trabalho de fiscalidade

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Economia Curso de Gestão (3⁰ ano laboral) Disciplina: Fiscalidade Tema: Os regimes jurídico-fiscais aplicáveis ao exercício de operações petrolíferas em Moçambique Docentes: Doutor Hernani Ruface Doutor Ivo Jordão Discente: Acxit Mahendralal Maganlal

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Page 1: Trabalho de fiscalidade

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Economia

Curso de Gestão (3⁰ ano laboral)

Disciplina: Fiscalidade

Tema: Os regimes jurídico-fiscais aplicáveis ao exercício de operações petrolíferas em Moçambique

Docentes: Doutor Hernani Ruface

Doutor Ivo Jordão

Discente: Acxit Mahendralal Maganlal

Maputo, Setembro de 2015

Page 2: Trabalho de fiscalidade

Índice

Lista de abreviaturas e acrónimos..............................................................................................4

Introdução..................................................................................................................................5

Análise da Lei 27/2014 de 23 de Setembro...............................................................................6

Análise da Lei 21/2014 de 18 de Agosto...................................................................................8

Regimes jurídico-fiscais de algumas empresas........................................................................10

Breve apresentação historial.................................................................................................10

Anadarko...............................................................................................................10

Ente Nazionale Idrocarburi S.p.A.........................................................................10

Sasol......................................................................................................................10

Vantagens e desvantagens da presença destas empresas no país e dos regimes jurídico-fiscais a elas atribuídos........................................................................................................................16

Conclusão.................................................................................................................................17

Referências bibliográficas........................................................................................................18

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Page 3: Trabalho de fiscalidade

Índice de tabelas

Tabela 1: Regime jurídico-fiscal da Anadarko....................................................................................11Tabela 2: Regime jurídico-fiscal da ENI.............................................................................................13Tabela 3: Regime jurídico-fiscal da Sasol...........................................................................................15

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Page 4: Trabalho de fiscalidade

Lista de abreviaturas e acrónimos

ENI – Ente Nazionale Idrocarburi S.p.A.

ICE – Imposto sobre Consumos Específicos

IPP – Imposto sobre a Produção de Petróleo

IRPC – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

SISA – Serviços de Impostos de Sua Alteza

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Page 5: Trabalho de fiscalidade

Introdução

Este trabalho realiza uma análise à Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, que define o regime específico de tributação e de benefícios fiscais das operações petrolíferas e à Lei n ⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, que determina as condições para o desenvolvimento de actividades petrolíferas.

A Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, contém disposições jurídicas relacionadas à tributação e concessão de benefícios fiscais às operações petrolíferas. Houve necessidade de tornar a legislação apropriada à situação socioeconómica do país, no âmbito das boas práticas internacionais que vigoram no sector, objectivando assegurar o progresso contínuo do ambiente de negócios e o alcance dos objectivos da tributação. Esta lei revogou as Leis n⁰s 12/2007 e 13/2007, ambas de 27 de Junho.

A Lei dos Petróleos que vigorava anteriormente (Lei n⁰ 3/2001, de 21 de Fevereiro) foi essencial para o desenvolvimento que se tinha vindo a observar nas operações petrolíferas em Moçambique. Contudo, certas circunstâncias revelaram a necessidade de alterá-la em alguns aspectos com a finalidade de a fazer corresponder às aspirações da indústria e assegurar a experiência proporcionada pela mesma. Foi revogada pela Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto.

O presente trabalho procede à apresentação dos regimes jurídico-fiscais que vigoram em algumas empresas petrolíferas que se encontram estabelecidas em Moçambique, mais concretamente da Anadarko, da Ente Nazionale Idrocarburi S.p.A e da Sasol e aborda as vantagens e as desvantagens resultantes da aprovação dos mesmos para Moçambique, bem como as que resultam da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro.

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Page 6: Trabalho de fiscalidade

Análise da Lei 27/2014 de 23 de Setembro

Segundo o artigo 1⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, a referida lei define o conjunto de normas jurídicas que regula a tributação e a concessão de benefícios fiscais às actividades que se encontram associadas à geração de petróleo.

De acordo com o artigo 2⁰ e os n⁰s 1 e 2 do artigo 4⁰, da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, a referida legislação destina-se não apenas às empresas estabelecidas legalmente em Moçambique, mas também a indivíduos, independentemente da nacionalidade, que se dediquem a actividades petrolíferas mediante a devida autorização do estado moçambicano. As empresas têm o dever de cumprir com as obrigações fiscais que a sua actividade envolve, nomeadamente o IPP1 e o IRPC.

Segundo a PricewaterhouseCoopers (2014), com a aprovação da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, as pessoas singulares ficaram desobrigadas de efectuar o pagamento do IPP.

Em consonância com os artigos 5⁰, 6⁰ e 8⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, no que concerne à incidência objectiva, material ou real, o IPP recai sobre o petróleo produzido na respectiva área atribuída pelo estado para o exercício das actividades petrolíferas e o IRPC sobre o resultado tributável. Quanto à incidência subjectiva ou pessoal, ambos recaem sobre as pessoas colectivas que se empregam à geração de petróleo na área que lhes foi concedida. O montante do IPP a pagar restringe-se ao valor do petróleo produzido, que é calculado através de um mecanismo que se encontra estabelecido por lei.

Segundo as alíneas a) e b) do n⁰1 do artigo 10⁰, da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, no que respeita às taxas de royaltie, mais especificamente as do IPP, estas foram estabelecidas nos seguintes termos percentuais:

10% sobre o petróleo bruto 6% sobre o gás natural

Conforme o n⁰2 do artigo 10⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, importa salientar que estas taxas podem decrescer para metade do seu valor caso a produção tiver como objecto a promoção e o desenvolvimento da indústria local.

De acordo com o n⁰1 dos artigos 13⁰ e 14⁰, da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, na maioria dos casos o IPP deve ser pago em dinheiro. O governo tem a possibilidade de comunicar ao sujeito passivo para que este cumpra o seu dever fiscal, parcial ou integralmente, em espécie, mais concretamente perante a entrega de petróleo ou gás.

Segundo o n⁰1 do artigo 33⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, as entidades que detiverem negócios relacionados à actividade petrolífera têm direito a usufruir de benefícios fiscais, o que implica uma diminuição do valor dos impostos que as mesmas devem canalizar aos cofres do estado.

Conforme as alíneas a) e b) do n⁰1 do artigo 35⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, a partir do momento de validação de um plano de desenvolvimento, os investimentos que constam da Lei de Petróleo encontram-se eximidos por um período de cinco exercícios fiscais de:

1 É um royaltie, o que por sua vez significa imposto sobre a produção.

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Page 7: Trabalho de fiscalidade

Pagar direitos aduaneiros relativos à compra de equipamentos no exterior que serão empregues para a prossecução das actividades petrolíferas, distribuídos na classe K da Pauta Aduaneira;

Pagar direitos aduaneiros relativos à aquisição no estrangeiro de instrumentos de natureza semelhante aos da classe K da Pauta Aduaneira, incorporados em anexo na referida lei.

Em consonância com o n⁰2 do artigo 35⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, estes benefícios são outorgados somente no caso de os bens importados não forem de origem nacional, ou se forem, não tiverem os atributos requeridos para a tarefa a que serão submetidos.

Segundo o artigo 38⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, importa realçar que estes benefícios não se verificam caso os bens obtidos por aqueles que os necessitam para prosseguirem com a sua actividade forem sujeitos a alteração de propriedade ou tiverem uma aplicação distinta sem o consentimento do estado. Se tal situação ocorrer, serão postas em prática as normas punitivas de transgressão às leis aprovadas.

Em conformidade com as alíneas a), b), c) e d) do artigo 36⁰, da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, para que as entidades possam usufruir destes benefícios, as próprias devem verificar certas exigências:

Ter a devida permissão por parte do estado para a prática de actividades petrolíferas, ao abrigo da Lei de Petróleos;

Estar inscrito na Autoridade Tributária de Moçambique, de modo a dispor do Número Único de Identificação Tributária;

Possuir contabilidade organizada, em consonância com o sistema de contabilidade para o sector empresarial e certificar-se acerca do cumprimento das regras fiscais que se encontram nos Códigos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas ou das Pessoas Singulares, segundo a estrutura e o tipo de negócio levado a cabo;

Não ter transgredido normas de essência tributária.

Segundo os n⁰s 1 e 2 do artigo 37⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, os benefícios fiscais deixam de se fazer sentir quando termina o período em que as entidades estavam autorizadas a gozar de tais direitos ou quando são sujeitas a punições que as impossibilitem de continuar a beneficiar dos mesmos. Quando estamos na presença de quaisquer um destes cenários verifica-se o emprego imediato da tributação geral constante da lei.

Os empreendedores buscam assegurar que as regras fiscais previamente estabelecidas não sofram quaisquer alterações durante a duração do investimento. Por outro lado, os governos têm necessidade de se adaptar às transformações que têm vindo a ocorrer. (Centro de Integridade Pública, 2014). Em consonância com os n⁰s 1 e 2 do artigo 40⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, as normas da nova lei fiscal aplicam-se somente aos dez anos de produção iniciais. Porém, a estabilidade fiscal encontra-se susceptível de ser alargada até à conclusão do prazo de concessão perante o acréscimo em 2% no imposto que incide sobre o IPP aquando do início do décimo primeiro ano de produção.

De acordo com o artigo 42⁰ da Lei n⁰ 27/2014, de 23 de Setembro, importa realçar que, de acordo com o que se encontra disposto nesta lei, verifica-se o facto de as entidades que se dedicam a actividades petrolíferas estarem sujeitas a uma imposição que determina que a veracidade das suas contas sejam averiguadas por um auditor independente com a devida permissão para o efeito.

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Análise da Lei 21/2014 de 18 de Agosto

Segundo o artigo 2⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, a referida lei determina o conjunto de normas jurídicas que regulam a concessão de direitos que possibilitam o exercício de operações petrolíferas em Moçambique.

Segundo o n⁰s 1 e 5 do artigo 4⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, no que concerne ao estado, este tem a função de verificar e conferir "a prospecção, pesquisa, produção, transporte, comercialização, refinação e transformação de hidrocarbonetos líquidos e gasosos e seus derivados" e as operações de petroquímica e gás natural liquefeito e gás para líquidos e deve garantir que uma parcela dos recursos petrolíferos existentes estimule o desenvolvimento do país.

De acordo com os n⁰s 1 e 3 do artigo 20⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, o estado reserva para si o direito de participar nas operações petrolíferas, impulsionando de maneira gradual o seu envolvimento nas mesmas.

Conforme os n⁰s 1, 2, e 4 do artigo 7⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, as empresas petrolíferas devem ressarcir as comunidades que de algum modo poderão vir a ser afectadas pelas suas actividades. A concretização de um acordo entre o governo, as empresas que detêm o direito de exercer operações petrolíferas e as comunidades é uma condição que se requer de forma que as empresas petrolíferas obtenham os direitos de exploração. Em consonância com o n⁰2 do artigo 12⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, elas devem assegurar o trabalho e a instrução, por meio da transmissão de conhecimentos técnico-profissionais, aos cidadãos nacionais.

Segundo a alínea c) do artigo 14⁰, da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, as entidades petrolíferas têm a permissão de erguer e fazer uso de instalações que a realização das suas actividades requer.

De acordo com o n⁰2 do artigo 13⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, numa forma de incentivar o empresariado nacional, as companhias de petróleo e gás têm de estar registadas na Bolsa de Valores de Moçambique, de acordo com o que se encontra disposto na legislação inerente.

Em conformidade com o n⁰2 do artigo 19⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, o governo tem que garantir que uma proporção dos rendimentos originados pela produção petrolífera seja destinada ao desenvolvimento das comunidades que estão inseridas nas áreas onde se situam os empreendimentos petrolíferos.

Segundo o n⁰4 do artigo 24⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos é a representante exclusiva do estado moçambicano nas operações petrolíferas e as entidades que pretendem desenvolver actividades petrolíferas devem se associar à mesma, destacando-se o reforço do papel desta empresa pública.

Em consonância com as alíneas a), b), c) e d) do n⁰1 do artigo 25⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, quem detiver a permissão de realizar operações petrolíferas está obrigado a saldar, em adição aos impostos específicos, os valores de outras obrigações fiscais, mais concretamente:

• Imposto sobre o Rendimento;

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Page 9: Trabalho de fiscalidade

• Imposto sobre o Valor Acrescentado;

• Imposto Autárquico quando for o caso;

• Demais impostos determinados por lei.

De acordo com o n⁰1 do artigo 35⁰ da Lei n⁰ 21/2014, de 18 de Agosto, o governo deve assegurar que no mínimo 25% do petróleo e gás natural que for gerado dentro do país se destine ao mercado nacional.

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Page 10: Trabalho de fiscalidade

Regimes jurídico-fiscais de algumas empresas

Breve apresentação historial

Anadarko

A Anadarko Petroleum Corporation é uma empresa americana que se dedica à exploração de petróleo e gás natural. Foi fundada em 1959 no Texas. A missão da Anadarko consiste em oferecer um retorno competitivo e sustentável aos accionistas, através do desenvolvimento, aquisição e exploração de recursos de petróleo e gás vitais à saúde e bem-estar do mundo. A Anadarko encontra-se representada no país pela sua subsidiária Anadarko Moçambique Área 1 Limitada desde 2006. Possui direitos de pesquisa, desenvolvimento e produção de gás natural e petróleo na Área 1 da Bacia do Rovuma, em alto mar (offshore). (Anadarko; Ministério dos Recursos Naturais e Energia, 2015; Wikipedia)

Ente Nazionale Idrocarburi S.p.A.

A ENI (Ente Nazionale Idrocarburi S.p.A.) é uma empresa multinacional que foi fundada em 1953 na Itália. Dedica-se a actividades petrolíferas. É uma das operadoras líder no sector de águas profundas a nível global. A sua missão é auxiliar no desenvolvimento e na melhoria do bem-estar das comunidades através da protecção do meio ambiente por meio da inovação tecnológica e da amenização dos riscos resultantes das alterações climáticas. Está presente em Moçambique desde 2006, representada pela sua subsidiária ENI East Africa S.p.A. Possui direitos de pesquisa, desenvolvimento e produção de gás natural e petróleo na Área 4 da Bacia do Rovuma, em alto mar. (ENI; Ministério dos Recursos Naturais e Energia, 2015; Wikipedia)

Sasol

A Sasol é uma empresa de petróleo da África do Sul fundada em 1950. Esta tem como missão agregar valor a longo prazo para os seus accionistas e trabalhadores e manter relações saudáveis com todas as partes que directa ou indirectamente têm interesse na prossecução das actividades da organização. Em 2000 foi assinado um acordo de produção de petróleo para os campos de gás de Pande e Temane, ambos localizados na província de Inhambane, entre o Governo de Moçambique e a Sasol Petroleum Temane, uma subsidiária da Sasol. Em 2004, iniciou-se a produção e exportação de gás natural em Pande e Temane. (Sasol; Ministério dos Recursos Naturais e Energia, 2015; Wikipedia)

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Tabela 1: Regime jurídico-fiscal da Anadarko

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Fonte: retirada e adaptada de Centro de Integridade Pública (2013, p. 4)

Fonte: retirada e adaptada de Centro de Integridade Pública (2013, p. 5)

Page 12: Trabalho de fiscalidade

Tabela 2: Regime jurídico-fiscal da ENI

12Fonte: retirada e adaptada de Centro de Integridade Pública (2013, p. 8)

Fonte: retirada e adaptada de Centro de Integridade Pública (2013, p. 7)

Page 13: Trabalho de fiscalidade

Tabela 3: Regime jurídico-fiscal da Sasol

De acordo com o Ministério dos Recursos Naturais e Energia (2015), importa mencionar que, em relação aos regimes fiscais das empresas acima referidas, elas deverão cumprir a obrigação do pagamento do IPP em espécie, mediante a entrega ao governo de uma percentagem de gás natural e petróleo bruto que for produzido. Encontra-se estabelecido que a transferência do gás e petróleo, referente ao pagamento do IPP de um determinado mês civil, deve ser realizada antes do término do mês civil posterior. No entanto, o governo tem a possibilidade de solicitar às empresas petrolíferas que efectuem o pagamento desse imposto em numerário, seja de forma parcial ou de modo integral.

Segundo a Autoridade Tributária de Moçambique (2015), na presente realidade, destas três empresas a única que actualmente se encontra a realizar o pagamento do Imposto sobre a Produção de Petróleo é a Sasol.

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Fonte: retirada e adaptada de Centro de Integridade Pública (2013, p. 10)

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Vantagens e desvantagens da presença destas empresas no país e dos regimes jurídico-fiscais a elas atribuídos

Segundo a Deutsche Welle (2012), o estado moçambicano tem concedido vastos benefícios fiscais aos mega-projectos, implicando que estes pouco contribuam para a receita orçamental. Não constituem uma fonte relevante de recursos financeiros. Grande parte da população moçambicana ainda não teve acesso aos benefícios dos mega-projectos.

É importante considerar os impactos ambientais que podem ser provocados mediante a exploração dos recursos naturais. (Mosca e Selemane, 2013)

Há o risco de o incremento exportações dos recursos naturais levar à subida da taxa de câmbio real, o que implicaria que as vendas dos outros bens para o exterior perdessem a sua competitividade. O comprometimento das exportações de outros sectores da economia moçambicana acarretaria uma redução do crescimento económico. Este fenómeno designa-se por doença holandesa. Apesar de não se registarem manifestações claras da doença holandesa em Moçambique, é aconselhável que o governo encontre formas de incentivar a competitividade dos outros sectores económicos, dado que o peso das receitas arrecadadas através da exportação dos recursos naturais tem vindo a aumentar. (Fundo Monetário Internacional, 2014)

Contudo, é possível mencionar alguns benefícios originados pelos mega-projectos, tais como a "transferência de tecnologias e conhecimento, geração de emprego, criação de infra-estruturas, promoção e desenvolvimento de pequenas e médias empresas, geração de receitas, poupança e reservas externas, promoção de exportações, desenvolvimento comunitário", entre outros. Os benefícios fiscais atribuídos pelo governo moçambicano às empresas têm atraído investimento externo para o país, e este, por sua vez, favorece a nação nos aspectos acima mencionados. (Rádio Moçambique, 2012)

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (2014), apud Jornal Debate (2014), espera-se que os mega-projectos relacionados à exploração do gás natural e carvão exerçam um papel preponderante no crescimento económico da nação. Julga-se que no período compreendido entre 2013 e 2023, as exportações dos recursos naturais cresçam em 2% cada ano.

Relativamente aos contratos da Anadarko, ENI e Sasol, estes apresentam muitas disparidades em relação às leis fiscais geralmente aplicáveis, tendo como exemplo as suas reduzidas taxas do IPP comparativamente a aquelas que se encontram estipuladas pela Lei 27/2014, de 23 de Setembro. Estas empresas gozam de vastos benefícios fiscais, permitindo-lhes, para além de recuperar o valor investido, realizar lucros extraordinários. Neste contexto, o estado moçambicano apenas poderá obter receitas relevantes após um largo período de escala temporal. O estado tem abdicado de quantias bastante significativas de receitas, benefíciando as empresas petrolíferas em virtude da ineficiência que caracteriza os contratos ratificados pelas duas partes. (Centro de Integridade Pública, 2013).

Segundo a Autoridade Tributária de Moçambique (2015), uma das desvantagens destes regimes fiscais consiste no facto de os mesmos acarretarem custos para o estado, ou seja, implicam despesas fiscais devido à aplicação de uma reduzida taxa de imposto sobre os resultados tributáveis destas empresas. Mediante a atribuição de benefícios fiscais, o estado automaticamente renuncia certas receitas fiscais.

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Conclusão

Através da elaboração deste trabalho consegui ter uma percepção acerca das leis aplicáveis às operações petrolíferas. As companhias autorizadas a exercer actividades dessa natureza em Moçambique têm contribuído para o desenvolvimento económico e social do país. No entanto, também foi possível observar que o estado tem concedido amplos benefícios fiscais às empresas petrolíferas, o que implica que as receitas fiscais que lhe são encaminhadas pelas mesmas sejam muito reduzidas. O estado tem registado um nível elevado de despesa fiscal. Afora disto, é importante referir que certos benefícios fiscais foram aprovados por um intervalo de tempo que varia entre 10 e 20 anos e outros incentivos irão persistir durante o prazo do projecto. Assim sendo, determinados mega-projectos irão exaurir os recursos naturais antes de as empresas multinacionais iniciarem o pagamento justo de impostos à nação.

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Referências bibliográficas

Legislação

Lei n⁰ 21/2014 de 18 de Agosto - Lei de Petróleos

Lei n⁰ 27/2014 de 23 de Setembro - Estabelece o Regime Específico de Tributação e de Benefícios Fiscais das Operações Petrolíferas

Páginas da Internet consultadas

PricewaterhouseCoopers. (2014). Alerta fiscal : Aprovação do Regime de Tributação e Benefícios Fiscais das Operações Petrolíferas. Disponível em: <http://www.pwc.co.za/en_ZA/za/assets/pdf/tax-alert-regime-fiscal-e-beneficios-nas-operacoes-petroliferas.pdf>

Deutsche Welle. (2012). População em Moçambique ainda não beneficia de mega-projetos. Disponível em: <http://www.dw.com/pt/popula%C3%A7%C3%A3o-em-mo%C3%A7ambique-ainda n%C3%A3o-beneficia-de-mega-projetos/a-16237283>

Mosca, J. e Selemane, T. (2013). GRANDES PROJECTOS E SEGURANÇA ALIMENTAR EM MOÇAMBIQUE. Disponível em: <http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/files/Comunicacoes/JMosca2.pdf>

Fundo Monetário Internacional. (2014). Moçambique em Ascensão: Construir um novo dia. Disponível em: <https://www.imf.org/external/lang/portuguese/pubs/ft/dp/2014/afr1404p.pdf>

Rádio Moçambique. (2012). MEGA-PROJECTOS: FIM DOS BENEFÍCIOS. Disponível em: <http://rm.co.mz/index.php/programacao/100-noticias/arquivo1/3810-mega-projectos-fim-dos-beneficios>

Jornal Debate. (2014). In: Fundo Monetário Internacional. Megaprojectos poderão oferecer emprego e crescimento económico. Disponível em: <http://www.debate.co.mz/pequenas-e-medias-empresas/774-megaprojectos-poderao-oferecer-emprego-e-crescimento-economico>

Centro de Integridade Pública. (2013). Os Contratos de Gás da Bacia do Rovuma: Os Detalhes e o Que Eles Significam. Disponível em: <http://www.cip.org.mz/cipdoc/190_Servi%C3%A7o%20de%20Partilha%20de%20Informa%C3%A7%C3%A3o%20n%C2%BA3_2013.pdf>

Anadarko. Mission. Disponível em: <http://www.anadarko.com/About/>

Wikipedia. Anadarko Petroleum. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Anadarko_Petroleum>

Ministério dos Recursos Naturais e Energia. (2015). CONTRATO DE CONCESSÃO PARA PESQUISA E PRODUÇÃO ENTRE O GOVERNO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE E ANADARKO MOÇAMBIQUE ÁREA 1 LIMITADA E EMPRESA NACIONAL DE HIDROCARBONETOS, E.P. PARA ÁREA 1 "OFFSHORE" DO BLOCO DO ROVUMA. Disponível em: <http://www.mireme.gov.mz/index.php?option=com_phocadownload&view=category&download=11:area-1-bacia-do-rovuma&id=8:contratos-de-pesquisa-producao&Itemid=160>

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Page 17: Trabalho de fiscalidade

ENI. What is Eni's mission? Disponível em: <http://www.eni.com/en_IT/faq/company-information/institutional-information/faq-company-mission-eni.shtml>

Wikipedia. ENI. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ENI>

Ministério dos Recursos Naturais e Energia. (2015). CONTRATO DE CONCESSÃO PARA PESQUISA E PRODUÇÃO ENTRE O GOVERNO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE E ENI EAST AFRICA S.p.A. E EMPRESA NACIONAL DE HIDROCARBONETOS, E.P. PARA ÁREA 4 "OFFSHORE" DO BLOCO DO ROVUMA. Disponível em: <http://www.mireme.gov.mz/index.php?option=com_phocadownload&view=category&download=14:area-4-bacia-do-rovuma&id=8:contratos-de-pesquisa-producao&Itemid=160>

Sasol. Our Shared Values. Disponível em: <http://www.sasolnorthamerica.com/values>

Wikipedia. Sasol. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Sasol>

Ministério dos Recursos Naturais e Energia. (2015). CONTRATO DE PARTILHA DE PRODUÇÃO PARA OS BLOCOS DE PANDE E TEMANE. Disponível em: <http://www.mireme.gov.mz/index.php?option=com_phocadownload&view=category&download=12:area-pande-e-temane-bacia-de-mocambique&id=8:contratos-de-pesquisa-producao&Itemid=160>

Centro de Integridade Pública. (2013). Megaprojetos Têm Muitos e Excessivos Incentivos Fiscais. Disponível em: <http://www.cip.org.mz/cipdoc%5C182_CIP%20NEWSLETTER%20edi%C3%A7ao%20n%C2%BA17-%202013.pdf>

Centro de Integridade Pública. (2014). LEGISLAÇÃO SOBRE PETRÓLEO: Para Além do Gás Natural do Rovuma, Compreendendo as Implicações das Leis de 2014. Disponível em: <http://www.cip.org.mz/cipdoc%5C341_spinformacao_2014_12_pt.pdf>

Entrevistas

Com o Doutor Agostinho Mariano, membro da direcção-geral dos recursos naturais da Autoridade Tributária de Moçambique

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