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S N E H P E T S N H O J Tradução Regiane Winarski Os Livros do Princípio PARTE 3

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SNEHPETSNHOJ

TraduçãoRegiane Winarski

Os Livros do Princípio PARTE 3

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Copyright © 2015 by John Stephens

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original The Black Reckoning

Capa © 2015 by Jon Foster

Arte do Atlas Grady McFarrin

Ilustrações do miolo © 2015 by Nicolas Delort

Preparação Rachel Rimas

Revisão Nana Rodrigues Arlete Sousa

[2016] Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz s.a. Rua Cosme Velho, 103 22241-090 — Rio de Janeiro — rj Telefone: (21) 2199-7824 Fax: (21) 2199-7825 www.objetiva.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Stephens, JohnO Livro da Escuridão: Os Livros do Princípio, parte 3 /

John Stephens; tradução: Regiane Winarski – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2016.

Título original: The Black Reckoning. isbn 978-85-5651-014-3

1. Ficção norte-americana I. Título.

16-04249 cdd-813

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura norte-americana 813

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S u m á r i o

capítulo um ✥ Prisioneira ✥ 11

capítulo dois ✥ O Arquipélago ✥ 17

capítulo três ✥ A folha esmagada ✥ 29

capítulo quatro ✥ Bolo de chocolate ✥ 36

capítulo cinco ✥ O Conselho ✥ 44

capítulo seis ✥ A União ✥ 55

capítulo sete ✥ O mago paga sua dívida ✥ 64

capítulo oito ✥ O novo mundo ✥ 76

capítulo nove ✥ Willy ✥ 88

capítulo dez ✥ O banquete do Rog Grandão ✥ 102

capítulo onze ✥ A Cidade Alta ✥ 115

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capítulo doze ✥ O ninho ✥ 132

capítulo treze ✥ Refugiados ✥ 145

capítulo catorze ✥ O barqueiro ✥ 159

capítulo quinze ✥ O segredo da bruxa ✥ 166

capítulo dezesseis ✥ O carriadin ✥ 175

capítulo dezessete ✥ A coisa na praia ✥ 185

capítulo dezoito ✥ A tribo perdida ✥ 197

capítulo dezenove ✥ A profecia revelada ✥ 205

capítulo vinte ✥ A prisão ✥ 214

capítulo vinte e um ✥ Julgamento ✥ 226

capítulo vinte e dois ✥ O exército de Michael ✥ 238

capítulo vinte e três ✥ Névoa e gelo ✥ 249

capítulo vinte e quatro ✥ O mergulho ✥ 259

capítulo vinte e cinco ✥ O Livro do Magnus Medonho ✥ 269

capítulo vinte e seis ✥ Uma promessa cumprida, uma promessa feita ✥ 288

capítulo vinte e sete ✥ Tchau, adeus ✥ 300

agradecimentos ✥ 309

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Emma bateu nas costas do homem gigantesco. Virou-se para enfiar as unhas no rosto e nos olhos dele. Ela se debateu e se contorceu. Não adiantou nada. Rourke estava com ela nos ombros e a segurava com força, caminhando a passos largos e firmes na direção do portal flamejante no centro da clareira.

— Emma!— Emma!Da escuridão, duas vozes gritaram em sua direção. Emma esticou o pescoço para

ver pela muralha de árvores que envolvia a clareira. A primeira voz era de Michael, seu irmão. Mas a segunda, que ela tinha ouvido pela primeira vez há alguns momen-tos, pouco antes de Rourke parar de usar o feitiço que o fazia se passar por Gabriel, pertencia a Kate, sua irmã, que ela achava estar perdida para sempre…

— Kate! Estou aqui! Kate!Emma se virou para ver a que distância estava do portal e quanto tempo

tinha…O portal era um arco alto de madeira coberto de fogo, e eles estavam perto o

bastante para Emma sentir o calor que ele emanava. Mais três passos e seria tarde demais. Nessa hora, uma figura apareceu, caminhando pelas chamas. Era um ga-roto; ele parecia ter a idade de Kate, ou talvez um pouco mais. Usava uma capa escura com o capuz para trás, mas o rosto, iluminado pelo brilho do fogo, estava coberto de sombras. Ela só conseguiu identificar um par de olhos verdes brilhantes.

E, então, Emma viu o garoto fazer um gesto com a mão…

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c a P í t u l o u m

Prisioneira

— Me solta! Me solta!A garganta de Emma estava doendo de tanto gritar; as mãos latejavam de

tanto bater com os punhos na porta de metal.— Me solta!Ela acordara assustada várias horas antes, coberta de suor e com o nome

de Kate nos lábios, mas se viu sozinha em um quarto estranho. Não questionou o fato de não ser mais noite, de não estar mais na clareira. Nem se perguntou onde estava agora. Nada disso importava. Ela fora sequestrada, era prisioneira, tinha que fugir. Era simples assim.

— Me solta!A primeira coisa que ela fez depois de ir até a porta e confirmar que estava

mesmo trancada foi inspecionar a cela para ver se havia algum meio óbvio de fuga. Ela viu que não. As paredes, o chão e o teto eram feitos de blocos grandes de pedra preta. As três janelas pequenas, altas demais para Emma, só mostra-vam o céu azul. Além disso, só restavam a cama na qual ela acordara, que não passava de um colchão e alguns cobertores, e um pouco de comida: um prato de pão folha, tigelas com iogurte e homus, uma carne queimada impossível de identificar e uma jarra de barro com água. Emma jogou a comida e a água pela janela em um ataque de orgulho e raiva, um ato do qual agora estava arrepen-dida, pois sentia fome e muita, muita sede.

— Me… solta!

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Emma se encostou, exausta, na porta. Sentiu vontade de descer até o chão, esconder o rosto nas mãos e chorar. Mas pensou em Kate, sua irmã mais velha, e que ouviu a voz dela enquanto Rourke a carregava pela clareira. A irmã voltou do passado só para morrer bem na frente deles. E Michael, embora fosse o Protetor do Livro da Vida, não conseguiu trazê-la de volta, o que levou Emma a questionar qual era então o sentido de se ter algo chamado Livro da Vida. Mas ela ouvira a voz de Kate! Isso significava que Michael devia ter conseguido! Kate estava viva! E saber que Kate estava em algum lugar lá fora significava que de jeito nenhum, com uma probabilidade de zero vírgula zero zero zero zero por cento, Emma sentaria e choraria.

— me... solta!Com a testa ainda apoiada no metal frio, ela gritou novamente, sentindo

as vibrações enquanto batia na porta com as mãos fechadas.— me…Emma parou e prendeu a respiração. Seus murros e gritos haviam sido

recebidos por um silêncio total e absoluto. Mas então ela ouviu alguma coisa, passos. Soavam fracos e pareciam vir de um lugar abaixo, mas estavam cada vez mais altos. Emma se levantou e procurou uma arma, xingando-se mais uma vez por ter jogado a jarra de barro pela janela.

O tum tum tum pesado e ritmado se intensificava. Emma decidiu que, quando a porta se abrisse, ela sairia correndo e desviaria de quem quer que fosse. Michael não falava sempre sobre o elemento-surpresa? Se pelo menos seu dedão do pé não estivesse doendo tanto... Ela tinha certeza de que o quebrara ao chutar a droga da porta. Os passos pararam bem em frente a sua cela, e uma tranca sendo deslizada produziu um ruído metálico. Emma ficou tensa e se preparou para fugir.

A porta se abriu. Rourke se abaixou para entrar, e todos os planos de fuga de Emma foram por água abaixo. O homem gigantesco ocupava toda a passagem; nem uma mosca conseguiria passar.

— Minha nossa! Você está fazendo um barulhão danado.Ele estava usando um casaco comprido e preto com forro de pele e gola

alta também de pele. Calçava botas pretas que iam quase até os joelhos. Estava sorrindo, exibindo quilômetros de dentes grandes e brancos; a pele, antes com queimaduras provocadas pelas chamas do vulcão, estava lisa e sem marcas.

Emma sentiu a parede de pedra pressionando suas costas. Obrigou-se a erguer o rosto e olhar nos olhos de Rourke.

— Gabriel vai matar você — disse ela.

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O gigante gargalhou. Gargalhou de verdade, jogando a cabeça para trás como as pessoas faziam nos filmes, e o som ecoou no teto.

— Um bom dia pra você também, minha jovem.— Onde estou? Há quanto tempo estou aqui?Com Rourke ali de pé na frente dela e a possibilidade de fuga agora redu-

zida a nada, Emma queria as respostas para as quais não deu importância antes.— Ah, só desde ontem à noite. E quanto à sua localização: você está no

fim do mundo, e tudo ao seu redor está cheio de feitiços. Seus amigos podem passar sem desconfiar de que você está aqui. Você não vai ser salva.

— Rá! Seus feitiços idiotas não vão deter o dr. Pym. É só ele fazer isto — Emma estalou os dedos — e este lugar todo desaba.

Rourke sorriu para ela, e Emma logo percebeu que aquele era o típico sorriso que os adultos dão para as crianças quando não as levam a sério. Se o rosto de Rourke estivesse minimamente ao alcance dela, teria dado um soco nele.

— Eu acho, garota, que você está superestimando seu mago e subesti-mando meu mestre.

— Do que você está falando? O imbecil do Magnus Medonho está morto. O dr. Pym contou para a gente.

Mais um daqueles sorrisos irritantes. Ele estava mesmo pedindo um soco.— Estava morto, criança. Não está mais. Meu mestre voltou. Você devia

saber. Você mesma o viu.— Não, não vi…Emma ficou em silêncio. Uma imagem da noite anterior lhe voltou à

mente: um garoto de olhos verdes saindo das chamas. E, com a lembrança, uma sombra se abateu sobre ela. A menina tentou afastar aquele pensamento, disse para si mesma que era impossível, que aquele garoto não podia ser o Magnus Medonho!

— Então você lembra — concluiu Rourke. Havia um tom de triunfo na voz do irlandês. Mas, se ele estava esperando

que essa garota pequena, magrela e exausta cedesse, que chorasse, desabasse e desistisse, ele estava redondamente enganado. Antes de qualquer outra coisa, Emma era uma lutadora. Cresceu lutando, ano após ano, orfanato após orfana-to, brigando por coisas pequenas e por coisas grandes, por uma toalha sem bu-racos, por um colchão sem pulgas, lutando com garotos que implicavam com Michael, lutando com garotas que implicavam com Michael. Ela reconhecia um valentão sempre que via um.

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Esticou os braços e fechou os punhos, como se a qualquer momento fosse partir para cima dele.

— Você está mentindo. Ele está morto — insistiu ela.— Não, criança. O Magnus Medonho está vivo. E graças ao seu irmão.Apesar da fúria, Emma sentiu que Rourke estava falando a verdade. Mas

não fazia sentido. Por que Michael faria aquilo? E então, em um vislumbre, ela se deu conta do que devia ter acontecido: foi assim que Michael trouxe Kate de volta. Foi o preço que pagara. Michael aceitou viver com a culpa que os outros jogariam nele por libertar o Magnus Medonho no mundo, tudo para que Kate vivesse. Emma sentiu uma onda de amor pelo irmão, e isso lhe deu forças. Ela se empertigou um pouco.

— Então por que seu mestre idiota não está aqui? Está com medo?Rourke ficou olhando para ela e disse de repente, como se tivesse tomado

uma decisão:— Venha comigo.Ele se virou e saiu andando, deixando a porta aberta. Emma ficou de pé

com uma expressão desafiadora, relutando em fazer qualquer coisa que Rourke sugerisse. Mas percebeu que não chegaria a lugar algum se ficasse na cela, então foi atrás dele.

Do lado de fora, próximo ao aposento, havia uma escada em espiral para baixo; ela ouviu os passos de Rourke se afastando. Então estava em uma tor-re. Ela já desconfiava. Emma se pôs a descer, e, a cada andar, avistava uma porta de ferro similar à de sua cela. Passou também por janelas na altura dos olhos, por onde viu um mar de montanhas irregulares com picos cobertos de neve por todos os lados.

Onde ela estava?A escadaria acabava em uma sala feita da mesma pedra preta e áspera da

torre; Rourke virou à direita sem esperar. Emma, identificando uma oportuni-dade de fugir, virou à esquerda, mas deu de cara com um par de morum cadi de roupas pretas e olhos amarelos bloqueando a passagem. Independentemente de Rourke tê-los posicionado ali ou não, as criaturas pareciam estar à espera da menina. Ficaram olhando para ela, o cheiro de podre deles se espalhando pelo aposento. Emma sentiu um medo terrível e vergonhoso crescendo no peito.

— Você vem? — A voz de Rourke ecoou pelo corredor, o tom debocha-do. — Ou precisa que eu segure sua mão?

Xingando-se por ser fraca, Emma seguiu o homem, mordendo os lábios para não chorar. Prometeu a si mesma que estaria presente para comemorar

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e jogar flores quando Gabriel finalmente cortasse a cabeça careca e idiota de Rourke.

Ele estava parado ao lado de uma porta que dava para a saída da torre.— Sei o que você quer — disse ela quando o alcançou. — Quer que eu

te ajude a encontrar o último livro. Kate tem o Atlas, Michael tem a Crônica, ou algo do tipo. Sei que o último é meu.

Ela não sabia por que dissera isso, só sabia que se odiou por ter ficado tão apavorada por causa de dois Gritões. Já tinha visto centenas antes, mas aqueles a surpreenderam. Além disso, queria provar para Rourke que não era uma ga-rota qualquer; ela sabia de coisas.

Rourke olhou para ela, a cabeça delineada por um céu azul perfeito.— E você sabe qual é o último livro?— Sei.Rourke não disse nada. Um vento gelado soprou no saguão, mas Emma

não se mexeu. Ela morreria antes de admitir que estava com frio.— É o Livro da Morte. Mas não vou ajudar você a encontrar. Pode es-

quecer isso.— Vou tentar controlar minha decepção. Mas pelo menos chame o livro

pelo nome certo. É o Livro da Escuridão. E você está enganada sobre uma coisa: você vai encontrá-lo para nós, sim. Só não agora. O Magnus Medonho tem planos mais imediatos. Você perguntou onde ele estava. Venha.

Rourke saiu da torre, e, mais uma vez com raiva de si mesma por obede-cer, Emma foi atrás.

Eles andaram pelo alto de uma muralha de pedra que contornava um pátio grande e quadrado em um dos lados, provavelmente o da frente da for-taleza. Ao olhar para trás, Emma observou a construção alta, negra e enorme, com a torre em que ela estivera apontando como um dedo torto para o céu. Abaixo, o pátio estava repleto de mais ou menos quarenta Demônios e morum cadi; nada que o dr. Pym e Gabriel não pudessem enfrentar.

Mesmo assim, Emma sentiu sua confiança se esvaindo.A fortaleza foi construída sobre um pico pedregoso que se projetava em

um vale cercado de montanhas por todos os lados. Da muralha era possível en-xergar quilômetros e quilômetros do horizonte. Gabriel e os outros teriam que descobrir onde ela estava, depois atravessar todas aquelas montanhas, e ainda assim seria impossível para eles se aproximarem da fortaleza sem serem vistos.

Rourke parou e fez sinal para Emma se aproximar. Ela tentou não de-monstrar medo.

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— Quarenta anos atrás — começou o homem gigante —, Pym e outros do mundo mágico atacaram meu mestre. Eles acharam que haviam vencido. Que o haviam destruído. Mas ele tem poderes que os inimigos não compreen-dem. Como vocês vão aprender em breve.

Ele indicou o fundo do vale, e ela apoiou as mãos na pedra áspera da muralha e se inclinou para a frente.

Por um momento, ela não entendeu o que estava vendo. E então, apesar de todas as promessas que fizera a si mesma, de que não deixaria transparecer seu pânico, ela arfou. O vale parecia coberto por uma floresta escura; esta-va vivo e em movimento. Aos poucos, ela começou a identificar sons, leves e distantes, batidas, batuques e gritos, tambores graves e ritmados; percebeu também que havia fogueiras acesas por todo o vale, a fumaça preta subindo ao céu. O que Emma achou que eram árvores não eram árvores, mas pessoas. Demônios e Gritões, e sabe-se lá mais o quê, milhares e milhares de seres.

Ela estava vendo um exército.— O Magnus Medonho — disse Rourke, e a voz dele tremeu de pura

excitação — vai à guerra.

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