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  • 7/22/2019 Trabalho Completo Mulher e Literatura- Isabela Feitosa Nathalia Bezerra

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    Uma leitura do conto A caada, de Lygia Fagundes Telles

    Isabela Feitosa Lima GARCIA UECE/FECLESC 1

    Nathalia Bezerra da Silva FERREIRA UECE/FECLESC 2

    Lygia Fagundes Telles uma das autoras mais premiadas da literatura brasileira, sendo reconhecida principalmente pelaescrita de contos, em que se ressalta a representao humana nos centros urbanos e uma abordagem profunda da

    psicologia feminina. Dessa forma, objetivamos analisar como se deu a construo dos elementos da narrativa no contoA caada (1998), que est inserido no livro Antes do baile verde (1970). Como referencial terico ao trabalho emquesto, utilizaremos as seguintes obras: A personagem de fico (2009) de Antnio Cndido; O enredo (1986) deSamira Nahid de Mesquita;Lima Barreto e o espao romanesco (1999) de Osman Lins; O tempo na narrativa (1988) deBenedito Nunes.

    Palavras-chave: Lygia, A Caada, Elementos da narrativa.

    Lygia Fagundes Telles is one of the most prized authors in Brazilian literature, recognized primarily by writing shortstories, in which it emphasizes the human representation in urban centers and a deep approach of female psychology.Thus, we aimed to analyze how was the construction of the narrative elements in the short story "A caada" (1998),which is inserted in the book Antes do baile verde (1970). As theorethical basis to this work, we will use thefollowing works:A personagem de fico (2009) by Antnio Cndido; O enredo (1986) by Samira Nahid de Mesquita;

    Lima Barreto e o espao romanesco (1999) by Osman Lins; and O tempo na narrativa (1988) by Benedito Nunes.

    Keywords: Lygia, A Caada, Narrative elements.

    Lygia Fagundes Telles uma das autoras mais premiadas da literatura brasileira. Uma das

    maiores representantes do ps-modernismo no Brasil. Contista e tambm romancista. Nascida em

    19 de abril de 1923, em So Paulo, graduou-se em Direito e tambm em Educao Fsica. Todavia,

    sua grande paixo, a literatura, o mundo das letras. Lygia Fagundes Telles foi casada com o jurista

    1 Graduada em Letras/Ingls pela Universidade Estadual do Cear-UECE (2011). Ps- Graduanda em

    Literatura e Formao do Leitor pela mesma instituio de ensino.2 Graduada em Letras/Ingls pela Universidade Estadual do Cear-UECE (2011). Ps- Graduanda emLiteratura e Formao do Leitor pela mesma instituio de ensino e em Coordenao Pedaggica pela

    Universidade Estadual do Cear (Co-autora).

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    e ensasta Goffredo Telles Jnior, com quem tem um filho, Goffredo da Silva Telles Neto, cineasta.

    Ela reside em So Paulo e Procuradora (aposentada) de Autarquia.

    membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia

    de Cincias de Lisboa. Entre os muitos prmios que recebeu, destacam-se o Prmio Afonso Arinos

    da Academia Brasileira de Letras, em 1949; o Prmio do Instituto Nacional do Livro, em 1958; o

    Prmio Jabuti, da Cmara Brasileira do Livro, por "Vero no Aqurio", em 1965; o Prmio Coelho

    Neto da Academia Brasileira de Letras, em 1973; o Prmio Jabuti da Cmara Brasileira do livro,

    com a obra "As Meninas", em 1974; o Prmio Jabuti com a obra "Inveno e Memria", em 2001; e

    o Prmio Cames recebido no dia 13 de outubro de 2005, em Porto, Portugal.

    Lygia escreveu alguns romances: Ciranda de Pedra (1954), Vero no Aqurio, (1964), As

    Meninas (1973) e As Horas Nuas (1989). Porm, a autora conhecida por seus inmeros contos

    publicados:Poro e sobrado foi o primeiro livro de contos publicado pela autora, em 1938, com aedio paga por seu pai. Em seguida escreveu Praia Viva (1944), O Cacto Vermelho (1949),

    Histrias do Desencontro (1958),Histrias Escolhidas (1964), O Jardim Selvagem (1965),Antes

    do Baile Verde (1970),

    Seminrio dos Ratos (1977), Filhos Prodgios (1978), A Disciplina do Amor (1980), Mistrios

    (1981), Venha Ver o Por do Sol e Outros Contos (1987)

    A Noite Escura e Mais Eu (1995), Biruta (2004), Histrias de Mistrios (2004), Conspirao de

    Nuvens, (2007) ePassaporte para a China ( 2010).

    Lygia Fagundes Telles considerada a contista das cores, uma vez que elas aparecem em

    todos os seus contos de algum modo e, tem um significado, que muitas vezes esclarece o que parece

    inexplicvel nas histrias. Uma das cores mais recorrentes a verde, pois, segundo a autora, seu pai

    a influenciou a desenvolver o gosto por essa cor na infncia, uma vez que ele sempre escolhia verde

    quando jogava. Alm disso, essa cor representa esperana e sorte para Lygia.

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    Analisaremos o conto A caada (1998) de Lygia Fagundes Telles, que est inserido no

    livro Antes do baile verde (1970), considerado uma das obras mais relevantes da carreira da autora. A

    coletnea constituda de vinte contos, escritos entre 1949 e 1969. Algumas delas: Antes do baile

    verde, O menino, O jardim selvagem (1965), Verde lagarto amarelo (1969), A ceia (1958), A chave

    (1965), Um ch bem forte e trs xcaras (1965), Eu era mudo e s (1958), As prolas (1958), Os

    objetos (1959), Venha ver o pr do sol, A caada (1965), Natal na barca (1958). Todos foramrevisados por Lygia antes de sua publicao. Embora tenham sido escritos entre um perodo de

    vinte anos, os contos seguem um mesmo padro.

    As principais temticas abordadas pela autora em suas histrias so: adultrio, insatisfao

    conjugal, desmistificao dos papis familiares, o desequilbrio, a tenso e a insatisfao do homem

    em suas relaes, principalmente as afetivas, solido, o egosmo, a infidelidade, assuntos

    aparentemente comuns, porm tratados num tempo em que ainda eram delicados, pois no era

    natural/normal falar de adultrio, por exemplo. Lygia trata de aspectos da condio humana de

    forma a tocar o leitor, fazer com que ele reflita sobre o que posto por ela atravs de suas

    personagens, principalmente as amargas, cnicas e cruis.

    A obra de Lygia possui traos predominantes da narrativa contempornea, esta que difere da

    narrativa tradicional. Segundo MESQUITA (1986), na tradicional as personagens so apresentadas

    em seu contexto scio cultural, familiar ou em suas caractersticas fsicas e morais. Ou ainda pode

    ser feita uma sntese do que ocorrera anteriormente ao incio da narrativa em questo. Enquanto na

    narrativa contempornea no h uma sequncia cronolgica, os personagens geralmente no

    possuem nomes, o texto fragmentado, a histria tem um final inacabado. Analisaremos como

    Lygia Fagundes Telles constri enredo, personagem, temtica, tempo e espao, os principais

    elementos da narrativa, no conto A caada.

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    O enredo de A caada sobre um homem que ao visitar uma loja de antiguidades sente-se

    atrado por uma tapearia, esta que passa a ter significado para ele. O homem se insere na caada

    que ilustra a tapearia e vive o que v na imagem, pois recorda acontecimentos.

    O primeiro elemento da narrativa a ser analisado a figura do narrador. Este que a voz da

    narrao e, ficcional como qualquer personagem. O conto narrado em 3 pessoa do singular,denotando impessoalidade, portanto trata-se de um narrador observador. Segundo MESQUITA

    (1986), se oponto de vista em terceira pessoa, o narrador no se identifica enquanto personagem,

    e v de fora os acontecimentos [...] o narrador ser heterodiegtico. Ele no est na histria, assim

    onisciente. A linguagem usada pelo narrador difere da das personagens, uma vez que quem narra

    usa uma linguagem mais formal, caracterizando sua imparcialidade histria que conta. Faz uso de

    um vocabulrio rebuscado, termos especficos. Enquanto as personagens utilizam uma linguagem

    mais informal, mais prxima da oralidade. Alm disso, h o uso recorrente de dilogos, o que

    permite uma leitura mais rpida do texto. O uso de dilogos na narrativa deveria fornecer o mximo

    de informaes ao leitor, porm em A caada, mesmo com muitos dilogos, poucas informaes

    so apresentadas, deixando, desse modo, curiosidade e dvidas como, com que as personagens

    parecem, suas caractersticas fsicas, quem esse homem (o que faz, se casado, tem filhos, etc.)?

    Qual o segredo da tapearia? Por que o homem v coisas que a velha, dona da tapearia, no

    consegue ver? Percebemos esse evento em um dos momentos em que ele observa a tapearia diz

    que h um tiro na seta, mas para a senhora, apenas um furo feito por traas. Vejamos no seguinte

    trecho em que o homem conversa com a mulher:

    Ontem no se podia ver se ele tinha ou no disparado a seta...

    Que seta? O senhor est vendo alguma seta?

    Aquele pontinho ali no arco... A velha suspirou.

    Mas esse no um buraco de traa? Olha a, a parede j est aparecendo, essas traasdo cabo de tudolamentou, disfarando um bocejo. (TELLES, 1998, p. 25)

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    As personagens tm vises diferentes do mesmo objeto, a tapearia. A mulher v apenas

    mais um objeto entre tantos existentes na loja. Enquanto o homem d uma ateno especial

    tapearia e cria um ambiente a partir da imagem representada nela, pois a imagem revela fatos sobre

    sua vida.

    Em algumas obras/histrias a verossimilhana das personagens com pessoas reais, tantofisicamente quanto psicologicamente, surpreendente. A personagem tem que parecer viva e ter

    atitudes semelhantes s do ser humano, para que o leitor se identifique com ela. Quanta mais

    prxima da realidade, mais real a personagem. A personagem masculina do conto surpreende o

    leitor, imprevisvel, logo denominada esfrica. Como diz Foster (FOSTER APUD CNDIDO,

    1975) a prova de uma personagem esfrica a sua capacidade de nos surpreender de maneira

    convincente. As personagens esfricas so mais bem articuladas, ou seja, so minuciosamente

    planejadas, com cuidado e se parecem com o humano, este que imprevisvel. J as planas,

    representada aqui pela personagem feminina, a mulher que trabalha na loja de antiguidades. Suas

    atitudes e aes so previsveis, pois todos os dias ela abre a loja, limpa alguns objetos, espera os

    clientes chegarem, mostra os produtos e quando interrogada fala sobre eles. Personagens como a

    mulher so identificadas rapidamente e o leitor tende a lembrar delas com mais facilidade, uma vez

    que no mudam, permanecem do mesmo modo do incio at o fim da histria. Personagens,

    independente de serem planas ou esfricas, possuem limitaes, pois tem uma vida delimitada.

    Candido (2009) afirma que as personagens no so seres, so entes, afinal so criadas e controladas

    por uma pessoa e no tem vontade prpria, tudo o que fazem e dizem parte de seu criador. A autora

    manipula suas criaes atravs de um narrador, que tambm criatura da autora. Logo, h apenas

    duas personagens: uma senhora - uma velha, provavelmente dona ou funcionria da loja de

    antiguidades e, parece estar h muito tempo no estabelecimento. Percebe-se tal fato quando ela

    relata ao homem quando a tapearia foi deixada na loja por um rapaz:

    Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estavapor demais estragado, que era difcil encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto...Preguei a na parede e a ficou. Mas j faz anos isso. E o tal moo nunca mais meapareceu. (TELLES, 1998, p.24)

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    A outra personagem um homem que vai loja de antiguidades atrado pela tapearia. Sua

    atrao tornou-se mais forte no dia em que ele percebe o objeto admirado mais ntido. Ele costuma

    frequentar o ambiente e apreciar objetos antigos, principalmente a tapearia. Pode entrar, pode

    entrar, o senhor conhece o caminho...

    "Conheo o caminho" murmurou, seguindo lvido por entre os mveis. Parou. (p. 27) Nessapassagem, a personagem masculina vai loja ainda cedo, pois isso ocorre depois do homem passar

    a noite pensando na caada, em como ocorreu, quem estava l. No entanto, quando ele se depara

    com a tapearia, comea a sentir cheiro de folhagem e terra e a loja fica embaada. Ele est numa

    caada e, no sabe se a caa ou o caador. Mas quem o homem obcecado pela imagem?

    As personagens no tm nome, recurso utilizado por Lygia e muitos autores da narrativa

    contempornea. Se no h nomes, h uma perda de identidade, ou seja, pode ser qualquer mulher ou

    homem no universo, dessa maneira, as personagens tornam-se universais. O narrador no faz

    descries sobre seus aspectos fsicos. Assim, no sabemos com que elas parecem, pois nenhuma

    informao dada sobre as caractersticas fsicas das personagens. Sabe-se que o homem o

    protagonista do conto, pois a histria se desenvolve em torno de seu fascnio pela tapearia e pela

    caada dentro desta. A funo da mulher se resume a abrir a loja e guiar o homem, alm de

    conversar com ele sobre alguns objetos, em especial contar a histria da tapearia. A personagem

    masculina, por outro lado, vive uma paixo a princpio inexplicvel com a tapearia. Na verdade,

    no se sabe se a caada que o protagonista relata real (sabe-se da imagem), ou apenas fruto de suaimaginao. Ele tem um ataque cardaco em frente imagem da tapearia e morre. Uma das

    caractersticas nos contos de Lygia o fato de que os finais de suas histrias sugerirem suicdio ou

    morte. O narrador no deixa claro para o leitor onde a personagem principal morreu, mas d pistas

    para a pessoa que o l descubra o que ocorreu. Como ele morreu? Ferido com uma flechada no

    corao na tapearia ou de um ataque cardaco na loja? A autora no entrega explicitamente, d

    apenas indcios do fato, fora seu leitor a participar da histria.

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    Outro elemento da narrativa o espao, onde a narrativa acontece. Observemos o que

    constitui espao, ou universo representado de acordo com MESQUITA (1986):

    H na narrativa o que chamamos de universo representado, que trata da materialidade deespao fsico mundo vegetal, mineral, animal, pessoas, objetos, em seu inter-relacionamento, em diferentes significaes, nas situaes em so apresentados pelodiscurso narrador. (MESQUITA, 1986, p. 31)

    O espao representado no conto uma loja de antiguidades, espao verossmel, representada

    por imagens sinestsicas, ou seja, percebe-se o ambiente atravs dos sentidos como o tato, quando o

    homem toca numa pilha de livros, o olfato, quando sente o cheiro da tapearia, que parecia de

    sacristia e, a viso, quando v uma borboleta chocar-se com uma imagem. No h a descrio fsica

    desse espao, como podemos observar na seguinte passagem: A loja de antiguidades tinha o cheiro

    de uma arca de sacristia com seus anos embolorados e livros comidos de traa. Todavia, h outro

    espao criado pela fascinao da personagem principal com a tapearia, o ambiente de uma caada,

    que o homem descreve no trecho a seguir:

    Era uma caada. No primeiro plano, estava o caador de arco retesado, apontando para umatouceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caador espreitava por entre asrvores do bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta, cujo rosto se reduzira a umesmaecido contorno. Poderoso, absoluto era o primeiro caador, a barba violenta como um

    bolo de serpentes, os msculos tensos, espera de que a caa levantasse para desferir-lhe aseta. (TELLES, 1998, p. 24)

    Percebe-se que o homem parece est em outro espao, como o narrador diz, uma caada e

    h dois caadores. O cenrio descrito quando o protagonista observa a imagem e cria um ambientedentro dela paralelo ao da loja.

    A histria ocorre em um perodo de dois dias, cronologicamente. No primeiro dia, o homem

    vai loja de antiguidades e diz que a tapearia est mais ntida, parece diferente dos outros dias. No

    segundo e ltimo dia, ele volta loja e vive uma caada. Em relao aos tempos verbais, o narrador

    usa o pretrito, porm as falas das personagens so no presente. Observemos o seguinte trecho e

    comprovemos: A velha no sabia agora se o homem se referia tapearia ou ao caso que acabara

    de lhe contar. Encolheu os ombros. Voltou a limpar as unhas com o grampo. (Narrador)

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    Eu poderia vend-la, mas quero ser franca, acho que no vale mesmo a pena. Na hora que se

    despregar, capaz de cair em pedaos. (Velha). Essa estratgia de variao de tempo verbal d a

    impresso de que o narrador est participando da histria narrada, no momento em que acontece.

    Desse modo, h uma aproximao, interao maior entre narrador e leitor, afinal o ltimo precisa

    acreditar na histria que est lendo, mesmo que seja fico. Ressaltando que a fico pode at imitar

    a realidade, mas no real, muitas vezes pode parecer real, tamanha a verossimilhana de algunspersonagens, mas trata-se de uma criao literria, fantasia. Embora Aristteles chame de

    mimeses, pois para ele a literatura uma representao da realidade.

    O protagonista inominvel est atrado por uma tapearia com uma imagem de uma caada,

    fato no muito comum, pois a tapearia uma obra de arte muito apreciada pelo homem e nem

    todos gostam de obras de arte. Talvez o mais intrigante na histria seja a constante dvida da

    personagem masculina sobre sua participao na caada, retratada na tapearia. Ela acha que talvez

    tenha participado da mesma, no sabe onde exatamente, nem quando, mas sente familiaridade com

    a imagem que v no objeto pendurado. Enfim, o homem no consegue explicar o porqu da atrao

    pela tapearia.

    Sentir atrao por algum objeto sem explicao nenhuma algo comum entre as pessoas.

    Quem nunca sentiu vontade de possuir um objeto como uma joia, um livro, uma pea de roupa que

    viu numa vitrine de uma loja, um brinquedo, um carro, um aparelho eletrnico, etc.? O desejo por

    coisas matrias cada vez mais comum nos dias de hoje e, s vezes a obsesso em adquirir essesobjetos torna-se um problema preocupante. O protagonista de A caada est confuso a respeito de

    seu envolvimento na caada retratada na tapearia. Ele tem uma atrao pelo objeto porque este faz

    ou fez parte de usa vida em algum momento, o qual no relatado no conto. natural do ser

    humano querer ter o que admirvel aos seus olhos. O que determinados indivduos fazem para

    conseguir o que almejam pode ser perigoso. Qualquer pessoa pode sentir-se atrada por um objeto,

    desde que essa atrao no resulte em atitudes impensadas e inconsequentes, na tentativa de

    adquirir o que deseja.

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    A construo dos elementos da narrativa em A caada foi elaborada pela autora que, com

    apenas dois personagens inominveis, os universaliza e ainda cria dois ambientes, um proveniente

    do enredo, da vida da personagem principal, a loja de antiguidades e, o outro criado pela obsesso

    do homem pela tapearia. O leitor decide onde e como o homem morreu, pois h duas

    possibilidades, uma natural (na loja) e a outra sobrenatural (na caada, dentro da tapearia). Alm

    disso, cabe ao leitor acreditar na existncia de uma caada real ou imaginria, criada a partir dodesenho na tapearia, uma vez que alguns acontecimentos no esto explcitos no texto, competindo

    a quem l decifrar o mistrio.

    Bibliografia

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    SILVESTRE, Emerson.A caada fantstica: uma leitura do conto de Lygia Fagundes Telles.

    Revista Ao P da letra, verso online ISSN 1984-7409. Volume 14.1 -2012.

    TELLES, Lygia Fagundes.Mistrios. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.