toque de silencio

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Pesquisa deselnvolvida pelo Major da Brigada Militar, do Estado do Rio Grande do Sul, Florêncio Paim Castelhano, em 1991 em livro, sobre a morte de PMs (praças policiais militares), em ocorrências, cuja morte teve publicação na imprensa de 1967 a 1990.

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FLORENCIO PAIM CASTELHANO

oquE dE:

A.

SILEnCIO

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FLORENCIO PAIM CASTELHANO

TOQUE DE SILÊNCIO

"NOSSA MISSÃO CONTINUA"

Page 4: Toque de silencio

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Composição: Romeu Pavan

Montagem: Marcelo Marchiori

Capa: Maria Goretti Bitencourt

Fotolito: Cláudia da Silva

Impressão: Imperial Artes Gráficas

Passo Fundo - Fone (054) 313-5434

Provas finais revistas pelo autor

Endereço para contato com o autor (pedidos)

Rua Mário Artagão, 594 - CEP 90630

Fone (0512) 36.09.25 · Porto Alegre

© Florencio Paim Castelhano

Todos os direitos estão reservados ao autor.

Impresso em fevereiro de 1991.

Page 5: Toque de silencio

MINHAS HOMENAGENS

Aos meus pais, FLORENCIO DE OLIVEIRA CASTELHANO, subtenente

da Brigada Militar (ln Memorian) e Maria Flora Delgado Castelhano.

Aos meus sogros HELCI RODRIGUES (Capitão PM da Reserva)

e Rita Gerlach Rodrigues. À minha querida esposa Eni

Castelhano. Aos meus adorados filhos

Anselmo e Leonardo

Cada um é um pedaço do meu coração, e todos são responsáveis pelas coisas boas que cercam minha vida.

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Page 6: Toque de silencio

MEU RECONHECIMENTO

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A todos os historiadores da Brigada Militar, que fazem reviver a história desta gloriosa Corporação através de seu incansável trabalho,

mostrando-nos pelos feitos heróicos de nossos antepassados, por que a

Brigada Militar é idolatrada por todo o povo gaúcho.

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MEU AGRADECIMENTO

Aos meus comandantes no decorrer destes vinte e quatro anos de serviço, pelo exemplo de liderança e

sábias decisões, que me deram um novo horizonte como oficial.

Aos meus colegas de turma, Aspirantes de 1970, pelo incentivo à

minha primeira obra literária, a Revista da Turma.

A todos os praças, que durante minha carreira de oficial, colaboraram

com o meu crescimento profissional, através da demonstração de dignidade,

honradez, lealdade e dedicação.

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PREÂMBULO

Este livro surgiu, após um longo período de observação, estudo e pesquisa, sobre os fatos que fizeram e fazem a história da Brigada Militar. Entre estes fatos, tem sido marcante, após a sua efetivação no Policiamento Ostensivo a partir de 1967, a morte de praças policiais militares em ocor­rências.

Nestes vinte e três anos de atividades no policiamento, como podere­mos ver, muitos foram os companheiros que tombaram no cumprimento do dever, entregando suas vidas em prol da segurança do cidadão e do patrimônio.

Temos lido com muito carinho, por resgate histórico de nossos pesqui­sadores, os grandes feitos de outrora, quando a Brigada Militar era uma Força guerreira. Vimos ali que muitos derramaram seu sangue, em defesa da honra, do território e da bandeira rio-grandense. Nos surgiu então a idéia de aliar os feitos contemporâneos neste Memorial de grandes e valorosos homens.

TOQUE DE SILÊNCIO é uma modesta contribuição para este Memo­rial, relatando as circunstâncias em que se deram os fatos, e como, com garra, valentia, determinação e amor à causa brigadiana, o sangue de nossos valorosos PM foi derramado.

Esta é uma forma singela de reconhecimento a todos aqueles que tombaram honrando a farda brigadiana, como também é uma forma de agrade­cimento de seus companheiros que seguem· na luta e, amparados em seus heróis, conservam de toda a comunidade rio-grandense o respeito, admiração e carinho desta tão valorosa Brigada Militar.

O Autor

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PREFÁCIO

Ao longo de minha carreira profissional, em mumeras oportunidades sofri a perda de um companheiro tombado no holocausto da violência social, que face às peculiaridades da vida brasileira e em especial a gaúcha, cada vez mais se agrava e a nós que compete combater as consequências dos desajustes sociais, sem ter como influir nas causas, mais nos angustia tal situação.

Assim, ao aceitar o convite do Cap. Castelhano para prefaciar sua obra, o fiz na lembrança querida e amiga de diversos irmãos de combate que quis o destino fossem os mártires desta luta titânica entre o bem e o mal, e na recordação de meus trinta e três anos de serviço, muitos fatos me vieram à mente, trazendo de volta figuras que estavam nos desvões da memó­ria, que foram revividas por este Toque de Silêncio, dentre os inúmeras praças que deram a vida em defesa da sociedade rio-grandense, relatadas neste Livro, e, para não repetir o Autor, lembro, por força das circunstâncias, ainda com dor no peito, do Cabo VALDECI DE ABREU LOPES, herói e mártir mais recente da nossa história.

A idéia do Autor, compilando fatos da envergadura dos mencionados, resgata para a posteridade o devido registro histórico, fazendo com que todos os brigadianos que tombaram no cumprimento do dever tenham eterna­mente o Toque de Silêncio de fato e de direito que lhes é devido.

CARLOS WALTER STOCKER - CEL PM CMT GERAL DA BM

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O INÍCIO DA BRIGADA MILITAR NO POLICIAMENTO OSTENSIVO

Antes de iniciar o histórico da atuação da Brigada Militar no Policia­mento Ostensivo, vamos nos reportar ao ano de 1837 quando tudo começou.

No dia 18 de novembro desse ano, na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, através de uma Lei Provincial, o então Presidente da Província, Doutor Antônio Elzeário de Miranda e Brito, sancionou a lei decre­tada pela Assembléia Legislativa Provincial, que tinha a seguinte redação:

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"Art. 1~ -A Força Policial da Província durante o ano financeiro que finda a 30 de junho de 1838, é fixada em trezentas e sessenta e três praças de pé ou a cavalo segundo o Presidente da Província julgar mais conveniente.

Art 2~ - Sua organização, disciplina e vencimentos serão os mesmos da tropa de primeira linha.

Art 3?- Esta força terá por fim auxiliar as Justiças, manter a boa ordem, a segurança pública assim na Capital, e seus suburbios, como nas Comarcas por Destacamentos, não podendo ser distraídas deste serviço, exceto no caso de invasão de inimigos.

Art 4~ - Estará sujeita diretamente ao Presidente da Província, que poderá dissolver, quando a segurança pública o exigir.

Art 5~ - Será preenchida por meio de engajamento de Nacionais ou Estrangeiros, de 18 a 40 anos com boa conduta moral, e civil, testados pelo Juiz de Paz respectivo, tendo preferência os que servirem na primeira ou na extinta segunda linha do Exército. Na insuficiência do engajamento para o qual o Presidente marcará um prazo razoável, terá lugar o recrutamento na forma das Leis em vigor; os recru­tados servirão por quatro anos, os engajados por dois ou menos.

Art 6? - Ficam sem efeito as disposições em con­trário.

Mando portanto as Autoridades a quem o conheci­mento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O primeiro Oficial, que interinamente serve de Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr.

Palácio do Governo em Porto Alegre aos dezoito dias do mês de novembro de mil oitocentos e trinta e sete,

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do dia 04 de maio do mesmo ano). A partir dessa nova atribuição, qual seja, a de absorver o policiamento

de rua e o policiamento de choque, que eram efetuados pela Guarda Civil, a Brigada Militar passou a mostrar sua nova imagem, agora com um contato mais direto com a população, o que resultou uma amplitude na imagem simpá­tica qye já possuía, embora aquartelada.

Surgiu uma nova era, e até hoje a imagem criada pelos "Pedro e Paulo" se mantém como símbolo de segurança e ordem pública.

Correio do Povo, 16.04.57

NADA HÁ DE CONCRETO

INCORPORAÇÃO DA GUARDA CIVIL À BRIGADA MILITAR DO ESTADO

A propósito de declarações publicadas pela imprensa sobre a incorporação da Guarda Civil à Brigada Militar, recebemos, ontem à noite, na Chefia de Polícia e do Coman­do Geral da Brigada Militar a seguinte nota: "O Chefe de Polícia do Estado e o Comandante Geral da Brigada Militar, a fim de evitar interpretações equivocadas em tôrno das declarações publicadas na Folha da Tarde de ontem, sob o trtulo "Unificação do policiamento fardado em todo o Estado", esclarecem o seguinte:

a) O Chefe do Estado Maior da Brigada, tendo em vista as manifestações de um grupo de fiscais da Guarda Civil, que se mostrou, num encontro fortuito com aquela autoridade, partidário da incorporação da Guarda à Brigada Militar, iniciou um trabalho técnico nêsse sentido.

b) Convém assinalar, todavia, que as transformações analisadas teóricamente, pelo Cel. Monteiro, não foram ain­da, objeto de consideração por parte da Chefia de Polícia e Comando Geral da B.M., nada havendo, portanto, de con­creto na incorporação da Guarda Civil, medida que deman­daria estudos conjuntos e aprofundados.

c) São, portanto, improcedentes, quaisquer deduções veiculadas à margem do assunto abordado na publicação em referência, que sómente podem prejudicar o notório ambiente de absoluto entendimento e recíproco respeito que existe entre os elementos do D.P.C. e da Brigada Militar, corporações afins na sua missão e que, coordenadamente, só visam a segurança pública do Estado.

(ass.) Ten. Cel. Raymundo L. V. Chaves Chefe de Polícia do Estado

(ass.) Cel. Ildefonso Pereira de Albuquerque Comandante Geral da B. Militar

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Folha da Tarde, 04.05.67

INTEGRANTES DA GC DESCONTENTES COM O DECRETO

GENERAL IBÁ NÃO ACREDITA QUE EXTINÇÃO DA GUARDA CIVIL CRIE PROBLEMAS À POLÍCIA

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O Gen. lbá Ilha Moreira, Secretário de Segurança Pública, em contato com a reportagem no dia de ontem disse que não acredita que a extinção da Guarda Civil, através de decreto do governador Valter Peracchi Barce­llos, publicado ontem no Diário Oficial, criará problemas na organização policial gaúcha, pois o ato governamental se constitui apenas num passo a mais na evolução no dispo­sitivo de segurança do Estado. A rivalidade tida como exis­tente entre Brigada Militar e Guarda Civil não tem mais razão de ser, pois tratava-se apenas de veleidade de alguns, disse o titular da Segurança.

OUTROS ESTADOS

Quanto a não extinção das guardas civis em outros Estados da Federação, disse o Gen. lbá: "cabe a cada Estado o exame de seus problemas internos de segurança. Aqui os problemas foram examinados profundamente por homens que entendem, realmente, de segurança pública e coube ao governador a decisão final, visando sempre a maior tranqüilidade da população. São inegáveis os serviços pres­tados pela Guarda Civil durante seus quase quarenta anos de existência, no entanto, a polícia de segurança não pode se fundamentar em sentimentalismo. A Guarda Civil passará à história com tudo o que de bom realizou, para ceder lugar a um novo sistema de policiamento pois, assim exige a evolução natural da Polícia gaúcha". Finalizando, disse o General lbá que em Brasília se situa o grande exemplo, pois, na capital federal o policiamento é feito pela fôrça pública.

A GUARDA

Os 1.400 homens que compõem a Guarda Civil, distribuídos entre fiscais e guardas, organizaram a Associação Gaúcha de Guardas Civis e o Centro Social de Fiscais, entidades que proporcionavam a seus associados assistência médica e hospitalar. Além dessas vantagens, tinham os membros da GC um lote de terras em Cidreira, onde seria construída uma colônia de férias e diversas outras iniciativas estavam sendo tomadas em benefício de guardas e fiscais, inclusive acordos com casas de crédito para concessão de finan­ciamentos. Tôdas estas medidas findam com a Guarda Civil.

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TRAUMATIZADOS

O ambiente no quartel da Guarda Civil durante a tarde de ontem era de grande inconformidade, não se ouvindo nenhuma voz em apoio ao ato do Governador do Estado. O decreto colheu de surpresa a tôda a corporação, que esperava que fôsse a Assembléia Legislativa que daria a última palavra sobre a extinção ou não da corporação. A grande maioria de guardas e fiscais esperava que o poder legislativo fosse contra a extinção, no entanto, caber~ aos deputados apenas a criação de cargos para que os homens da GC se integrem na polícia civil ou optem pela Brigada

Militar.

INCONFORMIDADE

Fiscais e Guardas da G. C., que foi extinta por decreto do governador Valter Peracchi Barcelos, manifestam-se descontentes com a medida. Os agentes esperavam que a decisão fôsse tomada pela Assembléia Legislativa.

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Correio do Povo, 07.05.67

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GOVERNADOR DECRETOU ONTEM A EXTINÇÃO DA GUARDA CIVIL

O governador Walter Peracchi Barcellos assinou on­tem o decreto nº 18.501, que extingue a Guarda Civil, órgão subordinado à Superintendência dos Serviços Policiais da Secretaria da Segurança Pública.

A medida decorre de um decreto que refor'mula as polícias fardadas, assinado nos últimos dias do governo Castelo Branco.

A Guarda Civil, antiga fôrça policial fardada, prestou serviços inestimáveis à população gaúcha, tendo, inclusive, destacada atuação na revolução de 1930. Com isso, fica extinto também o serviço de "Polícia de Choque", órgão de controle de tumultos, conhecido de todos pelos seus gôrros vermelhos e por alguns lamentáveis excessos.

Governador Walter Peracchi Barcellos

Dr. João Tamer

Eis o decreto de extinção, na íntegra:

"O Governador do Estado do Rio Grande do Sul, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 87, inciso XV, da Constituição do Estado,

DECRETA:

Art. 1º -É extinta a Guarda Civil, órgão subordinado presentemente à Superintendência dos Serviços Policiais, da Secretaria da Segurança Pública.

Art. 2° -Os servidores lotados no órgão ora extinto serão distribuídos entre os demais órgãos da Secretaria

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Segurança Pública, até a sua lotação definitiva.

Art. 3° - Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 4º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

Palácio Piratini, em Porto Alegre, 2 de maio de 1967 a) Walter Peracchi Barcellos, Governador do Estado; a) lbá Ilha Moreira, Secretário da Segurança Pública; a) :João Tâmer, Secretário da Administração".

Correio do Povo, 09.05.67

BM ASSUME POLICIAMENTO

Com a extinção das Guardas Civil e de Trânsito, vem a Brigada Militar de assumir o contrôle do policiamento ostensivo da capital. Já ontem foram lançadas ao serviço 4 unidades de rádio-patrulha, cada uma com guarnição de 3 homens e sob o comando de um sargento. Até as 24 horas, várias ocorrências foram atendidas, inclusive a appeensão de um automóvel furtado. 1°, 2º, 5º e 9° Distritos contam com policiamento totalmente entregue à Brigada. As unidades de rádio patrulha, idênticas as da foto ao alto, ontem estiveram estacionadas na Praça da Alfândega, Praça Daltro Filho e Av. Getúlio Vargas, enquanto a última era volante. Na foto abaixo vê-se o comando de rádio instalado no QG da Brigada Militar.

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BM ÀSSUME POLICIAMENTO Com a extinção das uuarda.s Clvll e de TrAnsl­to, vem a Brigada l\Iillt:u de a...~umir o con­trôle do policiamento ostensivo do. .:;aptto.l. Já. ontem foram la11çadas a.o serviço 4: unidades de rádio-patrulha, cada. uma. co1n. guarnição de 3 homens e oob o comando de um •argento. Até as 2( horas, vir!as ocorrênclas foram atendi­dú, Inclusive & a,preensào dt um automóvel

furtado. 1.0 , 2'.º, 5.º e 9.0 DlsLritos contam com uolicinmento tot:llmente entregu<' à Brigada. A& "unldndes de rá<lio-patrulhn, idl·nticas as da. fo­to a.o .:Uto, ontem estiveram <·stacionadas na Praça da. Alfãndcgo., Praça Daltro ·Filho e AV. Getúlio va:·g3.~. enquailto a última era volante. Na. foto de 1~xo vê-se o comando de rádio

lnstalad ~ QG ela Brigada. M!lltar.

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NOSSOS HERÓIS

Iniciamos, aqui, o relato de todas as ocorrências que foram possíveis compilar, as quais envolveram nossos valorosos policiais militares, e que ocasionaram suas mortes.

No decorrer das páginas que seguem, poderemos observar que todas as perdas havidas demonstram o denodo e o alto espírito corporativo que levaram estes mártires do serviço policial militar a marcar- com seu sangue a nossa história de lutas pela segurança do povo riograndense.

Muitos já tombaram, e deles ficou a imagem do dever cumprido. Fica cada vez mais marcante o juramento que fazemos perante o Pavilhão Nacional, onde dizemos que "cumpriremos o dever policial-militar pelo integral devotamento à manutenção da ordem pública, mesmo com o risco da própria vida".

Quando ingressamos na Brigada Militar, e fazemos este juramento, talvez não demos o real crédito do que a carreira nos espera, no entanto ele é real, e os riscos se avizinham a cada dia que colocamos o nosso fardamento.

As histórias que se seguem, não são tiradas da ficção e nem são cópia de filmes policiais; são fatos reais que deixaram indelével a marca pelo sangue desta incomparável e apaixonante profissão.

NELCI AIRES GOMES -1º TENENTE PM -1 'UI * 08 de fevereiro de 1923 + 25 de agosto de 1966 (43 anos)

Nelci Aires Gomes incluiu na Brigada em Santana do Livramento, no então 2º RC (Regimento de Cavalaria), no início da década de 40. Naquela época, um mulato esguio e forte. Tinha um grande potencial físico, e por esta razão era requisitado para competições no âmbito da Corporação. Sua preparação física era aliada aos trabalhos exigidos pelos recrutas, os quais fazia com a maior disposição porque tudo lhe era fácil.

Nelci, por sua capacidade física, era muito admirado no Regimento, pois seu jeito alegre e dinâmico causava inveja a seu próprio comandante.

Sua situação de aquartelado em uma Unidade militar não fazia o seu gênElro desportivo, por esta razão resolveu escolher uma atividade onde poderia aliar sua disposição com trabalhos que viessem se ligar mais direta­mente ao auxílio e proteção das comunidades.

Resolveu então vir a Porto Alegre e freqüentar o Curso de Bombeiros. Sua capacidade intelectual permitiu-lhe, tão logo terminasse o Curso

de Soldado Bombeiro, fazer o Curso de Sargento Bombeiro. Foi-lhe muito fácil, e em pouco tempo já era um graduado e como tal habilitado a comandar uma guarnição.

Voltou então para Santana do Livramento, onde comandou a estação

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lá existente. Lá permaneceu por algum tempo, mas sua capacidade e vontade de crescer fizeram-no pedir transferência para a capital, que além de ser um centro maior, ainda possibilitar-lhe-ia seguir carreira .

Passaram-se alguns anos e Nelci, sempre comandando estações na capital, à medida que galgava as graduações de 2º, 1º sargento e sub-tenente. No início da década de 60, com o seu tempo quase completo para ir à reserva, pois bombeiro contava tempo em dobro (cada ano contava um e meio), foi convocado no Posto de 1º Tenente pois a Organização não poderia prescindir de seu trabalho.

Como oficial comandou as estações _de bombeiro de Novo Hamburgo, Floresta, em Porto Alegre, Passo D'Areia e ·Partenon.

O seu tempo ia passando, mas sempre com a mesma disposição assumiu seus comandos como se fosse um aspirante recém formado na Escola de Oficiais. A sua permanência nos bombeiros era exigida, e para tanto ofereciam­lhe as funções mais relevantes, tais como: Aprovisionador, Chefe da chácara e Comandante do Grupamento Náutico. O seu tempo estava vencido, mas seu comandate, o Major Carlos Adernar da Silveira, ainda requereu ao Coman­do da Corporação a promoção a Capitão para que Nelci permanecesse mais algum tempo prestando seus serviços.

Nelci já estava com 43 anos, e com o tempo contado em dobro nos bombeiros, já perfazia mais de trinta anos de serviço.

Poderia se aposentar; o estatuto lhe permitia. No entanto, sua vocação e amor à Brigada falavam mais alto. A esta

época contava com uma família de esposa e seis filhos. Seu temperamento era calmo, de homem pacificador e dedicado a

auxiliar as pessoas. No dia 18 de agosto de 1966, uma quinta-feira, por volta do meio-dia,

quando Nelci dirigia-se para casa, para almoçar com sua família, ao passar em frente a um bar na linha do ônibus na Vila São José, viu que havia uma confusão formada.

Seu instinto policial fez com que parasse e observasse o que estava se passando, já que estava fardado e sua indiferença poderia provocar comen­tários desagradáveis à sua querida Corporação.

Acercou-se do grupamento de pessoas que ali se aglomeravam assistin­do à confusão, quando se apercebeu de que quem provocava todo o conflito era um subordinado seu, do Corpo de Bombeiros, o Sub-tenente Pedro Alexan­dre Soares, que, embriagado, fazia discursos inconseqüentes, agressivos e desrespeitosos, empunhando um revólver.

Por obrigação funcional, e para evitar interferência de civis na confu­são, a qual poderia prejudicar o bom nome da Brigada, resolveu acercar-se de Pedro Alexandre, pedindo que se acalmasse.

' Foi em vão. O sub-tenente, agressivo pelo álcool ingerido, não reconheceu ali o

seu superior, mesmo estando este fardado, e muito menos que a sua presença ali era para evitar confronto maior.

Tão logo o tenente Nelci aproximou-se do sub-tenente, este tentou afastar-se apontando-lhe a arma.

Alexandre passou a ofender Nelci, que buscava um meio de desarmá-lo. Em uma nova investida o sub-tenente, vendo-se perdido pois a esta altura

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todos aproximavam-se para proteger o tenente Nelci, apontou a arma na altura do abdomem deste e atirou.

Nelci caiu desfalecido pelo impacto do tiro. Os populares que assistiam revoltaram-se com o ocorrido e cercaram

o sub-tenente, desarmando-o e passando a agredí-lo furiosamente. Alexandre só não foi linchado porque apareceu ali um soldado da Brigada, que tendo acompanhado parte do ocorrido, deu voz de prisão a Alexandre, e dispôs-se a conduzi-lo ao HPS e, após, comunicar o fato ao comandante dos bombeiros, para que o recolhesse.

O Tenente Nelci foi conduzido por populares ao Hospital de Pronto Socorro. Era interrompido ali um sonho de Nelci, que era obter a promoção de capitão, ir para a reserva e comprar um táxi para melhorar seus parcos ganhos na Brigada, e poder dar a seus filhos escola digna e maior tranqüilidade à sua esposa Erotildes.

Enquanto Nelci passava por uma cirurgia delicada, Alexandre era medi­cado e o seu comandante, Major Adernar, preparava, juntamente com o 1º Tenente Luiz Inácio Viana Beck, a lavratura do flagrante.

O estado de Nelci era grave. Seis dias depois, após passar por três delicadas cirurgias, o tenente

Nelci voltou a si e conversou com sua esposa, pedindo que esta ;ornasse conta dos filhos, pois o seu fim estava próximo. Dona Erotildes não lhe deu muita atenção, porque tinha a esperança e quase a certeza de que seu marido iria se recuperar.

Porém, sua tiSperança findou quando na tarde do dia 25 de agosto Nelci expirov.

Este caso revestiu-se de peculiaridade especial, pois além de não ser missão específica do Tenente Nelci atender ocorrências de policiamento, não descuidou de suas atribuições como brigadiano e foi intervir com a única finalidade de restituir a tranqüilidade àqueles populares que temiam por suas vidas e, principalmente, por tratar-sede um companheiro de farda, subordinado, do qual jamais imaginaria uma reação tão violenta.

Por isto prestamos nossa homenagem ao Tenente Nelci Aires Gomes, por sua pujança, coragem e destemor no enfrentamento com fascínoras, que mesmo sendo companheiro de farda guardava em seu subconsciente um espíri­to criminoso e irresponsável, provando mais uma vez que basta ser humano para reter em si instintos animalescos e agressivos, do qual nem os homens pacíficos e ordeiros escapam.

Amigo Nelci, os teus amigos, os teus camaradas, e principalmente tua esposa Erotildes e teus filhos Delci, Noeli, Welington, Nelci Filho, Elton e Geres - esta já está a teu lado - permanecem aqui a render-te homenagens pelo grande homem que foste, e o exemplo de profissional do qual a Brigada sempre se orgulhará.

ADAIR ROMAN - SOLDADO PM -13°BPM FALECIDO EM 12 DE JANEIRO DE 1968

Adair incluiu na Brigada Militar n dia 24 de março de 1964, na Cia PM Independente no Município de Erechim. Logo em seguida, foi destacado para a localidade de São Valentim, hoje emancipada com o nome de Entre

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Rios do Sul. Na época do fato que culminou com sua morte, Adair estava à disposi­

ção das obras da Barragem do Rio Passo Fundo, no então distrito de Vista Alegre.

No dia 12 de janeiro de 1968, ao interceptarem um caminhão carregado de cereais, o motorista empreendeu fuga da barreira com o caminhão. Os fiscais do ICM, que se encontravam na região, solicitaram ao soldado Adair que os acompanhasse a fim de detê-lo e averiguar a carga. A perseguição foi feita em um "jeep", dos fiscais do ICM.

Ao interceptarem o caminhão que era dirigido por Adelino Guisolffi, verificaram que o mesmo não possuia nota fiscal da carga.

Quando o fiscal estava extraindo a notificação, o motorista Adelino sacou de sua arma de dentro de uma maleta que trazia consigo, e atirou à queima-roupa no fiscal atingindo-o na cabeça, matando-o instantaneamente.

Ato contínuo, atirou no soldado Adair Roman atingindo-o também na cabeça.

O criminoso fugou do local, não sendo mais encontrado. O soldado Adair faleceu no Hospital, deixando a esposa e três filhas

menores, a chorar sua falta. O fiscal que se encontrava na ocorrência e que também faleceu chama­

va-se Nerímio Bordin. Adair serviu à Brigada Militar durante três anos e dez meses, e durante

o tempo que atuou na Unidade que escolhera para servir, deixou marcada sua passagem, como um homem digno, trabalhador, dedicado e amigo.

Prestamos ao companheiro Adair Roman as nossas homenagens e a garantia de que este registro tornará mais viva a sua memória como mais um mártir de nossa penosa missão.

JOSÉ JARSON DA SILVA RODRIGUES - SOLDADO PM -2ºBPM * 14 de agosto de 1935 + 10 de março de 1968 (33 anos)

PROMOVIDO "POSTO MORTEM" À GRADUAÇÃO DE CB PM

José Jarson da Silva Rodrigues nasceu na cidade de São Sepé e era filho do senhor Julio Soilo Rodrigues e de dona Aureliana da Silva Rodri­gues. Ingressou na Brigada Militar no dia 16 de março de 1960, com a idade de 25 anos incompletos. Sua inclusão realizou-se no 1º Regimento de Polícia Montada, onde permaneceu até o ano 1966, quando em agosto foi transferido para o então 2º Batalhão de Guardas. Em abril de 1967, assumiu o comando do Posto Policial da localidade denominada Fundo do Formigueiro, um distrito do Município de Formigueiro.

No dia 10 de março de 1968, quando efetuava policiamento de rotina no distrito que comandava, José Jarson deparou-se com os indivíduos de nome Nevai Aires e Norico Aires. Eram aproximadamente 19 horas e estes, embriagados, promoviam confusão. Ao abordá-los foi alvejado mortalmente, sendo que os criminosos fugaram do local.

Uma patrulha composta pelos sargentos Anselmo M. Rodrigues, sargen-22

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to João B. Walter e mais outros soldados, deslocou até o local do crime para tentar efetuar a prisão dos indivíduos que mataram o soldado Jarson.

A busca foi infrutífera, no entanto pelos assentamentos verificados, consta que no dia 13 de março, portanto três dias depois do ocorrido, o tenente PM José Scheide Ramos comunicava em parte que os elementos encontravam-se presos.

Em reconhecimento à ficha de serviço~ do soldado José Jarson da Silva Rodrigues, e pela bravura evidenciada, não só nesta ocorrência como em todas as outras em que teve participação, foi promovido "Post Mortem" à graduação de cabo PM, conforme consta em boletim geral nº 231 de 02 de dezembro de 1969.

Prestamos também nossa homenagem e nosso reconhecimento ao "CA-BO JARSON".

DOMINGOS LUIZ DALLA COSTA - CABO PM 1? BPM * 24 de maio de 1936 + 13 de janeiro de 1969 (33 anos)

Domingos Luiz Dalla Costa nasceu na cidade de São Pedro do Sul. Não consta em seus assentamentos sua filiação. Sua inclusão na Brigada Militar deu-se em 30 de janeiro de 1962. Dalla Costa era reservista do Exército Nacional, tendo servido no 2° G.A. Cav. 75.

Logo que incluiu na Brigada, foi designado para servir no 1º Batalhão de Polícia Militar, em Porto Alegre. Sua formação intelectual -tinha o ginásio completo - permitia-lhe, além de desempenhar funções burocráticas na Unida­de, preparar-se para prestar exame de seleção a cursos de graduação.

Atuou junto à Ajudância do Batalhão, então chamado "Batalhão de Guardas", até o dia 16 de março de 1967.

Consta em seus assentamentos que prestou exame de seleção para o Curso de Sargentos em duas oportunidades, tendo sido reprovado em ambas oportunidades no entanto, o mesmo documento não faz referência quanto ao curso de Cabo.

O que importa é que, em 1969, atuando na 1ª Companhia de Policiamento do Batalhão, o mesmo já era cabo PM e comandava o Posto da Vila Santa Luzia.

Seu desempenho naquele Posto, na condição de comandante, era elo­giado por todos da Vila. conforme declarou o senhor Laureei Peres, um sexagenário que à época tinha comércio no local e foi testemunha do fato que culminou com a morte do cabo Dalla Costa.

Segundo informou o senhor Laureei, o fato transcorreu da seguinte maneira:

Era um domingo, um dia muito quente, daqueles que só janeiro sabe proporcionar, muito embora no céu houvesse algumas nuvens que deixavam a crer que aquele calor poderia trazer para breve, muita, chuva.

Em torno das 16 horas, seu armazém estava repleto de alegres vileiros, que aproveitavam o calor para bebicar alguma cerveja.

Próximo dali o Posto Policial, onde estavam o "seu" Domingos, homem

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muito querido na vila, e outro PM, que por mais que force a memória não consegue recordar o nome.

Tudo estava na santa paz de Deus, quando de repente ouviu-se um tiroteio acompanhado de uma gritaria.

Ninguém conseguia entender o que estava se passando. "Seu" Domin­gos, segundo relata o senhor Laureei, ouvindo os tiros, armou-se e foi ao encontro de onde vinham os tiros e a gritaria.

De imediato viu o seu colega do Posto da Vila dos Marítimos, o cabo Adão, também muito conhecido, que corria atrás de um "cara" vestido com uma calça preta, um blusão que não lembra a cor e um boné. O cabo Domingos, continua o senhor Laureei, deve ter reconhecido naquela pessoa um criminoso, pois não hesitou em sacar sua arma e atirar em direção a ele. O marginal, que depois veio saber tratava-se de "Julinho", um perigoso assaltante, como vinha de frente para o cabo, passou a responder aos tiros, tendo atingido "seu" Domingos no peito e na perna:

"O coitado nem conseguiu fazer muita coisa, pois ainda atirou com sua arma sem rumo nenhum, porque já estava morrendo. O marginal passou correndo por todo mundo apontando a arma e ameaçando de atirar se alguém se metesse. Ele pegou a direção da Avenida Oscar Pereira e sumiu."

Os próximos relatos foram extraídos do jornal Correio do Povo, do dia 14 de janeiro de 1969:

"Julinho escapou para a Av. Oscar Pereira, sempre em direção à Azenha ou Menino Deus. Formaram-se equipes de policiais civis e militares, acabando por cercar em matos na Rua Saldanha Marinho, cercanias do Parque de Exposi­ção Menino Deus. Julinho, vendo-se perdido, atirou a arma e deitou-se no chão protegendo a cabeça. Os policiais deti­veram-no e o conduziram ao Plantão, onde foi autuado em flagrante e recolhido à Penitenciária Estadual, pois além do auto de prisão havia sido anteriormente decretada sua prisão preventiva."

Domingos Dalla Costa morreu, deixando prantear sua falta Santina Dalla Costa, sua esposa, e dois filhos, uma menina de 4 anos e um menino de 6 meses. Eles jamais entenderão porque seu pai, um homem bom, direito, amado pelas pessoas que o conheciam, respeitado pelos seus colegas e admi­rado pelos seus superiores, possa ter perdido a proteção de Deus e interrom­pido sua vida tão brutalmente. Nós que convivemos o drama diário da rebeldia humana, também ficamos a nos perguntar: "Onde fica a justiça divina?".

Afinal, não nos cabe julgar, mas esta é a nossa vida e temos que admiti-la como um processo natural da existência.

A morte de Dalla Costa chocou a todos, que já estavam se acostumando ao novo procedimento de atuação policial militar da Brigada Militar, execu­tando o policiamento ostensivo.

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A Brigada ficou consternada, e a Divisão de Relações Públicas, tradu­zindo o pensamento de seus integrantes, expediu a seguinte nota:

"A Divisão de Relações Públicas da Brigada Militar, neste momento de luto para a família policial militar, com o brutal assassinato do cabo PM Domingos Luiz Dalla Costa, do 1° BPM, pelo famigerado indivíduo 'Julinho', torna público que a Brigada Militar, fiel aos princípios que recebeu de seus antepassados, continuará, como até aqui, proporcio­nando um clima de paz e segurança à brava e ordeira popula­ção do nosso Rio Grande.

O holocausto do nosso companheiro de farda é a prova de um trabalho abnegado, verdadeiramente heróico e quase sempre anônimo.

E assim, como o cabo Domingos, todos os brigadia­nos saberão honrar a farda gloriosa da nossa Brigada Mili­tar, tingindo-a com seu sangue, se necessário for."

Domingos, por uma ironia do destino, morreu num domingo, um dia de paz, dedicado ao Senhor.

Achamos que houve uma razão a qual desconhecemos, no entanto ficou de Domingos a grande lição de amor, dedicação, coragem e respeito à sua profissão.

Passaram-se' mais de duas décadas, mas sua imagem ficou até hoje resguardada no relicário da memória, como o primeiro grande herói da era policial militar desta Corporação que tem acentuado a cor escarlate de sua bandeira, com o sangue de seus heróis, que entregam suas vidas em benefício da segurança do povo gaúcho.

Dalla Costa, nós o veneramos e, tenha certeza, aonde estiveres, saiba que estamos convictos de que tua morte não foi em vão.

Correio do Povo, 14.01.69 ~ ,~~ '\ji,,,,

JULINHO MATOU CABO DA PM

Julinho, quando prestava declarações na polícia

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FORTUNATO RUAS - CABO PM - 2 ~ BPM * 30 de janeiro de 1931 + 02 de fevereiro de 1970 (39 anos) - Promovido a 3º Sargento PM "Post Mortem"

MANOEL ANTONIO ARAUJO ROSA - SOLDADO PM - 2 ~ BPM * 01 de janeiro de 1945 + 02 de fevereirode 1970 (25 anos) - Promovido a Cabo PM "Post Mortem"

"FORTUNATO E MANOEL MORRERAM NA MESMA OCORRÊNCIA"

FORTUNATO RUAS nasceu na cidade de Soledade e era filho do senhor Gezerino Camilo Ruas e de dona Ana Ramos Ruas. Incluiu na Brigada Militar em 29 de outubro de 1953, no 1º Regimento de Polícia Montada, na cidade de Santa Maria.

Em agosto de 1966, após concluir o Curso de Formação de Cabos PM em Santa Maria, foi classificado no então 2º Batalhão de Guardas (2º BG), sendo de imediato destacado para a cidade de Cachoeira do Sul. Na ficha de assentamento do cabo Fortunato, constam vários louvores, e não foi verificada nenhuma punição, o que seria normal a um praça em início de carreira, portanto isto é confirmado pelo seu comportamento, que teve uma ascendência natural, chegando no tempo correspondente a "Excepcional". Na Jurisdição de Cachoeira do Sul, tem uma localidade chamada Cerro Branco.

Para este local Fortunato foi destacado, a fim de Comandar o Posto Policial Militar, lá existente. No dia 02 de fevereiro de 1970, houve um baile de carnaval na Escola Municipal daquela localidade, onde foi requisitado policiarriento ao cabo Fortunato.

A noite ele compareceu no baile juntamente com o soldado PM Manoel Antonio Araujo Rosa, para ver se estava tudo em ordem, coisa quase desneces­sária, pois por ser um lugar pequeno quase todos ali se conhecem e se respeitam.

Como se diz na gíria, Fortunato e Manoel chegaram ao baile "de sangue doce".

Acontece que lá estavam os indivíduos Gomercindo de Oliveira, Nilton de Oliveira e Nilso de Oliveira, pelo que se deduz deveriam ser parentes, os quais não foram apenas para se divertir e sim para criar confusão. Depois de beberem bastante e começarem a se intitular valentes, passaram a provocar os participantes do baile.

A patrulha foi solicitada a intervir, e quando o cabo Fortunato se dirigiu ao "trio", para que não fizessem desordens ali, foi alvejado à queima roupa pelo indivíduo de nome Gomercindo.

Iniciou-se um breve tiroteio, onde também o soldado Manoel Antonio resultou ferido mortalmente.

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Fortunato ainda sacou de sua arma e disparou contra seu agressor, conseguindo ferí-lo com alguma gravidade.

Fortunato e Manoel ficaram ali, mortos. Os demais, Gomercindo, Nilso e Nilton, foram logo presos, pois eram conhecidos na cidade e a população revoltou-se com suas atitudes, em razão de que Fortunato e Manoel eram muito queridos por todos.

O cabo Fortunato, em reconhecimento por seus serviços prestados à Brigada Militàre à sua Unidade, foi promovido "Post Mortem" à graduação de 3º sargento. Manoel, pelos mesmos motivos, foi promovido à graduação de cabo, o que deixou, pelo menos, às suas famílias uma herança de gratidão e reconhecimento de muitos anos dedicados à segurança e à sociedade.

MANOEL ANTONIO ARAUJO ROSA era filho do senhor Hermínio Rosa e de dona Francisca André da Rosa. Ingressou na Brigada Militar no dia 10 de setembro de '1966, no 2° Batalhão de Guardas, na cidade de Santa Maria. Em marco de 1967. concluiu o Curso de Formação de Soldado, naquela época chamado de NPPM (Núcleo de Preparação Policial Militar), sendo designado a servir na 2: Cia, com destino à cidade de Sobradinho. Em maio de 1968, a pedido, foi transferido para o Pelotão de Cachoeira do Sul. No dia 02 de fevereiro, foi requisitado pelo cabo Fortunato, comandante do posto de Cerro Branco, para compor uma patrulha que faria policiamento num baile de carnaval naquela localidade.

Manoel já era conhecido por lá, e isto facilitaria o seu serviço. À noite, por ocasião do baile, os indivíduos Gomercindo Darci de Oliveira, Nilso e Nilton de Oliveira, começaram a criar confusão. Quando a patrulha chegou ao local foram recebidos a tiro pelo tal Gomercindo. O cabo Fortunato ainda tentou reagir aos tiros, sacando de sua arma e atirando, vindo a ferir Gomercindo. Manoel também sacou de sua arma e passou a atirar nos indiví­duos ferindo Nilso e Nilton, no entanto recebeu um tiro no coração, que o fulminou sem chances.

Ficaram ali mortos Fortunato e Manoel, que Cerro Branco jamais esquecerá. Ambos foram promovidos "Post Mortem", tendo esta sido a forma de reconhecimento da Brigada Militar a estes bravos brigadianos.

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O LENÇOL BRANCO, TAL QUAL UM MANTO SAGRADO, ENCOBRE MAIS UM MÁRTIR DA VIOLÊNCIA URBANA E DA IMCOMPREENSÃO DOS HOMENS.

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LUIZ ALVES GARCIA - SOLDADO PM - 2 ~ BPM * 01 de maio de 1945 + 09 de março de 1970 (25 anos)

LUIZ ALVES GARCIA nasceu no município de Jaguari. Era filho do senhor Romualdo Alves Garcia e de dona Elça Comareto Garcia.

Ingressou na Brigada Militar no dia 25 de junho de 1968, com vinte e dois anos de idade. Sua inclusão deu-se no 2 ~ Batalhão de Guardas em Santa Maria. No dia 22 de janeiro de 1969, concluiu o Curso de Formação de Soldado, sendo de imediato designado para fazer parte do então destaca­mento de Rio Pardo, onde hoje é a sede do 2° Batalhão de Polícia Militar.

No dia 09 de março de 1970, quando foi designado a efetuar um policia­mento na cidade de Pântano Grande, no atendimento de uma ocorrência, foi brutalmente assassinado pelo indivíduo Getúlio Ataídes.

Não consta em sua ficha maiores dados sobre a ocorrência, o que lamentamos pelo fato de não podermos reproduzir melhor os motivos que culminaram com a sua morte, no entanto, de qualquer maneira, temos a certeza de que sua breve passagem pela Brigada Militar, um ano e dez meses, deixou marcada sua at:..iação como um soldado valoroso e motivo de orgulho para a Unidade que o acolheu.

'I : ;: l·' ;.... YALDIR DIAS RIBEmO- SOLDADO PM - 2 ~ BPM ! ...;. * 28 de agosto de 1939 ! \ -, + 14 de abril de 1970 :;,.) /:.,J '~ (30 anos)

'• ~' . ~ Valdir Dias Ribeiro nasceu no dia 28 de agosto de 1939, na cidade

de Passo Fundo. Era filho do senhor Lucidio Dias Ribeiro e de dona Nadir Dias Ribeiro. Antes de incluir na Brigada Militar, exercia a profissão de pedreiro, juntamente com seu pai. Com 23 anos de idade, mais precisamente no dia 03 de setembro de 1962, cansado de andar pulando de obra em obra, resolveu sentar praça na Brigada.

Incluiu no então 2° BG, sendo de imediato destacado para o pelotão de Sobradinho.

Constam de sua ficha alguns louvores, dados pelo seu desempenho como policial militar, sendo muito disciplinado e cumpridor de seus deveres.

No dia 14 de abril do ano de 1970, ao ser solicitado a atender uma ocorrência em um bar da cidade, deparou-se com um arruaceiro, que não gostando muito de sua farda, passou a desafiá-lo.

Valdir, como era um homem calmo, não deu muita atenção às provoca­ções, tentando acalmar o dito indivíduo, de nome Angelo Bernardes.

Embora não tivesse a intenção de prender o elemento e sim aconse­lhá-lo a retirar-se dali e evitar problemas maiores, o tal Angelo não deu a menor atenção a Valdir.

Este, então, imbuído de seu compromisso de resguardar a segurança a qualquer custo, tentou segurar o complicador, para conduzi-lo à DP local.

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Tão logo aproximou-se dele, este, sacando de uma faca, desferiu-lhe um golpe mortal, atingindo Valdir na altura do abdomen.

Valdir desfaleceu ali mesmo, tendo seu agressor tentado fugir, sendo perseguido e preso por populares, que desarmaram-no e o apresentaram ao Pelotão.

Valdir foi conduzido ao hospital, onde já chegou sem vida. Não foi possível colher mais dados sobre a ocorrência, pois o Batalhão,

ao ser solicitado, apresentou apenas seus assentamentos, onde consta muito superficialmente o que ocorreu.

Os poucos dados do fato foram fornecidos pelo soldado Ramão, que aposentou-se um ano depois do fato e que servia com Valdir em Sobradinho.

WALTER NOGUEIRA LEIRIA - SOLDADO PM - BPRv * 01 de outubro de 1942 + 18 de janeiro de 1973 (30 anos)

Walter ingressou na Brigada Militar no dia 05 de janeiro de 1967, no 2º Regimento de Polícia Montada, tendo ali permanecido até o dia 15 de outubro de 1970.

Em novembro de 1970, apresentou-se na então Companhia de Polícia Rodoviária.

Em janeiro, período de veraneio, é necessário que haja um controle mais rigoroso ·nas estradas, para evitar acidentes e para que as pessoas que vão usufruir das férias fiquem mais tranqüilas, sabendo que estão sendo policiadas.

Nestas ocasiões são lançadas patrulhas com aparelhagem do tipo, radar, bafômetro e outros que para o período se fazem necessários.

Pois no dia 18 de janeiro de 1973, o então Ten PM Dilnei Moraes Carpes encontrava-se instalando o serviço de radar na ER/RS/18, no Distrito de Capivari, que liga Porto Alegre às praias, juntamente com o cabo Waterlon, soldados Luiz Carlos e Walter. De repente surgiu um carro marca Corcel, que desgovernado foi em direção aos PM, vindo a atingir em cheio o soldado Walter Leiria. O carro era proveniente do Rio de Janeiro, e era conduzido pelo senhor Antonio Pedro Mello Cunha, que desgovernado bateu em outro carro e foi em direção à guarnição que instalava o radar.

Leiria morreu quando era conduzido ao HPS em Porto Alegre. Quando do atropelamento, houve fratura do fêmur, que cortou-lhe a veia femural e em conseqüência da hemorragia não pode resistir, vindo falecer a caminho do hospital.

Walter Leiria serviu durante 13 anos e durante este tempo deixou marcante sua passagem pela Brigada como um excelente profissional.

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EMÍLIO FRANCISCO DE WALLE - SOLDADO PM * 23 de janeiro de 1942 -13 ~ BPM + 21 de maio de 1973 (31 anos)

EMÍLIO FRANCISCO DE WAL LE era filho do senhor Adolfo C. de Walle e de dona Anita S. de Walle. Incluiu na Brigada Militar, no 3º Regimento de Polícia Montada, no dia 20 de abril de 1964. Emílio serviu no 3º Regimento durante seis anos, permanecendo nesta Unidade até o dia 11 de agosto de 1970.

Durante os seis anos em que esteve em Passo Fundo, granjeou a admiração e respeito de toda a comunidade, e principalmente de seus colegas, pois era um brigadiano que tinha vocação para o exercício da função policial ;iiilitar.

Sua transferência foi para a então 1 ª Cia PM Independente, sediada em Erechim. Logo que ali chegou, foi designado a servir na localidade de Campinas do Sul, onde havia um GPM.

Em junho de. 1972 passou a responder pelo comando do GPM. Em julho de 1972, solicitou transferência por permuta, do GPM de Campinas do Sul, para a sede da Unidade.

Em fevereiro de 1973, passou a fazer parte do Posto Policial da BM no Bairro Progresso, na cidade de Erechim. Por todos os lugares por onde passou, o soldado Emílio recebeu elogios por sua atuação no serviço de policiamento, ou homenagens da comunidade, pela sua atenção, dedicação e fidalguia com que tratava as questões em sua área de atuação.

Emílio era um homem inteiramente dedicado à sua Corporação e à sua família, que era composta de esposa e três filhas, Rosane, Vera Lúcia e Adriana.

Sua esposa Noemi contou que a morte do Emílio se deu da seguinte forma:

- No dia 18 de maio de 1973, ele e o seu colega soldado Valdoir Pires de Menezes foram escalados para policiar um baile no colégio do bairro Progresso.

Como tudo transcorria normalmente, os dois foram fazer uma patrulha nas proximidades, para depois voltar, quando o baile estivesse para terminar. Já de madrugada, por volta das quatro horas da manhã, os dois foram procura­dos pela diretoria do colégio, em razão de que havia uma desordem dentro do salão onde se desenrolava o baile.

Quem provocava toda a confusão era um tal de "Betinho", elemento conhecido naquele lugar, por sua fama de brigão e metido a valente. Os dois soldados, Emílio e Valdoir, retiraram o desordeiro do salão, e quando iam fazer a revista de praxe, o mesmo puxou de uma faca e desferiu uma facada no soldado Emílio, atingindo-o no olho direito.

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Emílio, ainda num momento de lucidez, pediu que não fizesse nada ao agressor.

De imediato foi conduzido ao Hospital de Caridade de Erechim. Nos exames efetuados, foi constatado que a lâmina atingiu o cérebro do soldado Emílio, que não resistiu ao ferimento e veio a falecer na noite de segunda para terça-feira.

O agressor foi preso em flagrante pelo sargento de dia à Cia, 3º sargento PM Jorge Alberto Cardoso.

A dignidade que acompanhou o soldado Emílio durante sua carreira, que durou nove anos e um mês, bem como seu espírito de humanismo, ficaram bem caracterizados no último momento de sua vida, quando mesmo agredido ainda pediu que "não fizessem nada" ao agressor, demonstrando com isso que não cabe aos homens fazerem justiça com suas próprias mãos. Emílio morreu com a mesma grandeza com que conduziu sua vida.

Temos certeza que tanto para seus colegas, como principalmente para sua família, há um orgulho muito grande em ter convivido com este bravo e brilhante soldado.

E para a Brigada Militar, uma honra ter contado em suas fileiras com mais este herói.

As nossas homenagens ao soldado Emílio Francisco Walle, que foi-se do nosso convívio, mas deixou gravado com suas atitudes, um exemplo de homem de bem e ~xcelente profissional.

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Soldado Emílio (com o fuzil) em manobras em sua unidade - o 13 ~ BPM, em Erechim

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CIPRIANO DOS SANTOS LANDVOIGT - CABO PM - BPRv * 31 de janeiro de 1932 + 02 de novembro de 1973 (41 anos)

Cipriano ingressou na Brigada Militar, no ano de 1962, dia 04 de junho, quando estava com 30 anos de idade. Sua inclusão deu-se no 9 ~Batalhão de Polícia Militar. Serviu naquela Unidade por oito anos, sendo no dia 03 de junho de 1970 transferido para a então Cia de Polícia de Rodoviária.

Cipriano estava destacado no Grupo de Polícia Rodoviária do Municí­pio de Bom Princípio, no km 52 da RS 122. O fato, conforme narrou o sargento Lemes, do BPRv, deu-se da seguinte maneira:

- Naquela localidade, em Bom Princípio, há uma balança, que tem por objetivo aferir as cargas qL. ~ por ali passam, a fim de evitar os excessos conforme estabelece a lei. Estavam naquele posto o Cabo Cipriano e um soldado que o sargento Lemes não lembra o nome.

Eram aproximadamente 05 horas da manhã do dia 02 de novembro de 1973.

Como a experiência já havia dado aos fiscalizadores da balança a possibilidade de avaliar quando um caminhão estava ou não com excesso de peso, à visão deste já se sabia se podia ou não passar, ou melhor, se deveria ou não passar pela balança.

Cipriano estava próximo à faixa, e o seu companheiro estava no interior do posto.

Aproximou-se um caminhão FNM com placas de Caxias do Sul, IC 2068. Cipriano de imediato observou que aquele caminhão precisaria ser fiscalizado, pois suas molas, conforme disse o sargento Lemes, vinham baixas demais, e isto determinava excesso de peso.

Cipriano postou-se no meio da faixa e sinalizou para o caminhão dirigir-se à balança. O caminhão não parou, pelo contrário, imprimiu maior velocidade, desviando de Cipriano e ignorando sua sinalização.

O cabo Cipriano correu até o posto, chamou seu companheiro que de dentro do posto respondeu que estava no banheiro. Sem esperar, o cabo pegou a viatura que tinha à disposição, uma camionete Chevrolet placas AS 1174, do DAER, e saiu em perseguição ao caminhoneiro.

Já estava quase alcançando o caminhão, quando um ônibus proveniente de Caxias do Sul desgovernou-se. Supõe-se que o motorista tenha dormido na direção, e veio ao encontro da viatura onde estava Cipriano.

O choque foi frontal e violento. Conforme diz o sargento Lemes, o motor da Chevrolet veio parar

no colo do cabo Cipriano. As demais peças do veículo foram encontradas num raio de 50 metros, tal foi a violência do choque.

Cipriano morreu ali mesmo, sem a mínima chance. Seu corpo ficou todo queimado pelas ferragens quentes do motor e pelo óleo que cobriu seu corpo.

A morte do cabo Cipriano aconteceu porque era um homem extrema­mente responsável. Àquela hora da manhã, bem que poderia deixar passar aquele caminhão, ou então, por não contar com a companhia do colega, poderia "deixar para lá", mas não. O seu dever estava acima de qualquer

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descuido ou negligência. Por isso morreu. Conforme relata ainda o sargento Lemes, os familiares do cabo que

moravam distante foram chamados, no entanto não foi possível esperar para realizar seu enterro, pois a situação do seu corpo ficou tão atingida pelas queimaduras que, durante o velório, não era suportável o cheiro de queimado, o que provocou seu enterro imediato, mesmo sem a presença de seus fami­liares.

Foi um caso cruel, onde um companheiro perdeu a vida pelo excesso de zêlo, determinação e responsabilidade.

Porém, dele nos ficou o exemplo. Sua morte deu-se há dezessete anos. porém até hoje seus colegas

e superiores que estavam naquela época na Polícia Rodoviária, não conseguem esquecer a maneira trágica com que se foi este bravo policial militar.

A ele nossas homenagens, a certeza de que em sua Unidade, como na Brigada Militar, todos guardam sua memória com o maior respeito e admiração.

NAPOLEÃO SOUZA DE LIMA - SOLDADO PM - 2 ~ RPMon * 16 de outubro de 1944 + 15 de dezembro de 1974 (30 anos)

Napoleão nasceu na cidade de Santana do Livramento. Era filho do senhor Vildo Jarico de Lima e de dona Salustiana Souza de Lima. Incluiu na Brigada Militar no dia 20 de março de 1966, no 2º Regimento de Polícia Montada, onde serviu por três anos. Em dezembro de 1969, no dia 25, foi destacado para a cidade de Dom Pedrito.

Não foram fornecidos, também do soldado Napoleão, dados sobre sua vida na Corporação, o que totalizou oito anos. Os únicos dados que temos são com referência à sua morte, ocorrida em serviço. O fato se deu da seguint~ maneira:

E comum no interior do Estado, nas guarnições da Brigada Militar, ser solicitado policiamento para bailes em distritos muitas vezes distantes da sede. Como o fato jâ se tornou uma praxe, muito embora não. seja uma obrigação da sub-unidade de fornecer este tipo de policiamento, sempre que hã efetivo disponível, o comandante da Fração Policial Militar designa para lá uma "patrulha". Nestes bailes, normalmente, o desenrolar é tranqüilo, pois como é realizado em regiões onde a maioria que participa do baile é conheci­do, não hâ tanta necessidade de policiamento, no entanto o pessoal só se sente seguro quando vê os "brigadianos".

E foi num baile desses, na localidade de Campo Seco, pelo nome já se denota que é um lugar bem afastado, que o soldado Napoleão e outro companheiro seu foram designados para lâ darem segurança.

O baile transcorria normal, e mais normal ainda por ter ali a presença da "dupla".

Porém a coisa se complicou quando chegaram uns forasteiros com a intenção de complicar, e querendo entrar no baile sem pagar. O dono da festa pediu para que os intrusos se afastassem, no que não foi atendido.

- Ou nós entremo nessa espelunca ou rachemo tudo a tiro - disse 34

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um dos complicadores, de nome Osmar lrigarai. Com esta advertência o seu Juvênio, presidente do clube, chamou os dois PM que estavam próximos e não assistiram ao primeiro diálogo.

Ao verem os PM, os forasteiros sacaram de suas armas e começaram a fazer ameaças a estes. Napoleão, o mais novo dos dois PM, atirou-se contra o que estava mais próximo, sendo que este desvencilhou-se com um "jogo de corpo", derrubando o soldado Napoleão ao solo, e de imediato deu-lhe um tiro, acertando na nuca. Houve um rápido tiroteio, e enquanto um dos envolvidos fugia, o outro, Osmar, foi atingido com a arma do soldado Nereu, que acompanhava Napoleão, ficando ali também estendido agonizante.

Napoleão Souza de Lima, morreu no local, provocando uma grande consternação nos participantes do baile, que interromperam na hora a festa que se desenrolava.

O provocador do episódio, Osmar, veio a falecer no outro dia já no hospital, e seu acompanhante, foi descoberto muito tempo depois, e foi condenado como co-autor do crime.

A Câmara de Vereadores, como já havia proposto para os soldados Gabriel Vargas da Fonseca e Luiz Carlos Ribeiro Carvalho, apresentou uma moção que foi aprovada, para que a Rua n ~ 04 do Mutirão da Moradia li, que inicia na Rua 03 e que vai até a Rua Bezerra de Menezes, passasse a denominar-se RUA NAPOLEÃO SOUZA DE LIMA.

Este reconhecimento veio 14 anos após a morte, no entanto não ficou esquecido pela comunidade o grande ato de heroísmo demonstrado pelo solda­do Napoleão, assim como os demais que foram agraciados com nome de ruas.

Este exemplo demonstrado pela Câmara de Vereadores de Dom Pedrito, é digno de ser seguido por todas as comunidades que vêem morrer seus soldados, que entregam suas vidas em prol do bem público.

Napoleão, receba aqui também nossa singela homenagem, que ficará registrada nos assentamentos históricos da Brigada Militar, neste desprenten­cioso documentário, que percorrerá todos os rincões deste nosso Rio Grande do Sul, levando mensagem de gratidão a todos os nossos heróis do Policia­mento Ostensivo.

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"A TRISTEZA E PERPLEXIDADE DIANTE DO COLEGA MORTO"

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ALDEMAR COITINHO - CABO PM - 6 ~ BPM * Nascido em 1938 + Falecido em 22 de outubro de 1975 (37 anos)

Aldemar Coitinho nasceu na cidade de Piratini no ano de 1938. Era filho de dona Margarida Coitinho. Ingressou na Brigada Militar em 20 de agosto de 1956. Sua inclusão deu-se no 4º Batalhão de Polícia Militar, na cidade de Pelotas. Dali foi transferido para a Ajudância Geral em Porto Alegre, onde permaneceu até 1 O de dezembro de 1969, quando foi transferido para o 6° BPM em Rio Grande. Era casado com a senhora Ema Rodrigues Coitinho, tendo deste matrimônio deixado três filhos, Antonio Carlos, Katia Rejane e Adriane.

Em sua ficha de assentamentos constam inúmeros louvores, resultado de seu desempenho no serviço policial militar. O seu comandante registrou assim em seus assentamentos a última alteração escrita:

·~Como acontece com a maioria dos brigadianos, mujtos de seus heroísmos devem ter quedado obscuros. É inquestionável que foi um policial militar atuante e deste­mido. Prova eloqüente e frisante disso foram as circuns­tâncias como pereceu na localidade de Santa Isabel às 23:15 horas do dia 22 do corrente. Não hesitou em agir embora estando em inferioridade numérica; foi morto por indivíduos estranhos ao lugar e que andavam a perturbar o sossego público. Indivíduos que revelaram ter uma revolta injustifi­cável a qualquer forma de autoridade e que demonstram estar possuídos do ódio inexorável dos maus. Como não poderia deixar de ser é impossível que assim não fosse a indignação nossa, assumiu proporções enormes mas con­troláveis, pois a Brigada Militar não tem uma tradição de vinditar. Soube sempre controlar o poder de regressão de que é detentora. Não obstante a isso confia que seus homens continuarão aguerridos, mas pede que ajam com cautela face à ação malfazeja de indivíduos que partam atitudes aprendidas no Bas-Fond Social, o cabo Aldemar figurará para sempre entre os mais atuantes policiais militares do 6 ~ BPM."

Com esta mensagem, o seu comandante presta-lhe uma justa e merecida homenagem enaltecendo o grande brigadiano que foi Aldemar.

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JOÃO JULCI DA SILVA- SOLDADO PM - BPRv * 07 de setembro de 1945 + 04 de abril de 1976 (30 anos)

Julci ingressou na Brigada Militar na então Companhia de Polícia Rodoviária, no dia 12 de maio de 1969. Sua função na Cia PRv era de motociclista. O fato que originou sua morte foi contado pelo Sargento Lemes do BPRv, e deu-se da seguinte forma:

No dia 04 de abril de 1976, um domingo, após uma competição automobi­lística no Autódromo de Tarumã, o soldado Julci pegou sua moto e foi para a estrada para fiscalizar o trânsito, pois nestas ocasiões, é normal que pelo estímulo dos carros em alta velocidade nas pistas de corrida, os mais afoitos saíam de lá pensando que estão competindo.

Sabendo disso, Julci foi para a estrada AS 40, nas proximidades do Km 20, e lá ficou a observar os automóveis que saíam do autódromo.

De repente um carro em alta velocidade, saiu a fazer ultrapassagens perigosas, e com a descarga fora das especificações. Julci pegou sua moto, e saiu a seu encalço, certamente com o objetivo de acalmá-lo di~ seu ímpeto competitivo.

Há poucas centenas de metros distante, um outro carro que vinha em sentido contrário, não respeitando a moto que de sirene ligada deslocava-se em alta velocidade, fez uma ultrapassagem, quase atingindo o soldado Julci, que como ~ra muito hábil conseguiu desviar, no entanto, ao sair da pista a moto desgovernou-se no areão do acostamento, levando a chocar-se contra um poste de concreto.

Julci saltou a uma altura de dois metros e meio do solo, bateu no poste de cabeça, e ainda caiu a doze metros de distância do local do impacto. Diz o sargento Lemes que a visão era horrível, pois o impacto foi tão violento que rachou o capacete e o crânio do soldado Julci, que ficou ali estatelado sem vida.

O motorista provocador do acidente e o que motivou o deslocamento de Julci, até hoje não foram identificados.

Julci deixou viúva a senhora Emilce Batista da Silva. A morte deste valoroso soldado se deu em razão de sua grande responsabilidade e preocu­pação com a segurança de seus semelhantes.

São elementos como estes que provocaram o acidente e morte do soldado, que nos deixam a pensar se vale a pena ser complacente nas fiscaliza­ções de trânsito.

Quando andamos nas estradas verificamos quantos irresponsáveis en­tendendo-se imortais ou invulneráveis fazem verdadeiras loucuras com seus carros, e muitas vezes tiram vidas de pessoas inocentes que não têm nada a ver com seus desajustes.

O que nos deixa mais perplexos é que, quando são pegos e denunciados judicialmente, não recebem a pena que deveriam receber por serem homicidas. Pergunto: quantos até hoje foram para a cadeia por terem provocado acidente com morte, ou por terem atropelado alguém e lhe tirado a vida? Sabemos que o número é ínfimo, entretanto, diariamente a imprensa nos apresenta 38

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fatos novos que ficam por isso mesmo. Enquanto não houver uma legislação rigorosa para este tipo de crime,

muitos Julci, Walter, Cipriano e Garcia irão perecer sem que se faça justiça. Fazemos a nossa homenagem a mais este mártir da negligência, da

imprudência, da irresponsabilidade e do descaso de nossas autoridades.

LUIZ CARLOS RIBEIRO CARVALHO - SOLDADO PM - 2 ~ RPMon * 03 de Setembro de 1948 + 24 de Janeiro de 1977 (29 Anos)

Luiz Carlos nasceu na cidade de Santana do Livramento. Era filho do senhor Cipriano Carvalho e de dona Jenoveva Ribeiro Carvalho. Incluiu na Brigada Militar, no dia 01 de outubro de 1968 no 2 ~Regimento de Polícia Montada.

Foi transferido pra Dom Pedrito no ano de 1969. A ocorrência que culminou com a morte do soldado Luiz Carlos foi

revestida de um misto de inusitado e loucura. No dia 24 de janeiro de 1977, à tarde, Luiz Carlos encontrava-se de serviço em seu setor, próximo ao Centro da Cidade, quando viu um veículo passar em disparada colocando em risco a vida dos transeuntes e de outros motoristas. Foi dado o sinal ao motorista para parar ao que este, não obedeceu.

Não levou muito tempo, novamente o mesmo veículo surgiu novamente em desabalada corriêla, sendo que agora Luiz Carlos se colocou em posição estratégica fazendo com que o condutor parasse seu veículo.

Luiz Carlos fez a abordagem, e verificando a documentação, constatou irregularidades, o que ocasionou a decisão de conduzir o motorista até a Delegacia local.

Subiu no carro no lado do carona, e determinou ao condutor que seguisse para a DP. O motorista, de nome Edvar Martins, não considerando sua condição de detido, voltou a sair em alta velocidade.

Numa curva próximo ao local da retenção do veículo, a porta do lado onde estava Luiz Carlos, abriu-se, tendo Edvar aproveitado o descuido do soldado para empurrá-lo com os pés para fora do carro indo este cair sobre o calçamento.

Da queda resultou vários ferimentos no soldado Luiz Carlos e uma contusão craniana, que causou sua morte ali mesmo.

Luiz Carlos era estudante do 2 ~Grau, e pela sua inteligência e lideran- . ça, gozava de grande prestígio junto ao meio estudantil e principalmente entre seus colegas de farda.

Prestamos nossa homenagem a este valoroso soldado, que foi traído pela confiança em seu semelhante, que desconhecendo os princípios de respei­to e humanidade tirou-lhe a vida brutalmente sem nenhuma explicação.

A comunidade de Dom Pedrito, reconhecendo o valor do soldado Luiz Carlos, fez sua homenagem através da Câmara de Veredadores, denominando a via pública n ~ 03, do conjunto Mutirão da Moradia li, no Bairro Getúlio Vargas, que tem inicio na rua Pamplona e que vai até a rua n ~ 04, Rua Luiz Carlos Ribeiro Carvalho.

Uma merecida homen,agem.

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RUDINEI GOULARTE AMARO - SOLDADO PM - 6 ~ BPM ·* 07 de abril de 1956 + 07 de agosto de 1977 (21 anos)

Rudine1 Goularte Amaro nasceu na cidade de Herval do Sul e era filho de Francisco Amaro e de dona Irene Goularte Amaro. Aos vinte e um anos de idade ingressou na Brigada Militar, sendo designado para servir no 6° BPM, na cidade de Rio Grande.

Rudinei era comerciante e, como todo jovem, sonhava em ter uma profissão fixa que pudesse dar-lhe estabilidade a si e à sua família. Foi com este pensamento que, garboso, pois por ser oriundo de uma cidade interiorana onde poucos ostentavam a farda brigadiana, desfilava seu farda­mento de soldado da Brigada Militar, esperando muito breve galgar outras graduações na Corporação.

No dia 28 de março de 1977 foi incluído no curso de formação de soldado, o qual freqüentou até o dia 02 de agosto do mesmo ano. Seu aprovei­tamento tinha sido excelente, colocando-o entre os primeiros da turma, o que o habilitava a requerer o curso de cabo, já naquele ano, para freqüentá-lo no ano seguinte na Unidade.

As primeiras horas que saiu para a rua executar seu serviço de patrulha­mento, agora como soldado formado, já o definiam como um aguerrido e brilhante policial militar.

Quando me refiro nas primeiras horas, é porque Rudinei realmente esteve algumas horas a desempenhar a função que tanto almejava.

Foram exatamente três dias depois de concluído o curso que a fatalida­de se confrontou com o nosso herói.

O jornal local, em sua edição do dia 07108177, noticiou a seguinte reportagem:

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"Conforme noticiamos ontem, o soldado PM Rudinei Goularte Amaro, de 21 anos, foi morto a tiros pelo marginal Rudimar Lessa Ramires, de 19 anos, vulgo 'Montanha'. Se­gundo se soube, Rudinei participava de uma patrulha, reali­zando uma batida, na rua 19, esquina 12, onde ocorreu o fato, juntamente com o PM Clair Torres Munhoz, Cláudio Brasil Peres e o Cabo PM Niro Ulquim da Rosa, quando abordaram o marginal, pedindo-lhe os documentos; este se identificou, mas quando o cabo Niro ia passar revista o elemento fugiu, sendo perseguido pela vítima.

Quando Rudinei estava quase alcançando-o, o margi­nal virou-se e disparou contra ele. Rudinei caiu gravemente ferido, atingido no pescoço, falecendo momentos depois. Dois PM que participavam da batida continuaram na perse­guição do assassino, enquanto o terceiro prestava assistên-

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eia, já não mais necessária, a Rudinei. Logo após, o grupo de choque da Brigada Militar esteve no local, unindo-se aos dois companheiros do PM assassinado que heroica­mente tentavam por todos os meios capturar o marginal. Mesmo assim, a perseguição durou ainda umas duas horas, quando conseguiram prender 'Montanha', que se encontrava dentro d'água. Preso o elemento, o tenente Florduval de Oliveira Thomaz, juntamente com o tenente Odilon Juarez da Cunha Chaves, conduziram Montanha até a Delegacia de Polícia, tendo este ainda resistido à prisão. Montanha estava armado com dois revólveres, sendo que um deles foi jogado na água, e outro, um 22, sujo de barro, com um cartucho deflagrado e quatro balas intactas. Logo após o depoimento, Montanha foi recolhido ao Presídio Munici­pal. O corpo do PM foi sepultado às 15 horas do dia 06, com grande acompanhamento de colegas, amigos e familia­res, no cemitério católico local".

Cinco meses apenas pôde Rudinei ostentar garboso a sua fard:i, uma tragédia que não pôde ser apagada com o passar dos anos.

O comandante do Batalhão, em reconhecimento à dignidade, ao espírito altaneiro e ao amor à sua profissão, mandou publicar o seguinte louvor:

"O Comandante, oficiais e praças desta OPM, não poderiam num momento como este, onde de forma brutal e trágica, um soldado de nossa Corporação é levado a perder a vida no pronto e efetivo serviço de nossa comuni­dade. Falamos de nosso lembrado companheiro de farda e de luta, o ex-Soldado PM Rudinei Roularte Amaro, praça de 1º de março de 1977, filho de Francisco e Irene Goularte Amaro, nascido na cidade de Herval do Sul, recentemente formado no CFSdPM. Labutou com honradez e dignidade na vida civil, prestou serviço militar no 6° GAC, com sede nesta cidade, e após ingressou na Brigada Militar, onde sua conduta foi pautada por uma conduta inigualável, sem­pre agindo com desdouro, eqüidade, amor, dedicação ao trabalho, pontualidade, sacrifício e espírito de luta até a sua morte, além de profunda devoção aos serviços presta­dos à comunidade e ao povo riograndino, deixando com isto uma saudade eterna de seu pronto serviço, que despon­tava de sua esperada personalidade e de seu polido caráter. A sua luta no combate à criminalidade, por certo será reco­nhecida e exemplificada como um marco de heroísmo e amor ao sentimento do dever a qual encontrará eco mesmo nos corações empobrecidos e que permanecerá na nossa consciência com um palpitar eterno, sempre rebuscado por aquela forte luz que nos conduz ao caminho do senhor. Que teu exemplo seja nosso exemplo".

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Com esta citação de seu comandante pouco nos fica a referir sobre este brilhante companheiro.

Porém, como somos obrigados às vezes a entender a insensibilidade jurisdicionada por questões burocráticas ou até legais, foi solicitado pelo comandante de Rudinei sua promoção "post mortem", sendo denegado confor­me consta em Boletim Geral nº 60, de 04 de abril de 1978, por parecer negativo da Comissão de Promoção e Mérito de Praças.

Mas esta é a nossa vida, nem sempre é reconhecido o mérito de nosso trabalho.

O que importa é que, com ou sem promoção, há uma honraria que ninguém tira: é a de estar ombreado no paraíso celestial com os anjos proteto­res a seguranças dos bons e dos justos que permanecem aqui na terra.

Sabemos que Rudinei está lá, bem feliz como soldado, aguardando os que por ele irão passar.

CARLOS GILBERTO LOTHAMMER - SARGENTO PM - 5 ~ BPM * Nascido a 30 de abril de 1939 + Falecido em 08 de agosto de 1977 (38 anos)

A história da ocorrência foi contada pelo irmão do sargento Lotham­mer, major PM Alarico Lothammer Sobrinho, que relatou assim o fato:

-Seu irmão comandava o Destacamento de Brigada Militar no Municí­pio de Feliz. No dia 08 de agosto de 1977, realizava-se no CTG da cidade um grande fandango. Esta festa contava, além da presença de moradores da localidade e arredores, também um grande número de operários de uma empreiteira que construía uma estrada naquele Município.

Como diz o major Alarico, nestas festas tudo vai calmo até que o trago começa a fazer efeito. E foi o que exatamente aconteceu, e lá pelas tantas da madrugada, o pessoal da empreiteira começou a criar confusão. O sargento Lothammer foi chamado ao local para acalmar os ânimos, já que a patronagem não tinha logrado êxito em fazê-lo. Encontrava-se junto com o sargento, o soldado Lopes. Lá chegando, e tomando pé da situação que havia gerado o conflito, dirigiu-se a este, de nome José Nerci da Luz e deu-lhe voz de prisão. O tal elemento reagiu dando um golpe na cabeça do sargento Lothammer, vindo este a cair. O soldado Lopes também foi agredido, pois estavam com Nerci mais quatro elementos participantes da confusão. Os dois, sargento e soldado, foram socorridos pela direção do CTG e conduzidos ao Hospital de Feliz, onde o sargento Lothammer veio a falecer algumas horas depois.

A ocorrência foi comunicada ao quartel da Brigada em Montenegro (5º BPM}, sendo que de imediato foram feitas as diligências para prender · os criminosos, que naturalmente fugiram do local tão logo houve a ocorrência.

Porém, sabendo suas procedências, a patrulha que saiu em perseguição aos elementos os localizou no acampamento da empreiteira, levando-os para Montenegro, onde foram autuados em flagrante.

Informa ainda o Major Alarico, que seu irmão encontrava-se a muitos anos servindo naquela região, e gozava de um conceito invejável junto à população local.

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Sua morte foi muito sentida, e, muito embora os cinco assassinos tenham sido recolhidos à cadeia, a população não se conformava com a perda de seu braço forte da segurança naquele Município.

O sargento Lothammer, por ser um homem extremamente dedicado à sua profissão, excelente amigo de seus subordinados, e muito admirado por seus superiores, merece o nosso respeito e homenagens, pelo que repre­sentou para a Brigada Militar.

O sargento Lothammer com sua esposa Gleci dos Santos e a filha Jussara dos Santos Lothammer

JOÃO GARDINO DA CRUZ - SOLDADO PM -1 ~ BPM * 29 de janeiro de 1941 + 01 de outubro de 1970 (29 anos)

João Gardino nasceu na cidade de Palmeira das Missões, e era filho do senhor Venânio Gardino da Cruz, e de dona Maria Luiza da Cruz.

Incluiu na Brigada Militar no dia 01 de março de 1962, com 21 anos de idade, no 2º Batalhão Policial, com sede na cidade de Santa Maria. Em maio do mesmo ano, foi transferido para o 1° BG. em Porto Alegre. Em sua ficha consta o registro de vários louvores por sua abnegação ao serviço. No dia 23 de julho de 1965, contraiu um matrimônio com a srta. Denise de Lourdes Souza Moreira.

Passou, na Unidade, por diversas funções, como integrante da Compa­nhia de Comando e Serviço, e em todas as seções onde esteve, aprovisio­nadoria, secretaria e aiudância, foi louvado por sua atuação.

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Em junho de 1967, foi transferido da Companhia de Comando e Serviço, para a 3ª Companhia.

Justamente neste ano a Brigada Militar iniciava a fazer o policiamento ostensivo, ou seja policiamento de rua. Como era um fato novo na vida da Corporação, muitas eram as solicitações de serviço. Houve até um convênio com o Banco Central, que forneceu viaturas equipadas à Brigada Militar, em troca de vigilância nas agências bancárias. Era mais um serviço de utilidade pública, que durou muitos anos, e é de nosso conhecimento, que enquanto foi fornecido este tipo de policiamento, não houve nenhum assalto a banco.

João Gardino foi um dos indicados a atuar nesse tipo de serviço, que acima de tudo necessitava muito tirocínio, cuidado e atenção. Por três anos Gardino atuou junto aos bancos, onde passou a ser muito conhecido e admirado pelos clientes, que já o conheciam pelo !'!Orne.

No dia 01 de outubro de 1970, estava de serviço junto ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul, agência Tristeza.

Por volta das 15:30 horas começou uma chuva forte, daquelas chuvas de meia estação, que vêm uma enxurrada e logo passa. Gardino, que estáva em frente ao banco, conversando com um amigo que se dirigia àquela agência, ao sentir que iria molhar-se, correu para abrigar-se sob a marquise daquele estabelecimento.

Ao subir os degraus, Gardino escorregou, e a arma que portava, uma espingarda calibre 12, caiu detonando e atingindo-o no lado direto do tórax.

Um outro sol<Jado PM que encontrava-se de serviço no setor próximo dali, ao ouvir o tiro, correu para ver o que acontecia, tendo se deparado com seu companheiro e amigo caído.

De imediato providenciou na locomoção de Gardino ao Hospital de Pronto Socorro, no entanto, no caminho daquele Nosocômio, não resistindo aos ferimentos que foram profundos, o nosso amigo veio a falecer.

João Gardino atuou na Brigada Militar, por oito anos e sete meses, e durante este tempo manteve uma conduta exemplar, não constando em sua ficha uma punição sequer, porém muitos louvores.

Deixou em sua Unidade e Corporação muitos amigos que até hoje lembram do grande profissional que foi este bravo soldado, a quem rendemos nossa homenagem.

SAURIM FORTES GARCIA - 3º SARGENTO PM 14 ~ BPM * 17 de dezembro de 1955 + 27 de novembro de 1977 (22 anos)

ADÃO OLIVEIRA DA SILVA- SOLDADO PM 14~ BPM * 08 de maio de 1954 + 27 de novembro de 1977 (23 anos)

SAURIM FORTES GARCIA

Saurim, nasceu na cidade de SANTIAGO e era filho do senhor Mario 44

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Ramos Garcia e de dona Elena Fortes Garcia. Incluiu na Brigada Militar, no dia 19 de abril de 1975. Em 1976, foi

aprovado no exame de seleção para o Curso de Formação de Cabos, o qual freqüentou no 3° Regimento de Polícia Montada, na cidade de Passo Fundo. Em agosto, ao apresentar-se na Unidade por conclusão de curso, foi transferido para Bossoroca, e em novembro do mesmo ano para o município de Garruchas.

Em 1977, nomes de janeiro, apresentou-se na EsFAS, em Santa Maria, para freqüentar o Curso de Formação de Sargentos. Em julho· do mesmo ano, após a conclusão do curso, foi classificado no 14º Batalhão de Polícia Montada, com sede na cidade de São Luiz Gonzaga. Por sua garra, juventude, conhecimentos técnicos e liderança, foi designado para prestar seus serviços no Pelotão Especial.

Fie.ou junto ao Pelotão até outubro, quando foi designado a exercer função de 2° sargento como auxiliar da 3ª Seção, graças à sua inteligência e capacidade de trabalho.

Sua morte se deu no dia em que estava sendo realizada uma romaria ao santuário de CAARÓ, no município de Caibaté, próximo a São Luiz Gonzaga.

Tombou juntamente com Saurim o soldado PM Adão Oliveira da Silva.

ADÃO OLIVEIRA DA SILVA

Adão era filho do senhor Sebastião Nunes da Silva e de dona Joana Oliveira da Silva. Incluiu na Brigada Militar no dia 30 de setembro de 1976, no 14º BPM. Um ano depois, em setembro de 1977, foi designado a atuar junto ao Pelotão Especial da Unidade, em razão de que se destacava entre os demais pela sua maneira ágil no desempenho de suas atividades, bem como sua capacidade de trabalho.

Ambos, o sargento Saurim e Adão, vira-se envolvidos na mesma ocor­rencia que culminou com suas mortes.

HlSTÓRICO DA OCORRÊNCIA

Domingo, dia 27 de novembro de 1977, na localidade denominada CAA­RÓ, havia uma romaria de fiéis, que comemoravam os 349 anos da morte dos mártires Padre Roque Gonzales e Afonso Rodrigues.

Todos os anos, no mês de novembro, é feita esta comemoração, onde participa: um número muito grande de pessoas que lá comparecem para pedir benção a P.stes dois mártires, que no dia 15 de novembro de 1628 foram sacrificados.

Esta romaria é uma festa já consagrada que faz parte do calendário de even,tos do Município.

E lógico que, pelo movimento, há necessidade de que para lá seja deslocado um efetivo da Brigada Militar, a fim de auxiliar em controle de trânsito, evitar abusos no uso de bebidas alcoólicas, e coisas desta natureza. · Em nenhuma oportunidade foi registrada até aquela data ocorrência

de vulto que justificasse uma ação mais repressiva na execução do poli-45

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ciamento. Porém naquele ano de 1977, a história tomou outro rumo, e ali onde

haviam tombado, a mais de trezentos e quarenta anos, dois padres, tombaram também dois valerosos policiais militares.

Haviam na festa, junto à Igreja de Caaró, cerca de doze mil pessoas naquele dia. Às 18 horas, já estava reiniciando o retorno dos fiéis às suas casas, quando de repente, em um bar improvisado, começou uma confusão.

Conforme informou o sargento Arruda, do 14º BPM, o fato se deu da seguinte maneira: Algumas pessoas que ainda se encontravam na festa, mais precisamente em um bar de lona, que fora improvisado para aquele dia, bebiam cerveja, quando começou uma confusão, não se sabendo a origem.

A guarnição da Brigada Militar, que estpva no local, comandada pelo então 2 ~ tenente PM Wilson Behling Costa, Jfoi chamada a intervir, pois havia suspeitas que um dos agitadores estaria armado. Foram até o local o Sargento Saurim, o soldado Adão, o soldado Dorival e o soldado Eloí, sendo que de todo o efetivo de 30 homens ali colocados para policiar, apenas os três primeiros citados estavam armados, por isso, e sem saber as propor­ções do conflito estes foram designados a atender a ocorrência.

Tão logo chegaram ao local, depararam com um cidadão, que bastante exaltado passou a fazer referências pouco recomendáveis à presença dos PM.

O Sargento Saurim foi ao seu encontro passar-lhe a revista, quando este desvencilhou-s9, sacou de sua arma e passou a atirar na direção do PM, atingindQ no primeiro tiro ao sargento Saurim. Seguiu-se aí um tiroteio, entre a guarnição e os civis, criando um verdadeiro pânico entre as pessoas que por ai passavam.

Outras armas surgiram e passaram a atirar contra os policias militares. A confusão durou alguns poucos minutos, talvez por ter faltado muni­

ção de ambas as partes, sendo que ficou ali estendido sem vida o sargento Saurim, enquanto que os demais, Adão Oliveira da Silva, Dorival Neto de Souza e Eloí da Cunha Mello, juntamente com o criador da confusão, Ivo Herter da Silva, eram encaminhados ao hospital em estado grave.

Adão e o civil Ivo Herter não conseguiram se'!' atendidos no Hospital de São Luiz Gonzaga, pois já chegaram sem vida. Elof e Dorival, embora bastante feridos, resistiram às cirurgias efetuadas e sobreviveram.

O corpo do sargento Saurim, que tinha vinte e dois anos, solteiro, foi transladado para a cidade de Jaguari, onde moravam seus pais. e lá foi sepultado.

Adão Oliveira da Silva, também solteiro, com 23 anos, foi sepultado na localidade de Vista Alegre, município de Caibaté.

O Inquérito Policial Militar, para apurar a origem e os motivos do fato, bem como as responsabilidades, foram efetuadas pelo então capitão PM José Hilário Ajalla Retamozo.

- Algumas pessoas que não se conformam com o êxito do desempenho da Brigada Militar, por já terem pré-concepção com a farda e mesmo não serem pessoas tão dignas como se intitulam, tentam induzir a opinião pública contra os· serviços de nossos bravos soldados. E lá em São Luiz Gonzaga não foi diferente, e as acusações mais pesadas foram dirigidas à guarnição. 46

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No entanto, o próprio delegado de polícia de Caibaté, dr. Eliseu Lang, tratou de desfigurar qualquer acusação contra os PM, divulgando que a provo­cação foi originada pelos civis, mais precisamente por Ivo Herter, que por se entender um poderoso comerciante achou que poderia rebelar-se sem que fosse sofrer as sanções. Porém o castigo lhe foi cruel, nem tanto para si, que morreu, mas para sua família, que não tinha nada a ver com o caso, e teve que ficar a chorar sua falta.

Sofrimento idêntico tiveram os pais de Saurim e Adão, que receberam seus filhos, ainda na flor da juventude, abatidos por ato de um irresponsável, quando estes estavam no desempenho de suas atividades profissionais, propor­cionando àquela população de religiosos, segurança e tranqüilidade.

Qual a defesa que alguém pode fazer a uma pessoa que vai a uma romaria, onde o objetivo é rezar e pedir proteção divina, e lá se embriaga, cria confusão e pânico, descaracterizando totalmente o objetivo da festa.

Morreram Saurim e Adão, dois bravos brigadianos, que agora incluem­se tal qual os padres Roque Gonzales e Afonso Rodrigues à história de mártires da humanidade, em prol da ordem e segurança pública.

A estes dois jovens brigadiano~. prestamos nossa singela homenagem e o nosso reconhecimento pela sua bravura e extremado senso de dever.

HÉLIO DUARTE PACHECO - SOLDADO PM - 11 ~ BPM * 1 º de setembro de 1944 + 18 de outubro de 1978 (34 anos) '

Nasceu no dia 1° de setembro de 1944. Sua inclusão na Brigada Militar deu-se no dia 21 de agosto de 1968,

no quartel da então Cia PRM. Hélio acompanhou toda a evolução de sua Unidade tendo esta passado em 1970 para Batalhão de Polícia Rádio Motoriza­da e em 1974 para 11° Batalhão de Polícia Militar.

Sempre vibrou muito com sua Unidade, pois havia sido a pioneira em serviço de patrulhamento motorizado e era reconhecida como a melhor Unidade de Policiamento da Brigada.

No dia 03 de setembro de 1978, quando participava de uma guarnição motorizada que fazia patrulhamento na zona norte de Porto Alegre, o soldado Hélio foi informado de que havia um arrombamento em um estabelecimento comercial.

Deslocou-se com a guarnição para o local, e quando lá chegou correu para inteirar-se dos fatos, tendo saltado o muro que cercava o prédio.

O guarda noturno, assustado com o que estava ocorrendo e não aperce­bendo-se de que um soldado vinha em seu socorro, sacou de sua arma, descarregando-a contra Hélio, que foi atingido na cabeça e no pescoço.

Por ser um homem forte e de muita resistência, embora a região onde foram dados os tiros fosse vital, Hélio agonizou ainda durante 45 dias, vindo a falecer no dia 18 de outubro de 1978, contando à época com 10 anos, 2 meses e 28 dias de serviço.

Prestamos aqui a nossa homenagem a mais este valoroso soldado, que teve uma vida exemplar e de relevantes serviços, mas, pelo que parece, foi esquecido, dado às parcas informações que obtivemos desta ocorrência

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e de sua morte, mas que nem por isto deixa de ser mais um dos heróis que fazem a história desta grande Corooração.

GABRIEL VARGAS DA FONSECA - SOLDADO PM - 2 ~ RPMon * 17 de março de 1943 + 23 de março de 1979 (36 anos)

Gabriel nasceu na cidade de Dom Pedrito, e era filho do senhor Ataliba da Fonseca e de dona Maria Emília Vargas da Fonseca. Incluiu no 2º RPRmon em Santana do Livramento no dia 05 de abril de 1965, com 22 anos de idade. Foi transferido para Dom Pedrito, sua terra natal, no dia 22 de julho de 1968.

Gabriel sempre foi um soldado muito dedicqdo. Era muito querido em Dom Pedrito, pois quando para lá foi transferido, como já era conhecido na cidade, teve facilidade em se relacionar sendo que isto não interferia em seu serviço.

O destacamento ficava próximo ao Presídio Municipal. No dia 23 de março de 1979, quando estava de serviço no destacamento, foi avisado que um preso havia se evadido do presídio.

Logo que tomou conhecime(lto do fato, Gabriel apresentou-se voluntá­rio para auxiliar na captura do fugitivo.

O presidiário. era conhecido pelo apelido de "pato", que encontrava-se preso por crime de homicídio.

Foi montada a patrulha, composta pelos: sargento Moreira, soldado PM Teodoro, o soldado PM Ivo Machado da Silva e o soldado Gabriel. A patrulha saiu à caça do foragido, seguindo pistas dadas por moradores da vizinhança.

Ao chegarem próximo de uma residência que informantes haviam denun­ciado que o foragido poderia estar ali, foi montado um cerco.

Gabriel o mais afoito, foi em direção da casa. Ao chegar próximo a um dos cantos da casa foi recebido a bala

sem ter tido a oportunidade de reagir, morrendo com a arma em punho. Seus colegas, apavorados, começaram a atirar .em várias direções,

por não saberem de onde vinham os tiros, e foram em direção onde se encontrava Gabriel.

Encontraram-no estendido, e o presidiário fugitivo empreendia nova fuga.

Com aquela garra que caracteriza os homens que usam o uniforme bege da Brigada, Teodoro, Ivo, não descansaram enquanto não prenderam o tal de "Pato", enquanto o sargento Moreira prestava socorro ao soldado Gabriel.

Não seria mais necessário, pois o nosso bravo soldado ficaria ali estendido, já sem vida.

O fugitivo foi preso e encaminhado à DP, e reconduzido ao Presídio, que sem termos explicação, foi "beneficiado" com o serviço externo, vindo a lugar novamente, sem ter sido encontrado:

GABRIEL morreu no extrito cumprimento do dever. Um marginal, assassino reinscidente, continua vivo, e o pior, após

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matar um soldado que prestava seu serviço em defesa da sociedade, foi beneficiado com serviço externo, como se seu crime tivesse sido contra um animal (não de estimação, senão estaria a sete chaves).

São estes fatos que nos deixam a pensar se realmente a nossa justiça faz a verdadeira "Justiça", porque enquanto cidadãos honestos, trabalhadores, dignos de uma sociedade, morrem, os criminosos são beneficiados com as maiores regalias em nome da "reeducação social", como se nossos presídios fossem um laboratório de recuperação social.

Por estas razões, muitas vezes os nossos companheiros que usam a farda simples de um soldado, pensam duas vezes ao ter que enfrentar fascínoras: ladrões e homicidas, pois enquanto arriscam suas vidas, quase sempre pressionados por um regulamento, por normas e diretrizes, um inimigo da sociedade é beneficiado pela mão branda da justiça, e quando encarcerado têm todas as regalias como se fossem um pobre sêr que momentaneamente teve um deslise do qual se arrependerá.

Homenageamos o soldado Gabriel, e ele, de onde estiver, estará vendo que nós aqui embaixo não compactuamos com estas incoerências rotuladas de "direitos humanos".

O nosso soldado um dia ainda será valorizado. Este é o nosso sonho. A Câmara Municipal de Dom Pedrito, reconhecendo o heroísmo do

soldado Gabriel, fez uma moção ao Plenário, a qual foi aprovada, de que a via pública nº 02, do Mutirão da Moradia 11, Bairro Getúlio Vargas, que tem seu início na rua Professor Panplona e que vai até a rua nº 04, passou a denominar-se rua Gabriel Vargas da Fonseca.

Da Brigada Militar, ainda os familiares estão aguardando o reconheci­mento, pelo menos para promovê-lo Post Mortem.

MANOEL GARCIA - CABO PM - BPRv • 05 de janeiro de 1935 + 01 de abril de 1979 (44 anos)

MANOEL GARCIA incluiu na Brigada Militar no dia 12 de novembro de 1956 no então Serviço de Subsistência. Foi promovido à graduação de cabo por relevantes serviços prestados no dia 22 de setembro de 1965. Em janeiro de 1968, mais precisamente· no dia 15, foi agraciado com a medalha de bronze, por ter sido considerado destaque durante o seu tempo na Corpora­ção e merecer dos seus comandantes sempre os mais altos elogios por sua conduta.

Sendo sempre um homem de muita disposição, correto em suas atitudes, leal a seus comandantes e a seus colegas de farda, foi brindado com uma transferência para a então Companhia de Polícia Rodoviária, unidade esta que, sabemos, sempre foi prêmio às praças por seu tipo de atividade e suas vantagens. Sua transferência para a Rodoviária, deu-se em 22 de novembro de 1972, após cumprir 16 anos efetivos no Serviço de Subsistência, sempre com destacada atuação.

Tão logo chegou à Cia. de Polícia Rodoviária, foi destacado para o Grupamento de Estrela.

Lá em Estrela sua atuação como policial militar não foi diferente

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da que já o distinguira anteriormente. Era muito conhecido por todos que dependiam do seu serviço como patrulheiro rodoviário, sendo muito admirado e querido por todos.

Muitos que o conheciam, paravam no Grupo apenas para "bater um papo" e tomar o chimarrão com o "Cabo Garcia". Durante seis anos e alguns meses, Garcia atuou naquele Posto, sem que houvesse qualquer problema de relacionamento com motoristas, caminhoneiros, turistas, etc. Até pelo contrário, quando alguém necessitava do atendimento daquele Grupamento, saia com mais alguns amigos.

No entanto o dia 1º de abril do ano de 1979, pregou uma peça em Garcia. Eram aproximadamente oito e quinze da noite, quando no quilômetro 96 da BR 386, no Município de Estrela, o Cabo Manoel Garcia fazia o levanta­mento planimétrico de um acidente.

O acidente envolvia um ônibus e um automóvel volkswagen. A pista estava toda sinalizada, com latas de fogo, placas de advertência limitando a velocidade em 20 km/h, a viatura estava com os "flashes" ligados, tudo como manda a técnica. Por isso Garcia estava despreocupado fazendo seu serviço, e a estas alturas, a ocorrência que tinha iniciado com alguma discus­são, ambas as partes já haviam entrado em entendimento e conversavam calmamente sobre os problemas de quem tem por profissão enfrentar a estrada diuturnamente. O papo corria solto enquanto Garcia esmerava-se em fazer um levantamento que não deixasse dúvidas posteriores.

De repente surgiu um caminhão em alta velocidade que não conseguiu parar, e apesar de toda a sinalização existente, esta não foi obedecida, e o caminhão com placas de Santa Catarina (TF 0428) foi ao encontro de uma Kombi que trafegava em sentido contrário, e após atingiu o Cabo Garcia, que não teve como safar-se, ficando ali estendido sob as rodas do caminhão.

A morte de Garcia foi instantânea. Todos os presentes ficaram atônitos. Após um breve tempo de paralisação e perplexidade correram em direção ao cabo, tentando ver se faziam alguma coisa para salvá-lo, mas era inútil. Já havia expirado.

Ficou uma tristeza no ar. Muitos acorreram ao local e não acreditavam .no que viam. Os compa­

nheiros do cabo Garcia, atuavam no misto de revolta e desespero. Com os olhos marejados de lágrimas, soldados e populares recolheram

o corpo daquele mártir da insensatez e irresponsabilidade de um motorista. Garcia morreu, deixou muita saudade, mas com orgulho deixou também

alguém que deverá seguir os passos do pai naquela unidade. Hoje seu filho, soldado PM José Carlos Prestes Garcia, lembra com tristeza aquele dia há onze anos atrás, quando ainda era bem jovem e ficou esperando que seu pai viesse para casa. Hoje segue os seus desígnios e esperamos possa ter o mesmo carisma e ser alvo de admiração como era seu pai.

Nossas sentidas homenagens a este bravo e dedicado graduado, e tenha seu filho José Carlos a certeza de que seu pai foi um marco dentro da Brigada Militar. OSVALDINO BORGES DOS SANTOS - SARGENTO PM - 16~ BPM * 18 de fevereiro de 1933 + 17 de outubro de 1979 (46 anos) 50

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Osvaldino Borges dos Santos incluiu na Brigada Militar no então 3º Regimento de Polícia Rural Montada, no ano de 1953. São poucos os dados de assentamentos que se conseguiu, porém obteve-se algumas informações de seus companheiros de farda no 3º Regimento, que guardam bem vivo na lembrança a imagem do "veterano'', calmo, dedicado ao extremo em suas atribuições, mas acima de tudo muito amigo de seus subordinados. Era muito admirado pela oficialidade, que o tinha como o orientador da "gurizada·· que chegava ao Regimento.

Quando a Brigada Militar começou a executar o serviço de policia­mento, Osvaldino, por sua experiência, já como sargento, foi designado a servir no 2" Esquadrão na cidade de Cruz Alta, onde concorria à escala de comandante de patrulha.

Em 1979, contando com 26 anos de. serviço, já começava a fazer as contas para se aposentar, pois com seu tempo de exército e duas licenças averbadas, restava-lhe aind, pouco mais de um ano de serviço.

Pensava ao ir par2 a reserva, comprar uma chacrinha e ficar fazendo a sua vida por ali mesrrJ em Cruz Alta.

Numa quarta-fei 1 a, no dia 17 de outubro, os sonhos de Osvaldino foram interrompidos brutal nente com um tiroteio, provocado por marginais, que o acertaram e o de;xaram .ali, na terra que aprendera a amar. O jornal Diário Cerrano contou ci~sta forma os fatos que culminaram com a morte do sargento Osvaldino.

"Está morto o Comandante da Patrulha que tentou prender 'Pé Sujo', durante violento tiroteio na Vila Dirceu, ontem, às 19:30 horas. O sargento Osvaldino Borges dos Santos, 46 anos, 26 dos quais dedicados à Brigada Militar, onde era considerado um dos melhores componentes.

Osvaldino dos Santos recebeu um tiro na altura do olho esquerdo quando saía da viatura policial, ao se encon­trar frente a frente com os marginais componentes da qua­drilha de Gilberto Miranda, vulgo 'Saci', na rua Siqueira Borges, em frente à casa do n:arginal 'Neca', Jorge Amaral. que também participou do tiroteio.

Quando a viatura policial confrontou o Volkswagen placas de Bagé (JA-6795), tripulado pelos marginais, foi recebida à bala. O primeiro tiro rebentou o parabrisa da Rural da Brigada e não feriu ninguém, devido à ação rápida do soldado Gentil Ferreira Machado, que ao pressentir o que ia acontecer, jogou-se para o lado, evitando ser alvo do tiro. Mas o sargento Osvaldino não teve a mesma sorte e quando começou a sair do carro, foi atingido pelo segundo tiro dos marginais. Osvaldino, já de revólver na mão, tombou sem conseguir dar um único tiro, ficando na poeira da rua uma poça de sangue de um homem valente, que tombou no cumprimento do dever, tentando retirar de circulação marginais perigosos e nefastos à comunidade. Seus compa­nheiros, seis PM ao todo, saltaram do carrc atirando. A partir dái a troca de tiros durou pouco mais de cinco minu-

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tos a uma distância de cinco metros entre ambas as partes. Tanto a camionete da BM, a mais atingida, como a dos marginais, ficaram totalmente furadas à bala. Nenhum dos policiais ou marginais ficou ferido por arma de fogo, a não ser Gilberto Miranda, que teve um arranhão no couro cabeludo, sem maior gravidade."

A complementação do fato foi dada pelo soldado Gentil, que disse estar passando pela Vila Ferroviária, quando avistou os marginais "Pé Sujo", "Bagé" e "Neca", acusados de assalto a mão armada, furto, arrombamentos e desordens. O soldado Gentil, cautelosamente, dirigiu-se ao Esquadrão, e comunicou o fato ao comandante da patrulha, sargento Osvaldino.

O sargento Osvaldino, como era muito prudente, pediu ao soldado na sala de operações que fizesse contato com a Delegacia de Polícia pedindo auxílio. Juntamente com a patrulha e Gentil, o sarge·nto passou a percorrer as principais vilas do Município, iniciando por aquela indicada, a Vila Ferroviá­ria, onde nada encontraram.

Ao passarem pela Vila Alvorada, dobrando uma esquina, a patrulha avistou o Fusca amarelo em frente à casa do marginal "Neca".

Foi ali que se travou o tirrJteio, e Osvaldino, depois de 26 anos enver­gando a farda brigadiana, tombava como um "kamikase' atirando-se contra os fascínoras, ignorando que sua idade avançada para o serviço de policia­mento o deixava em ,desvantagem.

A comunidade soube dar o seu reconhecimento, e hoje a rua onde está instalado o Esquadrão em Cruz Alta leva o seu nome.

E nós, aqui, fazemos a nossa homenagem, colocando-o nestas singelas páginas, esperando que possamos manter sempre viva a sua lembrança, de homem correto, amiqo, corajoso e humano.

JOÃO HELDER BRIÃO TEIXEIRA - SOLDADO PM - 2 ~ BPM * 17 de outubro de 1952 + 26 de dezembro de 1980 (28 anos)

Nasceu na cidade de Bagé, no dia 17 de outubro de 1952. Incluiu na Brigada Militar 10 dia 03 de setembro de 1974, no 2 Batalhão de Polícia Militar, na cidade ce Rio Pardo. No dia 30 de dezembro de 1975 foi transferido da 1ª Cia de Rio Pardo para o 2° Pelotão da 2ª Cia, no município de Caçapava do Sul. Em 1979, no dia 1º de junho, foi transferido para a localidade denomina­da Minas do Camaquã.

De 1974 até 1980, a vida funcional do soldado PM Brião não sofreu muita alteração, pois era um soldado muito disciplinado, trabalhador e co­rajoso.

Suas movimentações eram decorrentes de sua capacidade de trabalho, pois onde ia desempenhava suas tarefas de maneira exemplar. Por todos os comandos que passou foram unânimes as referência elogiosas.

No dia 26 de dezembro de 1980, por volta dns 20h30min. quando se encontrava de serviço de policiamento de rua, foi comunicado de que tres elementos provocavam desordem no interior de um bar, lá em Minas do Camaquã. 52

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Quando se deslocava para atender a ocorrência, sem esperar uma reação mais agressiva dos elementos, foi atacado pelos três com uma faca, sendo que dois o derrubaram ao solo, imobilizara-no, enquanto um terceiro tomava sua arma do coldre e covardemente o atingia com um tiro na cabeça. Os três, ao ver que o soldado agonizava, saíram em desabalada corrida, deixando ali Brião jogado à sua própria sorte.

Os tiros chamaram a atenção dos freqüentadores do bar, que acorreram ao local e foram em socorro do soldado Brião. Correu também ao local o soldado PM Lúcio Griboski, que vendo seu colega desfalecido e em estado desesperador, conduziu-o em um carro cedido por um morador da localidade, ao Hospital de Caçapava do Sul, vindo este a falecer ao dar entrada no Hospital.

Mais tarde, com a ajuda da delegacia de polícia local, e dos integrantes do GPM, foram localizados e presos em flagrante os três homicidas.

Aos 28 anos de idade, e com mais seis anos e três meses de serviços prestados à sociedade como um exemplar brigadiano, João Helder Brião Tei­xeira deixou derramado com seu sangue a marca de mais um herói, formando a galeria de mártires da Segurança Pública.

ADÃO VALDONES FERNANDES - SOLDADO PM 14 ~ BPM + Falecido em 01 de janeiro de 1981

ADÃO VALDGNES FERNANDES incluiu na Brigada Militar no dia 19 de outubro de 1977, no 14º BPM. Constam em sua ficha as seguintes alterações: Em seis de abril de 1978 foi transferido para a 2ª Cia PM, que tem sede na cidade de Cerro Largo, com destino a Porto Lucena. No dia 10 de novembro de 1978, foi transferido, a pedido, de Porto Lucena para Cerro Largo, e em quatro de março de 1980, foi transferido de Cerro Largo para Roque Gonzales.

No dia primeiro do ano de 1981, quando efetuava o policiamento num baile na localidade denominada Sobradinho, no Município de Roque Gonzales, ao tentar desarmar o civil Vanderlei lssler, que promovia desordens armado de uma faca, foi atacado pelo mesmo sendo 'atingido mortalmente.

Nesta ocorrência o soldado Adão estava acompanhado do soldado João Batista Leiria, que prendeu o indivíduo Vanderlei, e conduziu-o à delega­cia local, onde foi autuado em flagrante e conduzido ao presídio de Cerro Largo.

O soldado Adão prestou seus serviços à Brigada Militar e a segurança pública, pelo período de quatro anos dois meses e doze dias.

EDI DOS SANTOS KANOFF - SOLDADO PM - 1 ~ BPM * 23 de dezembro 1958 + 12 de fevereiro de 1981 (22 anos)

Kanoff nasceu no dia 23 de dezembro de 1958, no município de Soleda­de. Era filho do senhor Ervino Kanoff e de dona Rosalina dos Santos Kanoff.

Incluiu na Brigada Militar, no 1º Batalhão de Polícia Militar, no dia 23 de setembro de 1977, com 19 anos de idade.

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Kanoff era um soldado exemplar, muito trabalhador e extremamente dedicado ao serviço.

Com a maioria dos soldados da Brigada, tendo dificuldades financeiras, pelo baixo salário que ganhava, ocupava seu tempo de folga trabalhando como segurança em casas noturnas.

Nessas casas era muito admirado e respeitado; mesmo sendo um jovem, sua postura de policial militar o credenciava como um excelente segurança, fruto de sua desenvoltura no serviço de policiamento.

Seu espírito profissional o acompanhava mesmo que em serviço parti­cular fosse necessário sua interferência.

Foi exatamente o que ocorreu no dia 12 de fevereiro de 1981, em frente ao Clube de Coroas, na Avenida Benjamin Constant, quando atuava como segurança daquele Clube.

Um casal que passava pelas proximidades foi atacado por assaltantes e começou a gritar por socorro, correndo em direção à casa noturna. O soldado Kanoff foi ao encontro do casal, quando deparou com os assaltantes armados de faca.

Ao dar-lhes voz de advertência, os mesmos voltaram-se contra ele e, empunhando uma faca, um deles o atingiu.

Logo em seguida chegou ao local a viatura prefixo 1133 rio 11º BPM, conduzida pelo soldado Da Silva, que levou Kanoff ao hospital, onde chegou sem vida.

O soldado Kanoff serviu no 1 º BPM durante três anos e cinco meses, tempo suficiente para deixar marcada sua passagem por aquela Unidade.

Infelizmente foi-se mais um companheiro, que mesmo não estando no exercicio do serviço de policiamento ostensivo, atuando num serviço particular, tentanto sobreviver mais condignamente e almejando no futuro casar sem ter à sua volta o fantasma da impossibilidade financeira, mantinha a sua conduta profissional e responsável, não permitindo que à sua volta o crime passasse desapercebido.

Kanoff foi mais um que se submeteu a este risco e por muito tempo, também, não será o último que precisará buscar rer;ursos em trabalhos extras para poder viver condignamente, sem ter que rassar pelo vexame de ser confundido como um indigente da sociedade.

A nossa esperança é que não venham a perecer outros "Kanoff" em serviços paralelos, havendo uma compreensão d·Js governantes em bem remu­nerar o quadro funcional que mais valor tem na sociedade constituída, o Policial Militar.

DILVO VALDEZ FERREIRA DA SILVA - SOLDADO PM - 1 ~ BPM * 03 de setembro de 1949 + 04 de maio de 1982 (33 anos)

DILVO VALDEZ FERREIRA DA SILVA nasceu no município de Cruz Alta. Era filho do senhor Cantalício Ferreira da Silva e de dona Cristina Ferreira da Silva. Incluiu na Brigada Militar no dia 14 de abril de 1969, com 19 anos de idade, no 1º BPM.

Já no primeiro ano de sua atuação no Batalhão, era louvado por

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uma situação em que teve parte atuante, quando ao socorrer um acraente em um veículo onde estava como carona, os ocupantes inclusive ele, saíram feridos, no entanto Valdez, não se preocupando com sua situação de aciden­tado, tratou de imediato de socorrer as demais pessoas, e só depois de encaminhá-las a atendimento médico, é que tratou de dirigir-se ao HPS, para também receber atendimento.

No dia 15 de setembro de 1978, casou com a senhorita Sieglind Weiss, de cujo casamento tiveram quatro filhos.

A ficha de assentamentos do soldado Valdez tem mais de oito referên­cias elogiosas, o que demonstra seu alto espírito profissional, e o seu perfeito enquadramento com a carreira que abraçou.

Passou por diversas companhias do Batalhão, pois era motorista, e como excelente à frente de um volante era muito requisitado pelos oficiais, sendo que talvez mais para agradá-los Valdaz não se importava de atender a todos que o solicitavam como motorista.

A vida de Valdez transcorria de forma maravilhosa em sua Unidade, chegou até em prestar concurso para o CFS, no entanto não foi bem sucedido, talvez para não ter muito tempo para se preparar.

No di;:i 04 de maio, ao atender uma ocorrência, o soldado Valdez e seu companheiro de serviço, o soldado PM Hermo dos Santos, não tiveram a mesma sorte de outras· vezes e foram brutalmente atingidos, sendo que Valdez ficou no local, morto, e Hermo gravemente ferido.

A Editoria de, Polícia do Jornal Zero Hora publicou assim os fatos ocorridos:

"O PM CAI E MORRE. LEVOU UM TIRO NO CORAÇÃO"

Mulato forte de 33 anos de idade, o soldado PM Dilvo Valdez Ferreira da Silva não voltou ontem para casa, no fim do serviço, para abraçar a mulher e os quatro filhos, todos menores de oito anos. Ficou estendido no meio da Rua Jorge Simon, Vila Medianeira, com um tiro no coração. Seu companheiro de ronda, soldado PM Hermo dos Santos, de 26 anos, também casado e com um filho pequeno, está brigando furiosamente para não morrer, no Pronto Socorro, com um tiro na garganta. Eles interceptaram um táxi t. no começo da noite. Houve tiroteio e eles levaram a pior. Muito pior.

(Foto: Arquivo da Zero Hora) 55

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No arquivo da Polícia, nervoso, o motorista do táxi AQ-2693, prefixo 3521, Valmir Silva dos Santos, 21 anos, levado para lá pouco depois de tudo acontecer, às 19h45min, enquanto revia álbuns e mais álbuns para reconhecer seus passageiros, diz que não tem nada a ver com isso e conta que a corrida começou no Cristal, perto da Faixa Preta. Os ocupantes, em número de dois, mandara tocar para a vila Medianeira, indicando caminhos e atalhos. Ao chegarem na Rua Jorge Simon, esquina com a Acesso Quatro da Rua Medianeira, pagaram a corrida com uma nota de 500 cruzei­ros e mandaram que ele esperasse, enquanto iam até a birosca do João Martins Terra comprar cerveja. Enquanto isto os PM chegaram no táxi, identificaram o motorista e foram embora. Os dois voltaram çom a garrafa, entraram no carro e mandaram seguir.

Quando o carro começou a descer a rua, os brigadia­nos foram vistos pelos passageiros de \/almir. Disseram para ele que não parasse. Os brigadianos estavam a pé e resolveram fazer nova identificação, pois suspeitavam que algo diferente se passava.

Aí, o tirotE?io começou. Primeiro três balaços. Depois mais. O táxi tinha sete furos. Valmir diz que se abaixou e .saiu pelo sua porta. Os outros dois pela porta da direita, atirando. Dentro do carro ficou uma garrafa de cerveja, um revólver calibre 32, que dizem ter sido a arma usada para matar o soldado Valdez, e um maço de Hollywwod com pingos de sangue, pingos iguais aos que sujavam o estribo do carro.

Os soldados do 1º BPM, unidade de Valdez e Hermo, bem armados, logo chegaram, junto com policias das delega­cias de Furtos e Roubos e Extorções. A batida começou por toda a zona, estendendo-se para o lado de Teresópolis e da Vila Cruzeiro do Sul".

Este foi o relato do jornal, mais baseado nas informações do motorista de táxi, mas que deixa clara a preocupação dos soldados Valdez e Hermo com a segurança da sociedade.

Hermo conseguiu sobreviver, porém Valdez morreu e, pelo que consta, em sua Unidade foi mais uma página virada na história do Batalhão, que não deu a importância devida ao fato de que um grande soldado pereceu na batalha contra o crime.

Fazemos nós, portanto, a homenagem merecida a mais este jovem e brilhante soldado.

NEIR DA COSTA SILVA-3º SARGENTO PM - 10; BPM * 01 de junho de 1936 + 19 de março de 1983 (47 anos)

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O sargento Neir incluiu na Brigada Militar no dia 15 de dezembro de 1961. O fato que culminou com sua morte deu-se em março de 1983, quando contava com vinte e dois anos de serviço.

A ocorrência originária foi o furto de um veículo, realizado na cidade de Veranópolis. Eram aproximadamente 12h30min, quando o sargento Neir recebeu a informação do comandante interino da 3ª Cia PM, de que deveria fazer diligências para localizar o veículo furtado, um Chevette cor branca de placas IP 3116, que teria ido a Antônio Prado e retornava para Veranópolis. Neir deslocou-se na viatura prefixo BM 911, juntamente com os soldados PM Antonio Alvacir Dias Jorge, Delézio Sartori, Dornelles Teles de Souza e Sérgio da Silva Mariano.

A Guarnição, ao chegar na Estrada Julie de Castilhos, há 20 quilôme­tros da sede do município de Veranópolis, deparou-se com os delinqüentes, sendo-lhes dada voz de prisão.

Os ocupantes do carro responderam à abordagem com tiros disparados contra os PM.

O sargento Neir foi atingido mortalmente. Os demais da guarnição responderam ao fogo, alvejando um dos delinqüentes, de nome Antonio Clair da Silva, que também veio a falecer. Os demais ocupantes do carro foram presos, após um breve tiroteio. O sargento Neir foi conduzido ao Hospital de Veranópolis, onde já chegou sem vida. Mais uma morte que não deveria ter acontecido, pois pelo que se depreende, com uma guarnição de cinco homens deveria haver, maior cuidado na abordagem. Porém não nos cabe, também analisar fatos passados criticando procedi­mentos. No entanto é nosso dever alertar aos companheiros que continuam atuando no serviço de policiamento, de que todo cuidado é pouco, quando se trata de suspeitos.

Já temos muitos mortos em ocorrências, e muitos deles morreram pelo excesso de confiança que depositaram no atendimento destas.

Muitas vezes, pela ausência da maldade ou da malícia, não nos passa pela cabeça que um ou outro ser humano possa ter tanta crueldade de senti­mentos e venha a nos tirar a vida covardemente.

Mas esta é uma realidade. Só nos resta reconhecer a coragem e o espírito de operacionalidade

do Sargento Neir, e prestar-lhe também esta merecida homenagem.

CARLOS ROBERTO SILVA DA ROSA - SOLDADO PM -1 ~ BPM * 20 de março de 1956 + 27 de agosto de 1984 (28 anos)

Carlos Roberto Silva da Rosa nasceu na cidade de Cachoeira do Sul, era filho de Delfino Coelho da Rosa e de dona Lorena Maria da Silva da Rosa. Entrou para os quadros da Brigada Militar no dia 05 de abril de 1979. Incluiu no 1º BPM, sendo designado para servir na Companhia de Policiamento de Trânsito (Cia P Tran).

Carlos Roberto era um soldado exemplar, muito admirado por seus companheiros.

Sua atuação como policial militar era destacada, tanto que foi designa-

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do para atuar na Patrulha Tática Móvel, que fazia averiguação nas vilas. E foi numa destas missões da "PAT AMO" que o fato se deu.

Tudo começou assim: Briga no morro é coisa normal; às 20:30 horas de domingo mais uma,

no Morro da Glória. Nonô e Luiz deixaram de lado o garrafão de vinho e resolveram sair no soco para decidirem suas diferenças. Mas os tabefes que começaram a trocar, quase em frente à casa da namorada de Tadeu Freitas Fonseca, que foi da Brigada até junho de 1984, não agradaram o moço. Talvez pensando nos tempos de farda, talvez por boa intenção, tratou de separar os dois. Nonô gostou da idéia. Estava apanhando. Tratou de cair fora, lá para os lados de Ipanema, para a casa da mãe, que é mais seguro. Luiz se ofendeu. E foi buscar reforço para terminar a vingança, agora contra o intromedito Tadeu.

Briga terminada, o ex-brigadiano voltou para a namorada. E lá estava quando lhe avisaram: "Luiz vem aí com mais cinco; ele quer te bater porque tu apartou a briga". Tadeu escondeu-se. Os vingadores começaram a procurar e Tadeu, vendo que não escaparia, tratou de fugir. Encontrou logo em seguida a patrulha da Brigada, onde buscou reforço. Aí começava a desgraça de Carlos Roberto.

Com uma guarnição de cinco homens, a patrulha ouviu as razões de Tadeu. E como ele identificou-se como ex-membro da corporação as coisas ficaram ainda mais fáceis. A patrulha dividiu-se, ficando Carlos Roberto e outro companheiro. Subiram a, rua da Ascenção, loqo encontraram com os marqinais Ouininho,

Batista e Picão. Carlos Roberto e seu companheiro abordaram e, como um deles, Picão, tinha culpa no cartório, de imediato sacou seu revólver e come­çou a atirar, dando cinco tiros. Um deles atingiu Calor Roberto, pegando-lhe no queixo, indo alojar-se na cabeça. Eram 21h30min. Carlos Roberto morreria pouco mais de três horas depois, no Pronto Socorro. ""

Os dados apresentados neste fato foram colhidos do Jornal~ero Hora do dia 29 de agosto de 1984, pois em busca de maiores dados sobre a ocorrência, e mesmo sobre o soldado Carlos Roberto, em sua Unidade, incom­preensivelmente nada foi encontrado que se pudesse aproveitar. Em seus assentamentos fui verificar que, embora a ocorrênciá acompanhada de morte do soldado fosse do mês de agosto de 1984, a solução do IPM foi dada no dia 06 de fevereiro do ano seguinte, 1985, ou seja, seis meses depois.

IPM:

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Foi assim publicada no boletim interno do 1º BPM a conclusão do

"Pelas conclusões a que chegou o 1º Ten PM Ivan Regis Rebello Ceroni, encarregado do IPM, mandado instau­rar por este comando, através da Portaria nº 095/SSJ/84 datada de 13 de setembro de 1984, com a finalidade de apurar os fatos que ocasionaram a morte do referido Sd PM (?), aproximadamente às 21 :00 horas no Sopé do Morro da Polícia, no bairro Glória (?), quando encontrava-se no cumprimento do dever Policial Militar, proporcionando se­gurança para a comunidade a que pertencia, na modalidade de patrulhamento motorizado, verifica-se que o fato apura-

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do constitui crime capitulado no CPC, por parte do civil Luiz Henrique Machado de Oliveira, vulgo Picão, que na data acima encontrava-se promovendo desordem no ende­reço referido e quando localizado e abordado pela GU da PATAMO da SA/3, da qual fazia parte o referido Sd PM, efetuou vários disparos, com seu revólver Cal 38, em dire­ção dos mesmos, atingindo mortalmente o referido Sd PM (?).Pelo acima exposto, resolvo: Concordar com as conclu­sõss do encarregado do IPM. Publicar a presente solução em Boletim Interno".

Fiz questão de ressaltar com interrogações (?) alguns detalhes, como o nome do "referido soldado", que não apareceu em nenhum momento, e a data do ocorrido.

Como este vamos encontrar outros casos em que o fato de ter morrido um companheiro em ocorrência foi tratado com tanto descaso como se sua morte nada representasse para a Corporação.

Enfim, morreu Carlos Roberto, em pleno cumprimento do dever, e se não recebeu a galhardia de seus comandantes em sua Unidade, aqui presta­mos a nossa homenagem, resgatando em parte este descaso e falta de conside­ração, esperando que a partir deste nosso documentário haja mais compreen­são com nossos companheiros que tombam em serviço.

A cOnfusão no Morro da Glória terminou com a morte de um PM Mesmo com toda a confusão o crime foi esclarecido Ume conJugaçà.o de briga na vJla. ameaça de vlngança. cochicho mal dado e precipJtar;•o por provável sentimento de culpa lol o motivo da morte do aoldado Pll Carlos Roberto Silva da Rosa. no 14orro da Glória, quando o domlngo estava termJnJJ.ndo. Depoi$, uma lf11UJde confudo. com o rápido aparecJménto de 1u1pejto., pnncJp&Jmente por parte de um ex-bn,..d1ano talador que afeye na on,em de bido e paaa adiante tudo quanto OUft 09

outros dúerem. Iaso qu.ue ta ~ com que Inocentes qull# 1 JJqaUem por um crime que .nao 1 cometeram e atrapalhou u J Jnvesttgaçc'lie1 que poderiam 4 tenn1nar maú cedo. No l1m da • tarde de ontem; menos de .h J horas depoJB da morte do PJI, a Delegada de HomJc:lcf* anuncJava o Yllrdadelro culpedD. que deverá 11er pruo IJU ,pr6Jdm&t aoru. • do qual, por enQuanto. ..,,._.. uenu o .,,.UdoiPldo. l'M c:.r... ....

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Os brigadianos trabalharam com o auxilio de eles

A operação de guerra na caÇada ao Inatador t\ g. andeza da ação não impediu a fuga do assassino do PM

Uma verdadeira operaçao de guerra movimentou a Vila Var­gas, na base do Morro da Embra­tel ontem á tarde. Ali, a Brigada Militar e a Polícia Civil realiza­ram uma movimentação bastante Intensa em busca de Luis Henri­que Machado de Oliveira, o Pi­cão, acusado da morte do soldado PM Carlos Roberto Pinto da Ro­sa, ocorrido no domingo à noite no Morro da Glória. No final, o ho­mem procurado conseguiu fugir com dois companheiros, depois de trocar tiros com os policiais. A Polícia conseguiu apreender duas armas de calibre 12, cano serra­do, que estavam no local onde os marginais se escondiam e pren­der a dona da casa. No tiroteio um garoto de 16 anos foi ferido numa perna. A Policia afirma que o me­nor estava na casa enquanto sua irmã assegura que não havia re­lação alguma entre o rapaz e os criminosos.

O tiroteio

Eram aproximadamente 16h30min quando policiais da De-

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legacia de Homicídios e da Briga­da Mllltar cercaram uma peque­na casa na entrada da Vila Var­gas. Luis Henrique Machado de Oliveira, o Picão, e dois outros companheiros reagiram a bala e conseguiram escapar. O menor J. e. w. da s. foi ferido na perna di­reita e levado ao HPS. Lá, sua ir­mã Maria Helena afirmou que ela e o rapaz moram na Vila Cruzeiro do Sul e estavam na Vila Vargas visitando uma prima quando ocorreu a troca de tiros. A Policia e a Brigada Militar, no entanto, sustentam que o menor estava na casa junto com os procurados. Ana Maria da Silva, de 40 anos, a dona da casa cercada, foi detida e está na Delegacia de Homicídios. Ela deverá ser interrogada hoje mas já informou que os homehs procurados pela Policia haviam passado a noite de ontem naquele local.

Preocupados com a mone de dois soldados no domingo (um no Morro da Glória e outro em Guaí­ba em casos distintos) os policiais militares participaram de um gran~hesquema para tentar cap­turar os fugitivos. Segundo infor-

mações, Picão foi baleado duran­te o tiroteio mas sua prldo nAo ocorreu. Fugindo da Vila Vargaa, Picão escondeu-se nos matos no sopé do morro da Embratel e não foi encontrado até agora.

A Vila Vargas estava repleta de policiais, ontem á tarde. Lá esta­vam, além dos policiais militares, agentes das delegacias de Captu­ras, Roubos, Furtos e Homicídios além de integrantes das delega­cias distritais mais próximas. Apesar de uma intensa procura por vielas e becos, Picão não foi encontrado. O morro da Embra­tel foi inteiramente vasculhado pela Policia Militar que utlllzou cães pastores na tentativa de en­contrar os fugitivos. A Brigada Militar utilizava sistema de co­municação por rádio para cobrir todos 01 lugares onde os margi­nais poderiam estar escondidos. Até mesmo um helicóptero estava para entrar em ação mas essa Idéia foi abandonada porque co­meçou a escurecer. Erám 18hl5min quando a operação de busca foi ftnallzada sem qve os procurados fossem capturados.

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EDEMAR SOARES ANTUNES - SOLDADO PM 9? BPM * 15 de maio de 1957 + 28 de agosto de 1984 (27 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante Geral da Brigada Militar, no uso das atri­buições e de conformidade com o Art. 68 da Lei nº 7.138 de 30 de janeiro de 1978, o nº 4 do Art. 4º e nc 2 do Art. 8° do Decreto nº 30.618 de 30 de março de 1982, promo­ve Post Mortem, à graduação de cabo PM, o extinto Sd PM Edemar Soares Antunes, a contar de 14 de junho de 1986". (Transcrito do Boletim Geral nº 098/89)

Edemar Soares Antunes nasceu em Sobradinho e era filho de Ernesto Soares Antunes e de Francisca Soares Antunes.

Quando entrou na Brigada Militar, morava em Sapucaia do Sul. No dia 08 de dezembro de 1980, foi apresentado no 9º Batalhão como voluntário, aguardando o curso de formação de soldado PM. Em junho de 1981, cc;-:cluiu o CFSdPM, classifi~ndo-se em 7° lugar, com média 8,313. Em maio de 1982, após participar de um estágio de Condução e Manutenção de Viaturas, foi aprovado em 8° lugar, com média 7,220.

Edemar, durante seus dois primeiros anos na Corporação, provou, além de estar perfeitamente enquadrado aos desígnios da missão Policial Militar, despontava por sua inteligência comprovada em seu aproveitamento nos cursos. Soldado "linha de frente", como são denominados os que se destacam, nunca recuou frente a ocorrências, o que lhe ocasionou por diversas vezes acidentes em serviço, tendo em uma determinada ocorrência, mais precisamente no dia 23 de setembro de 1981, sido atropelado próximo à Praça Montevidéo.

As ocorrências se sucediam e, invariavelmente, no final, era logrado êxito pela competência com que as conduzia.

Sua postura e sua maneira profissional impunham aos envolvidos na ocorrência uma resp4i'itabilidade que o dispensava de ações mais rudes ou agressivas, e até mesmo do uso de sua arma. Era o seu jeito simples e interiorano que se manifestava em suas atitudes.

Talvez esta confiança, e a rotina durante seus quatro anos de atuação no policiamento, o tenham levado à fatalidade.

Eram 10horas e 30 minutos do dia 28 de agosto de 1984. Edemar, como motorista, dirigia-se à cidade de Guaíba, na viatura BM 1883. Nas proximidades do Jardim Santa Rita, foi chamado por dois cidadãos, os quais disseram que havia um elemento suspeito nas proximidades. Edemar foi ao encalço do indicado.

Provavelmente supondo tratar-se de um simples desocupado, dos mui­tos que invadem casas para abrigar-se, o soldado PM Edemar não teve o cuidado de revistar ou algemar o homem que detivera por estar ocupando.

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ou invadindo, moradia alheia naquele bairro. O erro custou-lhe a vida. Na verdade, ele agarrara Nelson Edoardo Teixeira, um dos membros

do grupo de uruguaios assaltantes desarticulados na semana anterior pela Polícia de Porto Alegre.

Não considerando o risco que poderia ocorrer, e pensando tratar-se de uma ocorrência comum, e até por sua característi:::a de confiar nas pessoas que sempre estiveram envolvidas em suas atuações, o soldado Edemar se descuidou.

Nesta ocorrência ele estava sozinho. Após breve diálogo, o suspeito foi convidado a acompanhá-lo, o que

sem relutância foi efetivado. Porém, no caminho, Nelson - o suspeito - tentou "conversar" Edemar,

querendo convencê-1 o de que o fato era banal e não havia necessidade de conduzi-lo à Delegacia de Polícia.

No entanto, com era de seu costume, não deixava as coisas pela metade, e sua responsabilidade operacional determinava que uma vez iniciada a condução da parte, teria que findá-la em seu destino, o registro na DP.

Mas Nelson, sentindo que sua liberdade estava restrita ao deslocamento até a Distrital, não hesitou e, sacando de sua pistola, uma 7.65, deu um tiro à queima-roupa em Edemar, que, mesmo ferido e sangrando em profusão, largou o volante e passou a travar sua luta corporal com seu agressor.

A viatura desgovernou-se, jogando os dois ainda engalfinhados à distân­cia, indo atingir uma transeunte. Mais um tiro foi dado e este foi fatal.

Enquanto o homicida Nelson fugia, Edemar agonizava e a transeunte, uma senhora de 82 anos, de nome Araci Beta Machado, ficava estirada com fratura em ambas as pernas.

Foi uma testemunha, o senhor Nelson Levino Ferreira dos Santos, que socorreu o soldado Edemar, conduzindo-o ao Hospital Livramento, onde este veio a falecer antes de receber cuidados médicos ..

Pelas informaçôes prestadas pela testemunha, que disse estar o homi­cida vestido com uma jaqueta de couro, ser branco com cabelos crespos, e pela imediata ação de seus colegas do Pelotão de Guaíba e da Polícia Civil, uma hora depois Nelson foi preso.

Edemar morreu com a arma em seu coldre, não tendo tempo para sacá-la, e mesmo porque, acreditamos, nunca imaginaria que aquele uruguaio de aparência limpa e de gestos humildes iria atacá-lo.

Sua morte, com não poderia deixar de ser, abalou a opinião pública, acostumada a ter no soldado da Brigada um guardião respeitável de suas vidas e..J)atrimônio.

Foram muitas as manifestações de apreço e condolências, mas a que mais sensibilizou a tropa foi a mensagem enviada ao comandante do 9° Bata­lhão, Ten. Cel. PM Anízio Severo Portilho, pelo comandante do Comando de Policiamento da Capital, Cel. PM Lauro Prestes Neto. É o seguinte o seu teor:

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"A função Policial Militar, fonte inspiradora dos mais nobres valores da sociedade, garantia de segurança de to­dos por definição, paradoxalmente, é embasada na insegu-

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rança dos seus executantes. Sempe que saímos de casa, nunca há a plena certeza

da volta. Ficam nossos familiares na esperança diária, contí­nua, angustiante, de que tudo dê certo, que nada aconteça de mal para aquele que sai para fazer o bem. Chega um dia, porém, que as coisas não saem como se espera e a volta não se consuma ... Tomba mais um brigadiano no cum­primento do dever.

Cumpre-se o compromisso de honra, estabelecido no Estatuto, de dedicar-se inteiramente ao serviço policial militar, à manutenção da ordem pública e à segurança da comunidade, mesmo com o risco da própria vida.

Houve o risco e perdeu-se a vida. - De onde saem estes homens? - O que faz ingressarem na Brigada Militar?-Certa-

mente um forte espírito altruístico os conduziu. Certamente Deus, como faz com qualquer um de nós,

os escolheu, lhes orientou na primeira jornada e, agora, cumprida esta, com grande valor social, lhes chama para a última com valor, temos a certeza, muito maior.

Creiam os valorosos companheiros do 9 ~ BPM, que o colega Sd Edemar Soares Antunes soube honrar seu com­promisso com a sociedade. Sua morte, porém, antes de nos desanimar, há d. :1os estimular, ainda mais, a cumprir­mos com a nossa noore missão, porque, agora, trabalhamos também em nome dele.

Estando a família brigadiana enlutada, não poderia deixar o Comandante, Oficiais, Praças e Servidores Civis do CPC de compartilhar com tão grande dor, apresentando a esse Comandante a todos os seus subordinados e, em especial, aos familiares do Sd PM EDEMAR, as nossas mais sentidas condolências".

Este sentimento manifestado pelo Comandante do CPC é a expressão de toda a Brigada Militar, e estejas onde estiveres, Edemar, saibas que nós aqui da terra jamais te esqueceremos, lembrando sempre o grande brigadiano que foste.

ELTON JOSÉ PEREIRA DE LIMA-SOLDADO PM -10~ BPM * 21 de junho de 1959 + 24 de outubro de 1984 (25 anos)

EL TON JOSÉ PEREIRA DE LIMA incluiu na Brigada Militar no dia 08 de maio de 1981. Sua inclusão deu-se no 10º Batalhão de Polícia Militar, na cidade de Vacaria. A causa de sua morte foi por um descuido de um amigo que mostrava-lhe uma arma.

O fato ocorreu no dia 24 de outubro de 1984, quando Elton encontra­va-se de serviço no Parque de Rodeios, em Vacaria, juntamente com seu

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colega, soldado Elvar da Silva Nery. Um amigo de Elton mostrava-lhe uma espingarda de sua propriedade,

quando, ao manuseá-la, a mesma disparou, vindo atingir-lhe em cheio. Edvar de imediato conduziu Elton para o hospital da cidade, porém

este não resistiu, vindo a falecer tão logo lá chegou. O civil, desconsolado, dirigiu-se com Edvar à delegacia local a fim

de apresentar-se ao plantão, entregando sua arma e submetendo-se ao registro de ocorrência.

Foi um caso fortuito, que tirou de nosso convívio mais um excelente soldado, que nos deixa a lição, mais uma vez, do cuidado que devemos ter ao lidar com arma de fogo.

Nossas homenagens ao soldado Elton.

JOÃO ALBERTO DE OLIVEIRA - SOLDADO PM - 1 ~- BPM * 19 de janeiro de 1962 + 17 de setembro de 1985 (23 anos)

JOÃO ALBERTO DE OLIVEIRA nasceu em Porto Alegre e era filho do senhor Anibal Alves de Oliveira Filho e de dona Anal ia dos Santos Oliveira.

Incluiu no 1 ~ Batalhão de Polícia no dia 01 de março de 1982. Seu curso de formação de soldado iniciou no mês de junho, tendo concluído-o no mês de dezembro do mesmo ano, senao um aos primeiros classificados.

João Alberto era um soldado muito ativo e pela sua juventude e porte físico, destacava-se como um excelente atleta.

Tão logo terminou o seu curso, foi designado para o policiamento de rua, sendo designado a servir na 2º Cia PM.

Três anos após sua inclusão, já despontava como um dos destaques da Companhia, por suas atuações no policiamento, principalmente pela sua coragem.

Por não terem sido fornecidos maiores dados pela Unidade que servia, valho-me dos dados fornecidos pelo jornal Zero Hora do dia 18 de setembro de 1985, que relata a ocorrência onde veio a perder a vida o soldado João Alberto, da forma a seguir:

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·~ Na tarde de ontem, dois homens roubaram um automóvel no Jardim ltati, depois de seu proprietário ser agredido a coronhaços.

A dupla resolveu abastecer o carro na Lomba do Pinheiro. No caminho encontraram um homem conhecido pela polícia- Serginho, integrante da quadrilha dos 'irmãos Paraná', a quem deram uma carona.

Depois do grupo ti rotear com patrulheiros da Brigada Militar encontrados no caminho, o carro foi obrigado a passar por soldados de outra viatura da Brigada.

Aconteceu um novo tiroteio. Só que desta vez alguém não escapou da pontaria dos perseguidos. O soldado João Alberto de Oliveira recebeu um tiro que atravessou um braço e atingiu o peito. Minutos depois, morreu no hospital.

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Com um grande contingente de brigadianos espalha­dos pela Lomba do Pinheiro, o 1º BPM realizou uma rigorosa operação de buscas, usando cães farejadores e percorrendo um bom pedaço de matas onde os dois companheiros de Serginho-assassino do PM, preso pela Brigada-poderiam estar escondidos."

No mesmo jornal Zero Hora, na editoria de polícia, o jornalista Milton Rauber relatou assim os fatos que culminaram com a morte de João Alberto:

"AS BALAS TINHAM PONTAS QUADRADAS

Pouco antes das quatro horas da tarde de ontem, a viatura 1765 do 1- BPM, recebeu um chamado do seu Centro de Operações. O rádio avisava os patrulheiros sobre o roubo de um corcel amarelo, placas NZ 1827, tripulado por dois assaltantes - homens morenos, vestindo roupas de brim. Dois deles, minutos antes, atacaram Zeferino Pu­ziski, 54 anos, quando o homem lavava seu carro em frente ao número 437 da Rua Dom Cláudio Ponce Leão, no Jardim ltati. A vítima comunicou à Delegacia do 14º Distrito e a mensagem foi passada adiante.

A. patrulha que trabalhava na Parada 24 da Lomba do Pinheiro estava com outra ocupação: atender ao chamado de uma residência arrombada. Junto com o tenente Severo e o soldado Lourival, o PM João Alberto de Oliveira, 23 anos, ca'Sado, anotou os dados do furto do veículo - as últimas palavras que escreveu. Em seguida, no momento em que conversavam com o dono da casa assaltada, a patru­lha recebeu um alerta: bem perto do local, a viatura 1825 do mesmo Batalhão havia sido alvejada pelos ocupantes de um Corcel amarelo.

O tenente e seus dois soldados desceram do carro para fazer uma barreira na estrada. Questão de segundos, os brigadianos avistaram os fugitivos. Atrás do tronco de uma árvore, João Alberto calçou a espingarda Puma, calibre 38, no ombro. E apertou o gatilho. O tiro não atingiu o automóvel. Só que não deu tempo para o soldado atirar outra vez. Dentro do carro em movimento, o assaltante Sérgio Roberto Medeiros da Silva, 19 anos, usava um revólver niquelado, calibre 32, cano longo, com cinco projéteis. Um deles foi deflagrado. E atingiu o braço direito de João Alberto. A bala atravessou o tórax do brigadiano. Levado às pressas para o Hospital da PUC, ele recebeu atendimento médico. Logo depois, não resistiu ao ferimento e morreu.

Assassino preso

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A quadrilha de assaltantes conseguiu fugir da barrei­ra policial, depois de uma rápida troca de tiros. Numa das pequenas estradas que corta a Lomba do Pinheiro eles abandonaram o carro, tentando refúgio pelos matos das redondezas. Mas os patrulheiros continuaram as buscas, aguardando reforços do 1º Batalhão. Com insistência, os poucos soldados acreditaram no sucesso de um cerco im­provisado e a tática funcionou. Serginho foi preso.

Algemado, o rapaz foi levado até a delegacia do 15° Distrito pelo próprio tenente Severo, que entregou o revólver apreendido aos inspetores comandados pelo dele­gado Ciro Martini. O cheiro de pólvora já havia sumido. Mas Serginho acabou confessando que aquele único projétil disparado de sua arma é que havia atingido o brigadiano. Detalhe: todas as balas estavam lapidadas, formando uma ponta quadrada. Segundo informações dos policiais, um ba­laço desses dilacera o corpo que atinqe.

Interrogado pelos agentes da 15ª DP, o preso também identificou seus companheiros: Cabeça e Careca. Contudo, os dois homens que gravatearam Zeferino Puziski no Jardim ltati, deram um coronhaço em sua boca e fugiram com o Corcel ainda não são conhecidos pelo nome completo. Bastante ferido nos braços e nas pernas, Serginho jurou conhecer somente o apelido dos companheiros.

Operação guerrilha

Uma hora depois do tiroteio, no final da Lomba do Pinheiro, os soldados da Brigada Militar iniciavam uma ope­ração com cerca de 100 homens, lembrando táticas de guer­rilha. Do outro lado dos morros localizados à direita da estrada houve um procedimento idêntico por parte do Bata­lhão de Choque, visto que as informações fornecidas por pessoas que transitavam por ali davam conta de que a tra­vessia daqueles matos era a rota de fuga mais provável da quadrilha.

Observados de longe pelo próprio major Cláudio Fer­nando da Silva Oliveira, comandante do 1º BPM, os soldados utilizaram todas as alternativas possíveis para localizar os fugitivos. Dois grandes grupos de brigadianos iniciaram uma "Operação Pente Fino", tendo de percorrer cerca de oito quilômetros que separam a Lomba da Restinga. Entre­tanto, logo começou a escurecer e os cães policiais que ajudavam os soldados nada encontraram.

Uma falta foi muito sentida entre os PMs- o helicóp­tero chamado logo depois do tiroteio para auxiliar nas bus­cas não chegou. Como a região é cheia de morros e matas, a perseguição poderia obter maior sucesso caso tivesse o apoio de observadores mais privilegiados. A Polícia conti­nua na tarefa de encontrar os outros assaltantes. Até o

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final da noite de ontem 1J caso continuou sem nenhuma novidade.

João Alberto serviu no 1º BPM, durante três anos, seis meses e dezes­seis dias.

Sua pujança, amor ao dever e extrema coragem, deixaram marcada sua passagem pelo "Batalhão de Ferro", onde sua morte deixou uma lacuna irreparável.

Prestamos também a nossa homenagem a este jovem e bravo soldado, que com sua morte deixou a marca indelével nessa Unidade de origens guerrei­ras, de mais um mártir, que entregou sua vida em prol da segurança e do bem estar da comunidade rio-grandense.

JOELAR LOURENÇO AYRES - SOLDADO PM -14~ BPM * 18 de abril de 1964 + 15 de janeiro de 1986 (24 anos)

Joelar incluiu na Brigada Militar no dia 08 de abril de 1983, com dezenove anos de idade, em Porto Alegre, no Batalhão de Polícia de Choque. Durante os dois anos e sete meses que serviu aquela Unidade, foi alvo de diversos louvores por sua atitude em serviço de policiamento, principalmente pela forma corajosa, leal e abnegada com que enfrentava os percalços da profissão.

Em novembro de 1985, exatamente no dia 29, foi transferido do Bata­lhão de Choque para o 14º Batalhão de Polícia Militar, com sede em São Luiz Gonzaga.

Dois meses depois de sua transferência, mais precisamente no dia 15 de janeiro de 1986, quando deslocava em um ônibus da Viação Ouro e Prata, no trajeto de Porto Alegre a ljuf, num gesto de cavalheirismo e cortesia, cedeu o seu lugar em que estava sentado a uma senhora que viajava em pé.

Momentos após, o coletivo colidiu violentamente contra outro veículo que trafegava em sentido contrário e que cruzou a pista, colocando-se na "contra-mão". O soldado Joelar desequilibrou-se, bateu com a cabeça ao parabrisa do ônibus e foi arremesado para fora, atingido o solo, provocan­do-lhe fratura craniana.

De imediato foi conduzido com outros passageiros que também se fP.riram ao hospital, sendo que lá cheqou sem vida.

Este fato com o Soldado Joelar reveste-se de uma-característica muito especial, pelo fato de que predominou em sua atitude algo que está em decadência no mundo de hoje, que é o cavalheirismo.

O fato de ser um cidadão de apurado senso de educação, mas acima de tudo por ser um policial militar, que mesmo não estando fardado está consciente de seus deveres como cidadão, toma uma atitude elogiável e revestida de uma gratidão eterna por uma pessoa e sua família que deve ter reconhecido no ato deste bravo soldado além de um ato de respeito e educação, um ato digno de que usa a farda da Brigada Mlll~ar.

As nossas homenagens ao soldado Joelar Lourenço Ayres, que embora tenha servido apenas dois anos e nove meses, mostrou com sua atitude,

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que veio a custar-lhe a vida, que se permanecesse em nosso meio.seria motivo de muito orgulho para a Corporação.

LEODATO LOPES DA ROSA- SOLDADO PM -11 ~ BPM

* 20 de junho de 1961 + 09 de março de 1986 (25 anos)

Leodato Lopes da Rosa nasceu na cidade de Lagoa Vermelha, e eré filho do senhor Victor Lopes da Rosa e de dona Justina Fortunato Lopes; ao ingressar na Brigada Militar, no dia 13 de setembro de 1979, vinha de uma profissão de agricultor, com a escolaridade correspondente ao primário.

No dia 20 de março de 1980 Leodato concluiu o Curso de Formação de Soldados, sendo aprovado em 23º lugar.

A Unidade designada para servir foi o 11º BPM, uma Unidade conside­rada "pesada'', por ter em sua jurisdição mais de 30 vilas.

Embora a humildade e pouco contato com a cidade grande, o soldado Leodato destacava-se em suas atuações no exercício do policiamento ostensi­vo, tendo em sua ficha cinco louvores, todos oriundos do reconhecimento no desempenho de atividades operacionais.

Leodato era integrante da Patrulha Tática Móvel (PATAMO), que tem como atuação nas l:Jnidades a missão de atender as ocorrências de maior risco.

No dia 23 de setembro de 1985, no Bairro Jardim Leopoldina, mais precisamente na rua Três, em frente ao número 45, haviam três elementos em atitudes suspeitas, dando a impressão que estavam ali cuidando alguma residência para arrombar.

A viatura prefixo 1843, que naquele dia contava com a guarnição composta pelo 3º Sargento Sidney Cardoso, pelos soldados Carlos Alberto Klipp e Jorge André Carvalho Dornelles, mais o soldado Leodato, todos da 4ª Cia PM, efetuando ronda no Parque Leopoldina, passavam pela rua Três, e resolveram abordar os suspeitos.

Como Leodato era um dos mais ativos, e como em todas as ocorrências desta natureza lograva êxito, tanto pelo desfecho como pela forma de aborda­gem, de imediato dirigiu-se aos suspeitos.

Porém, desta vez a sorte lhe foi madrasta. Tão logo aproximou-se dos elementos, os mesmos sacaram suas armas e começaram a atirar, em­preendendo fuga em direções diferentes.

O soldado Leodato ficou ali estirado, sendo de imediato socorrido por seus colegas que o conduziram ao Hospital Cristo Redentor, onde ficou na un

Pela gravidade do ferimento, teve que ser removido para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, onde permaneceu do dia 08 de janeiro até o dia 14 de fevereiro, quando então foi transferido para o Hospital d.a Brigada Militar.

Leodato Lopes ficou ainda 23 dias em estado de coma, sem recu­perar-se.

Muito embora todo o esforço da equipe médica do Hospital da Brigada

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Militar, e a corrente feita por seus companheiros para que pudesse se recupe­rar, Lopes (este era seu nome de guerra) veio a falecer no dia 09 de março.

Foram seis anos, cinco meses e seis dias que o soldado Leodato Lopes da Rosa dedicou-se. e esta Corporação com muito carinho e profis­sionalismo.

Fazemos, portanto, a nossa homenagem a mais este herói.

MOISÉS CARLOS DE OLIVEIRA LAGO - SOLDADO PM * 04 janeiro de 1962 -9~ BPM + 14 de junho de 1986 (24 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante Geral da Brigada Militar, no uso das suas atribuições e de conformidade com o Art. 68 da Lei nº 7.138 de 30 de janeiro de 1978, o nº 4 do Art. 4°, e nº 2 do Art. 8° do Decreto nº 30.618 de 30 de março de 1982, promove post mortem, à graduação de cabo PM, o .extinto Sd PM Moisés Carlos O. Lago, a contar de 14 de junho de 1986." (Transcrito do Boletim Geral nº 098/89)

Moisés nasceu em Passo Fundo, filho de Antonio Firmino Lago e de Oracflia de Oliveira Lago, e, com 20 anos de idade, optou por ser um servidor da Brigada Militar. Veio a Porto Alegre e após submeter-se aos exames de praxe para inclusão, foi aprovado, tendo sido apresentado em sua Unidade de destino, o 9º BPM, no dia 29 de julho de 1982. Foi designado para a 2ª Cia PM. Um ano depois, exatamente a 18 de julho de 1983, conclui o Curso de Formação de Soldado PM, classificando-se com média 7,217. Sua carreira transcorria normalmente, com as nuances normais da vida de um soldado.

Talvez não adaptado a vida da cidade grande, Moisés, em 1986, com praticamente quatro anos de 9º Batalhão, solicitou transferência de Unidade, tentando retornar aos seus pagos, Passo Fundo, no 3º Regimento de Polícia Montada.

No entanto, nem tudo transcorre em nossas vidas como nós sonhamos e idealizamos; às vezes o destino é cruel e nos prega peças.

Com Moisés não foi diferente, e uma vida dedicada aos familiares, ao serviço e aos amigos foi interrompida brutalmente.

Tudo transcorria normal naquele dia 14 de junho de 1986, um sábado, e como todos os outros sábados, um dia calmo em que não há quase ocor­rências.

A escala do 4º turno chamava o Soldado Moisés, escala esta que iniciava às 18 horas indo até a meia-noite.

Por ser uma sábado, e por saber que neste dia normalmAnte não

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há muita ocorrência, Moisés tinha certeza de que ao término de seu turno à meia-noite, retornaria ao quartel e domingo teria um tempinho para cumprir sua rotina diária quando de folga. Mas não foi exatamente isto que aconteceu: a fatalidade o esperava em meio ao serviço.

Eram 22 horas e 13 minutos, quando foi solicitado a ele para que atendesse uma ocorrência, que pelas informações, era uma desordem envol­vendo porte de arma, na Rua Lima e Silva. Moisés deslocou-se para lá com a mesma disposição que lhe era característica em todas as ocorrências.

Ao atender o que parecia ser mais uma simples ocorrências de desor­dem, o soldado PM Moisés, um jovem de 24 anos, foi atingido por dois tiros, um no rosto e outro no coração, disparados pelo pedreiro Sival Dias Collares, de 47 anos de idade. O fato ocorreu no interior do Hotel Livramento. O local foi de imediato cercado pela Brigada Militar e pela Polícia Civil. O pedreiro resistiu à prisão e também foi átingido por um disparo no coração. morrendo na hora.

Estava juntamente com Moisés o soldado Cleber Quicoses, que infor­mou ao oficial de serviço, que ao chegar no local da ocorrência já havia uma viatura da Polícia Civil, chamada por populares. No entanto, pelo estado de ânimo do pedreiro perturbador, o inspetor Denis, que estava no local, recuou, aguardando a Brigada. O garçom do estabelecimento explicou aos policiais que Sival estava no quarto dele, localizado no primeiro andar do sobrado, nos tUnéfõs de um pequeno corredor. Moisés e o inspetor subiram a escada, Moisés rta frente, de arma em punho. Ao mesmo tempo Cleber e Denis ~achavam a saída do prédio. Chegando no corredor, o patrulheiro avisou: "E a polícia, sai com as mãos para cima". "Já vou, já vou", respondeu ~I. Bruscamente, o pedreiro abriu a porta, com uma pistola Taurus automá­tica, calibre 7,65 e, sem dizer uma palavra, acertou os dois balaços em Moisés, que não teve tempo sequer de esboçar uma reação. Moisés caiu por sobre o inspetor que estava na escada, rolou pelos degraus e foi parar na porta de entrada do prédio, diante do olhar perplexo dos colegas, Cleber e Denis. Depois dos tiros, o pedreiro trancou-se no quarto. Imediatamente foi pedido reforço para o 9° BPM e às delegacias de Polícia Civil. O prédio foi cercado; eram vários agentes das distritais e dezenas de policiais mi li tares, todos sob o comando do capitão PM Boaventura.

Durante cerca de vinte minutos os policiais insistiram aos gritos para que o assassino se entregasse. Mas ele já havia se refugiado dentro do banheiro e respondia, entre outras afirmações incompreensíveis, que só queria "matar ou morrer". A tensão foi crescendo, prevendo-se que a qualquer mo­mento o prédio seria invadido pelos agentes e poderia haver mais mortes.

O clima estava tenso. Um grande número de curiosos toi mantrao a distância. Finalmente, às 23h55min, o episódio teve o seu violento desfecho.

Enquanto os PM da sacada davam cobertura, quatro policiais civis entraram atirando prédio adentro, iniciando um cerrado tiroteio.

Tudo durou menos de um minuto. Cessados os tiros, seguiu-se um pesado silêncio, rompido apenas pelos

gritos de um policial, que chamava pelo pedreiro para saber se ele ainda estava vivo.

Uma lanterna ro1 i::111.;ançada aos 1-'M, que constaram: Siv::i.I estava morto. 70

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Um tiro varou-lhe o coração. A inconformidade pela morte do PM ainda continuava. Sival, pela impressão colhida entre os hóspedes do hotel e funcionários,

era um psicopata. E estava morto. Moisés, um brilhante soldado, também ali tombara. Tudo terminou naquela noite, que já chegava ao início de um domingo

sombrio. Apenas quatro anos pôde Moisés prestar seus inestimáveis serviços

à sociedade. Foi uma meteórica passagem que consternou a todos os seus superio­

res, colegas e amigos. Todos nós temos a nossa hora, mas ninguém admite que alguém tão

jovem, tão vibrante e com tantos planos futuros, possa ter interrompido o seu curso de forma tão estúpida.

Esta é a nossa missão: defender a sociedade. Mas quem nos defende? Esta é uma pergunta que nem sempre encontramos resposta, porém não é motivo para que se esmoreça na missão, ela continua, e são jovens como Moisés, que nos estimulam a continuar esta batalha diuturna, procurando uma melhor especialização e com maiores cuidados para que não tenhamos um crescimento irrefreado de mártires.

Moisés foi maJs um que entrou para a galeria dos heróis que deram sua vida pela segurança pública.

Descansa em paz, Moisé.s, e cada quartel será um oráculo, cada homem fardado será um apóstolo, e cada gesto de seus companheiros será uma oração em tua homenagem.

ALCIDES FIGUEIREDO CESAR - SOLDADO PM - 11 ~ BPM * 29 de dezembro de 1951 + 20 de setembro de 1986 (35 anos)

Alcides Figueiredo Çesar incluiu na Brigada Militar no dia primeiro de dezembro de 1972, na então Companhia de Policiamento Rádio Motorizada, quando a Unidade se encontrava .sediada na Rua Ivo Corseuil.

Naquele tempo, a Cia PRM já destacava em suas atividades de policia­mento, pois como tinha sido a pioneira em serviço de patrulhamento motori­zado, conhecia todas as vilas e "be.cos" de Porto Alegre. Alcides, naquela época com vinte e um anos, já se destacava por sua disposição e coragem no atendimento de ocorrências.

Recebeu de seus comandantes vários louvores por suas atuações e dedicação ao serviço.

Poucos anos depois, a Cia PRM passou a denominar-se 11º Batalhão de Polícia Militar, e sua sede instalou-se na Rua Roque Callage, próximo à Assis Brasil.

Alcides passou a executar o serviço de policiamento junto ao Jardim Lindóia, onde era conhecido por toda a população, que o admirava muito por sua presteza e sensibilidade no atendimento das ocorrências.

As crianças que estudavam no colégio ali existente já o conheciam 71

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pelo nome. Alcides passou a fazer parte daquela comunidade, perfeitamente entrosado.

No dia 20 de setembro, dia em que se comemora a data da Revolução Farroupilha, era um dia calmo, até por ser feriado. O serviço do soldado Alcides transcorria tranqüilo, até que apareceu um táxi, que era tripulado por três elementos desconhecidos.

O táxi parou, e um dos elementos chegou à janela para pedir informa­ção. Alcides, prontamente e solícito como sempre, dirigiu-se ao solicitante para atendê-lo. Quando se aproximou recebeu um tiro à queima-roupa na altura do queixo.

O criminoso saiu do carro, apoderou-se da arma de Alcides, que estava no chão, agonizante, desferiu-lhe ainda dois tiros com sua própria arma, subiu no carro e desapareceram deixando ali o corpo do soldado Alcides estirado e sem vida.

Foi um crime revestido de uma crueldade sem precedentes, pois pelo que foi apurado em IPM, o crime foi executado a sangue frio, sem nenhuma justificativa, apenas talvez por serem aqueles marginais revoltados com sua condição de vida e transmitirem esta revolta a quem por dever cabe privar estes criminosos do convívio da sociedade.

O soldado Alcides morreu no dia histórico para o Rio Grande, e como tal oassou também para a história da Brigada Militar.

GEDEÃO DA SILVA- SOLDADO PM -15~ BPM * 03 de novembro de 1961 + 19 de dezembro de 1986 (25 anos)

Gedeão da Silva era filho de Doralino Borba da Silva e Sarita da Silva. Nasceu em Porto Alegre, tendo decidido ingressar na Brigada Militar, com 23 anos de idade. Foi em maio de 1984.

Como estava sendo instalado o 15º BPM em Canoas e havia necessidade de montar um efetivo razoável para atender àquela cidade e região, os novos incluídos naquele ano, em sua maioria, foram designados a prestar seus servi­ços ali.

Por esta razão, Gedeão, que morava em Porto Alegre, no bairro Triste­za, deslocava-se diariamente até sua Unidade para cumprir sua escala de serviço.

Mas isto não era problema, pois era jovem e, como tal, os desloca­mentos diários não o cansavam. Com a intenção de crescer um pouco mais na profissão que escolhera, no dia 11 de novembro de 1985 inscreveu-se para prestar exames para o Curso de Formação de Cabos. Estava e::;perançoso em conseguir sua aprovação.

Seu pai não estava muito bem de saúde e isto o preocupava. Seu tempo era dividido em atender sua escala, estudar para a seleção ao curso de cabo e cuidar seu pai.

Mas os cuidados dedicados não afastaram de seu pai a sombra da morte e, em 22 de novembro, falecia, o qÚe, como não poderia deixar de ser, abalou Gedeão.

Cada dia que passava, mais marcante ficava a imagem de seu pai 72

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em seu insconsciente, mas tinha que continuar sua missão. No dia 19 de dezembro de 1986, cumprindo sua escalada de serviço

no terceiro turno, como motociclista, recebeu da sala de operações um comu­nicado de que um veículo do tipo Escort havia sido furtado em Porto Alegre e deslocava-se em direção a Canoas. Gedeão, vendo a possibilidade de de­monstrar sua habilidade profissional, como Policial Militar e como motoci­clista, saiu ao encalço da ocorrência a fim de acompanhar seus colegas de Porto Alegre, do BPChp (GUAPO) e ajudá-los a capturar os ladrões do carro.

Mas a ocorrência, para Gedeão, terminou na Avenida Getúlio Vargas, quando um veículo Dei Rey, tripulado por uma senhora, colheu-o tão logo entrou nessa avenida.

Com o choque a moto explodiu, jogando Gedeão à distância, já muito ferido. As viaturas que vinham no encalço do Escort abandonaram a persegui­ção e foram atender ao companheiro que agonizava. Dali Gedeão foi conduzido ao Hospital Nossa Senhora das Graças.

A luta contra a morte foi grande, o apoio dado pelos colegas não foi suficiente para tirá-lo do caminho do encontro espiritual com o seu pai Dorvalino e, às 23 horas daquele dia 19 de dezembro, Gedeão expiravaAgora ele está junto de seu pai, feliz cremos nós, mas dona Sarita, sua mãe, e seus colegas, ainda têm viva a imagem alegre e quase infantil de mais este mártir do serviço a que estamos designados a cumprir para manter a tranqüi­lidade de nosso povo:

ALBERI DOS SANTOS MACHADO - 2° SARGENTO PM - 3 ~ BPM * 25 de junho de 1940 + 17 de junho de 1987 (47 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

No uso de minhas atribuições, de conformidade com o Art. 68, da Lei nº 7.138, de 30 de janeiro de 1978, combina­do com o Art. 4º, nº 4, e Art. 8°, nº 2, do Regulamento de Promoções de Praças da Brigada Militar, aprovado pelo Decreto nº 30.168, de 30 de março de 1982, promovo post mortem à graduação de 1° Sargento PM, o extinto 2° Sargen­to PM Alberi dos Santos Machado, que pertencia ao 3° BPM, a contar de 17 de junho de 1987." (Transcrito do BG nº 129 de 14 de julho de 1987)

Alberi dos Santos Machado incluiu na Brigada Militar no dia 25 de maio de 1964. Sua inclusão deu-se no então 5° BG, com sede na cidade de Três Passos. Na época em que lá incluiu, o clima na região era muito conflitado, em razão de que há uns dias antes havia estourado a dita "Revolu­ção Redentora".

Era uma época de prisões, expurgos e inseguranças vivida por toda a população.

Alberi, na época, com 24 anos de idade, criado no interior de uma 73

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colônia, pouco sabia e muito menos entendia o que estava acontecendo ao seu redor.

Quando ingressou na Brigada, seu curso foi com um fuzil na mão e uma mochila nas costas, sempre pronto a enfrentar um inimigo desconhecido, conforme lhe diziam.

Conheci Alberi em Três Passos, agora já como 7° BPM, e sem mais aqueles conflitos, mas ainda uma época de cuidados. O seu jeito humilde mas confiante fazia com que seus superiores lhe dessem as missões de maior responsabilidade, pois sabíamos que o desempenho sempre era o melhor.

Já o conheci como cabo PM, originário de um curso realizado na cidade de Passo Fundo, no 3° RPMon.

Lá em Três Passos, como cabo, era encarregado das obras do Batalhão e a escala de serviço que concorria era a de Cmt da Gda do presídio.

Em todas as áreas que atuava seu trabalho era reconhecido e admirado, tanto pelo seu capricho, como pela disciplina e espírito de liderança.

Perdi o contato com Alberi em 1974, quando saí daquela Unidade. Os seus assentamentos, os mais recentes, já se referem à sua transfe­

rência do 7º BPM, para o 3º BPM, em Novo Hamburgo, já como 3º Sargento, no ano de 1984, mês de abril.

Tão logo chegou ao 3° BPM, foi classificado na 2ª Cia PM com sede em São Leopoldo, indo servir sob o comando do Cap PM Carlos Alberto de Azeredo.

Alber·i sempre foi um graduado prestativo e eficiente. No dia 04 de setembro de 1985 recebeu um louvor de seu comandante por ter, quando de serviço, tentado salvar a vida de um menino que havia caído do 10º andar do edifício Agrimer. É o seguinte o teor do louvor:

"Por ter no dia 04 de setembro, quando de serviço, atendido de forma exemplar e humana uma ocorrência de sinal 44, na Rua Brasil, quando um menino de 12 anos caíra do 10° andar do Edifício Agrimer, que apesar da queda ainda respirava. O referido graduado, ao constatar o fato, deslocou-se rapidamente até o local e lá chegando providen­ciou na remoção do menor até o Hospital Centenário, e no caminho procurou com massagem e respiração artificial reanimá-lo, na ânsia de salvar uma vida. O Sgtº Alberi, ao nosso entendimento, demonstrou, de forma cabal, alto grau de humanidade, respeito à vida humana e conhecimentos técnicos profissionais, qualidades estas, enobrecem o ho­mem que veste uma farda e procura dia-a-dia aperfeiçoar-se e elevar conjuntamente o nome da nossa BM, pois inclusive a comunidade comentou a ação do sargento em tela."

Fatos como este eram rotina na vida profissional de Alberi, que sempre primou pela plena execução de suas missões.

Porém os grandes homens têm sua passagem limitada nesta vida, e Deus se encarrega de acelerar sua passagem para a história. Pois com Alberi não foi diferente, e no dia 17 de junho de 1987, às 23:05 horas, no atendimento

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de uma ocorrência, juntamente com alguns companheiros, inclusive o Tenente Otacílio Maia Cardozo, o nosso amigo pereceu.

O fato foi narrado assim pelo Comandante da 2ª Cia PM Capitão Azeredo, em parte datada de 18 de junho de 1987:

"Participo-lhe que o 2° Ten PM Otacílio Maia Cardo­zo, oficial supervisor à 2ª Cia PM, trouxe ao meu conheci­mento que no dia 17 de junho/87, aproximadamente às 23:05 horas, ao atender uma ocorrência de sinal 05 (assalto;.na residência do Dr. Renato Ferreira da Sil.va, à rua São Paulo nº 772, sendo que os delinqüentes fugiram pela rua Flores da Cunha, atingindo o pátio do Colégio São José, de onde furtaram uma caminhonete Kombi, placas YZ 8175, de pro­priedade da referida escola. Que os delinqüentes, ?.O depara­rem-se com a Patrulha composta pelos 2º Ten PM Otacílio, Sd PM Paulo Subtyl e o Sd PM José Luiz de Borba, mais a GU da Vtr 1897, 2 ~ Sgt Alberi, Sd PM João dos Santos Segundo saíram atirando no Sd Subtyl, e ao cruzar pelo Ten Otacílio e 2º Sgtº Alberi, dispararam vários tiros atingin­do mortalmente o referido Sargento. Que o fato 2conteceu na alameda que dá acesso ao educandário, sendo que a referida Kombi chocou-se frontalmente com a Vtr 1897 que encontrava-se na entrada da alameda 'por falta de combus­tível', que os danos de ambos os veículos foram de grande monta. ( ... ) Que os delinqüentes evadiram-se do local pelos matos existentes fugindo em direção à margem do Rio dos Sinos, sendo efetuado um cerco com apoio do efetivo· das 1ª, 3ª Cia PM, uma guarnição do 5º Pel da 2ª Cia e vários cabos e soldados que encontravam-se de folga e acorreram· prontamente ao local do fato". ·

Tombou em uma ocorrência corriqueira mais um brigadiano. Talvez coisa do destino, mas, como citou o comandante da Companhia em sua parte, a viatura a qual fazia parte a guarnição do Sargento Alberi, naquele dia Auxiliar de serviço externo, a mesma parou por falta de combustível, e Alberi teve que deslocar a pé.

Talvez por auto-confiança e a certeza de que em seus 23 anos de serviço sempre se havia saído bem nestas ocorrências. O que ficou de lição é que o excesso de confiança, pois era uma alameda escura no meio da noite, e a falta de atenção do governo com os meios necessários ao policia­mento, ao ponto de não ter combustível para a viatura do Auxiliar, podem ter conduzido ao holocausto mais um brigadiano.

Só nos resta reconhecer o grande valor deste graduado, e render a nossa homenagem, dando-lhe a certeza de que, os que aqui ficaram, rezam para que na eternidade, ele tenha a mesma paz que sempre procurou transmitir a seus camaradas aqui na terra.

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GILMAR DA SILVA CANTOS-SOLDAD0-6? BPM * 28 de novembro de 1960 + 05 de setembro de 1987 (26 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante Geral da Brigada Militar, no uso de suas atribuições e de conformidade com o Art. 68 da Lei nº 7.138 de 30 de janeiro de 1978, o Art. 4º nº 4, Art. 8º e Art. 28 n? 1 do Regulamento de Promoções e Méritos de Praças BM, aprovados pelo Decreto n? 30.618 de março de 1982, promove post mortem à graduação de cabo PM o extinto soldado PM Gilmar da Silva Cantos RE 47.891". A contar de 05 de setembro de 1987".

Gilmar da Silva Cantos nasceu na cidade de Bagé, era filho de Anecio Cantos e de dona Maria Henriaue da Silva Cantos. Incluiu na Briaada Militar com 23 anos de idade, no dia 07 de junho de 1983, no 6? BPM. No dia 23 de dezembro do mesmo ano conclui o Curso de Formação de Soldado, obtendo a média de 7,380, sendo uma dos primeiros classificados.

Gilmar· despontava já no Início de sua carreira como um excelente profissional, o que demonstra sua ficha de alterações, na qual constam vários louvores, tanto por suas atuações como atleta, pois jogava muito bem futebol de campo, como por sua destacada disciplina e amor à sua profissão.

Em abril de 1986 foi louvado por ter, mesmo de folga, dado o máximo de sua_ dedicação ao atender uma ocorrência que envolvia um menor de 5 anos, filho do sargento Everton Tavares Born, que fora atropelado irrespon­savelmente por motorista que desrespeitou a faixa de segurança. Providenciou de imediato o transporte do menor ao hospital, desobstruiu a via retirando o veículo infrator do local e fazendo encaminhamento da ocorrência, tudo com o maior discernimento e bom senso.

Há na vida destes heróicos soldados, senões que são incompreensíveis porque quem tem de bom senso. Refiro-me a uma puniç~o que lhe foi imposta. a qual revela que não há o mínimo de consideração com o ser humano, e não pesam os atos de bravura, de profissionalismo e amor à Brigada, pois Gilmar ficou detido por oito dias, por ter sido encontrado dormindo quando de serviço de cabo do dia ao GPM da FURG. Não quero ;_julgar o ato de quem o puniu, mas será que caberia oito dias de privação da liberdade para quem já havia até aquele momento recebido tantos louvores pelo seu trabalho? -

E, pasmem, teve outra punição de quatro dias por ter em jogo de futebol sido encontrado com o capacete sob o braço. Em uma outra oportu­nidade ficou detido por dois dias porque estava se abrigando da chuva em uma farmácia e o sargento auxiliar não o tendo encontrado para fornecer-lhe a capa alegou abandono de posto.

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Estes relatos de punrçao, faço não com a intenção de enlamear a ficha deste grande soldado, mas para deixar evidente a falta de critérios com aue são avaliadas as faltas, não sendo considerada a carreira como um todo.

E então eu me pergunto: será que alguém, por mais dedicado, interes­sado em bem desempenhar sua função, disciplinado e cumpridor de seus deveres, sente-se estimulado em continuar sendo exemplo, quando não há o mínimo de consideração de seus superiores para avaliar seus atos?

Bem, mas vamos adiante, isto foi mais um desabafo que não teve em Gilmar o único a ser desconsiderado em sua carreira.

Porém, a mesma consideração que não foi dispensada a Gilmar em sua Unidade, obteve da comunidade através da declaração do vice-prefeito da cidade, sr. Érico Martin.

É o seguinte o teor do texto publicado no Jornal de Rio Grande, do dia 12 de setembro de 1987:

"O assassinato do brigadiano Gilrnar da Silva Cantos, que morreu no cumprimento do dever ao perseguir um mar­ginal, no último sábado, em nossa cidade, sensibilizou diver­sos setores da nossa comunidade."

O vice-prefeito Érico Martin .também manifesta publicamente a sua solidariedade aos hmnens que integram a Brigada Militar, atingidos duramente pela tra,gédia ocorrida naquele fim-de-semana.

Erico Martin destaca:

"A dificil tarefa de nossos brigadianos, que no dia-a-dia estão vigilantes para proteger a comunidade da ação dos malfeitores. Infelizmente os policiais recebem um venci­mento muito inferior ao que efetivamente merecem, dedican­do-se com qualquer tempo e em qualquer hora pela segu­rança de nossas famílias".

O vice-prefeito de Rio Grande lembra que:

"combatendo o crime, o soldado Gilmar deixa sua família, constituída da esposa e uma filha pequena numa situação de escassos recursos, impossibilitado que foi de permanecer ao lado de seus familiares, ao perder a vida estupidamente nas mãos de um marginal".

Érico Martins pergunta:

"Onde estão as Comissões de Direitos Humanos? Caso o fiel servidor viesse a sobreviver nesse episó­

dio lamentável, certamente seria ele crucificado, porque infelizmente o:; direitos humanos estão sendo canalizados em favor dos delinqüentes".

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Ao mesmo tempo em que se solidariza com a Brigada Militar e os familiares do jovem soldado de 26 anos, morto no cumprimento do dever, Érico deseja saber o que farão os defensores dos direitos humanos em favor da família do soldado Gilmar da Silva Cantos.

Esta manifestação, partindo de uma autoridade do Município, e que representa o pensamento de toda a comunidade, nos dá uma idéia consistente do carinho que é dedicado à Brigada Militar, e principalmente ao seu represen­tante maior, o soldado.

Gilmar ficou na lembrança dos riograndinos e tão cedo não será esque­cido, tornando-se mais uma bandeira como mártir desta selva irracional da delinqüência.

GIL MAR SANTOS NEVES - SOLDADO - 6? BPM * Nascido em 1961 + Falecido em 09 de setembro de 1987 (26 anos)

O fato que culminou com a morte do soldado Gilmar deu-se no dia 09 de setembro, e o relato da ocorrência que transcrevemos foi noticiado no "Jornal Rio Grande" do dia 11 de setembro.

O título da notícia foi: PM MATOU LADRÃO ANTES DE MORRER

"Mais um polk:ial foi morto em serviço, atingido por uma bala assassina que saiu do. revólver de um ladrão. O fato aconteceu no fim de semana, quando um policial militar saiu em perseguição de um gatuno. Eram 18h25min de sábado, quando o PM Gilmar Santos Neves, de 26 anos, ao auxiliar um colega de farda na perseguição de um marginal que até agora nâo foi identifi­cado, acabou sendo atingido por uma bala certeira que lhe atingiu o rosto.

O PM José Jardim das Neves Pinheiro deix.ou seu turno na Estação Rodoviária, às 18 horas, e se dirigia ao 6? BPM, quando ao passar pela rua 24 de Maio, teve a sua atenção despertada por populares que lhe aponta­vam um homem que tinha praticado um furto numa loja e tentava fugir. O brigadiano saiu em perseguição ao mesmo e ao chegar nas proximidades do Presídio Municipal, pediu ajuda a um colega, o PM Gilmar Santos Neves, que também se juntou a perseguição.

Na avenida Portugual, o ladrão pulou um muro e o PM Gilmar tentou fazer o mesmo, quando foi atingido por um balaço no rosto. Caiu ao solo e o gatuno, talvez pensando que ele estivesse morto, voltou ao local, oportu­nidade em que o brigadiano, já moribundo, sacou de sua arma e atirou no bandido, atingindo-o no peito.

Ambos foram socorridos e levados ao hospital da Santa Casa, mas lá já chegaram sem vida.

O corpo do PM Gilmar foi velado no quartel do 6° BPM e domingo levado para o cemitério católico num carro do Corpo de Bombeiros acompa­nhado por grande número de colegas de farda, familiares, amigos e policiais civis. No cemitério, num clima de grande revolta entre os presentes, foram a ele prestadas as homenagens de estilo."

Este foi o relato colhido no jornal da cidade, podendo ser verificado

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o carinho que a população dedica à Brigada Militar, e especialmente dedicou a este bravo soldado que sucumbiu por mãos de uma facínora.

Ao soldado Gil mar, também o nosso carinho.

ROSÁRIO PICHETTI - SOLDADO- 3 ~ BPM * 06 de outubro de 1958 + 06 de outubro de 1987 (29 anos)

Rosário Pichetti nasceu na cidade de Paim Filho, era filho de David Pichetti e de dona Emilia Mokfa.

Incluiu na Brigada Militar, na 3ª Cia PM do 3º BPM, no dia 21 de junho de 1982. No dia 14 de junho, portanto com apenas três semanas que havia incluído, foi louvado pelo espírito de solidariedade, por ocasião de uma enchente que assolou a cidade de Taquara, em que não mediu esforços para auxiliar s.eus colegas no salvamento e abrigo de pessoas flageladas.

Seu Curso de Formação de Soldado iniciou no dia 02 de agosto de 1982, na sede da 3ª Cia PM.

Foi classificado ao término do curso, na cidade de Três Coroas, na sede do 3° GPM do 2º Pelotão, no dia 16 de março de 1983.

Na cidade de Três Coroas, Pichetti, como era conhecido, granjeou da população muita admiração e prestígio.

Naquela Sub-Unidade, foi louvado várias vezes por suas atuações em policiamento.

Um desses louvores deu-se por ocasião do furto de uma motocicleta, sendo o seguinte o teor da parte:

"Participo-vos que no dia. 11 de agosto de 1986, aproximadamente às 10:30 horas da manhã, o 3° GPM rece­beu um telefonema o qual informava sobre o furto de uma motocicleta, placas CI 21!'.J, na Rua Amapá, número 400, em Taquara, sendo a :i_,r proprietária a senhora Neiva Mam­mit. Que às 19:00 hui as do mesmo dia um elemento de nome Antonio Juarez Souza e Silva, portando uma faca na cintura, tentava vender a referida moto no município de Três Coroas.

Pelas informações recebidas, o comandante do GPM determinou que a guarnição da viatura 1629 deslocasse até o local com a sua GU constatando na chegada ao local, de imediato, que a motocicleta era a mesma furtada em Taquara. A Guarnição composta pelos soldados PM Luiz

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René de Souza Nobre e Rosário Pichetti, usando toda a técnica de abordagem e alto tirocínio profissional, conse­guiram prender o suspeito conduzindo-o junto com a moto à DP local. O fato teve grande repercussão na Região, tendo sido alvo de comentário favorável no Jornal Zero Hora da Capital."

Pela nova estruturação da Brigada, a 3ª Cia PM em Taquara, que pertencia ao 8° BPM, passou para a jurisdição do 3º BPM, como 4ª Cia PM, fato que ocorreu no dia 19 de janeiro de 1987.

Nesta época Pichetti encontrava-se no comportamento "Ótimo", onde ingressou no mês de outubro.

O desempenho do Sd Pichetti, no decorrer do tempo que atuava no GP de Três Coroas, demonstrava cada vez mais o seu potencial como policial militar, sendo que graças às suas atuações, contando também com o bom desempenho de seus colegas, fizeram com que o "Lions Club" da cidade doasse ao GPM uma viatura Fiat, para auxiliar no serviço de policiamento.

Esta doação seria, mais tarde, o motivo da fatalidade que tiraria Pichet­ti do nosso convívio.

O fato ocorreu no dia 04 de outubro de 1987. Pichetti e o soldado PM Daniel da Rosa Lemos deslocaram-se até a localidade denominada Sander, para atender uma ocorrência de sinal 12 (desordem).

Como o fato. naquela localidade foi dissipado sem maiores alterações, os mesmos deslocaram até a sede do GPM.

No caminho da cidade; na rua Fernando Ferrari, em frente à Agrope­cuária Guabi, a viatura desgovernou-se.

O motorista, soldado PM Daniel, para não bater no prédio da Agrope­cuária, virou o volante bruscamente, fazendo com que a viatura viesse a capotar e chocar-se em um poste.

Na batida, o soldado Pichetti voou pelo para-brisa, que com o impacto soltou-se, vindo a chocar-se contra o solo, fraturando o crânio.

De imediato foi providenciada a remoção do soldado. Pichetti para o hospital de Taquara.

Dois dias depois, exatamente às 02:00 horas do dia 06, data em que estaria comemorando seus 29 anos de vida, Pichetti expirou.

Faleceu no retorno do atendimento de uma ocorrência, talvez eufórico, juntamente com os colegas Daniel e Gilberto, por terem logrado êxito em mais esta missão, e até porque seria seu último' serviço até o dia de seu aniversário, que ocorreria dois dias depois.

Quando de sua morte esperava-se que a população, reconhecida pelos bravos feitos de Pichetti, o exaltasse ou lhe prestasse uma homenagem como homem correto e trabalhador; entretanto, foi dominada por uma imprensa tendenciosa, mal agradecida e cretina, que encaminhou as informações do acidente como uma irresponsabilidade dos ocupantes da viatura 670 Fiat doada pelo Lions, dizendo inclusive que foram retiradas do interior do veículo 6 garrafas de cerveja "intactas", como se pudessem estar, depois de uma capotagem e choque, dando a entender que os soldados PM Daniel, Gilberto e Pichetti estivessem embriagados.

Pichetti, ao falecer, nesta ocorrência, provocou à população um misto 80

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de ódio e revolta, instigados por alguns idiotinhas que se intitulam repórteres, e que, desconhecendo os relevantes serviços prestados pela Brigada Militar à comunidade, escreveram, como poderemos ver em recortes daquela imundí­cie que chamam de jornal, frases como esta: "O fato ocorrido no último dia 03 (nem foi dia 03, foi dia 04), com a viatura da Briqada Militar. serviu para mostrar como a irresponsabilidade de alguns elementos pode ocasionar consequências sérias que mais cedo ou mais tarde atingirão a todos os policiais do destacamento, direta ou indiretamente".

Estas e outras "baboseiras" proliferam nesse pasquim que só me digno a colocar alguns recortes para que se tenha uma idéia de que a que ponto uma imprensa mal estruturada e tendenciosa pode prejudicar a imagem de uma Corporação como a Brigada Militar, que só presta serviços à população, muitas vezes anonimamente e como troco recebe uma "bofetada" gerada por algumas cabeças doentes.

Mas nada disso nos importa; seguimos nossas missões e deixemos os cães ladrar. O mais importante é que foi-se mais um brilhante policial militar, que deixou esposa, dois filhos e mais um a caminho, e uma Corporação inteirn a chorar a sua ausência.

Faço referência também de que não houve por parte de seus coman­dantes nenhum desmentido publicado em jornal, o que deduz-se que engoliram os registros feitos, talvez para "não gerar polêmica, afinal o soldado já está morto mesmo".

Tomara que não ~eja, e se eu estiver errado, quero na edição seguinte deste livro relatar toda a versão correta e com fatos verdadeiros, e espero que este não venha a macular o nome da Brigada Militar e do valoroso soldado Pichetti.

Rosário Picl1r~tti ( S;Hi\d Lucii-l no dia do ca~amento no dia ?1 de junho de 1984

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Os filhos de Pichetti: Everton, 9 anos - Juliana - 6 anos - Rosana, 3 anos

Não consta o nome do jornal, porque pelo que aqui demonstram, podem tirar a desforra em outras situações, em prejuízo do bom nome da Brigada Militar.

Brigada destrói viatura e soldado Pichetti morre

Não generalizar O fato ocorrido no último dia 3 com a viatura da Brigada

Militar Servia para mostrar como a irresponsabilidade de ai· guns elemenlO<i pode ocasionar ro.nsequências sérias que mais cedo 011 ma15 tarde atingcrão a todos os policiais do de~· tacamento rlireta ou 1ndiretameote.

A primeira coi.sa que me oeorre, ê a perda da imagem pública e o des~asle d.a autoridade que todos os policiais te­rão perante os olhos do pliblico. ~tas, não podemos e não de­\lemos generalizar. Não existem somente "ovos pcxtres" no destacamento da Brigada ~tilitar local. Conheço pratica· mt>nte a todos os soldados e sei que alguns deles jamais to­marirlm uma atnudc destas.

\1nto pt>!o :-.oldado PiLheHI. _por sun família. que n·ttl m1·n11• O.lO- fJrt>n-.a.·i.am P~"-'\.af- ~ ~dhank.tn.1!!.1,J1a -

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O acidente ocorrido no último dominrJo com a viatura 670 da Brioada Militar, causou muita revolta na populaçtio trescoroense que nela se conforma com a atitude tomada pelos etemeritns que a ocupavam. O acidente causou tambénL a lamentdvel morte da soldado Pichetti, :jue completaria 29 anos no dia em que veio a falecer e quf' deixa a mulher, dois filhso e maia um a ca­minho.

r-~~~~~~~~~~~~--

A população se revolta Os populares que estal'Rm no local do acidente

ocorrido no último domln~o com a \fatura 670 da Bri­Rndn :\lllltnr, dernonstranun nb,.rtnmcmc n sua revol­rn. lima senaora qur mora nas prox'.tmdades e cujos filho~ estudam na Escola Luterana, reclamou da falta de se~urança da referida escola, a qual quase nunca é visitada pt'IO< policial•.

Outros moradores queixavam-se que diversas ve­zes quaodo sollcltados, os soldados levavam horas para comparecer BQ local sempre usando como descuJ .. pa a falta d• peuoal e de viatura.

J\ta!, a maioria questJonava o que fadam aquelas cervejas em um carro oficial e em poder de policlai1 laruados.

No dia seguinte ao acidente, C<>nversel com alguns membros do Leo Club Três Coroa• e com aJgon• dice-' tores de fábricas, todos sem exceção queixaram-se do trabalho que tiveram para angariar dinheiro para a compra deste carro, que agora se encontra pratica. mente destrufdo.

O pior de tudo IS!o é a morte do soldado Plchetti e a re\"olta da população, que não se conforme com o de· senrolar dos acontecimentos. que na reaHdade é uma ver.onha nâo 16 para a C<>rporação ma1 também para o munJcfplo em •eral.

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PEDRO GUILHERME SENNA - SOLDADO - 3 ~ RPMon * Nascido em 1937 + Falecido em 1987 (50 anos)

Velho soldado era homem querido por todos

um• multidiio esteve no sepultamento de Pedro Guílher Senna (foto menor).

Em meio a uma multidão de 1.500 pes­soas, entre civta e militares, foi velado on­tem o corpo do soldado PM Pedro Guilher­me Senna, 00, morto durante o tiroteio com Prego e Pedro Adelar, na Capela Municipal de Restinga Seca. Por volta das 9h30min, foi realizada uma missa em frente à capela, on­de os populares e mllitares rezaram juntos, em voz alta, o Pai Nosso. O soldado Senna deixou esposa e cinco filhos, faltando pouco mais de um ano para reformar-se. O Ten. PM Moreira, muito emocionado, salientou, durante o velório: "Por matar aqueles va­gabundos, acho que pagamos um preço mui­to caro. Perdemos a companhia do meu me­lhor soldado. [sto não podia ter acontecido''.

Eram unânimes as coloca ;ões a respeitv do carisma que este "soldado velho" tinha na pequena cidade de R120tinga Seca. "Es­ses caras vêm lá de Porto Alegrf' pra. matar um homem bom, hone ... to e trabalhador", afirmou uma senhora no meio dos popula­res. Eram 9h50min, quando SP!S soldados carregaram o caixão de dentro da capel;-t para o carro fúnebre. A partir dPste momen­to, 300 carros e cinco ônibus lotados segui ram em fila indiana até o ct>mitérw rnurud pai da cidade. Os familiares de Senna solici­taram à Brigada Militar que não houve~sP salva de tiros, por estarem traumatiza.dos

No momento em que o caixão era colo<'a do no nicho. um PM tocou no C'larim a mar cha fúnebre - momento de muita emoçãr' entre todas as pessoas que encontravam-se no cemitério. Os colegas de Senna choraram convulsivamente, abraçados uns aos outros "F'oi uma grande pl~rda para a r;ldade a morte do nosso soldado velho. Isto é coisa dl gente sem escrúpulos, de bandido mesmo" cpilcluiu um sargent<J aos prantos.

A crônica do jornalista externa o sentimento dos homen~de ~em. O sofrimento e a dor é de todos que envergam a gloriosa farda brigad1ana, sabendo que o martírio dos soldados da segurança e da paz não pára aí.

Soldado velho O:mt'onne a nottcla; a popula­

ç4o de Restinga Seca o chamava afetuosamente de "soldado ve­lho". C1nqUenta anos, sem gra­duaç4o, a um passo de ser trans­ferido para .a reserva, o PM Pe­dro Guilherme Senna morreu em luta com cr1mlnosos que tentava capturar. Ironicamente, o lugar desse últtmo combate em lavor da lel chamava-se Passo do Sos­sego. Ali, num canavJal, Interior de Restinga Seca, o "soldado ve­lho" encontrou a morte. Estava na hora, ao contrário, de achar sossego e paz na aposentadoria, após trinta anos de subordlnaçAo hlenirqulca, dlsclpllna, dlllgl!n­cJ.as penosas e às vezes arrisca­das. Mas a vida também escreve erradg os seus romances e nem

sempre capricha num tlnal fellz. Nas pequenas comunidades, o

PM em serviço de destacamento pode alcançar, quando pessoa bem formada, um ótimo nível de estima social. Livre da.e tensôes da.s metrópoles e de conflltos de multldAo, sendo mais ou menos raros, na área, os eplsódlos de buscas, apreensôes ou despejos, que obrigam a pollcla a ativida­des antipáticas, o brlgadlano em destacamento, especlalmente quando solitário, é um apazigua­dor, um conselhelro, conciliador de dlssldlos, pouco voltado ao exerci elo de funçôes repressoras. Mals de um conheci, em vllas do Interior, que se Integravam à vi­da roral, plantavam sua roça nas horas vagas, confund11lm-se com os palsanos. E só calçavam os co-

tumós e vestiam a farda ns horn de efetuar a detençAo de algum desordeiro ou de lsolru· um locnl de sJnlstro.

M:as a perversidade das rnetro­poles também se comunica às pe­quenas comunidades, Invade sutJ.s roças, se esconde em suas ca.poe1. ras. E, de uma hora para outra, o tranqUllo "soldado velho" foi cori­vocado ao combate. NAo para atender a ocorrl!nclss corrl<1ueJ­ras, mas para o con1bate n1esmo, decisivo e mortal, contra os agen­tes do crime. Estava escrito em seu destino que rulo chegaria ao sossego da aposentndor111. No Passo do Sossego, cvmpr1ndo .qJn­da uma ve.z o deve1 .<~ bala de 11.~- •

l"acinora lhe tn1r11:l•U 'l vida.

Sérgio da Costa Franco 83

Page 84: Toque de silencio

84

Por LUCIAMEM WINCK W.-O.•Polk..IZH

A morlli dom ....ita.ntu da Mr1eom LWa; Ronaldo Kere&Ull da l!lllva, o Prero, 28 .-. t Pedro Ji.del&r dom S&ntoe, ao, totem conrieqülncla de um forte Urot91o, que du. rou 10 mlnutoe, com pollcl&U ch•i. e mlll· taree, na loealld&de de P&HO do Souego, a 00 qUU6metros de Reetlnga Seca, b thaOmln de U.b&do. Pnro e Adel&r parUcl· p&r&m do moUm, ocorrtdo em 28 de Julho, no Prtaidlo Central, onde tlseram !1 n. féria, con1egulndo ficar em liberdade por IOdl&I. Durante o confronto, tamWm mor· reu o «lidado PM Pedro Gullherme S.nna, 00, com um Uro no e1tõmq:o, e ftcanun fe. rldo9 o. aoldado9 Jlnlo Cuia. BLUTTlann, 311, baleado no br&çc e na. cabeça, eAntõnlo Arlateu da Cotta, 29, com um Uro de HCO. peta t!C11ndo com '2 chumbom alojadom na. ir.Ao etquenia Outro que e1tá Internado t! o uat.lt&nte Sllvlo Joet! Perf!lra, o Olg, 28, coin futmentoe de bala na cabeça, no pel. to, prtilllmo ao coraç&o e na 119ma. Tanto Oll mUtWH como o dellnqUente j6. ..tao fora de perito

A ceçad& aoa uat.ltantn começou. quan. do popul..,..,. avlataram. o Monza, pi.c.&8 BR-47'8, furtado. no d1a Hte, do JlW. Audl· tor dl! Santa Maria, Antõnh> Jl'Nderteo KnoU, Mndo trlpW&<lo por Prego, Ji.de1ar.

ABANDONO DE EMPREGO

MODAS YVONE IND. E COM. l TOA aolic:ita o compe· rernnenlo ® lanclontrio Sr. ILSON lANDlN PEITER, CTPS n• 85641, S~ie 00018, no PINO de "8 horu, 90b p.ena de fica. ea1acterlrltdo o eti.ndono de .mpr9g0 O. ~cordo com o art 482. letre I, da CL T.

- l1C'fl5dn<OOI01fu;rdr/dooJU{dot!com,.1das - Vtt1fK9'0t's t 1Wl'9'ÕCS dt f'll(C- t amplui,oo dt Pt'I·

- l'rdidos de pres11,õn dt conw à .admm..,1mdow --Ermt11dc"'ín1'°'9

~.em trwite ao Banca do er..u, de Ru­~ Seca e eomwdcaram a PoUcla, na Mxta.feJ.n. l!lunultaneamente, .,... ce.ptu­rado C6sar Coelho Femand9•, o Bal•la,,. c.nternente ~da P.rutencll.rla 1: .. tadual do Jacu!. na Rodoviárta da cldad9, adqulTlndo uma paa.apm para Suita Ma­ria. Quando °' b~ petteberam que Balela Htava muU.o eatr&nho, olbando para tudo9 Oll lt.dOll, dllram v• dll pna&o • ele tuKtu ~ra banheiro feminino, .....,, ent&o, ldenWlcado peto. poücl&W • pt"NO.

EnqUBZ1to tuo. o lilon&a Ji utava Mndo peraeguido pela. Brigada MWl&r e, com a conf'1rmaçto de Balela, na Delep.cla lo. ui. de que te t:r•tavadOllloractdolldoP,.. eldio central, o cerco kl1 lntuWllC&do na bu.ca aoe rnargin&ia. O Tan. PM Mor.ln, utubando teu próprio automóveJ, eon.M-11.llu alcançar o "elculo dOll uaallantea por vártu ve:r.e11. Um aoldado ftcou controJ.ui. da a aa.lda da cidade, mu quando o 1'al\M cruwu com el•, Prero .,,luiou doa. dlapa· roe na direçAo do PM. n&o acenando ne­nhum. Corno o Tenente ulava com um O:levette, tol perdendo terreno para Qm ...

eallante•. at6 perdl.Joe de vlll\a. "Eu achai que elet Unham !dopara !anta MN1,t., m .. na verdade ai.t.harazn por IUQ& ..U..... cJe chA.o, n&o Nndo avlat&dom pelu banwlru que j6 Unham- montado'', ll&llentou .........

O retomo a Rullnp. Seca foi eom oab.J-­U"' de buac&nm M M?Mle•, K1rlam Trl·

noMk da Cuet.a, Ili, de Prep, ta menor A,rl.

......, comp&nbelra de º"· e Balela, que haviam dtlx&do na RodovtUl&. Ao entlr-'. dllcer cM MJd&.fetra, foram novamen~ aviat&dOll, Indo em ~&o do Paaeo ~ lloueao. onde •tavam acampadoe. ~ mekl de do1a heciar- oe canavt&lm. de pro. ~da Jt* PeNln. de Cutro, pai iie

~CO::·t!~ .. ~':1~· ,......., da bl&ac&. aJM.ndonar&m o Mo!IM cum a Chave na lpjçlo •com IRlprtmenlof • annu no porta.m&Ju, Próximo a locaJ.1. dade de Rlncl.o da Porta, atrave8Mlldo, em ,..wd&, numabalu, o Rio Jacui. lndo P~ o mUfticlplo de 4-udo· O b&Jaetro. Jo. .. PMlro Funlra. tamWm parente de ots. om1Uu a ~lo pua a Polkla, maa .. m NU poder foram encontradoe ai· llUJlM nol.atr de C&J 100,00 nuvu, prove· IÚ9ftl.ee do &eu.lto ao Baneo Merlcllofal da Ji.v. Protúlo AJVN. M Q.lumo dia 14,

J:Nrani. a nott.o, M b\l8CU f1c.&tan1 qua. .. que ptotblUVU, devlllll .. rnU COlldÍ çõee de vialbUld&d.. Mumo ...tm. wn snipo atnveuou cmn a b.ia& para AJudq, 11\M oe ••Ult&nt.a jA Uvtam retorna4q,

~l=~::r.c.:~~:.~ em ull' Clll&que, eM retorno &Oll canav~ ein P&HO do SoNego. Quuido runanht~U. oe pollc1&11. chellaOO. pelo Ten. PK Morei­ra. l'tzeram ume operaç&o pente fino nuf\11 mat.a,ailr, b maraons do R1o JacW •, l'­utavatn praticamente dealaUndo da ope­raç&o qu.&ndo Uveram aldt!ta de vaa.::!Utuif

:i::y~ J·az: ~::. ~=.~:i.~ tou Prego e Pedro Adtlar, quando Ht&· vam acordando, dobrando 011 colchonete• e Oll oobertore• cedidoa pelOI pailr de Olg Quando °' ba.ndidoe Mntlram·H encurra ladce, começaram a atirar; Pre10 ut.ova uWb.ando dolt revólveree callbre 38 •uma ucopet.o de trta ~. do1a para calibre 11 (balu de chumbo) • um calibre H. •n· qUBllto qU11 Al»Jar empwlh&va um Ili. Jrol nute confronto, que mDITW o Soldado PM Pedro Guilherme Serma. MM antn de •er atln&tdo. "ele matou um delu. proVl.vel ment.- o Pedro Adelar, Já que N.vla de.O.. crado toda.t M balam", ponderou o eoldado Ji.ntõnlo ArteteuCotta.

O Urotelo durou li minutos em bBl\dJdoe toram, duramente •UncldOll, tento morte lnalallt&.nea. Prego rec.beu 11 Urot e P .. dro Adelar quatro. Oul'aJlle a tn>ca lle tl· rvt, ~Iriam, a am9.llt& de Pre10. d•U.ou np e~. lendo capturada mtnutoe depolt, Mm ferimento. e rec:olhlda ao Pnaldlo Regional de Al\ldo. No meki da plantaç&o de cana, e PoUcla encoatrou um verdadel. ro anenal: urna eeaopeta, um• eepln«ar da callbrt1 28, trh revóJveret callbre 18, ume adap com flO eN1Umelrolr de llmlna, um punhal. uma faca cameadelra. l!O IMI:· la.aeallbrt188. lObaiu(&libre&2. 111certu. chOll earngadOll pa.ra arma eallbre lt ~om ballnt. 10 cartuctw. carn1adoe para 11.r mu calibre 12 com ballnli. alo'm dt !lllO cramu de maconha. O. corpos de PNigo, que utava com oa cabelo• oxlgenadot. e de Pedro Adelar, forem removldoft P•~• ~ lneutut" Médico LecaJ de Sa.nta Ma..i"k lendo, pmterlormen~. procurado.e ptloe f&mlllue• O rorpo de Pedro Adelar l'DI le·

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EUCLIDES RODRIGUES DE ASSIS - SOLDADO - 9 ~ BPM * 29 de dezembro de 1961 + 25 de março de 1988 (26 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante Geral da Brigada Militar, no uso de suas atriuições e de conformidade com o Art. 68 da Lei nº 7 .138 de 30 de janeiro de 1978, nº 4 do Art. 4º e nº 2 do Art. 8° do Decreto nº 30.618 de 30 de março de 1982, promove post mortem, à graduação de cabo PM, o extinto soldado PM Euclides Rodrigues de Assis, a contar de 25 de março de 1988." (Transcrito do Boletim Geral nº 096/88)

Euclides Rodrigues de Assis nasceu no município de Camaquã. Era filho de Oclides Rodrigues de Assis e de dona Olga Donay de Assis. Era pedreiro de profissão quando decidiu incluir na Brigada Militar. Morava em Gu3íba.

No dia 01 de setembro de 1983 foi apresentado na EsFECs como voluntário, aguardando inclusão.

Em março de 1984 concluiu o Curso de Formação de Soldado com a média 7.458. No dia 19 do mesmo mês foi classificado no 9º BPM, indo servir na 2° Cia PM.

Euclides sempre foi muito ativo, e em suas patrulhas não raras vezes tinha que engalfinhar-se com delinqüentes envolvidos em ocorrência. Em feve­reiro de 86 teve uma contusão no braço direito ao ser agredido numa ocorrên­cia de desordem na rua Riachuelo. Em abril, ao atender uma outra ocorrência, também por desordem e embriaguez, lesionou-se, tendo que s~ medicado no HPS. Em maio outra ocorrência e outra lesão levou-o ao Hospital, desta vez na rua Voluntários da Pátria, quando teve de desarmar um homem embria­gad :J que prometia matar ao primeiro que se aproximasse, tendo Euclides que fazer muita força para desarmá-lo e impedí-lo de praticar um ato desatina­do. Em julho, na Praça XV, mais uma ocorrência violenta onde participou sozinho contra dois baderneiros, teve contusão nos dois braços, mas mesmo assim não deixou de levá-los presos e lavrar o flagrante. Em outubro, na Av. Farrapos, ao atender uma ocorrência de furto, também sofre uma luxação no joelho que colocou-o fora do policiamento por quinze dias.

Estes relatos de acidentes são apenas uma pequena mostra de que Euclides nunca "refugou" qualquer tipo de ocorrência. Seu nome era muito conhecido no Centro por comerciantes, lojistas, taxistas de camelôs. Todos o respeitavam muito por ser um aguerrido.

Em novembro, reconhecendo sua capacidade de trabalho, o comandante do Batalhão publicou o seguinte louvor:

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"Por vir se destacando na apresentação pessoal, por sua pontualidade, por sua atuação nas ocorrências policiais militares, cumprindo fielmente todas as atribuições a ele conferidas com dedicação, iniciativa e criatividade, procu­rando sempre solucionar as ocorrências utilizando o bom senso, demonstrando assim equilíbrio, o que às vezes é difícil, face a interesses divergentes por parte dos envolvi­dos. O PM em tela em momento algum hesitou no cumpri­mento da atividade-fim (Pai Ost), mesmo que as ocorrências continuem após o turno de serviço, sempre soube resistir à fadiga, o que vem som'ar pontos positivos para a Brigada Militar."

No dia 11 de agosto de 1987 outra vez foi louvado, desta vez por atuação em uma ocorrência. Foi este o teor:

"Louvado por ter, no dia 05 de agosto ás 11 :50 horas aproximadamente, ter socorrido uma senhora em estado grave, levando-a até o Hospital, chamando um táxi pois se esperasse a viatura, talvez não tivesse tempo de salvá-la. Euclides com isto demostrou de forma brilhante sua iniciati­va, salvando a vida da senhora bem como a do bebê que estava em seu ventre, demonstrou ainda capacidade, grande espírito de solidariedade e humanismo, despreendimento e grande competência."

Assim era a vida de Euclides, que dia-a-dia conquistava o respeito e admiração de seus colegas e superiores, bem como das pessoas que o viam atuar em policiamento.

Em novembro de 1987 era classificado no comportamento Ótimo. Nem mesmo o fato de esta sendo distinguido em sua Unidade deixou

Euclides menos operacional ou mais vaidoso, suas atuações continuaram dentro da normalidade.

Porém, em março de 1988, a vida de Euclides foi interrompida, como não poderia deixar de ser, em uma ocorrência.

Eram 40 minutos do dia 25. Dois assaltantes tentavam assaltar a lanche­ria Sete Belo, na Praça Rui Barbosa. Estavam de serviço Euclides e o Cabo PM Elinton Damasceno. Ao abordá-los foram recebidos à bala. Os delinqüentes fugiram do local sem nada roubarem.

Euciides ficou ali, estirado. Sabendo da ocorrência acorreu ao local o Sargento Thomaz, que passava pela praça. Euclides foi levado às pressas para o Pronto Socorro, mas, não resistindo aos ferimentos, veio a falecer.

Euclides era casado há pouco tempo com a srta. Danila Griszewski de Assis, e tinha uma filhinha de um ano, de nome Suyan.

Todos que conheciam Euclides sentiram sua ausência a cruzar pelas ruas do Centro de Porto Alegre.

Todos sabiam o que Euclides representava para a segurança desta cidade violenta.

Prova disto é que enquanto seu corpo estava no Instituto Médico Legal, 86

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iso motoristas de táxi reuniram-se na Avenida lpiranga, com faróis e pisca-a­lertas ligados, aguardando a liberação do corpo para em cortejo acompanhá-lo em sua,última passagem pelas ruas do seu teatro de apresentações.

As 12:30 horas, num clima de muita emoção, e como reconhecimento do povo que o respeitava, os motoristas de táxi, representando todos aqueles que foram beneficiados pelos excelentes serviços de Euclides, acompanharam a viatura do 9º Batalhão que era precedida por dois batedores.

Foi um acompanhamento silencioso e sofrido, pois os motoristas de táxi que freqüentemente são vítimas de assaltantes estavam perdendo um grande guardião de suas seguranças.

O acompanhamento foi feito até a cidade de Guaíba, onde o corpo foi velado.

Às 17:00 horas o corpo foi levado para o cemitério de Barra do Ribeiro, onde foi enterrado com honras militares.

Euclides Rodriaues de Assis deixou uma marca profunda de exemplo, dedicação, carinho à sua profissão, amor às pessoas, respeito a seus colegas e superiores. mas deixou também sua esposa Danila e a filha Suyan, que sabemos sofre a cada dia tendo na lembrança o seu grande herói.

São homens como Euclides que nos ensinam, embora sua humildade, a sermos grandes, a olhamos a nossa profissão como um lenitivo de alegrias e realizações e, principalmente, a amar o nosso próximo.

Tenha certezá, caro amigo, que o 9º Batalhão e a Brigada Militar terão em tua imagem uma bandeira para seguir com muito orgulho.

LAURECI SILVEIRA PEDROSO- SOLDADO PM * 01 de outubro de 1963 - 15 ~ BPM + 28 de abril de 1988 (24 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

A 28 de julho de 1988, o Comandante Geral da Briga­da Militar, no uso de suas atribuições e de conformidade com o Art. 68 da Lei 7.138 de 30 de janeiro de 1978, nº 4 do Art. 4º e nº 2 do Art. 8º do Decreto nº 30.618, de 30 de março de 1982, promove post mortem, à graduação de Cabo PM o extinto Sd PM Laureei Silveira Pedroso, a contar de 28 de abril de 1988." (Transcrito do BG 133 de 18 de julho de 1988)

Laureei Silveira Pedroso nasceu na cidade de São Francisco de Paula e era filho de Oliveira Pedroso Filho e de dona Armelinda Silveira Pedroso. No dia 24 de outubro de 1885, com 22 anos de idade, inclui na Brigada Militar tendo sido apresentado na EsFECs para freqüentar o curso de forma-

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ção de soldado. Em abril de 1986 concluiu o curso de soldado, com média final 7,720.

Em razão da conclusão do curso, foi classificado para servir no 15º BPM na cidade de Canoas, conforme havia requerido. Por sua postura, discerni­mento e atuação nas ativk:lades de policiamento, Laureei, que havia sido ~ncluído na 1ª Cia PM, foi transferido para o Pelotão de Choque.

Em abril de 1988, contando portanto com dois anos e meio de serviço, e com uma ficha sem qualquer alteração, Laureei que destacava-se por suas atuações em policiamento tendo muita iniciativa, não deixava um detalhe sequer passar despercebido.

Naquele dia oito não foi diferente, e ao observar as atitudes suspeitas de um carro Monza parado em frente à agência do banco Unibanco na rua Pandiá Calógeras com BR 116, no bairro Niterói, passou a observá-lo.

Os ocupantes do Monza começaram a movimentar-se.Dois desceram e dirigiram-se à agência, permanecendo os outrôs dentro do carro. Laureei, não se contendo e com fortes suspeitas de que aquilo poderia ser um assalto, dirigiu-se ao Monza.

Ao chegar no carro, com a intenção de identificar os elementos, os mesmos assustaram-se. Confusos com a situação, tentaram sair do carro para quem sabe ficarem em melhores condições de atacá-lo.

Os outros dois, mais assustados ainda, percebendo o risco que corriam, voltaram-se contra Laureei e passaram a atirar com as armas que portavam.

Estava sendo frustrado mais um assalto a banco. Estava ali ficando mais um PM, agonizante. Os ocupantes do Monza

entraram no·carro e saíram em desabalada velocidade, tomando direção igno­rada.

Populares correram em direção a Laureei, para socorrê-lo. Uma peque­na multidão, alguns que assistiram a investida de Laureei, compadecidos, não entendiam a brutal idade daquele ato.

De imediato foi conduzido ao Hospital Nossa Senhora das Graças, na cidade de Canoas.

Seus colegas acorreram ao hospital para informar-se do ocorrido e ver Laureei. De imediato integraram-se aos colegas da 2ª Delegacia de Polícia de Canoas para sair à captura dos criminosos.

Laureei ficou no hospital, seu estado inspirava cuidados. Os assaltantes não deixaram nem rastro e, não bastasse a audácia de enfrentar um policial militar, ainda roubaram-lhe a arma.

Vinte dias se passaram e o nosso herói permaneceu ali brigando com a morte, sendo assistido permanentemente por seus colegas, que faziam vigí­lias e orações para que retornasse à vida e voltasse a ser aquele profissional vibrante e competente.

Naquele ano o 15º BPM não comemorou a semana do policial, pois esperava fazê-lo tão logo seu valoroso soldado se recuperasse.

Esta espera foi frustrada no início da manhã daquele sombrio dia 28 e, embora muita oração de seus companheiros de farda, familiares, amigos e povo em geral, Laureei suspirava e entristecia mais uma vez a família brigadiana.

Pelas investigações, há a hipótese de que Laureei tenha sido confun­dido com outro PM que matara em ocorrência o delinqüente de apelido

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"Pé Grande" Mas não importa se foi confundido ou não; o que importa é que nesta

profissão cruel e extremamente arriscada, nossos companheiros de dia-a-dia estão deixando familiares e ·amigos a sofrer por suas ausências, rechaçados brutalmente deste convívio pelo simples fato de que cumprem com seus de­veres.

Laureei tristemente vem somar-se à galeria dos mártires. Foi mais um que deixou sua marca de heróismo e destemor.

Aqui deixamos a nossa homenagem a mais este bravo soldado, que jamais será esquecido por aqueles que foram beneficiados com sua ação destemida, e por seus colegas que tanto o admiravam.

OSCAR DA SILVA - SOLDADO PM - 9 ~ BPM * 07 de agosto de 1966 + 06 de outubro de 1988 (22 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante Geral da Brigada Militar, no uso de suas atribuições, e de conformidade com o Art. 68 da Lei nº 7.138 de 30 de janeiro de 1978, Art. 4º, nº 4, Art. 28 e Art. 88 do Decreto nº 30.618 de 30 de março de 1982, promove post mortem, à graduação de Cb PM o extinto Sd PM OSCAR SILVA DA SILVA, RE 83.476.9, do 9º BPM, a contar de 06 de outubro de 1988." (BG 242 de 27 de dezembro de 1988)

Oscar Silva da Silva nasceu em Porto Alegre, era filho de Oscar Joaquim da Silva e de Catarina Oliveira da Silva.

Foi apresentado para inclusão no 9º BPM, em 06 de novembro de 1986. No seu Curso de Formação de Sold.ado PM, foi aprovado com média 8,196.

Oscar. aproveitando sua inteligência, associado ao amor que tinha pela Brigada, de imediato inscreveu-se para prestar exame de seleção ao Curso de Formação de Sargentos. O seu insucesso na seleção criou-lhe um certo desestímulo, pois sabia que com sua capacidade e inteligência pode­ria produzir mais como um graduado. Chegou a inscrever-se para um concurso no Banrisul.

Na verdade, não era aquilo que queria, tendo desistido de prestar concurso.

E, sua vida seguia dedicada a cumprir suas missões de policiamento e preparar-se para fazer outra seleção para o Curso de Sargento.

Oscar tinha vinte e dois anos. Jovem, e como todos nesta idade, cheio de ideais, na busca de conquistas e pensando que Deus iria recompensá-lo pela sua dedicação.

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Filho único de "seu" Joaquim e dona Catarina, dividia sua vida de casado com Maria Eni, e sua filhinha recém nascida. Oscar era um filho adorado, e um pai e marido extremoso.

Quando saía de casa, beijava sua filhinha e naquele beijo sonhava que ele teria um futuro brilhante e que jamais descansaria na profissão até atingir uma graduação ou um posto do qual ela teria maiores chances de poder crescer, sem as dificuldades comuns da família de um soldado.

Oscar sempre disposto, além de atender suas obrigações policiais­militares de escala, desempenhava também funções administrativas no seu Batalhão.

No dia 06 de outubro de 1988, uma quinta-feira, Oscar saiu do quartel na Praia de Belas, e foi ao Centro com algumas missões adminstrativas. Estas já estavam cumpridas e ele, feliz pela confiança que a Unidade deposita­va em si para o cumprimento de missões que o destacavam perante os demais.

Porém, naquela tarde, embora o sol radiante, a alegria de Oscar e o andar apressado dos portoalegrenses que faziam suas compras antecipando o dia da criança, Porto Alegre parou.

Eram 16 horas e trinta minutos. Oscar andava em passo acelerado, pois como um bom Policial Militar, não poderia parar ante as vitrines, nem encantar-se com as belezas e curiosidades que o Centro apresenta.

Mas Porto Alegre, naquela hora, parou. Uma marquise das Lojas Arapuã, localizada na rua Doutor Flores,

caiu, e muitos dos· transeuntes que ali passavam, ali ficaram sob os gritos e desespero. da população que, estarrecida, via vidas serem soterradas por um bloco de cimento.

Mas Oscar não parou. lmbuido de seu espírito brigadiano, e num relâmpago lembrando-se

de sua missão na terra com Policial Militar, de imediato jogou-se sob a marquise que despencava na tentativa desesperadora de salvar quem ainda não tinha sido atingido, e mesmo procurando salvar aqueles que ainda so­breviviam.

Que destino cruel. Oscar lutava com as forças que tinha para impedir o aumento da tragédia, quando um outro bloco caiu, fulminando-o.

Encerrava-se ali a carreira exitosa de mais um brigadiano. O povo que assistia estarrecido, vendo o heroísmo de Oscar, não

titubeou em correr ao encalço e num esforço desesperado tirar aquelas vítimas de sob os escombros.

Oscar morreu, porque viu quando caía a marquise, que ali estavam uma mãe e sua filha pequena, quatro anos, e num relance lembrou-se de sua mulher e sua filhinha, e ignorando o perigo tentou desesperadamente impedir que as duas, mãe e filha, interrompessem ali os seus sonhos - os mesmos sonhos que tinha para a sua filhinha. No total, nove pessoas morreram sob a marquise, e mais dez ficaram feridas. Foi uma tarde trágica, comovente e, tão importante como as demais vidas que ali pereceram, estava a vida de Oscar, entregue ao cumprimento do dever.

Naquele dia, todo o Estado chorou. Chorou pelos homens, pelas mulheres e pelas crianças mortas tão

brutalmente. Mas chorou também, porque ali sob os escombros havia tombado mais um herói, que não era um simples passante, mas um profissional que 90

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fazia de sua profissão a sua vida, e que a tinha entregado para salvar a de seu semelhante.

Oue linda e nobre missão! E o povo reconheceu, e chorou. No dia 08 de outubro·, o jornal Zero Hora registrou assim o enterro

do soldado Oscar:

SEPULTADO COM HONRAS DE HERÓI

Com honras de herói, foi sepultado às 10h30min de ontem, no Cemitério da Santa Casa, o soldado PM OSCAR SILVA DA SILVA, 22 anos, morto no desabamento da marqui­se da Loja Arapuã. Ele foi esmagado quando socorria algu­

rnasdas 20 pessoas igualmente atingidas pela chapa de con­creto. Oito das quais tiveram o mesmo destino de Oscar. O soldado, que há dois anos se incorporara à Brigada Mili­tar, prestava serviço no 9º BPM, e sua ficha funcional não tinha nódoas, segundo informou o tenente Andrade, do Gabi­nete de Assuntos Civis da Unidade.

A cerimônia, à qual estavam presentes o tenente­coronél Eugênio Ferreira Filho, comandante do 9º Batalhão, e mais de uma centena de colegas de farda de Oscar, foi marcada por uma salva de tiros de fuzil, disparados por 10 homens à passagem do caixão em direção ao jazigo número 38.651 onde ele foi colocado sob o toque de silên­cio, executado pelo soldado Pegoraro. O PM Oscar era filho único do casal Oscar Joaquim da Silva e Catarina Oliveira da Silva. Tinha como companheira Maria Eni do Nascimento, que durante o enterro de Oscar, sofreu um desmaio do qual levou algum tempo para recuperar-se. O casal teve uma filha nascida há 40 dias ... "

Um bloco frio e trágico impediu que quase uma dezena de pessoas prosseguissem suas vidas de alegrias, ideais, conquistas e esperanças. Impediu também que Oscar, um excelente soldado, pudesse rever sua pequena filha e sua mulher.

Foi mais um herói, rotina para a Brigada Militar, mas incompreensível para qualquer ser vivente.

Oscar, nós brigadianos que ficamos, reverenciamos tua imagem, e por mais que os anos passem, cada marquise que nos abrigar da chuva e do sol estará abrigando a tua heróica imagem. Estás ao lado de Deus, e temos certeza que daí onde estiveres, tu continuas como nosso guardião.

Nossa homenagem e gratidão serão eternas.

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Sepultado com honras de herói Com honras de herói, foi sepultado às

10h30mln de ontem, no cemitério da Santa Casa, o soldado PM Oscar Silva da Silva, 22 anos, morto no desabamento da marquise da loja Arapuã. Ele foi esmagado quando socor­ria algumas das 20 pessoas igualmente atingi­das pela chapa de concreto - oito das quais tiveram o mesmo destino de Oscar. O soldado, que há dois anos se incorporara à Brigada Militar, prestava serviço no 9º BPM, e sua ficha funcional não tln!:a nódoas, segundo Informou o tenente Andrade, do Gabinete de Assuntos Civis da unidade. Oscar não estava de serviço, tinha ao centro pagar algumas contas.Éoquartohomemqueo9ºBPMperde, em atividade Inerente à função, .este ano.

A cerimônia, à qual estavam presente o

tenente-coronel Eugênio Ferreira da Silva Filho, comandante do 9°, e mais de uma centena de colegas de farda de Oscar, foi marcada por um salva de tiros de fuzil dispa­rados por 10 homens à passagem do caixão em direção do jazigo número 38.651, onde ele foi colocado sob o toque de silêncio, executado pelo soldado Pegoraro. O PM Oscar era filho único do casal Oscar Joaquim da Silva e Catarina Oliveira da Silva. Tinha como com­panheira Maria Eni do Nascimento, que, durante o enterro de Oscar, sofreu um des­maio do qual levou algum tempo para recul>(l­rar-se. O casal teve uma filha nascida há 4(J

dlas. Embora o casamento não tenha sido oficializado, os direitos da viúva estão assegu· rados, segundo o tenente Andrade.

Emoção no adeus para mãe e filha Muitas pessoas compareceram às 15h de

ontem,aoCemitérioSão:MigueleAlmas,para o sepultamento de Thais Helena Aché Garcez, de 28 anos, e Jeniffer Garcez da Silva, de quatro anos - mãe e filha - duas das vitimas do desabamento da marquise da Loja Ara­puã.

O irmão de Thals e tio da menina Jeniffer, Hllton Luís Ache Garcez, de 32 anos, estava muito amargurado. Ele contou que uma hora antes do acidente, esteve com elas numa locadora de vídeo. Disse que sua irmã não

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gostava de andar no centro da cidade pelo grande fluxo de pessoas que sempre há. Mas como recentemente havia se formado em Direito, Thais precisava entregar seu currí­culo no Juizado de Menores para concorrer a uma vaga. Hllton disse que ela queria ir sozinha, mas a menina insistiu em ir junto com a mãe. Ele nem sabe se Thais chegou ou não entregar seu curriculo. O certo é que ambas morreram quando estavam na fila da lotaç&.o para voltar para casa.

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EVERTON DE MORAIS DANERES - SOLDADO PM 28 de dezembro de 1964 - 6 ~ RPMon 18 de janeiro de 1989 (25 anos)

Não possuindo maiores dados de caserna sobre o soldado PM Everton, embora solicitados à sua OPM de origem, passo a referir apenas o que constou no jornal "Correio do Sul", e Jornal Zero Hora, o primeiro de Bagé, o segundo de Porto Alegre, encaminhados para a viúva de Everton, Sra Sandra Mara Soares Daneres.

O CORREIO DO SUL, publicou assim a morte do soldado Everton:

':.. O soldado PM Everton de Morais Daneres, de 24 anos, do 3 ~ Esquadrão de Polícia Montada, sediado em Bagé, foi assassinado ontem à tarde, com uma faca, por Liodo­nardo Menezes da Silva, de 18 anos. O fato ocorreu entre as 15 e 16 horas nas proximidades da Justiça do Trabalho, na confluencia das ruas Fabricio Pillar com Bento Gonçal­ves. Testemunhas afirmaram que o soldado estava de servi­ço naquela região. Ele observou Liodornado, que vinha com um pacote em baixo do braço e resolveu abordã-lo. Sem nenhuma palavra, o rapaz desferiu uma facada no abdomen do soldado que caiu ao solo. Passava pelo local Everton Santos Brinhol, que perseguiu Liodonardo, mas acabou tam­bém sendo agredido com um soco. Populares se mobilizaram na caça contra o agressor e acabaram detendo-o a poucos metros dos fatos, esquanto o soldado PM era encaminhado ao Pronto Socorro, onde veio a falecer.

O Delegado Cabrera, respondendo pelo 1 ~Distrito, ain­da ontem à tarde ouviu o assassino. Segundo o policial, o rapaz apresenta sinais de debilidade mental, pois não concatena as respostas. Foi lavrado flagrante e depois ele foi recolhido ao Presídio Regional".

O Jornal ZERO HORA, registrou assim o ocorrido: ':..Ao tentar revistar um suspeito, na esquina das ruas Fabri­cío Pillar e Bento Martins, próximo à Justiça do Trabalho, em plena tarde, o soldado PM Everton de Moraes Daneres, 24 anos foi assassinado com uma facada no abdomen, desfe­rida pelo rapaz interpelado, Liodonardo Menezes da Silva. O autor do crime foi detido pelo senhor Claudiomar da Silva Pereira. O Delegado de Bagé Newton Nunes Cabrera, apurou que o soldado Everton desconfiou de um pacote

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que Liodonardo carregava e resolveu revistá-lo. De surpresa, o rapaz, que segundo a polícia demonstra sinto­mas de debilidade mental, esfaqueou mortalmente o briga­diano. Este chegou a ser levado ao Hospital São Sebastião, mas já estava morto. O assassino detido, foi entregue a polícia. Autuado em flagrante, o homicida foi recolhido ao Presídio Regional."

Everton serviu à Brigada Militar apenas dois anos e um mes, e quando ocorreu o assassinato, conforme informou sua esposa Sandra, Everton prepa­rava-se para prestar exame de seleção ao curso de cabos.

Ao solicitar por carta dados sobre o soldado Everton à sua esposa, a mesma enviou os recortes de jornal, transcritos, e outras informações, tais como as desatenções da Brigada Militar, com a morte de seu marido. A ressalva que faz, é que na Unidade (6? RPMont) foi muito bem atendida quando do fato, mas no QG, conforme diz ela, é jogada de um lado para outro para resolver sua questão de salário, que deveria ser integral por ter a morte sido em serviço, e ainda na graduação de cabo PM, porém passados quase dois anos, o caso ainda não foi solucionado, e parece que ninguém tem interesse de resolver pelo que diz ela.

- É vergonhoso que se tenha que tomar conhecimento de fatos desta natureza, quando numa situação destas a Unidade teria que designar um oficial com dedica'tão exclusiva para solucionar junto ao Estado Maior este tipo de situ.ação. No entanto, pela súplica da Senhora Sandra na carta, o caso foi encaminhado ao Movimento Assistência da Brigada Militar (MABM), que esperamos, a estas alturas o problema já tenha sido resolvido.

O caso do soldado Everton, relatado por Sandra, não é o único entre os policiais mortos em serviço, por esta razão, aproveito este documentário para alertar aos comandantes de Unidade da atenção que devem dar aos seus subordinados que perecem no cumprimento do dever.

Com este alerta estamos prestando nossa homenagem ao soldado Ever­ton, que com sua juventude e muitos sonhos, tombou para fazer crescer ainda mais o conceito da Brigada Militar, como uma organização guerreira.

GERALDO ROGE LOPES SOARES- SOLDADO PM 24 de outubro de 1968 - 2? BPM 22 de fevereiro de 1989 (21 anos)

Geraldo Roge Lopes Soares, nasceu na cidade de Encruzilhada do Sul e era filho do senhor Mario Mota Soares e de dona Santa Nadir Lopes Soares.

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Incluiu na Brigada Militar no 2 ~Batalhão de Polícia Militar na cidade de Rio Pardo no dia 27 de julho de 1987.

Após a conclusão do Curso de Formação de Soldado PM, foi designado a servir na cidade de Dom Feliciano. No dia 22 de fevereiro ao ser solicitado a atender uma ocorrência que parecia corriqueira, pois tratava-se de uma desordem em bar, ao chegar para atender a dita ocorrência, foi recebido à bala por marginais desconhecidos, que depois de alvejá-lo desapareceram do local sem serem encontrados.

Geraldo, muito ferido, foi conduzido ao Hospital da Brigada Militar em Porto Alegre, porém, não resistindo aos ferimentos e com apenas vinte e um anos de idade, deixava a corporação com o saldo de mais uma vítima da violência incontrolável dos homens.

A nossa homenagem a mais este jovem que, embora seu pouco tempo na Brigada, deixou em sua ficha alguns louvores por ser um profissional atuante e responsável.

GILBERTO CORRÊA- SOLDADO PM -1 ~ Cia PM lndep. * 09 de fevereiro de 1967 + 22 de março de 1989 (22 anos)

Gilberto Corrêa, nascido na cidade Santo Ângelo, no dia 09 de fevereiro de 1967, filho de Pedro Dachelas Corrêa e de Odete Corrêa, incluiu na Brigada no dia 13 de outubro de 1987, com 20 anos de idade.

Sua inclusão foi na 1 ~ Cia PM Independente em Santo Ângelo. Gilberto chegou a servir um ano e cinco meses, sem que sua ficha apresentasse qualquer alteração de conduta na Unidade, constandoapenas um louvor, cujos motivos não constam em seu assentamento. No entanto, o que se sabe é que Gilberto era muito ben quisto por seus colegas e superiores, pois embora sua pouca idade era de extrema responsabilidade, vontade de vencer e co­ragem.

Foram estas virtudes que o conduziram àquele derradeiro dia, quando mesmo de folga, vendo seus colegas envolvidos em uma difícil ocorrência, não titubeou e lançou-se por inteiro na defesa de seus companheiros.

Tudo começou por volta das 2:00 horas do dia 22 de março, quando quatro assaltantes atacaram o cidadão João Dirceu Braz, roubando-lhe 75 cruzados novos. Braz informou a Brigada Militar, que deslocou para a Vila Hortência uma dupla de PM que fazia a ronda na Vila Pippi.

Lá os assaltantes foram localizados, e uma primeira troca de tiros aconteceu, pois os assaltantes estavam armados com uma espingarda Winches­ter e revólveres.

Gilberto que estava de folga, passando pelo local, juntamente com sua esposa, resolveu dar uma ajuda aos companheiros na captura dos assaltan­tes. Nessa troca de tiros inicial, foi ferido mortalmente, vindo a falecer

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,?ntes de dar entrada no Hospital Santo Ângelo. Um reforço maior solicitado a Brigada Militar, e iniciava uma caçada que só terminaria às 8:29 horas da manhã.

Com a ação da Brigada auxiliada pela Polícia Civil, após um grande cerco feito na Vila Hortência, onde se refugiaram os assaltantes assassinos, foram capturados dois dos criminosos, Milton Padilha Fraga, o "Fraguinha", e Paulo Cézar Silva, sendo que o mais perigoso, que estava de posse da Winchester - Paulo Cesar de Souza Mello, vulgo "Mangola" - s6 parou quando foi atingido mortalmente pela patrulha. O outro, menor, conhecido por Burro, fugiu, não sendo localizado.

Gilberto vivia com Helenita Alves de Jesus, com que pretendia se casar em breve, para oficializar sua situação e poder pensar em filhos, confor­me relata seu pai, senhor Pedro, em carta, na qual cita também que muito embora a atenção dispensada pela Brigada por ocasião de sua morte, até agora ainda não ficou solucionada a situação de ganhos por morte em serviço, da qual sua companheira exerceria os direi tos.

Gilberto pensava naquela ano fazer exame de seleção para o Curso de Sargentos, porém foi impedido pelo seu espírito corporativo e de cole­guismo.

Reconhecendo a valorosa atitude de heroísmo demonstrad~.por Gilberto em defesa de seus colegas, o seu comandante, então Major PM Janot Marques de Oliveira, publicou um Louvor Port-Mortem nos seguintes termos:

"Como é do conhecimento de todos, cabe a mim por questão de justiça, documentar a atitude heróica do Sd PM Gilberto Corrêa, RE 84 302,4 desta OPM, o qual na madrugada do dia 20 de março de 1989, tombou numa ocorrência policial em defesa da sociedade santoangelense, perdeu a vida ao prestar apoio a colegas que, em árdua missão, tiroteavam com quatro marginais fortemente arma­dos, que, sendo em menor número, passavam por momentos difíceis. Que exemplos como este de camaradagem, bravura, galhardia e serenidade e bem cumprir o juramento prestado quando de sua formatura, diante da Bandeira Nacional, não pode ficar somente em nossas memórias. Que este docu­mento seja publicado e posto em destaque, para que seja exemplo para seus colegas de farda, de que um bravo PM tombou ao lado de seus companheiros, demonstrando ser fiel ao compromisso de dar segurança à sociedade, e ser amigo em todos os momentos."

Este reconhecimento de seu comandante é entendido por todos seus companheiros, que ficaram nesta luta diuturna de dar segurança. Sua morte não foi em vão, pois ficou na memória de toda a Brigada este espírito altruís­tico de amor à farda. Caro companheiro Gilberto, Santo Ângelo e o Rio Grande te agradecem por esta lição de amor.

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Gilberto quando de sua formatura no CFSdPM (1988)

2 mortos no duelo PMs x marginais

A Rua Tenente Fidélis uma ªJuda au~ "''""t'"~ uma vez registra as difi­

culdades que a lei tem en­contrado para deter a cri­minalidade.

na Vila Hortência, em Santo Ângelo, foi palco de um intenso tiroteio na madrng,:1.da da última se­gunda-feira, em caçada policial que resultou na morte do soWado Gilber­to Correa, da Brigada Mi­litar, e Je Paulo Cezar Souza Melo, "o Mango­la". Foi ferido o assal­tante Milton Padilha Fra-

nheiros na captura dos assaltantl!S. Nessa troca inicial de tiros, foi feri­

do mort;hnente, -fãTeCen: do antes de dar entrada no Hospital Santo Ânge­lo. Um reforço maior foi solicitado para a Brigada Militar, e iniciava uma caçada que só terminaria às 8 e 20 da manhã.

O Major Janot, coman­dante da Cia. End. da Bri­gada Militar, destacou que o soldado estava há

João Braz (bolsa embaixo do braço) foi roubado em 75 cruzados.

ga, ainda internado no Hospital Santo Ângelo, e preso, Pau lo Ce­zar Silva, que resolveu se entregar. Um quarto ele­mento que participou do assalto, Zilmar Melo, o .. Burro'", acabou fugin­do.

Tudo começou por vol­ta de 2 horas Ja segunda­feira, quando os quatro assaltaram o cidadão João Dirceu Braz, roubando 75 cruzados novos. Braz in­formou à Brigada Militar, que deslocou para a Vila Hortência uma dupla de PMs, l.flle já fazia a ronda 01 Vila Pippi. Os assal­tantes foram localizados, e wnc. primeira troca de tiros aconteceu, pois es­tavam armados com es· píngard<i Winchester e revólveres. O soldado PM Gilherto Conea <.J.UC esta­va de folga, p~.ssando re­lo loca!, juntamente com a esposa, resohcu dar

Um dos assaltantes, o "Burro " fugiu para WlS

matos próximos ao Semi­nário, e não foi encontra­do. Já os outros três, re­fugiaram-se na casa 612, na Tenente Fidélis, na Vila Hortência. A casa lo­go foi cercada pela polí­cia civil e pela Brigada Militar. Duas crianças e um casal foram liberados pelos assaltantes, que prometiam resistir à ten­Ultiva de captura. Atingi­do por uma bala de raspão na cabeça, Milton Padi­lha Fraga, se entregou, e foi hospitalizado. O "Mangola" respondia ao fogo, e acabou sendo atingido por uma bala na cabeça, morrem.lo dentro da casa.

Escondido no teto da cada, Paulo Cezar Silva, cambém se entregou.­

O 1.lclgaJo ">ergio Mou­ra Silvctra, lamentou pro­fundamente a morte do ~ol<laJo PM, que mais

Delegado Sergio e Capitão Seoane no palco dos acontecimentos

Multidão acompanhou tiroteio e mor!E;!S.

Soldado Gilberto

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MARIO EDSON NORONHA DE SOUZA - SOLDADO PM -15 ~ BPM * 16 de agosto de 1965 + 07 de abril de 1989 (24 anos)

Mário Noronha,· nasceu na cidade de Porto Alegre, era filho do senhor Mario Outra de Souza e de dona lsolina Noronha de Souza.

Incluiu na Brigada Militar no dia 17 de outubro de 1985, na Escola de Formação de Cabos e Soldados, sendo que tão logo concluiu o CFSdPM, em abril de 1986, foi classificado no 15º BPM com sede na cidade de Canoas.

Noronha foi designado a servir na cidade de Alvorada, onde residia com seus pais. Durante os seus três anos e cinco meses que serviu à Brigada Militar, demonstrou dedicação e preparo técnico, constando em sua ficha dois louvores pelo seu desempenho em policiamento.

Era jovem e como tal usufruia das aventuras de sua idade, vivendo as belezas de sua geração na garupa de uma moto. Como era seu meio de transporte, usava-a tanto para se divertir como para deslocar-se ao seu local de trabalho.

E foi num dia em que após suas cansativas seis horas em um setor, o qual cumpria a pé, e que cujo horário o recomendavam a recolher-se, pois já passava da meia noite, Noronha subiu em sua moto e dirigiu-se para casa.

Quando deslocava-se pela Av. Presidente Getúlio Vargas, para sua residência conduzindo a motocicleta Yamaha 125 cc de Placas PZ 334, foi abalroado pelo condutor do veiculo placas AZ 6882 Marca Opala, que fugou do local, sendo o soldado Noronha, socorrido por populares e encaminhado ao local.

Tão logo chegou ao hospital de Alvorada, por aquele Nosocômio não apresentar as condições de emergência para atendimento, foi removido para Porto Alegre, no Hospital Cristo Redentor. O soldado Noronha sofreu trauma­tismo craniano e outras lesões generalizadas pelo corpo.

O fato ocorreu no dia 03 de abril, tendo ficado no hospital até o dia 7 de abril, quando veio a falecer. O carro que provocou o acidente, havia sido furtado naquela noite do senhor Paulo Ricardo Paim, residente na rua Alzira 194, apartamento 302.

As pessoas que socorreram o soldado Mario Noronha foram os senho­res Carlos José e Moacir Ketzer, aos quais fazemos este registro, agradecendo todo o empenho que tiveram, demonstrando espírito de humanismo e respeito pelo ser humano.

Fazemos a nossa homenagem ao soldado Noronha, que mesmo sua morte não sendo em serviço, seu espírito que sempre esteve voltado à opera­cionalidade, proporcionou que fosse elucidado mais um caso de furto de veículo, mesmo que isso tenha lhe tirado a vida.

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HÉLIO HORST DA SILVA-SOLDADO PM-15~ BPM * 12 de abril de 1951 + 08 de outubro de 1989 (38 anos)

Hélio Horst da Silva nasceu na cidade de São Pedro do Sul e era filho do senhor Genésio Ferraz da Silva e de dona Armanda Horst da Silva. Incluiu no 3° Batalhão de Polícia Militar no dia 09 de maio de 1978.

Hélio cumpriu na Brigada Militar o tempo de 11 anos, 04 meses e 29 dias, sendo que em maio de 1983, ou seja, cinco anos após servir ao 3° BPM, foi transferido para o 15º BPM, onde permaneceu até falecer.

O inusitado da ficha do soldado Hélio é que em todo o tempo que prestou serviço às duas OPM, não consta nenhuma punição. Há, no entanto, dois louvores.

Fomos à procura de informações, para verificar se realmente o que era passado pelos assentamentos espelhava a realidade de sua carreira.

Não q· e desconfiássemos da veracidade dos registros, mas porque invariavelmente um soldado novo, até por sua inadaptação ao corpo de tropa, ou mesmo aos costumes de caserna, acaba cometendo falhas que redundam em punições, embora brandas, mas punições.

Pois na ficha de Hélio nada constava. Nas informações obtidas, verificamos que realmente o soldado Hélio

era um exemplo de cidadão, que caberia muito bem dentro de um uniforme prussiano, dada a SlJa disciplina e rigidez que se auto-aplicava. Era muito admirado e respeitado por seus colegas, que viam nele um oficial fardado de soldado.

Desempenhava sua função junto a uma escola de primeiro grau no município de Gravata[ (não foi citado o nome}, onde sabia-se por informações que se por acaso o soldado Hélio não comparecesse os professores nega­vam-se a dar aula, pois além de ficarem inseguros, ainda correriam o risco da saída das aulas com referência às crianças.

Professores e alunos adoravam o soldado Hélio, que chegou a ser premiado pelo seu desempenho junto às crianças.

Porém, no dia 04 de outubro de 1989, a sorte lhe foi madrasta, e após realizar a segurança das crianças da escola, deslocando-se para sua residência na Avenida Centenário, foi atropelado por um ônibus da empresa Sogil.

De imediato foi conduzido ao Hospital Dom João Becker, onde recebeu os primeiros socorros; no entanto, devido à gravidade dos ferimentos, teve que ser removido ao Hospital de Pronto Socorro em Porto Alegre.

Dado à gravidade de seus ferimentos, e como a parte mais atingida foi seu crânio, onde houve traumatismo, veio a falecer horas depois.

O soldado Hélio deixou uma marca indelével que dificilmente será superada: a de cumprir 11 anos de serviço sem ser punido uma única vez.

Sua ficha é um motivo de orgulho para seus familiares e par~ seus comandantes, tanto o do 3º BPM, como o do 15º BPM, que tenho certeza manterão na lembrança por muito tempo a imagem daquele soldado firme, disciplinado, cumpridor de seus devedores e um exemplo para quem o co­nhecia.

Por esta razão prestamos nossa homenagem a este grande soldado. 99

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GLÊNIO RENATO DA SILVA PRIETTO- SOLDADO PM * 06 de agosto de 1966 - 1 ? RPMon + 12 deoutubro de 1989 (23 anos)

GLÊNIO incluiu na Brigada Militar no 1º Regimento de Polícia Montada, na cidade de Santa Maria, em agosto de 1986. Efetuava serviço de Patrulha­mento Moto .

. No dia 12 de outubro de 1989, quando efetuava patrulhamento em sua área de fiscalização, sofreu um acidente sendo que sua moto foi atingida por outro veículo, que não foi identificado, deixando-o estirado no asfalto.

Foi recolhido por um cidadão que passava ao local, que o conduziu ao hospital e após comunicou o fato à Brigada Militar.

Quando chegou ao hospital, nada mais podia ser feito,poisos ferimen­tos eram generalizados, e o soldado Glênio não resistindo veio a falecer.

Até hoje não se ficou sabendo quem provocou a morte deste jovem soldado, que chegou a cumprir em sua Unidade o curto espaço de um ano e três meses e vinte e quatro dias de relevantes serviços prestados à segu­rança.

Ao soldado Glênio, a nossa homenagem e reconhecimento.

JOSUÉ DIAS MAZIM - SOLDADO PM - 8? BPM * 1966 + 1990 (24 ANOS)

Mai:ii:p nasceu em Canoas, em 1966. Era filho do senhor Mário Mazim e de dona Conceição Dias Mazim. Incluiu na Brigada Militar no ano de 1989, no 8° Batalhão de Polícia Militar.

Segundo relata seu comandante, era um excelente soldado: prestativo, dinâmico, disciplinado e de um comportamento exemplar.

Por ser um soldado novo, Mazim estal(a sempre procurando saber mais sobre sua profissão. Freqüentemente era encontrado nas seções do Estado Maior da Unidade, perguntando como se fazia tal documento, como se encaminhava um requerimento, ou então como se fazia uma escala da de serviço.

Estas questões estavam ligadas à sua preocupação em desenvolver-se profissionalmente e habilitar-se ao Curso de Cabo futuramente.

Esta sua curiosidade levava-o sempre a estar presente nasimediações da guarda do quartel ou da guarnição de serviço. Em uma dessas oportunidades, um outro colega seu mais antigo, durante a rendição de serviço da guarda do quartel, ao mostrar-lhe como manuseava a arma, demonstrando os cuidados que deveria ter, por uma daquelas coisas que acontecem, das quais não encontramos explicação, a arma veio a disparar, atingindo o soldado Mazim.

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Nesta oportunidade Mazim aguardava uma viatura que o levaria até seu setor de policiamento no centro da cidade.

O fato se deu no dia 18 de janeiro de 1990. Mazim morreu, e ficou na Unidade um vazio, que além de estar na

Unidade um pequeno efetivo em razão da Operação Golfinho, os demais que ali se encontravam ficaram perplexos, não entendendo o que o havia acontecido e perdendo naquele dia todo o estímulo para prosseguirem em suas tarefas.

. Não houve uma maior culpa de seu colega, apenas descuido, porém ele foi fatal.

Ficou para todos a lição de que por mais que sejamos hábeis e denomi­nemos tecnicamente o material que nos é dado a trabalhar, nunca devemos expor nossas vidas e de nossos companheiros com demonstrações, principal­mente com armas.

Rendemos a nossa homenagem a este jovem soldado, que foi levado pelo seu interesse e amor à profissão que havia abraçado.

JOÃO GARDINO DA CRUZ - SOLDADO PM * 29 de janeiro de 1941 + 01 de outubro de 1970 (29 anos)

João Gardino nasceu na cidade de Palmeira das Missões, e era filho do senhor Venânio Gardino da Cruz, e de dona Maria Luiza da Cruz.

Incluiu na Brigada Militar no dia 01 de março de 1962, com 21 anos de idade, no 2º Batalhão Policial, com sede na cidade de Santa Maria. Em maio do mesmo ano, foi transferido para o 1° BP, em Porto Alegre. Em sua ficha consta o registro de vários louvores por sua abnegação ao serviço. No dia 23 de julho de 1965, contraiu matrimônio com a srta. Denise de Lourdes Souza Moreira.

Passou, na Unidade, por diversas funções, como integrante da Compa­nhia de Comando e Serviço, e em todas as seções onde esteve, aprovisio­nadoria, secretaria e ajudância, foi louvado por sua atuação.

Em junho de 1967, foi transferido da Companhia de Comando e Serviço, para a 3ª Companhia.

Justamente neste ano a Brigada Militar iniciava a fazer o policiamento ostensivo, ou seja policiamento de rua. Como era um fato novo na vida da Corporação, muitas eram as solicitações de serviço. Houve até um convênio com o Banco Central, que forneceu viaturas equipadas à Brigada Militar, em troca de vigilância nas agências bancárias. Era mais um serviço de utilidade pública, que durou muitos anos, e é de nosso conhecimento, que enquanto foi fornecido este tipo de policiamento, não houve nenhum assalto a banco.

João Gardino foi um dos indicados a atuar nesse tipo de serviço, que acima de tudo necessitava muito tirocínio, cuidado e atenção. Por três anos Gardino atuou junto aos bancos, onde passou a ser muito conhecido e admirado pelos clientes, que já o conheciam pelo nome.

No dia 01 de outubro de 1970, estava de serviço junto ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul, agência Tristeza.

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Por volta das 15:30 horas começou uma chuva forte, daquelas chuv;:i.s de meia estação, que vêm uma enxurrada e logo passa. Gardino, que estáva em frente ao banco, conversando com um amigo que se dirigia àquela agência, ao sentir que iria molhar-se, correu para abrigar-se sob a marquise daquele estabelecimento.

Ao subir os degraus, Gardino escorregou, e a arma que portava, uma espingarda calibre 12, caiu detonando e atingindo-o no lado direto do tórax.

Um outro soldado PM que encontrava-se de serviço no setor próximo dali, ao ouviJ o tiro, correu para ver o que acontecia, tendo se deparado com seu companheiro e amigo caído.

· De imediato providenciou na locomoção de Gardino ao Hospital de Pronto Socorro, no entanto, no caminho daquele Nosocômio, não resistindo aos ferimentos que foram profundos, o nosso amigo veio a falecer.

João Gardino atuou na Brigada Militar, por oito anos e sete meses, e qurante este tempo manteve uma conduta exemplar, não constando em sual ficha uma punição sequer, porém muitos louvores.

Deixou em sua Unidade e Corporação muitos amigos que até hoje lembram do grande profissional que foi este bravo soldado, a quem rendemos nossa homenagem.

JOSÉ OTÁVIO HECK DIAS - SOLDADO PM - 15 ~ BPM * 10 de junho de 1965 ~ 20 de outubro de 1989 (24 anos)

José Otávio nasceu na cidade de Porto Alegre. Era filho de Aramis Dias e Maria Helena Heck Dias. Com 19 anos de idade, com muito vigor e com um ideal definido, decidiu incluir na Brigada Militar.

Foi em novembro de 1984, no dia 20, que eufórico recebeu a notícia que havia sido aprovado no exame de seleção, e que deveria preparar-se para incluir no 4 ~ Regimento de Polícia Montada. A princípio estranhou, porque uma unidade de cavalaria, pois havia sido criado na cidade grande e jamais havia montado um cavalo, mas ... como entrar para a Brigada era o que mais queria, isto não seria empecilho e nem lhe tiraria a alegria de ser um Policial Militar.

No dia 26, chegou ao RBG, um pouco confuso com toda aquela movi­mentação, normal em uma unidade de cavalaria.

Foi mandado se apresentar no almoxarifado e apanhar o seu primeiro fardamento, o macacão ou sunga, como é conhecido na caserna, peça esta que ostentava com muito orgulho por entre as passarelas do Regimento.

Em janeiro de 1985 iniciou seu curso de formação de soldado, que durou até junho, sendo designado para servir no 2 ~ Esquadrão.

Sua vida de cavalariano, pelo menos as botas assim o identificavam, durou exatamente dois anos, tendo em 27 de janeiro de 1988 sido transferido

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para o 15 ~ BPM, a pedido. Aí sim, sentia-se mais à vontade, pois pelo menos não precisava usar

botas, e iria fazer o que sempre sonhou: ser um Policial Militar de rua, executante do policiamento ostensivo.

Sua alegria era tanta que até resolveu casar-se o que fez em 12 de novembro de 1988.

Tudo que fora programado para José Otávio estava dando certo, pelo menos até o dia 20 de outubro de 1989. Foi neste dia que a tragédia tomou conta da família Dias. Às 22:00 horas, quando executava serviço juntamente com outros dois companheiros, fôra solicitado a atender uma ocorrência de rua. Ao chegar ao local do fato, alguns desordeiros, pressentindo a presença dos PM, dispararam em desabalada corrida, sendo perseguidos por José Otávio e seus companheiros.

Quando já estavam no encalço dos fugitivos, um deles virou-se para trás apontando um revólver e disparou.

O projétil foi encontrar o peito de José Otávio, que ainda esboçou alguns passos, mas não agüentando, caiu.

Seus companheiros, vendo-o caído, pararam para tentar socorrê-lo, ;gnorando os IJalinqüentes.

Mas tudo foi em vão. E ali mesmo, nos braços dos companheiros, José Otávio deu adeus

a uma vida jovem, ao casamento de um ano e seus pais Aramis e Maria Helena. ·

A bala transfixou pulmão e coração, e a hemorragia não deu-lhe muita chance de socorro.

O fato ocorreu em Guaíba, onde já morava com sua mulher, o foi também lá que, com honras militares de praxe, a sepultura de número 603 do cemitério municipal de Guaíba guardou os restos mortais de mais este jovem que deu seu sangue e sua vida para tornar-se mais um mártir da agressividade, da revolta e da desumanidade que há entre os homens.

Descanse em paz, José Otávio, e quando à beira do rio Guaíba o sol se pôr, estará sempre nascendo uma estrela que guiará os teus compa­nheiros que aqui ficaram para dar seguimento ao trabalho que sempre so­nhastes.

PEDRO NIRTON ANDRADE - SOLDADO PM- BPRv • 18 de outubro de 1969 + 04 de março de 1990 (20 anos)

Nirton incluiu na Brigada Militar, no dia 20 de junho de 1989, no Bata­lhão de Polícia Rodoviária. Seu ingresso na Corporação, deu-se quando tinha19 anos de idade. Tão logo incluiu, foi designado a servir no Pelotão Ro­doviária de Portão.

No dia 02 de março de 1990, após participar de uma instrução sobre atendimento de acidentes, Nirton juntamente com seu colega Valdecir, dirigi­ram-se para a parada de ônibus entre os quilômetros 06 e 07 do município de Portão.

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Conversavam, conforme informou o outro colega, Josué Ribeiro Rodri­gues, sobre a instrução recebida, e sobre a forma de como atender um aci -dente nas mais diversas situações.

O ônibus custava a vir, o "papo" se prolongava sempre no mesmo assunto.

De repente, os três companheiros foram tomados de sobressalto quando um ônibus que ultrapassara um caminhão saíra da pista e vinha em sua direção.

Não houve tempo para nada. Josué conseguiu saltar para trás, porém Valdecir e Pedro Nirton não tiveram a mesma sorte, foram apanhados em cheio pelo ônibus. Os três pretendiam ir para Farroupilha, onde serviam, no entanto seus destinos foram alterados. Josué, perturbado pelo acidente dos colegas, passou a pedir auxílio aos passantes para conduzir seus colegas ao Pronto Socorro. Valdecir, menos atingido, mas inspirando cuidados, teria que ficar hospitalizado, e Pedro Nirton, com nenhuma chance de sobreviver, não deixava muitas esperanças, pois além de várias fraturas pelo corpo, teve ainda uma fratura craniana muito grave.

Dois dias depois, no dia 04 de março, Nirton veio a falecer, Valdecir ficou hospitalizado mas fora de perigo, e Josué não conseguia esquecer a tragédia, que também quase o atingira.

O ônibus que causou o acidente fugou do local. Era um ônibus de Caxias do Sul, com placas IX 1607, que após, durante o Inquérito, ficou se sabendo ser di°rigido por Moacir Toos, residente naquela cidade.

Pedro Nirton era solteiro, tendo na sua família apenas sua mãe, senhora Almerinda Andrade, que mora em Santa Rosa, que ainda não consegue confor­mar-se pelo fato do filho vir de uma cidade tão distante para trabalhar, e aqui perder sua vida, tão moço, tão cheio de esperanças e com a farda que havia escolhido por vocação e tanto amava.

Prestamos nossas homenagens ao soldado Pedro Nirton Andrade, à sua mãe, senhora Almerinda, e a seu colega Valdecir, que embora tenha tido melhor sorte, guarda consigo a profunda tristeza de ter perdido seu melhor amigo.

CARLOS MACHADO PEDRA - CABO PM - 3 ~ BPM * 05 de novembro de 1951 + 27 de abril de 1990 "38 anos"

Carlos Machado Pedra, nascido em Porto Alegre, era filho do Sr. Mario Pedra e de dona Vanuta Machado Pedra. Sua profissão, antes de incluir na Brigada, era de servente de pedreiro.

Sua inclusão deu-se em 07 de julho de 1973, no 2 ~ Regimento de Polícia Montada. Não consta de seus assentamentos o período em que realizou o Curso de Formação de Soldado.

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No dia 09 de outubro de 1975 foi transferido do 2 ~ RPMon para o 3 ~ RPMon, com sede na cidade de Novo Hamburgo, sendo designado para servir na 1: Cia PM.

Em janeiro de 1977, foi aprovado no exame de seleção, para freqüentar o Curso de Formação de Cabos. No dia 17 de junho do mesmo ano, concluiu o Curso de Cabos, sendo promovido a esta graduação.

A vida funcional transcorria sem alteração, pois tratava-se de um graduado responsável e perfeitamente integrado à função policial militar.

Na graduação de cabo, desempenhando funções de comandante de guarnições de serviço, mantinha com esmero e dedicação, tendo sido alvo de vários louvores publicados em boletim interno da Unidade.

Um deles refere-se ao atendimento de uma ocorrência de sinal 49 arrombamento), onde estava sendo atacada a residência do Dr. Fernando Konar Szewski, e o Cabo Pedra, como era chamado, com rapidez, coragem e extrema solicitude, chegou a tempo de impedir a ação dos marginais, salvando o patrimônio do Dr. Fernando e prendendo os invasores.

Em abril de 1880 foi classificado no comportamento "ótimo". No dia 16 de abril do mesmo ano retornou ao 2 ~ RPMon por transferência a pedido.

Em abril de 1981, talvez não esquecendo suas atuações no 3 ~Batalhão, e pelo prestígio que usufruía perante seus colegas e superiores, seu coração deve ter falado mais alto, e solicitou seu retorno a Novo Hamburgo. Como na época não havia vaga, sua transferência deu-se para o Batalhão de Polícia de Choque, tendo lá se apresentado no início de agosto. Finalmente suas intenções foran:i concretizadas em fevereiro de 1982, quando retornou ao 3 ~ BPM.

De imediato, foi designado a servir na 2: Cia PM, com sede em São Leopoldo.

Em maio de 1984 foi classificado no comportamento "Excepcional". O cabo Pedra, embora sua astúcia e experiência no serviço de policia­

mento, não deixou de ser traído pela sorte no fatídico dia 27 de abril de 1990.

O soldado Juvenil Geraldo da Silva Neto, motorista da guarnição de serviço onde o cabo Pedra era o comandante, contou na 1 : Delegacia de Polícia de São Leopoldo como ocorreu o fato que culminou com a morte do Cabo Carlos Machado Pedra:

"Eram aproximadamente 20:30 horas, quando a viatura prefixo 402 fazia uma ronda pela área central da cídade, mais precisamente pela rua São Caetano, em direção à BR 116.

Ao chegarem na esquina da rua Marquez do Herval, avistaram três homens que empurravam um "fuca" de placas CQ 3241 de Alvorada. O cabo Pedra mandou que parasse a viatura e ambos caminharam em direção aos suspeitos, que por sua vez também pararam no meio da rua, junto ao carro aparentemete enguiçado. Ele, Juvenil, e o cabo Pedra, dirigiram-se ao carro para oferecer ajuda; no entanto, não chegaram a esboçar uma palavra, pois um dos elementos sacou de seu revólver e "eu consegui segurar a mão e tirar a arma". Travou ali uma luta corporal na qual consegui derrubar o suspeito.

Não imaginando que os outros dois estivessem armados, o cabo Pedra, preocupado com o desenrolar do confronto, controlava-os para que não fu-

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gissem. Embora deitado, vj quando um dos elementos sacou sua arma, e quando

gritei para o cabo, este não teve tempo de acionar sua arma para defender-se, recebeu um tiro na testa ficando ali estendido. "Ele caiu do meu lado sem conseguir sacar sua arma".

Só então resolvi tirar minha arma do coldre e atirar contra o assaltante que estava em luta comigo.

Não sabia se tinha matado o assaltante ou não, e logo tratei de socorrer o cabo e levá-lo ao Hospital Centenário.

Enquanto os outros fugiam, um ficava estendido na calçada, já sem vida".

Nesta noite chovia bastante. Segundo o relato de Juvenil, algumas testemunhas, moradores da redon­

deza, não acreditavam no que viram, pois segundo eles a impressão que todos tiveram é de que os policias militares foram abordá-los com intuito de ajudá-los, até pelo fato de estar chovendo.

Contou ainda uma testemunha, a enfermeira Gasparina, que enquanto empurravam o carro, um deles deixou cair o revólver, tendo colocado-o na manga do casaco.

Conta outra testemunha que um vizinho seu, policial civil, passou pelo local, e fez menção de abordar os assaltantes, mas talvez com receio, até por estar sozinho, seguiu seu caminho indiferente.

Junto ao "·fuca" que ali ficou, estavam também um "Voyage'', de cor verde metélico, placas VW 0254, que estava carregado com eletrodomésticos, video-cassetes, e aparelhos de som, certamente roubados.

Na parte da ocorrência consta também que compareceram ao local os soldados PM lbagê Natan Amaral Soares e o Sd José Luiz Rodrigues, na viatura prefixo 1300, que ainda saíram em perseguição aos assassinos, mas não lograram êxito, pois dispersaram-se invadindo pátios de residências, o que ficou difícil para segui-los.

O cabo Pedra, conduzido ao Hospital Centenário, pela gravidade do ferimento, teve que ser conduzido para o Hospital de Pronto Socorro em Porto Alegre, porém no caminho veio a falecer.

A crueldade com que foi atingido o cabo Pedra e também como foi recebida a guarnição, jamais seria esperada, em razão de que sua intenção era apenas de prestar auxílio.

Ficou para todos que souberam da ocorrência uma lição, de que nunca se deve confiar na sorte. É preferível errar por exesso do que pecar por falta. Claro que um excesso no aspecto profissional, onde não se faz uma abordagem sem estar certo de que obterá segurança.A princípio, numa situação como aquela, todos são suspeitos, e com moderação pode se dar o desfecho, sem que se corra riscos ou fique taxado de arbitrário.

Porém, não vamos fazer desta desventura uma razão de devaneios técnicos.

O que sentimos, e isto nos revolta, é que cidadãos como o cabo Pedra, de excepcional ficha, altamente profissional, mas acima de tudo exage­radamente humano, venha perecer nas mãos de fascínoras que vergonho­~amente permanecem impunes e aumentando o seu rosário de crimes, muitas

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vezes defendidos pelos "doutos" Direitos Humanos. Além das proteções dadas aos marginais, não consigo entender como

um companheiro da estirpe do cabo Pedra, como uma invejável ficha de serviços prestados, morto heroicamente em defesa do patrimônio, não recebeu em seus assentamentos uma linha de reconhecimento e louvor por sua atuação.

Não ê do meu conhecimento tàmbém qualquer mobilização para a promoção post mortem do cabo Pedra, que merecidamente deveria deixar aos seus familiares a herança de seus feitos com uma promoção de reco­nhecimento.

Espero que, com a publicação deste documentário, seja reparada esta e outras falhas clamorosas, e se estou cometendo uma heresia, não me custará fazer uma retratação.

O que não posso admitir é o puro e simples esquecimento destes heróis que entregam suas vidas para o engrandecimento da Brigada e da história do Rio Grande do Sul.

VINICIUS ROBERTH NUNES MERCAU ' 04 de janeiro de 1960 - SOLDADO PM - 3 ~ BPM + 02 de julho de 1990 (30 anos)

Vinicius Roberth Nunes Mercau era filho do senhor Carlos G. Mercau e de dona Jacy Nunes Mercau. Nasceu na cidade de Cruz Alta, tendo sua inclusão se dado na Brigada Militar no dia 04 de fevereiro de 1983, no 3° BPM, com 23 anos de idade. Em junho de 1983, iniciou o Curso de Formação de Soldado, o qual concluiu no dia 06 de setembro do mesmo ano.

Vinicius era um soldado extremamente atilado ao serviço de policia­mento, não deixando passar nada desapercebido em seu setor de trabalho. Prova disto foi um louvor que recebeu de seu comandante, tão logo passou ~exercer serviço de policiamento na 1ª Cia PM, na cidade de Novo Hamburgo. E este o teor do louvor:

"O Sd PM Vinicius, quando. de serviço no dia 02 de janeiro de 1984, no posto 121-B2 (Rua Saldanha Marinho), por volta das 22:00 horas, ouviu soar um alarme, dirigindo-se imediatamente para o local. Lá deparou-se com dois indiví­duos que tentavam arrombar um veículo Voyage de placas GY 0212, de propriedade do Sr. Antonio G.P. Borba. Que chegando próximo ao veículo, os elementos puseram-se em fuga, sendo que Vinicius saiu em perseguição aos indivíduos, conseguindo prender o elemento Luciano R.S. Coelho, que foi conduzido à DP local. Que a prisão do indivído Luciano possibilitou por parte da Polícia Civil que desbaratasse uma quadrilha de arrombadores de carro. Que o PM Vinicius

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demonstrou coragem, bravura e capacidade técnico-profis­sional no desempenho da função."

Vinicius, embora um excelente profissional, era de temperamento forte, e observando seus assentamentos verifica-se que foi punido várias vezes, por atitudes que desagradavam seus superiores, tais como: tomar iniciativas próprias em serviço; afastar-se do serviço ou instrução quando estes não o agradassem, e outros, que embora requeressem uma atitude disciplinar corretiva por parte de seus superiores, mesmo assim era considerado por ser um homem corajoso, de princípios e respeitado em seu serviço.

Um recorte do Jornal NH, com um depoimento do Tenente PM José, define bem o conceito de Vinicius Mercau.

No dia 02 de julho Vinicius Mercau estava chegando em casa, na rua Benjamin Constant, no Bairro Rio Branco, onde morava com esposa e três filhos menores, quando observou que algo estranho acontecia junto a um carro modelo Santana. Sobre o carro havia um toca-fitas e próximo à.o carro dois elementos.

Um pouco mais adiante, outro elemento estava ao volante de um Che­vette de cor branca com um friso lateral preto.

Mercau deslocou-se até os elementos, já suspeitando que tratava-se de um furto. Quando se aproximou e viu a ventarola do lado esquerdo do Santana "estourada", deu voz de prisão aos elementos, sacando de sua arma.

Os dois indivíduos não se intimidaram e passaram a atirar no soldado, que embora à paisana, mas por ser um elemento "linha de frente", como o definiu o próprio Delegado Bancolini, não iria deixar aquela tentativa de furto concretizar-se.

Mercau ficou ali estirado, atingido por um tiro que o acertou no lado esquerdo do tórax. Ainda desfalecido, foi conduzido ao Hospital Regina, em Novo Hamburgo, pela senhora Eunice da Silva Outra.

Os fascínoras fugiram do local, sem deixar vestígios. Jorge Afrânio Viana, proprietário do Santana, ao saber do fato em

que pereceu o soldado Mercau, ficou consternado, dirigindo-se ao batalhão, hipotecando seu apoio à Brigada em suas investidas para localizar os assas­sinos.

Morreu Vinicius Mercau, um homem decidido e corajoso, ficou sua esposa e três filhos menores a prantear-lhe sua falta, porém todos se orgulha­rão, porque mais tarde saberão que seu pai foi um herói, que entregou sua vida em defesa do patrimônio e da segurança pública.

O 3º BPM perdeu um grande soldado, mas ganhou em sua história e estandarte, mais uma estrela que brilhará eternamente guiando seus compa­nheiros de farda.

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Jornal t:NH

Tenente José: "Era o melhor" O tenente José, do J" BPM, foi para o lo­

cal do crime Jogo apôs receber o comunica­do do Hospital Regina. Juntamente com uma equipe de soldados, fez o isolamento do lo­cal, aguardando o lmtiwto de Criminalisti­ca. Enquanto fazia o serviço, chegou a comm­tar: "O Mercaus era o melhor soldado em No­rn Hamburgo. Dinâmico, com iniciativa e sempre pronto para realizar qualquer tipo de trabalho. Ele tinha muitos amigos dentro da Brigada Militar e todos gostavam milito de­le''. i\1ercaus csta1a na Brigada Militar desde 1982.

"Era um dos pr'•1cos PMs que tinha bom entrosamento cc Is policiais civis e traba­lhara com a geme. dando 1·árias informações''.

-""'"='"~~ ·---:::

diz César Leites, novo chefe das investigações da 1 ª Delegacia.

Ontem, durante o dia, Mercaus esteve duas l'ezes na 1 ª DP Por volta do meio-dia con­versou com o delegado João Bancolini e in­formou que estava satisfeito com uma nova e estranha medida da Brigada. Ele iria traba­lhar à paisana, cm policiamento preventivo no Centro da cidade.

À tarde, retornou à Delegacia e conversou com o nom chefe das im·estigações e confir­mou que csta1·a inscrito para o concurso de escrivães da Policia Ci1·il. "O Mercaus tinha queda para isso, pois gostava de im·estigar. PrO\áelmcnte daria certo na Policia Ci1·i/'; analisa César.(JCA)

'~~ ~.,...,"'°, .......... ~

,;:.. i

- 1 - J1arca de um dos tiro.o; disparados por Mercaus que acabou por acertar o Santana. - .! - Local onde o .o;o/dado caiu

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NOÉ DA SILVA AZEVEDO-SÓLDADO PM-15~ BPM * 28 de maio de 1940

.• ..,.._J~ + 19 de julho de 1990 , (50 anos)

• ~ 1 ~ ' -

Noé da Silva Azevedo nasceu na cidade de Passo Fundo e era filho do senhor João Lourenço de Azevedo e de dona Martimiana da Silva Azevedo. Incluiu na Brigada no dia 05 de março de 1964.

O caso do soldado Noé não se deu especificamente em atendimento de ocorrência; no entanto, prestamos a ele nossa homenagem através deste documentário, em razão de que por ter prestado seus serviços à Brigada Militar por 26 anos 4 meses e 14 dias, merece nossa gratidão e reconheci­mento, e muito mais para que seja registrado o exemplo de quem quer vencer, vence, mesmo que os impedimentos normais de uma profissão às vezes se interponham e sugiram seu recuo.

Na verificação dos assentamentos do soldado Noé, encontramos as seguintes alterações:-

Com um ano de inclusão na Corporação, portanto em março de 1965, o soldado Noé foi preso por 30 dias, com 15 dias em separado, por ter em um baile, após ingerir regular quantidade de bebida alcoólica, gerado confusão e, ao ser abordado por seu comandante de destacamento, agiu de forma indisciplinada, chegando à insubordinação, sendo necessário o em­prego da força física para conduzi-lo à sua Sub-Unidade.

Nesta oportunidade ingressou no comportamento "mau". No mês de novembro de 1965 novamente foi punido com 21 dias de

prisão, sendo transferido, a bem da disciplina, para o Destacamento de Gra­vataí.

Em 1968, no mês de maio, já reabilitado do comportamento "mau", estando no comportamento "bom", foi indiciado por ter permitido, por descui­do - quando de comandante da guarda do presídio de Gravataí -; que dois apenas fugissem.

Em 1969 foi punido, com 1 O dias de prisão, por ter sido encontrado "desuniformizado", quando de serviço. Acredito que, pelo tamanho da punição, deveria estar fazendo policiamento pelado.

Ainda foi punido com 10 dias de detenção por ter contraído dívidas e não tê-las saldado. Esta punição ocorreu em setembro de 1970.

Finalmente, em 1982, no mês de janeiro, foi punido com 8 dias de detenção por ter faltado ao serviço para o qual estava escalado.

O relato destas punições não quer, de maneira alguma, denegrir a imagem do soldado Noé; muito pelo contrário, o que quero fazer referência é que muitas vezes um soldado que inicia sua carreira de forma desequilibrada não é compreendido e a ele não é dada chance de se recuperar.

Foi justamente o que aconteceu com o soldado Noé, que muito embora

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tivesse, durante os seus primeiros dez anos, tomado algumas punições, com a complacência de seus comandantes, teve como recuperar-se, como vamos verificar.

A partir de 1982 sua vida começou a mudar. Em maio de 1983 foi transferido do 3º BPM, para o 15º BPM, tendo sido designado para desempenhar a função de encarregado do material e equipamento.

Pelo seu esmero na função, foi destacado várias vezes por seus coman­dantes, que não abriam mão de sua utilização em outro setor.

Sua recuperação foi a tal ponto que, em setembro de 1987, ingressou no comportamento "Ótimo".

Sua ficha de assentamentos transcorreu até o ano de 1990 sem altera­ções disciplinares, sendo um dos mais antigos da Unidade e um dos mais respeitados por sua conduta.

No dia 19 de julho, talvez fruto dos muitos percalços da vida e das muitas quedas que sofreu em sua carreira, o seu coração não agüentou, tirando-lhe nos plenos 26 anos de carreira e com a idade de 50 anos, mais da metade entregue à Brigada, a esperança de poder terminar de criar seus filhos Regina e Ricardo, com 15 e 13 anos, respectivamente, e poder dar um futuro melhor para sua esposa lzabel.

Noé naquele dia encontrava-se de serviço de Quarteleiro do dia na 4ª Cia PM, quando foi acometido de mal súbito, conduzido ao Hospital de Viamão pelo Sargento Auxiliar ·de Serviço da Área; embora socorrido pelos médicos do hospital. e utilizados vários recursos para reanimar Noé, não houve chance de trazê-lo à vida, e às 02:00 horas do dia 19 de julho o cabo Cleber de Oliveira anunciava, pela rede de rádio, que o companheiro Noé havia falecido.

Ficou do soldado Noé o exemplo de que todos nesta vida têm chance de se recuperar, que ninguém é totalmente inaproveitável, e prova disto é que todos que recebem oportunidades e responsabilidades dão uma resposta positiva. Basta unicamente que se tenha confiança no subordinado e se saiba reconhecer o seu potencial de trabalho.

Assim como muitos outros já surgiram e não tiveram a mesma oportuni­dade, e hoje perambulam de emprego em emprego, amargurando a tristeza de que se lhes fosse dada uma única chance poderiam ser da mesma utilidade como o foi Noé.

JÚLIO CÉSAR NUNES CÓSSIO- SOLDADO PM - 8 ~ BPM * 1956 + 1990 (34 anos)

Nasceu na cidade de Santana do Livramento, em 1956. Era filho do senhor Nelson Moraes Cóssio e de dona Nelly Nunes Cóssio. Incluiu, na sua terra natal, no quartel do 2° Regimento de Polícia Montada, no ano de 1984.

Júlio César havia sido transferido há pouco tempo para o 8º BPM, na cidade de Osório.e logo em seguida foi destacado para servir na 2ª Compa­nhia na cidade de Tramandaí.

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Tramandaí é uma cidade praiana, que normalmente durante o ano é pacata, pois as pessoas que ali residem em sua maioria são comerciantes, pescadores e, invariavelmente, de pouca renda, que sobrevivem mais cuidando as moradias dos veranistas que para lá vão durante o período de verão.

Os índices de criminalidade naquela região são pequenos, ocorrendo mais pequenos furtos em residências.

E para isto existe ali uma sub-unidade que mantém a vigilância e a segurança, no que se refere à tranqüilidade pública.

No entanto, este balneário transforma-se num pólo de agitação, confu­são e uma grande metrópole a partir do mês de dezembro até o mês de março.

Porém, com toda a confusão do período de veraneio, Tramandaí não registrou em qualquer época um crime de repercussão, até porque as pessoas que lá vão têm a única finalidade de viver naquele período a sua recuperação física e mental, das agitações do ano.

Embora esses dados e a característica de cidade, no ano de 1990 Tramandaí presenciou o crime mais hediondo de sua história, e a vítima foi justamente um soldado da Brigada Militar, Júlio César.

O fato ocorreu no dia 18 de agosto e, conforme depoimento dos compa­nheiros de Júlio César, os soldados~ PM João Carlos Vicente e João Carlos da Silva Santos, o crime ocorreu da seguinte forma:

Era aproximadamente 23h30min, quando efetuando uma ronda pela cidade, desconfiaram de movimentos suspeitos no cemitério da cidade. Para­ram a viatura e um deles, Júlio César, resolveu ver o que se passava.

Ao se aproximar, o soldado viu dois elementos que violavam uma sepultura, sendo que outras já haviam sido violadas.

Ao dar voz de prisão aos indivíduos, que eram dois, um deles jogou-se contra Júlio César, tendo os dois entrado em luta corporal.

O segundo assaltante aproveitou para desarmar o soldado e de imediato desferiu-lhe um tiro na nuca.

Ao ouvirem os disparos, os dois companheiros, Vicente e Santos, corre­ram ao local e iniciaram a perseguição dos assassinos, tão logo viram o companheiro estirado.

Os criminosos, ainda com a arma de Júlio César, atiraram em direção aos PM, atingindo João Carlos Vicente no braço e na mão, sem maior gra­vidade.

Por estarem dopados, os dois indivíduos não lograram êxito na fuga, sendo de imediato presos por João Carlos Santos.

Ação contínua, os dois PM acorreram ao companheiro e tentaram reanimá-lo, quando viram que estava desfalecido com uma perfuração na cabeça.

Foi solicitado socorro, que de imediato conduziu Júlio César ao Hospi­tal de Pronto Socorro em Porto Alegre.

Todas as tentativas foram feitas para trazer à vida o soldado Júlio César, mas não adiantou: às 4h30min do dia 19 de agosto este bravo soldado falecia, deixando a chorar sua ausência sua esposa Guadalupe da Silva Albu­querque e uma filhinha de dois anos, além de seus familiares, e todos os seus companheiros do 8º Batalhão, que muito o admiravam.

O corpo de Júlio César foi transladado para Santana do Livramento, 112

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onde foi sepultado, sob a consternação da população santanense, que sempre teve muito carinho por ele e sua família naquela cidade.

Os dois criminosos, um de nome Valdecir dos Santos Rodrigues e outro alegando ser menor, foram presos em flagrante e conduzidos ao presídio, sendo constatado que ambos eram oriundos da Grande Porto Alegre.

Fazemos aqui nossa homenagem a Júlio César Cóssio, que veio da fronteira na esperança de que junto ao mar encontrasse o crescimento de seu caminho profissional, acabando encontrando ali a sua passagem der­radeira.

O nosso carinho a mais este bravo soldado e à sua família.

VALDECI DE ABREU LOPES - SOLDADO PM - 9 ~ BPM * 11 de agosto de 1962 + 08 de agosto de 1990 (27 anos)

"PROMOÇÃO POST MORTEM

O Comandante da Brigada Militar, no uso das suas atribuições e de conformidade com o Art. 68da Lei 7 138 de 30 de janeiro de 1978, nº 4 do Art. 4º e nº 2 do Art. 8° ·do Decreto nº 30.618 de 30 de março de 1982, promove post mortem à graduação de cabo PM o extinto soldado PM Valdeci de Abreu Lopes, a contar de 08 de agosto de 1990." (Transcrito do Boletim Especial nº 017/90)

Valdeci de Abreu Lopes nasceu em Viamão e era filho do Sr. João Pinto Lopes e de dona Anita Lopes. Incluiu na Brigada Militar no dia 08 de abril de 1983, com vinte e um anos de idade.

Quando da sua inclusão, trouxe com sua documentação um diploma de Honra ao Mérito do tempo em que prestou serviço ao Exército Brasileiro. O seu ar interiorano e humilde tão logo chegou à sua Unidade, o 9º BPM, conquistou a simpatia e amizade de todos os seus colegas.

Em junho iniciou o Curso de Formação de Soldado, tendo concluído em fevereiro de 1984.

De acordo com sua ficha de assentamentos,.Valdeci demonstrava estar perfeitamente enquadrado ao ritmo exigido pelo serviço policial militar. No dia 21 de julho de 1984, Valdeci casou-se com Sônia Aparecida. Pela necessi­dade de serviço, não foi possível a Valdeci e Sônia comemorarem suas núpcias, o que só ocorreu no ano seguinte, no dia 15 de junho, praticamente um ano depois.

Nem isto - total incompreensão de seus superiores, que talvez não entendessem a importância de um matrimônio para um soldado - deixou que Valdeci perdesse seu entusiasmo pela Brigada.

As desatenções com sua condição de soldado continuava, pois em

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abril de 1987, com quatro anos de serviço, atingiria o comportamento "Ótimo", o qual somente foi publicado em Boletim Interno no dia 24 de janeiro de 1989, claro que a contar de 07 de abril de 1987.

No dia 05 de agosto de 1989, Valdeci sofria uma grande perda em sua vida: seu pai, senhor João Pinto, falecia.

Nesta época, quando morreu seu pai, sua esposa Sônia estava grávida de quatro meses e, em janeiro de 1990, nascia sua filha Carine. Agora mais do que nunca ele tinha uma razão mais forte para viver, pois tinha uma família formada e, embora as dificuldades financeiras, comuns a um soldado, aumentava sua renda, segundo informou sua sogra Neucy Fernandes, fazendo serviços de jardinagem. Para todo o ser humano, sempre há uma esperança de um dia melhorar. Para Valdeci não era diferente, que esperava no futuro fazer um curso de cabo para poder deixar os biscates e poder dedicar-se exclusivamente à Brigada que tanto amava.

Seu jeito simples e humilde, características de um jovem do interior, não lhe tiravam a pujança de policial militar.

Um ano após a morte do pai, exatamete no mês de agosto, no dia 13, Valdeci teria como momento derradeiro de sua vida o resultado de um conflito provocado por colonos sem-terra que agitavam, provocados por irres­ponsáveis que se intitulam defensores dos _direi tos humanos.

A confusão começou em frente ao Palácio Piratini, quando mais de uma centena de colonos, nem todos colonos e muito menos sem-terra, começa­ram a fazer provocações ao governo estadual, exigindo liberação de áreas de terra para assentamentos. A confusão tomou proporção, sendo necessária a intervenção enérgica da Brigada Militar, que com suas Unidades de segu­rança e choque tentaram dispersar os agitadores.

A Praça Marechal Deodoro, em frente ao Palácio do Governo, transfor­mou-se numa praça de guerra, não havendo ali, felizmente, nenhuma baixa.

Inconformados por não conseguirem seus desígnios, alguns colonos retiraram-se do foco do conflito, mas ainda com o espírito embotado pela violência.

Estes colonos, em número aproximado de uma dezena, desciam pela Avenida Borges de Medeiros em direção à Prefeitura Municipal, quando depa­raram com uma viatura da Brigada Militar na "Esquina Democrática". Ainda revoltados pelo confronto havido anteriormente na Praça da Matriz, foram até a viatura da BM, um Gol, e como desagravo, bateram com uma foice no vidro da viatura.

Estes colonos eram seguidos de longe por um grupo de policiais milita­res, e Valdeci, que encontrava-se dentro do carro, saiu, no intituito de dissuadi-los a um estrago maior na viatura. -

Tão logo saiu do veículo, deu alguns passos em direção ao grupo de colonos, sendo covardemente atingido por uma foice, que cortou-lhe a veia do pescoço. Embora desfalecendo e numa reação de defesa, ainda sacou de sua arma, dando dois tiros para o ch&o, talvez mais para chamar a atenção dos passantes do que para atingir os seus agressores.

Foi seu último gesto, pois caiu fulminado, não havendo a mínima chance de socorro. Mesmo caldo ainda foi brutalmente atingido por outro colono, desta vez com golpes de facão, conforme declarou uma testemunha, o advoga-

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do Fernando Magnus, confirmado pelo depoimento do comerciante Aldo Alber­to Calau.

Era aproximadamente meio-dia. Todos que por ali passavam ficaram estarrecidos com o hediondo crime, e da forma covarde como aconteceu. Foi um civil, o sr. Daniel Tavares, que por iniciativa e espírito humanitário, usou o rádio da viatura para, à sua maneira, pedir auxílio, e no desespero de ainda poder salvar o soldado que ali fora agredido, pegou o volante do veículo dirigindo-se ao Hospital de Pronto Socorro.

Nada mais resolveria. Valdeci estava morto. Morto de forma covarde e irresponsável, por animais que se intitulam homens, incitados por outros mais animais que buscam projetar-se transformando seus intentos em causas bestiais e espúrias.

Esperou-se por uma declaração do tão propalado "Direitos Humanos", em defesa de um homem honrado, que de forma responsável e digna trabalhava com o único objetivo de dar segurança ao povo e com o sonho de um dia poder dar à sua filha e à sua esposa uma vida digna e confortável, sem ter que complementar seu salário trabalhando como jardineiro.

Mas, mais uma vez, chegamos à conclusão de que quem tem direito a receber a atenção dos "Direitos Humanos" são criminosos, marginais, trafi­cantes, ladrões e toda a espécie de perniciosos à sociedade. Estes cidadãos tão "puros" calaram,.pois não poderiam desta vez dizer que a arbitrariedade da Brigada tinha ferido a "honra" de um cidadão, porque desta vez a população viu. Viu, sentiu, chorou e se revoltou.

Sônia ficou sem o seu marido, Carine ficou sem seu pai, na incompreen­são de seus nove meses, e a Brigada perdeu um grande valor, que dedicou seus sete anos de serviço à dignidade, amor ao trabalho e à Brigada Militar, a qual escolheu como sacerdócio.

Valdeci morreu, mas dele nasceu uma chama de esperança, de que os homens passem a ser menos agressivos, haja maior respeito pela vida que os detentores do poder evitem estes confrontos fazendo a sua parte, e que aqueles que anseiam pelo poder entendam que só através da paz. da harmonia e do respeito é que se éltinge os objetivos de grandeza.

Mais uma vez a Brigada foi atingida. Tem mais um mártir. No entanto, segue seus desígnios com o respeito

do povo gaúcho, e por isso ela é grandiosa. Morreu Valdeci, mas jamais morrerá a tradição de bem servir.

DEMOCRACIA (Homenagem ~o soldado PM Valdeci de Abreu Lopes)

Na esquina a Democracia - menina-moça-, menina que quer crescer, ver a vida do povo com liberdade, olha espantada uma foice com ódio fundos brandida, ceifar uma vida moça ... Olha e não crê! Nessa esquina

não pode a violência nunca ser a fúria que destrói a própria democracia, a foice que vidas trunca, fere consciências e dói. A rosa rubra de sangue brota do asfalto tão rubra que vai ficar sempre assim

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- eterna, viva centelha vertendo a chama vermelha da dor que respinga em mim.

Respinga em todos - é o sangue de humilde, nobre soldado

que no serviço tombou.

Democracia, a menina! Condena a mão assassina e a foice que degolou.

José Hilário Retamozo Porto Alegre, 09/08/90

AMARGURA: companheiros do soldada Valdeci de Abreu Lopes conduziram a esquife durante as cerimônias fúnebres realizadas na Cemitério Ecumêmica João XXII. O policial-militar foi assassinada em serviço durante distúrbios ocorridos no centro de Porto Alegre.

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Emoção no enterro Cerca de 300 veículos acompanharam ontem o cortejo fúnebre do corpo

do soldado V aldecl de Abreu Lopes. assassinado com golpes de fOlce no confronto entre Brigada MUitar e colonos no centro de Porto Alegre, quarta-feira. o carro do Corpo de Bombeiros, com o catxão coberto pelas bandeiras do BrasU e do Rio Grande do Sul, além de coroas de Oures, deixou o QG da BM, na rua dos Andradas, por volta das 10hl5mln com destino ao cemitério João XXIII. O clima tenso e emocionado do velório se repetiu durante as homenagens mllltares no sepultamento.

Durante o toque de stlêncto, a esposa de V aldect. Sônia de Oliveira Abreu, precisou de atendimento médico. Ela sentiu-se mal ao ouvir a

homenagem do capelão da BM, João Peters. Abraçada com a fttha Carine, de nove meses. ela disse que espera Justiça a "um pedaço de minha vida Jogada dentro deste caixão". A emocão foi contagiante. O governador Sinval GuazzeUi e o secretário de Segurança. José Eichen­berg, choraram. Também acompanharam o enterro os secretàrtos de

1 Comunicação Social. José Vieira da Cunha, e da Justiça, Luiz Carlos Madeira, além do comandante geral da Brigada MUitar, Carlos Walter Stocker. Guazzelll assinou a portaria promovendo Valdecl a cabo ''post-mortem''.

Em nove anos de Brigada MUitar, Valdecl de Abreu Lopes nunca havia participado de operações especiais. como motins, quebra.que­bras ou Invasões de terras. Com um salàrlo de Cr$ 12 mil. de acordo com a sogra Neucy Fernandes, ele trabalhava nas horas vagas em serviços de Jardinagem, através dos quais aumentava sua renda para manter esposa e filha. Eles moravam em algumas peças nos fundos da casa de Neucy. P'ainH 2. 4. 6e 7

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o o o w a. <(

CABO PM VALDECI D~ ABR~U LOP~S

Estarias completando 28 anos no dia 11 passado.

Receberias o carinho da tua esposa e do teu filho. Receberias abraços dos teus amigos. Por certo não haveria nenhuma festa, pois a um Soldado da Brigada isto não é permitido, mas estarias em casa, talvez até dispensado do ser~ viço. Bem sabemos que gostarias de estar no anonimato, no entanto, foste degolado na es­quina democrática, te ceifaram a vida no ver­dor dos teus anos.

Domingo não houve dia dos pais para teu fi­lho, nunca haverá.

VALDECI DE ABREU LOPES, herói briga­diano, nós te homenageamos, estamos solidá­rios com teus colegas, com tua querida Briga­da Militar.

Estamos chorando, mas cheios de orgulho.

MBM Previdência Privada. 117

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VALDEMAR DIAS - SOLDADO PM- 3 ~ RPMon + Falecido em 19 de setembro de 1990

Os dados que temos sobre o soldado Valdemar referem-se apenas à ocorrência que culminou com sua morte, na cidade de Santa Bárbara do Sul. O fato ocorrido foi relatado pelo jornal local, do qual extraímos os dados principais da ocorrência.

- No dia 18 de setembro, por volta das 22 horas e 30 minutos, uma patrulha da Brigada Militar, composta pelos soldados PM Keller, Silva e Dias, estavam dando batidas em locais de risco como, canchas de bochas, mini snooker e outros, quando chegaram à Lancheria Krep's. No local um elemento, ao avistar a patrulha, tentou passar seu revólver para o proprietário do estabelecimento, a fim de fugir à explicação de seu porte. Portanto avistado pelos PM, a arma foi apreendida, pois constatou-se, que o portador não tinha porte nem registro.

O dono do revólver de nome Jorge Souza, conhecido como "Jorginho da Choupana", não se agradou de terem recolhido sua arma, fazendo ameaças à patrulha. O tal de "Jorginho" foi conduzido à DP, onde após registrada a ocorrência e recolhida a arma, foi aconselhado a recolher-se à sua residên­cia e não mais saísse. Porém isto não ocorreu. Jorge Souza chegou em casa, pegou outra arma e mais munição. Um advogado, de nome Laerte Fernan­des, chegou a ir na Delegacia de Polícia para liberar o indivíduo Jorge de Souza, mas este já havia sido liberado. O advogado então dirigiu-se à casa do mesmo a· pedido do investigador Jaime Mendonça Gomes, para que Jorginho da Choupana não viesse a fazer bobagem.

Embora os argumentos utilizados pelo advogado, o indivíduo tomado pela raiva de terem apreendido sua arma, não deu ouvidos ao advogado e muito menos ao seu pai Ari Souza e saiu de casa dizendo:

- "Esta arma eu quero ver quem é que vai me tirar." Dir;giu-se então para o Bailão do Pinheiro e lá começou a tomar

cerveja. A patrulha, que continuava seu serviço, sem saber que Jorge ali estava,

chegou ao local, sendo que este foi informado por alguns que lhe acompa­nhavam que a patrulha estava ali à sua procura. O pai de Jorge, que seguiu-o até para evitar confusão maior localizou-o no Bailão, e estava presente quando a patrulha chegou.

- Soube-se depois que a patrulha da BM ali chegou a pedido de um popular, que informou haver no bailão uma briga..! que na realidade não' passava de uma brincadeira entre amigos.

Como o destino se encarrega de nos pregar peças, parece que tudo foi magistralmente arquite!ado para ter o desfecho que teve.

Ao saber da presença dos PM, Jorginho dirigiu-se à frente do bailão e começou a atirar contra os PM, sendo que o primeiro a ser atingido foi o soldado Valdemar. Os PM Keller e Silva revidaram aos tiros, atingindo Jorginho, que embora caído esgueirou-se entre os carros, colocando-se debai­xo de um deles para fugir às balas.

Ari Souza, o pai de Jorginho, também armado passou a atirar contra a guarnição PM, descarregando seu revólver, porém não acertando ninguém. _!alvez os tiros tenham sido para intimidar a patrulha, a fim de que não

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executassem seu filho. Os PM Keller e Silva pegaram então Valdemar e colocaram-no na

viatura para conduzi-lo ao hospital. Valdemar foi conduzido ao Hospital São Vicente de Paulo, no município

de Passo Fundo, pois pela gravidade dos ferimentos (recebeu vários tiros) tinha que ser conduzido a um hospital que oferecesse melhores recursos.

Embora todos os esforços para trazer à vida o soldado Valdemar, este não resistiu e sucumbiu às 4 horas e 30 minutos do dia 19 de setembro. Jorginho, que também havia sido atingido, foi para o hospital de Panambi. Com menor gravidade em seus ferimentos, sobreviveu, sendo mesmo no hos­pital autuado em flagrante, e quando deu alta do hospital foi conduzido preso para o Presídio Regional de Cruz Alta.

No município de Panambi, a revolta contra a atitude do criminoso foi muito grande, provocando manifestação de apoio à Brigada Militar por toda a população, inclusive com a recomendação que a Brigada fosse mais rigorosa em suas intervenções pois seus componentes eram muito educados no trato das ocorrências e com marginal "não se pode ser educado" -alguns chegaram a dizer.

Por es!:i manifestação da comunidade se despreende o conceito que mantém a Corporação na região.

O sargento Darci Machado, respondendo na ocasião pelo comando do pelotão, chegou a dizer que "nunca na história do serviço de policiamento daquela localidade havia ocorrido fato semelhante. Ali todos são trabalha­dores e gente de bem, mas nem sempre se consegue detectar os elementos perniciosos que convivem em nossa sociedade". Disse ainda que este elemento, Jorge Souza estava sob o regime de "Sursis", por ter agredido a um vereador de nome Flaubiano Silveira Lima.

A morte de Valdemar Dias fortaleceu naquela comunidade o respeito que sempre tivera pela Brigada Militar, e a nós cabe apenas prestar-lhe as nossas singelas homenagens e reconhecimento, colocando-o nos anais da história dos mátires da Brigada Militar.

0 1 - . JOSÉ RENATO RAMOS DE OLIVEIRA - CABO PM * 13 de dezembro de 1968 - 3 ~ BPM + 27 de setembro de 1990 (22 anos)

José Renato Ramos de Oliveira nasceu na cidade de Venâncio Aires e era filho de José Renato de Oliveira e de dona Nilza Borba da Silva.

Ingressou na Brigada Militar no dia 23 de agosto de 1988, com 20 anos de idade.

Em novembro do mesmo ano iniciava seu Curso de Formação de Solda­do, na cidade de Sapiranga, no quartel da 3ª Cia PM.

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Em março, no dia 20, concluía o oal'9õ, obtendo a 1ª colocação, com média 8,913. Um ano após, foi concedida inscrição para a seleção ao Curso de Cabos, no qual ingressou automaticamente por sua colocação no CFSdPM. No mês de junho concluiu o Curso de Cabo, em 3º lugar, com média 9,0292.

Sua passagem pelos cursos antevia que o seu futuro seria brilhante e muito promissor na Brigada. Sua inteligência era destacada, não só por seu desempenho curricular, mas também pela forma com que conduzia os problemas que lhe surgiam.

No dia 23 de setembro, ainda vibrando com sua promoção à graduação de Cabo PM, sua carreira foi interrompida brutalmente por alguns marginais que assaltavam um supermercado.

O fato ocorreu aproximadamente às 23:10 horas, quando o Sd PM Luiz Carlos Jaques, rádio-operador da sala de comunicações, recebeu uma informação por telefone do si. Ai rton Brandão, vigilante do supermercado do SESI, situado na Av. Antão de Farias, esquina com a rua Quintino Bocaiuva, em Sapiranga, que estava ocorrendo um arrombamento no local, inclusive tinha dois indivíduos no interior do estabelecimento.

Foi determinado o comparecimento de duas guarnições, uma da viatura de prefixo 324, composta pelo Cabo José Renato Ramos, Cabo Anilton Gasque e Sd Adilson de Mello, e a viatura prefixo 265 composta pelo Cabo Sergio Wanderlei Machado, Sd Severino de Lima e Sd Roberto dos Santos, todos do 1º Pelotão PM.

Quando chegaram ao local, houve o cerco do estabelecimento, sendo que o soldado Antonio avistou um indivíduo com um revólver em punho. Ao dar voz de prisão, este passou a atirar, disparando duas vezes contra o soldado. Desencadeou-se af um tiroteio no qual foi atingido o cabo Renato e o vigilante Airton Brandão. O cabo Machado de imediato socorreu o cabo Renato, conduzindo-o primeiramente ao Hospital Regina e, posteriormente, pela gravidade de seu estado, ao Hospital de Pronto Socorro.

Renato agonizou ainda durante três dias, sendo que no dia 27 de setembro, às 14:30 horas, expirava.

A ficha de Renato pouco tinha registrado. Foram apenas dois anos de vida brigadiana, nos quais soube muito aproveitar seu potencial intelectual.

Chegou em dois anos onde muitos levam anos e às vezes não conseguem chegar. Era cabo, resultado de dois cursos onde teve a distinção de ser um dos primeiros.

Perdeu-se um grande policial militar. Uma perda irreparável, mas que nos deixa a pensar sobre a nossa

utilidade em defesa das pessoas e do patrimônio, quando na realidade não temos para nós a mínima segurança.

Foi mas um jovem que, no clamor do combate contra o crime, perde sua vida e nos deixa a marca de mais um mártir da sociedade.

É quase urna rotina diária ver-se soldados e graduados, jovens, aumen­tando a galeria dos mártires, enquanto as homenagens ficam restritas a uma editoria de jornal e a um breve comentário em assentamentos.

Afinal o que vale nossa vida? Será que usamos fardamento única e exclusivamente para nos tornar­

mos mártires? E mesmo quando temos um mártir, este passa a ser mais um só que

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é lembrado enquanto se realiza as pompas fúnebres. Renato era jovem, sem família, era solteiro, tinha a idade de quem

sonha. A crueldade dos homens maus e da sociedade desajustada interrom­peram uma grande carreira.

Só nos resta rezar e pedir a Deus que não deixe proliferar em nosso meio a galeria de mártires, principalmente dos jovens brilhantes e cheios de bons ideais, como era o cabo Renato.

JOSÉ CARLOS MARQUES DE OLIVEIRA - CABO PM Nascido em 1967 Falecido em 1990 "23 anos"

Foi executado a tiros porque era brigadi.ano C!Quando os ladrões viram os documentos da vítima e descobriram que se tratava de um PM, decretaram sua sentença de morte

ADELAR DE OLIVEIRA F,ditorio de Polícia/ZH

"Se é polícia, vamos matar". Assim foi decidida a execução do cabo PM José Carlos Marques de Oliveira, 23, do l 0

BPM, morto com dois tiros - costas e peito - , na madrugada de 6 de setembro, em frente ao numero 43 da rua T, vila Santa Rosa. O crime foi esclarecido na manhã de ontem com a prisão dos assai· tantes Dilson dos Santos Sibilio, o Duela. Sandro Rodrigues, ambos com 20 anos. e um menor, de 17 anos. Duda foi detido numa vila de Gravatai, enquan to Sandro e o menor acabaram presos em Pinhal pelos agentes da 2' DP de Gravatai Os criminosos confessaram ter assaltado o cabo PM e o assassinado por ele ter reagido.

O inspetor Sidnei de Oliveira, que chefiou a equipe que 'iC deslocou ao l11oral, contou que foi Duda quem infor mou o paradeiro de Sandro. O rapaz aca­bou sendo localirndo numa pequena casa de madeira, à beira de uma lagoa, com a mulher e um filho. enquanto o menor foi

PM José Carlos

preso quando dormia na boate Tunel Verde. Na delegacia, Sandro, o mais fa­lante dos três, admitiu que há muito eles vinham furtando carros em Cachoeiri­nha e Gravatai, e se dirigindo a Porto Alegre, para assaltarem. Na noite do crime, puxaram o Chevette, com as pia· cas frias A U 7791, e fizeram a mes ma rota.

PARADA - Quando passavam pela vila Santa Rosa, com o menor ao volante, viram um homem na parada do ônibus e resolveram atacá-lo. "Mas o cara estava se coçando muito e ai botamos ele no carro para dar uma geral". disse Sandro

com suas gírias. Com o PM de~o do Chevette, sob a mira de um revólver 38. os assaltantes acharam que ele estava se mexendo demais e desconfiaram que o refém iria reagir. "Ai paramos o carro e revistamos ele, quando vimos que ti­nha um três-oitão", prosseguiu Sandro, que mantinha o dedo no gatilho. Dud;; apanhou o revólver do PM, enquanto os outros dois examinavam seus documen­tos e viam que ele era brigadiano.

Na tentativa de assustar a vitima, o menor sentenciou: "Se é polícia, vamos matar porque eu não gosto de polícia". Se considerando perdido, o cabo PM resol veu reagir, momento em que recebeu o primeiro tiro nas costas, de sua própria arma, desferido por Duela. Em seguida, Sandro apertou o gatilho de seu revólver três vezes, atingindo a vitima com um tiro no peito. Depois fugiram de pés descalços, levando apenas o revólver do brigadiano.

Com a prisão temporária decretada pe· la Justiça a pedido do delegado Sérgio Luz, os três serão encaminhados à Dele gacia de Roubos e Extorroes, onde escla­recerão mais de 150 assaltos. O cálculo é feitopelos próprios ladrões, já que, na épo ca, furtaram cerca de 15 carros. Pelo fatc de terem feito, com cada um dos veicu los, uma média de 10 a;saltos, o núme ro deve conferir, na opinião do delega do Luiz Fernando Tubino. titular da Roubos.

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PANTALEÃO GARCIA DA SILVA *Nascido em 1964 +Falecido em 1990 "38 anos"

PM morre em tiroteio O final de semana que passou foi muito v10lcnto em nossa

cidade, tendo sido registradas diversas ocorrências de vio­lência nos· dois plantões especializados da Polícia Civil. Foi registrado na tarde de domingo uma algaz.arra em um bar localizado na rua Gustavo Barroso 337, Vila São Luiz Gon­zaga, onde Duolero Luis Ribeiro, vulgo "DICK" de 26 anos, promovia uma grande desordem. O PM Paotaleão Garcia da Silva de 38 anos, que estava de serviço, pediu auxílio a uma patrulha para dar llllia batida no bar e em poucos ins­tantes foi atendido pelos seus colegas. Os soldados entra­ram pela frente no Bar, a fim de acalmarem os ânimos, enquanto Pantaleão foi pelos fundos para não deixar nin­guém escapar. O soldado acabou encontrando Dick que pos­sui v~ passagens pela polícia e que tentava fugir do local,

quancto l'.>s dois acabaram tiroreando. Ambos ficaram feri­dos e foram levados ao Pronto Socorro do Hospital São Vi­cente, onde, por volta das 21 h e 30 min, o soldado PM Pantaleão Garcia da Silva de 38 anos, que residia qa rua Pe. Antônio Vieira nº 09 na Vila São José, veio a falecer não resistindo a gravidade dos ferimentos que recebeu.

O elemento Duolero Luis Ribeiro, ou "DICK" h.t niuito provocava arruaças na Vila São Luiz Gonzaga e está inter­nado no São Vicente. Se~ informações médicas, caso ele se salve, ficalll paralfüco, pois foi ferido na coluna ver­tebral.

Na tarde de ootem, o COIJX> do soldado morto, foi sepul­tado sob a tristeza de familiares, amigos e colegas no Ce­mitério da Vib Vera Cruz.

CARLOS ALBERTO GARIBALDI - CABO PM - 2 ~BPM * Nascido em 1964 + Falecido· em 1990 '26 anos"

Cabo PM executado por assaltante D Quadrilheiros estavam numa lotação como passageiros comuns. Na Glória houve o ataque e o brigadiano recebeu dois tiros

O cabo PM Carlm Alherto Gari baldi, 16, foi mono com do1\ tiro., -­cabeça e virilha direita - ao temar evitar um assalto. ont::m de m::id1u gada. O hngadiano \IJJ3\<l na lot,1 ção do hairro Glúna. placa~ AQ ~233. no <,ent1do cent~o ha1rro, d1r1 gida pqr Augu~to Collar PcJro~o

Os a~<,altantes tomaram a lotação no Centro. por volta da lh. Lm pouco ma1<i adiante, o PM emhar cou. N3 O...car Pereira. rroxuno ao Jumho. conforme apurou o 1mpetor César. d3 5" DP ((ilónaL comesou o ataque. O l1dcr do grupo encostou o revólver na caticça de Pedroso gri tando que era um a~~alto e determ1 nando ao moton~ta que para~se o carro Logo depoÍ<, m outro~ ime grante~ da gangue começaram J "ª quear º" pas~agclfm Er:m1 ,:inco os quadr1lhciro., que >laJd\:tm corno passage1rm comun" - relo meno<. dois dele~ armadm com re\ólver e faca - qua1ro homen\\Jrará" e uma mulher [)rarica. de cahelm negro". integrante' dJ ganguc do Roe e da .\farL·:nha De\Jlrclad;;

Roe. que apaienta \Cf mcnur dt' idade frn 4uem. "egundo ,ilpm<, p.1<, \agc1ro'. l1dt.'fllll 11 Jl<tljllt' c fct m

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<l1<,paro-. contra tl caho (inhaldi_ que era do~" BPM de Rio Pardo e eqa\a em Porto Alegre fa1endo um cur\o de digllação

Aró" o atentado. º" ª""altante" fuglfam levando a téna. rouco ma1., de ( r~ 10 mil. e documento" de um Jo~ pa..,-,age1nh Na fuga um dele<. Jenuu cair uma faca. o.., ourro., \Jgc1ro,_ cerca de 16 re""ºª"· furam kr1dm O P!\1 hll n111Ju11dll ,w !\n,pna! de Prllnlu Snu\HO por

Olllk

Terror: Oentm da loraçào '10111 <-' mnmcn/o\ de rerror

LUTA - Pedrn\o .. dirmou que en4uanto lider Ja peg:n a o dinheiro Ja feri:.i, um r<h,age1 ro..,. 4ue nào foi 1dentl11c1dti. lentou dom111ar um dm h;.rnd1do, () caho (ianhald1 que cq,n;i ,! pa1\,lllél. no me.,mo 1rNa11tc ltl1 cm .wxil11l do

(h trê' comct,:aram ,1 lu tar l1dcr Jo hand(I. que l'\t.tn.i emnl\1do ild llHirlc dt.' outm PM

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d•J lhJtr,r1 .. ta de o tu11d•• d.i lnt.11,.;!(1 l\1

tante \irou \C e desferiu o~ tJrOS.

O gruro. ap()\ o~ disparoc, que dei xou o<. Pª"'age1ro" em pânico. nào 1eve tempo de pegar muita coisa pp,c,1\elmentc tamhem ª-""ll<.,!adm. º" 4uJ.dr1lhe1ro" ÍU?Íram lcv::indo a férn1 tia lotaçào e a carteira de um do" Pª""J.gelfo..,, 4ue continha apena" dncumcntm Logo <1po., o PM ter c,1do baleado. <.,urg111 a \Cf<.ào tk 4ue P r.:•,..h.:r do hr11!,1,Ji.Jno 1<1mbe111 te r1,1 ~1dt> rot1h<1do 110 ª''alto Porêm. t'~\d mlrnrncH.Jo n:in trn co1111rmada ;•t'i,h :oiil1tldi'

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CARLOS ROBERTO MATOS DELFINO * 28 de junho de 1961 + 12 de dezembro de 1990 "29 anos"

Carlos Roberto nasceu na cidade de Tôrres. Era filho do senhor Eva­risto Elias Delfina e de dona Celi de Matos Delfina. Ingressou na Brigada Militar, no 8° Batalhão em Osório, no dia 13 de outubro de 1981, com 20 anos. Delfina era casado com a senhora Luciane Alves, e tinha uma filha de três anos de idade de nome Pâmela Alves Delfina.

Carlos Roberto, ou Delfino, seu nome de guerra, estava servindo na Cia PM de Santo Antônio da Patrulha.

No dia 12 de dezembro de 1990, quando encontrava-se efetuando uma ronda pela cidade, foi solicitado a fazer uma averiguação em uns indivíduos que, acompanhados de uma mulher, estavam em atividades suspeitas. Delfina foi até o local solicitado, o "trailer" Beleza, na Avenida Francisco J. Lopes, número 4411, e lá deparou com três elementos que estavam em um carro Santana placas SX 9347, de Porto Alegre, sendo dois homens e uma mulher. Encontrava-se com o soldado Delfina o soldado Gislei Barbosa Teixeira. Delfina pediu a um dos ocupantes do veículo que se identificasse e apresen­tasse os documentos do carro.·

Parecia inicialmente que nada de anormal acontecia, pois o indivíduo dirigiu-se calmamente até o carro (os três estavam junto ao trailer), e quando chegou próximo à porta do veículo, voltou-se bruscamente e apontou uma arma para Delfina. Gislei ainda tentou sacar sua arma, quando foi dominado pelo outro indivíduo, que lhe tomou a arma.

Dominados, ambos os soldados ficaram sem ação. Os três indivíduos iam entrar no carro para fugir, quando a mulher ordenou ao que apontava a arma para Delfina, que os matasse. Este ainda exitou alguns instantes, mas com a insistência da mulher, este efetuou 05 disparos à queima-roupa, matando Delfina na hora. Gislei ficou parado, estarrecido e horrorizado, uma bala o atingira. Nada pudera fazer. Estava desarmado. Os três embarcaram no carro e fugiram, deixando ali Delfina morto e Gislei paralisado, e com uma bala que o atingiu nas duas pernas.

Delfino foi socorrido por populares, que ainda na esperança de que estivesse vivo, levaram-no para o Hospital de Santo Antonio da Patrulha. Foi em vão.

Gislei ficou sem sua arma. Os assassinos fugiram em direção a Osório. O batalhão daquela cidade foi avisado e foram montadas barreiras. O fato ocorreu âs 02:45 horas.

O sargento Edgar Libardoni, do pelotão de Choque da Unidade, instalou uma barreira na RS 30. Edgar neste dia era o auxiliar de serviço externo. Após instalar a barreira, deslocou-se até Santo Antonio. No caminho localizou o Santana placas SX 9347 que havia sido abandonado por seus tripulantes próximo à AGASA.

A perseguição varou a noite e seguiu pela manhã em toda a região. A busca foi exitosa, pois às 11 :30 horas da manhã, junto a uma parada de ônibus da RS 30, foi localizado um dos suspeitos cuja confirmação do envolvimento foi possível porque ainda se encontrava com o revólver do

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soldado Gislei. Seu nome, Paulo Augusto Câmara Dreher. Mais tarde, às 15:30 horas, um casal transitava calmamente pela mesma

RS, quando, por informações de populares que haviam visto os envolvidos, foram abordados pela patrulha PM. A mulher parou, o indivíduo empreendeu fuga em direção aos matos próximos, não sendo localizado. A mulher, Maria Helena Pagliano, foi presa e conduzida à Delegacia de Polícia. Paulo Augusto e Maria Helena, uma uruguaia, foram conduzidos a Santo Antônio da Patrulha e autuados em flagrante.

Delfino morreu e deixou uma viúva de 20 anos e uma filha de três anos.

Oue triste destino. Um homem novo, com 29 anos de idade, dos quais nove dedicados à nobre missão brigadiana. Sua morte foi descuido? Foi excesso de confiança? Foi despreparo?

Não sabemos, mas nos ficou um alerta. Alerta dos cuidados que devemm ter ao atender uma ocorrência. Alerta para que não· tenhamos excesso de confiança em quem não conhecemos, principalmente quando são estranhos à localidade onde atuamos.

Só nos resta prestar uma homenagem ao Delfino, que errada ou acerta­mente, estava cumprindo a sua missão, e disso nós temos que nos orgulhar. Este companheiro tombou em serviço e por isso merece o nosso respeita louvor e admiração.

PMmorto com 5 tiros, outro baleado ADELAR DE OLIVEIRA Edirona df' PriliclO

O assassinato do PM José Carlos Delfino de Mauos. 28, por dois ho mens e uma mulher, que tripulavam um Santana roubado. deu início a uma verdadeira operação de guerra desencadeada pela Brigada em Santo Antônio da Patrulha. O crime acon­teceu às 3h de ontem, num bar do centro da cidade. Ao abordar o grupo para verificar documentos, Mattos foi mono com cinco ttros no tórax e o PM Girlei Teixeira baleado nas pernas. Na perseguição aos a~ltan­tes. a BM capturou Paulo Augusto Càmara Dreher, 24, e a uruguaia Mari<.1 Helena Tagham. 25, que vive há quatro anos no Brasil Um tercei­ro homem. que Paulo diz chamar-se Roberto, fugllJ

A ação dos a5Sa.ltantes começou às 19h de terça-feira, quando os dois rapa.res assaltaram o funcionário da Caixa Econômica Federal, Paulo Fernandes Oscar, em Porto Alegre. Ao chegar em casa, o economiário foi abordado por Paulo e Roberto, que estavam de moto, e leve de en­tregar aos ladrões seu Santana. Ou ~~~011~. ~1~'11=au1acas

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frias SX-9347 no carro, apanharam Maria Helena, que se diz estilista, e partiram rumo a Torres. No cami nho, porém, pararam em Santo Ar.· tônio, a fim de tomarem umas cerve jas. Quando bebiam no bar do Bele­za, na esquina das ruas Francisco J. Lopes com João Pedro da J.uz, foram abordados pelos drns brigadianos.

IENDIÇlO - Conforme urna tes­temunha, o PM Mattos desconfiou do grupo e pediu a um dos homens - mais tarde identificado como sen­do Paulo - para averiguar os docu­mentos do carro. O rapaz se dispôs a Casal detido: Paulo teria atirado no PM a pedido de Maria Helena atender ao PM e pediu que o acom- po, o PM Gilnei era alingido nas refém, mas se rendeu com a promes-panhasse até o veiculo. "Mas não duas pernas pelo outro assahantt:. sa de que os PMs lhe poupariam a deram cinco passos, quando 0 ho- Enquanto Gilnei era transferido para vida. Com o assaltante, os PMs mem que estava mais atrás sacou de o Hospital de Pronto Socorro (HPSI, apreenderam dois revólveres calibre um revólver e disse aos soldados: na Capital, os dois homens e 8 mu- 38 e uma pistola Às 16h, os PMs terminou a conversa, levantem as lher fugiafü. Mattos ficou estendido detiveram Maria Helena, que tenta-mãos e entreguem as armas". relatou no chão, morto. va se esconder nuns matos, no mes· a testemunha. Enquanto os PMs es- mo distrito. O casal detido foi man-tavam sob a mira, Paulo foi até a Às 11 h30rnin. a Brigada conseguia dado para a prisão pelo delegado viatura policial e danifioou o râdio. capturar Paulo quando tentava apa- Mário Esperança. A uruguaia chora.

Ouviu-se um primeiro tiro e o PM nhar um ônibus numa parada no va muito ao lembrar das duas filhas Mattos tentou sacar a arma, mas foi distrito de Agasa. Ao pcrc.eber que de três e cinco anos que estão em baleado por Paulo, conforme a teste- estava rercaao. chegou a fazer uma Montevidéu. munha, incentivado com palavras deP"_,..._...,.-..;.;;.~-,;;;;;.;..;;..._;.;;;;...,.;;;;-. _____ _ .. atira logo, atira logo", pronunciadas por Maria Helena. Ao mesmo tem-

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16 DE DEZEMBRO DE 1990 DOMINGO

1 PAULO SANTANA 1

' Em Santo Antônio da Patrulha, esta semana, um assaltante atirou quatro yezes contra o tórax de um PM que o conYidara ingenuamente a mostrar-lhe os documentos do carro que dirigia. Matou ali o policial militar. O outro bandido acertou dois tiros no PM que acompanhaYa o assassinado. Desde o PM degolado pela foice do colono, já lá se Yão uns mais de 1 O mortos no cumprimento do deYer. Mais arriscado que ser cidadão que sai às ruas, só ser policial neste Estado.

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,

POLICIA

Soldado da Brigada

é assassinado a tiros e ct1bo sofre ferimento

D Os brigadianos foram baleados quando estavam de serviço na RS-118. O criminosos chegaram a fugir na viatura dos policiais

O soldado PM Luiz Gonzaga Freitas Yargas, 45 anos, foi assassi­nado às l 7h30min de domingo na altura do quilômetro dez da RS-118, que liga Gravatal a Yiamão_ Outro brigadiano, o cabo Sidnei Melo da Cruz. 39 anos, com três tiros no corpo, está internado no HPS. Os dois eram patrulheiros do Batalhão de Polícia Rodoviária Es­tadual, da Brigada Militar, e fiscali­zavam o trânsito quando foram baleados possivelmente por assal­tantes que, inclusive, fugiram le-

vando a viatura utilizada pelos dois PMs_ Foi apurado que um dos cri­minosos - um sarará - foi balea­do no peito por uma das vitimas_

Cerca de meia hora mais tarde a viatura, de prefixo 920, foi a bando nacja num depósito de lixo em Sa­pucaia do Sul. Dos seus tripulante\_ entre eles um homem com aproxi­madamente 50 anos, nenhum si­nal. ·J..s escassas informações obti­das pela policia eram de que °' assassinos eram em número de quatro e estavam num Fusca bran­co, cujas placas tinham as letras CJ, que os dois brigadianos tenta­ram fazer com que estacionasse no acostamento, numa ação de fis­calização rotineira do trânsito. Mas até o início da noite, nenhuma tes­temunha do crime havia sido loca­lizada.

Segundo os patrulheiros do pos-

Luiz Gonzaga Freitas Vargas

to da Polícia Rodmiária Estadua 1 cm Gravatai. o que se sabe ao certo é que °'' doi' PM, kridos estavam caídos na margem da RS-1 18 e foram levados para o Hospital Dom João Becker. O soldado Gon-1aga morreu pouco após chegar no hospital e o cabo Sidnei, gravemen­te ferido, foi levado para o H PS em Porto Alegre. O Centro de Opera­ções da Polícia Civil feL contato com as delegacias do Estado. para que os policiais ficassem atentos quanto à hospitalização de alguém ferido a tiro no peito. Ainda no final da noite, os criminosos foram cercados em um matagal. nas pro­ximidades da EletrosuL cm Grava taí. O tenente PM Alfcu Frei tas Moreira comandou as orera ções e pediu auxílio ao Batalllào de Choque

Segunda e Terça-feira. 3 J_] 2 90 e 1".1.91 /31

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FOTOS DO ARQUIVO DA BRIGADA MILITAR

Missa celebrada pelo padre João Peters no ginásio do 9º BPM, em homenagem aos PM mortos em serviço.

Velorio do cabo -PM Domingos Dalla Costa do 1º BPM morto em 1969 (Presentes os então tenentes-coronéis PM lriovaldo e Jesus)

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OUTROS PM MORTOS EM OCORRÊNCIA

Guilherme Gabriel R. Frei tas Mei r.el les

Nelson Prestes 9" BPM

Ademir José Stocker 7° BPM

Dinarte Marques 12° BPM

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REGISTROS DE MORTES DE POLICIAIS MILITARES, EXTRAfDOS DO JORNAL "CORREIO DO POVO",

NA SEÇÃO "CRÔNICA POLICIAL"

Particularmente faço meus agradecimentos a este Centenário Órgão de Imprensa, Jornal "CORREIO DO POVO", que graças a seus registros foi possível relatar a nossos leitores os fatos que culminaram com a morte de nossos valorosos brigadianos, já que não nos foi permitido fazer um relato mais amplo, por não nos ter sido fornecido os assentamentos pelas Unidades a que estes policiais militares pertenciam.

Estendo este agradecimento à senhora Sandra Lewandowski, que foi incansável nas pesquisas para descobrir estas crônicas que deram um "algo mais" ao nosso documentário.

Aliados neste trabalho, pelo menos não deixamos ficar no esquecimento estes nossos vai orosos companheiros.

JOÃO BATISTA ANTL:JNES - SOLDADO PM + Falecido em 25 de dezembro de 1967

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SOLDADO ASSASSINADO DATA: 28 de dezembro de 1967

"Notícias procedentes de Passo Fundo dão conta que foi assassinado na madrugada do Natal, o soldado da Brigada Militar, João Batista Antunes.

O crime foi praticado pelos irmãos Ruas, tendo um deles, Gomercindo, sido prêso logo após, enquanto o outro conseguiu fugir.

Os irmãos Ruas estavam promovendo desordens num bar, sendo dali retirados pelo soldado.

Quando já estavam na rua, Gomercindo sacou de um revólver e desferiu três tiros contra o brigadiano, matando-o instantâneamente.

O criminoso, que foi prêso, estava em liberdade condicional". O soldado Antunes despediu-se desta vida, exatamente no dia em que

a humanidade comemorava o nascimento do homem que foi o símbolo da bondade, do amor ao próximo e da compreensão. Talvez por ser João Batista, foi chamado para compor a legião dos anjos de guarda dos que ficam, e sabemos que, por sua passagem pela terra como guardião da sociedade, lá de cima ele continuará como nosso protetor nessa árdua missão de dar segurança.

Portanto, ao João Batista Antunes, a nossa homenagem. Nós aqui, em cada Natal, estaremos lembrando a sua memória reveren­

ciando sua dedicação e amor ao dever.

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MILTON GOMES DA ROCHA - SOLDADO BOMBEIRO MILITAR -1? GI + Falecido em 15 de março de 1968

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SOLDADO DO CORPO DE BOMBEIROS MORTO NO CUMPRIMENTO

DO DEVER DATA: 16 de março de 1968

- "Às últimas horas da noite de ontem, iniciou um pequeno incêndio no galinheiro situado nos fundos da garagem "lnterlagos", na Rua José de Alencar, Imediatamente foram chamados os bombeiros, pois embora o sinistro não fosse de proporções, pelo fato de ser numa simples garagem, onde estão guardados inúmeros veículos e onde há grande quantidade de gasolina, fazia-se necessário a presença dos homens do fogo para garantir a incolumidade dos bens ali expostos e evitar a propagação das chamas.

Uma guarnição do quartel central foi ao local, tendo o chefe da equipe designado o soldado Milton Gomes da Rocha, de 22 anos para subir no telhado da garagem, medida que visava proteger seu interior e possibilitava fosse jogada a água sobre o local incendiado. O soldado todavia não notou que havia uma telha quebrada, e que o local não era seguro. Quando pisou sobre a telha quebrada, esta cedeu, tendo o bombeiro se despencado de uma altura de quatro metros.

Em seguida b soldado foi removido para o Hospital de Pronto Socorro, mas morreu quando estava sendo atendido.

Pela necrópsia procedida em seu cadáver, foi constatado que uma costela fraturada na queda penetrou no pulmão, causando-lhe forte hemorragia interna e a morte.

O corpo do jovem bombeiro foi transportado para o quartel central do Corpo de Bombeiros, onde foi velado durante todo o dia de ontem. O enterro realizou-se às 17 horas sob grande acompanhamento de oficiais e praças e dez caminhões do Corpo de Bombeiros. No cemitério de São Miguel e Almas, usou a palavra o Capitão Antonio Augusto Azambuja, que enalteceu as qualidades do soldado morto, especialmente sua disciplina e noção do dever. Alertou os bombeiros que este não seria o último homem a morrer nessas condições, pois a missão a que se dedicavam os homens do fogo exigia desprendimento integral.

Logo após, um "toque de silêncio" o corpo de mais um bombeiro morto no cumprimento do dever baixava à sepultura".

- Rendemos aqui também nossas homenagens a mais este herói, que na flor de sua juventude entregou sua vida, tentando salvar um patrimônio e outras vidas.

Ao Milton Gomes da Rocha, o nosso reconhecimento e gratidão.

CARLOS BORK DE MATOS - SOLDADO PM-3? BPM + Falecido em 20 de setembro de 1971

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: IPM PARA ASSASSINO DE SOLDADO DATA: 22 de setembro de 1971

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- "O Comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, Ten. Coronel PM João Aldo Danesi, designou o Ten. PM José Luiz Preto de Menezes da 4ª Cia, para presidir o inquérito policial militar mandado instaurar em torno do assassinato do PM Carlos Bork de Matos, fato ocorrido em Morunga­va, distrito de Gravataí.

Conforme publicamos o PM Carlos Bork de Matos policiava uma festa num colégio, quando foi chamado a intervir numa briga entre menores.

Um deles o criminoso, foi mandado para casa. Minutos depois retornou, armado com uma pistola calibre "22", e desferiu um tiro no policial, que teve morte instantânea".

É quase uma constante, a maioria dos assassinatos de policiais milita­res, se deram em datas significativas, como foi o caso de Carlos Bock, que morreu em pleno exercício de sua função policial militar, no dia em que era comemorado o aniversário da Revolução Farroupilha, onde pela identi­dade que há da história do Rio Grande com a história da Brigada Militar, esta Revolução se funde, e fica mais marcante quando justamente neste dia, mais um mártir aumenta a galeria dos heróis rio-grandenses.

ITAMAR AIRES BECKER - SOLDADO PM- 1 ~ RPMon + Falecido em 24 de março de 1972

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: PRÊSO O AUTOR DA MORTE DO PM DATA: 28 de março de 1972

- "São Sepé - Foi prêso em Santa Maria o abigeatário Manoel da Silva Leite, autor da morte do PM Itamar Aires Becker ocorrido semana passada em Cerrito do Ouro, neste município.

Itamar e mais dois companheiros de farda surpreenderam Manoel da Silva Leite e outros indivíduos conduzindo uma tropa roubada.

Quado tentavam interceptá-los, Manoel atirou contra o policial militar, matando-o na hora".

TELMO DE SOUZA ANDRADE - SOLDADO PM-1 ~ BPM + Falecido em 06 de junho de 1972

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: INTERROGATÓRIO DE MARGINAL QUE MATOU PM DATA: 08 de junho de 1972

- "Carlos Reinaldo Antunes de Vasconcellos, que assassinou o PM Telmo de Souza Andrade na noite de terça-feira última, deverá ser interrogado pelas autoridades da Delegacia de Homicídios para esclarecer a origem da arma que usou, uma pistola 7,65, e suas atividades desde que saiu da prisão em fevereiro deste ano.

O crime ocorreu na Rua ltaborar número 223. Carlos Reinaldo estava desaparecido desde que safra da prisão. Naquela data apareceu na casa de

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dona Zilda Antunes de Vasconcellos, sua mãe, com quem 1rnc1ou violenta discussão. A certa altura Carlos Reinaldo desferiu vários tiros contra dona Zilda "apenas para assustá-la", conforme declarou no plantão do DPM.

Dirceu Codessa, de 50 anos, morador na rua ltaboraf número 229 a pedido de dona Zilda, comunicou o fato às autoridades. Minutos depois comparecia ao local a RPM 521, comandada pelo soldado Dalenco Scheffer, de 28 anos, e o PM motorista Telmo de Souza Andrade.

Quando a porta foi aberta, Carlos Reinaldo, desferiu três tiros contra o PM Telmo, acertando dois. Removido para o Hospital de Pronto Socorro o militar morreu às 23 horas. O criminoso foi autuado em flagrante e recolhido ao Presídio Central.

O PM T~lmo de Souza Andrade que tinha 25 anos, era natural de Carazinho, e há quatro anos estava na Brigada Militar. Em sua folha de serviço, constam vários louvores ao seu comportamento no trato com o público e aos demais trabalhos como policial militar".

NERCI PEREIRA FLORES - SOLDADO PM-15 ~ BPM * Nascido no ano de 1936 + Falecido no dia 13 de março de 1973

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: PM ASSASSINADO A TIROS EM CANOAS DATA: 14 de março de 1973

O PM NERCI PEREIRA FLORES, 37 anos, casado, que servia na 3ª Cia de Policiamento em Canoas, foi assassinado ontem à noite com dois tiros de revólver.

O crime ocorreu defronte a uma barbearia na parada 40, da Avenida Vitor Barreto, onde o criminoso promovia desordens.

O PM Nerci foi chamado ao interior e ao dar a voz de prisão, foi pelo mesmo mortalmente ferido.

Um soldado do Corpo de Bombeiros viu ocriminoso dearma na mão e tentou prendê-lo. Porém ele conseguiu fugir. O militar usou de sua arma não sabendo se acertou ou não. A polícia de Canoas iniciou sindicâncias para identificar o autor do crime que teria embarcado num "Fuscão" azul, tomado rumo ignorado.

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: ASSASSINO DE PM PRESO DATA: 15 de março de 1976

Ontem pela manhã a polícia de Canoas prendeu o marginal Manoel Otílio Alves Brião, de 27 anos áutor da morte do PM Nerci Pereira Flores, ocorrida na noite de terça-feira, naquela cidade na Avenida Vitor Barreto, parada 40. Manoel Otílio Alves Brião foi preso na localidade denominada Mato Grande, na Matias Velho.

Os autores da prisão foram os soldados da 3ª Cia de Policiamento, onde o PM Nerci Pereira Flores estava lotado.

As autoridades policiais apuraram que Manoel Brião é ébrio costumaz,

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desordeiro e que vive às custas de sua mãe, que trabalha como domêstica. O sepultamento do PM Nerci Pereira Flores foi realizado ontem, às 18 horas, no cemitéio da Chácara Barreto, com honras militares.

As nossas homenagens a este valoroso soldado, que também entregou sua vida em benefício da segurança pública, no entanto não fosse o registro jornalístico de um jornal da capital, seu nome seria esquecido mais uma vez. Esperamos com este registro, resgatar a memória desse bravo brigadiano que também faz parte da história da Brigada Militar.

ARIZOLI LOPES DE MATOS - SARGENTO PM- 3 ~ RPMon + Falecido a 04 de janeiro de 1974

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SARGENTO PM MORTO A FACADA DATA: 05 de janeiro de 1974

Passo Fundo - Os irmãos Adalgiso e Dirceu Ferreira Gomes, de 20 e 22 anos respectivamente, foram autuados em flagrante pela morte do Sargen­to PM Arizoli Lopes de Matos. Na quarta-feira, o sargento Arizoli encontrou restos de um boi que havia sido carneado na fazenda do 3º Regimento de Polícia Montada e por ordem superior iniciou investigações para identificar os ladrões. Ontem, às 16 horas e 30 minutos, o sargento deu voz de prisão aos irmãos Adalgis"o e Dirceu, filhos de um oficial reformado da Brigada Militar, que tentaram fugir.

O militar consegui segurar a Dirceu e quando lutava com ele foi morto com golpes de faca pelas costas, por Adalgiso.

Prestamos também nossas homenagens a mais este valoroso graduado, que sobremaneira honra a farda da Brigada militar, não tendo levado em consideração que quem cometia o delito eram filhos de um colega de farda, no entanto, o seu dever para com o povo que o pagava, e com a honra de sua Corporação, cumpriu o seu dever, e isto tirou-lhe a vida.

Sua morte, porém, vem engrandecer ainda mais a nossa querida Cor­poração.

Arizoli, passa a ser o símbolo daqueles que usando a farda brigadiana colocam o dever acima de suas próprias vidas.

ARAQUEM PINHEIRO - SOLDADO PM - 2 ~ BPM + Falecido em 17 de julho de 1975

CORREIO DO POVO: CRÔNICA P.OLICIAL TÍTULO: SOLDADO FOI ASSASSINADO COM UMA FACADA NO PEITO DATA: 18 de julho de 1975

São Borja - O soldado PM Araquem Pinheiro, de 35 anos, que servia no 2º Batalhão da Brigada Militar, foi assassinado com uma facada no coração às 04 horas de hoje, pelo marginal identificado apenas pelo apelido de Ralo. 9 crime ocorreu num bordel, na zona de meretrício, onde Araquem sustentou

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violenta discussão com Leôncio Valei Vasques, a dona da casa Maria Dornelles e o assassino, que se encontram foragidos.

BRIGA E MORTE

Por motivos que a polícia ainda não revelou, o soldado se desentendeu com a dona da casa, Leôncio e "Ralo", chegando a disparar seu revólver (calibre 38) duas vezes, sem acertar ninguém. Segundo ainda essa versão, que foi apresentada por Leônci o depois de ser prêso, após os disparos o malandro "Ralo" investiu contra Araquem, matando-o com uma única facada. O policial militar chegou a ser levado para o hospital da cidade, mas chegou lá morto, sendo o corpo levado para o quartel da BM, onde foi velado até a tarde de hoje por seus companheiros.

Na edição do dia 19 de julho, o jornal Correio do Povo fez ainda outra crônica sobre a morte do soldado Araquem, sob o título "JÁ ESTÁ PRÊSO O MATADOR DO SOLDADO EM SÃO BORJA":

O jovem Luiz Carlos Sagai, de 20 anos, que a polícia só conhecia pelo apelido de Ralo, compareceu hoje à tarde na delegacia local, entregan­do-se como autor da morte do soldado PM Araquem Pinheiro, morto na quarta-feira, com uma facada no coração. Luiz Carlos, que apresentou versão idêntica à de Leôncio Vasques, empregado da boate e testemunha ocular do crime, foi preso logo depois de prestar depoimento, para aguardar o pedido de prisão preventiva.

Embora não esclarecidos os fatos que culminaram com a morte de Araquém, ficamos com a idéia de que pelo fato de ser um soldado e ser permanentemente responsável pela manutenção da ordem, e seus antagonistas serem maginais, a sua participação no episódio só pode ter sido na salvaguarda da segurança. Por esta razão prestamos nossa homenagem ao soldado Ara­quém.

JONES MORAES BECKER-SOLDADO PM-12? BPM + Falecido em 27 de setembro de 1975

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SOLDADO ASSASSINADO POR MARGINAL EM FARROUPILHA DATA: 28 de setembro de 1975

Um elemento conhecido apenas como João Maria e tido como compa­nheiro de Jaca e Papagaio, foragidos do presídio municipal há mais de 2 semanas, assassinou ontem à noite com úm tiro no coração, o PM Jones Moraes Becker. O crime foi registrado na zona de meretrício de Farroupilha, onde Jones acompanhado de mais dois soldados da Brigada Militar, investigava assalto contra uma meretriz.

O PM foi abatido quando chegava nas proximidades da boate Belloni, onde Maria Terezinha de Oliveira foi assaltada, tendo o criminoso e seus dois companheiros escapado durante o tiroteio travado com os outros dois soldados.

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Segundo o comandante da Brigada Militar, o Soldado Jones estava preparado para garantir o policiamento do baile de uma sociedade de Farrou­pilha, quando recebeu a comunicação do assalto.

Imediatamente, com dois outros companheiros, o PM resolveu atender a ocorrência, sendo assassinado pelo marginal enquanto chegava à boate em que teria ocorrido o assalto.

Os companheiros de Jones, que logo responderam ao fogo, confirmaram que João Maria estava mesmo acompanhado por dois desconhecidos que participavam do tiroteio.

Informações posteriores, prestadas por algumas pessoas que se encon­travam no local, garantiram a certeza de que o assassino estava com "Joca" e "Papagaio", os dois perigosos assaltantes foragidos do presídio municipal de Caxias do Sul".

Nas surpresas que o destino nos proporciona, Jones, que estava desig­nado para outra missão, foi conduzido para seu holocausto, justamente num local onde proliferam marginais, traficantes e outros tipos de desajustados sociais que mda contribuem para a sociedade.

Sua morte deixa comprovado mais uma vez que a Brigada Militar não escolhe onde prestar seus ::;erviços, pois não nos cabe discriminar quem merece nossos préstimos operacionais.

Portanto nossa homenagem a Jones e seus companheiros, que arrisca­ram suas vid?S para atender a um semelhante.

JOSÉ POSTIGLIONE MONTEIRO -SOLDADO PM-1 ~ RPMon + Falecido a 01 de janeiro de 1976

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SOLDADO DA BM ASSASSINADO DATA: 03 de janeiro de 1976

A Polícia Civil e a Brigada Militar estão diligenciando para prender Nelson Weber Brondani, que na tarde de quinta-feira matou o PM José Posti­glione Monteiro com três tiros, e feriu seu colega Fábio Guedes de Souza. O crime verificou-se no Balneário do Passo das Tunas, em Restinga Seca, distante 70 quilômetros de Santa Maria. Os dois soldados tinham retirado da praia um indivíduo que se portava de modos inconvenientes, empregado na fazenda do pai de Nelson Weber Brondani, que foi até o destacamento pedir explicações aos policiais e acabou por atacá-los a tiros. Os PM também usaram suas armas. O criminoso fugiu em uma.camioneta Ford.

O soldado Fabio Guedes de Souza foi levado para Santa Maria e internado no Hospital da Brigada Militar.

CORREIO DO POVO: CRôNICA POLICIAL TÍTULO: APRESENTOU-SE À POLÍCIA O MATADOR DO PM DATA: 06 de janeiro de. 1976

Nelson Weber Brondani, que matou o PM José Postiglione Monteiro

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e feriu seu colega Fábio Guedes de Souza, em Restinga Seca, foi apresentado à Polícia de Santa Maria, onde tramita o inquérito.

Por este motivo foi encaminhado o IML, e após autuado em flagrante.

Na abertura do ano de 1976, quando em todos os cantos desta planeta os homens se confraternizavam, lá no pequeno município de Restinga Seca esta comemoração foi impedida por um fascínora ao soldado Postiglione.

Talvez se escudando no dinheiro de seu pai, o criminoso Nelson marcou com sangue um momento de felicidade de dois homens dignos e chefes de família, que estavam em plena atividade, enquanto todos comemoravam, e foram covardemente atacados. Para a família de José Postiglione, a partir daquele ano de 1976, não há mais comemoração de Ano Novo, mas nós brigadianos que continuamos nossos rumos, reverenciamos mais este herói que não pôde voltar para casa com sua família, mas ficará permanentemente na lembrança daqueles que do primeiro ao último dia do ano velam por nossa segurança.

UBIRAJARA DA LUZ CAMARGO - SOLDADO PM- 8 ~ BPM + Falecido em 24 de janeiro de 1976

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: SOLDADO PM MORTO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO NA PRAIA DOIMBÉ

·, DATA: 25 de janeiro de 1976

- "Na manhã de ontem, às 06 horas, o soldado PM Ubirajara da Luz Camargo, 21 anos, casado, foi colhido pelo automóvel Chevette placas AN 5837, na estrada do lmbé, onde exercia suas funções no Posto Policial daquele balneário.

O motorista causador do acidente conduziu Ubirajara para o Pronto Clínica de Tramandaí, onde recebeu os primeiros socorros. Dada porém a gravidade das lesões recebidas, teve que ser removido para o Hospital de Pronto Socorro, em Porto Alegre, onde chegou morto, às 07:45 horas. Ubira­jara era casado há pouco tempo e sua mulher está grávida".

O soldado Ubirajara incluiu na Brigada Militar em 1974, quando eu estava no 8° BPM, foi um dos "recrutas" de uma turma de 38, que marcou época naquele Batalhão, por ser o grupo de alunos soldados mais 'homogênea que se teve notícia até hoje.

Dos trinta e oito, a grande maioria hoje é graduado, alguns são oficiais, e outros seguiram outros rumos na vida civil, mas sem exceção todos bem sucedidos.

Ubirajara não era diferente, pois mesmo com seu jeito muito humilde e prestativo, era dotado de uma grande inteligência, tanto que com um ano de Batalhão foi designado a comandar o posto na Praia de lmbé. Com seus dois anos de serviço já dava mostras de ter um grande futuro.

Era época de Operação Golfinho, neste período as praias ficam muito agitadas, mas com sua paciência Ubirajara dava conta de tudo sem maiores problemas.

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Porém foi um descuido que tirou-lhe a vida, mas nem por isso deixamos d~ .reconhecer seus mér.itos de g~and~ soldado. O comandante da Brigada M1~1ta_r, coronel Jesus Lrnares Gurmaraes, prestou uma justa homenagem a Ub1ra1ara, através da família, entregando uma placa de reconhecimento aos grandes profissionais que atuaram na Operação Golfinho daquele ano, sendo destacado seu nome como um dos expoentes no serviço de policiamento de toda a Operação.

Rendemos também nossas homenagem a este valoroso herói brigadiano.

JOSÉ PINTO MAMANN - SOLDADO PM - 3 ~ RPMon + Falecido em 8 de fevereiro de 1977

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TITULO: LADRÃO MATA PM EM PASSO FUNDO DATA: 09 de fevereiro de 1977

"Durante uma diligência realizada pela Polícia de Passo Fundo, para prender o ladrão Gilson Andrade de Souza, foi morto com dois tiros de revólver o soldado da Brigada Militar José Pinto Mamann, de 34 anos.

A Polícia recebeu denúncia de que Gilson Andrade de Souza, que roubara um Volkswagen em Tapera e estava numa casa da Rua Mascarenhas, nos fundos do estádio do Esporte Clube Gaúcho.

A mulher Jacira.Monteiro e outros dois marginais, identificados apenas pelos nomes de Geraldo e Elton, estão presos. Gilson Andrade de Souza conseguiu fugir."

CRÔNICA DO DIA 10 DE FEVEREIRO TÍTULO: ARMA QUE MATOU PM ERA ROUBADA

- "Policiais de Passo Fundo continuam procurando o assaltante e ladrão de automóveis Gilson Andrade de Souza, que no início da semana assassinou com dois tiros de revólver o soldado PM José Pinto Mamann, que participava de uma diligência para a sua captura.

Os investigadores apuraram que o revólver utilizado pelo marginal para matar o policial fora roubado do automóvel GB 3473, de propriedade de Edinho P. Duarte, na noite do crime. Jacira Monteiro, amante de Gilson continua sendo interrogada."

CRÔNICA DO DIA 11 DE FEVEREIRO TITULO: PRÊSO ASSASSINO DO POLICIAL MILITAR

- "Foi prêso na manhã de ontem, em Três Lagoas, no interior de Passo Fundo, Gilson Andrade de Souza, que na segunda-feira assassinou o soldado PM José Pinto Mamann, com dois tiros de revólver. O criminoso foi preso jogando bolão em um bar próximo da casa de Otávio Marcondes que o escondia das autoridades policiais. Lúcio Necolodi de Andrade, primo do criminoso, foi quem auxiliou a fugir na noite do crime. Lucio foi detido. e contou alguns detalhes à Polícia sobre a localização do criminoso, comple-1-ªdos, mais tarde com a prisão de Otávio Marcondes. O assassino inocentou

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sua mulher Juraci Souza, que ignorava sua conduta criminosa. Gilson Andrade vai ser processado por homicídio, roubo de automóveis, cheques falsificados e assaltos.

VALDEMAR ESCOBAR DOS SANTOS - SOLDADO PM- 1 ~ RPMon + Falecido em 06 de maio de 1977

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: POLICIAL MILITAR MORTO EM SANTA MARIA DATA: 07 de maio de 1977

- "O soldado PM da Brigada Militar, Valdemar Escobar dos Santos, 35 anos, casado, pai de quatro filhos, todos menores, foi assassinado na manhã de ontem, no recinto da Viação Férrea, no quilômetro dois da linha da Fronteira em Santa Maria.

O criminoso foi preso e identificado como Antonio Alves de Gampos, que ainda brigou com outros policiais militares até ser ferido a bala pelo cabo Rezer, que comandava a patrulha.

Um irmão do criminoso informou às autoridades que o mesmo tem péssimos antecedentes.

Quando tinha treze anos, matou um menor da mesma idade por estran­gulamento.

O soldado Valdemar foi sepultado no dia 07 de maio no Cemitério Municipal de Santa Maria."

HERMES COSTA DA ROSA-SOLDADO PM-3~ BPM + Falecido em 04 de maio de 1979

CORREIO DO POVO: CRÔNICA POLICIAL TÍTULO: NÃO FOI ENCONTRADO MARGINAL QUE MATOU PM COM TIRO NO PEITO DATA: 06 de maio de 1979

- "A Brigada Militar, juntamente com a Polícia Civil de Viamão, estão empenhadas na captura do marginal Valter Gomes, de 26 anos, o "Cabeleira", que no final da noite de sexta-feira assassinou, com um tiro no coração, o PM Hermes Costa da Rosa, de 47 anos, lotado no 3º Batalhão da Brigada Militar naquela cidade.

O crime ocorreu em frente do armazém e mini-snooker Padre Réus, na estrada Caminho do Meio, Vila Stela Maris.

Apesar das diligências intensificadas durante toda a madrugada, manhã e tarde de ontem, o criminoso não foi encontrado, inclusive em sua casa, na Rua São João, em Viamão.

Os policiais apuraram que o PM Hermes da Rosa estava no interior do armazém, juntamente com outras pessoas, assistindo a um jogo de mini-s­nooker. Posteriormente, o soldado resolveu também participar do jogo, sendo acompanhado por Paulo Roberto Santos, de 22 anos. Em seguida, houve um desentendimento entre os jogadores de outra mesa e Hermes Rosa, que ~stava fardado, resolveu intervir, solicitando a Valter Gomes, um dos que

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discutiam, que parasse com o tumulto. Bastante embriagado, Valter continuou a briga, provocando o soldado

Hermes para uma luta. Passados para alguns minutos, a situação acalmou e o policial militar

resolveu então voltar à sua casa. No momento em que saía do armazém, ele foi atingido com um tiro

de revólver no peito, caindo ao solo. O autor do disparo, Valter Gomes, o "Cabeleira" esperou a vítima atrás de um muro. Hermes foi socorrido por seu colega, cabo Jorge Gonçalves. Contudo chegou sem vida ao Pronto Socorro".

O caso do Soldado Hermes não foi especificamente em ocorrência, no entanto fiz questão de relatar, mais como uma advertência aos compa­nheiros da Brigada, querendo mostrar-lhes o perigo que é freqüentar certos lugares, usando o fardamento, pois passa a ser um alvo fácil de provocações para testar o desempenho. De qualquer maneira sua morte não importa em que circunstâncias, nos deixa a todos enlutados.

OUTRAS MORTES - POUCOS REGISTROS

A seguir, passaremos a relatar mortes acontecidas também em ocorrên­cia policial militar, mas que não foram devidamente explicitadas em dados fornecidos pelas Unidades, provocando em conseqüência a dificuldade em fazer um relato mais amplo da vida profissional dos PM.

Será possível descrever com poucos dados apenas a causa da ocorrên­cia, o que dá para verificar a pouca atenção dada às mortes de nossos companheiros, que entregaram suas vidas em prol da segurança e bem-estar da sociedade.

Nos constrange sobremaneira não podermos apresentar na íntegra a vida pregressa destes policiais militares; porém, mesmo que tenhamos feito pesquisas, solicitações e consultas, o que conseguimos foram apenas lembran­ças dos fatos, pois não há nenhum registro consistente que desse oportunidade de dar conhecimento aos nossos seletos leitores de como foi a trajetória de seus colegas, até o momento derradeiro em sua carreira, onde, em nosso entendimento, todos sem exceção são heróis e mártires ao mesmo tempo, e que mereceriam uma lembrança bem mais efetiva e reconhecida por terem derramado seu sangue para o engrandecimento da Brigada Militar.

JAQUES SOARES RODRIGUES - SOLDADO BM (Bombeiro Militar)- 2 ~ BPM

Jaques nasceu na cidade de Cachoeira do Sul, no dia 02 de maio de 1960. Ingressou na Brigada Militar no dia 15 de maio de 1984, no 4º Grupamento de Incêndio na cidade de Santa Maria. No dia 12 de abril de 1989, a guarnição de socorro foi solicitada a atender uma ocorrência onde em decorrência de um temporal havia caído um fio de alta tensão na via pública. Ao chegar no local o soldado Jaques tomou a iniciativa das providên­c_ias, mas quando pegou o fio, recebeu uma carga elétrica fortíssima, sendo

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jogado à distância. O choque foi fulminante, e Jaques ficou ali estendido já sem vida .

••• VITOR ORTIZ PEREIRA - SOLDADO BM (Bombeiro Militar) - 4 ~ GI

Sabe-se apenas que sua incl.usão deu-se no dia 27 de junho de 1967. No dia 1 O de junho de 1974, sofreu um acidente por ocasião do atendimento de uma ocorrência. Ficou hospitalizado no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo. No dia 25 de julho do mesmo ano, não resistindo aos ferimentos, veio a falecer.

• •• JESUS EMIR MACHADO FERRÃO- 3 ~SOLDADO BM (Bombeiro Militar) - 4 ~ GI

Nasceu no dia 24 de janeiro do ano de 1958, na cidade de São Pedro do Sul. Incluiu na Brigada Militar no dia 01 de março de 1978, no 4º Grupamento de Incêndio. No dia 12 de abril do ano de 1990, baixou extraordinariamente ao Hospital Astrogildo Azevedo com problemas cardíacos, e no dia 15 de abril, três dias depois portanto, não resistiu e veio a falecer .

••• CARLOS FRANCISCO DOS SANTOS - SOLDADO BM (Bombeiro Militar) (Bombeiro Militar) - 4 ~ GI

Carlos Francisco nasceu na cidade de Santa Maria em 31 de março de 1943. Ingressou na Brigada Militar em 17 de fevereiro de 1964, no Corpo de Bombeiros em Porto Alegre, com vinte e um anos de idade. No dia 21 de setembro de 1986, quando retornava para a sua residência, após cumprir seu turno de serviço, foi atropelado, vindo a falecer. Quando faleceu, pertencia ao 4° Grupamento de Incêndio, com sede na cidade de Santa Maria .

••• JOÃO ELIAS CASTANHO - SOLDADO BM (Bombeiro Militar)- 4 ~ GI

O soldado Castanho nasceu em Santo Angelo, no dia 03 de dezembro de 1950. Ingressou na Brigada Militar, no 7º Batalhão de Polícia Militar, em 15 de maio de 1970. Em Três Passos, desde que concluiu o Curso de Soldado, passou a exercer a função do motorista. Conheci-o pessoalmente e posso dizer que que muito poucos motoristas conheci com a sua dedicação e capricho para com as viaturas que trabalhava. Uma de suas características era a introspecção, pois falava muito pouco. Às vezes fazíamos viagens longas, nas quais se não fosse puchado assunto, ele ia e voltava sem dizer uma palavra. Era uma excelente pessoa, estava sempre pronto a atender qualquer solicitação.

E é com muito pesar que, recebendo a relação dos mortos em serviço,

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co~stato.? nome deste jovem e brilhante soldado, com o qual enfrentamos muitas d1f1culdades nestas estradas íngremes do interior. Sua morte deu-se no dia 14 de agosto de 1987, quando contava com 36 anos de idade. Não consta a forma como morreu, apenas que um civil comunicou ao comandante do socorro da Sub-seção de Incêndio de Palmeira das Missões onde Castanho servia, que havia um soldado sob o rodado do caminhão. O m'esmo caminhão do qual o soldado Castanho era motorista.

A guarnição de serviço retirou-o de sob o rodado traseiro do caminhão e conduziu-o ao Hospital de Caridade de Palmeira das Missões, porém nada pode ser feito. Ao chegar no hospital já estava sem vida.

Rendo minhas homenagens ao amigo e companheiro Castanho e que o Senhor todo poderoso o tenha em um lugar privilegiado, conforme ele merece.

• •• LUIS CARLOS LOPES DA ROSA - SOLDADO BM- 4 ~ GI

Luiz Carlos nasceu na cidade de Restinga Seca no dia 19 de agosto de 1956, incluiu na Brigada Militar no 4º Grupamento de Incêndio, no dia 16 de outubro de 1981. No dia 06 de fevereiro de 1989, ao sair para atender uma ocorrência de incêndio, ao chegar no trevo de acesso para a cidade de São Pedro do Sul, a viatura deslocava-se com velocidade relativa para chegar a tempo de combater o fogo, desgovernou-se no areião que encontra­va-se na pista, vindo a bater em um poste de alta tensão.

Com o choqu~ os ocupantes do caminhão foram jogados à distância, sendo que Luiz Carlos caiu de cabeça no asfalto, morrendo no local.

Reconhecemos o perigo que enfrentam os soldados do fogo que cada vez que são solicitados a prestar socorro, colocam suas vidas em risco, tanto pela necessidade de terem que deslocar-se com rapidez, como pelos perigos apresentados nas adversidades que encontram.

Nosso reconhecimento a mais este soldado do fogo, que pereceu quan­do a urgência se fazia necessária para atender a um chamado da sociedade que conta com a nossa segurança.

• •• CARLOS VOLNEI RODRIGUES - SOLDADO BM - 4 ~ GI

Carlos Volnei nasceu na cidade de Santa Maria no dia 23 de setembro do ano de 1958. Ingressou na Brigada Militar no dia 04 de outubro de 1982 no 5º Grupamento de Incêndio na cidade de Caxias do Sul.

Carlos Volne! pereceu na mesma ocorrência onde perdeu a vida o soldado Luiz Carlos Lopes, no trevo de acesso à cidade de São Pedro do Sul.

A ele também prestamos nossa homenagem e gratidão pelo seu tra­balho.

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ALFREDO ALVES MAURÍCIO - SOLDADO PM - 1? RPMon + Falecido no dia 15 de janeiro de 1971

O soldado Alfredo foi chamado a atender uma ocorrência na vila Kennedy em Santa Maria, próximo à sua residência, quando foi armada uma cilada para assassiná-lo.

Não constam nos registros fornecidos pela Unidade dados sobre sua inclusão e tempo de serviço, ficando apenas o registro da sua morte, a quem prestamos também nossa homenagem .

••• INOCÊNCIO PIRES MACHADO - SOLDADO PM-1? RPMon + Falecido no dia 10 de março de 1971

O soldado Inocêncio dirigia-se para efetuar o policiamento em um baile na localidade de Camobi, quando sofreu um acidente de trânsito que provocou a sua morte.

• •• SOLIMAR PARODE .DA ROSA - SOLDADO PM -1? RPMon + Falecido a 13 de abri 1 de 1990

Solimar nasceu no dia 23 de março de 1961, incluiu na Brigada Militar no ano de 1980. No dia 13 de abril de 1990, às 20:30 horas, foi solicitado a atender uma ocorrência na Vila Kennedy. Ao fazer a abordagem aos elemen­tos suspeitos, foi baleado, falecendo no local. O soldado Solimar teve o mesmo destino do soldado Alfredo Alves Maurício, que nove anos antes havia sido assassinado no mesmo local.

••• GILMAR GIRARDON BEVILACQUA - SOLDADO PM - 1? RPMon

Gi lmar nasceu no dia 04 de setembro de 1968. Não nos foram fornecidos outros dados referentes à sua inclusão e data de morte, porém consta que quando deslocava do quartel para sua residência em um caminhão choque da Unidade, o mesmo sotreu uma queda, vindo a cair no astalto, sofrendo ferimentos na cabeça. Cinco dias após o acidente, veio a falecer. O fato ocorreu nas proximidades da BR 287, na faixa de São Pedro do Sul .

••• RAUL PEREIRA BUENO - CABO PM - 5? RPMon * 20 de abril de 1939 + 24 de março de 1978 (39 anos)

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Raul incluiu na Brigada Militar no dia 17 de março de 1961, sendo promovido à graduação de cabo PM em 17 de novembro de 1966.

No dia 24 de março, ao atender uma ocorrência na localidade de Manoel Viana, pertencente ao 5º Regimento de Policia Montada, com sede na cidade de Santiago, foi atingido mortalmente. Não foram encaminhados pela Unidade maiores dados sobre a ocorrência ou sobre os assentamentos do cabo Raul, mas nem por isso deixamos de prestar-lhe nossas homenagens como mais um herói na galeria dos mártires da Brigada Militar .

••• ADROALDO SOUTO CHAVES - SOLDADO PM - 5 ~ RPMon * 02 de setembro de 1950 + 23 de outubro de 1983 (33 anos)

Adroaldo era originário da cidade de ltaqui. Incluiu na Brigada Militar no dia 25 de julho de 1974, no 5º Regimento de Polícia Montada. Sua morte se deu no atendimento de uma ocorrência na cidade de ltaqui, quando foi alvejado mortalmente por uma arma de fogo.

Também do soldado Adroaldo não constam maiores detalhes da ocor­rência e de seus assentamentos.

Prestamos também nossas homenagens ao soldado Adroaldo, espe­rando de sua Unidade um maior reconhecimento .

••• DIRLEI LUTZ KELLER - SOLDADO PM - 5 ~ RPMon * 01 de fevereiro de 1956 + 23 de dezembro de 1979 (23 anos)

Dirlei incluiu na Brigada militar no dia 29 de agosto de 1977, no 5° Regimento de Polf cia Montada.

Sua morte deu-se no dia 23 de dezembro de 1979, originária de uma ocorrência que foi atender na localidade de ltacurubi, no dia 21 do mesmo mês. A ocorrência se deu num baile naquela localidade, onde houve uma confusão provocada por alguns desordeiros. Quando o soldado Dirlei chegou para certificar-se do ocorrido, foi recebido a bala, morrendo no local.

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Um dia se ouviu sonoro e retumbante clarim e pelo pampa sem fim tooos puderam escutar o metal anunciar levando a cada rincão notícia de criação da Brigada Militar.

E desde que foi criada de fato e de direito,

TOQUE DE SILÊNCIO

jamais maculou seus feitos ou se deixou abater, cumpriu sempre seu dever servindo com lealdade a gaúcha sociedade na missão de proteger. E se ouvir diversas vezes, e muitas vezes enfim, a voz de muitos clarins sonorizando os pagos como um cJaro atestado de permanente vanguarda da farda amarelo-parda na segurança do Estado.

Mas como é duro de ouvir o clarim em funeral, saber que um policial da Bridaga de Massot em algum lugar tombou talvez sem haver razão ou nem mesmo explicação prá o gesto que o vitimou.

Quando o "toque de silêncio" substitui nossa voz o anseio de todos nós se mescla às notas sentidas, e a lágrima então contida, deixamos livre fluir para que assim ao cair orvalhe a razão da vida.

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João Vicente Osório Bitencourt 2~ Sgt PM

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Criminalidade faz aumentar númerode, hrigadianos mortos

1

1

_,,.,.

Dinarte Mar4ues, morto em 12104117 Salvador da R- Maciel, morto em 9/13117

Miguel Antonio Augusto Ferreira, merto em 161t5ll7 ·

PM é assassma o a go . f rt de toca-fita

PM morre ao tentar evitar u o · PM morto por

ladrões de cemitério

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B . di , - nga anosê'_ ___ -"'l':___

Morrem Para Salvar a Comunidade

Matéria Especial, página 10. A pé, motorizado ou a cavalo, há sem­

pre um brigadiano prestando serviços à população gaúcha e resolvendo os pro­blemas comunitários, muitas vezes tom­bando no cumprimento do dever.

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Bri.gadianos Morrem Ao Garantir Sua Proteção * A rotina é sempre perigosa e heróica para o policial-militar gaúcho

OS BOMBEIROS

Mas a Brigada Mililar também é Corpo de Bombeiros. E, nesta outra missão perdeu a vida dois de seus homens: Cabo Astrogil­do Leite Brião e o Soldado Bom­beiro Militar Jacques Soares Ro­drigues.

BRIÃO

ELcy

A brigada Militar ao longo dos anos de 1987, 88 e 89 perdeu 20 homens na luta contra o cri­me em defesa da sociedade rio­grandense e mais de 100 homens resultaram feridos, alguns rnutili­zados, como o soldado PM José Paulo Rodrigues Nunes. do lºBPM.

Muitas vezes os Policiais-Mili­tares da Brigada Militar são incom­preendidos pela própria socieda­de a qual eles arriscam a própria vida. Esta sociedade não vê neles os Columbos e Kojaks da televi­são que tanto torcem na frente de seus televisores a cada noite. É que estes Policiais não fumam cigarros finos, não falam tanto na mulher e nos filhos, nas suas aventuras diárias não hà um dire­tor gritando "corta", nem um maquiador pondo molho de toma­te após cada tiro pretensamente icertado e não há um "the end" J cada ocorrência atendida para jeixar o mocinho e a mocinha fe­izes. Numa cena real, do dia-a­

dia do policial-militar o chumbo substitui 0 tomate. O diretor é substituido pelo instinto do dever cumprido e nem sempre a cami-sa manchada de sangue vivo dos mais diferentes tipos e fatores RH pode ser lavada. As cenas fic­tícias, vistas a cada noite. na fren-te dos televisores, dos mais sim­ples aos mais sofisticados são roti­nas na vida do policial militar re-al. Torça, portanto, um pouco

d O soldado p e Freitas 29 au!o E!cy M li

t~e serviço: do ;~~~~; ida~e ~ ~ em Porto Ale iv1, fo1 mor-

março de 1988 gre, no dia 13 O cabo bombeiro militar As- cosras. • com um tiro de

trogildo Leite Brião, do 1° Grupa- -----.__ _ nas mento de Incêndio, 30 anos de MIGUEL idade e 9 de serviço, morreu ele-trocutado, quando tentava retirar um menino de um apartamento, no dia 27 de dezembro de 1988, em Porto Alegre

JACQUES

O soldado bombeiro militar Jacques Soares Rodrigues, do 4° Grupamento de Incêndio, 29 anos de idade e cinco de serviço, no atendimento da retirada de um'f'io de·aha tensão, dia 12 de abril de 1989, na 'ia pública, rece­beu umci forte fip~r.;ir~a elétrica.

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MEIRELLES

mais por-estes heróis diários. O heroísmo não está só no vídeo. O policial militar têm mulher· e filhos. Antes de criticá-lo e cha­má-lo de nomes pejorativos, lem­brem-se do que eles fazem por vo­cê e sua família.

O policial-militar muitas vezes foge de sua missão maior e, não raras oportunidades, vira até par­teiro, como na madrugada de três de maio, quando os policiais Mar­co Antunes Fernandes e Manoel Antônio dos Santos, do l ºBPM, transformaram a viatura 1651, da Brigada Militar, em sala de parto, para Elizabete Conceição Siqueira Batista dar a luz a uma menina. Ou recolhe um bebê apa­rentando três meses de idade en· contrado, dia 9 de maio, num gra­mado do número 470 da a\o·enida A.J.RENNER. em Porto Alegre, pelo <;oldado P\1 Edésio Freitas, do J J ·'BPM. mal vesiido e '>UJO, mas aparentando boa saúde.

HERÓIS DIÁRIOS

Quem sãc estes policiais-milita· res que pagaram com a vida o sa· grado dever de dar segurança a sociedade rio·grandense?

São criaturas humanas, com família. mulher e filhos. Gente que dependia de suas ações diá­rias. Suas mortes deixou um vazio na Corporação e no seio da fami­lia.

PRESTES

O 2° Sargento PM Dinarte Marques, ~7 a_nos, 12 de serviço, casado, dois filhos, do 12ºBPM foi baleado em São Leopoldo'. atendendo ocorrência, no dia no­ve de abril de 1987.

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EUCLIDES

BRANDÃO PM José Manta-

0 so\da~o 21 anos, um ;rno nher B~andao, l º RPMon, foi fe­de serviço, dd maio de 1987' em rido, dia 22 epor um menor com Santa Mana, UMA uma carabina P ·

s· O soldado p

CORREA

O soldado PM Gilberto Cor­rea, da 1' Companhia PM Inde­pendente, 22 anos de idade e um de serviço, casado e um filho, es­tava de folga, em Santo Ângelo, quando ao auxiliar os colegas, no cerco a um marginal foi atingi­do mortalmente pelo mesmo.

pa l'v1ac1eJ ~2 M SaJvad "'l:ada i\11ii1a;nos, três a~~ ~­

to, ~ , p · casado, foi s e mar · orro Xav· mor­ao ço de 1987 ler, no dia 9 d

atend ' com r • e ao 14º8PM ocorrência ~es tiros,

GILMAR

· · &tencia

E elides Rodri o so\dad_o Pii a~os de idade e

gues de Assis, . casado e um quatro de serviço, Porto Ale-filho, foi mortº;r;:de 1988, por gre,dia 25 ~e~ que assa\~avam dois margin . Pertencia ao uma \anchena. 9°BPM.

O soldado PM Everton de Moraes Daneres, do 6°RPMon, casado, 24 anos de idade e dois de serviço na Corporação, foi es­faqueado, em Bagé, dia 17 de ja­'1eiro de 1989, por um elemento que visavadesarmar, morrendo posteriormente, no Hospital da­quela cidade.

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OS HOMENS DA BRIGADA MILITAR, ESTÃO PERMANENTEMENTE ENTREGANDO SUAS VIDAS EM PROL DA SEGURANÇA PÚBLICA

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A morte de seis PMs foi no cumprimento do dever

Das lli vitimas, ate agora, seis poli­ciais militares morreram em missão de E>erviço, um por acidente, outro por afogamento, dois inativos fôram assas­sinados e cinco receberam ferimentos graves em missões de policiamento. Especialmente após o episódio da exe­cução do operário Júlio César de Melo Pinto, um inocente assassinado por bri­gadianos, no dia 16 de maio último, quase não passa semana sem que haja um PM baleado ou acidentado.

Neste ano, em que a Brigada Militar comemora lliO anos, a primeira baixa ocorreu em 29 de janeiro • na cidade de Frederico Westphalen. Lá, o soldado PM Ademir Stocker foi baleado por desconhecidos, ao fazer uma averigua­ção no IJ&irro Ipiranga, vindo a falecer logo em seguida.

Passaria mais de um mês até haver uma nova vitima na corporação. Foi no dia nove de março, na localidade de Li­nha Nova, no nruniclpio de Porto Xa­vier. Despreocupado, tratandotspenas de aproveitar bem o seu cpa deitolga, o soldado, Salvador Rosa 'Maciel. de 28 anos, estava desarmado quando foi atacado por um homem identificado como João Silveira. Sem chance de de­fensa, Salvador foi atingido por três disparos de revblver. Morreu.

Mais um mês passou, até que em 12 de abril aconteceu a morte do segundo - sargento Dinarte Marques de 37

' anos. do efetivo do 12~ Batalhã.o de Policia Militar, em Caxias do Sul. Ele também estava de folga, mas, mesmo assim, tentou impedir um assalto que acontecia na saída de um bailão da ci­dade, onde fora se divertir. junto com um cabo do batalhão. O sargento aca­bou atingido do abdõmem por um tiro de revólver calibre 38, disparado por um dos quatro ladrões que agrediam e assaltavam o comerciário Cláudio Soa­res Teixeira.

Após balearem o sargento os ladrões fugiram em um Corcel vermelho. Dl­narte ainda resistiu entre a vida e a morte até 26 de abril. quando faleceu no Hospital Petrópolls, em Porto Ale­gre. Ele era casado (deixou quatro fi­lhos menores) e tinha 12 anos de Briga­da Militar, com um comportamento considerado excepcional por seus supe­riores.

O corneteiro Ent• ' velo maio. e na mesma data

em q11'.> operário Júlio César foi assas­sindo. dia 16, o cabo Miguel Antônio Au-

gusto Ferreira. 411 anos, do 3~ Regimen­to de Policia Montada, foi assassinado a tiros em Cruz Alà, pelo granjeiro Wilson Tozzi, após discutirem por cau­sa de.uma infração de trânsito. O cabo foi atingido por dois disparos, e já che­gou sem vida ao Hospital Nossa Senho· ra de Fátima, para onde foi levado pelo colega de farda João de Souza Fades. Este crime teve especial repercussão em Porto Alegre, porque, durante mui­to tempo, Miguel Antônio foi corneteiro no QG do Comando da Brigada Militar .. Natural de Cruz Alta, o cabo começou sua carreira como brigadiano em São Leopoldo, em 1964., esteve em Osório e depois veio com a família para a capi­tal. sempre como corneteiro. Porém , saudoso da terra natal, para poder re­tomar a Cruz Alta, decidiu trocar de função, passando a integrar este ano o quadro de policiamento. Retornou, mas acabou morto pelo granjeiro, após discutirem por causa de uma infração de trânsito.

Apenas seis dias depois, a 22 de maio, em Santa Maria, o soldado José Monta­nher Brandão, do 1 ~ Regimento de Policia Montada foi &!Rlassinado por um menor de lli anos. com um tiro de espingarda. Melhor sorte. porém, teve o soldado Rudlson Rogério Bueno Viei­ra, do 11 ~ Batalhão de Polícia Militar da C&pital. A nove de junho o soldado recebeu um balaço no abdõmem, quan­do tentava prender três dos integrantes de uma quadrilha que assaltava a Loja e Agência Lotérica Machado, no bairro Sarandi. Ao tomar conhecimento do as­salto, o PM se dirigiu à agéncia, mas foi surpreendido por um dos ladrões, que atirou nele pelas costas.

Gravemente ferido, o soldado sobre­viveu. após ser submetido a cirurgia no Hospital Cristo Redentor. A quadrilha escapou.

Dia quinze de junho, uma terça-feira. O sargento reformado e jornalista Pe­dro dos Santos Machado, 49 anos, diri­gia seu Corcel II pela avenida Farra­pos. em Porto Alegre, quando, no cru­zamento com a Avenida São Pedro, co­lidiu contra uma jamanta Scania Va­bis, conduzida por Protásio Souvenir Ramos Pereira. Levado às pressas pa­ra o Hospital de Pronto Socorro. o sar­gento já chegou ali sem vida.

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MEU PREITO DE GRATIDÃO

Registro aqui sem medo de ser traído pela memória, um agradecimento especial às seguintes pessoas: Sub-tenente Joni, Sargento Gonçalves, Sargen­to Alzi Ubiratan, Sra. Natalina, Sr. Altamir, Dr. Rudi Barlem, cabo José Benjamin Sartori, Professora Liane Scalabrini, Ten. Dornelles, Sargento Rogério Mota Malheiros, Sargento Trindade, Sargento Derlan, Sargento Antão, Sargento Moreto, Soldado Sangbush, Cabo Roberto Gonçalves, Sargento Juarez dos Santos Bastos, Sargento Ademir, Sr. Julio Guterres, Sargento Viana, Ten. Cel. Ligório, Dr. Eloi Viegas, Soldado Jesus da Rosa, Sargento Raul Santos Nunes, Tenente Salazar, Cabo Antonio, Soldado Noé Oviedo, Sargento Alvares, Major Bregão, Ten. Cel. Prola, Sr. Jorge Corral,Montepio MBM e Instituição Beneficente Cel Massot (IBCM)

Todas elas sabem que não fosse o apoio e compreensão seria pratica­mente impossível se,gui r adiante neste meu intento.

Agradeço ainda às seguintes pessoas, que me auxiliaram na confecção deste livro:

Major Moraes, Cabo Rodrigues (1° BPM), Cap. Sérgio Renato Teixeira os Ctm. das OPM operacionais que me enviaram o que tinham sobre os PM mortos em serviço em suas Unidades; Sgt. PM João Bitencourt autor da poesia "Toque de Silêncio"; à minha esposa Eni, que revisou todos os meus erros; ao Ten. Cel. Retamozo, pela poesia do Valdeci; aos jornais Zero Hora e Correio do Povo, de onde extraí muito subsídio. Enfim a todos que, de uma maneira ou de outra, contribuíram para que fosse dado este "ponta-pé inicial", para um memorial dos heróis que tombaram em cumprimento do dever policial militar em nosso Estado.

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EPÍLOGO

Ao concluir este modesto trabalho de compilação de dados sobre os valorosos brigadianos mortos em ocorrência policial militar, não quero ter a pretensão de achar que foi um trabalho que seja do agrado de todos os leitores. É evidente que as histórias poderiam ser mais completas, no entanto me faltaram maiores informações por parte das Unidades, que embora solicitadas, algumas delas tinham registrados pequenos dados com os quais não poderiamas 'inventar' uma história, sob pena de que os leitores ao se depararem com ela, fossem verificar que a realidade era outra.

Por esta razão, sei que este trabalho será alvo de críticas, mas acima de tudo conto com a compreensão de todos para que, constando os relatos aqui existentes, possam colaborar enviando-me os fatos completos, a fim de que numa próxima edição, como é minha vontade, aqueles fatos que não constam na íntegra, seja complementados pelos meus amigos, com uma riquesa maior de dados.

Como pudemos observar, a grande maioria das mortes existentes ocor­reram com soldados e cabos, que como nós sabemos são os homens de combate, "Linha de Frente" da função policial militar. As baixas verificadas se deram com jovens, que talvez pelo ímpeto da juventude ou pela formação inadequada, normalmente voltada para a intransigência da aceitação da covar­dia, onde o soldado é orientado para o combate e não para o convívio com seres tiumanos, assim como o despreparo para cuidar-se ou assegurar-se de que seu fardamento não é um escudo, fizeram com que tivéssemos a visão de muitas baixas que poderiam ser evitadas.

Observamos também que, na maioria dos casos, as mortes foram consi­deradas corriqueiras, haja vista a despreocupação da Unidade em manter em seu arquivo um "dossiê" completo da vida daquele que entregou a vida em prol do bem público, para o engrandecimento da Brigada Militar.

No contexto das ocorrências, fiz questão de homenagear o único oficial que morreu no atendimento de uma ocorrência, que por traição do destino envolvia um sub-tenente PM. Este oficial era o tenente Nelci Aires Gomes, que exercia suas atividades no Corpo de Bombeiros e que ao ver seu colega de farda criando confusão e colocando em risco vidas humanas, interpôs-se jogando a sua vida nas mãos do fasdnora.

Vê-se, portanto, que em 24 anos em que a Brigada Militar executa policiamento de rua, nenhum oficial tombou sob a fúria de assassinos e delinqüentes.

Não vou querer também que, para que se faça melhor a história da Corporação, comecem a morrer oficiais. O fato a que me refiro é apenas que, por serem homens de frente, que muitas vezes morrem em defesa de seus superiores, mereceriam maior atenção quando de seus passamentos.

Não quero atingir ninguém fazendo estas referências, quero apenas alertar aos companheiros oficiais, que exercem ações de comando, que não só é digno disciplinar e orientar, mais digno é reconhecer e valorizar.

A Brigada Militar é uma Corporação muito grande e indestrutível, e ela se tornará maior, e muito mais indestrutível, quando soubermos dar o real valor aos homens que fazem a sua história.

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CAPITÃO PM FLORENCIO PAIM CASTELHANO

Nasceu em Porto Alegre , no dia 11 de janeiro de 1950. Filho de Florencio de Oliveira Castelhano, sub-tenente da Brigada

Militar, e de dona Maria Flora Delgado Castelhano. Ingressou na Brigada como aluno do CFO, no dia 20 de fevereiro de 1967.

Aspirante em 20 de novembro de 1970. No último ano do CFO, foi o diretor da Revista dos Aspirantes 70. Como comandante dos destacamentos de Três de Maio e São Luiz Gonzaga, escreveu para os jornais daquelas localidades com as colunas "PINGA FOGO" e "COMENTANDO SIMPLES­MEt\':E" respectivamente. Escreveu em Porto Alegre vários artigos para o jornal "Zero Hora". Professor formado em Educação Física, escreveu vários trabalhos na área de educação especial , dirigida a crianças excepcionais. Este é o seu primeiro trabalho editado, sendo que os demais sempre foram escritos e impressos em polígrafos, todos com grande aceitação.

Este trabalho demonstra a dedicação e o trabalho voltados aos mais humildes e quase sempre esquecidos.

Por todas as Unidades por onde passou, o Capitão Castelhano sempre foi alvo do respeito e admiração por parte dos praças da BM, por sua atenção e dedicação aos interesses da categoria.

Temos certeza de que e'ste seu livro será de grande interesse para a Brigada, assim como sabemos que nele está sendo prestada uma homenagem aos nossos valorosos homens brigadianos.