trabalho em aeroportos · 38 revista proteÇÃo abril / 2008 trabalho em aeroportos ... o pessoal...

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ABRIL / 2008 38 REVISTA PROTEÇÃO TRABALHO EM AEROPORTOS ABRIL / 2008 38 REVISTA PROTEÇÃO ARQUIVO INFRAERO Para garantir a viagem aérea de 110 milhões de pessoas e o transporte de 1,6 milhão de toneladas em carga ao ano, cerca de 30 mil trabalhadores atuam em terra: são os aeroportuários e aeroviários. Apesar da aparente modernização dos aeroportos brasileiros, por trás da fachada de shopping center, persistem diversos riscos Para garantir a viagem aérea de 110 milhões de pessoas e o transporte de 1,6 milhão de toneladas em carga ao ano, cerca de 30 mil trabalhadores atuam em terra: são os aeroportuários e aeroviários. Apesar da aparente modernização dos aeroportos brasileiros, por trás da fachada de shopping center, persistem diversos riscos

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TRABALHO EM AEROPORTOSTRABALHO EM AEROPORTOS

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Para garantir a viagem aérea de 110 milhões depessoas e o transporte de 1,6 milhão de toneladasem carga ao ano, cerca de 30 mil trabalhadoresatuam em terra: são os aeroportuários eaeroviários. Apesar da aparente modernização dosaeroportos brasileiros, por trás da fachada deshopping center, persistem diversos riscos

Para garantir a viagem aérea de 110 milhões depessoas e o transporte de 1,6 milhão de toneladasem carga ao ano, cerca de 30 mil trabalhadoresatuam em terra: são os aeroportuários eaeroviários. Apesar da aparente modernização dosaeroportos brasileiros, por trás da fachada deshopping center, persistem diversos riscos

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REVISTA PROTEÇÃO 39ABRIL / 2008 REVISTA PROTEÇÃO 39ABRIL / 2008

O acidente com o avião da Gol, em setembrode 2006, trouxe à tona a discussão sobre as con-dições de trabalho dos controladores de tráfegoaéreo que, em cascata, atingiram todos os traba-lhadores do sistema aéreo nacional. Após a di-vulgação pela imprensa de que um controladorhavia sido afastado para tratamento psicológicoe da denúncia do excesso de horas extras, o Mi-nistério Público do Trabalho (MPT) instaurou umProcesso Investigatório. “Fiz diligências em di-versos aeroportos de São Paulo, onde constata-mos muitas irregularidades. Dei várias declara-ções à imprensa chamando a atenção para a pos-sibilidade de um novo acidente já que, mesmoapós o acidente da Gol, a situação havia pioradoem vez de melhorar. A aeronáutica criou umambiente de terror. Ela queria avião voando aqualquer custo, mesmo em detrimento da segu-rança, pois precisava provar que é competentepara gerir o sistema”, conta o procurador do tra-balho Fábio Fernandes.

Especialistas de diversas áreas, que jápesquisavam os processos de trabalho do setoraéreo e conheciam os riscos ocupacionais a queaeroviários e aeroportuários estavam expostos,saíram em defesa dos trabalhadores, publicandoartigos que denunciaram o desrespeito às nor-mas internacionais de segurança aérea e, tam-bém, às Convenções da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT).

Para Fernandes, a chamada “crise aérea”, as-sim como foi a crise energética do país, é umproblema de infra-estrutura, falta de planeja-mento e de uma gestão eficiente. “O conges-tionamento dos aeroportos decorre da somadesses fatores e da inércia dos órgãos esta-tais de fiscalização - Anac e Infraero - que,numa inversão completa de valores, de-cidiram atender não aos interesses dosusuários, mas das empresas aéreas que

impuseram os paradigmas de maior lucroao menor custo possível, mesmo que em de-

trimento da segurança de passageiros e tra-balhadores”, declara.Para Roberto José Montes Heloani, doutor em

psicologia social e pesquisador da Unicamp/FGV-SP, a instabilidade do setor aéreo não é fruto deuma coisa apenas, mas pode ser atribuída à or-ganização do transporte aéreo no Brasil.

Reportagem de Cassiana de Oliveira

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ABRIL / 200840 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

Na década de setenta e início dos anosoitenta, o Brasil tinha um plano interes-sante para o complexo sistema de trans-porte aéreo. Tratava-se do Sistema Inte-grado de Transporte Aéreo Regional (Si-tar). Esse projeto tinha o objetivo de “ca-pilarizar” o país atendendo o maior núme-ro possível de municípios. Porém, os inte-resses econômicos das empresas aéreaspreponderaram com a complacência doGoverno Federal. Com isso, as empresasregionais menores desapareceram.

Hoje, menos de 150 municípios brasi-leiros são atendidos pelo transporte aéreo.Os aeroportos regionais são em númeroinsuficiente para o atendimento aos usu-ários e apenas duas companhias detém

92% do mercado nacional.Cabe destacar que o trans-

porte aéreo no Brasil é umaconcessão pública e a Cons-tituição Federal impõe aogoverno a responsabilidadede intervir nos setores estra-tégicos e de interesse geralda sociedade. Porém, exis-tem denúncias de que asaeronaves são usadas alémde seu limite operacional. Nadécada de oitenta, um avião

voava por dia, em torno de sete ou oitohoras, no máximo. Hoje, as aeronavesvoam mais de 13 horas diárias, expondotrabalhadores e usuários a maiores riscosem função de eventuais problemas me-cânicos.

Para a Federação Nacional dos Traba-lhadores em Aviação Civil (Fentac/CUT),as empresas resistem em tratar saúde esegurança como prioridade. “Sempre ale-gam que os custos de prevenção são muitoaltos. Na Convenção Coletiva de Trabalhodos Aeroviários existe a criação de umacomissão paritária sobre esse tema, masna prática, ela nunca funcionou, devido àresistência das empresas em discutir esseassunto”, comenta o presidente da Fen-

tac, Celso André Klafke, que acrescenta:“Na gestão de aeroportos, entre termosuma pista segura e um aeroporto funcio-nando a qualquer custo, a prioridade temsido colocar os aeroportos em operação”.

INSTINSTINSTINSTINSTABILIDADEABILIDADEABILIDADEABILIDADEABILIDADEO acidente com o avião da TAM, em ju-

lho de 2007, reforçou a preocupação comas condições de trabalho no setor aéreo.No artigo “Procuram-se culpados”, Rober-to Heloani pondera: “Tem ficado muito pa-tente nesses últimos anos o embeleza-mento dos aeroportos, que é de responsa-bilidade da Infraero. Ninguém nega que opassageiro que paga pela segunda maiortaxa de embarque do mundo merece con-forto e praticidade. No entanto, a infra-estrutura em terra não está adequada.Existe no Brasil um desleixo com a infra-estrutura aeronáutica. Também se procu-ra dar uma solução finalística na análisedos acidentes. Nunca se consideram ascondições de trabalho e as estruturas doequipamento”.

Para Anadergh Barbosa-Branco, douto-ra em Saúde Ocupacional e professora daUniversidade de Brasília (UnB), a instabi-lidade empregatícia no setor aéreo podeser apontada como uma das principais

Fernandes: menor custo

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Klafke: no limite

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ABRIL / 200842 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

Para garantir o direito de ir e vir da po-pulação que utiliza o transporte aéreo,cerca de 30 mil pessoas trabalham em ter-ra: são os aeroviários e aeroportuários,que compõem 90% da força de trabalhono transporte aéreo brasileiro. No final de2007, o país já contava com 11.351 aero-naves civis, que totalizaram mais de doismilhões de pousos e decolagens e 110 mi-lhões de passageiros transportados. Alémdos passageiros, outro número importan-te do setor aéreo é o da carga transporta-da: em 2007, totalizou 1,6 milhão de tone-ladas, incluindo embarque e desembarque.

Os aeroviários são responsáveis pelo a-tendimento no balcão de check-in, lojasdas companhias aéreas, manutenção, ad-ministração, operações, reservas, elabora-ção do plano de vôo e etc. Já os aeropor-tuários são os controladores de tráfego aé-reo civil ligados à Empresa Brasileira deInfra-estrutura Aeroportuária (Infraero)e os trabalhadores do sistema de navega-ção aérea, que conta com meteorologistas,profissionais de navegação aérea, opera-dores de estação aeronáutica, profissio-nais administrativos e operacionais, en-genheiros, fiscais de pátio, médicos, ad-ministradores, técnicos, trabalhadores doraio “X”, que fazem o exame e a vistoriade bagagens, entre outros.

Os aeroportos também contam commuitas empresas terceirizadas, que atuamcomo prestadoras de serviços às compa-nhias aéreas e à Infraero. São as responsá-veis pelos serviços de comissaria (refei-ções e lanches), pelo fornecimento decombustível, pela limpeza das aeronaves,

Bastidores preocupamFachada de shopping center esconde diversas situações de risco

manutenção e pela prestação de serviços“de rampa”, onde é feito o carregamentode bagagens, com tratores e escadas.Também são terceirizadas as atividadesinternas de limpeza e vigilância dos aero-portos e o transporte de passageiros dopátio de manobras até o terminal de pas-sageiros.

Atualmente, a Infraero está vinculadaao Ministério da Defesa e tem como res-ponsabilidades a administração, operação,manutenção, segurança, controle do trá-fego aéreo e armazenagem de cargas nosterminais aeroportuários. Em todo o país,a empresa administra 67 aeroportos, man-tém 10,6 mil empregados e cerca de 15mil terceiros.

Os acidentes e as doenças ocupacionaismais comuns neste setor estão relaciona-dos à forma como o trabalho é organizadoe, principalmente, aos riscos químicos, fí-sicos, biológicos, psicossociais e ergonô-micos presentes nas diversas atividades.

PPPPPAIRAIRAIRAIRAIRO principal risco ambiental para os tra-

balhadores dos aeroportos é o ruído. Parao pessoal que trabalha no pátio de mano-bras, na rampa, junto às aeronaves ou ain-da nos hangares e oficinas de manuten-ção, a exposição é constante. Para os quetrabalham nos terminais de carga (Tecas),a movimentação de empilhadeiras tam-bém torna o ambiente bastante ruidoso.

De acordo com a Fentac, a Perda Audi-tiva Induzida pelo Ruído (PAIR) é a prin-cipal doença entre os trabalhadores dosetor aéreo. Além da perda da audição, a

causas de adoecimento e afastamento en-tre estes trabalhadores. “Com os proble-mas financeiros das empresas e com achamada ‘popularização’ do transporte aé-reo veio o caos, tão bem representado noscancelamentos de vôos, overbooking, filasintermináveis e, para ajudar, os problemasgerados pela má administração do tráfegoaéreo por parte das autoridades”, avalia.

Os sindicatos representantes dos traba-lhadores comprovam a avaliação de A-nadergh. O foco atual das negociações épara manter salários em dia, garantir o pa-gamento de férias, vale-alimentação e ou-tros benefícios conquistados pela conven-ção coletiva.

Com a baixa remuneração, seja pelo nãoreconhecimento da importância da ativi-dade, seja pela defasagem salarial, boa par-te dos trabalhadores do setor aéreo, quan-do possível, têm outro emprego ou outraatividade para complementar sua renda.Essa duplicação da jornada de trabalhogera estresse e fadiga. “Com a insuficiênciade pessoal, são constantes as prorrogaçõesde jornada e o acúmulo de funções”, apon-ta o procurador Fábio Fernandes.

O pesquisador Roberto Heloani exem-plifica as duplas jornadas de trabalho des-crevendo o caso dos controladores de trá-fego aéreo: “Uma grande parcela deles étaxista. Outros, com uma condição umpouco melhor, foram fazer curso superior.Muitos são dentistas talvez porque ambasas profissões exigem grande atenção e mi-núcia. Muitos fazem cursos para serem pro-fessores de segundo grau, sendo que al-guns lecionam em escolas de aviação e ou-tros dão aulas de matemática em escolasde ensino médio e fundamental. Acumu-lam, portanto, duas atividades distintas”.

A crise financeira das empresas tam-bém provoca a redução do número de tra-balhadores e isso faz com que o ritmo detrabalho aumente significativamente. “Asobrecarga de trabalho gera excesso dehoras-extras, ritmos insuportáveis, res-ponsabilidade exacerbada e correria paraexecução das tarefas. É nesse cenário quesurgem os acidentes. As pessoas estãotrabalhando no limite e, na aviação, isso éfatal”, pondera o presidente da Fentac,Celso Klafke. Para ele, melhores condi-ções de trabalho e de treinamento, maistempo para manutenção das aeronavesantes de serem liberadas para o vôo e em-pregados em quantidade necessária é oque pode garantir a segurança e a saúdede trabalhadores e usuários. Fonte: DOPO/Infraero

* Sem aviação militar ** Embarque mais desembarque

Ano Total de Pousos Total de Carga Aérea** (kg) Mala Postal** (kg)e Decolagens* Passageiros**

2003

2004

2005

2006

2007

1.765.595 71.215.810 1.214.613.592 231.584.298

1.790.303 82.706.261 1.358.517.614 215.163.443

1.841.225 96.078.832 1.360.139.566 233.938.416

1.918.538 102.185.376 1.229.679.275 306.291.309

2.041.739 110.604.289 1.315.474.399 341.840.874

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ABRIL / 200844 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

Além dos riscos ambientais inerentes a cada atividade, no setor aéreo, os acidentes eas doenças ocupacionais estão relacionados à organização do trabalho, à pressão detempo para execução das tarefas e à falta de pessoal. Confira outras situações de risco:

SITUAÇÕES DE RISCO

Ruído: controle rigoroso

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Bexposição habitual ao ruído, sem medi-das de controle, pode provocar, entre ou-tros sintomas: transtornos neurológicos ede digestão, alterações do sono e da pres-são arterial, estresse, baixo desempenhofuncional e problemas de aprendizado.

A dificuldade em implantar proteçõescoletivas nas atividades desenvolvidas nopátio, faz com que as empresas intensifi-quem o monitoramento ambiental e a su-pervisão quanto ao uso dos Equipamen-tos de Proteção Individual (EPIs).

A Infraero mantém um Programa deConservação Auditiva (PCA), que envol-ve acompanhamento contínuo de todos osambientes de trabalho e a realização deexames audiométricos. “Aliamos a isso apadronização de procedimentos e de con-dutas pela área de SST”, afirma a superin-tendente de recursos humanos da empre-sa, Regina Azevedo.

A SATA, empresa que faz embarque edesembarque de cargas e bagagens, lim-peza, drenagem de dejetos e abaste-cimento de água potável das aeronaves,faz o controle de ruído com uso de Equi-pamentos de Proteção Individual (EPIs)e dosimetrias de ruído. “Nas atividades derampa, ambiente de trabalho em que os

níveis de pressão sonora superam o limi-te de 80 dB(A) realizamos mensuração deruído através de dosimetria. Com a invia-bilidade técnica da adoção de medidas deproteção coletiva, pois as fontes de ruídosão as turbinas das aeronaves e dos equi-pamentos de apoio, selecionamos um EPItecnicamente adequado ao risco, consi-

derando a eficiência, o conforto e a segu-rança”, explica o gerente de recursos hu-manos e relações do trabalho da SATA,Carlos Henrique de Campos.

A VEM Maintenance e Engineering, queatua no segmento de manutenção de aero-naves, investe em treinamentos sistemá-ticos e específicos. Cada área tem seu ma-nual de segurança, elaborado pelos pro-fissionais do Sesmt. “Desenvolvemos trei-namentos por área de atuação, ligados àprevenção de acidentes de trabalho. Man-temos nossos Centros de Manutençãoabastecidos de EPIs, definidos por área etipo de atividade. Todas as certificaçõesaeronáuticas passam por auditorias queconsideram também os treinamentos deprevenção”, esclarece o gerente de recur-sos humanos da VEM, João Marcos BlancoDias.

QUÍMICOSQUÍMICOSQUÍMICOSQUÍMICOSQUÍMICOSEm um aeroporto, os riscos químicos

não estão restritos às oficinas de manu-tenção. “A exposição a agentes químicospotencialmente carcinogênicos, com seuelevado tempo de latência entre a exposi-ção e o efeito, como o cloreto de metileno,deve ser investigada e controlada, prefe-rencialmente com a sua substituição”, ori-enta o auditor fiscal do trabalho da SRTE/RS, Luiz Alfredo Scienza.

A contaminação por metais pesadosprovenientes da queima dos combustíveispode afetar todos os trabalhadores quedesenvolvem suas atividades perto das ae-ronaves. No aeroporto de Viracopos e deCampinas já foram registrados casos detrabalhadores com leucopenia, que é a di-minuição dos glóbulos brancos no sangue,possivelmente causada pela exposição ha-bitual a alguns agentes químicos ou físi-cos como: benzeno, tolueno, xileno e ra-diações ionizantes.

Para Scienza, uma ação importante é agarantia da correta circulação de informa-ções quanto aos agentes químicos utili-zados em cada atividade. “Informações dequalidade, que permitam a correta gestãodas medidas de controle. Os trabalhado-res devem ter total ciência dos riscos aque estão expostos. Um fator característi-co do setor de manutenção de aeronavesé o uso de misturas químicas complexas,homologadas por entidades externas oufabricantes, cuja composição é de difícilleitura”, considera o auditor.

A falta de informações quanto aos riscosquímicos é freqüente. O diretor do Sindi-

Local Principais riscos ambientais

Pátio de Ruído, risco de acidentes pela movimentação de tratores e caminhões na pista, trabalhomanobra em altura, exposição solar, riscos biológicos (na drenagem de dejetos) e risco de incêndio

ou explosão (abastecimento de combustível).

Terminal de Esforço físico, riscos químicos (cargas perigosas), riscos físicos (ruído, vibração, radiaçõescarga (Teca) ionizantes e frio das câmaras frigoríficas).

Terminal de Riscos ergonômicos (mobiliários inadequados) e estresse ocupacional.passageiros

Hangares e Ruído, riscos ergonômicos (esforço físico e exigência de má postura), trabalhos em altura,oficinas de contato com produtos químicos e risco de incêndio ou explosão (solda, corte, resíduos demanutenção produtos químicos).

Torre de Trabalho em turno e noturno, escalas de revezamento, estresse ocupacional, alta cargacontrole cognitiva.

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TRABALHO EM AEROPORTOS

Limpeza, drenagem de dejetos e abastecimento de água estão entre os serviços da SATA

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cato Nacional dos Aeroviários, José EliasDutra, que trabalha como operador de via-tura no aeroporto Tom Jobim, na cidadedo Rio de Janeiro, conta que, para descar-regar os porões dos vôos que chegam deAngola, por exemplo, os operadores pre-cisam jogar para dentro do compartimen-to uma ampola de inseticida, do qual nãoconhecem a composição. Segundo Dutra,os trabalhadores também não receberamtreinamento específico sobre os cuidadosnecessários durante essa atividade.

Os muitos produtos químicos tambémpodem provocar incêndios e explosões,principalmente quando diferentes ativida-des precisam ser executadas simultanea-mente, no mesmo espaço de trabalho.Nestes casos, o planejamento das ativida-des e a supervisão precisam ser redobra-dos. No entanto, a sobrecarga de tarefase a forma como elas estão organizadas,nem sempre priorizam a segurança.

BIOLÓGICOSBIOLÓGICOSBIOLÓGICOSBIOLÓGICOSBIOLÓGICOSNo transporte aéreo, alguns riscos bio-

lógicos vêm junto com os vôos: mosquitos,moscas e outros vetores podem “embar-car” e causar doenças aos trabalhadorese aos passageiros. A possibilidade de con-taminação também existe durante a lim-peza de aeronaves, dos porões onde sãotransportados animais e dos sanitários. Nasestações de tratamento de esgotos, duran-te a drenagem de dejetos dos banheirosdas aeronaves também existe risco decontato com microorganismos diversos.

A Infraero mantém campanhas devacinação contra a gripe e a febre amare-la, por exemplo. “Essas campanhas im-

pactam diretamente na redução de faltasao trabalho. A prevenção e a promoção àsaúde, com base no PCMSO, permitem di-minuir a ocorrência de doenças e minimi-zar as seqüelas, reduzindo o absenteísmoe os custos com saúde”, explica Regina A-zevedo, superintende de RH da empresa.

O desrespeito à NR 24 - Condições Sa-nitárias e de Conforto nos Locais de Tra-balho, também é comum nos bastidoresde muitos aeroportos do país. Faltam ba-nheiros e vestiários adequados. “No TomJobim, os trabalhadores da rampa não têmbanheiro. Chegam a usar os contêinerese as passarelas para fazer suas necessida-des. Estamos sem bebedouro há mais deum ano. Para os passageiros o aeroportoé de primeiro mundo, mas para o traba-lhador é o 15º mundo! Em nosso local detrabalho, convivemos com ratazanas e nãotemos nem lugar adequado para escovaros dentes”, desabafa José Elias Dutra, doSindicato Nacional dos Aeroviários(SNA).

Regina Azevedo, da Infraero, destacaque a área de Segurança do Trabalho daempresa participa de todos os projetos denovas instalações prediais, opinando so-bre modificações e arranjos físicos neces-sários ao cumprimento das Normas Re-gulamentadoras do MTE.

O SNA, no entanto, critica a falta de fis-calização das prestadoras de serviço pelaInfraero, pela Anvisa e pelo próprio MTE,onde já protocolaram diversas denúnci-as. “Na última fiscalização, o auditor doMinistério do Trabalho só pediu pra verdocumentação. Nossos problemas conti-nuaram iguais”, comenta Dutra.

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ABRIL / 200848 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

Usado no dia-a-dia como sinôni-mo de irritação e nervosismo, otermo “estresse” tem um significa-do bem mais profundo quando as-sociado ao mundo do trabalho. Acrise do setor aéreo revelou, en-tre outros problemas, a pressãopsicológica sofrida por aeroviáriose aeroportuários. As primeiras de-núncias de falta de pessoal, exces-so de horas-extras, ausência defolgas e assédio moral vieram doscontroladores de tráfego aéreoque, por algum tempo, foram acu-sados pelo acidente da Gol, emsetembro de 2006. “Antes do aci-dente, os controladores aceitavam as pés-simas condições de trabalho que lheseram oferecidas por medo de sofrerem re-presálias. Com o acidente, viram que esta-vam sendo coniventes com a morte decentenas de pessoas. Passaram, então, adenunciar as falhas do sistema”, lembra oprocurador do trabalho, Fábio Fernandes.

LUTLUTLUTLUTLUTA LIVREA LIVREA LIVREA LIVREA LIVREA professora da UnB, Anadergh Barbo-

sa-Branco diz que a crise aérea gerou en-tre os passageiros uma irritação freqüen-te, acompanhada pela predisposição dejogar em quem estiver na frente toda suaindignação. “Do outro lado do balcão, ‘res-pondendo’ pela empresa, há inúmeros jo-

Estresse ocupacionalNo setor aéreo, afastamentos por transtornos mentais são freqüentes

Rotina desgastante nos balcões de atendimento

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vens, impotentes para resolver situaçõesurgentes, geradas na maioria das vezespela má administração e pela ganância dasempresas”. A pesquisadora ainda acres-centa: “O pessoal do atendimento servecomo um verdadeiro ‘escudo humano’. Osbalcões das empresas e os saguões dosaeroportos viraram, com freqüência, rin-gues de lutas verbais e até corporais. Oestresse passou a ser a tônica nos dois la-dos do balcão, nas esteiras, nos pátios, nosserviços de atendimento eletrônico, en-tre outros”.

A situação financeira das empresas tam-bém influencia o equilíbrio emocional e aqualidade de vida dos trabalhadores. “Arealidade do setor aéreo brasileiro passou

de uma situação de razoável ‘estabilida-de’ para uma oferta ilimitada de mão-de-obra especializada ou pelo menos experi-ente, fazendo com que os salários caiam

progressivamente, na medida emque a oferta de trabalhadores pas-sou a ser muito maior do que ade postos de trabalho”, avalia A-nadergh.

Essa situação levou o setor detransporte aéreo brasileiro a sero terceiro ramo de atividades aapresentar maior número de afas-tamentos por transtornos men-tais como estresse, depressão efobias (veja Quadros, Principaisdoenças no setor e, Por que elesse afastam?). Aeroviários, aero-portuários e aeronautas só per-dem em licenças causadas portranstornos mentais para os tra-

balhadores da indústria do petróleo e doramo imobiliário, mas ganham de ativida-des tradicionalmente consideradasestressantes como as do ramo bancário,da bolsa de valores e da saúde.

DESCONTROLEDESCONTROLEDESCONTROLEDESCONTROLEDESCONTROLEO trabalho dos controladores de tráfego

aéreo é considerado pela OIT e por diver-sos estudos internacionais como uma dasocupações mais complexas existentes nomundo atual. Estudo da médica psiquiatraEdith Seligmann-Silva, professora aposen-tada da Faculdade de Medicina da USP,descreve a atividade: “O trabalho mentalinclui, por exemplo, a atenção permanen-te e multidirecionada, isto é, voltada si-multaneamente para os conjuntos de nú-meros - captados através do radar - queresumem a situação de cada aeronave nastelas e para as comunicações que realizana interlocução com os pilotos dos aviões,mas também com outros técnicos do mes-mo setor e ainda na articulação a outroscentros de controle no país”.

Apesar dos critérios internacionais exis-tentes, no Brasil, o número de aviões aserem acompanhados simultaneamentepor cada controlador vem sendo excedi-do. É o controlador que orienta a manu-tenção de uma distância segura entre asaeronaves e monitora a velocidade paraassegurar o fluxo de aviões nas aerovias.“É preciso ter em conta que toda essamultiplicidade de atividades mentais serealiza de modo continuado e geralmentesob pressão de tempo. Agilidade mentalé um requisito. Quanto maior o número

Grupo de Doença

Total de afastamentos > 15 dias

B31** B91*** Total B31** B91*** Total Total Geral

Transtornos neuróticos relacionados ao estresse (F40-F48) 66 - 66 146 - 146 212Pessoas em contato com serviços de saúde em - - - 194 - 194 194circunstâncias relacionadas com a reprodução (Z30-Z39)Transtornos do humor ou do afeto (F30-F39) 55 55 136 136 191Outras dorsopatias (M50-M54) 80 5 85 67 4 71 156Traumatismos do joelho e da perna (S80-S89) 74 10 84 11 1 12 96Traumatismos do tornozelo e do pé ( S90-S99) 29 7 36 32 16 48 84Traumatismos do punho e da mão (S60-S69) 45 10 55 9 1 10 65Transtornos das sinóvias e dos tendões (M65-M68) 18 - 18 36 1 37 55Outros transtornos dos tecidos moles (M70-M79) 13 2 15 34 2 36 51

1.699

Ocorrências Homens Ocorrências Mulheres

*Principais grupos de doenças que causaram afastamento superior a 15 dias entre os empregados do setor de transporte aéreo em 2006 (inclui aeroviários, aeroportuários e aeronautas). É importante destacar que nem sempre é reconhecido o nexo causal. Isso faz com que a maior parte das ocorrências fique registrada como doença comum.

** B31: auxílio doença previdenciário

*** B91: auxílio doença acidente de trabalho

Fonte: UnB/Laboratório de Saúde do Trabalhador e INSS

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ABRIL / 200850 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

de aeronaves, maior a carga mental. Oesforço mental é exacerbado quando osequipamentos apresentam defeitos, difi-cultando a captação das informações e arealização das comunicações”, aponta aprofessora em seu artigo “A instabilidadeaérea e os limites humanos”.

Para a especialista, as recomendaçõespara prevenção e promoção à saúde des-ses trabalhadores são: diminuição da jor-nada de trabalho, realização de pausas, e-quipamentos mais modernos e em perfei-tas condições de uso, dimensionamentoadequado das atividades exigidas, reco-nhecimento e maior participação no en-caminhamento e busca de soluções paraos problemas operacionais. “O limite hu-mano, entretanto, precisa ser melhor vi-sualizado, reconhecido em sua importân-cia e considerado nos planos de reestru-turação e de reformulação do tipo de ges-tão - a médio e longo prazo - bem como

nas decisões e acionamento das medidasde curto prazo. Este limite diz respeito adiferentes categorias profissionais que a-tuam no transporte aéreo”, recomenda.

Porém, a divisão de controladores entrecivis e militares, na ordem de 20% e 80%,respectivamente, dificulta os relaciona-mentos humanos e a adoção de uma ges-tão participativa, com mais autonomia ecooperação.

EFEITO CASCAEFEITO CASCAEFEITO CASCAEFEITO CASCAEFEITO CASCATTTTTAAAAAUm acidente aéreo não atinge apenas

os controladores e a tripulação envolvi-da. Anadergh Barbosa-Branco, doutoraem Saúde Ocupacional, afirma que o de-sastre gera um trauma e uma ansiedadegeneralizada. “Você vê o problema aconte-cendo ao seu lado e pensa que poderiaser com você. Em casos de acidentes gra-ves, a produtividade dos trabalhadores caientre 20% e 30% nos dias seguintes”.

Especialistas alertam que existe umconjunto de aspectos que provoca o des-gaste da saúde dos trabalhadores. A psi-quiatra Edith Seligmann aponta: “Paraque um trabalho seja saudável - e, portan-to, não desgastante - um requisito essen-cial é o da compatibilização entre o traba-lho e a dimensão humana de quem o reali-za”.

José Roberto Montes Heloani, doutorem psicologia social, também destaca anecessidade vital de reconhecimento pelotrabalho executado. “Anos de dedicaçãomediante esforços freqüentes e não reco-nhecidos podem levar ao chamado esgo-tamento físico e mental crônico causadopelo trabalho. Trata-se do esgotamentoprofissional, ou Síndrome de Burnout: umtipo de estresse ocupacional caracteriza-do por manifestações de exaustão emo-cional, extrema apatia, falta de entusias-mo pelo trabalho e pela vida, baixa auto-estima, podendo conduzir a pessoa a con-tínua irritabilidade, distúrbios do sono, auma depressão severa e, em alguns casos,ao suicídio”, explica no artigo “Procuram-se culpados”.

Para Heloani, esse sentimento de “satu-ração”, de não agüentar mais nem o traba-lho nem as pessoas com quem se relacionaprofissionalmente, é provocado por jorna-das de trabalho exaustivas, situações deviolenta pressão, progressiva frustraçãoe grande responsabilidade funcional. A fa-diga se acumula e assume um caráter crô-nico, devido à hostilidade e à agressivi-dade decorrentes, comprometendo a con-vivência familiar e social. Ou seja, o traba-lhador fica completamente desestrutura-do e adoece.

CONTRA O RELÓGIOCONTRA O RELÓGIOCONTRA O RELÓGIOCONTRA O RELÓGIOCONTRA O RELÓGIONo setor aéreo, a falta de pessoal é

apontada como principal fator estressan-te. “A responsabilidade excessiva, pois afalta de um trabalhador pode resultar emrisco de morte para centenas de pessoas,somada ao pouco tempo para a manuten-ção e garantia das condições de vôo segu-ro é um grave fator de risco para os traba-lhadores. A falta de profissionais, princi-palmente na área de manutenção, tem ge-rado um ritmo brutal, sobrecarga de tra-balho e muita responsabilidade. Os traba-lhadores estão no limite de suas capacida-des”, alerta Celso Klafke, presidente daFentac.

O trabalho em turno e noturno, muitasvezes em escalas de revezamento, tam-

Complexidade na atividade dos controladores exige deles o seu máximo

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ABRIL / 200852 REVISTA PROTEÇÃO

TRABALHO EM AEROPORTOS

As recentes tragédias aéreas, ampla-mente divulgadas pela imprensa, são ape-nas a ponta de um “iceberg” de situaçõesde risco. Os trabalhadores do transporteaéreo convivem com diversos incidentese outros pequenos acidentes, que nemsempre são registrados. “Há poucos me-ses, um funcionário de uma empresa res-ponsável pela colocação de bagagens naaeronave foi esquecido e trancado nessecompartimento. Se o avião tivesse deco-lado, devido às características do compar-timento de bagagens, ele teria morrido empleno vôo. Os gritos do trabalhador foramouvidos pelos passageiros, que informa-ram à tripulação, que suspendeu a deco-lagem. Ele teve sorte”, conta o presidenteda Fentac, Celso Klafke.

Em janeiro, a morte de uma auxiliar delimpeza da TAM, que caiu de uma aero-nave estacionada no pátio do AeroportoInternacional de Guarulhos, fez com quediversas entidades de representação dostrabalhadores voltassem a denunciar as

Setor aéreo em focoMTE formará GT para acompanhar o trabalho em aeroportos

precariedades das condições de trabalhoem aeroportos. “Certamente o procedi-mento de segurança não foi seguido. Elacaiu porque retiraram a escada, mas paraisso é obrigatório sinalizar as portas comuma fita cor de laranja. É a pressa. O aviãotem que sair no horário de qualquer jei-to”, avalia José Elias Dutra, diretor do Sin-dicato Nacional dos Aeroviários (SNA).

Caso semelhante aconteceu em 2007 noAeroporto Internacional Salgado Filho,em Porto Alegre. “As atividades de manu-tenção são executadas, muitas vezes, empostos elevados, que obrigam o uso deplataformas e andaimes. Esses equipa-mentos, seguidamente estão muito distan-tes do cumprimento mínimo da legislaçãode segurança e saúde. O acidente de Por-to Alegre foi causado por um sistema im-provisado”, revela o auditor fiscal do tra-balho da SRTE/RS, Luiz Alfredo Scienza.Para ele, não é aceitável que um setor dealta tecnologia como o da aviação aindaapresente situações de trabalho tão precá-

bém contribui para a alteração do biorrit-mo de quem trabalha em aeroportos. “Avida social do empregado fica prejudicada,com dificuldade para organizar sua vidapessoal, gerando prejuízos quanto ao con-vívio familiar, atividades sociais, de estu-do, de lazer e a reciclagem profissional”,descreve o procurador Fábio Fernandes.Além disso, sintomas como insônia e alte-rações do humor passam a ser freqüentes.

Outro fator de risco são as duplas jorna-das de trabalho. Grande parte dos aerovi-ários e dos aeroportuários mantém outraatividade profissional a fim de comple-mentar sua renda. “O salário torna-se, por-tanto, um componente importante para aanálise da questão do desgaste da saúde,tanto porque sua insuficiência leva à pro-cura de outra ocupação suplementar,quanto por sua influência no nível da qua-lidade de vida necessário à recuperaçãodo cansaço e à prevenção da fadiga acu-mulada”, avalia a psiquiatra Edith Selig-mann.

PREVENÇÃOPREVENÇÃOPREVENÇÃOPREVENÇÃOPREVENÇÃOA prevenção do estresse ocupacional

envolve ações dentro e fora da empresa.Além da melhoria das condições em queo trabalho é executado, a mudança de há-bitos como o sedentarismo, tipo de ali-mentação, a diminuição do consumo deálcool e de cigarro ajuda a melhorar a qua-lidade de vida.

A TAM Linhas Aéreas criou o programa“Estilo de Vida TAM”. São diversas campa-nhas ao longo do ano, enfocando a preven-ção e a promoção da saúde, o diagnósticode doenças como diabetes, colesterol ehipertensão, além do incentivo à ativida-de física e ao lazer, combate ao estresse,coleta e reciclagem de lixo e orientaçõesàs gestantes. Segundo a Assessoria de Im-prensa da companhia, com ações dirigi-das, a TAM busca incentivar seus empre-gados para a prevenção de doenças, a re-educação dos hábitos para uma vida sau-dável e a responsabilidade quanto à “ges-tão” de sua própria saúde.

O Setor de Medicina e Segurança doTrabalho da companhia tem seu foco napromoção da saúde, com ações sistemáti-cas e contínuas, que procuram agir sobreo ambiente de trabalho, em conjunto comas CIPAs, para reduzir riscos para a saú-de dos empregados. Por meio de sua asse-ssoria de imprensa, a TAM destaca quesegue padrões internacionais de seguran-ça, o que lhe possibilitou alcançar a lide-

rança do mercado nacional e diversas cer-tificações internacionais.

A SATA, empresa responsável pelas ati-vidades de embarque e desembarque decargas, manutenção e limpeza de aerona-ves, está desenvolvendo um projeto comos objetivos de atender aos requisitos das

Normas e Regulamentadoras e obter acertificação OHSAS 18001. “Esses objeti-vos envolvem todo o corpo diretivo, ge-rencial e empregados da SATA, com ocompromisso de desenvolver ações degestão que assegurem o cumprimento dalegislação, normas ambientais e outrosrequisitos”, explica o gerente de recursoshumanos e de relações do trabalho, CarlosHenrique de Campos.

Ele destaca que a SATA considera aSegurança do Trabalho fundamental parao desempenho de seus serviços. “Por issoinvestimos em equipes de proteção e trei-namentos diversos. Nosso trabalho serásempre o de promover campanhas edu-cativas, orientando nosso trabalhador so-bre todos os aspectos e formas de evitardoenças e acidentes”.

Nos principais aeroportos do país, aSATA mantém um serviço de assistênciasocial e ambulatorial para todos os em-pregados. Em algumas bases, o serviço éextensivo aos familiares e dependentes.“Buscamos orientar quanto às formas deevitar doenças. Além disso, disponibiliza-mos todos os equipamentos necessáriospara a execução segura das atividades”,conclui.

Manutenção: ritmo acelerado

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REVISTA PROTEÇÃO 53ABRIL / 2008

rias como as encontradas durante as ins-peções do MTE.

VVVVVANGUARDAANGUARDAANGUARDAANGUARDAANGUARDAPara Odilon Junqueira, consultor de re-

lações sindicais do Sindicato Nacional dasEmpresas Aéreas (Snea), por sua ativi-dade diferenciada, o setor se mantém navanguarda da utilização de novos e mo-dernos equipamentos de proteção. “Te-mos a oportunidade de uma permanentetroca de informações com outros países.Fazemos um intercâmbio mundial paraaprimorar nossos processos. Tambémmantemos diálogo constante com a repre-sentação dos trabalhadores, em reuniõesbimestrais para avaliação do cumprimen-to da Convenção Coletiva”. Junqueira des-taca que as companhias mantêm setoresde medicina especializada em aviação ecampanhas internas periódicas de alertaquanto aos riscos ocupacionais e as for-mas de prevenção. “Bom seria se todosos setores da economia brasileira tives-sem a mesma estrutura de SST que asgrandes companhias aéreas conseguemmanter”, conclui.

No entanto, os aeroportos estão no focode atuação do Ministério Público do Tra-balho de São Paulo (MPT-SP) desde 1995.Atualmente, estão em andamento cercade 50 investigações, que envolvem todasas companhias aéreas e também a Infrae-ro. “O tema dessas investigações é varia-do, mas os principais problemas são oexcesso de jornada, ausência de conces-são de folgas e de intervalos ‘inter’ e ‘intra-jornada’ e assédio moral consubstanciadona pressão exercida sobre os trabalhado-

res da manutenção de Congonhas para li-berarem aviões com problemas mecânicose sobre os controladores para que nãoreportem irregularidades, falhas no siste-ma - radar ou rádio freqüência - e inci-dentes aéreos e para monitorarem maisaeronaves do que o recomendado pornormas nacionais e internacionais de se-gurança”, aponta o procurador do traba-lho Fábio Fernandes, que acrescenta: “fazparte da estratégia patronal não cumprira legislação trabalhista. O empregador fazde forma bem eficaz a conta da relação‘custo-benefício’ e, muitas vezes, compen-sa pagar as multas”.

NOVNOVNOVNOVNOVA NORMAA NORMAA NORMAA NORMAA NORMAA Superintendência Regional do Traba-

lho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP)

está constituindo um grupo técnico parafiscalização em aeroportos. Segundo osauditores fiscais indicados a participardeste grupo em São Paulo, já existe deter-minação do Departamento de Segurançae Saúde do Trabalho (DSST), de Brasília,para a criação de um grupo técnico paraestudar a elaboração de uma Norma Re-gulamentadora que estabeleça os parâ-metros de Saúde e Segurança em Aero-portos, a exemplo do que já foi feito comserviços de Saúde (NR-32) e EspaçosConfinados (NR-33). As reuniões com osauditores que farão parte desse grupo jáforam agendadas pelo DSST. O MPT tam-bém deverá participar da elaboração docronograma de ações do grupo técnico,que busca padronizar a fiscalização emaeroportos de todo o país.

Condições dos trabalhadores serão avaliadas pela Fiscalização

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