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1 Trabalho Introdução à Ciência do Direito II Instituição: FEVALE Departamento: FCJ Faculdade de Ciências Jurídicas Disciplina: ICD II Professora: Nathália Lipovetsky Alunos: Bruna Botelho, Eisenhower Cruz, Fernanda Vale, Mayra Dias

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Page 1: Trabalho Icd 2 - A Complexidade, Edgar Morin Pronto

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Trabalho

Introdução à Ciência do Direito II

Instituição: FEVALE

Departamento: FCJ – Faculdade de Ciências Jurídicas

Disciplina: ICD II

Professora: Nathália Lipovetsky

Alunos: Bruna Botelho, Eisenhower Cruz, Fernanda Vale, Mayra Dias

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Sumário

A complexidade ____________________________________________________pág. 3

O sujeito e o objeto _________________________________________________pág. 3

Coerência e abertura epistemológica / Scienza nuova / A integração das realidades

banidas pela ciência clássica / A superação das alternativas clássicas ________pág. 5

O paradigma complexo ______________________________________________pág. 6

O paradigma simplificador ___________________________________________pág.6

Ordem e Desordem no universo _______________________________________pág.7

Auto-organização __________________________________________________ pág.7

Autonomia ________________________________________________________ pág.7

Complexidade e completude __________________________________________ pág.8

Razão, racionalidade, racionalização __________________________________ pág.8

Três princípios ____________________________________________________ pág.9

Rumo à complexidade ______________________________________________ pág.9

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A complexidade

A complexidade trás um entendimento de fazer uso mesmo da palavra em si, na

filosofia: como a dialética, e sobre o plano da lógica, a dialética hegeliana, era seu

domínio, pois esta dialética introduzia a contradição e a transformação no coração da

identidade. Mas nesta época, a complexidade não era estagnada, ou seja, era um

conhecimento sabido de todos.

No século XIX, a complexidade começa a surgir na microfísica e na macrofísica.

A microfísica era considerada caso limite, fronteira; e esta fronteira diz respeito a todos

os fenômenos materiais. A macrofísica fazia depender a observação do local do

observador e as relações entre tempo e espaço concebidos até então como essências

transcendentes e independentes.

São com Wiener e Ashby, fundadores da cibernética, que a complexidade entra

de vez na ciência. A primeira vista, a complexidade era um fenômeno quantitativo, mas

ela não era apenas isso, compreendia também incerteza, indeterminações, fenômenos

aleatórios. A complexidade num certo sentido sempre tem relação com o acaso.

Assim, a complexidade coincide com uma parte de incertezas, seja proveniente

dos limites de nosso entendimento, seja inscrita nos fenômenos. Mas não se reduzindo

às incertezas, ela diz respeito também ao sistema semi-aleatório, cuja ordem é

inseparável dos acasos que os concernem. A complexidade está ligada a certa mistura de

ordem e desordem, mistura íntima, ao contrário da ordem/desordem estatística, onde a

ordem (pobre e estática) reina no nível das grandes populações e a desordem (pobre,

porque pura indeterminação) reina no nível das unidades elementares.

Quando a cibernética reconheceu a complexidade, surgiu o princípio da caixa

preta (black-box): o que permite estudar os resultados do funcionamento de um sistema,

entrando e saindo dele sem se prender a este, não entrando no mistério da caixa preta.

Pois, o problema teórico da complexidade é o da possibilidade de entrar nela.

O que casou uma dificuldade na complexidade, e esta dificuldade está na

reversão das perspectivas epistemológicas do sujeito, isto é, do observador cientifico:

era próprio da ciência, eliminar a imprecisão a ambiguidade, a contradição. Ora, é

preciso aceitar certa imprecisão e sendo ela a certa, não apenas nos fenômenos, mas

também nos conceitos. É necessário aceitar certa ambiguidade e uma ambiguidade

precisa (na relação sujeito/objeto, ordem/desordem), tendo que reconhecer fenômenos,

como liberdade ou criatividade, inexplicáveis fora do quadro complexo que é o único a

permitir sua presença.

O sujeito e o objeto

A teoria da auto-organização e da complexidade tocam os substratos comuns à

biologia, à antropologia. Eles permitem ao mesmo tempo situar os diferentes níveis de

complexidade em que se colocam os seres vivos, compreendendo-se aí o nível de mais

alta complexidade e às vezes de hipercomplexidade próprio ao fenômeno antropológico.

Se o conceito de física se amplia, se complexifica, então tudo é física. Então, a

biologia, a sociologia, a antropologia são ramos particulares da física, do mesmo modo,

se o conceito de biologia se amplia, então, tudo o que é sociológico e antropológico é

biológico. A física e também a biologia param de ser redutoras, simplificadoras e

tornam-se fundamentais. Isto é, quase incompreensível quando se está no paradigma

disciplinar em que física, biologia, antropologia são coisas distintas separas, não

comunicantes.

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A noção de sistema aberto se abre amplamente e profundamente sobre a physis,

isto é, sobre a natureza ordenada/desordenada da matéria, sobre um devir físico

ambíguo que tende ao mesmo tempo à desordem (entropia) e à organização

(constituição de sistemas cada vez mais complexos). A noção de sistema aberto faz

apelo à noção de meio ambiente, daí surge não só a physis como fundamento material,

mas o mundo como horizonte de realidade mais vasta, abrindo-se para o infinito

(porque todo ecossistema pode tornar-se sistema aberto num outro ecossistema mais

vasto).

O sujeito emerge ao mesmo tempo em que o mundo. Ele emerge desde o ponto

de partida sistêmico e cibernético, lá onde certo número de traços próprios aos sujeitos

humanos (finalidade, programa, comunicação) é incluído no objeto máquina. Ele

emerge, sobretudo, a partir da auto-organização, onde autonomia, individualidade,

complexidade, incerteza, ambiguidade tornam-se caracteres próprios ao objeto. O

sujeito emerge também características individuais, traz em si sua irredutível

individualidade, sua suficiência (enquanto ser recursivo que sempre se fecha sobre si

mesmo) e sua insuficiência (enquanto ser “aberto” irresolúvel em si mesmo).

Assim, no ponto de vista, supõe o mundo e reconhece o sujeito, ambos são

recíprocos e inseparáveis: o mundo só pode aparecer como tal, ou seja, horizonte da

physis, para um sujeito pensante, último desenvolvimento da complexidade auto-

organizadora. Mas tal sujeito pode aparecer ao final de um processo físico no qual se

desenvolveu, tornando-se cada vez mais rico e vasto o fenômeno da auto-organização.

O sujeito e o objeto aparecem assim como as duas emergências últimas inseparáveis da

relação sistema auto-organizador/ecossistema.

A ciência ocidental fundamentou-se na eliminação positivista do sujeito a partir

da idéia de que os objetos, existindo independentemente do sujeito, podiam ser

observados e explicados enquanto tais. De fato, trata-se de um desafio sobre natureza do

real e do conhecimento. Nessa situação, o erro que se deve eliminar a fim de atingir o

conhecimento objetivo, ou o espelho simples reflexo do universo objetivo.

O sujeito transcendentalizado é aquele que é excluído do mundo objetivo, “a

subjetividade ou consciência (foi identificada) com o conceito de um transcendental que

chega do Além”. Para a eliminação positivista do sujeito, responde, no outro pólo, a

eliminação metafísica do objeto: o mundo objeto se dissolve no sujeito que o pensa.

Descartes fez surgir toda sua radicalidade desta dualidade entre o objeto e o sujeito,

colocando alternativamente o universo objetivo da res extensa, aberto a ciência, e o

cogito subjetivo irresistível, primeiro princípio irredutível de realidade, de certa forma,

uma anulação recíproca.

O encontro entre sujeito e objeto anula sempre um dos dois termos: ou bem o

sujeito torna-se “ruído” (perturbação), ausência de sentido, ou bem é o objeto,

poderíamos dizer o mundo, que se torna “ruído”: que importa o mundo “objetivo” para

quem entende o imperativo categórico (Kant), para quem vive o tremo existencial da

angústia e da busca (Kierkegaard).

O termo disjuntivos/repulsivos é inseparável. A parte da realidade escondida

pelo objeto reenvia ao sujeito, a parte de realidade escondida pelo sujeito reenvia ao

objeto. Só existe objeto em relação a um sujeito (que observa, isola, define, pensa) e só

a sujeito em relação a um meio ambiente objetivo (que lhe permite reconhecer-se,

definir-se, pensar-se, mas também existir).

O sujeito e objeto são indissociáveis, mas o modo de pensar exclui um ou outro,

deixando-os apenas livres para escolher, conforme os momentos do dia, entre o sujeito

metafísico e o objeto positivista. E quando o sábio expulsa de seu espírito as

preocupações de sua carreira, as invejas e as rivalidades profissionais, sua mulher e sua

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amante, para se inclinar sobre suas cobaias, o sujeito se anula de repente, num relato de

ficção cientifica. Ele se torna “ruído” sendo ao mesmo tempo a sede do conhecimento

objetivo, já que o próprio sábio é ele mesmo o observador. A objetividade cientifica

necessariamente deve surgir na mente de um ser humano é completamente evitado,

afastado ou estupidamente reduzido ao tema da consciência reflexo.

O conceito positivista de objeto faz da consciência ao mesmo tempo uma

realidade (espelho) e uma ausência de realidade (reflexo). E pode-se efetivamente

adiantar que a consciência, de uma maneira incerta sem dúvida, reflete o mundo: mas se

o sujeito reflete o mundo, isto pode também significar que o mundo reflete o sujeito.

Assim, tanto pode ser o objeto para o sujeito como o sujeito para o objeto.

Conforme se valorize o objeto, valoriza-se neste impulso o determinismo. Mas

se o sujeito é valorizado, então a indeterminação torna-se riqueza. Portanto toma forma

o paradigma chave do Ocidente: o objeto é o conhecível, o determinável, o isolável, e

por consequência o manipulável. Ele detém a verdade objetiva e, neste caso, ele é tudo

para a ciência, mas manipulável pela técnica, ele não é nada. O sujeito é o

desconhecido, desconhecido porque indeterminado, porque espelho, porque estranho,

porque totalidade. Assim, na ciência do Ocidente, o sujeito é o tudo-nada, nada existe

sem ele, mas tudo o exclui.

De um lado a microfísica onde sujeito e objeto têm relação, de outro lado pela

cibernética e o conceito de auto-organização. O sistema auto-organizador tem

necessidade de indeterminação e de acaso para sua auto-determinação. Evitamos a

disjunção e a anulação do sujeito e do objeto já que partimos do conceito de sistema

aberto, que até em seu caráter mais elementar implica a presença consubstancial do

meio ambiente, isto é, na interdependência sistema/ecossistema. Sujeito/objeto se

constituem reciprocamente.

Sujeito pensante que não é mais do que eu mesmo tentando pensar a relação

sujeito objeto. Já o sujeito reflexão para encontrar seu fundamento ou ao menos sua

origem, encontro minha sociedade, a história desta sociedade na evolução da

humanidade, o homem auto-eco-organizador.

Há uma incerteza ontológica em relação entre o sujeito e o meio ambiente, que só pode

ser cortada pela decisão ontológica absoluta (falsa) sobre a realidade do objeto ou a do

sujeito. O sujeito deve permanecer aberto, desprovido de um principio de decidibilidade

nele próprio; objeto deve permanecer aberto, de um lado sobre o sujeito, de outro lado

sobre o meio ambiente, que por sua vez, se abre necessariamente e continua a abrir-se

para além dos limites de nosso entendimento.

Coerência e abertura epistemológica / Scienza nuova / A integração das realidades

banidas pela ciência clássica / A superação das alternativas clássicas

A epistemologia é saber descrever a relação entre o sujeito e objeto, a questão

fundamental é relacionar o saber do sujeito a uma proposição, a uma razão. Podemos

falar que a epistemologia é algo da incerteza, que temos que colocar em confronto.

Percebemos que a epistemologia procura encontrar um ponto de vista, para conseguir

um bom objeto de conhecimento, e é esse ponto de vista que conseguimos compreender

as concepções do ecossistema social.

È esse ecossistema que permite distinguir a percepção da alucinação, e o real do

imaginário, e possamos chegar a uma sociologia do conhecimento á qual nos permite

entrar no jogo das forcas, mas cabemos perceber que ela não dirá nada de certeza sobre

a validade intrínseca.

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O teorema de Godel nos mostra um sistema de incerteza/indecisão, essa

indecidibilidade se torna ao mesmo tempo incerto, á qual essa incerteza esta ligada a um

sistema aberto. A epistemologia é um lugar da incerteza e da dialógica. Incerteza pois

consideramos relevantes e deve ser confrontado , corrigir umas as outras.

Scienza nuova é o termo a qual Edgar Morin pegou „emprestado‟ de Vico, para

poder explicar o conceito atual de ciência, do qual se trata em uma transformação

multidimensional, não podemos esquecer do conjunto teórico, metodológico e

epistemológico á qual as pesquisas demonstram que o conjunto é ao mesmo tempo

coerente e aberto.

Pela unidade da ciência podemos colocar em evidencia a abolição absoluta das

idéias de verdade e de certeza. Trata-se também de reconhecer á teoria da evolução; a

inventividade e a criatividade. A criatividade é um fenômeno antropológico de base,

marca todas as evoluções biológicas de maneira que constitui a célula.

Para finalizar o autor demostra um quase desprezo por tudo que a ciência foi ate

agora, como se esse caminhar não fosse absolutamente necessário para que ele pudesse

elaborar seu pensamento, como se as idéias dele surgissem do nada e não fosse um

produto possível apenas no tempo em que ele vive.

O paradigma complexo

Não devemos pensar na complexidade apenas no campo cientifico. É preciso

pensá-la onde ela quase não é notada, na vida cotidiana. Os cientistas do século XIX e

início do XX eliminavam o individual e o singular e se ateavam as leis gerais. Já o

romance dá época mostrava o ser como um ser de múltiplas identidades e

personalidades de acordo com o espaço-temporal. Ninguém conhece o outro, pois

costumamos mentir para nós mesmos.

A ambigüidade com o outro, a mudança de personalidade com o passar do

tempo, a história da qual pertencemos e seguimos sem ao menos, muitas vezes,

conhecer sua origem, tudo isso prova que não apenas a sociedade, mas também cada

ser, por menor que seja, é complexo.

No século XIX, os cientistas de Descartes a Newton explicavam o universo

como uma máquina determinista perfeita, necessitando da figura de Deus para explicá-

lo. Já Laplace, excluía essa figura, pois ele acreditava que o mundo é uma máquina

perfeita que se basta de si mesma, sem explicações outras. Mas esse mundo imaginado

por ele, como os outros, vai se desequilibrar e se desintegrar.

O paradigma simplificador

Para melhor compreendermos a complexidade é preciso saber que há um

paradigma simplificador e que este é palavra, noções chaves sobre determinado assunto.

É este paradigma que põe ordem no mundo, excluindo a desordem. Quando levamos em

consideração o homem, tendemos a dividir cada parte, suas funções para melhor estudá-

lo. Na busca da simplicidade, a ciência tentava desvendar cada mistério dos fenômenos.

Essa mesma obsessão levou a vários estudos para tentar descobrir partícula mais

simples existe no universo. Primeiro acreditou-se que seria a molécula, mais ai foi

provado que esta era constituída de um conjunto de átomos, que por sua vez, era

formada por um núcleo e elétrons. Daí cegou-se a partícula, que também podia ser

dividida em quarks. Isso provou que por mais que se tentasse descobrir, não poderíamos

chegar à simplicidade total.

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Depois, Boltzman introduz a ordem e da desordem usando do princípio físico de

que é a desordem das partículas que surge a ordem. É a agitação delas que faz com que

haja a passagem de um estado físico para o outro.

Ordem e Desordem no universo

Pode-se perceber através de vários exemplos físicos, como o da termodinâmica, que da

desordem pode nascer à ordem e daí haver o desenvolvimento. “A degradação e a

desordem concernem também à vida”, e isso ligado a ordem, organiza o universo.

Podemos usar como exemplo a formação do universo. Segundo os cientistas o

mundo era formado pela Pangéia e de sua degradação nasceram os continentes. Além

disso, a casualidade também é um fator muito importante na nossa vida, já que o

encontro de três núcleos de hélio forma o carbono que sem o qual não haveria vida.

A frase célebre de Heráclito: “Viver de morte, morrer de vida”, sintetiza todo

esse princípio de ordem/desordem já que vivemos da morte de nossas células e de sua

renovação. Estamos num intenso processo de rejuvenescimento, até que ele se

desequilibra e envelhecemos. Assim como todo ser passa por esse processo necessário,

também a sociedade precisa disso para dar continuidade a sua história, para que sua

existência nunca cesse. Assim, onde há harmonia, há também a ligação com a

desarmonia e vice-versa.

Auto-organização

Usamos, normalmente, exemplos físicos para explicar a simplicidade, o singular,

mas podemos falar também da biologia. Toda espécie é um padrão por si só, mas dentro

de cada espécie há indivíduos muito diferentes, pois cada indivíduo é um sujeito.

A palavra sujeito é muito mal interpretada. Na visão determinista, não há sujeito,

ou consciência, ou autonomia. Ser sujeito não quer dizer, simplesmente, ter consciência.

É ser capaz de colocar-se no centro, de dizer “eu” apenas para si próprio. É ocupar um

lugar no mundo, para lidar com ele e nós mesmos, o egocentrismo.

Mas nesse meio egocêntrico, carregamos conosco os nossos, nossos pais, filhos,

parentes, amigos, nossos irmãos, e por eles, somos capazes de tudo. Esse egocentrismo

é um egocentrismo comunitário, complexo em seu meio. Ser sujeito é ter autonomia,

mas ao mesmo tempo ser dependente de tudo que nos rodeia, de tudo o que faz parte de

nossa vida, em nossos erros e acertos que podem gerar ordens e desordens com a qual

mantemos a sociedade.

Autonomia

A noção de autonomia humana é complexa. Para sermos nós mesmos

precisamos aprender uma linguagem, uma cultura, um saber. Portanto, esta autonomia

se alimenta de uma certa dependência.

Nós seres humanos produzimos nossos genes, eles dependem de nós para existir.

Mas esta autonomia é complexa, já que também precisamos dos genes para nós mesmos

possamos ter nossas características humanas.

O livro The Origine of Consciousness (A origem da consciência) traz essa

complexidade. Diz que nas civilizações antigas os indivíduos tinham duas câmaras não

comunicantes em sua mente. Uma era o poder, ou seja, o rei (lei, norma); a outra era

ocupada pela vida cotidiana do individuo: seus desejos e preocupações pessoais. A

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origem da consciência se da então da ruptura do “muro” que divide essas duas câmaras,

a consciência surge como um equilíbrio entre as duas partes.

Ainda se pode considerar a situação em que o individuo age inconscientemente;

através de uma hipnose, por exemplo. Ele tem a falsa sensação de estar agindo por conta

própria, quando na verdade esta sendo “possuído”.

Complexidade e completude

Há variadas concepções de complexidade. Pode dizer respeito por um lado a

incapacidade de ter certeza de tudo, de formular uma lei. Por outro lado diz respeito a

algo lógico, a incapacidade de evitar contradições.

Na visão clássica, uma contradição é sinal de erro. Já na visão complexa, a

contradição significa o atingir de uma camada profunda da realidade que ainda não pode

ser desvendada.

A complexidade é diferente da completude. Os defensores da complexidade

procuram ter visões completas das coisas, uma visão multidimensional da realidade. A

visão não complexa das ciências considera realidades separadamente, ao contrario da

complexidade que liga os temas.

A consciência da multidimensionalidade nos conduz à idéia de que toda visão

unidimensional é pobre. Porém, por mais que a complexidade tenha a aspiração à

completude, é necessário salientar que jamais poderemos ter um saber total: “A

totalidade é a não-verdade”.

Não se deve confundir complexidade com complicação. Complicação é o

emaranhamento extremo das inter-relações, é um aspecto, um dos elementos da

complexidade. Complexidade e complicação também não se opõem, a complicação é

um dos elementos dos constituintes da complexidade

Razão, racionalidade, racionalização

As ferramentas que permitem conhecer o universo complexo são de natureza

racional. A razão corresponde à vontade de ter uma visão coerente dos fenômenos; a

razão tem um aspecto incontestavelmente lógico. Mas é possível distinguir entre

racionalidade e racionalização.

Racionalidade é o dialogo incessante entre nossa mente, que cria estruturas

lógicas, que as aplica ao mundo e que dialoga com esse mundo real. Racionalidade é

quando se adéqua os meios aos fins. Ela jamais tem a pretensão de encontrar a lógica

em tudo, mas tem a vontade de dialogar com o que lhe resiste.

Racionalização consiste em querer prender a realidade em um sistema coerente.

Aquilo que é lógico, que é compreendido, é considerado real. Tudo que contradiz esse

sistema coerente é afastado, visto como uma ilusão ou aparência.

Racionalidade e racionalização têm a mesma fonte, mas ao se desenvolverem

tornam se inimigas uma da outra. Temos uma tendência inconsciente à racionalização.

Muitas vezes afastamos de nossa mente o que nos desfavorece e exercemos uma

atenção seletiva sobre o que nos favorece. Dessa forma a razão não deve ser somente

crítica, mas também autocrítica.

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Três princípios

Há três princípios que podem nos ajudar a pensar a complexidade. O primeiro é

chamado dialógico. Ele parte da idéia que termos antagônicos são complementares, um

é necessário para a existência e a compreensão do outro.

O segundo princípio é o da recursão organizacional. Nele os produtos e os

efeitos são ao mesmo tempo causas e produtores do que produz. Corresponde a um ciclo

autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor.

O terceiro princípio é o hologramático. Não apenas a parte está no todo, mas o

todo está na parte. Está presente nos campos da biologia e da sociologia. As células são

a menor parte do corpo humano, mas cada célula do nosso organismo contém as

características presentes no corpo inteiro. No universo sociológico, da mesma forma que

um indivíduo é uma parte da sociedade, a sociedade está presente em cada indivíduo

(linguagem, cultura, normas, etc.).

Rumo à complexidade

Descartes formulou um paradigma de disjunção, um paradigma simplificador

que vem reinado em nosso universo. Ele separou o campo do sujeito do campo do

objeto.

O paradigma simplificador domina nossa cultura e é atualmente que se começa a

reação contra seu domínio. Não tentamos aqui formular um paradigma complexo. O

paradigma complexo resultará do conjunto de novas concepções, de novas visões, de

novas descobertas e de novas reflexões que vão acordar, se reunir.