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Trechos da análise das constituiçõesTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM
DIREITO
DIREITO CONSTITUCIONAL
O HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES:
A CONSTITUIÇÃO DE 1891
CELSO CAUPER DOS SANTOS
JOÃO JOSÉ GANDRA JÚNIORJULIANA LIMA ROCHA
LIGEKSON PEREIRA MONTEIROLUÍS FILIPE SILVA DE SOUZA
MARIA CLARA RANGEL PIMENTAMELISSA FERNANDES MANHÃES
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ
2009
SUMÁRIO
1 Histórico das Constituições...........................................................................3
1.1 Constituição de 1824..............................................................................3
1.2 A Constituição de 1934...........................................................................3
1.3 Constituição de 1937..............................................................................4
1.4 Constituição de 1946..............................................................................5
1.5 Constituição de 1967..............................................................................6
1.6 EC n. 1/69 à Constituição de 1967.........................................................7
2. Contexto Histórico........................................................................................8
2.1 A República Velha..................................................................................9
2.2 A Crise da República..............................................................................9
3 Decreto n. 1, de 1889..................................................................................11
4 A Constituição de 1891...............................................................................14
5 Preâmbulo...................................................................................................16
6 Principais Características............................................................................18
7 Direitos e Garantias Fundamentais.............................................................20
8 Conclusão...................................................................................................25
Referências.....................................................................................................26
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1 HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES
1.1 Constituição de 1824
A necessidade de uma Constituição se fazia presente com o surgimento de
um novo Estado, após a Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1822. Daí
proveio a Constituição Política do Império do Brasil, outorgada em 23 de março de
1824, por D. Pedro I.
Logo após a Independência, convocou-se uma Assembléia Geral Constituinte
e Legislativa, com marcantes ideais liberais, para a promulgação da Constituição.
Entretanto, na chamada Noite da Agonia, no dia 12 de novembro de 1823, o
Imperador, que não estava satisfeito com o projeto, a chamada “Constituição da
Mandioca”, dissolveu a Constituinte. Ele mesmo nomeou uma comissão especial, o
Conselho de Estado, composta por grandes nomes da inteligência jurídica brasileira,
seus aliados, mas não eleitos pelo povo.
Entre suas características mais marcantes estavam: o centralismo
administrativo e político, o unitarismo e absolutismo. Esses caracteres se
condensavam no Poder Moderador, que dava ao Imperador o poder de intervir em
todos os demais poderes.
Essa foi a única Constituição semi-rígida do Brasil, tendo forma orgânica
analítica e origem outorgada, como exposto supra. Além disso, vigorou por todo o
período do Império, sendo assim, a mais duradoura das Constituições, com
sessenta e sete anos de vigor. Teve, ainda, notável influência da Constituição
francesa de 1814.
1.2 A Constituição de 1934
A crise econômica de 1929 e os movimentos trabalhistas da época
contribuíram para o abalo dos ideais de liberalismo econômico e da democracia
liberal da Constituição de 1891.
Neste contexto caótico, ocorreu a Revolução de 30, em clara oposição ao
coronelismo dos governadores. Instalou-se, então, o Governo Provisório, tendo
4
como líder Getúlio Vargas. Pouco tempo depois, houve a Revolução
Constitucionalista de São Paulo, em 1932, por meio da qual este estado exigia uma
Assembléia Nacional Constituinte que restaurasse o regime democrático. Vale frisar
que neste mesmo ano, Getúlio Vargas decretou o Código Eleitoral (Dec. N. 21.076,
de 24.02.1932), adotando voto feminino e o sufrágio universal, direto e secreto.
Após essas fortes pressões, foi eleita a Assembléia Constituinte para, enfim,
elaborar e promulgar, no dia 16 de julho de 1934, a nova Constituição dos Estados
Unidos do Brasil. Esta foi inspirada no novo constitucionalismo pós-Primeira Guerra
(1914-1918) que além de tratar de matéria constitucional – organização do Estado e
limitação dos seus poderes – alargou esse campo, para introduzir a ordem
econômica e social, a família, a educação e a cultura.
Sofreu forte influência da Constituição de Weimer, da Alemanha de 1919,
evidenciando os direitos humanos de 2ª dimensão e a perspectiva de um estado
social de direito. Além desses pontos, abarcou também ingerência fascista. Era
dogmática quanto à origem, sendo apontada como a mais dogmática de todas,
orgânica analítica, quanto à forma e rígida, quanto à revisão.
De efêmera duração, vigorou por apenas três anos, revogada pelo próprio
Getúlio Vargas no Golpe do Estado Novo.
1.3 Constituição de 1937
Durante o mandato de Getúlio Vargas (1934-1938), havia um forte
antagonismo entre a direita fascista, com destaque para a Ação Integralista
Brasileira e o movimento de esquerda, com a Aliança Nacional Libertadora.
Após uma série de medidas contra esta (ANL), no dia 30 de setembro de
1937, foi noticiado que o Estado-Maior do Exército havia descoberto um plano
comunista para a tomada do poder, o famoso Plano Cohen. Este foi o estopim para
o golpe como uma suposta “salvação” contra a ameaça comunista.
Em 10 de novembro de 1937, foi outorgada a Constituição, elaborada por
Francisco Campos, apelidada de “Polaca”, em virtude da clara influência sofrida pela
Constituição polonesa fascista de 1935. Deu-se início ao “nascer da nova era”, nas
palavras de Getúlio Vargas, e o populismo para encobrir o autoritarismo.
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Ressalta com perspicácia o insigne José Afonso da Silva (2009, p.83), “a
Carta de 1937 não teve, porém aplicação regular. Muitos de seus dispositivos
permaneceram letra morta”. Seguindo o exposto, o regime federativo foi mantido,
mas de maneira “nominal”, pois havia constantes, e mesmo permanentes, assunção
dos governos estaduais por interventores federais. A tripartição de “Poderes” de
Montesquieu também foi mantida sob mera formalidade, pois o autoritarismo do
regime vigente enfraqueceu expressivamente o Poder Legislativo e o Judiciário.
A Constituição de 1937 tinha forma orgânica analítica, e era rígida quanto à
estabilidade. Mas vale lembrar que Getúlio Vargas elaborou a Constituição e ele
mesmo a emendou, posteriormente.
Um último dado importante: a pena de morte foi restaurada para os casos de
crimes políticos e nos casos de homicídio cometido por motivo fútil e com extremos
de perversidade.
1.4 Constituição de 1946
A contradição entre a política interna (com inclinações fascistas) e a externa
(posicionamento oposto ao “Eixo”, na Segunda Guerra Mundial) deu início a uma
crise no governo Vargas. Esta crise política o forçou a assinar o Ato Adicional em
1945 (Lei Constitucional n. 9 de 28.02.1945), convocando eleições presidenciais,
marcando a derrocada do Estado Novo.
Durante a campanha nacional, a opinião pública parecia favorável a Getúlio
Vargas, m as a sua tentativa de substituir o chefe da Polícia do Distrito Federal por
seu irmão e a nomeação de João Alberto para a Prefeitura do Rio de Janeiro,
culminaram no afastamento do populista. Ele foi deposto pelas Forças Armadas,
pelos generais Gaspar Dutra e Goiás Monteiro.
No dia 1º de fevereiro de 1946, a Assembléia Constituinte foi instalada,
promulgando-se a liberal Constituição de 1946. Tratou-se da redemocratização do
País. Buscou inspirações para isso nas ideias liberais da Constituição de 1891 e nas
ideais sócias da de 1934.
Implementou-se a construção de Brasília, a nova capital do Brasil, inaugurada
no dia 21 de abril de 1960. Foram restabelecidos: a teoria clássica da tripartição dos
poderes, o bicameralismo igual, os mandado de segurança e a ação popular,
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remédios constitucionais afastados da Constituição anterior, vedou-se a pena de
morte (salvo as disposições de legislação militar em tempo de guerra com país
estrangeiro) etc.
Houve também uma breve instituição do parlamentarismo, aprovado pelo
Congresso Nacional, no dia 2 de setembro de 1961, em reação ao inconstitucional
afastamento de João Goulart pelas Forças Armadas. Feito o referendo, em 6 de
janeiro de 1963, o povo determinou o retorno ao presidencialismo.
Classificando brevemente a Constituição, tem-se que era orgânica analítica,
dogmática e rígida.
1.5 Constituição de 1967
Em 31 de março de 1964, João Goulart foi derrubado por um movimento
militar, tendo sido acusado de estar a serviço do “comunismo internacional”. O
chamado Supremo Comando da Revolução, no dia 9 de abril de 1964, baixou o Ato
Institucional n. 1, redigido por Francisco Campos (o mesmo que elaborou a Carta de
1937), com muitas restrições à democracia, como, v.g., poder suspender direitos
políticos sem uma apreciação judicial.
O AI n. 2/65, estabeleceu eleições indiretas para Presidente e Vice-Presidente
da República. Logo foi seguido do AI n. 3, que estabeleceu o mesmo em âmbito
estadual.
O Congresso Nacional foi fechado em 1966, sendo reaberto, nos termos do AI
n. 4/66 para aprovar a Constituição de 1967.
Alguns autores consideram essa Constituição promulgada, em virtude da sua
votação nos termos do art. 1.º, §1.º, do AI n. 4/66. Outros consideram a Constituição
da República Federativa do Brasil como outorgada, já que não fora eleita com um
Poder Constituinte Originário. Sobre isso, conclui o constitucionalista Pedro Lenza
(2009, p, 71):
Em conclusão, pode-se afirmar que a Constituição de 1946 foi suplantada pelo Golpe Militar de 1964. Embora continuasse existindo formalmente, o País passou a ser governado pelos Atos Institucionais e Complementares, com o objetivo de consolidar a ‘Revolução Vitoriosa’, que buscava combater e ‘drenar o bolsão comunista’ que assolava o Brasil.
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Finalmente, no dia 24 de janeiro de 1967, a Constituição do Brasil foi
outorgada. Na mesma linha que a Constituição de 1937, se fortaleceu o poder no
âmbito federal e se esvaziou os Estados-membros e Municípios. A tripartição dos
poderes também foi mantida sob mera formalidade, em vista do enfraquecimento do
Poder Legislativo e do Judiciário.
Assim, o Presidente da República obteve amplos poderes. Era eleito para
mandato de 4 anos, de maneira indireta por sufrágio do Colégio Eleitoral, do qual
faziam parte o Congresso Nacional e de Delegados, indicados pelas Assembléias
Legislativas dos Estados. Ele também legislava através de decretos-leis, tendo
ainda, de acordo com o art. 60, da CF/67, iniciativa exclusiva para certas matérias.
O famigerado AI-5 foi baixado pela ditadura no dia 13 de dezembro de 1968,
tendo sido revogado somente em 1978, pela EC n. 11. Naquele mesmo dia, o
Congresso Nacional foi fechado nos termos do Ato Complementar n. 38; assim foi
por dez meses. Sobre o AI-5, esclarece Celso Ribeiro Bastos1:
[...] o AI-5 marca-se por um autoritarismo ímpar do ponto de vista
jurídico, conferindo ao Presidente da República uma quantidade de poderes
que muito provavelmente poucos déspotas na história desfrutaram,
tornando-se marco de um novo surto revolucionário, dando a tônica do
período vivido na década subsequente.
Vale frisar que a Constituição de 1967 era rígida, orgânica analítica e
outorgada, como já exposto.
1.6 EC n. 1/69 à Constituição de 1967
Com base no AI n. 12, de 31.08.1969, instalou-se no Brasil o governo de
Juntas Militares, pois com o afastamento do Presidente da República, Costa e Silva,
governariam os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica
Militar.
Vide alhures, o Congresso Nacional estava fechado, então coube aos
Militares baixar a EC n.1/69. A partir dela, a utilização dos Atos Institucionais foi
formalmente aprovada, de acordo com os arts. 181 e 182, da EC n.1/69.
1 BASTOS, 1997, apud LENZA, 2009, p. 73
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Alguns autores consideram essa emenda como uma nova Constituição, como
“a manifestação de um novo poder constituinte originário” (LENZA, 2009, p. 74). Nas
palavras de José Afonso da Silva (2009, p. 87, grifo do autor):
[...] verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado,
a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República
Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição
do Brasil.
Outros, no entanto, veem o pensamento acima como errôneo, em virtude de
uma visão exagerada do que foi, deveras, uma emenda constitucional extensa. Para
corroborar esse pensamento, apontam o seguinte trecho da própria EC n.1/69:
“CONSIDERANDO que a Constituição de 24 de janeiro de 1967, na sua maior parte,
deve ser mantida, pelo que, salvo emendas de redação, continuam inalterados os
seguintes dispositivos [...]”
Como já foi brevemente citado no subtítulo anterior, o pacote de junho de
1978 revoga o AI-5 e as medidas nele baseadas. Esse foi o início da
redemocratização que, somente em 1988, alcançará sua plenitude, quando a atual
Constituição revogar a militar.
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2 CONTEXTO HISTÓRICO
2.1 A República Velha
O período que se estende da proclamação da República em 1889 até a
Revolução de 1930 é chamado pelos historiadores de Primeira República ou
República velha.
A principal característica da República Velha foi o absoluto domínio das
oligarquias agrárias (os grandes fazendeiros) sobre a política brasileira. A oligarquia
mais rica e poderosa, formada pelos cafeicultores, assumiu o controle do governo
federal e do governo do Estado de São Paulo. As oligarquias mais fracas, ligadas à
pecuária, ao açúcar, ao algodão, ao cacau e a outros produtos secundários,
assumiram o controle dos demais governos estaduais. Essa situação de domínio
manteve-se até a Revolução de 1930.
O grupo cafeeiro agora no poder era muito mais moderno, dinâmico e
empresarial do que as velhas oligarquias nordestinas que dominavam o Império.
Além disso, com a proclamação da República, abriu-se um espaço, embora
pequeno, possibilitando que a classe média a nascente burguesia industrial
participassem da política do País. Por esses motivos, ainda que a República Velha
nos pareça hoje atrasada e retrógada, ela significou u importante avanço em relação
ao período monárquico.
2.2 A Crise da República
A república foi proclamada por meio da união de elementos da classe
dominante (os cafeicultores), da classe média (os militares) e da burguesia, todos
com o mesmo objetivo: derrubar o Império, que não correspondia mais aos seus
interesses, e substituí-lo pelo regime republicano. Porém, embora o objetivo fosse o
mesmo, cada um dos grupos desejava que o novo sistema político fosse
estabelecido de acordo com seus interesses particulares, sobretudo nos campos da
economia.
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Nesse sentido, a oligarquia pretendia que o Estado republicano apoiasse
totalmente a agricultura em geral e o café em particular, enquanto a classe média e
a burguesia desejavam o desenvolvimento das novas atividades econômicas,
particularmente a indústria, o comércio e os serviços. Essa discordância inicial
acabou gerando uma nova série de divergências, pois escolher entre a política
agrária ou industrialista significava optar por políticas diferentes também nos setores
fiscal, alfandegário, cambial, monetário, creditício etc.
Era quase inevitável um choque entre esses grupos, com cada um tentando
assumir o controle do novo regime. Nos primeiros meses seguintes ao15 de
novembro, o choque não se verificou, pois as oligarquias agrárias e a classe média
receavam um contragolpe monarquista. Mas quando esse perigo desapareceu, a
luta começou. Primeiro na imprensa, depois no Congresso Nacional, em seguida
sob a forma de manifestações públicas e finalmente chegou-se à luta armada, à
guerra civil.
Esse processo de lutas recebe o nome de Crise da República. Após alguns
anos de disputa, a classe média, representando então as forças mais progressistas
do Brasil, acabou derrotada e expulsa do governo. Com a ascensão de Prudente de
Moraes à presidência da república, em 1894, as oligarquias vitoriosas impuseram ao
País seu sistema político, baseado numa economia agrária.
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3 DECRETO N. 1, DE 1889
No contexto de dissolução das bases do Império, em 15 de novembro de
1889, a República é proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca através do
Decreto n. 1. Foi pelo mesmo que se institui no país o Governo Provisório e os
Estados Unidos do Brasil: nome dado às províncias brasileiras reunidas pelo laço
federativo. O Governo Provisório tinha como objetivo: permanecer até a eleição do
governo definitivo, instaurar os ideais republicanos, institucionalizar a República
através de uma nova Constituição e implementar reformas políticas e administrativas
do plano republicano.
Sobre o Município Neutro, foi disposto no Decreto:
Art. 10 - O território do Município Neutro fica provisoriamente sob a administração imediata do Governo Provisório da República e a Cidade do Rio de Janeiro constituída, também, provisoriamente, sede do Poder federal.
As províncias passaram a fluir daquela autonomia própria dos Estados-
membros de uma Federação. Também foram autorizadas a editarem suas
respectivas Constituições, de acordo com art. 3º do Decreto n. 1.
Afastou-se do poder, enfim, D. Pedro II e toda dinastia Bragança. Tudo isso,
no entanto, foi feito sem muito rebuliço popular. A proclamação da Independência do
Brasil foi feita através de um movimento revolucionário, ou, nas palavras de Pedro
Lenza (2009, p. 55): “[...] tratava-se mais de um golpe de Estado militar e armado do
que qualquer movimento popular”.
Dessa maneira, se passa a ideia de que a outorga desse Decreto foi o ponto
inicial da ilegitimidade da Constituição de 1891. Antes de tratar dos caminhos que
levaram à promulgação desta, é necessário fazer alguns esclarecimentos sobre o
federalismo e o contexto em que se encontrava.
Os liberais, munidos de ideais Republicanos, admiradores de Thomas
Jefferson e dos Congressos de Filadélfia de 1774 e 1787, já lutavam desde a
Constituinte de 1823. Sem dúvidas, após o término do Império pela proclamação da
República por um português, D. Pedro II, o domínio imperial no Brasil independente
seria inevitável.
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Eles também combatiam a escravidão, o extermínio dos indígenas, a
prostituição das mulheres e o tráfico dos curucas – crianças.
Durante todo esse período, não faltaram insurreições em oposição ao
Império, inclusive algumas separatistas, como: a Cabanagem, no Pará, em 1835, a
Farroupilha, no Rio Grande do Sul, em 1835 e a Revolução Praieira, em
Pernambuco, em 1848.
Em agosto de 1834, e.g., os federalistas brasileiros, chamados na época de
exaltados, tiveram uma vitória parcial com a promulgação do Ato Adicional (Lei n.
16, de 12.08.1834). A partir dela foram criadas as chamadas Assembléias
Legislativas Provinciais, que possuíam certa autonomia.
Esperava-se conseguir suprimir o Poder Moderador, mas com o advento da
Lei n.105, de 12.05.1840, chamada de Lei de Interpretação, as conquistas do Ato
Adicional retrocederam, e a ideia centralizadora da figura do abusivo poder do
Imperador foi reafirmada.
Durante as comemorações do Centenário da República, em 1989, Nilmário
Miranda, deputado estadual na Assembléia Legislativa de Minas Gerais,
homenageou a República através da figura de Teófilo Ottoni (1807 – 1869). Este foi
uma dos mais ardentes batalhadores pela instituição da República no país na época
do Império.
Em 1862, após seu brilhante desempenho ao presidir a Comissão de
Inquérito sobre a Alfândega, foi convidado pelo imperador para o Conselho de
Estado, órgão do Poder Moderador, que ele combateu por tantos anos. A sua recusa
foi nestes termos: “V. Exa. bem sabe que, segundo a minha escola política, os
deputados não devem aceitar mercês e graça do governo durante o mandato
legislativo [...]”.
Figuras como essa ficam esquecidas pela História. O Decreto n. 1 de 1889,
foi sim outorgado, mas após décadas de luta pelo avanço político do país, pela sua
democratização, e dificilmente seria possível de outra maneira. Os liberais também
representavam uma elite, o que é evidente em virtude do nível de instrução
intelectual deles.
Além do mais, o Brasil possuía uma nação incipiente, que vivera sob o
Império de um português desde a sua Independência. Em 1875, dos 9.930.472
habitantes recenseados, 84% eram analfabetos, e só 16% alfabetizados (MIRANDA,
2007, p. 141). Seria muito difícil que uma população predominantemente analfabeta
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se inclinasse, espontaneamente, a seguir ideais modernos americanos e franceses,
isso excetuando o contingente de escravos.
Após o afamado Decreto objeto de nossa análise, o Governo Provisório, no
dia 3 de dezembro, nomeou uma comissão de cinco Republicanos, conhecida como
Comissão dos Cinco, para elaborar o Anteprojeto de Constituição, que serviria como
base para os debates na Assembléia Constituinte. No debate do Projeto na
Assembléia Constituinte, Rui Barbosa exerceu grande influência, se valendo de
ideias máxime do Federalismo Americano, do qual era grande conhecedor.
A partir daí, foi questão de tempo até que a Constituição da República do
Brasil fosse devidamente promulgada em 1891.
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4 A CONSTITUIÇÃO DE 1891
A constituição brasileira de 1891 é tida como uma das mais relevantes quanto
ao papel histórico que desempenhou e devido às mudanças que acarretou na
sociedade brasileira de fins do século XIX. Sua elaboração teve início no ano de
1890, sendo promulgada em 24 de fevereiro de 1891, após um ano de negociações
com poderes que realmente comandavam o Brasil, vigorando durante todo o período
histórico conhecido como república velha, e sofrendo ao longo de toda a sua
vigência apenas uma única modificação, em 1927.
A Constituição de 1891 foi fortemente inspirada na previamente adotada pelos
Estados Unidos da América, e uma de suas principais características era a forte
descentralização dos poderes, dando grande autonomia aos municípios e às antigas
províncias, que passaram a ser denominados “estados”, e os seus “governadores”
que passaram a ser denominados “presidentes de estado”.
O regime de governo adotado então foi o presidencialista, e o presidente seria
eleito pelo voto direto para não exercer um mandato que se prolongaria por não
mais que quatro anos, e não havia direito de se reeleger para o mandato seguinte,
contudo, não havia impedimentos para candidatura visando mandatos posteriores.
Diferentemente do que hoje ocorre, o vice – presidente era eleito
independentemente do presidente da república, e por vezes, ocorria de ser eleito
independentemente do presidente da república, e por vezes ocorria de ser eleito um
vice da oposição, o que dificultava por demais o exercer do poder, e além disso, em
caso de morte do presidente, seu vice assumia somente até que se fossem feitas
novas eleições, não tendo de exercer a presidência até que se completasse o
quadriênio.Quanto ao voto continuava a ser não-secreto, às claras, já que o eleitor
assinava a cédula eleitoral, obrigatoriamente.
Definiu-se a separação entre a igreja e estado. Outro marco histórico a ser
levado em consideração nesta análise.
A Constituição brasileira de 1891 foi redigida à semelhança da norte-
americana, levando em consideração seus princípios republicanos, embora os
princípios liberais e democráticos em grande parte tivessem sido suprimidos pelos
interesses das classes dominantes, já que as oligarquias latifundiárias, por meio de
seus representantes, tiveram grande influência no desenvolver desta Constituição,
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daí surgindo o federalismo, que era anseio dos cafeicultores paulistas para que
aumentasse a descentralização do poder e dessa forma se fortalecesse as
oligarquias regionais.
Classificação da Constituição de 1891 segundo as categorias expostas por
Paulo Bonavides: material (quanto ao conteúdo), rígida (quanto à alterabilidade),
escrita (quanto à forma), codificada (quanto à sistemática), popular (quanto à
origem) e concisa (quanto à extensão).
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5 PREÂMBULO
O Preâmbulo é o conjunto de enunciados formulado pelo legislador
constituinte originário, situado na parte preliminar do texto constitucional, que veicula
a promulgação, a origem, as justificativas, os objetivos, os valores e os ideais de
uma Constituição, servindo de vetor interpretativo para a compreensão do
significado das suas prescrições normativas e solução dos problemas de natureza
constitucional.
No Preâmbulo, assim como nos demais dispositivos constitucionais, vê-se
claramente a manifestação do "querer" normativo-constitucional e os desafios que a
realidade impõe inexoravelmente. Os Preâmbulos, como todas as normas, são
"catálogos de expectativas" que podem causar enormes frustrações ou imensa
felicidade. Isso porque, além das condutas humanas, há fatores externos que
independem da vontade (ou do agir) humana, ou que exigem mais do que simples
boa vontade. Além de bondade, é preciso viabilidade material para concretizar todas
as promessas exaladas no texto constitucional.
Apesar de não fazer parte do texto constitucional propriamente dito e,
conseqüentemente, não conter normas constitucionais de valor jurídico autônomo, o
Preâmbulo não é juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser observado como
elemento de interpretação e integração dos diversos artigos que lhe seguem.
Abaixo, in verbis, o preâmbulo da Constituição de 1891:
Nós os Representantes do Povo Brasileiro, reunidos em Congresso Constituinte, para organizar um regime livre e democrático, estabelecemos, decretamos e promulgamos a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL.
Os constituintes de 1891, na promulgação da nova Constituição, redigiram,
através da Mesa, seu preâmbulo. Mais sintético do que o preâmbulo norte-
americano. Com a laicização do Estado, para os constituintes, muitos deles
positivistas, deixar de invocar a proteção de Deus foi mera consequência.
Sinteticamente, podemos concluir que a nossa Constituição de 1891 foi uma das
mais avançadas do mundo. Baseou-se, como vimos, naquilo que de melhor existia.
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Pôde contar com as experiências de outros povos, como o americano, o
suíço e o argentino. Ao adaptar as experiências alheias, muitos institutos foram
corrigidos e aperfeiçoados; outros, criados. Entre seus constituintes figuraram
homens notáveis, como nunca mais se teve notícia. No seio da Constituinte, reinou a
concórdia. Todas as correntes políticas puderam ser ouvidas. Imperou o bom senso.
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6 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 era
fortemente inspirada pelo modelo constitucional norte-americano, e uma de suas
principais características foi a instauração da forma republicana de governo e a
forma federativa de estado, conforme disposto em seu artigo primeiro.
Com a adoção do sistema federalista, os vinte estados da federação, que até
então eram denominados “províncias”, passaram a possuir grande autonomia, tendo
o direito de eleger seu governador e sua Assembléia Legislativa, possuir sua própria
Constituição e organizar a sua administração, seu sistema judiciário e demais
serviços públicos.
A Constituição de 1891, em seu artigo 15, estabeleceu que os órgãos da
soberania nacional eram o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos
e independentes entre si, inspirado pela teoria da separação entre os Poderes de
Montesquieu. Deste modo, portanto, extinguiu-se o Poder Moderador, anteriormente
desempenhado pelo imperador
Os membros dos poderes Executivo e Legislativo passaram a ser eleitos pelo
voto popular direto, e, portanto, eram os representantes do povo no regime
democrático representativo adotado com o advento desta constituição.
O regime de governo adotado foi o presidencialista, e o presidente seria eleito pelo
voto direto para exercer um mandato, cabendo-lhe a escolha dos ministros. O Poder
Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, sendo constituído pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado Federal. Elegiam-se três senadores para cada
estado, e o mandato durava nove anos. O mandato de um deputado tinha três anos
de duração. O Poder Judiciário, formado pelos Juizes Federais, tinha como órgão
superior o Supremo Tribunal Federal.
O sistema eleitoral agora concedia direito ao voto universal masculino, não-
secreto a todos aqueles que fossem maiores de 21 anos e alfabetizados. Um avanço
neste quesito diz respeito ao fim do regime censitário, ou seja, aquele que definia o
eleitor por sua renda, ampliando assim o universo de cidadãos votantes. No entanto,
estavam excluídos do processo eleitoral as mulheres, os analfabetos, os monges
regulares, praças das Forças Armadas e mendigos. Além disso, o voto ainda era
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aberto, o que impedia o livre exercício da cidadania, possibilitando às oligarquias
rurais o controle sobre o sistema político-administrativo do Brasil.
Por fim, a Constituição de 1891 observa-se a separação oficial entre o
Estado e a Igreja, sendo adotado o Estado laico. A religião católica, portanto, deixou
de ser a religião oficial do Estado brasileiro, em proveito da liberdade de credo livre
do povo.
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7 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
O Texto Constitucional de 1891 possui, como principal característica, o
enorme foco dado à Declaração de Direitos, assegurando, por exemplo, a brasileiros
e a estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à segurança individual e à propriedade. Sendo assim, encontramos no
mesmo Garantias Constitucionais não abordadas no Texto anterior.
Em seu título IV, que trata “Dos Cidadãos Brasileiros”, principalmente, em seu
artigo art. 72, se percebe nitidamente as garantias e proteções aos direitos
individuais.
No artigo supracitado, nota-se uma série de previsões. No primeiro parágrafo
temos o princípio de que “ninguém pode fazer algo ou deixar de fazê-lo senão em
virtude da Lei”. Logo no segundo, repousa o princípio da isonomia, não se admitindo
nenhum tipo de privilégio.
Traços do novo Estado laico se apresentam no reconhecimento somente do
casamento civil – gratuito, no ensino leigo nas escolas públicas e, obviamente, a não
vinculação entre Igreja e Estado, conforme parágrafos quarto e sexto.
Apesar da laicização, a liberdade de culto é garantida no parágrafo terceiro.
Nesta mesma linha, os cemitérios passam a ser administrados pela autoridade
municipal, permitindo, assim, a todos cultos religiosos a prática de seus respectivos
ritos, desde que não ferissem a moral pública e as leis, conforme parágrafo quinto.
Representando os direitos dos cidadãos, se tem, no parágrafo oitavo, a livre
reunião de indivíduos, sem armas, assegurada. Também é permitido a quem quer
que seja representar, mediante petição, aos poderes públicos, denunciar abusos das
autoridades e promover a responsabilidade dos culpados (parágrafo nono). Ainda
nenhum cidadão brasileiro poderá ser privado de seus direitos civis e políticos nem
se eximir do cumprimento de qualquer dever cívico.
A inviolabilidade do domicílio é resguardada no parágrafo onze, não sendo
permitido penetrar, à noite, na residência, sem autorização do morador, exceto se for
em caso de salvamento.
Para garantir a liberdade, dispõe o parágrafo doze:
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Em qualquer assunto é livre a manifestação de pensamento pela imprensa ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato.
Sobre a prisão, esta não poderá executar-se, senão depois de pronúncia do
indiciado, salvos os casos determinados em lei e tendo como exceção o delito em
flagrante. E mais: ninguém pode ser preso sem culpa formada ou ser mantido detido
se pagar a fiança prevista em lei, conforme parágrafo quatorze. Sobre a defesa do
acusado, dispõe que é assegurada a plena defesa, com todos os recursos e meio
essencial a ela, desde a nota de culpa, entregue em vinte e quatro horas ao preso e
assinada pela autoridade competente, com os nomes do acusador e das
testemunhas.
Quanto às penas, foi garantida a sua individualidade, além de serem abolidas
a Pena de Galés, a de banimento judicial e a de morte, nos parágrafos vinte e vinte
e um, respectivamente.
Tratando do direito de propriedade, ele mantém-se em toda a plenitude, salvo
a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia,
muito similar ao disposto ainda hoje. As minas pertenciam aos proprietários de solo,
salvos as limitações que forem estabelecidas por lei a bem da exploração deste
ramo de indústria.
A previsão da inviolabilidade de correspondência também foi garantida,
semelhante ao inciso XII, art. 5ª da Constituição atual. O foro privilegiado foi
afastado, com exceção das causas que pertencem a juízos especiais.
É garantido o livre exercício de qualquer profissão moral, intelectual e
industrial. Quanto aos inventos industriais, estes pertencem aos seus autores, aos
quais ficará garantido por lei um privilegio temporário, ou será concedido pelo
Congresso um prazo razoável, quando haja conveniência de vulgarizar o invento. Já aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo de
reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer outro processo mecânico, conforme
parágrafo 26. Enquanto os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo
que a lei determinar. Vale lembrar que foi assegurada às indústrias a propriedade
das marcas de fábrica.
Retornando à questão de que não se podia eximir de qualquer dever cívico, a
Constituição dispõe que os que alegarem motivo de crença religiosa com o fim de se
isentarem de qualquer ônus que as leis da República imponham aos cidadãos
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(parágrafo 28), e os que aceitarem condecoração ou títulos nobiliárquicos
estrangeiros, perderão todos os direitos políticos. Assim fica demonstrado o
desconsideração das convicções religiosas nesse caso, o que não se repete, com o
mesmo rigor, na atual Constituição. Nesta é disposto, em seu art. 5º, no seguinte
inciso:
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Outras disposições desse extenso art. 72 são: nenhum imposto de qualquer
natureza poderá ser cobrado senão em virtude de uma lei que o autorize e é
mantida a instituição do júri (parágrafos trinta e trinta e um, respectivamente).
Retornando à mencionada abolição da Pena de Galés, pode-se defini-la como
sendo uma punição em que o réu era obrigado a trazer calceta nos pés e correntes.
O motivo para sua abolição é que ela enervava as forças físicas e abatia os
sentimentos morais, tornando odioso o trabalho, principal elemento de correção.
Como já dito, houve a abolição também da pena de morte, sendo introduzidas: a
pena perpétua com o máximo de tempo de 30 anos, além de ter sido estabelecida a
prescrição das penas.
Necessário trazer à baila a questão do habeas corpus. É disposto na
Constituição de 1891, parágrafo 22: “sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em
iminente perigo de sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”.
Entende-se como habeas corpus, atualmente, o instrumento jurídico de
grande valia na repressão às prisões indevidas e aos atentados ao direito de
locomoção em geral. Ele fora introduzido pelo Código Criminal de 1830, sendo
inserido e tutelado agora pela Constituição de 1891.
No início do século XX, ele sofreu uma interpretação muito extensiva, sendo
utilizados em casos que em nada tinham a ver com a preservação da liberdade
física. Um exemplo ante o exposto é que se podia impetrar um HC para defender a
idéia da inviolabilidade de domicílio, a situação e direitos dos funcionários, a
liberdade de exercício de profissão etc.
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Existem outras questões de Direitos e Garantias abordadas antes e depois do
art. 72, no Título IV, sendo que muitas delas perduram até os dias atuais. A Lei
Maior de 1891 traz em seu art. 69 a questão do princípio da Territorialidade
Mitigada:
Art. 69. São cidadãos brasileiros:
§ 1.º os nascidos no Brasil, ainda que de pai estrangeiro, não residindo este a serviço de sua nação;
§ 2.º os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe brasileira, nascidos em país estrangeiro, se estabelecer domicílio na República;
§ 3.º os filhos de pai brasileiro, que estiver em outro país ao serviço da República, embora nela não venham domiciliar-se;
§ 4.º os estrangeiros, que achando-se no Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro em seis meses depois de entrar em vigor a Constituição, o ânimo de conservar a nacionalidade de origem;
§ 5.º os estrangeiros que possuírem bens imóveis no Brasil e forem casados com brasileiros ou tiverem filhos brasileiros contanto que residam no Brasil, salvo se manifestarem a intenção de não mudar de nacionalidade;
§ 6.º os estrangeiros por outro modo naturalizados.
Os critérios para poder vir a ser um eleitor brasileiro, em seu art. 70:
Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei.
§ 1.º Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados:
I – os mendigos; II – os analfabetos; III – as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares
de ensino superior; III – os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações
ou comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe a renúncia da liberdade Individual.
§ 2.º São inelegíveis os cidadãos não alistáveis.
As condições para que se percam ou se suspendam os direitos de cidadão
brasileiro, em seu art. 71:
Art. 71. Os direitos de cidadão brasileiro só se suspendem ou perdem nos casos aqui particularizados.
§ 1.º Suspendem-se:
I – por incapacidade física ou moral; II – por condenação criminal, enquanto durarem os seus efeitos.
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§ 2.º - Perdem-se:
I – por naturalização em país estrangeiro; II – por aceitação de emprego ou pensão de Governo estrangeiro,
sem licença do Poder Executivo Federal.
§ 3.º Uma lei federal determinará as condições de reaquisição dos direitos de cidadão brasileiro.
Por fim, ainda traz consigo mais alguns artigos concernentes a cargos
públicos; patentes, postos e cargos inamovíveis; aposentadoria para funcionários
públicos; perda de patentes entre Oficiais do Exército e da Armada; e foro especial
para delitos militares, conforme alguns dos artigos abaixo:
Art. 73. Os cargos públicos civis ou militares são acessíveis a todos os brasileiros, observadas as condições de capacidade especial que a lei estatuir, sendo, porém, vedadas às acumulações remuneradas.
Art. 76. Os oficiais do Exército e da Armada só perderão suas patentes por condenação em mais de dois anos de prisão passada em julgado nos Tribunais competentes.
Art. 77. Os militares de terra e mar terão foro especial nos delitos militares.
§1.º Este foro compor-se-á de um Supremo Tribunal Militar, cujos membros serão vitalícios, e dos conselhos necessários para a formação da culpa e julgamento dos crimes.
§2.º A organização e atribuições do Supremo Tribunal Militar serão reguladas por lei.
Necessário trazer à baila que as Garantias e Direitos fundamentais desta
Constituição não se restringem tão-somente às que foram enumeradas na mesma.
Podem ser resultantes da forma de governo empregada e os princípios que ela
consigna, conforme art. 78, que fecha o Título IV que aborda a questão “Dos
Cidadãos Brasileiros”:
Art. 78. A especificação das garantias e direitos expressos na Constituição não excluem outras garantias e direitos não enumerados, mas resultantes da forma de governo que ela estabelece e dos princípios que consigna.
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8 CONCLUSÃO
Como supracitado A Constituição de 1891 trouxe várias inovações ao Estado
brasileiro. Inovações estas que perpetuam até os dias atuais, entre as quais
podemos citar: a forma Republica de governo, o sistema presidencialista, a
separação da Igreja do Estado, o tripartidarismo, a abolição das penas corporais e a
implantação da prisão de no máximo trinta anos, dentre várias outras conquistas
perceptivelmente visíveis em nosso atual contexto político.
Em 03.09.1926, a Lei Mario de 1891 sofreu uma grande Reforma, na qual
houve a centralização do poder, restringindo a autonomia dos Estados,
anteriormente afirmada pela Constituição de 1891. Essa reforma possuiu uma
conotação retidamente racionalista, autoritária, introduzindo alterações no instituto
de intervenção da União nos Estados, no Poder e processo Legislativo, no
fortalecimento do Executivo, nos direitos e garantias individuais e na Justiça Federal,
o que, por consequência, diminuirá a sua “longevidade”, especialmente em razão do
movimento armado de 1930.
Com a Revolução de 1930, vemos o fim da República Velha e a implantação
do Governo Provisório, que levou Vargas ao poder. A República Velha começa
entrar na ruína por causa, principalmente, de dois aspectos: o domínio das
oligarquias e a fraude eleitoral institucionalizada, além, obviamente, da grave crise
econômico-financeira de 1929, do Tenentismo, que era um movimento contra o
regime oligárquico que dirigia o Brasil, e o surgimento de uma classe operária
descontente.
Todos esses aspectos e acontecimentos juntos culminaram com o
implemento do Segundo Governo Provisório da República, que por sua vez, deverá
até o advento da Constituição de 1934, promulgada em 16.07.1934.
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