transvaloração

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  • 7/31/2019 Transvalorao

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    INVERSO E REVERSO DE VALORES

    Percebe-se na leitura dos trs textos propostos que existem, na histria da filosofiaocidental, dois perodos onde ocorre uma inverso dos valores vigentes. PrimeiroScrates, com seu discurso dialtico, mesmo no possuindo a beleza idealizada pelospadres gregos, seduziu os jovens atenienses e passou da posio de amante para a deamado. Depois, Nietzsche v, nesta inverso entre o esprito dionisaco e o racionalismosocrtico, uma perigosa fora que mina a vida, o princpio da dissoluo grega econsidera Scrates um tpico decadente.

    Plato, em sua teoria das ideias, prope um mundo incorpreo e inteligvel emoposio ao mundo sensvel e material em que vivemos. Neste plano inteligvel estariamas ideias. Arqutipos ideais, incorpreos e perenes, que seriam paradigmas para suas

    imitaes imperfeitas dos objetos fsicos, que so mltiplos, concretos e perecveis. Essanoo de imitao, a mmesis, faz com que Plato se oponha as artes, considerando-ascomo simulacros com simulacros, afastados da verdade.

    O livro VII de A Republica trs uma alegoria da ascese do conhecimento. Um grupode prisioneiros inatos, esto por toda a vida confinados no interior de uma caverna,presos de tal forma a somente lhes ser permitido olhar para a parede do fundo dacaverna. Nesta parede so projetados simulacros, a partir de um fogo artificial que ficaatrs dos prisioneiros, de objetos carregados por transeuntes que caminham por trs deuma parede que os separa dos prisioneiros. Como estes simulacros so tudo o que osprisioneiros viram em suas vidas, eles as tomam como verdadeiras. Porm, se um destes

    prisioneiros conduzido, mesmo contra sua vontade, para fora da caverna, ao alcanar aluz do dia ter sua vista ofuscada e no conseguir identificar mais nenhuma imagem.Ento desejar retornar para junto de seus companheiros. Mas com o tempo sua vista irse acostumar e aos poucos ele conseguir olhar diretamente para a luz, inicialmente dasestrelas a noite, os reflexos na gua e finalmente o Sol, e contemplar o bem, a verdade eo belo em si. Aps a contemplao da verdade, na forma do Sol que torna tudo visvel,este antigo prisioneiro reconhece o engano e toma conhecimento do real. Agora ele estpronto para voltar para junto dos antigos companheiros e, aps se acostumar novamentea enxergar na escurido, com seu conhecimento da verdade consegue libertar os outrosprisioneiros, desfazendo o ilusionismo das sombras. Este o filsofo-poltico de Plato.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECNCAVO DA BAHIA

    ESTTICA - PROF. SRGIO FERNANDES - 2 SEMESTRE

    Cachoeira

    2010

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    Este conceito de ideias incorpreas e perenes, que s podem ser compreendidaspela alma, justificam as restries feitas aos artistas por Plato. Pois a arte humanaproduz de dupla maneira: o homem tanto constri uma casa real como, na condio depintor, pode reproduzir num quadro a imagem da casa. O artista portanto um criador desimulacros, j que o objeto imita a ideia e a arte imita esta imitao. Plato usa, de formametafsica, esta relao cpia-modelo para explicar a relao sensvel-inteligvel e por isto

    sua concepo esttica condena os criadores de iluses de realidade. Para ele a arteimitativa deveria preservar o carter de cpia de seus produtos, no querendo confundi-los com objetos reais. Assim Scrates impe a sabedoria acima da aparncia e passa deamante a bem amado.

    Em Observaes sobre transvalorao e verdade em Nietzsche, encontra-se umaanlise da questo da inverso de todos os valores socrtico-platnicos por Nietzsche.Apesar da brevidade do artigo, fica clara a significao dos conceito de transvaloraodos valores e verdade em Nietzsche, passando, por tanto, por uma crtica ao cristianismo.Para Nietzsche, os valores so produzidos historicamente e socilamente, portanto elenega os valores enquanto valores em si. Portanto, para Roberto Machado, invs de

    caracterizar a perspectiva nietzschiana como uma filosofia dos valores, ela deveria serdefinida como uma filosofia da avaliao, da valorao que afirma que s h valor graas avaliao.

    Nietzsche, em O nascimento da tragdia (1872), apresenta duas importantesinovaes ao pensamento filosfico. Por um lado, a compreenso da influncia dionsicana cultura grega e por outro uma nova interpretao do socratismo, tendo Scrates comoum decadente tpico, considerado instrumento da dissoluo grega. Nietzsche observaque tanto em sua aparncia quanto em sua descendncia, Scrates no possua nadaque os gregos classificavam os belos e bons e lembra que a fealdade, em si umobjeo, entre os gregos quase uma refutao, por isso ele questiona se era Scrates

    realmente um grego. No entanto, Nietzsche percebia que, mesmo com todas as suadeficincias, Scrates pretendia ser um especialista nas coisas do amor, queria seduzir osjovens atenienses.

    Para suprir seus defeitos aparentes, e poder estar ao lado dos belos e nobresatenienses, Scrates teria desenvolvido a dialtica, que antes dele era tida como mausmodos pela boa sociedade, e com ela ele enfraquecia os seus interlocutores e lhesseduzia com suas perguntas e respostas hipnotizantes. Desta forma, Scrates opera aprimeira inverso de valores, valorizando a sabedoria e a verdade, em detrimento dabeleza; a moral e a justia, em detrimento da fora fsica e do poder; o inteligvel emdetrimento do sensvel. Est a base da metafsica platnica, que nega o que para

    Nietzsche seriam as principais foras da vida (a beleza sensvel, a fora fsica, o poder domais forte).

    Portanto a crtica ao platonismo por Nietzsche, se d como uma crtica das noesdo bem, do belo e da verdade enquanto objetos de uma filosofia metafsica e moral eassume duas posies de destaque: com a reverso a oposio de valores criada peloplatonismo e a afirmao que o mundo sensvel e o verdadeiro e, o supra-sensvel, oaparente. uma crtica aos valores niilistas da sua poca, um niilismo negativo, a medidaque a vida negada, depreciada, pois a vida, representada como irreal, como aparncia,assume um valor de nada assumido pela vida, fico dos valores superiores que lhe doeste valor de nada, vontade de nada que se exprime nesses valores superiores. J oniilismo no sentido mais corrente que o niilismo reativo no uma vontade e, sim, umareao contra o mundo supra-sensvel e contra os valores superiores. Desta forma no setrata mais de uma desvalorizao da vida em nome dos valores superiores e sim dosprprios valores superiores.

    INVERSO E REVERSO DE VALORES - 2

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    A crtica ao cristianismo se faz necessrias pois os valores morais cristosconstituem as supremas referncias de valor que determinam os princpios normativos eticos na modernidade. Por tanto, a transvalorao de todos os valores se fazcompreender enquanto a refutao definitiva dos valores cristos, tomando estes comouma variante e extenso do platonismo, sendo compreendidos a partir dos conceitos dedecadncia e niilismo, que permitem a avaliao do lento, infinitamente complexo e

    penoso processo ao longo do qual se formou, mas tambm ao termo do qual se consumapor esgotamento, o tipo homem derivado do ideal socrtico-platnico cristo.

    Para Nietzsche, a razo crist uma razo doente, pois desenvolve-se em umterreno completamente falso, onde os valores naturais vo de encontro contra os maisprofundos instintos das classes governantes e entram em contradio com toda alegitimidade intelectual, tomando partido do que desprovido de inteligncia eexcomungando espritos saudveis. Para Nietzsche estar doente estar tomado peloressentimento, ressentimento este que o mal do doente e tambm a sua mais naturalinclinao. Liberta-se dele o primeiro passo parra a cura de uma nova sade. Paraalcanar esta cura o espirito deve brincar, ingenuamente e sem querer, com tudo que at

    ento era considerado santo, bom, intocvel e divino. Para ele onde o povo normalmenteencontra sua medida de valor, devemos desconfiar e dar uma significao de perigo,declnio ou rebaixamento.

    Quanto a verdade, Nietzsche critica exigncia incondicional de uma verdade pelosfilsofos, pois no se pode escolher entre a verdade ou inverdade sem um valorao. Oquestionamento sobre o valor e a origem da veracidade pe em risco o fudamento emque se apoia todo o perguntar. A necessidade de uma verdade leva o homem aodesespero e ao aniquilamento, por estar ele condenado inverdade. Ele no tenta, comisso, criar uma nova verdade para a sua filosofia, pois a aparncia, o erro, a iluso, amentira e o sonho so, para ele, mais importantes que a verdade. Por tanto, para

    Nietzsche tudo erro, inclusive a verdade. Para ele o que decide em ltima instncia ovalor que impulsiona a vida, o que tem valor do ponto de vista da vida.

    Zimaldo Melo

    2 Semestre artes visuais

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