trabalho final política

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A ESTRATÉGIA EM CAMPANHA O segundo andar de um prédio na Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, foi o reduto onde cerca de 20 pessoas trabalharam na campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) em Minas Gerais. “A nossa estrutura é pequena. A única coisa grande aqui é o espaço, porque a gente ganhou da campanha do Pimentel. A equi- pe dele nos cedeu esse andar, mas a nossa es- trutura poderia funcionar num lugar bem menor”, diz o jornalista Paulo Camargos, que trabalhou como coordenador de comunicação da campa- nha no Estado. Segundo Camargos, que também atuou como assessor de imprensa na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 2006, co- ordenar algo tão amplo, como a comunicação é exaustivo e faz com quem ele leve trabalho para casa. “Chego em casa, tiro os sapatos, tomo ba- nho, ligo o computador e continuo trabalhando. O tempo é muito curto, 24 horas por dia é muito pouco”, conta. A campanha de Dilma contou com um insti- tuto que fornecia pesquisas exclusivas sobre o desempenho da candidata no Estado. “A gente acompanhava DataFolha e Ibope, mas a refe- Como funcionou a estrutura de comunicação do estado que teve grande papel na reeleição de Dilma Rousseff Dilma venceu em sete regiões e Aécio em três no 2º turno Fonte: folha.com rência para nós era a pesquisa da Vox Populi”, assegura o coordenador de comunicação, di- zendo que os resultados auxiliavam nas deci- ções de ações da candidata e na sua atuação nos programas eleitorais. “Nós tivemos pesquisas regionalizadas, para cada uma das regiões mais importantes de Mi- nas”, explica Paulo, dizendo que a diferença de porcentagem entre as pesquisas dos institutos se deve pela metodologia utilizada por cada um. Enquanto as pesquisas Ibope e DataFolha eram realizadas semanalmente, as da Vox eram feitas todos os dias. “O importante era ver a curva do gráfico, se estava estabilizado, subindo ou des- cendo, pois ali mostrava uma tendência”, afirma. As ações regionalizadas da campanha pare- cem ter dado certo. No segundo turno, enquan- to o candidato Aécio Neves (PSDB) ganhou em Belo Horizonte e no Sul de Minas, a petista ven- ceu no Triângulo Mineiro e em cidades médias importantes, como Juiz de Fora, assim como na região mais carente do Estado, o Vale do Jequi- tinhonha. Durante a campanha, além de ações na capital, ela visitou Contagem, Uberaba e Ri- beirão das Neves.

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A estrAtégiA em cAmpAnhA

O segundo andar de um prédio na Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, foi o reduto onde cerca de 20 pessoas trabalharam na campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) em Minas Gerais. “A nossa estrutura é pequena. A única coisa grande aqui é o espaço, porque a gente ganhou da campanha do Pimentel. A equi-pe dele nos cedeu esse andar, mas a nossa es-trutura poderia funcionar num lugar bem menor”, diz o jornalista Paulo Camargos, que trabalhou como coordenador de comunicação da campa-nha no Estado.

Segundo Camargos, que também atuou como assessor de imprensa na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 2006, co-ordenar algo tão amplo, como a comunicação é exaustivo e faz com quem ele leve trabalho para casa. “Chego em casa, tiro os sapatos, tomo ba-nho, ligo o computador e continuo trabalhando. O tempo é muito curto, 24 horas por dia é muito pouco”, conta.

A campanha de Dilma contou com um insti-tuto que fornecia pesquisas exclusivas sobre o desempenho da candidata no Estado. “A gente acompanhava DataFolha e Ibope, mas a refe-

Como funcionou a estrutura de comunicação do estado que teve grande papel na reeleição de Dilma Rousseff

Dilma venceu em sete regiões e Aécio em três no 2º turno

Font

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com

rência para nós era a pesquisa da Vox Populi”, assegura o coordenador de comunicação, di-zendo que os resultados auxiliavam nas deci-ções de ações da candidata e na sua atuação nos programas eleitorais.

“Nós tivemos pesquisas regionalizadas, para cada uma das regiões mais importantes de Mi-nas”, explica Paulo, dizendo que a diferença de porcentagem entre as pesquisas dos institutos se deve pela metodologia utilizada por cada um. Enquanto as pesquisas Ibope e DataFolha eram realizadas semanalmente, as da Vox eram feitas todos os dias. “O importante era ver a curva do gráfico, se estava estabilizado, subindo ou des-cendo, pois ali mostrava uma tendência”, afirma.

As ações regionalizadas da campanha pare-cem ter dado certo. No segundo turno, enquan-to o candidato Aécio Neves (PSDB) ganhou em Belo Horizonte e no Sul de Minas, a petista ven-ceu no Triângulo Mineiro e em cidades médias importantes, como Juiz de Fora, assim como na região mais carente do Estado, o Vale do Jequi-tinhonha. Durante a campanha, além de ações na capital, ela visitou Contagem, Uberaba e Ri-beirão das Neves.

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A cArênciA de mAteriAl de cAmpAnhA

Uma das partes mais importantes na disputa das eleições é a distribuição de materiais de campanha. Camargos explica como essa divisão foi feita em Minas Gerais. “O material produzido era encaminhado para cada coordenação regional, que por sua vez, se encarregava da distribuição na sua região”, diz.

O que chama a atenção é que mesmo com o teto de limite de gastos de 383 milhões de re-ais para a campanha presidencial de Dilma, a quantia não foi suficiente para comprar a quanti-dade de material que eles julgavam necessária. Com isso, de acordo com Camargos, a falta de recurso fez com que o dinheiro fosse destinado aquilo que era mais importante no momento. Ele explica que o que definiu a distribuição de ver-ba para cada estado foi a importância dele entre as pretenções da candidata. “Mesmo com essa divisão, o recurso acabou sendo pouco, né? A gente faz uns dez milhões de folders, mas preci-saríamos de fazer 30”, afirma.

Durante as eleições, a cobertura da imprensa sobre a Dilma não foi favorável. De acordo com o Manchetômetro, um website da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) de acompanhamento da cobertura midiática das eleições dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo e do programa de notícias Jornal Nacional, Dilma obteve mais manchetes contrárias do que todos os outros candidatos juntos. “Felizmente o nível de influência desses meios de comu-nicação estão caindo muito. O nível de descredito deles é tão alto que quem lê, já sabe em quem vai votar”, afirma Camargos.

Em Minas Gerais, lidar com a imprensa também era responsabilidade de Paulo Camargos, onde ele afirma que era bem fácil. “Eles me conhecem, tinham meus contatos e me procuravam quando precisavam. Eu também procurava quando eu tinha informação importante para passar. Era bem tranquilo, uma via de mão dupla que fluia bem”, diz.

Apesar dessa proximidade com os profissionais da imprensa mineira, ele reco-nhece que não havia estratégias para lidar com os veículos que não eram a favor da presidente reeleita. “Não tinha como enfrentar essa imprensa grande que elegeu a Dilma como adversária dela. A gente passava informação verdadeira, conversava com jornalistas, mas não tinha como fazer muita coisa”, conta.

Lidando com a imprensa

Mesmo com teto de limite de gastos de 383 milhões, não foram produzidos materiais suficientes

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Utilizar uma maneira alternativa e barata para chegar às pessoas foi a solução encontrada pela campa-nha. Com isso, a internet recebeu uma atenção especial. “A gente teve que buscar outras formas de fazer a informação chegar à população. As redes sociais foram importantes para fazer as notícias chegarem prin-cipalmente aos jovens”, diz Camargos. Além do site oficial dinâmico, foi reativada, ainda em 2013, a conta na rede social Twitter que a presidente usava na campanha para as eleições de 2010, interagindo de forma bem humorada com um perfil satírico seu que possuía na época mais de 145 mil seguidores.

A página do Facebook que existe desde 2011, mas recebia postagens esporádicas, passou a ser atu-alizada pelo menos duas vezes ao dia com fotos da presidente durante a campanha, memes, vídeos ex-clusivos e até criação de eventos como “#Dia26EuVotoDilma13, local: Em sua seção eleitoral”. A conta no Instagram criada neste ano, recebeu conteúdos exclusivos da mesma forma que o Facebook.

Mas o destaque foi o site Muda Mais, que, de acordo com o PT, foi criado pela militância em apoio à candidatura da presidente. “A internet é o meio mais democrático e criativo de fazer o de-bate politico eleitoral. É o canal de comunicação que quebrou o monólogo da grande mídia, per-mitindo a milhares de pessoas que levantassem suas vozes e opiniões, antes abafadas”, diz a descrição do portal. O site compartilhava conte-údo para blogs e redes sociais, além de atacar adversários. A polêmica em torno da página na internet foi tanta, que a candidata Marina Silva (PSB) entrou com liminar, sem sucesso, no Tribu-nal Superior Eleitoral para retirá-la do ar.

Além disso, o Muda Mais criou contas na pla-taforma de mensagens instantâneas para smar-tphones, WhatsApp, buscando interagir com as pessoas. Os perfis, criados para cada região do país, compartilhavam conteúdos segmentados. “Eu ainda não sabia em quem iria votar quando comecei a receber as informações via WhatsApp. Mas logo percebi que o mecanismo funcionava bem: eu recebia em meu celular os conteúdos antes de serem publicados no Twitter e Facebook”, diz Aline Coelho, estudante que solicitou obter as mensagens virtuais.

obtendo AlternAtivAs

Qual o salário de um jornalista que trabalhou na campanha de Dilma?

A remuneração varia conforme o cargo do pro-fissional. Um jornalista júnior recebeu cerca de dois mil reais. Já o salário de Camargos, como coordenador da comunicação em Minas Gerais, foi por volta de 12 mil reais.

Jornalistas que atuaram no comitê central, em Brasília, chegaram a receber 20 mil reais por seus serviços.

Alguns conteúdos que eram compartilhados via WhatsApp pelo perfil Muda Mais Sudeste

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Por

que

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Dilm

a?Vanessa Campos era uma das jornalistas que

possuía em sua roupa o pin com a letra D perso-nalizada que dava acesso direto a presidente. Tra-balhando na comunicação do comitê central em Brasília, ela conta que dividiu espaço com mais de 20 jornalistas com funções, que entre as principais foram, criadores de conteúdo para site e redes so-ciais, relacionamento com a imprensa e organiza-ção de viagens e eventos.

O jornalista Carlos Eduardo Cândido explicou como era a sua rotina de precussor de campanha. “Quando a articulação política decide fazer algum evento, três ou quatro dias antes vamos o local definir o espaço, como será o palco e o creden-ciamento da imprensa, por exemplo. Eu começo a semana em São Paulo, vou para Belém, depois para o Rio e agora estou em Minas Gerais, tudo isso em menos de uma semana”, disse.

“Por conta do desafio mesmo. Eu já trabalhei em rádio, televisão, impres-so, assessoria de imprensa, mas nun-ca tinha feito campanha, ainda mais presidencial, que é uma experiência incrível. Além disso, financeiramente falando é muito bom. Não sei e não me importa o que eu vou fazer depois que a campanha acabar.”

Carlos Eduardo CândidoJornalista da precussoria do comitê de Brasília

“Fui convidado para trabalhar aqui por uma série de motivos: afinidade política, afinidade pessoal... Eu tra-balhei nas campanhas do Lula. O fato de me empenhar pela reeleição da Dilma é um projeto com o qual eu me identifico.”

Paulo CamargosJornalista coordenador do setor

de comunicação da campanha em Minas Gerais