trabalho de psicologia da educação

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Cognitivismo O cognitivismo é uma das três principais correntes em psicologia da aprendizagem, distinguindo-se do empirismo que postula que o conhecimento se dá a partir de estímulos do meio ambiente, e do humanismo em que o conhecimento se dá como atualização daquilo que o homem traz dentro de si. O modelo cognitivista ocupa-se dos processos centrais internos que se dão em relação ao conhecimento, levando em conta, portanto, o sujeito, o interno, bem como a interação com o meio ambiente. Considera a ação do indivíduo dirigida a um fim, isto é, leva em conta a intencionalidade do sujeito. É a consciência que atribui significado aos objetos e situações. Interessa ao modelo cognitivista os processos de pensamento como, por exemplo, as formas de que as pessoas se utilizam para selecionar, arquivar, relacionar, organizar, processar, transferir e aplicar informações, estilos de aprendizagem e processos de tomada de decisão entre outros. O modelo cognitivista considera que o sujeito organiza estas informações em estruturas conceituais, que se relacionam uma com as outras, em constante transformação, levando em conta as emoções. Entre os principais cognitivistas encontramos Jerome Bruner, David Ausubel e Jean Piaget. Jerome Bruner

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Page 1: Trabalho de Psicologia da Educação

Cognitivismo

O cognitivismo é uma das três principais correntes em psicologia da aprendizagem,

distinguindo-se do empirismo que postula que o conhecimento se dá a partir de estímulos do

meio ambiente, e do humanismo em que o conhecimento se dá como atualização daquilo que

o homem traz dentro de si.

O modelo cognitivista ocupa-se dos processos centrais internos que se dão em relação ao

conhecimento, levando em conta, portanto, o sujeito, o interno, bem como a interação com o

meio ambiente. Considera a ação do indivíduo dirigida a um fim, isto é, leva em conta a

intencionalidade do sujeito. É a consciência que atribui significado aos objetos e situações.

Interessa ao modelo cognitivista os processos de pensamento como, por exemplo, as formas

de que as pessoas se utilizam para selecionar, arquivar, relacionar, organizar, processar,

transferir e aplicar informações, estilos de aprendizagem e processos de tomada de decisão

entre outros.

O modelo cognitivista considera que o sujeito organiza estas informações em estruturas

conceituais, que se relacionam uma com as outras, em constante transformação, levando em

conta as emoções. Entre os principais cognitivistas encontramos Jerome Bruner, David

Ausubel e Jean Piaget.

Jerome Bruner

J. Bruner ( 1915 - ) criou o Centro de Estudos Cognitivos em 1960 na Universidade de

Harvard sendo conhecido como defensor do método de aprendizagem pela descoberta e da

teoria da instrução a qual prescreve como determinado assunto deve ser ensinado. A teoria

da instrução foi elaborada a partir de seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo do ser

humano. Para Bruner a instrução é um estado provisório, sendo que o objetivo do ensino é

tornar o aluno auto-suficiente, sendo que o próprio aluno assume uma função auto-corretiva.

Bruner divulgou o método de aprendizagem por descoberta após observar muitos educadores

trabalhando. Concluiu que a aula expositiva, em que o professor traz tudo pronto não é tão

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eficaz como aquela em que o professor lança problemas ou questões para o aluno resolver,

discutindo com ele as alternativas apresentadas. Para o professor esta abordagem exige

conhecimento profundo de sua matéria, além de competência, flexibilidade para caminhar

com seus alunos.

David Ausubel (1918- 2008 )

Para Ausubel a cognição é o processo através do qual o mundo de significados tem origem. À

medida que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação; os significados são

pontos de partida para a atribuição de outros significados. Tem origem, então, a estrutura

cognitiva ( os primeiros significados), constituindo-se nos “pontos básicos de ancoragem” dos

quais derivam outros significados.

Ausubel encara a aprendizagem como “um processo de armazenamento da informação,

condensação em classes mais genéricas de conhecimentos, que são incorporados a uma

estrutura no cérebro do indivíduo, de modo que esta possa ser manipulada e utilizada no

futuro”. É a habilidade de organizar informações que deve ser desenvolvida.

Aprendizagem significa organização e integração do material na estrutura cognitiva e será

significativa quando o material novo interage com conceitos relevantes e inclusivos, claros e

disponíveis na estrutura cognitiva, sendo por eles assimilados, contribuindo para a sua

diferenciação, elaboração e estabilidade. A essa estrutura que o sujeito já tem, Ausubel

chamou de conceitos subsunçores. Estes vão funcionar como pontos de ancoragem para as

novas idéias e conceitos que assim poderão ser aprendidas e retidas. Por sua vez estas

novas idéias poderão modificar atributos importantes da estrutura cognitiva.

Ausubel vê o armazenamento de informações no cérebro como sendo altamente organizado,

formando uma hierarquia conceitual na qual elementos mais específicos de conhecimento

são ligados a conceitos gerais mais inclusivos.

Assim, Ausubel propõe a aprendizagem receptiva, o que não quer dizer passiva; o aluno atua

mentalmente sobre o novo material estabelecendo relações. Ao ensinar, o professor deve

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trabalhar com as estruturas conceituais de sua disciplina, a que ele chama de hierarquias

conceituais, como um processamento de informações que deve ser ensinado ao aluno, seja

cognitivo, seja afetivo ou psicomotor.

Jean Piagget

Para Piaget, a educação é um todo indissociável, considerando-se dois elementos

fundamentais: o intelectual e o moral:

. . . não se pode formar personalidades autônomas no domínio moral se por outro lado o

indivíduo é submetido a um constrangimento intelectual de tal ordem que tenha de se limitar a

aprender por imposição sem descobrir por si mesmo a verdade: se é passivo

intelectualmente, não conseguiria ser livre moralmente. Reciprocamente, porém, se a sua

moral con¬siste exclusivamente em uma submissão à autoridade adulta, e se os únicos

relacionamentos sociais que constituem a vida da classe são os que ligam cada aluno

individualmente a um mes¬tre que detém todos os poderes, ele também não conseguiria ser

ativo intelectualmente. , , . o pleno desenvolvimento da per¬sonalidade, sob seus aspectos

mais intelectuais, é inseparável do conjunto de relacionamentos afetivos, sociais e morais que

constituem a vida da escola,.. (Piaget, 1973f. p. 69)

Para Piagget o objetivo da educação, portanto, não consistirá na transmissão de

verdades, informações, demonstrações, modelos etc., e sim em que o aluno aprenda, por si

próprio, a conquistar essas verdades, mesmo que tenha de realizar todos os rateios

pressupostos por qualquer atividade real.. A educação pode ser considerada igualmente como

um processo de socialização (que implica equilíbrio nas relações interindividuais e ausência

de regulador externo, ordens externas), ou seja, um processo de "democratização das

relações". Socializar,..nesse sentido, implica criar-se condições de cooperação. A aquisição

individual das operações pressupõe necessariamente a cooperação, colaboração, trocas e

intercâmbio entre as pessoas.

Considerando o fato de que a lógica não é inata, mas que se constrói, a primeira tarefa

da educação deveria consistir em formar o raciocínio. Piaget declara que:

Todo ser humano tem o direito de ser colocado, durante a sua formação, em um meio

escolar de tal ordem que lhe seja possível chegar ao ponto de elaboração, até à conclusão,

dos instrumentos indispensáveis de adaptação que são as opera¬ções da logica. (l973f, p. 38)

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A educação, portanto, é condição formadora necessária ao desenvolvimento natural do

ser humano: Este, por sua vez, não iria adquirir suas estruturas mentais mais essenciais sem

a intervenção do exterior. Sem esse tipo de contribuição o indivíduo não chegará à autonomia

intelectual e moral.

O conjunto de relações de reciprocidade e de coopera¬ção ao mesmo tempo moral e

racional raramente é assegu¬rado pela autoridade do professor ou pelas lições, informações,

modelos que ele possa sugerir ou apresentar, mas pela vida social entre os próprios_ alunos

e pelo autogoverno. O respeito mútuo irá substituir a heteronomia característicade um respeito

unilateral, por uma autonomia, considerando-se a reciprocidade como coordenação dos

pontos de vista e ações entre os membros do grupo.

Uma educação assim concebida é a que procurará pro¬vocar nos alunos, constantemente,

busca de novas soluções, criar situações que exijam o máximo de exploração por parte deles

e estimular as novas estratégias de compreensão da realidade.

Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando a criança a observar. A verdadeira

causa dos fracassos da educação formal, diz, decorre essencialmente do fato de se principiar

pela linguagem (acompanhada de desenhos, de ações fictícias ou narradas etc.) ao invés de

o fazer pela ação real e material.

A escola, dessa forma, deveria dar a qualquer aluno a possibilidade de aprender por

si próprio, oportunidades de investigação individual, possibilitando-lhe todas as tentati¬vas,

todos os tateios, ensaios que uma atividade real pres¬supõe. Isso implica diretamente que a

motivação não ve¬nha de fora, mas lhe seja intrínseca, ou seja, da própria capacidade de

aprender, para que se torne possível a cons¬trução de estruturas do ponto de vista endógeno.

Na teoria piagetiana pode-se constatar o estabelecimento de relações entre a

cooperação e a formação/desenvolvimento intelectual. Assim, não seria possível existir na

escola uma verdadeira atividade intelectual baseada em ações, investigações e pesquisas

espontâneas, sem que houvesse uma livre cooperação dos alunos entre si e não apenas

entre professor e alunos.

Page 5: Trabalho de Psicologia da Educação

Para Piagget o professor deve conviver com os alunos, observando seus

comportamentos, conversando com eles, perguntando, sendo interrogado por eles, e realizar,

também com eles, suas experiências, para que possa auxiliar sua aprendizagem e

desenvolvimento.

O aluno deve ser tratado de acordo com as caracterís¬ticas estruturais próprias de sua

fase evolutiva e o ensino precisa, consequentemente, ser adaptado ao desenvolvimen¬to

mental e social. Cabe ao aluno um papel essencialmente ativo (a atividade é uma forma de

funcionamento do índivíduo) e suas atividades básicas, entre outras, deverão consis¬tir em:

observar, experimentar, comparar, relacionar, ana¬lisar, justapor, compor, encaixar, levantar

hipóteses, argu¬mentar etc.

E ao professor caberá a orientação necessária para que os objetos sejam explorados

pelos alunos, sem jamais ofe¬recer-lhes a solução pronta. É indispensável, no entanto, que o

professor conheça igualmente o conteúdo de sua discipli¬na, a estrutura da mesma, caso

contrário não lhe será possível propor situações realmente desequilibradoras aos alunos.

Teoria Rogeriana na Educação

Carl Rogers nasceu em Chicago em 1902. Formado em História e Psicologia, aplicou

à Educação princípios da Psicologia Clínica, foi psicoterapeuta por mais de 30 anos.

No Brasil suas idéias tiveram difusão na década de 70, em confronto direto com as

idéias Comportamentalistas (behaviorismo), que teve em Skinner um de seus principais

representantes. Rogers é considerado um representante da corrente humanista, não diretiva,

em educação. Rogers concebe o ser humano como fundamentalmente bom e curioso, que,

porém, precisa de ajuda para poder evoluir. Eis a razão da necessidade de técnicas de

intervenção facilitadoras.

O rogerianismo na educação, aparece como um movimento complexo que implica

uma filosofia da educação, uma teoria da aprendizagem, uma prática baseada em pesquisas,

uma tecnologia educacional e uma ação política. Ação política, no sentido de que, para

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desenvolver-se uma educação centrada na pessoa, é preciso que as estruturas da instituição

escola mudem.

Aprendizagem significativa em Psicoterapia

" Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma

acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no

comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe ou nas suas atitudes e

personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de

conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência."

Rogers, in Tornar-se Pessoa, 1988, editora Martins Fontes.

As condições de aprendizagem em Psicoterapia:

enfrentando um problema;

o terapeuta precisa possuir um considerável grau de congruência na relação;

consideração positiva incondicional;

compreensão empática;

necessidade que o terapeuta consiga comunicar ao cliente as condições

anteriores.

Implicações no domínio da Educação

necessidade da aprendizagem ser significativa, o que acontece mais facilmente

quando as situações são percebidas como problemáticas, portanto pode-se

dizer que só se aprende aquilo que é necessário, não se pode ensinar

diretamente a nenhuma pessoa;

autenticidade do professor, isto é, a aprendizagem pode ser facilitada se ele for

congruente. Isso implica que o professor tenha uma consciência plena das

atitudes que assume, sentindo-se receptivo perante seus sentimentos reais,

tornando-se uma pessoa real na relação com seus alunos;

aceitação e compreensão: a aprendizagem significativa é possível se o

professor for capaz de aceitar o aluno tal como ele é, compreendendo os

sentimentos que este manifesta, pois a aprendizagem autêntica é baseada na

aceitação incondicional do outro;

Page 7: Trabalho de Psicologia da Educação

tendência dos alunos para se afirmarem, isto é , os estudantes que estão em

contato real com os problemas da vida, procuram aprender, desejam crescer e

descobrir, querem criar, o que, pressupõe uma confiança básica na pessoa, no

seu próprio crescimento

a função do professor consistiria no desenvolvimento de uma relação pessoal

com seus alunos e de o estabelecimento de um clima nas aulas que

possibilitasse a realização natural dessas tendências; portanto o professor é um

facilitador da aprendizagem significativa, fazendo parte do grupo e não estando

colocado acima dele; este também é um dos pressupostos básicos da teoria de

Rogers, ou seja, o aspecto interacional da situação de aprendizagem, visando

às relações interpessoais e intergrupais;

o professor e o aluno são co-responsáveis pela aprendizagem, não havendo

avaliação externa, a auto-avaliação deve ser incentivada; implica em uma

filosofia democrática;

organização pedagógica flexível;

é por meio de atos que se adquire aprendizagens mais significativas;

a aprendizagem mais socialmente útil, no mundo moderno, é a do próprio

processo de aprendizagem, uma contínua abertura à experiência e à

incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança.

Como metodologia, a não-diretividade é característica. É um método não estruturante

de processo de aprendizagem, pelo qual o professor não interfere diretamente no campo

cognitivo e afetivo do aluno. Na verdade, Rogers pressupõe que o professor dirija o estudante

às suas próprias experiências, para que, a partir delas, o aluno se autodirija. Rogers propõe a

sensibilização, a afetividade e a motivação como fatores atuantes na construção do

conhecimento.

Uma das idéias mais importantes na obra de Rogers é a de que a pessoa é capaz

de controlar seu próprio desenvolvimento e isso ninguém pode fazer para ela.

Na obra acima citada, páginas 271, 272, Rogers coloca:

"Algumas questões para concluir"

" ...Mesmo que tentemos esse método para facilitar a aprendizagem, levantam-se

muitas questões difíceis. Podemos permitir aos estudantes que entrem em contato com os

problemas reais? Toda a nossa cultura-procura insistentemente manter os jovens afastados

de qualquer contato com os problemas reais. Os jovens não tem que trabalhar, assumir

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responsabilidades, intervir nos problemas cívicos ou políticos, não tem lugar nos debates das

questões internacionais. ...Será possível inverter essa tendência?

...Uma outra questão é a de saber se podemos permitir que o conhecimento se

organize no e pelo indivíduo, em vez de ser organizado para o indivíduo. Sob esse aspecto,

os professores e os educadores se alinham com os pais e com os dirigentes nacionais para

insistirem que os alunos devem ser guiados....Espero que, ao levantar essas questões, tenha

mostrado claramente que o duplo problema que é a aprendizagem significativa e forma de

como realizá-la nos coloca perante problemas profundos e graves. ...Tentei apontar algumas

dessas implicações das condições facilitadoras da aprendizagem no domínio da educação, e

propus, uma resposta a essas questões..."

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Bibliografia:

Falcão, G.M. Psicologia da Aprendizagem, SP: Ed Ática, 1989Mizukami, M.G.N. Ensino: as abordagens do processo; SP:EPU, 1986Moreira, M.A. Teorias de Aprendizagem; SP:EPU, 1999.