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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA CLÍNICA E INSTITUIÇÃO DOC.: PROF A DR A FERNANDA CANDIDO DISCENTES: ADRIANY CORREA BRUNNA CARVALHO KEYLA NUNES MARCUS LOPES TENYLLE NOLASCO WIVIANE ALMEIDA ENSAIO SOBRE A MEDICALIZAÇÃO O discurso médico esta patenteado no conceito popular como sendo o representante das ciências da saúde. O olhar para a doença e nas práticas de dissolução e resolução desta estão presentes nele e é uma das principais características desse discurso, que ao focar seu olhar no funcionamento do corpo e seu desenvolvimento esquece o sujeito que está a sua frente. A medicalização é a ideologização desse olhar, e é esse movimento que pretendemos estudar por este trabalho, relacionando artigos acadêmicos que descrevam esse tipo de atuação e algumas produções artísticas que discutem esses

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOINSTITUTO DE EDUCAODEPARTAMENTO DE PSICOLOGIADISCIPLINA: TPICOS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA CLNICA E INSTITUIODOC.: PROFA DRA FERNANDA CANDIDODISCENTES: ADRIANY CORREABRUNNA CARVALHOKEYLA NUNESMARCUS LOPESTENYLLE NOLASCO WIVIANE ALMEIDA

ENSAIO SOBRE A MEDICALIZAO

O discurso mdico esta patenteado no conceito popular como sendo o representante das cincias da sade. O olhar para a doena e nas prticas de dissoluo e resoluo desta esto presentes nele e uma das principais caractersticas desse discurso, que ao focar seu olhar no funcionamento do corpo e seu desenvolvimento esquece o sujeito que est a sua frente. A medicalizao a ideologizao desse olhar, e esse movimento que pretendemos estudar por este trabalho, relacionando artigos acadmicos que descrevam esse tipo de atuao e algumas produes artsticas que discutem esses Este trabalho possui como tema a reflexo referente a questo dos diagnsticos e do uso da medicao na manuteno de corpos dceis. Ir adentrar na medicalizao e seus efeitos na atualidade, uma vez que a problemtica merece destaque. possvel afirmar que as medicaes tem causado o embotamento dos sentimentos, uma vez que esse sujeito tem um sofrimento e no lida diretamente com isso, o medicamento vem como uma tentativa de correo biolgica de algo que possa ser da ordem das emoes, desta forma, privando assim esse sujeito de se expressar, o que o enquadra dentro de um ideal de homem que no se ocupa de si, que est inserido em um sistema onde o ocupar-se de si perda de tempo, e o mais importante que este sujeito seja produtivo. Onde este se priva das relaes e de sua capacidade reflexiva. Esse processo segue a passos largos, e simultaneamente programas de difuso e tratamento do TDAH vem se desenvolvendo, ressaltando a Hiperatividade como doena que precisa de remdio. Apoiados na teoria de que a doena mental causada por um desequilbrio qumico no crebro, o tratamento das doenas mentais pelos psiquiatras quase sempre implica no uso de medicamentos que afetam o estado mental. Com a entrada dos psicotrpicos na dcada de 50 os psiquiatras ento passaram a se referir como psicofarmacologistas, a medicina comeou a se interessar cada vez menos pela histria do paciente se preocupando em eliminar ou reduzir os sintomas atravs de medicamentos que alteram a funo cerebral. Assim os mdicos no apenas passam a no conhecer melhor os seus pacientes como tambm gastam pouco tempo com eles no consultrio prescrevendo o remdio certo para aquela determinada doena que o paciente se enquadrou.Podendo prescrever receitas e aderindo ao modelo biolgico da causa da doena mental e o uso de psicotrpicos para trat-las, a Psiquiatria tem sido o ramo da medicina mais atraente para a indstria farmacutica, pois, o tratamento que os psiquiatras impem aos pacientes, basicamente aliados aos psicotrpicos, rende milhes para a indstria farmacutica atravs da venda de remdios. As intenes das indstrias farmacuticas afetam a prtica de prescrio.O que estaria por trs do sucesso dos medicamentos, alm, claro, das estratgias de marketing do laboratrio fabricante, simplesmente a natureza humana. As pessoas naturalmente tendem a buscar solues rpidas e aparentemente fceis, ainda que o preo a mdio e longo prazo seja alto. da natureza humana tambm o mecanismo de fuga. As pessoas optam por usar um psicotrpico, quando esto ansiosas e perceptivelmente alteradas no equilbrio psicoemocional, para fugir de entrar em contato com o problema real, tentando resolver suas dificuldades com estratgias de esquiva. Afinal, reconhecer falhas de percurso, equvocos, limitaes e entrar em contato com a prpria sombra tarefa que exige coragem e empenho na direo do autoconhecimento.Podemos compreender como uma forma de dominao desse corpo, a apresentao que o filme 1984 expe, na qual as verdades impostas pelo grande irmo os impedem de serem sujeitos reflexivos. Hoje quem ocupa amplamente este lugar a cincia, onde cada vez mais a medicina medicamentosa vem ganhando contornos ditatoriais de como os sujeitos devem ser, e as formas de limitar esse sujeito.Seguindo essa lgica, utilizamos do filme Side Effects (2013), traduzido no Brasil como Terapia de Risco, para exemplificar a crtica feita sobre relao lucrativa entre a indstria farmacutica e a classe mdica citada. Como todo filme que busca apreender o pblico, o enredo possui partes completamente distintas para que o espectador fique preso do comeo ao fim. Porm o que merece destaque na temtica posta em questo a primeira trama a ser tratada. A personagem Emily Taylor (Rooney Mara), uma jovem secretria que espera a sada de seu marido da priso, apresenta sintomas de depresso desde o incio. Emily que deveria se mostrar feliz com a volta do marido, tenta um suicdio batendo um carro contra a parede e acorda em um hospital, onde entra o personagem psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law). A partir desse momento, o filme relata sobre os sintomas da depresso e como acontece o vnculo entre a classe psiquitrica e o sistema farmacutico. Dr. Banks considerado um psiquiatra renomado, mas que como muitos mdicos, possuem vnculos lucrativos com o mercado farmacolgico, ou seja, receita para seus pacientes remdios novos no mercado para serem testados gratuitamente. No filme exibido diversas cenas que podem constatar essa realidade: como cartazes e propagandas tendenciosas da indstria farmacutica (ferramenta utilizada para propagar o marketing do medicamento do qual o psiquiatra receita a Emilly), h um site e uma propaganda falsa que pode ser encontrada na internet (os quais os produtores do filme criaram e disponibilizaram como crtica a essa indstria), tambm h cenas que exemplificam o que citado no texto de Marcia Angell, quando ela diz que choveram presentes, amostras grtis, contratos de consultores e palestrantes, refeies [...] (entre outras coisas que os laboratrios farmacuticos fornecem a essa classe mdica), cenas de almoos entre psiquiatras e representantes de laboratrios, oferta de dinheiro para estudos com remdios testados gratuitamente pelos pacientes, etc. No momento crtico em que a personagem mata seu marido supostamente dormindo, pois um dos efeitos colaterais de seu remdio o sonambulismo, o filme toma outro rumo e ganha um carter de thriller criminal e psicolgico.O que lamentavelmente no divulgado, que as pesquisas realizadas so financiadas pelas indstrias farmacuticas que fabricam tais medicamentos, seguido do jogo de interesses e consequentemente o exagero dos diagnsticos. Outra cena que merece destaque no filme a que aponta a problemtica da adio de outras drogas psicoativas para que sejam tratados os efeitos colaterais do primeiro medicamento prescrito. A soluo dada adicionar mais medicamentos ao tratamento, inserir na criana ou em qualquer indivduo diagnsticos para arranjar motivos da medicalizao, e consequentemente no buscar alternativas s drogas psicoativas.Outra referncia artstica que podemos utilizar para a discusso da medicalizao o livro O Alienista de Machado de Assis. Publicado em 1882, a obra muito atual quando traz consigo algumas contradies do discurso mdico de seu tempo que continuam presentes na atualidade. O personagem principal um mdico que se prope a estudar a loucura, ele uma caricatura do pragmatismo e do pensamento positivista, tal qual o Cavaleiro Inexistente de Italo Calvino. Ele primeiro recolhe todas as pessoas que de alguma forma fogem dos padres positivos de comportamento: uma pessoa calma, sensata, que utiliza apenas a razo em suas escolhas e moralmente reto e integro. Nisto ele encarcera quatro quintos da cidade em seu manicmio. Depois de polmicas, revoltar e insurreies ele decide liberar a todos porque percebe que na verdade os loucos so o contrrio daquilo que ele tinha proposto, ou seja, a loucura residia em ser uma pessoa extremamente racional e moralmente integra. Agora, escolhendo com cuidado e estudando cada pessoa a ser submetida a seus mtodos de cura da loucura, leva apenas alguns a sua Casa Verde, lugar no qual mantem os loucos. Estes so submetidos a diversos mtodos de cura da loucura, que no caso consistia em tornar as pessoas irracionais, emocionais e corruptas de novo. Ao fim do experimento ele se pergunta quanto a validade do mesmo, afinal, todos foram curados pelos mtodos que ele empregara ou ele apenas evidenciou algo que estava latente? Ele chega a concluso de que todos possuem essa irracionalidade, essa emocionalidade e essa corrupo dentro de si. Acaba preso por si mesmo, por identificar ser ele o nico integro, racional e modesto da cidade.O que esse conto nos mostra a lgica a qual a medicina h muito tem sido direcionada. A medicina enquanto uma cincia positiva, esttica e racional, no consegue olhar para a pluralidade de contextos e a riqueza da vida humana, se perde em seus absolutos e universais se esquecendo do carter, tambm, particular de nossa existncia. Ao resumir a vida humana a meras ligaes sinpticas, resume-se tambm as histrias as quais fizeram essas ligaes. Quando Simo Bacamarte, o mdico do conto em questo, entende que todos somos de alguma forma loucos e de outra normais, entende que a vida vai muito alm da busca pragmtica pela cincia e tambm da moralidade exacerbada, a qual julga a tudo e a todos de maneira arbitrria. Por fim, entende que o louco ele, que no consegue ir alm do que racional. As pessoas queixam-se, no totalmente sem razo, de que a alternativa divulgada, as psicoterapias, so caras. Mas na maioria dos casos isso apenas uma desculpa, porque, atualmente, nas grandes cidades as faculdades de Psicologia e as escolas de especializao em psicologia clnica oferecem psicoterapias a preos simblicos, nos centros de formao de psiclogos, podendo isso ser a sada para quem no tem dinheiro. Os convnios mdicos ajudam pouco nessa necessidade, como por exemplo limitar nmero de sesses e pagar valores pouco atrativos aos profissionais. O que nos indica que a psicologia busca a manuteno do seu papel nesse contexto conturbado que a medicina apresenta.Durante muito tempo a psicologia corroborou para essa viso de que a medicalizao poderia sim, ser uma sada, e este posicionamento ainda se mantm presente no senso comum em nossa populao, no entanto a batalha travada na luta antimanicomial vem se ampliando e dando voz a esses sujeitos que a muito veem sendo embotados, porm nos esbarramos nesse discurso mdico cientfico que to divulgado pela mdia, que a todo momento anuncia novas drogas par novos transtornos.A autora traz ento a grande preocupao com o aumento de crianas cada vez mais novas que so diagnosticadas com algum transtorno ou doena mental, e que desde pequenas fazem uso abusivos de medicamentos psicoativos. Falta consenso tambm entre pais e educadores, na identificao da criana como hiperativa e desatenta, comportamentos detectados erroneamente que podem ser reflexo do despreparo psicopedaggico, dos fatores psicossociais, ou quando o contexto de desenvolvimento o qual a criana est inserida est comprometido, ou seja, ambiente com incidncia de alcoolismo, depresso materna, compromete a qualidade do processo socializante. A prova disso o DSM que a cada nova reviso aumenta o nmero de transtornos, movimento esse que faz com que todos ns em algum momento de nossas vidas sejamos diagnosticados com alguma doena mental. O que nos leva a refletir se realmente somos uma populao em adoecimento, ou uma populao onde qualquer comportamento se transformou em doena? possvel afirmar que nos enquadramos melhor na segunda opo, uma vez que a humanidade no deixou de evoluir ao longo das eras, apesar de o nmero de doenas s terem aumentado, na realidade o que aumentou mesmo, foram os estigmas, o que nos leva a crer que temos ento uma populao com diversos rtulos a serem utilizados.Responsvel pela elaborao do DSM(Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais), a Psiquiatria, aliada indstria farmacutica, pode criar novas classificaes de transtornos mentais, ampliando os critrios para diagnosticar uma doena mental e apontando o melhor medicamento para trat-la. Podem assim, diagnosticar transtornos mentais com mais frequncia j que, sintomas antes considerados como normais, podem vir a ser considerados patolgicos, se enquadrando como sintomas de transtornos mentais na atualidade e com isso, receitando cada vez mais o uso de drogas psicoativas e enriquecendo a indstria farmacutica. Desta forma, a manipulao da indstria farmacutica aliada psiquiatria passa a determinar o que doena mental e o que no e a melhor forma para o tratamento, aumentando desta maneira a venda de medicamentos, impulsionando o uso indiscriminado de drogas psicoativas.O que percebemos, que as crianas irritadas, desatentas e ansiosas h algumas dcadas, era uma caracterstica peculiar fase. No h espao para exaltao e excitao, hoje esto sendo rotuladas, vtimas dos efeitos colaterais devastadores dos medicamentos para conter comportamentos normais, como tambm vtimas dos interesses generalizados. necessrio trazer tona os benefcios dos exerccios fsicos aliados psicoterapia. Incentivar pesquisas que tragam alternativas que substitua a medicalizao, ressaltando dos efeitos futuros da dependncia qumica. Deve-se abrir uma discusso possibilitando a reduo de danos e incentivar as famlias a atentarem na percepo dos sintomas, os quais podem ser reflexos do contexto, dos cuidados dispensados s informaes para que diminua a vulnerabilidade aos diagnsticos, ou relacionados omisso dos conflitos familiares.Desta forma podemos concluir que no se pode negar a existncia de uma tendncia generalizada para a medicalizao, em detrimento de aes mais saudveis. Inclusive sem que haja os necessrios esclarecimentos acerca dos riscos e das complicaes que o uso de remdios podem trazer. Como tambm no esclarecido que remdios tratam dos sintomas e nunca das causas. Amenizar a dor em momento de crise compreensvel e, s vezes, at necessrio. Entretanto, um dos grandes problemas, tambm, est em prescrever remdios indicados ao manejo de crises para uso contnuo, sem os necessrios esclarecimentos em torno dos riscos e das reais possibilidades de ajuda do remdio.Seria mais plausvel, alm de eticamente correto, informar ao paciente de que muitas perturbaes emocionais e mentais no podem ser curadas com medicao, mas com exaustiva anlise de todo o contexto ao qual o sujeito est inserido, uma vez que em algumas situaes uma doena que no doena ou um doente que no doente tratado ou diagnosticado como tal mesmo no se enquadrando, de maneira que os sintomas apresentados possam ser apenas respostas naturais de todo um conjunto que todos os sujeitos enfrentam. Assim, quando esses problemas se sobrecarregam, o sujeito teria a necessidade de um auxilio psicolgico, sem interveno mdica ou prescries de receitas... mas sim, acompanhamento para auxilia-lo nas dificuldades que so apresentadas como algum tipo de sofrimento ou angstia.

Referncias:1984. Direo de Michael Radford. Produo de Simon Perry. Roteiro: Michael Radford. Msica: Dominic Muldowney. [s.i]: Umbrella-rosenblum Films Production, 1984. (113 min.), son., color. Legendado. TERAPIA DE RISCO. Direo de Steven Soderbergh. Produo de Lorenzo di ,gregory Jacobs, Scott Z. Burns. Roteiro: Scott Z. Burns. Msica: Thomas Newman. [s.i]: Endgame Entertainment, Filmnation Entertainment, di Bonaventura Pictures, 2013. (106 min.), DVD, son., color. Legendado.ANGELL, Marcia. A epidemia de doena mental. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 10 Dez 2014.ASSIS, Machado de. O Alienista. So Paulo: Ciranda Cultural, 2009. 64 p