topoi 2 - robin law - a carreira de francisco félix de souza na África ocidental (1800-1849)

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    A carreira de Francisco Flix de Souza

    na frica Ocidental (1800-1849)*

    Robin Law

    Acarreira do traficante de escravos brasileiro Francisco Flix de Souza,conhecido como Chach, j mereceu vrios estudos, entre os quaisse destaca o de David Ross.1 Esses estudos no lograram, entretanto, resol-ver algumas das principais questes relativas histria do Chach, nem tam-pouco tratar convincentemente de alguns de seus aspectos mais importan-tes. As deficincias desses trabalhos derivam no s de neles no se ter to-mado em conta todo o espectro de fontes disponveis, mas tambm docarter problemtico dessas fontes e das dificuldades em sintetizar as in-formaes sobre os diferentes aspectos da carreira de Francisco Flix deSouza.

    Foi ele uma figura central tanto do trfico transatlntico de escravos,quanto da histria de Ajud, a comunidade costeira da frica na qual elepassou a maior parte de sua vida e, no s de Ajud, mas tambm doreino do Daom, a que essa comunidade pertencia. Esses dois papis esta-vam evidentemente interconectados: se a sua posio na frica decorriaprincipalmente da riqueza derivada do comrcio transatlntico, as suasoperaes comerciais ultramarinas foram facilitadas pela famlia extensa

    (fundada nos casamentos polgamos e na acumulao de escravaria), pelarede comercial e pelas conexes polticas que formou na frica. Esses doispapis representavam, de certo modo, esferas distintas de atividade, masos estudos at agora escritos sobre Francisco Flix de Souza deram nfaseapenas sua dimenso africana.

    difcil para o historiador soldar, retrospectivamente, as duas facesda carreira de Francisco Flix, pela natureza limitada dos dados existentes.Qualquer tentativa de rastrear e explicar a vida de nosso personagem tem

    de basear-se numa combinao das fontes europias que lhe so coetneascom as tradies orais de Ajud. As fontes europias iluminam princi-

    Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, pp. 9-39.

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    palmente a dimenso internacional de sua carreira: pouco dizem sobre suaposio local, no passando das afirmaes gerais a respeito de sua influn-cia sobre o rei daomeano Guezo. Na realidade, a posio que tinha local-mente tida como um fato, em vez de ser explicada. Um exemplo: o co-merciante afro-francs Nicolas dOliveira, cuja carreira antecipa a de Fran-cisco Flix, e que, de acordo com a histria oral, teve um papel determi-nante na deciso deste ltimo de fixar-se em Ajud em 1829, no sequermencionado nas fontes europias da poca.2 Outro exemplo: os mercado-res daomeanos que forneciam escravos a Francisco Flix em Ajud

    Adjovi, Boya, Codjia, Gnahoui, Hodonou, Hounou (Qunum) fica-ram tambm invisveis nessas fontes, at aps a morte do Chach.3 Por outrolado, as tradies locais pouco dizem sobre o envolvimento de FranciscoFlix com o trfico negreiro, no indo alm de generalizaes sobre suaposio preeminente entre os que a ele se dedicavam. Apresentam suasconexes internacionais tambm como um fato conhecido, sem explic-las.

    Alm isso, os dados disponveis sobre Francisco Flix de Souza apre-sentam-se fragmentrios e desiguais. A maior deficincia reside no fato de

    Francisco Flix no nos ter deixado papis, ao contrrio do que sucede comalgumas famlias de origem brasileira de Ajud, que conservam materialescrito relativo sua histria. Dentre elas, destaca-se a famlia Dos Santos,que guarda a correspondncia de seu fundador, Jos Francisco dos Santos(m. 1871).4 Um caso semelhante, fora de Ajud, o do Grande Livrodos Lawson, uma famlia de afro-britnicos de Pop Pequeno (Anex ouAnho), no qual se contm, inter alia, a sua correspondncia comercial entre1841 e 1853.5 Nada de parecido foi preservado pela famlia Souza. E possvel que nunca tenha existido. Um comerciante que lidou com Fran-cisco Flix em 1830 observou que este evitara ler diante dele uma faturacomercial e deduziu que fosse analfabeto. Isto certamente no era verdade,mas outras testemunhas da poca asseveram que Francisco Flix de Souzano mantinha contabilidade, provavelmente como uma expresso cons-ciente de um cdigo de comportamento mercantil aristocrtico, segun-do o qual os ajustes verbais eram considerados como suficientes e definiti-

    vos.6

    Um pequeno nmero de papis escritos por ele conserva-se fora deAjud, principalmente nos arquivos britnicos, entre documentos encon-trados em navios negreiros apreendidos pela Marinha do Reino Unido.

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    Deve-se notar ainda a falta de documentao pessoal referente partebrasileira da histria de Francisco Flix de Souza. Os testamentos, feitos,antes de se instalarem definitivamente na frica Ocidental, pelos dois maisimportantes mercadores brasileiros da gerao seguinte, Joaquim dAlmeida(m. 1857) e Domingos Jos Martins (m. 1864), foram localizados e publi-cados.7 No se encontrou documento semelhante de Francisco Flix. Issopode ter-se devido, primeiro, ao fato de ser ele, como alguns relatos decontemporneos seus sugerem, um homem pobre, antes de se mudar paraa frica;8 e, segundo, circunstncia de que, ao contrrio de Almeida e

    Martins, ele no retornou jamais, nem mesmo em curta viagem, ao Brasil.As tradies da famlia Souza mantm que ele possua propriedades noBrasil, mas que os documentos a elas referentes teriam sido destrudos porum incndio, pouco depois da morte de Francisco Flix em 1849, noentreposto que seu filho mais velho, Isidoro, tinha em Pop Pequeno.9

    Histrias sobre a destruio de documentos (especialmente sobre documen-tos patrimoniais) so, porm, um esteretipo nas tradies orais de Ajude devem ser tratadas com reserva. Entre os papis da famlia Lawson, emPop Pequeno, inclui-se um texto que passa por representar o testamentode Isidoro de Souza, feito logo aps o falecimento de seu pai e um poucoantes de haver Isidoro se transferido de volta de Pop para Ajud. Essedocumento , contudo, uma cpia evidentemente muito posterior e, por-tanto, de autenticidade duvidosa. De qualquer modo, ele diz respeito ex-clusivamente s suas propriedades em Pop Pequeno, sem conter refern-cia a um s bem no Brasil.10

    As verses da histria da famlia e de seu fundador, escritas recente-mente pelos Souza, baseiam-se sobretudo nas tradies orais, embora al-gumas vezes essas se combinem com material publicado. Dos papis dafamlia Lawson constam variantes da saga de Francisco Flix.11 Um relatomais amplo foi publicado, em 1955, por seu neto e sucessor no ttulo deChach, ou chefe da famlia, Norberto Francisco de Souza. Mais recente olivro de Simone de Souza, uma francesa casada na famlia. Esse livro umacompilao de relatos publicados anteriormente, mas inclui uma boa quan-

    tidade de material adicional, em parte derivado de manuscritos inditos,baseados, ao que parece, mais na tradio oral do que em fontes da po-

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    ca.12 Esses textos contm muitas contradies e afirmaes implausveis ereclamam interpretao e avaliao cuidadosas.

    s deficincias das fontes locais somam-se as limitaes do materialgerado pelos estrangeiros que visitaram Ajud ou ali residiram por algumtempo. A correspondncia e os relatrios dos trs fortes europeus, fartosem pormenores sobre o sculo XVIII, cessam com o abandono dessasfeitorias, em conseqncia da abolio legal do trfico: o francs, em 1797;o ingls, em 1812; enquanto as comunicaes entre o forte portugus e asautoridades coloniais no Brasil, s quais ele estava subordinado, comeam

    a minguar por volta de 1807. Os relatos de primeira mo de pessoas emvisita a Ajud so tambm raros, exceto nos ltimos anos de vida de Fran-cisco Flix de Souza, de 1843 em diante. Antes disso, o nico texto exten-so, de primeira mo e de valor sobre Francisco Flix o de Henry Huntley,um oficial que serviu no esquadro naval britnico antitrfico na quartadcada do Oitocentos.13 Embora esses relatos contenham aluses ao incioda carreira de Francisco Flix, algumas das quais tendo por fonte o prprioChach, elas so em geral fragmentrias, algumas vezes obscuras e at con-traditrias. Para as terceira e quarta dcadas do sculo, o material com maiorinformao o relacionado com os processos judiciais decorrentes dainterceptao de navios negreiros pela Marinha britnica. Mas tambm essematerial apresenta dificuldades considerveis, uma vez que pormenoressobre a propriedade dos navios e de sua carga eram freqentemente falsifi-cados ou contestados. Alm disso, Souza um sobrenome portugusmuito comum, e, naquela poca, havia vrias outras pessoas com o mesmo

    patronmico envolvidas no trfico de escravos (inclusive ao menos uma comquase o mesmo nome completo), algumas das quais sem qualquer paren-tesco com o famoso Souza de Ajud, embora fossem com ele freqentementeconfundidas nos textos das autoridades britnicas.

    O objetivo do presente trabalho no tentar fazer um relato comple-to da vida de Francisco Flix de Souza, mas to-somente explorar algunsaspectos cruciais dela, preocupando-se principalmente com as obscurida-des e contradies nas fontes disponveis. Uma ateno especial foi dada

    aos documentos produzidos pela campanha antiescravagista britnica, queno foram at agora pesquisados com esse propsito.

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    Os verdes anos (c. 1792-1820)

    Comeam com o lugar de seu nascimento as dvidas que cercam avida de Francisco Flix de Souza. Ele tido geralmente como nascido noBrasil: conforme a tradio familiar, na Bahia, embora alguns testemunhosseus contemporneos sustentem que era natural do Rio de Janeiro.14 Noentanto, um comerciante britnico que tratou com ele, por volta de 1830,o teve por um nobre espanhol com propriedades em Havana,15 e alega-o semelhante aparece nas memrias (sabidamente no-confiveis e pro-

    vavelmente em boa parte inventadas) de quem se dizia contrabandista deescravos, Richard Drake. Esse Richard Drake asseverava ter negociado comFrancisco Flix em Ajud, em 1839, e, embora reconhecendo que este ti-nha origem brasileira, identificou-o como o mesmo homem com quemanteriormente tinha lidado em Cuba.16 Esse vnculo com Cuba pode sersimplesmente uma confuso, uma vez que havia um Francisco Feliz deSouza, tambm envolvido no comrcio negreiro, que vivia em Matanzas,Cuba.17 possvel, contudo, que o prprio Francisco Flix tenha contri-

    budo para a confuso, pois, de acordo com o comerciante britnico ThomasHutton, que o conheceu durante os seus 10 ltimos anos de vida, ele gos-tava de dar a impresso de ser espanhol de nascimento.18 A mistificaode suas origens pode ter refletido o embarao do Chach com sua vida pas-sada, pois (como se mostrar abaixo) outros testemunhos sugerem ter eleido para frica em circunstncias ignominiosas.

    Os primeiros estgios da vida de Francisco Flix de Souza, anteriores

    sua fixao, em 1820, em Ajud, esto imersos em obscuridade, porque amaior parte das fontes so relatos registrados anos depois, a partir princi-palmente de 1840. Nelas incluem-se tambm histrias tradicionais reco-lhidas no sculo XX. Ainda que essas fontes, de um modo geral, concor-dem numa srie de episdios ligados ao incio de sua vida na frica, elasdiscrepam quanto ordenao cronolgica.

    Para comear, so diferentes as datas em que teria chegado frica, oque se complica com o fato de ter ele para l viajado em mais de uma oca-

    sio. Francisco Flix declarou a um visitante ingls, em 1847, que tinhavindo para Costa pela primeira vez em 1793, e que tinha ali vivido seminterrupo desde 1800.19 A data de seu primeiro desembarque confir-

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    mada, aproximadamente, por Hutton, que afirma ter ele chegado a Ajudem 1792, quando tinha 23 anos.20 Segundo Hutton, ele ali ficou durantetrs anos, retornando em seguida ao Brasil (embora, como ver adiante,haja dvidas de que em sua primeira estada ele tenha residido em Ajud).A data apresentada pela famlia para sua primeira chegada, 1788, no deveser levada em conta.21 Quanto data de seu segundo e definitivo desem-barque, cerca de 1800, ela confirmada por vrios textos da poca: umaexpedio britnica, que esteve em Ajud em 1825, entendeu que Francis-co Flix morava em Ajud e em Pop havia mais de 25 anos; e dois visi-

    tantes franceses, em 1843, souberam que ele ali vivia havia 42 ou 43 anos.22A data de 1800 tambm a que comumente consta das tradies familia-res.23

    Discutem-se no s as datas mas tambm as circunstncias das via-gens de Francisco Flix de Souza frica. Hutton nos conta que ele diziater chegado da primeira vez, em 1792, para servir como secretrio do forteportugus em Ajud. Essa histria foi melhorada na subseqente tradiofamiliar, que o fez governador do forte.24 possvel, porm, que Huttontenha compreendido mal, porque os documentos existentes do forte por-tugus s acusam a presena de Francisco Flix bem mais tarde, aps 1803.O mais provvel, portanto, que sua primeira visita frica Ocidental,entre 1792 e 1795, tenha sido uma viagem de negcios. As tradies fami-liares alegam que foi para comerciar que ele esteve em Badagry, a leste deAjud, onde ergueu um entreposto chamado Ajido.25

    Parece claro que foi tambm como comerciante privado que ele vol-

    tou frica em 1800, e que s comeou a prestar servios ao forte portu-gus em Ajud depois que seus negcios malograram.26Ao que indica, hou-ve um motivo legal ou poltico, alm do comercial, para o seu regresso frica. No mais antigo relato que conhecemos sobre suas atividades apssua instalao em Ajud, um relatrio britnico de 1821, diz-se dele queera um renegado... banido dos Brasis; e num outro texto, escrito logoaps a sua morte, afirma-se que teria sido proscrito do Brasil por algumcrime poltico.27 As circunstncias de seu desterro so, contudo, obscu-

    ras. O famigerado traficante de escravos Theophilus Conneau (de pseud-nimo, Theodore Canot), que comerciou com Francisco Flix em 1830,

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    em Ajud, alegava que este viera parar ali, aps ter participado na guerrapela independncia do Brasil: alistara-se, no Rio de Janeiro, no exrcito deD. Pedro, mas posteriormente dele desertara.28 Essa histria, no entanto,no pode ser verdadeira, uma vez que Francisco Flix chegou costa afri-cana cerca de 1800, muito antes, portanto, da secesso brasileira (e, poroutro lado, em 1821 j se escrevia sobre seu banimento do Brasil). Hou-ve uma tentativa anterior de insurreio nacionalista em 1798 (mas emSalvador, na Bahia, e no, no Rio), e possvel que a histria de Conneauseja uma confusa aluso ao envolvimento de Francisco Flix naquele epi-

    sdio. Por outro lado, a sua condio de fora da lei poderia estar associada sua participao no trfico de escravos, tecnicamente ilegal ao norte doEquador para os cidados portugueses desde 1815. O mais provvel quehouvesse outra razo, que desconhecemos.

    As fontes tambm se contradizem quanto ao local onde Francisco Flixse instalou, ao retornar frica, mas provvel que esse no tenha sido,como queria Ross, Ajud.29Na penltima dcada do Oitocentos, recolheu-se da famlia a informao de que, em 1800, ele se estabelecera inicialmen-te em Badagry.30 possvel, porm, que tenha havido confuso com suaprimeira viagem ao continente africano, entre 1792 e 1795. Verses fami-liares mais recentes afirmam, de um modo geral, que, em 1800, ele foi morarmais para oeste, em Pop Pequeno, onde levantou um segundo entrepostochamado Ajido. Certamente, Francisco Flix mantinha conexes com PopPequeno, pois ter sido nessa poca que ele desposou Jijibu, uma filha deComlagan, chefe de Pop, de quem lhe nasceu o primeiro filho, Isidoro.

    Em 1802, de acordo com a tradio familiar.31

    Mas possvel que, j en-to, como sucederia depois, ele possusse entrepostos em mais de um lugarao longo do litoral.

    Como quer que tenha sido, dentro em pouco ele comeou a enfren-tar reveses em suas atividades comerciais e empregou-se no forte portugusde Ajud. Isso ocorreu antes de 1803, quando o seu nome aparece numdocumento como escrivo e contador da fortaleza.32O ltimo governadorformalmente designado para o forte e que partiu do Brasil em 1804, Jacin-

    to Jos de Souza, era evidentemente seu irmo, mas a vinda deste no pa-rece ter tido qualquer conexo com a presena de Francisco Flix na costa.

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    Com a morte e a no-substituio de Jacinto e de outros funcionrios su-periores, Francisco Flix assumiu a posio de governador interino do for-te, pois como tal aparece em 1806.33 Posteriormente, contudo, ele aban-donaria o forte, para tornar-se um participante por conta prpria no flo-rescente, ainda que ilegal, comrcio de escravos para o Brasil e para Cuba.Em 1816, o seu nome figura como o do proprietrio de um navio negreirointerceptado pela marinha britnica.34

    Onde ele ento se estabeleceu tambm matria de controvrsia.Diferentes relatos colocam-no em Ajud, Badagry ou Pop Pequeno. Tal-

    vez mantivesse residncias ou, quando menos, estabelecimentos comerciaisem todos esses lugares. Algum tempo depois, ele se envolveria numa dis-puta com o rei Adandozan, do Daom, que o levaria priso, durante umavisita capital do reino, Abomei. Dela conseguiu fugir para Pop Peque-no. E dali apoiaria o golpe de estado que, provavelmente em 1818, destro-nou Adandozan e ps em seu lugar o seu irmo Guezo. Embora essa hist-ria s conste dos relatos tradicionais (que datam do final do sculo XIX),no h motivo para duvidar de que seja em sua essncia verdadeira.35 Emrecompensa a esse apoio, Francisco Flix foi convidado pelo novo rei,Guezo, para voltar a Ajud. Conforme a saga familiar, ele retornou de PopPequeno para Ajud em setembro de 1820,36 o que combina com os textosda poca, nos quais a sua presena nessa ltima cidade atestada, pela pri-meira vez, em 1821.

    Francisco Flix de Souza, Chach de Ajud

    De acordo com o que se escreveu at agora, quando Francisco Flixregressou a Ajud, no o fez como um simples comerciante, pois havia sidonomeado pelo rei Guezo para uma posio oficial: segundo Ross, por exem-plo, ele se tornara um chefe daomeano... como um ttulo especial... oChach de Ajud.37 Provavelmente, porm, estamos diante de uma sim-plificao. Os textos da poca mostram que Francisco Flix no pretendiainicialmente fixar-se em Ajud, pois, em abril de 1821, ele obteve das au-

    toridades portuguesas do Rio de Janeiro um passaporte para retornar aoBrasil.38 Parece claro que sua evoluo para um chefe daomeano no es-tava prevista: foi o resultado do tempo. E quase certo que a palavra Chach

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    era originalmente uma alcunha pessoal, que se transformou em ttulo re-trospectivamente, aps sua morte, quando foi herdado por seus filhos.

    No sabemos a razo por que Francisco Flix no voltou ento para oBrasil. Talvez ele tivesse sido retido pelas autoridades daomeanas. Huntley,na dcada de 1830, entendeu que o rei Guezo lhe vedara deixar Ajud,embora a essa altura a proibio se revelasse inqua, uma vez que Francis-co Flix j se resignara a viver ali.39 tambm possvel que seus planos te-nham sido afetados pela independncia do Brasil, em 1822. Como indica-do antes, numa das verses sobre o seu alegado desterro do Brasil, afir-

    ma-se que ele era um desertor do exrcito do Imperador D. Pedro I, e, aindaque isso pudesse no ser literalmente verdade, no se afasta que a alegaorefletisse, deturpada, a imagem de quem primeiro apoiara o novo regimebrasileiro e depois com ele rompera. A secesso do Brasil tivera repercus-ses em Ajud, onde a posse do forte portugus foi objeto de disputa entreLisboa e o Rio de Janeiro, sendo decidida em favor de Portugal no acordoem que esse reconheceu a independncia brasileira, em 1825. De uma his-tria posterior (recolhida na dcada de 1860) consta que Francisco Flix

    ofereceu a fortaleza de Ajud ao Governo brasileiro, mas deste no recebeuresposta, o que pode ter sido o motivo da ruptura.40 Como evidncia deseu afastamento do Brasil poderia apresentar-se a mudana de destino naeducao de seus filhos: embora seu rebento mais velho, Isidoro (nascidoem 1802) tenha sido mandado estudar no Brasil e isto, antes da inde-pendncia, pois ele teria retornado frica em 1822 , o caula, Ant-nio, nascido em 1814 e apelidado de Kokou(ou Cocu, na pronnciaportuguesa), foi para a escola em Portugal.41 de notar-se tambm queFrancisco Flix continuou a declarar a sua condio de nacional portugusaps 1822, e, embora houvesse, para as suas atividades ilegais de negreiro,certas vantagens em faz-lo (como se explicar mais adiante), isso podetambm ter representado uma tomada de posio poltica. Ainda que obairro de Ajud fundado por Francisco Flix tenha passado a chamar-seBrasil (em francs, Brsil, e em fom, Blezin), no se pode disso retirar con-cluses sobre sua fidelidade poltica ao seu pas natal, pois no se registra

    essa denominao durante a sua vida, quando, ao que consta, a sua casagrande era conhecida, do mesmo modo que os entrepostos por ele criadosem Badagry e Pop Pequeno, por Ajido.

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    A natureza da posio de Francisco Flix em Ajud freqentementefalseada na tradio local, como de vice-rei de Ajud e chefe dos bran-cos.42 Esse equvoco foi consolidado internacionalmente pelo romancehistrico de Bruce Chatwin, que, embora confessadamente uma obra defico, se baseia estreitamente (na sua parte africana, mas no, na brasilei-ra) na vida de Francisco Flix de Souza.43 Essa deturpao vem, contudo,de longe, da sua prpria poca. Um dos oficiais da Marinha britnica, aodepor, em 1842, ante o Comit Parlamentar sobre a frica Ocidental,declarou, por exemplo: O Senhor De Souza o vice-rei e tem poder de

    vida e de morte. Um outro oficial, embora o contradissesse, ao observarque o cabeceira de Ajud era um nativo, acrescentou que esse cabeceiraestava completamente subordinado a Francisco Flix, indicando que esteltimo tinha algum tipo de posio oficial, pois podia, segundo se alegava,pr em campo uma fora de 5 mil ou 6 mil soldados.44 Na realidade, oposto de vice-rei e chefe dos brancos (traduo do ttulo indgena Yovogan)estava nas mos de um daomeano, que, durante a maior parte do perodoem que Francisco Flix viveu em Ajud, se chamava Dagba.45 A primaziade Dagba aparece clara nos relatos dos europeus que estiveram em Ajudnos ltimos anos de vida de Francisco Flix, como o missionrio Freeman(1843) e o explorador Duncan (1845). Ambos, ao chegar, visitaram pri-meiro o Yovogan, para lhe explicar o que tinham vindo fazer, e s depoisforam avistar-se com Francisco Flix.46 mais do que provvel que Fran-cisco Flix de Souza tenha sido feito um cabeceira do Daom, o queimplicava a obrigao de fornecer foras militares ao rei. Nisso, contudo,

    ele no era o nico, uma vez que se tinha por normal que o soberano desseo ttulo de chefe aos principais mercadores de Ajud (inclusive, mais tarde,por exemplo, a Domingos Jos Martins e a Jos Francisco dos Santos).

    O que evidente que a posio de Francisco Flix era essencialmen-te comercial, e no poltica. Ele funcionava como o agente do rei em Ajud,e, se os europeus tenderam a exagerar a sua situao no Daom, foi porquetinham de haver-se com ele, em vez de diretamente com o soberano, emtudo o que dizia respeito ao comrcio. Mas at mesmo o seu papel mer-

    cantil tem sido mal compreendido e exagerado: no estritamente corretoque haja usufrudo do monoplio do comrcio.47 A realidade que, na sua

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    condio de agente do rei, ele gozava do privilgio real da primeira opo:num relato de 1839, deixa-se claro que os outros comerciantes s transa-cionavam com aquilo que ele no desejava para si prprio.48

    Uma coisa parece clara nos textos da poca, em discordncia com astradies locais: a legitimidade e a autoridade da posio de Francisco Flixem Ajud derivavam tanto de suas conexes europias e internacionais,quanto de sua designao pelo rei do Daom e, inicialmente, mais da-quelas do que desta.49 Ao retornar a Ajud, Francisco Flix reafirmou cer-tamente a sua condio de governador do forte portugus, pois o que jus-

    tificou a concesso do passaporte em 1821 foram os servios que nele pres-tara durante vrios anos. Em outro texto de 1821, assevera-se que Fran-cisco Flix se avoca os direitos e os privilgios de quem detm autoridade,concedendo documentos e licenas de todo o tipo para todos os mercado-res de escravos, com a confiana de quem recebeu do Governo portuguso poder de faz-lo.50E noutros, posteriores, deixa-se claro que sua pretensaautoridade se fundava na governana do forte portugus. Em 1827, porexemplo, os britnicos observaram que, embora abandonado por Portu-gal, o forte continuava a ser ocupado por Francisco Flix; e Huntley, naquarta dcada do sculo, declarava que o Chach no se desligara de suacondio de governador e, sempre que necessrio, a assumia, no trato dosassuntos polticos com os nativos ou com outros.51

    Ao alegar a nacionalidade portuguesa, Francisco Flix estaria a demons-trar prudncia, a procurar garantir para os navios nos quais tinha interes-ses a imunidade parcial de apreenso pela Marinha britnica de que goza-

    vam os barcos portugueses: at oEquipment Actde 1839 (que autorizava acaptura de navios que se mostrassem aparelhados para transportar escra-vos), eles s podiam ser apreendidos, se tivessem carga humana a bordo. Aemisso de documentos mencionada em 1821 provavelmente se relacionacom a prtica comum de expedir passaportes falsos, a autorizar o embar-que de escravos ao sul do Equador, onde o trfico negreiro continuou legalpara os nacionais portugueses at 1836. Dessa forma, os navios que co-merciavam em Ajud ficavam a salvo de captura, mesmo com escravos a

    bordo, se pudessem atravessar o Atlntico ao sul do Equador. O ter o forteportugus um governador provavelmente fortalecia o argumento de que

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    Ajud era uma possesso lusitana e, sendo assim, no tinham os britnicosdireito de perseguio e captura em suas enseadas, pois estas faziam partedas guas territoriais portuguesas. Em 1827, por exemplo, quando os bri-tnicos apresaram um navio negreiro na sada de Ajud, o seu capito ale-gou acreditar que a referida embarcao e sua carga estavam protegidaspelos tratados e convenes, uma vez que havia sido apreendido, quandoancorada junto ao forte..., e o dito forte estar na posse da Coroa de Portu-gal. As autoridades britnicas no aceitavam, contudo, que a continuadaocupao da fortaleza por Francisco Flix de Souza tivesse carter oficial.

    Em 1839, ao ser apreendido nas mesmas guas o navioEmprehendedor, queestava sob bandeira portuguesa (ainda que os britnicos decidissem judi-cialmente que era de fato brasileiro), o seu comandante e proprietrio, Joa-quim Teles de Menezes, genro de Francisco Flix e tambm residente emAjud, argumentou que seu barco era portugus e tinha sido impropria-mente capturado sob os canhes do forte portugus.52

    No h dvida, entretanto, de que Francisco Flix no morava na

    fortaleza de So Joo Batista de Ajud, que servia, em 1825, para hospedarcomandantes de navios portugueses. Huntley, na quarta dcada do sculo,encontrou-o vivendo numa boa manso, construda por ele prprio.53

    De acordo com as tradies locais, ele primeiro morou com NicolasdOliveira e, quando depois ergueu a sua prpria casa-grande, que se tor-nou o centro do quarteiro Brasil, o fez no lado oposto ao do forte lusi-tano.

    de presumir-se que a alegao de Francisco Flix de ser o governa-dor do forte terminou quando esse foi oficialmente reocupado pelas auto-ridades da ilha de So Tom, em 1844. Diz-se que ele teria ento entregueas chaves da fortaleza ao novo governador.54 Por essa poca, em virtude doEquipment Actde 1839, teria deixado de ser til reivindicar a nacionalida-de portuguesa. de crer-se que a percepo de Francisco Flix como es-sencialmente um chefe daomeano tenha refletido as condies dos lti-mos anos de sua vida, quando se diluiu a dimenso ultramarina de suas

    atividades.

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    Francisco Flix de Souza como traficante negreiro: algunsaspectos negligenciados (c.1820-40)

    Como j consignado, rica e pormenorizada a informao existentesobre as atividades mercantis internacionais de Francisco Flix de Souzana documentao relativa busca e apreenso de navios negreiros pelaMarinha britnica. No obstante ter sido esse material amplamente usadonos estudos sobre o trfico ilegal de escravos, no se tomou em conta atagora o quanto pode servir para melhor compreender a carreira do Cha-

    ch.55

    Essa documentao especialmente valiosa para identificar outrosindivduos envolvidos, em Ajud, no trfico negreiro, quer como scios,quer como competidores de Francisco Flix. Enquanto as tradies locaisdo a impresso de que o Chach era, antes de 1840, o nico grande co-merciante de escravos, os textos da poca mencionam os nomes de outrosque, provisria ou permanentemente, l residiam e mercadejavam. Mui-tos desses nomes no se repetem em outros textos ou aparecem sem maio-

    res informaes que permitam melhor identific-los ou precisar os seuspapis e sua importncia no mundo do trfico negreiro. Em alguns pou-cos casos, porm, eles emergem dos documentos de bom corpo. Um des-ses o j citado Joaquim Teles de Menezes, um importante scio de Fran-cisco Flix, que figura em vrios relatrios britnicos. Menezes fixou-se emAjud por volta de 1830 e l se casou com uma das filhas de Francisco Flix.Ele mencionado pela primeira vez em 1835, como o proprietrio de um

    navio negreiro interceptado pela Marinha britnica; e posteriormente, comodono e capito de dois outros barcos, apreendidos em 1836 e 1839. Du-rante os processos judicirios, Menezes se contradisse a respeito de sua ori-gem: num testemunho, declarou-se nascido na ilha do Prncipe; noutro,em Pernambuco; mas, do mesmo modo que Francisco Flix, reclamou anacionalidade portuguesa. Ele aparece pela ltima vez, nos textos da po-ca, em 1841, como passageiro de um navio suspeito de estar envolvido notrfico, que velejava da Bahia para a ilha do Prncipe.56 de presumir-se

    que Menezes operasse em sociedade (ou, pelo menos, em cooperao) comseu sogro; na verdade, um dos seus navios, o Emprehendedor, pertenceraantes a Francisco Flix, tendo dele sido adquirido em 1837, em operao

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    registrada na ilha do Prncipe. Talvez por no ter deixado descendentes emAjud, Menezes no figura nas tradies locais.

    Outro importante mercador que se estabeleceu, durante aquele pe-rodo, em Ajud foi Juan Jos Zangronis (ou Sangron). Filho de um dosprincipais comerciantes de Havana, ele o supria de escravos e, mais tarde,a um irmo que ficou em Cuba. Nos textos da poca, Zangronis aparecepela primeira vez em 1835, a receber produtos que vinham de Cuba. mencionado depois como o consignatrio de vrios carregamentos demercadorias e como fornecedor de escravos a quatro outros navios ancora-

    dos em Ajud, entre 1836 e 1839.57Zangronis faleceu em Ajud em 1843.58Ao contrrio de Menezes, Zangronis deixou descendentes em Ajud: umfilho mestio dele, Francisco Zangronis, aparece a visitar a corte real emAbomei, em 1864.59 A famlia existe at hoje, embora o seu nome se tenhaaportuguesado, Sangronio, e de seu fundador, lembrado como JosSangronio, se diga ter sido um brasileiro de origem portuguesa, em vezde espanhol ou cubano. A confuso resulta evidentemente do fato de ha-ver a famlia sido, no correr do tempo, absorvida pela comunidade brasi-leira.60 Nos documentos britnicos, Zangronis habitualmente mencio-nado junto com Francisco Flix, em termos que indicam serem eles s-cios, em vez de concorrentes. Por exemplo, h evidncia de que o navioEmprehendedor, comandado por Joaquim Teles de Menezes e apreendidoem Ajud em 1839, por suspeita de trfico de escravos, tinha sido ante-riormente propriedade conjunta de Francisco Flix e Zangronis. Um tex-to da poca refere-se a este ltimo como funcionrio daquele; e essa

    alegada subordinao encontra apoio numa tradio recente, segundo a qualZangronis serviu Francisco Flix como intrprete na lngua fom, idiomaque ele teria rapidamente aprendido, logo aps sua chegada a Ajud.61Umoutro filho seu, Incio Jos Sangron, viria a casar-se com uma filha de Fran-cisco Flix, mas isso deu-se bem mais tarde, aps 1870.62

    Um segundo fato que emerge dos arquivos britnicos o de que Fran-cisco Flix de Souza embarcava por sua prpria conta escravos para asAmricas, em vez de apenas suprir deles os navios na frica. Na Bahia, o

    comerciante Andr Pinto da Silveira operou como seu agente no quartodecnio de 1800.63 Francisco Flix tambm possua vrios barcos empre-

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    gados na navegao transatlntica. Ao menos um teve a construo enco-mendada por ele nos Estados Unidos, oPrncipe de Guin.64O barco, cons-trudo na Filadlfia, zarpou daquela cidade, em 1825, para Ajud, tendopor destino final a Bahia. Segundo o testemunho de seu capito norte-americano, o seu proprietrio era Francisco Flix. Quando, contudo, o naviovoltou costa africana no ano seguinte, para comerciar em Ajud, seusdocumentos davam-no como pertencente a um homem de negcios baiano,Antnio Pedroso de Albuquerque. Outras embarcaes foram por adqui-ridas por Francisco Flix na frica Ocidental, como, por exemplo, oGeorge

    & James. Apreendido ao largo de Ajud, esse navio pertencera originalmente firma londrina Mathew Forster & Co., que o empregava no comrciolegal. O veleiro foi, porm, vendido na frica a seu imediato, Mr. Ramsay,que nele fez uma viagem de ida e volta Bahia. Os britnicos estavam se-guros de que o seu verdadeiro dono era Francisco Flix e sustentavam queeste fornecera a Ramsay o dinheiro para a compra.65 O brasileiro procura-va tambm adquirir navios negreiros apreendidos e confiscados pelos bri-tnicos e, para isso, tinha, em 1828, um agente na colnia britnica de

    Freetown, na Serra Leoa.66 Entre os navios apreendidos pelos britnicosque se tinham como propriedade total ou parcial de Francisco Flix figu-ravam o Legtimo Africano, apresado em 1835, oDom Franciscoe oFlori-da, interceptados em 1837, e o Fortuna, capturado em 1839.67 Outros,embora no estivessem, no momento do apresamento, em nome de Fran-cisco Flix, a ele tinham antes pertencido, como o caso j referido doEmprehendedor, que lhe fora comprado por seu genro Menezes, ou dele ede Zangronis, em 1837.68 Como vimos, Menezes possua outras embarca-es, talvez em associao com seu sogro ou como preposto dele. A maio-ria dos navios de propriedade de Flix de Souza e de Menezes tinha sidoadquirida na prpria frica Ocidental, em geral em Ajud e, em algunscasos, na ilha do Prncipe. De um, porm, o Legtimo Africano, afirma-seter sido construdo localmente, em Ajud. Tornou-se comum, na pocado comrcio ilegal, que traficantes de escravos possussem os seus prpriosbarcos, mas Francisco Flix foi nisso, ao que parece, pioneiro. Tambm no

    era incomum a construo de navios, na costa africana, com a montagemde partes importadas pr-fabricadas ou com o aproveitamento de mate-riais locais, durante o perodo do trfico clandestino.69

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    Um outro aspecto das operaes comerciais de Francisco Flix deSouza, que se mostra claro nos textos da poca (e tambm reconhecidopelas tradies), foi o uso do transporte por canoas ao longo das lagoas quecorrem paralelas ao litoral, ligando Ajud a outros portos a leste e a oeste.Embora essas ligaes no fossem novas no comrcio de Ajud,70 elas to-maram uma feio ainda mais relevante, durante o trfico clandestino deescravos, como um meio de evadir a vigilncia do esquadro britnico. Umavez que as atenes britnicas se dirigiam para Ajud, um porto famoso deescravos, os seus mercadores, embora ali reunissem os cativos, freqente-

    mente os levavam, ao longo da lagoa, para outros embarcadouros menosconhecidos. Como Huntley observou, na quarta dcada do sculo, se DeSouza sabia que um cruzador britnico rondava Ajud, ele ordenava o ne-greiro a ir para um outro porto; depois, enviava os escravos em canoas pelalagoa at o ponto onde eles desceriam em terra, cobririam a p a faixa deterra [entre a lagoa e a praia] e seriam embarcados rapidamente, podendoento o navio prosseguir viagem.71

    A oeste de Ajud, a principal base de Francisco Flix, antes de 1820,

    era, como j se viu, Pop Pequeno. Aps sua mudana para Ajud, pareceque, inicialmente, ele tentou manter sua influncia em Pop; tanto assimque, em 1822 e 1823, apoiou o influente comerciante George Lawson naguerra civil contra o chefe da cidade, Comlagan, que dela foi expulso.72

    Francisco Flix no manteve, porm, seu entreposto em Pop Pequeno.Segundo as tradies locais, depois de sua sada da cidade, as casas que nelahavia construdo foram deixadas ao deus-dar (na realidade, caram emrunas), at que o entreposto foi restabelecido, muitos anos mais tarde,por seu filho mais velho, Isidoro.73 No claro o motivo pelo qual oentreposto foi abandonado, mas possvel que isso se tenha devido rup-tura das comunicaes entre Ajud e Pop Pequeno, em decorrncia daguerra civil de 1822 e 1823, aps a qual a faco derrotada se estabeleceua leste, em Agu. A tradio data de 1840 a reocupao do entreposto, oque casa bem com os textos da poca, que nos mostram naquele ano, pelaprimeira vez, a presena de Isidoro em Pop.74Sua deciso foi tomada pro-

    vavelmente em resposta crescente presso britnica, aps o EquipmentActde 1839, que tornou necessrio multiplicar os embarcadouros de es-cravos.

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    Nas terceira e quarta dcadas do Oitocentos, Francisco Flix pareceter dado maior ateno rota para leste, dentro da lagoa. Recordam as tra-dies locais que ele mandou dragar a lagoa naquela direo, a fim de per-mitir o trnsito fcil das canoas at Cotonu.75 A leste de Ajud, a lagoa es-tava separada do lago Nokou, em Godomey, por um banco de areia eeste foi provavelmente o obstculo que Francisco Flix (temporariamen-te) desobstruiu. Dada sua posio estratgica no sistema de ligaes lacustresparalelo costa, Godomey exercia um papel central nas comunicaes entreAjud e, para oriente, Porto-Novo e Badagry, alm de conectar-se tambm

    por um caminho terrestre ao seu prprio ancoradouro, no litoral. De acordocom a tradio, Godomey ficava no mesmo lugar que o antigo porto deJakin, destrudo pelos daomeanos em 1732, e que fora, assim, reconstitudocerca de cem anos mais tarde, para servir de embarcadouro alternativo aAjud. Registra-se pelo menos um navio que, em 1830, aps deixar emterra sua carga em Ajud e ali adquirir escravos a Francisco Flix, seguiupara leste, a fim de recolh-los em Jakin.76 Seu outro e talvez novo nome,Godomey, surge pela primeira vez nos textos da poca em 1843, ao rela-tar-se haver Francisco Flix para l viajado, a negcios.77

    Cotonu situa-se na margem meridional do lago Nokou, no precisolugar onde as suas guas mais se aproximam do oceano, assim maximizandoas vantagens do transporte aqutico. A histria tradicional atribui sua fun-dao ao rei Guezo, a conselho de Francisco Flix de Souza, que andava busca de um novo ponto de embarque de escravos, menos conhecido e,por isso, menos sujeito s investidas da marinha britnica.78 Isso deve ter-

    se dado aps oEquipment Actde 1839, o que confirmado pelos textos dapoca, nos quais a mais antiga aluso ao comrcio em Cotonu parece ser orelatrio de um oficial da Marinha britnica que serviu, de 1839 a 1841,no esquadro da frica Ocidental. Nele se explica que um bloqueio de Ajudseria ineficaz, porque os escravos poderiam ser mandados para Ekpe(Apee).79 Provavelmente esse oficial no se referia a Ekpe, que tinha sidoum embarcadouro de escravos durante o sculo XVIII, porm, sim, a umoutro lugar, mais a ocidente, chamado em outras fontes Appi Vista, um

    nome alternativo de Cotonu.80 Aps o falecimento de Francisco Flix, ocontrole de Godomey e Cotonu continuou nas mos da famlia: em 1852,

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    Godomey era um monoplio de seu filho mais velho e sucessor comoChach, Isidoro, e Cotonu, do irmo mais novo deste, Antnio.81

    Godomey e Cotonu pertenciam ao Daom, do mesmo modo queAjud. Mas as operaes de Francisco Flix estendiam-se para leste muitoalm das fronteiras daomeanas. Ele refez, por exemplo, os seus vnculos comBadagry, onde mantivera antes, ainda que por pouco tempo, um entreposto.Segundo as tradies familiares, quando, em 1822, o seu filho Isidoro re-gressou do Brasil, Francisco Flix o mandou comerciar em Badagry, de onderetornou a Ajud por volta de 1834.82 O entreposto de Francisco Flix,

    Ajido, ficava, na realidade, a alguns quilmetros a leste de Badagry. Osrelatrios sobre o comrcio ilegal de escravos o mencionam no perodo de1826 a 1827, embora sem referncia explcita aos Souza: um navio apre-endido ao largo de Lagos, em 1826, havia estado antes em Ajido, paracomprar provises e outros produtos, e um outro foi capturado, em 1827,diante de Ajido, com escravos a bordo.83 Explicam as tradies que oentreposto foi abandonado nos anos 1830 por causa dos prejuzos advindosde incndios e furtos e atribuem o malogro juventude e inexperincia deIsidoro. possvel, contudo, que o falhano se tenha devido a motivosgeopolticos muito mais amplos: instigante saber que, por essa poca,Badagry cara sob o poder de Adele, o exilado rei de Lagos, o que certa-mente provocou uma reorientao das rotas comerciais entre o interior e acosta.84Mesmo aps o abandono do entreposto, Francisco Flix continuoua fazer negcios em Badagry: em 1836, por exemplo, um barco que co-merciava com Zangronis em Ajud, tambm levava tabaco e outros bens

    de propriedade do Chach para Porto-Novo e Badagry.85

    H evidncias de que Francisco Flix manteve, na quarta dcada dosculo, conexes comerciais ainda mais para leste, at Lagos. Dois dos na-vios mencionados anteriormente como de sua propriedade, oFlorida, apre-endido em 1837, e oFortuna, capturado em 1839, tinham comerciado emLagos, e no em Ajud. Um dos barcos que pertenciam a seu genro, Me-nezes, tambm velejou, em 1835, de Ajud para Lagos, a fim de recolherescravos nessa ltima cidade; e um segundo, comandado pelo prprio

    Menezes, foi ainda alm e, em 1836, embarcou cativos em Old Calabar.86Parece tambm que seus navios aportavam regularmente na ilha do Prn-

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    cipe, a fim de ali obter passaportes das autoridades portuguesas. Um deles,oFortuna

    , levava um passaporte emitido em Luanda.As atividades mercantis de Francisco Flix de Souza se estendiam,

    portanto, muito alm de sua base em Ajud. Envolviam no s operaestransatlnticas, mas tambm entre portos do litoral africano, incluindo lu-gares alm da jurisdio daomeana, como Pop Pequeno, a oeste, e Porto-Novo, Badagry e Lagos, a leste. Compreendiam ainda tratos com as col-nias portuguesas na frica. Subentende-se que, em vez de ser apenas umapersonagem especificamente daomeana, ele operava, pelo menos at o

    fim dos anos 1830, numa escala internacional.

    O eclipse de Francisco Flix de Souza (c. 1840-1849)?

    Embora Francisco Flix tenha vivido at 1849, ele perdeu bem antesa liderana no comrcio de Ajud. Como ele prprio declarou a Duncan,por volta de 1845, as suas transaes com escravos se tinham tornado re-duzidas, em comparao com as de dantes.87Em parte, isso era apenas um

    reflexo de sua idade avanada. Em 1843, ele ainda viajara at Abomei, jun-tamente com o agente francs Brue, para participar nos chamados costu-mes do rei, mas, dois anos mais tarde, Duncan o encontrou de cama,enfermo, e incapaz, por isso, de acompanh-lo capital.88

    Com o declnio fsico do chefe da famlia, o comando passou para anova gerao dos Souza. Como j se viu, o filho mais velho, Isidoro, haviacomerciado em nome do pai em Badagry, e, em 1840, fora incumbido dereabrir o entreposto em Pop Pequeno. Um filho mais novo, AntnioKokou(ou Cocu, na pronncia portuguesa), tambm se envolveu nocomrcio para as bandas ocidentais da lagoa, sendo mencionado juntamentecom Isidoro na correspondncia da famlia Lawson, como mercadejandoem Agu e Pop Pequeno, a partir de 1843. Negociava tambm em Ajud,pois na correspondncia de Jos Francisco dos Santos anotam-se trs tran-saes envolvendo pagamentos feitos a Antnio, durante os anos de 1846e 1847. De uma delas, diz-se explicitamente ter sido uma venda de escra-

    vos.89Antnio tambm aparece como proprietrio de um navio, oGalliana,apresado pelos britnicos ao largo da costa, em 1849, por suspeito de tr-

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    fico de escravos, mas que, na ausncia de provas concludentes, foi em se-guida liberado. Esse navio fora construdo, por encomenda de Antnio,no Porto, em Portugal; e dali zarpara, primeiro, para a Bahia, onde o forabuscar um outro dos irmos Souza, Francisco, que dele foi o comissrio,no trajeto para a frica.90Um outro irmo, Incio, tambm mencionadoem 1848, na corte real em Abomei. Em 1849, dele, de Isidoro e de Ant-nio se afirmava que eram ricos e traficantes de escravos. E de presumir-se que tambm Incio tenha comeado a comerciar antes da morte pater-na.91 Os textos no esclarecem se esses trs irmos mercadejavam como

    prepostos do pai ou por conta prpria, e se em cooperao ou concorrn-cia. Aps o passamento do pai, no entanto, os trs competiram pelo ttulode Chach, e o patrimnio da famlia em Ajud foi divido entre eles.92

    O declnio de Francisco Flix no se devia apenas idade. Na dcadados 1840, os seus negcios tinham entrado numa fase difcil e ele estavacheios de dvidas. s vsperas de sua morte, dele se assegurava que estavaquase indigente. Quando o rei mandou seus funcionrios confiscaremsuas propriedades, esses no encontraram nem dinheiro, nem bens, nemcoisa alguma de valor, a no ser alguns mveis e alguma prata mas,com toda a probabilidade, a sua famlia deve ter retirado de casa e escondi-do todos os bens que podia, a fim de evitar a taxa de herana real , e seufilho Incio teve de pedir emprestado dinheiro para pagar as cerimniasfnebres. Tinha dvidas sobretudo com comerciantes no Brasil e em Cuba.Devia tambm $80.000 ao rei Guezo e, um pouco antes de seu falecimen-to, teve de enviar-lhe, como penhor, seu atade de prata.93

    Algumas verses em Ajud culpam o rei Guezo pelo empobrecimen-to de Francisco Flix. Guezo, com cimes de sua riqueza, teria procuradodeliberadamente arruin-lo, exigindo demais dele e deixando de lhe pagaro que adquiria a crdito. Esses relatos atribuem a morte de Francisco Flixao desespero por haver perdido o favor real, e chegam a insinuar que eleteria sido envenenado por ordem de Guezo.94 Os textos da poca no con-firmam, porm, as tradies. O mais provvel que a sua runa se tenhadevido aos repetidos prejuzos que lhe deram as atividades do esquadro

    antitrfico britnico: ele prprio declarou a Duncan, em 1845, que os in-gleses lhe haviam capturado 22 navios.95 E afirmou tambm, noutra oca-

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    sio, ter perdido bens no valor de $100.000 num incndio em Ajud, porvolta de 1836 ou 37.96 Alguns comentrios de seus contemporneos suge-rem que suas dificuldades derivavam de suas extravagncias e da m admi-nistrao de seus negcios, especialmente da imprudncia com que aceita-va vender a crdito, e num deles se adianta que ele fora sempre mais doque liberal em dar presentes ao soberano.97Os textos da poca negam tam-bm a alegao de que Francisco Flix fora arruinado pela sistemtica faltade pagamento por parte de Guezo. E afirmam que era aquele quem deviadinheiro ao rei, e no vice-versa. Os relatos tradicionais provavelmente

    representam uma transferncia para a poca de Francisco Flix de fatosocorridos na dcada dos 1880, quando outro de seus filhos, Julio, que erao Chach, foi eliminado e suas propriedades confiscadas pelo sucessor deGuezo, Glel.

    Qualquer que tenham sido as causas da runa de Francisco Flix deSouza, elas fizeram com que Guezo procurasse reorganizar o comrcio e odestitusse da posio de nico agente real. Segundo Hutton (que escreviapouco depois da morte de Francisco Flix), diante das reclamaes doscredores do Chach no Brasil e em Cuba, o rei providenciou para que agen-tes de Havana e dos Brasis se estabelecessem em Ajud, e para que De Sou-za deixasse de embarcar escravos, passando a receber uma comisso de umdobro por pea exportada.98 Esse texto apresenta vrias dificuldades: amais bvia, a falta de datas precisas, ainda que uma aluso a uma lei maisrgida... relativa captura de navios negreiros parea indicar um perodoaps oEquipment Actde 1839. Pode-se objetar que alguns outros agentes

    instalaram-se antes disso em Ajud, notadamente o cubano Zangronis, noincio da quarta dcada do sculo, mas este, como j visto, comerciava emassociao com Francisco Flix, e no a concorrer com ele. Por sua vez,Francisco Flix ainda embarcava escravos em agosto de 1839, quando oseu nome figura como o proprietrio de um navio negreiro capturado pe-los britnicos, oFortuna, e como o dono e o consignatrio de sua carga. Omais provvel, portanto, que a mudana tenha ocorrido aps 1840.

    O fraseado do texto de Hutton sobre os novos procedimentos comer-

    ciais tambm ambguo e aberto a diferentes interpretaes. Pela leiturade Ross, Francisco Flix deixou inteiramente de comerciar, transforman-

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    do-se num funcionrio que coletava uma taxa... por escravo exportado.99

    Uma interpretao mais simples seria a de que ele continuou a suprir deescravos os outros traficantes, o pagamento de um dobro ($16) por cabe-a representando sua comisso. Uma referncia, datada de 1847, na cor-respondncia de Santos taxa de embarque de Dom Francisco amb-gua: o montante dado, $10,00, ao que parece, por dois escravos, corres-ponde ao imposto de exportao devido ao rei, $5,00 por indivduo, e deveter sido coletado em seu favor. Est claro, contudo, que Francisco Flix eseus filhos continuaram a vender escravos, pelo menos de vez em quando.

    Santos tambm se queixa do alto preo cobrado pelo velho, numa claraaluso ao Chach: ele diz que deseja 80 pesos [dlares] por pea, porqueos brancos pagam 70 pesos e pagam o caranquejo palavra, esta ltima,de sentido obscuro (e talvez um erro de cpia), mas que, no contexto, pa-recereferir-se comisso de Francisco Flix na venda de escravos.100 Comooutros traficantes brasileiros, Francisco Flix engajou-se no comrcio deazeite de dend, que, embora recente, se expandiu com rapidez em Ajud,a partir da metade da dcada dos 1840. No ano de 1846, relata-se que eleencheu de leo de palma cinco navios.101

    Um dos novos traficantes que conseguiu ento entrar no comrcio deescravos foi Joaquim dAlmeida, cuja base principal era, mais para oeste,Agu, em vez de Ajud.102 Segundo as tradies locais, ele teria chegadopela primeira vez a Agu em 1835, enquanto os textos britnicos contem-porneos indicam que ele ali j mercadejava antes de 1840.103 Seria somenteno incio de 1845, que ele, tendo antes passado algum tempo no Brasil, se

    fixou na frica definitivamente.104

    Num certo momento, Almeida conse-guiu permisso do rei Guezo para comerciar em Ajud, e um relato poste-rior vincula a quebra do monoplio de Francisco Flix especificamente entrada de Almeida no mercado daquela cidade.105 Por volta de 1849, seno antes, ele mantinha nela uma residncia, e outra em Agu, sendo con-siderado o mais rico morador de Ajud, relegando, assim, para um se-gundo plano qualquer um dos membros da segunda gerao dos Souza.106

    Nas tradies de Ajud assevera-se que o principal scio de Almeida era

    Azanmado Qunum, um antigo cliente de Francisco Flix, mas que delese separou para atuar de forma independente. Foi Qunum quem persua-

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    diu Guezo a comerciar com Almeida e a permitir que este se instalasse emAjud.107 de concluir-se que este ltimo recebia os escravos de Guezo porintermdio de Qunum, e no dos Souza. A casa grande de Almeida emAjud situava-se no quarteiro de seu scio Qunum, imediatamente aosul do bairro Brasil dos Souza, do qual outrora fizera parte.108

    Mais importante ainda, na nova gerao de mercadores de escravos,tornou-se Domingos Jos Martins (tambm conhecido como DomingoMartinez).109 Martins chegou frica por volta de 1835, como tripulan-te de um navio negreiro consignado a Francisco Flix de Souza. O barco

    foi apreendido e a tripulao desembarcada em Ajud, onde Martins vi-veu, por alguns anos, da caridade do Chach.110 No final dos anos 1830,ele mudou-se para Lagos, onde viria a ser o principal comerciante de escra-vos. Aps um breve retorno Bahia, ele voltou frica no incio de 1846,estabelecendo-se em Porto-Novo, a leste de Ajud.111 Martins foi o maisimportante de todos os traficantes negreiros, nesse perodo: em 1849, eratido como o comerciante mais rico no Golfo [do Benim].112 Em 1846,ele instalou-se, no na capital do reino de Porto-Novo (a cidade atual domesmo nome), no norte da lagoa, mas na praia ao sul, no vilarejo ao qualse tinha dado originalmente o nome de Porto-Novo, a moderna Sm.Esse vilarejo estava sob o controle efetivo do soberano do Daom, em vezde subordinar-se ao rei de Porto-Novo, e era quele e no a este que Martinspagava tributo.113 Era tambm do Daom que ele recebia o grosso dos es-cravos. Nos ltimos meses de 1846, Martins visitou o rei Guezo em Abomei,e lhe afianou que no devia temer que cessasse a demanda por escravos,

    e que se dispunha a adquirir todos os que o rei lhe pudesse mandar.114

    Isso indica que Martins comerciava diretamente com Guezo, sem aintermediao dos Souza. Provavelmente muito desse comrcio passava aolargo de Ajud: os cativos seriam trazidos por terra para a margem noroes-te do lago Nokou e, depois, por canoa, do porto de Abomei-Calavi atSm. Martins no deixava, porm, de transacionar em Ajud. Tanto as-sim que, em 1849, ali mantinha um estabelecimento, o qual, a dar provade sua grande riqueza, era tido como o melhor prdio da cidade.115 Essa

    construo ficava na regio leste de Ajud, prxima ao forte portugus, etambm ela fora do bairro dos Souza.116 Martins acabaria, contudo, por

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    vincular-se a eles, ao casar-se com uma das filhas de Francisco Flix, masisso, ao que parece, s se deu aps a morte do Chach em 1849.117

    Alm desses comerciantes cujas bases de operao se situavam fora deAjud, outros foram capazes de mercadejar com escravos dentro da cida-de, em aberta competio com os Souza. Um deles foi Jos Francisco dosSantos, cuja correspondncia documenta suas atividades a partir de 1844.Segundo a histria oral, Santos comeou sua carreira a servio da famliaSouza, como alfaiate, e casou-se com a filha mais velha do primeiro Cha-ch, Francisca.118 Posteriormente, porm, ele se estabeleceu no bairro Tov,

    no nordeste de Ajud (e, se no ele, os seus descendentes l se fixaram), oque implicaria um certo grau de independncia em relao aos Souza.119

    Em sua correspondncia, Santos aparece comerciando com escravos porconta prpria e como agente de traficantes no Brasil, embarcando-os tan-to em Agu e Pop Pequeno, a oeste, quanto em Ajud. Em suas opera-es ao longo da lagoa, ele colaborava, ao menos de vez em quando, comIsidoro de Souza, em Pop, e com Almeida, em Agu. Em Ajud, emboraadquirisse algumas peas, como j ficou dito, de Antnio de Souza, ele com-prava outras diretamente do rei.120

    Parece, entretanto, serem exageradas as percepes habituais (refleti-das, por exemplo, em Ross) do eclipse da influncia de Francisco Flix.121

    No encontram elas apoio nos textos da poca. Baseiam-se sobretudo norelato de Hutton, que pode ter ganho as cores do declnio dos Souza apsa morte do fundador da famlia. O principal significado das mudanas quese verificam na quinta dcada do sculo XIX seria o encolhimento das ati-

    vidades de Francisco Flix em Ajud, a contrastar com o comrcio transa-tlntico de escravos no qual ele tinha estado anteriormente engajado. Jun-to com sua perda, em 1844, do ttulo de governador do forte portugus,isso representou um desfalque em sua dimenso internacional, o que fezcom que ele passasse a ser visto, mais do que dantes, como um chefedaomeano.

    Consideraes Finais (1849)

    Francisco Flix faleceu em 8 de maio de 1849. Os mal-entendidossobre o seu papel em Ajud (ou a mitologizao de sua pessoa) persistiram

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    at o fim. Os britnicos presumiram que sua morte representava um golpesevero nos interesses escravocratas em Ajud e abriria caminho para a ne-gociao de um tratado antitrfico negreiro com Daom,122 quando, naverdade, conforme se viu, ele perdera sua preeminncia no comrcio deescravos, que passara para Domingos Jos Martins e Joaquim dAlmeida.(Foi, alis, um fiasco a tentativa de negociar um tratado anti-trfico ne-greiro com o rei Guezo, em 1849 e 1850.) Por outro lado, a idia, difun-dida posteriormente, de ter Francisco Flix perdido o favor real desmentidapelo fato de haver Guezo lhe concedido um funeral altura de um grande

    chefe daomeano: nas cerimnias incluiu-se at mesmo, a despeito dos pro-testos de seus filhos, a oferenda de sacrifcios humanos (normalmente umaprerrogativa real).123 Sua condio de daomeano naturalizado foi tambmreiterada, quando, conforme j mencionado, Guezo reclamou suas proprie-dades, como de costume em relao aos funcionrios mais importantes.No s o rei mandou que agentes confiscassem o patrimnio de FranciscoFlix, para dele retirar a taxa de herana, como tambm atribuiu-se a prer-rogativa de designar quem lhe sucederia no comando da famlia, escolhendopara tal o filho mais velho do morto, Isidoro. Desse modo, a transforma-o de Francisco Flix de Souza, de um comerciante expatriado num chefeafricano, consumou-se e se formalizou na sua morte.

    (Traduzido do ori ginal em ingls por Alberto da Costa e Silva)

    Notas

    * Este trabalho deriva de um projeto mais amplo de pesquisas sobre a histria social deAjud, Uid ou Ouidah, nos sculos XVIII e XIX. Parte dele reaproveitamento de umensaio anterior, The evolution of the Brazilian community in Ouidah, apresentado nosimpsio Rethinking the African Diaspora: The Making of a Black Atlantic World inthe Bight of Benin and Brazil, realizado na Universidade de Emory, em Atlanta, EstadosUnidos da Amrica, em abril de 1998. Uma verso revista daquele texto aparecer embreve em Slavery & Aboliti on.1 David Ross, The First Chacha of Whydah: Francisco Felix de Souza,Odu, no 2 (1969),19-28. Ver tambm Pierre Verger, Flux et reflux de la traite de ngres entre le Golfe de Bnin

    et Bahia de Todos os Santos du XVIe au XIXe sicle, Paris, 1968, 460-7; Jerry Michael Turner,Les Brsiliens: The impact of former Brazilian slaves upon Dahomey (tese de doutorado,Universidade de Boston, 1975), 88-98. O tratamento dado na obra recente de Milton

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    Guran,Aguds: os brasi leiros do Benim(Rio de Janeiro, 1999), 20-31, segue basicamenteesses estudos anteriores.2 A mais antiga aluso a Nicolas dOliveira aparece em Edouard Fo, Le Dahomey(Paris,1985), 22.3 Ver Robin Law, The origins and evolution of the merchant community in Ouidah,em Robin Law e Silke Strickrodt (org.), Ports of the Slave Trade (Bight of Benin and Biafra)(Centre of Commonwealth Studies, University of Stirling, 1999), 55-70.4 Publicada em traduo francesa em Pierre Verger e outros, Les Afro-amricains(Dacar,1953), 53-100.5 Adam Jones, Little Popo and Agou at the end of the Atlantic Slave Trade: glimpsesfrom the Lawson correspondence and other sources, em Law e Strickrodt (org.),

    Ports ofthe Slave Trade, 122-134.6 Theophilus Conneau, A Slavers Log Book, or 20 Years Residence in Afr ica: The original1853 manuscript(Londres, 1977), 202; UK Parliamentary Papers [doravante, PP], PapisRelativos Reduo de Lagos, 1852 [PRRL], inserto no no 8, Thomas Hutton, Cape Coast,7 de agosto de 1850. A propsito da tica comercial aristocrtica de Francisco Flix deSouza, ver Ross, First Chacha, 22.7 Textos, em traduo francesa, em Verger, Flux et reflux, 425-7, 475-7.8 O prprio Francisco Flix de Souza, nos ltimos anos de vida, recordava que, ao chegar

    pela primeira vez a Ajud, se sustentou com as cauris que surrupiava de altares religiosos.Conforme citado por I. A. Akinjogbin, Dahomey and i ts Neighbours, 1708-1818(Cambridge, 1967), 198.9 Fo, Le Dahomey, 27.10 Jones, Little Popo and Agou, 130.11Grand Livre Lolam, Anho [GLL], The History of Francisco F. de Souza. O materialregistrado na ltima dcada do sculo XIX por Fo, Le Dahomey, 19-22, parece estarrelacionado estreitamente com o transcrito nos papis da famlia Lawson.12Norberto Francisco de Souza, Contribution ltude de lhistoire de la Famille de Souza,Etudes dahomennes, 13 (1955), 17-21; Simone de Souza, La Famille de Souza du Bnin-Togo(Cotonu, 1992).13 Sir Henry Huntley, Seven Years Service on the Slave Coast of Western Africa(Londres,1850), I, 113-24.14 Por exemplo, Conneau, Slavers Log Book, 202.15 PP. Report of the Select Committee on the Coast of West Africa, 1842 [SCWCA],Minutes of Evidence, 2286-7, Capt. Henry Seward.16 Richard Drake, Revelations of a Slave Smuggler(Nova York, 1860), excerto em George

    Francis Dow,Slave Ships and Slaving(Massachusetts, 1927), 234-6, 252. Sobre a naturezaespria da narrativa de Drake, ver T. C. McCaskie, Drakes fake: a curiosity concerninga spurious visit to Asante in 1839, History in Africa, 11 (1984), 233-36.

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    17 Um navio envolvido no trfico para Cuba, apreendido pelos britnicos no Gabo em1839, era, de acordo com os seus documentos, propriedade de Francisco Feliz de Souza.

    As autoridades britnicas julgaram que este era o Souza de Ajud, mas o comandantedeclarou que o proprietrio, De Souza, residia em Matanzas. PP, ST 1839-40, Class A,no 44, caso doTejo.18 PP, PRRL, inserto no no 8, Hutton, 7 de agosto de 1850.19Archibald Ridgway, Journal of a visit to Dahomey,New Monthly Magazine, 81 (1847),195.20 As tradies da famlia Souza pem o nascimento de seu fundador em 4 de outubro de1754, o que o faria ter cerca de 38 anos em 1792. Os seus contemporneos diferem muitoao lhe estimar a idade, mas concordam em consider-lo bastante mais jovem do que sugerem

    os relatos tradicionais.21 Primeiro em Paul Hazoum, Le pacte de sang au Dahomey(Paris, 1937), 28, nota 1;tambm Norberto de Souza, Contribution, 15.22 Public Record Office Londres [PRO], ADM55/11, Journal of Hugh Clapperton,novembro de 1825; Brue, Voyage fait en 1843, dans le royaume de Dahomey, Revuecoloniale, 7 (1845), 56; Prncipe de Joinville, Vieux souveni rs (1818-1848), citado porVerger, Flux et reflux, 463.23 Norberto de Souza, Contribution, 18. Outras verses do a data de 1798.24

    PP, PRRL, inserto no no

    8, Hutton, 7 de agosto de 1850; [Gavoy] Note historique surOuidah [1913],Etudes dahomennes, 13 (1955), 6; Norberto de Souza, Contribution, 17.25 Norberto de Souza, Contribution, 17.26 Conforme tradio recolhida, na penltima dcada do sculo XIX, por AugustoSarmento, Portugal no Daom(Lisboa, 1891), 59.27 PRO, FO84/19, Sir G. R. Collier, Report upon the Coast and Settlements of WesternAfrica, 27 de dezembro de 1821; Frederick E. Forbes, Dahomey and the Dahomans(Londres, 1851), I, 106-7.28 Conneau, Slavers Log Book, 202.29 Ross, First Chacha, 19.30 Sarmento, Portugal no Dahom, 59.31 Norberto de Souza, Contribution, 18.32 O documento no existe mais, porm foi examinado no forte de Ajud, em 1865, porCarlos Eugnio Corra da Silva, como se l em seu livro Uma viagem ao estabelecimentoportugus de S. Joo Batista de Ajudna Costa da M ina em 1865(Lisboa, 1866), 77.33 Verger, Flux et reflux, 460.34 Ibidem, 638.35 Para uma sntese dos relatos tradicionais, ver Moussa Oumar Sy, Le Dahomey: le coupdtat de 1818, Foli a Orientalia, 6(1964), 205-38.

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    36 GLL, History of Francisco F. de Souza.37 Ross, First Chacha, 20-1.38 Verger, Flux et reflux, 462.39 Huntley, Seven Years Servi ce, I, 115.40 Corra da Silva, Viagem, 59-60.41 Norberto de Souza, Contribution, 18-19; Simone de Souza,La Famille de Souza, 59.42 Fo, Le Dahomey, 22.43 Bruce Chatwin, The Viceroy of Ouidah(Londres, 1980).44PP, SCWCA, 4063, Tenente Reginald Levinge; 2461-4, Comandante Henry Broadhead.45

    Dagba foi nomeado Yovogan em 1823, e manteve essa posio at a morte, naantepenltima dcada do Oitocentos, fundando uma famlia que ainda existe em Ajud.Ver Lon-Pierre Ghzowounm Djomolia Dagba,La collectivi tfami liale Yovogan HounnonDagba de ses origines nos jours(Porto Novo, 1982).46 Thomas Birch Freeman, Journal of Various Vi sits to the Ki ngdoms of Ashanti , Aku &Dahomi(Londres, 1844); John Duncan,Travels in Western Afri ca in 1845 & 1846(Londres,1847).47 Ver Robin Law, Royal monopoly and private entreprise in the Atlantic trade: the caseof Dahomey, Journal of African History, 18 (1977), 555-77.

    48Broquant,Esquisse commerciale de la Cte Occidentale dAfrique(1839), citado por Verger,Flux et reflux, 463.49 Qualificando o argumento de David Eltis, Economic Growth and the Ending of theTransatlantic Slave Trade(Nova York, 1987), 57, de que Francisco Flix e outros traficantesbrasileiros desse perodo no possuam os vnculos polticos externos dos estabelecimentoseuropeus existentes na rea.50 PRO, FO84/19, Collier, 27 de dezembro de 1821.51 PP, ST 1827, A, no 57, caso do Trajano; Huntley, Seven Years Servi ce, 114.52 PP, ST 1827, A, no57, caso do

    Trajano;1839-40, no77, caso do

    Emprehendedor.53 PRO, ADM 55/11, Clapperton, novembro de 1825; Huntley, Seven Years Service, I,116.54 Corra da Silva, Viagem, 79.55 Eltis, Economic Growth, , entretanto, altamente esclarecedor sobre o contexto geral dacarreira de Francisco Flix, e faz uma ou outra aluso especfica s suas atividades.56 PP, ST 1835, A, no59, caso doThereza; 1836, A, no 69, caso do Joven Carolina;1839-40, A, no77, caso doEmprehendedor;1842, A, no 79, caso doGalliana.57 PP, ST 1836, A, no 50, caso doMosca; 1837, A, no39, caso do Latona; no41, caso doCarlota; 1840, A, no47, caso doJack Wilding. Entre os documentos encontrados na ltimaembarcao, havia uma relao dos bens entregues a Zangronis e a Francisco Flix, em1834, por um passageiro, Antnio Capo, quando era capito do navioGeneral Manso.

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    58 Freeman, Journal, 258.59 Richard Burton, A M ission to Gelele, King of Dahome(Londres, 1864), II, 258.60 Simone de Souza, La Famille de Souza, 71.61 PP, ST 1839-40, A, no 35, caso doVictoria; Simone de Souza, La Famille de Souza, 71.62 O filho mais velho dos dois foi batizado em 1876, conforme Simone de Souza, ob. cit.,71, 244, 277.63 PP, ST 1835, Class B, no 107, Mr. Parkinson, Bahia, 10 de dezembro de 1834.64 PP, ST 1826-7, A, no8, J. T. Williams, Serra Leoa, 20 de maro de 1826; 1827, A, no

    49, caso doPrncipe de Guin.65 PP, ST 1826-7, A, no38, George Randall, Serra Leoa, 30 de maro de 1826.66 Christophe Fyfe, A H istory of Sierra Leone(Londres, 1962), p. 196.67 PP, ST 1835, A, no54, caso do Legtimo Africano;1837, A, Further Series, no 13, casodeDon Francisco; no14, caso do Florida; 1840, A, no61, caso do Fortuna.68Outro exemplo: o doAtrevido, capturado, em dezembro de 1834, com um carregamentode escravos provenientes de Ajud, cujo capito alegou ter adquirido o barco de FranciscoFlix, em 1831. PP, ST 1835, A, no52.69 Cf. Eltis, Economic Growth, 158, 182.70 Ver, para um contexto mais amplo, Robin Law, Between the sea and the lagoons: the

    interaction of maritime and inland navigation on the precolonial Slave Coast, Cahiersdtudes africaines, 29 (1989), 209-37.71 Huntley, Seven Years Service, I, 115-6.72 Ver Nicou Lodjou Gayibor, Le Geny: un royaume oublide la Cte de Guine au tempsde la traite des noirs(Lom, 1990), 189-201.73 GLL, Julgamento do caso de Kain versus Chico dAlmeida, Pop Pequeno, 2 de marode 1893.74 PP, ST 1840, A, no85, caso doPlant.75

    Gavoy, Note historique, 61.76 PP, ST 1830, A, no 33, caso doVeloz Pasagera.77 PRO, CO96/12, J. H. Akhurst, Agu, 25 de setembro de 1843.78 Jacques Lombart, Cotonou, ville africaine, Etudes daomennes, 10 (1953), 30.79 PP, SCWCA, 3997, Tenente R. Levinge.80 Cf. PP, ST 1855-6, B, no28, Cnsul Campbell, Lagos, 6 de janeiro de 1856.81 PRO, FO2/7, Commercial Report, para o Vice-Cnsul Fraser, Fernando P, 15 demaio de 1852. Posteriormente, ainda na mesma dcada, Cotonou passou para o controle

    de Domingos Jos Martins.82Norberto de Souza, Contribution, 19. Isidoro permaneceu 6 anos em Ajud, antes deser mandado para Pop Pequeno, em 1840.

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    83PP, ST 1827, A, no51, caso doHiroina(com referncia a Judo, um local entre Badagrye Lagos); no54, caso deVenus(Ajudo, identificado erroneamente como Ajud). Ajido

    foi tambm visitado por Richard Lander, viajando por terra de Badagry, em 1826 ou 1827:Records of Captain Clappertons Last Expedi tion to Africa(Londres, 1830), II, 265-6, 269(Adjeedore).84Ver Robin Law, The career of Adele at Lagos and Badagry, c. 1807-c.1837, Journal ofthe Historical Society of Nigeria, 9/2 (1978), 35-59 (embora nesse artigo no se estabeleavinculao com Francisco Flix de Souza).85 PP, ST 1837, A, no39, caso do Latona.86 PP, ST 1835, A, no 59, caso do Thereza; 1836, A, no69, caso do Joven Carolina.87 PP, Report of the Select Committee on the Slave Trade, 1848, Minutes of Evidence,3055, J. Duncan.88 Brue, Voyage, 56; Duncan, Travels, I, 203.89 Jones, Little Popo and Agou, 131; correspondncia de Santos, nos44, 52, 80 [28 dedezembro de 1846, 19 de fevereiro e 1 de dezembro de 1847].90 PP ST 1849-50, A, no98, caso doGalliana. Esse Francisco de Souza era provavelmenteaquele que tinha a alcunha de Chico e que, mais tarde (1859-80), substituiria Isidorocomo Chach.91 Blancheley, Au Dahomey, Les Missions catholiques, 223 (1891), 536; PP, ST 1849-

    50, B, inserto 10 no no9, Tenente Forbes, 5 de novembro de 1849.92 Fo, Le Dahomey, 26-7; Gavoy, Note historique, 68-9.93 PP, PRRL, inserto no no 8, Hutton, 7 de agosto de 1850; ST 1849-50, B, no 7, Vice-Cnsul Duncan, Ajud, 22 de setembro de 1849; inserto 10 em no9, Forbes, 5 de novembrode 1849.94 Fo, Le Dahomey, 23; Hazoum, Lepacte du sang, 109.95 Duncan, Travels, I, 204.96 PRO, CO96/12, Hutton, Cape Coast, 17 de maro de 1847.

    97 PP, ST 1849-50, B, inserto 10 no no9, Forbes, 5 de novembro de 1849.98 PP, PRRL, inserto no no8, Hutton, 7 de agosto de 1850.99 Ross, First Chacha, 25.100 Correspondncia de Santos, nos52, 54 [ambas as cartas de 19 de fevereiro de 1847].101 PRO, CO96/12, Thomas Hutton, Agu, 7 de dezembro de 1846. Ver Eltis, EconomicGrowth, 171. Isso pe em dvida a afirmao de Ross, em First Chacha, 22, de queFrancisco Flix no logrou fazer a transio para uma nova estrutura de comrcio exterior,na qual se combinavam os escravos e o leo de palma, ao contrrio do que sucedera domDomingos Jos Martins. Na realidade, tambm nisso Francisco Flix parece ter sido umpioneiro.102 Turner, Les Brsiliens, 102-5.

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    103 PP, Slave Trade 1841, Class A, no 109, caso do Gratido, apreendido pela marinhabritnica em outubro de 1840. Os papis encontrados a bordo mostram que um passageiro,

    Tobias Barreto Brando, estivera envolvido no trfico nos ltimos dois anos, tendocomerciado em Agu com, entre outros, Joaquim dAlmeida.104 Antes de retornar frica, ele fez seu testamento na Bahia, em dezembro de 1844.Texto em Verger, Flux et reflux, 475-7.105 Fo, Le Dahomey, 23.106 PP, ST 1849-50, B, inserto 10 no no9, Forbes, 5 de novembro de 1849.107 Fo, Le Dahomey, 23; [Renier], Recherches sur lorganization du commandementindigne [Ajud, 1917], Mmoi re du Bnin, 2 (1993), 63; Maximilien Qunum, Les

    anctres de la famille Qunum(Langres, 1981), 60-1.

    108 Reynier, Recherches, 66.109 David Ross, The career of Domingo Martinez in the Bight of Benin, 1833-64,Journalof Afri can History, 6 (1965), 79-90.110 PRO, CO96/12, Hutton, 17 de maro de 1847.111 Correspondncia de Santos, no28 [ 3 de maro de 1846].112 PP, ST 1849-50, B, inserto 10 no no9, Forbes, 5 de novembro de 1849.113 PP, ST 1854-5, B, no21, Cnsul Campbell, Badagry, 1 de novembro de 1854.114

    PRO, CO96/12, Hutton, 17 de maro de 1847.115 PP, ST 1849-50, B, inserto 10 no no9, Forbes, 5 de novembro de 1849.116 Burton, Mission to Gelele, I, 72.117 O filho de Martins com Maria Flix de Souza foi batizado em 1853: Simone de Souza,La Famille de Souza, 254, 273.118 Ibidem, 51-3.119 Reynier, Recherches, 48.120 Correspondncia de Santos, no52 [19 de fevereiro de 1847].

    121 Ross, First Chacha, 27-8.122 PP, ST 1849-50, A, inserto 2 no no 9, Comodoro Fanshawe, 9 de setembro de 1849.123 PP, ST 1849-50, B, inserto 14 no no9, Vice-Cnsul Duncan, Ajud, 18 de setembrode 1849.