trans mul pluri inter disciplinaridade

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IES Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia com ênfase em Educação Infantil Prof. MS. Vera Alice Pexe Alves Curso: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL Disciplina: FUNDAMENTOS DA INTERDISCIPLINARIDADE Prof. MS. VERA ALICE PEXE ALVES Av. Integração Jaime Campos n 145 – Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000 www.ajes.edu.br [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 1

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Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia com ênfase em Educação InfantilProf. MS. Vera Alice Pexe Alves

Curso: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM

EDUCAÇÃO INFANTIL

Disciplina: FUNDAMENTOS DA

INTERDISCIPLINARIDADE

Prof. MS. VERA ALICE PEXE ALVES

Av. Integração Jaime Campos n 145 – Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000www.ajes.edu.br – [email protected]

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INTERDISCIPLINARIDADE: POR UMA PEDAGOGIA NÃO FRAGMENTADA

“As capelas cientificas, fundadas sobre o signo da especialização, vivem muito mais a vontade num mundo fechado, onde a verdade de cada um é menos contestada, do que num mundo aberto, onde estão expostas aos ventos da crítica.”

HILTON JAPIASSU

O conhecimento está sendo construído de forma fragmentada, cada vez mergulhamos em uma maior especialização, a matemática já vem há muito tempo sendo ensinada dividida em geometria, trigonometria, aritmética entre outras áreas; já a língua portuguesa se reparte em gramática, ortografia, e literaturas. As outras matérias dos ensinos médio e fundamental também se repartem, como se a simples existência destas disciplinas já não significasse um conhecimento partido, e cada vez mais longe da realidade do aluno.

A especialização levada ao extremo, como a que ocorre hoje, faz com que o conhecimento produzido só tenha sentido para os especialistas de cada área. As informações científicas desligadas do mundo real, fechadas cada vez mais em intradisciplinas, como a termofísica-nuclear, não tem sentido algum para o aluno de ensino médio. Isto leva ao questionamento sobre até onde tais informações dadas para os alunos seria realmente produzir conhecimento. É para ir contra esta corrente que se levanta o conceito de interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade busca um conhecimento universal, ou seja, um conhecimento que não seja partido em vários campos, o que faz com que cada vez mais se sinta a necessidade de se estar afastado do mundo real e fechado em apenas uma área, o que acaba por abstrair seu objeto de estudo.

O formalismo jurídico de uma teoria abstrata, desligado de toda referência à vida real, pode conduzir aos piores absurdos, traindo, assim, a essência mesma da função jurídica. De modo semelhante, o formalismo rigoroso desta ou daquela teoria cientifica pode desenvolver, sob aparências enganadoras da perfeita exatidão, o desconhecimento das implicações próximas e longínquas da existência humana (GUSDORF, apud JAPIASSU, 1976,p. 17)

“Assim cativado pelo detalhe, o especialista perde o sentido do conjunto, não sabendo mais situar-se em relação a ele.” (JAPIASSU, 1976, p. 94)

A idéia interdisciplinar ganha força na década de 60 na Europa, isto devido a um movimento de

alunos e professores do ensino superior contra a fragmentação do conhecimento. A idéia e a proposta pedagógica nela contida são trazidas à tona por Georges Gusdorf no final da década de 60, e é este autor que influencia os dois maiores teóricos brasileiros; Hilton Japiassu e Ivani Fazenda. Sendo que Japiassu veio a trabalhar o conceito no que denominamos campo epistemológico, enquanto Fazenda

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continua a produzir uma obra extensa no campo pedagógico. São estes dois teóricos que influenciam praticamente toda produção bibliográfica sobre o assunto no Brasil.

Porém, mais importante para educação é perceber os frutos que estes conceitos, quando corretamente aplicados, podem produzir. É fato claro o desinteresse cada vez maior dos alunos pelo ensino, e não poderia ser diferente. Afinal em um mundo dinâmico no qual as crianças e os jovens cada vez mais “precisam” reter uma dose gigantesca de informações, as práticas didáticas mostram-se retrógradas.

O discurso de que o conhecimento é a base fundamental da civilização é insuficiente, no mínimo incompreensível para o estudante que acaba por ficar alheio ao saber dito clássico1. No ensino de história podemos citar falhas graves das práticas mais comuns hoje, por exemplo: o fato de explicar o presente pelo passado em uma prática de simples exposição de fatos, acaba não colocando o aluno como construtor da história; ou a muito combatida, pela academia, prática da história dos heróis que ainda é usual no ensino fundamental e médio, o que diminui o aluno diante da história, dando a ele um panteão de heróis praticamente míticos2.

Isto ocorrendo em depreciação de uma análise de conjuntura ou de práticas sociais que poderiam aparecer como algo mais tangível para os alunos e, mesmo com as diferenças de época, o aluno conseguiria identificar signos que lhe seriam comuns e contrastar as diferenças. As práticas interdisciplinares tendem a, como já foi dito, buscar um conhecimento unitário, onde a integração de todas as disciplinas e a ligação delas com a realidade do aluno tornam o conhecimento real e atrativo, sendo que as vezes o aluno consegue enxergá-lo como essencial.

É necessário delimitar a idéia do que é interdisciplinaridade, por uma questão de praticidade para qualquer trabalho acadêmico, pois a diferença de conceituação entre os principais teóricos é gritante, o que torna necessário a delimitação do conceito citado, assim como de outros conceitos como multidisciplinaridade, intradisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade.

MULTIDISCIPLINARIDADE OU PLURIDISCIPLINARIDADE

Esta é uma estratégia pedagógica muitas vezes confundida com a interdisciplinaridade. Consiste de um trabalho constituído por duas ou mais disciplinas. Nela temos a escolha de um tema comum, onde cada professor contribui com o conhecimento especifico de sua área. Por exemplo, trabalhando o tema as “grandes navegações”: o professor de matemática pode mostrar como é importante a utilização da geometria para a construção das caravelas, ou mesmo para a prática da navegação; já o professor de geografia mostrará a evolução da cartografia; enquanto que o professor de literatura poderá tratar da vasta produção literária que faz uso do tema.

Temos assim a integração de várias disciplinas, trabalhando “juntas” durante algum período. É inegável que tal estratégia pode obter sucesso em sala de aula, afinal acaba por mostrar aos alunos uma aplicação prática do conhecimento até então intangível. Mas tal proposta pedagógica não pode ser confundida com uma atitude interdisciplinar. O que ocorre, em geral, é que as disciplinas estão apenas utilizando o tema comum como um exemplo prático de seu universo fechado, não criando uma relação com as demais disciplinas. Chegamos assim ao velho adágio chinês: “Uma casa é feita de um punhado de tijolos, mas um punhado de tijolos não é uma casa”.

1 NETO, p. 57. 20022 NETO, p. 64. 2002

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Para Hilton Japiassu existe uma diferenciação entre os dois termos. A multidisciplinaridade, no sentido trabalhado por ele, trata-se de um sistema onde as disciplinas trabalham o mesmo tema mas não há nenhuma cooperação entre elas, ou seja, o tema comum aparece como um meio para se chegar ao fim original da disciplina. Já a pluridisciplinaridade traria a existência de cooperação entre as disciplinas, mas cada disciplina ainda estaria apegada ao seu fim original, sendo assim, o tema ainda aparece como um artificio da disciplina.3

Um caso multi ou pluri disciplinar é o que pode ocorrer com nossos temas transversais. Estes são propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). São temas aglutinadores dos quais devem tratar todas as disciplinas, são eles: ética, pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e meio ambiente.

A intenção aqui seria termos um trabalho interdisciplinar. Veremos mais tarde que este termo muitas vezes não pode ser aplicado. O que ocorre, em geral, é que as disciplinas ficam fechadas em sua áreas apenas usando os temas transversais como estudo de caso. Ainda existe a possibilidade destes temas se tornarem o fim das “ditas” agora disciplinas, “ditas” pois os temas transversais agora é que tomam para si o caráter retrógrado das disciplinas4.

INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE

Para Hilton Japiassu, é necessário antes de se definir o que é interdisciplinaridade criar uma precisão terminológica para disciplinaridade. Define ele a disciplina como “ciência”, e a disciplinaridade portanto seria a exploração do universo desta ciência5. O que seria portanto a interdisciplinaridade do que a negação das fronteiras disciplinares? Como já foi explicitado é necessário que não se confunda o termo em questão com as limitações que trazem os conceitos pluri e multidisciplinar. A interdisciplinaridade se distingue dos demais conceitos por não se limitar as metodologias de apenas uma ciência6, buscando assim o conhecimento unitário e não partido em fragmentos que parecem cada vez mais, como já explanado anteriormente, irreais.

Para Japiassu, a interdisciplinaridade surge como uma necessidade imposta pelo surgimento cada vez maior de novas disciplinas. Assim, é necessário que haja pontes de ligação entre as disciplinas, já que elas se mostram muitas vezes dependentes umas das outras, tendo em alguns casos o mesmo objeto de estudo, variando somente em sua análise7. Caso mais freqüente nas ciências humanas, já que ao contrario das naturais não existe uma hierarquia entre elas.

Nas ciências naturais, podemos descobrir um tronco comum, de tal forma que temos condições de passar da matemática à mecânica, depois à física e à química, à biologia e à psicologia fisiológica, segundo uma série de generalidade crescente (esquema comtiano). Não se verifica semelhante ordem nas ciências humanas. A questão da hierarquia entre elas fica aberta... (JAPIASSU, 1976, p. 84)

3 JAPIASSU, Hilton, p.41 1976.4 FREITAS NETO, José. p. 61. 20045 JAPIASSU, Hilton. p. 81.,19766 JAPIASSU, Hilton. p. 74.,1976.7 JAPIASSU, Hilton. p. 53, 1976

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Para ele, trata-se também de uma exigência estudantil, devido ao universo global e multidimensional. A luta contra uma formação baseada em especialidades é lógica, devido as exigências que o mercado faz aos recém formandos: que cada vez mais sejam profissionais polivalentes. Fato que as graduações baseadas em disciplinas fechadas umas as outras, e ao mundo exterior aos cursos superiores, não se mostram capazes de realizar. Assim os alunos dos cursos superiores estão em geral buscando um conhecimento que vá contra o saber fragmentado e o “babelismo” empregado pelas disciplinas.

Japiassu também explana quanto a questão da pesquisa interdisciplinar, já que, para ele, é fato que qualquer metodologia independente da disciplina a qual pertença tem limitações claras quanto a sua capacidade de interpretação8. Assim, o confronto com o resultado obtido por outras metodologias pode se mostrar muito frutífero para própria disciplina já que pode ela usufruir de análises as quais não seria capaz de fazer.

É necessário atentar, também, para o fato de que a interdisciplinaridade propõe a mudança do “status” das disciplinas, que são tomadas por seus especialistas como um fim e não um meio para se alcançar o conhecimento. Segundo os teóricos que trabalham o conceito interdisciplinar, para que o saber se torne real para os alunos é necessário que a disciplina se torne um meio para a produção e debate do conhecimento. Deixando assim de lado seu caracter dogmático, que parece diminuir os alunos frente a um saber que para eles parece imutável.

Japiassu lança ainda um outro conceito que estaria além dos parâmetros que ele delimita como limítrofes para a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade, onde os limites disciplinares parecem deixar de existir totalmente, e as disciplinas dialogam não somente entre elas, trocando suas informações de caráter cientifico, mas também com o conhecimento socialmente produzido dos alunos e professores, como sua vivência social, por exemplo9. É nesta afirmação que temos a discordância dos dois principais teóricos brasileiros, Ivani Fazenda não distingue um limite entre o saber interdisciplinar e o transdisciplinar.

Para Alessandra Siqueira, Japiassu trata a interdisciplinaridade como a negação das disciplinas10, leitura que ao se contrapor com a obra do autor parece errônea, pois como já foi dito Japiassu lança mão do conceito “transdisciplinar”, no qual as disciplinas deixariam de existir. O autor fala sim da negação das fronteiras disciplinares.

...podemos retomar essa distinção ao fixarmos as exigências do conhecimento interdisciplinar para além do simples monólogo de especialistas ou do ‘diálogo paralelo’ entre dois dentre eles, pertencendo a disciplinas vizinhas. Ora, o espaço interdisciplinar, quer dizer, seu verdadeiro horizonte epistemológico, não pode ser outro senão o campo unitário do conhecimento. Jamais esse espaço poderá ser constituído pela simples adição de todas as especialidades nem tampouco por uma síntese de ordem filosófica dos saberes especializados. O fundamento do espaço interdisciplinar deverá ser procurado na negação e na superação das fronteiras disciplinares. (JAPIASSU, 1976, p. 74-75)

8 JAPIASSU, Hilton. p. 104-105, 1976.9 JAPIASSU, Hilton. p. 74, 197610 SIQUEIRA, Alessandra. p. 92. 2004.

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Já sua análise sobre o livro de Heloísa Luck trás uma afirmativa interessante: a de que a interdisciplinaridade é algo mais que o trabalho de duas ou mais disciplinas como meio de se chegar ao conhecimento, trata-se, na verdade, de uma articulação e coerência de todo o conhecimento11.

Toda a produção bibliográfica de Ivani Fazenda se baseia na aplicação pedagógica da interdisciplinaridade. E apesar dela não diferenciar em momento algum a interdisciplinaridade da transdisciplinaridade, vemos que sua produção está densamente concentrada em experiências que Japiassu claramente definiria como transdisciplinares.

Vemos aqui a louvável atitude de ir contra o pragmatismo acadêmico que tende a excluir o conhecimento popular, não dando a ele nenhum valor e colocar o saber clássico como uma tábua da salvação, sendo este baseado em rigorosos métodos dogmáticos e inquestionáveis. A idéia proposta por Ivani Fazenda propõe a contraposição das duas categorias de conhecimento. Assim teríamos a valorização do conhecimento real, mostrando-se tangível para os alunos.

Rubem Alves, em seu livro Lições de Feitiçaria, cita o fato dos gregos saberem que a verdade mora na escuridão, ou seja: os que podem vê-la são cegos12. Ensinamento que se aplica bem ao modelo didático de nossas disciplinas, onde seus especialistas vêem nelas conhecimento, conhecimento que perde sentido para o mundo, já que não é aplicável, enquanto que a sabedoria popular, muitas vezes base da vivência social é desprezada pelos acadêmicos. Podemos citar como exemplo a medicina de nossos indígenas, baseada nas plantas das regiões em que moram, das quais já se fabricaram inúmeros remédios.

A IDÉIA DOS PROFESSORES

Joe Garcia fez uma análise da idéia do que os professores da rede pública de ensino médio e fundamental do estado do Paraná e Santa Catarina entendem por interdisciplinaridade. A pergunta apresentada nos cursos de pós-graduação ministrados por Garcia aos professores era “o que é um professor interdisciplinar?”.

Segundo os resultados obtidos por Garcia, os professores acham que para chegarem a um conhecimento interdisciplinar é necessário que antes se aprofundem em suas disciplinas. Pois, assim o professor seria capaz de melhor planejar um currículo integrado com as outras disciplinas. Vemos que os professores estão de acordo com os teóricos no que diz respeito a necessidade de revisão das práticas pedagógicas.

Garcia enxerga diferenças no modo como os teóricos e os professores vêem as disciplinas e o processo de integração entre elas. Os teóricos estão apegados a visão das disciplinas como universos, enquanto para os professores elas assumem a metáfora de avenidas a serem percorridas e ainda podem e devem ser interligadas13.

Por fim, o autor ainda aponta um contraste com mais ênfase em seu texto, onde os teóricos dariam maior importância para a preparação dos trabalhos interdisciplinares, enquanto os professores apontariam a vivência do trabalho. Ou seja, os teóricos estariam mais preocupados com a relação entre as disciplinas, enquanto os professores se preocupam com o distanciamento humano. O apontamento do autor é que o fato dos teóricos priorisarem atitudes reativas, devido a insatisfação com as práticas

11 SIQUEIRA, Alessandra. p. 92. 2004.12 ALVES, Rubem. p. 49. 200313 GARCIA, Joe. p. 7, 2001

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atuais e os professores buscarem atitudes de transformação, onde se dá importância a abertura das mentes, trocas de experiência e a busca de novos métodos de interação sintetizam um grande abismo entre as duas visões14.

Ao contrário do que Joe Garcia aponta, acredito que os professores são os únicos que podem pensar a vivência do conceito interdisciplinar, pois são eles que organizam e vivenciam o processo junto com os alunos, estando a par das práticas que obtém sucesso ou fracasso na tentativa de provocar o aluno em buscar o conhecimento. Já os teóricos, por sua vez, podem, enquanto se mantiverem restritos no campo do pensar a “idéia”, apenas se preocupar com as delimitações terminológicas. Esta diferente postura das duas classes não consiste em um abismo, afinal é possível ver claras ligações entre as duas posições, o que ocorre é apenas uma preocupação particular com suas respectivas áreas de trabalho. Temos os caso onde os teóricos se prestam a analisar as práticas pedagógicas, onde podemos citar novamente a produção acadêmica da professora Ivani Fazenda, e o trabalho aqui citado de Joe Garcia.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Rubem. Lições de Feitiçaria, meditações sobre a poesia. São Paulo, Loyola, 2003.BARROS, L. Sistema de apoio à aprendizagem cooperativa distribuída. In: Anais do VI Simpósio BARROS, Adriana. Interdisciplinaridade: O Pensado e o vivido – De sua necessidade às barreiras enfrentadas. In: www.intercom.org.br/papers/xxii-ci/gt02/02805.pdf , 2003.BOCHNIAK, Regina. Questionar o conhecimento: interdisciplinaridade na escola. São Paulo, Loyola, 1992. CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo, Amana/Cultrix, 1997. DAYRELL, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999. FAURE, Guy Olivier. A constituição da interdisciplinaridade. In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 108:p. 61-68, jan/mar, 1992. FAZENDA, Ivani (et al.). Interdisciplinaridade e novas tecnologias: formando professores. Campo Grande, Editora UFMS, 1999. ________________ Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: Efetividade ou ideologia. São Paulo, Loyla, 1979. GADOTTI, Moacir(Org.). Perspectivas atuais da Educação. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000. GARCIA, Joe. Repensando a formação do professor interdisciplinar. In: www.anped.org.br/25/joegarcia08.rft, 2001JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976. KARNAL, Leandro(Org.). O Ensino de história. São Paulo, Contexto, 2003.LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar - fundamentos teórico-metodológicos. Petrópolis, Vozes, 1995.MAHEU, Cristina d’ Ávila. Interdisciplinaridade e mediação pedagógica. In: www.nuppead.unifacs.br/artigos/interdisciplinaridade.pdf,2003 MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita. Repensar a reforma. Reformar o pensamento. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000. NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da transdisciplinaridade. Lisboa, Hugin, 2000. PEDRA, José Alberto. Currículo, conhecimento e suas representações. Campinas, Papirus, 2002.UNI Botucatu/Unesp, 1998. SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinariedade - o currículo integrado. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998.SIQUEIRA, Alexsandra. Práticas interdisciplinares na eduacação básica: uma revisão bibliográfica – 1997-2000. In: www.bibli.fae.unicamp.br/etd.artcc01.pdf, 2001.

14 GARCIA, Joe. p.7, 2001 Av. Integração Jaime Campos n 145 – Modulo 01 – Juina – MT – CEP 78320-000

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INTER-TRANSDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE

Instituto Paulo Freire/Programa de Educação Continuada

http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_48.htm

Os temas transversais dos novos parâmetros curriculares incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. São amplos o bastante para traduzir preocupações de todo País, são questões em debate na sociedade através dos quais, o dissenso, o confronto de opiniões se coloca.

Através da Ética, o aluno deverá entender o conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela necessidade de construção de uma sociedade justa, adotar atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando compreender os valores presentes na sociedade atual e em que medida eles devem ou podem ser mudados. Através do tema Meio-ambiente o aluno deverá compreender as noções básicas sobre o tema, perceber relações que condicionam a vida para posicionar-se de forma crítica diante do mundo, dominar métodos de manejo e conservação ambiental. A Saúde é um direito de todos. Por esse tema o aluno compreenderá que saúde é produzida nas relações com o meio físico e social, identificando fatores de risco aos indivíduos necessitando adotar hábitos de auto-cuidado. A Pluralidade cultural tratará da diversidade do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo a diversidade como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando toda forma de discriminação por raça, classe, crença religiosa e sexo. A orientação sexual, numa perspectiva social, deverá ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro.Educação e trabalho.

Além desses temas, podem ser desenvolvidos os temas locais, que visam a tratar de conhecimentos vinculados à realidade local. Eles devem ser recolhidos a partir do interesse específico de determinada realidade, podendo ser definidos no âmbito do Estado, Cidade ou Escola. Uma vez feito esse reconhecimento, deve-se dar o mesmo tratamento que outros temas transversais.

3.1 - Como trabalhar com os temas transversais?

A transversalidade, bem como a transdisciplinaridade, é um princípio teórico do qual decorrem várias conseqüências práticas, tanto nas metodologias de ensino quanto na proposta curricular e pedagógica. A transversalidade aparece hoje como um princípio

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inovador nos sistemas de ensino de vários países. Contudo, a idéia não é tão nova. Ela remonta aos ideais pedagógicos do início do século, quando se falava em ensino global e do qual trataram famosos educadores, entre eles, os franceses Ovídio Decroly (1871-1932) e Celestin Freinet (1896-1966), os norte-americanos John Dewey (1852-1952) e William Kilpatrick (1871-1965) e os soviéticos Pier Blonsky (1884-1941) e Nadja Krupskaia (1869-1939).

O Método dos "centros de interesse" partia da idéia da globalização do ensino para romper com a rigidez dos programas escolares. Para ele, existem 6 centros de interesse que poderiam substituir os planos de estudo construídos com base em disciplinas: a) a criança e a família; b) a criança e a escola; c) a criança e o mundo animal; d) a criança e o mundo vegetal; e) a criança e o mundo geográfico; f) a criança e o universo. Os centros de interesse são uma espécie de idéias-força em torno das quais convergem as necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais do aluno. Freinet e Paulo Freire, nesse sentido, partindo da leitura do mundo, do respeito à cultura primeira do aluno, buscaram desenvolver o aprendizado através da livre discussão dos temas geradores do universo vocabular do aluno.

O Método dos Projetos de Kilpatrick parte de problemas reais, do dia-a-dia do aluno. Todas as atividades escolares realizam-se através de projetos, sem necessidade de uma organização especial. Originalmente ele chamou de projeto à "tarefa de casa" ("home project") de caráter manual que a criança executava fora da escola. O projeto como método didático era uma atividade intencionada que consistia em os próprios alunos fazerem algo num ambiente natural, por exemplo, construindo uma casinha poderiam aprender geometria, desenho, cálculo, história natural etc. Kilpatrick classificou os projetos em quatro grupos: a) de produção, no qual se produzia algo; b) de consumo, no qual se aprendia a utilizar algo já produzido; c) para resolver um problema e d) para aperfeiçoar uma técnica. Quatro características concorriam para um bom projeto didático: a) uma atividade motivada por meio de uma conseqüente intenção; b) um plano de trabalho, de preferência manual; c) a que implica uma diversidade globalizada de ensino; d) num ambiente natural.

O princípio da interdisciplinaridade permitiu um grande avanço na idéia de integração curricular. Mas ainda a idéia central era trabalhar com disciplinas. Na interdisciplinaridade os interesses próprios de cada disciplina são preservados. O princípio da transversalidade e de transdisciplinaridade busca superar o conceito de disciplina. Aqui, busca-se uma intercomunicação entre as disciplinas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum (transversal). Assim, não tem sentido trabalhar os temas transversais através de uma nova disciplina, mas através de projetos que integrem as diversas disciplinas. Uma primeira experiência, ainda numa visão interdisciplinar, foi realizada durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria de Educação de São Paulo e está narrada no livro Ousadia no diálogo: interdisciplinaridade na escola pública. O projeto foi implantado com a ajuda de professores da Universidade de São Paulo. Buscou-se capacitar o professor para trabalhar nessa nova metodologia de ensino que consiste basicamente no trabalho coletivo e no princípio de que

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as várias ciências devem contribuir para o estudo de determinados temas que orientam todo o trabalho escolar. Foi respeitada a especificidade de cada área do conhecimento, mas, para superar a fragmentação dos saberes procurou-se estabelecer e compreender a relação entre uma "totalização em construção" a ser perseguida e novas relações de colaboração integrada de diferentes especialistas que trazem a sua contribuição para a análise de determinado tema gerador sugerido pelo estudo da realidade que antecede a construção curricular.

Como trabalhar com projetos?

Projeto vem de projetar, projetar-se, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar um projeto é o mesmo que elaborar um plano para realizar determinada idéia. Portanto, um projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta. Dificilmente os integrantes de uma escola escolherão trabalhar num projeto da escola se ele não foi a extensão de seu próprio projeto de vida. Trabalhar com projetos na escola exige um envolvimento muito grande de todos os parceiros e supõe algo mais do que apenas assistir ou ministrar aulas.

Além do conteúdo propriamente dito de cada projeto, conta muito o processo de elaboração, execução e avaliação de cada projeto. O processo também produz aprendizagens novas. "A própria organização das atividades didáticas deve ser encarada a partir da perspectiva do trabalho com projetos. De fato, respostas a perguntas tão freqüentemente formuladas pelos alunos, em diferentes níveis, como "Para que estudar Matemática? E Português? E História? E Química?" não podem mais ter como referência o aumento do conhecimento ou da cultura, ou ainda, mais pragmaticamente, a aprovação nos exames. A justificativa dos conteúdos disciplinares a serem estudados deve fundar-se em elementos mais significativos para os estudantes, e nada é mais adequado para isso do que a referência aos projetos de vida de cada um deles, integrados simbioticamente em sua realização aos projetos pedagógicos das unidades escolares" (MACHADO,1997:75).

Como afirmou recentemente no IPF o professor da UNICAMP, Eduardo Chaves, o tema transversal fundante é a Ética. Não podemos apresentar esse tema como um vendedor de roupas que diz: tenho aqui camisas, calças, blusas e também roupas. A diversidade cultural, o meio ambiente, a sexualidade, o consumo etc são temas atravessados pela Ética. Ela não é um tema a mais. Ela é elemento constitutivo de todos os temas.

Como trabalhar com esse temas?

Apresentamos acima algumas alternativas. Estudos mais recentes estão apontando o método dos projetos como uma alternativa viável. Entre esses estudos destacamos o de Fernando Hernández (1998) que trata especificamente da "organização do currículo por projetos de trabalho". A proposta do autor está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional. "Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de organizar a atividade de ensino e aprendizagem, que implica considerar que tais

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conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimentos próprios (...) Globalização e significatividade são, pois, dois aspectos essenciais que se plasmam nos Projetos. É necessário destacar o fato de que as diferentes fases e atividades que se devam desenvolver num Projeto ajudam os alunos a serem conscientes de seu processo de aprendizagem e exige do professorado responder aos desafios que estabelece uma estruturação muito mais aberta e flexível dos conteúdos escolares". (HERNÁNDEZ, 1998 p.61).

3.2 – O conceito de interdisciplinaridade

A intradisciplinaridade‚ entendida, nas ciências da educação, como a relação interna entre a disciplina "mãe" e a disciplina "aplicada". O termo interdisciplinaridade, na educação, já não oferece problema, pois, ao tratar do mesmo objeto de ciência, uma ciência da educação "complementa" outra. Diga-se o mesmo quanto à pluridisciplinaridade. É a natureza do próprio fato/ato educativo, isto é, a sua complexidade, que exige uma explicação e uma compreensão pluridisciplinar. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.

Após a 2ª Guerra Mundial, a interdisciplinaridade aparece como preocupação humanista além da preocupação com as ciências. Desde então, parece que todas as correntes de pensamento se ocuparam com a questão da interdisciplinaridade:

1º - a teologia fenomenológica encontrou nesse conceito uma chave para o diálogo entre igreja e mundo;

2º - o existencialismo, buscando dar às ciências uma "cara humana";

3º - o neo-positivismo que buscava no interior do positivismo a solução para o problema da unidade das ciências;

4º - o marxismo que buscava uma via diferente para a restauração da unidade entre todo e parte.

O projeto de interdisciplinaridade nas ciências passou de uma fase filosófica (humanista) de definição e explicitação terminológica, na década de 70, para uma segunda fase (mais científica) de discussão do seu lugar nas ciências humanas e na educação, na década de 80.

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Atualmente, no plano teórico, busca-se fundar a interdisciplinaridade na ética e na antropologia, ao mesmo tempo que, no plano prático, surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar.

A interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento.

A interdisciplinaridade se desenvolveu em diversos campos e, de certo modo, contraditoriamente, até ela se especializou, caindo na armadilha das ciências que ela queria evitar. Na educação ela teve um desenvolvimento particular. Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre eles:

1o - Na noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe data marcada para aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na sala de aula.

2º - Na crença de que é o indivíduo que aprende. Então, é preciso ensinar a aprender, a estudar etc. ao indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto, uma relação direta e pessoal com a aquisição do saber.

3º - Embora apreendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade. O todo é formado pelas partes, mas não é apenas a soma das partes. É maior que as partes.

4º - A criança, o jovem e o adulto aprendem quando têm um projeto de vida e o conteúdo do ensino é significativo para eles no interior desse projeto. Aprendemos quando nos envolvemos com emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento. A biografia do aluno é, portanto, a base do seu projeto de vida e de aquisição do conhecimento e de atitudes novas.

A metodologia do trabalho interdisciplinar implica em:

1º - integração de conteúdos;

2º - passar de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento;

3º - superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuição das diversas ciências;

4º - ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a vida.

O conceito chegou ao final desse século com a mesma conotação positiva do início do século, isto é, como forma (método) de buscar, nas ciências, um conhecimento integral e totalizante do mundo frente à fragmentação do saber, e na educação, como forma cooperativa de trabalho para substituir procedimentos individualistas.

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A ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria positivista era compartimentada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola comunidade, meio-ambiente etc. tornou-se, nos últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola. Um projeto interdisciplinar de educação deverá ser marcado por uma visão geral da educação, num sentido progressista e libertador.

A interdisciplinaridade deve ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e moral. Nesse sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo do que serve a ele. O construtivismo é uma teoria da aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interação entre o sujeito e o meio. Nessa teoria o papel do sujeito é primordial na construção do conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a interdisciplinaridade.

A relação entre autonomia intelectual e interdisciplinaridade é imediata. Na teoria do conhecimento de Piaget o sujeito não é alguém que espera que o conhecimento seja transmitido a ele por um ato de benevolência. É o sujeito que aprende através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo. É ele, enquanto sujeito autônomo, que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo, como costumava nos dizer, em Genebra, nosso mestre Piaget.

Fundamentos da Interdisciplinaridade

Profª MsVera Alice Pexe

Aluno________________________________________________Data____

Estudo DirigidoFAZENDA, Ivani (et al.). Interdisciplinaridade e novas tecnologias: formando professores. Campo Grande, Editora UFMS, 1999. ________________ Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: Efetividade ou ideologia. São Paulo, Loyla, 1979. GARCIA, Joe. Repensando a formação do professor interdisciplinar. In: www.anped.org.br/25/joegarcia08.rft, 2001JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976.

É um tema complexo, a interdisciplinadade. Talvez, mais afeito a professores e professoras em sua tarefa docente.

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Cremos que sim, mas não exclusivamente. Interdisciplinaridade se realiza como uma forma de ver e sentir o mundo. De estar no mundo. Se formos capazes de perceber, de entender as múltiplas implicações que se realizam, ao analisar um acontecimento, um aspecto da natureza, isto é, o fenômeno dimensão social, natural ou cultural... . Somos capazes de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade.

1)Quais são as idéias contidas no texto que apresentam as linhas de pensamento dos diversos autores citados ?

2)Como aluno, como mãe ou pai, como professora ou professor você considera viável transpor para a prática os princípios pedagógicos acima apresentados? Discuta pautado nos textos.

3)Os desafios atuais do mundo nos levam a uma nova estrutura de pensamento? Dê sua opinião, dialogue com os textos!

4)Defina interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade?

5)Como se dá nossa relação com o mundo social, natural e cultural?

6)Esta relação se dá fragmentada, de tal modo que cada fenômeno observado ou vivido é entendido ou percebido como fato isolado? Ou essa relação se dá de forma global, entendendo que cada fenômeno observado ou vivido está inserido numa rede de relações que lhe dá sentido e significado. Enfim como se dá o conhecimento?

7) Como se realiza um fazer docente pautado no conceito de interdisciplinaridade?Apresente as metodologias utilizando exemplos.

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