caro, de ter ri tó rio que al guns ho mens de mé ri to pen sa vam ser bra si le i ros;

c) Pro te ção efi caz e dis pen di o sa aos in te res ses co mer ci a is daBo lí via por meio de es tra da de fer ro com res pon sa bi li da de e com pro -mis so do erá rio na ci o nal.

Co me ce mos pelo pa rá gra fo c:A cons tru ção da es tra da de fer ro do Ma de i ra ao Ma mo ré, em ter -

ri tó rio de Mato Gros so, des de San to Antô nio até Gu a ja rá-Mi rim, éobra que apro ve i ta não só a Bo lí via, mas tam bém ao nos so Esta do deMato Gros so.

A cons tru ção des sa via de co mu ni ca ção, ao mes mo tem po bra si le -i ra e in ter na ci o nal, foi acon se lha da e re cla ma da pe los pri me i ros es ta -dis tas do Impé rio, des de Ta va res Bas tos até o Mar quês de São Vi cen te,o Vis con de do Rio Bran co e o Ba rão de Co te gi pe, sem ex ce tu ar umCon se lhe i ro de Esta do que se cha mou Mar tim Fran cis co Ri be i ro deAndra da.

É exe cu ção de pro mes sa fe i ta à Bo lí via no art. 9º do tra ta do de 27de mar ço de 1867, e re no va da so le ne men te no de 15 de mar ço de 18821,ne go ci a do nes ta ci da de do Rio de Ja ne i ro, pelo Con se lhe i ro Fe li peFran co de Sá, com apro va ção de Ma ti nho Cam pos, en tão Pre si den tedo Con se lho. Bas ta trans cre ver aqui, para co nhe ci men to dos no véismo nar quis tas, es que ci dos ou pou co co nhe ce do res de atos que fa zemhon ra ao pas sa do re gi me, o preâm bu lo e o art. 1º do Tra ta do de 1882todo ele re la ti vo à es tra da de fer ro do Ma de i ra ao Ma mo ré.

“S. M. o Impe ra dor do Bra sil e V. Exa o Pre si den te da Re pú bli ca daBo lí via, de se jan do com ple tar, no in te res se co mum, a es ti pu la ção doart. 9º do tra ta do de 27 de mar ço de 1867, re sol ve ram fazê-lo por meiode um tra ta do es pe ci al, e para esse fim no me a ram por seus ple ni po ten -ciá ri os, a sa ber ...”

“Art. 1º S.M. o Impe ra dor do Bra sil con fir man do a pro mes sa fe i tapelo art. 9º do tra ta do de 27 de mar ço de 1867, obri ga-se a con ce der à Bo -lí via o uso de qual quer es tra da de fer ro que ve nha a cons tru ir por si, oupor em pre sa par ti cu lar des de a pri me i ra ca cho e i ra na mar gem di re i ta dorio Ma mo ré até a de San to Antô nio no rio Ma de i ra, a fim de que a Re pú -bli ca pos sa apro ve i tar para o trans por te de pes so as e mer ca do ri as os me -i os que ofe re cer a na ve ga ção aba i xo da dita ca cho e i ra de San to Antô nio.”

1 Cor ri gi da pelo pró prio Ba rão do Rio Bran co, na Co le ção de Re cor tes de Jor na is doArqui vo His tó ri co do Ita ma raty, para 15 de maio de 1882.

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Des sa es tra da de fer ro, que o ter ce i ro Mar tim Fran cis co pa re cecon de nar, dis se o Con se lhe i ro Andra de Fi gue i ra, em ses são de 20 dese tem bro de 1882, na Câ ma ra dos De pu ta dos, quan do ora va Pas sos deMi ran da, um dos pro pug na do res do gran de em pre en di men to:

“É a mais im por tan te es tra da de fer ro do Impé rio. É a úni ca es tra -da de fer ro para que vo ta rei ga ran tia de ju ros”.

Eis o que o co la bo ra dor do Co mér cio de S. Pa u lo su põe ser umavia fér rea dis pen di o sa, des ti na da a pro te ger os in te res ses co mer ci a isda Bo lí via, sem aten der a que ela vai ser vir tam bém aos de Mato Gros -so,e, sal van do as ca cho e i ras do Ma de i ra e do Ma mo ré, tor nar esseEsta do bra si le i ro in de pen den te da co mu ni ca ção flu vi al atra vés das Re -pú bli cas do Pa ra guai e Argen ti na. Por tudo isso,di zia o Impe ra dor D.Pe dro II, no preâm bu lo do tra ta do de 1882, que es tra da se ria fe i ta noin te res se co mum do Bra sil e da Bo lí via.

Cum pre no tar ain da que ela será cus te a da prin ci pal men te peloco mér cio da Bo lí via; que to dos os ou tros vi zi nhos, como é na tu ral, sees for çam por atra ir para seu ter ri tó rio o co mér cio de trân si to en tre aBo lí via e o es tran ge i ro; que a Re pú bli ca Argen ti na está pro lon gan dopor ter ri tó rio bo li vi a no uma via fér rea sem pe dir por isso fa vor al gumao Go ver no des se país; e que quan do fi car ter mi na da a se ção do novoca mi nho de fer ro acom pre en di da en tre o San to Antô nio e a foz do Beni e con clu í da tam bém a que, com in de ni za ção que o Bra sil vai pa gar àBo lí via, o Ge ne ral Pan do pro je ta ini ci ar en tre La Paz e Yun gas, fi ca ráaber ta uma via in ter con ti nen tal pela qual se po de rá atra ves sar de Be -lém do Pará a Anto fa gas ta, no Chi le, ou a Mol len do, no Peru, isto é, doAtlân ti co ao Pa cí fi co em bar cos a va por ou em ca mi nhos de fer ro.

Ve ja mos ago ra os pa rá gra fos a e b: “Ces são de ter ri tó rio na ci o -nal” e “pa ga men to, pela se gun da vez, de ter ri tó rio con si de ra do bra si le -i ro por ho mens de mé ri to.”

É im pró prio fa lar em ces são de ter ri tó rio na ci o nal quan do o quehá, pelo tra ta do, é uma per mu ta de ter ri tó ri os, per mu ta que por ser su -ma men te de si gual, ex pli ca a com pen sa ção em di nhe i ro com que o Bra -sil deve en trar.

Com efe i to, nes sa tro ca, o Bra sil trans fe re à Bo lí via ape nas 3.164qui lô me tros qua dra dos, ou 102 lé guas das de 20 ao grau – pou co maisdo do bro do Dis tri to Fe de ral – e re ce be 191.000 qui lô me tros qua dra -dos ou 6.190 lé guas, isto é, ex ten são ma i or do que a de se is2 Esta dos daUnião to ma dos se pa ra da men te, ma i or do que as dos dois Esta dos dePer nam bu co e Ala go as re u ni dos, e qua se igual à que re sul ta ria dasoma das áre as dos qua tro Esta dos do Rio de Ja ne i ro, Espí ri to San to,Ser gi pe e Ala go as.

2 Cor ri gi do para “Nove Esta dos” pelo pró prio Ba rão do Rio Bran co, na co le ção de re cor -tes de jor na is do Arqui vo His tó ri co do Ita ma raty.

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Dá o Bra sil in sig ni fi can tes nes gas de ter ri tó rio: em Mato Gros so,in te i ra men te de sa bi ta das e pela ma i or par te co ber tas de água, pois deter ra fir me ape nas se con tam ali 78 qui lô me tros qua dra dos ou 2,5% lé -guas; no Ama zo nas, um tre cho in cul to, só ha bi ta do por bo li vi a nos, en -tre o Abu nã e a mar gem es quer da do Ma de i ra. Re ce be uma re giãoimen sa, rica de pro du tos na tu ra is, po vo a da e ex plo ra da por mais de60.000 bra si le i ros, in clu in do os do Acre, Yago, Alto Pu rus e ou tros aflu -en tes e su ba flu en tes do Ama zo nas.

Por não ha ver equi va lên cia nas áre as dos ter ri tó ri os per mu ta dosé que o Bra sil paga a in de ni za ção de £ 2.000.000 à Bo lí via, apli cá vel aca mi nhos de fer ros e ou tros me lho ra men tos que fa vo re çam as re la ções de co mer cio en tre os dois pa í ses, e que, pro va vel men te, em pou co tem -po tor na rão dis pen sá vel qual quer de sem bol so para pa ga men to de ju -ros aos aci o nis tas da em pre sa do Ma de i ra ao Ma mo ré.

O Bra sil não “vai pa gar a Bo lí via, por pre ços mais avul ta dos, o que já pa gou ao sin di ca to Nor te Ame ri ca no” O pa ga men to de £ 112.000 aoSin di ca to deve ser le va do em con ta na soma dos sa cri fí ci os que fa ze -mos para re sol ver de fi ni ti va men te a cha ma da ques tão do Acre, masnão hou ve nes sa ope ra ção com pra de di re i tos ou de ter ri tó ri os. O quefez en tão o Go ver no bra si le i ro foi eli mi nar um ele men to per tur ba dor epe ri go so, que an da va a sus ci tar-nos di fi cul da des na Eu ro pa e na Amé -ri ca do Nor te, ti rar ao Go ver no bo li vi a no a es pe ran ça de apo io es tran -ge i ro, sim pli fi car a ques tão en tre o Bra sil e a Bo lí via e fa ci li tar umcon cer to ami gá vel en tre os dois pa í ses.

O fato de ha ve rem sus ten ta do al guns emi nen tes com pa tri o tasnos sos, a par tir de 1900, que o Acre é bra si le i ro até o pa ra le lo de10°20’Sul, não ex clui a con ve niên cia e a le gi ti mi da de da tran sa ção quese aca ba de fa zer. Ofi ci al men te, se gun do vá ri os pro to co los, no tas di -plo má ti cas e de cla ra ções do Go ver no bra si le i ro du ran te 35 anos, isto é, des de 1867 até 14 de no vem bro de 1902, o ter ri tó rio ao sul da li nha oblí -qua Ja va ri-Beni era in con tes ta vel men te bo li vi a no. Só a par tir de ja ne i -ro des te ano o novo Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res, Sr. Ba rão do RioBran co, rom pen do com o pas sa do, deu ofi ci al men te à úl ti ma par te doart. 2° do tra ta do de 1867 a in te li gên cia que co me ça ram a dar-lhe em1900 os dis tin tos pu bli cis tas, ora do res e en ge nhe i ros a que se re fe re oSr. Mar tim Fran cis co. Ora sabe S. Exa mu i to bem que não raro, em ca u -sas cí ve is e co mer ci a is, dois li ti gan tes tran si gem, com o fim de evi tar asde lon gas e as in cer te zas do pro ces so e não é, por tan to, para es tra nharque ago ra de mos di nhe i ro por um ter ri tó rio em li tí gio, com o fim de re -sol ver de pron to a ques tão a nos so fa vor.

Há mais ain da.No caso pre sen te, não é só o ter ri tó rio con si de ra do bra si le i ro des -

de 1900 pelo Srs. Ruy Bar bo sa, Ser ze del lo Cor rêa, Fron tin e ou tros que

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fica re co nhe ci do como bra si le i ro pela Bo lí via, mas tam bém uma ex ten -sa zona ao sul do pa ra le lo de 10° 20’, zona que para eles era, com ra zão,tida por in con tes ta vel men te bo li vi a na em vir tu de do Tra ta do de 1867, ena qual se com pre en de a ma i or par te do Acre, ha bi ta da por bra si le i ros.

Adqui ri mos, pois, por tran sa ção mu i to le gí ti ma, o ter ri tó rio só ul -ti ma men te de cla ra do em li tí gio en tre a li nha oblí qua cha ma da Cu nhaGo mes e o pa ra le lo de 10° 20’ e ad qui ri mos por com pra, não me nos le -gí ti ma, a zona sul des se pa ra le lo.

Se nes sa com bi na ção não en trás se mos tam bém com trans fe rên -cia de al guns in sig ni fi can tes pe da ços de ter ra, se pre ten dês se mos quedeve ser amal di ço a do o que cede um po le ga da de ter ri tó rio na ci o nal,mes mo em tro ca de re gião con si de rá vel e rica, como se ria pos sí vel con -ven cer a Bo lí via de que nos de via aban do nar mais da oi ta va par te doque con si de ra va seu pa tri mô nio na ci o nal?

Su po nha mos que a Ingla ter ra, como em 1890 ce deu a ilha de He li -go land à Ale ma nha em tro co de cer tas con ces sões im por tan tes na Áfri -ca Ori en tal, nos ofe re ces se 10 ou 20 lé guas qua dra das de bons cam posnos con fins de sua Gu i a na em tro co da Ilha de Trin da de, lon gín qua, es -té ril e até ago ra ina pro ve i tá vel para nós. Se ria ou não essa tro ca umbom ne gó cio para o Bra sil? Qu al quer ho mem de sim ples bom sen sores pon de ria pela afir ma ti va. Os pa tri o tas de nova es pé cie que pre ten -dem le van tar a opi nião con tra o tra ta do com a Bo lí via, es ses re pe li ri amin dig na dos a tro ca.

Afir mou mais uma vez o Sr. Mar tim Fran cis co que o Impé rio nun -ca ce deu ter ri tó ri os. Já mos tra mos que no caso pre sen te não se tra ta de ces são, mais sim de per mu ta ou, se qui se rem, de mú tua ces são de ter ri -tó ri os, e que a tro ca, ten do-se em vis ta a im por tân cia das áre as, a qua li -da de das ter ras e a cir cuns tân cia de se rem elas ou não ha bi ta das, ésu ma men te de si gual, sen do toda van ta gem do Bra sil.

Essa per mu ta é au to ri za da pelo art. 5° do tra ta do de 1867, que dizas sim:

“Se para o fim de fi xar, em ou ou tro pon to, li mi tes que se jam maisna tu ra is e con ve ni en tes a uma ou ou tra na ção pa re cer van ta jo sa a tro -ca de ter ri tó ri os, po de rá esta ter lu gar, abrin do-se para isso no vas ne -go ci a ções e fa zen do-se, não obs tan te isto, a de mar ca ção como se taltro ca não hou ves se de efe tu ar-se.

Com pre en de-se nes ta es ti pu la ção o caso da tro ca de ter ri tó ri ospara dar-se lo gra dou ro a al gum po vo a do ou a al gum es ta be le ci men topú bli co que fi que pre ju di ca do pela de ma si a da pro xi mi da de da li nha di -vi só ria.”

A Cons ti tu i ção do Impé rio, como já lem brou O Paiz, per mi tia atro ca e a ces são de ter ri tó ri os me di an te a apro va ção da Assem bléia Ge -ral Le gis la ti va.

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O Impé rio con clu iu dois tra ta dos de tro ca de ter ri tó rio: o de 4 dese tem bro de 1857, com o Uru guai e o de 11 de fe ve re i ro de 1874, com oPeru, o pri me i ro ne go ci a do pelo ilus tre es ta dis ta Pa u li no de Sou za, Vis -con de do Uru guai, o se gun do era Mi nis tro dos Ne gó ci os Estran ge i roso não me nos ilus tre Car ne i ro de Cam pos, Vis con de de Ca ra ve las.

O Impé rio ofe re ceu ce der à Fran ça, em 1865, o ter ri tó rio, en tãodes po vo a do, en tre os rios Cal ço e ne e Oi a po que, pro cu ran do as simtran si gir para pôr ter mo a um ve lho li tí gio em que o di re i to do Bra silera per fe i to, in con tes tá vel, como fi cou de mons tra do no pro ces so ar bi -tral de Ber na.

Du ran te o Impé rio fo ram fe i tas ge ne ro sas con ces sões aos nos sos vi zi nhos nos tra ta dos de li mi tes com o Peru (1851),Uru guai (1853) Ve -ne zu e la (1859), Bo lí via (1867) e Pa ra guai (1872).

Du ran te os ses sen ta anos do re gi me pas sa do, o ter ri tó rio na ci o nal não teve au men to al gum, pelo con trá rio, em to dos os ajus te ci ta dos re -nun ci a mos a ter ras a que, pela apli ca ção do prin cí pio do uti pos si de tis,tí nha mos di re i to e so fre mos até, pelo tra ta do de 27 de Agos to de 1828,a de sa gre ga ção da Pro vín cia Cis pla ti na, de po is Re pú bli ca Ori en tal doUru guai, isto é, a per da de 187.000 qui lô me tros qua dra dos, ex ten sãoter ri to ri al, seja dito de pas sa gem, qua se equi va len te à que pelo Tra ta do Pe tró po lis um va mos ago ra in clu ir den tro dos li mi tes do Bra sil....

Não re cor da mos es tes fa tos com a in ten ção de de sa pro var ou cen -su rar o que pra ti cou o Impé rio. De se ja mos tão-so men te que o Co mer -cio de S. Pa u lo e o Sr. Mar tim Fran cis co me di tem so bre es sesan te ce den tes his tó ri cos e ex pli quem o por que era lí ci to e lou vá vel, na -que le tem po, per mu tar, ce der ter ri tó rio ou mes mo con sen tir na se pa -ra ção de uma pro vín cia in te i ra, com re pre sen ta ção no Par la men toBra si le i ro, e é con de ná vel ago ra alar gar os do mí ni os da Pá tria Bra si le i -ra, re ce ber um ter ri tó rio imen so, fer ti lís si mo, onde vi vem e tra ba lham60.000 com pa tri o tas nos sos e con se guir isso sem um tiro, sem umagota de san gue der ra ma do, pela per su a são, dan do nós em re tor no àou tra par te al gu mas lé guas de ter ra des po vo a da e de ala ga di ços, umasoma em di nhe i ro apli cá vel a me lho ra men tos que in di re ta men te nosse rão van ta jo sos, fa vo res co mer ci a is que ne nhum povo cul to re cu sa aou tro seu vi zi nho,e o uso de um ca mi nho de fer ro já pro me ti do, semcom pen sa ção al gu ma no tem po do Impé rio, e que, mais do que à Bo lí -via há de be ne fi ci ar os Esta dos bra si le i ros de Mato Gros so, Ama zo nase Pará.

Arti go tam bém pu bli ca do nos se guin tes pe rió di cos:– Ga ze ta de No tí ci as, 18 dez. 1903.– Jor nal do Bra sil, 18 dez. 1903.– A Tri bu na, 19 dez. 1903.– O Paiz, 18 dez. 1903

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A QUESTÃO DO ACRE E O TRATADO COM A BOLÍVIA II(*)

KENT

Ontem, exa mi nan do cer tas crí ti cas e cen su ras do Co mér cio de S.Pa u lo, ocu pa mo-nos com as prin ci pa is cláu su las do Tra ta do de Pe tró -po lis, já co nhe ci do do pú bli co, em suas li nhas ge ra is, tan to no Bra silcomo na Bo lí via.

Hoje de se ja mos mos trar que não é pro pri a men te o sen ti men to depa tri o tis mo ofen di do, mas sim de pa i xão par ti dá ria, o de se jo de per tur -bar a paz pú bli ca, que ins pi ra as hos ti li da des aber tas em se tem bro con -tra o Go ver no atu al e mui par ti cu lar men te con tra o Sr. Mi nis tro dasRe la ções Exte ri o res.

O pla no as sen ta do e se gui do pelo Ba rão do Rio Bran co para re -sol ver a cha ma da ques tão do Acre, tão mal pa ra da quan do ele as su miua di re ção do seu car go, fi cou per fe i ta men te co nhe ci do de toda a nos saim pren sa des de ja ne i ro úl ti mo, só en con tran do, du ran te me ses, ma ni -fes ta ções de sim pa tia e até lou vo res e apla u sos dos mes mos que hojepro cu ram le van tar con tra esse com pa tri o ta a có le ra po pu lar.

Tudo cor ria tran qüi la men te quan do em se tem bro aprou ve a cer -tos agi ta do res de pro fis são ex plo rar con tra o Go ver no al gu mas cláu su -las do tra ta do que se ne go ci a va.

Em ou tros pa í ses, onde em to dos os cír cu los da po lí ti ca e da im -pren sa se tem me lhor com pre en são de pa tri o tis mo e dos in te res ses daca u sa pú bli ca, as ques tões com o es tran ge i ro são con si de ra das sem preques tões na ci o na is.

Por isso em Fran ça, mi nis tros como os Srs. Ha no ta ux e Del cas sétêm po di do per ma ne cer em ga bi ne tes su ces si vos, de di fe ren tes ma ti -zes po lí ti cos. Entre nós não se dá o mes mo nos dias de hoje, que in fe liz -men te ain da são de anar quia men tal. São pre ci sa men te as gran desques tões ex ter nas e que al guns am bi ci o sos de man do, ao mes mo tem -po agi ta dos e agi ta do res in cu rá ve is, ex plo ram com mais en ge nho para

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in tri gas de po li ti ca gem, no pro pó si to de trans vi ar a opi nião e ur dircons pi ra ções e gol pes de Esta do. E há jor na lis tas, al guns de puro e sin -ce ro pa tri o tis mo, que se de i xam le var pelo can to des sas se re i as das dis -cór di as ci vis!

Ve ja mos se as ba ses do tra ta do ul ti ma men te con clu í do e os atospra ti ca dos para que pu dés se mos che gar a esse re sul ta do eram ou nãoco nhe ci dos de lon ga data. Exa mi ne mos se an tes de ini ci a da há pou co aguer ra dos bo a tos e in tri gas ha via in dig na ções e re vol tas con tra a per -mu ta de ter ri tó ri os, con tra a com pra do Acre, a eli mi na ção do Sin di ca -to an glo-ame ri ca no e a ocu pa ção mi li tar de par te da re gião que só emja ne i ro úl ti mo fi cou em li tí gio.

Em 26 de ja ne i ro di zia o Jor nal do Com mer cio em um bem lan ça -do ar ti go da sua Re da ção:

“ O Go ver no atu al teve en se jo de pro por a com pra do ter ri tó rio. Ape sar dos tí tu los do Bra sil para ple i teá-lo, a ques tão ti nha che ga -

do a tal pé que va lia a pena não per der tem po a re du zi-la o mais pos sí -vel a uma so lu ção prá ti ca.”

A pro pos ta foi re cu sa da ...

“ Re cu sa da a idéia de ven da, o Go ver no bra si le i ro bus cou ou troal vi tre: pro pôs a tro ca de ter ri tó rio e ofe re ceu gran des com pen sa çõesno sen ti do de fa vo re cer por meio de uma es tra da de fer ro o trá fe go co -mer ci al pelo Ma de i ra, en ten den do-se nes se sen ti do, se as sim fos se ne -ces sá rio, com o Bo li vi an Syndi ca te. Não é pos sí vel es pí ri to maiscon ci li a dor. Se é na dis tân cia do Acre e na qua se im pos si bi li da de de ogo ver nar e ex plo rar que se pro cu ra fun dar o ato do ar ren da men to,nada mais na tu ral do que ofe re cer à Bo lí via ou tro ter ri tó rio mais pro pí -cio à sua in fluên cia e ao seu man do, so bre tu do com a van ta gem de umasa í da fá cil dos seus pro du tos pelo Ama zo nas, que é o mais cur to ca mi -nho do seu con ta to com o ve lho mun do...”

Em 28 de ja ne i ro, to dos os jor na is des ta Ca pi tal pu bli ca ram um te -le gra ma-cir cu lar do Sr. Ba rão do Rio Bran co, di ri gi do às Le ga çõesBra si le i ras, e nele se lia o se guin te:

“Pro pu se mos com prar o ter ri tó rio do Acre, atra ves sa do pelo pa -ra le lo de dez gra us e vin te mi nu tos, para nos en ten der mos de po is como Bo li vi an Syndi ca te. De po is pro pu se mos uma tro ca de ter ri tó ri os. OGo ver no bo li vi a no a nada tem que ri do aten der. O Pre si den te Pan do vai mar char com o fim de sub me ter os bra si le i ros do Acre. Em con se qüên -cia dis so, o nos so Pre si den te re sol veu con cen trar tro pas nos Esta dosdo Mato Gros so e Ama zo nas...”

Os tre chos que aca ba mos de trans cre ver, do Jor nal do Com mer -cio e da cir cu lar de Rio Bran co, não fi ca ram ig no ra dos do ati vo re da tor

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che fe d`A No tí cia, pois no seu nú me ro de 30 de ja ne i ro úl ti mo en con -tra mos um edi to ri al que co me ça as sim:

“No te le gra ma-cir cu lar que o ilus tre Ba rão do Rio Bran co di ri giuàs Le ga ções do Bra sil, nar ran do as re cen tes ocor rên ci as com a Bo lí via,vê-se que o Bra sil pro pôs pre li mi nar men te a com pra do ter ri tó rio doAcre e em se gui da uma tro ca de ter ri tó ri os, a nada acen den do o Go ver -no da Bo lí via. Re a ta das as ne go ci a ções, sem pre com o es pí ri to con ci li a -tó rio de que te mos dado tan tas pro vas, cons tou que o Go ver nobra si le i ro ofe re cia-se a cons tru ir uma es tra da de fer ro que fa ci li tas se àBo lí via o seu mo vi men to co mer ci al pelo Ma de i ra...”

Em 26 de mar ço, di zia as sim A No tí cia:“...Não se che gan do a um acor do di re to, o Bra sil e a Bo lí via re cor -

re rão à ar bi tra gem. Como se sabe, têm sido três as ba ses de um acor dodi re to, ba ses que na tu ral men te vol ta rão a ser ob je to das ne go ci a ções:in de ni za ção pe cu niá ria; cons tru ção de es tra da que fa ci li te a Bo lí via uma sa í da para o Ama zo nas e para o oce a no; per mu ta de ter ri tó ri os.Tudo quan to se pos sa di zer a esse res pe i to é an te ci pa do, pa re cen doape nas que a Bo lí via re pe le in li mi ne a in de ni za ção pe cu niá ria... Qu an -to à ter ce i ra base, a per mu ta de ter ri tó rio, qual quer ju í zo ou pre vi sãose ria im per ti nen te na in ter cor rên cia da ques tão di plo má ti ca que vaipros se guir du ran te o mo dus vi ven di...”

Assim, já em 30 de ja ne i ro A No tí cia sa bia per fe i ta men te o que de -se ja va ou pre ten dia o Sr. Ba rão do Rio Bran co: a com pra do Acre ouuma tro ca de ter ri tó ri os; a cons tru ção da via-fér rea do Ma de i ra.

E A No tí cia, des de ja ne i ro até ou tu bro, não dis se uma pa la vracon tra a per mu ta de ter ri tó ri os. Em 4 de abril acon se lha va a com pra do Acre. E, em 13 de no vem bro, es que ci da do que es cre ve ra em 30 de ja -ne i ro e 26 de mar ço, di zia: “O Sr. Ba rão do Rio Bran co, para cuja le al -da de não pre ci sa mos ape lar, re pe lia in li mi ne e com todo o vi gor do seu es cla re ci do pa tri o tis mo qual quer pro pos ta de per mu ta de ter ri tó ri os”.

Avi va da as sim a me mó ria d´A No tí cia, verá ele que o Sr. Ba rão doRio Bran co não só não re pe lia pro pos tas de tro ca de ter ri tó rio, quenin guém lhe fa zia, mas até foi quem pro pôs a com bi na ção de tro ca de -si gual e com pen sa ção em di nhe i ro. O Go ver no da Bo lí via até fins de ju -lho não que ria sa ber da in de ni za ção pe cu niá ria: só ad mi tia a per mu tari go ro sa de ter ri tó ri os ou, o que acha va pre fe rí vel, o ar bi tra men topara a in ter pre ta ção do art. 2º do Tra ta do de 1867.

Vem de mol de lem brar tam bém que, quan do o ilus tre re da -tor-che fe d`A No tí cia e da Ga ze ta de fen dia o Go ver no pas sa do, não sere vol ta va con tra a idéia de tro ca de ter ri tó ri os, nem via na Cons ti tu i çãoda Re pú bli ca em pe ci lho al gum para a per mu ta pro je ta da. A Pla téa deS. Pa u lo deu en tão re su mi da con ta das ne go ci a ções em cur so en tre osSrs. Olyntho de Ma ga lhães e Sa li nas Vega. Os jor na is des ta Ca pi tal

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trans cre ve ram as re ve la ções da Pla téa de S. Pa u lo. Não po dia, por tan -to, o ati vo re da tor-che fe d´A No tí cia, de ma is a mais con fi den te ín ti modo Go ver no de en tão, ig no rar o que era aqui di vul ga do, em di fe ren tesoca siões, por vá ri as fo lhas, en tre as qua is o Jor nal do Com mer cio, aImpren sa e o Cor re io da Ma nhã.

Tratava-se naquele tempo de operação modesta. O pequenotrecho do rio Acre (45 milhas) e o território que ele atravessa, entre alinha oblíqua Javari-Beni e o paralelo de 10o 20’, seriam transferidos aoBrasil em troco do território de igual superfície, pertencente ao Estadodo Amazonas, e de um porto no Paraguai, devendo o Brasil entregar àBolívia durante quinze anos a renda do Acre ou aplicá-la à construçãodo caminho de ferro do Madeira.

Di ze mos que a ope ra ção era mo des ta por que a ma i or par te do rioAcre (250 mi lhas), a mais pro du ti va e mais po vo a da de bra si le i ros, con -ti nu a ria a per ten cer a Bo lí via; mas o tre cho in con tes ta vel men te na ci o -nal que pas sa ria à Bo lí via não era de uns 3.000 qui lô me tros qua dra dos,como ago ra, mas sim de 50.000 ou mais.

A ne go ci a ção ia por di an te quan do, pela in ter ven ção de uma es -qua dri lha que o Go ver no Fe de ral man dou ao Acre, se fez a par ti ci pa -ção em pro ve i to da Bo lí via. Então, como re fe riu no Jor nal doCom mer cio o es cri tor mi nis te ri al que se as si na va “Um di plo ma ta”, oSr. Sa li nas Vega sus pen deu a ne go ci a ção, re je i tan do, em nome do seuGo ver no, as pro pos tas e com bi na ções de per mu ta de ter ri tó ri os quean da vam sen do es tu da das.

O Cor re io da Ma nhã na que le tem po era pela tro ca de ter ri tó ri osque hoje con de na.

“Se a Chan ce la ria bra si le i ra”, di zia na par te edi to ri al des sa fo lha olus tre Vic to ri no Pe re i ra (24 de ju nho de 1902), “ se a Chan ce la ria bra si -le i ra es te ve pres tes a re sol ver o as sun to com a con tra-pro pos ta do Sr.Sa li nas Ve gas em con di ção ace i tá ve is, por que de i xou es ca par a oca sião fa vo rá vel e fir mou ou man te ve o pro to co lo de ou tu bro de 1900? Se essapro pos ta exis te, e do cu men ta da, por que não sus ten tá-la ou re vi vê-la?Se dis so não há pro va, por que de i xou o Mi nis tro de se as se gu rar napos se do do cu men to tão ne ces sá rio e im por tan te?”

A so lu ção que Vic to ri no Pe re i ra e o Cor re io da Ma nhã acha vamboa e acon se lha vam em ju nho do ano pas sa do, fi cou sen do ago ra uma“ver go nha”, uma “in fâ mia”, so men te por que o Bra sil ad qui re ter ri tó rio qua tro ve zes ma i or do que pe dia en tão o Go ver no bra si le i ro e trans fe re à Bo lí via 3.000 qui lô me tros qua dra dos em vez de 50.000.

O Cor re io da Ma nhã tam bém pu bli cou em 28 de ja ne i ro des te anoo te le gra ma-cir cu lar a que aci ma nos re fe ri mos, sem re pro var a idéiade com pra, nem a de tro ca de ter ri tó ri os, an tes apla u din do tudo quan to

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fa zia o Ba rão do Rio Bran co e mos tran do-se co e ren te com o que di ziano tem po de Ma no el Vic to ri no.

Gil Vi dal, em 8 de fe ve re i ro, dava uma ar ti go com o tí tu lo “Vi tó riadi plo má ti ca” e, no dia 9, re lem bran do as que o Bra sil al can ça ra nosdois ar bi tra men tos de Was hig ton e Ber na, di zia:

“Vi tó ria igual nos es pe ra na con ten da com a Bo lí via se por ven tu ra não pu der mos re sol vê-la por con ces sões re cí pro cas, e ti ver mos queen tre gá-la a ar bi tra men to. Ain da des ta vez a es tre la do Ba rão do RioBran co foi pro pí cia ao Bra sil. Pa re ce que os céus to ma ram sob o seupa tro cí nio esse nome a que está li ga da a nos sa ma i or obra de ca ri da dee hu ma ni da de - a re den ção dos ca ti vos...”

Enten dia, por tan to, o Cor re io da Ma nhã, em 9 de fe ve re i ro, quede vía mos pro cu rar re sol ver a con ten da com a Bo lí via por meio de con -ces sões re cí pro cas, com pre en den do-se, sem dú vi da, nes ta ex pres são aper mu ta de ter ri tó ri os, já acon se lha da em 24 de ju nho do ano pas sa dono mes mo Cor re io da Ma nhã, ou a com pra do Acre, pro pos ta pelo atu -al Go ver no com o in ten to de re du zir à ex pres são mais sim ples a nos sacon tri bu i ção em ter ri tó rio.

No pre ce den te ar ti go já ex pli ca mos que o Bra sil não com prou, emfe ve re i ro, di re i tos ao Bo li vi an Syndi ca te, di re i tos que lhe não re co nhe -cia e que, mes mo quan do fos sem vá li dos, não po di am, por dis po si çãocla ra e ter mi nan te do con tra to, ser trans fe ri dos sem o con sen ti men todo Con gres so bo li vi a no. O que o Go ver no bra si le i ro en tão ob te ve foi a re nún cia pura e sim ples da con ces são ha vi da pelo Sin di ca to, para as -sim eli mi nar um ele men to per tur ba dor das ne go ci a ções.

Em 11 de no vem bro, A No tí cia, ain da que de pas sa gem, en vol veunas suas cen su ras essa ope ra ção, di zen do que o Go ver no com pra rapor cem mil li bras “o di re i to ilí qui do de um Sin di ca to”.

É in te res san te apro xi mar des se ju í zo des fa vo rá vel o que A No tí ciati nha dito an te ri or men te.

Em 26 de fe ve re i ro:“... Re fe ri mo-nos ao que nos diz o nos so cor res pon den te es pe ci al

de Pe tró po lis, co mu ni can do-nos a gra ta, im por tan tís si ma no tí cia de jáes tar ter mi na da a ne go ci a ção en ta bu la da en tre o Go ver no bra si le i ro eo Sin di ca to an glo-ame ri ca no... Está re mo vi do um gran de em ba ra ço aque era pre ci so aten der...”

Em 13 de mar ço:“ Nos te le gra mas de hoje fez-se ques tão, so bre tu do,das ne go ci a -

ções em vir tu de das qua is o Bra sil ob te ve a de sis tên cia do Sin di ca to. ABo lí via re pu ta ca du ca a con ces são, por um lado; e por ou tro lado re cu -sa-nos o di re i to de ter en ta bu la do es sas ne go ci a ções. De que a ação doGo ver no nes se sen ti do foi útil são pro vas, por ex clu são os pro tes tos,aliás tar di os, que ela des per ta; quan to ao di re i to que nos é re cu sa do ago -

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ra, po der-se-ia di zer que essa de sis tên cia é, pelo me nos, um ele men to de fa ci li da de para a ocu pa ção mi li tar que o Bra sil re sol veu fa zer...”

Re la ti va men te à in ter ven ção mi li tar que, em ja ne i ro e fe ve re i ro, oGo ver no e a Na ção in te i ra jul ga ram ne ces sá ria para pro te ger os bra si -le i ros do Acre e é hoje con de na da pelo Cor re io da Ma nhã, re pro du zi re -mos os se guin tes tre chos:

De Gil Vi dal, ar ti go de fun do no Cor re io da Ma nhã de 25 de ja ne i -ro úl ti mo:

“Já não é per mi ti do con fi ar na efi cá cia dos me i os di plo má ti cospara cha mar à ra zão a Bo lí via. Esta quer do mi nar o Acre pela for ça, le -van do de ven ci da a re sis tên cia que lhe têm opos to os bra si le i ros ali re -si den tes. Nós não po de mos con sen tir na imo la ção dos nos soscom pa tri o tas à ga nân cia dos bo li vi a nos, tan to mais quan to o ter ri tó rioé pelo me nos li ti gi o so... Te mos que re pe lir a for ça pela for ça. Na si tu a -ção a que che ga ram as co i sas nada mais nos res ta fa zer se não o ape loàs ar mas. Se ria in de co ro so re cu ar...”

O SR. ROCHA POMBO – que de po is se tor nou pom bi nha de paz,ami go da Bo lí via e mais bo li vi a no do que o Ge ne ral Pan do e os Srs. Gu -a chal la e Pi nil la – ar ti go no Cor re io da Ma nhã de 31 de ja ne i ro:

“... O Ge ne ral Pan do ... à fren te de le giões, aba la para o Acre, onde não mais pode to le rar que haja bra si le i ros que pro tes tem, como já pro -tes ta ram con tra a usur pa ção de um ter ri tó rio que é tão nos so, pelo me -nos como dos bo li vi a nos. Que virá essa ex pe di ção fa zer ali onde há20.000 bra si le i ros que so frem nos seus di re i tos e nos seus in te res ses? A que ex ces sos está ex pos ta toda essa in di to sa gen te, aban do na da na -que les ser tões à in cle mên cia e ao fu ror de ini mi gos cuja úni ca leipode-se ima gi nar qual será lá no de so la men to das flo res tas!...

Veja-se ago ra como di fe ren tes os tem pos! Em 1864, bas tou quecom pa tri o tas nos sos es ti ves sem sen do ví ti mas de ve xa ções no Esta doOri en tal, para que um cor po do nos so exér ci to ime di a ta men te trans pu -ses se a fron te i ra e fos se re cla mar pe las ar mas aqui lo que se nos ne ga vapela ra zão e o di re i to. E tra ta va-se en tão de bra si le i ros do mi ci li a dos emou tro país... Hoje, há ir mãos nos sos opri mi dos, tra ta dos à bala e à facaem ter ras que ha bi ta ram sem pre, mu i to cer tos de que es ta vam em sua pá -tria e sob a pro te ção das leis da Re pú bli ca... E que fi ze mos nós até hoje?...”

Do mes mo pa cí fi co Sr. Ro cha Pom bo, no Cor re io da Ma nhã de 4de fe ve re i ro:

“ ... Se os bo li vi a nos se apo de ra rem do Acre, além da ação enér gi -ca que nos cum pre exer cer ali, uma re pre sá lia ime di a ta se im põe: a in -va são da Bo lí via por Mato-Gros so. Entre as na ções a lei ine lu tá vel éesta, por mais que nos pese e cons tran ja aos nos sos sen ti men tos cris -tãos: den te por den te...”

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De i xou ape nas de acres cen tar: “olho por olho...”Assim como o Cor re io da Ma nhã de se jou, em ja ne i ro e fe ve re i ro,

“ação enér gi ca” e ime di a ta no Acre, para a de fe sa dos “ nos sos ir mãosopri mi dos”, e a in va são da Bo lí via por Mato Gros so.

Ago ra, cen su ra o Go ver no por que man dou tro pas para o Acre com o fim de im pe dir que fos sem es ma ga dos “os nos sos ir mãos opri mi dos”,que con ti nu as sem eles a ser “tra ta dos à bala e à faca”, e que pu des semser ex ter mi na dos por for ças es tran ge i ras, quan do – como de cla rou, emdo cu men to pú bli co, o Ba rão do Rio Bran co – se que ría mos ad qui riraque le re gião, não era pelo va lor da ter ra em si, mas para que pas sas sem a vi ver sob a pro te ção da ban de i ra e das leis de sua pró pria pá tria

os bra si le i ros que a po vo a vam. Se o Cor re io da Ma nhã en ten deque tro pas bra si le i ras não de vem ser man da das, em caso de ne ces si da -de, para re gião in sa lu bres, por que acon se lhou isso há me ses? Pois nãoé fa zer in jus ti ça aos nos sos sol da dos de hoje su por que ne les o es pí ri tode sa cri fí cio é me nor que nos da Bo lí via, e nos nos sos ve te ra nos do Pa -ra guai, que sou be ram afron tar o im pa lu dis mo e a có le ra-mor bus?

Ocu pa ção mi li tar, com pra e per mu ta de ter ri tó ri os, con ces sõesre cí pro cas, tudo isso foi acon se lha do ou apro va do du ran te me ses pe los mes mos que hoje fa zem dis so ou tros tan tos cri mes do Go ver no e se le -van tam in dig na dos con tra o tra ta do.

Admi rá ve is con se lhe i ros do povo e mes tres de pa tri o tis mos...!Arti go tam bém pu bli ca do nos se guin tes pe rió di cos:

– O Paiz, de 19 dez. 1903.– Ga ze ta de No tí ci as, 19 dez. 1903.– A Na ção, 19 de dez. 1903.

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A QUESTÃO DO ACRE E O TRATADO COM A BOLÍVIA III(*)

KENT

Re ser va mos para hoje ou tro tre cho do Cor re io da Ma nhã, tre chodu pla men te in te res san te, em bo ra para o nos so pro pó si to ape nas ocon si de re mos ago ra por um só dos seus dois as pec tos.

Em 28 de ju nho de 1902 di zia essa fo lha, pela pena bri lhan te deMa no el Vi to ri no Pe re i ra:

“Re fe rin do-se à re vo lu ção do Acre, afir mam as con fi dên ci as doMi nis tro (das Re la ções Exte ri o res) a um di plo ma ta, que ela ter mi nouquan do me nos nos con vi nha, por que, con quan to o Go ver no Fe de ralfos se in te i ra men te alhe io a essa re vo lu ção, a re so lu ção que por con tapró pria to ma ram os ofi ci a is da flo ti lha era in te i ra men te ino por tu na,por isso que só em vir tu de da re vo lu ção con sen tiu o Go ver no da Bo lí -via na per mu ta de ter ri tó ri os, já ace i ta pelo seu Mi nis tro.”

“... Pa re ce in crí vel que, como di zem as mes mas con fis sões, os ofi -ci a is da flo ti lha, que só ha via sido en vi a da pelo Go ver no ao Acre para ofim de pro te ger o li vre trân si to dos va po res mer can tes bra si le i ros, to -mas sem a si atri bu i ção de pa ci fi car o Acre, sem que para isso re ce bes -sem or dens ou ins tru ções. Dado, po rém, que as sim fos se, o que, aliás, oGo ver no não pro cu rou apu rar, res pon sa bi li zan do os que ex ce de ram asua mis são, nada im pe dia que as ne go ci a ções con ti nu as sem no ter re no em que es ta vam co lo ca das, tan to mais quan to os re vo lu ci o ná ri os en -tre ga ram o ter ri tó rio ao Go ver no bra si le i ro, re pre sen ta do pela sua for -ça ar ma da, e fi ze ram la vrar des sa en tre ga uma ata, na qual con fi a vamaos seus pa ci fi ca do res a res ti tu i ção des te pe da ço do solo pá trio, queeles ha vi am ci vi li za do com a sua ini ci a ti va e o se san gue...”

Fica as sim per fe i ta men te es ta be le ci do, pe las ci ta ções fe i tas nonos so an te ri or ar ti go e pelo tre cho aci ma trans cri to:

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1º - Que em 1902 o Cor re io da Ma nhã en ten dia ser a me lhor so lu -ção para as di fi cul da des do Acre uma per mu ta de ter ri tó ri os en tre oBra sil e a Bo lí via;

2º - Que em ja ne i ro e fe ve re i ro des te ano o Cor re io da Ma nhã sou -be ofi ci al men te e pu bli cou – como to dos os ou tros jor na is des ta ci da de– que o Sr. Ba rão do Rio Bran co ha via pro pos to à Bo lí via a com pra dos ter ri tó ri os, em li tí gio ou não, po vo a dos por bra si le i ros, e ain da umacom bi na ção de per mu ta de ter ri tó ri os, in de ni za ção pe cu niá ria e exe -cu ção de ve lha pro mes sa re la ti va à pro je ta da via fér rea do Ma de i ra aoMa mo ré con ti nu an do a dar a esse Mi nis tro, du ran te me ses, apo io eapro va ção que, sa be mos, mu i to o pe nho ra ram.

De po is de o ha ver por tal modo ani ma do com os seus fa vo res, en -trou re pen ti na men te o Cor re io da Ma nhã a qua li fi car de ver go nha e in -fâ mia a com pra pelo Bra sil de uma re gião em que só há bra si le i ros, e de cri me de lesa pá tria a per mu ta de si gual de ter ri tó ri os, tão de si -gual(como mos tra vam as me di das de su per fí cie pu bli ca das em pri me i -ra mão no pró prio Cor re io), que dela re sul ta para o nos so país umenor me acrés ci mo ter ri to ri al, trans for man do, não obs tan te, nas co lu -nas des sa fo lha em “ces são de ter ri tó rio na ci o nal”.

So men te o Sr. Ro cha Pom bo, des de os pri me i ros me ses do ano, le -va va a mar te lar nas co lu nas do Cor re io da Ma nhã pelo ar bi tra men to,como a me lhor das so lu ções, e es ta fa va os seus le i to res com es ti ra dosar ti gos no in tu i to de pro var à So ci e da de Ge o grá fi ca de La Paz que o li -mi te es ti pu la do em 27 de mar ço de 1867 é o pa ra le lo 10° 20´Sul.

Esses ar ti gos de vem ter pe sa do mu i to no es pí ri to do ilus tre re da -tor-che fe e o pro pri e tá rio do Cor re io da Ma nhã, pois des de no vem broen trou a pre co ni zar, como so lu ção da con ten da, o ar bi tra men to apósum novo re co nhe ci men to da nas cen te prin ci pal do Ja va ri.

Qu an tos anos du ra ri am es sas duas cam pa nhas, a da quar ta ex plo -ra ção da nas cen te do Ja va ri e a do pro ces so ar bi tral até a as si na tu ra dola u do? Pelo me nos uns cin co a seis. E quan tas com pli ca ções e quan tospe ri gos po de rão sur gir du ran te tão lar go pe río do com os le van tes dospo vo a do res bra si le i ros des sas re giões, os con fli tos en tre eles os bo li vi -a nos do Orton e Ma dre de Diós e as in tru sões pe ru a nas?

De ma is, que cer te za po de ría mos ter de que sa i ria ven ce do ra pe -ran te qual quer juiz im par ci al uma in ter pre ta ção que o Go ver no bra si -le i ro só co me çou a dar em prin cí pi os des te ano, ca ben do à Bo lí via ofá cil pa pel de de fen der, con tra essa re cen te in ter pre ta ção, a ou tra queo mes mo Go ver no bra si le i ro ha via man ti do in va ri a vel men te du ran tetrin ta e cin co anos e afir ma do em nu me ro sos do cu men tos ofi ci a is?

A de fe sa efi caz de uma ca u sa em ar bi tra men to in ter na ci o nal não é em pre sa fá cil como pa re ce a al guns. É pre ci so que a ca u sa seja boa eque o ad vo ga do sa i ba de fen der. Uma co i sa é es cre ver ar ti gos às pres -

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sas, em cima da per na, para gen te que leva a man dri ar e não co nhe ce enem es tu da as ques tões que lê, e ou tra mu i to di fe ren te é pro du zir ar gu -men tos e pro vas que um juiz exa mi na, es mi ú ça e apro fun da, por semes mo e por au xi li a res com pe ten tes.

Se, por exem plo, o Sr. Ro cha Pom bo re pe tis se em ju í zo ar bi tralque o tra ta do de 1777 es ta be le ce uma li nha de fron te i ra pela di vi só riadas águas en tre os rios Ver de e Pa ra ga hú (Cor re io da Ma nhã de 4 de fe -ve re i ro de 1903), os ju ris con sul tos e geó gra fos, con se lhe i ros do ár bi -tro, iri am logo exa mi nar aque le tra ta do e acha ri am, me di an te sim plesle i tu ra do ar ti go 10º, que nele não há men ção al gu ma des ses dois aflu -en tes de mar gem es quer da ou oci den tal do Gu a po ré e que am bos, por -tan to a an ti cli nal ci ta da, fi ca vam em ter ra da Co roa da Espa nha, por ser o ál veo do Gu a po ré, a les te, a fron te i ra de ter mi na da no mes mo ar ti go.E o ár bi tro to ma ria boa nota de que o Sr. Ro cha Pom bo, o fu tu ro fun -da dor da Uni ver si da de de Cu ri ti ba, ou ti nha que ri do de i tar-lhe po e i ranos olhos, como não raro faz nos seus le i to res ca ri o cas, ou es cre via àsve zes sem su fi ci en te pre pa ro. Qu an do que bô nus dor mi tat co lum bus...

Admi ta mos que no ar bi tra men to para a in ter pre ta ção do art. 2ºdo tra ta do de 1867 o Bra sil le vas se a me lhor. Esta ri am por isso re mo vi -das di fi cul da des que que ría mos re sol ver? De ne nhum modo. Ao sul dopa ra le lo de 10o 20’ – má xi mo pre ten são dos que an da vam a que brar lan -ças pe los “nos sos ir mãos opri mi dos” e a ata car o Go ver no tran sa to –, aosul des se pa ra le lo é que cor re a ma i or par te do rio Acre, com os seusaflu en tes Xa pu ri, iga ra pé Ba hia e ou tros. É pre ci sa men te nes sa par tein con tes ta vel men te bo li vi a na que se con tam em ma i or nú me ro os bra -si le i ros e as pro pri e da des cha ma das “bar ra cões”. Den tre es ses es ta be -le ci men tos, que são ou tros cen tros de po pu la ção na ci o nal, ci ta re mosape nas Vol ta de Ma za gão, Gu a ra ni, Pa ra í so, Ca pa ta rá, Antu nes, S.João do Itú, Itú de Cima, Re man so, S. Luiz, Boa União, Cas ti lha, Flo res -ta, Pro vi dên cia, Vila Nova, Na tal, Per se ve ran ça, San ta Lu zia, S. Fran -cis co de Ira ce ma, Ira ce ma do Meio, Boa Fé, S. Jo a quim de Ira ce ma,Inde pen dên cia, Pa u ma ri zi nho, Ca rão, Fon te Nova, Pa u ma ri, Extre mado Pa u ma ri, Apu ri nã, So le da de, Ira pu ri nã, Aqui da bã, Novo Apu ri nã,Sa pa te i ro, Equa dor, S. Frans cis co, Ira puã, Re cre io, Xa pu ri, Gu e des,Bos que, Flor de Ouro, Flo res ta, Si bé ria, Oli ve i ra, San ta Fé, San ta Vi tó ria,Na za reth, Por vir, Bel mon te e Ba hia, para não alon gar esta no men cla tu rage o grá fi ca es sen ci al men te bra si le i ra.

Iría mos ao ar bi tra men to aban do nan do to dos os pro pri e tá ri osbra si le i ros e seus em pre ga dos re si den tes na zona ao sul do pa ra le lo 10o 20´,sa cri fi can do mi lha res dos “nos sos ir mãos opri mi dos”, que ali con ti nu a -ri am a ser “tra ta dos à bala e à faca”, como di zia o Cor re io da Ma nhã. Du ran -te o pro ces so ar bi tral ou vi ría mos o gri to de an gús tia des ses nos soscom pa tri o tas; logo de po is, os seus gri tos de re vol ta e de guer ra – con -

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tra o jugo es tran ge i ro. Então, os mes tres de pa tri o tis mos que ago ra di -zem ser uma inép cia a gran de aqui si ção ter ri to ri al que o Bra sil vaifa zer, cla ma ri am con tra o re cur so ao ar bi tra men to e con tra o aban do -no dos “nos sos ir mãos opri mi dos”. Di ri am, des sa vez com a ra zão, que,pelo ar bi tra men to, nada con se gui ría mos re sol ver e que to das as di fi -cul da des con ti nu a vam de pé. Pro cu ra ri am agi tar a mas sa po pu lar con -tra o Go ver no e con tra a Bo lí via. Pe di ri am a “ação ime di a ta e enér gi ca”no Acre bo li vi a no ao Sul do pa ra le lo de 10o 20´e a “in va são da Bo lí viapor Mato Gros so.” O cons pí cuo Gil Vi dal, ho mem que não co me te“inép ci as”, nem faz “dis la tes”, em vez de fi car sos se ga do, sa i ria comsuas in ven ti vas de on tem e bra da ria como em 25 de ja ne i ro úl ti mo:“Nós não po de mos con sen tir na imo la ção dos nos sos com pa tri o tas àga nân cia dos bo li vi a nos ... Nada mais nos res ta fa zer se não o ape lo àsar mas...”

O Tra ta do de Pe tró po lis, se for apro va do, evi ta rá a con tin gên ciade no vos des tem pe ros e agi ta ções e pro tes tos do Acre. O tra ta do põeter mo à tra pa lha da em que an dá va mos me ti dos des de 1899 e re sol vehon ro sa men te a ques tão, aten den do às mú tu as con vi vên ci as do Bra sile da Bo lí via. O ar bi tra men to a não re sol ve ria, ha ven do vá ri os fa to respara per tur bar a sua mar cha re gu lar, ou da ria ape nas, na mais fa vo rá -vel das hi pó te ses, uma so lu ção de mo ra da e de fi ci en te.

O Acre até pou co tem po era, par aos acu sa do res do Go ver notran sa to, a re gião ma ra vi lho sa men te rica da Amé ri ca do Sul, um ter ri -tó rio co bi ça do pe los ame ri ca nos do nor te e pe las gran des po tên ci asco mer ci a is da Eu ro pa. Era pre ci so a todo o cus to que o Acre fos se in -cor po ra do ao Bra sil des de a li nha ge o dé si ca Ja va ri-Beni até a la ti tu deaus tral de 11o.

O Sr. La u ro So dré, em 2 em maio do mes mo ano, ex cla ma va noClub Mi li tar, sen do as suas pa la vras co ber tas de pal mas en tu siás ti cas:“A ques tão do Acre não é uma ques tão ama zo nen se, é uma ques tãobra si le i ra!” E acres cen ta va: “O Acre, que há tan to tem po de sa fia o in te -res se das na ções que vi vem da guer ra, que é ob je to de co gi ta ções dasna ções con quis ta do ras, é ex clu si va men te cri a ção dos bra si le i ros.Aque le solo fer ti lís si mo fo ram ci da dãos bra si le i ros que o tra ba lha -ram...”

Ma no el Vi to ri no Pe re i ra, no Cor re io da Ma nhã de 10 de ou tu bro,es cre via: “Se me não se ria lí ci to ne gar aos di plo ma tas e go ver nos bo li -vi a nos lou vo res e elo gi os pelo em pe nho que re ve lam em con ser varpara sua pá tria a pos se do fe cun do e rico ter ri tó rio, não po dem eles es -tra nhar que aos Mi nis tros e Pre si den tes do meu país eu cen su re a ina -bi li da de e im pre vi dên cia com que têm con cor ri do para a sua per da...”

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Gil Vi dal, me lin dra do em seu amor pá trio, di zia em 14 de se tem -bro do mes mo ano de 1902 que o Acre es ta va “in te i ra men te per di do”para nós e que “só pela guer ra o po de ría mos re con quis tar”.

Sem que fos se ne ces sá rio re cor rer às em pre sas bé li cas, que a sa -ga ci da de po lí ti ca de Gil Vi dal an dou pre ven do, pode ago ra, em bre vesdias, fi car in cor po ra do à União Bra si le i ra, não o Acre mí ni mo, com que ele e o Sr. Ro cha Pom bo so nha vam, sim o Acre imen sa men te ma i or,ope ran do-se tal ane xa ção mui pa ci fi ca men te, per ami ca bi lem tran sac -ti o nem, como di ria Jus ti ni a no, ou por “con ces sões re cí pro cas”, comoGil Vi dal de se ja va em 9 de fe ve re i ro úl ti mo. O Tra ta do de Pe tró po lis as -se gu ra rá esse re sul ta do, que para fi car de todo ob ti do só de pen de ago -ra do voto dos dois Con gres sos Le gis la ti vos re u ni dos em La Paz e noRio de Ja ne i ro.

Mas... mu dam os tem pos e trans for mam-se os es cri to res do Cor -re io da Ma nhã. Aque las flo res tas do Acre, por eles tão ape te ci das echo ra das quan do em po der do es tran ge i ro, as sun to ou pre tex to paratan tos as so mos de pa tri o tis mo, hoje que po dem fi car sen do de fi ni ti va -men te nos sas, já não pres tam para nada, se gun do os mes mos es cri to -res. “... Po de ría mos ob ser var”, es cre veu o Sr. Ro cha Pom bo no Cor re io da Ma nhã de 5 do cor ren te mês, “Po de ría mos ob ser var que, em qual -quer caso, não fa ría mos mais se não com prar mu i to caro ter ras inós pi -tas, quan do é cer to que pos su í mos ter ras de so bra... Bas ta que otra ta do seja re pe li do por qual quer dos dois Con gres sos e es ta re mos aícom o pro ble ma cada vez mais in so lú vel. Mais in so lú vel não se ria dees pan tar tan to: o que faz ge lar a alma na ci o nal é o ris co de ver sem so -lu ção o pro ble ma e sem mu dar a con jun tu ra amar gan te a que fo mos le -va dos, ten do de fi car com o Acre como um bá ra tro aber to, a tra garvi das e vi das... sem se sa ber bem por que nem para que...”

O SR. ROCHA POMBO – que que ria in ter ven ção mi li tar no Acrepara li ber tar “os nos sos ir mãos opri mi dos”, que acon se lha va a to ma dades sa “fer ti lís si ma re gião” à viva for ça e a in va são da Bo lí via por MatoGros so, ago ra tem o de sem ba ra ço de la men tar que fi que mos com oAcre, de di zer que “fo mos le va dos” ao que cha ma uma “con jun tu raamar gu ran te”, e de acres cen tar que não sabe bem “por que nem paraque” fi ca re mos com o Acre.

Não sabe por que nem para que? Pois re le ia os seus es cri tos dequa se um ano atrás e ne les acha rá a res pos ta e a ex pli ca ção.

E de po is, que po le mis ta de luz! Com que ha bi li da de de fen de as ca -u sas que abra ça!

Em 5 de de zem bro, no tre cho aci ma trans cri to, mos tra-se ater ra -do com as con se qüên ci as da re je i ção do Tra ta do por qual quer dos seusCon gres sos. Em ou tro tó pi co do mes mo ar ti go diz: “Ima gi ne mos, po -rém, que o nos so Con gres so, afi nal con ven ci do de que se tra ta não de

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ces são, mas de tro ca de ter ri tó ri os, apro ve o Tra ta do: e se o Con gres sobo li vi a no não es ti ver pe los au tos? Esta hi pó te se é tal vez a mais gra vede to das...”

O SR. ROCHA POMBO – acha que o caso é mu i to gra ve e nãopode “pre ver as con se qüên ci as do pe ri go”.

Entre tan to, no dia 10 – cin co dias de po is – de se ja a re je i ção do tra -ta do pela Bo lí via, pro vo ca o caso gra vís si mo, pre nhe de pe ri gos, e es ti -mu la nes tes ter mos o povo bo li vi a no a le van tar-se con tra o ajus ta do:

“Mas es que cen do por um ins tan te a nos sa des gra ça: é pos sí velque o povo bo li vi a no – se é que ain da há povo, como acre di ta mos, noAlto Peru das eras pas sa das – é pos sí vel que o povo bo li vi a no de i xe,pas si vo e in cons ci en te, que se con su ma este ne gó cio es can da lo so, esteas som bro de ir ri são, no qual, se o nos so pa pel é de uma bar ba ri da deatro cís si ma e de um des co mu nal des dém pela pá tria, a par te da Bo lí viaé a ofen sa mais pun gen te ao seu pu dor de na ção? Esta rá de todo mor tona alma da que le povo o sen ti men to na ci o nal, e de modo tão de ses pe ra -dor, que nem mais se deva es pe rar dele um sim ples mo vi men to de re -pul sa a um aten ta do de se me lhan te na tu re za?...”

Pode dar-se me lhor do cu men to da de so ri en ta ção de um es pí ri to?Que bra si le i ro é este que se não con ten ta de pre ten der dar li ção de mo -ral e pa tri o tis mo aos ne go ci a do res bra si le i ro e bo li vi a no do Tra ta do dePe tró po lis e che ga até a que rer ser mais bo li vi a no do que os pró pri osbo li vi a nos? E ousa fa lar em “bar ba ri da de atro cís si ma” e “des co mu naldes dém pela pá tria bra si le i ra” o ho mem que as sim des de nha os queon tem cha ma va “nos sos ir mãos opri mi dos” e hoje pre fe re ver de novotra ta dos pelo es tran ge i ro “à bala e à faca”!

Arti go tam bém pu bli ca do nos se guin tes pe rió di cos:

– Jor nal do Bra sil, 22 dez. 1903.– O Paiz. 22 dez. 1903.– A Tri bu na. 22 dez. 1903.

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A QUESTÃO DO ACRE E O TRATADO COM A BOLÍVIA IV(*)

KENT

Já vi mos que em 1902, pela tão com pe ten te do nos so sem pre lem bra -do Ma no el Vi to ri no Pe re i ra, o Cor re io da Ma nhã in si nu ou ite ra ti va men te acon ve niên cia de re sol ver mos as com pli ca ções do Acre por meio de umaper mu ta de ter ri tó ri os, per mu ta pura e sim ples, acar re tan do, por tan to, atrans fe rên cia para a Bo lí via de uma área de ter ri tó rio, in con tes ta vel men tebra si le i ro, igual àque la so bre que que ría mos ha ver o do mí nio emi nen te. Vi -mos tam bém que os pri me i ros me ses des te ano o Cor re io da Ma nhã aco lheu sem ne nhum co men tá rio des fa vo rá vel, an tes com mui ma ni fes ta sim pa tia, ano tí cia de es tar o atu al. Mi nis tro das Re la ções Exte ri o res ne go ci an do, oupro cu ran do ne go ci ar, não só so bre a in di ca da base de per mu ta de ter ri tó rio, mas tam bém, e prin ci pal men te, so bre a de uma in de ni za ção pe cu niá ria àBo lí via em ra zão da fal ta de equi va lên cia nas áre as a per mu tar.Ve ja mos ago -ra, nos se guin tes ex tra tos, como o mes mís si mo jor nal se pro nun cia hoje so -bre as ba ses que acon se lha va ou que lhe não re pug na vam an tes, e até quepon to ele va do o di a pa são das suas ha bi tu a is con tu mé li as.

1) O tra ta do “é a ver go nha de dois po vos. Não é um ato di plo má -ti co e sim uma ver go nho sa tran sa ção de com pra e ven da em gros so” (5de de zem bro).

2) “O tra ta do do Acre será a man cha ne gra da nos sa his tó ria” (9de de zem bro).

3) “O que se fez ago ra não é um tra ta do, não é um con tra to: é an tesuma es cri tu ra de ne gó cio “(ar ti go Ro cha Pom bo, de 10 de de zem bro)”.

4) “Alcan ça mos, a peso de ouro, dez ve zes mais do que o Impé rio – di zem os pró pri os bo li vi a nos – al can ça ra em 1867 do ge ne ral Mel ga -re jo, cuja me mó ria, aliás, é hoje tão de tes ta da por aque les mes mos dequem se es pe ra a apro va ção do im pio, sa crí le go tra ta do...”. (Ibi dem).

* Pu bli ca do no Jor nal do Com mer cio. Rio de Ja ne i ro, 23 de de zem bro de 1903. Se ção: Pu -bli ca ções a Pe di do.

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5) “Para dou rar a pí lu la, da mos à im pi e da de uns ares de acor dole gí ti mo, de lí ci ta con ci li a ção de in te res ses como se se tra tas se de tro cade ter ri tó ri os. Com pra mos as ter ras, os vas tos la ti fún di os de que a ca u -di lha gem vi zi nha se apro pri a ra na zona que nos é ven di da”. (Ibi dem).

6) “O tra ta do se ria para a Bo lí via um opró brio e para nós além de opró brio, se ria um de sas tre tal vez in cal cu lá vel”. (10 de de zem bro).

7) “É uma obra des co mu nal men te abu si va e com pro me te do radas nos sas tra di ções”. (Ibi dem).

8) “É um cri me con tra nós pró pri os de sa gre gan do o nos so ter ri -tó ri os...”. Pois nós que nun ca ce de mos a nin guém (e sob pre tex to al -gum, por mais pon de ro so que se ima gi na) um pal mo se quer de ter rapá tria, va mos ago ra dis far çar um ne gó cio opro bri o so en tre gan do àBo lí via pe da ços de solo sa gra do...!” (Ibi dem).

9) “Por que en fren ta mos com povo fra co e po bre nos eri gi mosem for tes para li qui dar ques tões a gol pes de for ça e a peso de di nhe i -ro”. (Ibi dem).

10) “Dis la te de uma Chan ce la ria des mo ra li za da...”. (ar ti go de GilVi dal, sci li cet, Leão Vel lo so, 19 de de zem bro).

11) “Obra inep ta, re quin ta da pelo des pre zo das se ve ri da des dome lin dre na ci o nal”. (mes mo Sr. Leão Vel lo so, ar ti go ci ta do).

12) Ato de “um go ver no ré pro bo”. (mes mís si mo Sr. Leão Vel lo -so, em ar ti go de no vem bro).

Po nha mos de lado os pa la vrões e do es tos con ti dos nos tó pi cosque aca ba mos de trans cre ver, bem como os im pa trió ti cos in ci ta men tos com que ne les se pro cu ra re sol ver a Bo lí via a re cu sar-nos uma ver da -de i ra vas ti dão de ter ras fe ro cís si mas, tra ba lha das por mi lha res de bra -si le i ros. Con si de re mos so men te os pon tos que nos in te res saes cla re cer.

No tre cho 8º, aci ma, o Sr. Ro cha Pom bo in sis te em que “nun ca ce -de mos a nin guém um pal mo se quer de ter ra pá tria”.

Re por ta mo-nos ao que fi cou dito no nos so pri me i ro ar ti go. Aí terá vis to o mal in for ma do au tor do “Com pên dio da His tó ria da Amé ri ca”que, con ven ção de 27 de agos to de 1828, re nun ci a mos a uma pro vín ciain te i ra, com 187.000 qui lô me tros qua dra do e que nas de 4 de se tem brode 1837 e de 11 de fe ve re i ro de 1874 es ti pu la mos per mu tas de ter ri tó riocomo o Uru guai e com o Peru. Hoje acres cen ta re mos ou tro nos so: ocon clu í do em Mon te vi déu ao 15 de maio de 1852 por Car ne i ro Leão(de po is Mar quês de Pa ra ná) e Flo ri a no Cas tel la nos, e no qual re nun ci a -mos, em fa vor do Uru guai, a meia lé gua de ter ra na foz do Ce bol laty eou tra meia lé gua de ter ra na do Ta cu ri, Não é mu i to, mas sem pre é mais do que o pal mo de ter ra de que fala o Sr. Ro cha Pom bo.

Nos tre chos 1º, 3º e 5º su pra trans cri tos, diz-se que o Tra ba lho dePe tró po lis “não é um ato di plo má ti co”, “não é um tra ta do”, “não é um

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acor do le gí ti mo nem uma lí ci ta con ci li a ção de in te res ses”, é sim “umaver go nho sa tran sa ção de com pra e ven da em gros so”, uma es cri tu rade ne gó cio”, “a ver go nha de dois po vos”.

Mui pou co ver sa dos em di re i to in ter na ci o nal e em his tó ria po lí ti ca e di plo má ti ca são os que es cre ve ram tais co i sas.

Não ne ces si ta mos de re cor rer a ju ris con sul tos es tran ge i ros para mos -trar que é mu i to re gu lar e le gí ti ma em di re i to, a aqui si ção de ri va ti va que oBra sil vai fa zer, e mu i to usu al, nas re la ções in ter na ci o na is, a tran sa ção a queche ga ram os dois Go ver nos, do Bra sil e da Bo lí via. Te mos pra ta de casa.

Abra mos o tomo 1º dos Prin cí pi os de Di re i to Inter na ci o nal doCon se lhe i ro La fa yet te Ro dri gues Pe re i ra (Rio, 1902):

“§ 92. – Cons ti tu em tí tu los le gí ti mos de aqui si ção de ter ri tó rio os tra -ta dos e con ven ções que per ten cem à clas se da que las pe los qua is se trans -fe rem di re i tos e que se po dem re du zir aos se guin tes: ces são gra tu i ta,com pra e ven da, per mu ta, tran sa ção, par ti lha, de mar ca ção de li mi tes.

“A com pra e ven da, como modo de ces são de ter ri tó ri os en tre as na ções, tem sido usa da ain da em tem pos re cen tes.

“§194. – Mu i tas ve zes um Esta do, ou sob a pres são das cir cuns -tân ci as em que se acha, ou por in te res ses e con ve niên ci as de or dem po -lí ti ca, ad mi nis tra ti va ou eco nô mi ca, é le va do a ce der a ou tro umapar ce la de ter ri tó rio, uma cer ta re gião, ilhas ou pos ses sões re mo tas.

A ces são im por ta a trans fe rên cia ao ces si o ná rio, por par te do ce -den te, de to dos os di re i tos de so be ra nia so bre o ter ri tó rio ali e na do,com o ônus e obri ga ções que o gra vam, sal vo as re ser vas ex pres sas.

São cláu su las usu a is e pe cu li a res des ta es pé cie de tra ta do:[....].A ces são de ter ri tó rio pode ser gra tu i ta, mas de or di ná rio ela se re -

a li za a tí tu lo one ro so por via de per mu ta, de com pra e ven da, de da ção in so lu tum e ain da como com pen sa ção de pre ju í zo e da nos so fri dos”

Os nos sos le i to res de ci di rão en tre a re cen te opi nião do Cor re io da Ma nhã, de um lado, e do ou tro, a au to ri da de de La fa yet te Ro dri guesPe re i ra e de uma cen te na de ou tros mes tres ou ex po si to res do di re i toin ter na ci o nal que po de ri am ser ci ta dos.

No que diz res pe i to à ale ga da imo ra li da de da com pra e ven da deter ri tó ri os en tre na ções, po de mos ape lar não só a au to ri da de dos ho -mens do di re i to, mas tam bém para a de um ilus tre pa trí cio nos so o Sr.Mi guel Le mos. Pelo Jor nal do Com mer cio de 25 de ja ne i ro dis se ele:

“... Fo mos dos que re pro va ram a ab sur da e ar ris ca da con ces sãoda re gião acre a na fe i ta pelo Go ver no da Bo lí via a um sin di ca to es tran -ge i ro, e bem as sim de plo ra mos que essa Re pú bli ca não ti ves se ace i ta do a pro pos ta da com pra da mes ma re gião, que o Bra sil lhe fez re cen te -men te, se gun do di zem...”

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Pas se mos aos pre ce den tes de tra ta dos de ces são, per mu ta, e com -pra e ven da de ter ri tó ri os.

Ce le bra dos por po tên ci as eu ro péi as, há mu i tís si mos. Bas ta men -ci o nar os que con clu í ram, em 24 de mar ço de 1860, o Pi e mon te e aFran ça, e em 12 de fe ve re i ro de 1899 a Espa nha e Ale ma nha.

Por este úl ti mo, o Impé rio ale mão com prou os ar qui pé la gosdas Ca ro li nas, Pa la os e Ma ri a nas, ex ce to a ilha de Guam, já ce di daaos Esta dos Uni dos, re ce ben do a Espa nha por es sas ilhas, cuja su -per fí cie é de ape nas 2.076 qui lô me tros qua dra dos, 16.593.373 mar -cos ou £829.918 e 13 shil li ings. Se a trans fe rên cia de ter ri tó ri ospu des se ser co ta da pela ex ten são dos mes mos, nos so de sem bol so, a jul gar pela ope ra ção que fez a Ale ma nha em 1899, de ve ria ser ago ra de mais £76.355.000, em vez de £2.000.000.

O ou tro tra ta do é mais in te res san te. As suas li nhas ge ra is fi ca -ram com bi na das e as sen ta das des de ju lho de 1859, na cé le bre con -fe rên cia de Plo bié res, en tre o gran de Ca vour e Na po leão III, em bo ra o tra ta do só fos se as si na do oito me ses de po is. Por ele, e com as sen ti -men to das Câ ma ras pi e mon te sas, o Rei ga lan tu o mo ce deu a Sa bóia, ber ço da sua di nas tia, e Niz za, pá tria de Ga ri bal di, ao im pe ra dordos fran ce ses. Pre va le ceu em Tu rim a ra zão de Esta do. Ca vour en -ten deu de ver aban do nar à Fran ça es ses 15.190 qui lô me tros de ter -ra en can ta do ra men te bela para con se guir a ane xa ção ao pi e mon tedo Re i no Lom bár do-Ve ne zi a no e po der pros se guir na gran de obrada uni fi ca ção da Itá lia.

Na his tó ria da Amé ri ca há vá ri os exem plos de tra ta dos de ces são,per mu ta, e com pra e ven da de ter ri tó ri os.

Já ci ta mos os con clu í dos pelo Bra sil. Ve ja mos os ce le bra dos pelare pú bli ca dos Esta dos Uni dos, a qual, prin ci pal men te por com pra, con -se guiu ad qui rir a ma i or par te do ter ri tó rio que hoje pos sui.

1) Sen do Pre si den te Tho mas Jef fer son: Tra ta do de Pa ris, de 30 deabril de 1803, com a Re pú bli ca Fran ce sa, ne go ci a do por Ja mes Mon reo e Ro bert Li ving ston.

Nes se ins tru men to fi cou es ti pu la da a ven da aos Esta dos Uni -dos, pelo Go ver no de Na po leão Bo na par te, da Lu i si a na, cuja po pu -la ção bran ca era toda de ori gem e lín gua fran ce sa. Cus tou essaaqui si ção ter ri to ri al ao com pra dor 16 mi lhões de dó la res, ou 80 mi -lhões de fran cos, ou £ 3.200.000. A ren da fe de ral em 1803 era ape nasde 11.604.000 dó la res. Por tan to, se o sa cri fí cio que ago ra va mos fa -zer em di nhe i ro fos se pro por ci o na do ao que en tão fi ze ram os ame -ri ca nos do nor te, em vez de 40 mil con tos, te ría mos que des pen der422 mil.

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2) Na pre si dên cia de Ja mes Mon roe: Tra ta do de 22 de fe ve re i ro de 1819, ne go ci a do pelo seu Se cre tá rio de Esta do John Qu incy Adams,de po is 6º pre si den te dos Esta dos Uni dos.

Da fi xa ção de fron te i ras es ti pu la da nes se tra ta do re sul tou aces são fe i ta à Espa nha da par te oci den tal da Lou i si a na, com pra dape los Esta dos Uni dos em 1803, e a aqui si ção, por esta re pú bli ca,das Fló ri das, a ori en tal e a oci den tal, com pro me ten do-se o Go ver -no ame ri ca no a pa gar re cla ma ções no va lor de 6.500 dó la res, ou £1.300.000.

3) Na Pre si dên cia de John Tyler (“em cujo pe río do nada ocor reu de no tá vel”, se gun do o Sr. Ro cha Pom bo, não sen do, por tan to, fatono tá vel para este a ane xa ção do tex to): tra ta do de li mi tes com aGrã-Bre ta nha, no qual fo ram ad mi ti das “as equi va lên ci as e com pen -sa ções que pa re ce ram jus tas e ra zoá ve is”, diz o preâm bu lo (“suchequi va lents and com pen sa ti ons as are de e med just and re a so ne ble”). Fo ram ne go ci a do res o cé le bre Da ni el Webs ter, en tão se cre tá rio deEsta do, e Lord Asbur ton.

Em vir tu de des se tra ta do, pas sou para o Ca na dá um ter ri tó riode 14.806 qui lô me tros qua dra dos, que es ta va em li tí gio en tre osEsta dos do Ma i ne e de Mas sa chus setts, no ân gu lo nor des te dosEsta dos Uni dos ga nhan do es tes um tra to na fron te i ra do Esta do deNova Yor que.

4) Na Pre si dên cia de Ja mes Polk: Tra ta do com a Grã-Bre ta nhia,con clu í do em Was hing ton aos 17 de ju lho de 1846, ne go ci a do por Ja -mes Bu cha nan, en tão se cre tá rio de Esta do, pois 15º pre si den te.

Este Tra ta do di vi diu en tre os Esta dos Uni dos e a Grã-bre ta nha oimen so ter ri tó rio do Ore gon, que es ta va em li tí gio.

5) Na mes ma Pre si dên cia Polk: Tra ta do de paz, ami za de e li mi tesas si na do em Gu a da lu pe-Hi dal go, no dia 2 de fe ve re i ro de 1848. Ne go -ci a dor ame ri ca no, Ni cho las P. Trit.

Os exér ci tos dos Esta dos Uni dos, de po is de vá ri as vi tó ri as,ocu pa vam a Ci da de do Mé xi co e gran de par te do país. Esqua drasame ri ca nas blo que a vam os por tos do Mé xi co. O Go ver no ame ri ca -no, jure vic to ri ae, po de ria ter ane xa do à União os vas to ter ri tó ri osda Ca li fór nia e Novo Mé xi co, que lhe con vi nham. Pre fe riu com -prá-los, cus tan do-lhe a aqui si ção o se guin te

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Dólares Libras

Transfêrencia de Domínio (art. XII) 15.000.000 3.000.000

Pagamento que tomou a Sedereclamações estrangeirasContra o México (art. XV). Sem quelevemos aqui em conta os juros 1.700.000 340.000

Pagamento que prometeu fazer aosamericanos que tinham reclamaçõescontra o México (art. XV)

8.250.000 650.000

19.950.000 3.990.000

Adicionando as despesas de Guerra 63.000.000 12.600.000

82.950.000 16.590.000

6) Pre si dên cia de Frank lin Pi er ce: Tra ta do con clu í do na Ci da de do Mé xi co em 30 de de zem bro de 1853, sen do ne go ci a dor ame ri ca no Ja -mes Gods den.

Obje to úni co do tra ta do: com pra pe los Esta do Uni dos e ven dapelo Mé xi co do Val le de Me sil la e do ter ri tó rio ao sul do rio Gila (Ari zo -na Me ri di o nal). Pre ço pago, £2.000.000.

No te mos de pas sa gem, em pri me i ro lu gar, que a su per fí cie do ter -ri tó rio en tão ad qui ri do pe los Esta dos Uni dos era de 117.840 qui lô me -tros qua dra dos, por tan to mu i to me nor do que a dos que vão en trarago ra para o nos so pa tri mô nio; e, em se gun do, que, sal vo o pe que novale de Me sil la, tudo o mais for ma va o cha ma do De ser to de Gila, sóper cor ri do por al guns ín di os sel va gens, e cuja po pu la ção, 17 anos de -po is, em 1870, or ça va ape nas por 9.600 ha bi tan tes, ao pas so que os ter -ri tó ri os que nos vão ad vir con tém uma po pu la ção de 60.000 bra si le i rosla bo ri o sos.

7) Na Pre si dên cia de Andrew John son: Con ven ção de Was hing -ton, de 30 de mar ço de 1867 com a Rús sia, sen do ne go ci a dor ame ri ca -no o se cre tá rio de Esta do H. Se ward.

Com pra do Alas ka e ilhas ad ja cen tes por 7.200.000 dó la res ou £1.440.000

8) Na Pre si dên cia Mac kin ley: Tra ta do de paz com a Espa nha, de10 de de zem bro de 1898, ne go ci a do em Pa ris.

No art. 3º se en con tra a es ti pu la ção re la ti va à ces são das ilhas Fi -li pi nas aos Esta do Uni dos, me di an te in de ni za ção de 20 mi lhões de dó -la res ou 4 mi lhões de li bras es ter li nas; no art. 4º a cláu su la re la ti va afa vo res co mer ci as con ce di dos à Espa nha; no 7º, a obri ga ção que as su -

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mem os Esta dos Uni dos de jul gar e li qui dar as re cla ma ções dos seusna ci o na is con tra a Espa nha. Sem le var em con ta gas tos que esta úl ti macláu su la acar re tou, os es ta dos Uni dos des pen de ram:

Dó la res Li bras

Com pra das Fi li pi nas 20.000.000 4.000.000

Des pe sas de Gu er ra 195.000.000 39.000.000

215.000.000 43.000.000

Deve-se acres cen tar que tam bém a ilha de Por to Rico foi en tão ce -di da aos Esta dos Uni dos pela Espa nha por im po si ção do ven ce dor.

Te mos, por tan to, que os Esta dos Uni dos con clu í ram:Cin co tra ta dos de com pre e ven da de ter ri tó ri os com a Fran ça,

Mé xi co, Rús sia e Espa nha (nos 1, 5, 6, 7 e 8 su pra); Um tra ta do de que re sul tou per mu ta de si gual de ter ri tó ri os, com -

ple ta da por uma soma de di nhe i ro (nº. 2, com a Espa nha);Ou tro tra ta do de li mi tes de que re sul tou tam bém per mu ta de ter -

ri tó ri os (nº 3, com a Grã-Bre ta nha);Um tra ta do de di vi são de vas tís si mo ter ri tó rio em li tí gio, so bre o

qual o Go ver no ame ri ca no ha via sem pre afir ma do ter di re i to in con tes -tá vel nº 4 com a Grã-Bre ta nha).

De po is do ex pos to e em vis ta das au to ri da des e dos exem plos ci ta -dos, o le i tor cer ta men te con vi rá co nos co que os es cri to res do Cor re ioda Ma nhã são um tan to imo des tos quan do, a pro pó si to do Tra ta do dePe tró po lis, vi tu pe ram os ne go ci a do res bra si le i ros e bo li vi a nos e pen -sam po der dar li ções de di re i to in ter na ci o nal, de di re i to di plo má ti co,de pa tri o tis mo, de mo ra li da de e hon ra a ho mens como os pre si den tesRo dri gues Alves e Ge ne ral Pan do e os ple ni po ten ciá ri os do Bra sil e daBo lí via, Sr. Ba rão do Rio Bran co, Assis Bra sil, Gu a chal la e Pi nil la.

Os dois pre si den tes e os qua tros ple ni po ten ciá ri os tem em seu fa -vor as pro vas já fe i tas em suas não cur ta vida pú bli ca, as sim como osexem plos de Tho mas Jef fer son, Ja mes Mon roe, Bo na par te, John Qu incy Adams, Da ni el Webs ter, Ja mes Bu cha nan, Frank lin Pi er ce, Con de deCa vour, H. Se ward e mu i tos ou tros.

Arti go tam bém pu bli ca do nos se guin tes pe rió di cos:– O Paiz. 24 dez. 1903.– Jor nal do Bra sil. 24 dez. 1903– ATri bu na. 24 dez. 1903

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BRASIL, BOLÍVIA E PERU*

Há con fu são e erro ma ni fes to nas li nhas com que o Jor nal do Bra -sil pro ce deu on tem à pu bli ca ção de uma car ta de Ma na us.

Re cor da o mal in for ma do co men ta dor que há me ses o mes mocor res pon den te já ha via as si na la do um erro no tra ça do es ta be le ci dopelo Tra ta do de Pe tró po lis, erro que acar re ta gran de per da de ter ri tó -rio em be ne fí cio da Bo lí via, e acres cen ta que a car ta con fir ma aque leerro dado da de ter mi na ção da li nha Cu nha Go mes, isto é, na lo ca çãoda oblí qua tra ça da da nas cen te do Ja va ri à con fluên cia do Beni, por co -mis sá ri os bra si le i ros e bo li vi a nos, em exe cu ção do tra ta do con clu í doem La Paz aos 27 de mar ço de 1867.

Em pri me i ro lu gar o erro pre ce den te men te apon ta do nada ti nhaque ver com a li nha oblí qua ao Equa dor, vul gar men te cha ma da Cu nhaGo mes, mas sim com a do pa ra le lo de 10 gra us e vin te mi nu tos, des de oAbu nã até ao Ra pir ran, mu i to ao sul da que la oblí qua, e com a que, peloTra ta do de Pe tró po lis, deve acom pa nhar o Ra pir ran. Este rio, se gun dose diz, é aflu en te do Abu nã e não do Iqui ri. Dado que as sim seja, o erroem nada pre ju di ca rá o Bra sil, pois o tra ta do de Pe tró po lis tam bém de -ter mi na que a fron te i ra siga o cur so do Ra pir ran até a sua nas cen te.

Por tan to, se os ma pas de que ser vi ram os ne go ci a do res es ta vamer ra dos, nada mais fá cil do que cor ri gir o en ga no, evi tan do que hajapre ju í zo para um e ou tro país, pre ju í zo que, aliás, se ria de so me nos im -por tân cia.

Bas ta rá que se ob ser ve o tra ta do se guin do, do Abu nã para o oes -te, como ele de ter mi na, o pa ra le lo de 10 gra us e 20 mi nu tos e, não po -den do essa li nha al can çar o Ra pir ran, que ela ter mi ne no pon to em queen con tre o me ri di a no da con fluên cia do mes mo e con ti nue por esseme ri di a no na di re ção do sul, e de po is pelo àl veo do rio, des de a suacon fluên cia até a ori gem prin ci pal.

* Texto publicado em O Paiz. Rio de Janeiro, 4 jan. 1906. Atribuído ao Barão doRio Branco (GANNS, Cláudia. Bibliografia sobre Rio Branco. Rio de Janeiro:Ministério das Relações Exteriores, 1946, p. 18).

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O en ga no que o cor res pon den te de Ma na us diz ter sido ago rades co ber to pe los co mis sá ri os do Bra sil e do Peru, Srs. Eucl ydes daCu nha e Bu e na ño, in cum bi dos da ex plo ra ção do Alto Pu rus, não im pli -ca de modo al gum que com a pró xi ma de mar ca ção de li mi tes bra si le i -ro-bo li vi a na ou com o Tra ta do de Pe tró po lis de 1903, nem tam pou cocom o acor do pro vi só rio de mo dus vi ven di fir ma do pelo Bra sil e peloPeru em 1904.

Afir ma o cor res pon den te que os ci ta dos co mis sá ri os do Bra sil edo Peru aca bam de ve ri fi car que a li nha oblí qua do tra ta do de 1867 nãocor ta o Pu rus em Bar ce lo na, mas sim nove mi nu tos ou nove mi lhas aosul, isto é, que os cál cu los fe i tos por Cu nha Go mes e Tha u ma tur go deAze ve do es ta vam er ra dos, e ter mi na di zen do, com a sua já pro va da ig -no rân cia des tes as sun tos, que “o Bra sil mais uma vez foi em bru lha do,com pra do à Bo lí via ter ri tó rio in con tes ta vel men te ama zo nen se”.

Quem, en tre tan to, re fle tir dois mi nu tos, len do a des con cer ta dacar ta de Ma na us, com pre en de rá ime di a ta men te que o que com pra mosà Bo lí via pelo Tra ta do de Pe tró po lis não foi a in sig ni fi can te e es tre i tanes ga de ter ra com pre en di da en tre a oblí qua Cu nha Go mes e a novaoblí qua que te ria de tra çar, nes ga de ter ra cuja lar gu ra Nor te-Sul, emBar ce lo na, se ria ape nas de nove mi lhas ou três lé guas.

O que com pra mos, e as sim re cu pe ra mos, foi imen so ter ri tó rioque ce dê ra mos à Bo lí via em 1867 e que se es ten de da oblí qua Ja va -ri-Beni às nas cen tes do Pu rus e do Ju ruá, abran gen do uma su per fí ciede 200.000 qui lô me tros qua dra dos4.

Admi ta mos que as co or de na das dos dois pon tos de in ter se ção noPu rus, de ter mi na das pelo Co ro nel Tha u ma tur go de Aze ve do e peloGe ne ral Pan do, quan do fi ze ram a de mar ca ção, es te jam er ra das. Admi -ta mos que a li nha oblí qua Ja va ri-Beni,que, pelo tra ta do de 1867 for ma -va a fron te i ra en tre o Bra sil e a Bo lí via, de ves se pas sar mais ao sul. OTra ta do de Pe tró po lis não so fre ria com isso mo di fi ca ção de es pé cie al -gu ma. O tra ta do não fez men ção des sa li nha oblí qua, nem ti nha que fa -zer, por que os li mi tes que es ta be le ceu fi cam mu i to ao sul da mes ma.

A dú vi da le van ta da não in te res sa, por tan to, à nos sa de mar ca çãode li mi tes com a Bo lí via e não tem tam bém im por tân cia al gu ma do pon -to de vis ta das nos sas ques tões pen den tes com o Peru: 1º, por que a pre -ten são pe ru a na vai mu i to ao nor te da tal li nha oblí qua, até o pa ra le loque cor re da nas cen te do Ja va ri à mar gem es quer da do Ma de i ra (li nhade San to Ilde fon so); 2º, por que os ter ri tó ri os pro vi so ri a men te ne u tra li -za dos pelo Bra sil e pelo Peru de mo ram mu i to para ao sul da mes maoblí qua.

4 A versão publicada no Jornal do Comercio refere-se a 209.000km2.

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LEGISLAÇÃO

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DECRETO Nº 1.180 – DE 25 DE FEVEREIRO DE 1904

Au to ri za o Pre si den te da Re pú -bli ca a abrir os cré di tos ne ces sá ri ospara pa ga men to das des pe sas ori un -das do tra ta do con clu í do em 17 de no -vem bro de 1903, en tre o Bra sil e aBo lí via.

O Pre si den te da Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil:Faço sa ber que o Con gres so Na ci o nal de cre tou e eu san ci o no a

se guin te re so lu ção: Art. 1º Fica o Pre si den te da Re pú bli ca au to ri za do: I. A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to das des pe sas

ori un das do tra ta do con clu í do em 17 de no vem bro de 1903, en tre osple ni po ten ciá ri os do Bra sil e da Bo lí via, po den do fa zer para tal fim asne ces sá ri as ope ra ções de cré di to, in clu si ve emi tir tí tu los da di vi da pu -bli ca de 3 % de ju ros e 3% de amor ti za ção anu a is, e con tra ir em prés ti -mo do fun do de ga ran tia ins ti tu í do pela lei nº 581, de 20 de ju lho de1899; fi can do con sig na da à re cons ti tu i ção do mes mo fun do toda a ren -da ar re ca da da no ter ri tó rio ora re co nhe ci do como bra si le i ro.

II. A ado tar o al vi tre que jul gar mais con ve ni en te para a cons tru -ção da es tra da de fer ro, em so lu ção do com pro mis so as su mi do no art.VII do men ci o na do tra ta do po den do fa zer ope ra ções de cré di to ouemis são de tí tu los, in ter nos ou ex ter nos, que fo rem ne ces sá ri os, nãoex ce den do de 4% de ju ros e ½ % de amor ti za ção para os tí tu los ex ter -nos e 5% e ½ % para os in ter nos.

Art. 2º. Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.Rio de Ja ne i ro, 25 de fe ve re i ro de 1904, 16° da Re pú bli ca. –

FRANCISCO DE PAULA ROGRIGUES ALVE, Le o pol do de Bu lhões, La u ro Se ve ri a no Mül ler.

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DECRETO Nº 1.181 – DE 25 DE FEVEREIRO DE 1904

Au to ri za o Pre si den te da Re pú -bli ca a ad mi nis trar pro vi so ri a men te oter ri tó rio re co nhe ci do bra si le i ro, emvir tu de do tra ta do de 17 de no vem brode 1903 en tre o Bra sil e a Bo lí via, e dáou tras pro vi dên ci as.

O Pre si den te da Re pú bli ca dos Esta dos do Bra sil:Faço sa ber que o Con gres so Na ci o nal de cre tou e eu san ci o no a

se guin te re so lu ção:Art. 1º Fica o Pre si den te da Re pú bli ca au to ri za do:I. A ad mi nis trar pro vi so ri a men te o ter ri tó rio re co nhe ci do bra si -

le i ro, em vir tu de do tra ta do de 17 de no vem bro de 1903, en tre o Bra sil ea Bo lí via, con ti nu an do a co brar, até seu li mi te má xi mo, as ta xas ali ar -re ca da das ao tem po do mo dus vi ven dí ajus ta do com o Go ver no da Bo -lí via e os de ma is im pos tos fe de ra is.

II. A abrir os cré di tos ne ces sá ri os para pa ga men to do pes so al,ma te ri al e cons tru ções que fo rem pre ci sas.

Art. 2º Re vo gam-se as dis po si ções em con trá rio.Rio de janeiro, 25 de fevereiro de 1904, 16º da República. –

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES, J. J. Seabra, Leopoldode Bulhões.

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DECRETO Nº 5.188 – DE 7 DE ABRIL DE 1904

Orga ni za o ter ri tó rio do Acre

O Pre si den te da Re pú bli ca dos Esta dos Uni dos do Bra sil:Usan do da au to ri za ção con ce di da pelo de cre to le gis la ti vo nº.

1181, de 25 de fe ve re i ro do cor ren te ano, de cre ta:Art. 1º O ter ri tó rio do Acre tem por li mi tes:Ao nor te, a li nha ge o dé si ca Ja va ri -Beni, des de a nas cen te do Ja -

va ri até à nova fron te i ra com a Bo lí via no rio Abu nã; a les te e ao sul, osli mi tes es ta be le ci dos pelo tra ta do de 17 de no vem bro de 1903 en tre oBra sil e a Bo lí via, e a oes te, des de a nas cen te do Ja va ri até 11 gra us dela ti tu de aus tral, os li mi tes que fo rem es ti pu la dos en tre o Bra sil e o Peru.

Ao sul da nas cen te do Ja va ri, a ju ris di ção das au to ri da des cri a -das por este de cre to irá até à li nha que di vi de as ver ten tes do Uca ya ledas dos aflu en tes do Ama zo nas ao ori en te do Ja va ri , isto é, das do Ju -ruá e Pu rus, li nha que li mi ta pelo oci den te os ter ri tó rio a que o Bra sil ti -nha di re i to in con tes tá vel an tes do tra ta do de 27 de mar ço de 1867,im pli ci ta men te ce di dos en tão à Bo lí via e re cu pe ra dos ago ra pelo tra ta -do de 17 de no vem bro de 1903, fi can do, além dis so, o Bra sil por for çades te ul ti mo pac to, com di re i to à zona que Bo lí via re cla ma va ou po diare cla mar do Peru, ao nor te do pa ra le lo de 11 gra us na ba cia do Uca ya le.

Art. 2º O ter ri tó rio do Acre fi ca rá di vi di do em três de par ta men tosad mi nis tra ti vos com as se guin tes de no mi na ções: Alto Acre, Alto Pu rus e Alto Ju ruá.

§ 1º O de par ta men to do Alto Acre com pre en de a re gião re ga dapelo Abu nã, Ra pir ran, Iqui ri, Alto Acre ou Aqui ri e Alto Anti ma ri, den -tre dos li mi tes con ven ci o na dos com a Bo lí via.

§ 2º O de par ta men to do Alto Pu rus com pre en de a re gião re ga dapelo Yaco ou Hyu a co e pelo Alto Pu rus com to dos os ou tros aflu en tesdes te, in clu si ve o Chand less, o Cu ran ja e o Cu rin ja, até às ca be ce i rasdos mes mos rios, con tan to que não fi que ao sul de 11 gra us de la ti tu de

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Page 320: Tratado de Petrópolis

aus tral, e para oes te des sas ca be ce i ras, tudo quan to a Bo lí via re cla ma -va ou po dia re cla mar do Peru nas ba ci as do Uru bam ba e do Uca ya le.

§ 3º O de par ta men to do Alto Ju ruá abran ge as ter ras re ga das pelo rio Ta ra u a cá e seus aflu en tes e pelo Alto Ju ruá e to dos os seus tri bu tá ri -os, in clu si ve o Moa, o Ju ruá-Miry, o Amo nea, o Tejo e o Breu, até as ca -be ce i ras dos mes mos rios e, para oes te das ca be ce i ras, tudo o que aBo lí via re cla ma va ou po dia re cla mar do Peru na ba cia do Uca ya le.

Art. 3º Os de par ta men tos se rão ad mi nis tra dos por pre fe i tos no -me a dos pelo Pre si den te da Re pú bli ca e de mis sí ve is ad nu tum, e re si di -rão nas lo ca li da des de sig na das pelo Go ver no, de onde não se po de rãoau sen tar sem li cen ça.

Art. 4º Aos pre fe i tos, em seus res pec ti vos de par ta men tos, com -pe te:

1º di ri gir, fis ca li zar, pro mo ver e de fen der to dos os in te res ses doter ri tó rio, de acor do com o Go ver no Fe de ral, pro ven do a to dos os as -sun tos da ad mi nis tra ção:

2º no me ar, re mo ver, li cen ci ar e de mi tir os fun ci o ná ri os, quan doos car gos e em pre gos não fo rem de no me a ção do Go ver no Fe de ral;

3º or ga ni zar a for ça pu bli ca, dis tri buí-la, mo bi li zá-la e dis por dela, con for me as exi gên ci as da ma nu ten ção da or dem, se gu ran ça e in te gri -da de do de par ta men to;

4º fa zer o re cen se a men to ge ral da po pu la ção;5º es ta be le cer a di vi são ad mi nis tra ti va, ci vil e ju di ci al do de par ta -

men to;6º con ser var e de sen vol ver as es tra das e ou tros me i os de vi a ção

in ter na;7º fis ca li zar a ar re ca da ção dos im pos tos e as ren das;8º con ce der e so li ci tar a ex tra di ção de cri mi no sos, se gun do a lei

fe de ral;9º re pre sen tar o de par ta men to nas suas re la ções ofi ci a is como a

União e os Esta dos;10º li cen ci ar, nos ter mos da le gis la ção vi gen te, os em pre ga dos de

no me a ção do Go ver no Fe de ral:11º ex pe dir ins tru ções para fiel exe cu ção das leis, re gu la men tos e

or dens do Go ver no da União;12º apre sen tar ao Mi nis tro da Jus ti ça e Ne gó ci os Inte ri o res re la -

tó rio se mes tral de sua ad mi nis tra ção;13º exer cer as fun ções de che fe de po lí cia, de se gu ran ça e da mi -

lí cia;14º fa zer, em ge ral, tudo quan to es ti ver ao seu al can ce, nos li mi tes

da Cons ti tu i ção e das leis fe de ra is, para a se gu ran ça pros pe ri da des e

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Page 321: Tratado de Petrópolis

pro gres so do de par ta men to, su bor di nan do sem pre a sua ação ao Go -ver no Fe de ral.

§ 1º Os pre fe i tos se co mu ni ca rão en tre se e com o Go ver no Fe de -ral e este com aque les, por in ter mé dio de um de le ga do, que re si di rá naci da de de Ma na us ou em ou tro lu gar mais con ve ni en te, pre vi a men tede sig na do pelo Pre si den te da Re pú bli ca.

§ 2º Esse de le ga do será no me a do pelo Go ver no da União; e, en -quan to não for fe i ta essa no me a ção, exer ce rá as res pec ti vas fun ções oco man dan te do pri me i ro dis tri to mi li tar, a cuja ju ris di ção fi ca rá su je i totodo o ter ri tó rio do Acre.

§ 3º As co mu ni ca ções en tre o de le ga do e o Go ver no tran si ta rãopela Se cre tá ria de Esta do a que deva ser afe ta do o as sun to de que tra -tar.

Art. 5º A jus ti ça ci vil e cri mi nal será dis tri bu í da pe las se guin tesau to ri da des:

Ju í zes de paz;Ju í zes de dis tri to;Ju í zes de co mar ca;Júri.§ 1º Para os fins ju di ci a is o ter ri tó rio do Acre for ma rá uma só co -

mar ca, di vi di da em três dis tri tos, sub di vi di dos em cir cuns cri ções equar te i rões, ten do-se em con si de ra ção a co mo di da de dos po vos e asne ces si da des e van ta gens da ad mi nis tra ção lo cal.

Os dis tri tos para os ju í zes se rão os mes mos que os de par ta men tos para os pre fe i tos; as cir cuns cri ções e quar te i rões se rão de ter mi na dospe los di tos pre fe i tos.

§ 2º Aos ju í zes de paz com pe te:1º exer cer as fun ções dos an ti gos ju í zes de paz;2º pro ces sar e jul gar, com re cur so para os ju í zes de di re i to, as ca u -

sas cí ve is de va lor até 500$000;3º de sem pe nhar as atri bu i ções de de le ga do de po lí cia, in clu si ve o

pro ces so ex-ofi cio, nos ter mos do art. 6º da lei nº 628, de 28 de ou tu brode 1899. em que o réu se li vra sol to, in de pen den te de fi an ça, e nas con -tra ven ções;

4º fa zer o ser vi ço do re gis tro de nas ci men tos e óbi tos;5º fa zer e re gis trar, de vi da men te au to ri za dos pe los com pe ten tes

ju í zes de dis tri to, os ca sa men tos pro ces sa dos por es tes.§ 3º Os ju í zes de paz são no me a dos pe los pre fe i tos e a es tes su bor -

di na dos nas suas fun ções po lí ci a is.§ 4º Os ju í zes de paz se rão au xi li a dos nos ser vi ços de po lí cia por

ins pe to res de quar te i rão, no me a dos li vre men te por eles.§ 5º Aos ju í zes de dis tri to com pe te:

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Page 322: Tratado de Petrópolis

No cí vel: pro ces sar e jul gar to das as ca u sas su pe ri o res a 500$,com re cur so para o juiz de co mar ca;

Jul gar os re cur sos das de ci sões dos ju í zes de paz.No cri me:1º for mar cul pa e pro nun ci ar nos cri mes co muns, com re cur so

das par tes para o juiz de co mar ca;2º jul gar as con tra ven ções, os cri mes pro ces sa dos pe los ju í zes de

paz e in fra ções de ter mos de bem vi ver e se gu ran ça;3º pro ces sar e jul gar em 1º ins tân cia to dos os fun ci o ná ri os pú bli -

cos que não ti ve rem foro pri va ti vo, nos cri mes de res pon sa bi li da de;4º qua li fi car as fa lên ci as, pro nun ci an do ou não pro nun ci a do os

réus, com re cur so fa cul ta ti vo para o juiz de co mar ca;5º pro ce der à auto de cor po de de li to;6º con ce der fi an ça;7º pren der os cul pa dos;8º con ce der man da to de bus ca e apre en são;9º for mar cul pa aos ofi ci a is que pe ran te eles ser vi rem;10º im por aos seus su bal ter nos pe nas dis ci pli na res;11º pu nir as tes te mu nhas de so be di en tes as suas no ti fi ca ções;12º pro ces sar e jul gar os se guin tes cri mes pre vis tos no Có di go Pe -

nal:Ame a ças (art. 181);Ultra je ao pu dor (cap. 5º do tit. 8º);Con tra a se gu ran ça do tra ba lho (cap. 6º do tit. 4º);Con tra a in vi o la bi li da de do se gre do. ex ce to os da res pon sa bi li da -

de dos fun ci o ná ri os fe de ra is (art. 189, 190 e 191);Ofen sa fí si ca leve (art. 303);Ti ra da de pre sos do po der das jus ti ças e ar rom ba men to das ca de -

i as (cap. 4º do tit. 2º);De sa ca to e de so be diên cia à s au to ri da des (cap. 5º do tit. 2º);Incên dio e dano com pre en di dos no pa rá gra fo úni co do art. 148

(cap. 1º do tit3º.);Con tra a se gu ran ça dos me i os de trans por te e co mu ni ca ção nos

ca sos do art. 149, § 1º, 152. 153 e seus §§ 2º e 3º (cap 2º do tit. 3º);Con tra a sa ú de pú bli ca, ex ce to nos ca sos do § 1º do art. 157, pa rá -

gra fo úni co do art. 160 e pa rá gra fo úni co do art. 164. (cap. 2º do tit 3º);Con tra o li vre exer cí cio dos di re i tos po lí ti cos (cap. 1º do tit 4º);Con tra a li ber da de pes so al, ex ce to no caso do art. 183 (cap. 2º do

tit. 4º);Con tra o li vre exer cí cio dos cul tos (cap. 3º do tit. 4º);

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Page 323: Tratado de Petrópolis

Con tra a in vi o la bi li da de do do mi cí lio, se não re sul tar mor te, sa -ben do no caso do art. 201 o pro ces so de res pon sa bi li da de (cap. 5º dotit. 4º);

Fal si da de (cap. 2º do tit. 6º);Tes te mu nho fal so (se ção 4ª do tit. 6º);Le no cí nio (cap. 3º do tit. 8º);Adul té rio (cap. 4º do tit. 8º);Po li ga mia (cap. 1ºdo tit. 9º);Par to su pos to e ou tros fin gi men tos (cap. 3º do tit. 9º);Sub tra ção e ocul ta ção de me no res, nos ca sos dos arts. 289 a 293;Ho mi cí dio in vo lun tá rio (art. 297 do cap. 1º do tit. 10);Con cur so para o su i cí dio (cap. 3º do tit. 10);Ce le bra ção de ca sa men to con tra a lei (cap. 2º do tit. 9º);Cri mes re sul tan tes de ne gli gen cia, de im pru dên cia ou im pe rí cia

(art. 148, 151, 153 § 1º e 306);Pro vo ca ção de abor to, não re sul tan do a mor te da mu lher (cap. 4º

do tit. 10);Con tra a hon ra e boa fama (ca pi tu lo úni co do tit. 11);Dano (cap. 1º do tit. 12);Fur to (art. 330, 331. 332 e 333 do cap. 2º do tit. 12);Este li o na to (cap. 4º do tit. 12);Con tra a pro pri e da de li te rá ria, ar tís ti ca, in dus tri al e co mer ci al

(cap. 5º do tit 12);Fa lên cia cul po sa ou fra u du len ta (cap. 3º do tit. 12).§ 6º Os re cur sos das de ci sões cí ve is e cri mi na is se rão in ter pos tos

para o juiz de co mar ca.§ 7º Os ju í zes de dis tri to se rão três, no me a dos pelo Pre si den te das

Re pú bli ca , e cada um terá três su plen te, no me a dos pelo pre fe i to.§ 8º Ao juiz de co mar ca com pe tem as atri bu i ções de juiz de se gun -

do e úl ti ma ins tân cia e a con ces são de ha be as-cor pus. § 9º O juiz de co mar ca terá três su plen tes for ma dos em di re i to,

com seis anos, no mí ni mo de prá ti ca fo ren se.§ 10 A no me a ção do juiz de co mar ca e seus su plen tes será fe i ta

pelo Pre si den te da Re pú bli ca, e a sua re si dên cia será no lu gar pre vi a -men te de sig na do pelo Go ver no Fe de ral.

Art. 6º Ao júri com pe te o jul ga men to de to dos os cri mes que nãosão con fi a dos à ou tra ju ris di ção.

Das suas de ci sões ha ve rá re cur so para o juiz de co mar ca, só pelofun da men to de nu li da de.

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Page 324: Tratado de Petrópolis

Pa rá gra fo úni co. A or ga ni za ção do júri, o modo do seu fun ci o na -men to e pro ces so de seu jul ga men to são os mes mos an te ri o res à Cons -ti tu i ção fe de ral e man ti dos por esta..

Art. 7º Os in te res ses da Jus ti ça Pú bli ca se rão de fen di dos pormem bros do Mi nis té rio Pú bli co, que se com po rá de três pro mo to respú bli cos, com exer cí ci os nos dis tri tos, acu mu la dos às fun ções de cu ra -do res, no me a dos pelo Mi nis tro da Jus ti ça.

§ 1º Na sede de cada dis tri to ha ve rá um ser ven tuá rio do ofi cio dejus ti ça de ta be lião do pu bli co ju di ci al e no tas, es cri vão de ór fãos, au -sen tes, pro ve do ria e júri o qual ser vi rá, pe ran te o juiz res pec ti vo e seráno me a do pelo Go ver na dor Fe de ral.

Ha ve rá tam bém um es cri vão para o juiz de co mar ca.§ 2º Os re cur sos para juiz de co mar ca se rão ar ra zo a dos na ins tân -

cia in fe ri or, com au diên cia do res pec ti vo ór gão do Mi nis té rio Pu bli co,sob pena de nu li da de.

§ 3º As re gras de pro ces so a se rem ob ser va das pela jus ti ça do ter -ri tó rio do Acre são, com as de vi das res tri ções, as con so li da das no de -cre to nº 3084, de 5 de no vem bro de 1898, e as de ma is em vi gor najus ti ça fe de ral e na jus ti ça lo cal do Dis tri to Fe de ral .

§ 4º Os ven ci men tos dos fun ci o ná ri os cri a dos pelo pre sen te de -cre to são os mar ca dos na ta be la jun ta.

Art. 8º As ca u sas de na tu re za fe de ral se rão su bor di na das à ju ris -di ção do juiz se ci o nal no Ama zo nas.

Rio de Ja ne i ro, de 7 de abril de 1904, 16º da Re pú bli ca. –FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES.

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Ta be la de ven ci men tos a que se re fe re o

De cre to nº 5188 des ta data

CARGOSORDENADO

(mil réis)GRATIFICAÇÃO

(mil réis)TOTAL (mil réis)

Prefeito – 24:000$000 24:000$000

Juiz de comarca 16:000$000 8:000$000 24:000$000

Juiz de distrito 12:000$000 6:000$000 18:000$000

Promotor 8:000$000 4:000$000 12:000$000

Escrivão do Juizde comarca 2:400$000 1:200$000 3:600$000

Rio de Ja ne i ro, 7 de abril de 1904 – J. J. Se a bra.

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