transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho em médicos anestesiologistas

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Como citar este artigo: Oliveira Andrade G, Andrade Dantas RA. Transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho em médicos anestesiologistas. Rev Bras Anestesiol. 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.03.021 ARTICLE IN PRESS +Model BJAN-194; No. of Pages 7 Rev Bras Anestesiol. 2014;xxx(xx):xxx---xxx REVISTA BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA Official Publication of the Brazilian Society of Anesthesiology www.sba.com.br ARTIGO DE REVISÃO Transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho em médicos anestesiologistas Gabriela Oliveira Andrade a,e Rosa Amélia Andrade Dantas b,c a Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil b Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil c Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, Sergipe, Brasil Recebido em 14 de novembro de 2012; aceito em 20 de março de 2013 PALAVRAS-CHAVE Anestesiologia: Organizac ¸ão; Anestesiologistas. Resumo Justificativa: a anestesiologia é uma especialidade cuja especificidade do processo de trabalho torna elevados níveis de estresse uma condic ¸ão inevitável, situac ¸ão preocupante no cotidiano desses profissionais. Objetivos: o presente estudo, fundamentado em dados da literatura nacional e internacional, tem o propósito de discutir as bases da ocorrência de transtornos mentais e de comportamento ou agravos psicopatológicos (sofrimento psíquico) relacionados à atividade laboral em médicos anestesiologistas. Método: fez-se uma revisão de literatura em que foram selecionados artigos científicos nas bases de dados Medline e Lilacs, publicados entre 2000 e 2012, em português, inglês e espa- nhol, que abordam a possível associac ¸ão entre riscos ocupacionais da profissão de médico anestesiologista e problemas de saúde mental e sofrimento psíquico. Foram enumeradas 26 publicac ¸ões. Resultados: vários aspectos do trabalho do médico anestesiologista apresentam-se como pontos importantes para a compreensão das relac ¸ões entre saúde mental no trabalho e organizac ¸ão do trabalho. Podem ser destacados como adoecedores a estruturac ¸ão temporal do trabalho, as relac ¸ões interpessoais conflituosas e o mau controle sobre a própria atividade. Conclusão: a organizac ¸ão do trabalho, quando não adequada, é um importante fator de risco ocupacional para a vida e a saúde mental dos trabalhadores, principalmente, dos profissio- nais voltados para o cuidado de pessoas. O foco presente são os médicos anestesiologistas, constantemente expostos a fatores estressantes e ansiogênicos. © 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Autor para correspondência. E-mail: [email protected] (G. Oliveira Andrade). 0034-7094/$ see front matter © 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.03.021

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Rev Bras Anestesiol. 2014;xxx(xx):xxx---xxx

REVISTABRASILEIRA DEANESTESIOLOGIA Official Publication of the Brazilian Society of Anesthesiology

www.sba.com.br

ARTIGO DE REVISÃO

Transtornos mentais e do comportamento relacionados aotrabalho em médicos anestesiologistas

Gabriela Oliveira Andradea,∗ e Rosa Amélia Andrade Dantasb,c

a Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasilb Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasilc Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, Sergipe, Brasil

Recebido em 14 de novembro de 2012; aceito em 20 de março de 2013

PALAVRAS-CHAVEAnestesiologia:Organizacão;Anestesiologistas.

ResumoJustificativa: a anestesiologia é uma especialidade cuja especificidade do processo de trabalhotorna elevados níveis de estresse uma condicão inevitável, situacão preocupante no cotidianodesses profissionais.Objetivos: o presente estudo, fundamentado em dados da literatura nacional e internacional,tem o propósito de discutir as bases da ocorrência de transtornos mentais e de comportamentoou agravos psicopatológicos (sofrimento psíquico) relacionados à atividade laboral em médicosanestesiologistas.Método: fez-se uma revisão de literatura em que foram selecionados artigos científicos nasbases de dados Medline e Lilacs, publicados entre 2000 e 2012, em português, inglês e espa-nhol, que abordam a possível associacão entre riscos ocupacionais da profissão de médicoanestesiologista e problemas de saúde mental e sofrimento psíquico. Foram enumeradas 26publicacões.Resultados: vários aspectos do trabalho do médico anestesiologista apresentam-se como pontosimportantes para a compreensão das relacões entre saúde mental no trabalho e organizacão dotrabalho. Podem ser destacados como adoecedores a má estruturacão temporal do trabalho, asrelacões interpessoais conflituosas e o mau controle sobre a própria atividade.Conclusão: a organizacão do trabalho, quando não adequada, é um importante fator de riscoocupacional para a vida e a saúde mental dos trabalhadores, principalmente, dos profissio-nais voltados para o cuidado de pessoas. O foco presente são os médicos anestesiologistas,

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constantemente expostos a fatores estressantes e ansiogênicos.© 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos osdireitos reservados.

∗ Autor para correspondência.E-mail: [email protected] (G. Oliveira Andrade).

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esta segunda década do século XXI, é cada vez maior acorrência de transtornos mentais e do comportamento.entre os vários fatores causais, a atividade laboral pareceesempenhar um importante papel no desenvolvimento e navolucão de distúrbios psíquicos.1

Estudos sobre a morbidade psicológica entre trabalha-ores de saúde indicam que dentre as profissões de níveluperior os médicos são os que apresentam altos índices delcoolismo, estresse e depressão e é grande o número deédicos que fazem uso de psicotrópicos ou outras drogas.esse âmbito, o trabalho é tido como uma causa importanteara tal situacão.2 Também são relatados distúrbios do sono,icencas e afastamentos da atividade laboral por problemassicopatológicos, transtornos depressivos e ansiosos e atédeacão suicida.3

Diante disso, é pertinente buscar entender a pos-ibilidade de associacão dos transtornos mentais e doomportamento relacionados ao trabalho em médicos, emspecial em anestesiologistas, visto que é uma especiali-ade na qual a especificidade do processo de trabalho tornalevados níveis de estresse uma condicão inevitável4,5 e queode resultar em elevados níveis de sofrimento psíquico,nsatifacão com o trabalho e até síndrome de esgotamentorofissional (burnout).6,7 Tudo isso, possivelmente, tornaais grave a situacão desses profissionais.É dentro desse contexto que o presente estudo tem o

ropósito de discutir, fundamentado em dados da litera-ura nacional e internacional, as bases da ocorrência deranstornos mentais e de comportamento ou agravos psico-atológicos (sofrimento psíquico) relacionados à atividadeaboral em anestesiologistas.

étodo

ez-se uma revisão teórica de artigos publicados acercae transtornos mentais e de comportamento ou agravossicopatológicos (sofrimento psíquico) relacionados ao tra-alho da classe de anestesiologistas. Para a obtencão doeferencial teórico, somente artigos científicos foram sele-ionados por meio da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)om consulta à base de dados da Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e do MedlineSistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica).oram usadas as seguintes palavras-chaves e suas possíveisombinacões por meio de descritores: sofrimento psíquico /sycological stress / estresse psicológico / estresse; saúdeental / mental health / salud mental; trabalho / work /

rabajo; médico / physician; anestesia / anesthesia / ana-sthesia; anestesiologia / anesthesiology; anestesiologista

anesthesiologist / anaesthetist / anestesiólogo / aneste-ista.

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados emnglês, português e espanhol de janeiro de 2000 a maio de012 e que abordavam a possível associacão entre o tema‘trabalho do anestesiologistas’’ e os aspectos relaciona-

Como citar este artigo: Oliveira Andrade G, Andrade Dantas Rao trabalho em médicos anestesiologistas. Rev Bras Anestesiol.

os a problemas de saúde mental e sofrimento psíquico, àualidade de vida, ao seu processo de trabalho, aos riscosnerentes à profissão e/ou às concepcões sobre esses temas.oram excluídas publicacões que relacionavam transtorno

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PRESSG. Oliveira Andrade, R.A. Andrade Dantas

ental a classes profissionais específicas que não a classeédica e médica anestesiologista.Fez-se também uma busca ativa entre as referências

ibliográficas dos artigos obtidos, com o intuito de identi-car trabalhos de relevância que não haviam sido captadoso levantamento inicial e que se enquadravam nos critérioscima citados.

Foram enumeradas 26 publicacões e, por se tratar de umaevisão teórica, não se efetuou uma avaliacão da qualidadeientífica dos artigos encontrados.

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reve Descricão do Trabalho da Anestesiologista

studos afirmam que a atividade laboral do anestesiolo-ista é caracterizada por tomadas rápidas de decisões emituacões críticas e de forma segura a fim de fazer ascões necessárias.8,9 Em geral, o anestesiologista trabalham atendimentos de emergência, em medicina intensiva

em tratamento de dor aguda e crônica.10 Salienta-seue a atividade desse profissional é frequentemente per-eada por situacões estressantes que exigem um pleno

stado de prontidão e vigilância,8,9,11,12 já que, mesmo se anestesiologista seguir corretamente a rotina anestésica,ariabilidades podem acontecer com o paciente durantem ato anestésico.9 Consequentemente, explicita-se que

anestesiologista assume uma grande responsabilidade aonestesiar um paciente para um procedimento médico por-ue muitos eventos podem ocorrer, os desconhecidos e osdversos, e é necessária uma vigilância sustentada.9

Ao descrever a atividade dos anestesiologistas, relata-sema incumbência de monitorar as funcões vitais dos pacien-es em grandes traumas, paradas cardíacas, procedimentosirúgicos de emergência e em períodos de pós-operatório.rabalha-se no manejo das condicões que ameacam a vidaos pacientes12 e também para facilitar o trabalho deários outros médicos no manejo e no cuidado de pacientesríticos.13

A prática anestésica é permeada de momentos potenci-lmente estressores com os quais o anestesiologista deveaber lidar a fim de poder dar continuidade a sua atividadeaboral sem prejudicar seu bem-estar, tanto físico quantosíquico.5 Diante disso, alguns autores consideram a aneste-iologia uma especialidade que promove elevados níveis deofrimento psíquico, estresse, insatifacão com o trabalho eté síndrome de esgotamento profissional (burnout).6,7

roblemáticas da Atividade do Médiconestesiologista

ualidade de Vidam grupo de experts de diferentes culturas, que compôs

Grupo de Qualidade de Vida da Divisão de Saúde Mentala Organizacão Mundial de Saúde (OMS), define qualidadee vida como ‘‘a percepcão do indivíduo de sua posicão naida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos

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uais ele vive e em relacão aos seus objetivos, suas expecta-ivas, seus padrões e suas preocupacões’’.14 Foi dentro desseontexto que alguns autores avaliaram a qualidade de vidae anestesiologistas a partir de estudos feitos nas cidades

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de Recife e João Pessoa e no Estado de Sergipe, com o usodo instrumento/questionário proposto pela OMS para ava-liar qualidade de vida --- versão abreviada do World HealthOrganization Quality of Life (WHOQOL-Bref). Nesses estu-dos, chega-se à conclusão de que a carga excessiva de horastrabalhadas é um fator negativo para a qualidade de vidadesses profissionais por disporem de pouco horário de des-canso e pouca participacão em atividades sociais de lazere com a família. Esse fato, associado ao estresse da prá-tica anestésica, possivelmente propicia o desenvolvimentode problemas físicos e psicológicos e pode gerar prejuízo nodesempenho laboral.15---17

Diferenca de GênerosEm relacão à diferenca da percepcão da qualidade de vidaentre os gêneros (homem-mulher), é mencionado que asmulheres apresentaram uma avaliacão geral da qualidadede vida significativamente inferior à dos homens, incluindoos domínios psicológicos e de relacões sociais.15 Estudos queinvestigaram os graus e os componentes de estresse labo-ral e síndrome de burnout em anestesiologistas reportaramque as mulheres apresentaram maiores níveis de estresse emaior frequência de sintomas correlacionados ao estressedo que os homens.6,18 Muito provavelmente, isso acontecepor causa do acúmulo de tarefas da mulher atual, um maiorcomprometimento com assuntos relacionados ao trabalho eà família, ao assumir uma dupla ou tripla carga de traba-lho (profissão, casa e família).15 Por isso, chama-se atencãopara a grande entrada da mulher no mercado de trabalhoe na anestesiologia, já que, culturalmente, a mulher apre-senta uma maior tendência a se envolver mais com aspectosrelacionados à família e ao trabalho. Esse é mais um fatorpotencialmente estressante da vida laboral nos profissionaisdo sexo feminino.6

Causas de Insatisfacão com o Trabalho e Causas deTranstornos Mentais e do ComportamentoDe acordo com alguns estudos que discutem a questãoda insatisfacão com o trabalho, há anestesiologistas cla-ramente frustrados com diversos aspectos. Alguns são afalta de reconhecimento da atividade profissional, o grandenúmero de horas e a falta de regularidade das horastrabalhadas, o padrão de trabalho definido por outros espe-cialistas pelo fato de trabalhar em equipe,6,19 os baixossalários, as poucas perspectivas de ascensão profissional e adifícil organizacão do tempo de trabalho.10

O pobre controle sobre o trabalho é mencionado como umforte causador de insatisfacão profissional em anestesiolo-gistas. Variáveis relativas ao fortalecimento desse controletêm um efeito positivo sobre a satisfacão com o traba-lho. Alguns exemplos dessas variáveis são a influência e aparticipacão no desenvolvimento de tarefas e no controlede tempo e da tomada de decisões, o que permite que oanestesiologista tenha mais influência sobre suas escalas eseu ritmo de trabalho. Esses aspectos compõem o escopo daorganizacão do trabalho que influencia substancialmente onível de satisfacão laboral.10

Como citar este artigo: Oliveira Andrade G, Andrade Dantas Rao trabalho em médicos anestesiologistas. Rev Bras Anestesiol.

Nesse âmbito, autores que abordam a interacãodemanda-controle no trabalho afirmam que um alto nívelde controle sobre o trabalho é acompanhado por caracte-rísticas positivas de saúde, enquanto que dificuldades para

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xercer a atividade laboral de forma satisfatória promovemistúrbios.20 Anestesiologistas caracterizados por uma boaaúde física e emocional relatam satisfacão com o trabalhoignificativamente maior do que os colegas que reportamueixas ou problemas físicos e emocionais.10 Diante disso,em-se que a análise de fatores estressogênicos relaciona-os ao trabalho e seu impacto sobre a saúde revelam que

poder de decisão ou autonomia (poder de controle) sãooderadores ambientais do estresse.20

Em relacão aos transtornos mentais relacionados ao tra-alho, menciona-se que as principais causas de estressecupacional em médicos anestesiologista são: grande quan-idade de horas trabalhadas e grande carga de trabalho,estricão de tempo, problemas organizacionais e do ambi-nte de trabalho, responsabilidade e medo de prejudicar

paciente,7,18 além do trabalho frequente em sistema delantão, associado às preocupacões com a vida em família.18

odos esses problemas apresentam grande correlacão com desenvolvimento de sintomas relacionados ao estresse esses sintomas estão associados com afastamentos do anes-esiologista da sua atividade laboral.18

Outro exemplo de desencadeador de estresse relacio-ado ao trabalho é a poluicão sonora no ambiente dasalas de operacões, mesmo em níveis que não produzamerda auditiva. São citados os ruídos emitidos por monitores,parelhos de anestesia, ventiladores, aparelhos de ar con-icionado, instrumental cirúrgico, alarmes, conversacões

peculiaridades do procedimento cirúrgico. A exposicãoo ruído pode gerar mudancas no humor, interferência naomunicacão entre os profissionais e déficit de atencão e deoncentracão e contribuir, assim, para aumentar a probabi-idade de erros durante a atividade laboral.21,22

Ademais, a ocorrência de eventos críticos inesperadosurante a prática anestésica é outra fonte de estresse norabalho.7,23 Anestesiologistas relatam que a sensacão deão ter se antecipado a um problema, perder o controle dema situacão crítica ou não saber o que está acontecendo

comumente descrita como particularmente estressante.liás, esse estresse tende a aumentar em situacões em que

anestesiologista está incumbido de treinar outros médi-os, para promover um ensino adequado a residentes, aléme desenvolver normalmente sua atividade.23 Contudo, éemonstrado que os aspectos mais estressantes relaciona-os ao trabalho do anestesiologista são a interferência dorabalho na vida familiar, principalmente nos profissionais doexo feminino,6,15 como citado anteriormente, e a restricãoe tempo.6,7,18,23 Essa é caracterizada como pressão paraar andamento ao servico de forma rápida, fazer com que aista de espera não se estenda e aumentar, assim, a rotati-idade de servico prestado,6,23 associada aos deslocamentosntre os hospitais.6,19 Além disso, há o fato de os anestesio-ogistas serem muitas vezes pressionados para chegar cedoara trabalhar, avaliar pacientes que nunca viram antes enduzir a anestesia em curtos prazos, sem o fornecimentoe informacões pré-anestésicas adequadas. Situacões queromovem frustracão e desenvolvimento de estresse e sofri-ento psíquico decorrentes da atividade laboral.6

Também é relatado que o ritmo de longas horas de tra-alho do anestesiologista torna-se incompatível com a vida

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amiliar e social, agravado pelos longos tempos de deslo-amentos inerentes à vida urbana e pela disponibilidaderaticamente em tempo ilimitado à atividade laboral, o que

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ode acarretar conflitos conjugais, com casamentos desfei-os ou relacionamentos conjugais instáveis. Tais afirmativasão de profissionais de ambos os gêneros.19

oencas Diagnosticadas (Problemas Físicos, Psíquicos ee Comportamento)ários distúrbios físicos e psíquicos relacionados à atividade

aboral do anestesiologista são citados na literatura. Estudoseitos em diferentes países apontam que os principais pro-lemas físicos e mentais relacionados ao estresse laboral donestesiologista são instabilidade emocional, irritabilidade,rises hipertensivas, infartos de miocárdio, nervosismo,nsiedade, depressão, úlceras gástricas e duodenais, cefa-eia, epigastralgia, dores intestinais, exaustão, sentimentoe indiferenca, distúrbios de memória e de sono.7,18,19 Ade-ais, autores advogam que o trabalho em sistema de plantão

a principal causa da sensacão de privacão de sono e dis-úrbios correlacionados, incluindo até tendência suicida.18

Também há relatos de uma alta incidência de distúrbiose sono entre residentes de diversas áreas quando compa-ados com outros pós-graduandos de saúde.3 Há registrose avaliacão da latência do sono em residentes de anes-esiologia em diferentes períodos após plantões por meioe eletroencefalograma (EEG) contínuo para registro dosinais de sono. Foi demonstrada uma menor latência aoono nos médicos cujos períodos regulares de sono forammpedidos pela atividade profissional. Consequentemente,nfere-se existir um elevado risco de reducão de atencão nosesidentes de anestesiologia que permanecem atuando apósárias horas de plantão, principalmente quando a anestesiae estabiliza, momento em que a vigilância e a observacãoontínua do paciente e dos monitores devem ser mantidas.ssim, é no momento em que o ato anestésico mantém-sestável que há um maior risco de o profissional cansado erivado de sono reduzir progressivamente seu nível de vigi-ância até dormir, desassistir o paciente e contribuir para acorrência de acidentes em anestesia.[8]

A fadiga e o estresse impactam negativamente oesempenho laboral dos médicos anestesiologistas e osornam menos eficazes quando trabalham cansados oustressados.24 Diante disso, chama-se atencão para a impor-ância da regulacão do período e da frequência de trabalhom sistema de plantão desses profissionais e do númeroe horas de descanso após plantão, a fim de garantir

seguranca e o bem-estar dos pacientes e dos própriosédicos.8,18,24

A síndrome de esgotamento profissional, ou burnout,m anestesiologistas também foi estudada por alguns auto-es por meio da aplicacão do Maslach Burnout InventoryMBI), um instrumento composto por 22 questões relaciona-as aos três componentes do burnout: exaustão emocional,espersonalizacão e reducão da eficiência profissional. Aartir de estudo feito na Áustria, observa-se que aneste-iologistas com risco de desenvolver a síndrome de burnoutpresentam mais queixas físicas, grande insatisfacão no tra-alho e maior dificuldade de resolver problemas do que osem riscos ou sintomas da síndrome.25 Também é menci-nado que indicadores de exaustão emocional e burnout

Como citar este artigo: Oliveira Andrade G, Andrade Dantas Rao trabalho em médicos anestesiologistas. Rev Bras Anestesiol.

levam-se com o aumento da tensão e da responsabilidaderofissional do anestesiologista.18

No entanto, apesar de os anestesiologistas terem grandeshances de apresentar a síndrome ou seus indicadores, é

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PRESSG. Oliveira Andrade, R.A. Andrade Dantas

onstatado que existem outras especialidades médicas emue a presenca de burnout é mais significativa, por exemplo,rologistas e oncologistas. Ou seja, embora haja a impressãoe que trabalhar na área de anestesiologia seja estressante

um fator de risco para o desenvolvimento de burnout, issoão foi corroborado em estudo feito na Austrália.6

atisfacão com o Trabalho e Estratégias denfrentamento

despeito de se mencionarem vários aspectos negativosa anestesiologia, estudos demonstram que há satisfacãoessoal proveniente dessa atividade laboral. Há anestesio-ogistas que se mostram com um alto nível de satisfacão, deutonomia e de comprometimento com o trabalho.7 Auto-es consideram que, dentre alguns aspectos positivos, aatisfacão profissional é um fator protetor contra o ado-cimento psíquico, o desenvolvimento de estresse e deurnout.6,7 A satisfacão no trabalho se associa com umaelhor saúde física e psíquica.10

Estudo feito na Suécia evidenciou, por meio de entrevis-as, a existência de anestesiologistas que gostavam muito datividade que exerciam, sem ver obstáculos externos paraazer um bom trabalho. Esses profissionais haviam chegado

um estado de ajustamento ou adaptacão com o modo e asondicões de trabalho do anestesiologista e com suas difi-uldades e seus problemas.26 Observa-se que é de extremamportância o desenvolvimento de estratégias de enfrenta-ento para os problemas e as situacões tidas como difíceis

a prática diária desse profissional, como lidar com eventosdversos que ameacam a vida do paciente, por exemplo. Emutro estudo, o grupo de anestesiologistas que se apresen-aram sem sintomas psíquicos, por exemplo, os relacionados

síndrome de burnout, demonstrou uma maior autonomia possibilidade de regulacão de sua atividade laboral e umaior contato e comunicacão com colegas de trabalho.25

A comunicacão entre os membros da equipe cirúrgica éonsiderada uma importante forma de estratégia a fim deuportar situacões estressantes presentes na atividade donestesiologista e de evitar crises e problemas no ambientee trabalho.7,24,25,27 Na avaliacão do trabalho em equipe,onclui-se não haver uma relacão de trabalho tão boa entrenestesiologistas e cirurgiões quando comparada com outrosembros da equipe cirúrgica, o que é considerado mais um

ator de sofrimento psíquico e estresse no trabalho.7,24

Contudo, apesar de haver uma possível falta de reco-hecimento profissional por parte dos cirurgiões em relacãoos anestesiologistas, não há problema significativo que nãoeja facilmente resolvido com uma boa comunicacão entres membros da equipe do centro cirúrgico.26

O desenvolvimento da habilidade cognitiva para entendereterminadas situacões como contribuintes para o apren-izado diário, em vez de ameacadoras para sua profissão,

mais uma estratégia de enfrentamento relatada emstudos.11,26 Essa é uma forma de reduzir a sobrecarga destresse do anestesiologista,26 na medida em que eventosríticos ou adversos durante a prática anestésica são per-ebidos como momentos de extrema importância para aquisicão de experiência profissional.11

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aixa Etária e Estratégias de Enfrentamentolguns estudos explicitam que anestesiologistas mais expe-ientes obtêm a capacidade de lidar melhor com situacões

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potencialmente estressantes e momentos de sobrecarga detrabalho e essa característica não é observada em jovensmédicos atuantes na área.9,25 Também se constata que osanestesiologistas mais jovens apresentam mais sintomasrelacionados ao estresse do que os mais velhos, com maisexperiência na área.18 Por isso, é mencionado que a falta datotal apropriacão do conhecimento, associada a uma possí-vel falha de supervisão em programas de residência médica,por exemplo, pode explicar a alta evidência de exaustãoemocional e burnout encontrada em residentes em aneste-siologia, visto que não apresentam a habilidade necessáriade lidar com situacões estressantes.7 Observa-se tambémque anestesiologistas pertencentes, principalmente, à faixaetária de 31 a 40 apresentam-se sob maior risco de desen-volver a síndrome de burnout18 e com maior sentimento deinsatisfacão com o trabalho.10

É importante salientar o valor educativo da discussãode casos e acontecimentos marcantes na área profissional,já que favorece a aquisicão do conhecimento por partedos médicos em treinamento e a manutencão da cautelae da prudência coletiva dentro da anestesiologia.11 Em umestudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Uni-fesp) defende-se a tese de que a reducão do estresse duranteo programa de residência médica deve ser um foco impor-tante do processo de treinamento.3 Dessa forma, objetiva-sefacilitar o aprendizado de estratégias de enfrentamentobem-sucedidas que partem de anestesiologistas experien-tes, a fim de favorecer o crescimento pessoal e profissionaldos treinandos, prevenir disfuncões profissionais e distúr-bios emocionais3,9 e evitar o futuro desenvolvimento detranstornos mentais e de comportamento, como o estresseocupacional e a síndrome de burnout.9

O acúmulo de experiência adquirida, as melhorias naorganizacão do trabalho, o apoio social entre os colegas6,7

e o trabalho compartilhado com profissionais experientes6,24

são considerados outras estratégias de reducão do desenvol-vimento de conflitos e problemas no ambiente de trabalhoe, consequentemente, de distúrbios psíquicos, transtornosmentais e de comportamento decorrentes da atividade doanestesiologista.

Uso de Substâncias PsicoativasEstratégias de enfrentamento positivas para reduzir as ten-sões decorrentes do trabalho do anestesiologista não sãoas únicas mencionadas em estudos. O uso de substânciascomo cafeína, tabaco, álcool e fármacos é considerado umhábito comum entre esses profissionais, com o objetivo deminimizar as tensões e os elementos de frustracão da vidalaboral cotidiana.19 Autores referem que o grande consumode álcool e drogas também é mencionado como estratégiapara suportar os períodos de estresse. E o interessante éque essa percepcão é mais reportada em relacão aos cole-gas anestesiologistas do que na própria pessoa entrevistada.Há, assim, discordância entre dados.6

Estudo feito na cidade de São Paulo evidencia que o usode drogas de forma lícita entre anestesiologistas está pre-sente no cotidiano da profissão E que há a conjectura, na

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comunidade médica, de que o anestesiologista é usuário dedrogas, visto que o uso de fármacos está inserido na sua ati-vidade profissional para com o paciente, além de haver fácilacesso a substâncias psicoativas, um facilitador do consumo

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PRESSho em médicos anestesiologistas 5

e drogas. Dessa forma, o anestesiologista convive diari-mente com a possibilidade do uso e por isso constrói-sema condicão em que o consumo das drogas torna-se umaácil válvula de escape para problemas e pressões. Um alívioara o sofrimento psíquico, principalmente se houver umaredisposicão pessoal ao uso, a que se soma uma condicãoe depressão, estresse e insatisfacão com o trabalho.28

Entretanto, o uso de drogas em si não é visto como algoondenável, errado ou criminoso no meio médico, contantoue não interfira na saúde e no desempenho laboral. Mas,pesar de ser uma atitude tolerada, o consumo de drogas

visto como um comportamento desviante, algo anormal. por causa disso que não se assume publicamente o uso eambém pela possibilidade de promover consequências pre-udiciais tanto no plano profissional quanto no plano pessoal.udo isso pode gerar estigmas e preconceitos em relacão aosuário, seja pelo lado da ilegalidade, pela concepcão deer uma doenca ou pelos riscos que se inserem no ambientee trabalho e em relacão à vida de pacientes.28

Por ser um assunto tão delicado, que pode gerar granderejuízo no campo profissional, há imensa dificuldade debordar o assunto. Considera-se que, entre anestesiolo-istas, não há subsídios e conhecimentos suficientes eecessários para abordar a questão com um colega usuário

evidenciá-la a um chefe. Ademais, há grande preocupacãoom a limitacão do retorno ao trabalho do anestesiologistaue já apresentou problemas com drogas. Por causa da faci-idade de acesso, existe um imenso risco de recaídas.28

Outro aspecto relacionado ao constante manejo deármacos na atividade profissional do anestesiologista éencionado num estudo qualitativo feito no México. Foiemonstrado que a exposicão contínua e recorrente aubstâncias que se volatilizam durante o ato anestésico érejudicial à saúde e pode causar mudancas de compor-amento e na vida social do anestesiologista. Por causaa exposicão a substâncias tóxicas, relatam-se o risco deonsumo dessas drogas e o de desenvolvimento de depres-ão crônica, tentativas de suicídio, mudancas bruscas dearáter, irritabilidade, insônia, fadiga, maior susceptibili-ade ao uso de antidepressivos ou estimulantes e aumentoo risco de farmacodependência. Também são mencionadasonsequências físicas decorrentes da exposicão prolongada aubstâncias tóxicas, por exemplo, imunossupressão, abortosspontâneos, teratogenia, leucemia, linfomas e distúrbiosa libido.19

onclusão

o estudar a saúde mental no trabalho, observa-se que pro-lemas relacionados à organizacão (valorizacão da funcão,arga, ritmo, relacionamento interpessoal, períodos deescanso, pressão de chefia, conteúdo das tarefas, horasrabalhadas) é a causa predominante de agravos psíquicosecorrentes da atividade laboral.1 A partir das informacõesbtidas nesta revisão, vários aspectos do trabalho donestesiologista parecem ser pontos importantes para aompreensão das relacões entre saúde mental no trabalho e

A. Transtornos mentais e do comportamento relacionados 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.03.021

rganizacão do trabalho. Em termos genéricos, os aspectosrganizacionais do trabalho do anestesiologista, que podemer destacados como adoecedores, a partir do que é explici-ado neste estudo, são a estruturacão temporal do trabalho,

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s relacões interpessoais e o próprio controle sobre suatividade. Ademais, são várias as citacões relacionadas aostresse laboral do anestesiologista e o desenvolvimento daíndrome de esgotamento profissional, ou burnout.

Na literatura, é possível obter a informacão de que é cadaez mais frequente, entre os médicos, o desenvolvimentoe burnout, uma síndrome de esgotamento profissional naual ocorre uma reacão exacerbada ao estresse associadoo trabalho,29 No burnout, o indivíduo apresenta exaus-ão emocional, despersonalizacão e ineficácia. Além disso,atores como desatencão, negligência, cinismo, falta dempatia e hostilidade são características desse quadro evidenciam a dificuldade do trabalhador de desempenhare forma satisfatória as atividades pelas quais é responsá-el.

Na Franca, a prevalência de burnout e de fatores associ-dos foi investigada em 978 médicos de unidades de terapiantensiva de adultos em hospitais públicos. Um alto nívele burnout foi identificado em 46,5% deles e os fatoresrganizacionais relacionados ao trabalho foram fortementessociados ao desenvolvimento da síndrome. Houve umaelacão estreita entre o desenvolvimento de burnout eários aspectos, dentre eles a precária qualidade de vidaos intensivistas, a sobrecarga de trabalho, os relacio-amentos prejudicados e os conflitos com outros colegasntensivistas.30 Algo semelhante ao que reportam os estudosom anestesiologistas.

Além disso, é notório o fato de que o estresse relaci-nado ao trabalho é uma realidade bastante frequente eausa muitos males. Estudos feitos em nove países pelasma (International Stress Management Association) apon-am os brasileiros entre os mais estressados do mundo nouesito esgotamento profissional, o estágio mais avancadoo estresse31. Também se menciona que o estresse é a prin-ipal causa de distúrbios comportamentais que afetam osesidentes e se salienta a importância do conhecimento deados referentes a essa temática para o planejamento, arganizacão e a avaliacão de programas de residência.32

Sintomas de ansiedade e depressão são comuns entreédicos e se eles não lidam adequadamente com taisanifestacões, as somatizacões tornam-se frequentes eodem encorajar o uso abusivo de drogas e álcool e atéesultar em suicídio. Infelizmente, na literatura não encon-ramos propostas de programas de controle médico emaúde ocupacional dirigidas a médicos e, particularmente,

anestesiologistas. A Norma Regulamentadora n◦ 32, questabelece legalmente a Seguranca e Saúde no Trabalho emervicos de Saúde, nada situa de específico relacionado aosiscos ocupacionais do médico. Alguns autores sugerem axistência de um acompanhamento psicológico presente etivo no âmbito das instituicões de saúde, a fim de melhorars perspectivas de saúde no cotidiano laboral do médico e,articularmente, do anestesiologista.19 É importante citarue tal medida não deve ocorrer de forma isolada. É neces-ário todo um conjunto de acões preventivas e de controleédico ocupacional, notadamente acerca dos riscos ergonô-icos, principalmente os organizacionais.Com base nesta revisão bibliográfica, pode-se concluir

ue a organizacão do trabalho, quando não adequada, é

Como citar este artigo: Oliveira Andrade G, Andrade Dantas Rao trabalho em médicos anestesiologistas. Rev Bras Anestesiol.

m importante fator de risco ocupacional para a vida e saúde mental do trabalhador, principalmente dos pro-ssionais voltados para o cuidado de pessoas, que estão

PRESSG. Oliveira Andrade, R.A. Andrade Dantas

onstantemente expostos a fatores estressantes e ansi-gênicos. Diante das informacões obtidas neste estudo,ercebe-se que as condicões de trabalho e saúde observadaspontam para a necessidade de mudancas na organizacão dorabalho do anestesiologista.

Dessa forma, é esperado que as instituicões de saúde es órgãos competentes, e em especial os próprios médicos euas organizacões de classe, fiquem atentos à manutencãoa saúde dos profissionais médicos, em geral, e, em especial,nestesiologistas, foco deste estudo, controlem ou elimi-em os fatores de risco de adoecimento ocupacional, com

intuito de promover um bem-estar mental e físico dessesrofissionais e, consequentemente, um cuidado adequado àaúde de quem os necessita.

Mas ainda restam vários questionamentos: a organizacãoo trabalho do anestesiologista participante de cooperati-as modifica as condicões citadas como estressantes? Háiferencas significativas no desenvolvimento de transtornosentais e de comportamento relacionados ao trabalho ele-

ivo ou de urgência e emergência? Qual seria a carga horáriadeal de trabalho para esse profissional? Quais os efeitos daxposicão ocupacional aos anestésicos? Será que a religio-idade interfere de alguma forma no desenvolvimento deranstorno mental ou de comportamento relacionado ao tra-alho ou no nível de estresse do anestesiologista? Em queroporcão a satisfacão do anestesiologista atua como fatorrotetor de adoecimento por transtornos mentais e do com-ortamento? Quais seriam os demais fatores e as demaisstratégias de enfrentamento para manter uma boa qua-idade de vida e a prevencão de transtornos mentais e doomportamento nos que atuam nessa área? Esses podemer aspectos a serem pesquisados e analisados em estudosuturos.

onflitos de interesse

s autores declaram não haver conflitos de interesse.

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