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ENSAIO DE TENSÃO INDUZIDA A PARTIR DO ACIONAMENTO DE UM MOTOR DE
INDUÇÃO DE ROTOR BOBINADO
Antônio José Faria Barbosa Júnior
Orientador: Prof. Dr. Ângelo José Junqueira Rezek Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE)
Resumo - Este artigo trata-se da construção de um
gerador de tensão 120[Hz] utilizando-se um conversor
rotativo de rotor bobinado com o eixo sendo girado
em sentido oposto ao campo girante do estator acio-
nado por um Motor de Corrente Contínua. Este ar-
ranjo será utilizado para o ensaio de tensão induzida
em transformadores, onde normalmente são necessá-
rias máquinas especiais, sendo assim, o projeto des-
crito é uma solução mais viável economicamente.
Palavras-Chave: Ensaio de tensão induzida, Gerador
[120Hz], Motor de Indução.
I – INTRODUÇÃO
Todo componente ligado à rede elétrica poderá, em certo
momento, ficar exposto à sobretensões. Em se tratando de
transformadores, isso pode gerar acidentes graves se o
equipamento estiver em condições precárias.
Os problemas causados pelas sobretensões, em sua maio-
ria, ocorrem por falha no isolamento da máquina. Em
transformadores em funcionamento, existem as tensões
entre as bobinas de alta e baixa, entre esses enrolamentos
e as partes de metal aterradas e também entre espiras no
mesmo enrolamento. Dito isso, é possível perceber o
quão propício a esse tipo de falha é o equipamento e a
importância do estudo e detecção de possíveis problemas.
São conhecidos três métodos para averiguar o estado do
isolamento em transformadores, sendo: medição da resis-
tência de isolamento, teste de tensão aplicada e ensaio de
tensão induzida[1]. Os dois primeiros tem a finalidade de
verificar o isolamento entre os enrolamentos de alta e
baixa e entre ambos e as partes metálicas, já o último
consegue verificar o isolamento entre espiras do mesmo
enrolamento.
O ensaio de tensão induzida em transformadores é visto
como ensaio de rotina, usado para averiguar o isolamento
entre espiras dos transformadores com tensões nominais
menores que 75[KV], porém para a realização do teste é
preciso aplicar uma tensão com o dobro da amplitude e
até duas vezes a frequência nominal do transformador, no
lado de baixa tensão, ou seja: 120 [Hz], aí que entra o
problema de se conseguir essa tensão e a ideia desse Tra-
balho Final de Graduação
A solução encontrada foi de acionar um Motor de Indu-
ção de rotor bobinado, com frequência nominal 60 [Hz],
através de um Motor de Corrente Contínua de tal forma
que o campo da armadura do conversor, acionado exter-
namente, gira em um sentido e seu eixo gira no sentido
oposto com rotação de 1800 [rpm]. Dessa forma, será
obtido tensão com frequência e amplitude variáveis na
saída do MIT, no presente ensaio foi escolhido 120 [Hz].
II – REFERENCIAL TEÓRICO
Serão introduzidos alguns conceitos sobre os principais
equipamentos utilizados para o melhor entendimento do
arranjo elaborado.
II.1 – Máquina CA de Rotor Bobinado
As Máquinas CA Assíncronas, também chamadas de
Máquinas de Indução, funcionam a partir do princípio da
indução eletromagnética de energia, onde bobinas colo-
cadas no estator são alimentadas por um sistema trifásico
de tensões e correntes, criando um sistema trifásico de
campos magnéticos variantes no tempo que induz no ro-
tor e faz circular corrente e polariza-os, como nos trans-
formadores. É sabido que o funcionamento descrito diz
respeito à operação como motor e que o inverso, opera-
ção como gerador, também é possível e desejável no pre-
sente ensaio.
As máquinas de Indução são classificadas em dois tipos
diferenciando-se em relação à construção do rotor, sendo
estes: rotor bobinado e rotor gaiola de esquilo.
O rotor gaiola de esquilo consiste em barras condutoras
encaixadas em ranhuras no ferro do rotor e curto-
circuitadas por anéis condutores.
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
NOVEMBRO/2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
ENGENHARIA ELÉTRICA
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Já o rotor bobinado possui bobinas como as do estator e
com o mesmo número de polos. Os terminais desses en-
rolamentos são conectados a anéis deslizantes montados
sobre o eixo. Escovas de carvão apoiadas sobre esses
anéis permitem que os terminais do rotor tornem-se aces-
síveis externamente ao motor [2]. As figuras 1 e 2 mos-
tram, respectivamente, o rotor gaiola de esquilo e o rotor
bobinado.
Fig.1 – Rotor Gaiola de Esquilo.
Fig.2 – Rotor Bobinado.
A diferença de velocidade do campo girante produzido
pelo estator e a do rotor é chamada de escorregamento e
influencia a frequência da tensão do rotor dado pela
equação (1):
𝑓𝑅𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝑠 ∗ 𝑓𝑒𝑠𝑡𝑎𝑡𝑜𝑟 [𝐻𝑧] (1)
Onde:
- s: escorregamento;
- 𝑓𝑒𝑠𝑡𝑎𝑡𝑜𝑟: frequência do campo girante do estator;
- 𝑓𝑅𝑜𝑡𝑜𝑟: frequência do campo girante do rotor.
II.2 – Máquina de Corrente Contínua
Os motores de corrente contínua são muito usados em
indústrias, principalmente em acionamentos onde é ne-
cessário controle preciso de velocidade de rotação. Devi-
do à sua simplicidade e facilidade de controle de veloci-
dade, este foi escolhido para o acionamento da Máquina
CA.
Como o motor CA, a máquina CC pode ser dividida em
duas partes distintas: o estator (parte fixa) e o rotor (parte
móvel).
Quanto à parte fixa, trata-se de bobinas percorridas pela
corrente contínua de campo ou estatórica, que passam a
se comportar como eletroímãs de polaridade fixa. Ao
fixá-las nas peças polares, surge então, os polos magnéti-
cos e o campo magnético principal.
Já na parte girante, corrente contínua passa das escovas
para o comutador e por sua vez para as bobinas no rotor
para que estas fiquem polarizadas e haja atração e repul-
são entre os polos opostos e iguais do campo do estator.
A ação dos comutadores é de extrema importância para o
funcionamento da máquina. Pois, sem eles, ao completar
meia volta os polos da armadura e de campo iriam se
atrair e tender a ficar estáticos, a eficiência no chavea-
mento das bobinas no comutador é fundamental para que
o momento de inércia no eixo seja mantido e o motor
funcione constantemente.
II.3 – Excitação da Máquina de Corrente Contínua
Quanto à excitação do campo da máquina, temos os tipos
excitação independente e auto-excitado.
No primeiro caso, como o nome já diz, a excitação da
bobina de campo é feita a partir de uma fonte indepen-
dente da que está sendo usada na armadura. Esta configu-
ração é bastante utilizada devido aos variados métodos de
controle de velocidade
Já os motores auto-excitados podem apresentar configu-
ração série, shunt ou composta:
- Excitação Série: nesta configuração, as bobinas de cam-
po estão ligadas em série com o enrolamento de armadu-
ra, ambos possuem fios grossos para facilitar a passagem
de corrente. Esta corrente alta garante ao motor alto con-
jugado de partida o que justifica sua grande aplicação na
área de tração elétrica, como bondes e trens.
- Excitação Shunt: também chamada de excitação em
paralelo, o conjunto de bobinas de campo fica em parale-
lo com o de armadura. Neste caso, o enrolamento de
campo possui fio fino e várias espiras, já que a alta cor-
rente que aparece em operação em plena carga irá para o
enrolamento de armadura. Esta configuração possui pou-
ca variação da velocidade em relação à variação de carga.
- Excitação Composta: basicamente a junção dos dois
métodos anteriores, a bobina série pode auxiliar ou se
opor à parte paralela do enrolamento de campo. Esta con-
figuração possui torque de partida maior que a configura-
ção paralela e melhor controle de velocidade quando
comparado à excitação série.
As imagens representativas dos acionamentos encontram-
se no Anexo A da seção Anexo.
No presente trabalho foi usada a excitação shunt devido à
sua facilidade em manter a velocidade constante o que é
fundamental para o projeto.
II.4 – Ensaio de Tensão Induzida
Segundo a Norma ABNT NBR 5356-3: 2007 página 6 [3]
o ensaio de tensão induzida em transformadores é visto
como ensaio de rotina, usado para averiguar o isolamento
entre espiras dos transformadores com tensões nominais
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menores que 75[KV], como mostrado na tabela 1, a se-
guir:
Tabela.1 – Requisitos para os ensaios dielétricos
(ABNT 5356-3.2007, p. 05).
Para a realização do ensaio utiliza-se o transformador à
vazio e aplica-se uma tensão igual ao dobro da nominal,
nos terminais de baixa, durante um tempo de 7200 ciclos.
No lado da alta tensão, onde é exigido mais do dielétrico,
também aparecerá um potencial duplo entre espiras. Des-
sa forma, dentro do tempo especificado, se houverem
problemas com o transformador, este será identificado,
seja na forma de bolhas, fumaça, barulho, etc...
A Fig. 3 ilustra a tensão entre espiras:
Fig.3 – Potencial entre espiras.
Um importante ponto a ser observado nesse ensaio é que
a corrente de excitação não pode exceder 30% do valor
da corrente nominal, pois um alto valor de corrente refle-
te em aumento de temperatura e possíveis danos ao iso-
lamento.
A equação (2) a seguir mostra a forma simplificada da
tensão induzida
𝑉 = 𝑘 ∗ 𝐵 ∗ 𝑓 [𝑉] (2)
Onde:
- V: tensão induzida;
- k: constante;
- B: campo magnético induzido.
Ao tentar obter a tensão dobrada apenas aumentando a
indução magnética e mantendo a frequência constante,
levando em conta ainda a saturação do material, a corren-
te necessária ultrapassaria muito o limite, como mostrado
na Fig.3, a seguir:
Fig.4 –Gráfico de Campo Magnético x I de excitação.
A solução para esse problema é aumentar a frequência.
Nota-se que em casos onde a frequência é dobrada, a cor-
rente de excitação permanece a mesma do funcionamento
nominal.
Também, no caso da frequência f = 120 [Hz], o período
do teste de 7200 ciclos é igual a 1 minuto.
III – METODOLOGIA
A primeira ideia para a obtenção do sinal com a frequên-
cia desejada para o teste de tensão induzida foi apresenta-
da pelo ex-aluno de Engenharia Elétrica Lucas Roman,
em seu Trabalho Final de Graduação [5] apresentado em
Novembro de 2015.
Neste arranjo, o ex-aluno excitava o campo do estator
com tensões trifásicas equilibradas com o intuito de indu-
zir corrente nas bobinas do rotor. Este, por sua vez, era
acionado por um MCC no sentido oposto ao campo, fa-
zendo com que através dessa diferença, também chamada
de escorregamento, a tensão gerada nas bobinas rotóricas
tivesse frequência duas vezes a nominal da máquina, ou
seja, 120 [Hz]. Nesse caso, o escorregamento era igual a
dois. A figura 5, a seguir, ilustra o esquema montado:
Fig.5 – Esquema realizado pelo Lucas Roman.
O esquema, apesar de abrir oportunidades para novos
estudos, era falho por excitar o MIT pelos terminais do
estator e retirar a tensão pelo rotor. Como dito anterior-
mente, o MIT funciona através de indução magnética,
como um transformador, e o utilizado apresentava relação
de transformação de dez para um (10:1), o que fez com
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que a tensão de saída tivesse amplitude muito inferior à
mínima para o ensaio no transformador. Até foi tentado o
uso de um varivolt para elevar o sinal, porém sem êxito.
A solução foi excitar o campo da armadura do MIT atra-
vés do varivolt para regular a tensão e girar o eixo do
rotor no sentido no mesmo sentido desse campo através
do MCC. Dessa forma, através da soma das velocidades
angulares, o campo produzido apenas pelo rotor já terá
120[Hz] e será induzido no estator, que é a alta da má-
quina, gerando a tensão com frequência e amplitude aptas
ao ensaio de tensão induzida. Nesse arranjo, o escorre-
gamento é 1, podendo-se comparar a máquina a um gera-
dor síncrono. A figura 6 mostra o esquema:
Fig.6 – Esquema realizado atualmente.
O Anexo B mostra a montagem à vazio feita na bancada
do laboratório primeiramente para averiguar o compor-
tamento do esquema sem carga, já o Anexo C mostra a
montagem quando o ensaio de tensão induzida foi propri-
amente feito.
No anexo é possível ver os principais equipamentos utili-
zados, sendo:
- motor de corrente contínua,
- motor de indução com rotor bobinado,
- reostato de partida e de campo,
- varivolt,
- voltímetro,
- frequencímetro,
- amperímetro,
- multímetro,
- osciloscópio,
-disjuntor.
As experiências prosseguiram da seguinte forma:
- foi usado um reostato de partida de 22[ohms] no MCC
para regular sua corrente de partida, logo após atingir
uma velocidade considerável o reostato foi curto-
circuitado.
- a velocidade necessária de 1800 [rpm], devido ao motor
ter 4 polos, foi obtida ajustando a resistência de campo e
consequentemente o fluxo de campo.
- foi então verificada a frequência no frequencímetro, em
casos onde o campo e o eixo do rotor giravam em senti-
dos opostos a frequência lida era zero, como o esperado.
- por fim, regulou-se o varivolt afim de se conseguir a
frequência e a amplitude desejadas. Quando a saída do
varivolt era muito baixa, a frequência de saída no MIT
era influenciada.
- na segunda montagem, foi colocado um disjuntor a
montante do transformador para proteção e também para
facilitar a contagem do tempo e chaveamento do proces-
so.
Vale ressaltar que na ligação feita, o MIT gera tensões até
440 [V], porém, ainda existe a ligação até 760 [V], como
indicado na Fig.7:
Fig.7 – Possíveis saídas do MIT.
IV – RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Fig.8 e Fig.9 mostram, respectivamente, a saída no
acionamento à vazio e com carga:
Fig.8 – Saída obtida no ensaio a vazio.
Fig.9 – Saída obtida no ensaio com carga
É possível perceber em ambos os casos que a frequência
e amplitude necessários para o ensaio foram obtidos. No
segundo caso, a tensão utilizada tinha 1,5 [pu] da tensão
nominal, esta foi a recomendação do orientador Ângelo
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Rezek devido à idade avançada do transformador utiliza-
do.
Nos gráficos apresentados, o sinal em amarelo é a tensão
e o verde diz respeito à corrente. É visível a distorção no
sinal do ensaio à plena carga. Isso se deve por duas ra-
zões:
- transformadores por natureza são injetores de harmôni-
cos, então já eram esperadas interferências harmônicas.
- as potências das máquinas envolvidas em questão estão
mal dimensionadas. O transformador é de potência nomi-
nal 15 [kVA], o MCC é de 2 [kW] e o MIT possui 2,25
[kW]. Ou seja, a potência do transformador é maior do
que das máquinas que estão acionando-o, o que reflete
em distorções de sinal.
Após o ensaio feito foi concluído que o transformador
não apresentava problemas na isolação entre espiras.
V – CONCLUSÃO
É possível dizer que o arranjo foi um sucesso, A tensão
de saída foi satisfatória e o ensaio no transformador foi
feito.
Além disso, o aprendizado quanto ao funcionamento das
máquinas e suas aplicações foi imenso. Não menos im-
portante vem a familiarização com o ambiente de pesqui-
sa e laboratório.
Contudo, este trabalho trata-se de uma fase de testes para
que futuramente seja implementada uma bancada na
UNIFEI com a finalidade de se fazer esse teste sempre
que necessário, isso é bom, pois mostra a real utilidade do
trabalho.
REFERÊNCIAS
[1] OLIVEIRA, José Carlos; COGO, João Roberto;
ABREU, José Policarpo G. de transformadores: teoria e
ensaios. São Paulo: Edgar Blucher, 1984.
[2] UMANS, Stephen D.
Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley / Stephen D.
Umans; tradução: Anatólio Laschuk. – 7 ed. Porto Alegre
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABNT; NBR – 5356-1, NBR 5356-3.
[4] Catálogo Siemens, “Motores de Corrente Contínua,
ed: 01.2006” Dísponível em:
https://cdn.hackaday.io/files/9127390489568/Motore
s_CC_ind1.pdf
Acesso em 04 de Novembro de 2016.
[5] Lucas Roman, “Gerador 120 [Hz] baseado em má-
quina de indução rotor bobinado, para aplicação em
ensaios de tensão induzida de transformadores”, Tra-
balho Final de Graduação, UNIFEI, 2015.
BIOGRAFIA: Antônio José Faria Barbosa Júnior Nasceu em São José dos Campos
(SP), em 1990. Estudou em São José
dos Campos, tendo recebido o título
de Técnico em Eletrônica na Escola
Técnica Professor Everardo Passos –
ETEP. Ingressou na UNIFEI em
2009 no curso de Engenharia Elétri-
ca, foi membro do projeto especial
Cheetah e-racing de Fórmula SAE de 2012 a 2014.
Anexo D – Leitura da tensão de excitação do rotor do MIT, saída do varivolt.
Anexo E – Chapa com os parâmetros do MCC