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TRANSMIGRAÇÃO DA CORTE PORTUGUESA PARA O BRASIL Pavilhão pessoal dos reis de Portugal (séculos XVIII a XIX) Prof.: Mercedes Danza Lires Greco

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TRANSMIGRAÇÃO DA CORTE PORTUGUESA PARA O BRASIL

Pavilhão pessoal dos reis de Portugal (séculos XVIII a XIX) Prof.: Mercedes Danza

Lires Greco

TRANSFERÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA PARA O BRASIL: PROJETO ANTIGO

Projeto antigo:1. Século XVII2. 1796-1803 - projeto desenvolvido por D. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro do príncipe D. João: fundar um novo império luso-brasileiro com capital no RJ. Justificativa do projeto: 1. A difícil situação financeira de Portugal.2. Os riscos da desintegração do Brasil em várias repúblicas, após a independência dos EUA. Abandono do projeto (1803) por pressão das elites

lusitanas e da saída do ministro do governo. Retomada do projeto (1806) em função da

expansão militar de Napoleão Bonaparte.

NAPOLEÃO BONAPARTE E A TRANSFERÊNCIA DA CORTE

→1806: Bloqueio Continental - Napoleão Bonaparte determina que os países europeus suspendam qualquer transação econômica com a Inglaterra.

→ Posição lusitana: grande dependente comercial da Inglaterra, Portugal não aderiu oficialmente ao Bloqueio Continental.

→ Acordos anteriores à transferência da Corte, firmados em 1807: CONVENÇÃO SECRETA: assinada entre

Portugal e Inglaterra, determinava:1. Integração da marinha lusa à inglesa.2. Facilidades comerciais inglesas no Brasil.

TRATADO DE FONTAINEBLEAU: firmado entre França e Espanha, determinava:

1. Invasão de Portugal pelas tropas franco-espanholas.2. Deposição da dinastia Bragança.3. Desmembramento do Império português entre França e Espanha.

A VIAGEM DA CORTE PORTUGUESA

→ 27/11/1807: A Família real e cerca de 10 a 15 mil pessoas (nobres, funcionários do Estado, membros do alto clero, comerciantes, altas patentes do Exército e da Marinha) partiram de Portugal rumo ao Rio de Janeiro a bordo de 15 embarcações, protegidas pela marinha britânica.

→ O embarque foi extremamente confuso, em virtude de D. João ter se decidido em cima da hora. Baús com roupas, malas, sacos e engradados seguiram junto com as riquezas da Corte. Obras de arte, objetos dos museus, a Biblioteca Real com mais de 60 mil livros, todo o dinheiro do Tesouro português e as joias da Coroa foram acomodados nos porões dos navios, bem como cavalos, bois, vacas, porcos e galinhas e mais toda a sorte de alimentos.

→ A população de Lisboa, atônita, sentia-se desamparada a espera do Exército de Napoleão. → Com os navios superlotados não havia espaço para todos se acomodarem.→ Muitos viajaram com a roupa do corpo. → A água e os alimentos foram racionados. → A higiene era de tal forma precária, que houve um surto de piolhos nos navios, obrigando as mulheres a rasparem a cabeça, entre elas a princesa Carlota Joaquina e as demais damas da família real e da Corte.→ Próxima à ilha da Madeira, a esquadra portuguesa foi atingida por uma forte tempestade. Resultado: a esquadra foi dividida - metade das embarcações, inclusive a que levava o príncipe-regente, foi parar no litoral da Bahia e a outra seguiu para o Rio de Janeiro.

A CHEGADA A SALVADOR→ 22/01/1808: A esquadra portuguesa, com o príncipe-regente, aportou em Salvador, após 54 dias de viagem.

Chegada de D. João VI a Salvador, de Portinari

28/01/1808: assinatura do decreto de “Abertura dos portos brasileiros às nações amigas Portugal” = fim do pacto colonial, permitindo que o Brasil mantivesse relações comerciais diretas com a Inglaterra.

A CHEGADA AO RIO DE JANEIRO

07 de março de 1808: chegada de D. João à baía de Guanabara

→ Inicialmente, a família real foi instalada no Palácio dos Vice-reis, um grande casarão mas sem nenhum conforto. Insuficiente para acomodar a todos, foi requisitado o Convento do Carmo e a Casa da Câmara.→ Posteriormente, D. João instalou-se num palacete situado na Quinta da Boa Vista, que passou a ser chamado de São Cristóvão. D. Carlota Joaquina acomodou-se em uma xácara em Botafogo.

→ Para acomodar o restante da corte, foram requisitadas as casas dos moradores que viviam no entorno do Palácio dos Vice-reis (atual Paço Imperial). As casas eram marcadas com P.R. (Príncipe-regente). O ato político de D. João logo passou a ser chamado de ponha-se na rua.

→ Os aluguéis dobraram, subiram os impostos e os víveres sumiram, requisitados para a nobreza.

→ Com o tempo a fisionomia urbana também começou a mudar, com a construção de inúmeras novas residências, palacetes e outras edificações.

→ Entre os costumes introduzidos, Dom João continuou no Brasil o antigo cerimonial português do beija-mão. Recebia seus súditos todos os dias, excetuando domingos e feriados, que em longas filas, onde se misturavam nobres e plebeus, esperavam para mostrar seu respeito pelo monarca e pedir-lhe mercês.

O COTIDIANO DO RIO DE JANEIRO

A REVOGAÇÃO DO ALVARÁ DE D. MARIA I

Em 1º de abril de 1808, o príncipe-regente D. João revogou (anulou) o Alvará de D. Maria I , que proibia a existência de manufaturas no Brasil."Desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e

sendo um dos mananciais a manufatura e a industria..“ (trecho do decreto de D. João).

Objetivo da revogação: aumentar a arrecadação tributária, necessária para custear as despesas da corte.

O Alvará de 1º de abril não foi suficiente para promover o desenvolvimento manufatureiro no Brasil. Havia dois obstáculos: o escravismo (escravo não comprava) e a concorrência da Inglaterra. Em plena Revolução Industrial, a Inglaterra produzia em grande quantidade mercadorias de boa qualidade a baixo preço.

Importância: a proibição da produção manufatureira foi formalmente suspensa.

OS TRATADOS DE 1810 TRATADO DE ALIANÇA E AMIZADE E TRATADO DE COMÉRCIO E

NAVEGAÇÃO

Os Tratados de 1810, assinados entre D. João e a Inglaterra estabeleciam:1. Os produtos ingleses pagariam 15% de taxas alfandegárias, enquanto as mercadorias portuguesas pagariam 16% e as dos demais países , 24%. Resultados: Brasil: dinamizou a economia, estabeleceu o acesso a novas mercadorias, mas provocou uma balança comercial deficitária. A importação de mercadorias inglesas era , muitas vezes, desnecessária (casacos de pele, patins, caixões mortuários, espartilhos, entre outras).Portugal: Os Tratados de 1810 agravaram ainda mais os privilégios perdidos pelos comerciantes portugueses com o Decreto de Abertura dos Portos, em 1808.Inglaterra: garantiu um grande incremento de sua receita com o mercado consumidor brasileiro.

O TRANSPLANTE DO ESTADO PORTUGUÊS

A chegada da Corte ao Rio de Janeiro deu início a reorganização do Estado português com:

1. A nomeação dos ministros;2. A recriação de todos os órgãos do Estado

português: os ministérios do Reino, da Marinha e Ultramar, da Guerra e Estrangeiros e o Real Erário (Ministério da Fazenda a partir de 1821);

3. Recriação dos órgãos de administração e de justiça: Conselho de Estado, Desembargo do Paço, Mesa da Consciência e Ordens e Conselho Supremo Militar.

Obs.: O Estado foi recriado para empregar a nobreza parasitária que acompanhara o regente, sem levar em consideração os interesses do Brasil. Entretanto, esse transplante foi importante no processo de independência (1822).

E AS TRANSFORMAÇÕES CONTINUAM ...

Para colocar o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, à altura de sediar a monarquia portuguesa, vários empreendimentos foram realizados. No setor militar foi fundada a Academia Militar, a Academia da

Marinha, a fábrica de pólvora, o Arquivo Militar e o hospital. No setor cultural, foram criados estabelecimentos de ensino,

como a Escola de Comércio e a Escola Real de Ciência, Artes e Ofício. Para criar a Academia de Belas-Artes, D. João trouxe a Missão Francesa, chefiada por Lebreton (professor e legislador). A Missão compunha-se de vários artistas plásticos franceses. Dentre eles,Taunay, e Debret.

Fundação da Imprensa Régia, que imprimiu o primeiro jornal, A Gazeta do Rio Janeiro.

Fundação da Real Biblioteca. Fundação do Jardim Botânico. Criação do Real Theatro de São João. A Casa de Banhos. Fundação do Banco do Brasil.

Barão de Taunay Jean-Baptiste Debret

Joachim LebretonFachada da Academia Imperial de Belas-Artes fotografada por Marc Ferrez, em 1891.

Retrato de Grandjean de Montigny pintado cerca de 1843 por Augusto Müller

A MISSÃO FRANCESA

O BRASIL VIRA REINO UNIDO A PORTUGAL E ALGARVES

→ Segundo o princípio da legitimidade, a situação da dinastia Bragança no Brasil era ilegítima, pois o Congresso de Viena só reconhecia Portugal como sede do reino. O reconhecimento da legitimidade dependia do retorno de D. João a Portugal.→ A solução para o impasse foi a elevação do Brasil a reino: a lei de 16 de dezembro de 1815, assinada por D. João, legitimou a permanência da Corte no Brasil.→ Com esse ato, D. João, neutralizou qualquer tentativa e independência e, ao mesmo tempo, provocou grande insatisfação em Portugal.

A POLÍTCA EXTERNA DE D. JOÃO → Orientada contra a França de napoleônica.→ Em represália à invasão de Portugal, o regente ordenou a ocupação de Caiena (Guiana Francesa) em 1809. O território foi devolvido à França em 1815 por determinação do Congresso de Viena, mas somente em 1817 ocorreu a retirada dos portugueses. → Usando como pretexto o temor da intervenção francesa na região do Prata (área espanhola) e apoiado pela Inglaterra, D. João interveio na região platina em 1811 e, novamente, em 1816, quando anexou o atual Uruguai, com o nome de Província Cisplatina.

REAÇÃO À POLÍTICA DE D. JOÃO: A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA Fatores:1. A presença maciça de portugueses no governo e na administração pública;2. O aumento e a criação de novos impostos por D. João, utilizados para cobrir as despesas da corte e as obras no Rio de Janeiro.3. A queda nos preços dos principais produtos de exportação, o açúcar e o algodão, que sustentavam a economia de Pernambuco prejudicou os interesses dos grandes proprietários de terras. 4. Apesar do fim do exclusivismo comercial (Abertura dos portos), o comércio em Recife continuava nas mãos dos comerciantes portugueses.5. A grande seca que havia atingido a região em 1816 acentuou a fome e a miséria.6. A influência externa com a divulgação das ideias liberais e iluministas.

→ Objetivo do movimento: independência do Brasil e a proclamação da república.

Os revoltos chegaram a formar um governo provisório e aprovar uma Lei Orgânica que determinava a liberdade de consciência e de imprensa, admitia a tolerância religiosa e abolia os tributos sobre os gêneros de primeira necessidade. A questão da escravidão não foi resolvida, dividindo os revoltosos.→ Repressão: os preparativos foram dirigidos pessoalmente por D. João e ocorreram por terra e por mar. No dia 19 de maio de 1817, a resistência dos rebeldes foi suplantada.→ Punições: foram rigorosas: os principais líderes foram fuzilados ou enforcados. Os demais participantes foram presos e anistiados após a Revolução do Porto (1820).

O PRINCIPE-REGENTE TORNA-SE REI

Dom João foi príncipe regente desde 1792 quando sua mãe foi considerada incapaz de governar.

Com a morte de D. Maria I em 20 de março de 1816, passou a usar o título de rei, mas demorou dois anos para ser aclamado.

Em 06 de fevereiro de 1818, foi aclamado Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia.

A REVOLUÇÃO DO PORTO (1820)→ A situação de Portugal com a saída da Corte: Em 1808, Portugal foi invadido pelas tropas napoleônicas. Mesmo

livres Napoleão, os portugueses continuaram governados por lorde Beresford até 1820.

A abertura dos portos causou sérios riscos ao comércio português.

A elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves desagradou aos portugueses.

→ O início do movimento: O movimento nasceu na cidade do Porto, em 1818, inspirado no

exemplo da Revolução Francesa. Em agosto de 1820, a revolução chegou a Lisboa. Os rebeldes

depuseram a Junta governativa inglesa, formaram um governo próprio: a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino e convocaram eleições para formar as Cortes de Lisboa,

• As Cortes exigiram o retorno imediato da Corte a Portugal, mas com poder limitado pela Constituição que escreveriam. Significado para Portugal: fim do absolutismo português. Pretendiam Também anular a Abertura dos Portos. Significado para o Brasil: retorno a condição de colônia.

• D. João VI ficou dividido: permanecer no Brasil e enviar o príncipe D. Pedro a Portugal para acalmar os ânimos ou retornar. A Revolução do Porto tinha intenções liberais

para Portugal, mas conservadoras para o Brasil.• Preocupado com os rumos políticos do reino, D.

João VI cedeu às pressões das Cortes e retornou em abril de 1821, deixando no Brasil seu herdeiro, D. Pedro de Alcântara, como príncipe regente.

“Põe a coroa sobre a tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela.”“Antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum destes aventureiros.” (Dom João VI)