tradução de paul quintelo a immanuel kant .14 fundamentaÇÃo da metafÍsica dos costumes tirados
Post on 07-Oct-2018
214 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
T T U L O ORIGINAL:
Grundlegung zur Metaphysik der Sitten
desta t r aduo : Edies 70, Lda. da i n t r o d u o : Pedro Galvo e Edies 70, Lda.
T raduo de Paulo Quin te l a
Capa de FBA
Depsi to Legal n" 3 0 4 1 0 3 / 0 9
Biblioteca Nacional de Por tugal - Cata logao na Publicao
KANT, I m m a n u e l , 17*1-1804
F u n d a m e n t a o (la metafsica dos cos tumes . - (Textos filosficos ; 7)
ISBN 978-972-44-1537-0
CDU 17
Impresso , pag inao e a c a b a m e n t o : PKNTAKDRO
para EDIES 70, LDA. Fevereiro de 2011
ISBN: 978-972-44-1537-0
ISBN chi 2* ed io : 978-972-1-1-1439-3
ISBN da I" ed io: 972-44-11390-8
EDIES 70, Lda. Rua Luciano Corde i ro , 123 - 1" Esq" - 109-L37 Lisboa / Portugal
Telefs,: 213190240 - Fax: 2 L U 9 0 2 4 9 e-mail: geral@edicoes70.jil
www.edicoes70 .pt
Esta obra est p ro t eg ida pe la lei. No p o d e sei' r eproduz ida , no todo ou em par te , q u a l q u e r que seja o m o d o uti l izado,
i nc lu indo fotocpia e xerocopia, sem prvia au tor izao do Editor. Q u a l q u e r t ransgresso lei dos Direi tos de Autor sei passvel
de p r o c e d i m e n t o jud ic ia l .
Immanuel Kant Fundamentao da Metafsica dos Costumes INTRODUO DE PEDRO GALVO
7()
mailto:geral@edicoes70.jilhttp://www.edicoes70.pti-i'
/ / P r e f c i o
A velha filosofia grega dividia-se em trs cincias: a Fsica, a
tica e a Lgica . (') Esta diviso esi perfnlamente conforme
com
14 FUNDAMENTAO DA METAFSICA D O S C O S T U M E S
tirados da experincia, pois que ento no seria Lgica, isto , um
cnone para o entendimento ou para a razo que vlido para
todo o pensar e que tem de ser demonstrado. Em contraposio,
tanto a Filosofia natural como a Filosofia moral podem cada
uma ter a sua parte emprica, porque aquela tem de determinar
as leis da natureza como objecto da experincia, esta porm as
da vontade do homem enquanto ela afectada pela natureza ('");
quer dizer, as primeiras como leis segundo as quais tudo acontece,
as // segundas como leis segundo as quais tudo deve acontecer,
mas ponderando tambm as condies sob as quais muitas vezes
no acontece o que devia acontecer.
Pode-se chamar e m p r i c a a toda a filosofia que se baseie em
princpios da experincia, quela porm cujas doutrinas se apoiam
em princpios a p r i o r i chama-se filosofia pura.. Esta ltima, quando
simplesmente formal, chama-se Lg ica ; mas quando se limita a
determinados objectos do entendimento chama-se Metaf s ica .
Desta maneira surge a ideia duma dupla metafsica, uma
Metaf s ica da N a t u r e z a e uma Meta f s i ca d o s C o s t u m e s . A
Fsica ter portanto a sua parte emprica, mas tambm uma parte
racional; igualmente a tica, se bem que nesta a parte emprica se
poderia chamar especialmente A n t r o p o l o g i a p r t i c a , enquanto
a racional seria a M o r a l propriamente dita.
Todas as indstrias, ofcios e artes ganharam, pela diviso do
trabalho, // com a experincia de que no um s homem que faz
tudo, limitando-se cada um a certo trabalho, que pela sua tcnica
se distingue de outros, para o poder fazer com a maior perfeio e
com mais facilidade. Onde o trabalho no est assim diferenciado
e repartido, onde cada qual homem de mil ofcios, reina ainda
nas indstrias a maior das barbarias. Mas, em face deste objecto
O Esta expresso p o d e induzir em e r ro p o r q u e , s egundo Kant, a von tade h u m a n a p o d e t ambm ser cons iderada de uni p o n t o de vista no natural .
/ / BA V, VI
PREFCIO 15
que em si no parece indigno de ponderao, perguntar-se- se
a filosofia pura, em todas as suas partes, no exige um homem
especial; e se no seria mais satisfatrio o estado total da indstria
da cincia se aqueles que esto habituados a vender o emprico
misturado com o racional, conforme o gosto do pblico, em pro-
pores desconhecidas deles mesmos, que a si prprios se chamam
pensadores independentes e chamam sonhadores a outros que apenas
preparam a parte racional, fossem advertidos de no exercerem ao
mesmo tempo dois ofcios to diferentes nas suas tcnicas, para
cada um dos quais se exige talvez um. talento especial // e cuja
reunio numa s pessoa produz apenas remendes. Mas aqui
limito-me a perguntar se a natureza da cincia no exige que se
distinga sempre cuidadosamente a parte emprica da parte racional
e que se anteponha Fsica propriamente dita {emprica) uma
Metafsica da Natureza, e Antropologia prtica uma Metafsica
dos Costumes, que deveria ser cuidadosamente depurada de todos
os elementos empricos, para se chegar a saber de quanto capaz
em ambos os casos a razo pura e de que fontes ela prpria tira o
seu ensino a priori. Esta ltima tarefa poderia, alis, ser levada
a cabo por todos os moralistas (cujo nome legio), ou s por
alguns deles que se sentissem com vocao para isso.
No tendo propriamente em vista por agora seno a filosofia
moral, restrinjo a questo posta ao ponto seguinte : - No ver-
dade que da mais extrema necessidade elaborar um dia uma
pura Filosofia Moral que seja completamente depurada de tudo o
que possa ser //somente emprico e pertena Antropologia? Que
tenha de haver urna tal filosofia, ressalta com evidncia da ideia
comum do dever c das leis morais. Toda a gente tem de confessar
que uma lei que tenha de valer moralmente, isto como fundamento
duma obrigao, tem de ter em si uma necessidade absoluta; que
o mandamento : no deves mentir, no vlido somente para
os homens e que outros seres racionais se no teriam que importar
com ele, e assim todas as restantes leis propriamente morais; que,
/ / BA VII, VIII
16 FUNDAMENTAO DA METAFSICA D O S C O S T U M E S
por conseguinte, o princpio da obrigao no se h-de buscar
aqui na, natureza do homem ou nas circunstncias do mundo
em que o homem est posto, mas sim a p r i o r i exclusivamente nos
conceitos da razo pura, e que qualquer outro preceito baseado em
princpios da simples experincia, e m,esm,o um, preceito em certa,
medida universal, se. ele. se apoiar em princpios empricos, num
mnimo que seja, talvez apenas por um s mbil, poder chamar-se.
na. verdade uma regra prtica, mas nunca uma lei moral.
// As leis morais com os seus princpios, em todo o conhecimen-
to prtico, distinguem-se. portanto de tudo o mais em que exista
qualquer coisa de emprico, e no s se distinguem essencialm,enle,
como tambm toda a Filosofia moral assenta inteiramente na sua
parte, pura, e, aplicada ao homem, no recebe um mnimo que seja
do conhecimento do homem (Antropologia), mas fornece-lhe como
ser racional leis a p r i o r i . E verdade que estas exigem ainda urna
/acuidade de julgar apurada pela experincia, para, por um lado,
distinguir em. que caso elas tm aplicao, e, por outro, assegurar-
-Ihes entrada na vontade do homem e eficcia na sua prtica (*).
O homem, com. efeito, afectado por tantas inclinaes, . na verdade
capaz de conceber a. ideia de uma razo pura prtica, mas no
to facilmente dotado da fora necessria para a tornar eficaz
in c o n c r e t o no seu comportamento.
Uma Metafsica dos Costumes, , pois, indispensavelmenle
necessria, no s por motivos de ordem especulativa para
investigar a fonte dos princpios prticos que residem / / a p r i o r i
na, nossa razo, mas tambm porque os prprios costumes ficam
sujeitos a, toda a sorte de perverso enquanto lhes faltar aquele
fio condutor e norma suprema, do seu exacto julgamento. Pois que
(*) Kant, como esta afirmao sugere , no p r e sume que seja sempre fcil aplicar o imperat ivo categrico e os pr incpios dele decor ren tes s situaes complexas da vida real. A aplicao dos pr incpios r e q u e r um d i sce rn imento - u m a faculdade de julgar - que se desenvolve apenas com a prt ica e a exper incia .
/ / BA IX, X
PREFCIO 17
aquilo que deve ser moralmente bom, no basta que seja c o n f o r m e
lei moral, mas tem tambm que cumprir-se p o r a m o r dessa
m e s m a lei; caso contrrio, aquela conformidade ser apenas
muito contingente c incerta, porque o princpio imoral produzir,
na verdade de vez em. quando aces conformes lei moral, mas
mais vezes ainda, aces contrrias a, essa lei. Ora a lei. moral, na
sua pureza, e autenticidade (e exactamente isto que mais importa,
na prtica), no se deve buscar em, nenhuma outra, parte seno
numa filosofia pura, e esta (Metafsica) tem que vir portanto em
primeiro lugar, e sem ela no pode haver em parte alguma uma
Filosofia moral; e aquela que mistura os princpios puros com os
empricos no merece, mesmo o nome de filosofia (pois esta distingue-
se do conhecimento racional comum exactamente por expor em
cincia, aparte aquilo que este conhecimento s concebe misturado);
merece ainda // muito menos o nome de Filosofia moral, porque,
exactamente por este. amlgama de princpios, vem, prejudicar at
a, pureza dos costumes e age contra a sua prpria finalidade.
No se v pensar, porm, que aquilo que aqui pedimos exista
j na propedutica que o clebre Wolff anteps sua Filosofia
moral, a que chamou Fi losofia p r t i c a u n i v e r s a l (*), e que se, no
liaja de entrar portanto em campo inteiramente novo. Precisamente