tomás de aquino - o ente e a essência

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Tomás de Aquino O ENTE E A ESSÊNCIA DE ENTE ET ESSENTIA Edição bilíngue Tradução de Carlos Arthur do Nascimento Apresentação de Francisco Benjamin de Souza Neto Petrópolis 1995

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Texto fundamental da obra de Tomás de Aquino.Esgotado no fornecedor. Edição Bilíngue.

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Page 1: Tomás de Aquino - O Ente e a Essência

Tomás de Aquino

O ENTE E A ESSÊNCIADE ENTE ET ESSENTIA

Edição bilíngue

Tradução de Carlos Arthur do NascimentoApresentação de Francisco Benjamin de Souza Neto

Petrópolis1995

Page 2: Tomás de Aquino - O Ente e a Essência

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tomás de Aquino, 1225-1274.O ente e a essência / Tomás de Aquino ; tradução de

Carlos Arthur do Nascimento ; apresentação de FranciscoBenjamin de Souza Neto. - Petrópolis, RJ : Vozes, 1995.

ISBN 85-326-1530-91. Filosofia medieval 2. Tomás de Aquino, Santo,

1225-1274 l. Souza Neto, Francisco Benjamin de. II. Título.

95-1139 CDD-189.4

índices para catálogo sistemático:1. Tomismo : Filosofia medieval 189.4

Page 3: Tomás de Aquino - O Ente e a Essência

â 1995, Editora Vozes Ltda.Rua Frei Luís, 100

25689-900 Petrópolis, RJBrasil

FICHATÉCNICA DA VOZES

COORDENAÇÃO EDITORIAL:Avelino Grassi

EDITOR:António De Paulo

COORDENAÇÃO INDUSTRIAL:José Luiz Castro

EDITOR DE ARTE:Ornar Sanlos

EDITORAÇÃO:Editoração e organização literária: Lúcia M. Endlich Orth

Revisão gráfica: Revitec S/CDiagramaçâo: Sheila Roque

Supflrvisao gráiica. Víilderes Rodrigues

ISBN 85.326.1530-9

Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda.em outubro de 1995.

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O OPÚSCULO DE ENTE ET ESSENTIAUMA BREVE INTRODUÇÃO

Os historiadores parecem de acordo em datar o opúsculosobre o ente e a essência entre os anos de 1252 e 1253, quandoTomás de Aquino exercia seu primeiro magistério no StudiumGenerale dos dominicanos na Universidade de Paris. Trata-se,portanto, de uma obra de juventude, decisiva, porém, na medidaem que torna transparentes as diretrizes gerais da metafísica doautor, que, certamente, há de ser ulteriormente precisada e aper-feiçoada em seus pormenores, mas jamais reexposta em seumovimento de conjunto como ocorre no escrito aqui apresentado.

Observe-se a respeito ser sempre difícil captar este movimen-to em autores antigos e medievais; em Tomás de Aquino isto épossível quanto à Teologia, mas só o é quanto à Metafísica graçasao opúsculo em pauta.

Nosso século foi generoso em editar o De Ente et Essentia.Já em 1926 a livraria J. Vrin publicava a edição de M.D. RolandGosselin, OP, com o texto, dois alentados estudos sobre a indivi-duação e a distinção entre a essência e ser e, obviamente, umaexcelente introdução. Aobra foi reimpressa em 1948. Nesta altura,C. Boyer publicara em Roma seu S. Thomae Aquinatis De Enteet Essentia, Textus et Documenta, 1946. Foi o texto estabelecidonesta edição reproduzido entre nós por D. Odilão Moura, Rio,Presença, 1981, que o fez acompanhar de uma introdução à qualremetemos o leitor, enriquecendo também a obra com uma tradu-ção nova, uma concordância e anotações de grande valia para oleitor moderno. Pouco após, em 1949, era o mesmo texto editadopor J. Perrier em S. Thomae Aquinatis Opuscula omnia necnonopera minora, Paris, Lethielleux, tomus primus, p. 24-50. Enfim,

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ern 1976, no tomus XLIII da Opera Omnia iussu Leonis XIII P.M.Edita, Editori di San Tommaso, Santa Sabina, Roma, p. 369-381,é dada à luz a edição crítica do De Ente et Essentia. O autor dapresente tradução consultou estas edições, a última já com atradução pronta com base no texto estabelecido por Boyer. Con-sultou ele também as seguintes traduções, além da já citada deD.O. Moura: L. Lituma e A.W. Reyna, Santo Tomás de Aquino, DelEnte y de Ia Esencia, B. Aires, Losada, 1940; J. Cretella Jr., Sobreo Ente e a Essência, S. Paulo, 1952; R. Allers, Thomas Von Aquin,Úberdas Sein unddas Wesen, Frankfurt, Fischer Bucherei, 1959;L. J. Baraúna, S. Tomás de Aquino, O Ente e a Essência, S. Paulo,Abril, 1973, v. VIII, p. 7-22. Esta tradução é absolutamente inutili-zável em razão da má qualidade do original latino, defeito quecompromete também a tradução de Cretella, acima citada, estapreservando, entretanto, o mérito histórico de haver sido a primei-ra tradução feita no Brasil. Com efeito, é aí utilizado o textoconstante do comentário de Tomás de Vio, o Caetano, o qual seassinala por múltiplas corrupções, como uma comparação comedições melhores pode atestá-lo (ver: In De Ente et Essentia D.Thomae Aquinatis Commentaria, P.M.H. Laurent, Taurini, Marietti,1934, a qual reproduz a edição de 1820).

A obra de Tomás de Aquino acabou por se assinalar por umavariedade que exige do leitor uma hermenêutica igualmente va-riada. Há os comentários, bíblicos, teológicos ou filosóficos; há asduas Sumas, estruturalmente diferentes; há o compêndio deteologia e os opúsculos, e há algo mais. Não ó o momento deapreciar este universo literário tão especial. De qualquer forma,enquanto a Suma contra os Gentios preludia o tratado moderno,um opúsculo como o Do Ente et Essentia, inspirado nos livros daMetafísica de Aristóteles, mais se assemelha a um ensaio com apeculiaridade de ser apodítico, consequente e concludente, o quenão é habitual nos ensaios filosóficos, ao menos os recentes. Neleé manifesto que o autor expõe e demonstra o que pensa e não oque depara em suas fontes, mesmo quando atribui a estas asteses que defende. Por outro lado, o texto se afigura mais fluenteao leitor moderno em razão de não reproduzir a forma e as regrasda "quaestio". Nesse sentido, está ele mais para a Suma contraos Gentios do que para a de Teologia. Assim, é mais fácil deixarao leitor depreender se o seu pensamento é realista, se é ôntico

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ou ontológico ou mais o que se queira, do que ocorro com outrosescritos. Eis por que esta introdução se permite limitar-se a realçaro que lhe parecem ser os momentos lógicos do discurso em queconsiste.

O terminus a quo de toda a Metafísica de Santo Tomás é o"ENS". É desde a divisão deste que as peculiaridades do pensa-mento se desvelam. De início, ens e essentia se divisam como"aquilo" que, primeiro, o intelecto concebe. Com isto elimina-setodo realismo ingénuo. Ao contrário, assume-se o "ens qua ens",mas este só se tem em conta de acessível em seu ser concebidopelo intelecto. Isto equivale a dizer que é só enquanto concebidoque o ente e a essência são acessíveis. É, portanto, a potênciaativa de conceber que faz o homem capaz do ente e da essência.O longo itinerário que este percorre entre a "sensatio" a maisextrínseca e a "conceptio" só nesta se eleva ao ente, embora esteesteja sempre necessariamente na origem de todos os momentospsicogenéticos do processo cognitivo. No mínimo isto equivale adizer que é só então que há saber conceptivo, porque é só entãoque o ente se rende ao homem. É justo pensar que ocorre aí odom da universalidade. Mas não é esta que ocupa o primeiroplano nas preocupações de Tomás de Aquino; é antes de tudo oestatuto originário e originante do ente no intelecto que lhe inte-ressa. Originário, o ente não é apenas fundante "in abstracto", istoé, abrangente, mas é nele que se capta o que é em sua potência,em sua essência e em seu ser. Donde ser a divisão do ente adivisão do real, da esfera das "coisas", já que esta é simplesmentea esfera "do que é". O real é apenas a denominação recente datotalidade discreta dos entes.

Dada sua concepção, dado como conceito, pode ser o entedividido, seja no que enuncia a verdade da proposição, seja noque compreende os dez predicamentos. Todavia, no primeirocaso ele compreende o nada, privatio et negatio. Ora, como onada simplesmente não é, resta a afirmação do ente enquantodivisível nos dez predicamentos e, porque estes não se dizem demodo equívoco mas com referência à substância, importa primei-ro considerar corno o ente e a essência nesta se efetivam. Porsua vez, podendo ser a substância simples ou composta, seria ocaso de se principiar por aquela para chegar a esta. Tomás deAquino opta pela via inversa por uma precisa razão: tudo que cai

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imediatamente sob o alcance do saber humano é composto. Emverdade, o homem se eleva deste ao simples, do que é posteriorao que é anterior, do que é segundo ao que é primeiro: eis o "ordoinventionis" do processas humano de cognição.

É na substância composta que primeiro o intelecto demandaa essência e, nesta, ela se revela irredutível não só à matéria mastambém à forma tomada em separado. A substância composta é,por definição, matéria e forma, mais precisamente, forma namatéria determinada por certa forma. Jamais se depara com amatéria prima a ser em estado puro. Mas o mesmo não ocotrecom a forma. Assim como é ela que torna cognoscfvel a matéria,em si mesma incognoscível, porque indeterminada, desde o seuser na matéria, ela, a forma, abre o caminho primeiro para ainvestigação da possibilidade, depois da efetividade de formas àsquais caiba ser independentemente da matéria. Parte-se do inte-lecto potencial ou possível que se torna a forma do ente queconhece mas;sem que, para isto, esta se faça inerente à matéria,embora a cognição capte e preserve a referência a esta. Obra dointelecto agente; este modo de ser da forma sem a matéria,conferido a formas que^ na natureza das coisas, são inerentes àmatéria, desvela ser o intelecto, enquanto intelecto, isento damaterialidade; nada^pQde ser inferior em perfeição àquilo a queconfere o sèr^Uma^vèz demonstrada esta isenção, abre-se ocaminho à especulação sobre as substâncias separadas. Estasseriam idênticas à forma; O que quer que se pense de tantagenerosidade com uma simples possibilidade, a separabilidadeda forma tem-se em conta de indissociável de seu primado sobrea matéria. Tudo o que um ente é, ele o é por força e em razão desua forma, sem prejuízo das causas externas. Pode-se pensarem um "platonismo via Afistóteles" mas é prudente não avançarsem cautela, mesmo porquê é ampla e variada a mediaçãopatrística. É na substância composta limítrofe, o homem, que aimaterialidade da forma se desvela no próprio ato de se conhecerpor conceitos.

A substância simples é a expressão quase necessária doprimado da forma. Ela só não chega a tal necessidade porquetodo ente até aqui estudado tem uma essência inidêntica a seurser. Isto não se diz expressamente até que a alusão à substânciasimples importe a consideração do que, de início, se diz Ente

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primeiro, aqui no sentido de primordial, em verdade o ente supra-substancial e o Puro Ser. Ato puro, inferido a partir da própriaatualidade do simplesmente possível, o nosso contingente, n'Elenão se trata mais de identidade essência-forma, mas essentia-esse. É possível .divisar, nesta altura do De Ente et Essentia, aMetafísica subjacente às cinco vias. Para além da forma, ódivisado o ser, ESSE e não ENS. A argumentação pressupõe ateoria geral da substância, até aqui exposta, ainda que de formaconcisa: tudo o que não é o seu esse, recebe-o: ora, o Ato Puro,pressuposto pela própria atualidade do possível, da matéria àforma desta isenta, por definição não é receptivo, porque isentode toda passividade; logo é puro ESSE. Tal identidade é plenitudede ser, não indigência; não é ela carência da.essência, mas opróprio ser;supra-essencial( supereminentemente compreensivode toda a escala das perfeições da essência. Insusceptível de serrecebido, tal esse não pode ser o ser do mundo como totalidadenem multiplicar-se, pois o multiplicar-se exige a adição da diferen-ça,e a pureza do ato implica a absoluta simplicidade irreceptivade um ato subsequente. A fortiori, e*clui-se a matéria, pois estaimportaria composição.

Há, portanto, um lugar entre o puro ESSE e a substânciacomposta1; piara a substância separada, pura forma. A angelologiahá de instalar-se no âmbito desta possibilidade metafísica. Ape-nas, importa notar quê, simples Confio éséêfíòiâái porque purasformas, tais áubstâncias são, como èrifeii distfrltas do ser quelhes cabe. São elas também únicas no áer'd.ue lhes cabe, poissendo puras formas, não há nelas ou fora delas qualquer fator demultiplicação numérica. Com efeito, no que concerne às substân-cias compostas, Tomás de Aquino defende aqui e após a tesesegundo a qual a multiplicação destas se faz em razão da matériaassinalada pela quantidade, tese esta que há de ser um dosaspectos mais discutidos de seu pensamento.

Feita a precisão acima, o pensamento humano, o quanto é-lhepossível, abrange o ente na totalidade de suas possibilidades, dopuro ESSE à pura potência, do absolutamente necessário aosimplesmente passível. É só então quê, no movimento conjuntodo opúsculo, o autor se permite traçâFà escala hierárquica dosentes, que desce do Ato Puro de sen âlSáErpàssa pela potênciaem relação ao ser e desce à potência em relação à forma, à

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matéria-prima. O capítulo V do De Ente et Essentia é a brilhantee concisa exposição desta concepção. Com ele, chega o autor ao"ordo essendi" de sua ontologia. Mas, antes de isto poder ocorrer,foi-lhe necessário, em seu modo de ver, partir do ente como "primaconceptio", proceder à análise da constituição intrínseca dasubstância composta, discernir, em seguida, o exato teor darelação forma-matéria, elevar-se adiante à forma sem matéria,à substância simples, detectar a necessidade, entre estas, dasubstância em verdade supra-substancial, fundante e originan-te de todas as demais inclusive quanto ao ser destas, para,enfim, divisar a absoluta necessidade de a essência desta seridêntica a seu ser, isto ó, de ela apenas ser o seu ESSE. Sóentão é possível discernir a ordem no ser e operar a síntesedo capítulo VI.

É manifesto, trata-se de uma ontologia que não só reconheceo primado do ato, a "enérgeia" de Aristóteles, sobre a potência, a"dynamis", mas que faz deste primado o princípio segundo o qualse articula o movimento corn o qual perfaz o conhecimento doente, elevando-se do primado da forma na constituição da essên-cia ao primado do ser na constituição do ente e sobre o próprioente ao inferir a necessidade de o ente primeiro ser puramenteSER, princípio, origem e fundamento de todo ente e de cada entea cuja essência confere o ser que lhe cabe como ato. Observe-se,a propósito, que nosso autor não atribui à palavra existência ovalor de sinónimo de ser em toda a universalidade deste, dela sevalendo e do verbo que lhe corresponde para casos particularesde ser, como forma linguística complementar e sempre com muitausura.

O capítulo VI do opúsculo, corno se previra, é dedicado aprecisar como e em que sentido é a essência nos acidentes. Ora,assim como o acidente não pode ser definido sem o sujeito aoqual é inerente, não lhe cabe o ser substancial, mas o acidental,não lhe cabe também a razão de uma essência completa. Nestaaltura, Sto. Tomás fala ainda de ser acidental e de certo sersegundo que o acidente causa. Esta linguagem, posteriormente,há de parecer conceder demais ao acidente e ele dirá que todo oser deste consiste em ser-em, "inesse" (ver, por exemplo, a Sumade Teologia l, q. 28 a.2 c). Não é o momento de se reconstituir acaminhada nesta direção mas à altura do IV livro do Comentário

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ás Sentenças ela já está encetada. A consideração deste porme-nor dá ensejo a que se precise o lugar do De Ente et Essentia naobra de seu autor: é ele um marco decisivo; as posições aíadotadas decidem em grande parte o destino do pensamento aoqual dá forma: o ente, a essência, o ser, a substância em suasdivisões e em sua individuação, o acidente, as relações de tudoisto com as intenções lógicas, mas nada disto obsta que precisõesassinalem certa evolução que, como no caso exemplificado, sãoexigências do próprio pensamento em seus princípios e formas.É manifesto, porém, que quaisquer transformações e a determi-nação de seu alcance, aperfeiçoamento ou ruptura, é algo a serdeterminado a nível monográfico, caso por caso. Permanece,todavia, válido ser o De Ente et Essentia a exposição da metafí-sica tomista em seu movimento de conjunto: nada em sua obrapode ser alegado contra esta tese.

Eis o que foi possível dizer, em breves linhas, no sentido deatrair a atenção do leitor para as teses fundamentais do De Enteet Essentia.

Francisco Benjamin de Souza NetoDepartamento de Filosofia

UNICAMP

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PRÓLOGO PROLOGVS

1 - Visto que, de acordocom o Filósofo no 1g livro Docéu e do mundo (l,5,271b,8-13), um pequeno erro no princí-pio é grande no fim e, por outrolado, como diz Avicena no pri-meiro livro de sua Metafísica(l,6,72b, A), o ente e a essênciasão o que é concebido primeiropelo intelecto, para não aconte-cer que se erre por ignorânciadeles, para dissipar-lhes a difi-culdade, importa dizer o que ésignificado pelo nome de essên-cia e de ente, como se encontraem diversos e como está para asintenções lógicas, isto é, o géne-ro, a espécie e a diferença.

2 - Deve-se passar da sig-nificação de ente à significaçãode essência, de tal modo que,começando pelo mais fácil, oaprendizado se dê de maneiramais adequada, pois devemosreceber o conhecimento dosimples a partir do composto echegar ao anterior a partir doposterior.

CAPITULO I3 - Cumpre saber que, as-

sim como diz o Filósofo no quin-to livro da Metafísica (V,7,1017a,22), o ente por si se diz

1 - Quia paruus error inprincipio magnus est in fine se-cundum Philosophum in l Celiet mundi, ens autem et essentiasunt que primo intellectu conci-piuntur, ut dicit Auicenna in princi-pio sue Methaphisice, ideo ne exeorum ignorantia errare contin-gat, ad horum difficultatem ape-riendam dicendum est quidnomine essentie et entis significe-tur, et quomodo in diuersis inue-niatur, et quomodo se habeat adintentiones lógicas, scilicet ge-nus, speciem et differentiam.

2 - Quia uero ex compositissimplicium cognitionem accipe-re debemus et ex posterioribusin priora deuenire, ut a faciliori-bus incipientes conuenientiorfiat disciplina, ideo ex significa-tione entis ad significationemessentie procedendum est.

CAPITVLVM I

3 - Sciendum est igiturquod, sicut in V MethaphisicePhilosophus dicit, ens per sedupliciter dicitur: uno modoquod diuiditur per decem gene-ra, alio modo quod significai

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proposilionum ueritatem. Ho-rum autem differentia est quiasecundo modo potest dici ensomne illud de quo affirmatiuapropositio formari potest, etiamsi illud in ré nichil ponat; perquem modum priuationes etnegationes entia dicuntur: dici-mus enim quod affirmatio estopposita negationi, et quod ce-citas est in óculo. Sed primomodo non potest dici ens nisiquod aliquid in ré ponit; undeprimo modo cecitas et huius-modi non sunt entia.

4 - Nomen igitur essentienon sumitur ab ente secundomodo dicto: aliqua enim hocmodo dicuntur entia que essen-tiam non habent, ut patet inpriuationibus; sed sumitur es-sentia ab ente primo mododicto. Vnde Commentator ineodem loco dicit quod ens pri-mo modo dictum est quod sig-nificai essentiam rei. Et quia,ut dictum est, ens hoc mododictum diuiditur per decem ge-nera, oportet ut essentia signi-ficet aliquid commune ornni-bus naturis per quas diuersaentia in diuersis generibus etspeciebus collocantur, sicuthumanitas est essentia homi-nls, et sic de aliis.

5 - Et quia illud per quod résconstituitur in próprio genereuel specie est hoc quod signifi-catur per diftinitionem indican-

do dois modos: de um modoque é dividido por dez géneros;de outro modo, significando averdade das proposições. A di-ferença destes é que, do se-gundo modo, pode ser dito entetudo aquilo do qual pode serformada uma proposição afir-mativa, ainda que aquilo nadaponha na coisa; modo pelo qualas privações e negações sãoditas entes, pois dizemos que aafirmação é oposta à negaçãoe que a cegueira está no olho.Mas, do primeiro modo, nãopode ser dito ente senão aquiloque põe algo na coisa. Donde,a cegueira e similares não se-rem entes do primeiro modo,

4 - Portanto, o nome deessência não deriva de ente,dito do segundo modo, pois,deste modo, algo, que não temessência, é dito ente, como éevidente nas privações; mas,essência deriva de ente dito doprimeiro modo. Daí, o Comen-tador dizer, no mesmo lugar (InMel, V,14,55c 56), que "o entedito do primeiro modo é o quesignifica a essência da coisa".E, visto que, como já se disse,o ente dito deste modo é dividi-do por dez géneros, é precisoque a essência signifique algocomum a todas as naturezas,pelas quais os diversos entessão colocados em diversos gé-neros e espécies, assim comoa humanidade é a essência dohomem e igualmente a respeiteidos demais.

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5 - E, visto que aquilo peloque a coisa é estabelecida nopróprio género ou espécie éisto que é significado pela defi-nição indicando o que a coisaé, daí vem que o nome de es-sência é transformado pelos fi-lósofos no nome de qúididade;e isto é o que o Filósofo deno-mina frequentemente "aquiloque algo era ser", quer dizer,isto pelo que algo tem o seralgo. É dito também forma, namedida em que a certeza decada coisa é significada pelaforma, como diz Avicena no se-gundo livro de sua Metafísica(ll,2,56a,C). Isto também é, atra-vés de outro nome, dito nature-za, tomando natureza de acordocom o primeiro daqueles quatromodos assinalados por Boéciono livro Sobre as duas naturezas(c.l, PL t. 64, col. 1341 BC), istoé, na medida em que se diz natu-reza tudo aquilo que, seja comofor, pode ser captado pelo intelec-to. Pois, a coisa não é inteligívelsenão pela sua definição e suaessência; e, deste modo, o Filó-sofo também diz no quinto livro daMetafísica (V,4,1015a,12) quetoda substância é natureza.

6 - No entanto, o nome denatureza tomada deste modo,parece significar a essência dacoisa na medida em que estáordenada à operação própria dacoisa, uma vez que nenhumacoisa é destituída de operaçãoprópria. O nome qúididade deri-va, porém, disto que é significa-da pela definição; mas, é ditaessência na medida em que, porela e nela, o ente tem o ser.

tem quid est rés, inde est quodnomen essentie a philosophisin nomem quiditatis mutatur; ethoc est etiam quod Philoso-phus frequenter nominal quodquid erat esse, id est hoc perquod aliquid habet esse quid.Dicitur etiam forma, secundumquod per formam significaturcertitudo uniuscuiusque rei, utdicit Auicenna in II Methaphisi-ce sue. Hoc etiam alio nominenatura dicitur, accipiendo natu-ram secundum primum mo-dum illorum quatuor quod Boe-tius in libro De duabus naturisassignat: secundum scilicetquod natura dicitur omne illudquod intellectu quoquo modocapi potest, non enim rés estintelligibilis nisi per diffinitio-nem et essentiam suam; et sicetiam Philosophus dicit in V Me-thaphisice quod omnis subs-tantia est natura.

6 - Tamen nomen naturehoc modo sumpte uidetur signi-ficare essentiam rei secundumquod habet ordinem ad pro-priam operationem rei, cumnulla rés própria operationedestituatur; quiditatis uero no-men sumitur ex hoc quod perdiffinitionem significatur. Sedessentia dicitur secundumquod per eam et in ea ens habetesse.

7 - Sed quia ens absolutoet primo dicitur de substantiis,

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et per posterius et quasi secun-dum quid de accidentibus, indeest quod etiam essentia proprieet uere est in substantiis, sed inaccidentibus est quodammodoet secundum quid.

8 - Substantiarum ueroquedam sunt simplices et que-dam composite, et in utrisqueest essentia; sed in simplicibusueriori et nobiliori modo, secun-dum quod etiam esse nobiliushabent: sunt enim causa eorumque composita sunt, ad minussubstantia prima simplex queDeus est.

9 - Sed quia illarum subs-tantiarum essentie sunt nobismagis occulte, ideo ab essen-tiis substantiarum composita-rum incipiendum est, ut a faci-lioribus conuenientior fiat disci-plina.

CAPITVLVM II

10 - In substantiis igiturcompositis forma et matérianota est, ut in homine anima etcorpus. Non autem potest diciquod alterum eorum tantum es-sentia esse dicatur.

11 - Quod enim matériasola rei non sit essentia, pla-num est, quia rés per essen-tiam suam et cognoscibilis est,et in specie ordinatur uel gene-

7 - Como, porém, o ente sediz de maneira absoluta e porprimeiro das substâncias e,posteriormente e como que sobum certo aspecto, dos aciden-tes, daí vem que há tambémessência, própria e verdadeira-mente, nas substâncias, mashá nos acidentes, de um certomodo e sob um certo aspecto.

8 - Algumas das substân-cias, porém, são simples e al-gumas compostas e em ambashá essência, mas nas simplesde um modo mais verdadeiro enobre, de acordo com o quetêm também um ser mais no-bre; são, com efeito, causa dasque são compostas, pelo me-nos a substância primeira esimples que é Deus.

9 - Mas, como as essên-cias daquelas substâncias nossão mais ocultas, daí devermoscomeçar pelas essências dassubstâncias compostas, a fimde que, principiando pelo maisfácil, processe-se um aprendi-zado mais adequado.

CAPITULO II

10 - Portanto, nas substân-cias compostas nota-se a formae a matéria, como no homem aalma e o corpo. Não se pode,porém, dizer que apenas um de-les seja denominado essência.

11 - De fato, que a matériasozinha não seja a essência da

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coisa é patente, pois a coisatanto é cognoscível como éclassificada numa espécie ounum género pela sua essência;ora, nem a matéria é princípiode conhecimento, nem algo éfixado num género ou espéciegraças a ela, mas graças àquiloque algo é em ato.

12 - Também a forma sozi-nha não pode ser denominadaessência da substância com-posta, embora alguns se esfor-cem por afirmá-lo. Com efeito,pelo que foi dito, evidencia-seque a essência é aquilo que ésignificado pela definição dacoisa. Ora, a definição dassubstâncias naturais contém,não apenas a forma, mas tam-bém a matéria; pois, de outromodo, as definições naturais ematemáticas não difeririam.

13 - Também não se podedizer que a matéria é posta nadefinição da substância naturalcomo um acréscimo à sua es-sência ou como um ente fora desua essência porque este tipode definição é próprio aos aci-dentes que não têm uma es-sência perfeita; donde serpreciso que recebam na suadefinição o sujeito que está forado seu género. É claro, portan-to, que a essência compreendea matéria e a forma.

14 - Não se pode, porém,dizer que a essência signifiquea relação que há entre a maté-ria e a forma, ou algo acrescen-

re; sed matéria neque cognitio-nis principium est, neque se-cundum eam aliquid ad genusuel speciem determinatur, sedsecundum id quod aliquid actuest.

12 - Neque etiam formatantum essentia substantiecomposite dici potest, quamuishoc quidam asserere conentur.Ex hiis enim que dieta sunt pa-tet quod essentia est illud quodper diffinitionem rei significatur;diffinitio autem substantiarumnaturalium non tantum formamcontinet sed etiam materiam,aliter enim diffinitiones natura-les et mathematice non differ-rent.

13 - Nec potest dici quodmatéria in difíinitione substan-tie naturalis ponatur sicut addi-tum essentie eius uel ens extraessentiam eius, quia hic modusdiffinitionum proprius est acci-dentibus, que perfectam es-sentiam non habent; undeoportet quod in diffinitione suasubiectum recipiant, quod estextra genus eorum. Patet ergoquod essentia comprehendit etmateriam et formam.

14 - Non autem potest diciquod essentia significet relatio-nem que est inter materiam etformam, uel aliquid superaddi-tum ipsis, quia hoc de necessita-te esset accidcns ot extraneum

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a ré. nec por earn rés cognos-ceretur: que omnia essentie con-ueniunt. Per formam enim, queest actus materie, matéria effi-citur ens actu et hoc aliquid;unde illud quod superaduenitnon dat esse actu simplicitermaterie, sed esse actu tale, si-cut etiam accidentia faciunt, utalbedo facit actu álbum. Vndeet quando talis forma acquiritur,non dicitur generari simplicitersed secundum quid.

15 - Helinquitur ergo quodnomen essentie in substantiiscompositis significai id quod exmatéria et forma compositumest. Et huic consonat uerbumBoetii in commento Predica-mentorum, ubi dicit quod usyasignificai compositum; usyaenim apud Grecos idem estquod essentia apud nos, ut ip-semet dicit in libro De duabusnaturis. Auicenna etiam dicitquod quiditas substantiarumcompositarum est ipsa compo-sitio forme et materie. Com-mentator etiam dicit super VIIMethaphisice "Natura quamhabent species in rebus gene-rabilibus est aliquod médium, idest compositum ex matéria etforma".

16 - Huic etiam ratio con-cordai, quia esse substantiecomposite non est tantum for-me neque tantum materie, sedipsius compositi; essentia au-

tado a estas, pois isto seria ne-cessariamente um acidente eestranho à coisa, nem, por ela,a coisa seria conhecida - tudoo que, cabe à essência. De fato,pela forma que é ato da maté-ria, a matéria é tornada ente emato e este algo. Donde, aquiloque sobrevêm não dar à maté-ria o ser em ato simplesmente,mas o ser em ato tal, comotambém os acidentes fazem;por exemplo, a brancura fazbranco em ato. Daí, quando talforma é adquirida, não se falade gerar-se simplesmente, massob um certo aspecto.

15 - Resta, pois, que onome de essência nas substân-cias compostas significa aquiloque é composto de matéria eforma. Com esta posição har-moniza-se a palavra de Boéciono Comentário dos predica-mentos (In Cal, c. l, PL 64,184A), onde diz que ousía sig-nifica o composto. Com efeito,ousía entre os gregos é o mes-mo que essência entre nós,como ele mesmo diz no livroSobre as duas naturezas (c. 3,PL 64, 1344CD). Avicena tam-bém diz (Metafísica, V, 5, 90A.F)que a qúididade das substân-cias compostas é a própriacomposição de forma e maté-ria. Ó Comentador também dizno Comentário sobre o livro sé-timo da Metafísica (In Metaph.,Vll,7,27, f. 83c41): "A naturezaque as espécies nas coisas su-jeitas à geração têm, é algo in-termediário, isto é, compostode matéria e forma".

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16 - Com esta concordatambém a razão, pois o ser dasubstância composta não éapenas da forma, nem apenasda matéria, mas do própriocomposto; ora, a essência é deacordo com o que a coisa ó ditaser: daí, ser preciso que a es-sência, pela qual a coisa é de-nominada ente, seja, não ape-nas a forma, nem apenas a ma-téria, mas ambas, embora, aseu modo, somente a formaseja causa deste ser. Pois, as-sim o vemos em outros que sãoconstituídos de vários princí-pios, que a coisa não é denomi-nada a partir apenas de umdaqueles princípios, mas a par-tir daquele que abarca ambos,como é claro nos sabores, poisa doçura é causada pela açãodo quente que digere o úmidoe, embora o calor seja, destamaneira, causa da doçura, noentanto, o corpo não é denomi-nado doce pelo calor, mas pelosabor que abarca o quente e oúmido.

17 - Mas, como o princípiode individuação é a matéria,disto talvez parecesse decorrerque a essência, que abarca emsi simultaneamente a matéria ea forma, seja apenas particulare não universal. Do que decor-reria que os universais não te-riam definição, se a essência éaquilo que é significado peladefinição. Por isso, cumpre sa-ber que a matéria é princípio deindividuação, não tomada dequalquer maneira, mas apenasa matéria assinalada. Denomi-no matéria assinalada a que é

tem est secundurn quam résesse dicitur: unde oportet ut es-sentia qua rés denominatur ensnon tantum sit forma, nequetantum matéria, sed utrumque,quamuis huiusmodi esse suomodo sola forma sit causa. Sicenim in aliis uidemus que expluribus principiis constituun-tur, quod rés non denominaturex altero illorum principiorumtantum, sed ab eo quod utrum-que complectitur: ut patet in sa-poribus, quia ex actione calididigerentis humidum causaturdulcedo, et quamuis hoc modocalor sit causa dulcedinis, nontamen denominatur corpus dul-ce calore sed sapore qui cali-dum et humidum complectitur.

17 - Sed quia indiuiduatio-nis principium matéria est, exhoc forte uideretur sequi quodessentia, que materiam in secomplectitur simul et formam,sit tantum particularis et nonuniuersalis: ex quo sequereturquod uniuersalia diffinitionemnon haberent, si essentia est idquod per diffinitionem significa-tur. Et ideo sciendum est quodmatéria non quolibet modo ac-cepta est indiuiduationis princi-pium, sed solum matéria sig-nata; et dico materiam signa-tam que sub determinatis di-mensionibus consideratur. Hecautem matéria in diffinitioneque est hominis in quantum est

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homo non ponitur, sed ponere-turin diffinitione Sortis si Sortesdiffinitionem haberet. In diffini-tione autem hominis poniturmatéria non signata: non enimin diffinitione hominis poniturhoc os et hec caro, sed os etcaro absolute que sunt matériahominis non signata.

18 - Sic ergo patet quodessentia hominis et essentiaSortis non differt nisi secundumsignatum et non signatum;unde Commentator dicit superVII Methaphisice "Sortes nichilaliud est quam animalitas et ra-tionalitas, que sunt quiditaseius". Sic etiam essentia gene-ris et speciei secundum signa-tum et non signatum differunt,quamuis alius modus designa-tionis sit utrobique: quia desig-nado indiuidui respectu specieiest per materiam determinatamdimensionibus, designatio au-tem speciei respectu generisest per differentiam constitu-tiuam que ex forma rei sumitur.

19 - Hec autem determina-tio uel designatio que est inspecie respectu generis, nonest per aliquid in essentia spe-ciei existens quod nullo modo inessentia generis sit; immo quic-quid est in specie est etiam ingenere ut non determinatum. Sienim animal non esset totumquod est homo sed pars èius,non predicáretur de eo, cum

considerada sob dimensõesdeterminadas. Esta matéria, noentanto, não é posta na defini-ção do homem na medida emque é homem, mas seria postana definição de Sócrates se Só-crates tivesse definição. A ma-téria não assinalada é posta, noentanto, na definição do ho-mem. De fato, não se põe nadefinição do homem esta carnee este osso, mas carne e ossode maneira absoluta, os quaissão a matéria não assinaladado homem.

18 - Assim fica, portanto,claro que a essência do homeme a essência de Sócrates nãodiferem senão de acordo com oassinalado e o não assinalado.Daítlizer o Comentador no Co-mentário sobre o livro sétimo daMetafísica (In Metaph. VIl,5,Com.20,20a23) que "Sócratesnada mais é que animalidade eracionalidade, que são sua qúi-didade". Assim, também a es-sência do género e a essênciada espécie diferem de acordocom o assinalado e o não assi-nalado, embora haja outro mo-do de designação num e noutrocaso. Pois, a designação do in-divíduo a respeito da espécie épela matéria determinada pelasdimensões; a designação, po-rém, da espécie a respeito dogénero é pela diferença consti-tutiva, que é tomada da formada coisa.

19 - Esta determinação oudesignação, porém, que estána espécie a respeito do géne-ro, não é através de algo exis-

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tente na essência da espécie,que não esteja de modo ne-nhum na essência do género;até mesmo, tudo que está naespécie, está também no géne-ro ^éômò; rião determinado.Poi9; 'sè^Ò arfímaf não fossetudo que ó b homem, mas umaparte déíe~ hão seria predicadodele, visto que nenhuma parteintegral se predica do seu todo.

20 - Se sé observar, porém,a maneira corno difereiÁ o cor-po, na medida em quê á postocomo parte do animal, e, namedida em que é posto comogénero, pode-se ver como istoacontece. Pois, não pode sergônero do modo como ó parteintegral. Portanto, este nomeque ó corpo pode ser tomadode várias maneiras. Pois, é de-nominado corpo, na medida emque está no género da substân-cia, por ter tal natureza que nelepodem ser designadas três di-mensões: no entanto, as pró-prias três dimensões de-signadas são o corpo que estáno género da quantidade.Acontece, porém, nas coisasque aquilo que tem uma perfei-ção aceda também a uma per-feição ulterior; como é claro nohomem, que tem a naturezasensitiva e, além disso, a inte-lectiva. De modo semelhante,também pode ser adicionadaoutra perfeição, como a vida oualgo deste tipo, sobre esta per-feição que é ter tal forma quenela possam ser designadastrês dimensões. Portanto, estenome corpo pode significaruma certa coisa que tem tal

nulla pars integralis de suo totópredicetur.

20 - Hoc autem quomodocontingat uideri poterit, si ins-piciatur qualiter differt corpussecundum quod ponitur parsanimalis, et secundum quodponitur genus; non_.emm po-test esse eo modo genus quoest pars integralis. Hoc Igiturnomen quod est corpus multi-pliciter accipi potest. Corpusenim secundum quod est ingenere substantie dicitur exeo quod habet talem naturamut in eo possint designar! trêsdimensiones; ipsc enim trêsdimensiones designate suntcorpus-quod est in generequantitatis. Contingit autem inrebus ut quod habet unamperfectionem, ad ulterioremetiam perfectionem pertingat;sicut patet in homine, qui etnaturam sensitiuam habet, etulterius intellectiuam. Similiteretiam et super hanc perfectio-nem que est habere talem for-mam ut in ea possint três di-mensiones designari, potestalia perfectio adiungi, ut uitauel aliquid huiusmodi. Potestergo hoc nomen corpus signi-ficare rem quandam que habettalem formam ex qua sequiturin ipsa desighabilitas trium di-mensionuml cum precisione:ut scilicerex illa forma nullaufterior pérféctiõ sequatur,

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sod si quid alíud superadditur,sit preter significationem cor-poris sic dicti. Et hoc modocorpus erit integralis et mate-rialis pars animalis: quia sicanima erit preter id quod signi-ficatum est nomine corporis,et erit superueniens ipsi cor-pori, ita quod ex ipsis duobus,scilicet anima et corpore, sicutex partibus constituetur ani-mal.

21 - Potest etiam hoc no-mem corpus hoc modo accipiut significet rem quandam quehabet talem formam ex quatrês dimensiones in ea pos-sunt designari, quecumqueforma sit illa, siue ex ea possitprouenire aliqua ulterior per-fectio, siue non; et hoc modocorpus erit genus animalis,quia in animali nichil erit ac-cipere quod non implicite incorpore contineatur. Non enimanima est alia forma ab illiaper quam in ré illa poterantdesignari três dimensiones;et ideo cum dicebatur quod'corpus est quod habet talemformam ex qua possunt de-signari três dimensiones ineo', intelligebatur quecum-que forma esset: siue anima,siue lapideitas, siue quecum-que alia. Et sic forma anima-lis implicite in forma corporiscontinetur, prout corpus estgenus eius.

forma, da qual decorre nela adesignabilidade de três dimen-sões exclusivamente, de tal ma-neira que daquela forma nãoresulte nenhuma perfeição ulte-rior, mas se algo a mais sobre-vier, esteja à parte da signi-ficação de corpo assim denomi-nado. Deste modo corpo seráparte integral e material do ani-mal; pois, assim, a alma estará àparte daquilo que é significadopelo nome de corpo e será su-perveniente ao próprio corpo, detal modo que o animal é consti-tuído de ambos, isto é, do corpoe da alma, como de partes.

21 - Este nome corpo podetambém ser tomado de talmodo que signifique uma certacoisa que tem tal forma a partirda qual três dimensões possamser designadas nela, qualquerque seja aquela forma, quer al-guma perfeição ulterior possaprovir dela, quer não. Destemodo, corpo será género deanimal, pois em animal nada háa tomar que não esteja contidoimplicitamente em corpo. Pois,a alma não é outra forma distin-ta daquela pela qual as três di-mensões poderiam ser de-signadas naquela coisa. Assim,quando se dizia que "corpo é oque tem tal forma, a partir daqual três dimensões podem serdesignadas nele", entendia-sequalquer forma que fosse, quera alma, quer a petreidade, querqualquer outra. Assim, a formado animal está contida implici-tamente na forma do corpo, namedida em que corpo é seugénero.

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22 - Esta é também a rela-ção de animal para com ho-mem. De fato, se animal de-nominasse apenas uma certacoisa que tem tal perfeição quepossa sentir e mover-se por umprincípio existente nele, comexclusão de outra perfeição,então qualquer outra perfeiçãoulterior que sobreviesse estariapara com animal a modo decomparte e não como implicita-mente contida na noção de ani-mal e, assim, não seria género.Mas, é género na medida emque significa uma certa coisade cuja forma podem provir ossentidos e o movimento, qual-quer que seja aquela forma, querseja apenas alma sensível, querseja sensível e racional simulta-neamente.

23 - Assim, portanto, o gé-nero significa indeterminada-mente o todo que está naespécie, pois não significa ape-nas a matéria. Semelhante-mente, também a diferençasignifica o todo e não significaapenas a forma; e também adefinição significa o todo ouainda a espécie. Mas, diferen-temente, pois o género significao todo como uma certa denomi-nação determinando o que ématerial na coisa sem determi-nação da forma própria; dondeo género ser tomado a partir damatéria, embora não seja a ma-téria. Como é claro pois deno-mina-se corpo a partir do fatode ter tal perfeição que três di-mensões possam ser desig-nadas nele, a qual perfeição,

22 - Et talis est etiam habi-tudo animalis ad hominem. Sienim animal nominaret tantumrem quandam que habet talemperfectionem ut possit sentireet moueri per principium in ipsoexistens, cum precisione alte-rius perfectionis, tunc quecum-que alia perfectio ulterior supe-rueniret haberet se ad animalper modum compartis, et nonsicut implicite contenta in ratio-ne animalis: et sic animal nonesset genus. Sed est genus se-cundum quod significai remquandam ex cuius forma potestprouenire sensus et motus,quecumque sit illa forma: siuesit anima sensibilis tantum, siuesensibilis et rationalis simul.

23 - Sic ergo genus signifi-cat indeterminate totum id quodest in specie, non enim signifi-cai tantum materiam. Similiteretiam et differentia significai to-tum, et non significai tantumformam; et etiam diffinitio signi-ficat totum, uel etiam species.Sed tamen diuersimode: quiagenus significai totum ut que-dam denominatio determinansid quod est materiale in ré sinedeterminatione proprie forme,unde genus sumitur ex matéria- quamuis non sit matéria -; utpatet quia corpus dicitur ex hocquod habet talem perfectionemut possint in eo designar! três

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dimensiones, que quidem per-loctio est materialiter se ha-bens ad ulteriorem perfec-tionem. Differentia uero e con-uerso est sicut quedam deno-minatio a forma determinatasupra, preter hoc quod de pri-mo intellectu eius sit matériadeterminata; ut patet cum dici-tur animatum, scilicet illud quodhabet animam, non enim deter-minatur quid sit, utrum corpusuel aliquid aliud: unde dicit Aui-cenna quod genus non intelligi-tur in differentia sicut parsessentie eius, sed solum sicutens extra essentiam, sicutetiam subiectum est de intellec-tu passionum. Et ideo etiamgenus non predicatur de diffe-rentia per se loquendo, ut dicitPhilosophus in III Methaphisiceet in IV Topicorum, nisi forte sicutsubiectum predicatur de passio-ne. Sed diffinitio uel speciescomprehendit utrumque, scilicetdeterminatam materiam quamdesignai nomen generis, et de-terminatam formam quam de-signai nomen differentie.

24 - Et ex hoc patet ratioquare genus, species et diffe-rentia se habent proportionali-ler ad materiam et formam etcomposilum in natura, quamuisnon sint idem quod illa: quianeque genus est matéria, sed amatéria sumptum ut significans

na verdade, está, como quematerialmente, para com umaperfeição ulterior. No entanto, adiferença é, ao contrário, comouma certa denominação toma-da da forma determinada, àparte de que a matéria determi-nada entre na sua intelecçãoprimeira; como é claro quandose diz animado, isto é, aquiloque tem alma; pois, não se de-termina o que é, se corpo oualgo distinto. Donde, Avicena(Metaf., V,6,90c,B-C) dizer queo género não é inteligido nadiferença como parte de suaessência, mas apenas comoum ente à parte da essência,assim como o sujeito tambémpertence à intelecção das afec-ções. Por isso, também o géne-ro não se predica da diferençafalando propriamente, como dizo Filósofo no terceiro livro daMetafísica (III 3,998b,24) e noquarto dos Tópicos (VI,6,144a,32; cf. IV,2,122b2p). a não sertalvez como o sujeito predica-se da afecção. Mas, a definiçãoou espécie compreende am-bos, isto é, a matéria determinadaque o nome do género designa ea forma determinada que o nomeda diferença designa.

24 - A partir disso, fica claraa razão por que o género, aespécie e a diferença estejamproporcionalmente para com amatéria, a forma e o composto,na natureza, embora não sejamidênticos a eles; pois, nem ogénero é a matéria, mas toma-do da matéria como signifi-cando o todo; nem a diferençaé a forma, mas tomada da for-

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ma, como significando o todo.Daí dizermos que o homem éanimal racional e não resultan-te de animal e de racional,como dizemos que ele resultada alma e do corpo. De fato, sediz que o homem resulta daalma e do corpo, assim como,a partir de duas coisas, é cons-tituída uma terceira, que não énenhuma delas. Com efeito, ohomem não é nem a alma, nemo corpo. Mas se, de algummodo, se disser que o homemresulta do animal e do racional,não será assim como uma ter-ceira coisa a partir de duas coi-sas, mas assim como umaterceira intelecção a partir deduas intelecções. De fato, a in-telecção de animal exprime anatureza da coisa, sem deter-minação da forma especial, apartir do que é material a res-peito da perfeição última. Noentanto, a intelecção desta di-ferença racional consiste nadeterminação da forma espe-cial; a intelecção da espécie ouda definição é constituída a par-tir destas duas intelecções.Deste modo, assim como umacoisa constituída a partir de ou-tras não recebe predicação dascoisas a partir das quais é cons-tituída, igualmente a intelecçãonão recebe predicação das in-telecções a partir das quais éconstituída; de fato, não dize-mos que a definição é o géneroou a diferença.25 - No entanto, embora o gé-nero signifique toda a essênciada espécie, nem por isto é pre-ciso que seja única a essência

totum; neque differentia forma,sed a forma sumpta ut signifi-cans totum. Vnde dicimus ho-minem esse animal rationale,et non ex animali et rationalisicut dicimus eum esse ex ani-ma et corpore: ex anima enimet corpore dicitur esse homosicut ex duabus rebus quedamrés tertia constituta que neutraillarum est, homo enim nequeest anima neque corpus. Sed sihomo aliquo modo ex animali etrationali esse dicatur, non eritsicut rés tertia ex duabus rebus,sed sicut intellectus tertius exduobus intellectibus. Intellectusenim animalis est sine determi-natione specialis forme, expri-mens naturam rei ab eo quodest materiale respectu ultimeperfectionis; intellectus autemhuius differentie rationalis con-sistit in determinatione formespecialis: ex quibus duobus in-tellectibus constituitur intellec-tus speciei uel diffinitionis. Etideo sicut rés constituta ex aliqui-bus non recipit predicationemearum rerum ex quibus consti-tuitur, ita nec intellectus reciptpredicationem eorum intellec-tuum ex quibus constituitur:non enim dicimus quod diffinitiosit genus aut differentia.

25 - Quamuis autem genussignificet lotam essentiam spe-ciei, non tamen oportet ut diuer-sarum specierum quarum est

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idem genus, sit una essentia,quia unitas generis ex ipsa in-determinatione uel indifferentiaprocedit. Non autem ita quodillud quod significatur per ge-nus sit una natura numero indiuersis speciebus, cui super-ueniat rés alia que sit differen-tia determinans ipsum, sicutforma determinai materiamque est una numero; sed quiagenus significat aliqunm for-mam - non tamen detorminatehanc uol illam ~, quam deter-mlnnto diffeiontia exprimit,quo non ost alia quam illa queindotorminate significabaturpor gonus. Et ideo dicit Com-montator in XI Methaphisicequod matéria prima dicitur unaper rernotionem omnium for-marum, sed genus diciturunum per communitatem for-me significate. Vnde patetquod per additionem differen-tie remota illa indeterminatio-ne que erat causa unitatisgeneris, remanent species peressentiam diucrse.

26 - Et quia, ut dictum est,natura speciei est indetermina-ta respectu indiuidui sicut natu-ra generis respectu speciei:inde est quod, sicut id quod estgenus prout predicabatur despecie implicabat in sua signifi-catione, quamuis indistincte,totum quod determinate est inspecie, ita etiam et id quod est

das diversas espécias cujo gé-nero é idêntico, pois a unidadedo género procede da própriaindeterminação ou indiferença.Não, porém, de tal modo queaquilo que é significado pelogénero seja uma natureza nu-mericamente una nas diversasespécies, à qual sobrevenhaoutra coisa que seja a diferençariolorminando-o, assim como aforma determina a matéria queé numericamente una; mas,porque o género significa algu-ma forma, não porém determi-nadamente esta ou aquela, quea diferença exprime determina-damente, a qual não é outrasenão aquela que era significa-da indeterminadamente pelogénero. Deste modo, diz o Co-mentador no décimo primeirolivro da Metafísica (In Metaph.,Xl,14,141c53-d18) que a maté-ria-prima é denominada unapela remoção de todas as for-mas, mas o género é denomi-nado uno pela comunidade daforma significada. Donde serclaro que, pela adição da dife-rença, removida aquela inde-terminação que era causa daunidade do género, permane-cem diversas as espécies pelaessência.

26 - E já que, como foi dito,a natureza da espécie é inde-terminada a respeito do indiví-duo, assim como a natureza dogénero a respeito da espécie,daí vem que, assim como a-quilo que é género, visto que sepredicava da espécie, impli-cava na sua significação, em-

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bora indistintamente, o todoque está determinadamente naespécie, também, do mesmomodo, é preciso que aquilo queé espécie, na medida em quese predica do indivíduo, signifi-que o todo que está essencial-mente no indivíduo, emboraindistintamente; é deste modoque a essência da espécie ésignificada pelo nome de ho-mem; donde, homem predicar-se de Sócrates. Se, porém, anatureza da espécie for signifi-cada com exclusão da matériadesignada, que é o princípio deindividuação, assim, portar-se-á a modo de parte. Deste modoé significada pelo nome de hu-manidade; de fato, humanida-de significa aquilo dondeprocede que o homem seja ho-mem. A matéria designada, po-rém, não é aquilo dondeprocede que o homem seja ho-mem, e assim, não está contidade modo nenhum naquilo a par-tir do que o homem tem o serhomem. Como, portanto, hu-manidade inclui na sua intelec-ção apenas aquilo a partir do queo homem tem o ser homem, ficaclaro que se exclui da significa-ção a matéria designada ou quese prescinde desta. E, como aparte não é predicada do todo,daí procede que humanidadenão se predica nem de homem,nem de Sócrates.

27 - Daí Avicena dizer (Me-taf., V,5,90a,F) que a quididadedo composto não é o própriocomposto do qual é quididade,embora até a própria quididadeseja composta; como a huma-

species secumdum quod predi-catur de indiuiduo oportet quodsignificet totum id quod est es-sentialiter in indiuiduo, licet in-distincte. Et hoc modo essentiaspeciei significatur nomine ho-minis, unde homo de Sorte pre-dicatur. Si autem significeturnatura speciei cum precisionematerie designate que est prin-cipium indiuiduationis, sic sehabebit per modum partis; ethoc modo significatur nominehumanitatis, humanitas enimsignificai id unde homo esthomo. Matéria autem desig-nata non est id unde homo esthomo, et ita nullo modo conti-netur inter illa ex quibus homohabet quod sit homo. Cumergo humanitas in suo intellec-tu includat tantum ea ex qui-bus homo habet quod esthomo, patet quod a significa-tione excluditur uel preciditurmatéria designata; et quiapars non predicatur de totó,inde est quod humanitas necde homine nec de Sorte predi-catur.

27 - Vnde dicit Auicennaquod quiditas compositi non estipsum compositum cuius estquiditas, quamuis etiam ipsaquiditas sit composita; sicut hu-manitas, licet sit composita,non est homo: immo oportetquod sit recepta in aliquo quodest matéria designata.

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28 - Sed quia, ut dictumest, designado speciei respectugenerís est per formam, desig-natio autem indiuidui respectuspeciei est per materiam, ideooportet ut nomen significans idunde natura generis sumitur,com precisione forme determi-nate perficientis speciem, signi-ficet partem materialem totius,sicut corpus est pars materialishominis; nomen autem signifi-cans id unde sumitur naturaspeciei, cum precisione mate-rie designate, significai partemformatem. Et ideo humanitassignificatur ut forma quedam, etdicitur quod est forma totius;non quidem quasi superadditapartibus essentialibus, scilicetforme et materie, sicut formadomus superadditur partibusintegralibus eius: sed magis estforma que est totum, scilicetformam complectens et mate-riam, tamen cum precisione eo-rum per que nata est matériadesignari.

29 - Sic igitur patet quodessentiam hominis significaihoc nomen horno et hoc nomenhumanitas, sed diuersimode, utdictum est: quia hoc nomenhomo significai eam ut totum, inquantum scilicet non preciditdesignationem materie sed im-plicite continet eam et indistinc-te, sicut dictum est quod genuscontinet differentiam; et ideopredicatur hoc nomen homo de

nidade, embora seja composla,não é homem, sendo mesmopreciso que seja recebida emalgo que é a matéria designada.

28 - Mas, visto que, comofoi dito, a designação da espé-cie a respeito do género se dápela forma, a designação, po-rém, do indivíduo a respeito daespécie se dá pela matéria, as-sim, é preciso que o nome sig-nificando aquilo de onde étomada a natureza do género,com exclusão da forma deter-minada que perfaz a espécie,signifique a parte material dotodo, assim como o corpo é aparte material do homem; noentanto, o nome significandoaquilo de onde é tomada a na-tureza da espécie, com exclu-são da matéria designada,significa a parte formal; destemodo, a humanidade é signifi-cada como uma certa forma, ediz-se que é a forma do todo;não por certo como que acres-centada às partes essenciais,isto é, à forma e à matéria, as-sim como a forma da casa éacrescentada às suas partesinlegrais; mas, ela é antes umaforma que é um todo, isto é,abarcando a forma e a matéria,com exclusão, no entanto, da-quilo pelo que a matéria é des-tinada a ser designada.

29 - Fica, assim, portanto,claro que este nome homem eeste nome humanidade signifi-cam a essência do homem,mas diversamente, como foidito. Pois, este nome homem asignifica como um todo, isto

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é, na medida em que não pres-cinde da designação da maté-ria, mas a contém implícita eindistintamente, como foi ditoque o género contém a diferen-ça; assim, este nome homempredica-se dos indivíduos.Mas, este nome humanidade asignifica como parte, pois nãocontém na sua significação se-não aquilo que pertence ao ho-mem na medida em que éhomem e prescinde de toda de-signação da matéria; daí nãopredicar-se dos indivíduos dohomem. E, por causa disto, àsvezes o nome de essência en-contra-se predicado da coisa;com efeito, dizemos que Sócra-tes ó uma certa essência; e àsvezes se nega, assim como di-zemos que a essência de Só-crates não ó Sócrates.

CAPITULO III30 - Visto, pois, o que é

significado pelo nome de es-sência nas substâncias com-postas, cumpre ver como estápara a noção de género, de es-pécie e de diferença.

31 - Entretanto, uma vezque aquilo a que cabe a noçãode género, de espécie ou dediferença predica-se deste sin-gular assinalado, é impossívelque a noção de universal, istoé, de género ou de espécie,caiba à essência na medida emque é significada a modo departe, como pelo nome de hu-manidade ou de animalidade.E, por isso, Avicena diz (Metaf.,

indiuiduis. Sed hoc nomen hu-manitas significai eam ut par-tem, quia non continet in sig-nificatione sua nisi id quod esthominis in quantum est homo,et precidit omnem designatio-nem; unde de indiuiduis homi-nis non predicatur. Et propterhoc nomen essentie quando-que inuenitur predicatum deré, dicimus enim Sortem esseessentiam quandam; et quan-doque negatur, sicut dicimusquod essentia Sortis non estSortes.

CAPITVLVM III

30 - Viso igitur quid signifi-cetur nomine essentie in subs-tantiis compositis, uidendumest quomodo se habeat ad ra-tionem generis et speciei et dif-ferentie.

31 - Quia autem id cui co-nuenit ratio generis uel specieiuel differentie predicatur de hocsingular! signato, impossibileest quod ratio uniuersalis, scili-cet generis uel speciei, conue-niat essentie secundum quodper modum partis significatur,ut nomine humanitatis uel ani-malitatis; et ideo dicit Auicennaquod rationalitas non est diffe-rentia sed differentie principium;et eadem ratione humanitas

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non est species, nec animalitasgenus.

32 - Similiter etiam non po-test dici quod ratio generis uelspeciei conueniaí essentie se-cundum quod est quedam résexistens extra singularia, utPlatonici ponebant, quia sic ge-nus et species non predicaren-tur de hoc indiuiduo; non enimpotest dici quod Sortes sic hocquod ab eo separatum est, neciterum illud separatum profice-ret in cognitionem huius singu-laris.

33 - Et ideo relinquitur quodratio generis uel speciei conue-niat essentie secundum quodsignificatur per modum totius,ut nomine hominis uel animalis,prout implicite et indistinctecontinet totum hoc quod in in-diuiduo est.

34 - Natura autem uel es-sentia sic accepta potest dupli-citer considerari. Vno modosecundum rationem propriam,et hec est absoluta consideratioipsius: et hoc modo nichil estuerum de ea nisi quod conuenitsibi secundum quod huiusmo-di; unde quicquid aliorum attri-buatur sibi, falsa erit attributio.Verbi gratia homini in eo quodhomo est conuenit rationale etanimal et alia que in diffinitioneeius cadunt; álbum uero aut ni-grum, uel quicquid huiusmodi

V,6,90b,A) que a racionalidadenão é diferença, mas princípioda diferença; e, pela mesmarazão, humanidade não é espé-cie, nem animalidade género.

32 - Do mesmo modo, tam-bém não se pode dizer que anoção de género ou de espéciecaiba à essência na medida emque é uma certa coisa existentefora dos singulares, como sus-tentavam os platónicos; pois,assim, o género e a espécienão seriam predicados desteindivíduo; com efeito, não sepode dizer que Sócrates sejaisto que está separado dele;nem, além do mais, aquele se-parado traz proveito no conhe-cimento deste singular.

33 - Assim sendo, restaque a noção de género ou deespécie caiba à essência, namedida em que é significada amodo de todo, como pelo nomede homem ou de animal, namedida em que contém implíci-ta e indistintamente este todoque está no indivíduo.

34 - Ora, a natureza ou aessência, tomada desta manei-ra, pode ser considerada dedois modos. De um modo, deacordo com sua noção própria,e esta é a consideração abso-luta dela própria. Deste modo,nada é verdadeiro dela, senãoo que lhe cabe enquanto tal;daí, o que quer que seja dedistinto que lhe for atribuído, aatribuição será falsa. Por exem-plo, ao homem, por ser homem,cabe-lhe o racional, o animal e

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o demais que entra na sua de-finição. No entanto, o branco, opreto ou o que quer que sejadesse tipo que não é da noçãoda humanidade, não cabe aohomem, por ser homem. Don-de, se se perguntar se esta na-tureza, assim considerada,possa dizer-se una ou várias,nenhum dos dois deve ser ad-mitido, pois ambos estão forada intelecção da humanidade eambos podem advir-lhe. Defato, se a pluralidade fosse dasua intelecção nunca poderiaser una, quando, no entanto, éuna na medida em que está emSocrates. Do mesmo modo, sea unidade fosse da sua noção,então a natureza de Socrates ede Platão seria uma e a mes-ma, nem poderia plurificar-seem vários.

35 - É considerada de outromodo, de acordo com o ser quetem nisto ou naquilo. Destemodo, algo predica-se dela poracidente em razão daquilo emque é, assim como se diz que ohomem é branco, porque Socra-tes é branco, embora isto nãocaiba ao homem por ser homem.

36 - Esta natureza tem, po-rém, um duplo ser: um nos sin-gulares, outro na alma e, deacordo com ambos, seguem-seacidentes à citada natureza.Nos singulares tem também umser múltiplo de acordo com adiversidade dos singulares; noentanto, nenhum destes seresé devido à própria natureza, deacordo com sua primeira consi-deração, isto é, a absoluta. De

quod non est de ratione huma-nitatis, non conuenit homini ineo quod homo. Vnde si quera-tur utrum ista natura sic consi-derata possit dici una uelplures, neutrum concedendumest, quia utrumque est extra in-tellectum humanitatis, et utrum-que potest sibi accidere. Sienim pluralitas esset de intel-lectu eius, numquam possetesse una, cum tamen una sitsecundum quod est in Sorte.Similiter si unitas esset de ratio-ne eius, tunc esset una et ea-dem Sortis et Platonis, necposset in pluribus plurificari.

35 - Alio modo consideratursecundum esse quod habet inhoc uel in illo: et sic de ipsaaliquid predicatur per accidensratione eius in quo est, sicutdicitur quod homo est albusquia Sortes est albus, quamuishoc non conueniat homini in eoquod homo.

36 - Hec autem natura ha-bet duplex esse: unum in singu-laribus et aliud in anima, etsecundum utrumque conse-quntur dictam naturam acci-dentia; in singularibus etiamhabet multiplex esse secun-dum singularium diuersitatem.Et tamen ipsi nature secundumsuam primam consideratio-nem, scilicet absolutam, nullumistorum esse debetur. Falsumenim est dicere quod essentia

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hominis in quantum huiusmodihabeat esse in hoc singulari,quia si esse in hoc singulari co-nueniret homini in quantum esthomo, numquam esset extrahoc singulare; similiter etiam siconueniret homini in quantumest homo non esse in hoc sin-gulari, numquam esset in eo:sed uerum est dicere quodhomo, non in quantum esthomo, habet quod sit in hocsingulari uel in illo aut in anima.Ergo patet quod natura hominisabsolute considerata abstrahita quolibet esse, ita tamen quodnon fiat precisio alicuius eorum.Et hec natura sic considerataest que predicatur de indiuiduisomnibus.

37 - Non tamen potest diciquod ratio uniuersalis conue-niat nature sic accepte, quia deratione uniuersalis est unitas etcommunitas; nature autem hu-mane neutrum horum conuenitsecundum absolutam suamconsiderationem. Si enim com-munitas esset de intellectu ho-minis, tunc in quocumque in-ueniretur humanitas inuenireturcommunitas; et hoc falsum est,quia in Sorte non inuenitur com-munitas aliqua, sed quicquidest in eo est indiuiduatum.

38 - Sirniliter etiam non po-test dici quod ratio generis uelspeciei accidat nature humanesecundum esse quod habet in

fato, é falso dizer que a essên-cia do homem, enquanto tal,tenha o ser neste singular; pois,se ser neste singular coubesseao homem, na medida em queé homem, nunca seria fora des-te singular; semelhantementetambém, se coubesse ao ho-mem, na medida em que é ho-mem, não ser neste singular,nunca seria nele. Mas, é verda-deiro dizer que o homem, nãona medida em que é homem,obtém o ser neste singular ounaquele ou na alma. Portanto,ó claro que a natureza do ho-mem, absolutamente conside-rada, abstrai de qualquer ser,de tal modo, porém, que nãohaja exclusão de nenhum de-les. E é esta natureza, assimconsiderada, que se predica detodos os indivíduos.

37 - Não se pode, porém,dizer que a noção de universalcaiba à natureza, assim toma-da, pois a unidade e a comuni-dade são da noção de univer-sal. Ora, nenhum dos dois cabeà natureza humana, de acordocom sua consideração absolu-ta. De fato, se a comunidadepertencesse à intelecção do ho-mem, então, em qualquer emque se encontrasse a humanida-de, encontrar-se-ia a comunida-de, sendo isto falso, pois não seencontra nenhuma comunidadeem Sócrates, mas tudo o que hánele é individualizado.

38 - Do mesmo modo, nãose pode também dizer que a no-ção de género ou de espécieadvenha à natureza humanade acordo com o ser que tem

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nos indivíduos, pois a naturezahumana não se encontra nosindivíduos consoante a unida-de, de modo a ser um algo quecompete a muitos, o que é exi-gido pela noção de universal.

39 - Resta, portanto, que anoção de espécie advenha ànatureza humana de acordocom aquele ser que tem no in-telecto. De fato, a própria natu-reza humana tem no intelectoum ser abstraído de tudo queindividua e, assim, tem uma no-ção uniforme para com todosos indivíduos que há fora daalma, na medida em que éigualmente semelhança de to-dos e leva ao conhecimento detodos na medida em que sãohomens. E, por ter tal relaçãopara com todos os indivíduos, ointelecto descobre a noção deespécie e lha atribui; donde, oComentador dizer, no princípiodo Sobre a alma (In de An..l,8,4v), que "o intelecto é queproduz a universalidade nascoisas"; Avicena também dizisto na sua Metafísica (V,1-2,87b,E; 87c-d,C-D).

40 - E, embora esta nature-za inteligida tenha noção deuniversal, na medida em que écomparada com as coisas forada alma, pois é semelhançauna de todas, na medida emque tem ser neste ou naqueleintelecto, é uma certa espécieinteligida particular. E, assim, éclara a falha do Comentadorno terceiro livro Sobre a alma(In de An., lll,5,117v) que pre-tendeu concluir a unidade dointelecto em todos os ho-

indiuiduis, quia non inuenitur inindiuiduis natura humana se-cundum unitatem ut sit unumquid omnibus conueniens, quodratio uniuersalis exigit.

39 - Relinquitur ergo quodratio speciei accidat nature hu-mane secundum illud essequod habet in intellectu. Ipsaenim natura humana in intellec-tu habet esse abstractum abomnibus indiuiduantibus; etideo habet rationem uniformemad omnia indiuidua que sunt ex-tra animam, prout equaliter estsimilitudo omnium et ducens inomnium cognitionem in quan-tum sunt homines. Et ex hocquod talem relationem habet adomnia indiuidua, intellectus ad-inuenit rationem speciei et attri-buit sibi; unde dicit Commen-tator in principio De anima quod"intellectus est qui agit in rebusuniuersalitatem"; hoc etiam Aui-cenna dicit in sua Methaphisi-ca.

40 - Et quamuis hec naturaintellecta habeat rationemuniuersalis secundum quodcomparatur ad rés extra ani-mam, quia est una similitudoomnium, tamen secundumquod habet esse in hoc intellec-tu uel in illo est quedam speciesintellecta particularis. Et ideopatet defectus Commentatorisin III De anima, qui uoluit exuniuersalitate forme intellecteunitatem intellectus in omnibus

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hominihus concludere; quianon ost uniuersalitas illius for-me secundum hoc esse quodhabet in intellectu, sed secun-dum quod refertur ad rés ut si-militudo rerum; sicut etiam siesset una statua corporalis rep-resentans muitos homines,constat quod illa ymago uelspecies statue haberet esse sin-gulare et proprium secundumquod esset in hac matéria, sedhaberet rationem communitatissecundum quod esset commu-ne representatiuum plurium.

41 - Et quia nature humanesecundum suam absolutamconsiderationem conuenitquod predicetur de Sorte, et ra-tio speciei non conuenit sibi se-cundum suam absolutamconsiderationem sed est de ac-cidentibus que consequntuream secundum esse quod ha-bet in intellectu, ideo nomenspeciei non predicatur de Sorteut dicatur Sortes est species:quod de necessitate accideretsi ratio speciei conueniret homi-ni secundum esse quod habetin Sorte, uel secundum suamconsiderationem absolutam,scilicet in quantum est homo;quicquid enim conuenit hominiin quantum est homo predicaturde Sorte.

42 - Et tamen predicari co-nuenit generi per se, cum ineius diffinitione ponatur. Predi-catio enim est quiddarn quodcompletur per actionem intel-

rnens, da universalidade da for-ma inteligida. Pois, a universida-de desta forma não se dá deacordo com este ser que tem nointelecto, mas na medida em quese refere às coisas como seme-lhança das coisas. Do mesmomodo também, se houvesse umaestátua corporal representandomuitos homens, consta queaquela imagem ou espécie daestátua teria ser singular e pró-prio, na medida em que estivessenesta matéria; mas teria a noçãode comunidade, na medida emque fosse a representação co-mum de vários.

41 - E, como cabe à natu-reza humana, de acordo comsua consideração absoluta,que seja predicada de Sócratese a noção de espécie não lheconvém de acordo com suaconsideração absoluta, mas édos acidentes que a acompa-nham em conformidade com oser que tem no intelecto, assimo nome de espécie não é predi-cado de Sócrates, de modo quese diga Sócrates é espécie, oque aconteceria, por necessi-dade, se a noção de espéciecoubesse ao homem de acordocom o ser que tem em Sócrates,ou de acordo corn sua conside-ração absoluta, isto é, na medidaem que é homem; de fato, o quequer que cabe ao homem, namedida em que é homem, predi-ca-se de Sócrates.

42 - E, no entanto, ser pre-dicado cabe, por si, ao génerovisto que é posto na sua defini-ção. De fato, a predicação é

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algo que se completa pela açãodo intelecto que compõe e divi-de, tendo fundamento na pró-pria coisa, a unidade daquelesdos quais um é dito do outro.Donde a noção de predicabili-dade pode estar encerrada nanoção desta intenção que é ogénero, a qual, semelhante-mente, se completa pela açãodo intelecto. Não obstante,aquilo, a que o intelecto atribuia intenção de predicabilidade,compondo-o com outro, não éa própria intenção de género,mas antes aquilo a que o inte-lecto atribui a intenção de géne-ro, como o que é significado poreste nome animal.

43 - Fica, assim, clarocomo a essência ou naturezaestá para a noção de espécie;pois, a determinação de espé-cie não é daquilo que lhe cabede acordo com sua considera-ção absoluta, nem dos aciden-tes que a acompanham emconformidade com o ser quetem fora da alma, como a bran-cura e negrura, mas é dos aci-dentes que a acompanham emconformidade com o ser quetem no intelecto; e, deste modo,cabe-lhe também a noção degénero ou diferença.

lectus componentis et diuiden-tis, habens fundamentum in réipsa unitatem eorum quorumunum de altero dicitur. Vnde ra-tio predicabilitatis potest claudiin ratione huius intentionis queest genus, que similiter per ac-tum intellectus completur. Ni-chilominus tamen id cui in-tellectus intentionem predicabi-litatis attribuit, componens illudcum altero, non est ipsa intentiogeneris, sed potius illud cui in-tellectus intentionem generisattribuit, sicut quod significaturhoc nomine animal.

43 - Sic ergo patet qualiteressentia uel natura se habet adrationem speciei, quia ratiospeciei non est de hiis que co-nueniunt ei secundum absolu-tam suam considerationem,neque est de accidentibus queconsequntur ipsam secundumesse quod habet extra animam,ut albedo et nigredo; sed est deaccidentibus que consequntuream secundum esse quod ha-bet in intellectu. Et per huncmodum conuenit etiam sibi ra-tio generis ucl differentie.

CAPITULO IV44 - Resta, agora, ver de

que modo há essência nassubstâncias separadas, isto é,na alma, na inteligência e nacausa primeira.

CAPITVLVM IV

44 - Nunc restat uidere perquem modum sit essentia in subs-tantiis separatis, scilicet in anima,intelligentia et causa prima.

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45 - Quamuis autem sim-plicitatem cause prime omnesconcedant, tamen compositio-nem forme et materie quidamnituntur inducere in intelligen-tias et in animam; cuius posi-tionis auctor uidetur fuisseAuicebron, actor libri Fontisuite.

46 - Hoc autem dictis philo-sophorum communiter repug-nai, quia eas substantiasseparatas a matéria nominantet absque omni matéria esseprobant. Cuius demonstratiopotissima est ex uirtute intelli-gendi que in eis est. Videmusenim formas non esse intelligi-biles in actu nisi secundumquod separantur a matéria et aconditionibus eius, nec efficiun-tur intelligibiles in actu nisi peruirtutem substantie intelligen-tis, secundum quod recipiunturin ea et secundum quod agun-tur per eam. Vnde oportet quodin qualibet substantia intelligen-te sit omnino immunitas a ma-téria, ita quod neque habeatmateriam partem sui, nequeetiarn sit sicut forma impressain matéria ut est de formis ma-terialibus.

47 - Nec potest aliquis di-cere quod intelligibilitatem nonimpediat matéria quelibet, sedmatéria corporalis tantum. Sienim hoc esset ratione materiecorporalis tantum, cum matérianon dicatur corporalis nisi se-

45 - Pois, embora todos ad-mitam a simplicidade da causaprimeira, alguns porfiam em in-troduzira composição de maté-ria e forma nas inteligências enas almas; o iniciador desta po-sição parece ter sido Avice-bron, autor do livro Fonte dai//£/a(IV,1-6,p. 211-226).

46 - Isto, porém, é incom-patível com o que dizem emgeral os filósofos, que as deno-minam substâncias separadasda matéria e provam que sãodestituídas de toda matéria. Aprincipal demonstração distoprocede da capacidade de inte-ligir que há nelas. Vemos, defato, que as formas não sãointeligíveis em ato, senão namedida em que estão separa-das da matéria e de suas con-dições; nem se tornam inte-ligíveis em ato, a não ser pelacapacidade da substância inte-ligente, na medida em que sãorecebidas nela e na medida emque são elaboradas por ela.Daí, ser preciso que, em qual-quer substância inteligente,haja total imunidade de maté-ria, de tal modo que, nem tenhaa matéria parte de si, nem tam-bém seja como uma forma im-pressa na matéria, como é ocaso das formas materiais.

47 - Nem pode alguém di-zer que não é qualquer matériaque impede a inteligibilidade,mas apenas a matéria corporal.De fato, se isto se desse ape-nas em razão da matéria corpo-ral, como a matéria não é de-nominada corporal senão na

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medida em que está sob a for-ma corporal, então seria preci-so que a matéria obtivesse isto,quer dizer, impedir a inteligibili-dade da forma corporal. E istonão pode ser, pois, também aprópria forma corporal é inteli-gível em ato como as outrasformas, na medida em que éabstraída da matéria. Donde,não haver de modo nenhumcomposição de matéria e formana alma ou na inteligência,caso se tome nelas a essênciado modo como nas substânciascorporais. Mas, há aí composi-ção de forma e ser. Daí, nocomentário da nona proposiçãodo Livro das causas dizer-seque a inteligência é o que temforma e ser; e toma-se aí formapela própria qúidídade ou natu-reza simples.

48 - E ó fácil de ver comoisto se dá. De fato, quaisquerque estejam entre si de modoque um seja causa de ser dooutro, aquilo que tem noção decausa pode ter ser sem o outro,mas a recíproca não é verda-deira. Ora, acontece que o re-lacionamento da matéria e daforma é tal que a forma dá serà matéria e, deste modo, é im-possível que haja matéria semalguma forma; no entanto, nãoé impossível haver alguma for-ma sem matéria. De fato, a for-ma, por ser forma, não temdependência para com a maté-ria. Mas se se encontram algu-mas formas, que não podemser senão na matéria, isto lhesadvém na medida em que es-tão distanciadas do primeiro

cundum quod stat sub formacorporali, tunc oporteret quodhoc haberet matéria, scilicetimpedire intelligibilitatem, a for-ma corporali; et hoc non potestesse, quia ipsa etiam formacorporalis actu intelligibilis estsicut et alie forme, secundumquod a matéria abstrahitur.Vnde in anima uel in intelligen-tia nullo modo est compositioex matéria et forma, ut hocmodo accipiatur essentia in eissicut in substantiis corporali-bus. Sed est ibi compositio for-me et esse; unde in commentonone propositionis libri De cau-sis dicitur quod intelligentia esthabens formam et esse: et ac-cipitur ibi forma pró ipsa quidi-tate uel natura simplici.

48 - Et quomodo hoc sitplanum est uidere. Quecumqueenim ita se habent ad inuicemquod unum est causa esse al-terius, illud quod habet ratio-nem cause potest habere essesine altero, sed non conuertitur.Talis autem inuenitur habitudomaterie et forme quod formadat esse materie, et ideo im-possibile est esse materiamsine aliqua forma; tamen nonest impossibile esse aliquamformam sine matéria, formaenim in eo quod est forma nonhabet dependentiam ad mate-riam. Sed si inueniantur aliqueforme que non possunt essenisi in matéria, hoc accidit eissecundum quod sunt distantes

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a piimo principio quod est actusprimus et purus. Vnde ille formeque sunt propinquissime primoprincipio sunt forme per se sinematéria subsistentes, non enimforma secundum totum genussuum matéria indiget, ut dictumest; et huiusmodi forme suntintelligentie, et ideo non oportetut essentie uel quiditates ha-rum substantiarum sint aliudquam ipsa forma.

49 - In hoc ergo differt es-sentia substantie composite etsubstantie simplicis, quod es-sentia substantie compositenon est tantum forma sed com-plectitur formam et materiam,essentia autem substantie sim-plicis est forma tantum. Et exhoc causantur alie due differen-tie.

50 - Vna est quod essentiasubstantie composite potestsignificari ut totum uel ut pars,quod accidit propter materiedesignationem, ut dictum est.Et ideo non quolibet modo pre-dicatur essentia rei compositede ipsa ré composita: non enimpotest dici quod homo sit quidi-tas sua. Sed essentia rei simpli-cis que est sua forma nonpotest significari nisi ut totum,cum nichil sit ibi preter formamquasi formam recipiens; et ideoquocumque modo sumatur es-sentia substantie simplicis, deea predicatur. Vnde Auicennadicit quod "quiditas simplicis est

princípio que é o ato primeiro epuro. Donde, aquelas formas,que estão próximas ao máximodo primeiro princípio, seremformas subsistentes por si, semmatéria. De fato, a forma, deacordo com a totalidade do seugénero, não necessita da maté-ria, como foi dito. Tais formassão inteligências e, por isso,não é preciso que as essênciasou quididades destas substân-cias sejam algo de outro que aprópria forma.

49 - Portanto, a essênciada substância composta e dasubstância simples diferem nis-to que a essência da substân-cia composta não é apenas aforma, mas abarca a forma e amatéria; no entanto, a essênciada substância simples é ape-nas a forma. E disto são causa-das outras duas diferenças.

50 - Uma é que a essênciada substância composta podeser significada como todo oucomo parte, o que acontece porcausa da designação da maté-ria, como foi dito. E, por isso, aessência da coisa compostanão se predica, de não importaqual modo, da própria coisacomposta; de fato, não se podedizer que o homem seja suaqúididade. Mas, a essência dacoisa simples, que é sua forma,não pode ser significada senãocomo todo, visto que nada háaí, além da forma, à maneira derecipiente da forma. Destemodo, de qualquer maneiraque se tomar a essência dasubstância simples, predica-se

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desta. Daí Avicena (Metaf.,V,5,90a,F) dizer que a qúidida-de do simples é o próprio sim-ples, pois não há algo de outrorecebendo-a.

51 - A segunda diferença éque as essências das coisascompostas, por serem recebi-das na matéria designada, mul-tiplicam-se de acordo com adivisão dela, donde acontecerque alguns sejam o mesmo emespécie e diversos em número.Mas, como a essência da sim-ples não é recebida na matéria,não pode haver aí tal multiplica-ção. E, deste modo, é precisoque não se encontrem nestassubstâncias vários indivíduosda mesma espécie, mas, tantassão as espécies quanto foremos indivíduos, como Avicena(Metaf. V,2,87c,A; IX,4,105a-b;De An. V,3,24b) diz explicita-mente.

52 - Portanto, tais substân-cias, embora sejam apenas for-mas sem matéria, não há, noentanto, nelas uma simplicida-de completa nem são ato puro,mas têm uma mistura de potên-cia. E isto se evidencia comosegue. Com efeito, o que querque não é da intelecção da es-sência ou qúididade, isto é ad-vindo de fora e fazendo com-posição com a essência; poisnenhuma essência pode ser in-teligida sem aquilo que é parteda essência. Ora, toda essên-cia ou qúididade pode ser inte-ligida sem que algo sejainteligido do seu ser. Posso, defato, inteligir o que é o homemou a fénix e, no entanto, ignorar

ipsummet simplex", quia nonest aliquid aliud recipiens Ip-sam.

51 - Secunda differentiaest quia essentie rerum compo-sitarum ex eo quod recipiunturin matéria designata multipli-cantur secundum diuisionemeius, unde contingit quod aliquasunt idem specie et diuersa nu-mero. Sed cum essentia simpli-cis non sit recepta in matéria,non potest ibi esse talis multipli-catio; et ideo oportet ut noninueniantur in illis substantiisplura indiuidua eiusdem spe-ciei, sed quot sunt ibi indiuiduatot sunt ibi species, ut Auicennaexpresse dicit.

52 - Huiusmodi ergo subs-tantie, quamuis sint forme tan-tum sine matéria, non tamen ineis est omnimoda simplicitasnec sunt actus purus, sed ha-bent permixtionem potentie; ethoc sic patet. Quicquid enimnon est de intellectu essentieuel quiditatis, hoc est adue-niens extra et faciens compo-sitionem cum essentia, quianulla essentia sine hiis quesunt partes essentie intelligipotest. Omnis autem essentiauel quiditas potest intelligi sinehoc quod aliquid intelligaturdeesse suo: possum enim intelli-gere quid est homo uel fénix ettamen ignorare an esse ha-beat in rerum natura; ergo patet

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quod esse est aliud ab essentíauel quiditate.

53 - Nisi forte sit aliqua réscuius quiditas sit ipsum suumesse, et hec rés non potestesse nisi una et prima: quia im-possibile est ut fiat plurificatioalicuius nisi per additionem ali-cuius differentie, sicut multipli-catur natura generis in species;uel per hoc quod forma recipiturin diuersis materiis, sicut multi-plicatur natura speciei in diuer-sis indiuiduis; uel per hoc quodunum est absolutum et aliud inaliquo receptum, sicut si essetquidam calor separatus essetalius a calore non separato exipsa sua separatione. Si autemponatur aliqua rés que sit essetantum ita ut ipsum esse sitsubsistens, hoc esse non reci-piet additionem differentie, quiaiam non esset esse tantum sedesse et preter hoc forma aliqua;et multo minus reciperet addi-tionem materie, quia iam essetesse non subsistens sed mate-riale. Vnde relinquitur quod talisrés que sit suum esse non po-test esse nisi una; unde oportetquod in qualibet alia ré preteream aliud sit esse suum et aliudquiditas uel natura seu formasua; unde oportet quod in intel-ligentiis sit esse preter formam,et ideo dictum est quod intelli-gentia est forma et esse.

se tem sor na natureza das coi-sas. Portanto, é claro que o seré outro em relação à essênciaou qúididade.

53 - A não ser que acasohaja alguma coisa cuja qúidida-de seja o seu próprio ser. E estacoisa não pode ser senão únicae primeira, pois ó impossívelque se dê plurificação de algo,senão pela adição de algumadiferença, como a natureza dogénero se multiplica em espé-cies; ou por ser a forma recebi-da em matérias diversas, comoa natureza da espécie se multi-plica em diversos indivíduos;ou por um ser absoluto e outrorecebido em algo, como, sehouvesse um certo calor sepa-rado, seria, pela sua própria se-paração, outro em relação aocalor não separado. Se, porém,for afirmada alguma coisa queseja apenas ser, de tal modoque o próprio ser seja subsis-tente, este ser não receberáadição de diferença, pois já nãoseria apenas ser, mas ser e,além disso, alguma forma; mui-to menos receberá adição dematéria, pois já seria ser, nãosubsistente, mas material. Don-de, resta que tal coisa que sejaseu ser, não pode ser senãouma só. Donde ser preciso que,em qualquer outra coisa, exce-to ela, um seja o seu ser e outraa sua qúididade, natureza ouforma. Donde, ser preciso quenas inteligências haja ser alémda forma; e, por isso, se disseque a inteligência é forma e ser.

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54 - Tudo, porém, que cabea algo, ou é causado pelos prin-cípios de sua natureza, como acapacidade de rir no homem,ou advém de algum princípioextrínseco, como a luminosida-de no ar pela influência do Sol.Ora, não pode ser que o próprioser seja causado pela própriaforma ou qúididade da coisa,quero dizer, como causa efi-ciente; pois, assim, alguma coi-sa seria causa de si mesma, ealguma coisa levaria a si mes-ma a ser, o que é impossível.Portanto, é preciso que todacoisa tal que seu ser é outroque sua natureza, tenha o ser apartir de outro.

55 - E, como tudo que é poroutro reduz-se ao que é por si,como a uma causa primeira, épreciso que haja alguma coisaque seja causa de ser para to-das as coisas, por isto que elaprópria é apenas ser; de outromodo, ir-se-ia ao infinito nascausas, pois toda coisa, quenão é apenas ser, tem causa doseu ser, como foi dito. É claro,portanto, que a inteligência éforma e ser; e que tem o ser apartir do ente primeiro que éapenas ser; e este é a causaprimeira que é Deus.

56 - Ora, tudo que recebealgo de outro, está em potênciaa respeito disso; e isto que érecebido nele é seu ato. Portan-to, é preciso que a própria qúi-didade ou forma, que é ainteligência, esteja em potênciaa respeito do ser que recebe deDeus; e esse ser é recebido a

54 - Omne autem quod co-nuenit alicui uel est causatumex principiis nature sue, sicutrisibile in homine; uel aduenitab aliquo principio extrínseco,sicut lumen in aere ex influentiasolis. Non autem potest essequod ipsum esse sit causatumab ipsa forma uel quiditate rei,dico sicut a causa efficiente,quia sic aliqua rés esset sui ip-sius causa et aliqua rés se ip-sam in esse produceret: quodest impossibile. Ergo oportetquod omnis talis rés cuius esseest aliud quam natura sua ha-beat esse ab alio.

55 - Et quia omne quod estper aliud reducitur ad id quodest per se sicut ad causam pri-mam, oportet quod sit aliquarés que sit causa essendi om-nibus rebus eo quod ipsa estesse tantum; alias iretur in infi-nitum in causis, cum omnis résque non est esse tantum ha-beat causam sui esse, ut dic-tum est. Patet ergo quod in-telligentia est forma et esse, etquod esse habet a primo entequod est esse tantum, et hocest causa prima que Deus est.

56 - Omne autem quod re-cipit aliquid ab alio est in poten-tia respectu illius, et hoc quodreceptum est in oo est actuseius; ergo oportet quod ipsaquiditas uel forma que est intel-ligentia sit in potentia respectu

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esse quod a Deo recipit, et illudesse receptum est per modumactus. Et ita inuenitur potentiaet actus in intelligentiis, non ta-men forma et matéria nisi e-quiuoce. Vnde etiam pati, re-cipere, subiectum esse et om-nia huiusmodi que uidentur re-bus ratione materie conuenire,equiuoce conueniunt substan-tiis intellectualibus et substan-tiis corporalibus, ut in III Deanima Commentator dicit. Etquia, ut dictum est, intelligentiequiditas est ipsamet intelligen-tia, ideo quiditas uel essentiaeius est ipsum quod est ipsa, etesse suum receptum a Deo estid quo subsistit in rerum natura;et propter hoc a quibusdam di-cuntur huiusmodi substantiecomponi ex quo est et quod est,uel ex quod est et esse, ut Boe-tius dicit.

57 - Et quia in intelligentiisponitur potentia et actus, nonerit difficile inuenire multitudi-nem intelligentiarum, quod es-set impossibile si nulla potentiain eis esset. Vnde Commenta-tor dicit in III De anima quod sinatura intellectus possibilisesse ignota, non possemusinuenire multitudinem in subs-tantiis separatis. Est ergo dis-tinctio earum ad inuicem se-cundum gradum potentie et ac-tus, ita quod intelligentia supe-rior que magis propinqua estprimo habet plus de actu et mi-nus de potentia, et sic de aliis.

modo de ato. E, assim, encon-tram-se potência e ato nas inte-ligências, não porém forma ematéria, a não ser por equivo-cação. Daí, também, sofrer, re-ceber, ser sujeito e tudo desemelhante que parece caberàs coisas em razão da matéria,caber por equivocação às subs-tâncias intelectuais e corporais,como diz o Comentador no ter-ceiro livro Sobre a alma (De An.Ill,14,123,R). E, visto que,como já foi dito, a quididade dainteligência é a própria inteli-gência, por isso sua quididadeou essência é o mesmo que elaprópria é, e seu ser, recebido deDeus, é aquilo pelo que subsis-te na natureza das coisas; e,por isso, tais substâncias sãoditas compostas de pelo-que-ée o-que-é, ou de o-que-é e sercomo diz Boécio (De Hebdom.,PL64.1311.C).

57 - E, uma vez que potên-cia e ato são postos nas inteli-gências, não será difícil en-contrar uma multidão de inteli-gências; o que seria impossívelse não houvesse nenhuma po-tência nelas. Donde, o Comen-tador dizer no terceiro livroSobre a alma (De An. Ill,5,118,R) que, se a natureza dointelecto possível fosse ignora-da, não poderíamos encontrarmultidão nas substâncias sepa-radas. Há, portanto, distinçãodelas entre si, de acordo com ograu de potência e ato; de talmodo que uma inteligência su-perior, que está mais próximado primeiro, tem mais ato e me-nos potência e assim em rela-

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cão às demais. E isto se encer-ra na alma humana que ocupao último grau nas substânciasintelectuais.

58 - Donde seu intelectopossível estar para as formasinteligíveis como a matéria-pri-ma, que ocupa o último grau noser sensível, para as formassensíveis, como o Comentadordiz no terceiro livro Sobre aalma (De An. 111,5,13v). E, porisso, o Filósofo (De An. Ill,4,429b,31 -430a, 1) a compara auma tabuleta lisa, na qual nadaestá escrito. E, por isso, visto terentre as demais substâncias in-teligíveis mais potência, torna-se, assim, tão próxima dascoisas materiais, que uma coisamaterial é levada a participar doseu ser, de tal modo que da almae do corpo resulta um ser numcomposto, embora esse ser, namedida em que é da alma, nãoseja dependente do corpo.

59 - E, deste modo, depoisdesta forma, que é a alma, en-contram-se outras formas quetêm mais potência e mais pró-ximas da matéria, tanto que seuser não é sem a matéria; no serdas quais encontra-se ordem egrau até às primeiras formasdos elementos, que são próxi-mas ao máximo da matéria.Donde nem terem alguma ope-ração, senão de acordo com aexigência das qualidades ati-vas e passivas e das demais,pelas quais a matéria se dispõepara a forma.

Et hoc completur in anima hu-mana, que tenet ultimum gra-dum in substantiis intellec-tualibus.

58 - Vnde intellectus possi-bilis eius se habet ad formasintelligibiles sicut matéria pri-ma, que tenet ultimum gradumin esse sensibili, ad formassensibiles, ut Commentator inIII De anima dicit; et ideo Philo-sophus comparat eam tabule inqua nichil est scriptum. Et prop-ter hoc quod inter alias subs-tantias intellectuales plus habetde potentia, ideo efficitur in tan-tum propinqua rebus materiali-bus ut rés materialis trahatur adparticipandum esse suum: itascilicet quod ex anima et corpo-re resultat unum esse in unocompósito, quamuis illud esseprout est anime non sit depen-dens a corpore.

59 - Et ideo post istam for-mam que est anima inueniunturalie forme plus de potentia ha-bentes et magis propinque ma-terie, in tantum quod esseearum sine matéria non est; inquibus esse inuenitur ordo etgradus usque ad primas formaselementorum, que sunt propin-quissime materie: unde nec ali-quam operationem habent nisisecundum exigentiam qualita-tum actiuarum et passiuarum etaliarum quibus matéria ad for-mam disponitur.

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CAPITVLVM V CAPITULO V

60 - Hiis igitur uisis, patetquomodo essentia in diuersisínuenitur. Inuenitur enim triplexmodus habendi essentiam insubstantiis.

61 - Aliquid enim est sicutDeus cuius essentia est ipsum-met suum esse; et ideo inue-niuntur aliqui philosophi di-centes quod Deus non habetquiditatem uel essentiam, quiaessentia sua non est aliudquam esse eius.

62 - Et ex hoc sequiturquod ipse non sit in genere;quia omne quod est in genereoportet quod habeat quiditatempreter esse suum, cum quiditasuel natura generis aut specieinon distinguatur secundum ra-tionem nature in illis quorum estgenus uel species, sed esse estdiuersum in diuersis.

63 - Nec oportet, si dicimusquod Deus est esse tantum, utin illorum errorem incidamusqui Deum dixerunt esse illudesse uniuersale quo quelibetrés formaliter est. Hoc enimesse quod Deus est huiusmodicondicionis est ut nulla sibi ad-ditio fieri possit, unde per ipsamsuam puritatem est esse dis-tinctum ab omni esse; propterquod in corrimento none propo-sitionis libri De causis diciturquod indiuiduatio prime cause,

60 - Visto, então, isto, ficaclaro como a essência se en-contra em diversos. De fato, en-contra-se um tríplice modo deter essência nas substâncias.

61 - Com efeito, há algo,como Deus, cuja essência éseu próprio ser; e, por isso, en-contram-se alguns filósofosque dizem que Deus não temqúididade ou essência, poissua essência não é algo de ou-tro que o seu ser.

62 - E, daí, segue-se que elepróprio não esteja num género,pois é preciso que tudo que estánum género tenha qúididade àparte de seu ser; visto a qúidida-de ou natureza do género ou daespécie não se distinguir deacordo com a noção da naturezanaqueles dos quais é género ouespécie, mas, o ser é diverso nosdiversos.

63 - Nem é preciso, pordizermos que Deus é apenasser, que caiamos no erro da-queles que disseram que Deusé aquele ser universal pelo qualnão importa qual coisa é for-malmente. jCom efeito, este serque Deus è, é de tal condiçãoque nenhuma adição lhe podeser feita; donde, pela sua pró-pria pureza, ser um ser distintode todo ser. Pelo que, no co-mentário da nona proposiçãodo Livro das causas, diz-se que

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a individuação da primeira cau-sa, que é apenas ser, se dá porsua pura bondade. O ser co-mum, porém, assim como nãoinclui na sua intelecção algumaadição, igualmente não incluina sua intelecção alguma ex-clusão de adição; pois, se istose desse, nada se poderia inte-ligir ser, no qual algo adicionar-se-ia sobre o ser.

64 - Semelhantemente,também, embora seja apenasser, não é preciso que lhe fal-tem as restantes perieições eexcelências; até mesmo tem to-das as perfeições que há emtodos os géneros, pelo que édito simplesmente perfeito,como o Filósofo e o Comenta-dor dizem no quinto livro da Me-tafísica (V,16,1021b,30; V.21,62a10-13); mas, as tem demodo mais excelente que todasas coisas, pois nele são um,mas nas demais têm diversida-de. E isto se dá porque todasessas perfeições cabem-lhe deacordo com seu ser simples;assim como, se alguém pudesseefetivar as operações de todasas qualidades por meio de umaqualidade, teria todas as quali-dades nessa qualidade única.Assim, Deus tem todas as per-feições no seu próprio ser.

65 - De um segundo modoencontra-se essência nas subs-tâncias criadas intelectuais,nas quais o ser é outro que aessência delas, embora a es-sência seja sem matéria. Don-de seu ser não ser absoluto,mas recebido, e, por isso, limi-tado e finito à capacidade da

que est esse tantum, est perpuram bonitatem eius. Esseautem commune sicut in intel-lectu suo non includit aliquamadditionem, ita non includit inintellectu suo precisionem ad-ditionis; quia, si hoc esset, ní-chil posset intelligi esse in quosuper esse aliquid adderetur.

64 - Similiter etiam quam-uis sit esse tantum, non oportetquod deficiant ei relique perfec-tiones et nobilitates. Immo ha-bet omnes perfectiones quesunt in omnibus generibus,propter quod períectum simpli-citer dicitur, ut Philosophus etComentator in V Methaphisicedicunt; sed habet eas modo ex-cellentiori omnibus rebus, quiain eo unum sunt, sed in aliisdiuersitatem habent. Et hoc estquia omnes ille perfectionesconueniunt sibi secundum essesuum simplex; sicut si aliquisper unam qualitatem posset ef-ficere operationes omniumqualitatum, in illa una qualitateomnes qualitates haberet, itaDeus in ipso esse suo omnesperfectiones habet.

65 - Secundo modo inueni-tur essentia in substantiis crea-tis intellectualibus, in quibus estaliud esse quam essentia ea-rum, quamuis essentia sit sinematéria. Vnde esse earum nonest absolutum sed receptum, etideo limitatum et finitum ad ca-

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pacitatem nature recipientis;sed natura uel quiditas earumest absoluta, non recepta in ali-qua matéria. Et ideo dicitur inlibro De causis quod intelligen-tie sunt infinite inferius et finitesuperius; sunt enim finite quan-tum ad esse suum quod a su-periori recipiunt, non tamenfiniuntur inferius quia earumforme non limitantur ad capaci-tatem alicuius materie recipien-tis eas.

66 - Et ideo in talibus subs-tantiis non inuenitur multitudoindiuiduorum in una specie, utdictum est, nisi in anima huma-na propter corpus cui unitur. Etlicet indiuiduatio eius ex corpo-re occasionaliter dependeatquantum ad sui inchoationem,quia non acquiritur sibi esse in-diuiduatum nisi in corpore cuiusest actus: non tamen oportet utsubtracto corpore indiuiduatiopereat, quia cum habeat esseabsolutum ex quo acquisitumest sibi esse indiuiduatum exhoc quod facta est forma huiuscorporis, illud esse semper re-manet indiuiduatum. Et ideo di-cit Auicenna quod indiuiduatioanimarum et multiplicatio pen-det ex corpore quantum ad suiprincipiurn, sed non quantumad sui finem.

67 - Et quia in istis substan-tiis quiditas non est idem quodesse, ideo sunt ordinabiles in

natureza recipiente; mas, suanatureza ou qúididade é abso-luta, não recebida em algumamatéria. E, por isso, se diz noLivro das causas que as inteli-gências são infinitas inferior-mente e finitas superiormente;de fato, são finitas quanto aoseu ser, que recebem de umsuperior; não são, porém, limi-tadas inferiormente, pois suasformas não se limitam à capa-cidade de alguma matéria queas receba.

66 - E, por isso, não seencontra em tais substânciasuma multidão de indivíduosnuma espécie, como foi dito, anão ser na alma humana, porcausa do corpo ao qual estáunida. E, embora sua invidua-ção dependa ocasionalmentedo corpo, no que diz respeito àsua incoação, pois não adquirepara si um ser individuado se-não no corpo do qual é ato, noentanto não é preciso que, reti-rado o corpo, pereça a indivi-duação. Pois, como tem serabsoluto, a partir do qual foiadquirido para si o ser indivi-dualizado, por causa do ter sidofeita forma deste corpo, aqueleser permanece sempre indivi-dualizado. E, por isso, Avicena(De An. V.3 e 4,24b-c,B-C e25a,B) diz que a individuação emultiplicação das almas depen-de do corpo, no que diz respeitoao seu princípio, mas não noque se refere ao seu fim.

67 - E, visto que, nestassubstâncias a qúididade não éo mesmo que o ser, por isso sãoordenáveis no predicamento; e,

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por isso, encontra-se nelas gé-nero, espécie e diferença, em-bora suas diferenças própriasnos sejam ocultas. De fato,também nas coisas sensíveis,as próprias diferenças essen-ciais nos são desconhecidas;donde serem significadas pordiferenças acidentais que seoriginam das essenciais, assimcomo a causa é significada peloseu efeito, assim como bípedeé posto como diferença do ho-mem. Ora, os acidentes pró-prios das substâncias ima-teriais nos são desconhecidos;donde as suas diferenças nãopoderem ser por nós significa-das nem por si, nem pelas dife-renças acidentais.

68 - Cumpre, no entanto,saber que o género e a diferen-ça não são assumidos do mes-mo modo naquelas substân-cias e nas substâncias sensí-veis; pois, nas substâncias sen-síveis, o género é assumidodaquilo que é material na coisa,a diferença, porém, daquilo queé formal nela. Daí dizer Avicenano princípio do seu livro Sobrea alma (De An. l,1,1b-c,E) quea forma, nas coisas compostasde matéria e forma, "é a diferen-ça simples do que é constituídopor ela". Não, porém, de manei-ra que a própria forma seja adiferença, mas porque é o prin-cípio da diferença, como o mesmodiz na sua Metafísica (V,6,90b,A);e diz-se que tal diferença é di-ferença simples porque é assu-mida daquilo que é parte da

predicamento; et propter hocinuenitur in eis genus et spe-cies et differentia, quamuisearum differentie proprie no-bis occulte sint. In rebus enimsensibilibus etiam ipse diffe-rentie essentiales ignote sunt;unde significantur per diffe-rentias accidentales que exessentialibus oriuntur, sicutcausa significatur per suumeffectum: sicut bipes poniturdifferentia hominis. Accidentiaautem própria substantiarumimmaterialium nobis ignotasunt, unde differentie earumnec per se nec per accidenta-les differentias a nobis signifi-cari possunt.

68 - Hoc tamen sciendumest quod non eodem modo su-mitur genus et differentia inillis substantiis et in substan-tiis sensibilibus, quia in subs-tantiis sensibilibus genussumitur ab eo quod est mate-riale in ré, differentia uero abeo quod est formale in ipsa;unde decit Auicenna in princi-pio libri sui De anima quod for-ma in rebus compositis exmatéria et forma "est differen-tia simplex eius quod consti-tuitur ex illa": non autem itaquod ipsa forma sit differentia,sed quia est principium diffe-rentie, ut idem dicit in sua Me-thaphisica. Et dicitur talisdifferentia esse differentia

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simplex quia sumitur ab eoquod est pars quiditatis rei, sci-liceta forma. Cum autem subs-tantie immateriales sint sim-plices quíditates, non potest ineis differentia sumi ab eo quodest pars quiditatis sed a totaquiditate; et ideo ín principio Deanima dicit Auicenna quod "dif-ferentiam simplicem non ha-bent nisi species quarum es-sentie sunt composite ex maté-ria et forma".

69 - Similiter etiam in eisex tota essentia sumitur ge-nus, modo tamen differenti.Vna enim substantia separataconuenit cum alia in immate-rialitate, et differunt ab inui-cem in gradu perfectionissecundum recessum a poten-tialitate et accessum ad actumpurum. Et ideo ab eo quodconsequitur illas in quantumsunt immateriales sumitur ineis genus, sicut est intellec-tualitas uel aliquid huiusmodi;ab eo autem quod consequiturin eis gradum perfectionis su-mitur in eis differentia, nobistamen ignota. Nec oportet hásdifferentias esse accidentalesquia sunt secundum maioremet minorem perfectionem, quenon diuersificant speciem;gradus enim perfectionis in re-cipiendo eandem formam nondiuersificat speciem, sicut al-bius et minus álbum in partici-

qúididade da coisa, isto é, daforma. Como, porém, as subs-tâncias imateriais são qúidida-des simples, a diferença nãopode ser assumida nelas da-quilo que é parte da quididade,mas de toda a quididade; e, porisso, no princípio do Sobre aalma, Avicena diz que "não têmdiferença simples senão as es-pécies cujas essências sãocompostas de matéria e forma"(De An. 1,1 b,E).

69 - Semelhantemente, ogénero é também assumido ne-las a partir de toda a essência,no entanto, de modo diferente.De fato, uma substância sepa-rada converge com outra naimaterialidade e diferem entresi no grau de perfeição, deacordo com o afastamento dapotencialidade e aproximaçãodo ato puro. E, por isso, o gé-nero é assumido nelas daquiloque as acompanha na medidaem que são imateriais, como aintelectualidade ou algo de se-melhante. Daquilo, porém, deque deriva nelas o grau de per-feição, é assumida nelas a dife-rença, desconhecida, no en-tanto, para nós. Nem é precisoque estas diferenças sejam aci-dentais, visto serem de acordocom a maior e menor perfeição,que não diversificam a espécie.De fato, o grau de perfeição noreceber a mesma forma não di-versifica a espécie, como omais branco e o menos brancono participar a brancura domesmo tipo. Mas, o grau di-verso de perfeição nas pró-prias formas ou naturezas par-

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ticipadas diversifica a espécie,assim como a natureza proce-de por graus das plantas aosanimais, por meio de algunsque são intermediários entre osanimais e as plantas, de acordocom o Filósofo no livro VII So-bre os animais (De Hist. Ani-mal., Vlll,1,588b,4-14). Nem étambém necessário que a divi-são das substâncias intelec-tuais seja sempre por duasdiferenças verdadeiras, poisisto é impossível de acontecerem todas as coisas, como oFilósofo diz no livro XI Sobre osanimais (De Par/. Animal.,l,2,642b,5-7).

70 - De um terceiro modo,encontra-se a essência nassubstâncias compostas de ma-téria e forma, nas quais tanto oser é recebido e finito, por te-rem o ser de outro quanto, alémdisso, a natureza ou quididadedelas é recebida na matéria as-sinalada. E, por isso, são fini-tas, tanto superior quanto in-feriormente; e nelas já é possí-vel a multiplicação dos indiví-duos numa espécie, por causada divisão da matéria assinala-da. E acima foi dito como aessência está para as inten-ções lógicas, nestas substân-cias.

CAPITULO VI

71 - Resta agora ver comohá essência nos acidentes,pois foi dito como há em todasas substâncias.

pando eiusdetn rationis albedi-nem: sed diuersus gradus per-fectionis in ipsis formis uelnaturis participatis speciemdiuersificat, sicut natura proce-dit per gradus de plantis ad ani-malia per quedam que suntmedia inter animalia et plantas,secundum Philosophum in VIIDe animalibus. Nec iterum estnecessarium ut diuisio intellec-tualium substantiarum sit sem-per per duas differentias ueras,quia hoc impossibile est in omni-bus rebus accidere, ut Philoso-phus dicit in XI De animalibus.

70 - Tertio modo inuenituressentia in substantiis compo-sitis ex matéria et forma, in qui-bus et esse est receptum etfinitum propter hoc quod ab alioesse habent, et iterum naturauel quiditas earum est receptain matéria signata. Et ideo suntfinite et superius et inferius; etin eis iam propter diuisionemsignate materie possibilis estmultiplicatio indiuiduorum inuna specie. Et in hiis qualiter sehabeat essentia ad intentioneslógicas dictum est supra.

CAPITVLVM VI

71 - Nunc restat uiderequomodo sit essentia in acci-dentibus; qualiter enim sií inomnibus substantiis dictum est.

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72 - Et quia, ut dictum est,ossentia est id quod per diffini-tionem significatur, oportet uteo modo habeant essentiamquohabentdiffinitionem. Diffini-tionem autem habent incom-pletam, quia non possunt dif-finiri nisi ponatur subiectum ineorum diffinitione; et hoc ideoest quia non habent esse per seabsolutum a subiecto, sed sicutex forma et matéria relinquituresse substantiale quando com-ponuntur, ita ex accidente et sub-iecto relinquitur esse acciden-tale quando accidens subiectoaduenit. Et ideo etiam nec for-ma substantialis completamessentiam habet nec matéria,quia etiam in diffinitione formesubstantialis oportet quod po-natur illud cuius est forma, et itadiffinitio eius est per additionemalicuius quod est extra genuseius sicut et diffinitio forme ac-cidentalis; unde et in diffinitioneanime ponitur corpus a naturaliqui considerai animam solum inquantum est forma phisici cor-poris.

73 - Sed tamen intcr for-mas substantiales et acciden-tales tantum interest quia, sicutfornia substantialis non habetper se esse absolutum sine eocui aduenit, ita nec illud cuiaduenit, scilicet matéria; et ideoex coniunctione utriusque relin-quitur illud esse in quo rés perse subsistit, et ex eis efficitur

72 - E, visto que, como foidito, a essência é aquilo que ésignificado pela definição, ópreciso que tenham essênciada maneira como têm defini-ção. Ora, têm uma definição in-completa, pois não podem serdefinidos a não ser que o sujei-to seja posto na sua definição;e isto é assim porque não tomser por si separado do sujeito;mas, assim como da forma e damatéria resulta o ser substan-cial quando se compõem, igual-mente, do acidente e do sujeitoresulta o ser acidental, quandoo acidente advém ao sujeito. Eassim também nem a formasubstancial nem a matéria têmessência completa, pois, na de-finição da forma substancial, épreciso que seja posto aquilode que é forma; e, assim, suadefinição se dá pela adição dealgo que está fora do seu géne-ro, assim como a definição daforma acidental também. Daítambém na definição da almaser posto o corpo pelo estudio-so da natureza que considera aalma apenas na medida emque é forma do corpo físico.

73 - No entanto, as formassubstanciais e acidentais dife-rem muito, pois, assim como aforma substancial não tem porsi ser absoluto sem aquilo aoqual advém, igualmente aquiloao qual advém, isto é, a matériatambém não; e, assim, na con-junção de ambas resulta aqueleser no qual a coisa subsiste porsi e delas faz-se um uno porsi; por isso, da conjunçãodelas resulta uma certa es-

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sência. Donde a forma, emboraconsiderada em si não tenhauma noção completa de essên-cia, é parte de uma essênciacompleta. Mas, aquilo ao qual oacidente advém é um entecompleto em si, subsistente noseu ser, o qual ser precede, defato, naturalmente o acidenteque sobrevêm. E, assim, o aci-dente sobreveniente, pela con-junção de si com aquilo ao qualadvém, não causa aquele serno qual a coisa subsiste, peloqual a coisa é ente por si, mascausa um certo ser segundo,sem o qual a coisa subsistentepode ser inteligida ser, assimcomo o primeiro pode ser inte-ligido sem o segundo. Daí, doacidente e do sujeito não fazer-se um uno por si, mas um unopor acidente. E, por isso, daconjunção deles não resultauma certa essência, como daconjunção da forma e da maté-ria; razão por que o acidentenem tem noção de essênciacompleta, nem é parte de umaessência completa, mas, assimcomo é um ente sob um certoaspecto, igualmente tem tam-bém essência sob um certo as-pecto.

74 - Mas, porque aquiloque é denominado ao máximoe o mais verdadeiramente emqualquer género é causa dosque estão depois naquele gé-nero, assim como o fogo, queestá no limite da quentura, écausa do calor nas coisasquentes, como se diz no livro IIda Metafísica (11,1,993b,24),

unum per se: propter quod exconiunctione eorum relinquituressentia quedam. Vnde forma,quamuis in se considerata nonhabeat completam rationemessentie, tamen est pars es-sentie complete. Sed illud cuiaduenit accidens est ens in secompletum subsistens in suoesse, quod quidem esse natu-raliter precedit accidens quodsuperuenit. Et ideo accidenssuperueniens ex coniunctionesui cum eo cui aduenit non cau-sat illud esse in quo rés subsis-tit, per quod rés est ens per se;sed causat quoddam esse se-cundum sine quo rés subsis-tens intelligi potest esse, sicutprimum potest intelligi sine se-cundo. Vnde ex accidente etsubiecto non efficitur unum perse sed unum per accidens. Etideo ex eorum coniunctionenon resultat essentia quedamsicut ex coniunctione forme admateriam; propter quod acci-dens neque rationem completeessentie habet neque parscomplete essentie est, sed si-cut est ens socundum quid, itaet essentiam secundum quidhabet.

74 - Sed quia illud quoddicitur maxime et uerissime inquolibet genere est causa eo-rum que sunt post in illo genere,sicut ignis qui est in fine calidi-tatis est causa caloris in rebus

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calidis, ut in II Methaphisice di-citur: ideo substantia que estprimum in genere entis, uerissi-me et maxime essentiam ha-bens, oportet quod sit causaaccidentium que secundário etquasi secundum quid rationementis participant.

75 - Quod tamen diuersi-mode contingit. Quia enim par-tes substantie sunt matéria etforma, ideo quedam accidentiaprinclpaliter consequntur for-mam et quedam materiam. For-ma autem inuenitur aliquacuius esse non dependei admateriam, ut anima intellectua-lis; matéria uero non habetesse nisi per formam. Vnde inaccidentibus que consequnturformam est aliquid quod nonhabet communicationem cummatéria, sicut est intelligere,quod non est per organurn cor-porale, sicut probat Philoso-phus in III De anima; aliquauero ex consequentibus for-mam sunt que habent commu-nicationem cum matéria, sicutsentire. Sed nullum accidensconsequitur materiam sinecommunicatione forme.

76 - In hiis tamen acciden-tibus que materiam consequn-tur inuenitur quedam diuer-sitas. Quedam enim accidentiaconsequntur materiam secun-dum ordinem quem habet adformam specialem, sicut mas-

igualmente, é preciso que asubstância, que é o primeiro nogénero do ente, tendo essênciao mais verdadeiramente e aomáximo, seja causa dos aci-dentes, que participam da no-ção de ente de modo secun-dário e como que sob um certoaspecto.

75 - O que acontece, noentanto, diversamente. Pois,de fato, sendo a matéria e aforma as partes da substância,assim, alguns acidentes se-guem-se principalmente à for-ma e alguns à matéria. Ora,encontra-se alguma forma,como a alma intelectual, cujoser não depende da matéria;mas, a matéria não tem ser se-não pela forma. Donde, nos aci-dentes que se seguem à forma,há algo que não tem comunica-ção com a matéria, como é ointeligir, que não se dá por ór-gão corporal, como o Filósofoprova no livro III Sobre a alma(lll,4,429a,24-27; 429b,3). Há,porém, alguns dos que se se-guem à forma, que têm comu-nicação com a matéria, como osentir; mas, nenhum acidentesegue-se à matéria sem comu-nicação com a forma.

76 - No entanto, nos aci-dentes que se seguem à maté-ria encontra-se uma diversi-dade. Pois, alguns acidentesseguem-se à matéria de acordocom a ordem que têm para comuma forma especial, como omasculino e o feminino nos ani-mais, cuja diversidade reduz-se à matéria como se diz no

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l ivro X da Metafísica (X,9,1058b,21-23); donde, removi-da a forma do animal, os referi-dos acidentes não perma-necem senão por equivocação.Aguns, porém, seguem-se àmatéria de acordo com a ordemque tem para com uma formageral e, portanto, removida aforma especial, ainda perma-necem nela; assim como a ne-gridão da pele está num etíopepor causa da mistura dos ele-mentos e não por causa daalma; e, por isso, permanecenele depois da morte.

77 - E, porque cada coisaindividua-se pela matéria e écolocada num género ou espé-cie pela sua forma, assim, osacidentes que se seguem à ma-téria são acidentes do indiví-duo, de acordo com os quais,também os indivíduos da mes-ma espécie diferem entre si. Noentanto, os acidentes que se se-guem à forma são afecções pró-prias do género ou da espécie;donde se encontrarem em todosque participam da natureza dogénero ou da espécie, assimcomo a capacidade de rir segue-se à forma no homem, porque oriso acontece por alguma a-preensão da alma do homem.

78 - Cumpro também saberque os acidentes às vezes sãocausados pelos princípios es-senciais conforme um ato per-feito, assim como o calor nofogo que sempre é quente; àsvezes, porém, conforme ape-nas à aptidão, mas o comple-mento advém de um agenteexterior, assim como a diafanei-

culinum et femininum in anima-libus, quorum diuersitas ad ma-teriam reducitur, ut dicitur in XMethaphisice; unde remota for-ma animalis dieta accidentianon remanent nisi equiuoce.Quedam ueroconsequnturmate-riam secundum ordinem quemhabet ad formam generalem; etideo remota forma speciali ad-huc in ea remanent, sicut nigre-do cútis est in ethiope ex mix-tione elementorum et non exratione anime, et ideo post mor-tem in eo manet.

77 - Et quia unaqueque résindiuiduatur ex matéria et collo-catur in genere uel specie persuam formam, ideo accidentiaque consequntur materiamsunt accidentia indiuidui, se-cundum que indiuidua etiameiusdem speciei ad inuicem dif-ferunt; accidentia uero que con-sequntur formam sunt propriepassiones uel generis uel spe-ciei, unde inueniuntur in omni-bus participantibus naturamgeneris uel speciei, sicut risibileconsequitur in homine formam,quia risus contingit ex aliquaapprehensione anime hominis.

78 - Sciendum etiam estquod accidentia aliquando exprincipiis essentialibus causan-tur secundum actum perfec-tum, sicut calor in igne quisemper est calidus; aliquandouero secundum aptitudinero ,

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tantum, sed complementumaccidit ex agente exteriori, sicutdyaphaneitas in aere que com-pletur per corpus lucidum exte-rius; et in talibus aptitudo estaccidens inseparabile, sedcomplementum quod aduenit exaliquo principio quod est extraessentiam rei, uel quod non in-trat constitutionem rei, est sepa-rabile, sicut moueri et huiusmodi.

79 - Sciendum est etiamquod in accidentibus modo aliosumitur genus, differentia etspecies quam in substantiis.Quia enim in substantiis ex for-ma substantiali et matéria effi-citur per se unum, una quadamnatura ex earum coniunctioneresultante que proprie in predi-camento substantie collocatur,ideo in substantiis nomina con-creta que compositum signifi-cant proprie in genere essedicuntur, sicut species uel ge-nera, ut homo uel animal. Nonautem forma uel matéria esthoc modo in predicamento nisiper reductionem, sicut principiain genere esse dicuntur. Sed exaccidente et subiecto non fitunum per se; unde non resultatex eorum coniunctione aliquanatura cui intentio generis uelspeciei possit attribui. Vnde no-mina accidentalia concretiuedieta non ponuntur in predica-mento sicut species uel genera,ut álbum uel musicum, nisi per

dade no ar, que se completa ex-teriormente pelo corpo luminoso.Quando assim, a aptidão é aci-dente inseparável; mas o comple-mento que advém por algumprincípio que está fora da essênciada coisa ou que não entra na cons-tituição da coisa, é separável, as-sim como o mover-se e similares.

79 - Cumpre, também, sa-ber que o género, a espécie e adiferença são tomados nos aci-dentes de outra maneira quenas substâncias. Pois, de fato,nas substâncias faz-se um unopor si na forma substancial e damatéria, resultando uma certanatureza da conjunção delas,que é propriamente colocadano predicamento da substân-cia. Assim, nas substâncias, osnomes concretos, que signifi-cam o composto, são propria-mente ditos estar num género,como espécies ou géneros,como, por exemplo, homem ouanimal. No entanto, a forma oua matéria não estão num predi-camento deste modo, a não serpor redução, assim como osprincípios são ditos estar numgénero. Ora, do acidente e dosujeito não se faz um uno porsi; donde não resultar da con-junção deles alguma naturezaà qual a intenção de género oude espécie possa ser atribuída.Donde os nomes acidentais,usados de modo concreto, nãoserem postos num predica-mento como espécie ou génerocomo, por exemplo, branco oumúsico, a não ser por redução,mas apenas na medida em quesão significados em abstraio

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como, por exemplo, brancura emúsica.

80 - E porque os acidentesnão são compostos de matériae forma, assim o género nãopode ser neles tomado da ma-téria, e a diferença da forma,como nas substâncias compos-tas. Mas é preciso que o géneroprimeiro seja tomado do própriomodo de ser, na medida em queo ente é dito dos dez génerosdiversamente de acordo com aanterior e o posterior; assimcomo a quantidade é denomi-nada por ser medida da subs-tância, a qualidade na medidaem que é disposição da subs-tância e igualmente quanto aosdemais, de acordo com o Filó-sofo no livro IX da Metafísica(IV,2,1003a,30-b,10).

81 - No entanto, as diferen-ças são tomadas neles da di-versidade dos princípios pelosquais são causados. E, comoas afecções próprias são cau-sadas pelos princípios própriosdo sujeito, deste modo o sujeitoé posto na definição deles nolugar da diferença, se são defi-nidos em abstraio, na medidaem que estão propriamente nogénero; assim como se diz quea aduncidade é a curvatura donariz; mas, aconteceria o con-trário se a definição deles fossetomada conforme são denomi-nados de modo concreto. Pois,assim, o sujeito seria posto nasua definição como género;pois, então, definir-se-iam amodo das substâncias comipostas, nas quais a noção do

reductionem, sed solum secun-dum quod in abstracto signifi-cantur, ut albedo et musica.

80 - Et quia accidentia noncomponuntur ex matéria et for-ma, ideo non potest in eis sumigenus a matéria et differentia aforma sicut in substantiis com-positis; sed oportet ut genusprimum sumatur ex ipso modoessendi, secundum quod ensdiuersimode secundum prius etposterius dicitur de decem ge-neribus predicamentorum, si-cut dicitur quantitas ex eo quodest mensura substantie et qua-litas secundum quod est dispo-sitio substantie, et sic de aliis,secundum Philosophum in IXMethaphisice.

81 - Differentie uero in eissumuntur ex diuersitate princi-piorum ex quibus causantur. Etquia propne passiones ex pro-priis principiis subiecti causan-tur, ideo subiectum ponitur indiffinitione eorum loco differen-tie si in abstracto diffiniuntur,secundum quod sunt proprie ingenere, sicut dicitur quod simi-tas est curuitas nasi. Sed e con-uerso esset si eorum diffinitiosumeretur secundum quodconcretiue dicuntur; sic enimsubiectum in eorum diffinitioneponeretur sicut genus, quiatunc diffinirentur per modumsubstantiarum compositarumin quibus ratio generis sumitur

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a matéria, sicut dicimus quodsimum est nasus curuus.

82 - Similiter etiam est siunum accidens alterius acci-dentis principium sit, sicut prin-cipium relationis est actio etpassio et quantitas; et ideo se-cundum hec diuidit Philoso-phus relationem in V Metha-phisice. Sed quia própria princi-pia accidentium non sempersunt manifesta, ideo quando-que sumimus differentias acci-dentium ex eorum effectibus,sicut congregatiuum et disgre-gatiuum dicuntur differentie co-loris que causantur ex habun-dantia uel paucitate lucis, exquo diuerse species coloriscausantur.

83 - Sic ergo patet quomo-do essentia est in substantiis etaccidentibus, et quomodo insubstantiis composilis et sim-plicibus, et qualiter in hiis omni-bus intentiones uniuersaleslogice inueniurilur; excepto pri-mo quod est in fine simplicitatis,cui non conuenit ratio generisaut speciei et per consequensnec diffinitio propter suam sirn-plicitatem: in quo sit finis et con-summatio huius sermonis.Amen.

género é tomada da matéria,assim como dizemos que oadunco é o nariz curvo.

82 - Dá-se também algosemelhante se um acidente forprincípio de outro acidente, as-sim como o princípio da relaçãoé a ação e a recepção e a quan-tidade; e, por isso, o Filósofodivide a relação de acordo comestes no livro V da Metafísica(V,15,102pb-1021b). Mas, co-mo os princípios próprios dosacidentes nem sempre são ma-nifestos, por isso tomamos àsvezes as diferenças dos aci-dentes de seus efeitos, assimcomo viva e pálida são chama-das diferenças da cor que sãocausadas pela abundância ouescassez de luz pela que sãocausadas as diversas espéciesde cor.

CONCLUSÃO

83 - Fica, assim, portanto,claro como há essência nassubstâncias e nos acidentes; ecomo nas substâncias compos-tas e nas simples; e de quemaneira as intenções lógicasuniversais se encontram em to-dos estes; exceto o primeiroque está no limite da simplicida-de, ao qual não cabe a noçãode género ou de espécie e, porconseguinte, nem definição porcausa de sua simplicidade; noqual esteja o fim e a consuma-ção deste discurso. Amém.

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