[transcrição] e aqueles que não ouviram o evangelho - william lane craig
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E AQUELES QUE NUNCA OUVIRAM O EVANGELHO?
WILLIAM LANE CRAIG
Uma das questões mais comuns sobre o Cristianismo é "E aqueles que nunca ouviram sobre
Jesus Cristo? Qual é o seu destino eterno?"
Bem vindo ao “Fé Racional”, conversas com o Dr. William Lane Craig. Eu sou Kevin Harris e
estou feliz em ter você conosco. Quero lembrar você que há muitos recursos como esse
podcast disponíveis no ReasonableFaith.Org
Transcrições e gravações de debates do Dr. Craig em campus universitários do mundo
inteiro, artigos, perguntas e respostas, um fórum de discussão e muito mais disponíveis
agora no ReasonableFaith.Org
Kevin Harris, anfitrião do “Fé Racional”
COMO SÃO ESCOLHIDAS AS PERGUNTAS?
Kevin: No website ReasonableFaith.Org, Dr. Craig, você recebe muitas questões
de pessoas que estão surfando na web e vão examinar o site e elas têm questões
bem difíceis que você escolhe periodicamente e responde. Quais são seus critérios
para escolhê-las?
Craig: Bem, uma coisa que eu tento fazer é escolher uma questão que tenha
alguma relação com minha própria obra no assunto. Eu recebo algumas questões
que, eu penso, "Poxa, se ele lesse os artigos no site, sua pergunta estaria
respondida. Já está lá.1" Então, eu costumo não responder essas, pois a informação
já está lá.
1 O mesmo serve para perguntas enviadas ao DeusEmDebate.blogspot.com
Kevin: As pessoas tendem a querer uma resposta rápida em vez de fazer o
trabalho.
Craig: Sim, eu acho. Ou então elas vêm ao site, mas não se preocupam de ler algo
no site e então apenas fazem sua pergunta e o que eu quero que elas façam é
primeiro ler os artigos no site e, então, se elas tiverem uma pergunta que ainda as
incomoda ou intriga, então esse é o tipo de pergunta que me interessa. E o que eu
tento fazer é escolher uma pergunta que seja do interesse geral, não uma que seja
interessante para um grupo mais restrito. E, então, eu tento variá-las. Se você
notar, eu tento ter algumas filosóficas, algumas questões mais bíblicas ou sobre o
Novo Testamento e, então, mudar para o argumento de Kalam, o argumento
moral, o argumento teleiológico, para outras questões, de forma que não
estejamos sempre no mesmo trilho.
O PROBLEMA DOS NÃO EVANGELIZADOS
Kevin: Essa pergunta aqui eu consideraria uma das mais feitas sobre o
Cristianismo, dizendo "E aqueles que nunca ouviram o nome de Cristo? Qual é o
seu destino eterno?" E assim por diante... E nessa pergunta, ele diz,
Eu sinto que o argumento do Dr. Craig de que Deus faz aqueles que Ele sabe que responderão favoravelmente ao evangelho viverem em partes do mundo onde eles mais provavelmente ouvirão ao Evangelho tem jeito de chauvinismo cultural. Você está dizendo que amostras da humanidade estão sendo excluídas presumivelmente porque 'mesmo que ouvissem, elas não creriam.'
Isso ele tirou de algum escrito seu. O que ele está perguntando aqui?
Craig: Bem, ele está falando da solução que eu propus para o problema dos não
evangelizados, aqueles que nunca ouviram falar de Cristo: como Deus julga
pessoas que nunca ouviram o Evangelho?
Se você levar Romanos 1 a sério, ele parece sugerir que a massa da humanidade
fora do Evangelho está perdida, que eles não vão para o paraíso. E, assim, isso
parece fazer a salvação ou perdição de uma pessoa dependente de um acidente
histórico e geográfico. Algumas pessoas são sortudas o suficiente para nascer em
uma época e lugar da história onde o Evangelho é pregado, e elas chegam a ouvi-
lo e serem salvas. Outros sujeitos sem sorte, sem ter culpa, nascem em tempos e
lugares da história onde o Evangelho ainda não chegou. E, assim, eles estão
perdidos eternamente porque não chegam a ouvir sobre Cristo e crer nEle.
E a dificuldade, eu acho, é que isso parece incompatível com um Deus amoroso. Às
vezes as pessoas dizem "isso é injusto." Eu acho que não, porque todos os homens
são justamente condenados - todos são pecadores. Então, se Deus escolhe salvar
Ninguém, eu não acho que alguém pode dizer que isso foi injusto. E, se Deus
escolhe mostrar misericórdia por um e não por outros, isso não é injusto. Seria
como o governador perdoar um homem no corredor da morte e não perdoar os
outros. Não há nada de injusto nisso, porque todos merecem morrer.
Mas isso pareceria incompatível com Deus ser todo-amoroso. Se Ele é todo-
amoroso, então porque Ele escolheria salvar ou ter misericórdia de uns poucos
quando Ele poderia ter salvado e tido misericórdia de todos? Então esse, me
parece, é o problema chamado de "o problema daqueles que nunca ouviram o
Evangelho." Como pode um Deus todo-amoroso permitir que pessoas entrem na
perdição eterna por causa de um acidente histórico e geográfico?
Kevin: Então o que vamos procurar agora são algumas soluções internamente
consistentes, internas à própria Bíblia, e talvez algumas externas, filosóficas, para
lidar com isso. E, quando fizermos isso, acho que vamos ver algumas
possibilidades e tentar especular inteligentemente baseados nos dados
disponíveis.
Craig: Sim, acho que está certo. Acho que essa é, essencialmente, uma objeção
que diz que o Cristianismo é internamente contraditório: Por um lado, o
Cristianismo afirma que Deus é todo-amoroso e todo-poderoso e, por outro lado,
afirma que algumas pessoas nunca ouviram o Evangelho e estão perdidas. E a
declaração é que, de alguma forma, esses fatos são inconsistentes entre si: se
Deus é todo-poderoso e todo-amoroso, não deveria acontecer de algumas pessoas
não ouvirem o evangelho e serem perdidas.
Então, para resolver esse problema, nós não precisamos oferecer a verdadeira
solução, isso pode estar fora de nosso escopo. Mas, o que podemos fazer é
mostrar uma possível solução: Algo que seja biblicamente consistente e que seja
consistente com Deus ser todo-poderoso e todo-amoroso. E, na medida em que
pudermos dar uma possível solução, isso é o suficiente para remover a suposta
contradição e solucionar esse problema interno.
Kevin: Quando oferecemos uma resposta ao menos possível, nós poderemos
desenvolvê-la.
Craig: Sim, eu acho que seria bom se tivéssemos não meramente uma solução
possível, mas também uma plausível. Então, é isso o que eu tento fazer: trabalhar
em uma solução para esse problema que o leve a sério, lide com ele
honestamente e que ofereça uma solução que seja tanto possível quanto plausível.
Kevin: Ha! É como se alguém lhe dissesse: "Estou abandonando a fé cristã. Não
vou mais acreditar, por causa do problema dos não evangelizados." Você poderia
dizer: "Oh, espere! Não tenha pressa! É ao menos possível que... A, B, C e D.
Então, você ainda está no jogo." Certo? "Confie em Deus... Você não condenou a
Deus, você não condenou a consistência interna das Escrituras..."
Plantinga2 fez isso com problema do mal, não fez?
2 Alvin Plantinga, prestigiado filósofo cristão da Universidade de Notre Dame. Vale a pena ler os escritos dele. O blog Deus Em Debate publicou uma palestra do Dr. William Lane Craig em que ele expõe a defesa para o Problema do Mal que depois adaptou para responder ao problema dos não evangelizados. Confira no blog DeusEmDebate.blogspot.com
Craig: Sim, exatamente, Kevin, e foi o tratamento de Plantinga para o problema
do mal que inspirou minha própria solução para o problema dos não
evangelizados. O que Plantinga diz é que aqui está uma possibilidade que mostra
que não há inconsistência entre Deus ser todo-poderoso e todo-amoroso e haver
sofrimento no mundo. E eu pensei, "Porque eu não poderia fazer algo similar, para
mostrar que Deus pode ser todo-poderoso e todo-amoroso e, ainda assim, haver
pessoas não evangelizadas que são perdidas?"
Kevin: Então, a possível solução que você ofereceu foi...? Explique.
Craig: Bem, o que eu apontei foi que o objetor parece estar fazendo duas
suposições ocultas: Ele está supondo, em primeiro lugar, que, se Deus é todo-
poderoso, Ele pode criar qualquer mundo que Ele quiser. E, em segundo lugar, ele
está supondo que, se Deus é todo-amoroso, Ele preferiria um mundo onde todos
são salvos, em vez de um mundo onde alguns são perdidos. Então, o argumento é
que, se Ele é todo-poderoso e todo-amoroso, Ele poderia criar e quereria criar um
mundo onde todos são livremente salvos. Esse é o argumento do objetor.
E eu questiono essas duas suposições ocultas. Eu acho que ambas não foram
demonstradas como necessariamente verdadeiras. Na verdade, eu acho que são
plausivelmente falsas. Mas, pelo menos, não foram demostradas como
necessariamente verdadeiras.
Kevin: Porque você acha que essas duas suposições ocultas não são verdadeiras?
Craig: Bem, veja a primeira: Se Deus é todo-poderoso, Ele pode criar qualquer
mundo que Ele quiser. É logicamente impossível fazer alguém fazer algo
livremente. Isso é tão logicamente impossível quanto fazer um solteiro casado ou
um quadrado redondo. Você não pode fazer alguém fazer algo livremente. O que
isso significa é que, se Deus criar um mundo de criaturas livres, Ele não pode
garantir como todas elas escolherão. E, em particular, Ele não pode garantir que
todas elas livremente receberão a Cristo e aceitarão Sua salvação. Pode ser que,
em qualquer mundo de criaturas livres que Deus criasse, pelo menos algumas
delas livremente rejeitariam Sua graça e se perderiam.
Kevin: É exatamente isso o que o cético diz: Que, se Deus é todo-poderoso, Ele
pode fazer um mundo onde Ele pode forçar pessoas a livremente escolhê-lo. [risos]
Craig: Certo, e isso simplesmente é logicamente impossível, uma vez que você
entende a noção do que é liberdade. E nossa cultura reconhece isso: Lembre-se do
filme "O Todo Poderoso", onde Morgan Freeman diz, "Você pode fazer qualquer
coisa, porque é Deus, exceto suplantar seu livre-arbítrio." E você lembra todos os
problemas que isso causa para Jim Carrey quando ele tenta dirigir o mundo sem
violar o livre-arbítrio. Realmente é difícil!
Então, pode bem ser o caso que, embora haja mundos logicamente possíveis com
salvação universal, nenhum desses mundos seja possível para Deus. É impossível
para Ele realizar um deles porque, se Ele tentar, as criaturas ou as pessoas nele se
desviariam e pelo menos algumas delas livremente O rejeitariam e se perderiam
por seu próprio livre-arbítrio.
Então, aquela primeira suposição não é necessariamente verdadeira: que um Deus
todo-poderoso pode criar qualquer mundo que Ele quiser e, em particular, um
mundo de salvação universal. Então, com base nisso apenas, o argumento contra
o Cristianismo ou a doutrina do particularismo cristão, como é chamada às vezes,
é falho.
Mas eu acho que a segundo suposição também é falha, que era, lembre-se: se
Deus é todo-amoroso, então Ele refere um mundo onde todos sejam livremente
salvos a um mundo onde alguns são perdidos. Agora, o problema com isso é que
isso pode ser verdade se a balança estiver equilibrada. Se a balança estiver
equilibrada, Ele preferiria um mundo onde todos são livremente salvos. Mas, pode
haver outras deficiências que tornem um mundo de salvação universal menos
preferível. Em outras palavras, a balança pode não estar equilibrada: os mundos
de salvação universal podem ter outras deficiências que os tornem menos
preferíveis.
Como quais? Por exemplo, suponha que os únicos mundos onde todos livremente
recebem a Cristo e são salvos são mundos onde há poucas pessoas, digamos, 3 ou
4 e que, se Deus fosse criar mais pessoas, pelo menos uma delas se desgarraria e
seria perdida.
O fato de Deus ser todo-amoroso O obrigaria a escolher um desses esses mundos
pouco populosos em vez de um mundo onde multidões livremente recebem a
Cristo mesmo que algumas livremente rejeitem Sua graça e separem-se
eternamente de Sua graça? Bem, isso não é óbvio para mim. Me parece que,
contanto que Deus dê suficiente graça para salvação para cada pessoa que Ele
criar, então, Ele não é menos amoroso por preferir um mundo mais populoso a um
desses mundos pouco populosos, mesmo que isso signifique que alguns
livremente rejeitarão a Ele e Seus esforços para salvá-los e se perderão.
Então, nenhuma das duas suposições é necessariamente verdadeira. Na verdade,
eu acho que são plausivelmente falsas. Então é duplamente inválido o argumento
que Deus ser todo-amoroso e todo-poderoso é inconsistente com algumas pessoas
nunca ouvirem o Evangelho e serem perdidas.
Kevin: Como isso levanta a questão do Molinismo, que é também algo bem
implicado nessa questão?
Craig: Ele levanta essa questão porque eu levo o argumento um passo adiante:
até agora, o que eu tentei mostrar é que ninguém mostrou uma inconsistência
entre Deus ser todo-poderoso e todo-amoroso e algumas pessoas nunca ouvirem o
Evangelho e serem perdidas.
O que eu tento fazer depois é mostrar não apenas que ninguém mostrou que essas
verdades são inconsistentes, eu tento provar que elas são consistentes, oferecer
uma demonstração positiva de que são consistentes, que é um argumento mais
poderoso. E é fazendo isso que eu apelo para a Doutrina do Conhecimento Médio,
ou Molinismo, que diz que Deus sabe o que qualquer pessoa faria em qualquer
circunstância na qual Ele a criasse.
Kevin: O cético geralmente diria: Porque Deus criaria uma pessoa sabendo que
ela O rejeitaria? Porque Deus não escolheu não criá-la?
Craig: Bem, o que você precisa entender é que, se Deus não criasse essa pessoa,
não significa que tudo pode continuar sem mudanças. Significa que, agora, você
está em outro mundo possível, e pode ser nesse mundo, sem essa pessoa, que
outras então livremente O rejeitariam e seriam perdidas e não salvas.
E, de fato, como já vimos, pode ser o caso de que, em qualquer mundo viável para
Deus, algumas pessoas livremente O rejeitariam e seriam perdidas. Então, a minha
sugestão é que Deus, como um Deus todo-amoroso, quer que tantas pessoas
quanto possível sejam salvas e que o mínimo possível de pessoas seja perdido.
Então, o que Deus fez foi criar um mundo com um balanço ótimo entre salvo e
perdidos: um mundo que envolva o número máximo de salvos para o número
mínimo de pessoas perdidas. E Ele dá graça suficiente para a salvação de todos
que Ele criar: todos podem salvos se quiserem, mas Deus sabe que muitos dos
perdidos rejeitarão todos Seus esforços de salvá-los e se separarão dEle
eternamente e serão perdidos. Mas, mesmo assim, em Sua misericórdia e amor,
Deus criou um mundo com um balanço ótimo entre salvos e perdidos. E, além
disso, Ele ordenou o mundo de tal forma que aqueles que nunca ouviram o
Evangelho e se perderam são apenas pessoas que não teriam crido no Evangelho
e sido salvas mesmo que tivessem ouvido. Em outras palavras: qualquer um que
teria crido no Evangelho e sido salvo se tivesse ouvido, nasceu em uma época e
local na História onde ele o ouve.
Isso significa, Kevin, que ninguém pode levantar-se diante de Deus no dia do
julgamento e dizer, "está bem, Deus, eu rejeitei Tua revelação na natureza e na
consciência! Mas, se eu tivesse ouvido o Evangelho, eu teria sido salvo!" E Deus
diria e Ele: "Não, eu sabia que, mesmo que você tivesse ouvido o Evangelho você
não o teria recebido. Então, meu julgamento sobre você, com base na sua
resposta à natureza e à consciência, não é nem não-amoroso nem injusto."
Eu acho que o que eu disse antes, mostrando que aquelas suposições são falsas,
prepara o campo para isso. Essa é uma prova positiva de que é inteiramente
consistente afirmar que Deus é todo-poderoso e todo-amoroso e que, mesmo
assim, algumas pessoas nunca ouvem o Evangelho e são perdidas. Então, se meu
cenário for ao menos possível, isso mostra que aquelas verdades são inteiramente
consistentes.
Kevin: Ocorre a mim também, Bill, que, se Deus não criasse uma pessoa porque
Ele sabia que ela O rejeitaria, isso daria ao inferno um poder de veto sobre Deus.
As mãos de Deus estão amarradas por causa do mal que uma pessoa possa fazer.
E, por isso, Ele não pode expressar Sua criatividade porque essa pessoa iria para o
inferno.
Craig: Acho que você tocou em algo aí. Me parece que, quando as pessoas dizem:
"Porque Deus não criou ninguém? Se Ele sabia que tantos o rejeitariam e iriam
para o inferno, porque Ele não decidiu criar nenhum Universo?" Me parece que
você está negando a benção e a alegria de todas aquelas pessoas que livremente
aceitariam a graça de Deus e a salvação e eternamente se alegrariam com Ele por
causa daquelas pessoas que livremente cuspiriam no rosto de Deus e rejeitariam
todos Seus esforços para salvá-los e rejeitariam Seu amor e se perderiam
eternamente. E porque essas pessoas deveriam receber poder de veto sobre os
mundos que Deus pode criar? Quem lhes deu o direito de impedir a alegria e
felicidade daqueles que livremente querem receber a graça de Deus e serem
salvos? Lembre-se: muitos dos perdidos podem receber muito maiores medidas de
graça do que os salvos, mas eles simplesmente as rejeitam e se recusam a vir a
Deus e serem salvos.
Kevin: Bill, em conclusão, acho que há algo que se destaca nessa questão, que é:
E a pessoa que está fazendo essa pergunta? Podemos perguntar-lhe: "Bem, e
você? Você ouviu o Evangelho, você sabe de toda essa teologia e desses recursos.
Mas você se preocupa com o homem na selva. Porque você não recebe a Cristo?
Talvez Ele mande você para a selva, para evangelizá-los!" [risos]
Craig: Talvez seja verdade, Ele fará isso! [risos] Mas, você está absolutamente
certo: esse é um problema sobre aqueles que não ouviram o Evangelho, mas nós
ouvimos o Evangelho e, assim, somos confrontados com a escolha de darmos ou
não nossas vidas a Cristo.
Kevin: Jesus disse a Pedro: "Se ele permanecer... referindo-se a João... se ele
permanecer até que eu venha, o que isso tem a ver com você? Você... segue-me."
NÓS TEMOS LIVRE-ARBÍTRIO?
Kevin: Dr. Craig, nossa pergunta de hoje: Nós temos livre-arbítrio?
Craig: Eu acredito que temos livre-arbítrio, Kevin. E eu acho que Bíblia sustenta
isso e que isso é filosoficamente necessário. Nas Escrituras diz que Deus nos dará
um escape em qualquer tentação por que passarmos, Ele não permitirá que
sejamos tentados além do que pudermos suportar, mas nos dará esse escape.
Agora, o que isso significa é que, em qualquer situação onde sucumbimos à
tentação e ao pecado, nós não tínhamos que fazê-lo. Nós podíamos ter escapado
mas, em vez disso, nós éramos livres para escapar, mas não o fizemos. Então isso
eu acho que isso é uma prova bíblica de que temos de fato liberdade da vontade:
nós não tínhamos que fazer, não fomos determinados a fazer o que fizemos, nós
podíamos ter escapado.
Kevin: Materialistas, naturalistas, ateus, entre outros3, argumentam que não há
livre-arbítrio porque tudo é determinado pela genética e por causas antecedentes.
Parece que eles nem teriam livre-arbítrio para dizer isso e tentar te convencer a
3 Alguns cristãos calvinistas afirmam que todas as decisões humanas são determinadas por causas externas sendo Deus a causa final dessas decisões. O blog Deus Em Debate publicou um artigo do Dr. Craig com o interessante título “Preocupado com os Calvinistas” em que ele comenta certos aspectos desse tema.
mudar de idéia. Você poderia esclarecer isso? Eu não vejo como nossos genes não
nos permitiriam ter livre-arbítrio...
Craig: Bem, eu não sou um materialista, então esse argumento não me incomoda.
Eu acredito que temos uma alma, que é um eu imaterial, componente do nosso
ser. E que a alma não é determinada pela formação genética que temos ou pelos
estímulos sensórios que recebemos, a alma tem liberdade da vontade.
E, como você apontou, me parece que o determinismo não é racionalmente
afirmável. Você não pode racionalmente afirmar o determinismo. Porque, se você
o fizer, você está afirmando é que você acredita no determinismo não porque ele é
verdade, ou que essa é uma decisão racional, você o está afirmando porque você
foi determinado a fazê-lo. Foi como uma árvore desenvolvendo um galho ou como
ter dor de dente. Você foi simplesmente determinado a crer no determinismo.
Assim, o determinismo é incapaz de ser racionalmente afirmado. Ele só pode ser
racionalmente afirmado se você teve de fato liberdade da vontade para fazer uma
escolha racional nesse assunto.
Além disso, eu acho que o livre arbítrio é necessário para nossa habilidade de
atuar como agentes morais significativos no mundo. Se nossas ações são todas
causalmente determinadas, elas não têm mais valor moral do que os movimentos
dos membros de uma marionete teriam valor moral.
Então, me parece que temos boas razões tanto filosóficas quanto bíblicas para
afirmar que seres humanos têm livre-arbítrio e que isso é parte da imagem de
Deus nelas.
Kevin: Para mais recursos como esse do Dr. William Lane Craig, vá para o
ReasonableFaith.Org4 e muito obrigado por ouvir ao "Fé Racional", com William
Lane Craig.
4 Ou para o blog DeusEmDebate.blogspot.com!!!