trabalho de etica (kant) (caio grimberg)

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Caio Henrique Grimberg - 769 - São Bento - 2010

SÃO PAULO - SP

NOVEMBRO – 2010

SUMÁRIO

PARTE I

1. INTRODUÇÃO

2. DESENVOLVIMENTO

3. A ESTRUTURA DA ÉTICA KANTIANA (Lima Vaz)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5. REFERÊNCIAS

6. BIBLIOGRAFIA

PARTE II

1. RESUMO

2. INTRODUÇÃO

3. ESTRUTURA DA ÉTICA CONTEMPORANEA (Grimberg)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5. REFERENCIAS E BIBLIOGRAFIA

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Caio Henrique Grimberg - 769 - São Bento - 2010

PARTE I

INTRODUÇÃO

Uma exposição sobre Ética corre sempre o risco de ser lacunosa ou superficial se me

prender a um único texto (Estrutura da ética Kantiana, LIMA VAZ, Henrique Cláudio), dada a extensão

e profundidade do tema, um dos mais complexos e desafiadores de toda a história da Filosofia

ocidental. Optei, assim, pela abordagem didática e objetiva dos principais sistemas de

pensamento da Filosofia Prática ocidental, que se tornaram referências para as amplas análises

da experiência ética humana, de modo a ofertar um panorama da Ética desde sua origem, como

reflexão sobre hábitos e costumes transmitidos espontaneamente pela tradição e consolidados

nas diversas culturas. Para tanto, deixo-me guiar por algumas obras em língua portuguesa: do

filósofo mineiro Padre Henrique Cláudio de Lima Vaz. Passemos ao desenvolvimento do tema.

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DESENVOLVIMENTO

A inteligência humana é conduzida segundo dois fins básicos: conhecer e agir; portanto,

apresentam-se sob duas formas, denominadas pela Filosofia, razão teórica e razão prática. Esta

última, que nos interessa, guia a praxis humana e a especifica como praxis razoável, sensata

(prudente), ou seja, acompanhada da razão. E ao fazer uso dessa razão, seja para guiar suas

ações no sentido em que ela aponta, seja para se afastar do indicado por ela como insensato, o

ser humano torna-se ser moral ou indivíduo ético. É ela a responsável pela inserção do indivíduo

na tradição ética à qual está necessariamente vinculado, sendo que a primeira premissa

apontada pela razão prática é justamente a impossibilidade de uma vida ética construída e

atualizada por um indivíduo solitário (único), o que nos impõe a necessidade de uma comunhão

de propósitos, expressa na tradição cultural. 1É nesse contexto que refiro a expressões como:

ética, moral, moral individual, ética social, Ética (maiúscula), além de algumas outras

adjetivações da palavra ética, tais como ética profissional, ética de situação, Ética do discurso

etc. Análise etimológica desta palavra vetorial de amplas adaptações no jargão vulgar e

semasiológico: ética.

O termo ética tem origem na cultura grega, encontrada na obra aristotélica como um

adjetivo (ethike), que qualifica uma forma de saber que conduz o exercício perene das virtudes

morais, e, ainda, a reflexão metódica sobre os costumes (que recebe grafia diferenciada: ethea).

Tais adjetivações derivam do substantivo ethos, que também receberá grafias diferenciadas em

virtude da designação de dois vieses complementares de uma mesma manifestação da conduta

humana. 2Numa primeira acepção, ethos com eta inicial (ήθoς) significa a morada do homem e

de qualquer animal, como um lugar de estada permanente, como um abrigo protetor.3É dessa

primeira denotação que o termo passa a expressar o rol de costumes que regem a vida do grupo

social.

Nesse sentido é que se distingue o ethos do animal, que o restringe aos limites de seu

ecossistema fechado e condicionado pelas leis naturais (dando origem ao estudo do

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comportamento animal — a Etologia); e o ethos do homem, que rompe o necessitarismo

imposto pela natureza (physis), construindo livremente seus regramentos e conduzindo

autonomamente suas ações. 4 A segunda acepção aponta para uma matriz complementar à

primeira. Trata-se do ethos com épsilon (εθoς), que se refere ao comportamento constante dos

indivíduos que pertencem ao grupo social, sendo, portanto, tal comportamento regido pelo

ethos-costume. 5Esse hábito consolida-se como disposição permanente para agir de acordo com

as exigências de realização do bem ou do melhor (ethos-hexis).6

Considero nesse ponto o uso diferenciado no jargão moderno das expressões ética e

moral. Na verdade, não haveria distinção a se mencionar entre ambas. A palavra moral deriva do

adjetivo latino moralis, de raiz substantiva mos, guardando similitude com a etimologia de ética-

ethos no grego, como visto acima. Apesar de que, mos é mais rica em sentidos que ethos, e tal

polissemia se manifesta progressivamente como: vontade, desejo; conduta (seja como costume,

uso, hábito, seja como comportamento e atitude); modo de ser, estado, natureza; e ainda como

lei, preceito, regra. 7

Sendo palavras sinonímicas, não haveria razão para distingui-las. No entanto, faz parte

das incursões teóricas atuais a distinção. Lima Vaz esclarece que no jargão aristotélico passava-

se da ética individual à ética política sem qualquer confronto entre o indivíduo e o meio social. Já

na filosofia moderna, própria de uma sociedade complexa, tal confronto é pressuposto de modo

a estabelecer-se uma distinção e até uma oposição entre as motivações que regem o agir do

indivíduo, impelido por necessidades e interesses, e os objetivos da sociedade política,

estabelecidos segundo o imperativo de sua ordenação, conservação, fortalecimento e

progresso.8

De modo que Moral refere-se ao campo da moralidade interior (Moralität em Kant),

privilegiando a subjetividade do agir, ao passo que Ética vem designar preferencialmente a

realidade histórica e social dos costumes (Sittlichkeit em Hegel), 9como referência objetiva ao

agir. No jargão filosófico contemporâneo temos que moral reduz-se ao campo da praxis

individual, e, portanto, uma reflexão teórica sobre tal manifestação é objetivo de um campo da

filosofia, a Filosofia Moral.

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Por outro lado, o termo ética amplia-se para a referência a todos os aspectos da práxis

social, tendo como especificações epistêmicas a Etnologia, enquanto ciência humana voltada

para a análise das formas históricas empíricas da praxis social, e a Ética, enquanto reflexão

teórica a propósito desta práxis, como campo de saber filosófico, denominado simplesmente

Ética (grafada com inicial maiúscula, ou ainda Filosofia Prática). Nada obstante, a distinção

terminológica não é pacífica. Padre Vaz aponta, por exemplo, a distinção estabelecida pelo

Dictionnaire d´Éthique et de Philosophie morale, publicado pela editora francesa PUF (2001), no

qual consta que Ética refere-se aos aspectos mais concretos da reflexão moral tendo em vista a

vida boa, enquanto que a expressão Filosofia Moral denomina preferencialmente a dimensão

histórica e conceitual da Ética. Vê-se, portanto, que não há rigorosa e universal distinção no

emprego dos termos.

Yves de La Taille, por exemplo, toma por critério outro tipo de distinção: a convenção

mais adotada para diferenciar o sentido de moral do de ética é reservar o primeiro conceito para

o fenômeno social, e o segundo para a reflexão filosófica científica sobre ele 10. O autor denuncia

ainda que a inflação no uso da palavra ética, hoje, e a reduzida referência ao termo moral

decorre do fato de que moral lembra moralismo ou moralista, o que remete a “normatização

excessiva”, “normatizador e vigia contumaz da vida alheia”, sendo que o moralista em acepção

original (nada pejorativa) significa apenas “alguém preocupado com questões morais”. Ocorre

que a preferência pela palavra ética (“ética na política”, “ética profissional”, “ética na família”,

“comitês de ética” etc.) nenhuma novidade trouxe como substituto à moral. Pelo contrário,

conclui La Taille: a palavra moral é suspeita porque fala em normas: ora, as atuais referências à

ética são tão normativas quanto aquelas associadas à moral. E ainda levanta a questão de que,

se essa demanda normatizadora atual, não seria, no fundo, um misto de desconfiança na

consciência moral (espontânea) dos indivíduos, acompanhada de uma tentativa de retomada do

fundamentalismo moral, sofisticado pelas reflexões cientifico - filosóficas que moldam e

aprofundam a experiência moral, tornando-a algo intelectualizado, mais sofisticado que sua

manifestação espontânea. 11

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Feitas essas considerações de ordem filológica, procedo à catalogação das

manifestações da Ética, enquanto reflexão sobre a normatividade da vida em coletividade,

produzida por qualquer cultura, desde a antiguidade clássica até os dias atuais. A aparição da

Ética enquanto reflexão intelectual sobre o saber ético praticado espontaneamente pelos povos

é atribuída a Sócrates, por volta do século V A.C., momento em que se verifica uma intensa crise

nas estruturas éticas daquela comunidade, que vinha se sustentando sobre formas simples de

transmissão e ratificação de seu ethos. Nesse momento impõe-se a necessidade de tratar o

problema da praxis humana com o mesmo rigor que a racionalidade humana empreendia para

explicar os fenômenos da natureza (physis), e que marcava a tradição da Escola de Mileto, desde

o século VII A.C., e a filosofia cosmológica que se desenvolvia durante a fase pré-socrática da

história da Filosofia grega. A Ciência da Ética, inaugurada por Sócrates, propõe-se a ocupar o

lugar das parábolas, lendas, sabedoria de vida, crenças e ritos religiosos, na tentativa de

justificar de maneira totalmente inusitada a vocação ética do homem ao bem, o que equivale

dizer: o saber ético (tradicional e vulgar) se substitui ao discurso de persuasão socrático, que

pretende demonstrar a necessidade da virtude na vida humana, a partir da compreensão da

essência desta e daquela.

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A ESTRUTURA DA ÉTICA KANTIANA

Concluindo com Lima Vaz, o ethos verdadeiro deixa de ser a expressão do consenso ou

da opinião da multidão e passa a ser o que está de acordo com a razão 12. A Ética grega se

desenvolve sob o primado do intelecto (dito intelectualismo moral), ficando a vontade, de certa

forma, reduzida no processo de conhecimento e prática do Bem, pois toda a realidade se impõe

à inteligência, que a recebe passivamente (marca da chamada filosofia do objeto). Daí a

afirmação clássica: “o bem se impõe à liberdade como o ser ao intelecto”. Aqui não aparece a

noção de culpa, porque a não realização do Bem não implica posterior responsabilização, visto

que o mal decorre da ignorância ou da “falta de educação da inteligência” (apaideusia).

Ao sujeito não é atribuível um mau voluntário, mas um obscurecimento da realidade (do

Bem), um falso conhecimento na ordem prática, pois não se admite vontade versus

conhecimento, que seria uma enorme contradição dentro do gênero racional humano. O

homem mal é aquele que padece da doença da ignorância quanto ao que seja o Bem. 13 Os

injustos são enfermos, sendo a pena o remédio para os mesmos, como ensinara Platão.14 Dentro

do cristianismo, a partir de suas origens bíblicas, o ato moral estará centrado principalmente na

vontade. Nessa concepção,

O que interessa não é o que entra no coração do homem, mas o que sai dele.

Deus inscreve sua Lei no coração de cada ser humano, e este,

a partir do livre arbítrio que também é dado por Deus,

cede ou não aos seus apelos. 15

Essa concepção ética marcará todo o medievo e encontrará na obra de Santo Tomás de

Aquino sua expressão mais acabada: a fundação da ética calcada na noção de livre arbítrio,

liberdade própria do homem, na qual reside a raiz do mal, compreendido este como carência.

Porque possui esta essência livre, é que a direção do homem a seus fins “não se dá como a de

uma flecha para um alvo”.

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Sendo um ser capaz de conhecer, há nele um habitus natural de captar os princípios do

conhecimento, bem como uma disposição ou habitus natural para compreender os princípios

que guiam as boas ações (sindérese). No entanto, na doutrina tomásica, compreender não

equivale a agir, justamente porque ela se desenvolve a partir da noção de livre arbítrio, sendo a

sede do pecado a liberdade de escolha entre agir ou não de acordo com as leis universais que a

razão lhe dá a conhecer e com a lei que Deus lhe revela. Peca, porque infringe deliberadamente

tais leis. 16

Na tradição marcadamente religiosa do período medieval é que se formula o sistema

filosófico prático conhecido por voluntarismo moral, pressupondo-se que não só haverá de se

conhecer a Lei (ou o próprio Deus), mas amá-lo incondicionalmente. Afasta-se do

intelectualismo clássico, porque a verdade moral (ou religiosa) não se impõe ao homem como a

verdade teórica. Na contramão do sistema intelectualista, conclui-se que o homem pode

conhecer o verdadeiro e optar pelo contrário, precisamente porque é dotado de livre arbítrio

para contrariar sua própria inteligência (contrariando a Deus, em última instância). Em suas

Confissões, Santo Agostinho atesta que o conhecimento não é suficiente ao homem, como tanto

enfatizaram os gregos, mas sim o amor, entendido sobre tudo como o amor a Deus. Para ele, o

que decorria do amor a Deus era a obediência aos mandamentos divinos, que se tornavam

acessíveis pela luz da razão e pelas Sagradas Escrituras. 17

A partir de Renée Descartes, a filosofia ocidental desenvolve-se como uma filosofia da

consciência, em que esta passa a ocupar o centro de toda a realidade, pois todo o real é

determinado pelo sujeito. Filosofia do sujeito é equivalente a filosofia da consciência. Immanuel

Kant, inspirado na proposta dubitativa ensaiada por Descartes, inaugura uma ética calcada na

idéia de vontade apriorística, marca indelével da ética moderna. Sua proposta é desenvolver

uma ética autônoma, ao contrário do caminho traçado pela filosofia clássica no sentido de uma

ética heterônoma. O fenômeno ético para os clássicos é compreendido em dois momentos: um

interior, no qual se experimenta o agir moral no plano subjetivo, e outro exterior, no qual se

encontra o referencial objetivo desse agir, tais como o Bem (na ética platônico-aristotélica) ou

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Deus (na ética cristã). Em função de esse elemento constitutivo (o objetivo) do fenômeno se

encontrar fora e acima (transcendência) de cada ser dotado de razão (mas que ao mesmo

tempo dele participa, em função dessa sua racionalidade), é que esse sistema ético recebe a

denominação de heterônomo, pois que a norma objetiva obriga o sujeito ético de fora para

dentro.

Kant traça nova compreensão do problema ético. Para ele, o Bem não reside fora da

vontade, mas é ela mesma, enquanto vontade boa; e a vontade boa é a própria legislação moral.

E define vontade como a faculdade de se determinar a si mesmo e agir em conformidade com a

representação de certas leis, 18 fenômeno encontrado em seres dotados de razão. O que serve

de princípio objetivo dessa autodeterminação é o fim, que é dado exclusivamente pela razão, e,

como tal, devendo ser válido para todos os seres racionais. 19 E mais: segundo ele, toda

empreitada de análise do fenômeno ético sugerida pelos sistemas de filosofia prática anteriores

restou falida exatamente porque buscara o princípio da moralidade fora do sujeito moral, pois

que a lei determinante da ação moral era posta fora do sujeito, não derivada da sua própria

faculdade racional. Em função dessa heteronomia, a ação sempre se deixava determinar por

interesses. 20

O sistema ético kantiano ficou conhecido por sua natureza de ontológica: apesar de sua

essência estar situada na vontade, não se trata de um mero voluntarismo, visto que a vontade

deve ser conduzida pela razão (a dita vontade boa). O valor da vontade boa não reside segundo

Kant, no “mero querer”, mas num querer que não pode ser mau. 21

“y esa condición sólo puede imprimirla en el querer la razón, de cuya mano está

hacer que las máximas o disposiciones de este querer no se contradigan en sí

mismas y puedan, así, ser válidas igualmente, como blasones de la imparcialidad

en la moral para el resto de los sujetos que quieren y razonan también.”

“e essa condição só pode ser impresso na vontade da razão, de cuja mão

fazer o máximo ou disposições do presente não vai contradizer a si mesma

si e podem ser igualmente válidas, como emblemas de justiça

na moral para o resto dos assuntos que eles querem e razão também.”

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Diz-se tratar-se de uma Ética de ontológica porque intenta excluir a norma objetiva da

exterioridade da razão e trazê-la para dentro de cada indivíduo dotado de razão, como dever ser

de sua conduta. A autonomia da vontade é entendida como uma propriedade desta, graças a

qual ela é para si mesma a sua lei, independente da natureza dos objetos (móbiles) do querer. 22

Ao contrário da ética clássica eudaimonista, a ação boa é a ação devida conforme os ditames da

razão e não aquela que visa à felicidade (como “auto-realização na razão”, segundo a definição

aristotélica de eudaimonia). Daí a conclusão célebre de Kant: ao homem não cabe apenas

buscar sua felicidade, mas tornar-se digno dela. O modelo ético Kantiano tem como categorias

fundamentais a boa vontade, o dever ou obrigação moral e a lei moral, produto da razão.

O filósofo de Königsberg impõe ao homem a capacidade de ser o autor de sua própria

legislação, dada a sua liberdade e racionalidade. Ele nem simplesmente conhece o bem, nem o

conhece e também o quer: ele é o seu próprio nascedouro, já que todo ser dotado de razão é

capaz de erigir uma legislação universal (válida para todos dessa espécie). Nada obstante, o

conteúdo da vontade boa não é precisado por Kant, o que levou as reflexões filosóficas

posteriores a considerá-la uma ética formalista. Os imperativos categóricos formulados como

mandos apodíticos da vontade boa não trazem conteúdo específico, mas apenas fórmulas gerais

retoras do agir (a mais conhecida é: age de tal modo que a máxima de tua ação se devesse

tornar em lei universal da natureza). Esta “lacuna” no sistema ético kantiano será pensada na

forma de propostas materiais, especialmente de uma ética de valores, já no período

contemporâneo.

Para o último grande sistematizador da história da filosofia ocidental, e o maior

representante do idealismo alemão, G. W. F. Hegel, a consciência humana que conhece é a

mesma que age, não estando separadas no ser humano as experiências teórica e ética. Todo o

processo dialético experimentado por este é para saber da sua liberdade, que engloba

implicadamente o teórico e o prático: conhecer é tornar-se cada vez mais livre. Kant já havia

concebido o ético como a realização da liberdade; no entanto, não colocou o problema do saber

da liberdade.

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A experiência para Hegel é a forma pela qual a consciência humana caminha na história

(seu lugar) para o seu desenvolver-se. A consciência é absoluta no sentido de que jamais se auto

desenvolveria se não já tivesse possibilidade para tal. O seu desenvolver-se tem

necessariamente de passar por si mesma. Se a consciência se desenvolvesse a partir de algo ou

de uma vontade que não fosse ela mesma, não seria consciência, pois não chegaria nunca, a

saber, desse seu desenvolvimento, o que implicaria impossibilidade do próprio conhecimento de

si mesma. Seria determinada por algo de exterior a ela mesma, não seria livre; portanto, não

seria consciência.

Hegel não separa radicalmente a atividade da razão, especificada segundo o conhecer e

o agir, termos em que compreende a experiência ética (seja individual, seja social) como um dos

momentos da experiência da consciência em sua progressiva caminhada rumo ao auto descobrir

se. Na verdade, ao contrário de Kant, Hegel percebera que o entendimento reflexivo separa,

divide, classifica, enquanto a razão compreende a totalidade não abstratamente. Neste sistema

de pensamento, busca-se superar a contradição deixada pela filosofia moderna entre a

moralidade interna e a legalidade externa: a autonomia da liberdade subjetiva referida por Kant

só se efetiva na experiência histórica, enquanto se faz “mundo”, 23 e as manifestações da

experiência humana no mundo são manifestações do Espírito, sejam elas de natureza cognitiva

ou ética.

O pensamento de Friedrich Nietzsche apresenta-se como totalmente inusitado ao visar a

denunciar os verdadeiros motivos que estão na base da criação dos valores, e que decorrem,

antes de tudo, da por ele denominada vontade de poder, que é a força motriz de todas as

construções axiológicas. A moralidade nada mais é que decorrência do ressentimento que

impulsiona a força reativa dos fracos para dominar, através do discurso da moralidade, a força

criativa dos fortes. Propõe Nietzsche, como procedimento de suspeita dirigido às bases da

filosofia tradicional, a absoluta inversão de todos os valores que foram construídos pela razão,

devendo eles sucumbir ao instinto ou à força da vida nativa, para assim construir-se uma nova

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Moral de afirmação da vida, em substituição ao moralismo platônico-cristão que é uma negação

da vida. 24

Para Nietzsche é da essência do forte querer subjugar, dominar, vencer, ter sede de

resistências e triunfos, e o fraco e oprimido exorta os semelhantes, sob o pretexto de serem

bons, e não maus, como os fortes, ao exercerem seus ímpetos. Esta bondade prudente nada

mais é que um não fazer nada para o qual não se é forte o bastante. E esta impotência passou a

ser tomada como virtude, na verdade uma mentira para si mesmo, que falseia a renúncia, a

espera, o silêncio, próprios do fraco, e que se mascaram na forma de liberdade do agir conforme

a razão, que é o tempo todo negada pela vida. Eis uma síntese apertada da proposta central da

Filosofia Moral desconstrutivista de Nietzsche, e que pode ser registrada na seguinte passagem:

Por um instinto de auto conservação, de auto afirmação (...)

essa espécie de homem necessita crer no “sujeito” indiferente e livre para escolher.

O sujeito (ou falando de modo mais popular, a alma)

foi até o momento o mais sólido artigo de fé sobre a terra,

talvez por haver possibilitado à grande maioria dos mortais,

aos fracos e oprimidos de toda espécie,

enganar a si mesmos com a sublime falácia

de interpretar a fraqueza como liberdade,

e o seu ser assim como mérito. 25

A tentativa mais expressiva de se formular uma ética material após o advento do

pensamento kantiano pode ser encontrada na obra do filósofo alemão Max Scheller, o maior

representante e sistematizador da dita Ética de valores. Scheller propõe um apriorismo moral

material, deflagrando a impossibilidade de estabelecerem-se regras efetivas do agir dentro de

imperativos vazios e abstratos (legados pela ética formalista kantiana). 26 Aponta objetivamente

tábuas de valores que possam guiar o sujeito moral em suas decisões concretas, considerando

que a ética kantiana é uma ética do ressentimento enquanto tensão entre o desejo e a

impotência, e que em nome do dever bloqueia a plenitude da vida.27 Empreende então a tarefa

de discriminar e hierarquizar as várias classes de valores, que devem se distinguir dos bens, visto

que bens são coisas (fatos) que têm valor. Valores são essências, enquanto aquelas qualidades

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pelas quais os bens são coisas boas28 (o valor da máquina — que é um bem — é a sua utilidade; a

pintura é um bem pelo valor da beleza; a lei é um bem pelo valor da justiça). Assim, as

proposições éticas são a um só tempo apriorísticas, universais e materiais. São apriorísticas,

pois que sua existência independe do conhecimento pelo homem, tais como os números: estes

existem de per se; são absolutos, pois apenas o nosso conhecimento sobre eles é que pode

variar; e são imutáveis, pois que não se alteram em razão das modificações ocorridas em seus

depositários. Em termos tais, o valor da amizade sempre subsistirá às sucessivas e reincidentes

traições possíveis entre amigos. 29

A ética de valores propõe algo mais que meras fórmulas abstratas para o agir, como

empreendera Kant em seu formalismo moral. Por outro lado, não se dissolve em observações

empíricas (nesse sentido, nega, tal como o fez Kant, as análises relativistas do comportamento

humano). E pretende-se material porque as matérias sobre as quais elas versam são conteúdos

(e não fatos — bens —) são essências, isto é: valores (materiais nesse sentido).

Para finalizar, Scheller elenca como elementos constitutivos da noção de valor a sua

transcendência (coloca-se acima do sujeito em sua imanência), a sua dialética (ao invocasse um

valor, exclui-se o seu contra valor), e a sua hierarquia (relação de precedência numa escala de

valores). A sucessão hierárquica basilar indicada por ele estabelece-se na seguinte escala de

valores: os sensoriais (alegria/tristeza, prazer/dor); os da civilização (útil/danoso); os vitais

(nobre/vulgar); os culturais ou espirituais (que se subdividem em: estéticos — belo/ feio; ético-

jurídicos — justo/injusto; e especulativos: verdadeiro/falso); e, por fim, os valores religiosos

(sagrado/profano). 30

Entre as propostas éticas contemporâneas há de se destacar as formulações construídas

por Max Weber a propósito das ações políticas, que, por sua própria ecceidade, demandam

senso moral diferenciado das ações individuais. Para o autor, dois são os tipos de

fundamentação ética que distinguem as boas e as más razões dos atores políticos: o de natureza

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principio lógico pré-estabelecida (como os são os Dez Mandamentos) e o do tipo que visa a

resultados (a educação do maior número de pessoas, por exemplo).

Weber chama a primeira de ética de convicção (correspondente à ética de deveres), e a

segunda de ética de fins, que dá legitimidade a, por ele denominada, ética de responsabilidade, a

ética própria e adequada à política, pois que não pautada no valor consagrado no princípio, e

sim, na racionalidade segundo o fim. Enquanto tal, essa ética funda-se na adequação dos meios

aos fins pretendidos, o que exige, do juízo sobre a ação boa, algo mais que a prudência: exige

uma técnica de atuação que leve em consideração as conseqüências da decisão, tal como uma

relação de causa e efeito. Situação em que se verifica uma tal postura, seria a do médico que

mente para o paciente para poupar-lhe do sofrimento: trata-se de uma mentira caridosa. 31

Há que se abordar ainda as empreitadas da Ética do discurso ou da discussão,

representada pelos chamados comunitaristas, que têm como o maior expoente o pensamento

do filósofo da Escola de Frankfurt, Jürgen Habermas. Pretende esse novel sistema ético

apresentar chaves hermenêuticas que substituam o primado da razão prática pela razão

comunicativa, pressupondo um médium lingüístico, através do qual as interações sociais se

interligam e as formas de vida são estruturadas, possibilitando e limitando a compreensão e a

ação dos indivíduos no tempo. 32

O fim de tais interações é o consenso, que se torna possível sob três condições ideais, de

um discurso que possa ser validado racionalmente: que sejam estabelecidas regras de

consistência semântica necessárias para cada tipo de argumentação; que se estabeleçam

organizacionais da conversação; e, principalmente, que existam regras que assegurem a

participação livre e igual de todos, sendo que esta última representa a esperança de um

consenso sem coação e racionalmente motivado. 33

O trabalho de Lima Vaz, o âmago de sua Ética clássico dialetizada, estrutura-se em

tríades expressivas dos desdobramentos da razão prática, que encontra seu termo no ato da

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consciência moral. Por ser imanente ao indivíduo, apontando para a necessária relação com o

outro, e, decorrendo desta relação à objetividade (transcendente) da tradição, a estrutura da

razão prática se movimenta em três dimensões, segundo as quais o indivíduo se manifesta

agindo eticamente, que se constituem como momentos da sua experiência ética, e que estão

dialeticamente relacionados. São eles: o momento subjetivo, o intersubjetivo e o objetivo do agir

moral. O momento subjetivo é experimentado pelo indivíduo consigo mesmo, refletindo sobre

seus propósitos, o que quer para si, independentemente da inserção na relação com o outro. O

momento intersubjetivo é a experiência do outro “invadindo” a nossa individualidade, negada

como absoluta num primeiro momento e afirmada em seguida, ao se confirmar que o eu só o é

diante de outro eu. Os indivíduos na sociedade não se chocam como pedras rolando, mas se

encontram, estabelecem propósitos recíprocos, valores, realizando o chamado encontro pessoal.

Desse encontro passamos ao momento objetivo, que é a experiência da realidade objetiva que

se impõe diante do indivíduo, é comum ao seu semelhante, formada por leis, princípios, regras,

expressos no ethos e que não se modificam (ou não podem ser modificados) pelo arbítrio de

cada um. 34

Estes dados objetivos só têm significação se postos numa comunidade, onde sujeitos se

encontram enquanto tais, encontro que só existe se os protagonistas dessa relação são

indivíduos dotados de razão, e capazes, enquanto tais, de estabelecerem o convívio e as normas

objetivas que o permeiam, 35 a partir do reconhecimento recíproco de cada um. 36

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando o movimento ao contrário, os dados objetivos (valores, normas, instituições)

só têm sentido se postos numa comunidade, onde sujeitos se encontram enquanto tais,

encontro que só existe se os protagonistas dessa relação são indivíduos dotados de razão, e

capazes, enquanto tais, de estabelecerem o convívio e as normas objetivas que o permeiam.

Poderíamos ainda começar a análise pelo momento intersubjetivo e inverter a ordem de

relações, formando vários círculos de implicações mútuas, dialéticos, portanto. Daí Padre Vaz

considerá-los momentos dialéticos de um mesmo agir: o agir ético. O agir ético pode ser

entendido como um fenômeno verificado na experiência humana, no sentido de se praticarem

sucessivos atos dessa natureza, ou seja, a vivência prática, que é constituída por cada ato em si

mesmo, formando a totalidade do agir. O ato é o que há de concreto ou a realização do agir

moral, que define a razão prática. Assim, o ato moral também se compõe de três elementos

fundamentais na Ética de Lima Vaz: conhecimento (da Lei), liberdade (de escolha), decisão

(síntese dos dois outros no ato concreto). O momento do conhecimento da norma moral é

essencialmente intelectivo e é acompanhado pelo momento da liberdade, no sentido de tornar

esta norma um valor para si; e como síntese do conhecimento que sabe da norma e da

liberdade que se auto-impõe à norma, temos a consciência moral, que é a norma subjetiva

última do ato moral (concreto). No sistema ético de Lima Vaz, este ato de

racionalidade/liberdade se realiza também em outra tríade de momentos dialeticamente

inseparáveis: o universal, o particular e o singular, segundo o modelo legado por Hegel, e que

são componentes do silogismo prático. No momento universal está à primeira manifestação da

razão prática, como conhecimento do princípio moral a ser realizado (“é bom praticar o bem”).

Este conhecimento é indiferente, visto que ao mesmo tempo em que é acessível a todos, não

pertence a ninguém, não vincula a ninguém, não pode ser atribuído a um indivíduo

especificamente. Quando, no entanto, o tomamos como objetivo próprio devemos viabilizar os

meios necessários a esta realização, o que só se determina diante das situações particulares (“é

bom — para mim — praticar o bem”). 37

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O momento particular é a interiorização subjetiva do universal, em que o indivíduo torna

a norma universal a “sua norma”. É a passagem do princípio à máxima. E, por derradeiro, o

momento singular é o universal já interiorizado e que diz respeito à prática de uma ação moral

numa situação concreta, situada no tempo e no espaço. É o chamado universal-concreto.

Enquanto terceiro momento é apenas uma acoplagem do universal se movimentando no

particular e vice-versa. É a identidade do universal diferenciada pelo particular (“é bom — para

mim — praticar o bem aqui, agora, nesta situação única e irrepetível”). Concluindo, não

intuímos diretamente o universal e não há possibilidade de a ação praticada singularmente não

se referir a ele. Todo ato de racionalidade é dialético e ato de racionalidade implica liberdade:

não há conhecimento não livre, e nem liberdade desconhecida, o que Padre Vaz resume na

seguinte afirmação: liberdade sem conhecimento seria mero instinto; razão sem liberdade,

conhecimento estranho. 38

Como síntese do conhecimento e da liberdade morais temos a consciência moral. Padre

Vaz a situa no momento da singularidade do ato, quando o indivíduo pondera, diante das

circunstâncias de fato, se deve ou não aplicar o dispositivo ético eleito como regra particular de

comportamento. Daí denominá-la o “ato terminal da razão prática”. O conhecimento da norma,

a liberdade de se auto determinar diante dela, e a consciência moral formada a partir desses

momentos compõem, segundo Padre Vaz, a identidade ética de cada sujeito moral, que se

desenvolve no seio do ethos, e que dá os critérios objetivos para a auto avaliação (subjetiva) que

cada indivíduo, inserido historicamente nele, faz de seu comportamento ético, para saber se

está realizando mais ou menos a sua perfeição de ser.

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REFERÊNCIAS

1 LIMA VAZ , Henrique Cláudio de. Escritos de filosofia V. Introdução à ética filosófica 2. São Paulo: Loyola, 2000, p. 141.

2 LIMA VAZ , Henrique Cláudio de. Escritos de filosofia IV. Introdução à ética filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999, p. 12-13.

3 LIMA VAZ , Henrique Cláudio. Escritos de filosofia II. Ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1993, p. 13.

4 LIMA VAZ , Escritos de filosofia II, p. 12-13.

5 SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça em Hegel. São Paulo: Loyola, 1996, p. 318.

6 LIMA VAZ , Escritos de filosofia II, p. 15.

7 CALONGHI, F apud LIMA VAZ , Escritos de filosofia IV, op. cit., p. 14.

8 LIMA VAZ , Escritos de filosofia IV, 1999, p. 15.

9 Id. Ibidem, 1999, p. 12 e 15.

10 LA TAILLE , Yves de. Moral e ética. Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 26.

11 Id. Ibidem, 2006, p. 28-29.

12 LIMA VAZ , Escritos de filosofia II, 1993, p. 45.

13 BROCHADO, Consciência moral e consciência

14 DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de filosofia do direito. 5. ed. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 42.

15 LIMA VAZ , Henrique Cláudio. A consciência moral, categoria fundamental da ética. Palestra: anotações da autora. Belo Horizonte:

Centro Loyola, 25/09/97.

16 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Antiguidade e idade média, Vol I. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1990, p. 567.

17 SPAEMANN, Robert. Felicidade e benevolência. Ensaio sobre ética. São Paulo: Loyola, 1996, p. 190.

18 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Textos filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1997, p. 67.

19 Id. Ibidem.

20 Id. Ibidem, 1997, p. 74-75.

21 BILBENY, Norbert. Kant y el tribunal de la conciencia. Barcelona: Gedisa, 1994, p. 35.

22 KANT, 1997, p. 86.

23 OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e sociabilidade. São Paulo: Loyola, 1993, p. 218-219.

24 LIMA VAZ , Escritos IV, 1999, p. 412-413.

25 NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral — uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 37.

26 MORA, J. Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo II. São Paulo: Loyola, 2001, p. 934.

27 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Vol III. Do romantismo até nossos dias. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1994, p. 567-568.

28 Id. Ibidem, p. 568.

29 MAGALHÃES, Felipe Bambirra.

30 REALE, 1994, p. 569.

31 LAFER, Celso, in: Ética. Vários autores. Org. Adauto Novaes. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 324-326.

32 BROCHADO, A Éticidade do fenômeno jurídico.

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33 HABERMAS apud GÜNTHER, Klaus. Uma concepção normativa de coerência para uma teoria discursiva da argumentação jurídica. Publicação do Departamento de

Filosofia da Universidade de São Paulo, 2000, p. 86-87.

34 LIMA VAZ. , Ética Sistemática

35 BROCHADO, Consciência moral e consciência

36 BROCHADO, A eticidade do fenômeno

37 LIMA VAZ , Henrique Cláudio. ética sistemática escritos de filosofia V, 2000, p. 5-6.

38 LIMA VAZ , Ética Sistemática

Bibliografia

LIMA VAZ , Henrique Cláudio Escritos de filosofia IV, 1999, p. 390.

LIMA VAZ , Henrique Cláudio de. Escritos de filosofia II. Ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1993.

DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de filosofia do direito. 5. ed. Coimbra: Arménio Amado, 1979.

GÜNTHER, Klaus. Cadernos de filosofia alemã. n. 06. São Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, 2000.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Textos filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1997.

LA TAILLE , Yves de. Moral e ética. Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.

LAFER, Celso. A mentira: um capítulo das relações entre a ética e a política. In: Ética. Vários autores. Org. Adauto Novaes. São

Paulo: Companhia das Letras, 2007.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo II. São Paulo: Loyola, 2001.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e sociabilidade. São Paulo: Loyola, 1993.

REALE, Giovanni e Antiseri, Dario. História da filosofia. Antiguidade e idade média. Vol I. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1990.

SALGADO, Joaquim Carlos. A ideia de justiça em Hegel. São Paulo: Loyola, 1996.

SPAEMANN, Robert. Felicidade e benevolência. Ensaio sobre ética. São Paulo: Loyola, 1996

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Para o final desse trabalho abro um espaço para breve exposição sobre propostas

éticas de reinterpretação, enquanto fenômeno de índole ética nas Corporações mais complexo

e mais consistente que o legado pelo movimento positivista.

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PARTE II

Resumo:

Venho questionar e avaliar o impacto do emprego da ética utilitarista em processos

decisórios dos líderes da atualidade, especialmente daqueles que decidem o futuro das

Corporações. O presente estudo investigativo é através de revisão bibliográfica e reflexões de

alguns estudiosos que estão inseridos na atualidade.

O texto foi dividido em quatro partes, onde realizo abordagens à cerca das concepções

críticas da ética, seus pressupostos e aplicabilidade da ética utilitarista, o utilitarismo e sua

aplicação em gestão de Corporações.

Para tanto, concluo que, especialmente nesses tempos atuais de turbulência e mudanças

ininterruptas, não seria possível para um bom líder, sendo ele preocupado com valores

intrínsecos à humanidade, mas em contrapartida não podendo abster-se de tomar suas decisões

e simplesmente ignorar o que as mesmas poderiam causar à sociedade em geral; este gestor,

por sua vez, encontra-se inserido num contexto em que está imbuído, realmente e eficazmente,

a fazer uma diferença positiva em seu local de atuação, não apenas baseando-se em um tipo de

ética, mas sim, devendo ele utilizar-se da ética das convicções como fundamento, onde os

princípios éticos utilitaristas serão foco principal, visando o maior benefício ao maior número de

pessoas possível. Palavras chaves: Ética; Decisão; Utilitarismo.

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1 INTRODUÇÃO

Numa época em que a sociedade encontra-se em uma ampla crise política, econômica e

social, não seria de se estranhar que em vários setores surjam grandes questionamentos

vinculados ao por que de tudo isso. O que leva uma pessoa a decidir sobre qual caminho seguir,

e que rumos permitirão à Corporação na qual está inserida permear constantemente a mente

dos dirigentes em todas as esferas?

Diante da certeza sempre premente da escolha, a dúvida é: como saber qual a melhor

decisão a se tomar? Qual seria o melhor momento? Que impactos terá essa decisão? O processo

ético dos gestores das Corporações, levando em conta as decisões e os processos de bastidores

que a acompanham, não como algo intocável ou inominável à sociedade e suas instituições, mas

sim, como algo inerente à política, à sociedade e à economia como um todo que leva em conta

os sujeitos, as pessoas envolvidas nas gestões e, conseqüentemente os processos decisórios das

mesmas. Nesse sentido, afirmo que diante do momento, demasiado preocupante que, “os

sujeitos envolvidos nas gestões, evidenciam uma crise ética pessoal e social, onde padrões

morais e decência tornaram-se caóticos”, o que reitera a dimensão ética das decisões

intimamente ligada ao dever e o agir. Discutir algumas questões do campo da ética,

especificamente a chamada ética utilitarista ou ética da responsabilidade e, como se dá seus

reflexos nos processos decisórios e de gestão. Como base para esta fundamentação utiliza-se os

resultados da revisão bibliográfica sobre o assunto, discussões e algumas pesquisas já realizadas.

A estrutura do trabalho encontra-se na forma de quatro divisões básicas, inicialmente são

abordados os conceitos e concepções de ética; a ética utilitarista especificamente; em seguida

analisa-se a ética utilitarista e seus impactos na gestão das Corporações e; finalmente são feitas

as considerações finais do trabalho.

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2 CONCEPÇÃO DE ÉTICA

“Bons mentirosos são mais populares e bem-sucedidos. Conseguem mais status e

melhores salários.” David Livingstone Smith, Ph.D. em Filosofia

(Editora Campus)

A palavra Ética pode ser entendida como princípio e conjunto de normas que norteiam a

boa conduta do ser humano, bem como, estudo dos juízos de apreciação da conduta, sobre o

ponto de vista do bem e do mal. Ética não deve ser confundida com moral como induzem

equivocadamente as expressões consagradas: “ética católica”, “ética protestante”, “ética

liberal”, “ética nazista”, “ética socialista”. É importante esclarecer que existe aqui uma diferença

fundamental, enquanto a moral tem uma base histórica, o estatuto da ética é teórico e,

corresponde a uma generalidade abstrata e formal. “A ética estuda as morais e as moralidades,

analisa as escolhas que os agentes fazem em situações concretas, verifica se as opções se

conformam aos padrões sociais” (SROUR, 1998). Ficando então a ética no mesmo plano ocupado

pelas chamadas disciplinas sistemáticas – por exemplo, a Sociologia Geral ou a Psicologia Geral –

e, produzindo conceitos do mais alto nível de abstração, sendo estes (os conceitos) “gerais” ou

de gênero.

Figura 1: Ética e Moral

Fonte: Grimberg, Caio Henrique, 2010

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Como disciplina teórica, a ética sempre fez parte da filosofia. Tem-se aqui então a

chamada “ética filosófica” que responde a um discurso racional de base especulativa, vez que

avalia então os costumes, aceita-os ou reprova-os, diz quais as ações são moralmente válidas e

quais não o são.

Dessa maneira a Ética Filosófica, tende a estabelecer princípios constantes e

universalmente plausíveis de valorização e condução da vida. Define o bem moral como o ideal

do melhor agir ou do melhor ser, além de ter procurado as fontes da moral das divindades, na

natureza ou no pensamento racional. Recentemente desenvolveu-se a chamada “ética científica,

que constata o relativismo cultural e o adota como pressuposto. Ela qualifica o bem ou o mal; a

virtude e o vício, a partir de seus fundamentos sociais e históricos” (SROUR, 1998).

Considera as normas que as coletividades consideram válidas, sem prejulgá-las ou

sequer julgá-las, constituindo um discurso demonstrativo de base empírica. Historicamente,

após a reforma protestante e com o advento do sistema capitalista que se deu a legitimação da

utilidade das funções do capital e também permitiu postular o lucro como justa recompensa

pelos serviços prestados.

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2.1 Ética Empresarial

“Por que será que a ética empresarial é um problema que emaranha não só alguns delinqüentes

veteranos e aspirantes a canalhas, mas também uma multidão de pessoas aparentemente boas, cujas vidas

privadas são exemplares, mas que ocultam informações sobre produtos perigosos ou que manipulam

custos como atividade de rotina? “(ANDREWS)

Andrews, afirma que as decisões éticas impõem três qualidades individuais a serem

admitidas e desenvolvidas, a saber:

1º. Competência para identificar questões éticas e para considerar os efeitos de soluções

alternativas;

2º. Autoconfiança para buscar diferentes pontos de vista e depois decidir o que é certo

em determinadas circunstâncias de tempo e lugar, assim como num conjunto de

relacionamentos e condições;

3º. E o que William James chamou de “opniaticidade firme” (toughmindedness), que

em gestão, é a disposição para tomar decisões quando não se sabe tudo quanto se precisa saber

e quando as questões que exigem respostas não têm soluções definitivas e incontroversas. Na

dialética do universalismo e dos particularismos deve-se considerar que, tenham ou não

consciência os agentes envolvidos, toda tomada de decisão processa-se num contexto em que

interesses contraditórios se movimentam e levam a questionamentos sobre os reais interesses,

os interessados e suas possíveis conseqüências.

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2.1.2 Principais Classificações da Ética

Gianotti (1992 apud SROUR, 1998), afirma que “a ética é uma ótica”, sob os seguintes

aspectos:

1º- Diante de todo evento a pergunta principal que devemos fazer é: tal ação é moral

para quem? Para a coletividade ou para um agente individual? E, se for para a coletividade, de

qual delas falamos?

2º Existem várias éticas e estas se desdobram em umas tantas outras abordagens. Vale

ressaltar, a Ética da Convicção já mencionada por Max Weber, em Lé Savant e, posteriormente

brilhantemente defendida por Kant. Na ética da convicção, temos embutida tanto uma

abordagem de princípio, baseada em normas morais, quanto uma abordagem de esperança

fundamentada nos ideais de vida que inspiram as coletividades. Srour (1998) nos demonstra

que, Weber também define a Ética da Responsabilidade, que posteriormente Jeremy Benthan e

John Stuart Mill exprimiram com pioneirismo pela abordagem do Utilitarismo, que implica

igualmente uma abordagem da finalidade, já enunciada por Aristóteles. Corbiser (1991), traduz

o ponto de vista de Aristóteles acerca deste assunto da seguinte forma:

Para Aristóteles, nossas atividades e nossas obras tendem sempre para um fim, que é

um bem. Há uma hierarquia entre os fins; o fim último é o Soberano Bem, que é da

alçada da Política, ciência suprema.

O fim da Política é o bem da cidade, com o qual se identifica o bem do indivíduo.

Tal bem e a felicidade, a mais desejável de todas as coisas.

A ética, então, é uma ciência prática, cuja razão de ser é nos tornar melhores.

Corbiser (1991, p. 246).

Pode-se assim, resumir a ética da convicção e a ética da responsabilidade, sob a ótica

demonstrada acima:

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Ética da Convicção:

Faz-se através de leis morais;

Não tolera desvios;

Absoluta, se apresenta de forma incondicional e unívoca;

Exalta o dever;

Abordagem de “princípio”: “respeite as regras, haja o que houver”, a

despeito das conseqüências geradas;

Abordagem da “esperança”: “a fé remove montanhas”, não se deixar

seduzir pela facilidade dos meios;

Máxima: “tudo ou nada”.

Ética da Responsabilidade:

Justificativa através das conseqüências;

A justificativa é promover o máximo bem ao maior número de pessoas;

Eminentemente política e voltada para a ação;

Está comprometida e se responsabiliza pelo futuro;

Privilegia a relação entre meios e fins;

Abordagem da finalidade: “obtenha resultados, custe o que custar”,

legitimada

Pela grandiosidade dos fins;

Abordagem utilitarista: “faça sempre o maior bem”, presa na armadilha

dos cálculos, num cuidadoso respeito a outrem e sob o peso da grande responsabilidade

de prever e produzir boas conseqüências, ou seja, máximo de felicidade ao maior

número de pessoas;

Máxima: “fundamentais são os resultados”.

3. PRESSUPOSTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO – sua

aplicabilidade e seus limites

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O Utilitarismo é um tipo de ética normativa com origem nas obras dos filósofos e

economistas os chamados Fisiocratas ingleses do século XVIII e XIX, Jeremy Bentahm e John

Stuart Mill. Esta ética prevê que uma ação é moralmente correta se e somente se, tender a

promoção da felicidade e, se torna condenável quando tende a produzir a infelicidade. Visto

que, considerar-se-á não apenas a felicidade do provocador ou agente da ação, mas também a

de todos os indivíduos afetados por ela.

O Utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom

ou mal de uma ação depender do motivo do agente; porque, de acordo com o Utilitarismo, é

possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo. Antes, porém,

desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive

na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro, filósofo grego, e seus seguidores na Grécia

antiga.

E na Inglaterra, alguns filósofos atuavam nesta linha, dentre ele podemos citar: o Bispo

Richard Cumberland (filósofo moralista do século XVII – o primeiro a apresentar uma filosofia

utilitarista); tempos depois, Francis Hutcheson (com sua teoria do "sentido interior da

moralidade" - "moral sense"), mantendo uma posição utilitarista mais evidente, - para ele "a

melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Em seguida

propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor conseqüência possível e, por

fim, David Hume (que tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil).

Bentham disse ter descoberto o “princípio da utilidade” juntamente com alguns outros filósofos;

consideramos também um apoio ao Utilitarismo o de natureza teológica, devido a John Gray –

um filósofo estudioso da bíblia – argumentando que a vontade de Deus era o único critério de

virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem

promovesse a felicidade humana.

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O indivíduo, para Bentham, no governo de seus atos iria constantemente buscar a

maximização do seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, atribuindo a ambos (prazer e

dor) a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação.

À arte de alguém governar suas próprias ações Bentham chamou: "ética particular".

Assim, nesse caso, a felicidade do agente é o fator determinante, onde a felicidade dos outros

governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência ou

interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros.

Somada a este fator tem-se que a regra de se buscar a maior felicidade possível para o

maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o

legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira, criando uma identidade de

interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal

intencionados, o legislador prejudicaria o homem que causasse dano ao seu vizinho. A doutrina

‘utilitarismo direto ou utilitarismo dos atos’ aplica diretamente o utilitarismo às ações,

caracterizando uma determinada ação como correta se esta aumentar mais a felicidade do que

uma ação alternativa. Às versões indiretas aplicam-se, em primeiro lugar, a coisas como as

instituições, os sistemas de regras de conduta ou os caracteres humanos: estes são melhores e

se maximizam a felicidade, e as ações são julgadas apenas na medida em que são prescritas

pelas instituições ou sistemas e regras, ou na medida em que sejam aquelas que seriam

realizadas por uma pessoa com um caráter ótimo.

As versões indiretas da doutrina dissolvem parte do problema resultante de ser

improvável que saibamos, em ocasiões individuais, que ação irá, de fato, maximizar a felicidade;

pois, mesmo que não o saibamos, podemos conhecer o impacto geral que têm as instituições, as

regras e o caráter sobre a felicidade dos que são afetados por elas; é o chamado utilitarismo das

regras.

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3.1 Utilitarismo dos atos

A versão do utilitarismo, especialmente associada à Bentham, de acordo com a qual a

medida e o valor de um ato consiste no grau em que este aumenta a utilidade ou felicidade

geral. Um ato deve ser preferido a atos alternativos em função da maior felicidade que

proporciona comparativamente a eles. Ou, podemos dizer: uma ação é assim boa ou má

proporcionalmente ao grau em que aumenta ou diminui a felicidade geral, comparada com o

grau que poderia ter sido alcançado ao agir-se de modo diferente. O utilitarismo dos atos

distingue-se não apenas por sublinhar a utilidade, mas pelo fato de cada ação individual ser o

objeto primitivo da avaliação ética. Isto o distingue dos vários tipos de utilitarismo indireto, bem

como dos sistemas éticos que dão prioridade ao dever ou à virtude pessoal.

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3.2 Teoria ética de Stuart Mill

A teoria ética de Stuart Mill, também conhecida simplesmente por teoria do utilitarismo,

vem resolver alguns dos problemas que foram colocados à teoria ética de Kant. Para Stuart Mill

(2000), o critério para aferir da moralidade as ações, encontra-se nas conseqüências das

mesmas, naquilo que resulta dessas ações. É porque apenas se atende às conseqüências das

ações, que se designa a teoria de Mill de teoria utilitarista, no sentido em que, uma ação é boa

ou má, consoante seja útil ou não para o maior número possível de pessoas. Sua teoria assume-

se assim como, uma teoria consequencialista, na medida em que, a moralidade da ação resulta

do fim obtido com a mesma e, das conseqüências produzidas por essa ação.

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3.3 Uma Dificuldade e o Utilitarismo Moderado

Dada à impossibilidade de serem previstas as conseqüências das ações, neste caso do

utilitarismo, a idéia de não saber se uma ação é ou não aquela que vai gerar as melhores

conseqüências, a versão do utilitarismo moderado avançou com a seguinte idéia: a ação moral é

aquela que o agente decisor considera ser a que irá produzir maior utilidade de um modo

imparcial para o maior número de pessoas, ou seja, é aquela cuja previsão é a de que irá

produzir felicidade para um maior número de pessoas. O modo ético de agir das pessoas torna-

se assim mais facilitado, porque existe uma quantidade de situações a partir das quais seja

possível prever ou calcular de um modo aproximado a utilidade das ações empreendidas; sendo

possível prever se uma determinada ação irá proporcionar ou não uma maior quantidade de

felicidade do que uma outra ação.

Figura 2: Valor Moral das Ações

Fonte: Grimberg, Caio Henrique, 2010

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3.4 Utilitarismo e Ética Kantiana Valor Moral das Ações:

Tal como em Kant, também em Mill há um princípio básico a partir do qual as ações

devem regular-se para terem valor moral. Enquanto em Kant esse princípio era o do

“cumprimento do dever pelo próprio dever”, em Mill esse princípio é o de “produzir a máxima

felicidade possível para o maior número possível de pessoas”. Mas em relação a este mesmo

princípio, existem diferenças entre a teoria ética de Kant e a de Mill. Enquanto em Kant,

averiguar a moralidade das ações era perguntar pela razão por que se age de uma determinada

forma, pela intenção com que se realiza aquilo (sendo a ação moral em Kant, aquela que cumpre

ou respeita o dever pelo próprio dever); em Mill, perguntar pelo valor moral da ação é

perguntar pelas conseqüências que resultaram da mesma.

A teoria utilitarista veio deste modo, permitir solucionar algumas das principais críticas

que eram dirigidas à teoria ética de Kant, em concreto, fornecendo uma resposta para o

problema das regras morais absolutas e para o problema dos casos conflito, assim como, para o

problema da ausência de compaixão ou afetividade na realização de algumas ações. Em relação

ao problema das regras morais absolutas, a que a teoria ética de Kant não soube dar uma

resposta satisfatória, quando confrontada com a situação de ter de mentir para salvar a vida de

uma pessoa, a teoria utilitarista diria que é permitido mentir, desde que essa decisão promova a

felicidade sobre o maior número de pessoas possível do que em relação à decisão de não mentir

ou de dizer a verdade.

Figura 3: Regras Morais Fonte: Grimberg, Caio Henrique, 2010

Em um dos desafios apresentados, nos filmes Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards)

do diretor Quentin Tarantino ou A Lista de Schindler (Schindler's List) do diretor Steven

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Spielberg os heróis dispunham de apenas duas opções: ou mentiam aos nazi e salvavam a vida

dos judeus e deles mesmos ou diziam a verdade e originavam a morte de judeus e até a sua

própria morte. Perante esta situação, o defensor da teoria ética de Kant não sabia por qual das

duas possibilidades de ação se decidir, porque qualquer uma das duas opções de Kant: “mentir”

ou “matar” (ainda que de forma indireta) são moralmente incorretas, concretamente da

perspectiva ética de Kant, são ações que desrespeitam as ordens da razão. O utilitarista

resolveria este imbróglio ou enredo em que tinha ‘caído’ o defensor da ética kantiana, optando

por mentir aos nazi. Entre mentir e salvar a vida dos judeus e dizer a verdade e causar a mais

que certa morte de todos; aquela opção que causa uma menor dor ou sofrimento ao maior

número de pessoas é certamente a primeira: a de mentir e salvar a vidas. Assim, confrontado

com esta situação, o utilitarista mentiria, obedecendo desse modo ao princípio da sua teoria que

diz: “Deves procurar agir de modo a promover a máxima felicidade sobre o maior número de

pessoas”. O que difere na resolução desta situação, é que em Kant, as regras morais são

absolutas (são para ser cumpridas em todas as circunstâncias da nossa existência), enquanto em

Mill não existem regras morais absolutas. De acordo com o fato demonstrado acima se tem a

seguinte exposição dos fatos: à situação de ajudar aos outros por um sentimento de piedade

e/ou compaixão, ação que o defensor da ética kantiana consideraria sem valor moral, o

utilitarista diria que a ação teria valor moral desde que promovesse a felicidade nas pessoas que

foram ajudadas, independentemente de ter sido ou não provocada por um sentimento de

compaixão.

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4. PRINCIPAIS CRÍTICAS AO UTILITARISMO - Crítica à Razão Utilitária

A importância de uma análise crítica do utilitarismo fundamenta-se no pensamento por

trás da filosofia ética até hoje se encontrar profundamente marcado pela teoria utilitarista, seja

por aqueles que a defendem (mesmo que a atualizando), seja por aqueles que se filiam a

diferentes teorias (encontrando no utilitarismo um adversário natural). Jonh Rawls, que se filia à

linha contratualista, critica profundamente o utilitarismo, afirmando que ele peca por privilegiar

a maximização dos benefícios, o que pode ser conveniente, mas não é justo que alguns tenham

menos para que outros possam prosperar, uma vez que cada pessoa possui uma inviolabilidade

que nem o bem estar da sociedade como um todo pode ignorar. Ainda “primeiramente, a teoria

utilitarista erra em sua crença em um raciocínio ético que possibilitaria que fossem encontradas

soluções para os problemas apresentados não subjetivamente, mas a partir de critérios externos

de racionalidade”. Assim tal teoria falha ao pensar em valor como algo que pode ser apreendido

imparcialmente e que pode ser justificado teologicamente uma vez que se mostre adequado ao

fim pretensamente universal. Aí erra novamente ao não perceber a profunda identidade que

existe entre os conceitos de valor e de vontade uma vez que os valores adotados por uma

sociedade não são nada além disso.

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4.1. Utilitarismo e Gestão – Corporação

“Se atualmente a ética não for vista como importante para as Corporações Empresariais, a sociedade irá aniquilar

tal Corporação, pois é ali que se formam aqueles que não apenas exercerão atividades produtivas, mas aqueles que ocuparão

funções de gestão, de influência na economia, na política, na educação e em outras instâncias da sociedade. E com o advento

das redes sociais uma ação tida como antiética destrói qualquer argumento. A Sociedade está se agrupando em grandes

blocos de compra e determinando quem vive ou some no mercado pelo Bem Maior e Universal; O PODER DE COMPRA”.

(Grimberg, Caio Henrique - 2010)

Conforme o que se tem observado, nas últimas décadas do século XX, as Organizações,

em sua maioria, começaram a aplicar conceitos e métodos de administrações predatórias; sob

este aspecto é que elas estão tomando consciência de que são “socialmente responsáveis” e,

conseqüentemente, a administração pressupõe pontos em comum entre o lucro e a sociedade.

Elas podem ser diferentes entre si quanto aos seus objetivos e missão específica, mas, na

administração, são parecidas. É corrente no mundo da administração a utilização da expressão

“vivemos a época das organizações”. Alguns estudiosos consideram que Organizações podem

ser entendidas, mas exaltam o termo Corporação, definindo-as como unidades sociais ou

agrupamentos humanos, que são intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir

objetivo específico, o Lucro.

Surge, no entanto, uma questão polêmica, sobretudo, quando se passa a considerar

Organizações e Corporações, se elas podem ou não ser caracterizadas e qualificadas como tais.

De acordo com (SROUR, 1998), confunde-se Organizações e Corporações.

Organização é um “[...] conjunto de normas sociais, geralmente de caráter jurídico, que

gozam de reconhecimento social”. Nesse sentido, a Organização apresenta três características

básicas: estabilidade estrutural, responsabilidade social e consagração de um complexo de

normas. Enquanto que Corporação “[...] podem ser definidas como coletividades especializadas

na produção de um determinado bem ou serviço. Elas combinam agentes sociais e recursos e

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se convertem em instrumentos da economia de esforço” (SROUR, 2002, p.107). [...] Uma

Organização difere de uma Corporação por definir-se por uma prática social determinada por

sua instrumentalidade: está inserida no conjunto de meios (administrativos) particulares para

obtenção de um objetivo particular... A Organização social aspira à universalidade, isso significa

que a Organização tem a sociedade como seu princípio e sua referência, normativa e valorativa,

enquanto a Corporação tem apenas a si mesma como referência, num processo de competição

com outras que incham os mesmos objetivos particulares. Nessa perspectiva, a Corporação

descaracteriza como um bem público e passa a ser um bem de serviço, de domínio privado.

Porém, em contrapartida, na perspectiva administrativa, verificamos que uma

Organização pode ser entendida como uma dimensão corporativa. Esta polêmica, resistência ou

aceitação da idéia de que as Organizações podem ser consideradas Corporações, é profícua,

pois, nesse aspecto, vai-se lapidando a concepção, tornando-se adequada ao objeto dessas

Organizações ou Corporações, contribuindo assim para clarear sua especificidade e as possíveis

implicações na Organização e na gestão, dando-lhes um caráter mais profissional na obtenção

do lucro pelo lucro.

Dentre as principais características das Corporações, podem ser citadas: 1. A divisão de

trabalho, poder e responsabilidade de comunicação; 2. A presença de um ou mais centros de

poder que controlam os esforços combinados da Corporação e os dirigem para seus objetivos

(lucro); 3. As pessoas pouco satisfatórias podem ser demitidas e designadas outros

colaboradores para as suas tarefas. Estas e outras características de Corporações estão

presentes em sua dinâmica, por isso, entende-se que elas sejam organizadas.

Não muito diferente, e no mesmo contexto, vem ganhando similaridade o conceito de

gestão, cujo uso é bem atual, parece atraente e ocorre em escala múltipla, como, por exemplo:

gestão de negócios, gestão de recursos humanos, etc. Gestão trata do ato de gerir, palavra

derivada de ‘gestain, do grego, conduzir. Nessa acepção, corresponde à parte técnica, científica

e operacional de uma Corporação ou sistema qualquer. À primeira vista, gestão é sinônimo de

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administração, porém, como vem tomando espaço, a idéia retrata mais a dinâmica de uma

Organização e Corporação e centra o foco no processo da dinâmica organizacional e num

modelo sistêmico e estratégico. Ao se discutir a gestão numa perspectiva ética, oportuno é

lembrar que há uma série de variáveis que interferem nos procedimentos da gestão e das

decisões. Assim, apresenta-se uma relação com o objetivo de chamar à atenção da sua

pertinência à gestão ética da estrutura a estrutura jurídica. Mesmo que em ambas espera-se

uma gestão ética, suas diferenças poderão condicionar condutas diferentes no processo de

gestão.

Classificadas em Lucrativas e Não Lucrativas, o que se pode considerar como fator de

influência. Se o modelo de gestão for autoritário, centralizador e burocrático, entre as várias

abordagens éticas ou teorias, a que melhor se ajusta é a ética normativa, ou seja, a de âmbito de

ontológico. Pois, um sistema burocrático requer normatizações e, um sistema centralizador

requer que haja padronização das ações ajustadas ao mando centralizado. Nesse caso, é

importante que a Organização ou Corporação elabore, deixando claras, as suas normas de

procedimentos por meio de seu regimento; seus valores institucionais, mediante um código

“ético”, elaborado especificamente, para que haja clareza e que seja de conhecimento dos

gestores de todos os níveis. Com isso, não se está afirmando que a ética normativa não se aplica

a outros modelos de gestão. Se o modelo de gestão for participativo, descentralizado e flexível, a

teoria teológica, sobretudo, na vertente utilitarista, é a que melhor se ajusta.

Além do mais, atende e está mais adequada à dinâmica interna e externa de uma

Organização. Lembrando que seu princípio básico é o alcance do bem maior para a maioria e

que as normas não têm um fim em si. Isso não significa a eliminação de normas ou códigos, mas

além de serem explícitos para serem úteis, devem permitir espaço para que os gestores julguem

situações. O que então requer maior responsabilidade dos gestores para tomar decisões éticas e

concomitantemente, maior formação ética valorizando a questão da conduta dos indivíduos.

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4.2 . Utilitarismo como Critério de Decisão nas Corporações

No contexto da gestão neste novo cenário em que se está, ouve-se com freqüência os

termos: competência, competitividade, produtividade, avaliação, controle, participação,

estratégias de marketing, cliente, valores, responsabilidade social. Uma das perguntas que se

coloca é: como gerenciar a nova Corporação com todas essas preocupações e novos desafios?

O planejamento estratégico é uma ferramenta indispensável para que as Corporações

sobrevivam no atual contexto, mesmo que possa ser entendido que se trata de uma simples

técnica administrativa, é importante que se faça uma análise “do ambiente, levantando e

analisando suas oportunidades e ameaças, seus pontos fortes e fracos para ajustar e planejar”.

Neste sentido, pode ser entendida como “Ética Utilitarista, fundada no cálculo, meios e

fins. Sob a ótica de uma gestão baseada na ética utilitarista, a tomada de decisões e as ações

têm como parâmetro o cálculo, os meios e os fins.

Neste caso, a decisão se vale dos resultados, das conseqüências esperadas e do resultado

da decisão. Como a própria teoria sustenta: o bem, o valor é o útil, o funcional é o melhor

resultado para a maioria.

Há três componentes básicos: “Conseqüêncialismo” - significa que todas as escolhas,

sendo ações ou regras, devem ser avaliadas por resultados que o geram.

O “Welfarismo”, segundo o qual, toda a escolha deve ser julgada em conformidade com

as respectivas utilidades que ela gera.

E o “Ranking pela soma”, isto é, somam-se as utilidades para que sejam maximizadas

sem considerar a desigualdade. A questão chave do utilitarismo como critério moral é que,

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havendo duas ou mais alternativas, escolhe-se aquela cujas conseqüências proporcionam o

maior prazer ao maior número de pessoas.

Nesse caso, é preciso que se tenha uma previsão do resultado. Contudo, as decisões sob

o critério utilitarista poderão contribuir para a eficiência, porém poderão também desrespeitar

direitos individuais, em especial, das minorias. Também apresenta limites do utilitarismo.

Entretanto é a que é predominante no universo dos negócios. Tem sido também a teoria

ética dominante da sustentação do estado do bem-estar. Uma aproximação entre a gestão dos

novos modelos e a ética utilitarista poderá ser estabelecida a partir das mudanças de um

modelo burocrático e a incorporação de princípios de gestão “de redes”, mais flexíveis e

participativas, menos hierárquicas, mais enxutas e com respostas mais rápidas.

O enquadramento à Era do Conhecimento – o Conhecimento visto como economia;

adaptação ao rápido desuso do conhecimento – prazo da validade do conhecimento, já não

sendo mais um fim em si, mas um valor de aplicabilidade imediata; voltado para a

empregabilidade, atendendo ao mercado.

A questão que se coloca, considerando que, o utilitarismo seja a teoria que melhor

responde aos novos modelos em processo de configuração, como conciliar uma ética

tipicamente adequada ao campo das ações do mercado global, da lógica do mercado, com as

ações de uma Corporação cujo produto e cliente são fundamentalmente diferentes: Resultado

da participação, elaboração do cliente, cujo proveito não se trata de uma mercadoria que está

fora dele (A Satisfação).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A sabedoria denota a busca dos melhores fins pelos melhores meios”.

Hutcheson

Baseando-se na realidade de que não apenas os líderes, mas todos são obrigados a

tomar decisões em suas vidas pessoais e profissionais, a principal questão é como fazê-lo?

Weber tinha desprezo pelo político que dá de ombros para as conseqüências de seus

atos, jogando a ‘culpa’ na mesquinhez dos outros ou do mundo, resguardando-se em sua moral

íntima, com as mãos limpas. Ao contrário respeitava o homem maduro (não importava se jovem

ou velho) que, em determinada circunstância decide: “não posso fazer de outro modo” e

assume a respectiva responsabilidade. ‘Isso’, diz nosso autor, ‘é algo genuinamente humano e

comovente [...] na medida em que isso é válido, uma ética de fins últimos e uma ética de

responsabilidade não são contrastes absolutos, mas antes suplementos, que só em uníssono

constituem um homem genuíno – um homem que pode ter a ‘vocação’ para a política.

(CARDOSO, 2006) – da eficácia à grandeza, sugere que existam apenas três constantes: “a

mudança, os princípios e a escolha”. E, que justamente a força para nos adaptarmos a esse

mundo em permanente turbulência, é a existência de princípios sólidos, o que ele chama de

“núcleo imutável”.

Ao entender que política é a arte da tomada de decisões, muito se pode abstrair da

aplicação prática das decisões baseadas na Ética das Convicções e na Ética das

Responsabilidades, no livro “A arte da política” do ex-presidente do Brasil, o sociólogo Fernando

Henrique Cardoso, onde ele afirma que o empenho em objetivos pessoais é menos importante

do que o “abraçar de uma causa”. (CARDOSO, 2006,).

Ele afirma ainda, acreditar que a ética das convicções seria o pano de fundo de valores

sobre o qual deve ser praticada a ética da responsabilidade; e citando “O Príncipe” de

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Maquiavel, “Na ação de todos os homens –[...]- o que importa é o resultado” (CARDOSO,

2006). Continua assim: Os problemas colocados por esse tipo de interpretação são imensos.

No fundo voltasse à relação entre moral e política. Maquiavel, de certo modo, não

renega moral cristã, apenas mostra que a política obriga, em circunstancias dadas, a agir guiado

por outros valores. Lança, assim, as sementes de idéias – depois intuídas por Vico na Scienza

Nuova – que muito depois vieram a ser exploradas por Isaia Berlin, como a incomensurabilidade

e mesmo a incompatibilidade de valores que vivem à mesma cultura entre os quais não existem

padrões racionais de escolha.

Mais modernamente este constituiu o cerne da análise de Max Weber ao distinguir entre

a ética da responsabilidade e das convicções. Ao eleitor menos atento pode parecer que Weber,

ao mostrar as diferenças entre as duas éticas acaba por dar sustentação ao moralismo

maquiavélico. Entretanto não é bem assim. Se for certo que o político, para Weber, deve ser

julgado pelas conseqüências dos seus atos, e isso não significa que as ações do político não

dispensem convicções. E Weber, que foi deputado na Alemanha era apaixonadamente

nacionalista. Weber não separa de modo absoluto as duas éticas. Apenas as distingue: uma a

das convicções ajuíza as ações antes de sua vigência; a outra, a da responsabilidade julga a

conseqüência do ato praticado. Na ação do grande político elas não podem ser separadas; se

assim ocorrer, no primeiro caso levará ao fanatismo e, no segundo ao cinismo. Essa temática

que aparece nas análises teóricas e vividas cotidianamente pelos homens públicos, ou pelo

menos pelos políticos conscientes de seu papel e de suas responsabilidades e que ambicionam

ser algo além de que ‘um a mais’ (CARDOSO, 2006).

Assim, acredita-se terem sido citados aqui alguns exemplos práticos e atuais que

fundamentam a importância, e a utilidade de uma ética consequencialista, fundamentada nas

responsabilidades como base para a tomada de decisões em vários níveis. Entendendo assim

que ética das convicções e ética das responsabilidades não é dicotômica, mas sim

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complementares vez que, o fato de viver e atuar em sociedade imputa essa necessidade de estar

sempre, em constante avaliação, do que cada ação será capaz de gerar como conseqüências.

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BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS

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Rio de Janeiro: Campus, p. 61-75, 2005.

CARDOSO, Fernando Henrique. A Arte da política: a história que vivi. Rio de Janeiro: Record, 2006.

CORBISIER, Roland. Introdução à Filosofia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

COVEY, Stephen R. O 8º hábito: da eficácia à grandeza. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

JOHNSTON, David. Rawls e o utilitarismo. adaptado por Vítor João Oliveira, São Paulo, 21 mar. 2004.

MILL, John Stuart. O Utilitarismo. Tradução de Alexandre Braga Massella.São Paulo: Iluminuras, 2000.

OLIVEIRA, Manfredo A. de (org). Correntes Fundamentais da ética contemporânea. ed.Petrópolis: Vozes, 2000.

PEGORARO, Olinto A. Ética é justiça. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

PEREIRA, Thomaz H. Junqueira de A. Crítica à razão utilitarista.

ROBBINS, Stephen; COULTER, Mary. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1998.

SROUR, Robert Henry. Ética empresarial : a gestão da reputação. Rio de Janeiro: Campus, 2003.