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    DESIGUALDADE NA AMRICA LATINA, 1950-2008:ESTUDO SEGUNDO ENFOQUE DE CELSO FURTADO

    Silvia Harumi Toyoshima

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    Francisco C. da Cunha Cassuce2Igor Santos Tupy3

    rea Temtica: Economia e Desenvolvimento

    RESUMO

    O objetivo do artigo foi resgatar o esquema analtico de Celso Furtado, a fim de analisar odesenvolvimento da Amrica Latina e Caribe. Mais especificamente, pretendeu-se analisar o

    comportamento de variveis econmicas e sociais dos pases, no perodo 1950-2008, combase nos determinantes histricos que conformaram suas estruturas econmicas e sociais. Ametodologia utilizada nesse trabalho foi o mtodo de agrupamentos, a partir do qual seanalisou a evoluo histrica dos pases sob estudo. As principais concluses da pesquisaforam que: a) houve maior convergncia entre os indicadores socioeconmicos entre 1950 eos anos 2000, reduzindo de quatro para dois grupos; b) os dois grupos identificados, nadcada de 2000, so muito distintos entre si; c) os grupos estimados com base somente emindicadores econmicos diferem daqueles com base em indicadores sociais; d) o Brasil, deacordo com critrios econmicos, mostrou uma estrutura produtiva diferenciada dentro daregio, mas do ponto de vista social integra o grupo com maior grau de subdesenvolvimento.A concluso geral que a interpretao de Furtado sobre o subdesenvolvimento e o seu graucontinua vlida para a anlise da Amrica Latina e Caribe. Primeiro, as economias que

    lograram maior diversificao foram aquelas que apresentaram melhor desempenhosocioeconmico. Segundo, a forma de insero no comrcio internacional, explica, ainda, emgrande parte o grau de desenvolvimento desses pases, dada a diferena entre eles no grau dedualismo presente na sociedade.

    Palavras-chave: Amrica Latina e Caribe; Celso Furtado; Subdesenvolvimento; Clusters.

    1. INTRODUO

    Desigualdade, pobreza e crescimento so temas que voltaram a ser centrais napesquisa, em mbito internacional. Tais preocupaes remetem ao resgate de pensadores que

    se dedicaram a pensar o desenvolvimento econmico de forma abrangente. Um dessesgrandes pensadores trata-se do economista brasileiro Celso Furtado, cuja vasta bibliografia foidedicada reflexo da dinmica do capitalismo dos pases perifricos, de modo a gerarsolues para o desenvolvimento sustentvel de ampla maioria da populao mundial.

    1Professora do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viosa.2Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viosa.3Estudante de Economia da Universidade Federal de Viosa. Bolsista de Iniciao Cientfica PIBIC/CNPq.

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    Furtado (1976)4, analisa o desenvolvimento dos pases da Amrica Latina, ressaltandosuas semelhanas e diferenas, segundo o contexto histrico geral, e particular de cada pas,enfatizando suas formas de insero na diviso internacional do trabalho. Na anlise dodesenvolvimento da Amrica Latina e Caribe possvel traar um amplo quadro desimilaridades entre os pases que os compe em relao a aspectos polticos, sociais e

    econmicos. Um dos aspectos importantes dessa similitude, argumentada por Furtado, ainsero, das economias latino-americanas, na diviso internacional do trabalho viacomercializao de produtos primrios. Contudo, o autor observou que os graus desubdesenvolvimento dos pases latino-americanos so diferentes. Dentre seus principaisdeterminantes podem-se mencionar: 1) os tipos de produtos primrios comercializados e estrutura socioeconmica e poltica engendrada a partir da atividade produtiva principal; e 2)o desenvolvimento, ou no, do setor manufatureiro.

    Diante do exposto, o objetivo do presente artigo resgatar o esquema terico de CelsoFurtado, a fim de analisar o desenvolvimento da Amrica Latina e Caribe recente. Maisespecificamente, pretendeu-se analisar o comportamento de variveis econmicas e sociaisdos pases, no perodo 1950-2007, com base nos determinantes histricos que conformaramsuas estruturas econmicas e sociais.

    As principais questes que se procurar responder so: a) em que medida as diferentesformas de insero no comrcio mundial no perodo colonial, ainda, contribuem para explicaro grau de desenvolvimento diferenciado entre os pases, no perodo analisado? b) pode-seafirmar que, os pases cuja vocao industrial maior, apresentam maior grau dedesenvolvimento? c) o perodo de entrada no processo de industrializao comprometeu odesenvolvimento socioeconmico dos pases?

    Partiu-se, assim, do pressuposto de que podem-se distinguir grupos de pases comdesempenhos socioeconmicos diferentes, a partir da dinmica de desenvolvimento gestadasegundo a forma de insero de cada pas no comrcio internacional. Uma das principaiscontribuies de Celso Furtado, segundo Bresser Pereira (2001:35), foi o mtodo utilizado naanlise do desenvolvimento, a saber, o histrico-indutivo, na medida em que lhe permitecombinar a grande viso do processo histrico com as especificidades de cada momento e decada pas.

    A metodologia utilizada na pesquisa foi composta por: identificao de grupos,segundo caractersticas socioeconmicas, no incio do perodo (1950) e no final (2007);anlise dos diferentes grupos, de acordo com o processo histrico de insero na economiamundial e a dinmica de desenvolvimento dos pases que os compe, comparando-se asalteraes ocorridas entre esses dois perodos.

    O pressuposto contido na obra de Furtado de que a desigualdade de rendas inerenteao processo capitalista de produo, em que desenvolvimento e subdesenvolvimento so facesde uma mesma moeda. de se esperar, assim, que tal desigualdade se amplie, principalmente,nos perodos em que novos paradigmas tecnolgicos surgem. Outro pressuposto de que aindustrializao no resolveu a questo da equidade internamente (Furtado, 1976)5.

    A importncia desse tipo de estudo que caso a tendncia do processo capitalista sejaa ampliao da desigualdade, haveria que se discutir um outro modelo de desenvolvimento, oque no significa necessariamente questionar o prprio sistema capitalista. Mas significa

    4Ver, dentre outras obras,Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (1961); Subdesenvolvimento e estagnao naAmrica latina (1966); Teoria e poltica do desenvolvimento econmico (1966); O mito do desenvolvimentoeconmico (1974); A economia latino-americana (1976); Introduo ao desenvolvimento: enfoque histrico-

    estrutural (2000); e Em busca do novo modelo (2002). Estas so algumas referncias de sua vasta obra quetratam de modelos de desenvolvimento e subdesenvolvimento.5Sobre desigualdades na Amrica Latina e Caribe ver, por exemplo, Naciones Unidas/Cepal (2008).

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    pensar conjuntamente algum tipo de soluo em que tal desigualdade no se aprofundasse,sob pena de trazer outros tipos de problemas para as sociedades em mbito global.

    O restante do artigo se encontra dividido em mais quatro sees, alm destaIntroduo. A segunda seo trata do referencial terico do trabalho, apresentando o esquemaanaltico bsico da pesquisa. A terceira refere-se metodologia do artigo. A quarta apresenta

    os resultados dos agrupamentos e suas respectivas anlises. E, por fim, a quinta seo tratadas principais concluses do artigo.

    2. O ESQUEMA ANALTICO DE CELSO FURTADO6

    Ao contrrio dos modelos de crescimento do tipo de Solow (1956), a desigualdade dasrendas per capita entre as regies do mundo, em Celso Furtado, inerente dinmicacapitalista de longo prazo, acentuada pela forma de insero dos pases no comrciointernacional, a partir da Revoluo Industrial.

    Assim, diferentemente dos pases desenvolvidos, nas regies subdesenvolvidas houvea gerao de uma estrutura com caractersticas especficas, ao longo de vrios sculos,identificadas como: carter dualista das sociedades; heterogeneidade tcnica; alto grau de

    especializao; insero no mercado internacional como exportador de produtos com base emrecursos naturais; industrializao (quando se desenvolveu) restringida, com subordinao stcnicas geradas nas economias centrais; dentre outras caractersticas. Nas economias quelograram alcanar maior grau de industrializao e desenvolvimento, algumas dessascaractersticas se reduziram. Contudo, h ainda uma grande defasagem em relao sestruturas econmico-sociais apresentadas pelos pases industrializados.

    Furtado (1966) faz, assim, uma subdiviso entre as prprias regies subdesenvolvidas,classificando-as como: 1) economias subdesenvolvidas de grau superior; e 2) economiassubdesenvolvidas de grau inferior. No primeiro grupo, em geral, h trs setores subsistncia,exportador e manufaturas. O setor dinmico o exportador, podendo gerar um grau deacumulao interna capaz de modificar as estruturas produtivas. O mecanismo desencadeadorde tal fenmeno ocorreria de acordo com o seguinte esquema: aumento do setor externo aumento da renda interna aumento dos lucros da indstria aumento dos investimentos reduo da importncia do setor de subsistncia. A amplitude desse efeito dependeria doquanto da renda gerada pelo setor externo seria gasta internamente, ou seja, de como ocapitalista gastaria o excedente. E a melhor situao seria alcanada quando houvesse adiversificao do ncleo industrial, com produo de parte dos equipamentos. Contudo, ascaractersticas fundamentais de dependncia externa e de heterogeneidade estrutural

    permaneceriam.J as estruturas subdesenvolvidas de grau inferior caracterizam-se por possurem

    apenas dois setores o exportador e o de subsistncia , sendo que o primeiro o nicogerador de renda capaz de induzir modificaes estruturais. O aumento das exportaesmodifica o perfil da procura, levando ao aumento da produtividade. Contudo, se o nvel de

    exportaes estaciona, o aumento populacional reduzir os salrios.Com base nesses argumentos tericos, Furtado (1976) acrescenta um tipo de diferenaque caracterizou o desenvolvimento dos pases latino-americanos7, que podem serclassificados partindo-se da diviso das economias segundo o tipo de produto de exportao:

    6Vrios desses conceitos podem ser identificados como cepalinos, uma vez que o autor fez parte dessa escola.7De acordo com o World Bank (2010), atualmente, fazem parte da Amrica Latina e Caribe, 29 pases, a saber:Argentina, Belize, Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Granada,Guatemala, Guyana, Haiti, Honduras, Jamaica, Mxico, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, So Cristvo e

    Nvis, Santa Lucia, So Vicente e Granadinas, Suriname, Uruguai e Venezuela.

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    1) Pases exportadores de produtos de clima temperado: Argentina e Uruguai. Esses tinham como concorrentes os pases desenvolvidos e se beneficiavam de contnuoavano tcnico desses produtos, alm de possurem terras de boa qualidade, o que lhesconferiam altas taxas de crescimento. A exigncia de implantao de um sistema detransportes considervel permitiu a unificao do mercado interno em torno de grandes portos

    de exportao8

    .2) Pases exportadores de produtos de clima tropical: Brasil, Colmbia,Equador, Amrica Central e Caribe bem como algumas regies do Mxico e daVenezuela. Esses foram desfavorecidos pela concorrncia de outras colnias e da regioescravista dos Estados Unidos, dispondo de mo-de-obra abundante, que recebiam baixossalrios. Contudo, embora os produtos tropicais, como caf e cacau, integrando essas regies economia internacional, permitissem a abertura de importantes reas de povoamento, noconseguiram desencadear o seu pleno desenvolvimento em razes tanto dos baixos preos do

    produto, sob influncia dos baixos salrios, como da no implementao de infra-estrutura deporte significativo. Mas, em algumas regies esse tipo de produto conseguiu induzir umprocesso de industrializao, cujo exemplo mais expressivo a cafeicultura no Estado de SoPaulo, o que conferiu ao Brasil a classificao de economia subdesenvolvida de grau superior.

    3) Pases exportadores de produtos minerais: Chile, Peru, Bolvia e algumasregies do Mxico e da Venezuela.Ao criarem uma demanda internacional importante demetais industriais, houve modificaes substanciais na produo desses pases, substituindo as

    pequenas unidades artesanais por grandes unidades controladas por capitais estrangeiros eadministradas a partir de pases de origem, sobretudo, os Estados Unidos. A produoaltamente tecnolgica, com elevado aporte de capital, conseguiu desenvolver importanteinfra-estrutura para escoamento do produto. Contudo, tal infra-estrutura era especfica paraesse tipo de atividade, gerando baixas externalidades para o restante da regio. A absoro dequantidade reduzida de mo-de-obra foi outro fator que impediu a gerao de renda queinduzisse ao incremento de um mercado interno importante.

    O cerne da explicao de Furtado para as diferenas nos graus de subdesenvolvimento a forma de participao na diviso internacional do trabalho, incluindo o tipo de produto

    primrio exportado. Quanto mais especializada na produo de determinados produtos equanto maior a dualidade existente na sociedade, maior o grau de subdesenvolvimento. Nasanlises iniciais, o autor acreditava que a industrializao seria a sada para diversificar a

    produo e retirar a populao de atividades de subsistncia conduzindo-a para setoresmodernos, reduzindo o carter dualista das sociedades dessa regio e, consequentemente, aalta concentrao de renda. Com a crise de 1929, as economias latino-americanas quelograram algum grau de industrializao, at aquele momento, foram as mais beneficiadas nosentido de acelerar tal processo, alcanando maior desenvolvimento relativamente s outras.Os pases que lideraram esse processo foram Argentina, Mxico e Brasil (Furtado, 1976).

    A fim de aplicar o esquema analtico de Celso Furtado em relao ao grau dedesenvolvimento, elaborou-se o Quadro 1, com base em estudos sobre a industrializao

    latino-americana e caribenha, da qual espera-se que, quanto mais retardatrio no processo deindustrializao, pior o desenvolvimento exibido nos dias atuais:

    Antes de 1930 A partir de 1930 Aps 1945 Aps 1960Argentina Colmbia Paraguai Amrica CentralUruguai Peru Bolvia CaribeBrasil Equador Venezuela

    8 Chandler (1978) observa a importncia das ferrovias para o desenvolvimento dos Estados Unidos, poraumentar a velocidade de transportes e, consequentemente, de vendas para todas as regies americanas.

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    MxicoChileFonte: Elaborado pelos autores, a partir de CEPAL (1963).Quadro 1. Classificao dos Pases Segundo o Perodo de Desencadeamento da Industrializao.

    Em relao ao grau de desenvolvimento, Furtado (1976) destaca que, embora aArgentina apresentasse menor taxa de crescimento industrial por volta de 1930, juntamentecom o Uruguai, ambas registraram os melhores indicadores sociais. Isso porque aindustrializao no tinha contribudo, at ento, para reduzir as desigualdades quanto distribuio da renda. Ou seja, a industrializao contribuiu para aumento da renda per capitados pases, mas isso no implicou que as regies que mais cresceram foram aquelas que maisse desenvolveram considerando-se as variveis sociais.

    Dois fatores foram elencados como os mais significativos para configurar o perfil dedistribuio da renda: a concentrao fundiria e o excedente populacional. Quanto maioresfossem os dois, maiores seriam a concentrao de renda e menor a formao de um mercadointerno capaz de criar novas atividades. Novamente, os dois ltimos pases mencionadoslevaram vantagens nesse sentido.

    Em sntese, o grau de desenvolvimento dos pases latino-americanos dependeu: a) danatureza da atividade exportadora, com sua capacidade de absoro de mo-de-obra; b) dotipo de produto de exportao, que determinou o tipo de infra-estrutura e sua capacidade degerao de economias externas; c) da nacionalidade da propriedade do capital, o quedeterminava o fluxo de renda interna; d) do excedente de mo-de-obra, que regulava o nvelda taxa de salrios no setor exportador em sua fase inicial; e e) da dimenso absoluta do setorexportador, que reflete, em grande parte, as dimenses geogrficas e demogrficas do pas.

    3. METODOLOGIA

    A metodologia utilizada nesse trabalho foi a de anlise de agrupamentos ou formaode clusters. A escolha do mtodo est diretamente relacionada ao problema de pesquisa e aosobjetivos do trabalho. A aplicao dessa tcnica permitiu reunir os pases da amostra emgrupos pouco heterogneos (ou mais semelhantes), possibilitando realizar inferncias arespeito das causas do desenvolvimento ou no desses pases, assim como a possibilidade dedivergncias na trajetria de desenvolvimento desses, ao longo dos perodos estudados.

    A anlise foi feita considerando um grupo de pases da Amrica Latina, para os quaishavia todos os dados, a saber: Argentina (ARG); Bolvia (BOL); Brasil (BRA); Chile (CHI);Colmbia (COL); Costa Rica (CRI); Repblica Dominicana (DOM); Equador (ECU); ElSalvador (ELS); Guatemala (GUA); Honduras (HON); Mxico (MEX); Nicargua (NIC);Paraguai (PAR); Peru (PER); Trinidad e Tobago (TTO); Uruguai (URU); Venezuela (VEN).

    A definio dos pases em agrupamentos baseada em alguma medida de similaridadeou de dissimilaridade. O objetivo obter um vetor de medida construdo atravs de um

    conjunto de variveis. Nesse estudo trabalhou-se com medidas de dissimilaridade. Sendoassim, quanto menor os valores mais parecidos seriam os pases e, portanto, maior apossibilidade de se apresentarem em um mesmo agrupamento. A anlise dos agrupamentosfoi desenvolvida para a dcada de 1950 e para a dcada de 2000. As variveis utilizadas paraconstruir a medida de dissimilaridade para a dcada de 1950 foram: PIB por trabalhador(GDPW); Grau de Abertura Comercial (OP); percentual dos investimentos sobre o PIB (KI);Taxa de Alfabetizao (ALF); Expectativa de vida (EXPV); e Taxa de Natalidade (NAT)9.Para a dcada de 2000 utilizou-se as variveis: PIB por trabalhador (GDPW); Taxa de

    9Essas foram as variveis encontradas para todos os pases analisados.

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    Natalidade (NAT); Esperana de Vida ao Nascer (ESPV); Percentual de PopulaoSubnutrida (SUBNUT); Taxa de Alfabetizao (ALF); Nmero de Computadores Pessoais(COMP); Usurios com acesso internet (INT); Consumo total de energia (CENE); grau deabertura (OP); participao dos investimentos no PIB (KI); e ndice de Gini (GINI). Aincluso de novas variveis, comparadas com a anlise feita para o ano de 1950, teve como

    objetivo elevar o nmero de informaes a respeito dos pases.A medida de dissimilaridade utilizada foi o quadrado da distncia Euclidiana10. Aconstruo dos agrupamentos pode ser feita utilizando as tcnicas hierrquicas ou nohierrquicas. Como um dos objetivos do trabalho foi definir, alm dos pases que formariacada um dos agrupamentos, o nmero de agrupamentos existentes na Amrica Latina, optou-se pela tcnica hierrquica. Tal tcnica parte do princpio que cada pas um grupodiferenciado e a partir da medida de dissimilaridade os pases passam a ser agrupados. Noestgio inicial, a disperso entre os pases de cada agrupamento a menor possvel, j quecada grupo composto por um nico pas. No estgio final apresentada a maior disperso(ou maior grau de heterogeneidade) entre os pases, j que todos seriam alocados em umnico grupo.

    Vrios mtodos podem ser utilizados para fazer a ligao ou a fuso de pases em um

    grupo. Nesse trabalho foi utilizado o Mtodo de Ward. Segundo Mingoti (2005), esse mtodotambm chamado de Mnima Varincia e baseado em dois princpios: a) Inicialmentecada elemento considerado um nico conglomerado; b) Em cada passo do algoritmo de

    agrupamento calcula-se a soma dos quadrados dentro de cada conglomerado. Esta soma o

    quadrado da distncia Euclidiana de cada elemento amostral pertencente ao conglomeradoem relao ao correspondente vetor de mdias do conglomerado, (MINGOTI, 2005, p. 176).

    Os aglomerados de pases que apresentam a menor distncia entre eles so unificados.Uma vez unificados so considerados uma unidade. medida que se agrupa, perde-sehomogeneidade e se ganha heterogeneidade. Uma vantagem do mtodo de Ward que ele

    pondera as distncias pelos tamanhos dos grupos que esto sendo comparados. Quanto maioro nmero de componentes entre os grupos, maior a distncia e a heterogeneidade entre eles(MINGOTI, 2005).

    Uma das dificuldades da anlise de cluster saber quando parar o processo deaglomerao, ou seja, definir o nmero final de agrupamentos. Mingoti (2005) apresentavrias medidas que podem auxiliar na escolha do nmero de grupos mais adequado11.Segundo Hair et all (2005), um procedimento que tem se mostrado preciso baseado nocoeficiente de aglomerao, que no mtodo de Ward definido como sendo a soma internados grupos de quadrados. A regra de parada baseada no valor e na variao dessecoeficiente ao longo do processo de aglomerao. Pequenos valores do coeficiente deaglomerao indicam grupos homogneos. Grandes valores acompanhados de grandesvariaes indicam a unio de grupos muito heterogneos. Entretanto no h uma indicaodesses valores, deixando claro que a anlise deve ser acompanhada do conhecimento do

    pesquisador a respeito do objeto de estudo.

    Diante da fragilidade na definio dos agrupamentos formados pelos pases daamostra, procurou-se dar alguma confirmao estatstica da validade destes. Dessa forma,foram realizadas anlises discriminantes12, tendo como nico objetivo verificar se os pasesforam corretamente agrupados e Anlise Multivariada de Varincia (MANOVA) paraverificar se os vetores de mdias de cada agrupamento so estatisticamente diferentes, ou seja,se a varincia entre os agrupamentos significativa. Alm disso, testaram-se as mdias das

    10Para maiores detalhes, ver Mingoti (2005).11Para maiores detalhes, ver Mingoti (2005).12Para maiores detalhes, ver Mingoti (2005) e/ou Hair et all(2005).

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    variveis contidas na anlise, para verificar se estas so estatisticamente diferentes entre osgrupos formados, ou seja, se h diferena estatstica entre os grupos, considerando cadavarivel separadamente.

    Para finalizar, Hair et all (2005) expe a importncia de se trabalhar com dadospadronizados na anlise de agrupamentos, uma vez que que as medidas de distncias so

    extremamente sensveis escala e unidade de medida das variveis. Sendo assim, trabalhou-se com as variveis padronizadas.Os dados referentes ao Produto Nacional por Trabalhador (US$), Participao do

    Investimento no Produto Nacional Bruto per capita e ao Grau de Abertura (todos a preosconstantes), foram obtidos Penn World Table6,3 e so referentes aos anos de 1950 e 2007. ATaxa Bruta de Natalidade por cada mil habitantes foi obtida junto ao site da CEPAL ecompreende a mdia para 1950-1955, assim como o consumo de energia em equivalncia de

    barris de petrleo. Os dados da Taxa Bruta de Natalidade para ano de 2007 foi obtido noDemographic indicators (In: The state of the world's children 2009. New York: Unicef, 2009).

    Os dados referentes taxa de Alfabetizao das pessoas de 15 anos ou mais (dados de2007), do percentual de populao subnutrida (dados de 2005), nmero de computadores

    pessoais a cada 100 mil habitantes (dados de 2005), nmero de usurios de internet a cada 100

    mil habitantes (dados de 2008) foram obtidos junto ao site do IBGE(www.ibge.gov.br/paisesat). As taxas de alfabetizao e de esperana de vida foram obtidasno site do United Nations Development Programme (http://hdrstats.undp.org/en/indicators/).E, por fim, o ndice de GINI foi obtido no site do World Bank(http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/table2_7.pdf).

    4. RESULTADOS

    A anlise histrica das diferenas no desenvolvimento das economias latino-americanas e caribenhas foi efetuada a partir, inicialmente, da elaborao de agrupamentos de

    pases com caractersticas socioeconmicas semelhantes. Em seguida, procurou-se verificarem que medida as hipteses de Furtado so adequadas, nos dois momentos histricosestudados (incio da dcada de 1950 e no perodo atual), para a anlise da trajetria dedesenvolvimento dos pases da Amrica Latina e Caribe.

    O nmero de agrupamentos ideal, para o ano de 1950, foi definido em quatro (Tabela1). Como mencionado acima, a anlise do coeficiente de aglomerao no deixa clara adefinio do nmero de clusters. Neste caso especfico, a anlise do coeficiente deaglomerao impossibilitou apontar, de forma categrica, o nmero de agrupamentos. Dessaforma, o dendrograma foi utilizado para definir o ponto de corte (como mostra a Figura 1A).

    Vista a fragilidade na determinao na anlise dos agrupamentos, foi realizada umaanlise discriminante com o intuito de verificar se a classificao dos pases foi adequada. Osresultados mostraram que 100% dos pases foram bem classificados, conforme os resultadosdas estatsticas de Lambda de Wilks, Pillais trace, Lawley-Hotelling trace e Roys largest

    root, para testar a diferena entre as mdias dos grupos. Os resultados indicaram que osgrupos so estatisticamente diferentes. Alm disso, todas as trs funes discriminantesestimadas foram significativas, indicando, mais uma vez, que os grupos apresentamdiferenas entre si. Resumindo, conclui-se que os agrupamentos formados so boasaproximaes da homogeneidade entre os pases na dcada de 1950.

    Tabela 1 Agrupamentos de Pases da Amrica Latina e Caribe para 1950.Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

    ARG BOL GUA BRA ECU CHI VEN

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    URU DOM HON COL MEX PERELS NIC CRI PAR TTO

    Fonte: Elaborado pelos autores.

    A Figura 1 apresenta a mdia das variveis dentro de cada grupo. Os resultados

    demonstram que os grupos 1, 4, 3 e 2, respectivamente, estariam definidos em ordemcrescente de grau de desenvolvimento. Entretanto, devido s diferentes unidades de medida,os valores foram normalizados para que pudessem ser comparados em um nico plano. Talresultado para a dcada de 1950 encontra suporte terico nas anlises discutidas anteriormentesobre o subdesenvolvimento, e seu grau, da Amrica Latina e Caribe. Os agrupamentosencontrados (Tabela 1) no contrariam a taxonomia de Furtado (1976).

    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 1 Perfis Grficos da Soluo para Quatro Agregados, Considerando a Dcada de 1950.

    No caso da Argentina e Uruguai, todas as classificaes distinguem ambos os pasescomo muito diferentes da mdia latino-americana e caribenha. As variveis utilizadas naanlise para o agrupamento dos pases exibem valores que indicam maior desenvolvimento.Para Furtado (1976), esses pases se desenvolveram como extenso das economias europias,utilizando tcnicas semelhantes e, posteriormente, criando novas tcnicas. Quanto ao grau deabertura, interessante ressaltar que essa varivel no contribuiu para diferenciar o nvel dedesenvolvimento da regio, nesse ano. Observa-se na Figura 1 que o grupo mais desenvolvidoexibia o menor grau de abertura, ao mesmo tempo em que o segundo grupo maisdesenvolvido, o maior. Tal resultado vai de encontro s teorias, como a das vantagenscomparativas, que justificam maior desenvolvimento de um pas devido sua maiorexposio ao mercado internacional.

    Na Argentina, especificamente, a falta de mo-de-obra estabeleceu nveis salariaismaiores para os trabalhadores, revertendo em melhor distribuio de renda interna,

    juntamente com o Uruguai. Isso permitiu a criao de um mercado interno mais amplo,desencadeando o processo de industrializao. Segundo outro autor, Lambert (1969), esses

    pases conseguiram modernizar suas atividades agropecurias, alterando a estrutura agrriainicialmente bastante concentrada.

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    O segundo grupo da Tabela 1 consiste em um clustercom maior nmero de pases,que se apresentavam como os menos desenvolvidos em 1950. Grande parte so economiascentro-americanas, alm da Bolvia, da Amrica do Sul, e Repblica Dominicana, do Caribe.Apresentam os piores indicadores em termos econmicos e sociais. Na classificao deFurtado (1976), com exceo da Bolvia, que se inseriu na diviso internacional do trabalho

    como exportadora de produtos minerais, o restante do grupo se inseriu como exportadores deprodutos agropecurios tropicais. Ambas as formas de insero no geraram externalidadessuficientes para difundir a modernizao para o conjunto da sociedade13. Alm disso, o

    processo de industrializao foi o mais tardio, a grande maioria tendo iniciado aps 1960.J, o terceiro grupo, formado pelo Brasil, Colmbia, Costa Rica, Equador, Mxico e

    Paraguai, exibem o segundo pior conjunto de indicadores da Amrica Latina e Caribe. Comexceo do Mxico que era exportador tanto de produtos tropicais como derivados deminerao os demais foram caracterizados por Furtado (1976) como, principalmente,exportadores de produtos agrcolas tropicais, o que justifica o seu subdesenvolvimento.Quanto industrializao, esse o grupo mais heterogneo, agrupando pases que iniciaramesse processo em diferentes perodos. J, segundo Lambert (1969), grande parte classificadacomo desigualmente desenvolvida, ou seja, onde o dualismo era mais acentuado do que em

    outras partes da regio.Por fim, Chile, Peru, Trinidad e Tobago e Venezuela, formam o quarto grupo,

    apresentando o segundo melhor conjunto de indicadores. Apesar de Furtado (1976) ressaltarque se caracterizaram por serem economias com enclave acentuado, devido atividade deminerao, que gerava pouca externalidade para o seu entorno, este grupo de pases possuaos maiores ndices de investimento, em 1950, alm de outros bons indicadores, sobretudo oChile e Trinidad e Tobago. No caso desse ltimo, trata-se do menor pas em termos

    populacionais da regio e o seu desempenho advm da atividade de explorao de petrleo.Em suma, respondendo s questes feitas na Introduo do artigo, os agrupamentos

    encontrados indicam que, em 1950: (1) havia diferenas socioeconmicas considerveis entreos pases latino-americanos e caribenhos; (2) a forma de insero na diviso internacional dotrabalho parecer ter tido papel importante para desencadear o desenvolvimento de cada pas;(3) o grupo menos desenvolvido composto por pases com nvel populacional menor. Esseltimo fator pode ser um limitante ao desenvolvimento de um mercado interno amplo, umavez que reduz as possibilidades de surgimento de atividades que exijam maiores escalas comosugerido por Fajnzylber (1999); e (4) a industrializao, embora j em desenvolvimentonesse perodo em muitos pases da Amrica Latina e Caribe, parece ainda no ter seconstitudo em elemento diferenciador das condies socioeconmicas desses pases.Argentina, Brasil, Mxico, Colmbia e Chile foram pioneiros no desencadeamento desse

    processo na regio. Contudo, na anlise de clusters ficaram distribudos em 3 diferentesgrupos, com graus diferentes de desenvolvimento14.

    Aps anlise de 1950, as mesmas questes a responder referem-se, agora, evoluodo capitalismo na Amrica Latina e Caribe aps esse perodo at a atualidade. Foram

    observadas, primeiramente, a conformao dos grupos, ou seja, se houve grandes alteraesnos clustersidentificados em 1950 e, em segundo lugar, quais foram os principais fatores quecontriburam para a nova conformao, caso esta tenha se modificado.

    13Para Lambert (1969), este grupo de pases classifica-se como aqueles em que a sociedade tradicional, existenteantes da colonizao espanhola, predominou, de forma a no desencadear um processo de desenvolvimento.14 De qualquer forma, nenhum deles pertencia ao grupo classificado por Lambert (1969) como o maissubdesenvolvido, onde o tipo de organizao de sociedade pr-colonizao predominou.

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    Valendo-se dos mesmos procedimentos, foi realizada uma anlise de agrupamentospara os mesmos pases para a dcada de 2000. De acordo com os coeficientes de aglomerao,a heterogeneidade dentro dos grupos aumenta sensivelmente ao passar de 2 para 1 grupo(57,21%), indicando a possvel formao com dois agrupamentos. A anlise do dendrograma(Figura 2 A) ratifica o resultado. Entre 1950 e 2000, assim, houve a reduo do nmero de

    grupos, de quatro para dois. Tais agrupamentos so apresentados na Tabela 2.

    Tabela 2 - Agrupamentos de Pases da Amrica Latina e Caribe para a Dcada de 2000.Grupo 1 Grupo 2

    ARG MEX BOL GUABRA TTO COL HONCHI URU DOM NICCRI VEN ECU PAR

    ELS PERFonte: Elaborados pelos autores.

    A fim de validar a classificao dos pases nos seus respectivos grupos foi realizadauma anlise discriminante para a dcada de 2000. O resultado do teste das mdias dasvariveis indicou que os grupos podem ser considerados estatisticamente diferentes. Ressalta-se que, novamente, o grau de abertura (OP) no teve importncia para diferenciao dos

    pases. A varivel Ki, ao contrrio de 1950, no foi significativa na dcada de 2000. Uma daspossveis explicaes que, em 1950, o Ki pode ter feito diferena, uma vez que acaracterstica desses investimentos era bem mais homognea (em infra-estrutura, ematividades produtivas, etc), possibilitando que pases como Chile se agrupassem queles comoArgentina e Uruguai. J, na dcada de 2000, a concepo de Ki pode no mais fazer o mesmoefeito uma vez que no considera, por exemplo, os investimentos em capital humano, tofundamentais para o crescimento atual. Alm disso, a funo discriminante foi

    estatisticamente significativa, indicando, mais uma vez que os dois grupos soestatisticamente diferentes.

    A Figura 2 apresenta a mdia dos grupos das variveis para os respectivos clusters,padronizada:

    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 2 Perfis grficos da soluo para dois agregados, considerando a dcada de 2000.

    Comparando-se 1950 com a dcada de 2000, observa-se que a formao de doisgrupos bem distintos seguiu uma trajetria histrica j esboada nos anos 1950. Ao Grupo 1,

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    mais desenvolvido se agregou o Grupo 4 (o segundo com melhores indicadores em 1950),com exceo do Peru, e trs pases do Grupo 3 (o segundo com piores indicadores, em 1950)

    Brasil, Mxico e Costa Rica. Os dois primeiros pases, juntamente com a Argentina, foramos primeiros a se industrializar, alcanando um nvel de diversificao da produo acentuada,o que de acordo com a teoria de Furtado e Cepal, pode incorporar a populao do setor de

    subsistncia em setores modernos, elevando os indicadores socioeconmicos, ora analisados.A concluso dessa anlise da persistncia histrica do grau de subdesenvolvimento.Observa-se que os pases do Grupo 2 (os menos desenvolvido em 1950), sem qualquerexceo, permaneceram nessa condio, aps 50 anos. A eles se uniram metade dos pases doGrupo 3. Todos eles apresentam economias menos diversificadas em termos de produo,apesar de muitos pases da Amrica Central terem seguido a trajetria do Mxico deimplantao das maquilas, para venda nos EUA.

    A industrializao, como apontado por Furtado (1976) no logrou melhorar adesigualdade na Amrica Latina. interessante, assim, empreender mais duas anlises deformao de grupos, para verificar se o crescimento econmico foi acompanhado pelamelhoria das condies de vida da populao, e em quais pases isso ocorreu. Uma, utilizandoapenas variveis econmicas e, outra, apenas variveis sociais para a dcada de 2000.

    A anlise econmica foi desenvolvida com as variveis: PIB per capita por trabalhador(GDPW); nmero de computadores pessoais (COMP); usurios com acesso internet (INT);consumo total de energia (CENE); grau de abertura (OP); participao dos investimentos noPIB (KI). Com base no coeficiente de aglomerao a heterogeneidade interna dos gruposaumenta sensivelmente quando h a mudana de dois para um agrupamento. Entretanto, aoverificar o dendrograma, observa-se que o Brasil caminha isoladamente, se unindo ao grupoda Argentina em uma etapa j avanada da aglomerao. Optou-se, assim, por alocar o Brasilem um grupo isolado (Tabela 3).

    Tabela 3 - Agrupamentos de Pases da Amrica Latina e Caribe para a Dcada de 2000,Considerando Apenas Variveis Econmicas.

    Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

    ARG MEX DOM BOL HON BRACHI PER VEN ECU NIC

    COL TTO ELS PARCRI URU GUA

    Fonte: Elaborado pelos autores.

    A maior diversificao da economia brasileira, com liderana na produo de diversosprodutos nessa regio, amplo mercado interno e grandes escalas de produo, contribuiu paraesse desempenho diferenciado.Colmbia, Costa Rica e Peru, por sua vez, migraram para oGrupo 1, mostrando que economicamente diferem do Grupo 2, com pior desempenhoeconmico. A anlise da diferena da mdia entre os grupos indicou que os agrupamentos so

    estatisticamente diferentes, em nvel de crescimento econmico (Figura 3).

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    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 3 Perfis Grficos da Soluo para Trs Agregados, para Dcada de 2000, Considerando

    Variveis Econmicas Padronizadas.

    J, o agrupamento com as variveis sociais mostrou que a heterogeneidade interna dos

    agrupamentos aumentou sensivelmente ao passar de dois para um cluster, indicando aformao de dois grupos. O mesmo pode ser observado no Dendrograma (Figura 4A). Aanlise discriminante indicou que 100% de acerto na classificao dos pases, com a funodiscriminante apresentando uma estatstica de Lambda de Wilks significativa a 1%. Os gruposso apresentados na Tabela 4.

    Tabela 4 - Agrupamentos de Pases da Amrica Latina e Caribe para a Dcada de 2000,Considerando Variveis Sociais.

    Grupo 1 Grupo 2ARG MEX BOL ECU NICCHI TTO BRA ELS PARCRI URU COL GUA PER

    MEX DOM HON VENFonte: Elaborados pelos autores.

    Atravs da Figura 4, que apresenta as mdias padronizadas das variveis para cadagrupo, pode-se verificar que o Grupo 1 apresentou melhores resultados em relao svariveis sociais. Isso classifica esse agrupamento como o mais desenvolvido em termossociais. Observa-se, tambm, a grande diferena entre os dois grupos. O dendrograma (Figura4A) confirma a demora para que esses dois grupos se unam.

    Fonte: Elaborado pelos autores.

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    Figura 4Perfis grficos da soluo para cinco agregados, para dcada de 2000, considerandovariveis sociais.

    No Grupo 1, que apresenta melhores indicadores sociais, foram classificados apenas 6pases: Argentina, Chile, Costa Rica, Mxico, Trinidad e Tobago e Uruguai. Os demais 12

    pases formam o Grupo 2, com indicadores sociais bem piores. Comparando-se com a Tabela3, verifica-se que 5 pases saem dos grupos mais desenvolvidos economicamente, paracompor o grupo dos pases menos desenvolvidos socialmente. So eles: Brasil, Colmbia,Repblica Dominicana, Peru e Venezuela.

    Comparando-se com 1950, houve pouca variao dos pases mais desenvolvidos.Permanecem Argentina e Uruguai (Grupo 1, em 1950) e Chile, Costa Rica e Trinidad eTobago (Grupo 4, o segundo melhor conjunto de indicadores). Apenas Mxico migrou doGrupo 3 (o segundo pior) para o Grupo 1. Da mesma forma, observa-se que o tamanho dos

    pases no foi importante para determinar grau de subdesenvolvimento, considerando-sevariveis sociais.

    Em suma, mesmo com os esforos de diversos pases em industrializar-se, continuavlida a argumentao de Furtado (1976), que j observara desde a dcada de 1970, que a

    industrializao no resolveu os problemas sociais da regio. A sociedade dual, ainda,persiste. A insero diferenciada da Argentina e Uruguai, no perodo colonial parecem terinfluncias at o presente momento, figurando sempre entre os pases mais desenvolvidos.Costa Rica, por sua vez, difere muito historicamente dos seus vizinhos na Amrica Central.Apesar de ter se inserido no mercado internacional como exportadora de poucos produtosagrcolas, tal insero foi tardia pela falta de populao indgena para ser utilizada como mo-de-obra. Isso proporcionou uma sociedade com terra melhor distribuda e, em conseqncia,mais igualitria. o nico pas da Amrica Central e do Sul que tem sustentado umademocracia desde as reformas sociais ocorridas em 1940 (Yashar, 1997). A economia deTrinidad e Tobago depende, em grande parte, da extrao e refino de petrleo, o que tem lheconferido bons indicadores socioeconmicos. O Chile, que convergiu para o grupo maisdesenvolvido, desde 1950 j apresentava indicadores econmicos e sociais melhores do que a

    mdia da Amrica Latina, tendo apresentado nesse ano um Ki bastante alto. Assim, em termosde melhoria na qualidade de vida, apenas o Mxico veio de um grupo menos desenvolvido em1950, mesmo assim, no o pior dentre os quatro identificados, mas o segundo pior.

    6. CONCLUSES

    A anlise dos agrupamentos chegou s seguintes concluses sobre a evoluo dodesenvolvimento da Amrica Latina e Caribe entre os anos 1950 e a dcada de 2000: a) houvemaior convergncia entre os indicadores socioeconmicos entre 1950 e os anos 2000, deforma que de quatro, houve a formao de dois grupos; isso no significa que o grupo menosdesenvolvido saiu ou demonstra fazer esforo para sair da condio de subdesenvolvido; b) osdois grupos identificados, na dcada de 2000, so muito distintos entre si; c) os grupos com

    base somente em indicadores econmicos diferem daqueles com base em indicadores sociais;d) o agrupamento segundo os indicadores econmicos ampliou muito o nmero de pases,nesse perodo, classificados como mais desenvolvidos, indicando que do ponto de vistaeconmico houve maior convergncia entre os pases; d) o Brasil ficou isolado, de acordocom critrios econmicos, dos demais pases, mostrando uma estrutura produtiva diferenciadadentro da regio, sobretudo no que diz respeito ao tamanho da economia, com um nmero deatividade industrial superior ao de outros pases; e) o agrupamento segundo os indicadoressociais no diferiu muito da classificao feita em 1950, o que sugere a persistncia e adificuldade na transformao da qualidade de vida da populao, de forma geral.

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    Esses resultados mostram que a interpretao de Furtado sobre o subdesenvolvimentoe o seu grau continua vlida para a anlise da Amrica Latina e Caribe. Em primeiro lugar, aseconomias que lograram maior diversificao foram aquelas que apresentaram melhordesempenho socioeconmico, sobretudo por meio do desenvolvimento da estrutura industrial.Segundo, a forma de insero no comrcio internacional, a partir da Revoluo Industrial,

    explica, ainda, em grande parte o grau de desenvolvimento desses pases, dada a diferenaentre os pases do grau de dualismo presente na sociedade. Tal fenmeno indicado no altograu de desigualdade de renda, de analfabetismo, de subnutrio, dentre outras variveissociais. Da mesma forma, a forma de insero pode explicar as diferenas entre odesenvolvimento da Amrica Latina e a sia. E, por fim, a industrializao trouxe maiordesenvolvimento econmico, mas no foi capaz de reduzir as desigualdades nas condies devida da populao.

    REFERNCIAS

    BRESSER, Pereira; REGO, Jos M. Coletnea: A Grande Esperana em Celso Furtado.So Paulo: Editora 34 Ltda, 2001

    CEPAL. La transformacin productiva 20 aos despus: viejos problemas, nuevasoportunidades. Santiago: Naciones Unidas, 2008. 346p.

    CEPAL. Problemas y perspectivas del desarrollo industrial latinoamericano . BuenosAires: Solar/Hachette, 1963; 168 p.

    CHANDLER JR., Alfred D. The visible hand: the managerial revolution in Americanbusiness. Cambridge: Harvard University, 1978.

    FAJNZYLBER, F. Industrializacion en America Latina: de la caja negra al casillerovacio.Santiago de Chile: Naciones Unidas, 1989.

    FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora Fundode Cultura, 1961.

    FURTADO, Celso.Subdesenvolvimento e estagnao na Amrica Latina. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira, 1966.

    FURTADO, Celso.Teoria e poltica do desenvolvimento econmico.Rio de Janeiro, Paz eTerra, 1966.

    FURTADO, Celso. A economia latino-americana. So Paulo: Editora Nacional,1976.

    FURTADO, Celso. Introduo ao desenvolvimento: enfoque histrico-estrutural. SoPaulo: Paz e Terra, 2000.126 p.

    HAIR JR, J. F.; Anderson, R.E.; Tatham, R.L.; Black, W.C. Anlise Multivariada de Dados.Porto Alegre: Bookman. 5 edio, 2005. 593 p.

    IBGE. Informaes dos pases. http://www.ibge.gov.br/paisesat

    LAMBERT, Jacques. Amrica Latina: estruturas sociais e instituies polticas. SoPaulo: Companhia Editora Nacional, 1969. 435 p.

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    MINGOTI, S.A. Anlise de dados atravs de mtodos de estatstica multivariada: umaabordagem aplicada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. 297 p.

    SOLOW, Robert M. Technical Change and the Aggregate Production Function. TheReview of Economic and Statistics, Vol. 39, N 3, 1956

    UNDP. Human Development Report. United Nations Development Program, 2010

    UNITED NATIONS, Development Programme. http://hdrstats.undp.org/en/indicators

    WORLD BANK. Data Statistics. http://web.worldbank.org , capturado em 13 de janeiro de2010.

    YASHAR, D. J. Demanding Democracy: Reform and Reaction in Costa Rica andGuatemala, 1870's - 1950's. Stanford: University Press, 1997. 342 p.

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    ANEXO A

    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 1A Dendrograma Construdo a Partir do Mtodo de Ward, para a Formao de

    Clusters na Dcada de 1950.

    Fonte: Elaborado pelos autores.

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    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 3A Dendrograma Construdo A Partir do Mtodo de Ward, para a Formao de

    Clusters na Dcada de 2000 para as Variveis Econmicas.

    Fonte: Elaborado pelos autores.Figura 4A Dendrograma Construdo A Partir do Mtodo de Ward, para a Formao de

    Clusters na Dcada de 2000 para as Variveis Sociais.